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A construção da argumentação na carta-testamento de

Getúlio Vargas
José Olavo da Silva Garantizado Júnior1

Abstract: The construction of the argument is one of the more academic


topics discussed by diverse areas of knowledge. In this context, this study
aims to analyze how is the argument in the Letter Testament of President
Getúlio Vargas. For this, our theoretical basis will Guarantee Junior (2015),
which analyzed the argument considering external aspects of the text (Ex-
ternal elements of the argument), textual aspects (Generic Component and
Component Sequential) and rhetorical aspects (Component Rhetorical). In
terms of methodology, our research will have documentary character, since
we analyze the letter officially released by the president’s death the time
of the authorities to the press. The results show that the construction of
the President’s text argument constitutes a strong influence of external ele-
ments of the argument, especially the time and the specific communicative
situation, which ultimately interferes with the production of its kind let-
ter and sequential structure. Moreover, the president’s image in Rhetorical
component, is built from positive projections of its ethos, always laying
the blame for his death to the time of social pressure experienced in the
country.
Keywords: Argumentation; Getúlio Vargas; Argumentation model.

Resumo: A construção da argumentação é um dos tópicos acadêmicos mais


discutidos por diversificadas áreas do conhecimento. Nesse contexto, o pre-
sente trabalho tem como objetivo analisar como se constitui a argumenta-
ção na Carta-Testamento do presidente Getúlio Vargas. Para isso, nossa base
teórica será Garantizado Júnior (2015), que analisou a argumentação con-
siderando-se aspetos externos ao texto (Elementos Externos da argumenta-
ção), aspectos textuais (Componente Genérico e Componente Sequencial) e
aspectos retóricos (Componente Retórico). Em termos metodológicos, nossa
pesquisa terá caráter documental, uma vez que analisaremos a carta divul-
gada oficialmente pelas autoridades da época da morte do presidente para a
imprensa. Os resultados apontam que a construção da argumentação do texto
do presidente se constitui de uma forte influência dos elementos externos
da argumentação, principalmente a época e a situação comunicativa espe-
cífica, o que acaba interferindo na produção do gênero carta e na estrutura
sequencial. Além disso, a imagem do presidente, no Componente Retórico,
constrói-se a partir de projeções positivas de seu ethos, sempre impondo a
culpa de sua morte para o momento de pressão social vivenciado no país.
Palavras-chave: Argumentação; Getúlio Vargas; Modelo de Argumentação.

1 Professor Adjunto da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)


Conexão Letras
Introdução

O mês de agosto de 1954 é um dos mais conflituosos da História do Brasil. O presi-


dente Getúlio Vargas estava em meio a uma enorme crise política, que o distanciava con-
sideravelmente do Congresso, devido à maneira como o estadista estava direcionando as
ações governamentais. O aumento de 100% do salário mínimo como medida populista e a
instauração da Petrobrás e da Eletrobrás, empresas genuinamente brasileiras e oriundas do
capital estatal, sem a participação efetiva do Congresso nas decisões e das forças políticas
do capital estrangeiro, propiciou um clima de muitas incertezas entre o presidente e o mer-
cado financeiro internacional. Aos poucos, a autoridade e a legitimidade do Governo Vargas
estava sendo questionada. A oposição iniciou fortes ações de bastidores contra a figura do
presidente que, antes era intocável, e no mês de agosto do referido ano, estava ameaçada.
O atentado contra Carlos Lacerda, na madrugada do dia 05 de agosto, o famoso aten-
tado da Rua Toneleros, em que as investigações induziam para uma tentativa premeditada
contra o maior opositor de Vargas e que fora “planejada” pelo chefe da guarda-pessoal
do presidente, o ex-policial Gregório Fortunato, foi o estopim para uma forte pressão
contra o presidente. O governo estava enfraquecido e os grupos de oposição “jogavam o
povo contra o presidente”. No dia 24 de agosto, a população brasileira recebia atônita a
notícia de que Vargas, muito pressionado, havia cometido suicídio. Antes de cometê-lo,
o estadista deixou uma Carta-Testamento, um dos principais documentos do Brasil até
hoje, em que se tinham algumas explicações dos motivos reais para o fato. Após a leitura
do documento pela imprensa, o movimento contrário ao governo fora rapidamente subs-
tituído por uma força favorável à figura do presidente populista. A ação suicida de Getúlio
representou um “duro golpe” nos planos dos opositores que, pressionados, começaram a
ser “responsabilizados” pela morte do ilustre estadista.
Como se pode notar, o documento de Vargas tornou-se um objeto valioso de estudo
para as mais diversificadas áreas do conhecimento, pois o texto constitui-se de um impor-
tante instrumento de interpretação política, econômica e social. Para nós, a Carta-Testa-
mento é, também, um objeto de estudo para analistas do texto e do discurso. Ciente disso,
esse trabalho se alicerçou a partir da necessidade de estudar o documento oficial sob um
prisma textual e retórico, tendo como princípio de análise o processo de construção da
argumentação no texto.
Com efeito, para analisar esse objeto de estudo, utilizaremos como base teórica a
proposta de descrição e de investigação da argumentação que desenvolvemos em nossa
tese de doutoramento (GARANTIZADO JÚNIOR, 2015). Achamos oportuna a aplicação
da abordagem pela qual elaboramos, uma vez que, naquela oportunidade, investigamos
como a argumentação também pode sofrer interferências de aspectos externos ao texto, o
que denominamos de Elementos Externos ao Texto. No contexto de escritura da carta, os
impactos da época e da situação comunicativa em si são, com certeza, primordiais para se
entender como o Locutor quer persuadir seu interlocutor.
Nesse sentido, nosso trabalho é relevante para os estudos das Letras em geral, assim
como para as aeras afins, porque aplicaremos um modelo analítico da argumentação re-
cém desenvolvido, podendo fazer conjecturas sobre as categorias exequíveis em diver-
sificados tipos de práticas discursivas. Além disso, em analisarmos um documento de
tamanha importância para as áreas de História, Sociologia, Filosofia e Ciências Políticas,
estamos promovendo uma interface entre o discurso político e as estratégias de persuasão
usadas pelos seus Locutores no que tange à argumentação.
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1. O modelo teórico da argumentação sob um olhar textual e retórico

Desde Aristóteles até o início do século XXI, as maneiras de lidar com os fenômenos
argumentativos (ou pelo menos os que envolviam a persuasão) estiveram sempre limita-
dos, ora a aspectos eminentemente retóricos, ora a aspectos de natureza eminentemente
textual. Poucos foram os trabalhos que buscaram uma correlação entre essas perspectivas
teóricas. Trabalhos como os de Patrick Chareaudeau (1983, 1992, 1994) e de Rosalice
Pinto (2010) visaram trazer para as análises textuais e discursivas elementos externos ao
texto e ao discurso. Merece destaque o trabalho dessa última autora que, a partir da análi-
se de textos verbais e não verbais, desenvolveu um modelo argumentativo com categorias
da Linguística do Texto e da Análise do Discurso.
Apesar de o Brasil ser um dos países com grande quantidade de trabalhos sobre ar-
gumentação em diversificadas áreas do conhecimento, percebemos, a partir da leitura
de Pinto (2010), que são poucas as pesquisas que consideraram os aspectos externos ao
texto como elementos que pudessem ser sistematizados e explorados em uma análise do
processo argumentativo. Assim, a partir da evidência nítida dessa lacuna nos estudos de
argumentação, elaboramos um modelo analítico desse fenômeno que pudesse ser desen-
volvido, levando-se em consideração aspectos externos ao texto, assim como elementos
textuais e retóricos. Para ilustrarmos de maneira mais didática nosso pensamento, obser-
vemos o esquema a seguir, que sistematiza as categorias usadas em nossa abordagem:

Esquema 1- Representação do modelo desenvolvido por Garantizado Júnior (2015)

Como podemos perceber no esquema 1, nossa proposta de argumentação possui três


planos de investigação e descrição do processo argumentativo. Importante que se diga que,
em nossa abordagem, o pesquisador/analista pode, sem prejuízo de descrição e percepção
dos fenômenos a serem estudados, optar em analisar apenas um dos planos, dependendo
de seu objeto de investigação. Nesse contexto, defendemos que o plano externo ao texto,
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Conexão Letras
o plano textual e o plano retórico da argumentação podem ser estudados de forma inter-re-
lacionados, aplicando-os em uma só pesquisa analítica, mas que também podem ser anali-
sados isoladamente, dependendo dos propósitos do pesquisador e de seu objeto de estudo.
Nesse sentido, no plano externo, temos os Elementos Externos ao texto, que se divi-
dem em duas partes: as condições sócio-históricas (contexto amplo da argumentação) e
a situação comunicativa (contexto específico da argumentação). Esse plano é importante
por situar o Locutor na época e no lugar de produção de seu texto, o que acaba con-
tribuindo para a constituição do plano textual, pois os elementos externos proporcionam
coerções na estrutura composicional do gênero. No plano textual, temos dois importantes
Componentes de nossa abordagem: a) Componente Genérico (BAKHTIN, 1997), que
sofre coerções dos aspectos externos e é dividido em tema, estilo e as unidades com-
posicionais e o b) Componente Sequencial (ADAM, 1992, 2008), que é dividido em
plano de texto, sequência textual argumentativa e formação de esquematizações.
Por último, no plano retórico, teremos o Componente Retórico, formado a partir das
técnicas argumentativas (PERELMAN; TYTECA, 1996) em que os Locutores tentam
provar a veracidade de suas teses, assim como as projeções de suas imagens na prática
discursiva (AMOSSY, 2011). Ciente disso,passemos para a explanação de como cada
categoria é considerada teoricamente em nossa abordagem e, em seguida, analisaremos,
na próxima seção, a carta-testamento de Getúlio Vargas sob o prisma de nossa proposta.
Defendemos que o Locutor busca, em diversificadas situações comunicativas, persua-
dir um interlocutor. Para isso, aquele se vale de uma série de procedimentos linguísticos
pelas quais, quase sempre, mesmo sem perceber, ele usa e, do ponto de vista argumentati-
vo, têm como função principal legitimar a argumentação, uma vez que não basta que um
sujeito emita somente proposições sobre o que está sendo discutido, é preciso que estas
sejam provadas (ou até contestadas), sempre objetivando apresentá-las como verdadeiras.
Com efeito, buscamos aliar aspectos eminentemente textuais e retóricos com outros
fenômenos que não podem de maneira alguma de serem desprezados: o contexto de pro-
dução do texto. Para tal, consideraremos a argumentação como um fenômeno que pode
ser descrito do ponto de vista textual e retórico, levando-se em conta uma série de fatores
externos que exercem coerções sobre o Locutor no momento em que este busca persuadir
o seu auditório. Para esses aspectos, denominados de Elementos Externos da argumenta-
ção e se constituiriam em dois níveis: as condições sociais de produção (contexto amplo)
e a situação comunicativa (contexto específico).
O Locutor, quando profere seu texto, está inserido em uma realidade social e histórica
que o faz usar estratégias argumentativas, segundo a época em que o texto será realizado.
Não se pode deixar de considerar também que, muitas vezes, o texto pode ser usado em
realidades históricas diferentes, com objetivos diferentes, o que nos possibilita conside-
rar que um texto pode estar inserido em diferentes contextos históricos, caso o Locutor
necessite dele, para embasar uma estratégia argumentativa. Sobre isso, filiamo-nos ao
mesmo pensamento de que

um analista que busque estudar a argumentação sob um prisma textual e retórico, ou


apenas sob uma das abordagens (apenas textual ou apenas retórica), deve levar em con-
sideração em suas análises o contexto sócio-histórico em que o texto foi produzido e, se
necessário, pode até comparar épocas diferentes, já que, muitas vezes, o Locutor se vale
desses recursos comparativos de épocas para construir sua base de argumentos. Essa con-
clusão é óbvia, pois não podemos nos separar de nossa época. Esse argumento é o que nos
fez propor que, sempre, o Locutor necessita saber qual o contexto em que está inserido
(GARANTIZADO JÚNIOR, 2015, p. 113).
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Na verdade, é evidente a importância que o contexto amplo, chamado de época sócio
-histórica, pode possuir (e até interferir) na constituição dos argumentos a serem apresen-
tados pelo Locutor. Achamos oportuno considerar esse contexto mais amplo de produção
do ato argumentativo por sabermos que, de certa maneira, um texto carrega em si uma
argumentação que se processa, desde o momento de produção, quando o Locutor prepara
o seu discurso, até o momento da realização, quando o texto pode (ou não) persuadir o
auditório. Desse modo, consideramos que a época em que o texto está sendo realizado in-
tegraria um dos elementos do contexto sócio-histórico do qual o produtor se valeria para
buscar a persuasão. Devemos deixar claro que, de alguma maneira, o Locutor usufrui de
alguns conhecimentos compartilhados da época em que está inserido para tentar persuadir
seu público. Isso não significa que um texto de um período anterior ao momento em que
o Locutor está vivendo seja interpretado como algo deslocado ou sem argumentatividade.
Na verdade, defendemos que, de alguma maneira, consciente ou inconsciente, o Locutor
sofre certas coerções que o faz saber que tipo de estratégia argumentativa pode usar para
poder persuadir seu auditório.
Outro aspecto a ser considerado é a situação comunicativa em que o Locutor está
inserido, que também contribui para a argumentação. Esse conceito, inclusive, fora tra-
tado por Maingueneau (2004) como momento de realização empírico. Entretanto, não
consideramos a situação comunicativa como apenas o espaço em que ocorre a produção
do texto, mas uma série de elementos do momento de produção, sempre amparados pelo
contexto mais amplo de constituição argumentativa. Assim, se o Locutor busca contex-
tualizar seus argumentos a partir de um contexto sócio-histórico mais amplo em que
ele está inserido, levando-se em consideração a época em que está vivendo, ele busca
também usufruir do contexto comunicativo de produção em que o texto é proferido para
validar a sua tese a partir de argumentos consistentes e, para isso, ele necessita saber qual
o público que está a escutá-lo no embate discursivo, por exemplo.
Como já demonstramos no esquema 1, anteriormente, o plano textual de análise da ar-
gumentação é constituído de dois Componentes: Componente Genérico e o Componente
Sequencial. Assim, O Componente Genérico englobaria a abordagem desenvolvida por
Bakhtin, depois seguida, mesmo que indiretamente, por Maingueneau (2004). Ficou evi-
dente que o pensamento de Bakhtin (1997) se constituiu como um importante arcabouço
teórico para a análise dos gêneros do discurso. Assim, seguimos em nossa tese de douto-
ramento (GARANTIZADO JÚNIOR, 2015) o pensamento desse autor, principalmente
por o seu método de trabalho, já presente desde Problemas da Poética de Dostoiévski, em
que ele fez uma série de digressões acerca dos gêneros para melhor entender as peculia-
ridades, naquela oportunidade, ligadas à obra de Dostoiévski, ter se tornando uma impor-
tante ferramenta metodológica em vários outros trabalhos. Dessa maneira, acreditamos
que a composição dos gêneros é ditada por uma série de articulações composicionais que
possibilitam a realização desse gênero nos atos de interação verbal. Concordamos, desse
modo, com o aspecto dinâmico que os gêneros ganharam na obra de Bakhtin (1997), que
propiciam a estabilidade, sempre estabelecida a partir de relação do gênero com o contex-
to sócio-histórico em que ele está envolvido.
O Componente Sequencial da argumentação seria constituído pelo plano de texto,
pela noção de sequencialidade e pelas esquematizações, todos os conceitos foram en-
contrados nos achados de Adam (1992, 2008) e seguidos no modelo de argumentação
sob uma perspectiva textual e retórica em que desenvolvemos. Para isso, elegeram-se os
pressupostos de Jean-Michel Adam (1992, 2008) que, nas últimas décadas, tem-se desta-
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cado por realizar trabalhos acerca da intersecção entre os aspectos discursivos e textuais,
o que ele mesmo chama de aspectos textuais/discursivos. Interessa-nos somente o que o
autor descreve como sequencialidade. A abordagem defendida por Adam (1992) propõe
a inserção da Linguística Textual no campo da análise de discursos, delimitando o que
compete a cada área. Sobre isso, ao se pensar sobre análises, privilegiando os aspectos
textuais e discursivos, levando-se em conta também aspectos direcionados aos gêneros,
não se “poderia utilizar expressões como frases, períodos, cláusulas ou quaisquer outras
sem correr o risco de entrar em outras áreas e se perder em aspectos primeiramente orga-
nizacionais” (CATELÃO, 2010).
Em nossa tese de doutoramento (GARANTIZADO JÚNIOR, 2015), em nossas aná-
lises, observamos que há um plano de texto que pode conduzir o desenvolvimento de
outras estruturas sequenciais em um só texto. Entretanto, na nossa visão, o plano de texto
não teria apenas essa utilização, pois ele seria também responsável, por exemplo, pelo
entendimento das unidades estruturais que possibilitam fazer com que um sujeito entenda
todas as características do gênero textual e, a partir desse entendimento das unidades
constitutivas do gênero, que se poderia haver sequências textuais estabelecendo a con-
figuração textual do texto. O indivíduo, quando vai utilizar um determinado gênero, já
sabe certos traços que o constituem, como se fossem características globais que, para
nós, seriam fruto da configuração do plano do texto que esse sujeito pensa (mesmo que
involuntariamente) sobre o gênero que se comunicará concretamente.
Na verdade, a estrutura composicional dos elementos textuais, seguindo o modelo de
Adam (2008), é, inicialmente, ordenada por um plano de texto, base de composição, e, ge-
ralmente, categorizável em termos de dominância sequencial. Naquela oportunidade, nosso
corpus era constituído de discursos políticos de Sessão Plenária de Deputados do PT e do
PSDB sobre o “mensalão”. Sob essa ótica, como os textos eram proferidos por um Locutor
ocupante do cargo de Legislador, percebemos a dominância da sequência argumentativa,
embora saibamos que outras sequências eram inseridas na argumentação dos Locutores.
Para nós, outro elemento que constitui o Componente Sequencial seria a formação de
esquematizações construída a partir das sequências textuais, o que desencadeia, direta-
mente, Pontos de Vistas (PdV) diversificados do Locutor. Esses conceitos foram tratados
por Adam (2005), quando ele propõe que o processo de esquematização discursiva é um
dos elementos que constituem a composição textual. Em Garantizado Júnior (2015), a
partir dos achados de Adam (2005) e de Catelão (2010), optou-se pela análise mais apro-
fundada das esquematizações discursivas e da construção dos PdV do Locutor, a fim de
propiciar o quadro retórico (uma lista de possibilidades de argumentos viáveis e não viá-
veis em que o Locutor, por meio das estruturas composcionais do texto, projetava-se em
forma de construir a sua melhor imagem sobre o que é abordado na prática discursiva). O
que ficou evidente é que o Componente Sequencial, visto sob o prisma defendido por nós
(GARANTIZADO JÚNIOR, 2015), possibilita uma estreita relação entre o Componente
Textual e o Componente Retórico. Isso se dá pelas construções de argumentos constituí-
das pelo PdV e que, de alguma maneira, projetam-se no éthos, páthos e lógos (elementos
que constituem o Componente Retórico).
A possibilidade de análise do texto, seguindo o que demonstrara Adam (2008), para
nós, seria a possibilidade de se poder decompor o texto em planos composicionais e
discursivos. Para que isso fosse realizado com exatidão e eficácia, deve-se ter uma abor-
dagem em que se possa estabelecer a relação de conceitos inerentes a toda proposição
-enunciado, que, segundo Adam (2008), seriam indispensáveis na observação dos dados
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em um estudo mais aprofundado. Por causa disso, ele defende a impossibilidade de exis-
tirem enunciados desprovidos de uma responsabilidade enunciativa – PdV – (ponto de
vista enunciativo marcado por um grau de responsabilidade- Podem aparecer marcadas
com índices de pessoas (meu, teu); dêiticos espaciais e temporais; tempos verbais, entre
outros). A responsabilidade enunciativa ou fonte do saber implementa qualquer análise à
medida que vislumbra a quem pertence o ponto de vista enunciado - PdV. É pertinente
explicar que o PdV pode ser encarado como o processo de engajamento em que o Locu-
tor possui com o seu texto, tanto que Adam (2008), para explicar esse conceito, recorre
aos aspectos pragmáticos dos atos de fala.
O mais das vezes, o grau de PdV é claramente marcado em unidades da língua, seja
por expressões que claramente definem o PdV (de acordo, segundo, para), ou por ex-
pressões que assinalam um PdV anônimo (parece). Para ele, além da responsabilidade
enunciativa, os discursos comportam uma referência como representação discursiva
(Rd) construída pelo conteúdo proposicional (ponto de vista semântico, tema, objeto de
discurso, predicação). Para Catelão (2010), a Rd seria o sentido atribuído aos enunciados
em relação ao mundo e às condições de recepção (as perguntas: quem? o quê? quando?
por quê? e como?) a ele circundados e que contribuem para o reconhecimento da situação
de produção, ocorrência e recorrência da situação ou de partes dela.
Em nossa tese de doutoramento (GARANTIZADO JÚNIOR, 2015), o conceito de
esquematização discursiva é usado em razão das particularidades discursivas dos textos
e de sua própria materialidade. Essa importante noção tem como princípio que qualquer
atividade discursiva é originária de uma esquematização, a qual tem por propriedade aliar
em um mesmo plano o enunciado como processo e como resultado, ou seja, o enunciado
como fruto da escolha do Locutor para atender a determinado sentido e como resultado
do sentido atribuído pelo interlocutor no momento de recepção do discurso. Desse modo,
a esquematização abrange duas ações:

1. o processo (ação desempenhada pelo autor, sujeito no mundo, de construção de


uma esquematização e de uma imagem de éthos nessa esquematização) e
2. o resultado (um discurso que propicia por parte do coenunciador uma interpre-
tação, reesquematização e visualização do éthos) de um discurso, inseparável de
uma memória intertextual/interdiscursiva que compreende a consideração não só
do enunciado em si, como de toda expressão dialógica que ele comporta.

Na nossa visão de análise e descrição da argumentação, o Componente Retórico da


argumentação é constituído de dois importantes aspectos: a) as estratégias argumentati-
vas capazes de provar os argumentos do Locutor (PERELMAN; TYTECA, 1996) e b)
das projeções do éthos, páthos e logos (AMOSSY, 2011). Na verdade, o que estamos
chamando de Componente Retórico diz respeito às investidas do Locutor em tentar apre-
sentar-se para o seu auditório a partir da construção de uma imagem positiva de si, além
das técnicas de persuasão. Nos textos de cunho argumentativo, encontramos essa busca
de construir uma imagem, mesmo esta sendo involuntária. Desse modo, o éthos, como
já preconizava Aristóteles em sua Retórica, assim como o éthos defendido por Amos-
sy (2011), ganham destaque em nosso modelo. Outrossim, estudar a argumentação sem
considerar essa importante “artimanha discursiva” para a construção da persuasão seria
negligenciar o papel das técnicas argumentativas que o Locutor usa para chegar aos seus
objetivos no ato argumentativo.
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Na Retórica, éthos, péthos e lógos constituem a tríplice dimensão da disciplina. Na
verdade, o éthos é aquele fenômeno/procedimento capaz, de certa forma, de responder
por intermédio do lógos a uma série de questões sobre as quais o ser humano negocia
aproximações e distanciamentos diversos. Acerca disso, Mosca (1997) nos diz que os
enunciados são produto de estratégias que levam em conta tensões entre os interlocutores,
a manutenção do equilíbrio, a continuidade da relação entre eles, para que a negociação
entre as partes possa ser estabelecida. Nesse sentido, o éthos é uma excelência que não
tem objetivo próprio, mas se liga à pessoa, à imagem que o Locutor passa de si mesmo,
o que o torna exemplar aos olhos do auditório, que então se dispõe a ouvi-lo e a segui-lo.
Nota-se a importância do éthos por possibilitar estabelecer um grau de confiabilidade no
Locutor no momento do ato persuasivo.
Quando o Locutor toma a palavra com o objetivo de tentar persuadir o seu auditório,
aquele necessita construir uma imagem para este poder ser convencido. Em muitas situa-
ções, essa construção dá-se de forma involuntária; em outras, proposital. O certo é que, em
todas elas, a imagem do Locutor é construída e, sempre, com objetivos bastante claros: per-
suadir seus pares. Assim, o Locutor busca apresentar-se positivamente; desde uma simples
conversa com amigos até uma conferência, sua imagem está em constante evidência.
Na verdade, o que se observa é que, segundo Catelão (2013), a imagem do “eu” no
discurso é criada por meio de figuras que são acionadas entre um participante que fala/
escreve e outro que recebe, decodifica, compreende, interpreta e tem a chance de po-
sicionar-se por outra figura de retorno. De um ponto de vista geral, essas figuras são
geradas de acordo com as funções sociais dos indivíduos participantes da situação de
produção, segundo determinados comportamentos humanos que acabam por configurar e
se cristalizar em determinadas “figuras-tipo” ou de identidades, que vão se reinventando
e reaparecendo de acordo com o ambiente, a época e a situação em que são adotadas. Elas
ficam expressas no “poder das palavras”, legitimadas pelo responsável pelo que é dito
e firmadas por certos estereótipos sociais, como a mãe de família, o homem de Deus, o
político corrupto, dentre tantas outras possibilidades de projeções.
Em nosso modelo (GARANTIZADO JÚNIOR, 2015), a projeção do éthos, do pá-
thos e do lógos será importante, principalmente a projeção do éthos, pois usaremos esses
conceitos seguindo o que Adam (2005) preconiza como esquematizações discursivas. Na
verdade, o autor busca apresentar um modelo que dê conta de estabelecer uma projeção
dessas noções e, para isso, ele defende que as estruturas composicionais dizem respeito ao
processo de esquematização discursiva que, em outro nível, permite aliar dados do ponto
de vista, representação discursiva e valor ilocucionário, por meio da caracterização da
situação sociodiscursiva, da condição de produção e da condição de recepção do discurso.
Observamos, desse modo, que o autor considera o contexto externo ao texto, assim como
o ponto de vista (PdV) que um Locutor estabelece no ato comunicativo. Esse conceito é
importante em nosso modelo teórico, pois temos, em muitos momentos, nas tentativas de
argumentação do Locutor, a construção de posicionamentos sendo construídos.
O Componente Retórico constitui-se do éthos como elemento responsável pela projeção
dos sujeitos envolvidos no ato comunicativo, assim como do próprio assunto a ser tratado,
como já preconizava a Retórica dos antigos. No entanto, essas noções, para que os objetivos
sejam concretizados, necessitam de técnicas mais apuradas para alcançarem os seus objeti-
vos. Desse modo, o Componente Retórico contará com a integração de conceitos da Retórica
e Nova Retórica no que se refere ao acordo e ao estabelecimento do discurso frente aos tipos
de argumento, ou seja, “beberemos da fonte” aristotélica, assim como da de Perelman e Ty-
teca (1996). Estes desenvolveram uma típica teoria centrada no auditório, ou seja, naqueles
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cuja adesão se visa ganhar, e, por esta razão, a relação com a Retórica (principalmente a de-
senvolvida por Aristóteles) é bastante estreita. Na verdade, o argumentar estaria diretamente
relacionado com o ato de participar de uma argumentação, de modo que o orador possa
fornecer argumentos, razões, a favor, ou até mesmo contrárias, a uma determinada tese.
A Nova Retórica tem uma íntima ligação com a retórica clássica, embora Perelman e
Tyteca (1996) promovam algumas mudanças, o que justifica o adjetivo “Nova”. De fato,
a Nova Retórica retoma parte do pensamento clássico, mas promove alguns avanços.
Consideramos que o modelo proposto está associado diretamente à arte do falar bem,
ou mais do que isso em alguns momentos, já que ela está voltada para a forma de falar e
de conseguir um efeito esperado. Nessa nova realidade de lidar com a argumentação, a
Nova Retórica dispensa o discurso falado informal e vai em busca de um discurso mais
elaborado quanto às múltiplas possibilidades de aspectos lógicos, valorizando as razões,
os convencimentos e, com certeza, motivando o estudo da persuasão. Assim, busca-se
estudar todos os tipos de auditórios, não se restringindo a nenhum, podendo ter desde
um auditório mais leigo sobre o assunto proposto pelo Locutor até um mais competente.
Após todos esses esclarecimentos teóricos sobre o nosso modelo de análise da argu-
mentação, é fulcral a aplicação de nossa proposta em diversificadas situações em que um
Locutor busque a “adesão dos espíritos” (PERELMAN; TYTECA, 1996) de um auditó-
rio. Assim, a carta-testamento de Getúlio Vargas, enquanto objeto analítico, pode servir
para refletirmos como o nosso modelo se enquadra com outras situações comunicativas
complexas e que envolvam práticas discursivas. Nesse sentido, na próxima seção, pas-
semos para a descrição analítica de nosso modelo, tomando-se como base os aspectos de
produção do texto, assim como os aspetos composicionais e retóricos que o transforma-
ram em um dos principais documentos da História recente brasileira.

2. Análise dos aspectos argumentativos da Carta-Testamento de Getúlio Vargas

Como demonstramos na seção anterior, a argumentação pode ser analisada também a


partir dos aspectos externos ao texto. Levando-se em consideração nossas categorias de
análise, podemos indicar que as condições de produção sócio-históricas da Carta-Tes-
tamento do presidente Getúlio Vargas representavam uma época de muita rivalidade entre
os que defendiam a continuidade do “projeto político” da Era Vargas e os que queriam a
constituição de uma retomada de poder, nem que fosse preciso retirar o presidente do car-
go por meio de um golpe. Aos poucos, a opinião pública e as forças políticas, antes vitais
para a manutenção do governo de Vargas, tornaram-se instrumentos que configuraram a
sua diminuição da popularidade, dificultando o diálogo do Locutor com o seu interlocutor
principal: o povo. Desse modo, essa ruptura entre presidente e o povo ruiu algo vital em
seu governo característico por práticas populistas: a opinião pública favorável ao governo.
A época estava indicativa para várias pressões, que viam desde o plano interno (forças
políticas e opositores ao governo), até forças externas (o mercado externo revoltado pelas
imposições e intromissões governamentais do presidente na economia, como foi o caso da
criação de órgãos sem a participação de investimentos externos e controlados pelo Estado,
como a Petrobrás). Isso ficou claro no trecho a seguir, da Carta-Testamento:

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se


desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não
me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que
eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes
(CARTA-TESTAMENTO).
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Conexão Letras
Como se pode perceber, “as forças” e “os interesses contra o povo” reforçam a ideia de
que o presidente estava passando por uma situação complicada em seu governo. Essas “for-
ças” indicam um argumento de que o presidente sofre forças ocultas (a posição? O mercado
externo?) que, de maneira direta, implicavam um argumento de que “as forças estão contra
o povo”. Como se pode perceber, o contexto amplo em que o Locutor Getúlio Vargas está
inserido é determinante para o processo de construção das perspectivas argumentativas que
o projetam como “preocupado com a população” e como “não possui direito de defesa”.
A expressão “precisam sufocar a minha voz” é indicativa de que “buscam” (várias forças)
retirar o governante com o propósito nítido: um golpe governamental.
A situação específica em que o texto é produzido é muito duvidosa. Muitos ainda
questionam a veracidade do documento oficial, mas, como apresentamos na introdução
deste trabalho, não entraremos nessa questão e, desse modo, nosso foco será apenas a
análise do texto lido para a população após o ato de suicídio do presidente. Ao que parece,
essas “forças” indicadas no trecho da carta proporcionaram um fato bastante relevante:
o Locutor preferiu o suicídio a perder seu governo. O que chama atenção é que, em
outro momento da História, o Locutor já havia passado por problemas semelhantes e a
solução, naquela oportunidade, foi renunciar, como ficou evidente na passagem “iniciei
o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei
ao governo nos braços do povo”. Catelão (2010), quando analisou cartas de suicidas, a
fim de demonstrar os impactos argumentativos envolvidos, percebeu que o argumento de
“algo proporciona o ato” foi bastante recorrente. O ato “suicida” do presidente, de certa
forma, foi eivado de projeções de “culpa de outros” para a realização do ato. Na verdade,
aparentemente, o Locutor do texto quer argumentar os motivos pelos quais o fizeram
cometer a ação de perder a vida completamente. Essa constituição foi notada no trecho:

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos
econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o
trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social (CARTA-TESTAMENTO).

Como se pode perceber, o Locutor reconhece que possui um “destino” que lhe é “im-
posto”, como que justificando a ação de suicídio que cometerá. O que se evidencia é que
o Locutor, movido pelas ações de interferências externas, busca a retirada da vida com
um propósito determinado. A indicação de que a época em que ele governava era compli-
cada se confirma com “fiz-me chefe de uma revolução e venci”. O item lexical “destino”
é muito elucidativo na justificativa de que o suicídio deveria ser feito, era algo imposto e
que seria a única saída do Locutor, a fim de preservar e defender a população.
Esses aspectos externos condicionam coerções para a produção do gênero Carta-Tes-
tamento. A definição de gênero defendida por nosso trabalho tem como influência os
achados de Bakhtin (1997) acerca dessa fundamental noção teórica para os estudos da
linguagem. Desse modo, entendemos que o gênero é um construto abstrato com carac-
terísticas relativamente estáveis, inseridas em um contexto sócio-histórico de produção
comunicativa e que se manifesta, de maneira material, por meio de textos que, necessa-
riamente, necessitam de contextos de usos concretos.
Seguindo as ideias de Bakhtin (1997), as unidades temáticas que se constituem no
texto são sempre relacionadas ao processo de significação amplo em que indica a derru-
bada do poder do presidente por outras forças não mencionadas pela carta, mas que se
apresentam de forma recorrente pela repetição de estruturas lexicais que nos faz perceber
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que o tema “forças” se faz presente. A ideia central do texto é o fato de um Locutor come-
ter suicídio e, assim, não deixar uma “carta de suicídio”, mas uma “Carta-Testamento”,
como se o texto indicasse o legado deixado por ele para a população, já que a palavra
testamento indica bens destinados a outro sujeito.
Outro elemento importante na constituição do Componente Genérico é o estilo. Como
se pode perceber, em muitos momentos, o Locutor opta por termos que demonstram uma
ação positiva de suas medidas governamentais, como em “não querem que o povo seja
independente” ou em “cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa cons-
ciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão”.
Na primeira passagem, a palavra “independente”, usada pelo Locutor, fora proposital-
mente uma forma de indicar que a ação de suicídio se dava, principalmente, por ele não
conseguir combater ações externas contra o seu governo. Diretamente, percebemos a “in-
citação” do povo contra os “que queria a queda” do Locutor, como se o suicídio fosse
o único caminho e, por saber disso, o presidente tendenciava a jogar a população (que
estava contra ele naquele momento) contra os que queriam um golpe. O estilo também foi
notado na expressão “sangue”, que aparece algumas vezes no texto, fazendo referência
direta ao ato cometido e, assim, chamando o interlocutor a entender os motivos da ação
suicida. O Locutor, ao indicar que “cada gota de sangue” constituirá uma “chama imortal”
capaz de produzir sujeitos resistentes, indica o quão é necessário o “combate às forças”
que o proporcionaram ao ato. Nota-se, desse modo, que há uma nítida construção de uma
argumentação que induz a população a se revoltar contra os opositores do governo. Apa-
rentemente, o Locutor, ao jogar a culpa da ação em um outrem, transfere as suas ações
de culpa e fraqueza para responsabilizar os que lhe motivaram a fazer isso, o que acaba
construindo outro argumento: “não havia mais o que fazer a não ser o suicídio”.
Analisando os aspectos relacionados ao Componente Sequencial, percebemos que o
texto, para construir o seu todo argumentativo e significativo, precisa que seja encadeado
em subconjuntos das partes que o forma. A sequenciação do plano do texto acontece em
uma sucessão. Assim sendo, o texto é construído de partes, que, por sua vez, constrói uma
unidade de sentido e se realiza em um contexto, designada por Adam (2008) como uma uni-
dade semântica e pragmática denominada “configuracional”, porque nela estão inclusas as
partes do enunciado que forma o todo do texto. Na Carta-Testamento, a predominância da
sequência argumentativa se dá por causa da busca do Locutor em indicar uma argumenta-
ção de que “fez o ato em prol do Brasil” e de que “forças o conduziram a tomar a atitude de
suicídio”. Entretanto, percebemos a sequência narrativa no segundo e no terceiro parágrafo
do texto. Isso se confirma, principalmente, nos verbos usados com tempo indicativo de
passado. Mesmo assim, apesar da tentativa de narrar procedimentos e fatos já ocorridos, o
Locutor as usam com o propósito argumentativo: convencer a população de que o suicídio
era o melhor caminho e que a oposição não deve chegar ao poder após sua morte.
Obviamente, pensar em argumentação é entender que o Locutor, mesmo que invo-
luntariamente, faz uso das características condicionadas socialmente para os gêneros e,
assim, usam-nas de forma a tentar demonstrar que seus argumentos são convincentes.
Deve-se, portanto, entender que, no caso do Locutor em questão, isso não ocorre, pois
ele busca convencer a população brasileira sobre os motivos reais que o levaram à morte.
Por causa disso, o plano do texto da Carta-Testamento tem como elemento importante a
apresentação da temática a ser abordada em forma de uma ponderação problemática, que
se instaura por meio de uma relação dialógica e intertextual os fatos que aconteceram no
atentado na Rua Tonelero e nas ações do governo apresentadas por Getúlio no texto.
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Conexão Letras
O texto em destaque, com certeza, tem como característica principal a persuasão. Quan-
do se pensa em um discurso proferido por um Locutor em uma situação de comunicação
com contexto político complicado, pensa-se nas intenções desse sujeito em empreender
sua tese e seu ponto de vista em relação a um determinado público. Desse modo, o gênero
Carta-Testamento, além de sofrer coerções da situação comunicativa em que o sujeito está
inserido, também condiciona, por exemplo, as escolhas lexicais, com o fito de se ter as
estratégias argumentativas sendo bem apresentadas. As palavras “sangue”, “forças”, “humi-
lhar” ou expressões como “me liberto”, “saio dessa vida”, “campanha subterrânea”, dentre
outras, indicam a projeção de um éthos de “não culpa” e “presidente preocupado com a
população humilde” no Locutor. Importante, também, que possamos estabelecer os limites
estabelecidos pelas proposições-enunciados apresentadas no texto refletindo a situação de
comunicação. Isso é oportuno antes de mostrarmos o esquema de sequencialidade que se
constitui nos dois textos em análise. Assim, o ponto de vista (PDV), a representação discur-
siva (RD) e os valores ilocucionários são coocorrentes no texto em análise.
Com relação ao PdV desenvolvido, percebemos que ele está apresentado significati-
vamente marcado em torno da necessidade de apresentar que existiu uma “força” con-
trária ao governo, momento em que o Locutor se engaja a seu enunciado. Isso aparece
nitidamente em vários momentos do texto e é sobre o ponto de vista da existência “dessas
forças” e de que a “os mais humildes serão desamparados” que se fundamentou o PdV
de que “o suicídio é fruto dessas forças” e de que o Locutor “lutou contra a espoliação do
povo”. Nesse sentido, constrói-se uma representação discursiva (RD) para o discurso e
dela se possibilita a criação de um éthos em que uma imagem de si emblemática de que
“Getúlio, pai dos pobres” se projeta. Na realidade, o PdV que se constrói na imagem do
Locutor é a de engajamento com o que está sendo proferido, o que nos permite indicar
que há uma forte busca em valorizar os aspectos positivos do presidente, assim como as
ações empreendidas em seu mandato. Isso se confirma nas diversas passagens em que o
argumento de “salvados dos pobres” se expressa.
A leitura do texto nos possibilita indicar os seguintes argumentos centrais: a) as forças
externas ao governo impossibilitam o Locutor de exercer seu trabalho corretamente em
favor dos pobres; b) a população brasileira, com a morte do Locutor, ficará desamparada
e c) O Locutor não tem culpa pelo seu ato em prol do povo, pois ele deixa a vida para
entra na História em função da preocupação dele com o povo. Essa base de argumentos
nos possibilita a construir a organização composicional da sequência argumentativa, uma
das ações possíveis para o Componente Sequencial.
No texto em destaque, usando o quadro proposto por Adam (1992), podemos dizer que
o P. arg. 0 pode ser considerado o fato de o Locutor querer justificar os motivos de fazer o
ato de suicídio. A tese inicial do texto seria apresentar justamente a defesa de seu governo
e de suas ações em prol da população. Interessante é que a tese inicial, de certa forma, não
aparece no início do texto, mas fragmentada em algumas partes no segundo parágrafo.
De forma indireta, o discurso do Locutor se constitui de premissas (P. arg 1) calcadas
nas informações de que o seu desejo era a continuidade de ações que privilegiavam a po-
pulação, que se sustenta como argumento quase que central na composição textual. Para
manifestar esse pensamento em forma de argumento, o Locutor usa alguns procedimen-
tos, que ele chama de “questões”:

1. “Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue
a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes”. Nesse
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argumento apresentado pelo Locutor, notamos claramente que ele busca destacar
o quanto foi o “pai dos pobres” e que “tentou sempre os caminhos para os mais
humildes”. Esse argumento só surte efeito, isto é, só leva à conclusão pretendida,
se os interlocutores o ancorarem em certas inferências (ancoragem inferencial - P.
arg 1), como no conhecimento de mundo que o presidente fez ações pelas quais
desagradaram “forças” que o fazem cometer o suicídio em prol da população. É
essa ancoragem de inferências que permite chegar à conclusão de que a oposição
e as forças de capital estrangeiro tentam de todas as maneiras convencerem a
sociedade de que Getúlio faz um péssimo governo;
2. “Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta.
Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá
a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão”. Esse ar-
gumento também pode ser enquadrado na construção argumentativa como (P. arg
1), uma vez que se configura como uma informação dada em busca de apresentar
a confirmação da tese (Getúlio está cometendo suicídio para salvar os pobres e
por ter forças externas contra o seu governo). Para empreender esse argumento,
o Locutor usa de estratégias argumentativas de “politizar” a decisão do suicídio,
argumentando a favor de seu ato de “fim da vida” como única saída para que as
“forças” não cheguem ao poder.

No desenvolvimento da sequência argumentativa do texto, o elemento de restrição (P.


arg 4) aparece explicitamente (sabemos que nem sempre as afirmações são contraditadas
explicitamente nos textos), mas também exigem os conhecimentos de mundo dos que
integram o auditório. Assim, observemos o trecho da carta:

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, inces-
sante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para
defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu
sangue (CARTA-TESTAMENTO).

De forma implícita, o Locutor afirma a sua luta contra as ações da oposição, indicando
que o povo estava sendo levado a um ato falho ao querer a “saída de Getúlio da preseidên-
cia”, já que este “apenas queria o bem comum dos pobres”. Podemos considerar que essa
restrição também ocorreu na expressão “não querem que o povo seja independente”, que
seria uma restrição em forma de argumento contra o que estava sendo falado anteriormente.
O argumento conclusivo (P. arg 3) pode ser considerado a seguinte passagem:

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de
peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha
vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no
caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História (CARTA-TESTAMENTO).

Observe-se que esse argumento retoma a tese central, mas se configura como uma
nova tese, ao propor que o Locutor “saiu da vida para entrar na História”. Toda essa
estrutura sequencial argumentativa proporciona que se condicione uma série de esquema-
tizações que, de certa forma, projetam-se no éthos do Locutor.
Sendo assim, O Componente Retórico se constitui a partir das projeções das imagens
do Locutor Getúlio Vargas faz de si. Mantendo-se essa linha de raciocínio, o éthos do
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Conexão Letras
Locutor constrói-se na apresentação de suas qualidades, o que nos faz entender a pro-
jeção da imagem positiva do político Getúlio. O sujeito apresenta-se como um “pai dos
pobres” e que “está preocupado com os humildes”. Essas projeções são transpostas, em
muitos momentos, ao longo da Carta-Testamento. A leitura desse texto nos faz enten-
der que o éthos que se apresenta pelo Locutor é o de “injustiça” e “altruísmo”, já que o
Locutor empreende a construção de uma imagem de que as “forças” que o impedem de
proporcionar transformações sociais. Nesse sentido, a Carta-Testamento constitui-se de
uma justificativa para a população sobre o ato de suicídio, em prol de impossibilitar que
as forças contrárias ao Locutor tomassem o poder.
A projeção do éthos de “perseguição política” é constante ao longo do texto. Na ver-
dade, o alicerce da argumentatividade do Locutor é em indicar o quão complicado estava
sendo governar o país com a oposição jogando o povo contra o governo. Assim, o éthos
de “pai dos pobres” e o de “pai dos humildes” projeta-se como uma solução para cativar
o interlocutor (leitores da carta) sobre o momento conturbado. Esse argumento de que
“forças externas” ao governo impossibilitavam as transformações e as melhorias sociais
impostas pelo Locutor é o principal argumento para tentar ter a “adesão do auditório”
(PERELMAN; TYTECA, 1996). Aparentemente, o motivo da Carta é o de indicar o quão
estava complicado a governabilidade e, assim, o suicídio já seria um “destino” que o Lo-
cutor deveria cumprir. O éthos de “salvador” também se projeta ao longo da carta, quando
o Locutor busca indicar que sua morte representaria um sacrifício para que as “forças”
não conquistassem o poder. A imagem que se forma do Locutor é o de preocupado com a
população, com os humilhados e com os excluídos.
Ademais, O éthos de “justiceiro” é empreendido pelo Locutor como se ele quisesse
demonstrar as incoerências da época política em que ele estava vivenciando. A imagem
que se apresenta é de um político preocupado com o fato de “forças externas” o perse-
guirem e não possibilitarem as transformações sociais e econômicas iniciadas pelo seu
governo. Nesse sentido, o Locutor advoga para o argumento de “Querem calar a minha
voz” para se projetar com um éthos de “suicídio para não tomarem o poder”. A imagem
que se desenvolve desse Locutor, contrapondo-se ao do Locutor de oposição, é de “injus-
tiça”, sob a alegação de “manobra política”, já que não há “contraprovas”, logo foi feito
um “momento em que a sua morte é necessária”.
Para que essas projeções ocorressem de maneira eficiente, muitas técnicas foram usa-
das pelo Locutor propositalmente, a fim de justificar sua decisão pelo suicídio e, prin-
cipalmente, jogar a população contra os seus opositores após o ato de “perda da vida”.
Devido à quantidade muito vasta de técnicas presentes na Nova Retórica, neste trabalho,
apresentaremos apenas as mais significativas para a construção da projeção do éthos de
“pai dos pobres” e que, de alguma maneira, confirme a tese inicial da sequência argumen-
tativa. Desse modo, fica a dica para que esse importante documento possa ser analisado
sob o olhar das várias estratégias argumentativas.
Sendo assim, um dos argumentos muito notórios foi o que se baseia na estrutura da
realidade (PERELMAN; TYTECA, 1996), que são aqueles ancorados nas relações de
nosso sistema de significados a partir do mundo objetivo. Um dos mais notados foi o ar-
gumento de causalidade, em que se argumenta e se expõe a causa dos fenômenos. Como
se sabe, uma causa se impõe por uma série de encadeamento dos fatos, o que podemos
observar em “A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos
nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho”, em que o Locutor usa a
força da oposição como uma das causas do ato suicida por ele realizado. Na verdade, esse
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argumento se apresenta com uma multiplicidade de causas, que seriam outras possibilida-
des que podem constituir a projeção do éthos de “injustiça”, como em “não querem que o
povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os
valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano”,
em que se projeta outra possibilidade de causa para o ato cometido.
Outro argumento muito utilizado pelo Locutor foi o de “argumento do sacrifício”. Para
Perelman e Tyteca (1996), esse tipo de técnica seria um tipo de argumento que se aproxima
com o da comparação e que busca comprovar a veracidade de uma tese pelo sacrifício de
alguém que tem alguma pureza de propósito. No caso do Locutor da Carta-Testamento, a
projeção do éthos de “altruísmo” se deu por meio das técnicas do argumento de sacrifício.
Argumentos como “como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes”, “Iniciei
o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar”, “Meu
sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu
sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a
resistência” e “Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio.
Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na
História”. Nos três trechos apresentados da Carta-Testamento, o que se observa é um Locu-
tor que se projeta como “capaz de fazer sacrifícios pelo povo brasileiro”. Esse argumento é
confirmado pela presença de itens lexicais que, em termos semânticos, aproximam-se dessa
noção altruísta de forma explícita (como é o caso do uso da palavra “sacrifício” no segundo
argumento) e implícita (palavras como “sangue”, “renunciar” e “defendi”, por exemplo). É
evidente que essa base de argumento confirma a projeção de um éthos positivo do Locutor,
capaz de “cometer o suicídio em prol da população mais humilde” ou “cometer o suicídio
só para não deixar que as forças externas cheguem ao poder”.

Considerações finais

Como se demonstrou, o modelo de argumentação sob um prisma textual e retórico,


considerando aspectos externos ao texto como a época e a situação comunicativa, pode
servir para explicar a construção da argumentação em textos de natureza argumentativa,
como é o caso da Carta-Testamento do presidente Getúlio Vargas. Ademais, demonstra-
mos que os três planos de descrição e análise da argumentação podem ser úteis no proces-
so de investigação de textos verbais.
Ficou evidente que os Elementos externos ao texto foram fatores cruciais e determi-
nantes para a confecção do texto histórico de Getúlio Vargas, já que as condições sócio
-históricas de produção em que o Locutor estava inserido, de muita instabilidade política,
além da situação comunicativa em que o texto fora produzido, com o presidente prestes a
ser deposto de seu cargo, condicionaram um texto eivado de passagens que valorizaram a
sua imagem de o “pai dos pobres”, que fora comprovada nas esquematizações e no Ponto
de Vista (PdV) dos argumentos elencados pelo Locutor ao longo do Componente Sequen-
cial e Componente Genérico e, assim, imprimiram a tese de que “o suicídio era o único
caminho”, pois “forças externas contrárias às ações que beneficiavam o povo” queriam
tirar o presidente do governo.
Nesse contexto, fica a sugestão de que outros trabalhos possam utilizar a aplicabili-
dade do modelo, investigando a sua exatidão na análise da construção da argumentação.
Nesse sentido, o grande desafio seria observar em que outras práticas discursivas a teoria
pode proporcionar descrição de aspectos argumentativos.
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Conexão Letras
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