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مر- - گی-
UNIVERSIDAD COMPLUTENSE
532 4 2 3 4 7 20
|
JLI
R.24 5.451 FA
ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO 3234
THEATRO DE MOLIÈRE
PRIMEIRA TENTATIVA
111021
TARTUFO
COMEDIA VERTIDA LIVREMENTE
E
ACCOMMODADA AO PORTUGUEZ
SEGUIDA DE UM PARECER
1870
( 2300 5844
E
A
TRIBUTO RESPEITOSO
DO
A. F. de Castilho
1
FA
.
ADVERTENCIA INDISPENSAVEL
ORADADDOBRODROS
versos :
!
mulava o gosto que lhe daria representar no Tar
tufo, ainda que não fosse, dizia elle, senão alguma
parte bem secundaria, um recadinho de meia duzia
de versos. Dictava -lhe aquillo o affecto com que elle
retribue ao nosso .
Tinhamos pois de saldar uma divida de agradeci
mento . Mas como ?
Onde e de que modo se iria embeber em tão com
pacta, em tão bem acabada comedia uma figura nova ?
Toda uma noite se nos desvelou n'este cuidado, até
que a abençoada luz da madrugada nos acudiu com
a lembrança do remedio, que para logo tratámos de
manipular.
Improvisámos esse quinteiro, honrado amigo da
casa, caracter meiado de comico e affectivo, intei
ramente pelo genio do nosso Taborda.
O quarto acto no original, e por tanto na nossa ver
são tambem, acabava (a verdade ha-de-se dizer toda)
>
lière .
Em defensa do remate, com que ataviámos ou com
que sobrecarregámos, se assim o quizerem, o quinto
acto, e que nos procedeu, ainda que não necessaria
mente, d'este final do quarto acto, militam em parte
as considerações que deixamos feitas; mas pedimos
se nos receba outra de novo .
XVI ADVERTENCIA INDISPENSAVEL
Adriano, Temistocle ,
Demelrio, Zenobia ,
Sogno di Scipione, Ipermnestra,
Olimpiade, Antigone,
Didone, Semiramide,
Clemenza di Tito , Ruggiero,
Demofoonte, Angelica .
Ciro,
A. F. DE CASTILHO
PESSOAS
EXECUTANTES
FIGURAS DA COMEDIA E SUAS QUALIDADES
NO TEMPO DE MOLIÈRE
D. ROSARIA (Mme. Pernelle) ..... Béjart.
- velha beata e rabujenta, viuva ,
mãe de Anselmo.
O MINISTRO E SECRETARIO DE ES
TADO MARQUEZ DE POMBAL (Un
exempt) ....
— presença veneranda, falar de sum .
ma autoridade. 5
1
-
MATHEUS ....
- saloio maduro , honrado , quinteiro
de Anselmo, e compadre de D. Isaura .
ROZA ...
- saloiinha filha de Matheus, afilhada
de D. Isaura . Modos acanhadinhos . 4
FILIPPA ..
criada de D. Isaura . - Não fala .
DOIS SOLDADOS
- Não falam .
1
SCENA I
D. Isaura
D. Rosaria
Eu ceremonias!... penso
que isto é o neu dever . Mas d'onde vem a pressa
com que hoje sai d'aqui, minha mãi ?
4 TARTUFO
D. Rosaria
Ora essa !
Pois eu posso aturar tal gente nem tal vida !
E depois , bem se vê como eu cá sou querida!
Vou-me, é verdade; e vou-me irada, exasperada,
de ter pregado tanto e sem conseguir nada.
Não respeitam ninguem ! todos grimpam ! em summa
os doidos do hospital sem differença alguma.
Victoria
Se ...
D. , Rosaria
Luiz
Mas ...
D, Rosaria
D. Marianna
Parece-me...
ACTO I
D. Rosaria
D. Isaura
D. Rosaria
Theodoro
Emfim , senhora ...
6 TARTUFO
D. Rosaria
Luiz
D. Rosaria
Luiz
Victoria
D. Rosaria
Luiz
Victoria
!
8 TARTUFO
D. Rosaria
Victoria
D. Rosaria
Victoria
D. Rosaria
Lá do servo
nada sei ; sei do amo, em quem mil bens observo .
Detestam -n-o ; podéral a causa está bem clara ;
é porque elle pespega a cada um na cara,
o que tem de dizer -lhe. A bemaventurança
é quem enche de fel aquella alminha manca .
Victoria
D. Rosaria
Victoria
D. Rosaria
Victoria
D. Rosaria (a D. Isaura)
Ahi tem a minha nora os contos do seu gosto ;
e eu, de rolha na boca ; espantalho aqui posto
á espera de que pare o rio de eloquencia !
Mas agora hão de ouvir-me, e tenham paciencia :
Digo-lhes que o meu filho, e digo -o convencida ,
nunca fez melhor coisa em toda a sua vida,
que trazer para casa, e pôr de exemplo aos seus
um santo em carne e osso ; um homem tão de Deus,
que em tudo quanto faz, em tudo quanto prega ,
só tem por fim guiar uma familia cega !
Qual é o seu empenho ? a salvação das almas .
Deviam -n - o trazer todos vocês nas palmas,
dar mil graças aos ceos, e acabarem de crer,
que elle só reprehende o que é de reprender.
Visitas, dançaraz, conversações vadias,
inventou-as o demo ; ouvem lá frases pias !!
nem sentenças moraes !!! nem praticas de santos!!!!
Risos, cantigas vãs, namoros pelos cantos,
enredos ... e afinal, sempre maledicencia ;
e o proximo que o paguel ... A gente de prudencia
não pode tal sofrer : dá-lhe volta ao juizo
naquelle temporal de riso e pouco siso .
Um dia a um Prégador, que era um grande Orador,
Definidor, Censor, e até Inquisidor,
ouvi eu comparar este sarapatel
12 TARTUFO
D. Isaura
Victoria
SCENA II
THEODORO e VICTORIA
Victoria
Theodoro
Eu cá, pasmo
de lhe ver por Tartufo aquelle enthusiasmo ;
e contra todos nós, sem a mais leve injuria,
irritar-se, bramir, e desfazer-se em furia !
Victoria
E o filho inda é peior .
Theodoro
Em quanto magistrado,
foi um homemzarrão, de todos celebrado
por sabio inteiro e activo; agora... agora é tolo.
14 TARTUFO
1
Victoria
Theodoro
e mais sendeiro !
Victoria
Acha mole , carrega !
E os rios de dinheiro
que lhe rapa a chorar, para o fim meritorio
ACTO I 15
SCENA III
Theodoro
Eu cá sempre á cautella
evitarei subir . Enfada-me 0o beatorro !
Entra, digo-lhe adeus, escada abaixo , e corro !
16 TARTUFO
SCENA IV
Luiz
SCENA V
Theodoro
Anselmo
Nada,
logo se falla d'isso . Ha-de -me dar licença
de saciar primeiro a ancia, que a trago immensa ,
de saber o que é feito em minha casa . Vamos ;
dize tu cá, Victoria : hospedes, servos, amos,
tudo optimo ; pois não ? Que mais ? que tem havido ?
Victoria
Victoria
Anselmo
Coitado !
Victoria
E Tartufo ?
Victoria
Tartufo ,
mui ancho, e cada pé metido em seu pantufo, >
Anselmo
Coitado ! 1
Victoria
Anselmo
E Tartufo ?
Victoria
Coitado !
Victoria
Finalmente,
cançada, e por ceder ás suplicas da gente,
lá se deixou sangrar ; nisso é que achou melhora .
Anselmo
E Tartufo ?
Victoria
Anselmo
Coitadinho !
2+
20 TARTUFO
Victoria
SCENA VI
ANSELMO e THEODORO.
Theodoro
Theodoro
Anselmo
>
Eu nunca sentenceio
sem provas como soes ; faça o mano outro tanto .
Juro que se chegasse a conhecer o santo,
morria-me por elle. Embora aa riso o tomem ,
é um homem que ... que ... no qual... em summa, um homem!
Quem lhe toma as lições gosa ante-ceos no mundo,
e quanto á roda vê se lhe afigura imundo !
Eu , ouvindo-o fallar, fico outro ; logo sinto
um desapego a tudo ! um odio ao labirinto
das paixões mundanaes ! odio até á amizade.
Filho, mãi , filha, tudo , e até minha ametade,
podem morrer ; que a mim , dá-se-me ... como d'isto !
(com gesto de quem sacode uma pitada de tabaco ).
Theodoro
Anselmo
Theodoro
Anselmo
Theodoro
Anselmo
ACTO I 25
Findou ?
Theodoro
Findei .
Adeus , cunhado
Theodoro
Anselmo
Oicamos, e depressa.
Theodoro
Anselmo
Adiante .
Theodoro
Até se havia
determinado já para o consorcio o dia ! ...
Anselmo
Verdade .
Theodoro
Anselmo
Eu sei...
Theodoro
Dar -se-ha que tenha
mudado de tenção ?
Anselmo
Talvez ...
Theodoro
Não desempenha
a palavra que deu ?
Anselmo
Theodoro
Creio
que obstaculo nenhum se mete de permeio ...
Anselmo
Conforme ...
Theodoro
Anselmo
Inda bem !
Theodoro
A que quizer .
Theodoro
Convem ,
nem se pode escusar, saber em que se fica.
Anselmo
身
ACTO I 29
Anselmo
FIM DO ACTO I
1
АСТО П.
1
SCENA I
ANSELMO e D. MARIANNA
Anselmo
Marianna!
D. Marianna
Meu pai !
Anselmo
Que procura ?
Anselmo
Procuro
que ninguem nos escute. O sitio é mal seguro ...
mas emfim por agora, estamos sós os dois.
Dá -me toda a attenção ; responderás depois .
Eu sempre em ti notei, desde pequerruchinha,
7
D. Marianna
Anselmo
D. Marianna
Anselmo
D. Marianna
Anselmo
D. Marianna
A mim ?
ACTO II 35
Anselmo
A ti . Não cesse
de fallar por tua bocca o afecto filial;
pensa o que vais dizer .
D. Marianna
Anselmo
É.
D. Marianna
3+
36 ! TARTUFO
SCENA II
Anselmo (á parte )
Dizia ? ...
Anselmo
Oque !!
1
ACTO II 37
D. Marianna
Meu Deus ! nemouso
acreditar que ouvi !
Anselmo
Como ?!
D. Marianna
Quem é, senhor,
o tal varão do ceu que traz o resplendor
de que ando deslumbrada? e com quem eu seria
a mais feliz mortal se o alcançasse um dia?
Não percebi, meu pai . Quem é que hei-de dizer
que eu amo ?
Anselmo
D. Marianna
Anselmo
D. Marianna
Pois quer? ...
Anselmo
Victoria
Victoria
Anselmo
Pois eu t'o farei crer !
Victoria
Anselmo
Vel- o -hão !
Victoria
Tinha graça !
Anselmo
Victoria
1 Juro ...
40 TARTUFO
Victoria
Anselmo
Juro e juro...
Victoria
Anselmo
Victoria
Bom !
Então se falla serio, arma -as sem ton nem som !
Pois é crivel , senhor, que as cans que lhe diviso,
andem inda a esperar pelo dente do siso ?
que essas barbas na cara, esse ar de homem capaz,
seja tudo postiço e farça ?
Anselmo
Calar- te -has !
Tens tomado na casa um tal atrevimento,
que Tartufo já pasma ao ver meu sofrimento !
Victoria
Anselmo
Victoria
42 TARTUFO
Anselmo
Victoria
Anselmo
Victoria
Anselmo
Anselmo
Victoria
Anselmo
Cala a boca !
Victoria
Anselmo
Victoria
Anselmo
Dispensa -se!
Victoria
Não vê ...
Anselmo
Victoria
Anselmo
Victoria
Victoria
Victoria
Não senhor !
não me calo, já disse ; era uma consciencia
deixar- lhe consummar semelhante inelemencia !
Anselmo
Serpentão I findarás ?
Victoria
Anselmo
Victoria
Anselmo
Anselmo
!
Tartufo não direi que seja, e não n - o é,
um Apollo ... ou Narciso...
Victoria (á parte)
É um macaco em pé.
48 TARTUFO
Anselmo
Victoria
Vá, vá,
que apanhou um thezoiro .
(Anselmo vira-se para Victoria, crusa tambem os braços a es
cutal-a e a olhar para ella ).
Havia de ser cá
aquillo com a Victorial Eu não sou bicha brava,
mas lá comigo á força homem nenhum casava ;
ou eu lhe mostraria o que é uma mulher !
olá ! só se não vinga a tola que não quer.
Eu era logo, logo, e até no proprio dia !
Anselmo
Victoria
Victoria
Anselmo
Va :: uma palavrinha!
Victoria
Anselmo
Victoria
Anselmo
SCENA III
D. MARIANNA e VICTORIA
Victoria
D. Marianna
Victoria
Sempre a fez
muito aceada , olé! Eu que não sou da bulha ,
é que me puz em campo. Ella espantalho, eu grulha!
é
Sofrer se lhe proponha um casamento assim ,
sem dizer chus nem bus !!!
D. Marianna
Victoria
D. Marianna
Enchi-me de um terror .. ,
que até a voz perdi , como perdi a cor,
e creio que o juizo ! Ouvia, assim por sonhos,
uma especie de sons confusos ee tristonhos,
mas sem perceber nada ! Anciava por poder,
mas não podia ali chorar nem responder !
+
Victoria
D. Marianna
Como ?
Victoria
D. Marianna
Victoria
A’ toa
não gosto de fallar: Valerio requestou -a ,
sim ? ou não ? requestou. Mui bem ; outra questão :
não gosta, ou gosta delle? é simples : sim ? ou não?
D. Marianna
Victoria
D. Marianna
Victoria
D. Marianna
Victoria
E elle á menina ?
D. Marianna
Victoria
D. Marianna
Oh ! se ardem !
Victoria
D. Marianna
Matar-me .
Victoria
D. Marianna
D. Marianna 1
Victoria
D. Marianna
Victoria
D. Marianna
D. Marianna
Victoria
D. Marianna
Victoria
D. Marianna
Ih Jesus !
que mulher que tu és ! pois vês-me exasperada
e não tens dó, Victoria ?
Victoria
D. Marianna
Escogita, anda lá .
Victoria
D. Marianna
Victorinha !
Victoria
Saiu .
D. Marianna
Prometo - te ...
Victoria
Já sei:
levarem -me consigo ; escuso ; ficarei ;
não deixo o meu rapaz .
ACTO II 59 ,
D. Marianna
Nada te move ?
Victoria
Nada .
Não se pode livrar de ser tartuficada.
D. Marianna
Victoria (detendo-a)
D. Marianna
Victoria
SCENA IV
Valerio
De quê?
Valerio
D. Marianna
D. Marianna
)
ACTO II 61 -
Valerio
D. Marianna
Mudou de opinião.
Aqui mesmo , inda ha pouco, ouvi da sua boca
essa fatal sentença, e quazi fiquei louca !
Valerio
Deveras !
D. Marianna
Valerio
D. Marianna
Não sei .
Valerio
D. Marianna
Valerio
Não ? !!
D. Marianna
Valerio
D. Marianna
Aconselha -m'o ?
Valerio
Sim .
D. Marianna
D. Marianna
Valerio
D. Marianna
Valerio
D. Marianna
Valerio
D. Marianna
Valerio
D. Marianna
Valerio
D. Marianna
Valerio
Aproveito a licença !
faço mais : penso até, como a senhora pensa,
que é licito mudar, e por tanto , vou já
pôr por obra com outra , o exemplo que me dá.
Assim em logar d’um serão dois casamentos ;
e o meu talvez primeiro.
ACTO II 05
D. Marianna
Onde ha merecimentos ,
é facil achar logo... e não me custa a crer...
Valerio
D. Marianna
Valerio
E tenho - a . Deveria
pagar eu com amor a sua aleivosia ?
Vel-a entregar-se aa outro, e eu não ir dar, qual dou,
a outra o coração que me repudiou ?
D. Marianna
Valerio
Qual dellas ?
D. Marianna
Quall a sua.
Valerio 3
D. Marianna
Decerto ...
Valerio
D. Marianna
Obrigada!
ACTO II 67
Valerio
D. Marianna
Sim ? bem .
Valerio
D. Marianna
Inda bem !
Valerio
Como ?
5*
68 TARTUFO
D. Marianna
Senhor ?
Valerio
Cuidei ...
D. Marianna (á parte)
D. Marianna
Ia a sonhar talvez !
Valerio
Bom ! então , vou -me!
D. Marianna
Vá !
Valerio
D. Marianna
Adeus senhor !
( sai Valerio pela segunda porla da direita)
SCENA V
D. MARIANNA e VICTORIA
Victoria
SCENA VI
As precedentes e VALERIO
Victoria
Valerio
Fique.
Valerio
Victoria
Não se ha-de ir !
D. Marianna (á parte)
Victoria (á parte)
D. Marianna
Larga -me!
Victoria
É cá precisa.
D. Marianna
Valerio ( á parte )
Valerio
Para quê?
/ 72 TARTUFO
Victoria
Victoria
D. Marianna
E tambem quererás
que eu me possa esquecer do que lhe ouvi ?
ACTO II 73
Victoria
Confesse
que estava como doida !
D. Marianna
Victoria
Bom ! bom !
dueto muito egual : ambos sem tom nem som !
( a Valerio )
Ella adora -o, que o sei ; respondo-lhe por ella ;
diz que ou ha-de ser sua, ou morrerá donzella .
(a D. Marianna)
Elle, juro-lh’o aqui , nunca teve outro amor ;
e se não na alcançasse, estalava de dor.
D. Marianna
Valerio
Victoria
Valerio
Victoria
Depois
o saberá ; ( para D. Marianna) e a sua !
D. Marianna
Victoria
Victoria
Valerio
D. Marianna
D. Marianna
Encantas-me !
Valerio
Victoria
FIM DO ACTO II
ACTO III
.
-
SCENA I
LUIZ e VICTORIA
Luiz
Luiz
Victoria
Luiz
Luiz
Prometto não fallar.
Victoria
Escutarei callado ;
verás!
Victoria
SCENA II
TARTUFO e VICTORIA
Victoria ( á parte )
Tartufo
Victoria
Tartufo
Eu pouco me demoro ;
ACTO III 85
vinha- lhe só dizer que a minha ama deseja
vir cá baixo fallar- lhe.
Victoria (á parte)
Victoria
SCENA III
Tartufo
A mão do Omnipotente ,
Senhora Dona Isaura , a encha eternamente
de vigor corporal e graça espiritual ;
e as bençãos liberaes do Pai celestial
The tornem toda a vida um tão continuo bem ,
quanto o seu servo humilde aqui lh'o implora . Amen .
D. Isaura
D. Isaura
Inteiramente .
Tartufo
D. Isaura
D. Isaura
Tartufo
D. Isaura
1
88 TARTUFO
Tartufo
D. Isaura
Tartufo
D. Isaura
Tartufo
D. Isaura
Parece
que nem sabe onde está ! Que homem tão distrahido !
Que tem que ver ahi ?
Tartufo
D. Isaura
D. Isaura
D. Isaura
Tartufo
D. Isaura
D. Isaura
Tartufo
D. Isaura
SCENA IV
Luiz
D. Isaura
Luiz
D. Isaura
Mas, Luiz ...
Luiz
SCENA V
Luiz
quer ao que meu pai quer, ama ao que meu pai ama,
em summa ouvi-o ee vi-o (inda me custa a crel-o !)
n’este proprio logar, tão abrazado em zelo
da honra de meu pai, que aos pés d’esta senhora
declarou que a adorava ; e se ella, e se eu não fôra,
sabe Deus até onde o arrojo o levaria !
Magnanima, prudente , e boa em demasia,
instava -me a insultada, a que ficasse occulto,
em respeito do esposo, o temerario insulto ;
mas vendo quanto n'isto á nossa gloria vai ,
eu denuncio o reo , porque respeito o pai !
D. Isaura
SCENA VI
Anselmo
Tartufo
Luiz
Anselmo
Tartufo
(para Luiz)
Ande, filho, prosiga! O senhor pai consente .
Diga que sou traidor , que ando a embair a gente , >
Silencio, monstro !!
(para Tartufo)
Irmão ! riquinho santo !
erga -se por quem é ! (para Luiz) Patife !
Luiz
E póde tanto
um velhaco ...
Anselmo
Silencio !
ACTO III 101
Luiz
Anselmo
Tartufo
Irmão ! o ajoelhar
pertence a mim !
Tartufo
A mim ! ...
102 TART UFO
Anselmo
A mim !
Tartufo
Santa humildade !
Rolha na boca !
Luiz
Anselmo
Luiz
Anselmo
Luiz
Anselmo
Tartufo
Anselmo
Luiz
Sim, saio já , porém ...
Anselmo
Já ! no olho da rua !
Sim senhor, meu heroe, fez muito bem a sua.
Agora sigo-me eu . De herança, meu pimpão,
nem chavo ; e inda por cima, a minha maldição !
(Sai Luiz pela segunda porta da direita)
Vai-te com Barrabaz. Deus me perdoe ... perdða!
que duvida ! Injuriar uma santa pessoa !
ACTo III 105
SCENA VII
ANSELMO e TARTUFO
Tartufo
Anselmo
Tartufo.
Tartufo
O essencial,
meu irmão , não é isso ! É ver como afinal !
Anselmo
Estázombando ?
Tartufo
Nunca zombei!
Anselmo
Tartufo
Se eu vejo a má vontade it
Anselmo
Tartufo
Anselmo
Nunca !
Tartufo
Anselmo
Não ! Não !
Tartufo
Anselmo
Anselmo
O que ?
108 TARTUFO
Tartufo
Desejaria
pôr-lhe uma condição...
Anselmo
Qual ?
Tartufo
Na Sabedoria
se lê, ou não sei onde : « Ao Senhor Deus não tentes l»
A honra é melindrosa ! É bom sermos prudentes!
Sendo amigo, não devo expor o meu amigo ,
a que as linguas ruins, tão prodigas comigo,
envenenem jámais a nossa convivencia !
Tomemos este acordo ! Eu fico ; paciencia !
Mas ver a D. Isaura, isso por nenhum modo !
Anselmo
Tartufo
Anselmo
THEODORO e TARTUFO
Theodoro
Tartufo
Theodoro
Tartufo
Theodoro
Tartufo
Theodoro
Theodoro (56)
Nunca esperei...
SCENA II
Victoria
SCENA III
Anselmo
D. Marianna
Anselmo (a parte)
Theodoro
Escute-me um conselho .
Anselmo
Anselmo
Seu criado.
Eu creio no que vejo, e sou desconfiado
quando pressinto enredo . O tal Luizinho mente ...
porque mente ; e a senhora então não n - o desmente
porque é cega por elle, e se o contradicesse ...
ACTO IV 121
Armaram -na sem geito ! E cuida que me esquece
como a senhora estava em toda aquella scena :
tão senhora de si , tão placida e serena !
Pois se o homem tivesse ouzado o tal descôco
que o Luiz lhe assacou , por força, ou muito ou pouco,
o rosto da senhora havia de o dizer ...
Quem tem de me enganar ' stá inda por nascer !
D. Isaura ( á parte)
Anselmo
D. Isaura
Faz bem .
D. Isaura
Anselmo
Mostrar-m'o !...
D. Isaura
Sim .
Anselmo
Historia !
D. Isaura
Anselmo
Não ha-de ;
não é capaz .
D. Isaura
1
Que teima !
Anselmo
Anselmo
Dá-lhe !
D. Isaura
Eu ! como ? e o quê?
D. Isaura
Seguro
n'um canto sem ser visto, á espreita da tramoia !
>
Então dizia ... que eu ... que elle . .. dizia ... nada ;
porque não pode ser !
D. Isaura
É já demasiada
a sua contumacia em me dizer que minto !
Pois muito bem : aqui , n’este proprio recinto ,
me obrigo a apresentar com que se capacite .
Anselmo
Victoria, chama- o cá !
D. Isaura
SCENA IV
D. ISAURA e ANSELMO
Anselmo
Eu !
D. Isaura
Sim ! é necessario .
(à parte)
Já agora ha-de levar-se esta cruz ao Calvario .
(alto )
Esconda -se e depressa !
Anselmo
D. Isaura
Anselmo
Anselmo
Já eu estou a suar !
D. Isaura
SCENA V
Tartufo
D. Isaura
Queria ...
(Depois de alguma pausa, e de mostrar que está cheia de ver
gonha, e sem saber por onde ha-de entrar nen sair)
É que um segredo
assim ... custa a dizer... Estou com tanto medo
de como o tomará... Feche-meaquella porta,
128 TARTUFO
faz favor ?
(Tartufo fecha a porta por onde viera )
Muito bem ; muito obrigada ! Importa
que ninguem mais nos oiça ; isto é tão melindroso...
Primeiro vamos ver não ande algum curioso
a escutar por ahi...Procure d’esse lado...
(apontando-lhe para a porta do fundo)
e eu d'este ...
Tartufo
D. Isaura
Tartufo
Juro !
Tartufo
D. Isaura
Tartufo
Tartufo
Tartufo
D. Isaura
O que ?
D. Isaura
Tartufo
Diga !
D. Isaura
D. Isaura
Tartufo
D. Isaura
Fortissima ! Jesus !
Que tormento !
Tartufo
D. Isaura
Tartufo
É forte impertinencia!
D. Isaura
Tartufo
Arguil-a ? jámais !
D. Isaura
Tartufo
Até o galinheiro
examinei .
Tartufo
D. Isaura
SCENA VI
Anselmo
Eu é que nunca vi
perversão d’este lote ! E sabe frases ternas
o tal patife! Estou de braços e de pernas
como que derreado, e cá por dentro aos baques ;
sou , não posso negal-o, o papa dos basbaques.
D. Isaura
SCENA VII
D. Isaura
Anselmo
Mau !
ACTO IV 139
Tartufo
Meu irmão ! ...
Anselmo
Peior !
Tartufo
Anselmo
SCENA VIII
D. Isaura
Anselmo
Anselmo
D. Isaura
Que doação ?
Anselmo
Anselmo
D. Isaura
Esposo ,
deliras! torna em ti .
Anselmo
D. Isaura
Anselmo
Anselmo
D. Isaura
Eu vou contigo.
Anselmo
Fica . (sai)
(D. Isaura deixa-se cair, aterrada, para cima de uma cadeira ).
7
SCENA IX
Victoria
SCENA X
Matheus
A sua afilhadinha,
aqui a minha Roza ...
Victoria
Matheus
D. Isaura
Matheus
D. Isaura
Roza ,
chegue- se cá, e um beijo .
Matheus
Matheus ( aterrado)
D. Isaura
Matheus
D. Isaura
E se perdemos tudo ?!
D. Isaura
Certeza
inda a não ha ; porém ...
10
146 TARTUFO
Matheus
D. Isaura
Oh não ! Agradecida !
Matheus
SCENA XI
Anselmo
D. Isaura
Então ? ....
Anselmo
Já não duvido .
Foi-se a ultima esp'rança, e tudo está perdido.
FIM DO ACTO IV
ACTO V
SCENA I
ANSELMO e THEODORO
Theodoro
Onde vai ?
Anselmo
Theodoro
Anselmo
Theodoro
Anselmo
Oh ! se era !
154 TARTUFO
Theodoro
Ah ! sim .
Anselmo
Pois foi commigo,
que elle se quiz abrir, já quasi a despedida,
sobre a causa da fuga. Os bens, e mesmo a vida,
tinha tudo n'um cofre. Entrega-m'o, com medo
>
Theodoro
Anselmo
Anselmo
Theodoro
SCENA II
Os mesmos e LUIZ
Luiz
Anselmo
É ; não mentes ,
nem me tinhas mentido .
Luiz
Luiz
Theodoro
SCENA III
D. Rosaria
Anselmo
Anselmo
O mesmo exactamente
que nos vai succeder : a mim , ee a minha gente !
Deu-me um optimo pago! Acolho um farroupilha,
dou - lhe aa minh'alma, e tudo , até lhe offerto a filha,
e elle até a mulher me quiz roubar !! E acabo .
D. Rosaria
Jesus !
Anselmo
D. Rosaria
Credo !!
Anselmo
D. Rosaria
Anselmo
D. Rosaria
Anselmo
Como !
D. Rosaria
Anselmo
D. Rosaria
Anselmo
Anselmo
Boa sentença !
D. Rosaria
Olé !
Anselmo
D. Rosaria
Anseluro
D. Isaura
É melhor explicar-se !
Luiz
E é!
D. Rosaria
Não ha santelmo
para este temporal ! Sempre t'o digo, Anselmo :
a origem d'isso tudo, e olha que não me engano,
foi algum conto no ar de magana, ou magano,
que, para te pôr mal com o homem que os embola,
te encaxou na moleira a infame carambola !
Anselmo
D. Rosaria
D. Rosaria
Anselmo
Anselmo
Escusa recontal-o ;
bem sabemos !
D. Rosaria
Anselmo
Eu dano-me !
D. Rosaria
Se ás unhas
do verdugo escapou , foi só por um milagre .
Quem não gosta do vinho, alcunha-o de vinagre!
E coitado do cão mal que um disser : danou-se !
Anselmo
D. Rosaria
Anselmo
D. Rosaria
Anselmo
Theodoro
Luiz
Pois elle ...
chegaria a atrever-se ...
D. Isaura
Eu lá do ouzio d'elle
julgo possivel tudo ! O que não é possivel
é que, sendo a maldade e a ingratidão visivel ,
possa haver um juiz...
166 TARTUFO
Anselmo
Fiz , sim , mas que lhe quer? Vendo o ladrão tão firme,
a escarnecer de mim, não pude reprimir-me!
ACTO V 167
Theodoro
Um simples fingimento
de concordia, é que eu digo !
Anselmo
SCENA IV
Os mesmos e MODESTO
Modesto
E sua !
Modesto
Pois eu tinha
que falar com seu amo !
Victoria
Victoria
O seu nome ?
Modesto
Anselmo
Talvez tente
a reconciliação . Diga-me por favor
o que hei-de responder .
Theodoro
Modesto
O qué ?
Modesto
Eu , sair !
Modesto
Certamentet
se faz favor; e já ! Cuido que não ignora
ser do senhor Tartufo esta casa em que mora ,
e todos os mais bens que o senhor (bello amigo !)
outro sim lhe doou . E aqui trago eu comigo,
por signal, a escriptura, autentica e perfeita,
em que a tal doação pelo senhor Ibe é feita !
Modesto
Meu caro ,
isto é só com seu pai, varão prudente e honrado ,
que não ha-de querer por ditos de esturrado,
indispor contra si a lei e os seus agentes.
Anselino
Mas, senhor ...
172 TARTUFO
Modesto
Luiz
Aliás !...
Modesto
Anselmo la parte)
Victoria
E eu acabava o resto
só co'o pau da vassoira ; ouviu , senhor Modesto ?
Modesto
Theodoro (a Modesto )
SCENA V
Anselmo
Victoria (a D. Rosaria)
Anselmo
D. Isaura
O mais conveniente
seria, quanto a mim , contar-se a toda a gente
a ingratidão do heroe, e este comportamento
para o qual nem ha nome ; e d’este modo , assento
que nenhum tribunal , a um monstro diffamado
entregaria os bens d'um homem bom e amado !
SCENA VI
Oh ! fale !
Valerio
Falo ,
muito embora me custe, e a isso vim . Contou-me
um amigo de infancia, um intimo (o seu nome
nada faz para o caso, é homem de verdade,
isso é que importa mais) . Sabendo a intimidade
que eu n'esta casa tenho , e quanto amor nos liga,
176 TARTUFO
Anselmo
Ceos !
Todos
Com el-reil
Valerio
Agora,
haverá pouco mais talvez do que uma hora,
e apresentou-lhe aos pés um cofre...
Anselmo
O que me tinha
furtado !
Valerio
Theodoro
Mais nada ?
Valerio
Anselmo
A minima demora
póde-nos ser fatal !
12
178 TARTUFO
D. Rosaria
Victoria
Que maroto !
D. Isaura
Que horror!
D. Marianna
Meu Deus !
Luiz
Que bacamarter
Theodoro
É fugir !
Anselmo
Valerio
Anselmo
Theodoro
Valerio
Partamos.
D. Isaura
Vão ! pão tardem !
12 *
180 TARTUFO
SCENA VII
O marquez de Pombal !
O marquez !
O marquez !
ACTO V 181
Anselmo
Ceos !
Tartufo
Anselmo
Tu mesmo ajudas
a dar o ultimo golpe ao teu roubado ?! ah ! Judas !
Tartufo
Theodoro
Moderado até ' li !
Luiz
D. Marianna
Faz um bello papel!
D. Rosaria
D. Isanra
Infame !
Luiz
Scelerado!
Anselmo
Tartufo
Trato
de ser um bom vassallo, e depois serei grato .
.
D. Isaura
Impostor !
Luiz
D. Marianna
• Victoria
O Marquez
Tem razão, que é já tempo ; e assim , faça favor
>
0 Marquez
Com o senhor mesmo !
Tartufo
O Marquez
Escuso dar -lhe contas
das vontades d'el-rei. (para Anselmo)
Curtiu crueis affrontas,
meu senhor, e correu furiosa tempestade;
ACTO V 185
Victoria
Ora graças!
D. Marianna
Respiro!
D. Locaria
Inda bem !
D. Isaura
Resuscito !
Luiz
Canzarrão !
1
Victoria
É bom ! lá na masmorra
acoita-se, jejua, e reza até que morra .
ACTO V 187
SCENA VIII
Theodoro
D. Rosaria
SCENA IX
Matheus
Anselmo
Pois não !
D. Isaura
SCENA X E ULTIMA
Roza ( cantando)
Matheus
D. Posaria
Anselmo
FIM
PARECER
DO
II
TARTUFO 207
IV
VI
ORIGINAL DE MOLIÈRE
ORGON
CLÉANTE
TRADUCÇÃO DE SOUSA
AMBROZIO
NACIONALISAÇÃO DE CASTILHO
ANSELMO
THEODORO
!
1