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A importância de fazer

perguntas

TIAGO BELOTTE

FOTOGRAFIA: SDECORET | ISTOCK

Deveríamos nos matricular num curso de


ignorância. Não a ignorância pejorativa, mas a
que nos faz aprender e conectar
verdadeiramente com as outras pessoas: a
ignorância que permite fazer boas perguntas.

Se você veio a este texto buscando respostas,


sinto muito. Não vai encontrá-las aqui. Explico.
Uma das coisas que mais me provocou faíscas
na cabeça e questionamentos nos últimos dias
foi uma palestra de Stuart Firestein, professor e
presidente do departamento de ciências
biológicas da Universidade Columbia, em Nova
York. Sobretudo, achei fascinante a forma como
ele falou sobre ignorância durante 18 minutos.
Fez-me compreender que, como ele gostaria, o
tema ignorância merecia um curso.

Entretanto, não é aquela ignorância que vemos


de forma pejorativa. Feita de estupidez ou
ingenuidade. Mas, uma ignorância, como o
próprio Stuart diz, totalmente consciente e que
é o primeiro passo para o avanço real no
conhecimento, inclusive na ciência. Nesse
sentido, ao invés de entendermos como uma
linha reta que vai da ignorância ao
conhecimento, quando entendemos o ponto
trazido pelo professor, passamos a enxergar um
ciclo. Em síntese: ignorância produz
conhecimento e conhecimento gera novas
ignorâncias. Uma ideia que vem de Immanuel
Kant, quando ele fala sobre o que chama de
propagação de perguntas. Segundo ele, cada
resposta gera mais perguntas.

Aprendizado e Conexão

Por isso, não importa o quanto você sabe e sim


o quanto você é capaz de perguntar sobre um
tema. Pense numa pessoa que tem um talk
show. Em resumo, quanto melhores as
perguntas, mais sabemos que ela se preparou
para aquele momento ou já possuía repertório
sobre o assunto. Assim como, mais ela
aprenderá durante a entrevista e mais
facilmente se conectará com a pessoa
entrevistada. De acordo com um estudo da
Harvard Business School, fazer perguntas nos
ajudam a alcançar esses dois objetivos:
aprender mais e nos conectarmos com as
outras pessoas. Isso quer dizer que, quando
perguntamos com curiosidade genuína, nos
abrimos para novas descobertas e para o outro.

Um método para peguntar

Desse modo, saber perguntar é uma


competência importante para a vida pessoal e
pro ssional. Tão importante que Els Dragt e
Jeroen Timmer escreveram um livro só sobre
como fazer boas perguntas. Segundo a dupla,
fazer perguntas nos torna humanos, ajuda a
estabelecer conexões, aprender e transformar.
Uma das preciosidades que eles
compartilharam no livro Dare to Ask (Ouse
Perguntar, traduzido livremente para o
português) é um Questionstorming. Você
provavelmente já ouviu a expressão tempestade
de ideias (brainstorming), dinâmica de grupo
muito utilizada para geração de novas ideias.
No entanto, no questionstorming (chuva de
perguntas) a ideia não é encontrar respostas e
sim provocar novos questionamentos.

Crédito: Drazen Zigic | IStock


A proposta faz todo sentido. Porque, de acordo
com o importante educador britânico e
especialista em criatividade Sir Ken Robinson,
as perguntas que fazemos são mais importantes
do que as respostas que procuramos. Elas
abrem campos novos de exploração, enquanto
as respostas cam nossos pés em algum lugar.

Chuva de perguntas

De acordo com o questionstorming, criado pelo


The Right Question Institute, ele é composto
por seis etapas. A primeira é estabelecer um
foco. Não pode ser uma pergunta. Deve ser uma
a rmação ou um cenário. Algo que está posto.
Um exemplo: uma vida sem abraços é uma vida
sem amor. Em seguida, uma vez de nido o foco
da chuva de perguntas, é hora de produzir
frases interrogativas. Nada de opiniões,
respostas ou debates. Faça apenas perguntas.

Então, no momento em que tiver uma lista


considerável de perguntas e o apetite por fazê-
las tiver diminuído, pare um pouco. Logo
depois, retome a lista e refaça as perguntas,
tornando as perguntas fechadas em abertas e
vice-versa. Quer um exemplo? Você pode
transformar a pergunta “o abraço é a maior
manifestação de amor que conhecemos?” em
uma questão aberta, como “por que seria o
abraço a maior manifestação de amor que
conhecemos?”.

Perguntas?
Por m, é hora de priorizar. O grupo deve
escolher as três melhores questões criadas.
Aquelas instigantes e que despertaram a
vontade de responder. Feito isso, o próximo
passo é discutir e compreender a que ação essas
perguntas nos levam. Pode ser a uma pesquisa,
a uma observação de campo, a uma entrevista
com especialista, etc.

Finamente, antes de dar a sessão como


encerrada, vale a pena re etir sobre os
aprendizados e a riqueza do processo.

Agora me conta, cou alguma dúvida? Que


bom, sinal de que estamos no caminho certo.

Tiago Belote é fundador e curador de


conhecimento no CoolHow – laboratório de
educação corporativa que auxilia pessoas e
negócios a se conectarem com as novas
habilidades da Nova
Economia. É também professor de pesquisa e
análise de tendências na PUC Minas e no Uni-
BH. Escreve nesta coluna semanalmente, aos
sábados.

*Os textos de nossos colunistas são de inteira


responsabilidade dos mesmos e não re etem,
necessariamente, a opinião de Vida Simples.

TAGS: CHUVA DE PERGUNTAS, IGNORÂNCIA, IMPORTÂNCIA DAS

PERGUNTAS, PERGUNTAS, QUESTIONSTORMING, TIAGO BELOTTE


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