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O LIVRO DE JOSUÉ – PARÓQUIA SÃO PAULO APÓSTOLO

O livro de Josué é fundamental para a compreensão da relação de Israel com a


terra prometida e com o Deus que o escolhe como povo. Fazendo com ele uma Aliança,
marcada fidelidade, e lhe dá a Terra como dom, mas que deve ser conquistada. Trata-se
de um livro catequético que sustenta a luta. Ao ler Josué, perguntas se impõem, tais
como: Por que Israel conquistou ou ocupou a terra de Canaã? Por que a imagem é de
um Deus violento e sanguinário? Por que Deus oferece uma terra que já tinha dono?
Qual Teologia sustenta o livro de Josué? Quem escreveu e quando foi escrito o livro de
Josué? Qual a relação entre Moisés, Josué e Jesus?

1 A autoria e datação do livro de Josué


Em nosso tempo, um livro está sempre associado ao seu autor(a). Na Bíblia, não
é bem assim, pois o autor, como se diz “livro de Josué”, pode ser apenas um
pseudônimo ou uma atribuição patronímica para valorizá-lo. Por exemplo, atribuir um
Salmo ao rei Davi ou um livro ao rei Salomão, ainda que eles não sejam os seus autores,
tem como objetivo conferir autoridade ou importância ao texto.
Uma leitura superficial do livro de Josué pode nos induzir a pensar que ele seja o
autor, visto que esse personagem é o que predomina na narrativa, ao lado de Eleazar,
filho de Aarão, e Fineias, filho de Eleazar. Na verdade, estamos diante de uma questão
que oferece várias possibilidades.

Podemos identificar as seguintes opiniões sobre a autoria do livro de Josué:


1. Josué é o autor. Essa hipótese, a mais antiga, é defendida pela tradição rabínica.
Bastante contestada, essa posição encontra dificuldade em explicar como Josué poderá
ter escrito a sua própria morte (Js 24,29-30). Essa mesma questão surge quando
atribuímos o Pentateuco a Moisés (Dt 34,5-9). Adeptos dessa teoria justificam que esse
relato foi um acréscimo de contemporâneos de Josué, como Eleazar. Nessa hipótese, a
datação do livro de Josué terá ocorrido final do século XII a.C.
2. As fontes (autores) do Pentateuco produziram também o livro de Josué. Isso significa
afirmar que o livro de Josué é resultado do trabalho redacional, sobretudo, da fonte
Javista (950 a.C.), com a presença de extratos das fontes Javista, Eloísta, Sacerdotal e
Deuteronomista, encontradas no Pentateuco. Dessa hipótese resulta a afirmativa de que
temos um Hexateuco, isto é, o Pentateuco deixa de ser uma obra completa e
independente em cinco livros (Gn, Ex, Lv, Nm e Dt), passando o livro de Josué a ser a
sua continuidade numa obra de seis livros.

2 A estrutura do livro de Josué


A estrutura do livro de Josué é muito simples. Normalmente, a divisão é feita em
dois blocos, o da conquista (1–12) e o da divisão da terra (13–22), seguidos do discurso
de despedida de Josué (23–24). Outra estrutura possível é a seguinte:
Introdução (1,1-9): Discurso inicial de Deus a Josué, encorajando-o para conquistar a
terra e prometendo que estaria com ele na luta. Deus pede também a Josué que siga as
ordens deixadas por Moisés e que seja um fiel seguidor da Torá.
Primeira parte (1,10–12,24): Chegada em Canaã e conquista da terra prometida pelas
tribos, sob a liderança de Josué. Tomada de cidades e lista de reis vencidos.
Segunda parte (13–21): Repartição da terra entre as tribos e lista das cidades de
refúgios e as levíticas. Promessas de YHWH são cumpridas.
Conclusão (22–24): Renovação da Aliança em Siquém, discurso final e morte de Josué.
O foco dado à Aliança, na introdução, de YHWH com Josué, seguido do pacto
de Josué com Moisés e o cumprimento da Torá, é retomado na conclusão com a
renovação da Aliança em Siquém para dizer que YHWH é o Deus da Aliança, e não
pode ser rompida jamais por Israel. Uma leitura atenta de todos os extratos justapostos
no livro resulta, como dissemos anteriormente, que tudo gira em torno de Josué, sua
fidelidade a Deus e a Moisés. Da mesma forma, numa ação única, Josué conquista a
terra pela guerra e procede a sua divisão entre as tribos. Na verdade, o processo é longo,
em diversas etapas e com participação das tribos.
Ao lado de Josué, não podemos deixar de frisar que a terra de Canaã, ou Terra
Prometida, é a gasolina que move a luta. Os fugitivos do Egito encontram YHWH no
deserto, com Ele selam uma Aliança. Em troca, YHWH lhe dá como a herança a terra
de Canaã, antiga promessa feita aos pais (Js 23,14).

Algumas chaves de leituras para compreender o livro de Josué

A compreensão do livro de Josué requer a atenção sobre alguns pontos. Selecionamos


alguns e os apresentamos como chaves de leitura.
1. A Teologia da Terra: promessa, conquista e dom de Deus
O rei Josias (622 a.C.) tentou reverter a situação de injustiça social que reinava
no meio do povo. Em 597, com o Exílio da Babilônia, as lideranças do povo foram
levadas para o cativeiro. Os que ficaram foram chamados de povos da terra. O profeta
Ezequiel havia prometido que essas terras voltariam para o povo, mas que o dono dela
seria Deus. Pergunta que se impõe é o que tem isto a ver com o livro de Josué? Caso o
povo mudasse de atitude, a terra de Canaã voltaria para os judeus exilados. Em Canaã, a
terra já tinha outros donos.
A primeira metade do livro de Josué trata da conquista da terra de Canaã, sob a
liderança de Josué, o legítimo sucessor de Moisés. Trata-se da promessa de YHWH que
deveria ser levada a cabo com o extermínio dos inimigos e conquistas de cidades, como
Jericó (Js 6), Ai (Js 8), e outras tantas nas campanhas do sul (Js 10) e nas do norte (Js
11). Conquista e repartição da terra é o tema central do livro. Para a teologia
deuteronomista, a Terra é dom de Deus, mas deve ser conquistada.
A conquista, de fato, ocorreu como descreve o livro de Josué? O que poderá ter
ocorrido: uma conquista pela espada ou uma ocupação pacífica, a partir de alianças com
a população local? O que significa dizer que Josué conquistou a terra porque era fiel a
Deus, mas nós, os exilados, a perdemos por causa de nossa infidelidade e idolatria?
Acrescente-se a isso o fato de que a conquista, na perspectiva de outra teologia, a da
retribuição, trouxe muitos benefícios econômicos para os israelitas do passado, os quais,
como Josué, foram fiéis a YHWH e à Torá. Para os exilados, partindo dessa teologia, a
retribuição divina era o castigo. Tudo poderia mudar, dependendo da mudança de
atitude dos exilados e da misericórdia de YHWH.

2.Fidelidade à Aliança e observância da Torá para garantir da terra


A relação de fidelidade à Aliança e à observância da Lei formam uma inclusão,
no início e no fim do livro. No início da narrativa, Deus pede a Josué que seja fiel ao
livro da Lei, conservando-o ante seus olhos, mediando-o dia e noite e praticando os seus
preceitos, de modo que ele pudesse ser bem-sucedido na tarefa a ele confiada (Js 1,8).
O livro termina com o povo declarando fidelidade a Deus, e Josué selando uma
Aliança com o povo, estabelecendo para eles leis e mandato em Siquém (Js 24,25). Ele
escreveu as cláusulas no livro da Lei de Deus, pegou uma pedra e a ergueu sob o
carvalho do santuário do Senhor e disse ao povo: “Olhai esta pedra, que será testemunha
contra nós, pois ouviu tudo o que o Senhor nos disse. Será testemunha contra vós, para
que não possais renegar vosso Deus” (Js 24,27). Findo esse processo, a Aliança com
Moisés foi renovada por Josué. O amor e obediência à Torá é algo que todo israelita
deveria passar de geração em geração. Foi assim com Moisés, Josué, e deveria ser com
os seus seguidores e os israelitas de todos os tempos.

3. Idolatria não pode fazer parte da caminhada do povo


Josué, já no fim de sua missão, insiste com o povo sobre a questão da idolatria.
“Se abandonardes o Senhor e servirdes deuses estrangeiros, ele se voltará contra vós e,
depois de vos ter tratado bem, vos matará e destruirá” (Js 24,20), disse Josué ao povo. O
povo havia-lhe dito: “Longe de nós abandonar YHWH para servir outros deuses!
Porque YHWH nosso Deus é quem tirou a nós e a nossos pais da escravidão do Egito,
quem fez diante de nós grandes prodígios, guardou-nos em todo o nosso peregrinar e
entre todos os povos que atravessamos.” (Js 24,16-17)
Ainda que a questão da idolatria apareça, explicitamente, somente no final do
livro, isto é, no capítulo vinte e quatro, ela é fundamental na composição do pensamento
religioso que articula a redação final do livro de Josué. O que motiva essa visão é a
observância da Torá, como atesta a abertura do livro, referindo-se a Josué: “Não te
apartes dela, nem para a direita, nem para a esquerda, para que triunfes em todas as tuas
realizações. Que o livro da Lei esteja sempre em teus lábios: medita nele dia e noite” (Js
1,7-8a).
A promessa do grupo de Josué de que não abandonaria YHWH serviu para
incutir nos exilados o desejo de voltar a ser fiel a Deus. E seguir outros deuses
significava perder a terra e atrair a ira divina (Js 23,16). O capítulo 22 trata da questão
de adorar YHWH fora da Palestina. A resposta é que o culto só é possível em
Jerusalém. “Fora da terra é pelo ensinamento e pela observância da Lei que YHWH é
venerado”, o pacto de Siquém (Js 24) foi garantia de seguimento de YHWH.

4. Imagem de Deus violento e guerreiro no livro de Josué


A imagem de Deus que transparece no texto, a de violento, coloca o(a) leitor(a)
numa situação difícil. Seria essa a imagem do Deus de Israel? O livro narra cenas de
extermínio sagrado de cidades, como em Js 8,26. Com o consentimento de YHWH, os
homens de Josué passam a fio de espada os habitantes dos lugares ocupados (Js 8,24).
Os israelitas matam, mas quem faz isso é YHWH, o que justifica tais atitudes. Trata-se
de uma “guerra santa” criada pelas doze tribos, na época de Josué. Teria, de fato, esse
tipo de guerra ocorrido, ou foi uma interpretação teológica ocorrida após a conquista da
terra? Ou melhor, é “guerra santa” ou “guerra de YHWH”?
No capítulo cinco YHWH é o chefe do exército (Js 5,14). Jericó cai mediante
uma grande procissão litúrgica. O capítulo vinte do livro do Deuteronômio dá as
coordenadas de uma guerra santa, ao orientar: “Quando saíres para a guerra contra teus
inimigos, e vires cavalos, carros e um povo bem mais numeroso que o teu, não terás
medo deles, porque contigo está YHWH, teu deus, que te tirou da terra do Egito” (Dt
20,1). O sacerdote profere palavras de incentivo para os combatentes, garantindo que
Deus combate com eles contra os inimigos para lhes dar a vitória.
Ao chegar um uma cidade para atacá-la, a primeira atitude é a de propor a paz e
o povo aceitar servir a Israel com trabalhos forçados. Caso isso não acontecesse, os
israelitas deveriam passar a fio da espada todos os homens e apossar-se, como despojo
de guerra, de mulheres, crianças, gado e os outros bens da cidade (Dt 20,10-20). Moisés
também agira com violência, ao matar um egípcio que maltratava um hebreu (Ex 2,12).
Nesse caso, Moisés não tinha a anuência divina. A teologia preferiu o Moisés libertador
ao violento. Destruir, matar e apossar-se de terras e bens parece não ter sido problema
para Josué e seus liderados. Mas, teremos a oportunidade de aprofundar essa face
violenta de Deus no próximo capítulo dessa obra.

5. A liturgia como ponto de partida para garantir a terra conquistada e a tomada


de Jericó e na Assembleia de Siquém
O livro de Josué pode ser lido numa perspectiva litúrgica. A terra é o maior dom
de Deus dado ao Povo de Israel. Por ela, cada israelita era chamado a lutar para
conquistá-la. A tomada de Jericó não passa de uma grande liturgia de entrada na terra da
promessa. Muros não caem, berrantes não teriam o poder de derrubar muralhas, mas de
alimentar, liturgicamente a fé de um povo que espera e procura sempre voltar para a
Terra da Promessa. Foi assim com Abraão, Moisés, Josué e os repatriados do exílio
babilônico. Sem a terra a vida não acontece.
Assim como o Pentateuco terminou com a morte de Moisés e a sua não entrada
na terra, para lembrar que ela é sempre um dom e uma conquista, Josué entra de forma
litúrgica na terra de Canaã. Muitas lutas ainda estariam por vir na vida do povo. Lutas
foram colocadas no patamar religioso, litúrgico. Não importavam os que morriam, o que
valia é que Deus havia prometido a terra ao seu povo. Reconquistá-la era uma questão
de fé e de agradecimento a YHWH. Esse era sonho de um recomeço, no pós-exílio. A
presença na terra prometida foi sinal de bênção para Abraão; de luta para Moisés, no
Egito; de conquista para Josué, em Canaã; e de esperança para os exilados, ao se
recordarem das façanhas do rei Josias (639 a 609 a.C.).
Em Js 24,1-28 relata a reunião de todas as tribos no centro da terra prometida,
Siquém, para celebrar a conquista definitiva da terra e reafirmar, liturgicamente, o pacto
da Aliança com Javé, o Deus que libertou o povo da escravidão do Egito. Ele fez a sua
parte, agora caberia ao povo celebrá-Lo, demonstrando a sua fé e obedecendo as leis
previstas na Torá. Já Js 23,1-16 trata da relação da conquista da terra com o
cumprimento da Torá, condição necessária para manter a terra nas mãos do povo da
Aliança. Josué faz o seu discurso final apelando ao povo pelos deveres e direitos na
terra dada por Javé.
Nessas três passagens, ainda que tenha enfoques distintos e seja escrita em
épocas e contextos diferenciados, em todas elas o tema que as move é a terra da
promessa. Ela é o maior dom de Deus dado ao seu povo escolhido. Por ela, cada
israelita era chamado a lutar e estar sempre no movimento de conquista. Por isso, o
Pentateuco termina com a morte de Moisés (Dt 34) e a sua não entrada na terra para
lembrar que ela é sempre um
dom e uma conquista. Josué, por outro lado, entra de forma litúrgica na terra de Canaã e
nela morre, reafirmando o cumprimento da Torá dada a Moisés, no Sinai.
Uma coisa é certa, muitas lutas ainda estariam por vir na vida do povo.
Colocadas no patamar litúrgico, reconquistar a terra era uma questão de fé e de
agradecimento a Deus. Recomeçar sempre, seja no exilio da Babilônia (587 a 538
a.E.C.) ou no pós-exílio da dominação persa (538 a 333 a.E.C.).

6. No nome de Josué a relação com a salvação trazida por Jesus


Conforme atesta Nm 13,1-16, Moisés, por ordem do Senhor, escolhe doze
homens, um de cada tribo, para conquistar a Terra Prometida, após a saída do Egito.
Eles deveriam ir à frente para explorar, espiar, a terra de Canaã. A lista dos escolhidos
termina com a decisão de Moisés de mudar o nome de Oseias, da tribo de Efraim e filho
de Nun, para Josué (Nm 13,16). Por que ele fez isso?
O contexto imediato dessa mudança de nome reside no fato de que o povo estava
revoltado contra Moisés e Aarão. Entre gritos e choro de uma noite inteira, eles
disseram a Moisés e Aarão: “Oxalá tivéssemos morrido na terra do Egito ou tivéssemos
morrido neste deserto! Por que o Senhor nos fez vir para esta terra, a fim de fazer nossas
mulheres caírem pela espada e nossas crianças tornarem-se objeto de saque? Não nos
seria melhor voltar ao Egito?” (Nm 14,2b-3).
Os acampados no deserto queriam voltar para o Egito sob outra liderança,
escolhida por eles (Nm 14,1-3). “Vamos instituir um líder, e voltaremos ao Egito” (Nm
14,4), disseram. Ao ouvir a lamúria do povo, Moisés e Aarão prostraram-se por terra.
Nesse momento, Josué, juntamente com outra liderança que tinha ido espiar a terra de
Canaã, Caleb, rasgando as vestes em sinal de tristeza e angústia diante da atitude do
povo, tomou a palavra e garantiu que a terra espiada era muito boa, que dela manava
leite e mel, e que YHWH a daria a seu povo. A reação do povo foi a de desejar
apedrejar Josué e Caleb. Fato que não ocorreu, pois a glória de YHWH apareceu na
tenda da reunião, diante de todos os israelitas (Nm 14,10). Com a intervenção de Moisés
e Aarão, essas atitudes de infidelidade e desprezo do povo foram perdoadas por YHWH.
E o povo continuou a sua caminhada em direção à Terra Prometida.
Moisés morreu avistando, por ordem divina, Canaã, a terra que Deus prometeu
dar aos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó (Dt 34,4). As últimas palavras do livro do
Deuteronômio são sobre Moisés: “Em Israel, não se levantou mais um profeta como
Moisés, um que YHWH conhecesse face a face, por todos os sinais e prodígios que
YHWH lhe ordenara fazer na terra do Egito, diante do faraó, de todos os seus servos e
de toda a sua terra sua corte e seu país, e por tudo que Moisés, com sua mão forte e com
grande terror, fez aos olhos de todo Israel.” (Dt 34,10-12)
Deuteronômio também não deixa de destacar a liderança e a sabedoria de Josué,
o servo escolhido por Moises para ser o seu sucessor: “Os filhos de Israel o escutaram e
fizeram como YHWH ordenara a Moisés” (Dt 34,9). Isso ocorre porque Josué, o filho
de Nun, já tinha sido escolhido por Moisés para dar continuidade à sua missão.
A predileção de Moisés por Josué justifica-se pelo fato de Josué ser considerado
o seu servo desde a juventude, servindo-o junto à tenda da reunião (Ex 33,11; Nm
11,28). Josué estava com Moisés no monte Sinai, quando ele recebeu as tábuas da Lei, a
Torá (Ex 24,13), e quando desceu do monte e viu o povo adorando o bezerro de ouro
(Ex 32,17-19). Prevendo a morte de Moisés, Deus disse a Josué: “Sê forte e corajoso,
porque tu farás os filhos de Israel entrarem na Terra que eu lhes jurei! Eu estarei
contigo” (Dt 31,23). No livro de Josué, Deus pede a Josué que seja um fiel cumpridor
das ordens deixadas por Moisés (Js 1,7). Deus esteve ao lado de Moisés e fará o mesmo
com Josué (Js 1,5).
Assim como Moisés, Josué não está acima da Torá, mas dela deve ser fiel
seguidor (Js 1,8). O livro de Josué abre-se com a promessa divina de que a terra será
entregue por Deus ao povo, por intermédio de Josué, na continuidade da missão de
Moisés. Oseias, agora Josué, nome que significa YHWH é/dá a salvação. Josué recebeu
o encargo de manter viva a memória e os ensinamentos da Torá, recebida por Moisés.
No Novo Testamento, o Messias enviado por Deus para liderar o seu povo na
construção de seu reino recebe o nome de Jesus, que é a transliteração grega do nome
hebraico Josué. Com isso, ficou estabelecida uma relação entre o nome e missão de
Josué e Jesus.

Conclusão

O livro de Josué, no modo como é apresentado na sua redação final, pode


parecer ser de um único redator, mas não o é. Ele é fruto de várias épocas e contextos, o
que resultou em historiografias diversas. Antes do exílio babilônico a questão da
conquista da terra era fundamental e, com a ela, a visão de YHWH, um guerreiro que
legitima conquistas sangrentas de povos e da própria terra que Ele prometeu aos pais.
Já na sua redação pós-exílica, a Torá ganhou lugar de destaque. O povo devia
segui-la com fidelidade. A idolatria não podia ser permitida em Israel. Após a conquista
da terra, tornou-se de fundamental a fidelidade à Torá. Seguir os deuses de outros
povos, cometendo o pecado da idolatria, significava perder a terra. Josué foi o discípulo
predileto de Moisés. Com ele, a Torá continuaria sendo observada pelo povo da
Aliança. A terra dada como promessa foi conquistada pela habilidade de Josué, um
valente guerreiro, que teve sua imagem projetada na figura de YHWH, o Deus dos
exércitos que vence as guerras.
Josué é um livro recheado de historiografias de vida. Se os fatos aconteceram,
tais como descrevem nos relatos, é passível de controvérsias, uma coisa é certa: na vida
não há conquista sem luta e fidelidade a um projeto de esperança. Josué é um livro de
esperança de reconquista de terra, de um recomeço sempre, ainda que seja por meios
não muito salutares.

Seminarista Leonardo Melo


Diocese de Caruaru.

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