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Pablo Ferreira
Nota prévia
1
imprensa nacional, mediante os mais diversos órgãos de informação, registrou
as manifestações de maior notoriedade, comprovando uma verdadeira cisão
partidária no Brasil.
(1)
1
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/03/150315_cartazes_protestos_pai. Consultado
em 11 de maio de 2017. As imagens foram ligeiramente modificadas, isto é, parte delas foi
recortada e neste trabalho aparecem formatadas, tudo para adequá-las a ele.
2
(2)
3
processo discursivo. Com efeito, o que corrobora semelhante desconsideração
é justamente o contexto de produção dos enunciados, visto que o primeiro foi
utilizado no protesto do dia 13 de março de 2015, enquanto o segundo foi
utilizado no protesto opositor organizado no dia 15 de março do mesmo ano.
Ou seja, apenas dois dias separam os dois protestos, significando que,
sobretudo em virtude da sua contraposição partidária, é natural que ocorresse
entre os grupos toda sorte de alusões recíprocas, ora ultrajosas, ora
repreensivas, ora impugnantes. A rigor, não poderia ser diferente, tendo em
vista que a situação discursiva do nosso corpus pertence à modalidade estrita,
isto é, que “compreende as circunstancias da enunciação, o aqui e o agora do
contexto” (ORLANDI, 2010, p. 15).
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no campo da manipulação consciente, linguisticamente caracterizada pela
estratégia argumentativa.
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almejar o desmantelamento dos órgãos jurídicos que asseguram a ordem e o
bem-estar nacionais.
Urge notar que o segmento “Vá prá Miami lavar privada!” é composto por
dois sintagmas nominais, sendo que o núcleo do primeiro, “Miami”, concorre
semanticamente para a apreensão dos sentidos encerrados no discurso
integral. O substantivo “Miami” refere, evidentemente, a uma instância extra-
verbal. Trata-se da mais populosa cidade do estado norte-americano da
Flórida. É massivamente frequentada por turistas de toda parte do mundo. Tais
explicações são satisfatórias a título de informação sobre a instância aludida,
mas muito pouco contribuem para a análise. Por isso, precisamos situar-nos
quanto às relações de sentido gestadas entre Miami e Brasil no exato contexto
do discurso.
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sujeitos da esquerda, do que o mercado de trabalho nacional durante a
presidência da presidente petista.
BRASIL MIAMI
>
País presidido pela Cidade dos EUA, maior
esquerda potência capitalista
mundial
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Dialética, aqui, deve ser compreendida não no seu sentido eminentemente filosófico, e sim
como choque de ideias e posições contrárias. Para o conhecimento das variações que o termo
sofre segundo o contexto, ver Santos (1964, p. 551).
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Nesse discurso existem divergências sutis com relação ao anterior, no
nível sintático. Se no cartaz (1) a escrita adota o estilo coloquial – típico das
marchas urbanas –, apreensível pela síncope da preposição (“pra” em vez de
“para”) seguida de um defeito, normativamente falando, de notação léxica,
como se nota pela acentuação aguda na mesma preposição (“prá”), no cartaz
(2), malgrado a simplicidade do enunciado, a escrita mantém-se nas regras da
GN. Isso aconteceu possivelmente porque o marxismo cultural, ideologia dos
manifestantes favoráveis a Rousseff, apregoa o nivelamento da cultura popular
à cultura erudita, acareada como aparelho ideológico da classe dominante.
Ademais, ao contrário de (1), em (2) é criado um efeito de subjetividade, devido
ao uso da primeira pessoal do singular, conquanto em condição elíptica ([Eu]
“prefiro”). Esse fator surge nas marchas urbanas, ao que Nunes atesta, como
marca da “individuação do sujeito na formulação dos cartazes” (2013, p. 73),
mas, para nós, nos discursos em exame, esse efeito de subjetividade provém,
sobretudo, da identificação do enunciatário de (1) com a ofensiva que este lhe
dispensa, o que justifica uma postura “subjetiva” no momento da reação,
quando esse enunciatário se transmuta em enunciador (naturalmente, de um
discurso coletivo).
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mensalmente e graças à redução do salário mínimo ao equivalente a 24
dólares.
Considerações finais
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Referências bibliográficas
FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. 6 ed. São Paulo: Ática, 1998.
NUNES, José Horta. Marchas urbanas: das redes sociais ao acontecimento. In:
PETRI, Verli; DIAS, Cristiane (Orgs.). Análise do discurso em perspectiva:
teoria, método e análise. Santa Maria: Editora da UFSM, 2013.
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