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Trabalho de História do Coleccionismo e da Museologia

O MUSEU JOSÉ MALHOA

JORGE MANUEL DE MATOS PINA MARTINS PRATA


Índice
1 – INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 2
2 – GENEALOGIA DE UM MUSEU .......................................................................................... 2
3 – GÉNESE E EVOLUÇÃO DE UM EDIFÍCIO ..................................................................... 12
3.a) A “Casa dos Barcos” ........................................................................................................ 12
3.b) O Anteprojecto de Paulino Montês .................................................................................. 12
3.c) O Museu em 1940 ............................................................................................................ 13
3.d) A Ampliação de 1950 ...................................................................................................... 13
3.e) A Ampliação de 1956....................................................................................................... 14
3.f) A Ampliação de 1957 ....................................................................................................... 14
4 – AS „INCORPORAÇÕES‟ ..................................................................................................... 14
5 – CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 16
Bibliografia .................................................................................................................................. 17
ANEXOS..................................................................................................................................... 19

1
1 – INTRODUÇÃO
Neste trabalho procuraremos, essencialmente, analisar a genealogia do actual Museu
José Malhoa, desdobrando as vicissitudes e os caminhos vários, e por vezes divergentes,
que o projecto da sua constituição foi sofrendo ao longo da história.
Em vez de um trabalho em „extensão‟, que procurasse abarcar todos os aspectos
referentes ao museu José Malhoa, preferimos um trabalho „intensivo‟, em profundidade,
delimitado pela intenção de perceber como se foi estruturando ao longo do tempo, e
emergindo, o projecto da sua instituição.
Procurámos, assim, descobrir as raízes mais remotas que a ele pudessem ser ligadas, e ir
seguindo os fios a que estas se uniam, ao mesmo tempo que outros iam deixando para
trás.
Depois, tentámos analisar a estrutura arquitectónica básica do Museu, e as alterações
que ela foi sofrendo, incluindo nesta análise a “Casa dos Barcos”, na medida em que foi
neste espaço que o Museu foi inaugurado, e o projecto, não concretizado, de Paulino
Montês, pois este constitui um marco importante na institucionalização do Museu José
Malhoa, e serviu de base ao projecto elaborado por Eugénio Corrêa.
Por fim, tentámos verificar qual foi, ao longo do tempo, e nos seus traços gerais, a
„política de incorporações‟ do Museu José Malhoa, bem como a frequência de
distribuição das mesmas ao longo dos anos.

2 – GENEALOGIA DE UM MUSEU
As primeiras referências à utilidade, e importância, da criação de um Museu nas Caldas
da Rainha devem-se à pena de Joaquim de Vasconcelos que, em 1879, e no contexto de
uma política geral nacionalista de construção de uma Identidade Nacional Portuguesa,
que serviria de fundamento orgânico à coesão social do país, substituindo, assim, as
antigas formas estruturantes de coesão, cujos fundamentos estavam em plena
desagregação1, defende a criação de um Museu de Cerâmica nesta vila.
Este, para além de servir como forma de conservação de um património plurissecular
que se considerava caracteristicamente português, e que, deste modo, não só seria
salvaguardado, como permitiria manter puras e intactas as raízes que constituíam a
essência da Nação, teria, também, uma função “educativa”, na medida em que se
instituiria como pólo de desenvolvimento dos artistas nacionais contemporâneos que,
assim, prolongariam no tempo essa essência constituinte, através da actualidade do seu

1
“O recuo “político” do cristianismo serviu apenas para reforçar a convicção de que era necessário
substituí-lo por outra crença colectiva. Acreditava-se que nenhum povo sobreviveria ao confronto entre
ricos e pobres, se a todos os cidadãos não fosse dado um ideal colectivo capaz de os unir. Em 1862, o
grande historiador Inglês Lord Acton observou que esse substituto, o equivalente ateu da velha fé cristã,
era algo que se começava a chamar «nacionalismo». Em breve, os europeus seriam franceses, ingleses e
alemães com a mesma intolerância e ferocidade com que tinham sido protestantes e católicos três
séculos antes.” (Ramos, 1994, p. 566)

2
desdobramento, contribuindo, desta forma, para a manutenção, e instituição, da
Identidade Nacional.
Mas é na década de vinte do século XX, e no contexto de um profundo
desenvolvimento de carácter regionalista potenciado pela acção de descentralização
política, económica e cultural da primeira República, e cujo ponto culminante é a
elevação de Caldas a cidade em 1927, que se vai assistir à afirmação inequívoca da
importância, e necessidade, da criação de um Museu para as Caldas da Rainha,
protagonizada, e impulsionada, pelas elites locais.
Regionalismo que se define, nas palavras de António Montês, o principal responsável, e
impulsionador, da criação do que é, hoje, o Museu José Malhoa, como “a defesa da
nossa terra contra a política que a ameaça; regionalismo é o trabalho honesto e
desinteressado pela região onde nascemos ou que adoptamos como nossa; regionalismo
é, finalmente, a união dos homens bons que embora com ideias políticas, as põem de
parte quando defendem os interesses da sua terra!” (Montês, 1929, p. 1).
Este regionalismo, para além da vertente puramente económica, que procurava
potenciar e desenvolver os recursos industriais e agrícolas das Caldas e do seu
“hinterland”, que tem como realização simbólica mais importante a organização, em
1927, da V Exposição Agrícola, Pecuária, Industrial e de Automóveis, e de uma
vertente política assente numa “forte e coerente organização política das elites locais,
que têm como protagonista uma “jeunesse dorée” que domina praticamente todas as
instituições locais e que garante uma elevada capacidade de negociação com o centro”
(Rodrigues, 1996, p. 75), vai desdobrar-se, também, através de um processo de
afirmação cultural que assenta as suas bases na potenciação e glorificação das „figuras‟
consideradas como estruturantes da história e do património caldense: a Rainha Dona
Leonor, fundadora da povoação e considerada como a introdutora e impulsionadora dos
trabalhos de cerâmica na região, Rafael Bordalo Pinheiro, expoente máximo, na
actualidade, desta arte e que, embora não sendo originário da terra a adoptou como sua,
inserindo-se, assim, no „espírito regionalista‟ tal como era pensado por António Montês,
e José Malhoa que, se bem que tenha abandonado as Caldas, vai ser, a partir de 1924,
objecto de uma operação estratégica de charme que o procura revincular à cidade em
que nasceu e, desse modo, tornar possível que o seu nome se institua como um dos
pólos catalisadores à volta dos quais se dinamizaria o desenvolvimento cultural das
Caldas da Rainha.

3
É em função deste projecto, mais ou menos conscientemente delineado, que a
Associação Comercial e Industrial das Caldas da Rainha decide, em 1924, pedir a José
Malhoa, através do seu Vice-Presidente António Montês, a elaboração de um quadro
representando a Rainha Dona Leonor, destinado a ser colocado na sala de sessões da
Associação caldense.
O Pintor não só aceita o pedido, como acaba por doar o quadro ao povo das Caldas por
intermédio da Câmara Municipal, a 13 de Julho de 1926, com a condição de este ficar
exposto na sede da referida Associação, doação esta que António Montês virá a
reconhecer ter sido a estrutura basilar da génese do futuro Museu José Malhoa: “O
retrato da Rainha D. Leonor ficará sendo, pelos séculos fora, a primeira pintura
recolhida na pinacoteca caldense e até a razão de ser deste museu.” (Montês, 1983, p.
41)
Operação de charme que não termina aqui, mas que se desdobra e intensifica, atingindo
o seu ponto de maior intensidade nas comemorações que a cidade das Caldas da Rainha
dedicam ao agora de novo “seu” Pintor, em 1928, e que têm como momento mais alto o
descerramento pelo Artista, a 10 de Setembro desse mesmo ano, de um busto seu2 em
bronze, esculpido por Costa Mota e colocado sobre um pedestal da autoria do arquitecto
Paulino Montês.
José Malhoa não deixa de ceder a esta estrutura persuasiva que o procura religar à
cidade em que nasceu, encetando, então, um processo de aproximação aos objectivos e
anseios das elites caldenses, de que a doação, em 1932, de quatro telas (uma Paisagem
de Joaquim Prieto, uma Cabeça de Rapaz de Columbano Bordalo Pinheiro, um seu
retrato realizado por Maria de Lurdes de Lurdes de Mello e Castro e um Retrato de
Joaquim Malhoa da sua autoria) para o futuro “Museu de artes”, é exemplo cabal.
Os anos vinte são, assim, de particular intensidade no que se refere à acção das elites de
Caldas, relativamente ao delineamento de projectos para o desenvolvimento e afirmação
cultural da vila/cidade.
Acção esta que é „incentivada‟, e tem como ponto de ancoragem, a legislação
republicana de 1911 (que o Estado Novo, nos seus inícios, não deixará de seguir e
louvar3), que aposta numa defesa mais eficaz do património português através da

2
O busto de José Malhoa, colocado, inicialmente, no Largo Doutor José Barbosa será transferido, em
1940, para o Claustro do Museu Provincial de José Malhoa.
3
“Veja-se o que afirma o texto legislativo do decreto nº 15216 de 22 de Março de 1928 que se intitula
"Reorganização dos serviços artísticos e arqueológicos". No prólogo afirma que a legislação portuguesa
existente sobre a matéria havia sido "Vazada nos moldes das mais perfeitas organizações similares

4
implicação das estruturas locais na identificação, e preservação, desse mesmo
património, dividindo o país em três jurisdições distintas e criando em cada uma um
Conselho de Arte e Arqueologia, que seria responsável pela gestão dos Monumentos e
Museus da região, numa estratégia “descentralizadora, confirmada não só pela
amplitude de competências atribuídas aos Conselhos de Arte e Arqueologia, como
também pela importância conferida aos museus das regiões, aos quais é concedida
mesmo prioridade quanto à integração das obras da arte cuja integridade perigasse caso
fossem mantidas nos locais de origem.” (Pimentel, 2005, p. 115)
Já no período do Estado Novo, mas em continuidade com a política republicana 4, o
Ministro da Instrução Pública mostra interesse na criação de um Museu Regional,
Arqueológico e Artístico nas Caldas da Rainha, o que leva a Câmara Municipal desta
cidade a dirigir um convite a duas personalidades locais ligadas aos estudos
arqueológicos – Joaquim Manuel Correia e Luís da Gama – no sentido de conseguir
obter o concurso de “indivíduos que gratuitamente desempenhem as competentes
funções.” (Ofício 334, 1927)
Embora não haja notícia de qualquer resposta das citadas personalidades, outros nomes
da elite caldense saem a terreiro, pronunciando-se, na Gazeta das Caldas desse mesmo
ano de 27, acerca da criação de um Museu na sua cidade.
Fernando Correia, médico caldense, defende a criação de um Museu de Cerâmica
(Correia, 15.05.1927, p. 12), e António Montês refere que “se tem falado na criação de
um Museu Cerâmico nas Caldas – o Museu Rafael Bordalo Pinheiro – que seria um
templo de arte em que ao lado dos modelos do Mestre ficariam arquivadas peças
cerâmicas das fábricas nas Caldas desde a sua fundação – visto que desde o tempo da
rainha D. Leonor a cerâmica caldense existe.
O Museu, a par da glorificação de R. B. Pinheiro, realizaria uma exposição retrospectiva
da arte do barro, que seria um estímulo para os actuais artistas e um meio de educação

estrangeiras (...)" e tinha já dado boas provas. A título de exemplo aponta a constituição de museus
regionais (que desempenharam um papel fundamental na salvaguarda dos valores artísticos e
arqueológicos) e a organização do Museu Nacional de Arte Antiga "(...) que, de um armazém mal
arrumado, se transformou num dos bons museus da Europa.". Neste contexto o Governo optou, não por
preparar legislação completamente nova com "(...) os riscos de tudo o que é novo e imprevisto, mas sim
modificar e melhorar a antiga.".” (Lira, 1999, Nota 3)
4
“À parte algumas considerações sociais, em termos puramente técnicos e legais a “Carta Orgânica dos
Museus”, publicada em 1932, não foi inovadora e seguiu a mesma estrutura legislativa implementada
pelo regime republicano. Embora este documento abolisse os três Conselhos de Arte e Arqueologia,
estabelecidos em 1911, continuou a mesma política de descentralização, através do incentivo dado ao
estabelecimento das Comissões Municipais. Mesmo a orientação temática proposta para esta nova
estrutura era análoga à promovida pela legislação de 1911: Arte e Arqueologia.” (Pimentel, 2005, p. 123)

5
do público para lhe permitir distinguir a boa da má peça de faiança.” (Montês,
30.07.1927, p. 4)
A ideia de Museu a criar nas caldas da Rainha continua, deste modo, vinculada à
proposta originária de Joaquim de Vasconcelos: para além de salvaguardar e dar a ver a
cerâmica caldense desde as suas mais remotas origens, deveria servir para a educação da
população, e como estímulo para a criação artística dos actuais ceramistas.
Não esquecendo, porém, a glorificação dos “grandes nomes” locais, e a integração deste
desenvolvimento cultural num desenvolvimento económico mais vasto da região, do
qual o turismo cultural deveria ser uma vertente importante, em conjugação com outras
formas de turismo: termal e balnear.
Dando corpo a este anseio surge, em Setembro de 1929, a “Liga dos Amigos do
Museu”, de que são fundadores Eduardo Romero, Paulino Montês, José de Sousa,
Carlos Neves, Francisco Elias, António Vitorino, José Carlos dos Santos, G. Nobre
Coutinho, Carlos Viana e António Montês, e que assume a função de recolher os fundos
e as obras necessárias à criação do Museu das Caldas da Rainha.
Liga que reafirma os princípios estruturantes do Museu que pretende fundar, numa carta
dirigida a destinatário não referenciado, datada de 12 de Outubro de 1929 (1929, Anexo
I).
Nesta carta afirma-se, mais uma vez, a importância do desenvolvimentismo
regionalista5, bem como a necessidade imperiosa da criação de um Museu que
permitisse realçar a especificidade e „tipicidade‟ da cerâmica caldense6, introduzindo,
no entanto, uma modificação na estrutura desse almejado Museu, que, agora, deveria
integrar, para além de peças de cerâmica regional, obras dos mais importantes pintores
da região7.
Assim, e devido talvez à ligação estreita já estabelecida com José Malhoa, pensa-se,
agora, na criação de um „Museu de Pintura e Cerâmica‟.
Após esta data, a acção da “liga” vai-se desenvolvendo, quer na angariação de fundos,
quer na „recolha‟ de obras para o futuro Museu, ganhando, certamente, um maior alento
com a “institucionalização” que a publicação do decreto nº 20985 de 7 de Março de

5
“As Caldas da Rainha, que nos ultimos anos tem mostrado a todo o País quanto vale o regionalismo
(…)”. (Carta, 1929)
6
“ (…) é absolutamente necessario que os caldenses reunam o maior numero de peças de ceramica
regional (…)”. (Carta, 1929)
7
“ (…) e que a par disso reúnam tambem algumas obras dos nossos melhores pintores, constituindo
com tudo isso um pequeno Museu, onde a par da obra pictorica dos nossos artistas (…)”. (Carta, 1929)

6
1932 lhe consagra, ao promover, explicitamente, a criação local de Grupos de Amigos
de Museus, que teriam como função promover o desenvolvimento e implementação dos
mesmos8.
Talvez devido a este “alento legal”, a “Liga dos Amigos do Museu”, através dos seus
representantes Paulino Montês, Carlos Neves, António Montês e José de Sousa, dirige
uma carta ao Ministro da Instrução Pública (Carta ao Ministro da Instrução
Pública,1933, Anexo II), datada de 15 de Janeiro de 1933, na qual estes lhe solicitam a
criação de um Museu nas Caldas da Rainha, agora denominado de Museu José Malhoa.
Nesta, para além da reiteração dos desígnios regionalistas e de criação de um Museu de
Pintura e Cerâmica, já presentes na carta de 1929, surge, pela primeira vez, a vontade
expressa de homenagear o “Mais portuguez dos pintores de Portugal” (Carta ao
Ministro da Instrução Pública, 1933), dando o seu nome ao Museu que se pretendia
fundar.
Novo desígnio que se deve ao estreitamento dos laços de José Malhoa com a sua terra
natal, materializado com a doação que este fez, em 1932, de quatro telas para o futuro
Museu de Caldas, bem como à adesão de personalidades e artistas de todo o País à
“Liga”, e a doação à mesma de obras pictóricas de relevo, que a colagem ao nome de
José Malhoa propiciava.
Remetida para parecer ao Conselho superior de Belas Artes, tal como determinado pelo
decreto nº 20985 de 7 de Março de 19329, recebe deste, a 9 de Maio de 1933, uma
apreciação favorável (Parecer do Conselho Superior de Belas Artes, 1933, Anexo III),
elaborada por José de Figueiredo, José de Pessanha, Raúl Lino, Luís Xavier da Costa,
Adriano Sousa Lopes e Diogo de Macedo.
Neste parecer, são de salientar os três vectores estruturantes que, ao fundamentarem a
decisão, determinam a função que se destina aos Museus: educação artística da

8
“Às comissões municipais de arte e arqueologia compete:
1.° Organizar grupos de amigos dos monumentos ou museus na sua circunscrição;
2.º Promover a angariação de fundos pelas receitas dos grupos dos amigos dos monumentos e de
quaisquer outras entidades particulares para custear as suas reparações, restaurações ou reintegrações,
de harmonia com os pareceres aprovados pelas estações competentes e sob a directa superintendência
destas;(…)” (Decreto nº 20985, 1932, Cap.III, artº 22).
9
“É indispensável o parecer favorável do Conselho Superior de Belas Artes nos seguintes assuntos:
1.° Sobre a fundação de museus artísticos ou arqueológicos (…)”. (Decreto nº 20985, 1932, Cap. II, artº
16)

7
população10; desenvolvimento económico, pelo incremento do turismo que podem
proporcionar11; vertente prática do ensino artístico12.
Como corolário lógico da apreciação do Conselho Superior de Belas Artes, o Ministro
da Instrução emite, a 17 de Julho de 1933, parecer favorável à criação do Museu José
Malhoa, embora este só venha a ser publicado no diário do Governo a 9 de Novembro
do mesmo ano (Diário do Governo, 1933, Anexo IV).
Este parecer positivo era, no entanto, complementado pela afirmação “mas sem
encargos para o Estado” (Diário do Governo, 1933), o que significava privar o novo
Museu de quaisquer recursos oriundos do Poder Central, deixando-o, assim, unicamente
entregue à iniciativa, e à perseverança, da “Liga dos Amigos do Museu”, que teria de
desdobrar esforços, no sentido de conseguir os apoios necessários para dar corpo ao seu
desejo, e para permitir mantê-lo em pé.
Criado o Museu, urgia, agora, encontrar um local onde instalar as obras entretanto
recolhidas.
A ideia originariamente expressa na carta de 1933 dirigida ao Ministro da Instrução
Pública, que consistia em instalá-lo, provisoriamente, numa das salas da Associação
Comercial e Industrial é rapidamente abandonada, devido ao “elevado número de
trabalhos já reunidos” (Montês, 6.01.1934, p. 5) , sendo substituída pela da sua
localização na “Casa dos Barcos”, implantada no Parque D. Carlos, e cedida
provisoriamente pela administração do Hospital.
Na “Casa dos Barcos” será o Museu inaugurado a 28 de Abril de 1934, num dia
simbólico: o dia do nascimento do pintor que lhe deu o nome, José Malhoa.
“Casa dos Barcos” que, remodelada para acolher provisoriamente o Museu, vai ostentar,
por cima do pórtico, um friso com um baixo-relevo da autoria de Alberto Morais do
Vale (Anexo V), onde se encontram esculpidas as armas das Caldas da Rainha, ladeadas
pelas representações simbólicas da Pintura e da Escultura, o que, implicitamente,
desdobra uma outra ideia para o Museu caldense: um Museu predominantemente
dedicado à exposição de obras de pintura e escultura contemporânea ligadas à região em
que as Caldas da Rainha se integram, e tendo como pólo catalisador e estruturante a

10
“ (…) contribuirão assim para a maior educação artística de um centro que é já hoje de grande
valor(…)”. (Parecer do Conselho Superior de Belas Artes, 1933)
11
“ A secção respectiva aproveitaria portanto ali duplamente: - como elemento de atracção do
forasteiro (…)”. (Parecer do Conselho Superior de Belas Artes, 1933)
12
“ (…) ensinamento aos que continuam a trabalhar na nossa indústria artística.”. (Parecer do Conselho
Superior de Belas Artes, 1933)

8
obra de José Malhoa, cujas pinturas e desenhos representam cerca de um terço das peças
expostas ( 40 em 123), embora a apresentação da cerâmica das Caldas seja um projecto
que António montês nunca deixará de acalentar, se bem que este se vá,
progressivamente, transferindo para a criação de um novo Museu, como este refere,
nomeadamente, em 1957: “ (…) dentro dum ano, terêmos esperança de possuir um
Museu de Cerâmica.” (Montês, 1957)
Para além das obras de Malhoa, o Museu provisoriamente inaugurado na “Casa dos
Barcos” expunha peças de Varela Aldemira (uma), Artur Alves Cardoso (uma), Lino
António (uma), Frederico Ayres (duas), Simões Almeida (uma), Mário Augusto (uma),
Jorge Barradas (uma) João Hermano Baptista (uma), Columbano Bordalo Pinheiro
(duas), D. Carlos de Bragança (uma), Luiz Ortigão Burnay (uma), José de Brito (uma),
Henrique Casanova (uma), António Carneiro (uma), Abel Cardoso (uma), Maria de
Lurdes de Mello e Castro (cinco), José Campas (uma), Jorge Colaço (uma), Joaquim
Costa (uma), Maria Conceição Silva (uma), Ernesto Rodrigues Condeixa (uma), Mário
Costa (uma), João Ribeiro Cristino (uma), Maria Adelaide Lima Cruz (uma), Simão
Dórdio Gomes (uma), António Duarte (uma), Luiz Fernandes (uma), João Matoso
Fonseca (uma), Luciano Freire (uma), Alfredo Roque Gameiro (uma), José de Sousa
Moura Girão (uma), Fausto Gonçalves (uma), Pedro Guedes (uma), Alberto Portugal
Correia de Lacerda (duas) Eduarda Lapa (uma), José Leite (uma), Acácio Lino (uma),
Joaquim Lopes (uma), Abel manta (uma), Delfim Maya (uma), Alfredo de Morais
(duas), Tertuliano Lacerda Marques (uma), Carlos Neves (uma), Marques de Oliveira
(uma), Emílio Paula Campos (uma), Ezequiel Pereira (uma), Manoel Henrique Pinto
(uma), Severo Portela Júnior (uma), Joaquim Prieto (uma), António Ramalho (três),
Carlos Ramos (uma), Carlos Reis (uma), João Reis (uma), Maria Luiza Reis (uma),
Domingos Rebelo (uma), Abel Salazar (uma), José Veloso Salgado (duas), Fausto
Sampaio (uma), Alda Machado Santos (uma), Luiz Salvador Júnior (uma), Fernando
Santos (uma), António Saúde (uma), Alberto de Souza (duas), José Augusto de Sousa
(uma), José de Souza Pinto (duas), João de Melo Falcão Trigoso (uma), António Varela
(uma), Simão da Veiga (uma), Júlio Vaz Júnior (uma), Túlio Vitorino (uma) e Raul
Maria Xavier (uma).
Instalado o Museu provisoriamente, tornava-se, agora, necessário empreender os
esforços necessários à implementação de um espaço definitivo para o mesmo.
Partidário da instalação dos Museus em edifícios propositadamente construídos para
esse fim, e dotados das características e condições necessárias à salvaguarda e

9
apresentação ao público, em situação de exposição óptima, das obras que os integram,
António Montês rapidamente deixa de lado a ideia de instalar definitivamente o Museu
José Malhoa no novo edifício dos Paços da Concelho, como era proposto na carta de
1933 dirigida ao Ministro da Instrução Pública, expressando, nesse mesmo ano, a
vontade de “conseguir a instalação definitiva do Museu, num edifício de acentuado
cunho artístico.” (Montês, 15.09.1933, p. 1)
Vontade que se começa a concretizar em 1934, ano em que se verifica,
simultaneamente, a cedência gratuita, pela administração do Hospital, de um terreno no
Parque D. Carlos para a construção do edifício definitivo do Museu José Malhoa, e a
elaboração do projecto para esse mesmo Museu, da autoria do Arquitecto Paulino
Montês (Anexo VI).
Neste projecto desdobra-se, ainda, a ideia de um Museu geral de Artes, com as obras
dispostas, simultaneamente, por épocas e técnicas, embora dando um relevo, e uma
atenção especial, à „vida‟ e obra do seu patrono, José Malhoa.
Assim, o Museu seria composto por uma sala dedicada à produção artística de José
Malhoa, uma sala em que se reproduziria o Atelier de José Malhoa, uma sala de
Desenho, uma sala de Cerâmica e duas salas de Pintura, uma dedicada à Pintura Antiga
e outra à Pintura Contemporânea.
Apesar das contribuições e doações dos membros da “Liga dos Amigos do Museu”, da
Câmara Municipal das Caldas da Rainha e da irmã de José Malhoa, tornava-se
necessário obter outros recursos, dadas as despesas avultadas requeridas para a
edificação do Museu.
O ensejo para a sua edificação surge com a entrada em vigor do Código Administrativo
de 1936, que possibilita às Juntas de Província deliberarem sobre a criação de Museus
de Arte regionais13, o que abre as portas para que a Junta de Província da Estremadura,
no âmbito das Comemorações Centenárias na Província da Estremadura, financie a
construção do edifício do Museu, projectado por Eugénio Corrêa com base no plano de
1934 de Paulino Montês.
Museu que, em 11 de Agosto de 1940, aquando da sua inauguração, é entregue pela
“Liga dos Amigos do Museu” à Junta de Província da Estremadura, passando a
denominar-se “Museu Provincial de José Malhoa”.

13
“ No uso das atribuições de cultura, pertence às juntas de província deliberar
1ºSôbre a criação e manutenção de museus de arte regional e arquivos provinciais, (…)” (Código
Administrativo, 1936, Título IV, Capítulo III, Secçao II, Artº 260º)

10
Depois de criado legalmente em 1933, o Museu das Caldas da Rainha estava, agora,
„definitivamente‟ instalado.
Faltava-lhe, então, encontrar a sua „vocação última‟, definir o tipo de Museu que queria,
e deveria, ser. Processo este que se revelou sinuoso, com „avanços‟ e „recuos‟, na
demanda de uma identidade própria só, talvez, definitivamente estabelecida na década
de 90 do século XX.
Apesar das intenções regionalistas de António Montês, o Museu que abre as suas portas
em 1940 é, essencialmente, um Museu de Artes Plásticas dos séculos XIX e XX, com
predomínio claro para a exposição de obras de pintura e, dentro destas, das obras de
José Malhoa.
A partir daqui, o seu Director, António Montês, vai passar a concebê-lo, e a estruturá-lo,
como um Museu de Arte Moderna, ideia que só será definitivamente abandonada na
década de 90 do século XX.
Entre 1943 e 1959, com as doações de Francisco Franco (1943) e de Leopoldo de
Almeida (1954), com o alargamento do Museu (1950, 1956 e 1957) e com a
inauguração definitiva da exposição de escultura ao ar livre, a relação quantitativa entre
as obras de pintura e escultura expostas vai-se alterando, no sentido de um maior
equilíbrio numérico.
A partir de 1957, e coincidindo com o novo alento que anima Montês relativamente à
abertura de um Museu de Cerâmica nas Caldas da Rainha, verifica-se a exposição de
um maior número de peças desta arte, com a abertura de uma sala dedicada
exclusivamente à cerâmica, em 1957, e com a criação do „Museu de Cerâmica‟ na cave
do Museu, em 1964. Visibilidade expositiva que, no entanto, se insere no projecto de
criação do referido Museu de Cerâmica, para onde as peças seriam transferidas, logo
que este fosse edificado.
Com a remodelação do Código Administrativo em 1960, que extingue as Juntas de
Província, o Museu passa a ser directamente tutelado pelo Ministério da Educação
Nacional, ficando na dependência da Direcção-Geral do Ensino Superior e das Belas
Artes, assumindo o nome de Museu de José Malhoa.
A partir desse mesmo ano, o Museu adopta uma função claramente laudatória dos
principais artistas nele representados, bem como dos seus principais doadores, ao ser
decidido atribuir os seus nomes às várias salas que o compõem, função essa que só
deixará de ser assumida em 1974.

11
Na década de 70 do século passado, verifica-se uma tentativa de afirmação clara do
Museu de José Malhoa como sendo, inequivocamente, um Museu de Arte Moderna,
através da integração na sua colecção de obras de arte contemporânea, nomeadamente
com a aquisição de esculturas de José Aurélio, em 1973, e de pinturas de Palolo e de
João Vieira, em 1975.
Na década de 90 do século XX, o Museu acabou por assumir o projecto a que, de certo
modo, as suas colecções o obrigavam desde o início, procurando, a partir daí,
desdobrar-se como um „Museu do Naturalismo‟, com referência às manifestações Pré-
Naturalistas que o determinam, e Tardo-Naturalistas que o prolongam.
Finalmente, em 2007, com a criação do IMC, o Museu retoma o nome de “Museu José
Malhoa”.

3 – GÉNESE E EVOLUÇÃO DE UM EDIFÍCIO

3.a) A “Casa dos Barcos”


O primeiro espaço expositivo do Museu José Malhoa apresenta uma planta rectangular
com duas ábsides frontais semi-hexagonais, numa das quais se abre um pórtico,
encimado por um friso com baixos-relevos, representando as armas das Caldas da
Rainha, e as figuras alegóricas da Pintura e da Escultura.
De volumetria simples e ornamentação minimalista, apresenta uma estrutura
geometrizada que nos abre para um certo „espírito moderno‟.
O espaço interior, amplo a aberto, sem qualquer tipo de divisória, foi dividido, para a
exposição das obras do Museu, em três naves perpendiculares ao pórtico de entrada,
através da colocação de painéis móveis.
Deste modo, criava-se um percurso expositivo relativamente sinuoso, que „conduzia‟ o
espectador primeiro até à abside oposta à da entrada, num percurso linear que, atingida a
ábside, se invertia no sentido oposto através de uma nave lateral, tendo, então, o
visitante de voltar a passar pela entrada para atingir a outra nave lateral, percurso que se
devia repetir ate à saída.

3.b) O Anteprojecto de Paulino Montês


Paulino Montês concebeu um edifício de volumetria estática e estrutura geometrizada,
com uma fachada sem janelas e de um único andar, onde se abre um pórtico de acesso
saliente com quatro colunas, encimado por um frontão curvo. Estrutura esta que confere

12
ao edifício um carácter classicizante, embora com recurso a alguns formalismos
modernos.
Quanto à planta, desdobra-se em torno de um pátio central quadrado, à volta do qual
estão dispostas oito salas, sem qualquer abertura para o exterior: quatro maiores, que
correspondem aos lados do quadrado, e quatro mais pequenas, que correspondem aos
seus ângulos.
O percurso expositivo assim criado levava o visitante a percorrer o edifício num
percurso circular ininterrupto, sem sinuosidades nem reversões de sentido.

3.c) O Museu em 1940


Tendo-se inspirado no anteprojecto de Paulino Montês, o Museu de que Eugénio Corrêa
é o autor apresenta uma fachada de idêntica volumetria, embora acentuando a estrutura
geometrizante do edifício, e um pórtico avançado de seis colunas.
Quanto à planta, mantém-se idêntica à desenhada por Paulino Montês, sendo o espaço
interior dotado de um sistema de iluminação zenital, com tectos de vidro pelos quais
entra a luz que atravessa as clarabóias colocadas no telhado.
Verifica-se, ainda, uma acentuada redução dos vãos, de modo a aumentar a superfície
expositiva através do aproveitamento máximo das paredes, sendo todas as salas
dedicadas à exposição das obras do Museu.
A ausência de quaisquer aberturas para o exterior, bem como a inexistência de salas
dedicadas a reserva, serviços administrativos, de restauro ou outros, confere ao Museu
um carácter de cofre-forte, destinado, simplesmente, à salvaguarda e exposição das
preciosidades que guarda no seu seio.

3.d) A Ampliação de 1950


Em 1950 o Museu é dotado de mais seis salas rectangulares, duas mais extensas e altas,
dispostas no prolongamento das salas grandes do lado direito e esquerdo do quadrado
primitivo, e que apresentam cabeceira semi-circular, e quatro mais pequenas e mais
baixas, que prolongam as quatro salas de ângulo.
Deste modo, a fachada horizontaliza-se, e passa a apresentar uma volumetria mais
complexa.
Quanto ao percurso expositivo, verifica-se a substituição do simples, e ininterrupto,
percurso circular por um percurso mais complexo, onde ao primeiro direccionamento

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circular se vêm adossar percursos estruturados linearmente, que obrigam o visitante a
um movimento de tipo recorrente.

3.e) A Ampliação de 1956


Esta ampliação vem acrescentar duas novas salas ao Museu, dispostas
perpendicularmente à fachada principal, e encostadas aos extremos das duas salas
pequenas da fachada, construídas em 1950, dando-lhe, assim, uma configuração em U e
acentuando o carácter de fechamento do espaço.
Quanto à orientação expositiva, vê-se complexificada coma inserção de mais dois
percursos lineares, que se entrecruzam com os das salas rectangulares da fachada
principal.

3.f) A Ampliação de 1957


Em 1957 são construídas mais duas salas semicirculares que, prolongando as fachadas
semicirculares do edifício do Museu, unem, duas a duas, as quatro salas rectangulares
pequenas construídas em 1950.

4 – AS „INCORPORAÇÕES‟
Iniciado praticamente sem obras, para além das cinco doadas por Malhoa (Paisagem de
Joaquim Prieto, Cabeça de Rapaz de Columbano Bordalo Pinheiro, Retrato de José
Malhoa de Maria de Lurdes de Lurdes de Mello e Castro e os retratos de Joaquim
Malhoa e da Rainha D. Leonor da sua autoria), o Museu José Malhoa vai, num curto
espaço de tempo após a morte do Mestre que lhe deu o nome, conseguir acumular uma
quantidade apreciável de obras de arte (cerca de 140 aquando da abertura do Museu, no
edifício provisório da “Casa dos Barcos”), fruto, integralmente, de doações.
Após a morte de José Malhoa, numerosas obras suas e de outros pintores foram doadas
ao Museu, sendo doadores a família do falecido Mestre, amigos seus e pintores a ele
ligados, bem como por caldenses, pertencentes ou não à “Liga dos Amigos do Museu”,
a quem o nome de Malhoa incentivava a contribuírem para o enriquecimento do espólio
de um Museu que ostentava o seu nome.
Destes doadores dos primeiros anos (1933-1942), cujas obras abarcam, essencialmente,
os domínios da escultura, do desenho e da pintura, com especial relevância para este
último, destacam-se a irmã de Malhoa, Maria José Malhoa e Silva, e o afilhado deste,
Luíz Pinto, que doam várias obras do mestre, os Pintores Veloso Salgado, Varela

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Aldemiro, Falcão Trigoso, António Saúde, Frederico Ayres, Maria de Lurdes de Mello
e Castro, Portela Júnior, Fausto Sampaio, Jorge Barradas, Lino António, Dordio Gomes
e Abel Manta, que oferecem ao Museu trabalhos da sua autoria, e ainda José Filipe
Rodrigues, José Augusto de Sousa, António Lobo da Silveira, Joaquim Agostinho
Fernandes, Laura Sauvinet, Matoso da Fonseca, Alberto Rego, Alfredo da Cunha,
Caetano Neves, Lavinia Alves Cardoso, João Carlos Henriques, Emília Bordalo
Pinheiro, José Filipe Neto Rebelo, Helena Bordalo Pinheiro, António Carneiro, Alfredo
de Azevedo, Mário Salgueiro, Carlos Neves e Hermínia Teles de Gomes, responsáveis
pela doação de várias obras de pintura e desenho de autores do Naturalismo português,
ou a ele ligados.
Esta „política de doações‟ não termina, no entanto, aqui, e será a forma basilar através
da qual o Museu irá alargando o seu espólio, constituindo as aquisições e as cedências
de obras das reservas de outros Museus uma parte mínima do acervo do Museu José
Malhoa.
Verifica-se, no entanto, a partir de 1943, uma modificação nos domínios artísticos que
compõem as doações, que deixam de ser, quase exclusivamente, compostas por pinturas
e desenhos.
Em 1942 verifica-se a doação de uma importante colecção de esculturas de Francisco
Franco, doadas pelo autor, e a partir de 1949 afirma-se, como domínio importante na
„lógica das doações‟, a medalhística.
A escultura volta a ser objecto de uma importante doação em 1954, através da entrada
no acervo do Museu de obras de Leopoldo de Almeida, por ele doadas.
Coincidindo com o renascer vigoroso do anseio de António Montês, desde sempre
presente na sua mente, de ver ser erigido um Museu de Cerâmica nas Caldas da Rainha,
verifica-se, entre 1957 e 1964, uma importante incorporação de obras de cerâmica.
Durante este período assiste-se, ainda, à incorporação de importantes obras de pintura
(nomeadamente Retrato de Manuel João da Costa e Últimas Notícias de José Malhoa) e
escultura (Busto da rainha Dona Leonor e um esboço para o Infante D. Henrique, de
Francisco Franco, entre outras), fruto de uma doação de Júlia Paramos Montês.
Os anos de 1975/76, nos quais se verifica uma incorporação significativa de obras de
pintura, desenho, escultura, cerâmica e medalhística, correspondem a uma certa viragem
na política do Museu José Malhoa que, apostado agora firmemente em instituir-se
enquanto Museu de Arte Moderna, realiza importantes aquisições de obras desse
período.

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A última grande doação verifica-se em 1992, fruto do testamento de Júlia Paramos
Montês.

5 – CONCLUSÃO
Pode dizer-se que o Museu José Malhoa, que emerge do seio de uma política de
desenvolvimento regionalista iniciada durante a 1ª República, e alicerçada no Estado
Novo, é, acima de tudo, fruto do labor e da perseverança de um homem que o sonhava
desde a década de vinte do século XX: António Montês.
Pensado inicialmente como Museu de Cerâmica, dedicado a Rafael Bordalo Pinheiro,
depois como Museu de Artes de carácter regionalista, o Museu José Malhoa acabará por
ser inaugurado como um Museu de pintura e escultura de feição Naturalista, e de
homenagem a Mestre Malhoa, não esquecendo, nunca, os princípios estruturantes que
orientaram a sua criação: desenvolvimento económico, cultural e artístico das
populações.
Instalado provisoriamente na “Casa dos Barcos”, acabará por vir a ser instalado no
primeiro edifício construído de raiz, em Portugal, para albergar um Museu, edifício esse
que, no entanto, e devido às doações constantes de que o Museu foi alvo, rapidamente
se tornou exíguo, sofrendo, assim, três ampliações: em 1950, 1956 e 1957.
Doações que foram a estrutura basilar de constituição do espólio do Museu, e que
tiveram como domínios artísticos predominantes a pintura, a escultura, o desenho, a
cerâmica e a medalhística.

16
Bibliografia
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(7 de Março de 1932). Decreto nº 20985 .

(15 de Janeiro de 1933). Carta ao Ministro da Instrução Pública . Caldas da Rainha: Arquivo
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Rainha.

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Pimentel, C. (2005). O Sistema Museológico Português (1833-1991) - Em Direcção a um Novo


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Roteiro do Museu de José Malhoa. (1974). Caldas da Rainha.

17
Roteiro do Museu de José Malhoa. (1961). Caldas da Rainha.

Roteiro do Museu de José Malhoa. (1962). Caldas da Rainha.

santos, D. J. (2008). História, Discurso e Ideologia - Como seFez o Museu José Malhoa.
Museologia.pt , pp. 134-145.

18
ANEXOS

19
ANEXO I

Carta

20
ANEXO II

Carta ao Ministro da Instrução Pública

21
22
23
ANEXO III

Parecer do Conselho Superior de Belas Artes

24
ANEXO IV

Parecer do Ministro da Instrução

25
ANEXO V

“Casa dos Barcos” - Friso com baixo-relevo de Alberto Morais do Vale

26
ANEXO VI

Projecto de Paulino Montês para o Museu José


Malhoa - 1934

27
ANEXO VII

Estrutura Expositiva do Museu José Malhoa

1940 1946

1959 1960

1974 1993

28
ANEXO VIII - Plantas

1940

1950

1956

1957

29
ANEXO IX

Evolução das Incorporações

Nº de Obras

30

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