Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
A histórica sessão da Câmara dos Deputados Federais que antecedeu ao AI-5
recolocou em cena a eterna polêmica entre situação e oposição. Nossa pesquisa busca
mostrar como Geraldo Freire (ARENA), Márcio Moreira Alves e Mário Covas Júnior
(MDB) constroem seus ethé e seus discursos, inscrevendo-os nessa memória polêmica.
Neste encontro, apresentaremos a parte da pesquisa que se volta para a
caracterização do ethos no discurso pronunciado pelo deputado Geraldo Freire e para o
processo de validação da enunciação de seu discurso numa formação discursiva
governista. A análise focaliza a construção do ethos tendo em vista as coerções do
gênero parlamentar, da cena enunciativa e das formações discursivas.
Num primeiro momento, situaremos as condições de produção que envolveram
o discurso em análise. Depois, apresentaremos a noção de gênero, seguida de uma breve
caracterização do gênero parlamentar. Mais adiante, relacionaremos a noção de gênero
com a de ethos, descrevendo e comparando as cenas enunciativas produzidas nos
discursos de Geraldo Freire e de Márcio Moreira Alves. E, finalmente, após definirmos
a noção de ethos, apontaremos suas características no discurso de Geraldo Freire.
Enfim, podemos dizer que os dados levantados até aqui nos mostram que o
discurso de Geraldo Freire constrói seu ethos ordeiro, ao discursivizar a conformidade
com as regras instituídas, validando a enunciação de um discurso situacionista.
Conclusões
Em suma, podemos concluir que a construção do ethos submete-se a um
conjunto de regras ideológicas e enunciativas, cuja predominância de uma sobre a outra
pode variar conforme o gênero discursivo. No caso estudado, entendemos que as
coerções genéricas são tão predeterminantes quanto as coerções ideológicas, pois,
embora cada qual imponha, ao seu modo, o que dizer e como dizer, o discurso de
Geraldo Freire não inscreve apenas um sujeito conformado às regras que lhe são
impostas, mas sim um enunciador que utiliza e se serve de todo esse conjunto de
coerções para construir uma imagem valorizada de si, enquanto marginaliza a imagem
de seu adversário. É o que podemos considerar sobre a relação entre ethos e gênero do
discurso.
Bibliografia
BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: _____. Estética da criação verbal. São
Paulo: Martins Fontes, 1992, p.277-326.
BAKHTIN, Mikhail; VOLOCHINOV, V.N. Marxismo e filosofia da linguagem. 9ªed.
São Paulo: Ed. Hucitec; Annablume, 2002.
BRANDÃO, Helena Nagamine. Gêneros do discurso na escola. São Paulo: Ed.Cortez, 2000.
DISCINI, Norma. O estilo nos textos. São Paulo: Ed. Contexto, 2003.
MAINGUENEAU, Dominique. Présentation. Langages, Paris, n.117, p.5-11, mars 1995.
_____. Novas Tendências em Análise do Discurso. Campinas: ed. Pontes, 1997.
_____. Ethos, scénographie, incorporation. In: AMOSSY, Ruth (Dir.). Images de soi dans
le discours. La construction de l’éthos. Lausanne: Delachaux et Niestlé, 1999, p.75-100.
_____. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2002.
_____. Problèmes d’ethos. Pratiques, Metz, n.113-114, p.55-67, juin 2002a.