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Peça

NA COLÔNIA PENAL

FRANZ KAFKA

ÍNDICE

ATO I

Cena I
Na colônia penal

VIAJANTE, homem que chega a uma colônia penal em uma ilha remota.
OFICIAL, militar responsável pela aplicação da pena.
COMANDANTE,
CONDENADO, militar culpado pelo crime de desrespeito ao superior.

ATO I

Cena I

Entra o narrador.

Narrador: Na colônia penal os personagens não têm nome, sendo chamado apenas de
Oficial, [...]

Entra o oficial e presta continência à plateia.

[...] Comandante, [...]

Entra o Comandante e presta continência à plateia.

[...] Condenado, [...]

Entra o Condenado e presta continência à plateia.

[...] e Viajante. [...]

Entra o viajante e cumprimenta a plateia retirando seu chapéu.

[...] Somos introduzidos (ou seria melhor arrastados) em uma paisagem desoladora e
claustrofóbica, onde estão o oficial da colônia penal, um soldado às suas ordens, o viajante
estrangeiro e o condenado, todos ao redor do aparelho executor inerte. Visto que o
estrangeiro está em visita a colônia penal para conhecer melhor os métodos e
procedimentos usuais do lugar, o oficial não poupa detalhes para apresentar o
funcionamento do julgamento (completamente injusto) e do aparelho que irá infringir a pena
ao condenado.

O Viajante senta-se em uma cadeira posicionada em frente à máquina.

O Condenado posiciona-se ao lado da máquina com uma expressão de tranquilidade.

O Oficial posiciona-se ao lado do condenado e segura as correntes que prendem seu


pescoço, pulsos e tornozelos. Sua expressão é de admiração pela máquina.
Narrador: — É um aparelho peculiar — disse o oficial ao viajante explorador, examinando
com um olhar um tanto admirado o aparelho que, no entanto, já lhe era bem conhecido. O
viajante parecia ter aceitado apenas por educação o convite do comandante, que o
incentivara a acompanhar a execução de um soldado que havia sido condenado por
desobediência e ofensa a um superior. Mesmo na colônia penal, o interesse pela execução
não era muito grande. Ao menos ali, no vale pequeno, profundo, arenoso e cercado por
escarpas nuas, além do oficial e do viajante, estavam presentes apenas o condenado, um
homem aparvalhado de boca larga, cabelo e rosto bagunçados, e um soldado que segurava
a pesada corrente na qual se prendiam as correntes menores, com as quais o condenado
estava aferrado nos tornozelos, nos pulsos e também no pescoço, e que também se uniam
por outros elos. Além disso, o condenado parecia entregue de forma tão canina que a
impressão era a de que seria possível deixá-lo perambular livremente pelas encostas e
bastaria assobiar no início da execução para que ele viesse.

O Oficial chama o viajante para contemplar a máquina mais de perto e gesticula uma
explicação do funcionamento da máquina.

O Viajante escuta calado com uma expressão de espanto e desconforto.

Narrador: Kafka nos mostra aqui toda a perturbação latente de sua obra, que aflora
pontualmente, mas que se arrasta nos subterrâneos de cada palavra e de cada parágrafo.
Somos convidados aqui a presenciar a tragédia em forma de literatura. Na colônia penal é o
relato incomodativo e mórbido dos meandros jurídicos e da punição, que se apresentam
quase como uma força autônoma, onipotente e que, pelo fato de estar nos mais diversos
rincões da sociedade, fazem da vida uma constante tensão. Na colônia penal mostra o
horror de forma aberta, crua, requintada com a crueldade de assassino para chocar e
mostrar a perversidade e injustiça inapelável que o cercavam de todos os lados,
esgueirando-se para dentro de sua obra tanto como em relação a sua vida.

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