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Abstract: Based on the studies of Perelman and Olbrecths-Tyteca (2005) and Charaudeau
(2008), this article aims to analyze the first inaugural speech of the ex-president Dilma
Rousseff, delivered in 2011. The purpose is to bring to light some enunciative strategies
adopted by the ex-agent in her speech in order to convince and persuade her audience. To
base this work, the notions of ethos, scenography and contract are discussed in order to
analyze how the construction of the image of the ex-president in the mentioned discourse
takes place. Finally, media action in the political field is highlighted.
Key-words: Argumentation. Political speech. Ethos. Media.
Introdução
A noção de ethos tem sido um dos temas mais discutidos e explorados dentro
dos estudos retóricos e da análise do discurso nas últimas décadas; no que se
refere ao discurso político, este conceito tem servido como ponto de partida de
diversos trabalhos em ambos os campos, gerando discussões frutíferas. Com a
finalidade de contribuir de alguma maneira nesses debates, neste artigo tem-se
como objetivo analisar como se dá a construção da imagem (ethos) da ex-presidente
Dilma em seu discurso de posse de governo (do 1º mandato), proferido na TV no dia
01 de janeiro de 2011. Analisa-se o discurso da ex-presidente do Brasil porque esta
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sociais que são o dizer político e do fazer político; cada um deles se define segundo
relações de força e através de um jogo de dominação próprio, onde a linguagem se
liga à ação, mostrando as incidências de sua conjetura (linguagem-ação) sobre a
apreciação do discurso político. Entretanto, nesta reflexão, é importante recordar
que a noção de argumentação está relacionada também de forma intrínseca ao
discurso político.
Argumentar é a arte de convencer e persuadir utilizada pelo orador a fim de
gerenciar a informação e relação com o auditório. Perelman e Olbrecths-Tyteca
(2005, p. 21) citam que, “com efeito, como a argumentação visa a obter a adesão
daqueles a quem se dirige, ela, é, por inteiro, relativa ao auditório que procura
influenciar”. Os autores propõem uma nova retórica a partir da obra de Aristóteles e
discorrem em seu tratado sobre os âmbitos da argumentação, explicando como se
desenvolvem as relações entre orador e auditório.
O auditório é o conjunto de indivíduos que o orador quer exercer influência
por meio de sua argumentação. Entretanto, para que uma argumentação se
desenvolva, é necessário que os indivíduos que são alvos do que está sendo
emitido prestem atenção. Deve-se considerar que existem funções que possibilitam
o orador (e só elas) a assumir a palavra em certos casos, ou diante de certos
auditórios. O contato entre orador e auditório é fundamental durante todo o
desenvolvimento da argumentação (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005). Os
autores asseveram que o auditório presumido é em geral, para quem argumenta,
uma construção mais ou menos ordenada, isto é, sistematizada. A construção do
auditório adequada à experiência é essencial para quem pretende persuadir de fato
a seus destinatários, ou seja, a argumentação eficaz tem que conceber o auditório
presumido tão próximo quanto o provável da realidade. O conhecimento sobre
aqueles que se pretende a adesão é, pois, uma condição anterior de qualquer
argumentação que produz um efeito. Portanto, para influenciar o auditório, é
necessário conhecer os meios para tal e aplicar a regra de adaptação do discurso ao
auditório, seja ele qual for, pois os argumentos são relativos aos ouvintes e são
conforme as suas opiniões. Em síntese, os discursos devem ajustar-se ao auditório.
Sobre o sujeito político, Charaudeau (2006) assevera que, a depender da
situação de enunciação e da posição que ocupa, este agirá e utilizará estratégias
diferenciadas a fim de alcançar seus objetivos. Em outras palavras, este sujeito deve
ser um indivíduo que se mostre confiável e que convença o maior número de
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Para este artigo, acessou-se o vídeo do discurso de Dilma Rousseff, proferido no Congresso
Nacional, disponível na íntegra na seguinte página: https://www.youtube.com/watch?v=QxFBT3piuwk.
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É importante destacar que ao longo do texto forma mantidas as aspas utilizadas por Charaudeau
(2006) nas palavras utilizadas para classificar os ethé.
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Excerto 1: Carinho que dedico a minha filha e ao meu neto. Carinho com
que abraço a minha mãe que me acompanha e me abençoa. É com este
mesmo carinho que quero cuidar do meu povo, e a ele − só a ele −
dedicar os próximos anos da minha vida. Que Deus abençoe o Brasil! Que
Deus abençoe a todos nós! (Rousseff, 2011, Informação verbal, grifo
nosso).
jamais é uma propriedade individual, mas que ele compete a um grupo e continua a
pertencer-lhe durante o período em que este permanecer unido, conforme se nota
no seguinte excerto:
quais foram apontadas por meio de exemplos nos parágrafos anteriores. Dilma
constrói, por meio de seu discurso, a imagem de uma mulher lutadora, corajosa,
dedicada, responsável, solidária, obstinada e também humilde ao supostamente
reconhecer em sua fala a importância de algumas figuras políticas e do público em
geral em sua ascensão ao cargo, e na continuidade do desenvolvimento do país.
Nota-se, também, que a ex-presidente constrói a imagem de um ser solidário e
preocupado em querer atender a todas as classes, desde os movimentos sociais, os
profissionais liberais, os intelectuais e os que lutam pra superar diferentes formas de
discriminação como os negros, mulheres, índios e jovens. Além disso, se observa
que Dilma não deixa de lado, em seu discurso, temas amplamente debatidos na
sociedade e que interessam a seu auditório como a educação, saúde e segurança,
porém em todo momento dá ênfase aos êxitos alcançados pelo seu partido, em
diversos setores, no governo anterior.
Considerações finais
nas mídias, sendo que cada dispositivo possui características próprias que vão
determinar aspectos distintos na veiculação da informação.
Há algumas décadas, as informações políticas (como, por exemplo, as
campanhas eleitorais e sobre os candidatos às eleições) eram divulgadas
principalmente em jornais impressos, folhetos (conhecidos como “santinhos”), etc...
Na atualidade, é possível contar com outros recursos como as mídias sociais, os
blogs, os jornais on-line, entre outros, que de fato têm se beneficiado destes novos
ambientes para fazer circular a sua opinião. Entretanto, deve-se considerar que
estas ferramentas sofrem censuras da instância de recepção.
As mídias, de fato, têm se beneficiado destes novos espaços pra fazer
circular a sua opinião. Concorda-se com Charaudeau (2013, p. 252) quando afirma
que, “as mídias manipulam de uma maneira que nem sempre é proposital, ao se
auto manipularem, e, muitas vezes, são elas próprias vítimas de manipulações de
instâncias exteriores”.
Á guisa de conclusão, destaca-se que o poder político mantém de certa
forma, em todo o tempo, uma relação com a mídia, e se interessa também pela
construção do jogo de manipulação. Há uma guerra entre políticos, jornalistas,
guerra simbólica, cujo ideal é conseguir a adesão da opinião pública ao seu
discurso.
Referências
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das Mídias. 2ª ed. Tradução de Ana Corrêa. São
Paulo: Contexto, 2008.