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Estudos para concepção, formulação e gestão do Programa Nacional de Saneamento Rural - PNSR View project
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Dicionário de saneamento básico [livro eletrônico] : pilares para uma gestão participativa nos
municípios / [organização Uende Aparecida Figueiredo Gomes, João Luiz Pena, Josiane Teresinha
Matos de Queiroz]. -- Belo Horizonte, MG : Projeto SanBas, 2022.
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Bibliografia.
ISBN 978-65-997733-0-3
22-109382 CDD-354.8103
como utilizar 15
apresentação 17
Acessibilidade financeira
A 23
Administração direta e indireta 28
Agência reguladora, regulação e seus fundamentos 32
Agroecologia 40
Agrotóxicos 47
Águas subterrâneas e aquíferos: 54
importância e riscos de contaminação
Aproveitamento de lodo, biogás e efluente 61
Áreas urbanas e rurais 67
B
Bacia hidrográfica 72
Balanço hídrico em um sistema de abastecimento de água 78
D
180 Densidade demográfica
183 Desastres
189 Dessalinização da água
196 Determinação social e os determinantes sociais de saúde
202 Diagnóstico de condições de vida e situação de saúde
205 Direitos Humanos à Água e ao Esgotamento Sanitário
210 Disposição final de resíduos
215 Dispositivos de proteção do sistema de abastecimento de água
218 Doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (DRSAIs)
225 Domicílio
E
228 Economias e ligações de água
232 Educação popular em saúde e saneamento
238 Efluentes industriais
243 Enquadramento de corpos d’água e padrão de lançamento
250 Epidemiologia
256 Esgoto sanitário
260 Estrutura operacional, gerencial e fiscalizatória de resíduos sólidos
F
265 Financiamento do saneamento
270 Fiscalização dos serviços
273 Funasa: relato histórico da atuação nos municípios
277 Fundos de universalização de saneamento
G
Gênero e saneamento 282
Gerenciamento de resíduos sólidos 289
Gestão associada 293
Gestão compartilhada ou consorciada de resíduos sólidos 296
Gestão de ativos 301
Gestão do risco de inundações 305
Gestão dos serviços de saneamento básico 309
Macromedição e micromedição
M
364
Manejo de águas pluviais 368
Manejo integrado de vetores 374
Manual de Saneamento 380
Melhorias sanitárias domiciliares 386
Migração 391
Mobilização social 395
P
424 Participação social
429 Perdas de água
434 Planejamento dos serviços
438 Plano de segurança da água:
Etapas e benefícios para os municípios
442 Plano de Segurança da Água: Importância e componentes
446 Plano Diretor, planos setoriais e o PMSB
450 Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB)
457 Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab)
463 Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRSs)
467 Planos de Saneamento Básico à luz da Lei 14.026/2020
473 Política federal para o saneamento básico
482 Política Municipal de Saneamento Básico
488 Poluição
495 População
499 Populações do campo, da floresta e das águas (PCFAs)
504 Prestação direta dos serviços
507 Prestação indireta ou prestação delegada dos serviços
510 Prestação integrada dos serviços
513 Prestação regionalizada dos serviços
516 Privatização dos serviços públicos de saneamento
básico no Brasil e a onda neoliberal radicalizada
522 Profissionais do saneamento
525 Programa Nacional de Saneamento Rural (PNSR)
531 Projeção populacional
535 Projeto dos sistemas de drenagem de águas pluviais
Q
Qualidade das águas pluviais 541
Saneamento ambiental
S
577
Saneamento e arboviroses 583
Saneamento e democracia substantiva 595 ]
Saneamento ecológico 604
Saneamento em comunidades tradicionais 610
Saneamento indígena 618
Saneamento, saúde e ambiente: reflexões para a sociedade 626
Saúde pública 636
Setores censitários 642
Sistema de abastecimento de água (SAA) 645
Sistemas de drenagem das águas pluviais 650
Sistemas de Informações de Saneamento – Nacional e Municipal 655
Soluções coletivas de esgotamento sanitário 664
Soluções de abastecimento de água 668
Soluções individuais de esgotamento sanitário 673
Subsídios 679
Sustentabilidade 685
Sustentabilidade no esgotamento sanitário 690
T
695 Técnicas compensatórias em drenagem
700 Técnicas de mapeamento
705 Técnico de vigilância em saúde (TVS)
712 Técnico em saneamento
717 Tecnologia social
724 Territorialização em Saúde
729 Território
734 Tratamento de água
742 Tratamento do esgoto
U
750 Unidades de triagem e valoração dos resíduos sólidos
755 Urbanização
761 Uso e ocupação do solo
V
766 Valoração energética de resíduos sólidos
774 Vazões de cheia
779 Vigilância em saúde
786 Vulnerabilidade socioambiental
AUTORES
Título do
dicionário.
Subtítulo de
verbete.
Letra de ordenação
dos verbetes.
Título do verbete.
Descrição do
verbete.
Paginação.
Verbete pricipal da
página dupla.
Letra de indexação
lateral.
Subtítulo do
verbete.
Paginação.
15
APRESENTAÇÃO
18
APRESENTAÇÃO
19
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO BÁSICO
20
21
A
ACESSIBILIDADE FINANCEIRA
24
ACESSIBILIDADE FINANCEIRA
25
EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
dos municípios, especialmente com rela- pais com a saúde pública, tanto com rela-
ção aos contratos de prestação de serviços ção aos serviços de atenção básica, quanto
por agentes públicos e privados. Portan- das internações hospitalares, reduzindo
to, na definição dos objetivos e metas de os impactos do saneamento inadequado
saneamento, desdobrados em programas, sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). Afi-
projetos e ações, a acessibilidade financei- nal, as populações que mais necessitam do
ra deve ser contemplada. SUS são aquelas com maior vulnerabilida-
Além disso, é preciso reforçar que a aces- de socioambiental (ver p. 786) e com maior
sibilidade financeira reduz gastos munici- urgência da acessibilidade financeira.
Referências bibliográficas
‘Notas de fim’
1 UN. The human right to water and sanitation: resolution adopted by the General
Assembly 64/292. New York: UN, 2010. Disponível em: https://digitallibrary.un.org/
record/687002. UN. The human rights to water and sanitation: resolution adopted
by the General Assembly 70/169. New York: UN, 2015. Disponível em: https://www.
un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/70/169.
2 WHO/UNICEF JMP. Progress on household drinking water, sanitation and hy-
giene 2000-2017: special focus on inequalities. New York: WHO/UNICEF JMP,
2019. Disponível em: https://washdata.org. Acesso em: 19 out. 2019.
3 MCIDADES. Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab). Brasília: MCidades,
2014. Disponível em: https://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNSA/
PlanSaB/plansab_texto_editado_para_download.pdf.
4 ALEIXO, B.; REZENDE, S.; PENA, J. L.; ZAPATA, G. P; HELLER, L. 2016. Direito
humano em perspectiva: desigualdades no acesso à água em uma comunidade rural
do nordeste brasileiro. Ambiente & Sociedade, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 63-82, 2016.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/1809-4422asoc150125r1v1912016.
5 BROWN, C.; HELLER, L. Affordability in the provision of water and sanitation ser-
vices: Evolving strategies and imperatives to realise human rights. International
Journal of Water Governance, v. 5, n. 2, p. 19-38, 2017. Disponível em: http://
www.ijwg.eu/pub/65.
6 QUEIROZ, V. C.; OLIVEIRA, M. V. C. Regulação e direitos humanos à água e ao esgo-
tamento sanitário. In: CONGRESSO NACIONAL DE SANEAMENTO DA ASSEMAE,
47, 2017, Campinas. Anais – 21ª Exposição de Experiência Municipais em Sanea-
mento. Assemae, 2017.
7 BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece as diretrizes nacionais
para o saneamento básico, cria o Comitê Interministerial de Saneamento Básico.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/
L11445.htm.
8 HUTTON, G. Monitoring “Affordability” of water and sanitation services after
2015: review of global indicator options. A paper submitted to the UN Office of the
High Commissioner for Human Rights. 2012.
26
ACESSIBILIDADE FINANCEIRA
Vídeo
SANEAMENTO básico como direito humano. Debatedores: Leo Heller e Guilherme
Franco Netto. 1 vídeo (120 min). Rio de Janeiro: CEE/FIOCRUZ, 2016. (Série Futu-
ros do Brasil). Disponível em: http://www.cee.fiocruz.br/?q=node/435.
27
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
A
ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA
28
ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA
29
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
Referências bibliográficas
30
ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA
3 STF. Súmula nº 76. As sociedades de economia mista não estão protegidas pela imu- A
nidade fiscal do art. 31, V, a, Constituição Federal. Disponível em: http://www.stf.
jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=4104. Acesso em:
12 set. 2019.
4 BRASIL. Lei nº 11.107, de 06 de abril de 2005. Dispõe sobre normas gerais de con-
tratação de consórcios públicos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11107.htm. Acesso em: 14 ago. 2020.
5 BRASIL. Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020. Atualiza o marco legal do sanea-
mento básico e altera a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, para atribuir à Agência
Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) competência para editar normas de
referência sobre o serviço de saneamento, a Lei nº 10.768, de 19 de novembro de
2003, para alterar o nome e as atribuições do cargo de Especialista em Recursos Hí-
dricos, a Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005, para vedar a prestação por contrato de
programa dos serviços públicos de que trata o art. 175 da Constituição Federal, a Lei
nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, para aprimorar as condições estruturais do sane-
amento básico no País, a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, para tratar dos prazos
para a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, a Lei nº 13.089, de
12 de janeiro de 2015 (Estatuto da Metrópole), para estender seu âmbito de aplica-
ção às microrregiões, e a Lei nº 13.529, de 4 de dezembro de 2017, para autorizar a
União a participar de fundo com a finalidade exclusiva de financiar serviços técni-
cos especializados. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-
2022/2020/Lei/L14026.htm. Acesso em: 14 ago. 2020.
31
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO BÁSICO
A
AGÊNCIA REGULADORA, REGULAÇÃO E SEUS FUNDAMENTOS
32
AGÊNCIA REGULADORA, REGULAÇÃO E SEUS FUNDAMENTOS
33
EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
suficientes em relação aos demais. Assim, prestador – que equivale ao valor arreca-
a despeito da semelhança, a relação regu- dado com o pagamento de todas as faturas
latória não se enquadra nos modelos de – deve cobrir pelo menos seus custos e os
governança, que supõem uma horizon- investimentos necessários para operação,
talidade entre as partes que raramente a qualidade e a universalização dos servi-
ocorre na prática. A autonomia em rela- ços. Eventuais prejuízos, porém, podem
ção a interesses ilegítimos seria, assim, comprometer a qualidade dos serviços.
requisito para essa busca de equilíbrio. Uma das tarefas da regulação, portan-
Contudo, um estudo recente encontrou to, é harmonizar esses dois elementos
que, dadas as dificuldades administrati- (modicidade tarifária e equilíbrio econô-
vas, técnicas e financeiras e as taxas re- mico-financeiro), sempre atentando para
gulatórias imperantes, o modelo regula- os benefícios coletivos de serviços com
tório preconizado pela Lei de Saneamen- qualidade para a sociedade atual e gera-
to implica a inviabilidade financeira de ções futuras. Ao incentivar o aumento da
uma entidade de regulação em 97% dos eficiência, o regulador busca fazer com
2.523 municípios analisados.5 que o prestador alcance o mesmo resul-
tado usando menos insumos ou alcance
Regulação na legislação resultado melhor usando os mesmos in-
sobre saneamento sumos. Dessa forma, diminui-se o custo
da prestação dos serviços e torna-se pos-
A Lei 11.445/2007 define, no art. 2°, prin- sível repassar ao usuário parte desse ga-
cípios que orientam a atuação do regu- nho na forma de redução na tarifa. Essa,
lador, nomeadamente: universalização, pelo menos, é a teoria.
atenção às peculiaridades locais, eficiên- A legislação estabelece, ainda, diretri-
cia e sustentabilidade econômica, dentre zes para a definição das tarifas pelo re-
outros. O art. 22 define, entre os objetivos gulador no artigo 29, entre as quais vale
da regulação, a definição de tarifas que citar: “ampliação do acesso aos serviços
“assegurem tanto o equilíbrio econômico-fi- para cidadãos e localidades de baixa renda;
nanceiro dos contratos quanto a modicidade geração dos recursos necessários para re-
tarifária, por mecanismos que gerem eficiên- alização dos investimentos; inibição do
cia e eficácia dos serviços e que permitam o consumo supérfluo; recuperação de custos
compartilhamento dos ganhos de produtivi- em regime de eficiência; e remuneração do
dade com os usuários” (destaques nossos). capital investido” (destaques nossos).
A capacidade de definir tarifas, portan- Há três formas principais de financiar
to, é um dos principais instrumentos para as obras necessárias à expansão e me-
o regulador realizar os objetivos previstos lhoria dos sistemas de água e de esgoto:
na legislação, conciliando fatores e inte- recursos do orçamento público (pagos
resses opostos. Para o prestador de servi- principalmente com tributos), recursos
ços, a tarifa é a principal fonte de receita tarifários (pagos pelos próprios usuários)
e deve garantir a sustentabilidade eco- e transferências (créditos ou doações,
nômica da prestação dos serviços. Para o normalmente de organismos internacio-
usuário, trata-se de obter o melhor serviço nais). No Brasil, existe um déficit histó-
ao menor custo possível. A receita total do rico para a universalização dos serviços
34
AGÊNCIA REGULADORA, REGULAÇÃO E SEUS FUNDAMENTOS
no saneamento, o que demanda investi- podem ser estabelecidas novas regras para A
mentos vultosos e também significativos a prestação de serviços, podendo-se intro-
recursos para financiar estes investi- duzir mecanismos de indução à eficiência
mentos. A tarifa pode ser instrumento (estabelecer incentivos para a redução de
importante de financiamento das obras custos, por exemplo), de geração de recur-
necessárias, o que colocaria o regulador sos financeiros para o cumprimento das
em uma posição importante na condução metas de ampliação do atendimento, entre
das políticas públicas, embora os países várias outras medidas. É também no pro-
que atingiram a universalização o te- cesso de revisão tarifária que o regulador
nham feito utilizando majoritariamente costuma ter espaço para reestruturação da
recursos orçamentários. tabela tarifária, que estabelece a regra de
cobrança dos usuários ou, em outras pa-
Regulação econômica e tarifária lavras, a forma como se divide a receita do
dos serviços de saneamento prestador entre as diferentes categorias de
usuários e níveis de consumo.
A atuação do regulador em matéria eco- Em geral, a regulação tarifária funcio-
nômica dá-se, sobretudo, por meio de na na forma de ciclos tarifários, que cor-
dois processos de alteração das tarifas: respondem ao período entre duas revi-
o reajuste tarifário e a revisão tarifária. sões tarifárias. Nesse intervalo, vigoram
O reajuste tarifário é o procedimento de determinadas regras para a evolução dos
atualização dos valores das tarifas para serviços e as tarifas são mantidas cons-
recompor perdas sofridas com a inflação tantes em termos reais, sendo seus valo-
em determinado período. Quando se diz, res meramente reajustados a cada ano. Ao
portanto, que “as tarifas foram reajusta- final do ciclo, o regulador observa qual foi
das”, quer-se unicamente informar que o nível de aumento da eficiência (chama-
houve uma atualização dos preços consi- do “ganho de produtividade”) e o reparte
derando o impacto da inflação sobre os com os usuários via redução nas tarifas.
custos da prestação dos serviços. O rea- Novas regras são definidas para o próxi-
juste anual das tarifas de água e esgoto mo ciclo, de modo que o prestador tenha
serve, assim, para absorver esses aumen- sempre algum aspecto para aprimorar.
tos, mantendo o mesmo nível de receita A duração dos ciclos influencia a efetivi-
real e garantindo as condições para que os dade dos incentivos, oscilando normal-
serviços sejam prestados pelo menos no mente entre dois e cinco anos, podendo
mesmo nível de qualidade e abrangência. ser inferior em casos especiais. A defini-
A revisão tarifária, por outro lado, é ção precisa da duração do ciclo depende
procedimento mais complexo e tem fina- de fatores como: nível de informações do
lidade distinta. Para além da atualização regulador sobre o prestador, déficit dos
de valores perante a inflação, na revisão serviços e necessidades de investimento.
tarifária reavaliam-se as condições da Além dos processos de reajuste e revi-
prestação dos serviços e reconstroem-se sões tarifárias, a regulação econômica
os custos do prestador, podendo ocorrer trata de outros assuntos, especialmente
aumento ou diminuição do nível de re- relacionados à forma como a receita ta-
ceita, a depender da situação. Além disso, rifária estabelecida para os prestadores
35
EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
36
AGÊNCIA REGULADORA, REGULAÇÃO E SEUS FUNDAMENTOS
árias, sem subsídios e próximas do custo pagar pelo serviço. Muitas vezes nem se- A
médio de produção. Já faixas de consumo quer se conecta à rede pública, tornando
maiores caracterizam-se por agrupar uni- ociosa a infraestrutura implantada pelo
dades com consumo supérfluo, variando prestador. Nessa dinâmica, é importante
em grande medida devido ao nível de ri- ponderar a existência de dois benefícios
queza do usuário e à pouca preocupação diferenciados na prestação dos serviços:
com o uso consciente da água. Neste caso, benefício individual do usuário via coleta
espera-se que haja uma tarifação elevada, e afastamento do esgoto (saúde) e benefí-
que busque inibir excessos dos usuários e cio coletivo da bacia via tratamento (am-
que permita, em parte, o financiamento biental). Tais aspectos devem ser perce-
de subsídios (ver p. 679). bidos pelos reguladores na definição das
tarifas de esgotamento sanitário.
Tarifas de esgoto
Tarifa social
Enquanto a cobrança da água se dá pela
medição do consumo no hidrômetro, a Vigora no setor de saneamento a ideia de
cobrança pelo serviço de esgoto decor- que se deve pagar pelo serviço, com o cus-
re também do consumo da água. Nesse to coberto pelas tarifas cobradas. Entre-
sentido, o volume consumido de água tanto, nem sempre os usuários têm condi-
é a referência usual para aplicação das ções de fazê-lo. Nesse sentido, o regulador
tarifas de esgoto. Essas, por sua vez, são pode estabelecer subsídios, diminuindo
estabelecidas também como um percen- os valores cobrados de alguns e compen-
tual da tarifa de água. Tal configuração sando com aumento nos valores cobrados
regulatória existe em função da impos- dos demais. Dessa discussão, surge a tari-
sibilidade econômica de medir os esgotos fa social, que concede reduções de tarifa
gerados nos imóveis. aos usuários com baixa capacidade de pa-
Dessa maneira, por mais que nem toda gamento. Essas medidas têm fundamento
a água consumida seja direcionada para nos conceitos de equidade (tratamento
as redes públicas de esgotamento sanitá- diferenciado dos diferentes, para equali-
rio, o mais comum no Brasil é espelhar zar desigualdades) e focalização (conjun-
a cobrança pelos serviços de esgoto no to de ações específicas para determinado
consumo de água dos usuários. Tratan- tipo de público – no caso, usuários sem
do especificamente da construção das capacidade de pagamento).
tarifas de esgoto, o regulador deve estar Existem diferentes critérios para a
atento aos incentivos dados e subsídios focalização, isto é, para a definição dos
gerados. É possível, por exemplo, que as beneficiários da tarifa social. Alguns de-
tarifas de água subsidiem as tarifas de es- les (a exemplo de área do imóvel, volume
goto, pois os custos desse serviço são em consumido, tipo de construção e locali-
geral superiores aos de água. Enquanto o zação do imóvel) não refletem necessa-
abastecimento de água é uma necessidade riamente a condição socioeconômica do
(deseja-se ter acesso ao serviço), o usuá- usuário. Seu uso pelo regulador poderia
rio em geral se satisfaz em ver-se livre do levar a distorções: atribuir desconto a
esgoto e, assim, nem sempre se dispõe a usuário sem necessidade ou excluir usuá-
37
EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
rio que tem necessidade do desconto. Por as metas estabelecidas. Como os recur-
isso, é importante que o regulador este- sos para investimento são escassos, a
ja atento e procure estabelecer critérios tarifa torna-se fonte importante para o
socioeconômicos. prestador realizar as obras necessárias
No Brasil, entretanto, o critério que para a ampliação do acesso e melhoria
vem sendo empregado de maneira cres- na qualidade dos serviços. Regulação e
cente é a renda do usuário. E, para per- regulador são, assim, agentes implemen-
ceber qual é a renda dos usuários dos tadores das disposições do PMSB, que
serviços, os reguladores utilizam geral- aponta a direção a seguir.
mente o Cadastro Único (CadÚnico). Esse Munido das informações apresentadas
aspecto da regulação tarifária é extre- no PMSB, especialmente no que trata da
mamente importante em um país como necessidade de investimentos em sanea-
o Brasil, marcado pela desigualdade so- mento no município, o regulador, no pro-
cial, sobretudo em um contexto em que cesso de revisão tarifária, poderá avaliar
restrições orçamentárias colocam a tarifa o que está considerado no planejamento
como fonte essencial de recursos para in- municipal de saneamento, dotando o
vestimento no saneamento. Trata-se, ali- prestador de serviços de capacidade fi-
ás, de uma das principais dimensões do nanceira para execução das obras.
direito humano à água e ao esgotamento Para uma adequada consideração dos re-
sanitário (Dhaes – ver p. 205). cursos para os investimentos previstos no
planejamento municipal de saneamento, o
Regulação e PMSB regulador avalia o impacto desta incorpo-
ração nas tarifas. Procurando balancear
Segundo a atual regulamentação da Lei necessidade de investimentos com capaci-
de Saneamento, os municípios, como titu- dade de pagamento dos usuários, ele pode
lares dos serviços de saneamento, devem optar por um processo mais gradual de in-
editar por meio de legislação específica corporação do PMSB nas tarifas, a fim de
algumas normas de regulação, especifica- não onerar em excesso os usuários. Outro
mente no que se refere aos “direitos e obri- aspecto relevante associado à análise de
gações dos usuários e prestadores, bem como viabilidade econômica das ações do Plano
às penalidades a que estarão sujeitos”; e aos nas tarifas é a capacidade de execução dos
“procedimentos e critérios para a atuação das investimentos pelo prestador. Não há sen-
entidades de regulação e de fiscalização”.6 Por tido em dotar a tarifa de vultuosos recursos
sua vez, compete à entidade de regulação se o prestador não é capaz de executá-los.
ajudar o município a exercer sua atribui- De toda forma, o planejamento muni-
ção de regulação pública e editar normas cipal de saneamento é fundamental para
referentes às dimensões técnica, econô- uma correta construção das tarifas pelo
mica e social de prestação dos serviços. regulador, que deverá perceber as neces-
Entendendo o Plano Municipal de Sa- sidades indicadas pelo município. Em sín-
neamento Básico (PMSB – ver p. 450) co- tese, embora haja questionamentos sobre
mo o pacto local para a universalização seus limites e potencialidades, a regula-
dos serviços, a regulação econômica deve ção, como ingrediente essencial da gestão
trabalhar no sentido de operacionalizar dos serviços de saneamento municipal, é
38
AGÊNCIA REGULADORA, REGULAÇÃO E SEUS FUNDAMENTOS
uma ferramenta-chave para garantir que neamento Básico quando a prestação dos A
os contratos de prestação dos serviços serviços acontecer de forma regionaliza-
por agentes públicos ou privados visem da. Na existência dos planos regionais, fica
à universalização do acesso aos serviços, dispensada a elaboração dos planos muni-
e consequentemente à redução das desi- cipais para aqueles municípios que inte-
gualdades sociais e ao desenvolvimento grem a prestação regional. De todo modo,
socioeconômico do município. mesmo numa configuração regionalizada,
Necessário destacar que a atualização o plano de saneamento se apresenta como
do Marco Regulatório Nacional do Sane- instrumento fundamental para a elabora-
amento Básico apresentou a possibilidade ção das tarifas pela Regulação nos termos
da elaboração de planos regionais de Sa- discutidos nesta seção.
Referências bibliográficas
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO BÁSICO
Vitor Carvalho Queiroz. Engenheiro civil e mestre em Saneamento, Meio ambiente e Re-
cursos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Possui experiência
principalmente com políticas públicas e gestão de saneamento e recursos hídricos.
A
AGROECOLOGIA
40
AGROECOLOGIA
41
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
42
AGROECOLOGIA
no convívio em sociedade, com justiça so- ambiental (ver p. 577), por exemplo, au- A
cial, valorização cultural, fortalecimento mentando a permeabilidade dos solos,
comunitário, conservação ambiental e evitando erosões e reduzindo a demanda
produção de alimentos saudáveis. Desse de drenagem. Outros impactos positivos
modo, a agroecologia visa configurar siste- consistem na ampliação da demanda por
mas alimentares integrados e virtuosos, compostagem de resíduos orgânicos, re-
tanto em seus componentes de produção, dução dos usos inadequados de terrenos
distribuição e consumo em diferentes esca- baldios e da presença de vetores, contri-
las – local, regional e global –, quanto em buindo para a melhoria das condições
seus componentes de produção e reprodu- climáticas, e fortalecimento das relações
ção da vida em diferentes territórios. comunitárias e da educação popular em
Em diversas cidades do Brasil e em ou- saneamento e saúde (ver p. 232).
tros países, a agricultura urbana e periur-
bana de base agroecológica já é um impor- Em defesa da soberania alimentar
tante vetor de geração de trabalho, renda
e qualidade de vida. Em muitos casos, A soberania alimentar, como estraté-
adere à perspectiva da economia solidária, gia da agroecologia, é definida como o
operando por meio de cooperativas, feiras conjunto de políticas públicas e sociais
agroecológicas e orgânicas, quintais pro- adotadas em povoados, municípios, re-
dutivos e sistemas agroflorestais (SAFs), giões e países para garantir que, em cada
entre outras modalidades de articulação. localidade, a população tenha o direito e
Além disso, em algumas cidades, tem-se as condições de produzir seus próprios
ampliado, com apoio do poder público, a alimentos saudáveis e diversificados,
escala da produção agrícola, que passa a valorizando culturas, técnicas e saberes
ser realizada na zona rural e na área pe- tradicionais. Assim, o agricultor e sua fa-
riurbana, tornando-se um componente mília são entendidos como parte de um
importante da urbanidade, da resiliência ecossistema produtor de um ambiente
nos centros urbanos e do desenvolvimento saudável e de bem-viver. Entender que o
saudável e sustentável dos municípios. acesso à água e ao esgotamento sanitário
Na perspectiva do saneamento, a agro- é um direito humano é determinante pa-
ecologia pode ser entendida como uma ra garantir soberania alimentar.
área estratégica, com o potencial de con- Ao considerar o saneamento e desen-
tribuir para a elaboração de soluções volvimento rural solidário e sustentável
sanitárias em diferentes dimensões: na como um de seus marcos referenciais, o
adequação das tecnologias utilizadas às Programa Nacional de Saneamento Rural,
condições locais, aos objetivos sanitários atualmente denominado como Programa
almejados e aos insumos disponíveis e Saneamento Brasil Rural (PSBR – ver p.
também no uso combinado dessas tec- 525), é um divisor de águas na atualiza-
nologias em função das necessidades de ção teórico-conceitual dessa problemática,
produção de alimentos. uma vez que indica a relevância da cor-
A expansão desses programas e pro- relação entre produção agrícola e sanea-
jetos em curso pode trazer grandes mento básico para a promoção da saúde:
benefícios em matéria de saneamento “A agricultura familiar, além do extrativismo,
43
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
decorre das práticas e técnicas das experiên- A2.3 - Promover articulações com os ór-
cias de vida das comunidades tradicionais, dos gãos ambientais, de assistência técnica,
quilombolas e dos povos indígenas. Por outro extensão rural e agropecuários das esferas
lado, carrega em si a possibilidade da transi- municipal, estadual e federal, visando à
ção agroecológica. Neste modelo de produção, proteção, preservação e recuperação das co-
a visão integrada do agroecossistema conduz leções hídricas."
a uma produção livre de agrotóxicos e fertili-
zantes, adaptada às condições locais, com in- Nesse sentido, a interação dos agentes
sumos geralmente produzidos a partir de ma- públicos do saneamento, da saúde, da edu-
térias-primas geradas na propriedade. Além cação e da assistência técnica e extensão
disso, a agroecologia se utiliza de tecnologias rural – cujo maior contingente com capila-
sociais, que contribuem para a preservação e ridade se encontra nas áreas rurais –, com
recuperação dos solos e das águas.”14 os agentes sociais, entidades, movimentos
Consta da diretriz do PSBR15 a reco- sociais e população em geral é fundamen-
mendação de “adotar estratégias que as- tal para sua qualificação profissional, com
segurem a interlocução, articulação e in- benefícios para o planejamento, a elabora-
tersetorialidade das ações de saneamento ção e a efetividade das ações estruturais e
rural com as políticas públicas afins e com estruturantes desempenhadas.
planos municipais, estaduais e regionais de Assim, quando o planejamento munici-
saneamento, visando garantir a implemen- pal do saneamento considera estratégias
tação do programa”. Para implementá-la, específicas de atuação em territórios agro-
destacam-se as estratégias A2.1 e A2.3: ecológicos, além de fortalecer essa prática
no município, contribui para uma maior
"A2.1 - Articular ações e programas de sane- efetividade e sustentabilidade das ações
amento rural com outras políticas correlatas, de saneamento. Isso ocorre no momento
promovendo integração e cooperação técnica em que tais ações deixam de ser vistas
entre as equipes de saneamento, de saúde, de apenas como tecnologias ou práticas de
educação, de assistência técnica e extensão ru- saneamento, tornando-se soluções apro-
ral e demais políticas públicas que alcancem as priadas, conforme o modo de produção e
áreas rurais. reprodução da vida desses agricultores.
Referências bibliográficas
44
AGROECOLOGIA
neiro: Fiocruz; ANA; ABA Agroecologia, 2019. v. 1, p. 23-48. Disponível em: https:// A
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45
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
Vídeos
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experiência na área de engenharia sanitária e saneamento rural.
46
AGROTÓXICOS
A
AGROTÓXICOS
47
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
48
AGROTÓXICOS
49
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
50
AGROTÓXICOS
Referências bibliográficas
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52
AGROTÓXICOS
Vídeos
NUVENS de veneno. Direção e roteiro: Beto Novaes. Produção: Terra Firme, Video-
Saúde e MP2 Produções. VideoSaúde – Distribuidora da Fiocruz, 2013. 1 vídeo (22
min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jZ1QUAxFaxs. Acesso
em: 18 abr. 2020.
O VENENO está na mesa. Direção e roteiro: Silvio Tendler. Fotografias e entrevistas:
Aline Sasahara. Pesquisa e produção: Hélene Paihous. Produção executiva: Ana Rosa
Tendler. Rio de Janeiro: Caliban Produções Cinematográficas; EPSJV/Fiocruz, 2011.
1 vídeo (49 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SHkRoIvahpg.
Acesso em: 18 abr. 2020.
53
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO BÁSICO
Karen Friedrich. Biomédica, mestre e doutora em Saúde Pública com ênfase em Toxicolo-
gia. Tecnologista em Saúde Pública do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Eco-
logia Humana, Escola Nacional de Saúde Pública, Fiocruz. Professora do Departamento de
Saúde Coletiva da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e membro do
Grupo Temático Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
A
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E AQUÍFEROS:
IMPORTÂNCIA E RISCOS DE CONTAMINAÇÃO
54
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E AQUÍFEROS: IMPORTÂNCIA E RISCOS DE CONTAMINAÇÃO
55
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
56
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E AQUÍFEROS: IMPORTÂNCIA E RISCOS DE CONTAMINAÇÃO
57
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
58
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E AQUÍFEROS: IMPORTÂNCIA E RISCOS DE CONTAMINAÇÃO
Referências bibliográficas
59
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
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Maurício Rios de Almeida. Engenheiro civil, especialista nas áreas de educação am-
biental, engenharia rodoviária e engenharia de estruturas. Mestre em Engenharia Ge-
otécnica pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).
Josiane Teresinha Matos Queiroz. Engenheira civil especialista nas áreas sanitária
e ambiental. Mestre, doutora e pós-doutora em Saneamento, Meio Ambiente e Re-
cursos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pós-doutora em
Políticas Públicas em Saneamento e Saúde pelo Instituto René Rachou, da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A
APROVEITAMENTO DE LODO, BIOGÁS E EFLUENTE
61
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO BÁSICO
62
APROVEITAMENTO DE LODO, BIOGÁS E EFLUENTE
tais é de 30% a quase 60%.4 Examinando como combustível, gerando energia elé- A
as possibilidades de aproveitamento do trica para a própria ETE.
lodo, nota-se que existem diversas alter-
nativas que podem ser mais exploradas Biogás
para desenvolver a sustentabilidade no
esgotamento sanitário. Algumas opções O biogás é o gás gerado durante o proces-
podem ser aplicadas em pequenos mu- so anaeróbio de tratamento do esgoto ou
nicípios e comunidades para fortalecer a do lodo aeróbio, em reatores de mistura
economia local e regional: completa, reatores de alta taxa, como
Uasb ou Ralf, filtros anaeróbios e bio-
• Uso agrícola: o principal objetivo do digestores rurais, por exemplo. É com-
uso do lodo em solos agrícolas é me- posto por uma mistura de vários gases,
lhorar a produção de culturas, visto cujo componente encontrado em maior
que esse biossólido é rico em macro e concentração é o metano (CH4). Devido
micronutrientes. Além disso, aumen- ao grande poder calorífico do metano,
ta a retenção de umidade, melhora a esse gás pode ser usado como combustí-
permeabilidade e a capacidade de in- vel na geração de energia térmica em cal-
filtração. Para utilização do lodo em deiras, em energia elétrica em motores
solo agrícola é importante conhecer de cogeração ou, ainda, purificado para
suas características físico-químicas uso na rede de gás natural ou como com-
e ter cautela na escolha do cultivo, bustível veicular. Assim, o biogás possui
uma vez que, mesmo com a fase de grande potencial de aproveitamento
higienização, ainda é possível que or- energético e pode ser utilizado tanto
ganismos patogênicos estejam presen- nas próprias ETEs como em indústrias
tes. 5 No Brasil, a Resolução Conama próximas ou em residências e pequenas
375/2006 estabelece critérios para es- comunidades do entorno.8
se aproveitamento.6 No Brasil, porém, essas aplicações
• Recuperação de áreas degradadas: áre- ainda se encontram em estágios iniciais
as com solos degradados possuem defi- e muitas ETEs apenas realizam a quei-
ciência de matéria orgânica e nutrien- ma do biogás, o que, além de represen-
tes. O lodo de esgoto apresenta po- tar desperdício de potencial energético,
tencial para recuperação dessas áreas, promove emissões de gases que agra-
pois, ao ser aplicado no solo, cria condi- vam o efeito estufa.
ções adequadas para o restabelecimen- De acordo com a forma de aproveita-
to das comunidades vegetais e para a mento do biogás, pode ser necessário
ciclagem de nutrientes.7 É importante submetê-lo a algum tratamento (benefi-
conhecer as características químicas ciamento), antes de sua utilização, para
do lodo e do solo a ser recuperado para remover compostos não desejáveis, como
verificar possíveis impactos. o sulfeto de hidrogênio, gás altamente
• Uso não agrícola: o lodo pode ser incor- corrosivo. Técnicas como filtração, adsor-
porado na produção de lajotas e cerâmi- ção e lavagem de gás podem ser aplicadas,
ca vermelha, entre outros materiais da e a escolha de cada uma dependerá do ní-
construção civil. Pode, ainda, ser usado vel de tratamento desejado.
63
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
64
APROVEITAMENTO DE LODO, BIOGÁS E EFLUENTE
Referências bibliográficas
65
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Paula Rafaela Silva Fonseca. Engenheira sanitarista e ambiental pela Universidade Fe-
deral de Juiz de Fora. Mestre e doutoranda em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos
Hídricos na Universidade Federal de Minas Gerais.
Lívia Cristina da Silva Lobato. Engenheira civil e doutora em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG.
Fabiana Lopes Del Rei Passos. Doutora em Engenharia Ambiental pela Universitat Po-
litècnica de Catalunya (UPC), Espanha. Professora adjunta do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
66
ÁREAS URBANAS E RURAIS
A
A
ÁREAS URBANAS E RURAIS
67
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
incorpora nenhum atributo que não seja a mente funcionais). Assim, o raio definido
situação do domicílio de residência. Por- pode excluir áreas com características fí-
tanto, independe de outras características, sicas consideradas rurais, segundo outros
tais como modos de produção, ocupação, critérios. Na verdade, o critério de distân-
costumes, práticas e saberes culturais. cia procura representar uma aproximação
Estas limitações têm provocado muitos para a acessibilidade, pois quanto mais
debates, principalmente relacionados à de- próxima for uma área de aglomerações ur-
finição de rural e suas consequências para banas maiores e mais diversificadas, mais
o atendimento de serviços básicos para as inserida estará na rede urbana.4
comunidades locais. A literatura nacional é
rica em discussões e propostas de redefini- Reclassificações
ções para as áreas rurais, muitas vezes fun-
damentadas em exemplos internacionais. A provável exclusão de povos tradicionais
No contexto contemporâneo de urbani- e carentes de serviços básicos residentes
zação, é cada vez mais difícil delimitar as em áreas legal ou institucionalmente de-
áreas rurais. Definições há muito se tor- finidas como rurais levou o Programa Na-
naram antigas, como, por exemplo, aque- cional de Saneamento Rural (PNSR – ver p.
las que determinam um percentual de 525), atualmente denominado Programa
pessoas ocupadas no setor agropecuário Saneamento Brasil Rural (PSBR), a propor
e nas áreas tradicionais da economia, que uma alternativa para a definição de áreas
exigem trabalho manual. Por um lado, há rurais no Brasil.5 Os atributos então sele-
décadas que grande parte dos agricultores cionados foram os mais utilizados, mais
residem nas sedes municipais ou vilas, as- simples e menos controversos nos estudos
sim como profissionais de alta escolarida- nacionais e internacionais – densidade de-
de, qualificação e renda dos setores de alta mográfica relativamente baixa e vizinhan-
tecnologia e serviços sofisticados moram ça com características físicas tradicional-
em áreas definidas como rurais. De fato, mente definidoras do meio rural. Para não
os deslocamentos diários para trabalho excluir pequenas áreas, inclusive aquelas
ou estudo em municípios diferentes da- próximas aos grandes centros urbanos e
queles de residência têm se tornado um regiões metropolitanas, o estudo inovou
fato cada vez mais comum.3 ao adotar o setor censitário como unidade
Por outro lado, existem áreas de baixa básica para as reclassificações. Como resul-
densidade de domicílios, pequeno porte tado, quase 10 milhões de pessoas foram
populacional, locais de residência de po- reclassificadas como residentes em áreas
vos tradicionais, em contato mais direto que poderiam ser consideradas rurais.6 As
com a natureza, que são consideradas ofi- áreas reclassificadas devem, então, ser en-
cialmente como urbanas. Também é co- tendidas como locais onde potencialmente
mum novas propostas de regionalizações vivem populações muitas vezes invisíveis
adotarem, para classificações do rural, um ao poder público.7
limiar de distância mínima em relação às Nas áreas urbanas ou rurais, reclas-
grandes cidades ou regiões metropolita- sificadas ou não, moram pessoas per-
nas (estas últimas, definidas por critérios tencentes a grupos socioeconômicos e
político-administrativos e não necessaria- de tradições culturais tão diversificados
68
ÁREAS URBANAS E RURAIS
que seria praticamente impossível qual- dos movimentos sociais, outrora confi- A
quer definição universal de população nados aos contornos da cidade, atingiu os
urbana ou rural, pois inevitavelmente habitantes das mais diversas formas de
esta seria conceitualmente insuficiente assentamentos. No Brasil atual, o campo
e historicamente obsoleta, o que se de- não é mais sinônimo do isolamento con-
fine é a situação dos domicílios, que por cebido pela lógica industrial. Ao contrá-
sua vez caracteriza a população residente rio, as populações do campo, das florestas
como urbana ou rural. Áreas de pequeno e das águas são parte de um espaço mor-
tamanho populacional espalhadas por fologicamente entrelaçado, em um tecido
todo o território nacional, no campo ou difuso e resiliente que rompeu a divisão
nas cidades, podem estar situadas em um urbano-rural.
vasto e emaranhado tecido urbano, fruto Em suma, para a elaboração das políticas
de um mesmo processo de urbanização. de saneamento torna-se crucial o conheci-
Fundamental para as políticas de sane- mento da base territorial brasileira, mas
amento é a inclusão de grupos vulnerá- também o reconhecimento das limitações
veis do ponto de vista socioambiental. das definições legais e institucionais de
Para isso, a noção de população do campo, áreas urbanas e rurais. Estas devem ser
da floresta e das águas (ver p. 499), defi- caracterizadas de acordo com a finalidade
nidas na Portaria 2.866/2011, identifica dos planos e ações de saneamento básico.
de maneira muito mais precisa e apro- De fato, as soluções sanitárias podem
priada os povos e comunidades para os variar de acordo com as características
quais a oferta de serviços de saneamen- das áreas e seus domicílios, tanto em
to adequado deve ser prioritária. Esta termos de economia de escala quanto
população, extremamente diversificada, das ações para a oferta de serviços – por
constitui-se de camponeses, comunida- exemplo, coletivas e organizadas em mo-
des tradicionais, população ribeirinha e delos de gestão estruturados, ou carac-
atingida por barragens, quilombolas, re- terizadas por práticas individuais com
sidentes em unidades de conservação e gestão menos organizada.6 Contudo, o es-
pescadores, para citar alguns exemplos.7 sencial é que a população mais vulnerável
A luta pela participação na construção e menos visível ao poder público seja loca-
das políticas públicas, tais como a Políti- lizada no território com a maior precisão
ca Nacional de Saúde Integral das Popula- possível e tenha seus históricos direitos e
ções do Campo, da Floresta e Águas (PN- reivindicações de acesso adequado ao sa-
SIPCF)5, apresenta como a politização neamento plenamente atendidos.
Referências bibliográficas
IBGE. Regiões de influência das cidades 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Dis- A
ponível em: http://www.codeplan.df.gov.br/wp-content/uploads/2018/03/M%-
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71
B
BACIA HIDROGRÁFICA
A bacia hidrográfica é a área ou região tro, a água escoa em direção a outro rio,
de drenagem de um rio principal e seus ou a outra bacia hidrográfica.1
afluentes. É a porção do espaço em que Na Figura 1 estão representados os in-
as águas das chuvas, das montanhas, terflúvios e vertentes de uma bacia hi-
subterrâneas ou de outros rios escoam drográfica. As vertentes são superfícies
em direção a um determinado curso inclinadas que permitem o escoamento
d’água, abastecendo-o.1 da água para os pontos mais baixos,
O que separa uma bacia hidrográfica de onde está localizado o rio, ou leito fluvial.
outra são os divisores de água (ou inter- Importante ressaltar que juntamente
flúvios, também chamados de divisores com a água que escoa pelas vertentes, são
topográficos). Eles são as cristas das ele- também carreados sedimentos. Assim,
vações do terreno que determinam para em vertentes muito inclinadas e sem a
qual lado a água vai escoar. Os divisores presença de vegetação nas suas encostas,
de água podem ser entendidos como uma muitos sedimentos são carreados em dire-
espécie de fronteira em que, de um lado, ção ao leito fluvial, ocasionando o seu as-
a água escoa em direção a um rio e, de ou- soreamento, e tornando o rio mais raso.2
Ao contrário do que pode ser senso co- escoam nesses locais tendem a se direcio-
mum, uma bacia hidrográfica não é for- nar para um rio.1
mada apenas por um rio principal e seus Neste sentido, a bacia hidrográfica,
afluentes, mas abrange tudo aquilo que além de referir-se a uma demarcação de
está dentro da área delimitada pelos divi- uma região geográfica de um território,
sores de água da bacia em questão, como permite o planejamento das atividades a
matas, cidades e pastagens. Uma pessoa, serem desenvolvidas nesta região, tendo
ao andar pelas ruas ou em uma floresta, em vista que tudo aquilo que é realizado
por exemplo, está necessariamente an- nas partes mais altas afeta positiva ou
dando sobre a área de uma bacia hidro- negativamente as partes mais baixas. A
gráfica, pois as águas que eventualmente qualidade da água dos rios está direta-
73
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
74
BACIA HIDROGRÁFICA
uma série de ações para preservação e como secretaria executiva para o(s) comi-
melhoria da quantidade e qualidade das tê(s) atendido(s) por ela.
águas, conciliando com a necessidade de B
desenvolvimento econômico e social da Conselhos
bacia em questão.
A cobrança pelo uso dos recursos hí- Ainda sobre a gestão das águas, são inte-
dricos é um dos instrumentos previstos grantes do Sistema Nacional de Gerencia-
na Lei das Águas e tem como objetivo in- mento de Recursos Hídricos o Conselho
centivar o seu uso racional, reconhecer a Nacional de Recursos Hídricos (CNRH)
água como bem econômico e obter recur- e os conselhos de Recursos Hídricos dos
sos financeiros para financiar programas estados e do Distrito Federal. Dentre as
e ações previstos nos planos de Recursos competências do CNRH elencadas na Lei
Hídricos, que devem ser elaborados para 9.433 destacam-se:
cada bacia hidrográfica.
Onde a cobrança já foi implantada, ca- • deliberar sobre as questões encami-
be aos comitês de bacia eleger as ações e nhadas pelos conselhos estaduais de
projetos a serem financiados com os re- Recursos Hídricos (CERHs) ou pelos
cursos arrecadados, o que é operacionali- comitês de bacia;
zado pelas respectivas agências de bacia • arbitrar, em última instância adminis-
hidrográfica, que prestam apoio técnico, trativa, os conflitos existentes entre
administrativo e financeiro aos comitês. os CERHs;
A depender da dominialidade do rio, • aprovar propostas de instituição dos
se federal (quando sua extensão abrange comitês;
mais de um estado brasileiro ou atravessa • acompanhar a execução e aprovar o
as fronteiras do país) ou estadual (quando Plano Nacional de Recursos Hídricos.
o rio nasce e deságua dentro dos limites de
um único estado), os recursos financeiros Todos os estados brasileiros têm con-
são arrecadados pelos órgãos gestores de selho de Recursos Hídricos ou entidade
recursos hídricos, federal (representado equivalente. Tais colegiados são compos-
pela Agência Nacional de Águas – ANA) ou tos, na sua maioria, por representantes
estadual (por exemplo, o Instituto Minei- dos poderes públicos, dos usuários de água
ro de Gestão das Águas – Igam, no estado e da sociedade civil. Têm como atribui-
de Minas Gerais). Estes órgãos gestores ções: deliberar e acompanhar a execução
repassam os recursos às respectivas agên- do plano estadual de recursos hídricos;
cias de bacia para que elas planejem, exe- promover a articulação das políticas seto-
cutem e acompanhem as ações, projetos e riais relacionadas à água; e arbitrar confli-
programas aprovados e deliberados pelos tos pelo uso da água de domínio estadual.4
respectivos comitês. Por meio da Resolução 32/2003, o
Os representantes do comitê de bacia Conselho Nacional de Recursos Hídricos
hidrográfica são voluntários, eleitos por propôs a divisão do território brasileiro
um colegiado, e, portanto, os comitês não em regiões hidrográficas, que foram
possuem personalidade jurídica. Por isso, definidas como o “espaço territorial bra-
cabe à agência de bacia hidrográfica atuar sileiro compreendido por uma bacia, grupo
75
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
Referências bibliográficas
1. BRASIL ESCOLA. O que é bacia hidrográfica?. Brasil Escola. Disponível em: https://
brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-bacia-hidrografica.htm. Acesso
em: 30 abr. 2020.
76
BACIA HIDROGRÁFICA
B
BALANÇO HÍDRICO EM UM SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
78
BALANÇO HÍDRICO EM UM SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
sui boa qualidade e não demanda outras peza de ruas, em incêndios e em outras
medidas em seu tratamento). Além disso, atividades de interesse similares. No
o volume fornecido ao sistema inclui os SNIS é possível acessar essa informação B
volumes de água captada pelo prestador pelo código AG024, que recebe a denomi-
de serviços ou de água bruta importada nação de “volume de serviço”.
(AG016), disponibilizados para consumo A diferença entre o volume disponibili-
sem tratamento e medidos na(s) respecti- zado e o consumo autorizado resulta nas
va(s) entrada(s) do sistema de distribui- perdas de água (ver p. 429), incluindo toda
ção.1 A água bruta importada refere-se à a parcela que não chega aos usuários devi-
água recebida de outros prestadores de do a problemas de vazamentos ou furtos.
serviços, seja para tratamento ou para Erros nos dispositivos de medição de vo-
distribuição direta. lume consumido de água também são con-
siderados nessa contabilização. Há as per-
Componentes relativas das aparentes, oriundas de fraudes, erro
ao consumo de leitura nos hidrômetros ou problemas
de cadastros dos usuários e as perdas fí-
Consumo autorizado é o volume anual sicas, relacionadas a problemas na rede de
micromedido (contabilizado por hidrôme- distribuição, tais como os vazamentos, e à
tros ou estimado) da água fornecida aos água perdida na limpeza dos filtros.1, 2 As
usuários do serviço de abastecimento, da perdas geram impactos financeiros e am-
água utilizada pela prestadora dos servi- bientais, uma vez que aumentam desne-
ços para limpeza ou manutenção do SAA e cessariamente a produção de água tratada
da água consumida na própria empresa ou e a exploração dos corpos hídricos.
exportada a outras companhias. Divide-se O valor faturado ou água faturada
em consumo autorizado faturado e con- é o valor pago pelo volume de água mi-
sumo autorizado não faturado. cromedido ou estimado nas residências,
O consumo autorizado faturado cor- contabilizado em reais por ano. Tal valor
responde ao volume de água cujo uso é é resultado da multiplicação do volume
cobrado dos usuários e que, portanto, re- indicado nas contas dos clientes pela ta-
sulta em receita para a concessionária. Ele rifa adotada. No SNIS, o indicador equi-
consiste na somatória dos volumes me- valente é o FN002, denominado “receita
didos nas residências dos usuários pelos operacional direta de água”.
hidrômetros, juntamente com o volume
estimado para aqueles que não possuem Monitorar para gerir
micromedidores. No SNIS, é possível obter
esta informação através do código AG011. O volume não faturado ou água não fa-
Consumo autorizado não faturado é o turada representa a diferença entre o
volume de água que não gera rendimen- volume total anual de água que entra no
tos para a concessionária de saneamen- sistema e o consumo autorizado faturado.
to, mas cujo uso é conhecido. Ele inclui Esses volumes incorporam as perdas reais
a água utilizada na limpeza de redes e e aparentes, assim como o consumo auto-
reservatórios, na manutenção de jardins, rizado não faturado. É importante notar
no abastecimento de carros-pipa, na lim- que o desperdício de água realizado pelos
79
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
usuários, desde que medido, não é conta- O município deve realizar levantamen-
bilizado como perda. Além disso, a água tos das informações necessárias para o
usada em favelas e ocupações irregulares balanço hídrico, de forma a identificar
pode, por consenso, ser contabilizada co- as perdas e assim poder traçar metas de
mo consumo autorizado não faturado.3 redução, assim como desenvolver progra-
O balanço hídrico permite o conheci- mas e ações para seu devido controle. Um
mento das perdas, que têm forte impacto plano de ação deve ser elaborado, com
sobre o usuário, pois podem resultar em vistas à substituição regular de hidrôme-
aumento de tarifas e em agravos para o tros, à implantação de micromedição em
meio ambiente, visto que acarretam o au- regiões em que os usuários não possuam
mento da demanda de água para a ope- o equipamento, a melhorias no processo
ração do SAA. Dessa forma, a busca pela de leitura dos equipamentos e à manuten-
redução das perdas deve ser constante. ção de um cadastro atualizado de clientes.
Referências bibliográficas
80
BALANÇO HÍDRICO EM UM SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela North Carolina
State University, EUA. Professor Associado do Departamento de Engenharia Sanitária
e Ambiental (Desa) da Universidade Federal de Minas Gerais.
81
C
A metodologia pedagógica “Caminhos manejo das águas à luz das leis da na-
das águas”, que considera a água como tureza e das relações ecológicas.
central na produção e reprodução da vida,
segue a trajetória da luta pelo direito à Experiências
água. Em suas diversas escalas e dimen-
sões, como tema gerador1, a água revela Um exemplo da pedagogia das águas está
a potência da construção coletiva de uma na experiência da convivência com o Se-
pedagogia das águas em busca da eman- miárido brasileiro, na superação do para-
cipação social nos territórios. digma de combate à seca a partir de novas
Tal método fundamenta-se na peda- formas de se pensar e agir sobre outros
gogia do movimento,2 uma construção modos de viver e de ser na região, mobi-
política e pedagógica dos movimentos so- lizados por necessidades e fortalezas. Isso
ciais populares do campo, da floresta e das resultou na Articulação Semiárido Brasi-
águas. Essa base de ensino e aprendizagem leiro (ASA),7 constituída por uma rede de
põe em movimento a própria pedagogia, mais de 3 mil organizações da sociedade
mobilizando diversas matrizes pedagógi- civil de distintas naturezas, sindicatos
cas como as da luta social, da organização rurais, associações de agricultores, coope-
coletiva, da terra, da cultura e da história. rativas, organizações não governamentais
No contexto da atual crise socioam- (ONGs) e movimentos sociais.7, 8
biental, as águas estão cada vez mais Essas organizações ouviram as vozes
poluídas, contaminadas, turbulentas, dos territórios,9 dos saberes populares
represadas, privatizadas, exportadas, e dos processos de educação territoria-
desperdiçadas e maltratadas. Os impac- lizada (educação do campo, educação
tos socioambientais do hidronegócio3 contextualizada, educação popular), e
atingem escala mundial4,5 e ampliam a contribuíram para a construção de polí-
pobreza, as iniquidades em saúde e os ticas públicas de acesso à água, fortale-
conflitos pela água.6 A pedagogia das cendo processos democráticos, políticos e
águas requer apresentar alternativas de organizacionais, a exemplo do programa
CAMINHOS DAS ÁGUAS
83
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
gues e marés, a água é fonte de vida (nas- gem das águas para as futuras estiagens,
cente) e nisso reside seu valor intrínseco. os tempos dos movimentos das águas e
É componente dos seres vivos, é ali- das marés, compreendendo o tempo alar-
mento, possui história19 e se relaciona gado da experiência vivida,26 da cultura,
com a ocupação humana, as habitações, do conhecimento compartilhado, da au-
as fontes, chafarizes e aquedutos, a cons- tonomia e da emancipação humanas.27
trução das cidades, sua urbanização (ver O projeto Territórios Saudáveis e Sus-
p. 755), a política, os usos múltiplos das tentáveis da Região do Semiárido Brasi-
riquezas naturais, a cultura, o sagrado, leiro, uma cooperação entre a Fundação
os povos das águas continentais e da or- Nacional de Saúde (Funasa) e a Fundação
la marítima, o trabalho, os pescadores e Oswaldo Cruz (Fiocruz), elaborou, a partir
marisqueiras, o direito à água e o direi- da identificação, articulação e avaliação
to da água e o bem-viver, o lúdico, a re- das agendas sociais territorializadas, a
creação, a higiene, as vacinas, além das realização de cursos de vigilância popu-
relações água-gênero, água-terra, água- lar e manejo das águas nas comunidades
-solo-planta, água-saúde e água-estéti- dos territórios do Vale do Sambito e do
ca. Também se expressa nas águas das Vale do Rio Guaíbas, no Piauí.16 As estraté-
indústrias, mineradoras, hidronegócio, gias pedagógicas do processo de formação
desastres (ver p. 183), águas residuárias abrangeram a territorialização em saúde
e a água-mercadoria. ambiental (ver p. 724) e sua ênfase nos ca-
minhos das águas como eixo orientador e
Necessidade de novos caminhos estruturador do conteúdo programático,
com uso da cartografia social e da estraté-
Novos caminhos precisam avançar por gia da pedagogia da alternância.28
meio das tecnologias sociais,20, 21 do sane- A estruturação do curso na perspecti-
amento ecológico (ver p. 604) e da agroe- va da pedagogia das águas deu-se pelos
cologia (ver p. 40),22 viabilizando o reúso seguintes eixos:
das águas e dos biossólidos, os usos múl-
tiplos e a geração de renda e de conhe- Eixo 1: Território, Trabalho e Tecnologia
cimentos, de forma distributiva, para a – Águas do meio ambiente;
promoção de territórios (ver p. 729) sau- Eixo 2: Saúde e Saneamento Rural – Água
dáveis e sustentáveis. Seguir os caminhos domiciliar, comunitária e de emergência;
das águas permite a percepção das cone- Eixo 3: Agroecologia e Soberania Alimen-
xões humanas com a natureza. Essa inte- tar – Água de produção animal e vegetal;
ração vital materializa-se na possibilida- Eixo 4: A Vigilância dos Territórios Sau-
de de acesso em todo seu percurso, nas di- dáveis e Sustentáveis no Semiárido –
versas expressões da vida, da natureza,23 Águas para vida;
da determinação social da saúde24 e da
existência humana25. Esse processo de aprendizagem po-
A pedagogia das águas reconhece o de, dependendo do nível de organização
tempo da relação da natureza com as po- comunitária, ser estruturado em ações
pulações do campo, da floresta e das águas pedagógicas de educação formal e não
(ver p. 499), bem como o tempo de estoca- formal, rodas de conversa e técnicas de
84
CAMINHOS DAS ÁGUAS
Referências bibliográficas
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10. ASA. Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o
85
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
86
CAMINHOS DAS ÁGUAS
87
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO BÁSICO
C
CENSO DEMOGRÁFICO
88
CENSO DEMOGRÁFICO
89
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
90
CENSO DEMOGRÁFICO
Referências bibliográficas
91
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO BÁSICO
C
CHUVA
92
CHUVA
93
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
94
CHUVA
Referências bibliográficas
95
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
COMO funciona o pluviômetro. São Paulo: IPT, 2018. 1 vídeo (3 min). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Z0lSxYsIJKs.
O QUE É um pluviômetro? Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)
explica. Brasília: ANA, 2015. 1 vídeo (4 min). Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=3Xg1ofhUOGw.
Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira civil, mestre em Sistemas Aquáticos
e Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França), doutora em Saneamen-
to, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e pela Université Paris-Est (França). Professora do Departamento de Enge-
nharia Hidráulica e Recursos Hídricos (EHR) da UFMG.
96
CICLO HIDROLÓGICO
C
CICLO HIDROLÓGICO
C
A água é um elemento-chave para a pro- vatório subterrâneo, que alimentaria rios,
dução e reprodução da vida, a prevenção nascentes, mares e poços. Trezentos anos
de doenças e a proteção e promoção da depois, o arquiteto romano Marcos Vitrú-
saúde ambiental e humana. Conhecer vio defendeu a ideia de que a chuva e a neve
os caminhos que a água percorre entre que caíam nas montanhas infiltravam-se
as diversas esferas do nosso planeta e na superfície da terra para depois aparecer
compreender as mudanças que ela sofre nas nascentes, rios e áreas mais baixas.
nesse percurso, assim como as potenciali- Observando os fenômenos hidrológi-
dades e os fatores de risco envolvidos em cos, o renascentista Leonardo da Vinci,
seus usos, é de grande importância para no século 15, e o engenheiro Bernard Pa-
o profissional que atua no saneamento e lissy, no século 16, conseguiram, de for-
para a população em geral. ma independente, ter um entendimento
No ciclo hidrológico ou ciclo da água, do funcionamento do ciclo da água mais
a água está em constante movimento: do próximo ao que temos atualmente.1 Mas
oceano à atmosfera; da atmosfera, pre- foi somente a partir do século 18 que os
cipitando-se sobre a superfície terrestre estudiosos começaram a medir, ainda
e daqui, de volta ao oceano. Esse ciclo que de forma rudimentar, a quantidade
compreende vários subciclos, que serão de água nas diferentes etapas do ciclo hi-
apresentados neste verbete. Também se- drológico, podendo confirmar ou refutar
rão apresentadas informações sobre co- as ideias propostas até então.2
mo o conhecimento dos seres humanos Durante três anos, Pierre Perrault, con-
acerca do ciclo da água evoluiu ao longo siderado o pai da hidrologia científica,
dos anos e sobre conceitos hidrológicos mediu a chuva que caía na bacia hidrográ-
utilizados na área do saneamento: bacia fica do Rio Sena, na França. Ele também
hidrográfica, rede hidrográfica, recar- mediu a vazão do rio e verificou que a
ga de rios e aquíferos, rios perenes e quantidade de chuva que se precipitava na
intermitentes e escoamento superfi- área da bacia hidrográfica era suficiente
cial, entre outros termos. para corresponder às vazões escoadas pe-
lo rio. O astrônomo inglês Edmond Halley
Primeiras teorias sobre mediu a taxa de evaporação no Mar Me-
o ciclo hidrológico diterrâneo, concluindo que a quantidade
de água evaporada era suficiente para
Antes que se desenvolvesse a compreensão corresponder às vazões dos rios que desa-
atual do ciclo hidrológico, estudiosos do guavam no mar. Com o passar dos anos,
passado fizeram várias especulações. No novas técnicas e equipamentos de me-
século 8 a.C., o poeta grego Homero acre- dição foram criados e o monitoramento
ditava na existência de um grande reser- mais preciso dos fenômenos hidrológicos
97
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
contribuiu para uma melhor compreensão solo a água necessária para o seu desen-
dos processos físicos envolvidos.1 volvimento. Boa parte dessa água evapo-
ra para a atmosfera através de poros loca-
Processos do ciclo hidrológico lizados nas folhas das plantas.
Devido às dificuldades de medição se-
Sabe-se hoje que a força motriz do movi- parada da evaporação e da transpiração e
mento da água em nosso planeta é o sol, ao fato de que, em grande parte dos casos,
que fornece a energia necessária para a o interesse dos mensuradores recai sobre
evaporação da água presente nos rios, la- a quantidade total de água que evapora
gos, oceanos e na superfície terrestre, as- em um dado local, é bastante comum en-
sim como para a perda de água das plan- contrar referências ao processo de evapo-
tas por transpiração. transpiração, que considera a evaporação
Na evaporação, a água no estado líquido em conjunto com a transpiração. Na escala
é transferida para a atmosfera na forma anual, a evapotranspiração representa um
de vapor (água em estado gasoso). Quan- importante processo no ciclo hidrológi-
to maior a quantidade de vapor d’água em co, em termos de quantidade de água. No
uma massa de ar, maior a umidade do ar. continente africano, estima-se que a eva-
Quando uma massa de ar se torna satu- potranspiração represente 80% da quan-
rada, ou seja, quando ela atinge sua capa- tidade de chuva precipitada anualmente.
cidade máxima de conter vapor d’água, a Nas Américas e na Ásia, estima-se que ela
evaporação num dado local deixa de acon- corresponda a cerca de 55% da quantida-
tecer até que essa massa seja deslocada de de chuva precipitada anualmente e, na
pela ação do vento e substituída por outra Oceania e na Europa, a cerca de 65%.4
massa de ar, ainda não saturada. Dessa Ao ganhar altitude na atmosfera, a mas-
forma, o vento, a radiação solar, a tem- sa de ar úmido resfria-se e o vapor d’água
peratura e a umidade do ar cumprem um é condensado, voltando à fase líquida.
papel importante na evaporação. Gotículas de água se agrupam em torno
No reservatório de Sobradinho, na de núcleos higroscópicos, que podem
Bahia, por exemplo, a maior taxa mensal ser partículas de sais ou resíduos de com-
de evaporação, de 207 milímetros (mm), bustão. Esse agrupamento de gotículas
ocorre em outubro, em razão dos maiores aumenta de tamanho e ganha peso à me-
valores de insolação, temperatura do ar e dida que colide com outros agrupamentos
velocidade do vento e dos menores valores similares. Em altitudes muito elevadas,
de umidade do ar. A menor taxa mensal de temperaturas abaixo de zero levam à for-
evaporação, de 134 mm, ocorre no mês de mação de cristais de gelo. Quando as gotas
junho, que se caracteriza pela baixa tem- d’água ou cristais de gelo adquirem massa
peratura do ar e pela baixa insolação, por suficiente para vencer a resistência do ar, a
velocidades do vento correspondentes à precipitação ocorre na forma de chuva (ver
média anual e pela alta umidade do ar.3 p. 92), granizo, geada, orvalho ou neve.
O processo de transpiração vegetal A chuva precipitada sobre a superfície
também está relacionado à transferên- terrestre pode ficar retida nas folhas das
cia de vapor d’água para a atmosfera. Por plantas e em outras superfícies. Esse pro-
meio de suas raízes, as plantas retiram do cesso é denominado interceptação ou in-
98
CICLO HIDROLÓGICO
tercepção. A chuva interceptada retorna À vazão que chega às seções dos rios e
à atmosfera pela evaporação. A parcela da córregos, proveniente do escoamento sub-
chuva que não é interceptada pode chegar terrâneo, dá-se o nome de vazão de base.
ao solo e ficar retida em depressões, até As águas subterrâneas mantêm as vazões
evaporar ou infiltrar-se no solo. A retenção durante o período seco em rios perenes,
C
da água de chuva em poças e depressões no ou seja, rios que não secam durante a es-
terreno é um processo hidrológico denomi- tiagem. No caso dos rios intermitentes,
nado armazenamento em depressões. aqueles que secam durante a estiagem, o
A infiltração é a entrada de água da su- lençol freático está abaixo do fundo do
perfície para o interior dos solos, que são rio, não sendo possível ter contribuição de
formados por uma mistura de partículas águas subterrâneas durante o período seco.
minerais, matéria orgânica, água e ar. Os Uma parcela da água infiltrada no solo
vazios ou poros dos solos são os espaços não percola em direção a camadas mais
existentes entre as partículas sólidas e profundas e fica retida em poros de menor
podem ser preenchidos pela água ou pelo tamanho graças à ação da capilaridade.
ar. Quando todos os poros do solo estão Essa água pode ser usada pela vegetação.
cheios d’água, ele encontra-se saturado. A infiltração é, portanto, um importante
O tipo, o uso e as condições de umidade processo para a recarga de aquíferos sub-
do solo e a existência ou não de cober- terrâneos, para manutenção das vazões
tura vegetal são fatores que interferem nos rios durante o período de estiagem e
na quantidade de água infiltrada. Solos para o crescimento da vegetação.
arenosos possuem poros maiores e maior Quando a intensidade da precipitação
capacidade de drenar a água infiltrada, excede a capacidade de infiltração do so-
em comparação com solos argilosos. A ve- lo, a parcela de água da chuva que não foi
getação protege o solo do efeito de com- interceptada e não se infiltrou escoa pela
pactação causado pela queda das gotas superfície do solo, dando origem ao esco-
de chuva. Também devido à existência de amento superficial. A parcela da chuva
vegetação, fissuras no solo, produzidas que vira escoamento superficial também é
pelas raízes e por insetos, aumentam a chamada de chuva efetiva. Ela escoa pe-
capacidade de infiltração. Por fim, se no la superfície do terreno, desde cotas mais
início da chuva o solo já estiver úmido, ou elevadas até cotas mais baixas, chegando
seja, se a maior parte de seus poros já es- aos córregos que desaguarão em rios maio-
tiver preenchida pela água, a capacidade res que, por sua vez, chegarão aos oceanos.
de infiltração será menor. A água na superfície de rios, lagos e ocea-
À medida que os poros do solo vão sen- nos pode retornar à atmosfera por meio da
do ocupados, a água percola, ou seja, des- evaporação, fechando o ciclo hidrológico.
ce para as camadas mais profundas, sob a
ação da gravidade – o que contribui para Bacia hidrográfica
a recarga de aquíferos subterrâneos. A
água nesses reservatórios escoa lenta- Neste momento da leitura, em que os pro-
mente, passando pelos poros no solo e cessos do ciclo hidrológico já foram apre-
entre fissuras nas rochas e alimentando sentados, é oportuno introduzir ao leitor
poços e nascentes de rios. o conceito de bacia hidrográfica. Uma ba-
99
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
cia hidrográfica é uma área delimitada são conduzidas pelas instalações prediais
por divisores topográficos, onde ocorre de esgoto até a rede de coletora de esgoto,
a captação natural e a condução dos flu- que fará seu transporte até a estação de
xos de água gerados pela precipitação a tratamento de esgoto (ETE). Nas ETEs,
um único ponto de saída – o exutório ou as águas servidas passarão por processos
seção fluvial exutória. Os divisores topo- físicos, biológicos e químicos que reduzirão
gráficos são as cristas das elevações do sua carga poluidora a níveis aceitáveis para
terreno e separam a drenagem resultante seu lançamento em corpos hídricos.
da precipitação entre duas bacias hidro- Outra etapa do ciclo da água nas cida-
gráficas adjacentes. Uma bacia hidrográ- des é a condução do escoamento super-
fica pode ser dividida em sub-bacias que, ficial pelos sistemas de drenagem (ver p.
por sua vez, também podem ser conside- 650) até os corpos hídricos. Essa etapa do
radas bacias hidrográficas. Os córregos, ciclo urbano da água pode ser negativa-
rios e lagos que drenam água em uma da- mente impactada pelos resíduos sólidos
da bacia hidrográfica compõem sua rede urbanos (ver p. 568), que requerem gestão
de drenagem ou rede hidrográfica. adequada para que não sejam conduzidos
até os corpos hídricos, gerando poluição,
O ciclo da água nas cidades e para que não obstruam as instalações e
dispositivos dos sistemas de drenagem –
Nas cidades, vilas, povoados e outros tipos o que pode provocar a ocorrência de ala-
de aglomerações humanas, pode-se consi- gamentos e inundações (ver p. 334).
derar que um subciclo adicional é acrescen- O ciclo da água nas cidades está direta-
tado ao ciclo hidrológico, em razão dos usos mente relacionado aos componentes do
da água que são praticados pela população. saneamento: abastecimento, esgotamento
De forma breve, o ciclo da água nas cidades sanitário, manejo dos resíduos sólidos e
inicia-se com a captação da água bruta de manejo de águas pluviais. Portanto, a ges-
um manancial superficial (rios, córregos, tão dos serviços de saneamento no âmbito
lagos ou reservatórios) ou subterrâneo. A dos municípios não só interfere direta-
água bruta é conduzida por meio de tubula- mente no ciclo hidrológico como pode ser
ções até a estação de tratamento de água impactada pelos processos hidrológicos,
(ETA), onde processos físicos e químicos especialmente em casos de eventos extre-
serão empregados com o objetivo de tornar mos, a exemplo de cheias e secas.
a água potável, ou seja, adequada para o A Lei 11.445/2007 designa o municí-
consumo humano. Em seguida, a água tra- pio (ou um conjunto de municípios) como
tada é conduzida até as residências, edifi- a unidade territorial responsável pela
cações comerciais e industriais por meio da gestão dos serviços de saneamento. En-
rede de distribuição de água potável. tretanto, tendo em vista a forte interação
Nas edificações, a água tratada é condu- entre esses serviços e o ciclo da água nas
zida por meio das instalações prediais de cidades, torna-se evidente a importância
água até os pontos de consumo – por exem- de se considerar, em sua gestão, a inser-
plo, a pia da cozinha, a descarga do vaso sa- ção do município (ou do conjunto de mu-
nitário e o chuveiro, entre outros pontos. nicípios) no território de uma ou mais
Depois de utilizadas, as águas servidas bacias hidrográficas.
100
CICLO HIDROLÓGICO
Referências bibliográficas
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Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira civil, mestre em Sistemas Aquáticos
e Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França), doutora em Saneamen-
to, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e pela Université Paris-Est (França). Professora do Departamento de Enge-
nharia Hidráulica e Recursos Hídricos (EHR) da UFMG.
101
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO BÁSICO
C
COBRANÇA PELO MANEJO DAS ÁGUAS PLUVIAIS
102
COBRANÇA PELO MANEJO DAS ÁGUAS PLUVIAIS
19883 e no artigo 29 da Lei 11.445/2007.1 dos valores a cobrar em função da área dos
Entretanto, a questão legal envolvendo a domicílios, bem como das áreas imperme-
cobrança e a questão técnica implicada áveis que eles ocupam. Esse cálculo não é
não são triviais. A forma mais comumen- simples, e uma dificuldade adicional resi-
te citada de cobrança no Brasil é o estabe- de em definir de que maneira cada usuário
C
lecimento de uma taxa de drenagem pro- contribui para o uso desse serviço. A títu-
porcional à área impermeável do lote.4, 5 lo de orientação, pode-se analisar a área
Conforme a definição adequada, uma de solo impermeabilizada e a adoção de
taxa ou tarifa para a prestação de um de- uma ponderação do fator de declividade
terminado serviço deve auxiliar no cum- do terreno. Por isso, uma alternativa é a
primento de seis funções: cobrir os custos elaboração de estudos específicos para um
de produção dos serviços; gerar os recur- município ou conjunto de municípios com
sos financeiros para a expansão da rede realidade econômica e social semelhante,
de serviços; sinalizar para o consumidor numa mesma bacia hidrográfica.
a escassez relativa da oferta; colaborar De fato, o manejo das águas pluviais
para o consumo consciente; remunerar deve ser planejado, executado, mantido e
o capital utilizado na produção e ser ins- operado na escala da bacia hidrográfica
trumento da política social do governo.6, 5 e não somente em escala municipal, visto
Devido à quantidade de tributos cobra- que os problemas relacionados a esse tema
dos atualmente e à existência de popula- geralmente extrapolam os limites dos mu-
ção de baixa renda, em especial nos muni- nicípios. Em especial, em municípios de
cípios de pequeno porte populacional, são pequeno porte, há duas razões para a ado-
necessárias ações de mobilização social ção de medidas intermunicipais em escala
(ver p. 395) e sensibilização antes de pro- de bacia hidrográfica: particularmente no
por uma medida de cobrança pelos servi- tocante aos recursos hídricos, os impactos
ços de drenagem urbana nos municípios de políticas ambientais realizadas em um
com valor adequado à realidade financeira município refletem-se em outros municí-
da população do município. Tais ações de- pios de uma mesma bacia hidrográfica; e
vem ter como objetivo explicar à popula- nos casos em que é considerada impossível
ção a necessidade de cobrar pelos serviços. e/ou injustificável a manutenção de equi-
Uma das possibilidades de obtenção pes especializadas e atualizadas para a
dos recursos a serem empregados no sis- adequada gestão dos sistemas de manejo
tema de manejo das águas pluviais é a das águas pluviais nos municípios de pe-
cobrança de uma taxa específica dentro queno porte populacional, tais medidas
do Imposto sobre Propriedade Territorial resultariam em uma economia de escala.2
Urbana (IPTU). A cobrança de uma taxa Mesmo quando constatada a necessida-
com essa finalidade cumpriria o papel de de de criação de uma taxa específica para
sensibilizar a população, uma vez que, di- o manejo das águas pluviais, alguns obstá-
reta ou indiretamente, todos os morado- culos podem surgir. Eles devem ser anali-
res contribuem para possíveis problemas sados conjuntamente entre os poderes Exe-
ocorridos em eventos chuvosos. cutivo, Legislativo e Judiciário, para evitar
A literatura específica4, 5 traz técnicas e possíveis desgastes políticos, principal-
metodologias que auxiliam na estimativa mente nos municípios de pequeno porte.
103
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
Referências bibliográficas
104
COBRANÇA PELO MANEJO DAS ÁGUAS PLUVIAIS
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO BÁSICO
Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira civil, mestre em Sistemas Aquáticos e
Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França), doutora em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e pela Université Paris-Est (França),
professora do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG.
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COBRANÇA PELOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO
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EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
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EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
Referências bibliográficas
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COMUNICAÇÃO NO TERRITÓRIO
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COMUNICAÇÃO NO TERRITÓRIO
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A comunicação é imprescindível para que nais e diretos de se comunicar, baseados
a participação social se realize para além na relação face a face, na palavra falada.
das práticas oficiais dos órgãos públicos, São pouco visíveis e se articulam cada vez
como jornais, sites, audiovisuais e espa- mais em rede contribuindo na produção
ços institucionalizados, fazendo com que dos territórios de vida.1
o uso do conceito de território – seus ato- Esses atores locais possuem saberes
res e regras sociais de convivência – tor- que produzem artefatos, literatura,
ne-se central no planejamento munici- música e até economia alternativa que
pal de saneamento. podem subsidiar estratégias de planeja-
As formas de agir dos setores de sa- mento, produzindo ideias de cultura não
neamento e saúde a partir de processos hegemônica que reafirmam os territó-
comunicacionais são marcadas por uma rios para a reprodução da vida social. Os
lógica profissional centrada de “fazer pa- saberes e práticas populares – associa-
ra” e não “fazer com”, em que o discurso dos ao saber científico e institucional –
cientificista e vertical não contempla a conformam novo conhecimento, situado
participação da população como protago- e contextualizado, que pode ser incorpo-
nista que vai receber as ações determina- rado com efetividade por diferentes ato-
das pelas instituições públicas. res do território.
Diversos impasses e obstáculos comu-
nicacionais interpõem-se à realização As escalas no território
plena do direito à saúde e ao saneamento,
principalmente no sentido de como este Com o papel que a informação e a comu-
setor tem interagido com a sociedade, so- nicação alcançaram nos dias de hoje, em
bretudo no que se refere aos territórios todos os aspectos da vida social, o coti-
(ver p. 729) e seus saberes. Para romper diano de todas as pessoas vem sendo
esses desafios torna-se fundamental ca- acrescido de novas dimensões para as
minhar em direção aos territórios, co- relações sociais e o território destaca-se
nhecendo “por dentro” a sua realidade, como a mais importante de todas.
como ferramenta ao processo de comuni- Vivemos um momento histórico de
cação e de mobilização social (ver p. 395). profundas alterações nos modos de vida
As igrejas, clubes, museus, grafiteiros, da sociedade e dos territórios, com uma
grupos artísticos, associações de todos intensificação dos fluxos de circulação e
os tipos, além das redes comunitárias de de troca de informações instantâneas,
apoio social que atuam no território, são materialidades e pessoas. O cotidiano
cruciais em processos comunicativos pa- transforma-se com novas dimensões que
ra envolver e mobilizar a população. São produzem mais densidade nas relações
protagonistas dos modos mais tradicio- humanas, dado o papel que a informação
111
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
112
COMUNICAÇÃO NO TERRITÓRIO
que se opõem àqueles que asseguram vai depender dos diferentes modos de vida,
democracia e liberdade. dos atores e suas diversas formas de exercí-
Em qualquer circunstância, saber “ouvir cio de poder. Uma rádio comunitária, por
a voz do território”6 é crucial para o pro- exemplo, pode possuir forte capacidade co-
cesso de planejamento. A territorialização municativa em um determinado território
C
de informações como estratégia de reco- e impacto menor em outro contexto.
nhecimento das condições de vida e saúde Em processos comunicativos territoria-
de populações e instrumento de pesquisa lizados intervêm relações de interlocução
oferece subsídio para a elaboração de pla- e de interação que criam, alimentam e
nos municipais de Saneamento Básico, e restabelecem a identidade e os laços so-
deve identificar e incluir esses atores. ciais que partilham as mesmas referên-
cias históricas locais. Arte e cultura são
Laços sociais grandes aliados da popularização da ci-
ência e da comunicação.7
O poder de fazer e de agir socialmente São exemplos que podem fortalecer as
dos diferentes atores sociais do território, ações de saneamento e de promoção da
por meio de suas tecnologias societárias e saúde: uma coleta de material reciclado
culturais, produz práticas cotidianas que com veículos automotivos divulgando
dialogam com a identidade das pessoas músicas (forró, rap, funk, cordel, samba e
e o pertencimento ao lugar. Os diversos outros) com conteúdo sobre cuidados com
modos de produzir sociabilidade e cultura a filtração domiciliar e a cloração, e letra
envolvidos no cotidiano constituem re- que fortaleça a importância dos cuidados
pertório importante para os atores locais com as águas paradas ou turbulentas ou,
criarem conteúdos significativos por meio ainda, uma exposição museológica cujo te-
de mídias como o rádio, a internet e a te- mas são os rios, seus usos e movimentos.
levisão, e para a interação face a face. São Como comunicar tem como significado
recursos poderosos capazes de dar voz ao pôr em comum, as diferentes interpreta-
saber popular e embasar processos comu- ções, visões de mundo, interesses e proje-
nicativos como base para a elaboração de tos dos atores locais encontrados na reali-
discursos que, para além de ação, são so- dade social dos territórios se configuram
bretudo interação social e comunicacional. em situações objetivas que resultam de
Diferentes formas de acesso aos recursos negociações e pactuações sociais origi-
comunicativos terão efeitos distintos quan- nadas de pontos de vista mais ou menos
to à capacidade de ação no território. Isto compartilhados localmente.6
Referências bibliográficas
113
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
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cruz.br/publicacao/livro/textos-de-apoio-para-o-curso-de-aperfeicoamento-em-e-
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Vídeo
ENCONTRO com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá. Direção de
Silvio Tendler. Produção executiva de Ana Rosa Tendler. 1 vídeo (89 min). Caliban,
2006. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ifZ7PNTazgY.
114
CONCEITO DE SANEAMENTO
Maurício Monken. Geógrafo, doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saú-
de Pública Sergio Arouca (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz. Professor-pesquisador
e coordenador da Estação de Territorialização da Escola Politécnica de Saúde Joaquim
C
Venâncio (EPSJV), da Fiocruz.
Grácia Maria de Miranda Gondim. Arquiteta, doutora em Saúde Pública pela Escola
Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Professora e pesquisadora da Escola Politéc-
nica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) e da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN).
Rodolfo José das Neves Pereira. Psicólogo. Professor da Escola Politécnica de Saúde
Joaquim Venâncio (EPSJV) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
C
CONCEITO DE SANEAMENTO
115
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
116
CONCEITO DE SANEAMENTO
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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CONCEITO DE SANEAMENTO
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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CONCEITO DE SANEAMENTO
1. Abastecimento de água
2. Eliminação de excretas e resíduos sólidos
3. Controle de insetos
4. Controle de roedores
5. Saneamento dos alimentos
6. Instalações prediais
7. Acondicionamento de ar e purificação da atmosfera
8. Iluminação
9. Alojamento
10. Saneamento institucional
11. Higiene industrial
12. Saneamento de piscinas de natação
13. Supressão de incômodos
14. Proteção contra radiações.”17
(Tradução do original em inglês).
121
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
Cabe destacar o fato de que esta última definição, caracterizada pelo concei-
tual, não só pretende, através do saneamento, eliminar os riscos do ambiente
para evitar a transmissão de doenças, senão alcançar o completo bem-estar
físico, mental e social que inclui agrado, bem-estar, conforto e alegria de vi-
ver de nossas comunidades, direitos inalienáveis de todo indivíduo que forma
nossa sociedade. Os riscos potenciais do ambiente natural que podem originar
transtornos de origem orgânica, fisiológica, psíquica ou social, expandem-se
em proporções diretas à densidade da população existente no meio. Para eli-
minar estes riscos ou reduzi-los a limites compatíveis com a civilização atual,
é necessário dispor de princípios, técnicas, normas e métodos que se apliquem
ao meio, e estes princípios, técnicas, normas e métodos são proporcionados
pela engenharia sanitária, que tende a solucionar os problemas de prevenção
e eliminação de uma importante gama de doenças e a satisfação de viver em
um meio são e confortável.”18
(Tradução do original em espanhol).
“Para Winslow [não é feita referência sobre esta fonte citada no texto], ‘Saúde
Pública é a ciência e a arte de prevenir a doença, prolongar a vida e promover
122
CONCEITO DE SANEAMENTO
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
Referências bibliográficas
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CONCEITO DE SANEAMENTO
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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CONFLITOS POR ÁGUA
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CONFLITOS POR ÁGUA
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Os conflitos por água têm se intensificado cassez hídrica,2 o que implicará aumento
no Brasil e no mundo. Ocorrem no meio dos conflitos por água. As barragens são
rural ou urbano e decorrem da captura da estratégias para a captura das águas em
água por uma das partes envolvidas. Estas vários continentes. Está prevista a cons-
podem ser nações, empresas ou governos e trução de cerca de 1.400 barragens trans-
podem envolver dimensões étnicas. fronteiriças no mundo, o que deflagrará
Segundo a Organização das Nações conflitos em todos os continentes.
Unidas para a Educação, a Ciência e a Sejam para a produção de energia, pa-
Cultura (Unesco), 2 bilhões de pessoas vi- ra abastecimento humano ou para irri-
vem sob estresse hídrico, fonte potencial gação, essas construções têm relevância
de conflitos, e dois terços da população muito grande como fontes de conflitos.
mundial passam por estresse hídrico ao O seu potencial de deslocamento hu-
menos um mês por ano.1 mano - de populações rurais a cidades
Os conflitos internacionais ocor- inteiras – gera conflitos na instalação
rem em rios transfronteiriços, sobre- das obras, bem como processos de vul-
tudo no Oriente Médio e na África. nerabilização. A remoção de populações
Nestas regiões, os conflitos pela água tradicionais, obrigadas a reconstruir
são históricos. No Oriente Médio, os seu modo de vida fora de seu território
Estados Árabes têm o maior estresse (ver p. 729), provoca sofrimento mental
hídrico do mundo e vivem sob tensão dessas populações por décadas. E, em
decorrentes de conflitos por água na geral, o setor beneficiado nos territórios
região dos rios Tigre e Eufrates. O foco adjacentes é o agronegócio.
dos conflitos ocorre entre o Iraque, Tur- O agronegócio é um grande promotor
quia e Síria. E há o conflito dos palesti- de conflitos no mundo, por terra e água.
nos que acusam Israel pela captura das A tendência é que se agravem e se tor-
águas das Colinas de Golan, restringin- nem crônicos, em função das mudanças
do o acesso à água. climáticas geradas por esse modelo de
Na África rios transfronteiriços têm desenvolvimento predatório e alicer-
conflitos, caso do Rio Nilo, entre o Egito, çado no desmatamento e na queima de
a Etiópia e o Sudão; e do Rio Okavango, combustíveis fósseis.
entre Namíbia, Sudão e Angola. O setor primário é o que mais consome
água, sobretudo relacionado ao neoex-
Barragens trativismo e à produção de commodities
– grãos, carne e extração de minérios.
A Organização das Nações Unidas para a Segundo a FAO, a agropecuária responde
Alimentação e a Agricultura (FAO) estima por cerca de 70% do consumo de água no
que, em 2050, viveremos em regime de es- Brasil, seguido pelo setor industrial, com
127
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
20%, e pelo consumo humano (sobretudo mento para plantio do eucalipto e com os
nas áreas urbanas), com 10%.2 riachos secando em maiores altitudes.
A ineficiência desses setores é muito O processo de degradação das águas
elevada, com perdas de água (ver p. 429) decorrente de sua espoliação pelo agrone-
de 43% no consumo na agricultura e de gócio costuma ter os seguintes impactos:
cerca de 50% no consumo humano. E ain-
da se prevê crescimento de 50% na produ- • desmate;
ção de alimentos por irrigação até 2050, • compactação e redução da infiltração
o que acarretará um impacto imenso no no solo;
desmatamento e nas águas. • redução da recarga e do fluxo de base de
aquíferos;
A “grande aceleração” • aumento do escoamento superficial;
• assoreamento e redução da vazão dos
A escassez progressiva nas últimas déca- rios;
das constituiu a água como um bem de • redução e alteração dos ciclos da chuva;
disputa gerador. O processo histórico que • aumento das disputas por água.
contribuiu para transformar o “planeta-
-água” em territórios de conflitos foi ace- Este processo leva à escassez e à exaustão,
lerado a partir sobretudo das emissões acarretando vulnerabilização socioam-
de gás carbônico (CO2) na atmosfera em biental (ver p. 786) a povos e comunida-
decorrência, principalmente, da queima des tradicionais que vivem secularmente
de combustíveis fósseis e do desmata- em seus territórios, inviabilizando seus
mento para o agronegócio. Os cientistas modos de vida e sua reprodução social.
das mudanças climáticas caracterizam O principal exemplo no Brasil é o con-
esse processo como a “grande aceleração”, flito de Correntina, no Sistema Aquífero
que se inicia em 1945, no pós-guerra, e Urucuia (SAU), região do Cerrado do Oes-
torna-se perceptível nos anos 1960.3 A te Baiano. Desde os anos 1970 o desmata-
convergência dos dois vetores de degra- mento local e a sobre-exploração do aquí-
dação – mudanças no clima e corte de fero Urucuia “matam” ribeirões e rios. Em
florestas – produz conflitos por água no 2015, a diminuição verificada no fluxo de
Brasil desde a década de 1970. base do SAU chegava a 49%. Tal contexto
Nos anos 1960, pesquisadores já alerta- produz conflitos em comunidades de fun-
vam para os limites do planeta decorrentes do de pasto. No mais famoso deles, em
da agricultura industrial e da queima de torno do Rio Arrojado, cerca de mil tra-
derivados do petróleo. Em 1972, foi reali- balhadores invadiram e depredaram duas
zada a Conferência das Nações Unidas so- fazendas do Grupo Higarashi em novem-
bre o Meio Ambiente Humano, em Estocol- bro de 2017 para denunciar a espoliação
mo (Suécia), para avaliar os impactos am- de suas águas por essa empresa.
bientais desses processos de degradação
ambiental e os limites do planeta. Nesta Boom e consequências
mesma década, são visibilizados os confli-
tos por água no Cerrado do norte de Minas O Painel de Especialistas em Mudanças
Gerais e do oeste da Bahia, com o desmata- Climáticas (IPCC) da ONU alertou em
128
CONFLITOS POR ÁGUA
129
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
130
CONFLITOS POR ÁGUA
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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possuir%20mais%20de,e%20%C3%A0%20gest%C3%A3o%20dos%20recursos.
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132
CONSUMO PER CAPITA DE ÁGUA
Vídeos
DAS águas gerais – a resistência de um povo. MAB; Cine Etinerrante; CPT; Rede de
Educomunicadores da Bacia do Rio São Francisco, 2011. 1 vídeo (18 min). Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=JzE5aSaoEuM.
C
LA GUERRA del agua. 1 vídeo (17 min). Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=Vqc3N-qrzDA.
MATOPIBA baixa. Produção executiva: Pedro Ribeiro e Rafael Oliveira. Produção au-
diovisual: Gustavo Ohara. CPT, 2016. 1 vídeo (28 min). Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?.
INSURGÊNCIA. Direção: André Monteiro. Imagens e edição: Filipe Mendes. Bei-
ras D’Água, 2017. 1 vídeo (5 min). Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=iFTosuHoiw0.
André Monteiro Costa. Engenheiro de Saúde Pública, doutor em Saúde Pública pela
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Pesquisador titular e coordenador do Laboratório
de Saúde, Ambiente e Trabalho do Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz). Membro
do Grupo de Trabalho (GT) de Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde
Coletiva (Abrasco) e do GT Águas e Saneamento da Fiocruz.
C
CONSUMO PER CAPITA DE ÁGUA
133
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
134
CONSUMO PER CAPITA DE ÁGUA
135
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
136
CONSUMO PER CAPITA DE ÁGUA
Referências bibliográficas
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EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
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torio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-AWWP8Q/1/disserta__o_marielle_apareci-
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http://www.finep.gov.br/images/apoio-e-financiamento/historico-de-programas/
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11. ABNT. NBR 12.211. Estudos de concepção de sistemas públicos de abastecimento
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138
CONTINGÊNCIA E EMERGÊNCIA
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade
Estadual da Carolina do Norte (EUA). Professor Associado do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental (Desa) da Universidade Federal de Minas Gerais.
C
CONTINGÊNCIA E EMERGÊNCIA
139
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
140
CONTINGÊNCIA E EMERGÊNCIA
141
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
142
CONTINGÊNCIA E EMERGÊNCIA
Referências bibliográficas
143
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
Vídeos
O RASTRO no rio Doce. Reportagem: Lucas Ferraz e Avener Prado. Fotografia: Avener
Prado. Roteiro e montagem: Bia Bittencourt. TV Folha, 2 dez. 2015. 1 vídeo (6 min).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cj29pGcsXuw.
SECA, condições de vida e saúde no Semiárido. Coordenação: Carlos Machado de
Freitas e Vânia Rocha. Roteiro: Aderita Sena e Daniel Garcia. Direção: Daniel Gar-
cia. Fiocruz, UFRJ, UFF e Defesa Civil/RJ, 22 nov. 2014. 1 vídeo (14 min). (Curso
Agentes Locais em Desastres Naturais). Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=xm3RawnDGno.
VIGILÂNCIA em saúde nos desastres – a experiência de Rio Branco (AC). Argumento:
Grupo Técnico Enchentes. Roteiro e direção: Iêda Rozenfeld. Assessoria de conteúdo:
Dulce Fátima Cerutti. Coordenação de produção: Sergio Brito. VideoSaúde Distri-
buidora da Fiocruz e Secretaria de Vigilância em Saúde/MS, 2010. 1 vídeo (20 min).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4SRzCgjD3YU.
Vânia Rocha. Bióloga, mestre em Ensino de Biociência e Saúde e doutora em Saúde Pública.
Professora visitante do Laboratório de Geo-Hidroecologia e Gestão de Riscos (Geoheco),
Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
144
CONTRIBUIÇÃO DE ESGOTO SANITÁRIO
145
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
146
CONTRIBUIÇÃO DE ESGOTO SANITÁRIO
147
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Referências bibliográficas
148
CONTROLE E VIGILÂNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO
HUMANO E SEU PADRÃO DE POTABILIDADE
Lívia Cristina da Silva Lobato. Engenheira civil e doutora em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG.
Fabiana Lopes Del Rei Passos. Doutora em Engenharia Ambiental pela Universitat Po-
litècnica de Catalunya (UPC), Espanha. Professora adjunta do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
C
CONTROLE E VIGILÂNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA
CONSUMO HUMANO E SEU PADRÃO DE POTABILIDADE
Este verbete foi elaborado na vigência da Portaria de Consolidação 5 de 2017, do Ministério da
Saúde, que foi substituída pela Portaria GM/MS 888, publicada em 4 de maio de 2021.
149
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
150
CONTROLE E VIGILÂNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO
HUMANO E SEU PADRÃO DE POTABILIDADE
151
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
152
CONTROLE E VIGILÂNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO
HUMANO E SEU PADRÃO DE POTABILIDADE
de 550 graus Celsius (°C), não se volatili- tem a finalidade de evitar cáries na po-
zam. Recebem o nome de sólidos voláteis pulação, auxiliando assim nos cuidados
aqueles que sofrem volatilização quando bucais, principalmente para os usuários
atingem tal temperatura. mais vulneráveis economicamente, com
Em relação às características químicas menores condições de acesso a serviços
da água, os principais parâmetros consi- odontológicos.
derados na definição do padrão de potabi- Há substâncias que podem ser tóxicas
lidade são o pH, a dureza, o cloro residual para os seres humanos e que podem estar
e a presença de substância tóxicas. O pH presentes na água, tais como toxinas de
influencia o consumo de insumos para o algas, pesticidas, substâncias carcinogê-
tratamento da água bruta, a precipitação nicas e compostos radioativos. A Portaria
de metais e a corrosão e a incrustação de de Consolidação n° 5/2017, do Ministério
componentes do sistema de abastecimen- da Saúde, indica um conjunto de substân-
to, sendo assim um parâmetro de contro- cias que devem ser analisadas e seus limi-
le no tratamento da água. O pH da água tes máximos permitidos.3
distribuída não pode estar abaixo de 6 e
nem acima de 9,5. Preocupação com microrganismos
A dureza é medida pela concentração
de minerais dissolvidos, em especial o A preocupação com as características mi-
carbonato de magnésio (MgCO3) e o car- crobiológicas da água está relacionada à
bonato de cálcio (CaCO3). Elevadas con- presença de microrganismos tais como
centrações desses sais levam à formação fungos, bactérias, algas, vírus, protozoá-
de crostas em tubulações, gerando entu- rios e helmintos. Esses seres microscópi-
pimentos. A água com elevada dureza, cos incluem patógenos, agentes patogê-
popularmente chamada de água dura, nicos ou microrganismos patogênicos,
também reduz a formação de espuma de ou seja, espécies que são capazes de cau-
sabões e detergentes. O valor máximo sar doenças em seres humanos. As enfer-
permitido para a água de distribuição midades que são transmitidas pela água
é a concentração de dureza total de 500 contaminada são chamadas de doenças
miligramas por litro (mg/l) de carbonato de veiculação hídrica e incluem o cólera,
de cálcio. O cloro é um agente antimicro- a hepatite A, a gastroenterite e a giardíase.
biano que se adiciona na última etapa do Organismos patogênicos estão presen-
tratamento de água para eliminar mi- tes na natureza. Entretanto, devido à ele-
crorganismos patogênicos. O Ministério vada quantidade desses seres nas excretas
da Saúde (MS) recomenda que a água tra- humanas, elas são as principais responsá-
tada possua cloro residual na concentra- veis pela transmissão de doenças.7 A iden-
ção mínima de 0,2 mg/l.3 O cloro residual tificação e a quantificação desses organis-
ajuda a garantir a segurança microbioló- mos em amostras de água são de difícil
gica da água, em caso de eventual conta- execução e têm custos elevados – o que
minação durante a distribuição. pode inviabilizar o controle de qualida-
Outra característica química importan- de microbiológica da água. Dessa forma,
te na água tratada é a concentração de utilizam-se microrganismos indicadores
flúor. A adição de flúor à água distribuída de contaminação fecal como forma de de-
153
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
tectar o contato da água com fezes huma- que levam à necessidade de consultas e
nas ou animais de sangue quente e a pos- tratamentos. Assim, a intervenção pre-
sível presença de organismos patogênicos. vencionista decorrente do acesso à água
A Portaria de Consolidação n°5/2017, do de qualidade resulta em uma redução de
Ministério da Saúde (MS), utiliza micror- despesas médicas.
ganismos coliformes termotolerantes e a Os gestores municipais devem estar
Escherichia coli para avaliação da qualida- cientes de que ações positivas em sanea-
de microbiológica da água tratada. Tais mento, como a instalação e/ou ampliação
organismos são empregados por estarem do abastecimento de água, trazem desen-
presentes nas fezes dos animais e dos volvimento para o município, reduzindo
seres humanos, sendo a E. coli exclusiva- os índices de mortalidade infantil, o nú-
mente de origem fecal. Essas bactérias mero de internações e os custos com tra-
apresentam uma resistência ligeiramente tamentos de doenças evitáveis que têm
maior a processos de desinfecção do que como origem a água. Através do acesso à
a maioria dos microrganismos patogêni- água em quantidade, qualidade e de for-
cos. Os indicadores e os patógenos são re- necimento contínuo, promove-se a digni-
movidos pelos mesmos mecanismos nas dade humana. Devem ser implementados
estações de tratamento de água (ETAs). instrumentos para o monitoramento da
Assim, a ausência de organismos indica- qualidade da água fornecida à população,
dores de contaminação fecal sugere que a assim como mecanismos de exigibilida-
água também está livre de contaminação de para que os titulares dos serviços asse-
por organismos patogênicos e pode ser gurem os padrões de potabilidade.
distribuída aos usuários.8 A qualidade mi- A manutenção da qualidade da água do
crobiológica da água é atestada por meio manancial de abastecimento deve estar
da ausência desses microrganismos em sempre em pauta, principalmente quan-
100 mililitros (ml) da amostra, conforme do o corpo hídrico é de responsabilidade
a portaria de consolidação do MS.3 do município. Instrumentos adequados,
como a regulação de uso e ocupação do
Responsabilidade pública solo (ver p. 761) nas margens dos corpos
hídricos e a elaboração dos planos de ba-
O planejamento municipal de saneamen- cia hidrográfica, devem ser utilizados de
to básico deve considerar metas de aten- forma a contribuir para um aumento na
dimento dos padrões de potabilidade da eficiência do tratamento da água.
água fornecida aos munícipes. Além dis- Os usuários devem receber frequente-
so, ele deve incluir ações de emergência e mente informações simples e claras sobre
contingência (ver p. 139) para o enfrenta- a qualidade da água que lhes é fornecida.
mento de eventos críticos, identificando Também devem participar de ações de edu-
responsáveis pelas ações. cação ambiental e sanitária para o uso ade-
A garantia de acesso à água potável quado e racional da água. aprendendo a re-
(que atende os padrões de potabilidade) alizar a limpeza regular das caixas d’água,
tem impactos positivos no sistema pú- de modo a evitar o comprometimento de
blico de saúde, pois contribui para a re- sua qualidade, assim como os procedimen-
dução de doenças de veiculação hídrica tos adequados de higiene no manejo da
154
CONTROLE E VIGILÂNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO
HUMANO E SEU PADRÃO DE POTABILIDADE
água para ingestão. Por fim, é importante 442 e p. 438), que visam ao controle e mo-
que os municípios promovam a elaboração nitoramento da qualidade da água, desde o
dos planos de segurança da água (ver p. manancial, até as residências dos usuários.
Referências bibliográficas
155
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
Antonio Natanael Costa Sancho. Engenheiro ambiental pela Universidade Federal do Ceará
(UFC) e engenheiro civil pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Mestrando em Saneamen-
to, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade
Estadual da Carolina do Norte (EUA). Professor Associado do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental (Desa) da Universidade Federal de Minas Gerais.
C
CONTROLE SOCIAL
A noção de controle social, originalmen- pelo consenso quer pela coerção, sobre o
te como categoria do campo da filosofia conjunto da vida social.
política e presente desde os clássicos da No Brasil recente, o controle social é um
modernidade que abordaram os temas do modo de ação política constituído por di-
Estado, do poder e do direito, remete ao versos segmentos organizados da classe
processo de manutenção da ordem, quer trabalhadora e dos movimentos sociais no
156
CONTROLE SOCIAL
157
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
158
CONTROLE SOCIAL
ser norteadores das ações nos âmbitos – comitê, grupo de trabalho, grupo ges-
federal, estadual e municipal. tor, entre outros. Em razão da sua seme-
No programa estruturante do Plan- lhança com conselhos de políticas públi-
sab são estabelecidas diretrizes para cas (espaço institucionalizado, colegiado,
assegurar a participação e o controle social, composto por membros do governo e da
envolvendo estratégias de fortalecimento sociedade civil),12 podem ser conside-
da cultura de participação e controle dos rados instâncias de controle social pa-
serviços de saneamento básico; de avalia- ra acompanhamento da elaboração dos
ção do reconhecimento legal e do caráter PMSBs. Indica-se sua formação por ato
deliberativo das instâncias participativas; normativo do prefeito ou prefeita, bus-
e de capacitação voltadas para os membros cando a legalidade de sua instituição.
dessas instâncias, entre outras.8, 9 O Plan- A formação de um grupo em tais moldes
sab estabelece a existência de instância de é fundamental para a eficácia e efetivida-
controle social (com concepção e estrutura de do PMSB, uma vez que é a instância na
suficientes para acompanhar e fiscalizar qual conflitos entre os diversos segmen-
o uso do recurso público) como possível tos poderão ser discutidos, buscando solu-
critério na seleção dos projetos a serem fi- ções de interesse da coletividade (e não
nanciados via programas no seu âmbito.9 individuais), além de dar transparência
Fruto do Plansab, o Programa Sanea- ao processo de construção do PMSB. Esses
mento Brasil Rural (PSBR – ver p. 525), grupos devem ser envolvidos em todas as
publicado em 2019, também traz no com- etapas de elaboração do plano, e recomen-
ponente de gestão dos serviços de sanea- da-se a capacitação de seus membros sobre
mento estratégias voltadas a participação cada um desses momentos, a fim de nive-
e controle social nos processos de plane- lar o conhecimento, dada a multidiscipli-
jamento em saneamento básico.10 naridade de saberes do grupo.
No contexto dos Planos Municipais de O grupo de acompanhamento deve in-
Saneamento Básico (PMSB – ver p. 450), cluir representantes da sociedade civil e
a formação de grupos multidisciplinares do poder público, de forma a assegurar a
para acompanhamento da elaboração dos paridade na representação das duas es-
planos tem sido o formato amplamente feras.13 Contudo, tem-se observado que a
utilizado no Brasil, conforme destacado presença do Poder Executivo municipal
em pesquisa sobre o seu processo de ela- predomina sobre a do segmento da so-
boração. Na pesquisa em questão foram ciedade civil.11 Além disso, é recomenda-
analisados termos de referência e planos do que a indicação dos membros da so-
de saneamento de todas as regiões do pa- ciedade parta do próprio segmento e não
ís, identificando que 73% dos 176 planos do Executivo, para evitar que as decisões
analisados utilizaram essa formação.11 favoreçam apenas os interesses do po-
der público e dos prestadores de servi-
Acompanhamento a ços.14 Destaca-se ainda, a importância
favor da efetividade da participação do Poder Legislativo nos
grupos de acompanhamento, uma vez
Esses grupos de acompanhamento po- que os planos passam por aprovação na
dem apresentar variadas denominações Câmara Municipal, de forma que o docu-
159
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
mento do PMSB seja aprovado sem ne- também para acesso a recursos de outras
cessidade de emendas. fontes. Uma das exigências para recebi-
Na pesquisa mencionada sobre a elabo- mento desses repasses é que o município
ração de PMSB no Brasil,11 constatou-se comprove a existência de conselho espe-
que os setores do Poder Executivo com cífico para a área, que tenha competência
maior presença nos grupos de acompa- para acompanhar, fiscalizar e controlar o
nhamento são saúde (62,6%), meio am- fundo municipal de Saneamento.17
biente e agricultura (57,9%) e infraestru-
tura, obras e serviços públicos (52,3%).11 O Caráter consultivo predominante
maior percentual de participação do setor
de saúde na elaboração dos planos não so- Os dados da Munic 2017 demonstraram
mente indica a relação interdependente que, dentre os conselhos de Saneamento
entre saneamento e saúde como expressa existentes, 16,1% eram, simultaneamen-
a capilaridade da força de trabalho da saú- te, de caráter fiscalizador, deliberativo
de nos municípios. Nesse sentido, torna-se e normativo, enquanto 83,9% eram ape-
central a cooperação intersetorial, bem nas consultivos. Conselhos deliberativos
como a participação da população, tendo têm competência para tomada de decisão
como objetivo estratégico a promoção de em instância final, podendo encaminhar
territórios saudáveis e sustentáveis. as decisões ao Executivo para implemen-
tação. Exemplo desse modelo no Brasil
Depois da elaboração são os conselhos municipais de Saúde. Os
conselhos consultivos possuem compe-
Para além da elaboração do PMSB, a exis- tências para dar parecer, opinar, sugerir,
tência de instância de controle social é sem direito de deliberar.
essencial para o seu o monitoramento A não autonomia para tomada de de-
e a avaliação da execução. O Decreto cisões pode gerar insatisfação dos con-
7.217/2010 estabelece os órgãos colegia- selheiros e da população, que acabam
dos como um dos mecanismos de contro- considerando os conselhos apenas como
le social para a formulação da política de ratificadores de decisões já tomadas, o
saneamento básico, bem como no seu pla- que tende a enfraquecê-los.18
nejamento e avaliação,15 podendo ser es- Outro limitador da efetividade dos con-
pecíficos ou integrar as discussões do sa- selhos está relacionado ao nível de forma-
neamento. Segundo informações da Pes- ção dos conselheiros, principalmente dos
quisa de Informações Básicas Municipais representantes da sociedade civil,19 que
(Munic), em 2011, 3,5% dos municípios podem perder embates políticos sobre
brasileiros possuíam conselhos específi- certas decisões em função da maior pos-
cos para o saneamento básico, índice que sibilidade de se articular dos membros
subiu para 17,2% em 2017.16 O Plansab fi- do governo20 devido a sua inserção na
xa a meta de que em 2033 esse percentual máquina pública. Daí a importância de
seja de 90% dos municípios brasileiros, se buscar a efetivação das estratégias do
estabelecendo estratégias para atingi-la.9 Plansab para fortalecimento do controle
A existência de órgão colegiado de Sa- social e desenvolvimento de ações de ca-
neamento Básico passou a ser critério pacitação voltadas para conselheiros.
160
CONTROLE SOCIAL
Ainda, é assegurado aos órgãos colegia- tação nos processos deliberativos também
dos de controle social o acesso a quaisquer está relacionada a esse elemento.21.
documentos e informações produzidos so- Para que o controle social seja exer-
bre o saneamento básico, preferencialmen- cido com qualidade, deve haver trans-
te garantido na internet.15 Essa questão parência e comunicação pública das
tem sido negligenciada pelos municípios. informações, recursos, ações e decisões
Pesquisa sobre o processo de elaboração de sobre o saneamento básico, o que torna
PMSB mostra que 54,9% de uma amostra ainda mais importantes as estratégias
de 390 planos não possuem os documentos apresentadas no Plansab e no PSBR pa-
disponíveis na internet. A não disponibili- ra fomentar o acesso às informações, de
zação das informações em meios de fácil maneira compreensível à população, e a
acesso dificulta o exercício do controle so- implementação de mecanismos de con-
cial, uma vez que a capacidade de argumen- trole e monitoramento.
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161
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
162
CONTROLE SOCIAL
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rior de Ciências da Saúde (Incisa), mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos
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André Vianna Dantas. Historiador pela Universidade Federal Fluminense (UFF), dou-
tor em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Servidor
público federal da Fundação Oswaldo Cruz, lotado na Escola Politécnica de Saúde Joa-
quim Venâncio (EPSJV).
163
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
C
CONVÊNIO DE COOPERAÇÃO
164
CONVÊNIO DE COOPERAÇÃO
165
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
os consórcios públicos, então vistos como dos municípios por soluções para a gestão
focos de poder concorrentes com o poder associada dos resíduos sólidos urbanos e
central, sendo assim reduzidos, juridica- de outros serviços públicos.
mente, a meros pactos de colaboração. Esses consórcios foram constituídos
como associações civis regidas pelo Di-
Autonomia restituída reito privado. No entanto, a viabilidade
e efetividade da cooperação federativa
A Constituição Federal (CF) de 1988 res- exigiam instrumentos jurídicos mais
tituiu a autonomia e as competências dos adequados para formalização de con-
estados e municípios para a gestão de su- vênios de cooperação e para a criação e
as políticas públicas, e a Emenda Consti- organização de consórcios públicos, com
tucional 19/1998, que alterou o art. 241 competências apropriadas para a gestão
da CF, possibilitou o início de um lento eficiente e descentralizadas de diversas
processo, ainda em curso, de construção políticas públicas.
das bases de um federalismo moderno Esta condição foi atendida com a edição
dotado de instrumentos jurídicos ade- da Lei 11.107, que em 2005 disciplinou o
quados para a instituição e o efetivo fun- art. 241 da Constituição, estabelecendo as
cionamento de arranjos institucionais de normas gerais para a criação de consórcios
cooperação entre os entes federativos pa- públicos, para a celebração de convênios de
ra a gestão associada de serviços púbicos cooperação entre entes federativos e para
e para o compartilhamento de atividades os instrumentos jurídico-administrativos
administrativas e de recursos materiais e contratuais necessários para o exercício
de seus interesses comuns. da gestão associada de serviços públicos.
Como resultado desse processo, o Ins- Ao lado dos consórcios públicos, a ges-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatísti- tão associada por meio de convênios de
ca (IBGE) detectou, no ano de 2000, por cooperação entre municípios, ou destes
meio da Pesquisa Nacional de Sanea- com os respectivos estados, pode ser solu-
mento Básico (PNSB), a existência de ção regional ou microrregional bastante
18 consórcios atuando na área de resí- adequada para a organização intermu-
duos sólidos (ver p. 568) e registrou, em nicipal ou interfederativa da prestação
2001, na publicação Perfil dos Municípios dos serviços de saneamento básico, par-
Brasileiros – Gestão Pública, a existência ticularmente em regiões em que não se
de 1.969 municípios consorciados para a viabilize a criação de consórcio público,
gestão de serviços de saúde. Embora pou- como forma de criar condições de sus-
co significativa, a quantidade de consór- tentabilidade e acelerar a universaliza-
cios atuando na área indicava a demanda ção dos serviços em todos os municípios.
Referências bibliográficas
166
CONVÊNIO DE COOPERAÇÃO
C
COOPERATIVA/ASSOCIAÇÃO DE MATERIAIS
RECICLÁVEIS E INCLUSÃO DE CATADORES
167
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
168
COOPERATIVA/ASSOCIAÇÃO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E INCLUSÃO DE CATADORES
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EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
que cumprir todas as exigências legais nhecidos pelo poder público local como
e contratuais, como estar em dia com o catadores de materiais recicláveis.
pagamento dos tributos incidentes sobre
a sua atuação ao longo do período de exe- Gestão dos serviços prestados
cução do contrato3. pelas associações ou cooperativas
A atuação dos catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis, cuja atividade Com a formalização dos serviços via con-
profissional é reconhecida pelo Ministé- tratação, além da capacidade técnica para
rio do Trabalho e Emprego desde 2002, projetar sistemas eficientes, é necessário
segundo a Classificação Brasileira de desenvolver capacidades de gestão, con-
Ocupações (CBO), contribui para o au- siderando, inclusive, a manutenção da
mento da vida útil dos aterros sanitários autonomia administrativa das organiza-
e para a diminuição da demanda por re- ções de catadores. Para tanto, devem ser
cursos naturais, na medida em que abas- projetadas ferramentas, metodologias e
tece as indústrias recicladoras para rein- rotinas de gestão3:
serção dos resíduos em suas ou em outras
cadeias produtivas, em substituição ao • transparência: trazer ao conhecimento
uso de matérias-primas virgem. do público em geral e dos administra-
A Lei Nacional de Saneamento Básico, dores a forma como o serviço foi presta-
em seu artigo 57, acrescentou o inciso XX- do, com dados e indicadores importan-
VII ao artigo 24 da LLCA para estabelecer tes e a disponibilidade de atendimento;
a viabilidade de contratação direta me- • continuidade (ou regularidade): o ser-
diante dispensa de licitação das organiza- viço público, em regra, deve ser presta-
ções de catadores, nos termos que seguem: do ao usuário de maneira ininterrupta,
“Art. 25: na contratação da coleta, pro- a não ser em situações excepcionais;
cessamento e comercialização de resíduos • eficiência: a eficiência reclama que o
sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, prestador se atualize com os novos pro-
em áreas com sistema de coleta seletiva de cessos tecnológicos, de modo que a exe-
resíduo efetuado por associações ou coope- cução do serviço seja feita com o menor
rativas formadas exclusivamente por pesso- custo, sem perda da qualidade;
as físicas de baixa renda reconhecidas pelo • generalidade (ou universalidade): de
poder público como catadores de materiais acordo com esse princípio, todos os
recicláveis, com o uso de equipamentos com- usuários que satisfaçam as condições
patíveis com as normas técnicas, ambientais legais fazem jus à prestação do ser-
e de saúde pública” 3. viço, sem qualquer discriminação ou
A LLCA prevê, ainda, que o serviço con- privilégio. Todos devem ser tratados
tratado deverá ser prestado por associa- isonomicamente;
ções ou cooperativas legalmente estabe- • controle (incluindo controle social): por
lecidas, viabilizando, assim, a emissão de se tratar de um serviço a que os cidadãos
nota fiscal para fins de recebimento dos têm direito e pelo qual já pagam com re-
serviços prestados. Mais do que isso, es- cursos públicos, deve haver um controle
sas organizações deverão ser formadas rigoroso dos custos e da qualidade, com
por associados ou cooperativados reco- transparência na prestação de contas.
170
COOPERATIVA/ASSOCIAÇÃO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E INCLUSÃO DE CATADORES
Referências bibliográficas
171
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
5. CEMPRE. Ciclosoft - pesquisa anual sobre a coleta seletiva. São Paulo: Cempre,
2018. Disponível em: http://cempre.org.br/ciclosoft/id/9.
C
CRESCIMENTO POPULACIONAL
172
CRESCIMENTO POPULACIONAL
173
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
dução são complexos, mas pode-se citar, didade de 2,1 filhos por mulher no perí-
entre eles, a expansão dos sistemas de odo reprodutivo.
saúde pública e previdência social, a in- Uma das consequências da queda brusca
fraestrutura urbana e a regulamentação do número de filhos por mulher é a dimi-
das leis trabalhistas, a partir dos anos 30. nuição da proporção de crianças e jovens
Além desses fatores internos, fatores ex- no total da população e aumento da parti-
ternos, como importação de tecnologias cipação de idosos, processo conhecido co-
advindas dos avanços da indústria quími- mo envelhecimento populacional.3, 4
co-farmacêutica, ajudaram a controlar e Evidentemente, os patamares iniciais
reduzir muitas doenças.3 da mortalidade e da fecundidade varia-
A diminuição na mortalidade não foi vam bastante entre as regiões, mas pode-
seguida imediatamente pelo declínio da -se dizer que, atualmente, a diminuição
natalidade. Por isso, o crescimento de- do ritmo de crescimento populacional
mográfico brasileiro teve uma aceleração e a intensificação do envelhecimen-
entre 1940 e 1960: de 2,4% ao ano, nos to são fenômenos interconectados que
anos de 1940, passou para uma taxa em atingiram todas as áreas do país e todos
torno de 3% ao ano, nas duas décadas os grupos sociais – uma evidência do
seguintes. Portanto, sob uma perspec- avançado processo de urbanização no
tiva histórica, este patamar representa Brasil. Como visto, a transição demográ-
o ápice do crescimento natural do pa- fica enfatiza os eventos vitais, fecundida-
ís, uma vez que a imigração procedente de e mortalidade, mas o crescimento cau-
de outros países era proporcionalmente sado pelas migrações também deve ser
muito pequena e pouco contribuiu para considerado, devido ao seu potencial de
o aumento da população. mudança no contexto local ou regional,
algo imprescindível para a política muni-
Queda histórica cipal de saneamento.
As dimensões temporal e espacial
A fecundidade experimentou diminuição são essenciais para a compressão dos
significativa a partir de meados dos anos possíveis efeitos das migrações sobre
1960, um processo que não mais se re- os planos e ações de saneamento básico.
verteu; ao contrário, o Brasil apresentou Até por volta dos anos de 1970, o caso
uma das mais expressivas quedas histó- brasileiro era caracterizado por grandes
ricas da fecundidade.4, 5 A disponibilida- perdas de população em áreas de peque-
de de anticoncepcionais, o aumento da no porte populacional e baixa densi-
escolaridade das meninas, o aumento dade demográfica. As pessoas que dei-
da participação feminina no mercado de xaram estas áreas eram jovens, em sua
trabalho e maiores custos para a criação maioria, mas também havia uma perda
dos filhos ajudam a explicar a passagem relativamente maior de mulheres. Isso
de uma fecundidade ao redor de seis fi- reforçou ainda mais o gradativo enve-
lhos por mulher antes da transição da lhecimento populacional de muitas áre-
fecundidade para menos de 1,8, em 2010 as rurais, devido à diminuição da nata-
– portanto, abaixo do nível de reposição lidade e, portanto, redução do número
populacional, que corresponde à fecun- de crianças.
174
CRESCIMENTO POPULACIONAL
Referências bibliográficas
175
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
C
CUSTOS DE SERVIÇOS
A estrutura de custos dos serviços de sa- Como o próprio nome indica, o primei-
neamento básico pode ser categorizada ro grupo compreende as despesas com a
em quatro grupos: custos operacionais; operação dos serviços, como gastos de
tributos e outras obrigações; custos de pessoal, serviços de terceiros, energia
capital; e receitas irrecuperáveis. elétrica, manutenção e material de tra-
176
CUSTO DE SERVIÇOS
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EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
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CUSTO DE SERVIÇOS
Referências bibliográficas
179
D
DENSIDADE DEMOGRÁFICA
181
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
na grade estatística, criada por Bueno 4 ser utilizados como ferramenta para
e disponibilizada em plataforma digital a elaboração de políticas públicas nas
pelo IBGE. 5 Ela fornece grades de células mais diversas áreas. No caso do sanea-
vetoriais com resolução de 200 m2 para mento, a densidade demográfica pode
as áreas urbanas e 1 km 2 para as áreas ser utilizada como ferramenta para a
rurais, e disponibiliza informações so- avaliação da demanda de consumo em
bre o tamanho da população a partir de pequenas áreas, bem como do potencial
dados do Censo 2010. Os mapeamentos de novos mananciais para o abasteci-
dasimétricos (como a grade estatística) mento futuro, além de auxiliar as polí-
permitem elaborar mapas de densidade ticas municipais de desenvolvimento na
demográfica muito precisos, que podem área do saneamento.6
Referências bibliográficas
182
DENSIDADE DEMOGRÁFICA
D
DESASTRES
Os desastres estão cada vez mais frequen- pública, defesa civil, saneamento, assis-
tes no mundo e no Brasil, resultando em tência social e meio ambiente.
impactos nas condições de vida e traba- Embora os desastres possam ter co-
lho das comunidades atingidas. Podem mo eventos ou processos disparadores
variar no espaço (desde pequenas localida- aqueles relacionados aos ciclos naturais
des até um conjunto de países) e no tempo do planeta (terremotos, vulcões, fura-
(para além dos impactos imediatos, envol- cões, inundações, secas) ou aos ciclos
vendo outros que podem se prolongar por dos processos produtivos (produção
semanas, meses, anos e décadas). de produtos químicos, energia nuclear
A ampliação ou redução dos riscos e e mineração, entre outros) é a combina-
danos, doenças e agravos sobre a saúde, ção com os processos sociais, econô-
dependerá da combinação entre o tipo de micos e políticos de uso e ocupação do
desastre (de origem natural ou tecnológi- solo, de produção de bens e serviços, de
ca; intensivos e abruptos, como rupturas distribuição dos benefícios e malefícios
de barragens e terremotos, ou extensi- à sociedade, que produz os desastres.
vos e de médio prazo, como inundações Nesta perspectiva, a infraestrutura sa-
e secas) e sua magnitude, as condições nitária inadequada pode contribuir para
de vulnerabilidade social da população o agravamento dos danos gerados pelos
exposta e atingida e as capacidades de desastres, que por sua vez podem com-
respostas e ações institucionais dos di- prometer os componentes essenciais do
ferentes setores envolvidos, como saúde saneamento básico.
183
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
Nas concepções dominantes na atu- tariam cada vez mais suscetíveis frente
alidade, o desastre é definido como às ameaças, com menores meios de pre-
interrupção grave do funcionamento venção, de resgate, de recuperação e de
de uma comunidade ou sociedade que reconstrução em cenários de desastres2.
gera perdas humanas e/ou significati- O saneamento básico inadequado, por
vas perdas materiais, econômicas ou exemplo, gera situações socioambientais
ambientais. Um contexto que excede a que potencializam os riscos de doenças
capacidade da comunidade ou socieda- após a ocorrência de desastre: abasteci-
de afetada de lidar com a situação uti- mento de água deficiente, esgotamento
lizando seus recursos próprios. Assim, sanitário inadequado, a contaminação
um desastre é uma função do processo por resíduos sólidos (ver p. 568) o manejo
de risco, resultado da combinação de inadequado e insuficiente das águas plu-
ameaças, condições de vulnerabilidade viais (ver p. 541), bem como as condições
e capacidade insuficiente ou medidas precárias das habitações.
para reduzir as consequências negativas Na atualidade, esta concepção vem sen-
e potenciais do risco1. do ampliada, para o tema da vulnerabili-
Essas concepções resultam de um longo dade socioambiental, que é compreendi-
debate acadêmico e político sobre a natu- da pela capacidade, de uma pessoa ou gru-
reza dos desastres. Até os anos 1990, o po social, de antecipar, enfrentar, resistir e
entendimento dominante sobre os desas- recuperar-se de um impacto, ou seja, está
tres era baseado nas ciências da natureza relacionada à resistência e à resiliência
ou engenharias, atribuindo aos ciclos na- dos indivíduos e da sociedade afetada3, 4.
turais ou a falhas (quase sempre atribuí- As condições de vulnerabilidade socioam-
das como falhas humanas) nos processos biental estão relacionadas aos seres huma-
tecnológicos. A partir dos anos 1990, en- nos e seus meios de subsistência e infraes-
tram em cena concepções que têm como trutura diante de uma ameaça. Um evento
base perspectivas críticas das ciências ou uma combinação de eventos só podem
sociais e baseadas em estudos comparati- caracterizar-se como fatores de risco de
vos, demonstrando como países, comuni- desastre caso determinada população es-
dades e populações expostas aos mesmos teja em situação de vulnerabilidade. Caso
tipos de eventos poderiam sofrer maior contrário, o evento ocorrerá sem a conota-
ou menor impacto a depender do maior ção de fator de risco (ou ameaça)5.
ou menor domínio e/ou acesso aos recur- Os desastres caracterizam-se em inten-
sos, bens e benefícios; riscos, danos e ma- sivos ou extensivos. Os intensivos são
lefícios. Nesse contexto, as condições de marcados por apresentar baixa frequência,
vulnerabilidade surgem como aspectos mas com grande potencial de perdas, da-
centrais para a análise. nos e mortalidade – por exemplo, desliza-
mentos de terra e inundações bruscas.
Vulnerabilidade Já os extensivos representam 96%
dos eventos no mundo – como a seca e
As sociedades com maiores condições de as inundações graduais – apresentan-
vulnerabilidade em sua conjuntura so- do baixa severidade de perdas e danos
cial, política, econômica e ambiental es- e alta frequência de eventos. Apesar de
184
DESASTRES
185
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
186
DESASTRES
ou ainda pela operação e pela manutenção mento Básico (PMSB), de acordo com o ar-
precárias, resultam em condições atípi- tigo 25 do Decreto 7.217/2010, estabelece
cas, emergenciais, que, se se prolongarem que deve esse plano conter a proposição de
de forma crônica ao logo do tempo e do ações de emergência e de contingência (ver
espaço, podem contribuir para o agrava- p. 139). Entretanto, o desafio para o poder
mento dos eventos agudos dos desastres. público municipal está na estruturação
e capacidade técnica e de gerenciamento
Saneamento básico para a implantação de planos de Emergên- D
cia e Contingência de Saneamento Básico
Na área do saneamento básico, as ações que considerem as condições de operação
de emergência e de contingência têm por e manutenção dos componentes da área
objetivo monitorar presumíveis fatores e o seu monitoramento por meio de indi-
de risco, identificar e prevenir possíveis cadores de operação, de desempenho e da
acidentes – passíveis de acontecer ou não vigilância em saúde.
– bem como atuar na mitigação de danos Em casos específicos – nos municípios
e prejuízos causados por acidentes e de- que possuam um histórico de desastres
sastres naturais ou antrópicos, além de recorrentes – pode ser necessária a ela-
prevenir agravos à saúde relacionados aos boração de um plano integrado de sane-
serviços de saneamento básico.13 amento, defesa civil e saúde para redu-
O termo de referência14 da Funasa para ção dos riscos de desastres, na perspec-
elaboração de Plano Municipal de Sanea- tiva da intersetorialidade.
Referências bibliográficas
187
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
7. SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Pau-
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polis: Ceped/UFSC, 2013. Disponível em: http://www.ceped.ufsc.br/atlas-brasileiro-
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10. UNISDR. Sendai Framework for Disaster Risk Reduction 2015-2030. Geneva:
UNISDR, 2015. Disponível em: https://www.preventionweb.net/files/43291_sen-
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12. CARMO E. H. O Regulamento Sanitário Internacional e as oportunidades para for-
talecimento do sistema de vigilância em saúde. Recife: CPqAM/ Fiocruz, 2013.
13. MS; FUNASA. Termo de referência para elaboração de plano municipal de sane-
amento básico. Brasília: Funasa, 2018. Disponível em: http://www.funasa.gov.br/
termo-de-referencia-tr-para-pmsb.
14. BRASIL. Decreto nº 7.217, de 21 de junho de 2010. Regulamenta a Lei nº 11.445,
de 5 de janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento bá-
sico. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/
decreto/d7217.htm. Acesso em: 18 ago. 2019.
188
DESSALINIZAÇÃO DA ÁGUA
D
DESSALINIZAÇÃO DA ÁGUA
Este verbete foi elaborado na vigência da Portaria de Consolidação 5 de 2017, do Ministério da
Saúde, que foi substituída pela Portaria GM/MS 888, publicada em 4 de maio de 2021.
189
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
190
DESSALINIZAÇÃO DA ÁGUA
191
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
A dessalinização da água do mar por m³),12 valor bem inferior ao estimado pa-
membranas é de grande utilização em pa- ra a OI (de 3 a 7 kWh/m³)10.
íses árabes. A dificuldade da aplicação da A salmoura originada no processo de OI
tecnologia no Brasil deve-se ao seu eleva- deve ser destinada adequadamente, pois
do custo de operação e manutenção, ten- contém elevada concentração de sais e clo-
do em vista a necessidade de mão de obra retos, o que pode provocar contaminação
qualificada e o fato de que as membranas do solo e corpos hídricos. Em geral, os pro-
precisam ser substituídas quando sua ca- cessos de dessalinização geram 1,5 litro (l)
pacidade de produção de água é reduzida. de salmoura para cada litro de água potá-
Por não serem produzidas no país, seu vel produzido. Seu descarte no mar pode
custo de aquisição é elevado. trazer impactos negativos à fauna aquáti-
ca e redução do oxigênio dissolvido.7
Valores médios A Companhia Pernambucana de Sa-
neamento (Compesa) está produzindo
Os custos de implantação de um siste- cloro para desinfecção de água e esgotos,
ma de OI para tratamento de água sa- a partir da salmoura oriunda do proces-
lobra são estimados entre US$ 1.300 e so de dessalinização da água do mar em
2.500 por m³/dia de capacidade instala- Fernando de Noronha. Isto reduz os im-
da, e os custos de produção variam en- pactos dos resíduos originados, que são
tre US$ 0,26 e 0,54 por m³ produzido, transformados em insumo.13
para sistemas de grande escala, e entre
US$ 0,56 e US$ 12,99 por m³ produzido Outros processos de
para pequenos sistemas.10 Para dessali- dessalinização
nização de água do mar (salina) os cus-
tos de produção variam de US$ 0,45 e Outra tecnologia que podem ser aplica-
a 0,66 por m³, para sistemas de grande das na dessalinização de água é a eletro-
porte (100 mil a 320 mil m³/dia), US$ diálise (ED), que faz uso de membrana
0,48 a 1,62 por m³, para sistemas de mé- polarizada (polo positivo, polo negativo
dio porte (15 mil a 60 mil m³/dia), e US$ e neutro) para a remoção dos sais pre-
0,70 e 1,72 por m³, para pequenos siste- sentes na água através da introdução de
mas (1.000 a 4.800 m³/dia)11. uma corrente elétrica. Há também pro-
Conforme dados do Sistema Nacio- cessos térmicos, como o processo flash
nal Sobre Saneamento (SNIS)12, o custo em múltiplos estágios (MSF), a destila-
médio das despesas totais do serviço de ção em múltiplos efeitos (MED) e a des-
abastecimento de água no Brasil é de R$ tilação solar (DS). Todos esses métodos
3,57/m³. Este indicador é composto pelo utilizam calor para evaporação da água,
valor das despesas totais da concessioná- seguida de resfriamento para condensa-
ria, dividido pelo volume de água fatura- ção. Cada tecnologia tem suas vantagens
do, dando uma estimativa do custo final e desvantagens, que devem ser analisa-
da produção de água. A demanda energé- das conforme os contextos locais, para a
tica média das concessionárias brasilei- escolha adequada.
ras para o tratamento de água é de 0,71 A eletrodiálise possui como vantagens
quilowatt-hora por metro cúbico (kWh/ a elevada remoção de sais (acima de 94%),
192
DESSALINIZAÇÃO DA ÁGUA
193
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Referências bibliográficas
194
DESSALINIZAÇÃO DA ÁGUA
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taria-de-Consolida----o-n---5--de-28-de-setembro-de-2017.pdf.
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Acesso em: 30 dez. 2019.
14. AL-AMSHAWEE, S.; YUNUS, M. Y. B. M.; AZODDEIN, A. A. M.; HASSELL, D. G.;
DAKHIL, I. H.; HASAN, H. A. Electrodialysis desalination for water and wastewater:
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195
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
WWAP. The United Nations World Water Development Report 2019: leaving no one
behind. Paris: Unesco, 2019
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade
Estadual da Carolina do Norte (EUA). Professor Associado do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental (Desa) da Universidade Federal de Minas Gerais.
D
DETERMINAÇÃO SOCIAL E OS DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE
De acordo com a Lei 8.080/1990,1 que es- dos indicadores de saúde, epidemiológi-
tabelece o Sistema Único de Saúde (SUS), cos, ambientais e socioeconômicos, além
a saúde tem como fatores determinantes do impacto destes nas condições de vida
e condicionantes, entre outros, a alimen- das populações. Não menos importante é
tação, a moradia, o saneamento básico, o a relação com outros setores, como habi-
meio ambiente, o trabalho, a renda, a edu- tação, proteção ambiental e desenvolvi-
cação, o transporte, o lazer e o acesso aos mento urbano, dentre outros, pois, além
bens e serviços essenciais. de o saneamento ser determinante para
O saneamento atua na prevenção de seu bom desenvolvimento, esses setores
doenças e promove dignidade e bem- também estão voltados para a qualidade
-estar humano. Segundo a Organização de vida da população.
Mundial da Saúde (OMS), “saneamento é Nos Objetivos do Desenvolvimento
o controle de todos os fatores ambientais Sustentável, o saneamento é considerado
que podem exercer efeitos nocivos sobre um dos pilares para o desenvolvimento,
o bem-estar, físico, mental e social dos posto que o sexto objetivo busca “asse-
indivíduos”. Por outro lado, a falta de sa- gurar a disponibilidade e gestão susten-
neamento contribui para o aparecimento tável da água e saneamento para todas
de doenças negligenciadas, promovendo e todos”. Contudo, diante do contexto
iniquidades em saúde, geradas pelos de- mundial de avanço do neoliberalismo
terminantes sociais da saúde (DSS). no plano político e econômico de gestão
O planejamento municipal de sanea- – pelo qual se forja na sociedade um no-
mento básico deve considerar a análise vo pensar e modo de viver – torna-se um
196
DETERMINAÇÃO SOCIAL E OS DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE
desafio para as políticas públicas de sane- trofes naturais. Desde então, pesquisas
amento e saúde, no processo de análise foram desenvolvidas buscando compre-
das condições de vida e situação de saúde, ender a determinação social da saúde e da
compreender os determinantes sociais doença, associando à classe social e con-
do processo saúde-doença e considerar o dições de vida, e também entre pobreza
modelo de determinação social da saú- e níveis socioeconômicos.
de como construto acadêmico do modelo
teórico histórico e social. Caráter biológico ou social D
197
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
198
DETERMINAÇÃO SOCIAL E OS DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE
Referências bibliográficas
199
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
200
DETERMINAÇÃO SOCIAL E OS DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE
Vídeos
DR. JAIME BREILH. Determinación social de la salud. Hacia una salud colectiva efi-
ciente. Punto de Partida, 2013. 1 vídeo (7 min). Disponível em: https://www.youtu-
be.com/watch?v=wBT_NpB-vew.
COMO e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. Entrevista com Ri-
ta Barradas Barata. Direção de Marco Antônio Campos. Roteiro e apresentação
de Renato Farias. Produção executiva de Valéria Mauro. Cepidss/Fiocruz, 2013.
1 vídeo (24 min). (Ciência & Letras). Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=nBWdUkQe6Q0.
Grácia Maria de Miranda Gondim. Arquiteta, doutora em Saúde Pública pela Escola
Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fiocruz. Professora e pesquisadora da
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz, e da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte.
201
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
D
DIAGNÓSTICO DE CONDIÇÕES DE VIDA E SITUAÇÃO DE SAÚDE
Desde o início do século 20, a relação entre A análise de condições de vida e situa-
saúde e condições de vida ocorre de for- ção de saúde tem sido desafio constante
mas diversas e com intensidades distintas, no âmbito das políticas públicas de saú-
em múltiplas abordagens conceituais e te- de – como também de saneamento – na
óricas sobre as causas das doenças. perspectiva de compreender a determi-
As condições de vida podem ser decom- nação social da saúde, para definição de
postas em duas categorias analíticas fun- estratégias de ação e avaliação de impacto
damentais: os modos de vida, vinculados das intervenções para superar problemas
ao modelo de produção vigente – a venda e atender a necessidades de populações.
de mão de obra em troca de remuneração
e as condições de trabalho; e os estilos de Processo contínuo
vida, materializados em comportamen-
tos, hábitos, atitudes e formas de viver. É importante o reconhecimento dos ter-
Assim, condições de vida expressam es- ritórios e de seus contextos de uso pelos
tágios materiais da existência humana atores sociais. Essa forma de pensar so-
(pessoas e grupos) em uma sociedade, re- bre o que fazer para produzir desenvolvi-
lacionados à sua vinculação a uma classe mento social e saúde implica um processo
social e à inserção na estrutura produtiva, contínuo de coleta, análise e sistemati-
em um determinado tempo histórico. zação de dados - demográficos, ambien-
Já a situação de saúde, associada às tais, socioeconômicos, políticos, cultu-
condições de vida – em um certo tempo rais, epidemiológicos e sanitários – em
e lugar – possibilita compreender as desi- determinado território e situação.2
gualdades nas formas de adoecer e mor- Na direção do desenvolvimento social
rer de pessoa ou grupo, moduladas pelo igualitário, compreender essa dinâmica
desenvolvimento da vida material em do território é estratégico para a elabo-
um território (ver p. 729) singular. Desse ração do planejamento municipal de
modo, cada família, pessoa, comunidade Saneamento, que preconiza a elabora-
ou população, em cada momento de sua ção de um diagnóstico técnico-partici-
existência, tem necessidades e riscos que pativo. Isto significa que o diagnóstico
lhes são característicos em função de sua do lugar permite que atores sociais (Es-
inserção socioeconômica (idade, loca- tado e sociedade civil) – em um diálogo
lização geográfica, sexo, cultura e nível entre saber técnico e saber popular, e
educacional, dentre outros), que traduz sintonizados com a melhoria das con-
um perfil de problemas de saúde-doença dições de vida e da situação de saúde –
peculiar, que pode contribuir ou dificul- reconheçam o território, identificando
tar, em maior ou menor grau, sua realiza- determinantes sociais, riscos, causas,
ção como sujeito social.1 vulnerabilidades e potencialidades.
202
DIAGNÓSTICO DE CONDIÇÕES DE VIDA E SITUAÇÃO DE SAÚDE
Essa caracterização do território evi- cial (ver p. 424) e ao controle social (ver p.
dencia a determinação social da saúde, 156), em todas as suas etapas.
localizando espaços de pobreza e comuni-
dades onde há condições de vida precárias, Territorialização em saúde e
que levam ao adoecimento, e para defini- o diagnóstico de condições de
ção de ações que permitam acesso a saú- vida e situação da saúde
de, lazer, transporte, mobilidade urbana
e saneamento, dentre outros serviços. As O processo de elaboração de diagnósticos D
dimensões da vida das comunidades pre- territoriais de condições de vida e situação
cisam ser articuladas com as políticas de de saúde deve estar relacionado tecnica-
saneamento, no sentido de compreender mente ao trinômio estratégico informa-
como as ações de saneamento impactam ção-decisão-ação.3 Trata-se de investiga-
as condições de vida das populações, e ção de campo, cuja produção de informação
podem revelar as desigualdades sociais e resulta em obtenção de dados (primários e
explicar os processos de segregação terri- secundários), sistematização, análise e dis-
torial e o quadro de vulnerabilidade socio- seminação, com o objetivo de apresentar
ambiental (ver p. 786) e de saúde. evidências para tomada de decisão.
As informações analisadas dão suporte O diagnóstico pode ter caráter descriti-
ao planejamento de políticas setoriais, vo, para levantar questões e dialogar sobre
como as de saúde e as que envolvem o problemas na comunidade, mas também,
saneamento ambiental de municípios. analítico, quando for necessário estabele-
Políticas públicas, formuladas democra- cer associações ou redes causais entre ele-
ticamente com a participação direta dos mentos do território e a situação de saúde.
sujeitos do território, tornam-se possibi-
lidades de ação efetiva do Estado na reso- Territorializar para compreender
lução de problemas de populações.
Na atualidade, críticas aos saberes téc- Muitas vezes, na elaboração de diagnósti-
nicos dos formuladores de políticas pú- cos, os elementos constitutivos da repro-
blicas apontam para o distanciamento de dução da vida social dos lugares são lista-
propostas (planos, projetos, estratégias e dos e tratados como conteúdos desarticu-
ações) em relação à realidade social dos lados do território analisado. Do mesmo
territórios. O caminho indicado para su- modo, em algumas análises de situação
perar esse desafio dá-se por meio da de- de saúde, os conteúdos do território são
mocratização das decisões estatais, pos- descritos e analisados como se este fosse
sibilitando à sociedade civil constituir-se mero receptáculo que contém determina-
como sujeito e ator social atuante na for- das características e aspectos. Portanto,
mulação das políticas públicas. incorporar a territorialização (ver p. 724)
No âmbito do saneamento, para uni- como método para a elaboração de diag-
versalização de ações e infraestrutura é nósticos consiste em reconhecer a ordem
necessário que o planejamento municipal da realidade, das coisas que ela própria
de saneamento seja focado na construção tem, de compreensão da totalidade con-
coletiva, por meio de mobilização social creta, ao abordar a realidade como uma
(ver p. 395) e fomento à participação so- “totalidade dos estados das coisas e das
203
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
Referências bibliográficas
Vídeos
DR. JAIME BREILH. Determinación social de la salud. Hacia una salud colectiva efi-
ciente. Punto de Partida, 2013. 1 vídeo (7 min). Disponível em: https://www.youtu-
be.com/watch?v=wBT_NpB-vew.
COMO e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. Entrevista com Rita Barradas
Barata. Direção de Marco Antônio Campos. Roteiro e apresentação de Renato Farias.
204
DIREITOS HUMANOS À ÁGUA E AO ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Produção executiva de Valéria Mauro. Cepidss/Fiocruz, 2013. 1 vídeo (24 min). (Ciên-
cia & Letras). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nBWdUkQe6Q0
Grácia Maria de Miranda Gondim. Arquiteta, doutora em Saúde Pública pela Ensp da
Fundação Oswaldo Cruz. Professora e pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Jo-
aquim Venâncio/Fiocruz e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). D
Maurício Monken. Geógrafo, doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pú-
blica Sérgio Arouca (Ensp), da Fiocruz. Professor, pesquisador e coordenador da Estação
de Territorialização da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz.
D
DIREITOS HUMANOS À ÁGUA E AO ESGOTAMENTO SANITÁRIO
205
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
206
DIREITOS HUMANOS À ÁGUA E AO ESGOTAMENTO SANITÁRIO
207
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
208
DIREITOS HUMANOS À ÁGUA E AO ESGOTAMENTO SANITÁRIO
1. SILVA, P. N. et al. Saúde e saneamento. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2018. (Série Fio-
cruz – Documentos Institucionais. Coleção Saúde, Ambiente e Sustentabilidade, v.
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3. UNGA. The human right to water and sanitation. UN Document A/RES/64/292.
Geneva: Unga, 2010. Disponível em: https://documents-dds-ny.un.org/doc/UN-
DOC/GEN/N09/479/35/PDF/N0947935.pdf.
4. UNHRC. Resolution on the human right to safe drinking water and sanitation.
Resolution A/HRC/RES/15/9. Geneva: UNHRC, 2010. Disponível em: https://docu-
ments-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G10/166/33/PDF/G1016633.pdf.
5. UNHRC. Vienna Declaration and Programme of Action. Vienna: UNHRC, 1993.
Disponível em: https://www.ohchr.org/en/professionalinterest/pages/vienna.aspx.
6. UNGA. Human right to water and sanitation. UN Document A/RES/70/169. Gene-
va: Unga, 2015. Disponível em: https://undocs.org/pdf?symbol=en/A/RES/70/169.
7. UNGA. Different levels and types of services and the human rights to water and
sanitation. Report of the Special Rapporteur on the human right to safe drinking
water and sanitation. UN Document A/70/203. Geneva: Unga, 2015. Disponível em:
https://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/70/203.
8. ALBUQUERQUE, C. Realizing the human rights to water and sanitation: a hand-
book by the UN Special Rapporteur Catarina de Albuquerque. Introduction. Portu-
gal, 2014. Disponível em: https://www.ohchr.org/Documents/Issues/Water/Han-
dbook/Book1_intro_.pdf.
9. UNGA. Resolution adopted by the General Assembly on 25 September 2015.
Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development. UN Do-
cument A/RES/70/1. Geneva: Unga, 2015. Disponível em: https://www.un.org/ga/
search/view_doc.asp?symbol=A/RES/70/1&Lang=E.
10. BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais
para o saneamento básico. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm.
209
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Priscila Neves Silva. Doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto René Rachou e pós-dou-
toranda no grupo de pesquisa de Políticas Públicas e Direitos Humanos em Saúde e
Saneamento, Fundação Oswaldo Cruz-MG (Fiocruz).
Léo Heller. Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e relator especial da Organização das
Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos Humanos à Água e ao Esgotamento Sanitário.
D
DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS
210
DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS
211
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
termos do art. 29 da Lei nº 11.445/ 2007. requisitos mínimos para localização, pro-
Nos casos em que a disposição de rejeitos em jeto, implantação, operação e encerramen-
aterros sanitários for economicamente in- to de aterros sanitários de pequeno porte
viável, poderão ser adotadas outras soluções, (aqueles que recebem até 20 toneladas de
observadas normas técnicas e operacionais resíduos por dia ou menos). Ademais, os
estabelecidas pelo órgão competente, de mo- aterros sanitários podem ter ou não a ge-
do a evitar danos ou riscos à saúde pública ração de energia. O aterro sanitário com
e à segurança e a minimizar os impactos geração de energia é aquele que utiliza a
ambientais.”3 drenagem dos gases gerados nos processos
O aterro sanitário é a tecnologia uni- de decomposição anaeróbia dos resíduos e
versal de disposição final de resíduos sóli- os encaminha, por meio de tubos coletores,
dos urbanos, imprescindível, mesmo nos para uma unidade de geração de energia.
países onde existem outras tecnologias O aterro sanitário é um método de
de tratamento, como incineração, com- disposição final de resíduos sólidos urba-
postagem e reciclagem. nos, e, portanto, resíduos não perigosos
No Brasil, seu uso predomina como téc- (Classe IIA), sobre terreno natural, atra-
nica de tratamento e disposição final de vés do seu confinamento em camadas co-
resíduos. Em 2017, a Abrelpe4 registrou bertas com material inerte – geralmente
59,1% do montante anual de resíduos enca- solo –, segundo normas específicas, de
minhados para esses locais, corresponden- modo a evitar danos ao meio ambiente,
do a aproximadamente 43 milhões de to- em particular à saúde e à segurança pú-
neladas de resíduos aterrados em 2017. As blica. Nele deve-se implantar medidas
regiões Sul e Sudeste destacam-se quanto para coleta e tratamento de efluentes
a maior concentração de aterros no Brasil. (chorume ou lixiviado) e gases produzi-
Na América Latina5, são gerados 541 dos (biogás), bem como planos de moni-
milhões de toneladas de resíduos por dia, toramento ambiental e geotécnico.
sendo que 145 milhões de toneladas/dia A primeira etapa de um projeto de ater-
ainda são dispostos em lixões. Um outro ro sanitário é a escolha de uma área onde
dado alarmante é que cerca de 40 milhões ele será implantado e operado. O que se
de pessoas ainda não têm acesso a coleta deseja dessa área é identificar aquela com
de resíduos. menor potencial para geração de impac-
tos ambientais, maior vida útil, baixos
Normas de referência custos de instalação e operação e aceita-
bilidade da comunidade. Após a escolha
Os aterros sanitários são normalizados da área apropriada, na elaboração de um
pela Associação Brasileira de Normas projeto deve-se considerar: forma de ope-
Técnicas (ABNT) com duas normas de re- ração, sistemas de drenagem das águas
ferência – a NBR 8.419/1992 (versão cor- pluviais, sistemas de impermeabilização
rigida de 1996) e a NBR 15.849/2010. A da base do aterro, cobertura final, drena-
primeira versa sobre as condições mínimas gem de lixiviados, drenagem do biogás,
exigíveis para a apresentação de projetos sistemas que assegurem a estabilidade do
de aterros sanitários de resíduos sólidos, maciço de terra e resíduos, monitoramen-
enquanto a segunda tem como escopo os to e fechamento do aterro.
212
DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS
Referências bibliográficas
213
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
resources/report/waste-management-outlook-latin-america-and-caribbean.
6. BNDES. Análise das diversas tecnologias de tratamento e disposição final de re-
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Disponível em: https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/13076/1/
Produto%204%20-%20relat%c3%b3rio%20final%20do%20perfil%20institucio-
nal%2c%20quadro%20legal%20e%20pol%c3%adticas%20p%c3%bablicas%20
relacionados%20a%20res%c3%adduos%20s%c3%b3lidos%20urbanos%20no%20
Brasil%20e%20no%20Exterior_P_BD.pdf
214
DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
D
DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO DO SISTEMA
DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
215
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
216
DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Referências bibliográficas
217
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Antonio Natanael Costa Sancho. Engenheiro ambiental pela Universidade Federal do Ceará
(UFC) e engenheiro civil pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Mestrando em Saneamen-
to, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade
Estadual da Carolina do Norte (EUA). Professor Associado do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental (Desa) da Universidade Federal de Minas Gerais.
D
DOENÇAS RELACIONADAS AO SANEAMENTO
AMBIENTAL INADEQUADO (DRSAIS)
218
DOENÇAS RELACIONADAS AO SANEAMENTO AMBIENTAL INADEQUADO (DRSAIS)
219
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
220
DOENÇAS RELACIONADAS AO SANEAMENTO AMBIENTAL INADEQUADO (DRSAIS)
221
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
222
DOENÇAS RELACIONADAS AO SANEAMENTO AMBIENTAL INADEQUADO (DRSAIS)
Referências bibliográficas
223
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/49018
http://www.funasa.gov.br/site/wp-content/files_mf/estudosPesquisas_ImpactosSaude.pdf
224
DOMICÍLIO
D
DOMICÍLIO
225
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
226
DOMICÍLIO
Referências bibliográficas
1. IBGE. Censo Demográfico 2010: resultados gerais da amostra. Rio de Janeiro: IB-
GE, 2012. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/resultados.html.
2. IBGE. Base de informações do Censo Demográfico 2010: resultados do universo
por setor censitário – documentação do arquivo. Rio de Janeiro: IBGE, 2011.
3. IBGE. Metodologia do censo demográfico 2010. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2016.
(Relatórios metodológicos, v. 41). Disponível em: https://servicodados.ibge.gov.br/
Download/Download.ashx?http=1&u=biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/
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4. WAJNMAN, S. Demografia das famílias e dos domicílios brasileiros. Tese (pro-
fessor titular). Departamento de Demografia, Faculdade de Ciências Econômicas,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012. 2012.
5. GIVISIEZ, G. H. N., OLIVEIRA, E. L. Demanda futura por moradias: demografia,
habitação e mercado. 1 ed. Niterói: Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Ino-
vação/ UFF, 2018.
227
E
229
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
de. Ressalta-se que tanto as ligações po- • As economias do tipo residencial são
tenciais como as factíveis não existem aquelas com fins exclusivamente de
fisicamente. Elas são contabilizadas so- moradia;
mente para efeito de planejamento pelo • As comerciais são para o exercício de
prestador de serviço. atividade não classificada na catego-
• Ligações suprimidas ou inativas são ria residencial;
aquelas em que houve suspensão dos • As economias do tipo industrial são
serviços de abastecimento de água. Não aquelas destinadas para o exercício de
se emite fatura para elas e, desta ma- atividade industrial;
neira, não contribuem para o fatura- • Economias do tipo público são para
mento da prestadora de serviços. Com exercício de atividades de órgãos dos
esta informação pode-se calcular o ín- poderes Executivo, Legislativo ou Judi-
dice de ligações inativas, o qual repre- ciário, ou autarquias e fundações vin-
senta a participação destas em relação culadas aos poderes públicos;
ao total de ligações. • As do tipo misto são imóveis que pos-
suem mais de uma categoria de uso;
O somatório das ligações ativas e in- • As economias do tipo entidades
ativas resulta na quantidade total de filantrópicas são aquelas que exercem
ligações. Esse número auxilia no cálcu- atividades sem fins lucrativos.
lo de extensão de rede por ligação, que Assim como as ligações, as economias
representa a distância média entre as exercem um papel importante na carac-
ligações, importante na caracterização terização do sistema de abastecimento de
do sistema. O valor médio da extensão água. Um indicador importante e muito
de rede por ligação pode ser utilizado utilizado é a densidade de economias
para planejamento prévio do sistema de por ligação. Igual ou superior a 1, ele for-
abastecimento de água. A informação nece informação sobre o índice de verti-
da quantidade total de ligações de água calização da região, e está disponível pa-
e o índice de rede por ligação estão dis- ra consulta no SNIS por meio do código
poníveis no SNIS, por meio dos códigos IN001. Entre os indicadores que utilizam
AG021 e IN020. as economias para seu cálculo também
estão os de consumo de água faturada
Tipos de economia por economia, perdas por economia, mi-
cromedição por economia e participação
As economias são edifícios ou subdi- das economias residenciais.
visão de edifício com ocupações com-
provadamente independentes entre si, A caracterização do sistema de abas-
que utilizam uma única instalação de tecimento de água através das informa-
abastecimento de água e são classificados ções de ligações e economia possibilita
para efeito de faturamento de acordo com comparar dois ou mais sistemas e en-
sua modalidade, podendo ser comercial, tender o comportamento de consumo e
residencial, industrial, pública, entidade demanda de uma região. Por exemplo,
filantrópica ou mista. se duas áreas possuem o mesmo índice
de perdas por ligação, aquela que pos-
230
ECONOMIAS E LIGAÇÕES DE ÁGUA
suir o maior consumo per capita (ver p. de cada SAA existente dentro do muni-
133) tem o melhor desempenho opera- cípio e que servirá como base para ela-
cional 2. O PMSB (ver p. 450) tem como boração do prognóstico do sistema exis-
um dos seus principais documentos o tente, auxiliando na tomada de decisão
diagnóstico técnico-operacional, que dos planejadores.
deve trazer a caracterização detalhada
Referências bibliográficas
E
1. SNIS. Página web do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS).
Disponível em: http://www.snis.gov.br/. Acesso em: jul. 2020.
2. PHILIPPI JR., A.; GALVÃO JR., A. (ed.). Gestão do saneamento básico: abasteci-
mento de água e esgotamento sanitário. Barueri: Manole, 2012. p.308-309.
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade
Estadual da Carolina do Norte (EUA). Professor Associado do Departamento de Engen-
haria Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais.
231
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
E
EDUCAÇÃO POPULAR EM
SAÚDE E SANEAMENTO
232
EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE E SANEAMENTO
dantil e o Movimento de Educação de Ba- dor pelo modo de vida ali produzido. Essas
se da Igreja Católica, no qual se discutia a culturas, por não serem reconhecidas pelo
cultura popular e a educação popular.7, 8 conhecimento científico, são consideradas
Essa proposta intencionava a formação como inferiores, por isto, não críveis, tor-
de sujeitos conscientes da sua realidade, nando-se assim invisíveis.14
que dialogassem sobre a cultura que pro- A educação popular não nega o conhe-
duzem e suas condições de vida. Assim, cimento técnico-científico, mas busca
mais do que ler e escrever, o educando proporcionar o diálogo entre esses conhe-
buscaria soluções para os problemas do cimentos de maneira a produzir processos
seu território. Para Freire, “a leitura do de trabalho mais compartilhado, com a E
mundo precede a leitura da palavra”. 9 elaboração de uma metodologia que tenha
A proposta da educação popular assume maior proximidade com a realidade (ver
a práxis pedagógica (reflexão-ação-refle- caminhos das águas – p. 82). Este é o de-
xão) que implica o comprometimento do safio para o profissional educador que se
educador consigo mesmo e com a socieda- traduz na democratização desses saberes,
de. O ato de comprometer-se com o movi- promovendo a organização comunitária e
mento permanente de teoria e prática leva sua participação na melhoria das condi-
a transpor os limites impostos pelo mun- ções sanitárias e da qualidade de vida.
do e, assim, provocar junto a população a
transformação da realidade social.10 A Educação popular em saúde
educação transformadora implica a res-
ponsabilização do profissional educador Ao longo do processo histórico, Silva et al.15
com a população. Neste sentido, o conhe- apresentam uma trajetória da educação
cimento técnico com o qual foi formado em saúde no Brasil, desde o final do século
deve ser ampliado pelas experiências de 19 – quando se organizaram as primeiras
vida, técnicas, saberes populares e nar- iniciativas ampliadas do Estado brasileiro
rativas, na perspectiva de uma melhor no campo da saúde – até a criação do Sis-
interação com a comunidade por ser nes- tema Único de Saúde (SUS).
ta interação que se desenvolve a confian- No período anterior aos anos de 1920 –
ça, o acesso e a cooperação social. Estar sob a égide da educação higiênica ou hi-
aberto às formas de saberes na sociedade gienismo16, 17 – o educador exercia o papel
aponta para a perspectiva de não reduzir de controlador, por meio da polícia sani-
a realidade apenas ao presente e ao que tária.15 A partir dos anos de 1920, com a
está aparente, ou seja, ao pragmatismo.11 educação sanitária, o papel do educador
É na interação, no diálogo, que é possível passou a ser de divulgador e comunica-
perceber como e porque foi produzido dor. Nos anos 1940 e 1950, por meio do
o contexto social e a possibilidade de se Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp)
construir o “inédito viável”.12, 13 e da Fundação Serviço Especial de Saúde
Existe uma diversidade de práticas so- (Fsesp), o educador passou a exercer o pa-
ciais no território, seja nas cidades ou en- pel de interventor e treinador. Nos anos
tre as populações do campo, da floresta e 1960 e 1970, o educador em saúde pas-
das águas (ver p. 499, que faz necessária sou a cumprir suas funções basicamente
a presença curiosa e respeitosa do educa- como treinador. A partir dos anos 80, o
233
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
234
EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE E SANEAMENTO
Referências bibliográficas
1. MDR. Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab – ver p. 457). Brasília: 2019.
2. BRANDÃO, C. R. O que é Educação. São Paulo: Brasiliense, 1989.
3. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e ba-
235
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
236
EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE E SANEAMENTO
237
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
E
EFLUENTES INDUSTRIAIS
238
EFLUENTES INDUSTRIAIS
do, assim como a disponibilidade de nu- Nem todos os efluentes industriais po-
trientes nesse despejo pode ser aquém dem ser tratados por método biológico e
da necessária para os microrganismos por isso o conceito de biodegradabilida-
responsáveis pelo tratamento biológico de é importante. Trata-se da capacidade
de efluentes, necessitando um incre- dos despejos de serem degradados por
mento de nutrientes ou a mistura com microrganismos. Uma forma de saber o
o esgoto doméstico. Por exemplo, indús- grau de biodegradabilidade do efluente é
trias do ramo alimentício e relacionadas usar a relação DQO/DBO,1 sendo DQO a
a criadouros de animais apresentam de- demanda química de oxigênio:
manda bioquímica de oxigênio (DBO) E
elevada, se comparada à do esgoto do- • DQO/DBO < 2,5 – Fração biodegra-
méstico, podendo variar de 200 a 50.000 dável elevada. Indicado tratamento
miligramas por litro (mg/l), enquanto biológico.
no caso do esgoto doméstico esta va- • 2,5 < DQO/DBO < 4 – Fração biode-
riação está na faixa de 250 a 400 mg/l.1 gradável não é elevada. Necessidade de
Por outro lado, no caso de efluentes da ensaios de tratabilidade para saber se o
indústria de laticínios, onde a carga de tratamento biológico é adequado.
efluente é proveniente de higienização, • DQO/DBO > 4 – Fração não biodegra-
descartes e vazamentos ou derrama- dável (inerte) é elevada. Tratamen-
mentos2, há baixa concentração de maté- to biológico não indicado, possibi-
ria orgânica e nutrientes (no caso da não lidade de tratamento por processos
presença do soro do leite, que deve ser físico-químicos.
preferencialmente recuperado). Por isso,
nesse caso pode haver a necessidade de Além de conhecer a biodegradabilida-
complementação de nutrientes, uma vez de do efluente, é necessário fazer ensaios
que há a necessidade de uma relação de de tratabilidade, para saber se é viável
100:5:1 de DBO:Nitrogênio:Fósforo em tratá-lo por métodos biológicos, e estu-
mg/l para viabilizar o tratamento por dos da toxicidade, para saber se existe
meio biológico.2, 3 algum poluente inibidor do crescimento
Além da matéria orgânica e de nu- de microrganismos essenciais para esse
trientes, os efluentes industriais apre- tipo de tratamento5. A opção biológica
sentam variações de cor, sólidos e ou- não é a única para esses efluentes, e os
tros poluentes. Nesta categoria, cabe tratamentos físico-químicos mostram-
citar os metais e os micropoluentes se efetivos principalmente para efluen-
orgânicos comuns em efluentes de si- tes com elevada fração não biodegradá-
derurgia, metalurgia, mineradoras, fa- vel. Os tratamentos físico-químicos são
bricação de agrotóxicos e fertilizantes, aqueles em que a remoção de matéria
galvanoplastia e indústria farmacêuti- orgânica e nutrientes não é realizada
ca, entre outras atividades de fabrica- por microrganismos, mas pela adição de
ção de produtos químicos, que podem produtos químicos (coagulação e flocu-
inibir os microrganismos responsáveis lação, ozonização, processos oxidativos
pelo tratamento biológico em razão de avançados) ou processos físicos (filtra-
sua toxicidade. ção, membranas, flotação). 5
239
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
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EFLUENTES INDUSTRIAIS
Referências bibliográficas
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EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Lívia Cristina da Silva Lobato. Engenheira civil e doutora em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG.
Fabiana Lopes Del Rei Passos. Doutora em Engenharia Ambiental pela Universitat Po-
litècnica de Catalunya (UPC), Espanha. Professora adjunta do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
242
ENQUADRAMENTO DE CORPOS D'ÁGUA E PADRÃO DE LANÇAMENTO
E
ENQUADRAMENTO DE CORPOS D’ÁGUA
E PADRÃO DE LANÇAMENTO
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EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
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ENQUADRAMENTO DE CORPOS D'ÁGUA E PADRÃO DE LANÇAMENTO
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EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
to com acidez elevada podem causar cor- celular de microrganismos, além dos
rosão na tubulação. despejos industriais, sanitários e fer-
• Ferro e manganês: são compostos pro- tilizantes. É um elemento indispen-
venientes de dissolução de solos ou de sável para crescimento de algas e mi-
despejos industriais e de mineração. crorganismos responsáveis pela esta-
Em pequenas concentrações podem bilização da matéria orgânica.
conferir cor à água e em altas concen- • Oxigênio dissolvido: é o parâmetro
trações, sabor e odor. mais utilizado para caracterização da
• Cloretos: são advindos da dissolução qualidade de um corpo d’água, pois é
de sais e minerais na água, intrusão de fundamental para a respiração de mi-
águas salinas ou de despejos industriais, crorganismos aeróbios responsáveis por
águas de irrigação e despejos domésticos. realizar a degradação da matéria orgâ-
Podem conferir sabor salgado à água. nica, essenciais no fenômeno de auto-
• Nitrogênio: é constituinte de proteínas depuração dos corpos d’água. Caracte-
e outros compostos biológicos e está rizar o oxigênio dissolvido pode indicar
presente também na composição celu- os efeitos da poluição nos corpos d’água.
lar de microrganismos. De origem an- • Matéria orgânica: é a causadora do
tropogênica, encontra-se em despejos principal problema de poluição (ver p.
industriais, domésticos, fertilizantes e 488) dos corpos d’água, que consiste no
fezes de animais. O nitrogênio pode se consumo de oxigênio do meio aquático,
apresentar de cinco formas no meio lí- por microrganismos, na sua degradação.
quido: molecular (N2), que escapa para a Pode ter origem natural, proveniente dos
atmosfera; nitrogênio orgânico; amônia próprios microrganismos ou de matéria
(NH3); nitrito (NO-2); e nitrato (NO-3). orgânica animal e vegetal, ou ter origem
Na forma de nitrato, pode causar a me- antropogênica, por meio dos despejos
taemoglobinemia, também conhecida industriais e domésticos. Devido à difi-
como síndrome do bebê azul. Na forma culdade de determinar em laboratório os
de amônia livre, pode ser tóxico aos pei- diversos componentes da matéria orgâ-
xes. No processo de transformação da nica (proteínas, gorduras, carboidratos),
amônia em nitrito, há consumo de oxi- a quantificação da matéria orgânica pre-
gênio do meio. Além disso, o nitrogênio sente no esgoto é usualmente realizada
é essencial para o crescimento de algas de forma indireta, através de testes em
e, quando em elevadas concentrações, laboratório, sendo os mais usados:
pode acarretar seu crescimento exage- - demanda bioquímica de oxigênio
rado, levando à eutrofização. Em um (DBO), que mede a quantidade de
corpo d’água, a presença de nitrogênio oxigênio requerido para estabilizar a
na forma orgânica ou de amônia está matéria orgânica presente na amostra
associada a uma poluição (ver p. 488) re- de água, por meio de processos bio-
cente, enquanto a forma de nitrato está químicos, realizada inteiramente por
associada a uma poluição mais remota. microrganismos, após um dado tem-
• Fósforo: proveniente de dissolução po (padrão, cinco dias) e temperatura
de compostos do solo, decomposição (padrão: 20ºC). É, portanto, capaz de
de matéria orgânica e da composição fornecer uma indicação aproximada
246
ENQUADRAMENTO DE CORPOS D'ÁGUA E PADRÃO DE LANÇAMENTO
247
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
consumo humano) até a classe 4 (uso (OD) deve ser maior que 6 miligramas
menos nobre, ex.: navegação e harmonia por litro (mg/l); a de sólidos dissolvidos
paisagística). A cada uma dessas classes totais, menor que 500 mg/l; DBO, até
corresponde uma determinada qualida- 3 mg/l; turbidez, até 40 UNT; e mate-
de, avaliada por condições e padrões es- riais flutuantes e óleos e graxas devem
pecíficos, a ser mantida no corpo d’água. ser virtualmente ausentes. Ainda para a
Assim, a classificação possibilita um classe 1, para o uso de recreação de con-
maior controle de poluição e monitora- tato primário deverão ser obedecidos os
mento das condições dos corpos d’água, padrões de qualidade de balneabilidade.
garantindo que a qualidade da água seja Para os demais usos, não deverá ser
compatível com os usos previstos. excedido um limite de 200 coliformes
A classe especial das águas doces é termotolerantes por 100 mililitros (ml).
aquela que apresenta melhor qualidade Já o padrão de qualidade para classe 4 es-
para o abastecimento humano, precisan- tabelece que o OD deve estar acima de 2
do apenas de uma etapa de desinfecção. mg/l e o pH entre 6 e 9, sem estabelecer
Essas águas também são destinadas à restrição aos outros parâmetros.2
preservação do equilíbrio natural das Além da importância no controle da po-
comunidades aquáticas e à preservação luição dos corpos d’água, o enquadramento
dos ambientes aquáticos em unidades é referência para os demais instrumentos
de conservação de proteção integral. de gestão de recursos hídricos (outorga,
Nessas águas é vedado o lançamento de cobrança, planos de bacia), assim como
efluentes ou disposição de resíduos do- para instrumentos de gestão ambiental
mésticos, agropecuários, de aquicultura, (licenciamento, monitoramento).
industriais e de quaisquer outras fontes
poluentes, mesmo que tratados.3 Padrão de lançamento
Para o abastecimento de água para de efluentes
consumo humano, as águas doces en-
quadradas até classe 3 podem ser usadas A Resolução 430/2011 do Conama é
desde que passem por tratamento. Os a diretriz federal que dispõe sobre as
corpos d’água classe 1 podem ser des- condições e padrões de lançamento de
tinados ao abastecimento se passarem efluentes. Os padrões de lançamento não
por tratamento simplificado. Já os cor- variam de acordo com o corpo d’água, ou
pos d’água de classe 2 devem passar por seja, independentemente de onde será
tratamento convencional, e os de classe lançado, o esgoto deve atender a todos os
3, por tratamento convencional ou avan- requisitos estabelecidos nesta resolução.
çado. Os corpos d’água de classe 4 têm As legislações estaduais devem ser sem-
como usos preponderantes a navegação pre consultadas, pois tendem a ser mais
e harmonia paisagística, não podendo restritivas que a federal. Por exemplo,
ser usados para consumo humano, con- na legislação federal, o limite para lan-
tato primário ou secundário ou desse- çamento de DBO é de 120 mg/l.3 Na De-
dentação de animais. Como exemplo liberação Normativa Conjunta Copam/
dos padrões de qualidade, na classe 1, CERH-MG 1/2008, o limite é de 60 mg/l.4
a concentração de oxigênio dissolvido As legislações estaduais podem estabele-
248
ENQUADRAMENTO DE CORPOS D'ÁGUA E PADRÃO DE LANÇAMENTO
cer padrão igual ou mais restritivo que a efetividade das políticas públicas citadas.
federal, nunca menos restritivo. O descumprimento do padrão de lança-
No caso em que o efluente satisfaça os mento compromete a qualidade dos corpos
padrões de lançamento, mas não satisfaça d’água, sendo bastante crítico em casos
os padrões de qualidade do corpo d’água, o em que impede a condição de tratabilida-
tratamento deverá ser realizado para aten- de das águas para o consumo humano. Nos
der aos padrões do corpo d’água quando períodos de crise hídrica, há ainda maior
este é mais restritivo. Essa situação pode comprometimento da qualidade das águas,
acontecer em corpos d’água com baixa ca- uma vez que se reduz a capacidade de dilui-
pacidade de autodepuração e diluição. Caso ção do despejo, o que interfere na capacida- E
o esgoto satisfaça o padrão de qualidade do de de autodepuração dessas coleções hídri-
corpo d’água, mas não satisfaça o padrão cas. Medidas estruturantes são essenciais
de lançamento, o órgão ambiental poderá para garantir que as políticas ambientais e
autorizar o lançamento com valores aci- de saneamento sejam efetivas.
ma do padrão estabelecido pela resolução É necessário comprometimento da
vigente. No entanto, essas situações são gestão pública em fiscalizar os lançamentos
excepcionais e, geralmente, ocorrem quan- de efluentes nos corpos d’água, gerenciar
do o corpo d’água tem boa capacidade de os recursos hídricos de forma que não haja
autodepuração e de diluição. Neste caso, conflito de usos da água e nem se necessite
é importante a realização de estudos am- fazer racionamento do abastecimento pa-
bientais para avaliar se a qualidade da água ra consumo humano, além de sensibilizar
permanecerá dentro dos padrões estabele- toda a sociedade por meio de programas
cidos para sua classe de enquadramento. de educação continuada sobre as consequ-
É importante ressaltar que o não ências de se despejar os esgotos brutos nos
cumprimento da legislação interfere na corpos d’água.
Referências bibliográficas
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Lívia Cristina da Silva Lobato. Engenheira civil e doutora em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG.
Fabiana Lopes Del Rei Passos. Engenheira civil e doutora em Engenharia Ambiental
pela Universitat Politècnica de Catalunya (UPC), Espanha. Professora adjunta do De-
partamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
E
EPIDEMIOLOGIA
250
EPIDEMIOLOGIA
cial, saúde pública, matemática, estatísti- vam-se mal. Essas condições favoreceram
ca, demografia, ciências sociais e geografia. a propagação de doenças infectocontagio-
A epidemiologia coloca em evidência a sas e o aparecimento de epidemias.
distribuição desigual das doenças, identi- Duas correntes explicavam o apareci-
fica populações vulneráveis e expostas a mento das doenças: a Teoria Contagio-
riscos de contrair doenças e agravos por nista buscava uma causa específica e as
saneamento inadequado no município e medidas estavam centradas no indivíduo;
fornece subsídios para a caracterização e a Teoria da Constituição Epidêmica
territorial e a priorização das ações. (anticontagionista ou miasmática) enfa-
A maneira de perceber a saúde, a do- tizava a importância da predisposição do E
ença e suas causas influenciou a forma corpo, do modo de vida, da ocupação, das
de conceber a epidemiologia ao longo da condições insalubres no surgimento das
história. Segundo as concepções vigen- doenças, focando as medidas de controle
tes à época, variaram as formas de pre- no ambiente. Seus adeptos protagoniza-
venção e de intervenção sobre doenças ram reformas urbanas para melhorar as
e danos relacionados à saúde. A histó- condições sanitárias das cidades e a qua-
ria da epidemiologia confunde-se com a lidade de vida dos trabalhadores.
história da medicina e da saúde pública Em inícios do século 19, a cólera che-
(ver p. 636), e com as teorias de causali- gou à Europa e, em Londres, aconteceu
dade das doenças. uma epidemia no período de 1849-1854.
O médico e filósofo grego Hipócrates O médico John Snow descobriu a causa e
(século 5 a.C.) – considerado o pai da a maneira de transmissão da cólera pela
medicina, pois a transformou em ciên- água contaminada do Rio Tâmisa, antes
cia – estudou as doenças epidêmicas e da descoberta dos microrganismos como
as relacionou com variações geográficas, agentes causadores de doenças.3 Snow é
alimentação, estações do ano, alterações considerado o pai da epidemiologia mo-
climáticas, ventos, águas e outras influ- derna devido à organização lógica de suas
ências ambientais.2 observações por meio da descrição e da
Na Idade Média (séculos 5 a 15) as epi- análise da epidemia. O Vibrio cholerae,
demias eram produzidas por punição di- agente etiológico da cólera, foi descoberto
vina, segundo o clero, ou por conjunções quase 30 anos depois, em 1883. O estudo
astrológicas, climáticas, ambientais, sa- de Snow permitiu detectar a companhia
nitárias, segundo os médicos. Durante o responsável pelo fornecimento de água
Renascimento e o Iluminismo (séculos 16 contaminada – entre as várias existentes
a 19), ocorreram grandes transformações em Londres – e tomar as medidas neces-
na maneira de compreender o mundo e in- sárias para a resolução do problema.4, 5
tenso desenvolvimento do conhecimento. No século 20, houve mudanças signifi-
No século 19, com a urbanização e o cativas na investigação epidemiológica. A
desenvolvimento industrial, a popula- partir dos anos 1960, houve incorporação
ção das cidades europeias cresceu rapi- da computação eletrônica com forte in-
damente. As moradias eram precárias, fluência das matemáticas. Na década de
sem saneamento, as jornadas de trabalho 1970, houve grande desenvolvimento de
eram extensas e os operários alimenta- técnicas de coleta e análise de dados epi-
251
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
252
EPIDEMIOLOGIA
• Onde ocorre o problema (país, região, lidade infantil por doenças específicas,
estado, município, distrito, bairro, rua, mortalidade geral por diferentes causas
área urbana, área rural, periferia, fa- de doenças, mortalidade proporcional
vela, área de risco, assentamento, área por grupos de causas, letalidade por do-
quilombola, área indígena)? enças infecciosas.
• Quando acontece o problema (déca- As taxas ou coeficientes de incidência e
da, ano, mês, semana, dia, hora, esta- de prevalência representam os principais
ção do ano, períodos chuvosos e não indicadores epidemiológicos de morbida-
chuvosos)? de (doença). Esses indicadores são funda-
• Como ocorre o problema/doença? Qual mentais para a identificação de variações E
a associação com condições específicas, de eventos ao longo do tempo (séries his-
com agentes etiológicos, vetores, fontes tóricas) ou comparações de frequências de
de infecção, grupos susceptíveis, falta doenças em diferentes grupos e territórios.
de infraestrutura sanitária? A taxa de incidência é uma medida de
• Por que o problema ocorre e quais os risco: mede o número de novos casos (do-
motivos para sua persistência? entes) que ocorrem em uma população
• E então, qual foi o resultado? definida, em um período especificado de
• Quais intervenções foram implementa- tempo – geralmente, um ano. É o melhor
das? Houve melhoria? indicador para evidenciar se um even-
to está aumentando, diminuindo ou se
Os dados disponíveis nas fontes de in- permanece estático. É utilizada na vigi-
formações estão geralmente em forma de lância epidemiológica – uma das formas
números absolutos (ex.: 32 casos de den- operacionais da vigilância em saúde (ver
gue; 1.567 casos de doença diarreica). Es- p. 779)– para avaliar programas de saúde,
tes dados são utilizados para monitorar a sendo apropriada para medir doenças de
ocorrência de doenças infectocontagio- curta duração como doenças diarreicas e
sas – sobretudo em surtos e epidemias dengue. Já a taxa de prevalência mede
– quando as populações envolvidas estão o número total de casos existentes (no-
restritas a um local e tempo. vos e antigos) em uma população e em
Os indicadores de saúde mais utili- determinado tempo. Serve para medir
zados são os de morbimortalidade e problemas crônicos como doença de Cha-
de oferta de serviços de saúde. Estes gas, leishmaniose e hipertensão arterial,
últimos referem-se ao acesso a progra- apresentando o panorama do problema
mas e serviços de saúde (agentes de saú- de saúde na população.
de, posto e centro de saúde, hospitais), Para fins de elaboração do planeja-
educação em saúde, disponibilidade de mento municipal em saneamento, é
alimentos e nutrição, acesso aos compo- importante destacar os casos novos de
nentes do saneamento básico, prevenção doenças, apresentados em números ab-
e controle de doenças endêmicas, saúde solutos, e as respectivas taxas de inci-
materno-infantil, acesso a medicamen- dência. A utilização de números absolu-
tos e tecnologias médicas.10 tos para fins de comparação pode levar
Entre os indicadores de mortalidade a conclusões errôneas. Por isso, para re-
mais importantes estão: taxa de morta- alizar comparações é essencial o cálculo
253
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
Referências bibliográficas
254
EPIDEMIOLOGIA
255
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
E
ESGOTO SANITÁRIO
A geração do esgoto sanitário é o motivo sanitário – é composto 99% por água ad-
pelo qual os serviços de esgotamento sa- vinda de urina, da descarga sanitária, de
nitário são requeridos no planejamento banho e/ou lavagem, e o outro 1% é com-
de um domicílio, bairro e/ou município. posto por sólidos orgânicos e inorgânicos,
Os serviços de esgotamento sanitário como fezes, papel, restos de alimentos e
compreendem a coleta, o transporte, o sabão.2 Em geral, o esgoto doméstico é
tratamento e a disposição final, com- constituído por3:
pondo um dos quatro componentes do
saneamento básico. Se o esgoto não for • Esgoto fisiológico ou fecal: também
corretamente destinado, pode haver di- conhecido por águas fecais, é aquele
versos impactos do seu lançamento ina- proveniente de descarga de sanitá-
dequado no meio ambiente e na saúde do rios, contribuindo para alta carga de
ser humano, o que por sua vez pode vir a microrganismos patogênicos, ou seja,
afetar a saúde pública e a expectativa e a microrganismos transmissores de do-
qualidade de vida. enças. É o componente que traz mais
O termo "esgoto sanitário" é usado riscos sanitários.
para caracterizar despejos originados • Esgoto de cocção: é proveniente de
das seguintes fontes: doméstico, in- atividades de preparo e limpeza de
dustrial, e águas de infiltração.1 A com- alimentos nas cozinhas e, por isto, é ca-
posição do esgoto e sua contribuição racterizado por altas concentrações de
devem ser estimadas para se projetar o óleos e gorduras. Devido a essa contri-
sistema de tratamento. Nesse sentido, buição, é necessária a instalação de cai-
é preciso definir o nível de tratamento xas de gordura para reter esses compos-
de esgoto que se deve adotar e escolher tos antes desses despejos serem mistu-
um processo tecnológico que melhor se rados com o esgoto fecal e profilático a,
adeque à realidade local. posteriormente, tratar.
• Esgoto profilático: também conhecido
Características como águas servidas, é o esgoto prove-
niente da limpeza do corpo, roupas e am-
Os esgotos sanitários têm, comumente, bientes, contendo detergentes e sabões.
características bem definidas e são ori-
ginados principalmente de atividades Atualmente, o esgoto profilático e o es-
domiciliares ou de edifícios comerciais, goto de cocção, juntos, são chamados de
escolas e outras instituições, provenien- águas cinzas. Esta divisão entre águas
tes das águas utilizadas em banheiros, fecais e cinzas surge no âmbito do apro-
lavanderias e cozinhas. O esgoto domés- veitamento dos subprodutos do trata-
tico – o principal contribuinte do esgoto mento dos esgotos, visando o reúso, que
256
ESGOTO SANITÁRIO
é uma alternativa para rota do esgoto a água foi submetida. Existem, ainda, ou-
tratado que não o corpo receptor. Como o tras condicionantes, como a disponibili-
esgoto possui uma série de compostos de dade de água na região, as interconexões
interesse e valor agregado, os subprodu- com o manejo de águas pluviais (ver p.
tos líquidos sólidos e gasosos provenien- 368), contribuições de efluentes indus-
tes do tratamento podem ser usados, de- triais (ver p. 238) e alterações nas carac-
pendendo das condições, na agricultura, terísticas do esgoto ao longo do tempo.
na indústria e no meio urbano. Os parâmetros são os mesmos que os de
Embora ainda não exista um consenso qualidade das águas e, geralmente, para
sobre essas denominações (águas cinzas esgoto doméstico apresentam-se com ca- E
e águas fecais) e as soluções coletivas de racterísticas específicas6:
esgotamento sanitário no Brasil (ver p.
664) não fazerem a coleta, o transporte • Temperatura: ligeiramente superior à
e o tratamento separado dessas águas, da água de abastecimento e varia con-
esses termos vêm sendo utilizados prin- forme as estações do ano.
cipalmente ao referir-se ao uso dessas • Cor: no esgoto fresco a cor é ligeiramente
águas para outras atividades. O trata- cinza e no esgoto séptico, ou seja, aquele
mento separado desses dois efluentes mais ‘’velho’’, cinza escuro ou preta.
pode ser benéfico em termos de eficiên- • Odor: no esgoto fresco o odor é razoavel-
cia de tratamento, custo-benefício da mente desagradável, similar ao cheiro de
instalação e aproveitamento de subpro- mofo. enquanto no esgoto séptico é mui-
dutos gerados. Diversas soluções indivi- to desagradável devido ao gás sulfídrico
duais de esgotamento sanitário (ver p. e outros produtos da sua decomposição.
673) vêm sendo implementadas com se- • Turbidez: em esgotos mais frescos ou
paração de águas cinzas e fecais. mais concentrados a turbidez é maior,
No caso das águas cinzas, é importante uma vez que é causada por uma grande
que a caixa de gordura seja dimensiona- variedade de sólidos em suspensão.
da de forma correta e que a manutenção • Sólidos totais: podem ser classificados
seja periódica. O entupimento das tubu- como orgânicos e inorgânicos, sedi-
lações domiciliares devido à falta dessa mentáveis ou suspensos e dissolvidos.
estrutura ou à manutenção deficiente é Os sólidos são responsáveis pela cor e
um grave problema sanitário que ocorre turbidez. Em um esgoto forte, ou seja,
tanto nas cidades quanto nas áreas ru- muito concentrado, esperam-se valores
rais. Por isso, deve-se instalar correta- típicos de 1.160 miligramas por litro
mente as caixas de gordura de acordo com (mg/l) de sólidos totais e, no esgoto
a NBR 8.160/1999.5 fraco, ou pouco concentrado, 370mg/l.
• Matéria orgânica: é a mistura de
Composição do esgoto diversos compostos orgânicos, co-
mo proteínas, carboidratos e lipídios,
Assim como as águas naturais têm seus e representada como demanda bio-
parâmetros de qualidade , o esgoto bru- química de oxigênio (DBO), que, nos
to deve ser caracterizado quanto a esse esgotos domésticos varia entre 100 e
aspecto – que vai depender do uso ao qual 400mg/l, ou pela demanda química de
257
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
oxigênio (DQO), que nos esgotos do- gânica. Valores muito baixos de alca-
mésticos vai de 200 a 800mg/l. No es- linidade podem indicar condições de
goto doméstico, a relação DQO/DBO baixo pH, o que afeta a taxa de cresci-
varia entre 1,7 e 2,4, caracterizando mento dos microrganismos.
elevada biodegradabilidade e indica- • Cloretos: estão presentes na excreta
ção de tratamento biológico. humana e, por isso, sempre também
• Nitrogênio total: no esgoto, o nitrogê- no esgoto. No entanto, os tratamen-
nio – na forma orgânica ou amoniacal tos convencionais praticamente não
– provém, principalmente, das fezes os removem.
e da urina. A presença de nitritos ou • Óleos e graxas: aqueles presentes no es-
nitratos no esgoto bruto caracteriza goto são provenientes do uso de óleos e
um esgoto mais velho ou despejo de gorduras utilizados na cozinha.
efluentes industriais. A presença do ni-
trogênio é essencial para o crescimento Problemas interligados
dos microrganismos responsáveis pelo
tratamento de esgoto. No esgoto mais Problemas na gestão das águas acarre-
concentrado, o valor típico de nitrogê- tam problemas no esgotamento sanitá-
nio total é de 85 mg/l ao passo que para rio, tanto nas medidas estruturais quan-
o esgoto fraco, ou menos concentrado, to estruturantes. No caso de escassez hí-
fica em 20 mg/l. drica há interferência direta na geração
• Fósforo: no esgoto apresenta-se na de esgoto e isso também interfere nas
forma de fosfatos nas formas inor- suas características físicas, químicas e
gânica (proveniente de detergentes e biológicas, uma vez que este fica mais
produtos químicos domésticos) e or- concentrado. Em muitos casos, quando
gânica (fezes e urina). A presença do há racionamento, os picos de consumo
fósforo é essencial para o crescimento de água são maiores em horários defini-
dos microrganismos responsáveis pela dos devido a essa intermitência, assim
estabilização da matéria orgânica. No como os picos de vazão nas estações de
esgoto mais concentrado, o valor típi- tratamento de esgoto.
co de fósforo total é de 20mg/l. Já para Para a gestão do saneamento é impor-
o esgoto fraco, ou menos concentrado, tante conhecer a composição do esgoto,
de 5mg/l. principalmente para casos de escassez
• pH: indica as características básicas ou hídrica. Conhecer o esgoto que o municí-
ácidas do esgoto. O valor típico varia pio gera permite pensar em alternativas
entre 6,5 e 7,5 para esgoto fresco e va- de tratamento visando o reúso ou apro-
lores inferiores a 6 para esgoto séptico. veitamento e recuperação dos subprodu-
• Alcalinidade: a alcalinidade é um im- tos. Com os devidos cuidados, pode-se
portante parâmetro a ser determi- optar por efluentes tratados para usos
nado no processo de tratamento do menos nobres como lavagem de carros,
esgoto, uma vez que identifica se há galpões e calçadas – que consomem mui-
variações de pH que poderiam estar ta água e não necessitam da mesma qua-
afetando os microrganismos respon- lidade que a água para consumo – , sem
sáveis pela oxidação da matéria or- risco para a saúde humana.
258
ESGOTO SANITÁRIO
Referências bibliográficas
Lívia Cristina da Silva Lobato. Engenheira civil e doutora em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG.
Izabel Cristina Chiodi de Freitas. Engenheira civil pela UFMG, especialista em Saúde
Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Fabiana Lopes Del Rei Passos. Doutora em Engenharia Ambiental pela Universitat Po-
litècnica de Catalunya (UPC), Espanha. Professora adjunta do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
E
ESTRUTURA OPERACIONAL, GERENCIAL E
FISCALIZATÓRIA DE RESÍDUOS SÓLIDOS
A gestão dos serviços de limpeza urbana e Os municípios com frequência não têm
de manejo de resíduos sólidos constitui- um órgão específico e independente de-
-se em um dos maiores desafios enfrenta- dicado exclusivamente à prestação dos
dos pelas administrações públicas. A falta serviços de limpeza urbana (ver p. 351)
de planejamento integral dos sistemas ca- e gestão dos resíduos sólidos (ver p. 289).
racteriza o principal entrave para a gestão Também é comum, nos municípios de
adequada, com situações inapropriadas pequeno porte, a divisão das atividades
em diversos municípios, como: coleta que entre duas secretarias municipais, como
não atende a malha urbana total e também a de obras e a de meio ambiente. A estru-
das áreas rurais sem o registro e a otimi- tura administrativa responsável apresen-
zação de rotas; sistemas de disposição final ta-se integrada à administração direta do
inadequados; falta de dispositivo legal que município ou, em alguns casos, organiza-
regulamente e promova a cobrança dos ser- -se sob a forma de autarquia.
viços; e soluções individuais predominan- Segundo a Associação Brasileira de
tes, com custos de implantação e operação Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
per capita muito maiores nos pequenos mu- Especiais (Abrelpe)1, na maior parte das
nicípios pela ausência de escala. cidades do país, o atual modelo de gestão
A estrutura operacional, gerencial e fis- dos resíduos e dos serviços de limpeza ur-
calizatória (ver p. 260) é uma temática bana está focado na sua implementação
presente na elaboração dos Planos de Ges- e fiscalização, enquanto o planejamen-
tão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRSs) to, com uma visão de longo prazo, ainda é
e um dos principais instrumentos da Polí- pouco fomentado. A fiscalização da pres-
tica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). tação dos serviços e avaliação da resposta
Deve-se avaliar se e a equipe operacio- do munícipe usuário é deficiente e, em
nal é suficiente para o atendimento; se é geral, consiste em verificar se os resídu-
realizado o mapeamento das áreas aten- os foram dispostos em local ou horário
didas pelos roteiros de coleta; se há medi- inadequados, fato que é dificilmente veri-
ção da quantidade dos resíduos; como são ficado na inspeção de rotina dos agentes
realizados o tratamento e a destinação públicos que passam a agir a partir de de-
final desses resíduos; quais as secreta- núncias, com total dependência da infra-
rias responsáveis pelos serviços, equipa- estrutura disponibilizada por seus órgãos
mentos e veículos utilizados; se existem para verificar os fatos in loco.
indicadores de desempenho para monito- A prioridade no gerenciamento do
ramento dos serviços, ou seja, como fun- manejo dos resíduos é um planejamento
ciona a estrutura operacional, gerencial e específico das atividades. Segundo a Polí-
fiscalizatória da área. tica Nacional de Resíduos Sólidos, a ati-
260
ESTRUTURA OPERACIONAL, GERENCIAL E FISCALIZATÓRIA DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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ESTRUTURA OPERACIONAL, GERENCIAL E FISCALIZATÓRIA DE RESÍDUOS SÓLIDOS
senta uma série histórica coletada desde realizadas por administração pública dire-
2002. Entre as principais informações ta5. Também é possível encontrar dados e
apontadas, tem-se a elevada cobertura do informações em pesquisas nacionais como
serviço regular da coleta indiferenciada a da Associação Brasileira de Limpeza Pú-
domiciliar de resíduos sólidos de 98,8% da blica (Abrelpe), que desde 2003 mapeia o
população urbana, para a coleta seletiva cenário nacional da área por meio do Pa-
apontou a presença do serviço em 22,4% norama dos Resíduos Sólidos no Brasil6.
dos municípios brasileiros. A despesa total Ressalta-se a necessidade de a comunica-
com manejo de resíduos sólidos no ano de ção pública das informações sobre os resí-
2017 foi de R$ 121,62 por habitante5. duos sólidos estar atualizada, de forma que E
A fragilidade da sustentabilidade fi- possa prestar contas da qualidade dos ser-
nanceira mantém-se no setor: apenas viços à sociedade, e para que a população
46,3% dos municípios fazem cobrança possa avaliar a efetividade do cumprimen-
pelos serviços e 56,2% da prestação dos to das metas do planejamento, visando à
serviços de manejo de resíduos sólidos são promoção da saúde e da qualidade de vida.
Referências bibliográficas
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EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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FINANCIAMENTO DO SANEAMENTO
266
FINANCIAMENTO DO SANEAMENTO
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EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
268
FINANCIAMENTO DO SANEAMENTO
Referências bibliográficas
269
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
mOTMtNGJiMS05ODMwLTYzNDY3NTJmMDNlNCIsImMiOjF9.
F
FISCALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS
270
FISCALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS
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EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
Referências bibliográficas
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FISCALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS
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FUNASA: RELATO HISTÓRICO DA ATUAÇÃO NOS MUNICÍPIOS
273
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
274
FUNASA: RELATO HISTÓRICO DA ATUAÇÃO NOS MUNICÍPIOS
275
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
Referências bibliográficas
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tp://www.funasa.gov.br/a-funasa1.
276
FUNDOS DE UNIVERSALIZAÇÃO DE SANEAMENTO
Diógenes Otero Galhardo Braga. Engenheiro civil pelas Faculdades Reunidas Nuno Lis-
boa, especialista em Arquitetura do Sistema de Saúde pelo Ministério da Saúde (MS) e
pela Universidade de Brasília (UnB); em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde
Pública (Ensp) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); e em Altos Estudos de Política e
Estratégia pela Escola Superior de Guerra (ESG). Engenheiro da Funasa.
F
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FUNDOS DE UNIVERSALIZAÇÃO DE SANEAMENTO
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EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
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FUNDOS DE UNIVERSALIZAÇÃO DE SANEAMENTO
álogo com outros conselhos, como os de Os critérios gerais são os mesmos. Ad-
saúde, meio ambiente e das cidades.7 mitem a transferência para os FMSB de
Nesse sentido, o sucesso da utilização até 4% da receita líquida tarifária acumu-
dos fundos está condicionado a um bom lada pelo prestador de serviço regulado
processo de controle social e de comunica- em cada cidade, desde que o município
ção pública. Portanto, um órgão delibera- atenda a critérios como contar com:
tivo e fortalecido é importante para garan-
tir uma boa gestão dos recursos do FMSB. • Plano Municipal de Saneamento Básico
(PMSB);
Regulação • Fundo Municipal ou Intermunicipal de
Saneamento Básico, criado por lei;
A regulação possui relação direta com • Conselho Municipal de Saneamento
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o financiamento (ver p. 265) dos servi- Básico, que deverá participar da defini-
ços de saneamento, pois deve garantir o ção das diretrizes e mecanismos para o
cumprimento das condições e metas es- acompanhamento, fiscalização e con-
tabelecidas por meio dos planos de sanea- trole do Fundo de Saneamento.
mento, e, principalmente, editar normas
e regras associadas à cobrança, obtenção No caso da Arsae, o potencial de re-
e aplicação de recursos financeiros nos passe para os FMSBs anualmente é de
prestadores de serviços. R$ 155 milhões em valores de 2018.11Já
O ente regulador pode criar mecanismos no primeiro ano, 60 municípios tiveram
de financiamento que se assemelham aos o repasse reconhecido, e destes, 51 pos-
fundos, com a diferença de que eles deverão suem população menor do que 50.000
ser internos ao prestador. Nesse sentido, a habitantes, perfazendo um montante de
Arsae-MG desenvolveu o conceito de desti- aproximadamente R$ 70 milhões anuais.
nação específica para itens que devam ter Os normativos são um passo importan-
um tratamento regulatório diferenciado. O te, em especial no avanço rumo à univer-
percentual da receita associado a cada um salização dos serviços, pois possibilitam
desses itens deverá ser depositado em uma o investimento também no manejo de
conta vinculada e somente poderá ser aces- resíduos sólidos (ver p. 568) e de águas
sado pelo prestador para cumprir os objeti- pluviais (ver p. 368). Além disso, ao con-
vos acordados com o regulador.8 dicionar os repasses à existência de con-
Além dessa possibilidade, alguns regu- selho e do PMSB, trabalha-se na direção
ladores têm trabalhado para incentivar a de articular o fundo com o planejamento,
criação de FMSBs, por meio do reconheci- o controle social e a própria regulação.
mento tarifário do repasse de parcela da
receita dos prestadores a fundos munici- Planejamento e os
pais de Saneamento. Um ponto interes- fundos municipais
sante é que o repasse independe dos pres-
tadores, diminuindo o poder de barganha O alinhamento das ações financiadas
que estes utilizavam. Tanto a Arsae (MG) pelos fundos com os planos faz com que
quanto a Arsesp (SP) publicaram norma- os recursos utilizados atendam aos obje-
tivos com esse objetivo.9, 10 tivos da política pública. Grande parte
279
EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
Referências bibliográficas
280
FUNDOS DE UNIVERSALIZAÇÃO DE SANEAMENTO
regulados pela Arsesp, aos fundos municipais de saneamento básico. São Paulo:
Arsesp, 2019.
11. ARSAE-MG. Nota técnica GRT 08/2017 – mecanismo de reconhecimento dos re-
passes tarifários para fundos de saneamento básico. Belo Horizonte: Arsae-MG, 2018.
281
G
GÊNERO E SANEAMENTO
O que o gênero das pessoas tem a ver com das soluções implantadas e das políticas
o saneamento e seus componentes? públicas relacionadas.
Para adentrar a questão, primeiramen- Os papéis desempenhados são determi-
te se faz fundamental a compreensão do nados pelo que chamamos de “relações de
conceito de gênero, que pode ser definido gênero”, que consistem em um conjunto
como: “o papel, posição, atributos sociais e de comportamentos associados à mascu-
oportunidades associados a como ser homem linidade e feminilidade, em um grupo ou
ou mulher. Gênero compete ao que é espera- sistema social. O processo de produção
do, permitido e valorizado em uma mulher desses comportamentos não se dá de for-
ou um homem. Faz parte do sociocultural ma individual, mas depende das posições
mais amplo, situação econômica e política. que esses indivíduos ocupam em uma de-
Esses atributos e as oportunidades são so- terminada coletividade e em situações
cialmente construídos pelos contextos, pelo sociais concretas.2
tempo e são mutáveis”.1 (Tradução de UN
Women, 2015). Mulheres mais impactadas
Atualmente, contudo, vale ressaltar
que gênero não se refere mais à bina- No que tange ao saneamento, é perceptí-
ridade dos sexos – homem e mulher –, vel que as funções são atribuídas confor-
mas também inclui a transgeneridade, me os papéis de gênero socialmente esta-
que consiste na autorrepresentação de belecidos e refletidos na divisão sexual
uma pessoa. Assim, além dos heteros- do trabalho, que atribui responsabilida-
sexuais ou cisgêneros, é importante des diferentes aos homens e às mulheres.
destacar que toda a variedade de identi- A definição das atividades se deve à cons-
dade de gênero ou de orientação sexual, trução histórico-cultural da sociedade,
reconhecida pela sigla LGBTQ+, pode es- ainda muito embasada no patriarcado.
tabelecer relações distintas com o sane- O termo designa o sistema social em que
amento no que tange às responsabilida- homens adultos mantêm o poder primá-
des e aos possíveis impactos decorrentes rio e predominam em funções de lideran-
GÊNERO E SANEAMENTO
283
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
adequada;9 ter que destinar muito tempo luções privadas e seguras,15 sobretudo
a estas funções, impedindo a dedicação no período menstrual16-18. Fatores como
a trabalhos remunerados, estudo ou até boa localização no terreno, privacidade,
mesmo lazer;9 ter seu trabalho doméstico segurança para uso e o acesso, tamanho
dificultado; submeter-se ao risco de ata- e boa ventilação influenciam a aceitação
que de animais, violência sexual ou ou- da solução, que pode ter a sua sustenta-
tros tipos de coerções durante o caminho bilidade comprometida a depender do
ou a coleta da água.10-12 julgamento delas. É pertinente destacar
Nos domicílios, é tarefa feminina a que a instalação sanitária também deve
gestão da água coletada, seja no trata- ser capaz de proporcionar um local
mento domiciliar, por meio da filtração, adequado para os banhos.
cloração ou fervura; no acondicionamen- Quando a solução sanitária é
to dessa água em garrafas, potes de barro ausente, ou as pessoas optam pela de-
ou outros materiais disponíveis; ou na fecação a céu aberto, as mulheres são
divisão da água para os diferentes usos, desproporcionalmente expostas a uma
como ingestão, higiene, limpeza, desse- série de riscos como a violência sexual,
dentação animal e cultivo de hortas.13 ataque de animais, estresse psicossocial,
São as mulheres as primeiras a perceber ameaças à sua dignidade e à sua privacida-
quando a água está com alguma altera- de19 e comprometimento da higiene, que
ção organoléptica, ficando a cargo delas pode acarretar sérios problemas de saúde.
o direcionamento para usos menos no- A falta de destinação final dos efluen-
bres ou descarte da água quando alguma tes sanitários ou a disposição direta das
alteração é notada.5 A baixa quantidade excretas no terreno expõe as mulheres a
de água também compromete a higiene maiores riscos de contaminação pela ex-
adequada – sobretudo no período mens- posição direta.19 As crianças, cujo cuida-
trual – e implica maiores dificuldades ou do diário recai sobre as mulheres, tam-
constrangimentos no banho. bém são muito expostas a estes riscos
de contaminação. Uma vez que algum
No esgotamento sanitário e no integrante da família se contamine com
manejo de resíduos sólidos doenças relacionadas à falta de sanea-
mento, seu cuidado também fica sob a
Por permanecerem maior tempo no do- responsabilidade das mulheres.
micílio, também são as mulheres as mais São também as mulheres, majoritaria-
impactadas por instalações ausentes ou mente, que se incubem da gestão domici-
precárias de esgotamento sanitário (ver p. liar dos resíduos sólidos (ver p. 568): fazem
256).14 Quando as soluções estão presentes, a higienização dos locais de armazena-
elas são as responsáveis pela limpeza dos mento, o recolhimento, a sua separação
banheiros e assumem um papel impor- (quando realizada) e os dispõem para a
tante de orientação e incentivo ao uso da coleta e sua destinação final.20 Em locali-
solução pelos demais membros da família. dades onde não há coleta dos resíduos, são
Recai mais fortemente sobre as mulhe- elas quem se encarregam de fazer a dispo-
res fatores como o pudor e a vergonha e, sição final (ver p. 210), seja pela queima ou
por isso, elas têm maior demanda por so- pelo aterramento destes materiais.
284
GÊNERO E SANEAMENTO
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
Referências bibliográficas
286
GÊNERO E SANEAMENTO
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS GÊNERO E SANEAMENTO
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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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Podcast
Vídeos
FALTA de acesso à água e saneamento é pior para as mulheres, alerta ONU. Entre-
vistadas: Sonaly Rezende e Bárbara Brenda. Produção e reportagem: Soraia Fide-
lis. TV UFMG, 2018. 1 vídeo (2 min). Disponível em: https://www.youtube.com/ G
watch?v=rqumMO9JHdY.
RELAÇÕES de gênero no saneamento. Com Bárbarah Silva. INCT ETEs Sus-
tentáveis, 2020. 1 vídeo (6 min). Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=iQQXD-370fw.
Filme
A Fonte das Mulheres, 135 min. Diretor: Radu Mihaileanu. Elenco: Hiam Abbass, Leila
Bekhti, Hafsia Herzi, Zinedine Soualem . País de origem: França/Bélgica/Itália. Ano
de produção: 2011
G
GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
ambiental, cultural e social, com controle com atividades compatíveis com as dos
social e sob a premissa do desenvolvimento demais sistemas do saneamento ambien-
sustentável”. Num Plano Municipal de Sa- tal, sendo essencial a participação ativa e
neamento Básico pode ser apresentado o cooperativa dos setores públicos e priva-
Plano Municipal de Gestão Integrada de dos, e da população em geral.
Resíduos Sólidos (ver p. 463), atendendo o Alguns princípios devem ser nortea-
preconizado na Lei Federal 11.445/20071 dores do conjunto de ações que formam
e na Lei Federal 12.305/20102. o gerenciamento dos resíduos de uma co-
A Lei 14.026/2020, que atualiza o mar- munidade. São eles:
co legal do saneamento, define no seu ar-
tigo 17 que “o serviço regionalizado de sa- • equidade: todos os cidadãos têm direito a
neamento básico poderá obedecer a plano um sistema de manejo de resíduos apro-
regional de saneamento básico elaborado priado por razões de saúde ambiental;
para o conjunto de municípios atendidos • efetividade: o modelo de gestão de re-
e o plano regional de saneamento básico síduos aplicado resultará na eliminação G
dispensará a necessidade de elaboração e segura de todos os resíduos;
publicação de planos municipais de sane- • eficiência: o manejo de todos os resídu-
amento básico”3. os é realizado por meio de maximizar
Portanto, o termo gestão é empregado os benefícios, minimizar os custos e
para definir decisões, ações e procedimentos otimizar o uso de recursos;
adotados em nível estratégico, enquanto o • sustentabilidade: o sistema de mane-
gerenciamento visa à operação dos siste- jo de resíduos é apropriado às condi-
mas de limpeza urbana. ções locais e viável desde uma pers-
Assim, a prioridade dada à redução de pectiva técnica, ambiental, social,
resíduos ou a uma determinada tecnolo- econômica, financeira, institucional
gia de destinação final é uma tomada de e política. O sistema pode manter-se
decisão em nível de gestão. Para viabili- no tempo sem esgotar os recursos do
zar essa tomada de decisão é imprescin- qual o sistema depende.
dível estabelecer as condições políticas,
institucionais, legais, financeiras, sociais Cenário brasileiro
e ambientais apropriadas.
Por sua vez, os aspectos tecnológicos e Segundo a Associação Brasileira de Em-
operacionais relacionados a determinado presas de Limpeza Pública e Resíduos Es-
programa de redução na fonte ou a imple- peciais (Abrelpe)4, o Brasil coletou apro-
mentação de um aterro de disposição de ximadamente 71,6 milhões de toneladas
rejeitos – o que envolve também os fato- de resíduos sólidos (RS) no ano de 2017,
res administrativos, econômicos, sociais, com um índice de cobertura de coleta de
entre outros – são de atribuição do geren- 91,24%. Da totalidade dos municípios
ciador do sistema de limpeza pública. brasileiros, 3.923 municípios apresenta-
O gerenciamento de resíduos sólidos ram alguma iniciativa de coleta seletiva
urbanos deve ser integrado, ou seja, de- (ver p. 551), embora em muitos municí-
ve englobar etapas articuladas entre si, pios essas atividades não abrangessem a
desde a não geração até a disposição final, totalidade de sua área urbana.
291
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Referências bibliográficas
292
GESTÃO ASSOCIADA
https://www.mdr.gov.br/images/stories/ArquivosSNSA/Arquivos_PDF/ReCesa/ges-
taointegradaderesiduossolidosurbanos-nivel1.pdf.
Prosab. Coletânea de livros sobre saneamento básico. Disponível em: http://www.finep.
gov.br/apoio-e-financiamento-externa/historico-de-programa/Prosab/produtos.
G
GESTÃO ASSOCIADA
293
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
294
GESTÃO ASSOCIADA
• apoio técnico qualificado para os pres- A gestão associada por meio de convênio G
tadores locais dos serviços; de cooperação (ver p. 164) é realizada me-
• realização de concursos públicos, capa- diante a associação bilateral entre dois
citação e desenvolvimento de pessoal; entes federados para a execução de quais-
• realização de programas de educação quer atividades de interesse comum.
ambiental; No caso dos serviços de saneamento
• implantação e gestão de programas básico, o município pode delegar a en-
de controle de perdas e de eficiência tidades públicas de outro município ou
energética; do estado, por meio de convênio de coo-
• implantação e gerenciamento de labo- peração, as atividades administrativas e
ratório regional de controle da quali- técnicas de regulação e fiscalização ou a
dade da água para o consumo humano; prestação desses serviços.
Referências bibliográficas
295
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
G
GESTÃO COMPARTILHADA OU CONSORCIADA
DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Os consórcios têm sido vistos como uma cípios que buscam alternativas de local
alternativa no campo da gestão de resí- para a disposição final como para o ga-
duos sólidos (RS), tanto para os muni- nho de escala.
296
GESTÃO COMPARTILHADA OU CONSORCIADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS
297
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
298
GESTÃO COMPARTILHADA OU CONSORCIADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Referências bibliográficas
299
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
300
GESTÃO DE ATIVOS
G
GESTÃO DE ATIVOS
A definição contábil de ativo o define co- em 2008, pelo Institute of Asset Manage-
mo conjunto de bens, valores, créditos, ment (IAM) com a colaboração do British
direitos e assemelhados que formam o pa- Standards Institute (BSI).
trimônio de uma pessoa singular ou cole-
tiva e que são avaliados pelos respectivos Versão brasileira G
custos. São considerados neste verbete
apenas os ativos tangíveis, ou seja, os bens A série brasileira NBR ISO 55.000, publi-
materiais que compreendem a estrutura cada no mesmo ano, foi traduzida pela
física de um determinado sistema. Comissão de Estudos Especiais de Gestão
Em seu contexto mais amplo, a gestão de Ativos (CEE-251) da Associação Brasi-
de ativos representa a ação coordenada leira de Normas Técnicas (ABNT) e cor-
de uma organização para obter o má- responde à reprodução idêntica em conte-
ximo benefício do ativo, equilibrando údo técnico, estrutura e redação à norma
os princípios de mínimo custo, máximo internacional ISO 55.000/2014.
desempenho e menor risco. Pode ser apli- A coletânea de normas técnicas NBR
cável às organizações ativo-intensivas, ISO 55.000, 55.001 e 55.002 reflete o
como no setor de saneamento, no qual consenso sobre as boas práticas em ges-
os ativos são um fator-chave (crítico) pa- tão de ativos e estabelece um conjunto
ra alcançar os objetivos estratégicos da de requisitos e diretrizes para implan-
empresa.1 Neste verbete será abordada a tação do sistema de gestão de ativos,
relação do conceito com o saneamento e, concebendo para as organizações o de-
mais especificamente, os Planos Munici- safio de quantificar a sua eficiência em
pais de Saneamento Básico. termos de riscos.
A obtenção de valor através dos ativos Os fundamentos da gestão de ativos
representou um marco e uma mudança estão pautados no valor que o ativo pro-
cultural no planejamento estratégico das porciona para a empresa e no alinhamen-
organizações a partir da publicação mun- to aos objetivos estratégicos da organiza-
dial da série ISO 55.000/2014.2-4 ção, assim como no comprometimento de
As normas ISO 5500X consistem em toda empresa, por meio de sua liderança,
uma visão mais ampla da única referên- para operacionalizar os processos ineren-
cia internacional em gestão de ativos até tes às fases do ciclo de vida do ativo e na
então, conhecida como Publicly Available garantia de que os ativos cumpram com os
Specification (PAS-55), disponibilizada, propósitos requeridos pela organização.
301
EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
302
GESTÃO DE ATIVOS
303
EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
Referências bibliográficas
Márcio Otávio Figueiredo Júnior. Engenheiro civil, mestre em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG. Gerente de Ativos Regulatórios na Agência Re-
guladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado
de Minas Gerais (Arsae-MG).
Vitor Carvalho Queiroz. Engenheiro civil e mestre em saneamento, meio ambiente e
recursos hídricos pela UFMG. Possui experiência, principalmente, com políticas públi-
cas e gestão de saneamento e recursos hídricos.
304
GESTÃO DO RISCO DE INUNDAÇÕES
G
GESTÃO DO RISCO DE INUNDAÇÕES
As inundações podem ser naturais ou se- gum dano – por exemplo, uma determi-
rem agravadas – e até mesmo causadas – nada edificação pode ser mais vulnerável
pela ação humana na bacia hidrográfica. que outra em função do padrão construti-
Estão entre os desastres mais devastado- vo e do tipo de acabamento.
res e onipresentes em todo o mundo. No A gestão do risco de inundação é uma
Brasil, grande parte das municipalidades abordagem relativamente recente, que
sofre anualmente com inundações. As- considera não apenas a redução da pro-
sim, estratégias de ações para seu com- babilidade de ocorrência da inundação –
bate devem ser consideradas nos planos tradicionalmente realizada por meio de G
municipais de Saneamento Básico (PMS- medidas estruturais – mas também a re-
Bs – ver p. 450), envolvendo atuação no dução dos danos associados à ocorrência
planejamento do uso e ocupação do so- de um evento inevitável.
lo e no manejo de águas pluviais1 (ver p. Até poucas décadas atrás, os esforços,
368). Além disso, ações para emergências sobretudo dos gestores públicos, eram
e contingências devem estar contidas nos centrados no combate às inundações ou
PMSBs, conforme a Lei 11.445/2007,2 ar- na redução dos seus danos. Esses esfor-
tigo 19, inciso IV. ços davam-se quase majoritariamente por
Uma inundação (ver p. 334) ocorre meio de intervenções físicas, que ainda
quando o curso d’água ultrapassa os limi- deixavam um risco residual. A percepção
tes do seu leito e atinge áreas adjacentes. de que as estratégias até então adotadas
Caso se trate de local desocupado, ela não não neutralizariam o risco – advinda, so-
acarreta danos. Entretanto, se acontece bretudo, da crescente consciência a respei-
em local ocupado, o dano – ou a conse- to das mudanças climáticas – começou a
quência – varia conforme o tipo de ocu- ocorrer na década de 90. Neste momento
pação. Assim, dois fatores condicionam o passou-se a pensar na gestão do risco de
risco de inundação: o primeiro fator é a inundação dentro de uma lógica de gestão
probabilidade de ocorrência da inunda- de desastres e aceitação do risco.
ção em um determinado local (perigo), A gestão de desastres no Brasil é regi-
associado ao evento climático e à sua lo- da pela Lei 12.608/20123, que instituiu a
calização; e o segundo, as consequências Política Nacional de Proteção e Defesa
associadas à ocorrência desse evento. Civil (PNPDEC) e categoriza as inun-
Estas dependem da exposição e da vul- dações como desastres. A PNPDEC deve
nerabilidade. A exposição quantifica um estar integrada com diversas políticas
receptor, que podem ser pessoas, edifica- setoriais, dentre elas as de ordenamen-
ções, fauna e flora atingidas. Por sua vez, to territorial, desenvolvimento urbano,
a vulnerabilidade descreve o potencial de saúde, meio ambiente, infraestrutura
um determinado receptor de sofrer al- e educação, visando à promoção do de-
305
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
306
GESTÃO DO RISCO DE INUNDAÇÕES
307
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
os danos à saúde pelo contato com a água, De qualquer maneira, inundações de-
ou danos ao meio ambiente. Além dessa vem ser tratadas como desastres que tra-
definição, os danos podem ser definidos zem graves efeitos para toda a sociedade.
como diretos, aqueles causados pelo con- Entretanto, no que diz respeito à habita-
tato direto com a água da inundação, ou ção, elas normalmente atingem as par-
indiretos, aqueles oriundos da inundação, celas mais desfavorecidas da população,
de forma indireta, tais como prejuízos aos que vivem em áreas de risco.6
sistemas produtivos locais.6 A gestão municipal de desastres deve
Com relação à escala municipal, permitir o desenvolvimento regional
as inundações urbanas e rurais são da maneira mais sustentável possível, le-
bastante distintas. As rurais podem atin- vando em consideração as especificidades
gir extensas áreas e a população que vive locais, mas também as etapas de geren-
nelas. As urbanas são geralmente mais ciamento do risco, que são prevenção e
difíceis de gerenciar e são mais danosas mitigação, preparação, resposta e recu-
devido à densidade populacional e de peração. Um município que tem uma boa
equipamentos nessas áreas. Além disso, gestão de riscos é considerado resiliente,
nas áreas costeiras a inundação pode ser ou seja, resiste, absorve, acomoda e se re-
afetada pelas marés. cupera de um desastre.
Referências bibliográficas
308
GESTÃO DO SERVIÇOS DE SANEAMENTO BÁSICO
Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira civil, mestre em Sistemas Aquáticos e
Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França), doutora em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e pela Université Paris-Est (França). G
Professora do EHR/UFMG.
G
GESTÃO DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO BÁSICO
Gestão dos serviços de saneamento bási- exclusiva, por meio dos órgãos e entidades
co é tratada na Lei Federal 11.445/2007 integrantes de sua administração direta
como a organização administrativa e o e indireta, e também pode compartilhar
exercício das funções de planejamento, a execução dessas funções com outros
regulação, fiscalização e prestação dos municípios e com o estado, sob o regime
serviços de abastecimento de água, de es- de gestão associada, por meio de consórcio
gotamento sanitário, de limpeza urbana público ou de convênio de cooperação.
e manejo dos resíduos sólidos e de drena-
gem e manejo das águas pluviais, a que se Planejamento
deve incorporar a avaliação sistemática
dos serviços e o controle social como ins- O planejamento é função indispensável
trumentos e mecanismos de gestão. para a implantação e a adequada gestão,
As funções relativas à gestão dos ser- bem como para o desenvolvimento e a
viços são de competência originária do sustentabilidade de qualquer empreen-
município, que pode realizá-las de forma dimento. O desenvolvimento da cultura
309
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
310
GESTÃO DO SERVIÇOS DE SANEAMENTO BÁSICO
Referências bibliográficas
311
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
312
I
I
Em 2018, de acordo com dados do Siste- físico-químicas e biológicas decorrentes
ma Nacional de Informações em Sanea- de poluentes, como: matéria orgânica,
mento (SNIS), 53,7% do esgoto sanitário nutrientes e microrganismos patogênicos,
(mais de metade) gerado pela população que são microrganismos causadores de
brasileira era disposto sem nenhum tra- doenças. Essas alterações na natureza do
tamento em corpos d’água.1 Existe um corpo d’água podem acarretar prejuízos
problema grave de limitações do moni- aos usos da água que dele são feitos. Para
toramento ambiental das coleções hí- retornar ao seu estado de equilíbrio, após
dricas no Brasil, diante dos inúmeros o lançamento de matéria orgânica presente
corpos hídricos que um país continen- no esgoto sanitário, há uma série de etapas
tal possui. Vários estão com suas águas que se sucedem – fenômeno conhecido co-
comprometidas e mesmo assim sendo mo autodepuração do corpo d’água.
consumidas pelas populações do campo, Lagos e represas são mais impactados
das florestas e das águas (ver p. 499), e pelo lançamento de esgoto sanitário sem
das cidades. Diante da crise hídrica que tratamento, pois sua capacidade de auto-
o Brasil enfrenta, fruto tanto da omissão depuração é geralmente mais lenta pelo
de políticas públicas quanto da crescen- menor teor de oxigênio dissolvido. Nes-
te escassez hídrica, faz-se fundamental ses corpos d’água é mais comum ocorrer
reduzir o déficit do acesso a soluções de o fenômeno da eutrofização, que pode
esgotamento sanitário. acontecer devido ao excessivo aporte de
O lançamento de esgoto sem tratamen- nutrientes pelo esgoto. O esgoto contém
to, também chamado esgoto bruto ou in microrganismos patogênicos – princi-
natura, em corpos d’água (rios, riachos, la- palmente, bactérias, vírus, protozoários
gos, lagoas, represas, açudes, mares) pode e ovos de helmintos – que afetam a saú-
resultar em impactos ao equilíbrio do meio de da população que entra em contato
ambiente aquático por meio de alterações com a água contaminada.
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
314
IMPACTO DO LANÇAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO EM CORPOS D'ÁGUA
• zona de recuperação: a água está mais Os gestores devem sempre recorrer a esse
clara e a matéria orgânica se encontra conhecimento para definir o uso e a ocupa-
em grande parte estabilizada e; ção do solo (ver p. 761) em uma bacia hidro-
• zona de águas limpas: a água apresenta- gráfica e para fiscalizar o lançamento de es-
-se novamente limpa e com aparência si- goto, estações de tratamento e indústrias.
milar à anterior à ocorrência da poluição.
Eutrofização
Parâmetros
A eutrofização consiste no crescimen-
As condições de mistura do esgoto com o to excessivo de plantas aquáticas nos
corpo d’água no ponto de lançamento do corpos d’água, podendo prejudicar os
despejo são importantes na avaliação do usos desejáveis da água. O principal fator
impacto subsequente sobre a qualidade causador desse fenômeno é a presença de
da água. Ademais, a capacidade de dilui- nutrientes (principalmente nitrogênio e
ção exerce grande influência na habilida- fósforo) que provêm de ações relaciona-
de do corpo receptor em assimilar a carga das ao uso e à ocupação do solo na bacia
poluidora do despejo. Um curso d’água hidrográfica. Os nutrientes podem ser I
com pequena capacidade de diluição so- advindos de ocupação por matas e flores-
frerá de forma mais expressiva os efei- tas, por agricultura ou por cidades, dis-
tos da poluição, ao passo que um corpo tritos e aglomerações (ocupação urbana e
d’água de grande vazão, ao receber uma rural), sendo observado um aumento no
pequena carga poluidora, poderá não so- nível do processo de eutrofização com as
frer impactos tão significativos. alterações do uso e ocupação do solo.
Só se deve considerar uma água depu- A poluição por esgoto sanitário está re-
rada, ou seja, limpa, quando suas caracte- lacionada à ocupação urbana e rural e con-
rísticas são compatíveis com a utilização tribui com excessivo aporte de nitrogênio
prevista para cada trecho do corpo d’água, e fósforo advindo de urina, fezes, restos de
de acordo com a classificação das águas alimentos e outros subprodutos de ativi-
estabelecida no seu enquadramento. Uma dades humanas. Ademais, nessas áreas, a
água pode ser considerada depurada se for drenagem pluvial urbana contribui com
destinada à navegação e à harmonia pai- uma carga adicional de nutrientes.
sagística, por exemplo, mesmo que apre- A eutrofização ocorre, principalmente,
sente microrganismos patogênicos. Entre- nos lagos e represas. Em rios também
tanto, se estiver prevista a utilização dessa pode acontecer esse fenômeno, mas geral-
água para consumo humano, ela não po- mente as condições são desfavoráveis ao
derá ser considerada depurada, e precisará crescimento de plantas e algas, como tur-
passar por tratamento. A importância de bidez e velocidades elevadas, por exem-
se compreender o processo da autodepura- plo.2 Esse problema pode tornar inviável
ção, portanto, está intimamente relacio- o uso recreacional (por deixar a água com
nada à manutenção da qualidade desejada aparência ruim), reduzir a navegação e
da água em função dos seus usos previstos a capacidade de transporte, e também a
(ver Enquadramento de corpos d’água e pa- atração turística; causar eventuais maus
drão de lançamento – p. 243). odores, mortandade de peixes, florações
315
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
316
IMPACTO DO LANÇAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO EM CORPOS D'ÁGUA
Referências bibliográficas
317
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Lívia Cristina da Silva Lobato. Engenheira civil e doutora em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG.
Izabel Cristina Chiodi de Freitas. Especialista em Saúde Pública pela Fundação Oswal-
do Cruz (Fiocruz), engenheira civil pela UFMG.
Fabiana Lopes Del Rei Passos. Doutora em Engenharia Ambiental pela Universitat Po-
litècnica de Catalunya (UPC), Espanha. Professora adjunta do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
I
INDICADORES APLICADOS AOS SERVIÇOS
DE MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
318
INDICADORES APLICADOS AOS SERVIÇOS DE MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
319
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
320
INDICADORES APLICADOS AOS SERVIÇOS DE MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
riais recicláveis (exceto matéria orgâ- 2. Massa de RCC per capita em relação à
nica e rejeitos) em relação à população população urbana – kg/habitante/dia
urbana – kg/habitante/ano
4. Massa per capita de materiais reciclá- Em sua publicação Agenda Nacional de
veis recolhidos via coleta seletiva – kg/ Qualidade Ambiental Urbana: Programa
habitante/ano· Nacional Lixão Zero6, o Ministério do Meio
Ambiente apresenta um agrupamento de
Indicadores sobre coleta de indicadores visando agregar outros con-
resíduos de serviços de saúde juntos de dados para o acompanhamento
do desempenho dos serviços de manejo de
1. Massa de RSS coletada per capita em resíduos. O primeiro, relacionado a indica-
relação à população urbana – kg/1.000 dores para o tema Banco de dados, os quais
habitantes/dia permitem observar a representatividade
2. Taxa de RSS coletada em relação à de municípios participantes do SNIS-RS e
quantidade total coletada – % a população correspondente. Um segundo
grupo de indicadores, referentes aos Pla-
Indicadores sobre serviços de nos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos I
varrição, capina e roçada (PGIRS), que permite observar a aderên-
cia dos municípios quanto ao cumpri-
1. Taxa de terceirização dos varredores – % mento da PNRS e representa os esforços
2. Taxa de terceirização da extensão var- destes para solucionar os problemas exis-
rida – % tentes sob sua competência de atuação.
3. Custo unitário médio do serviço de var- Um terceiro grupo de indicadores sobre
rição (prefeitura + empresas contrata- o tema Coleta convencional de RSU, visan-
das) – R$/km do demonstrar o acréscimo de domicílios
4. Produtividade média dos varredores abrangidos pelo serviço de coleta pública.
(prefeitura + empresas contratadas) O quarto grupo de indicadores, sobre o
– kg/empregados/dia tema Valorização de resíduos orgânicos, em
5. Taxa de varredores em relação à po- que ocorre a informação sobre resíduos
pulação urbana – empregados/1.000 orgânicos enviados para unidades de com-
habitantes postagem, biodigestores, tratamento me-
6. Extensão total anual varrida per capita cânico-biológico, entre outros. Um quinto
– km/habitante/ano grupo sobre o tema Coleta seletiva, para
7. Taxa de capinadores em relação à po- monitorar os municípios com essa prá-
pulação urbana – empregados/1.000 tica e a representatividade da população
habitantes atendida, bem como participação de coo-
perativas e associações de catadores. Um
Indicadores sobre serviços sexto grupo sobre o tema de Reciclagem de
de construção civil resíduos recicláveis secos busca uma inter-
pretação mais qualificada sobre a recupe-
1. Taxa de resíduos sólidos da construção ração de materiais recicláveis em relação à
civil (RCC) coletada pela prefeitura em quantidade total de resíduos domiciliares.
relação à quantidade total coletada – % Um sétimo grupo de indicadores, para o
321
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
tema Disposição final ambientalmente ade- prioritários para a operação da gestão co-
quada, para verificar o aumento da dispo- mo: produtividade, eficiência do serviço,
sição de resíduos em aterros sanitários. manutenção (veículos e equipamentos),
Por fim, um oitavo grupo de indicadores qualidade, segurança, econômico, gestão,
sobre Capacidade institucional para enten- operação e finanças.
der sobre a autossuficiência financeira das
prefeituras no manejo de seus resíduos e a Cenário brasileiro
representatividade da cobrança.
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas O SNIS disponibiliza em seu site (www.
(IPT) e o Compromisso Empresarial para snis.gov.br) todo o acervo de informações,
a Reciclagem (Cempre)7 propõem a ado- indicadores, textos, gráficos, métodos e
ção de indicadores operacionais e de ges- glossários do seu período de existência.
tão sob a perspectiva de regulação para No Quadro 1, a exemplificação de um
manejo de resíduos sólidos, tendo como grupo de indicadores levantados para a
estratégia adotada para a elaboração dos cidade de Curitiba (PR), entre os anos de
indicadores a identificação dos problemas 2009 a 20138.
322
INDICADORES APLICADOS AOS SERVIÇOS DE MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
auxilia na gestão dos resíduos. Contudo, dos serviços, o território terá condições de
sabe-se que elaborar indicadores adequa- elaborar políticas públicas para atender
dos à realidade de cada local é um desa- o manejo de resíduos sólidos e do sanea-
fio que demanda uma coleta de dados de mento básico como um todo. Participar
qualidade. Somente com a elaboração de com seriedade da coleta de dados do SNIS/
indicadores básicos, como o da qualidade SNIR é de fundamental importância.
Referências bibliográficas
323
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
I
INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL
324
INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL
325
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
fatores físicos, químicos, biológicos, sociais Além disso, revelam tendências e podem
e psicológicos no meio ambiente. Também se ser usados para elaboração e avaliação de
refere à teoria e a prática de valorar, corrigir, políticas públicas. Nesse sentido, em 2011,
controlar e evitar aqueles fatores do meio am- o Ministério da Saúde (MS) publicou um
biente que potencialmente podem prejudicar a guia básico para a construção de indicado-
saúde das gerações atuais e futuras”.3 res de saúde ambiental.5
Apesar de o debate sobre o uso e a im-
portância dos indicadores remeter ao sé- Matriz FPSEEA
culo 20, o conceito do termo “indicador”
não pode ser considerado recente. Esta Admitindo o pressuposto de que o esta-
palavra vem do latim, indicare, e tem co- do de saúde de populações humanas é
mo significado apontar, estimar, desven- resultado das condições socioambientais,
dar ou trazer ao conhecimento público. a Organização Mundial da Saúde desen-
Assim, os indicadores servem para tornar volveu a Matriz FPSEEA para descrever
um fenômeno evidente ou facilitar a sua e analisar as consequências destas in-
percepção e interpretação.4 ter-relações e, ao mesmo tempo, propor
A construção dos indicadores depende ações de mitigação.6
da sua matéria-prima, que são os dados. A matriz FPSEEA, também conheci-
Estes podem ser quantitativos (um núme- da como Matriz de Corvalan, é dividida
ro bruto que ainda não passou por trata- em seis estágios ou componentes: força
mentos estatísticos, ou um valor quantita- motriz, pressão, situação, exposição, efeito e
tivo referente a um fato ou circunstância), ação7, 8. Estes se organizam de forma con-
ou podem ter natureza qualitativa, quan- catenada, de maneira que cada estágio é
do se referem a registros de avaliações ou resultado do anterior.
percepções de atores sociais.4 O primeiro componente da matriz é
É importante ressaltar que existem denominado força motriz e correspon-
diversas categorias de indicadores - por de a fatores macro que promovem alte-
exemplo, os indicadores sociais, demo- rações substanciais no meio ambiente e
gráficos, econômicos, sanitários e am- têm grande potencial de interferir nega-
bientais. Os indicadores de saúde am- tivamente na saúde das populações hu-
biental fazem a síntese de alguns destes, manas. Tomando o setor do saneamento
e são constituídos por combinações entre como eixo de análise, podemos listar co-
indicadores de saúde e de meio ambiente mo forças motrizes o crescimento desor-
que se apresentam de maneira encadeada, denado em áreas periféricas de grandes
devido às suas possíveis inter-relações. centros urbanos e a ausência de políticas
Podem ser úteis para facilitar o entendi- e programas de saneamento básico que
mento sobre a complexidade das relações não atendem às demandas da sociedade.
que existem entre saúde e ambiente e, por As forças motrizes geram pressões
isso, são ferramentas importantes para (segundo componente da matriz), que
subsidiar a tomada de decisão dos gesto- podem ser decorrentes de modelos de
res, principalmente em estudos diagnósti- desenvolvimento econômico, processos
cos para definição de prioridades, alocação produtivos e estratégias de ocupação hu-
de recursos e planejamento estratégico. mana nos territórios. Considerando os
326
INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL
327
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
Referências bibliográficas
1. GLEICK, P. The human right to water. In: Water Policy, v. 1., n. 5., p. 487-503,
1998. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/
S1366701799000082.
2. HELLER, L. Saneamento e Saúde. Brasília: Opas; OMS, 1997.
3. OPAS/OMS. Organização Pan-Americana da Saúde. Brasília: Opas, 2011. Disponí-
vel em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=down-
load&alias=1371-portfolio-opas-oms-2011-1&category_slug=desenvolvimento-in-
tegral-da-cooperacao-tecnica-953&Itemid=965. Acesso em: 2 out. 2019.
328
INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL
329
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
I
INTERSETORIALIDADE
330
INTERSETORIALIDADE
331
EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
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INTERSETORIALIDADE
Referências bibliográficas
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
I
INUNDAÇÕES
334
INUNDAÇÕES
335
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
336
INUNDAÇÕES
Referências bibliográficas
Vídeo
ENTRE rios: a urbanização de São Paulo. Direção de Caio Silva Ferraz. Produção de
Joana Scarpelini. São Paulo: Editora Contexto, 2011. 1 vídeo (25 min). Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=Fwh-cZfWNIc.
337
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira Civil, mestre em Sistemas Aquáticos e
Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França). Doutora em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e Université Paris-Est (França). Profes-
sora do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG.
338
L
O Brasil passou a dispor, em 2003, de en- vigência de 2014 a 2033. O Plansab con-
dereço para o saneamento básico no país, tém metas de curto, médio e longo pra-
com a criação do então Ministério das zos, três programas (dois com medidas
Cidades (MCidades) e de sua Secretaria estruturais-expansão de ativos e um com
L
Nacional de Saneamento Ambiental, e a medidas estrururantes-gestão de ativos)
destinar mais recursos públicos à área, e investimentos previstos de R$ 508,45
principalmente por meio das duas edi- bilhões, atualizados para R$ 597,88 bi-
ções do Programa de Aceleração do Cres- lhões em sua revisão realizada em 2019.
cimento (PAC 1 e PAC 2) e, no âmbito de- O setor privado não se mostrou satisfeito
le, o PAC Saneamento. com a Lei 11.445 nem com o Plansab e, ao
Em janeiro de 2007, o país passou a con- longo do tempo, realizou seguidas inves-
tar com um marco legal regulatório para tidas para modificá-los.
o saneamento básico (a Lei 11.445/2007), Em outubro de 2015, o Partido do Mo-
que, finalmente, estabeleceu as diretrizes vimento Democrático Brasileiro (PMDB–
nacionais para a área e para a respectiva atual Movimento Democrático Brasileiro,
política federal (ver p. 473). Essa lei regu- MDB) apresentou à sociedade brasileira o
lamentou o artigo 21, inciso XX, da Cons- documento Uma Ponte para o Futuro, que
tituição Federal de 1988, contemplando veio a se constituir nas bases do novo pro-
princípios como a universalização, a jeto político-social do governo Temer (ago.
integralidade, tecnologias apropriadas 2016 – dez. 2018). Na área de saneamento
e controle social (ver p. 156), bem como básico, o documento expôs um conjunto
diretrizes e instrumentos. de estratégias para a alteração do marco le-
Em junho de 2010, foi editado o De- gal regulatório, visando à formação de um
creto 7.217/2010, que regulamentou a ambiente para uma expressiva ampliação
referida lei. Em dezembro de 2013 o go- da atuação da iniciativa privada na presta-
verno federal lançou o Plano Nacional de ção dos serviços públicos, principalmente
Saneamento Básico (Plansab), elaborado os de abastecimento de água (ver p. 645) e
por meio de processo participativo, com de esgotamento sanitário (ver p. 256).
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
Nessa direção, diversas iniciativas fo- que se fizerem necessárias, concessões am-
ram adotadas: plas em todas as áreas de logística e infra-
estrutura, parcerias para complementar a
• a promulgação da Lei 13.303/2016;1 oferta de serviços públicos e retorno a regime
• o lançamento da Medida Provisória anterior de concessões na área de petróleo,
(MP) 727/2016, convertida na Lei dando-se a Petrobras o direito de preferên-
13.334/2016, que criou o Programa de cia”12 (ver Privatização dos serviços pú-
Parcerias de Investimentos (PPI);2 blicos de saneamento básico no Brasil e a
• a divulgação, a um grupo seleto de en- onda neoliberal radicalizada – p. 516).
tidades e órgãos, dos documentos Diag-
nóstico Saneamento, em 14 de setembro Desde sua posse como presidente inte-
de 2016,3 e sua versão seguinte, intitu- rino, Michel Temer comandou apressa-
lada Modernização do Marco Regulatório damente diversas inciativas para fazer
do Saneamento Básico, em 7 de novem- avançar o ideário contido no documen-
bro de 2017;4 to-guia de seu partido. Na área de sane-
• o lançamento das medidas provisórias amento básico o cenário foi de realizar
844, em 6 de julho de 20185, e 868, em profundas mudanças no marco legal
27 de dezembro daquele ano;6 regulatório, no papel das instituições e
• os projetos de lei 3.261/20197 e no financiamento. No campo legal me-
4.162/20198, esse último do Poder Exe- recem destaque:
cutivo federal, aprovado pelo Congres-
so Nacional em 24 de junho de 2020, 1. L ei 13.303/20161, que estabelece o es-
cuja lei resultante (14.026, de 15 de tatuto jurídico das empresas públicas,
julho)9 altera a Lei Nacional de Sanea- sociedades de economia mista e de
mento Básico (11.445/2007)10 e a Lei suas subsidiárias (estatais), fortemen-
9.984/2000, que cria a Agência Nacio- te questionada por atropelar as com-
nal de Águas11; petências dos entes federativos e por
• e mais cinco outras leis. pretender disciplinar todos os tipos
de empresas estatais (concorrência
Reorientação ou monopólio, sob o regime de direito
privado ou de direito público), dentre
A “ponte para o futuro", após o impeach- outros motivos.
ment da presidenta Dilma Rousseff, pre- 2. MP 727/2016, editada no mesmo dia
vê a reorientação da atuação estatal no da posse do presidente então interi-
campo das políticas públicas e sociais, no (12 de maio) e convertida na Lei
o que inclui o saneamento básico. O do- 13.334/2016,2 que cria o Programa de
cumento preconiza o que pode ser cha- Parcerias de Investimentos (PPI), pre-
mado de um neoliberalismo subalterno vendo um conjunto de mecanismos
e subordinado ao rentismo e ao mercado. para fortalecer a interação do Estado
Dentre as propostas de tal documento, com a iniciativa privada, retomando o
pode-se destacar: “executar uma política Programa Nacional de Desestatização
de desenvolvimento centrada na iniciativa – Lei 9.491/199713 do governo Fernan-
privada, por meio de transferências de ativos do Henrique Cardoso –, amplamente
340
LEI 11.445/2007 E A APROVAÇÃO DA LEI 14.026/2020
questionado pelos prejuízos que trouxe 1. a lterar o marco legal regulatório do sa-
à nação com a venda do patrimônio pú- neamento básico (Lei 11.445/2007)10,
blico à iniciativa privada. e a Lei dos Consórcios Públicos
3. Emenda Constitucional (EC) 95/201614, (11.107/2005)17 – principalmente nos
que institui o Novo Regime Fiscal, o artigos que permitem a dispensa de
qual congela por 20 anos os gastos pú- licitação na celebração de contrato de
blicos em saúde, educação e assistência programa entre entes federados para
social, com impacto negativo no sane- a prestação dos serviços públicos por
amento básico. A Lei Complementar meio de gestão associada – e a legis-
141/2012 estabelece como os recursos lação ambiental, a exemplo da Lei de
da saúde podem ser utilizados em ações Crimes Ambientais e resoluções do
e serviços públicos de saneamento bá- Conselho Nacional do Meio Ambiente
sico (saneamento básico de domicílios (Conama), no intuito de introduzir no-
ou de pequenas comunidades e sanea- vas diretrizes para possibilitar/facilitar
mento básico dos distritos sanitários a participação privada;
especiais indígenas e de comunidades 2. ampliar a participação privada na pres-
remanescentes de quilombos).15 tação dos serviços "no mercado de sa-
4. Proposta de Emenda à Constituição neamento" por meio de concessões,
(PEC) 65/2012, aprovada pela Comis- abertura de capitais e parcerias públi-
L
são de Constituição e Justiça e Cidada- co-privadas (PPPs);
nia do Senado Federal. Definia que, a 3. atribuir funções relacionadas ao sane-
partir da simples apresentação de um amento básico à Agência Nacional das
estudo de impacto ambiental (EIA) Águas (ANA), para a regulação por meio
pelo empreendedor, uma obra não de diretrizes regulatórias federais, ge-
poderá ser suspensa ou cancelada. Se renciando sistemas de informação, ca-
aprovada a PEC, na prática, os proce- pacitando as empresas de saneamento
dimentos previstos na Lei da Política básico para gestão de contratos e orien-
Nacional de Meio Ambiente e em toda tando municípios na elaboração de pla-
a legislação ambiental aplicada atual- nos municipais de Saneamento Básico
mente seriam duramente fragilizados. (PMSBs – ver p. 450) – estratégia que
A proposição foi arquivada e substituí- dá centralidade à regulação e fragiliza o
da pelo Projeto de Lei do Senado (PLS) planejamento e o poder local;
168/2018,16 do mesmo autor, que en- 4. revisar as competências das instituições
contra-se em tramitação e apresenta do governo federal, com destaque para
conteúdo mais flexível que o Projeto a Fundação Nacional de Saúde (Funasa),
de Lei 3.729/2004. que deixaria de atuar nos municípios de
população menor que 50.000 habitan-
As iniciativas para a desconstrução das tes, e transferência da "maior parte das
políticas públicas de saneamento básico competências (e orçamento) para o Mi-
foram detalhadas no Diagnóstico Sane- nistério das Cidades", atual Ministério
amento, da Casa Civil da Presidência da de Desenvolvimento Regional;
República,3 que apresentou 13 propostas, 5. revisar o Plano Nacional de Saneamento
as quais em seu conjunto visavam: Básico (Plansab), considerado um "Plano
341
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
Referências bibliográficas
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LEI 11.445/2007 E A APROVAÇÃO DA LEI 14.026/2020
349
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
350
LIMPEZA URBANA
limitados. Relatório especial no 09. Luxemburgo: UE, 2018. Disponível em: https://
www.eca.europa.eu/Lists/ECADocuments/SR18_09/SR_PPP_PT.pdf.
23. BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12305.htm.
24. ABAR; ABES; AESBE; ASSEMAE. Versão final da proposta conjunta das associa-
çãoes nacionais sobre a MP 868/2018. Brasília, 2019. Não publicado.
25. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em:
17 dez. 2018.
26. STF. Medida Cautelar na ADI 6536. Min. relator Luiz Fux, 26 de agosto de
2020b. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.as-
p?id=15344214093 &ext=.pdf. Acesso em: 1 set. 2020.
27. STF. ADI 6583. Ação Direta de Inconstitucionalidade, com pedido de medida cau-
telar, ajuizada pela Assemae, em 15 de outubro de 2020. Disponível em: http://
redir. stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/Consultar-
ProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=6028297. Acesso em: 17 out. 2020.
L
LIMPEZA URBANA
351
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
352
LIMPEZA URBANA
353
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
posição final. A coleta está condicionada coleta pode ser regular, especial e também
a uma ação prévia que é o acondiciona- aquela executada pelo próprio gerador.
mento ou armazenamento.
O acondicionamento é uma etapa im- • O sistema regular de coleta é executado
portante, pois prepara os resíduos para a nas residências a intervalos determina-
coleta de forma sanitariamente adequa- dos, correspondendo a remoção de re-
da, bem como compatível com o tipo e a síduos domiciliar, comercial e público.
quantidade desses resíduos. Um acondi- • A coleta especial é executada mediante
cionamento adequado pode ajudar a evitar escala acima do padrão convencional
acidentes e proliferação de vetores, mini- de resíduo domiciliar gerado ou a pe-
mizar impacto visual e olfativo, reduzir a dido do interessado. Como exemplos
heterogeneidade dos resíduos e certamen- têm-se a coleta seletiva de recicláveis
te facilitar a coleta. Os resíduos a serem em residências, a coleta de resíduos pe-
coletados podem ser comerciais, públicos, rigosos, a coleta de resíduos volumosos
da construção civil, serviços de saúde e do- e a coleta de podas.
mésticos – incluídos aí resíduos domésticos • A coleta realizada pelo próprio gerador
perigosos, como pilhas e baterias, ou volu- é aquela que corresponde a grandes vo-
mosos, como sofás e fogões e geladeiras. lumes de resíduos com características
Para cada um desses resíduos são utili- especiais ou não (de supermercados,
zados recipientes diversos. No Brasil, são shopping centers, hospitais etc.).
muito usados sacos plásticos e contêine-
res plásticos e metálicos, com capacidade A coleta eficiente se concretiza com o
de volume diferenciada, para resíduos do- transporte do resíduo de maneira ade-
mésticos, comerciais e públicos. Para re- quada, seja por caminhões, carroças, tra-
síduos da construção civil, normalmente tores, carrinhos de mão, balsas, depen-
utilizam-se caçambas, enquanto para os dendo dos recursos disponíveis no ter-
de serviços de saúde se usam sacos e con- ritório, relevo, tipo de material e equipe
têineres segundo a classificação daqueles. de trabalho, entre outras variáveis. Por-
Já para os resíduos públicos, as papeleiras tanto, são componentes para a definição
de rua, cestas coletoras e grandes contê- nesta etapa:
ineres estacionários.
A coleta possui relação direta com a 1. Frequência: é o número de vezes na se-
forma como as famílias manuseiam os mana que é feita a remoção de resíduos
resíduos em casa antes de os colocarem em uma determinada localidade do
para ser coletados. A análise crítica e a município, podendo ser diária ou em
eventual atualização da legislação muni- dias alternados. Essa definição depen-
cipal que estabelece os procedimentos e de das condições locais como densidade
critérios de embalagem, volume, pontos populacional, área central ou com in-
e frequência de coletas, dentre outros, é tenso comércio etc.
fundamental para a eficiência das fases 2. Horário: é o período do dia no qual é
subsequentes dos serviços públicos. realizada a coleta, podendo ser diurno
A etapa de coleta é, portanto, definida ou noturno. A coleta noturna normal-
pelo tipo de resíduo e sua quantidade. A mente ocorre em áreas determinadas
354
LIMPEZA URBANA
355
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Referências bibliográficas
356
LOGÍSTICA REVERSA
L
LOGÍSTICA REVERSA
As cidades brasileiras têm sido desafia- para uma gestão mais eficiente de resí-
das diariamente na prestação de serviços duos sólidos no que tange a seus aspec-
357
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
358
LOGÍSTICA REVERSA
359
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
360
LOGÍSTICA REVERSA
forma a dialogar com a cultura das comu- separa, classifica, prensa e comercializa
nidades do comerciante e de suas equipes o material reciclável para um reciclador.
quanto ao manuseio saudável e sustentá-
vel e à segregação adequada e posterior Coleta em pontos de entrega voluntários
devolução dos resíduos, bem como pro- – PEVs
mover ações de mobilização e de parti-
cipação social, a partir de metodologias (Ex.: pilhas, celulares, óleo comestível)
participativas, dialógicas e problemati- O consumidor leva seu resíduo a um pon-
zadoras, necessárias para as transforma- to de entrega voluntário (PEV), geralmen-
ções socioambientais nos territórios. te instalado junto ao comércio ou à rede
de assistência técnica. Quando é reunido
Modelos existentes um volume pré-definido, ou segundo um
para os sistemas calendário estabelecido, o operador de lo-
gística passa e recolhe os resíduos, enca-
Os sistemas de logística reversa (SLRs) minhando-os à reciclagem. Os fabrican-
têm assumido três formatos distintos, tes/ importadores financiam a operação,
definidos em função da forma como os re- muitas vezes em parceria com o comércio.
síduos pós-consumo são coletados. Esses
modelos não são obrigatórios, e é desejá- Coleta por sistema itinerante
L
vel que novos arranjos sejam propostos junto ao comércio
considerando a experiência das empre-
sas, dos gestores públicos e dos cidadãos (Pneus, óleo lubrificante, baterias auto-
nesse tipo de atividade. Porém, até então, motivas etc.)
as soluções abaixo têm se mostrado ade- O resíduo não chega ao consumidor (embo-
quadas, podendo inspirar a formatação ra possa haver exceções), é retido no ponto
dos sistemas pelas empresas, bem como de geração – em geral postos de gasolina,
a busca de novas metodologias4. concessionárias ou oficinas. Quando se
reúne um volume pré-definido, ou segundo
Ponto de entrega voluntário (PEV), um calendário estabelecido, o operador de
coleta seletiva ou central de logística passa e recolhe os resíduos, enca-
triagem/entidades de catadores minhando-os à reciclagem. Os fabricantes
e importadores financiam a operação, mui-
(Exemplos: embalagens de cosméticos, tas vezes em parceria com os distribuido-
limpeza, alimentos, bebidas) res ou comerciantes dos produtos.
O consumidor entrega seus resíduos re- Cada município deve discutir o seu mo-
cicláveis em algum PEV, ou tem seu resí- delo segundo os resíduos gerados. Para
duo recolhido por meio de coleta seletiva municípios menores é muito importante
(realizada pelas entidades de catadores, a ideia de estruturas para armazenamen-
pela prefeitura municipal ou por empre- to desses materiais, a fim de gerar ganho
sas contratadas por ela). O material co- em escala, além do consorciamento com
letado é destinado à central de triagem, outros municípios.
em geral sob gestão de uma associação A logística reversa tem potencial de
ou cooperativa de catadores. A central transformar a gestão de resíduos, alte-
361
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
rando fluxos financeiros, promovendo in- a viabilizar essa ferramenta exigida pela
clusão social de catadores, criando novos PNRS. Todas as partes relacionadas ao
negócios e colaborando para aumentar processo deverão contribuir para o enca-
índices de reciclagem e fomentar a in- minhamento dos produtos ao fim da vida
serção de produtos mais sustentáveis. É útil para a reciclagem ou uma destinação
necessário que a sociedade amadureça as final ambientalmente adequada.
discussões e regulamentações de forma
Referências bibliográficas
362
LOGÍSTICA REVERSA
363
M
MACROMEDIÇÃO E MICROMEDIÇÃO
A boa gestão dos sistemas de abasteci- quais há maior perda de água ou menor
mento de água (SAAs) é indispensável pressão de serviço; no cálculo do consu-
para a sustentabilidade econômico-fi- mo de água por habitante e na avaliação
nanceira (ver p. 685) da entidade respon- deste indicador ao longo do tempo; no
sável pelo serviço e para proporcionar a cálculo dos custos das perdas de água (ver
universalização do acesso e garantir p. 429) e do impacto do volume de água
subsídios para populações de baixa ren- retirada do manancial.
da, além de garantir a funcionalidade do
sistema. Para isso, fazem-se necessários Em diversas etapas
a constante atualização dos usuários, a do fornecimento
avaliação do atendimento, o acompanha-
mento da operação do sistema e o moni- A macromedição corresponde à medi-
toramento da qualidade e quantidade da ção de grandes volumes ou vazões do
água produzida e distribuída. SAA. Podem ocorrer em etapas distin-
Neste sentido, o conhecimento das va- tas, incluindo a medição da pressão do
zões, da quantidade de água retirada dos sistema em pontos notáveis e o nível dos
mananciais e do volume de água tratada reservatórios de água no manancial de
que chega aos usuários é de fundamen- abastecimento. De modo geral, refere-se
tal importância para a operação adequa- às medições de vazões, pressões e níveis
da do sistema em todas as suas etapas: de reservatórios, da captação até o pon-
captação, adução de água bruta, trata- to imediatamente anterior à chegada da
mento, adução de água tratada, reser- água ao usuário.1 Os medidores de gran-
vação e distribuição, além do controle des vazões são denominados macrome-
dos custos do SAA. didores e são instalados em tubulações
Portanto, as vazões macro e micro- de maiores dimensões. Um adequado sis-
medidas do SAA (ver p. 645) são usadas tema de macromedição é obtido através
em diagnósticos técnico-operacionais: de projeto, incluindo a determinação da
na identificação de pontos críticos – nos localização adequada dos macromedido-
MACROMEDIAÇÃO E MICROMEDIAÇÃO
res, que pode ser baseada em sistema de furtos (“gatos”) ou locais em que a água
informações e deve levar em consideração não está chegando.
o porte do sistema (população atendida).2
A micromedição corresponde à Medições no Brasil
medição individualizada dos volumes
consumidos pelos usuários. Por meio dela Dados do Sistema Nacional de Informa-
é possível realizar a cobrança com base na ções Sobre Saneamento (SNIS) mostram
quantidade de água consumida. Os medi- que em 2017 a média nacional de ma-
dores de vazões utilizados na micromedi- cromedição era de 78,5%.3 O indicador
ção são denominados micromedidores. é calculado com base no volume de água
O equipamento utilizado é o hidrômetro, medido dividido pelo volume total de água
popularmente chamado de relógio. disponibilizado. Assim, para 2017, 21,5%
A medição do consumo de água em do total de água injetada no sistema não
diversas etapas do SAA possibilita a de- foi medida. A falta desta informação im-
terminação dos custos de manutenção pede que a prestadora tenha controle do
e operação por volume de água produ- que está ocorrendo no sistema, não sendo
zido, a avaliação de pontos críticos em possível saber se este volume de água chega
unidades distintas do SAA, além da às residências dos usuários ou se é perdido
identificação de vazamentos. Portanto, na distribuição. Em 2007, a média nacional
essa ação possui papel fundamental na era de 75,1%, ou seja, marca um aumento
gestão de perdas de água no SAA e sen- de 3,4 pontos percentuais em dez anos.
sibilização de usuários quanto ao uso ra- As regiões Sudeste e Centro-Oeste M
cional da água. Por isso, contribui para apresentam índices de macromedição
a preservação do meio ambiente, pois de 90,2% e 83,8%, respectivamente. As
pode auxiliar esforços de diminuição de regiões Norte, Nordeste e Sul do Brasil
desperdícios de água por parte do con- apresentam índice de macromedição
sumidor. A existência de macro e micro- de 41,8%, 67,4% e 65,4%, respectiva-
medidores permite a quantificação das mente, todos abaixo da média nacional.
perdas e auxilia na localização destas e Apesar de o Plano Nacional de Sanea-
na gestão financeira da companhia de mento Básico (Plansab – ver p. 457) não
saneamento. Representam, assim, ferra- ter meta estabelecida para o índice de
mentas indispensáveis do sistema. macromedição, seu aumento contribui
A setorização da rede de distribuição diretamente para o controle de perdas,
de água permite estabelecer priorida- para o qual o Plansab estipula metas de
des entre setores e controlar as perdas redução nacional com os valores de 36%,
por meio da comparação entre os valo- 34% e 31%, em 2018, 2023 e 2033, res-
res dos volumes de água macromedidos pectivamente. Desta forma, as presta-
e micromedidos. A comparação entre a doras de serviço de saneamento devem
quantidade de água que entra num de- trabalhar para a elevação do índice de
terminado setor de rede e a quantidade macromedição para realização de efetivas
de água que é efetivamente consumida ações na redução de perdas.
pelos usuários do mesmo setor permite Quanto à micromedição, o indicador
identificar trechos onde há vazamentos, mais utilizado é o índice de hidrometra-
365
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
366
MACROMEDIAÇÃO E MICROMEDIAÇÃO
Referências bibliográficas
367
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade
do Estado da Carolina Norte (EUA). Professor Associado do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais.
M
MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
Quando não é interceptada pela vegetação nado para evitar problemas, como empo-
nem se infiltra no solo, a água da chuva çamentos e proliferação de vetores, inun-
transforma-se em escoamento superfi- dações (ver p. 334) e deslizamentos.1
cial e escoa pela superfície da bacia hi- A Lei 11.445/2007 (artigo 3º, alínea d)
drográfica até chegar a um rio, córrego ou e a Lei nº 13.308/2016 estabelecem que
outro elemento da rede hidrográfica. Em a drenagem e o manejo das águas plu-
áreas de ocupação humana, é necessário viais (ver p. 368), assim como a limpeza
reduzir ao máximo a parcela de chuva que e a fiscalização preventiva das redes plu-
se transforma em escoamento superficial viais urbanas, compreendem um conjun-
e este precisa ser adequadamente direcio- to de atividades, infraestruturas e ins-
368
MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
369
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
das águas pluviais dentro das cidades, co- águas pluviais tornou-se sinônimo de
mo a infraestrutura que havia sido cons- transferir rapidamente para jusante as
truída nos séculos anteriores se deterio- águas pluviais e águas servidas, prefe-
rou por falta de manutenção. Na ausência rencialmente por canais subterrâneos e
de sistemas de escoamento das águas usando a gravidade como força motriz.
pluviais e servidas, o esgoto era lançado Tal abordagem foi denominada como
nas ruas. Como a parcela mais pobre da abordagem higienista e prevaleceu até
população ocupava as áreas mais baixas a segunda metade do século 20. 5
das cidades, ela não só estava mais vul- No contexto brasileiro, a evolução do
nerável a eventos de inundação, como manejo das águas pluviais guarda seme-
também recebia o esgoto proveniente da lhanças com o processo histórico descrito
população mais rica que ocupava as áreas acima. Em São Paulo, por exemplo, até
mais elevadas.4 o final do século 19, o núcleo urbano da
A partir do século 19, a Revolução In- cidade ocupava o alto de uma colina e as
dustrial levou à expansão de cidades co- cheias dos rios “eram esperadas como as
mo Londres e Paris e provocou o cresci- estações do ano, não provocavam gran-
mento da população urbana para níveis des tragédias na pequena cidade, já que
nunca antes alcançados na história da se evitava ocupar baixadas e várzeas”.6 A
humanidade. Mão de obra era necessária partir do século 20, a explosão demográfi-
para garantir o funcionamento de um nú- ca e a especulação imobiliária motivaram
mero cada vez maior de indústrias e hou- a expansão da mancha urbana, que ocor-
ve intensa migração da população rural reu sem o devido planejamento e resultou
para as áreas urbanas. As cidades, no en- em inundações cada vez mais frequentes
tanto, não estavam preparadas para abri- e em uma ocupação socialmente estratifi-
gar a crescente população: a desigualdade cada do território urbano paulistano: as
social era marcante, a classe trabalhado- famílias mais abastadas localizando-se
ra recebia salários baixos, tinha péssimas em cotas mais altas e distantes das águas,
condições de trabalho, vivia em guetos as famílias economicamente desfavoreci-
com elevada densidade populacional e das habitando a periferia distante ou as
precária infraestrutura sanitária. Foi áreas inundáveis de rios e córregos.6 O
nesse contexto que grandes epidemias de processo de ocupação urbana ocorreu e
cólera e tifo devastaram muitas cidades continua ocorrendo de forma semelhante
europeias nesse período.4 tanto em municípios de grande e médio
Mas foi também durante o século 19 porte, como o Rio de Janeiro7 e Joinville
que grandes avanços foram feitos nas (SC)8, quanto em cidades pequenas.
áreas da biologia e da epidemiologia A abordagem higienista foi ampla-
(estudo das epidemias – ver p. 250). Foi mente aplicada nas cidades brasileiras
também um período marcado pela ideia por meio da canalização, da retilineari-
de que o homem deveria exercer maior zação (eliminação de curvas) e da cober-
controle sobre o meio natural e sobre a tura de rios e córregos, que resultaram
organização social. A presença de água no progressivo desaparecimento dos
nas cidades passou a ser percebida como cursos d’água da paisagem urbana. Se,
nociva à saúde humana e o manejo das por um lado, essas medidas higienistas
370
MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
371
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
amento e deste com as demais infraestru- das águas pluviais requer uma aborda-
turas e equipamentos sociais, visando à gem em escala de bacia hidrográfica,
promoção da saúde e a melhoria da quali- o que, na maioria dos casos, extrapola
dade de vida da população. a área do município. Isso significa que
Quando o manejo dos resíduos sólidos o sucesso no manejo das águas pluviais
não é adequadamente realizado, durante em um dado município depende também
o período chuvoso, resíduos podem che- de adequada articulação com municípios
gar até as estruturas de drenagem das localizados à montante e à jusante e, por
águas pluviais, causando obstruções, isso, o planejamento municipal de sane-
problemas de inundação e de contami- amento deve se articular com planos de
nação. Se o esgoto coletado não é enca- bacia hidrográfica e outros instrumen-
minhado para o devido tratamento, es- tos de planejamento nas esferas regio-
ses efluentes chegarão até a rede de dre- nal, estadual ou mesmo federal.
nagem e aos corpos hídricos, resultando Por fim, mas não menos importante,
em riscos à saúde da população pela tal planejamento deve abranger o servi-
disseminação de águas poluídas e conta- ço de manejo das águas pluviais tanto na
minadas, bem como em uma degradação área urbana como na área rural. Os prin-
das condições ambientais e condições cípios do manejo sustentável das águas
operacionais dos patrimônios público e pluviais são os mesmos nas duas áreas:
privado. Se o escoamento superficial não redução e retardo do escoamento super-
é tratado e controlado, ele pode carrear ficial na fonte. No entanto, nas áreas ru-
sólidos em suspensão em excesso para rais, em geral, as oportunidades de ado-
mananciais de abastecimento, impac- tar estratégias mais sustentáveis nessa
tando a qualidade da água e reduzindo a prática são maiores porque, se compara-
vida útil de reservatórios. do com as áreas urbanas, a porcentagem
O planejamento para a área também de áreas impermeáveis no meio rural é
deve ser coerente com outros planos e menor e isso gera um menor volume de
legislações no âmbito do município, por escoamento superficial; e as áreas rurais
exemplo: o plano diretor, a legislação não são tão densamente ocupadas, de
urbanística, a lei de uso e ocupação do modo que há mais espaço para implanta-
solo, a lei orgânica e o plano de drena- ção de técnicas compensatórias.
gem. Além disso, o manejo sustentável
Referências bibliográficas
372
MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
Vídeo
ENTRE rios: a urbanização de São Paulo. Direção de Caio Silva Ferraz. Produção de
Joana Scarpelini. São Paulo: Editora Contexto, 2011. 1 vídeo (25 min). Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=Fwh-cZfWNIc.
Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira civil, mestre em Sistemas Aquáticos
e Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França). Doutora em Saneamen-
to, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e pela Université Paris-Est (França). Professora do Departamento de Enge-
nharia Hidráulica e Recursos Hídricos (EHR) da UFMG.
373
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
M
MANEJO INTEGRADO DE VETORES
374
MANEJO INTEGRADO DE VETORES
saneamento inadequado são três grupos Um dos conceitos mais recentes de con-
de insetos: os culicídeos (mosquitos), os trole de doenças define-o como uma bus-
flebotomíneos (moscas hematófagas) e ca de esforços e intervenções integradas,
os triatomíneos (barbeiros). As doenças dirigidas à população, visando prevenir,
envolvidas são as arboviroses (dengue, diagnosticar precocemente ou tratar um
zika, chikungunya, Mayaro, febre do Nilo agravo à saúde.5
Ocidental e febre amarela), filariose, ma- A Organização Mundial de Saúde pro-
lária, leishmaniose, doença de Chagas. pôs o termo manejo integrado de veto-
Para fins operacionais e práticos alguns res (MIV) como um processo de toma-
roedores e caramujos são considerados da de decisão racional que otimiza os
vetores.5 De forma mais precisa, do pon- recursos disponíveis para o controle de
to de vista da biologia, os roedores são vetores. O objetivo é melhorar a eficácia,
entendidos como reservatórios. Trata- o custo, a efetividade e a sustentabilida-
-se de organismos de natureza animal ou de ao longo prazo do controle de doen-
vegetal nos quais um agente etiológico ças transmitidas por vetores.6; 7 A OMS
é capaz de viver e se multiplicar, sendo reconheceu que o enfrentamento a essas
capaz de, a partir destes, infectar outros doenças requer não apenas recursos fi-
hospedeiros.2 Por exemplo, roedores si- nanceiros e tecnológicos e compromisso
nantrópicos (adaptados ao estilo de vida político, mas também estratégias e li-
humano e que convivem com ele) das es- nhas operacionais de responsabilidade.
pécies Rattus norvegicus (ratazana ou rato Os principais elementos da estratégia
de esgoto), R. rattus (rato de telhado ou do MIV são: M
rato preto) e Mus musculus (camundongo
ou catita) são considerados os principais • O estudo local sobre a ecologia dos ve-
reservatórios da leptospirose.5 Os cara- tores, padrões de transmissão da doen-
mujos do gênero Biomphalaria que trans- ça, condições socioeconômicas e am-
mitem a esquistossomose são considera- bientais para direcionar as estratégias
dos hospedeiros intermediários, pois e intervenções;
alojam o parasito em sua fase larvária.2 • Regulamentação e legislação da saúde
pública de forma a assegurar a imple-
Problema de saúde pública mentação efetiva e sustentável das in-
tervenções para prevenção de doenças
As doenças transmitidas por vetores transmitidas por vetores;
constituem importante causa de mor- • Mobilização social para assegurar a
bidade e mortalidade no Brasil e no participação e comprometimento para
mundo, sendo um dos principais pro- o planejamento e a implementação de
blemas de saúde pública. Entretanto, intervenções de controle vetorial.
os agentes etiológicos possuem formas
complexas, alto potencial de reprodu- Diversas ações combinadas
ção e mutações, o que dificulta seu con-
trole e a produção de vacinas. Em tais Portanto, o manejo integrado dos veto-
circunstâncias, o controle de vetores res se constitui em ações combinadas de
geralmente é o mais eficaz. controle jurídico, controle físico, controle
375
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
376
MANEJO INTEGRADO DE VETORES
causar a morte dos ratos, conhecidos não apenas do vetor. Devem ser levados
como raticidas. Inicialmente os ratici- em consideração diversos componentes
das eram de ação aguda, estes foram que participam do processo de surgimen-
proibidos e atualmente os raticidas to da doença. Por exemplo, para as arbo-
são de ação crônica. Apresentam me- viroses, o manejo do território abordaria
nor toxidade para outros animais e são questões como o saneamento, a urbani-
apresentados na forma de granulados, zação, o desmatamento e diversos fatores
blocos parafinados e pó de contato. A ambientais. Já o manejo do hospedeiro
utilização de produtos químicos para o engloba questões sobre imunidade, ali-
controle de vetores e roedores já resul- mentação, carga genética. Além disso, é
tou em diversos problemas de saúde do necessário o manejo do doente, em que
trabalhador devido à exposição aguda serão discutidos aspectos epidemiológi-
ou crônica a esses produtos.11 cos, clínicos, atenção ao paciente, inter-
nações. Esse manejo integrado das arbo-
Processo cíclico viroses faz parte da vigilância em saúde
e deve ser contextualizada no território.
O Guia de Vigilância em Saúde12, em sua O marco regulatório que estabelece as
parte relativa aos problemas entomoló- diretrizes nacionais do saneamento bási-
gicos, explica que a adoção do manejo co13 não considera o manejo integrado de
integrado de vetores deve obedecer a um controle de vetores um componente do sa-
processo cíclico que envolve, resumida- neamento básico, o que dificulta a compre-
mente, as seguintes atividades12: ensão de que o saneamento é determinan- M
te para seu enfrentamento. Entretanto,
• Análise situacional: utilização inte- o Manual de Saneamento5, da Fundação
grada de informações epidemiológicas Nacional de Saúde (Funasa) – ver p. 380 e
e entomológicas e de outros determi- 273 –, traz capítulos específicos sobre os
nantes da doença (meio ambiente e artrópodes e os roedores. Isso se justifica
infraestrutura, entre outros). Isso per- pela importância sanitária das ações de
mitirá identificar as áreas prioritárias saneamento no controle de vetores e pelo
no planejamento das intervenções de fato de as doenças transmitidas por veto-
controle. res serem uma das categorias das doenças
• Desenho das operações: parte do pro- relacionadas ao saneamento ambiental
cesso em que serão identificadas as me- inadequado (DRSAIs – ver p. 218).14
lhores ferramentas de controle.
• Implementação: a adoção das ferramen- Desafio do município
tas de controle previamente escolhidas.
• Monitoramento e avaliação: fase em O desafio na elaboração do planejamen-
que se avalia o êxito dos resultados das to municipal de Saneamento é mapear
medidas implementadas, que servirão os indicadores operacionais referentes à
de base para um planejamento futuro. existência dos componentes dos serviços
públicos da área, bem como os indicado-
O processo descrito permite a reflexão res de desempenho que possam avaliar a
da necessidade de um manejo integrado e qualidade de operação e manutenção.
377
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
Para isso, o município precisa ter fontes mações, levando em conta a distribuição
de informações adequadas para o mapea- espacial dos casos das doenças transmi-
mento com a espacialização dos indicado- tidas pelos vetores, possibilita orientar as
res operacionais dos componentes de sa- prioridades das ações de ampliação e ade-
neamento básico, bem como indicadores quação dos componentes do saneamento
de desempenho que possam avaliar a qua- básico, assim como as ações de saneamen-
lidade dos serviços. A análise dessas infor- to ambiental (ver p. 577).
Referências bibliográficas
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378
MANEJO INTEGRADO DE VETORES
Ronaldo Figueiró. Biólogo com mestrado e doutorado em ecologia pela UFRJ. Professor M
adjunto da Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), docente do
Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA) e da Universidade Castelo Branco (UCB).
Gladys Miyashiro Miyashiro. Médica, mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de
Saúde Pública (Fiocruz). Professora-pesquisadora do Laboratório de Educação Profis-
sional em Vigilância em Saúde (Lavsa) da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venân-
cio (EPSJV), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
379
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
M
MANUAL DE SANEAMENTO
380
MANUAL DE SANEAMENTO
a visão de que as pessoas tinham que ser e Saúde Ambiental da Escola Nacional de
basicamente “treinadas” e esse termo era Saúde Pública Sérgio Arouca, da Funda-
usado segundo os fundamentos da higie- ção Oswaldo Cruz (Fiocruz).7
ne e do sanitarismo. A educação sani-
tária de então consistia em informação, Tecnologias sociais em destaque
adestramento, inspeção e coerção.8
Mesmo com as limitações dos referen- A partir da atuação do Sesp (1942-1960)
ciais políticos e pedagógicos da época, e da Fsesp (1960-1990), instituições que
houve avanços com novas tecnologias antecederam a Funasa, estruturaram-se
de medicina preventiva, formas de ge- Serviços Autônomos de Água e Esgoto
renciamento institucional, tecnologias (Saae) em diversos municípios. As ativi-
educacionais9, programas de formação dades das unidades sanitárias do Sesp
e treinamento de guardas e visitadores incluíam garantir a participação da mu-
sanitários. A atuação desses trabalhado- nicipalidade e da comunidade em seus
res da saúde envolvia atribuições distin- projetos. Essa recomendação tinha obje-
tas.8 Com o tempo, as atividades passa- tivos educativos e a forma adotada para
ram a incorporar a educação de grupos incentivar a participação dos interessa-
de trabalho e o incentivo à participação dos na execução de benfeitorias era partir
comunitária. O treinamento envolvia o de um princípio solidariamente funda-
manejo domiciliar das águas, das hortas, mentado na prática, com a percepção de
das práticas higiênicas e da vacinação, que “cada um cuida sempre mais daquilo
entre outras atividades.8, 10 para que contribui”.15 M
O livro Municipal and Rural Sanitation Mesmo considerando o importante tra-
(1927), traduzido para o português com balho do Sesp/Fsesp e sua contribuição à
o título de Saneamento Urbano e Rural e configuração de valores e práticas ainda ho-
lançado no Brasil em 1948,11 tornou-se je vigentes na chamada educação em saú-
referência nacional e serviu como fonte de,9 as limitações da atuação verticalizada,
de subsídios para as publicações poste- quase militarizada e estritamente técnica7
riores do Manual. 5, 12 dos educadores sanitários dificultavam o
Em 1964, o Manual de Saneamento foi diálogo intercultural com as populações
publicado pela Fundação Serviço Especial do campo, da floresta e das águas (ver p.
de Saúde Pública (Fsesp), com o propó- 499). Essas limitações foram sendo supera-
sito de corrigir todos os erros da edição das gradualmente pela educação em saúde
provisória e, especialmente, preencher as e, de forma mais consistente, pelas refle-
lacunas deixadas pela falta de desenhos. xões político-pedagógicas da educação po-
Sua elaboração contou com a valiosa co- pular em saúde (ver p. 232).3, 16
laboração do pesquisador e engenheiro Entre suas atribuições, o Sesp e a Fsesp
sanitarista Szachna Eliasz Cynamon, que eram responsáveis por preparar os pro-
muito contribuiu para o saneamento no fissionais para o trabalho em saúde pú-
Brasil.13, 14 Cynamon, que entrou para os blica, incluindo o aperfeiçoamento de
quadros do Serviço Especial de Saúde Pú- médicos e engenheiros sanitaristas e a
blica (Sesp) em 1952,12 foi o criador, em formação de enfermeiros, assim como a
1965, do Departamento de Saneamento capacitação de pessoal de nível técnico e
381
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
382
MANUAL DE SANEAMENTO
383
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
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385
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Agradecimento
M
MELHORIAS SANITÁRIAS DOMICILIARES
As ações de saneamento devem ser com- e para as melhorias das condições de vi-
preendidas de formas distintas e comple- da e de trabalho nos municípios.1
mentares a depender de sua escala, seja Persiste no Brasil um quadro sani-
nos domínios públicos, comunitários ou tário preocupante, com agravamento
habitacionais. Mesmo em territórios on- da incidência de doenças emergentes e
de não há o acesso aos serviços públicos reemergentes. O lançamento de esgoto
de saneamento básico, as populações re- doméstico sem tratamento no solo ou
alizam de alguma forma os manejos das nos corpos hídricos, a defecação a céu
suas águas e de seus resíduos. O sanea- aberto2 ou em privadas rudimentares
mento domiciliar desempenha um papel não higiênicas, a falta de instalações
fundamental para a promoção da saúde hidráulicas para a limpeza das mãos e
386
MELHORIAS SANITÁRIAS DOMICILIARES
387
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
388
MELHORIAS SANITÁRIAS DOMICILIARES
que de lavar roupa, filtro doméstico e re- soluções, aumentando os custos para a Fu-
cipiente para resíduos sólidos – lixeira) e nasa, além de resultar na apropriação in-
destinação de águas residuais (tanque devida pelos moradores, ao desconsiderar
séptico/filtro biológico, sumidouro, va- seus aspectos socioculturais e econômicos.
las de filtração ou infiltração, sistema de
aproveitamento de água e ligação intra- Critérios e embasamento
domiciliar de esgoto).
O Programa de MSD pode ser conside-
Atualização necessária rado como um importante instrumento
para auxiliar o país a alcançar na univer-
Em que pesem as melhorias previstas pa- salização do acesso ao saneamento, em
ra cada um dos componentes, fica eviden- especial para as populações do campo, da
te que as MSDs não se limitam àquelas floresta e das águas (ver p. 499). Nesse
apresentadas na publicação da iniciativa. sentido, deve constar nos planejamentos
É fundamental viabilizar recursos finan- municipais e no sistema de informações
ceiros e assessoria técnica para novas a relação de déficit de acesso às soluções
tecnologias sociais que estão sendo de- adequadas de saneamento domiciliar.
senvolvidas e que devem ser apropriadas, O critério de elegibilidade e priorida-
de acordo com as especificidades locais e de no enquadramento do município no
os condicionantes socioambientais.3 programa deve ser norteado por condi-
Dos vários tipos de melhorias disponí- cionantes epidemiológicos, sanitários e
veis e financiáveis pela Funasa, o módu- socioambientais, geralmente focalizando M
lo sanitário é o que desperta atualmente as de maiores déficits proporcionais em
maior interesse da municipalidade para serviços de saneamento, em articulação
sua construção. Compreende um conjunto com outros programas governamentais.
de melhorias sanitárias, formado por, no Um dos critérios de prioridade do finan-
mínimo, abrigo com vaso sanitário e des- ciamento do programa deve estar associa-
tino adequado dos dejetos (tanque séptico do à existência de um Plano Municipal de
e sumidouro ou ligação à rede de esgoto). Saneamento Básico (PMSB – ver p. 450).
Atualmente, com o desenvolvimento Levando-se em conta o Programa de
de novas tecnologias sociais de manejo MSD e considerando a oportunidade da
das águas, dos esgotos domésticos e dos atualização do Plano Nacional de Sane-
resíduos sólidos, associados com o mane- amento Básico (Plansab – ver p. 457), da
jo dos solos e das plantas, ampliaram-se implementação do Programa Saneamen-
as perspectivas promocionais de saúde e to Brasil Rural (PSBR – ver p. 525), bem
de geração de renda.3, 7, 10-12 como pelo planejamento municipal por
Entretanto, o Programa de MSD deve meio dos PMSBs, os municípios devem
manter a possibilidade da apropriação das avaliar a possibilidade da implementação
técnicas e sua complementaridade a par- das oficinas municipais de Saneamento.
tir do inquérito sanitário domiciliar para Elas devem ser encaradas como espaços
sua efetividade no domicílio. Reduzir o de interação entre os trabalhadores do
programa aos módulos sanitários padro- saneamento e da saúde e a população, na
nizados pode restringir a diversidade de perspectiva da intersetorialidade e da
389
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
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390
MELHORIAS SANITÁRIAS DOMICILIARES
M
MIGRAÇÃO
M
391
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
392
MIGRAÇÃO
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393
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
394
M
MOBILIZAÇÃO SOCIAL
A mobilização social faz parte da realiza- favorecendo o controle destas ações pa-
ção da democracia e promove o controle ra grupos que mantêm poder político e
popular dos processos decisórios. Con- econômico, seja pelo cooptação, pela co-
tribui para a busca da autonomia dos ter- erção ou por ambos.
ritórios e para a promoção e implantação
de políticas públicas territorializadas. Mobilização e saneamento básico
Agir coletivamente fortalece a identi-
dade de grupos sociais, potencializando No final da década de 1980 são estrutu-
a promoção da saúde e o fortalecimento rados no Brasil novos movimentos so-
de redes comunitárias. A mobilização ciais populares com o fim do regime di-
social para a elaboração do planejamento tatorial. Entre 1970 e 1988, ocorre uma
municipal de saneamento incorpora ao ampla mobilização social que resulta no
conhecimento técnico os saberes locais movimento da Reforma Sanitária. Esse
para efetivação do saneamento universal processo buscou debater as estratégias
que abarque os desejos e necessidades da necessárias para mudanças nas ações de
população atendida. saúde pública no país. Houve mobiliza- M
O ato de mobilizar consiste na neces- ção de setores da sociedade civil – orga-
sidade de organização da sociedade para nizada ou não – de conselhos de saúde,
participação ativa nas questões cotidia- sindicatos e instituições de ensino e pes-
nas que influenciam a composição da es- quisa. Essa conjuntura teve seu ápice na
trutura social, por meio de ações coleti- 8ª Conferência Nacional de Saúde, que
vas visando objetivos comuns. “Mobilizar contou com ampla participação popular,
torna-se, assim, condição essencial para a fazendo emergir pautas da sociedade vin-
participação social.”1 culadas à democratização da saúde.3
A imobilização precede o ato de mo- A mobilização social em saúde e em
bilizar um grupo social. Para analisar a saneamento básico surge como uma es-
ação popular nos processos políticos de tratégia marcada por lutas e militâncias
intervenção, é preciso compreender os de segmentos sociais excluídos. Não de-
momentos em que há desinteresse co- ve se resumir à validação das políticas
letivo sobre as questões que envolvem a públicas e/ou serviços sociais nas áreas
vida da população. A organização da so- de saúde e saneamento básico, mas de-
ciedade capitalista contribui com a alie- ve contemplar as reivindicações de di-
nação dos sujeitos para que não tenham reitos na luta social pelas boas práticas
voz e autonomia frente às mudanças sanitárias e pela promoção da qualidade
políticas em sua vida cotidiana. Somos de vida e do direito humano à água e ao
organizados para sermos receptores e esgotamento sanitário (Dhaes – ver p.
não promotores de políticas públicas, 205). Isto se evidencia na constatação de
395
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
396
MOBILIZAÇÃO SOCIAL
397
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
construída pelo grupo, seja pelo coleti- ganha notoriedade a partir da globalização
vo de instituições ou pelos movimentos das mídias sociais, que se tornaram ferra-
sociais e populares. mentas estratégicas para a comunicação
Trata-se de uma perspectiva freiria- nos territórios, pois ultrapassam as fron-
na de organização na forma de diálogos, teiras da localidade e dão voz aos excluídos.
pautada na construção de hipóteses e A mobilização social é uma ação fun-
transformação da realidade social, que damental para democratização de po-
está centrada na superação das contra- líticas públicas. A territorialização das
dições, pela qual o povo e as lideranças ações do Estado é um processo de cons-
aprendem e constroem juntos.6 trução conjunta com a sociedade para a
Embora a mobilização social ainda recor- criação de vínculos de pertencimento.
ra aos meios de comunicação tradicionais A mobilização em torno da saúde e do
(tais como mapeamento dos atores, jornal saneamento básico é caminho para a
local, ouvidorias coletivas e reuniões co- busca do direito à universalização dos
munitárias), é crescente a mobilização por serviços – com equidade e integralidade
meio de ações de comunicação em rede, – enfrentando as iniquidades e as desi-
mais rápidas e populares. Esse processo gualdades territoriais.
Referências bibliográficas
398
MOBILIZAÇÃO SOCIAL
Vídeo
Ana Paula Lucas Caetano. Professora, doutoranda em Saúde Coletiva pelo IFF/Fiocruz.
Professora-pesquisadora no Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em
Saúde (Lavsa) da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
399
N
401
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
• B4. Indivíduos doentes que não se mo- ças que não estão na lista de notificações,
tivam a ir às unidades assistenciais de mas que são de grande importância sani-
saúde por dificuldades financeiras, dis- tária, a exemplo das doenças diarreicas.
tâncias, filas, precariedade das unida-
des de saúde etc. (acessibilidade física, Doenças relacionadas
econômica e organizacional); ao saneamento
• B5. No atendimento em saúde não é es-
tabelecida a suspeita de diagnóstico da Dentre os indicadores de saúde associa-
doença (anamnese); dos ao saneamento, destacam-se, além da
• B6. A suspeita é estabelecida, porém diarreia: a mortalidade infantil; as para-
o indivíduo não é submetido a exame sitoses intestinais causadas por helmin-
clínico (acessibilidade econômica e tos (verminoses) e por protozoários (ex.
técnica-laboratorial); giardíase e amebíase); os índices antropo-
• B7. A notificação não é realizada ou é métricos, tracoma, doenças dermatológi-
parcialmente realizada nos prontuá- cas, entre outras8.
rios médicos (erro na prescrição médica Estudos sobre os impactos na saúde e
e precarização do processo de trabalho); no SUS decorrentes de agravos ligados
• B8. Necessidade de se confirmar os ca- ao saneamento7 resultaram no indica-
sos notificados, prováveis e suspeitos. dor das doenças relacionadas ao sanea-
mento básico inadequado (DRSAIs – ver
A superação dessas múltiplas barreiras p. 218), incorporado ao Instituto Brasi-
requer que o SUS, no âmbito dos municí- leiro de Geografia e Estatística (IBGE).
pios, tenha um sistema eficaz de vigilân- A precariedade dos componentes de
cia em saúde (ver p. 779), de educação em saneamento, bem como o saneamento
saúde, de acessibilidade à informação, aos domiciliar e a higiene pessoal inade-
estabelecimentos assistenciais de saúde quados, constituem ameaças à saúde da
e aos laboratórios. É fundamental que os população, sobretudo para os grupos so-
profissionais de saúde estejam devida- ciais com maior vulnerabilidade socio-
mente capacitados e com condições de ambiental (ver p. 786). Entre as doenças
trabalho que permitam realizar a pres- de transmissão feco-oral, as diarreias
crição médica, bem como o envio dos for- ocupam o primeiro lugar, sendo respon-
mulários de notificação para o sistema de sáveis pela maior parte das internações
informação. por DRSAIs.9
Essas informações geram indicadores Em relação às diarreias, a vigilância em
de saúde de morbimortalidade neces- saúde é feita pela monitoração das doen-
sários para orientar as prioridades das ças diarreicas agudas (DDA), que consiste
ações de saúde e de saneamento nos ter- no registro de dados básicos dos doentes
ritórios (ver p. 729). Além das doenças de (residência, idade, plano terapêutico) em
notificação compulsória, para uma maior unidades de saúde. No entanto, em casos
compreensão da eficácia dos sistemas de de surto, a notificação de DDA é compul-
saneamento básico, é necessário obter in- sória e imediata (até 24 horas do conheci-
formações do monitoramento ambiental mento do evento) à secretaria municipal
das águas, dos solos, da biota e de doen- de Saúde, à secretaria estadual de Saúde e
402
NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA DE DOENÇAS E AGRAVOS (NCDA)
N
Referências bibliográficas
403
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
404
NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA DE DOENÇAS E AGRAVOS (NCDA)
405
0
407
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
408
OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Referências bibliográficas
409
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
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3. YOSHIMOTO, P. M.; FILHO, J. T.; SARZEDAS, G. L. Programa Nacional de Comba-
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www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=370933.
5. MDR. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento: diagnóstico dos servi-
ços de água e esgotos - 2017. Brasília: MDR, 2019. Disponível em: http://www.snis.
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6. MCidades. Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab). Brasília: MCidades,
2013. Disponível em: https://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNSA/
Arquivos_PDF/plansab_06-12-2013.pdf.
410
OPERAÇÃO, MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO NAS SOLUÇÃO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO
ReCesa/construcaooperacaoemanutencaoderedesdedistribuicaodeagua-nivel2.pdf.
MCIDADES (org.). Operação e manutenção de estações elevatórias de água. Guia do
profissional em treinamento: nível 2. Brasília: MCidades, 2008.
MCIDADES (org.). Operação e manutenção de estações de tratamento de água. Guia
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FUNASA. Redução de perdas em sistemas de abastecimento de água. 2. ed. Brasília:
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PHILIPPI JR., A. (ed.). Saneamento, saúde e ambiente: fundamentos para um desen-
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TSUTIYA, M. T. Abastecimento de água. São Paulo: Departamento de Engenharia Hi-
dráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2006.
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela North Carolina
State University (EUA). Professor Associado do Departamento de Engenharia Sanitá-
O
ria e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
0
OPERAÇÃO, MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO NAS
SOLUÇÕES DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO
411
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
412
OPERAÇÃO, MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO NAS SOLUÇÃO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO
nidade ou dos próprios moradores. Dife- um ovo podre é indicativo de que há gás
rentemente das áreas urbanas, em que os sulfídrico (H2S) sendo liberado em trata-
usuários dependem das prestadoras dos mentos anaeróbios, e isso é um indício de
serviços, nessas áreas eles devem parti- que pode haver escuma acumulada, alto
cipar ativamente da operação e da ma- teor de sulfetos, turbulência nos locais de
nutenção rotineira dos sistemas.4 Dessa transferência de esgoto e lodo ou inade-
forma, é importante que os usuários se- quação na mistura do reator.7 Se o trata-
jam capacitados para que possam prestar mento for aeróbio e o odor for perceptível
essas funções, a partir de ações do poder é sinal de que há deficiência de oxigênio
público e dos prestadores de serviço. e/ou mistura inadequada.7 Para solucio-
Essas operações de sistemas, sejam nar esses problemas, a equipe de opera-
unifamiliares ou semicoletivas, integram ção e manutenção deve estar qualificada
ações que devem ser feitas em cooperação para tomar medidas contingenciais.
com o poder público, como limpeza da área Nos casos de soluções individuais, um
do entorno; desobstrução de unidades co- problema comum é o acúmulo de gor-
mo tubulações e caixas de gordura; e ins- dura no sistema, que pode causar obs-
peção da integridade física e estrutural das truções nas tubulações e consequentes
unidades. Em geral, essas ações são pouco extravasamentos. Por isso, é importante
frequentes e simplificadas se comparadas que a caixa de gordura nas residências e
aos sistemas coletivos de esgotamento sa- também em atividades comerciais e insti-
nitário, menos custosas financeiramente e tucionais seja implementada e que passe
pouco dependentes de serviços externos.5 por inspeção pelo menos de seis em seis
meses para evitar transtornos.5 Além dis-
Potenciais problemas em sistemas so, é importante que detritos não sejam
de esgotamento sanitário descartados nas peças sanitárias. Assim
como em soluções individuais, as soluções
O
Tanto as redes de coleta e transporte de coletivas também podem apresentar pro-
esgoto quanto as estações de tratamento blemas de obstrução. Esse entupimento
de esgoto (ETEs) são potenciais fontes de das redes coletoras e de transporte de es-
geração de gases e odores provenientes goto ocorre devido ao mau uso. Parte dos
de componentes do esgoto, e a intensi- usuários jogam no vaso sanitário itens
dade varia em função de suas caracte- que deveriam descartar na lixeira. Obje-
rísticas e do próprio processo de trata- tos comumente encontrados são fraldas,
mento. Esses odores não são comuns e cotonetes, cabelo, absorventes, fio den-
são, geralmente, percebidos em caso de tal, guimbas de cigarros, algodão, preser-
operação ou manutenção deficiente. Os vativos, entre outros que podem compro-
principais produtos responsáveis pelo meter todo o funcionamento do sistema,
odor e pela corrosão das tubulações são gerando gastos para manutenção.8
também tóxicos ao ser humano. Repre- Nas soluções coletivas e individuais po-
sentam, assim, um perigo potencial para dem ocorrer vazamentos devido a corro-
os operadores desses sistemas.6 sões nas tubulações ou por meio de jun-
Por exemplo, no caso de estações de tas mal executadas.8 Esse problema não é
tratamento, se o odor for similar a de fácil de ser detectado, uma vez que a água
413
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Referências bibliográficas
414
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
Lívia Cristina da Silva Lobato. Engenheira civil e doutora em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG.
Fabiana Lopes Del Rei Passos. Doutora em Engenharia Ambiental pela Universitat Po-
litècnica de Catalunya (UPC), Espanha. Professora adjunta do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
O
O
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
415
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
416
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
417
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
Referências bibliográficas
418
ORGANIZAÇÃO JURÍDICO-INSTITUCIONAL
0
ORGANIZAÇÃO JURÍDICO-INSTITUCIONAL
419
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
420
ORGANIZAÇÃO JURÍDICO-INSTITUCIONAL
421
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
Referências bibliográficas
422
ORGANIZAÇÃO JURÍDICO-INSTITUCIONAL
423
P
PARTICIPAÇÃO SOCIAL
425
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
Com o crescimento (ver p. 172) e o de- cia Nacional e o Conselho Nacional das
senvolvimento do país, a expansão ur- Cidades (ConCidades), que possuía, em
bana suscitou o início do debate para a sua estrutura, o Comitê Técnico de Sa-
construção de políticas públicas para o neamento Ambiental.
atendimento das demandas sociais de O Conselho esteve em funcionamento
infraestrutura urbana, que posterior- entre 2003 e 2019, quando foi oficial-
mente sucedeu “uma série de mudanças mente encerrado por decreto presiden-
estruturais na sociedade brasileira, que cial que extinguiu e estabeleceu diretri-
refletiram na abolição da escravatura, zes, regras e limitações para colegiados
na subvenção à imigração e na Procla- da administração pública federal.2 A ex-
mação da República”. 3 tinção foi um retrocesso sem preceden-
A consolidação das ações públicas de tes. O ConCidades era composto por seg-
saneamento no Brasil foi marcada pelas mentos do poder público e da sociedade
ações de participação social, uma discus- civil e contribuiu com os principais mar-
são conduzida pela alta sociedade pleite- cos do saneamento básico no Brasil, ain-
ando uma reforma sanitária, tendo em da vigentes, como a Lei do Saneamento e
vista a vulnerabilidade da população às o Plano Nacional de Saneamento Básico
crescentes enfermidades de epidemias – (Plansab – ver p. 457), com diretrizes pa-
como a de cólera. ra a elaboração dos Planos Municipais
Essa situação acirra-se pela ausência de Saneamento Básico (PMSB – ver
de ações governamentais para o abasteci- p.450), para a criação e implementação
mento de água, já que inicialmente este de instrumentos de participação e con-
foi um privilégio da elite, cenário que ge- trole social nos municípios. Além disto,
rou uma revolta popular, através de rei- o ConCidades funcionava como espaço
vindicações coletivas que posteriormente de controle social, no qual eram apresen-
resultaram na reestruturação dos servi- tadas e discutidas informações sobre a
ços de saneamento urbano no Brasil.3 aplicação de investimentos e implemen-
tação da política no setor.
O Plansab8 prevê a elaboração e execu-
Decisões sobre o ção do Programa de Saneamento Estrutu-
saneamento básico rante a partir de recursos orçamentários e
ações de apoio à gestão, à prestação de ser-
No Brasil, os processos formais de par- viços, à formação e qualificação técnica, ao
ticipação social relativos ao saneamen- desenvolvimento científico e tecnológico,
to básico são recentes, instituídos pelo à comunicação e divulgação, associado ao
marco regulatório do saneamento, a Programa Saneamento Brasil Rural (PSBR
Lei 11.445/2007. Por ela foi fomentada – ver p. 525) e ao Programa de Saneamen-
a participação nos três níveis: nacional, to Básico Integrado. Isto é fundamental
estadual e municipal. para apoiar os municípios no exercício de
No âmbito nacional, os principais me- suas titularidades, no aprimoramento da
canismos de participação e controle so- gestão municipal e dos prestadores públi-
cial da política de saneamento básico que cos de serviços, na estruturação e fortale-
já existiram no Brasil foram a Conferên- cimento da participação social e na melho-
426
PARTICIPAÇÃO SOCIAL
427
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
Referências bibliográficas
https://www.mdr.gov.br/images/stories/ArquivosSNSA/Arquivos_PDF/cartilha_con-
trole_social_saneamento.pdf
http://www.funasa.gov.br/site/wp-content/uploads/2013/05/luiz_roberto.pdf
https://www.scielo.br/pdf/rieb/n63/0020-3874-rieb-63-0141.pdf
428
PERDAS DE ÁGUA
Ana Paula Lucas Caetano. Professora, doutoranda em Saúde Coletiva pelo IFF/Fiocruz.
Professora-pesquisadora no Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em
Saúde (Lavsa) da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
P
PERDAS DE ÁGUA
429
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
430
PERDAS DE ÁGUA
431
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
432
PERDAS DE ÁGUA
Referências bibliográficas
433
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade
Estadual da Carolina do Norte (EUA). Professor associado do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental (Desa) da Universidade Federal de Minas Gerais.
434
PLANEJAMENTO DOS SERVIÇOS
435
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
436
PLANEJAMENTO DOS SERVIÇOS
Referências bibliográficas
437
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
P
PLANO DE SEGURANÇA DA ÁGUA: ETAPAS E
BENEFÍCIOS PARA OS MUNICÍPIOS
Este verbete foi elaborado na vigência da Portaria de Consolidação 5 de 2017, do Ministério da
Saúde, que foi substituída pela Portaria GM/MS 888, publicada em 4 de maio de 2021.
438
PLANO DE SEGURANÇA DA ÁGUA: ETAPAS E BENEFÍCIOS PARA OS MUNICÍPIOS
439
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
440
PLANO DE SEGURANÇA DA ÁGUA: ETAPAS E BENEFÍCIOS PARA OS MUNICÍPIOS
Referências bibliográficas
BARTRAM, J.; CORRALES, L.; DAVISON, A.; DEERE, D.; DRURY, D.; GORDON, B.;
HOWARD, G; RINEHOLD, A.; STEVENS, M. Water safety plan manual: step-by-
441
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
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César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela North Carolina
State University (EUA). Professor associado do Departamento de Engenharia Sanitária
e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
P
PLANO DE SEGURANÇA DA ÁGUA:
IMPORTÂNCIA E COMPONENTES
442
PLANO DE SEGURANÇA DA ÁGUA: IMPORTÂNCIA E COMPONENTES
443
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Para cada medida de controle identifi- Um PSA deve incluir, além disso, planos
cada devem ser definidos programas de de comunicação interna (por exemplo,
monitoramento operacional. Tais pro- com os responsáveis pela vigilância da
gramas devem determinar os parâme- qualidade da água) e externa (com o pú-
tros a serem monitorados (quantitativos/ blico consumidor).
mensuráveis ou qualitativos/observacio-
nais), em que pontos do sistema (pontos Verificação contínua e
de controle, pontos críticos de controle) e avaliação permanente
qual a frequência de monitoramento ne-
cessária para cada um. Os resultados do Em suma, planos de segurança da água
monitoramento devem ser confrontados são instrumentos que identificam e prio-
com metas de desempenho operacional rizam perigos e riscos em um sistema de
(limites operacionais) ou limites crí- abastecimento, no intuito de estabelecer
ticos, de tal forma que qualquer desvio medidas para reduzi-los ou eliminá-los
com relação ao desempenho desejado (por meio do controle da contamina-
possa ser prontamente corrigido. Isso ção dos mananciais, da otimização dos
significa que medidas corretivas também processos de tratamento da água e da
devem estar previstas. prevenção da contaminação da água no
Ponto crítico de controle, a propósito, é sistema de distribuição). Visam também
a etapa do processo de produção na qual estabelecer processos para verificação
um controle essencial deve ser aplicado contínua da eficácia dos sistemas na
para evitar ou eliminar um perigo, ou produção e fornecimento de água segura
para reduzi-lo a um nível aceitável. Li- para consumo humano.
mite operacional (ou nível de alerta), por Assim, os PSAs devem ser objeto de
sua vez, é um critério que indica se uma avaliação e atualização permanentes
medida de controle cumpre efetivamen- e, para tanto,. devem ser submetidos a
te sua função. Por fim, limite crítico é a auditorias internas e, principalmente,
linha divisória entre a aceitabilidade e a externas - no caso do Brasil, por exem-
não conformidade do produto4, 6. plo, pelo setor de saúde, responsável pe-
Os planos de gestão devem incluir a la vigilância da qualidade da água para
documentação do desenvolvimento e consumo humano.
da implementação das etapas anterio- Por fim, cabe notar que os PSAs podem
res (descrição e avaliação do sistema de variar em escala e complexidade e que a
abastecimento de água, descrição das metodologia que embasa seu desenvol-
rotinas de operação e de monitoramen- vimento é adaptável e aplicável a condi-
to) e de protocolos de ação para períodos ções bastante diversas, tanto em termos
de operação normal; devem ainda ser de porte do sistema de abastecimento de
previstos planos de contingência (ver p. água quanto da realidade socioeconômica
139) voltados à condições incidentais, da população atendida.
tais como acidentes com cargas perigo-
sas no manancial, interrupção do forne-
cimento de água e falhas no sistema de
tratamento, para citar alguns exemplos.
444
PLANO DE SEGURANÇA DA ÁGUA: IMPORTÂNCIA E COMPONENTES
Referências bibliográficas
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Disponível em: https://www.who.int/water_sanitation_health/publications/
auditing-water-safety-plans/en/
Rafael Kopschitz Xavier Bastos. Engenheiro civil pela Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF), com especialização em Engenharia de Saúde Pública pela Escola Nacional
de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). PhD em
Public Health Engineering pela Universidade de Leeds (Reino Unido). Assessor/consul-
tor do Ministério da Saúde, da Organização Pan-Americana da Saúde e da Organização
Mundial da Saúde, em temas relacionados à qualidade da água para consumo humano.
445
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
P
PLANO DIRETOR, PLANOS SETORIAIS E O PMSB
O Plano Municipal de Saneamento Bá- ambiental para sua região ou para o país.
sico (PMSB) é uma ferramenta de pla- O Plano Diretor tem o objetivo de fazer
nejamento, com objetivos e metas para com que a propriedade cumpra sua fun-
garantir a qualidade, a continuidade e a ção social, conforme determina a Cons-
implementação sustentável dos serviços tituição Federal do Brasil. Uma proprie-
de saneamento em seu processo de uni- dade urbana cumpre sua função social
versalização, com vistas à promoção da quando satisfaz os critérios de uso e ocu-
saúde pública. Diversos tipos de planos pação do solo e é efetivamente utilizada
setoriais existentes são instrumentos conforme a lei municipal, ou ainda quan-
importantes no planejamento municipal, do sua não utilização diga respeito à fina-
revelando-se fundamentais para a elabo- lidade de preservação do meio ambiente.2
ração do PMSB. Entre eles, estão o Plano Uma das etapas da elaboração do PD-
Diretor de Desenvolvimento Urbano, o DU é o diagnóstico dos serviços de sa-
Plano de Habitação e Interesse Social, o neamento, que inclui o levantamento de
Plano de Recursos Hídricos e os planos informações sobre os serviços, o cadastra-
diretores setoriais de abastecimento de mento da infraestrutura existente e a ava-
água, esgotamento sanitário, gestão in- liação de ações de saneamento na redução
tegrada de resíduos sólidos e manejo das de riscos à saúde e ao meio ambiente e de
águas pluviais e drenagem urbana. seu impacto para a qualidade de vida da
população. Além disso, o Plano deve fazer
O Plano Diretor recomendações para a superação dos pro-
blemas diagnosticados nos serviços de sa-
O Plano Diretor de Desenvolvimento neamento e desenvolver ações que visem
Urbano (PDDU) tem como finalidade pla- minimizar ou evitar impactos desses pro-
nejar o crescimento do município, regula- blemas no desenvolvimento urbano.
mentar o uso e ocupação do solo, a mobili-
dade urbana, a urbanização, o turismo e o Abordagem generalista
saneamento. Conforme a Lei 10.257/2001,
conhecida como Estatuto da Cidade,1 o O Plano Diretor possui caráter generalista
PDDU é obrigatório para todos os municí- em relação ao setor de saneamento e tem
pios com população superior a 20 mil ha- como finalidade estabelecer a relação en-
bitantes, para os municípios integrantes de tre o saneamento e o planejamento da
regiões metropolitanas e aglomerações ur- cidade. Na etapa do diagnóstico, os res-
banas, para aqueles com áreas de interesse ponsáveis pela elaboração do PMSB (ver
turístico especial ou que estejam situados p. 450) devem buscar, no Plano Diretor,
em áreas de influência de empreendimen- as seguintes informações:3 parâmetros de
tos ou atividades com significativo impacto uso e ocupação do solo, definição do perí-
446
PLANO DIRETOR, PLANOS SETORIAIS E O PMSB
447
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
produção de água tratada, enquanto o es- dos usos da água, respeitando a capaci-
gotamento sanitário necessita realizar a dade de suporte do corpo d’água e cal-
disposição final dos efluentes tratados culando a cobrança aos grandes usuários
que, em geral, são corpos hídricos. Os re- pela água consumida, com vistas à uni-
cursos hídricos, sejam eles aproveitados versalização do acesso à água.
direto da natureza ou mediante obras de O planejamento no âmbito da bacia
infraestrutura, têm usos múltiplos para o consiste no diagnóstico físico, ambiental,
abastecimento humano, o abastecimen- social e econômico dessa unidade territo-
to industrial, a manutenção ecológica, a rial e na elaboração de um prognóstico de
navegação, a criação de animais e a agri- como será garantido o adequado acesso à
cultura. Desse modo, eles são foco de uma água a todos os usuários, estabelecendo
disputa de interesses permanente. prioridades e programas de proteção dos
De forma a controlar o uso adequado recursos hídricos, por meio da constru-
dos cursos d’água, a Política Nacional ção de cenários. Também devem ser en-
de Recursos Hídricos (PNRH), institu- quadrados os corpos de água presentes
ída pela Lei 9.433/97, exige o planeja- na bacia e a aplicação do instrumento de
mento dos usos e demandas relativas à cobrança pelo uso, denominado outorga.
água, por meio da elaboração de planos
de gestão dos recursos hídricos, tanto Plano de gestão de água
em âmbito nacional, quanto estadual e e planos setoriais
das bacias hidrográficas.
O Plano Nacional de Recursos Hídri- Assim como o PMSB, o plano de gestão
cos busca estabelecer as diretrizes para de água deve envolver todas as esferas
a implementação da PNRH. Para o país da sociedade (pública, privada, ONGs e
como um todo, são elaborados um pano- representantes da sociedade), de modo
rama e um prognóstico com linhas ge- a decentralizar a tomada de decisão. É
rais de planejamento, que leva em conta importante que o PMSB esteja alinhado
as especificidades de cada região. Esses com os planos de gestão de água, tendo
instrumentos servem de base para a ela- em vista seu impacto sobre a disputa pelo
boração das políticas estaduais de Re- uso desse recurso, seja no que se refere à
cursos Hídricos (PERHs). As PERHs vi- exploração da água bruta para tratamen-
sam quantificar a oferta de água dispo- to e posterior distribuição para o abaste-
nível nos estados, diagnosticar as bacias cimento humano ou ao uso de manancial
existentes, resolver conflitos e elaborar para lançamento de esgoto doméstico
linhas de recursos para a implementação tratado como forma de disposição final.
do planejamento no âmbito da bacia hi- Na etapa de diagnóstico do plano de sa-
drográfica. Também têm como finalida- neamento, é preciso levantar as informa-
de resolver problemas que ultrapassam o ções sobre o uso e a ocupação do solo ao
âmbito desta. redor das bacias, o enquadramento dos
A bacia hidrográfica é uma unidade corpos d’água, a oferta de água existente,
de planejamento delimitada pelo curso as zonas de recarga de aquíferos e o esta-
d’água e pela topografia. Os planos lo- do da vegetação de proteção dos manan-
cais de bacia buscam garantir a equidade ciais, bem como a atual disputa pelo uso
448
PLANO DIRETOR, PLANOS SETORIAIS E O PMSB
Referências bibliográficas
449
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela North Carolina
State University (EUA). Professor Associado do Departamento de Engenharia Sanitá-
ria e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais.
P
PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO (PMSB)
450
PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO (PMSB)
cias nesse sentido vivenciadas em nosso marco legal estabelecido em nível nacio-
país foram influenciadas por fatores que nal que é inovador, apesar de transcorri-
determinaram a formação social brasi- da mais de uma década, porque estabele-
leira, bem como marcadas pela orienta- ce que os serviços prestados à população
ção política que se imprimiu ao plane- devem ser necessariamente planejados
jamento no âmbito do projeto nacional de forma participativa e integrada, sub-
de desenvolvimento predominante em metidos à regulação pública e ao contro-
cada época. A associação intrínseca en- le social. Conformam os pilares deste
tre planejamento e plano, este como uma marco legal a Lei 11.445/2007 e o seu
peça meramente técnica, predominou em Decreto 7.217/2010 sobre as diretrizes
grande parte da história da administra- nacionais para o saneamento básico e a
ção pública no Brasil. Nessa vertente, o política federal, que tem o Plano Nacional
planejamento é visto como um processo de Saneamento Básico (Plansab – ver p.
estritamente técnico, dominado por es- 457) como seu principal instrumento de
pecialistas e burocratas. Acreditava-se implementação; a Lei 12.305/2010 sobre
que o plano certo seria suficiente para a Política Nacional de Resíduos Sólidos
atingir os resultados esperados. Porém, (PNRS – ver p. 463); e a Lei 11.107/2005,
são inúmeras as experiências fracassadas sobre gestão associada e consórcios públi-
que se pautaram em planos que na teoria cos (ver p. 293 e 296). Talvez o maior de-
se mostravam perfeitos. safio que se tem seja o de transformar o
Olhando desse lugar, o saneamento que está na lei em agenda pública, em prol
no Brasil acumula um atraso históri- do desenvolvimento do município.
co do ponto de vista da injustiça social A legislação atual determina que o
e da degradação ambiental, decorrente PMSB é condição para pleitear recursos
da hegemonia de uma visão de negócio à União e é também instrumento nor-
e tecnicista. Esse legado resulta do tra- mativo dos contratos de prestação dos
ço de centralização e autoritarismo serviços por agentes públicos ou priva-
que caracterizou o setor, desde o Plano dos. Define que o Plano deve englobar
Nacional de Saneamento (Planasa), integralmente o território do titular, P
formulado na ditadura militar, bem co- o que significa incluir as áreas urbana e
mo das próprias orientações do Estado rural do município, inclusive povos e co-
brasileiro, particularmente na década de munidades que têm seus modos de vida,
1990 e mais recentemente desde meados produção e reprodução social relaciona-
de 2016, com medidas que pautam sobre dos predominantemente com o campo, a
a obrigatoriedade de haver concorrência floresta e as águas, além das áreas onde
nas contratações de serviços na área, mora população de baixa renda (favelas,
abrindo caminho para aumento da parti- ocupações irregulares, assentamentos
cipação da iniciativa privada no setor. precários, entre outras denominações).
A legislação vigente que regulamenta o Portanto, o PMSB deve propor progra-
setor ensaiou uma ruptura com essa tra- mas, projetos e ações tanto para o sanea-
jetória. Atualmente o saneamento brasi- mento urbano quanto para o saneamen-
leiro está institucionalizado no âmbito to rural (ver p. 525), mediante soluções,
do pacto federativo, sob a égide de um inclusive, tecnológicas, compatíveis com
451
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
452
PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO (PMSB)
453
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
fiscalização e prestação dos serviços; para cobrir o custo integral dos serviços.
• as hipóteses de intervenção e de reto- Também integra o ciclo da gestão a
mada dos serviços. função do controle social (ver p. 156) que,
como já mencionado, deve perpassar to-
A legislação em vigor, assim como ino- das as demais. Por definição, as instân-
vou com relação à regulação, avança sig- cias instituídas de participação popular
nificativamente na questão da renume- e de controle social englobam os conse-
ração dos serviços, outrora denominada lhos municipais de políticas públicas, as
política tarifária. O art. 45 do Decreto conferências municipais, as audiências
7.217/2010 estabelece que a sustentabi- públicas e os fóruns temáticos, entre ou-
lidade econômico-financeira (ver p. 106) tros e, sobretudo, expressam a influên-
dos serviços públicos de saneamento bá- cia da população no processo decisório
sico será assegurada, sempre que possí- do saneamento no município. O Decreto
vel, mediante remuneração que permita 8.211/2014 da Presidência da República
a recuperação dos custos dos serviços determina que municípios que se inte-
prestados em regime de eficiência. Isso ressarem em pleitear recursos da União
significa que: i) a cobrança tem que ser devem contar com o órgão colegiado já
feita para cobrir custos de serviços que instituído para exercer o controle social.
sejam prestados com eficiência, ou seja, Contudo, esse prazo expirou em 31 de
com níveis admissíveis de perdas, condi- dezembro de 2014.
ções adequadas de acesso e de qualida- A Lei 11.445/2007 traz no seu art. 3º
de; ii) a expressão “sempre que possível” uma definição clara e consistente sobre
aplica-se a cobrar de quem pode pagar, o que se entende por controle social:
devendo a Política prever as situações “conjunto de mecanismos e procedimentos
em que não haja capacidade de paga- que garantem à sociedade informações, re-
mento dos usuários, pois esse não pode presentações técnicas e participações nos
ser motivo para não alcançar as metas de processos de formulação de políticas, de
universalização (§ 6º do art. 22). planejamento e de avaliação relacionados
Fica claro, portanto, que a sustentabi- aos serviços de saneamento básico”. Esse é
lidade econômico-financeira dependerá um conceito que envolve a democratiza-
da combinação de mecanismos baseados ção das relações de poder nas arenas nas
na cobrança por meio de taxas, tarifas e quais se define como os serviços públicos
outros preços públicos, que deve obser- de saneamento básico são planejados,
var as diretrizes do art. 46 (prioridade organizados e prestados à população.
de atendimento, ampliação do acesso de Envolve a democratização das relações
comunidades de baixa renda, inibição do de poder porque, ao garantir acesso à in-
consumo supérfluo e de desperdício, es- formação e representações técnicas, bus-
tímulo ao uso de tecnologias adequadas, ca qualificar a participação social e, mais
entre outros), e a adoção de uma política do que isso, reduzir assimetrias, pois
de subsídios, que podem ser tarifários ou representantes da população podem não
não tarifários, para os usuários e locali- estar em igualdade de condições para
dades que não tenham capacidade de pa- participar dessas arenas onde ocorrem
gamento ou escala econômica suficiente embates, negociações e pactuações.
454
PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO (PMSB)
Assim, a elaboração do PMSB deve ser Recomenda-se também que seja pro-
ancorada em uma metodologia que seja: videnciada a apreciação e validação do
PMSB pelo órgão colegiado e, preferen-
• participativa, em relação às lideranças cialmente, por outros conselhos munici-
comunitárias e aos agentes sociais com pais afetos à Política de Saneamento (de
representação nas instâncias colegia- saúde, de meio ambiente, de recursos hí-
das existentes, e fomentadora do exer- dricos, da cidade, se houver). Feito isso, e
cício do controle social e da participa- previamente ao envio ao Legislativo mu-
ção popular durante todo o processo; nicipal, a minuta da proposição deve ser
• promotora de integração com as demais encaminhada à Procuradoria do Muni-
políticas públicas, nas quais o sanea- cípio para uma revisão visando garantir
mento básico seja fator determinante, conformidade com a técnica legislativa e
desde o diagnóstico até a proposição evitar contradições entre os dispositivos
dos programas, projetos e ações; e inseridos no PMSB com as demais nor-
• interativa, no que toca o envolvimento mas vigentes. Só então, essa versão final
e a capacitação do corpo técnico-po- apreciada e aprovada segundo os trâmi-
lítico do município responsável pela tes e instâncias descritos e, já sob forma
gestão dos serviços públicos de sane- de projeto de lei, deve ser encaminhada
amento básico e de políticas públicas pela prefeitura à Câmara, para apreciação
correlatas, incluindo os conselheiros e votação pelos vereadores e vereadoras.
municipais dessas políticas, movimen- Com o amparo da legislação, o que se
tos sociais que militam no tema e de- espera ao longo do processo de elabora-
mais lideranças comunitárias. ção, implementação, avaliação e revisão
do PMSB é que o município emerja for-
O caminho legal talecido na sua condição de titular dos
serviços, assumindo cada vez com mais
Por fim, falta tratar da aprovação do propriedade técnica e legitimidade social
PMSB, que deve se dar por meio de projeto o comando da política e da gestão dos ser-
de lei (PL) a ser enviado pelo Poder Execu- viços de saneamento básico. E que o faça P
tivo municipal para apreciação e aprovação garantindo a participação social para al-
no Poder Legislativo municipal, o que justi- cance do objetivo central de um plano que
fica a necessidade de uma estratégia de en- é a universalização do acesso com atendi-
volvimento da Câmara de Vereadores(as) mento adequado e a melhoria da qualida-
no processo. Nesse sentido, algumas medi- de dos serviços prestados à população e,
das devem ser definidas previamente para consequentemente, a afirmação do sane-
pavimentar a implementação e o sucesso amento como direito.
dessa estratégia. As atividades prepara- Para isso, é preciso entender que plane-
tórias para aprovação do PMSB consistem jar não constitui um ato neutro. Existe
em elaborar uma minuta de PL e submetê- diferença entre método e conteúdo. Em-
-la à discussão com a população durante a bora, como mencionado, sejam muitas as
audiência pública ou conferência munici- metodologias disponíveis para o planeja-
pal, convocada para esse fim, e agregar as mento público, estas apenas fornecem di-
contribuições resultantes desse evento. retrizes sobre como conduzir o processo.
455
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
Por outro lado, o conteúdo não é ditado vulneráveis (como preconiza o Plansab).
pelo método. Assim, os métodos, sejam Dessa forma, é a visão de quem plane-
de corte mais normativo ou pretensa- ja que orienta o que se quer alcançar com
mente estratégico, tanto podem servir o planejamento. Considerados a legisla-
para um planejamento que privilegie uma ção em vigor e o mote deste projeto, indi-
visão do saneamento como mercadoria e ferentemente do nome que se queira dar
a provisão dos serviços como um negócio (planejamento subversivo, democrático
(como orientavam o Planasa e, de tempos ou colaborativo, entre outras denomina-
em tempos, as tentativas de privatização ções), a aposta que se faz é na participa-
do setor), quanto podem conter uma vi- ção social que delibera e que, deste lugar,
são do saneamento como direito e privile- problematiza, tensiona e orienta a ação
giar o atendimento das populações mais do poder público.
Referências
http://www.funasa.gov.br/site/wp-content/uploads/2016/09/PMSB.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_plano_municipal_saneamento_
basico_2_ed.pdf
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PLANO NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO (PLANSAB)
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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PLANO NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO (PLANSAB)
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PLANO NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO (PLANSAB)
duos sólidos, drenagem e manejo das com suas metas de curto prazo, a Secreta-
águas pluviais urbanas), tendo como ria Nacional de Saneamento do Ministério
público-alvo titulares e prestadores de do Desenvolvimento Regional (SNS/MDR)
serviços de abastecimento de água e promoveu sua revisão, estimulando a par-
esgotamento sanitário e os municípios ticipação de representantes do governo
responsáveis pelos serviços de limpeza federal, de associações, universidades, con-
urbana e manejo de resíduos sólidos, selhos e da sociedade civil em reuniões e
drenagem e manejo das águas. consultas públicas pela internet, no segun-
• Programa 2: Saneamento Rural, que do semestre de 2018. Em março de 2019
visa ao atendimento da população ru- foram realizadas duas audiências públicas
ral, povos indígenas e comunidades e foi aberta a consulta pública, encerrada
tradicionais, no conjunto das neces- em 22 de abril de 2019. Foram recebidas
sidades dos componentes do sanea- 2.653 contribuições, das quais 39% foram
mento básico. O programa tem como acatadas ou acatadas parcialmente.
público-alvo as administrações muni- A versão do Plansab após a revisão abran-
cipais, consórcios ou prestadores de ge a atualização de conteúdos dispostos
serviços e instâncias de gestão para o na primeira versão, mantendo os elemen-
saneamento rural, como cooperativas tos conceituais que deram o tom à com-
e associações comunitárias. posição de todas as outras etapas: a aná-
• Programa 3: Saneamento Estrutu- lise situacional do déficit em saneamento
rante, que visa ao apoio à gestão dos básico e dos programas e ações federais, a
serviços com vistas à sustentabilida- avaliação político-institucional do setor, a
de para o adequado atendimento da análise dos investimentos, a visão estraté-
população, financiando medidas para gica para o saneamento básico no Brasil e
a melhoria da gestão e da prestação a elaboração de novos cadernos temáticos,
de serviços e de forma a qualificar os em complementação ao conteúdo presente
investimentos em medidas estrutu- nos 13 cadernos temáticos lançados no Pa-
rais. Tem como público-alvo titulares, norama do Saneamento Básico no Brasil,
consórcios e outras modalidades de subsidiando a versão original do Plano. P
gestão, prestadores públicos, gestores, Embora apresente um fraco alinha-
entidades de ensino e pesquisa. mento com os princípios dos direitos hu-
manos à água e ao esgotamento sanitário
A unificação do Plano nos três progra- (ver p. 205), aos quais o Brasil aderiu
mas teve por objetivo dar mais raciona- em 2010, a revisão mantém a lógica de
lidade, mais clareza na política pública e planejamento pautada em uma visão es-
maior capacidade de coordenação, consi- tratégica do futuro. Os cenários de pla-
derando que havia uma grande dispersão nejamento foram atualizados, de forma
de iniciativas até então. a se ajustarem à realidade esperada nos
próximos anos de sua vigência, já ante-
Revisão do Plansab vista na versão original do Plansab, mas
tratada como um cenário alternativo.
Após o primeiro período de implementa- Outro ponto na revisão do plano diz
ção do Plansab (2014-2017), coincidente respeito à manutenção do equilíbrio en-
461
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
Referências bibliográficas
Nota
Ana Britto. Geógrafa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-
-Rio), mestre em Planejamento Urbano e Regional pela UFRJ, doutora em Urbanismo
pelo Institut D’Urbanisme de Paris – Université de Paris XII. Professora associada da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e do Programa de Pós-Graduação em
Urbanismo (Prourb) da UFRJ.
Sonaly Rezende. Engenheira civil e mestre em Saneamento pela UFMG, doutora em De-
mografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Univer-
sidade. Professora do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e do Programa
de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG.
Léo Heller. Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e relator especial das
Nações Unidas sobre os Direitos Humanos à Água e ao Esgotamento Sanitário.
462
PLANOS DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PGIRSS)
P
PLANOS DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PGIRSS)
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EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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PLANOS DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PGIRSS)
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EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Referências bibliográficas
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OS PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO À LUZ DA LEI 14.026/2020
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OS PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO À LUZ DA LEI 14.026/2020
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
• Abastecimento de água potável: consti- ções para a prestação dos serviços públi-
tuído pelas atividades e pela disponibili- cos do setor, de forma a que cheguem a
zação e manutenção de infraestruturas todo cidadão e cidadã, integralmente, sem
e instalações operacionais necessárias interrupção, com eficiência e qualidade.
ao abastecimento público de água potá- Os planos têm ainda como objetivos dotar
vel, desde a captação até as ligações pre- o gestor público de instrumento de plane-
diais e seus instrumentos de medição; jamento de curto, médio e longo prazos,
• Esgotamento sanitário: constituído de forma a atender as necessidades pre-
pelas atividades e pela disponibiliza- sentes e futuras de infraestrutura sanitá-
ção e manutenção de infraestruturas e ria do município, além de contribuir para
instalações operacionais necessárias à preservar a saúde pública e as condições de
coleta, ao transporte, ao tratamento e à salubridade do habitat humano, bem como
disposição final adequados dos esgotos possibilitar a participação da sociedade e
sanitários, desde as ligações prediais o controle por parte dela.
até sua destinação final para produção Nos termos da LNSB, o planejamen-
de água de reúso ou seu lançamento de to dos serviços do setor no município é
forma adequada no meio ambiente; realizado por meio do Plano Municipal de
• Limpeza urbana e manejo de resíduos Saneamento Básico (PMSB – ver p. 450)
sólidos: constituídos pelas atividades e ou do Plano Regional de Saneamento
pela disponibilização e manutenção de Básico (PRSB), conforme a organização
infraestruturas e instalações operacio- for concebida e articulada. A citada lei es-
nais de coleta, varrição manual e me- timula a prestação regionalizada, enten-
canizada, asseio e conservação urbana, dida como modalidade de prestação inte-
transporte, transbordo, tratamento e grada de um ou mais componentes dos
destinação final ambientalmente ade- serviços públicos de saneamento básico
quada dos resíduos sólidos domiciliares em determinada região cujo território
e dos resíduos de limpeza urbana; abranja mais de um município. Tal moda-
• Drenagem e manejo das águas pluviais: lidade deve contar com uma estrutura e
constituídos pelas atividades, pela in- uma entidade de governança federativas,
fraestrutura e pelas instalações opera- com a participação de todos os entes que
cionais de drenagem de águas pluviais, dela fazem parte.
transporte, detenção ou retenção para o Assim, no caso de prestação regionaliza-
amortecimento de vazões de cheias, tra- da, esta poderá ter um PRSB com vistas à
tamento e disposição final das águas plu- otimização do planejamento e da presta-
viais drenadas, contempladas a limpeza ção dos serviços. É preciso registrar que a
e a fiscalização preventiva das redes. LNSB admite que as disposições constan-
tes dos planos regionais prevaleçam sobre
Objetivos e responsabilidades aquelas constantes dos planos municipais,
quando existirem. Além disso, segundo
São objetivos dos planos de Saneamento a Lei 11.44/2007, o PRSB dispensa a ne-
Básico promover a saúde, a qualidade de cessidade de elaboração e publicação de
vida e do meio ambiente, contribuir para PMSB. Entretanto, faz toda diferença cada
organizar a gestão e estabelecer as condi- município ter plano próprio.
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OS PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO À LUZ DA LEI 14.026/2020
Os planos devem incluir os quatro com- A Lei admite que os municípios com
ponentes do saneamento básico, deter- população inferior a 20 mil habitantes
minando um planejamento integrado apresentem plano simplificado, com
que tenha o território (ver p. 729) como menor nível de detalhamento dos aspec-
lócus de soluções completas para a ques- tos previstos neste conteúdo mínimo. O
tão sanitária e ambiental. No entanto, marco legal, porém, não define o nível de
é preciso ressalvar que a LNSB permite simplificação permitido, o que pede regu-
planos específicos para cada componen- lamentação posterior. P
te, desde que o titular realize a consoli- Segundo a LNSB, os planos de sane-
dação e compatibilização desses planos amento básico deverão ser compatíveis
específicos de cada serviço. com os planos das Bacias Hidrográficas
Os planos, sejam municipais ou regio- e com o Plano Diretor dos municípios
nais, devem abranger todo o território em que estiverem inseridos, ou com os
dos municípios, urbano e rural, inclusive planos de Desenvolvimento Urbano In-
favelas, ocupações irregulares, assenta- tegrado das unidades regionais por eles
mentos, comunidades tradicionais, qui- abrangidas. É também muito importante
lombolas e indígenas, entre outras que buscar a articulação com as políticas de
existam no perímetro abrangido. habitação, de combate à pobreza e de sua
O conteúdo mínimo dos planos é defini- erradicação, de proteção ambiental, de
do na própria LNSB, devendo contemplar: recursos hídricos, de promoção da saú-
I - diagnóstico da situação e de seus im- de e outras de relevante interesse social
pactos nas condições de vida, utilizando voltadas para a melhoria da qualidade de
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
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OS PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO À LUZ DA LEI 14.026/2020
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
Referências bibliográficas
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POLÍTICA FEDERAL PARA O SANEAMENTO BÁSICO
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POLÍTICA FEDERAL PARA O SANEAMENTO BÁSICO
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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POLÍTICA FEDERAL PARA O SANEAMENTO BÁSICO
período de 51,2%, em 1970, para 84,5%, décadas entre os dois planos, algumas
em 1984. Em relação ao esgotamento sa- tentativas foram realizadas no sentido
nitário, a expansão é de 15,8 pontos per- de promulgar uma lei federal que disci-
centuais, bem abaixo dos 50 pontos per- plinasse a área de saneamento básico no
centuais almejados quando da criação do país. Entre as propostas apresentadas,
Plano. Assim, em 1984, apenas 36% da está o Projeto de Lei (PL) 199/1991, que
população urbana brasileira tinha acesso alcançou grande consenso e entre suas
à rede geral de esgotamento sanitário.8 principais proposições trazia a criação
de um Conselho Nacional de Saneamen-
Novas iniciativas to e de um fundo. Este PL foi aprovado
pela Câmara dos Deputados e pelo Se-
Sob o aspecto político-institucional, ob- nado Federal, mas foi integralmente
servaram-se várias iniciativas no sentido vetado em 1995 pelo então presidente
de se estabelecer um novo marco legal e Fernando Henrique Cardoso, que aca-
institucional para o saneamento no país, bou ampliando por 12 anos o vazio ins-
porém, sem sucesso até meados da déca- titucional da área.2 A razão do veto re-
da de 2000. Após o esvaziamento do Pla- lacionou-se à dimensão econômica, uma
nasa, no fim da década de 1980, o Brasil vez que, alinhado à lógica neoliberal, o
passou por um período de “vazio institu- governo decidiu por evitar que o Estado
cional” e de intensas discussões na área assumisse compromissos com o sanea-
de saneamento. Apenas em 2007 foi ins- mento básico, o que poderia gerar gastos
tituído o novo marco legal para o sane- públicos. À época, a solução escolhida
amento básico, a partir da promulgação para investimentos em serviços públicos
da Lei 11.445, regulamentada, em 2010, eram as concessões e privatizações.2
pelo Decreto 7.217.1, 9, 10 Na linha neoliberal, foi apresentado,
A Lei estabeleceu os princípios de uni- em 1996, o PL 266, de autoria do sena-
versalidade, integralidade, qualidade e dor José Serra (PSDB-SP), que visava
regularidade da prestação dos serviços, tornar o saneamento atrativo para a ini-
transparência das ações, integração das ciativa privada. Reações contrárias de P
políticas e controle social, circunscrevendo sindicatos, organizações da sociedade
o saneamento como direito social e suas civil e outros grupos ligados à área de
ações como serviços públicos essenciais.11 saneamento básico fizeram com que este
A Lei 11.445/2007 também previu a projeto de lei fosse arquivado em 2003.
elaboração do Plano Nacional de Sanea- Como continuidade ao PL 266, foi envia-
mento Básico (Plansab). Juntos, essa lei e do à Câmara – e também arquivado – o
seu decreto regulamentador estabelecem PL 4.147/2001.2
os princípios que orientam a prestação de Entretanto, em termos de legislação,
serviços públicos de saneamento, redefi- especialmente durante o período de rede-
nindo também a estrutura de gestão de mocratização do país e como consequên-
serviços, que passa a ser caracterizada pe- cia deste, algumas importantes normas
los aspectos de planejamento, regulação, foram promulgadas e apresentam inter-
prestação, fiscalização e controle social.12 faces com a área de saneamento básico.
Vale observar que, durante as duas
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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POLÍTICA FEDERAL PARA O SANEAMENTO BÁSICO
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
propostas, foram base para uma ação di- medidas provisórias apresentadas para
reta de inconstitucionalidade.25, 26 fins de alteração do marco legal da área
A MP 868/2018 acabou perdendo eficá- de saneamento. A MP 844/2018 foi rejei-
cia em 19 de novembro de 2019.27 No en- tada por 85% dos participantes, e a MP
tanto, entrou em tramitação o Projeto de 868/2018, por 90% dos participantes.23, 25
Lei 4.162/2019, quarta tentativa de reno- Outra relevante contraposição às di-
vação das regras do saneamento em um retrizes da MP 868 é a tramitação, no
período de 15 meses. Tasso Jereissati foi Congresso Nacional, de quatro propos-
o relator do projeto de lei, que acabou sen- tas de emenda à Constituição (PECs)
do aprovado em sessão do Senado Federal – três na Câmara (PEC 93/2015, PEC
do dia 15 de julho de 2020 e transforma- 328/2017 e PEC 425/2018) e uma no Se-
do na Lei 14.026/2020.28, 29 Segundo seus nado (PEC 2/2016) – que atendem a luta
promotores, os objetivos do texto são de entidades da sociedade civil e visam
centralizar a regulação dos serviços de consagrar o saneamento básico como
saneamento na esfera federal, instituir a direito social. 32 As PECs 328 e a 426
obrigatoriedade de licitações e regionali- encontram-se apensadas à PEC 93, que
zar a prestação a partir da montagem de recebeu parecer pela admissibilidade do
blocos de municípios. Duas ações diretas relator na Comissão de Constituição,
de inconstitucionalidade foram propos- Justiça e Cidadania em 20 de novembro
tas ainda nos primeiros meses seguintes de 2019. O passo seguinte é de consti-
a aprovação da Lei 14.026.30, 31 tuição e instalação de comissão especial
para julgamento do mérito e daí para o
Na contramão Plenário, que a apreciará em dois tur-
nos, sendo que para ser aprovada deverá
A análise da nova lei de 2020 revela que as contar com o voto favorável de 3/5 (308)
propostas de alterações das diretrizes na- ou mais deputados. 26
cionais e da política federal de saneamen- A Lei 11.445/2007 proporcionou no-
to apontam para a tentativa de acirra- vas perspectivas e possibilidades para o
mento da participação privada no setor, saneamento básico no Brasil. Porém, a
caminhando na contramão do que tem si- efetivação de seus princípios depende-
do observado em grande parte do mundo rá de como o arcabouço normativo será
ocidental, inclusive com movimentos no cumprido. Como observa Cynamon: “A
sentido de reestatização dos serviços de implantação de medidas de saneamento
saneamento em razão do fracasso da ten- depende de decisão política neste mundo
tativa de mercantilização da água. Além de jogo de interesses e a decisão política ou
disso, a promulgação da Lei 11.445/2007 políticas dependem da força popular. As leis
ancorou-se em duas décadas de intensas vêm e vão ao sabor do interesse dos que po-
discussões na área de saneamento, de dem legislar. A lei só vale quando aplicável
forma que não é apropriado suplantá-la e aplicada, e para tanto é necessário o co-
por um processo muito centralizado nas nhecimento, a melhoria constante do nível
esferas federais executivas e legislativas. cultural da população”. 33
É preciso observar que as consultas pú-
blicas revelaram oposição em relação às
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POLÍTICA FEDERAL PARA O SANEAMENTO BÁSICO
Referências bibliográficas
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POLÍTICA FEDERAL PARA O SANEAMENTO BÁSICO
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POLÍTICA MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO
A compreensão de tudo que consiste a Po- política municipal para a área, devendo,
lítica Municipal de Saneamento Básico é para tanto, aprovar as leis e editar os re-
de fundamental importância para a sua gulamentos e os atos administrativos ne-
instituição e para a correta organização e cessários para a sua regulação e execução,
gestão dos serviços de saneamento básico incluída a forma como são organizadas e
(ver p. 309). De modo simplificado, pode- como são exercidas as funções de gestão
-se definir essa política como o conjunto de dos serviços de saneamento básico relati-
normas legais e regulamentares e de atos vas ao planejamento, à regulação e fisca-
jurídicos e administrativos que definem lização e à prestação e, interagindo com
os princípios e diretrizes e estabelecem todas elas, o controle social.
como ela deve ser executada. Isso inclui O saneamento básico representa um di-
os planos, programas, projetos e ações que reito social coletivo e de caráter universal
devem ser implementados visando atender associado à saúde e à moradia (arts. 6º, 196
as demandas e garantir o acesso de toda a e 200 da CF), e suas infraestruturas inte-
população a soluções de saneamento bási- gram o desenvolvimento urbano (art. 182
co, sanitária e ambientalmente adequadas. da CF). Assim, a política municipal de sane-
Conforme estabelece o art. 30 da Cons- amento básico deve observar os princípios
tituição Federal (CF), o município tem au- e as diretrizes nacionais instituídos por le-
tonomia e competência para instituir sua gislação federal (art. 21, inciso XX, da CF).
482
POLÍTICA MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO
483
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
484
POLÍTICA MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO
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EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
Referências bibliográficas
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POLÍTICA MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO
487
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
P
POLUIÇÃO
A Política Nacional do Meio Ambiente, lho, trazendo no seu bojo muitos avanços
instituída pela Lei 6.938/1981, concei- e muitos problemas. A industrialização
tua poluição “como a degradação da qua- daí advinda exigiu uma nova territoria-
lidade ambiental, resultado de atividades lização, concentrando riquezas, meios de
que, por alterar de forma adversa as ca- produção e aglomerados humanos, geran-
racterísticas e o equilíbrio natural do meio do alterações no meio físico, social, eco-
ambiente, direta ou indiretamente, preju- nômico e ambiental.
diquem a saúde, a segurança e o bem-estar Para alcançar uma produção sem limi-
da população; criem condições adversas às te, sob a justificativa de gerar conforto
atividades sociais e econômicas; lancem e condição de vida, também provocou
matérias ou energia em desacordo com os uma exploração desenfreada dos recur-
padrões ambientais vigentes; e afetem a sos naturais, criando um consumo cada
biota e as condições estéticas e sanitárias vez maior. Isso levou a um aumento na
do meio ambiente”.1 Quando a atividade geração de resíduos, muito maior que
envolve a presença de organismos pa- a capacidade de absorção e reciclagem
togênicos, que provocam doenças, ou desses pelo meio ambiente, acarretando,
substâncias em concentração nociva ao por conseguinte, um desequilíbrio am-
ser humano, a poluição passa a denomi- biental, bem como impactos negativos
nar-se contaminação. Ressalta-se que a no âmbito social.
poluição, portanto, nem sempre provoca Como exemplos de resíduos gerados,
uma contaminação, ou seja, nem sempre podem ser citados resíduos sólidos,
trará riscos à saúde. Contudo, toda con- efluentes industriais, emissões de par-
taminação proveniente de ação humana tículas e de gases e radioatividade. Ao
é relacionada à poluição.2 não serem reaproveitados quando possí-
O impacto da ação humana na natureza vel, ou dispostos adequadamente, geram
atingiu um novo patamar com a Revolu- poluição. Ademais, o modelo econômico
ção Industrial. Esse marco na história da atual – que tem como pilar o consumis-
humanidade provocou uma grande alte- mo, estimulado pelo mercado, criando e
ração no modelo norteador da vida em recriando novas necessidades, num sis-
comunidade e na organização do traba- tema em que tudo e todos os seres pas-
488
POLUIÇÃO
489
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
490
POLUIÇÃO
491
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
492
POLUIÇÃO
Referências bibliográficas
493
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
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mais saudável. Brasília: Funasa, 2013. Disponível em: http://www.funasa.gov.br/si-
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Vídeo
494
POPULAÇÃO
Lívia Cristina da Silva Lobato. Engenheira civil e doutora em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG.
Fabiana Lopes Del Rei Passos. Doutora em Engenharia Ambiental pela Universitat Po-
litècnica de Catalunya (UPC), Espanha. Professora adjunta do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
P
POPULAÇÃO
495
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
sociodemográficas cada vez mais detalha- dem uns dos outros, compartilhando o
das sobre esses territórios1 (ver p. 729). mesmo ambiente e formando uma comu-
Segundo o dicionário Michaelis,2 popu- nidade viva (ou biocenose).6
lação corresponde ao conjunto dos habi- Na biologia evolutiva, o conceito de
tantes de um determinado lugar, região população constitui um ponto de partida
ou país; ou, ainda, ao conjunto de pessoas para o estudo da diversidade dos orga-
que compõem uma categoria particular. nismos vivos e os processos que a produ-
Para o Dicionário Multilíngue Demográfi- ziram. No campo da genética, não é pos-
co do Instituto Brasileiro de Geografia e sível definir de maneira clara o conceito
Estatística (IBGE),3 a população de uma de população devido à dificuldade de es-
determinada área corresponde a todos os tabelecer os limites (ou barreiras) entre
habitantes dessa mesma área, embora o diferentes comunidades genéticas, dado
termo também seja utilizado para desig- que comunidades geneticamente isoladas
nar subgrupos populacionais. Contudo, representam casos de exceção.4-6
o conceito de população varia conforme a Já na antropologia o conceito de popu-
área de conhecimento. lação enquanto comunidade reprodutiva é
essencial na análise da variabilidade bio-
Acepções em variadas ciências lógica humana e na explicação sobre a ma-
neira como esta surge no tempo e no es-
Na estatística, qualquer conjunto de ele- paço. A antropologia enfatiza os processos
mentos distintos (finitos ou infinitos) em de mudança que operam nas populações
estudo pode ser chamado de população humanas, intimamente ligados à vida so-
ou universo.3, 4 No início dos anos 1800, cial e à cultura, indo além das questões
no contexto do aumento no número de técnicas, com a história da população co-
aplicações de métodos quantitativos e de mo eixo orientador das pesquisas.5, 6
leis da probabilidade para estudos sobre Nas ciências sociais, o termo “popu-
a população europeia, tornou-se comum lação” pode ter dois significados: um
utilizar a metáfora do “l’homme moyen” construto hipotético dependente de te-
(o homem comum, ou médio). Esse termo oria (cuja base não é definida) e como
solidificou a visão das populações huma- um “universo” empiricamente definido
nas como sendo definidas a partir de suas (usado como um quadro de amostra-
qualidades intrínsecas, estas entendidas gem). Nenhuma das definições oferece
como características em relação a diversos critérios sistemáticos para decidir, em
aspectos, tais como altura e peso, taxas de termos teóricos ou práticos, quem e o
nascimento e morte, faculdades intelec- que é uma população. 5
tuais e propriedades morais.5
Na ecologia, o termo população repre- A ciência dedicada ao
senta o conjunto de indivíduos de uma estudo das populações
mesma espécie que habitam uma deter-
minada região.3 Para um significado mais A ciência que estuda a população é a demo-
complexo no mesmo campo de conheci- grafia. A palavra “demografia” foi criada
mento, a população representa diferentes pelo belga Achille Guillard, na publicação
espécies (animais e plantas), que depen- do trabalho Eléments de Statistique Humaine
496
POPULAÇÃO
(ou Démographie Comparée), em 1855, que utiliza o tamanho da população (do mu-
definiu esta ciência como a história natural nicípio ou de uma dada área ou território)
e social das espécies humanas, bem como como denominador de taxas de cobertura
o conhecimento matemático das popula- dos mais diversos serviços de saneamento.
ções, ou de suas mudanças gerais, suas con- Nesse contexto, o quantitativo da popula-
dições físicas, civil, intelectual e moral.7 ção é elemento determinante, por exem-
Nos tempos atuais, a demografia po- plo, para a análise de áreas não atendidas
de ser definida como o estudo científico pelo serviço público de abastecimento de
das populações humanas, incluindo o água, identificando e mapeando quais são
tamanho, a distribuição, a composição essas áreas e qual a proporção da popula-
e fatores que determinam a mudança ção afetada em cada área.9 Outro exemplo
populacional, além do estudo sobre as da importância da população no plane-
características sociais, econômicas e ét- jamento de políticas de saneamento é o
nicas das populações.1, 7, 8 levantamento e a análise de todas as so-
No âmbito do planejamento mu- luções individuais usadas pela população
nicipal de saneamento, o município que não é atendida pelo serviço público de
deve considerar uma oportunidade de esgotamento sanitário.
transformação da realidade local, por
meio da construção de um pacto social Base para o planejamento
para melhorar as condições de vida da
população e do meio em que vive. Nesse Assim como a importância do conheci-
sentido, o planejamento deve englobar mento sobre a população e de suas caracte-
integralmente o território, o que signi- rísticas sociodemográficas para a realiza-
fica incluir, além das áreas urbana e ru- ção de análises situacionais de diagnóstico
ral dos municípios, todo o conjunto da sobre o saneamento básico, o uso de esti-
população, independentemente da ca- mativas e de projeções populacionais (ver
racterística étnica ou socioeconômica. p. 531) pode fornecer insumos para o pla-
Nesse contexto, a população indígena, nejamento. A realização de estudos sobre
as comunidades quilombolas e tradicio- o crescimento populacional (ver p. 172) e a P
nais, assim como a população de baixa dinâmica demográfica do município repre-
renda (residente em favelas, ocupações senta um elemento-chave para a avaliação
irregulares e assentamentos precários) da necessidade de utilização de possíveis
mostram a amplitude e diversidade novos mananciais para abastecimento fu-
de significados do termo “população”, turo da população local (urbana e rural),
quando utilizado para fins de planeja- indicando, também preliminarmente, as
mento e gestão do saneamento básico. possibilidades mais prováveis.9
Na análise da situação das áreas corres- Outro elemento que incorpora o concei-
pondentes à população de baixa renda, o to de população diz respeito ao direito da
planejamento municipal de saneamento população à informação, que passa pela
tem como princípio fundamental a uni- garantia a qualidade da água para o con-
versalização do acesso aos serviços de sumo humano e os riscos à saúde, con-
saneamento básico. Para tanto, deve ser forme o Decreto 5.440/2005 e o marco
usado um conjunto de indicadores que regulatório de saneamento básico.
497
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
Referências bibliográficas
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materials_of_demography_second_edition__2004.pdf.
9. MS; FUNASA. Termo de referência para elaboração de plano municipal de sane-
amento básico. Brasília: Funasa, 2018. Disponível em: http://www.funasa.gov.br/
termo-de-referencia-tr-para-pmsb.
498
POPULAÇÕES DO CAMPO, DA FLORESTA E DAS ÁGUAS (PCFAs)
P
POPULAÇÕES DO CAMPO, DA FLORESTA
E DAS ÁGUAS (PCFAS)
499
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
500
POPULAÇÕES DO CAMPO, DA FLORESTA E DAS ÁGUAS (PCFAS)
501
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
Dessa forma, para o saneamento, diz Como lição para orientar novas políticas,
respeito à relação entre suas caracterís- deve se ressaltar o fracasso das propostas
ticas e as da população que ele atende, de caráter desintegrado, centralizado,
ou ainda, ao grau de ajuste entre as ca- curativo, urbano, não universais, em de-
racterísticas da população e da oferta trimento de ações como as de saneamento
de serviços públicos. Verifica-se para as rural, de estímulo à participação social e
PCFAs a necessidade de alcançar o acesso de ampla utilização de agentes de saúde.15
aos componentes do saneamento básico, Considerando-se os marcos referenciais
enquanto direito humano, em termos do PNSR Brasil 2019 para o saneamento bá-
qualiquantitativos, considerando: aces- sico como direito humano, como promotor
sibilidade geográfica, física e financei- da saúde, para a erradicação da extrema po-
ra, em moldes culturalmente aceitáveis; breza e o desenvolvimento rural solidário
disponibilidade, segurança, privacidade; e sustentável,9 verifica-se a sua relevância
equidade de gênero, dignidade e direi- para além do controle de doenças. Sua ga-
to à informação e à participação social; rantia contribui para a promoção de terri-
acessibilidade jurídica, não discrimina- tórios saudáveis e sustentáveis das PCFAs,
ção e democracia participativa.14 de forma que o Estado possa sanar uma dí-
vida histórica com essas populações.
Referências bibliográficas
502
POPULAÇÕES DO CAMPO, DA FLORESTA E DAS ÁGUAS (PCFAS)
em: http://www.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/l191.pdf.
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13. MS; FUNASA. Termo de referência para elaboração de plano municipal de sane-
amento básico. Brasília: Funasa, 2018. Disponível em: http://www.funasa.gov.br/
termo-de-referencia-tr-para-pmsb.
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nharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019. Disponível em:
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es_campo.pdf
http://www.saudecampofloresta.unb.br/nosso-portal/a-politica-nacional/
503
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
P
PRESTAÇÃO DIRETA DOS SERVIÇOS
504
PRESTAÇÃO DIRETA DOS SERVIÇOS
505
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
Referências bibliográfica
506
PRESTAÇÃO INDIRETA OU PRESTAÇÃO DELEGADA DOS SERVIÇOS
P
PRESTAÇÃO INDIRETA OU PRESTAÇÃO DELEGADA DOS SERVIÇOS
507
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
órgão ou uma entidade pública prestado- poderá ser celebrado contrato coletivo
ra integrante da administração indireta (um contrato em nome dos municípios
de outro município ou do Estado, forma- consorciados) para o conjunto de serviços
lizada por meio de contrato de programa. transferidos ou para cada um deles, no
Este regime de gestão associada é o que se caso de caracterizar prestação regionali-
aplica há bastante tempo para a prestação zada (ver p. 513), conforme as condições
dos serviços municipais de abastecimento estabelecidas no contrato de constituição
de água e de esgotamento sanitário pelas do consórcio (protocolo de intenções) e
companhias estaduais de Saneamento. nos contratos de programas celebrados
entre o consórcio e cada um dos municí-
Prestação indireta por pios consorciados.
consórcio público
Prestação indireta mediante
A lei 11.107/2005 permite que os municí- contrato de programa
pios consorciados autorizem o consórcio
a prestar indiretamente os serviços que O consórcio público também pode de-
lhe foram transferidos, de forma integral legar a prestação integral ou parcial dos
ou parcial. A prestação poderá ser delega- serviços que lhe foram transferidos pelos
da em regime de concessão ou permis- municípios mediante a celebração de con-
são, em regime de gestão associada com trato de programa com entidade pública
ente não consorciado, ou ainda mediante de ente consorciado, observando as con-
autorização, quando se tratar de associa- dições estabelecidas no protocolo de in-
ção ou cooperativas de usuários. tenções e nos contratos de programas ce-
lebrados entre o consórcio e cada um dos
Prestação indireta mediante municípios, bem como as disposições do
concessão ou permissão art. 13 da Lei 11.107/2005 e do art. 31 do
Decreto 6.017/2007. Este arranjo admite
A delegação da prestação integral do três hipóteses de delegação da prestação
serviço a terceiros ou de parte dele, pelo dos serviços pelo consórcio:
consórcio, pode ser feita mediante con-
cessão comum ou permissão, regidas • delegação a uma entidade pública (au-
pela Lei 8.987/1995 (Lei de Concessões) tarquia) pertencente à administração
ou, no âmbito da parceria público-priva- indireta de um dos entes consorciados;
da (PPP), mediante concessão adminis- • delegação a uma entidade pública (au-
trativa ou patrocinada regida pela Lei tarquia) pertencente à administração
11.079/2004. Em todos os casos, sempre indireta de ente da Federação não inte-
precedida de licitação pública. grante do consórcio, neste caso autori-
O contrato de concessão ou permissão é zada por meio de convênio de coopera-
celebrado entre o consórcio e o prestador ção celebrado com o consórcio ou com
ou prestadores selecionados, e poderão cada ente consorciado;
ser celebrados contratos individuais pa- • delegação a uma empresa pública inter-
ra cada município consorciado e/ou para municipal, constituída por todos ou
cada serviço transferido pelo mesmo, ou por parte dos municípios consorciados.
508
PRESTAÇÃO INDIRETA OU PRESTAÇÃO DELEGADA DOS SERVIÇOS
Referências bibliográficas
509
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
ord.). Prestação dos serviços públicos de saneamento básico. (Lei Nacional de Sa-
neamento Básico: perspectivas para as políticas e gestão dos serviços públicos, v. 3).
Brasília: MCidades, 2009. Disponível em: https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bits-
tream/1408/2161/1/Lei%20nacional%20de%20saneamento%20basico_Livro%20
III_P_BD.pdf.
P
PRESTAÇÃO INTEGRADA DOS SERVIÇOS
A prestação integrada dos serviços de sa- imediatos, combinados com a ausência, até
neamento básico caracteriza-se quando a o passado recente, de uma política nacional
prestação de dois um mais serviços for rea- efetiva de Saneamento Básico e do seu pla-
lizada por um único prestador. Tal inte- nejamento induziram a que fosse prioriza-
gração gera economia de escala das estru- da a organização da prestação isolada des-
turas e atividades administrativas e técni- ses serviços, situação que perdura até hoje.
cas, com significativa redução dos custos No cenário atual da gestão dos servi-
consolidados desses serviços. A prestação ços de saneamento básico, revelado pelos
integrada também facilita e racionaliza o diagnósticos anuais do Sistema nacional
planejamento e a regulação dos serviços. de Informações sobre o Saneamento Bási-
O nível de essencialidade e a premência co (SNIS), indica que a maioria dos muni-
de solução dos problemas sanitários mais cípios prestam os serviços de limpeza ur-
510
PRESTAÇÃO INTEGRADA DOS SERVIÇOS
bana e manejo de resíduos sólidos de for- vidades fins, visto que, quanto maiores
ma isolada, enquanto menos de 10% dos forem as áreas urbanas do município, re-
municípios prestam de forma integrada querem estruturas e atividades operacio-
os quatro serviços de saneamento básico. nais mais específicas para cada serviço.
Da mesma fonte estima-se que em pouco Para os municípios de menor porte,
mais de 40% dos municípios existe pres- os ganhos de escala ocorrem em níveis
tação integrada dos serviços de abasteci- significativos, e inversamente crescentes,
mento de água e esgotamento sanitário. em termos relativos, em todas as ativida-
des meios e fins, pois permite maior com-
Correlações partilhamento dos recursos humanos e
materiais e das atividades operacionais.
O conjunto dos municípios onde ocorre a
prestação integrada pelo menos dos ser- Sustentabilidade financeira
viços de abastecimento de água e esgota-
mento sanitário e de manejo de resíduos Nem todos os municípios têm política de
sólidos inclui localidades de pequeno, cobrança pela disposição e prestação dos
médio e grande portes, indicando que serviços de manejo de resíduos sólidos e,
a racionalidade e a viabilidade da pres- entre os que cobram, são raros aqueles em
tação integrada destes serviços não têm que a receita obtida é suficiente para cobrir
correlação com esta variável e sim com os seus custos. As economias obtidas com
a eficiente organização, estruturação e a integração, juntamente com uma ade-
gestão dos serviços, inclusive a regula- quada política de cobrança pela disposição
ção, e com a existência de adequada polí- e prestação dos serviços, possibilitam me-
tica de cobrança. lhorar as condições de sua sustentabilida-
Geralmente são mais perceptíveis os de econômico-financeira (ver p. 685).
elementos integradores da prestação dos Os ganhos de escala obtidos podem ser
serviços de abastecimento de água e de aproveitados para diversas finalidades, nos
esgotamento sanitários, tanto do ponto aspectos econômicos e sociais, tais como:
de vista gerencial administrativo e téc- P
nico como do ponto de vista operacional • reduzir o custo agregado dos serviços
e estrutural. No entanto, são significati- e seu reflexo na modicidade das tarifas
vos os ganhos consolidados para o mu- e taxas;
nicípio com a integração desses serviços • melhorar as condições de viabilidade e
com os de limpeza urbana e manejo de sustentabilidade dos serviços;
resíduos sólidos. • promover uma política de subsídios
Para os municípios de maior porte, e de acesso dos cidadãos aos serviços
os ganhos de escala normalmente são mais justa e flexível;
mais significativos nas atividades meios • acelerar as metas de universalização e/
(administração geral, gestão comercial e ou de melhoria da gestão.
financeira) e nas atividades de apoio téc-
nico (estudos e projetos, almoxarifado, Os diagnósticos do SNIS mostram tam-
oficinas eletromecânicas etc.), e menos bém que, mesmo em número não muito
representativos e decrescentes nas ati- expressivo, a prestação integrada de dois
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EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
Referências bibliográficas
512
PRESTAÇÃO REGIONALIZADA DOS SERVIÇOS
P
PRESTAÇÃO REGIONALIZADA DOS SERVIÇOS
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EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
514
PRESTAÇÃO REGIONALIZADA DOS SERVIÇOS
se estas funções forem exercidas por um (ver Agência reguladora, regulação e seus
só ente regulador, que pode ser: entida- fundamentos, p. 32).
de reguladora de ente da Federação a que Do mesmo modo, a compatibilidade
cada titular tenha delegado o exercício do planejamento dos serviços pressupõe
dessas competências por meio de convê- a elaboração dos planos municipais de
nio de cooperação; ou consórcio público Saneamento Básico de forma conjunta e
de direito público integrado pelos titula- considerando o âmbito regional da pres-
res dos serviços e instituído para este fim tação dos serviços.
Referências bibliográficas
515
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
P
PRIVATIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO
BÁSICO NO BRASIL E A ONDA NEOLIBERAL RADICALIZADA
Em 1996, no auge do receituário do Con- tor a seu atraso intelectual, dados a atu-
senso de Washington, José Saramago alidade e o reconhecimento de seu legado
(1922-2010) proclamou a sua indigna- à literatura mundial contemporânea. Po-
ção em relação ao processo agressivo de-se, então, arguir que tal insensatez de-
de privatização de empresas estatais e ve-se à sua pouca intimidade com temas
serviços públicos na América Latina: que mais se relacionam a um debate téc-
“Privatize-se Machu Picchu, privatize-se nico e econômico. Ora, ao final, Saramago
Chan Chan, privatize-se a Capela Sistina, mais se aproximava das letras e da poesia
[...] privatize-se a cordilheira dos Andes, do que do mundo dos negócios. Perdoai-o
privatize-se tudo, privatize-se o mar e o porque ele não sabia o que dizia.
céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se O debate sobre a privatização dos
a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que serviços públicos é permeado de es-
passa, privatize-se o sonho, sobretudo se tratégias que buscam desqualificar o
for o diurno e de olhos abertos. E finalmen- interlocutor atribuindo suas posições a
te, para florão e remate de tanto privatizar, rompantes românticos, a devaneios utó-
privatizem-se os Estados, entregue-se por picos, a falta de conhecimento técnico-
uma vez a exploração deles a empresas pri- -econômico e, por fim, a meras opções
vadas, mediante concurso internacional”.1 político-ideológicas. Assim, a desquali-
Não se pode atribuir essa declaração a ficação é um mecanismo usual para en-
um rompante juvenil por parte do escri- cerrar o debate e simplificá-lo.
516
PRIVATIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO
E A ONDA NEOLIBERAL RADICALIZADA
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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PRIVATIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO
E A ONDA NEOLIBERAL RADICALIZADA
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
área, presentes na Lei Nacional de Sa- social. Sobre esse ponto diversos exem-
neamento Básico de 2007 (LNSB) e no plos podem ser citados. O primeiro e o
Plano Nacional de Saneamento Básico mais emblemático foi o de Cochabamba,
(Plansab), serão duramente fragilizados na Bolívia, onde a empresa norte-ame-
com a participação privada na prestação ricana Bechtel promoveu aumentos de
dos serviços. O saneamento básico na tarifas tão significativos que excluiu os
visão neoliberal e privatista será defini- mais vulnerabilizados do acesso aos ser-
tivamente uma obra de infraestrutura viços públicos de abastecimento de água,
e um serviço a ser prestado aos clientes gerando uma revolta social que veio a ser
capazes de pagar. conhecida como a Guerra da Água (ver
A visão recentemente construída do Conflitos por água – p. 127).
saneamento básico como direito, como No Brasil, a crise hídrica de São Pau-
uma obra social, ou dito de outra forma, lo foi gestada, entre outros fatores, pela
o saneamento promocional,6 que nem falta de investimentos em infraestrutura
sequer se conseguiu praticar, está fada- em contraposição à garantia dos dividen-
da a uma imagem difusa e irrealizável. dos dos acionistas, já que a Companhia
Assim, a universalidade, a integralida- de Saneamento Básico do Estado de São
de e a intersetorialidade serão princí- Paulo (Sabesp) abriu seu capital e hoje o
pios de difícil realização nesse cenário. estado detém apenas 50,3% das ações.
Também, a utilização de tecnologias O segundo ponto que merece desta-
apropriadas às realidades sociais será que na dimensão social relaciona-se ao
um mero deleite de projetos demons- controle social (ver p. 156), um pilar da
tração. Os esforços para a preservação LNSB. Diante dos processos de fragiliza-
de mananciais que exigem políticas in- ção dos movimentos sociais e de esquerda
tegradas e intersetoriais no campo do no Brasil, somados à pouca permeabilida-
desenvolvimento urbano, do desenvolvi- de e à resistência das empresas privadas
mento agrário, da gestão das águas e do aos processos participativos autônomos e
meio ambiente estarão fadadas à margi- críticos, o que se espera são recuos subs-
nalidade e à fragmentação, condição em tantivos nos mecanismos de controle so-
que já se encontram. cial recentemente conquistados na LNSB
e ainda nem postos em prática.
Desigualdade, exclusão e
falta de controle social Radicalização conservadora
520
PRIVATIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO
E A ONDA NEOLIBERAL RADICALIZADA
Referências bibliográficas
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EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
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P
PROFISSIONAIS DO SANEAMENTO
522
PROFISSIONAIS DO SANEAMENTO
523
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
Referências bibliográficas
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PROGRAMA NACIONAL DE SANEAMENTO RURAL (PNSR)
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Izabel Cristina Chiodi de Freitas. Especialista em Saúde Pública pela Fundação Oswal-
do Cruz (Fiocruz). Engenheira civil pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
P
PROGRAMA NACIONAL DE SANEAMENTO RURAL (PNSR)
525
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
526
PROGRAMA NACIONAL DE SANEAMENTO RURAL (PNSR)
527
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
528
PROGRAMA NACIONAL DE SANEAMENTO RURAL (PNSR)
529
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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PROJEÇÃO POPULACIONAL
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www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm. Acesso em:
15 jul. 2017.
P
PROJEÇÃO POPULACIONAL
531
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
cílio, por níveis educacionais, renda e mente são utilizadas metodologias que
mercado de trabalho, entre outras). Isso utilizam grande quantidade de cenários
faz das projeções uma das técnicas demo- alternativos para explorar as incertezas
gráficas mais utilizadas tanto no setor dos resultados ambientais, e as proje-
público como no setor privado.1-7 ções correspondem a variáveis externas
No setor público, as projeções atuam na aos modelos, em geral relacionadas à de-
antecipação das mais variadas demandas manda futura por consumo de alimentos,
dos governos, como nas áreas da saúde de energia ou de serviços, e apresentam
e do envelhecimento populacional, da grandes horizontes temporais e diversos
educação, do saneamento, ou mesmo do cenários possíveis.4, 5
potencial social, e, de um modo geral, no
planejamento do impacto econômico e Variáveis
ambiental. No setor privado, o foco prin-
cipal é no marketing comercial e na esti- As projeções populacionais diferem so-
mação do tamanho potencial de merca- bremaneira na cobertura geográfica e no
dos futuros, a partir de projeções de indi- horizonte temporal. Dimensões espa-
cadores socioeconômicos, como renda e ciais abrangem desde áreas locais (como
consumo, e por local de residência.1-3, 5,-7 cidades) e população de pequenas áreas,
Projeções podem, ainda, ser utilizadas cuja tendência é de um menor horizonte
para a análise dos determinantes da mu- temporal de projeção, até escalas agrega-
dança populacional, ou seja, da mudança das, como países, no qual o horizonte po-
no comportamento das componentes de se estender por décadas. Por sua vez,
demográficas, como é o caso de estudos essas projeções de longo prazo são elabo-
sobre a identificação do crescimento (ver radas por um número limitado de vari-
p. 172) e da composição da população áveis, não raro o conjunto da população
resultantes da manutenção das taxas de desagregado por idade e sexo.
fecundidade e mortalidade correntes, ou Já nas populações de pequenas áreas,
da incorporação de um determinado tipo costuma-se avaliar outras características,
ou fluxo de migração. Por outro lado, são como composição educacional e da força
comuns estudos que analisam quais se- de trabalho, tipo de domicílio ou residên-
riam as taxas de fecundidade, mortalida- cia urbana, bem como variáveis sintomá-
de e migração necessárias para se alcançar ticas da mudança populacional, tais como
uma população de determinado tamanho, imagens de satélite, dados de matrícula
num dado intervalo de tempo.4, 7 escolar, número de eleitores etc.
Ainda há casos em que a variável po- Os riscos de estimação das projeções
pulação corresponde apenas a uma com- aumentam quanto menor a área e quan-
ponente de análises mais amplas, como to maior o intervalo temporal, na medida
a mudança climática, a degradação de em que imprevistos como mudanças na
ecossistemas ou, no caso do saneamento fecundidade e a ocorrência de fluxos mi-
básico, projeções para a análise da taxa gratórios tendem a produzir comporta-
de atendimento do serviço de saneamen- mentos diferenciados entre as hipóteses
to, bem como a capacidade de suporte de estabelecidas (população projetada) e a
infraestrutura. Nesses casos, normal- população observada no futuro.5
532
PROJEÇÃO POPULACIONAL
Dentre os principais órgãos que pro- cas) como para a projeção de populações
duzem projeções no Brasil, destacam- de áreas menores, ou mais desagregadas.
-se: o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), que divulga proje- Método a escolher
ções para o país, unidades federativas
e municípios; a Fundação Sistema Es- Na literatura acadêmica não há um con-
tadual de Análise de Dados Estatísti- senso sobre um método de projeção
cos (Seade), que disponibiliza projeções específico que possa ser considerado
para os municípios para o estado de São sistematicamente superior aos demais.
Paulo; o Centro de Desenvolvimento e Assim, a escolha do método dependerá
Planejamento Regional (Cedeplar) da da disponibilidade e da qualidade dos da-
Universidade Federal de Minas Gerais dos, da unidade de análise, do período de
(UFMG) e o Departamento de Demo- projeção, dos objetivos que se pretende
grafia e Ciências Atuariais (DDCA) da alcançar, do perfil da área a ser projetada,
Universidade Federal do Rio Grande do da relação da área projetada com condi-
Norte (UFRN), que, esporadicamente, cionantes (econômicos ou não) do cres-
publicam projeções para o país, unida- cimento populacional, e de todos esses
des federativas e municípios. elementos associados à análise do custo e
Os erros nas projeções aumentam da dificuldade de aplicação.4, 5, 7
sistematicamente com o aumento do in- Nenhum método de projeção, não im-
tervalo de projeção, com o tamanho da porta quão complexo e sofisticados se-
população projetada e com o nível de de- jam, é capaz de melhorar a acurácia das
senvolvimento do país ou região. Contu- projeções, dadas as incertezas quanto
do, as projeções foram se tornando mais ao comportamento futuro da população.
acuradas conforme melhoraram os da- Métodos simples como os de extrapola-
dos dos censos demográficos (ver p. 88) ção proveem o mesmo nível de incerteza
dos países em desenvolvimento, espe- sobre o futuro da população, especial-
cialmente na definição das estimativas mente em intervalos mais curtos de tem-
iniciais das componentes demográficas. po e para projeções da população total.2 P
Ademais, mudanças no comportamento Métodos de extrapolação e métodos
das componentes decorrentes da tran- baseados em razão necessitam apenas
sição demográfica em diferentes países de dados da população total, para dois
contribuíram para a redução dos erros pontos no tempo, ou um ponto no tempo.
nas estimativas ao longo do tempo. 3 Já os modelos mais complexos requerem
Além dos avanços na definição dos dados de nascimentos, óbitos e migra-
pressupostos acerca das transformações ção, e da composição demográfica da po-
no comportamento das componentes pulação. Modelos de sistemas urbanos
demográficas, a contínua melhoria na demandam informações com caráter es-
qualidade dos registros ou estatísticas pacial, como rede de transportes, áreas
vitais permitiu o desenvolvimento de no- livres, zoneamento urbano, imagens de
vos métodos de projeção, tanto voltados satélite, dentre outros.
para a projeção da população por subgru- Ou seja, os modelos mais complexos li-
pos (ou por características socioeconômi- dam com uma quantidade ainda maior de
533
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
Referências bibliográficas
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534
PROJETO DOS SISTEMAS DE DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS
P
PROJETO DOS SISTEMAS DE DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS
535
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
536
PROJETO DOS SISTEMAS DE DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS
537
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
da rede e deve ser estabelecida nas normas drenagem e passa a ocorrer nos dispositi-
locais de projeto. Os poços de visita são vos de macrodrenagem. A lógica de pro-
normalmente executados a partir de pro- jeto dos sistemas de macrodrenagem é
jetos padrão, em alvenaria e concreto, com bastante similar à dos dispositivos de mi-
uma tampa em ferro fundido. As caixas de crodrenagem. A grande diferença entre
passagem fazem a conexão entre trechos eles é a concepção. O sistema de micro-
de redes e são também executadas em alve- drenagem é dependente da configuração
naria e concreto. Dos poços de visita ou cai- do sistema viário, enquanto os sistemas
xas de passagem, a água vai para as redes. de macrodrenagem seguem o caminha-
As redes de drenagem são executadas mento dos escoamentos naturais.
sob as vias pavimentadas e têm sua ca- A melhor solução para a macrodrena-
pacidade de escoamento dependente da gem é a do conceito de tratamento de
geometria da seção transversal, do mate- fundo de vale, ou seja, buscar a melhor
rial de revestimento e da sua declividade alternativa para cada local, com a menor
de instalação. A declividade de instala- intervenção possível. Em muitas cida-
ção das redes não pode ser muito peque- des brasileiras encontram-se avenidas
na, para permitir o escoamento mesmo sanitárias, que são canais de macrodre-
quando a vazão é baixa. Essa declividade nagem, normalmente executados em
também não pode ser muito alta, de mo- concreto, com vias de tráfego nas duas
do a evitar que o escoamento atinja velo- margens que servem à implantação de
cidades elevadas que poderiam levar ao infraestrutura de saneamento, inclusive
desgaste do material de revestimento. interceptores de esgoto.
O funcionamento das redes é sempre por Os sistemas de macrodrenagem são
gravidade, com pressão atmosférica. Assim compostos de canais (abertos) e galerias
nunca se considera em projeto a rede com- (subterrâneas). Seu dimensionamento
pletamente ocupada por água, deixando-se depende também de um estudo hidroló-
normalmente uma folga de 20% da altura gico para estabelecimento do hidrogra-
do conduto.3 As redes são normalmente ma ou da vazão de projeto.
executadas com tubos pré-moldados de A primeira etapa do estudo hidrológi-
concreto ou polietileno de alta densidade co é a delimitação da área de contribui-
(Pead). Em locais onde as vazões escoadas ção, que depende da topografia da área
superficialmente são pequenas e a configu- e da configuração da microdrenagem. A
ração territorial permita, pode-se dispensar área de contribuição da macrodrenagem
a implantação de rede de microdrenagem. pode ser muito mais ampla do que a área
Nesses casos o escoamento ocorre pela su- de intervenção e ultrapassar o limite mu-
perfície das vias e sarjetas e é encaminhado nicipal. A partir da delimitação da área de
diretamente para a macrodrenagem. contribuição estima-se o tempo de con-
centração do escoamento. O tempo de re-
Projeto dos sistemas de torno de projeto é estabelecido em função
macrodrenagem do risco e normalmente varia entre 15 e
50 anos, algumas vezes chegando a 100
Quando a área de contribuição aumenta, anos. A partir das equações e da curva
o escoamento não mais se dá pela micro- IDF se obtém a chuva de projeto.3
538
PROJETO DOS SISTEMAS DE DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS
539
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
Referências bibliográficas
1. BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal e institui normas para licitações e contratos da Administração
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2. TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. 4. ed. Porto Alegre: ABRH, 2012.
3. WILKEN, P. S. Engenharia de drenagem superficial. São Paulo: Cetesb, 1978.
Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira civil, mestre em Sistemas Aquáticos e
Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França), doutora em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e pela Université Paris-Est (França).
Professora do EHR/UFMG.
540
Q
A água das chuvas, ao se precipitar e pos d’água escondeu a poluição que tinha
escoar sobre a bacia hidrográfica, entra origem no escoamento das águas de chuva
em contato com diferentes tipos de po- sobre as superfícies das bacias hidrográfi-
luentes, tanto na atmosfera como na su- cas.1 No primeiro caso, o esgoto lançado
perfície terrestre, que podem levar à sua nos corpos d’água é tido como uma fonte
contaminação e impedir seu uso para di- de poluição pontual porque a carga polui-
versas finalidades – por exemplo, jardina- dora é lançada de forma concentrada em
gem, irrigação, limpeza pública e recarga um dado local. Por sua vez, o escoamento
de aquíferos. superficial é visto como uma fonte de po-
Os sedimentos arrastados pelas águas luição difusa porque os poluentes chegam
pluviais podem assorear redes e estru- ao corpo d’água de forma distribuída ao
turas de drenagem, assim como corpos longo de toda a sua extensão.2
d’água. Além disso, a água de chuva que Somente à medida que as técnicas de
escoa superficialmente pode carrear ou- tratamento das águas residuárias foram
tros poluentes até os corpos hídricos, sendo desenvolvidas e disseminadas, no- Q
degradando a qualidade da água e, em tadamente nos países desenvolvidos,
alguns casos, comprometendo o abasteci- que os problemas decorrentes da polui-
mento público. ção presente no escoamento superficial
Dessa forma, a qualidade das águas de passaram a ser objeto de preocupação
chuva é um aspecto muito relevante para dos gestores e especialistas da área.2 A
o manejo das águas pluviais (ver p. 368). partir dos anos 1980, surgiram nos Es-
tados Unidos, na França e em outros paí-
Poluição oculta ses europeus as primeiras legislações em
âmbito nacional que tinham como foco
Durante muitos anos, a poluição prove- o combate à poluição difusa.3, 4 No Bra-
niente dos esgotos domésticos e indus- sil, o tema ainda não é tratado por uma
triais lançados sem tratamento nos cor- legislação nacional específica, embora se
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
542
QUALIDADE DAS ÁGUAS PLUVIAIS
543
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Referências bibliográficas
544
QUALIDADE DAS ÁGUAS PLUVIAIS
Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira civil, mestre em Sistemas Aquáticos e
Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França), doutora em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela
Université Paris-Est (França), professora do Departamento de Engenharia Hidráulica
e Recursos Hídricos (EHR) da UFMG.
545
R
547
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
548
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS POR LIXÕES
549
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
vigor na legislação brasileira desde 1981 var o município e seus gestores a enfren-
e foi reforçada pelo atendimento à Po- tar ações judiciais e estabelecimento de
lítica Nacional de Resíduos Sólidos. O termos de ajuste de conduta (TACs) pelo
descumprimento da legislação pode le- Ministério Público.
Referências bibliográficas
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vel em: http://app4.mdr.gov.br/serieHistorica.
R
REDUÇÃO, REUTILIZAÇÃO, RECICLAGEM
E COMPOSTAGEM DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
O manejo dos resíduos sólidos pressu- vida útil dos sistemas de disposição final.
põe uma abordagem que tenha como re- Os processos de valorização dependem R
ferência a redução, a reutilização direta simultaneamente das características dos
dos produtos, a reciclagem dos materiais resíduos, da capacidade e da vontade do
e a compostagem dos resíduos orgânicos. produtor/responsável em viabilizá-los
O reaproveitamento dos resíduos consis- técnica e economicamente, consideran-
te em ações sustentáveis que trazem co- do também a repercussão sobre o meio
mo benefícios a valorização de resíduos, ambiente. A redução na fonte, tida como
a preservação da natureza e a promoção uma das principais formas de valoriza-
das relações ecológicas, com redução do ção, pode ocorrer por meio de mudanças
uso de recursos naturais e da poluição, no produto, pelo uso de boas práticas de
geração de emprego e renda e aumento da gestão e/ou por meio de mudanças tecno-
551
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
552
REDUÇÃO, REUTILIZAÇÃO, RECICLAGEM E COMPOSTAGEM DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
553
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
554
REDUÇÃO, REUTILIZAÇÃO, RECICLAGEM E COMPOSTAGEM DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
555
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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556
REGISTROS E ESTATÍSTICAS VITAIS
R
REGISTROS E ESTATÍSTICAS VITAIS
No Brasil há dois sistemas sobre estatís- nasc fornecem, além de dados de óbitos
ticas vitais: as estatísticas do Registro e nascimentos atualizados anualmente,
Civil, de responsabilidade do Instituto um conjunto de informações fundamen-
Brasileiro de Geografia e Estatística (IB- tais para o delineamento e gestão de po-
GE), e os Sistemas de Estatísticas Vitais, líticas na área da saúde.1
do Ministério da Saúde, formados pelo
Sistema de Informações sobre Nascidos Histórico
Vivos (Sinasc) e pelo Sistema de Infor-
mação sobre Mortalidade (SIM). O primeiro ato documentado sobre o R
O Registro Civil compreende infor- Registro Civil data de 1814, quando foi
mações dos cartórios sobre o acompa- proibido o enterro de pessoas sem certi-
nhamento da evolução da população dão emitida por médico. No entanto, foi a
brasileira, com dados sobre os nascidos partir do Decreto 70.210, de 1972, que o
vivos, casamentos e óbitos, e tem como Registro Civil passou a organizar e siste-
objetivo fornecer à sociedade informa- matizar os dados de nascidos vivos, casa-
ções sobre as ocorrências de nascimen- mentos, óbitos e óbitos fetais informados
tos e óbitos para o monitoramento da pelos cartórios de Registro Civil de Pes-
evolução populacional numa dada área soas Naturais, além de divórcios infor-
(município, estado etc.). Já o SIM e o Si- mados pelas varas de família, varas cíveis
557
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
558
REGISTROS E ESTATÍSTICAS VITAIS
Referências bibliográficas R
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REGULAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO BÁSICO
560
REGULAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO BÁSICO
561
EIXO 8 - GESTÃO DO SANEAMENTO
562
REGULAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO BÁSICO
Referências bibliográficas
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REGULAÇÃO NA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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REGULAÇÃO NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
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EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
566
REGULAÇÃO NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
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Disponível em: http://abrelpe.org.br/pdfs/panorama/panorama_abrelpe_2017.pdf.
8 SNIS. Diagnóstico do manejo de resíduos sólidos urbanos – série histórica. Dispo-
nível em: http://app4.mdr.gov.br/serieHistorica.
567
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
R
RESÍDUOS SÓLIDOS
568
RESÍDUOS SÓLIDOS
569
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
- artigo 54, o qual institui que se a polui- Assim, este marco legal atualizado,
ção ocorrer por lançamentos de resíduos bem como a Lei 12.305/2010 (PNRS), são
sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, importantes instrumentos legais no pro-
óleos ou substâncias oleosas, em desa- cesso de reversão do quadro relativo aos
cordo com as exigências estabelecidas impactos negativos dos resíduos sólidos
em leis ou regulamentos, a pena nesse no Brasil, e são as leis norteadoras para
caso é de reclusão, de um a cinco anos; elaboração do Plano Municipal de Sanea-
- artigo 56, o qual determina que comete mento Básico (PMSB – ver p. 450).
crime, com pena de reclusão de um a qua-
tro anos e multa, quem manipula, acon- Classificação
diciona, armazena, coleta, transporta,
reutiliza, recicla ou dá destinação final A Política Nacional de Resíduos Sólidos2
a resíduos perigosos de forma diversa da abrange todos os tipos desses resíduos
estabelecida em lei ou regulamento. e define diretrizes, princípios e instru-
mentos. Os tipos são classificados tanto
Em 2007 foi aprovada a Lei 11.445, es- segundo a origem como quanto à pericu-
tabelecendo as diretrizes nacionais para losidade. Quanto à origem:
o saneamento básico e a elaboração da
Política Nacional de Saneamento Bási- a) resíduos domiciliares: os originá-
co. Entre várias definições, no seu artigo rios de atividades domésticas em resi-
3º, inciso I, descreve limpeza urbana e dências urbanas;
manejo de resíduos sólidos como sendo b) resíduos de limpeza urbana: os ori-
o “conjunto de atividades, infraestrutu- ginários da varrição, da limpeza de lo-
ras e instalações operacionais de coleta, gradouros e vias públicas e de outros
transporte, transbordo, tratamento e serviços de limpeza urbana;
destino final do resíduo doméstico e do c) resíduos sólidos urbanos: os engloba-
resíduo originário da varrição e limpeza dos nos itens “a” e “b”;
de logradouros e vias públicas”4. d) resíduos de estabelecimentos comer-
Em 2020 foi atualizado o marco legal ciais e prestadores de serviços: os ge-
do saneamento com a Lei 14.026, para rados nessas atividades, excetuados os
aprimorar as condições estruturais do referidos nos itens “b”, “e”, “g”, “h” e “j”;
saneamento básico no País, no seu artigo e) resíduos dos serviços públicos de
3º, inciso I, a qual descreve limpeza ur- saneamento básico: os gerados nessas
bana e manejo de resíduos sólidos como atividades, excetuados os referidos no
sendo “constituídos pelas atividades e pe- item “c”;
la disponibilização e manutenção de in- f) resíduos industriais: os gerados nos
fraestruturas e instalações operacionais processos produtivos e instalações da
de coleta, varrição manual e mecanizada, indústria;
asseio e conservação urbana, transporte, g) resíduos de serviços de saúde: os
transbordo, tratamento e destinação final gerados nesses serviços, conforme de-
ambientalmente adequada dos resídu- finido em regulamento ou em normas
os sólidos domiciliares e dos resíduos de estabelecidas pelos órgãos do Sistema
limpeza urbana”5. Nacional do Meio Ambiente (Sisnama)
570
RESÍDUOS SÓLIDOS
Referências bibliográficas
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Disponível em: http://abrelpe.org.br/pdfs/panorama/panorama_abrelpe_2017.pdf.
2 BRASIL. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de
571
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
572
RISCOS PEDOLÓGICOS E GEOLÓGICOS
R
RISCOS PEDOLÓGICOS E GEOLÓGICOS
573
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
574
RISCOS PEDOLÓGICOS E GEOLÓGICOS
sos d’água assoreados pode ser realizada do solo se dá em uma superfície, chamada
por meio de dragagem do material depo- superfície de ruptura. Essa pode ser cur-
sitado. Entretanto, ações de restauração vada, e o deslizamento classificado como
fluvial são mais adequadas, uma vez que rotacional, ou ser plana, e o movimento
contemplam toda a área de drenagem e, ser chamado de translacional.
assim, evitam os processos de assoreamen- Os fluxos de detritos e lama são
to, buscando intervir no curso d’água para também chamados de corridas de massa
que este volte a uma condição de equilíbrio. e ocorrem devido à perda de estabilida-
de do solo causada pela sua saturação. É
Deslizamentos o tipo de deslizamento mais dependente
das condições de chuva.
Outro fenômeno que envolve os solos são O quarto tipo de fenômeno, caracteri-
os movimentos de massa, popularmen- zado por colapso de cavidades, redução
te conhecidos como deslizamentos. Os da porosidade ou deformação do solo, e é
movimentos podem ser de solos, rochas chamado de subsidência ou colapso.
ou detritos e normalmente ocorrem sob o
efeito da gravidade, muitas vezes poten- Fator agravador ou desencadeador
cializados pela infiltração da água. Eles
são de ocorrência frequente no Brasil, As ações antrópicas (do ser humano)
tendo em vista as condições do relevo, agravam ou são os fatores desencadeado-
com porções bastante acidentadas, e do res dos movimentos de massa. Nas áreas
clima, com chuvas intensas.3 urbanas a retirada de vegetação, modifica-
Os movimentos de massa ocorrem ções na topografia e má drenagem são os
em diversas formas, das quais os tipos principais fatores agravantes. Assim, os
principais são: quedas/tombamentos/ gestores municipais devem garantir o ma-
rolamentos; deslizamentos/escorrega- peamento e impedir a ocupação das áreas
mentos; fluxo de detritos e lama; e sub- de risco. Essas áreas são, a priori, locais de
sidência e colapsos. relevo íngreme.
As quedas são caracterizadas pela queda O risco da ocorrência dos movimentos
livre de blocos rochosos. Quando o movi- de massa é potencializado por infraes-
mento do bloco rochoso é de rotação no truturas sanitárias precárias. A infiltra-
sentido da encosta ele é chamado de tom- ção de esgotos ou de água potável prove-
bamento. Os rolamentos são os movimen- niente de vazamentos nas redes ou a falta R
tos de blocos rochosos ao longo da encosta. de infraestrutura de drenagem podem
Os deslizamentos ou escorregamen- ser aspectos desencadeadores de movi-
tos ocorrem quando o desprendimento mentos de massa.
Referências bibliográficas
575
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
mento de processos erosivos acelerados em área peri-urbana – São Paulo. In: SEMINÁRIO
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Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira civil, mestre em Sistemas Aquáticos e
Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França), doutora em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e pela Université Paris-Est (França).
Professora do EHR/UFMG.
576
S
SANEAMENTO AMBIENTAL
O saneamento básico, voltado à preven- vel. O termo saneamento básico foi cunha-
ção de doenças e à melhoria da qualida- do no Brasil em fins da década de 1950, re-
de de vida, é determinante para a situa- ferindo-se às intervenções para garantir o
ção de saúde das populações. Entretanto, abastecimento de água potável e o esgota-
seus componentes per se, mesmo sendo mento sanitário, com o intuito de estabe-
prioritários em diversas localidades, não lecer o que era mínimo e, portanto, funda-
são suficientes para a promoção de terri- mental para a vida humana, num quadro
tórios saudáveis e sustentáveis. Nesse de reduzidos recursos governamentais pa-
sentido, a área de saneamento básico nos ra essas medidas.3 Tal expressão ganhou
municípios precisa ampliar seus esforços força nas décadas de 1970 e 1980, com a
e suas redes sociotécnicas colaborati- implantação do Plano Nacional de Sane-
vas, adotando a perspectiva do sanea- amento (Planasa), voltado prioritaria-
mento ambiental (ver p. 577). mente à ampliação do sistema de abasteci-
Diante da evolução qualiquantitativa mento de água, ao esgotamento sanitário
da poluição hídrica, edáfica (dos solos), de forma secundária e a (poucas) ações de
atmosférica, da biota e dos ecossistemas; drenagem dos centros urbanos.3, 4
da exploração das riquezas e bens natu- De acordo com a Lei 11.445/2007,5 que
rais; do aquecimento global; dos desas- estabelece as Diretrizes Nacionais para o
tres socioambientais e tecnológicos e dos Saneamento Básico e para a Política Fede-
problemas sanitários são necessárias a ral de Saneamento Básico, este contempla,
revisão teórico-conceitual e a ampliação no conjunto de seus serviços, infraestrutu-
das intervenções, metodologias, experi- ra e instalações operacionais, os seguintes
ências e pesquisas participativas em sa- componentes: (1) abastecimento de água S
neamento, visando à promoção da saú- potável; (2) esgotamento sanitário; (3)
de1 e à racionalidade ambiental.2 limpeza urbana e manejo de resíduos só-
lidos; (4) drenagem e manejo das águas
Sanear é preciso pluviais, limpeza e fiscalização preventiva
das respectivas redes urbanas.
Saneamento, por sua etimologia, significa No escopo dessa regulamentação, o
a ação de sanear, ou seja, de tornar saudá- componente relativo à drenagem e ma-
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
nejo das águas pluviais foi direcionado às como o direito à terra urbana, à moradia,
áreas urbanas, quando deveria ser consi- ao saneamento ambiental, à infraestrutura
derado também para as áreas rurais, ou urbana, ao transporte e aos serviços públi-
seja, para todo o território nacional. cos, ao trabalho e ao lazer para as presentes
A intersetorialidade está contemplada e futuras gerações”.
na referida lei, uma vez que os princípios A publicação da Política e Plano Munici-
fundamentais da regulamentação orien- pal de Saneamento Ambiental: Experiências
tam-se pela integração da infraestrutura e Recomendações,7 do Ministério das Ci-
e dos serviços com a gestão eficiente dos dades e da Organização Pan-Americana
recursos hídricos, destacando sua articu- da Saúde (Opas), define que: “Saneamento
lação com as políticas de desenvolvimen- ambiental envolve o conjunto de ações téc-
to urbano e regional, de habitação, de nicas e sócio-econômicas entendidas funda-
combate e erradicação da pobreza, de pro- mentalmente como de saúde pública, tendo
teção ambiental e de promoção da saúde, como objetivo alcançar níveis crescentes
entre outras políticas de interesse social de salubridade ambiental, compreendendo
relevante voltadas à melhoria da qualida- o abastecimento de água em quantidade e
de de vida, que reconhecem o saneamen- dentro dos padrões de potabilidade vigentes,
to básico como um fator determinante.5 o manejo de esgotos sanitários, de águas plu-
O manejo integrado de vetores e pragas viais, de resíduos sólidos e emissões atmosfé-
(ver p. 374), o manejo agrícola, a irri- ricas, o controle ambiental de vetores e reser-
gação, o tratamento dos efluentes in- vatórios de doenças, a promoção sanitária e o
dustriais, a proteção dos mananciais, a controle ambiental do uso e ocupação do solo
eliminação da poluição difusa por agrotó- e a prevenção do controle do excesso de ru-
xicos (ver p. 47), a prevenção e o controle ídos, tendo como finalidade promover e me-
da poluição atmosférica e os cuidados lhorar as condições de vida urbana e rural”.
com o saneamento domiciliar, ainda que Enquanto concepção, o saneamento
marcados pela profunda interdependên- básico é reconhecido sobretudo como um
cia dos serviços públicos de saneamento orientador de ações técnicas. Mas um
básico, não estão definidos diretamente entendimento mais aprofundado de sua
como parte de seu escopo. dimensão socioeconômica amplia a com-
preensão dos processos envolvidos nessa
Uma nova definição atividade. Passa-se a compreender o sa-
de saneamento neamento não como uma atividade que
apenas produz custos para o poder pú-
A Lei 10.257/2001, conhecida como Es- blico, mas como uma ação promotora de
tatuto da Cidade 6, estabelece as diretri- saúde,8 que também constitui uma fonte
zes gerais da política urbana. Em seu ar- de renda para as famílias e de oportuni-
tigo 2º, o Estatuto afirma que a política dades para os municípios.
urbana tem por objetivo ordenar o pleno As ações de saneamento não devem fi-
desenvolvimento das funções sociais da car restritas a doenças específicas, mas
cidade e da propriedade urbana, tendo sim atuar na prevenção de um conjunto
entre suas diretrizes gerais: “I – garantia de doenças relacionadas ao saneamento
do direito a cidades sustentáveis, entendido ambiental inadequado (DRSAIs – ver p.
578
SANEAMENTO AMBIENTAL
579
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
Referências bibliográficas
580
SANEAMENTO AMBIENTAL
581
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
André Monteiro Costa. Engenheiro de Saúde Pública, doutor em Saúde Pública. Pesqui-
sador titular do Laboratório de Saúde, Ambiente e Trabalho (Lasat) do Departamento
de Saúde Coletiva do Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da Fiocruz.
582
SANEAMENTO E ARBOVIROSES
S
SANEAMENTO E ARBOVIROSES
Arboviroses como dengue, Zika, chi- ses. Heller enfatiza que o acesso à água
kungunya e febre amarela são doenças e ao esgotamento sanitário diminui a
causadas por arbovírus e transmiti- prevalência de doenças como a tríplice
das por artrópodes, especialmente por epidemia (dengue, chikungunya e Zi-
mosquitos hematófagos (aqueles que ka) e adverte que o controle vetorial
se alimentam de sangue). Alguns des- deve ser adotado como uma política de
ses vírus são suscetíveis a altas taxas prevenção e promoção da saúde que
de mutação e têm alto potencial de dis- não se restrinja unicamente ao com-
persão. Assim, eles se adaptam de for- bate direto ao mosquito. 5 Afinal, não
ma eficiente a hospedeiros vertebrados existem estratégias mais eficientes e
e invertebrados. sustentáveis de controle do que as me-
A maior parte dos arbovírus perten- lhorias sanitárias, incluindo o aumento
ce aos gêneros Alphavirus e Flavivirus.1, da cobertura do saneamento básico e a
2
O vírus da chikungunya (CHIKV) – é redução das desigualdades em saúde (ver
classificado como alfavírus e os da den- Manejo integrado de vetores – p. 374).
gue (DENV), Zika (ZIKV) e febre amare-
la, entre outros, como flavivírus. 3, 4 As arboviroses emergentes
Nos últimos anos, as altas taxas de e reemergentes no Brasil
incidência das arboviroses citadas vêm
causando dor e sofrimento à população, A chegada do vírus DENV4 ao Brasil, no
afetando especialmente as pessoas que final de 2011, e dos vírus ZIKV e CHIKV,
se encontram em situação de maior vul- entre 2014 e 2015, expôs a fragilidade
nerabilidade socioambiental e sobrecar- dos modelos vigentes de combate e pre-
regando o setor de saúde. Diante desse venção de epidemias. A entrada de di-
desafio, pesquisadores, o poder público ferentes sorotipos de dengue (DENV1,
e a sociedade têm permanecido em esta- em 1986; DENV2, em 1991; DENV3,
do de alerta. A promoção do saneamen- em 2001 e DENV4, em 2011) no país,
to básico é primordial para o controle por exemplo, foi acompanhada, desde os
das epidemias e para a superação desse anos 1980, pelo aparecimento de novas
desafio prioritário para a saúde pública epidemias em cada período – o que mos- S
no Brasil (ver Doenças relacionadas ao tra que os modelos de prevenção ado-
saneamento ambiental inadequado, DR- tados não têm sido efetivos. Com a cir-
SAIs – p. 218). culação de diferentes sorotipos, a com-
A indisponibilidade de serviços de plexidade das arboviroses aumentou,
saneamento pode contribuir para a dis- uma vez que novos grupos de população
seminação de diversas enfermidades suscetível vêm surgindo, em diferentes
já conhecidas, inclusive as arboviro- áreas geográficas. 6,3
583
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
Dengue Chikungunya
584
SANEAMENTO E ARBOVIROSES
Zika
Embora apenas uma em cada cinco
A disseminação explosiva do vírus zika pessoas infectadas com ZIKV apresente
– ZIKV – em toda a América do Sul, na sinais ou sintomas – geralmente leves
América Central, nas Ilhas do Caribe e – da doença, existe uma preocupação
na Polinésia Francesa deixou em aler- com infecções que têm consequências
ta as agências internacionais de saúde, graves como o aparecimento de micro-
provocando intercâmbios médicos entre cefalia e outros problemas congênitos
nações e alastrando preocupações em de desenvolvimento neurológico em
meio à população. O vírus foi identifica- crianças, que pode acontecer quando o
do pela primeira vez, de forma episódi- vírus é contraído pela mãe durante a
ca, na floresta de Zika, em Uganda, em gravidez, e casos de desenvolvimento
1947, durante atividades de vigilância da síndrome de Guillain-Barré em pes-
da febre amarela.17 soas adultas.19-26
Até 2007, o ZIKV havia ficado restrito às Os genótipos de ZIKV são divididos em
regiões equatoriais da África e da Ásia.18 duas linhagens principais: a africana e a
Foi então que ele se propagou, a partir de asiática/americana. Ainda não está total-
uma surpreendente epidemia na ilha de mente esclarecido se a rápida dissemina-
Yap, na Micronésia: de uma população ção da ZIKV nas Américas está associada
total de 6.700 habitantes, aproximada- a mutações específicas.27, 28
mente 5.000 foram infectados. Após essa É importante comentar a declaração
epidemia, registrou-se um suposto desa- de fim do estado de emergência para zika
parecimento do vírus, por seis anos. O e microcefalia, feita pelo Ministério da
ZIKV ressurgiu na Polinésia Francesa, em Saúde, em maio de 2017. Tal declaração
2013,19 em várias ilhas do Pacífico, entre foi recebida com tristeza, sobretudo pe-
2014 e 2016, e nas Américas, a partir de las mulheres cujos filhos foram afetados
março de 2015.20, 21 Embora tenha apare- pela síndrome congênita e/ou pelo apa-
cido no Brasil em 2015, estudos indicam recimento da microcefalia e por aquelas
que ele já estaria circulando no país desde com planos de engravidar ou que esta-
2013 ou 2014.21, 23, 24 De todo modo, o ví- vam grávidas naquele momento. Ações
rus espalhou-se rapidamente, com trans- importantes – como o repelente contra
missão local em 26 países das Américas mosquitos – não estão contempladas no
do Sul e Central, México e Caribe.25 pré-natal. Não há informação sobre os
Quando se propagou pela América do riscos de transmissão sexual da doença
Sul, esse vírus seguiu essencialmente o e sobre os riscos de transmissão nas
mesmo percurso feito pelo CHIKV um escolas e nos hospitais, e não houve S
ano antes. Apesar de o ZIKV não ser mudanças efetivas nas políticas sociais
novo e guarde muitas semelhanças com para proteger as crianças afetadas. As
outras flavoviroses, ainda resta muito a mães foram esquecidas e abandonadas,
descobrir a seu respeito. Não se sabe, por como se a epidemia tivesse evaporado
exemplo, se esse vírus sofreu uma muta- do país. Contudo, a Zika não desapare-
ção que possa ter facilitado a emergência ceu, ela foi apenas silenciada.29
da explosiva epidemia.22
585
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
586
SANEAMENTO E ARBOVIROSES
587
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
588
SANEAMENTO E ARBOVIROSES
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Autores
Josiane Teresinha Matos Queiroz. Engenheira civil especialista nas áreas sanitária e
ambiental, mestre, doutora e pós-doutora em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos
Hídricos, pós-doutora em Políticas Públicas em Saneamento e Saúde pelo Instituto Re-
né Rachou da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
S
SANEAMENTO E DEMOCRACIA SUBSTANTIVA
595
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
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SANEAMENTO E DEMOCRACIA SUBSTANTIVA
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
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SANEAMENTO E DEMOCRACIA SUBSTANTIVA
cro – foram consolidando o status destes trema, nunca aceitaram que os serviços
serviços como um bem público, cuja pro- de saneamento sejam considerados um
visão deve ser universal e não pode estar bem público e um direito social, e defen-
sujeita à lógica mercantil. dem até hoje o regime privatista, em que
No século 20, como resultado dos im- a provisão de água e esgotamento sanitá-
pactos da Segunda Guerra Mundial, o rio são considerados bens privados, que
desenvolvimento do Estado de bem-es- devem ser fornecidos por empresas pri-
tar social nas democracias capitalistas, vadas não reguladas, debilmente regula-
principalmente na Europa, consolidou a das ou autorreguladas. Neste enfoque, a
transformação do status dos serviços pú- relação entre saneamento e democracia,
blicos essenciais, incluído o saneamento, como na etapa privatista iniciada ao fim
que passaram a ser reconhecidos como di- do século 18, deve-se limitar a uma re-
reitos sociais da cidadania, cujo acesso lação contratual entre empresa e usuá-
deve ser garantido pelo Estado, indepen- rio: o direito democrático de cidadania
dentemente da capacidade de pagamento é restringido ao direito de propriedade,
dos usuários. O regime de democracia um intercâmbio mercantil. Este regime
social resultante, em suas diversas ver- de democracia restringida na política e a
sões, consolidou a provisão dos serviços gestão do saneamento foi reintroduzido
de saneamento nas mãos de empresas desde o fim da década de 1980 com a pri-
públicas, particularmente municipais vatização das empresas de saneamento
ou regionais. É nesta etapa, aproximada- na Inglaterra e em Gales e difundido em
mente a partir da década de 1960, que os nível global pelas instituições interna-
países europeus, entre eles a Inglaterra, cionais de desenvolvimento e financia-
conseguiram atingir a universalização mento desde a década de 1990, inclusive
do acesso a estes serviços. no Brasil. Apesar do fracasso deste pro-
jeto neoprivatista na Europa, na África,
O processo de democratização na Ásia na América Latina e nos Estados
da política e da gestão dos Unidos, ele continua a ser impulsionado
serviços de saneamento pelos setores que defendem um modelo
de democracia subordinada aos interes-
Essa transformação do status do sanea- ses do mercado.
mento entre o fim do século 18 e metade Em segundo lugar, apesar dos grandes
do século 20, tem sido objeto de confron- avanços que representou a transforma-
tações políticas e frequentes retrocessos. ção do status do saneamento em bem pú-
Está na raiz de iniciativas que procuram blico e direito social entre os séculos 19
aprofundar o processo de democratização e 20, o regime da democracia social, em S
substantiva da política e da gestão dos suas diferentes versões, não conseguiu
serviços de saneamento, incluindo for- aprofundar o processo de democratiza-
mas que procuram superar as limitações ção substantiva na política e na gestão
da democracia capitalista. do saneamento. Por um lado, fora do cír-
Em primeiro lugar, os representantes culo das democracias capitalistas, com
da tradição liberal-individualista, parti- poucas exceções, o regime de política e
cularmente em sua versão privatista ex- gestão do saneamento centrado no papel
599
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
600
SANEAMENTO E DEMOCRACIA SUBSTANTIVA
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
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SANEAMENTO ECOLÓGICO
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SANEAMENTO ECOLÓGICO
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EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
gânicos são jogados em um local do terreno e, de águas pluviais, podem ser construídas
de tempos em tempos, queimados. Os vidros barraginhas capazes de evitar enxurra-
e metais tornam-se potenciais recipientes das, manter o solo úmido por mais tempo
para acúmulo de água e proliferação de ve- e recarregar o lençol freático.12
tores e doenças. A falta de manejo adequado Em relação ao abastecimento de água,
da água da chuva provoca pequenas erosões há um cuidado com as fontes usadas para
próximo ao domicílio." essa finalidade, conservando nascentes,
Esse cenário é comum no meio rural bra- estruturando usos da água da chuva e
sileiro, historicamente marginalizado por buscando minimizar e otimizar o uso pa-
falta de políticas públicas e infraestrutura, ra irrigação e produção de alimentos. As
se comparado ao meio urbano. No entan- práticas de saneamento ecológico tam-
to, nesses casos o uso de soluções dentro bém são benéficas para ajudar na promo-
da perspectiva de um saneamento ecológi- ção da qualidade da água em mananciais
co – como reúso e manejo das águas, tra- de abastecimento para consumo humano,
tamento biológico de efluentes, gestão dos principalmente superficiais, por incre-
resíduos sólidos e manejo das águas plu- mentarem o uso de fertilizantes naturais
viais – pode ser feito de forma integrada, produzidos por meio do aproveitamento
visando fortalecer práticas agroecológicas de subprodutos, evitando o uso de adubos
de desenvolvimento local, contribuindo sintéticos e agrotóxicos.
assim para modificar essa realidade.
Existem diversas possibilidades de tec- Dinâmica interligada
nologias sociais7 (ver p. 717) que fomen-
tam a economia circular e a recuperação Todos esses são exemplos de tecnologias
de subprodutos, visando ao fechamento adequadas para tratamento de esgotos e
de ciclo em uma unidade domiciliar. A resíduos, com geração de valor e ativação
água da chuva pode ser armazenada em da economia local, além da preservação
cisternas para fins potáveis ou não8 e as da saúde ambiental e humana. O conceito
águas cinzas geradas após uso podem ser de saneamento ecológico envolve todos
tratadas em círculo de bananeiras. As fe- os componentes do saneamento básico
zes, direcionadas para uma bacia de eva- e não poderia ser de outra forma, já que
potranspiração (também conhecida por tudo se interliga na dinâmica dos ecossis-
fossa verde)9, podem ser destinadas ao temas, das habitações e dos moradores.
reuso na agricultura ou fertirrigação. A Melhorias expressivas no acesso aos
urina pode ser utilizada, com os devidos componentes do saneamento têm resulta-
cuidados sanitários, como fertilizante do da atuação de redes sociotécnicas que
natural9 e os resíduos orgânicos podem se envolvem comunidades, movimentos so-
destinar à geração de composto orgânico ciais, instituições acadêmicas e de pesquisa
para plantações de produção orgânica.10, em sintonia com a natureza, seus biomas
11
No caso dos resíduos não orgânicos, e as vocações regionais. Nos territórios do
parte pode ser reciclada ou reutilizada no Semiárido brasileiro, por exemplo, atuam
próprio domicílio, e a parcela de rejeitos diversas entidades que compõem a Arti-
pode ser destinada à coleta de resíduos culação Semiárido Brasileiro (ASA), rea-
sólidos. No que diz respeito ao manejo plicando tecnologias sociais de manejo das
606
SANEAMENTO ECOLÓGICO
Referências bibliográficas
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EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
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SANEAMENTO ECOLÓGICO
Vídeos
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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SANEAMENTO EM COMUNIDADES TRADICIONAIS
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SANEAMENTO EM COMUNIDADES TRADICIONAIS
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SANEAMENTO EM COMUNIDADES TRADICIONAIS
dÚnico, sendo 133.417 destas beneficiá- visibilidade territorial por povos e comuni-
rias do Programa Bolsa Família.21 dades tradicionais. A regularização fundi-
ária torna-se imprescindível para a garan-
Serviços inexistentes ou precários tia dos direitos constitucionais e humanos,
portanto, o que passa pela inserção destas
Em muitas comunidades quilombolas, populações nas políticas públicas.3
os serviços de saneamento prestados são Com um processo histórico de resistên-
inexistentes ou precários. Normalmente, cia, delimitações territoriais nem sempre
o abastecimento de água é individual, por oficializadas, construção e reconstrução
meio de poços, fontes de água, cisternas de identidades coletivas, os quilombolas
ou outras fontes, sem tratamento. Apenas enfrentam diversos obstáculos para a ga-
as comunidades localizadas em áreas peri- rantia de sua sobrevivência. Ainda exis-
féricas aos centros urbanos recebem água tem lacunas legislativas e desafios ope-
tratada. A coleta e o tratamento de esgoto racionais da identificação e do reconhe-
são praticamente inexistentes. O destino cimento territorial.3 A falta de oferta de
dos esgotos sanitários são valas a céu aber- serviços básicos de infraestrutura como
to, fossas rudimentares ou o lançamento de saneamento, saúde e habitação decor-
direto em corpos hídricos. Quanto aos re- re do contexto socioambiental de vulne-
síduos sólidos, poucas comunidades têm rabilidade em que estas populações estão
coleta realizada pelo município. Na maio- inseridas. A segregação racial e seus re-
ria dos domicílios, os resíduos são jogados sultados, como o desemprego e a baixa
a céu aberto em terrenos baldios, enterra- escolaridade,37 dificultam o acesso a po-
dos no fundo das residências ou queima- líticas públicas, e completam esse quadro
dos.10 Estudos realizados nos últimos anos que ameaça a reprodução cultural, social,
apontam que estas comunidades sofrem religiosa, ancestral e econômica, podendo
com a exclusão sanitária, com a vulnera- agravar a violência no campo.3
bilidade socioambiental (ver p. 786), com
índices de prevalência e incidência de do- O Plano Municipal de Saneamento
enças decorrentes da ausência de serviços Básico e os povos tradicionais
de saneamento e em condições precárias
de habitação.3, 6, 14, 22-36 Importante instrumento da Política Nacio-
Outro fator que estas comunidades en- nal de Saneamento Básico, o Plano Muni-
frentam é a complexa questão territorial. cipal de Saneamento Básico (PMSB – ver p.
Algumas estão inseridas em áreas consi- 450) deve compreender, considerar e res-
deradas de conservação e preservação am- saltar a importância da inclusão destes po-
biental, sem que se tenha considerado sua vos e comunidades em todas as suas etapas. S
inserção nas legislações, o que gera confli- É necessário atentar para as proposições
tos e indefinições territoriais. Reconheci- de utilização de tecnologias sociais (ver p.
mentos e titulações são agravados quando 717), considerando as particularidades ge-
interesses como os do agronegócio, da mi- ográficas, econômicas e socioculturais das
neração e dos setores energético (nos pro- comunidades tradicionais. Trata-se de tec-
jetos de hidrelétricas, por exemplo) e imo- nologias baseadas nos princípios de fácil
biliário estão presentes nas negociações de implementação e manutenção, baixo custo
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Referências bibliográficas
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SANEAMENTO EM COMUNIDADES TRADICIONAIS
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
FUNASA. Página web do Programa Saneamento Brasil Rural. Disponível em: ht-
tps://www.saneamentobrasilrural.com.br.
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SANEAMENTO EM COMUNIDADES TRADICIONAIS
Josiane Teresinha Matos Queiroz. Engenheira civil especialista nas áreas sanitária
e ambiental, mestre, doutora e pós-doutora em Saneamento, Meio Ambiente e Re-
cursos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pós-doutora em
Políticas Públicas em Saneamento e Saúde pelo Instituto René Rachou, da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
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SANEAMENTO INDÍGENA
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SANEAMENTO INDÍGENA
privada com vaso sanitário, onde as fezes as áreas mais preservadas desta região
e a urina são depositadas e depois trans- estão localizadas principalmente nelas e
portadas por meio da água até o tanque nas unidades de conservação. Entretan-
séptico e em seguida para o sumidouro. to, a poluição ambiental (ver p. 488) é um
problema cada vez mais comum nos terri-
Resíduos sólidos tórios indígenas. Ela acontece quando são
introduzidas substâncias no ambiente
Um dos principais enfoques dos resí- acima de sua capacidade de depuração e
duos sólidos nas aldeias indígenas é o que podem causar danos à saúde huma-
trabalho de educação em saúde, envol- na. É gerada pela mineração, por garim-
vendo a comunidade, o conselho local pos, atividade madeireira e empreendi-
de saúde, a comunidade escolar, os AISs mentos do agronegócio, que contaminam
e Aisans, na segregação de resíduos e na as coleções de água com a disposição de
utilização de resíduos orgânicos através agrotóxicos (ver p. 47) e outros produ-
da compostagem domiciliar. tos químicos e nos rios, lagos e igarapés,
O Programa de Gerenciamento de Resí- provocando a morte dos peixes e outros
duos nas aldeias envolve as escolas indíge- animais que habitam estes ambientes ou
nas com coletores seletivos, com o objetivo utilizam suas águas para consumo.
fundamental de aumentar a consciência
sanitária da comunidade escolar na se- Informação em saúde e
paração dos resíduos. Por serem resíduos saneamento ambiental
perigosos e contaminantes, os resíduos de
saúde de origem produzidos nas unidades A produção de informação do saneamen-
de saúde, são coletados por empresas espe- to ambiental indígena se dá pela aplica-
cializadas. É realizada a política de logís- ção de dois instrumentos: o primeiro,
tica reversa principalmente para resíduos que registra as condições sanitárias
perigosos como as pilhas. Nas aldeias se da aldeia, e o segundo, que registra as
estimula a aplicação de quatros Rs – reuti- condições sanitárias das moradias da
lização, reciclagem, retorno e redução. aldeia. Ambos são estruturados para fa-
cilitar a coleta dos dados pelos Aisans e
Sustentabilidade permitir a coleta de coordenadas geográ-
ficas, pelo GPS, determinando os pontos
O conhecimento tradicional dos povos espaciais, dos domicílios e de elementos
indígenas no manejo dos recursos natu- relacionados ao saneamento e à saúde
rais nos seus territórios já é reconhecido ambiental da aldeia.
em pesquisas como importantes fator de São coletadas informações e coordena- S
sustentabilidade desses recursos no pla- das geográficas da existência de associação
neta, pois a maior parte das áreas verdes comunitária ou cooperativa indígena, es-
e com floresta que ainda restam é habi- paços para rituais ou plantios e a necessi-
tada por povos indígenas. No Brasil, por dade de intervenção de saneamento, como
exemplo, as terras indígenas têm con- a construção de abastecimento de água e
tribuído muito na proteção dos ecossis- melhorias sanitárias. A coleta e a sistemati-
temas existentes na Amazônia, porque zação abrangem informações referentes a:
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
Referências bibliográficas
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SANEAMENTO INDÍGENA
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18 abr. 2020.
Ricardo Luiz Chagas. Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Mato
Grosso (UFMT), engenheiro sanitarista pós-graduado em Saúde Pública pela Escola
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
S
SANEAMENTO, SAÚDE E AMBIENTE:
REFLEXÕES PARA A SOCIEDADE
Este texto apresenta algumas questões Ressalta-se que este texto foi elaborado
que precisam de reflexão urgente e não em meio à pandemia da Covid-19 (março/
são percebidas no cotidiano de todas as abril 2020), que está interferindo na saú-
pessoas. É preciso atentar sobre questões de global com mortes e internações, so-
e situações que demonstram a relação brecarregando o sistema de saúde e seus
entre o saneamento, saúde pública e a de- profissionais, causando isolamento social
gradação ambiental para que possam ser sem precedentes na história recente da
internalizadas, refletidas, e talvez par- humanidade. Muitas perguntas ainda sem
tir para ações individuais e/ou coletivas respostas, tais como: se existe mutação vi-
de mudanças de paradigmas, atitudes, ral, como é a imunidade pessoal, se ocorre
comportamentos, pensamentos, seja na reinfecção. Neste sentido, pesquisadores
participação social, no controle social estão estudando as vias de contaminação
de políticas públicas, seja na mudança como a possibilidade da persistência do
de consumo imposta pela mídia e pelas vírus em águas naturais e no esgoto, e
grandes empresas. também por meio de gotículas (aerossóis)
As questões aqui apresentadas são de provenientes do esgoto infectado.1
particular importância para o poder pú- Portanto, inicia-se com a questão ur-
blico em todas as suas esferas, especial- gente e básica do saneamento.
mente na municipal, onde a vida acontece,
para a (re)formulação de políticas públicas. Algumas questões que estão
Quando o assunto é ambiente, muitas impactando o ambiente e a saúde
pessoas não percebem que o ser humano
é integrante da natureza e, portanto, suas Saneamento
ações vão ocasionar consequências em seu
corpo físico e mental, e também impactar A ausência de acesso ao saneamento bá-
seu meio ambiente. Neste contexto, a saúde sico e as condições precárias de vida de
humana e ambiental está interrelacionada determinadas populações em diferentes
com as condições salubres ou insalubres do regiões do planeta são fatores intima-
meio em que vive. Assim, é essencial uma mente ligados com o ambiente, ocasio-
visão integrada das ações antrópicas para nando violação de direitos humanos,
compreensão dessas relações. sacrifícios, proliferação e transmissão de
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SANEAMENTO, SAÚDE E AMBIENTE: REFLEXÕES PARA A SOCIEDADE
doenças, com mortes que poderiam ser das águas e a gestão dos resíduos sólidos
evitadas (ver Doenças relacionadas ao sa- (ver p. 568), com o aumento de resíduos
neamento ambiental inadequado – p. 218) descartados incorretamente. Estes im-
e contaminação ambiental. A relação en- pactam a drenagem das águas de chuva,
tre saneamento e saúde já está consoli- e estas podem ocorrer de maneira extre-
dada com dados, pesquisas e estudos das ma, causadas pelas mudanças climáticas,
realidades nacional e internacional. ocasionando enchentes, inundações (ver
Os impactos da falta de serviços bá- p. 334) e perdas de vidas.
sicos de saneamento distribuem-se de Milhões de brasileiros não têm acesso
forma desigual, afetando de forma mais à coleta e ao tratamento de esgotos, e is-
intensa mulheres e meninas (ver Gê- so pode gerar consequências negativas,
nero e saneamento – p. 282), que geral- com a contaminação do solo, das águas,
mente percorrem longas distâncias com do ar, e comprometer seriamente a saú-
o pesado fardo de buscar e ter água em de humana, causando a eutrofização de
casa, populações vulneráveis, que so- cursos d’água, que são fontes de capta-
frem com a exclusão social por serem ção de abastecimento público e já estão
minorias, por estarem em situação de poluídas e podem estar com volumes
pobreza e por terem seus domicílios lo- afetados pelas mudanças climáticas.
calizados em zonas rurais e periféricas. Portanto, estamos sempre em um ciclo
Sendo assim, as populações expostas à de ações e consequências que afetam a
vulnerabilidade social, econômica e saúde humana e ambiental.
ambiental são as mais impactadas com
a privação de serviços básicos de sanea- Mudanças climáticas
mento e, consequentemente, com a falta
de dignidade humana, privacidade e Ao longo dos últimos anos, o aqueci-
qualidade de vida. mento global vem se intensificando, e,
E como tudo está interligado, a oferta por consequência, os níveis do mar têm
de água doce é impactada pelas mudan- aumentado, as regiões de glaciares estão
ças climáticas, pois alteram o regime de derretendo, os padrões de precipitação
chuvas e, consequentemente, pioram a sofreram alterações e eventos climáticos
situação de pessoas que já não têm água extremos tornaram-se mais intensos e
para consumo humano por vários moti- frequentes, com consequente impacto
vos (secas, ausência de políticas públicas, na saúde humana. Estas mudanças são
escassez, má qualidade da água, baixa oriundas das atividades humanas visan-
qualidade do serviço de abastecimento de do suprir o consumismo desenfreado de
água), e vão estocar incorretamente água, parte da população global, enquanto ou- S
o que propicia o aumento dos criadouros tra parte não consegue consumir nem o
de mosquitos que transmitem doenças essencial, e todos sentem as consequên-
como as arboviroses (ver Saneamento cias. Globalmente, o número de desastres
e arboviroses – p. 583). Quando se tra- naturais triplicou desde 1960, e todos os
ta de consumo, isso vai impactar tanto anos esses desastres resultam em mais de
na extração de matérias-primas, como 60 mil mortes, principalmente em países
na poluição (ver p. 488) do ar, do solo, pobres. As altas temperaturas agravam
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SANEAMENTO, SAÚDE E AMBIENTE: REFLEXÕES PARA A SOCIEDADE
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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SANEAMENTO, SAÚDE E AMBIENTE: REFLEXÕES PARA A SOCIEDADE
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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SANEAMENTO, SAÚDE E AMBIENTE: REFLEXÕES PARA A SOCIEDADE
Vídeos
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Josiane Teresinha Matos Queiroz. Engenheira civil especialista nas áreas sanitária
e ambiental, mestre, doutora e pós-doutora em Saneamento, Meio Ambiente e Re-
cursos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pós-doutora em
Políticas Públicas em Saneamento e Saúde pela Instituto René Rachou, da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
S
SAÚDE PÚBLICA
Saúde pública pode ser conceituada como em saúde, como ambiente, saneamento,
campo de saberes e conjunto de práticas educação, transporte e segurança pública.
que permitem o planejamento e a execu-
ção de intervenções com a finalidade de Saneamento e saúde
melhorar as condições de vida e a situa-
ção de saúde das populações. Tais inter- O saneamento, ação de sanear, é indis-
venções, independentemente de quem as pensável para garantir qualidade de vida
executa, precisam do respaldo da ciência das populações. Intercessões entre sa-
e/ou da anuência do aparato estatal, em neamento e saúde são observadas desde
acordo às legislações e normas vigentes. tempos remotos. Na Antiguidade, sem
Para transpor o conceito de saúde pú- o conhecimento sobre microrganismos,
blica para a prática profissional no Bra- existia a noção de que as doenças eram
sil é pertinente a compreensão do que é transmitidas a partir do meio em que as
“saúde”, que a partir de 1988 passou a ser pessoas viviam. O médico e filósofo gre-
interpretada como “condição que deve go Hipócrates, no século 5 antes de Cris-
ser garantida mediante políticas sociais e to (a.C.), destacou no livro Ares, Águas e
econômicas que visem à redução do risco Lugares os fatores ambientais ligados à
de doença e de outros agravos e ao acesso saúde e à doença: "Quem quer que estude
universal e igualitário às ações e serviços medicina deve investigar os seguintes aspec-
para sua promoção, proteção e recupera- tos: primeiro, o efeito das estações do ano.
ção”.1 A incorporação desse conceito pelo Depois, os ventos, quentes ou frios, caracte-
Estado brasileiro implicou uma série de rísticos da região. O efeito da água não deve
atribuições em diferentes áreas político- ser esquecido... Por último deve-se conside-
-administrativas e de prestação de ser- rar o modo de vida das pessoas".2
viços que abarcam desde as instituições Observam-se registros de práticas de
responsáveis pela atenção à saúde nos âm- saneamento desde civilizações antigas
bitos curativos e preventivos até setores ao norte da Índia e no Egito, com a exis-
afins, imprescindíveis para a promoção tência de sistema de coleta de esgoto e
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SAÚDE PÚBLICA
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EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
viviam na zona rural, o saneamento foi nal de Previdência Social (INPS). Desde
a pauta que uniu médicos e engenhei- então se observou o progressivo favore-
ros sanitaristas em torno do desenvol- cimento da prática médica individual
vimento de uma política nacional de curativa previdenciária em detrimento
Saúde Pública.7 Um marco sobre o sane- da atuação por centros de Saúde, que visa-
amento rural, o livro Saneamento do Bra- vam também a prevenção e eram voltadas
sil, do médico sanitarista Belisário Pen- para a população em geral. Em decorrên-
na,8 dava ênfase às doenças e à falta de cia, também se esvaziaram as tentativas
saneamento rural a partir da descoberta de articulação entre saúde e saneamento.
dos sertões pelas expedições científi-
cas, organizadas pelo Instituto Oswal- Novo marco
do Cruz.7 Penna fez severas críticas aos
poderes públicos e às elites governa- A visão de saúde pública passou por mu-
mentais quanto ao flagelo da miséria danças conjunturais e estruturais a par-
do povo e das doenças endêmicas como tir da Declaração de Alma-Ata, aprovada
"as verminoses" como principal alvo de na Conferência Internacional sobre Cui-
uma campanha nacional de saneamento dados Primários de Saúde, em 1978.11 À
e educação higiênica.8 época, o relatório final estabeleceu um
A partir dessas expedições foi criado, novo conceito de saúde, alçando-o ao
em 1918, o movimento denominado Li- centro dos direitos humanos e dos obje-
ga Pró-Saneamento. Esse movimento tivos da comunidade internacional:"saú-
reivindicava o papel do Estado no campo de é o estado de completo bem-estar físico,
da Saúde Pública, compreendendo que os mental e social, e não simplesmente a ausên-
problemas de saúde estavam relaciona- cia de doença ou enfermidade; é um direito
dos com o abandono de grande parte da humano fundamental, e que a consecução
população e com as precárias condições do mais alto nível possível de saúde é a mais
de vida que estavam submetidas.9 importante meta social mundial, cuja reali-
Por outro lado, seguindo uma tendên- zação requer a ação de muitos outros setores
cia mundial, a partir de 1923, instauram- sociais e econômicos, além do setor saúde”.11
-se no país as caixas de Aposentadorias Os preceitos de Alma-Ata estimularam
e Pensões (CAPs), destinadas ao amparo modificações nos sistemas de saúde de
previdenciário do trabalhador formal e vários países, e ajudaram a impulsionar o
dependentes, o que incluía a atenção mé- movimento de reforma sanitária no Bra-
dica como benefício. Essa medida favore- sil. Este movimento foi relevante para for-
ceu quase exclusivamente categorias mais mulação de ideias que se materializaram
organizadas e empresas de maior porte, na instituição do Sistema Único de Saúde
que em sua maioria se situavam nas capi- (SUS) na Constituição de 1988. Na Carta
tais e nos grandes centros urbanos.10 Magna, consta que “a saúde é direito de to-
Na década de 1930, houve a transforma- dos e dever do Estado, garantido mediante
ção das CAPs em institutos de Aposen- políticas sociais e econômicas que visem
tadorias e Pensões (IAPs). Em meados à redução do risco de doença e de outros
da década de 1960, a partir da fusão dos agravos e ao acesso universal e igualitá-
IAPs, constituiu-se o Instituto Nacio- rio às ações e serviços para sua promoção,
638
SAÚDE PÚBLICA
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Referências bibliográficas
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SAÚDE PÚBLICA
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
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watch?v=J6Mgvi_ga3U.
S
SETORES CENSITÁRIOS
Os setores censitários são unidades tística (IBGE1). A base territorial dos se-
territoriais georreferenciadas, criadas tores é marcada por áreas contíguas que
para o controle cadastral das coletas das respeitam os limites políticos-adminis-
pesquisas censitárias realizadas pelo trativos, tais como distritos, subdistritos
Instituto Brasileiro de Geografia e Esta- e divisões municipais.1 O processo de ela-
642
SETORES CENSITÁRIOS
boração dos setores para um dado censo cílios, de modo a tornar possível a realiza-
envolve a análise de um grande volume de ção da pesquisa censitária num prazo de
mapas, cadastros alfanuméricos e bases 30 dias. Já os setores urbanos de áreas não
cartográficas de instituições parceiras, urbanizadas preveem entre 150 e 250 do-
além de registros das malhas setoriais micílios, ou ainda de 100 a 200 estabeleci-
dos censos demográficos anteriores.2 mentos agropecuários. No caso dos setores
Em função do detalhamento das infor- rurais, o tamanho varia em torno de 150
mações coletadas no nível desses setores, a 250 domicílios ou 100 a 200 estabeleci-
que correspondem a unidades geográficas mentos agropecuários. Além disso, as ex-
muito desagregadas, a cada censo o IBGE tensões territoriais não podem ultrapassar
adota um conjunto de medidas de pro- 500 quilômetros quadrados (km2), além do
teção dos dados, com o objetivo de não tempo máximo de 60 dias de pesquisa.3
permitir a identificação dos informantes O primeiro dígito dos 15 algarismos
das pesquisas.3 Além de apresentar as in- que compõem o código do setor censitá-
formações com registros anônimos, o IB- rio diz respeito à composição da área do
GE disponibiliza as informações do ques- setor de 2010 em relação ao seu posicio-
tionário básico das pesquisas censitárias namento no censo anterior. O segundo
de forma agregada. Em outras palavras, dígito faz a distinção entre os setores
os microdados não são disponibilizados que foram mantidos, subdivididos e ex-
no nível dos indivíduos e domicílios, tintos, entre os censos de 2000 e 2010.
mas no nível dos próprios setores Já o terceiro dígito indica a modificação
censitários. Além disso, nos setores com político-administrativa ou na situação do
menos de cinco domicílios é omitida a setor (urbano ou rural), entre os censos
maioria das informações, mantendo-se de 2000 e 2010.
apenas as variáveis estruturais, tais co-
mo as subdivisões geográficas, o número Município em detalhes
de domicílios e população por sexo.
Em 2010, o Brasil contava com 316.574 Por um lado, os setores censitários pos-
setores censitários, dos quais 6.460 não sibilitam aos pesquisadores e gestores
possuíam domicílios e 6.295 (2%) tive- públicos, bem como à iniciativa privada,
ram seus dados omitidos. Segundo o IB- o acesso gratuito a um grande volume de
GE, as malhas dos setores do Censo 2010 informações dos microdados do universo
contaram com um maior refinamento dos censos demográficos (ver p. 88) desde
na identificação das situações urbana e o Censo 2000. São dezenas de informa-
rural, segundo a legislação vigente. Os ções do questionário básico, disponíveis
aglomerados subnormais, marcados por na escala intramunicipal, sobre tama- S
residências densas e desordenadas que nho e estrutura da população, educação,
ocupam propriedades alheias e carentes renda, trabalho e atividade, deficiência,
de serviços públicos básicos, precisam religião, composição do domicílio, fecun-
conter no mínimo 51 domicílios3 para didade, mortalidade e migração, dentre
que constituam setores censitários. outros recortes, inclusive quesitos direta-
O tamanho dos setores urbanos de áreas mente relacionados ao saneamento, tais
urbanizadas prevê entre 250 e 400 domi- como destino dos resíduos sólidos e exis-
643
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
Referências bibliográficas
1. IBGE. Censo Demográfico 2010: resultados gerais da amostra. Rio de Janeiro: IB-
GE, 2012. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/resultados.html.
2. IBGE. Censo Demográfico 2010: características da população e dos domicílios: re-
sultados do universo. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. Disponível em: https://censo2010.
ibge.gov.br/resultados.html.
3. IBGE. Metodologia do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível
em: https://biblioteca.ibge.gov.br/pt/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=295987.
4. IBGE. Grade estatística. Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: https://agencia-
denoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/relea-
ses/15273-grade-estatistica-permite-obter-dados-do-censo-2010-para-diversos-
-recortes-espaciais.
644
SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA (SAA)
S
SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA (SAA)
645
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
dificuldade de acesso à água potável tam- convencionais de SAA – o foco deste ver-
bém pode ser um fator limitante para o bete – e por soluções alternativas, tanto
desenvolvimento de certos territórios as coletivas, quanto as individuais.
(ver p. 729) nos municípios. Água con- Os mananciais são as fontes de água
taminada e saneamento precário estão disponível para abastecimento, que podem
entre as principais causas de mortalidade ser superficiais (rios, açudes, lagos etc.),
infantil no mundo. A diarreia infantil es- subterrâneas (poços) ou a própria água de
tá intimamente associada ao suprimento chuva (daí falar-se em aproveitamento de
insuficiente e inadequado de água, com- águas pluviais). Os poços podem ser rasos
preendida no âmbito das doenças relacio- – poços amazonas –, ou fundos, conheci-
nadas ao saneamento ambiental inade- dos como – poços tubulares. Mananciais
quado (DRSAIs – ver p. 218). Estima-se devem ter oferta de água em quantidade,
que a diarreia cause 1,5 milhão de mortes com qualidade e regularidade adequadas
infantis por ano, principalmente entre às necessidades de consumo da população.
crianças menores de 5 anos que vivem em A qualidade da água do manancial tem
países em desenvolvimento.4 forte influência na escolha da tecnologia
de tratamento de água. Mesmo as águas
Marcos legais e padrões subterrâneas, geralmente consideradas de
qualidade superior por terem passado por
Conforme o Sistema Nacional de Infor- tratamento natural – filtração no próprio
mações sobre Saneamento (SNIS), em solo –, devem ter sua qualidade para con-
2017, cerca de 93% da população brasilei- sumo humano avaliada.
ra – o que equivale a 160 milhões de pes- A Resolução 357/2005, do Conselho
soas – eram atendidos por um sistema de Nacional de Meio Ambiente (Conama),7
abastecimento de água em rede.6 enquadra os corpos d’água em classes –
A universalização do saneamento bá- o que inclui as classes de 1 a 4 e a classe
sico, do qual o abastecimento de água é especial. Somente as classes especial, 1, 2
um dos componentes, é um dos princí- e 3 podem ser utilizadas para o abasteci-
pios fundamentais da Lei 11.445/2007, mento de água, após passarem por, res-
conhecida como Lei do Saneamento Bá- pectivamente, desinfecção, tratamento
sico. Essa norma define a universalização simplificado, tratamento convencional e
como a ampliação progressiva do acesso tratamento convencional ou avançado.
ao saneamento básico para todos os do- A NBR 12216/1992, da Associação Bra-
micílios ocupados. O acesso universal aos sileira de Normas Técnicas (ABNT), esta-
serviços de água e esgoto, manejo de re- belece padrões sanitários a serem aten-
síduos e de águas pluviais está amparado didos, conforme o tipo de manancial e o
de forma implícita e explícita em várias nível mínimo de tratamento requerido
legislações, inclusive de áreas afins, como para cada tipo.8
as referentes a recursos hídricos, de meio
ambiente, de saúde pública, de defesa do Da captação ao tratamento
consumidor e de desenvolvimento urba-
no.5 A universalização dos serviços de sa- A captação compreende o conjunto de
neamento pode ser realizada por soluções dispositivos destinados a retirar água
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SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA (SAA)
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EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Referências bibliográficas
648
SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA (SAA)
649
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade
Estadual da Carolina do Norte (EUA). Professor associado do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental (Desa) da Universidade Federal de Minas Gerais.
S
SISTEMAS DE DRENAGEM DAS ÁGUAS PLUVIAIS
650
SISTEMA DE DRENAGEM DAS ÁGUAS PLUVIAIS
No sistema separador, uma rede seria pa- nas áreas lindeiras às vias, incluindo áreas
ra recolhimento dos esgotos, fazendo a li- particulares, para que o escoamento se infil-
gação entre os domicílios e os meios recep- tre ou para que seja direcionado a um curso
tores, ao passo que na rede de drenagem, d’água existente. No caso em que a capaci-
bem mais curta, prevaleceria o escoamento dade de infiltração do solo ou a disponibili-
da água em superfície, através de canais. As dade de área não sejam suficientes para que
redes e galerias somente seriam utilizadas ocorra a infiltração completa do escoamen-
quando não houvesse viabilidade de escoa- to superficial advindo das sarjetas, estrutu-
mento dessa forma. Uma evolução desses ras de armazenamento e posterior infiltra-
sistemas é o sistema separador absoluto, ção das águas pluviais devem ser instaladas.
que preconiza o escoamento da drenagem, A drenagem dos terrenos particulares deve
assim como do esgoto, por redes distintas. ser realizada dentro do próprio terreno, e o
Apesar dessa evolução, a lógica de con- escoamento, diretamente infiltrado ou lan-
cepção dos sistemas de drenagem con- çado na drenagem natural.
tinuava sendo baseada nos preceitos de
evacuação rápida das águas pluviais, Em áreas urbanas
base dos chamados sistemas clássicos de
drenagem. No Brasil, tais sistemas foram Os sistemas de drenagem são subdividi-
adotados efetivamente a partir da procla- dos, segundo o porte, em duas categorias:
mação da República em 1889,3 em sinto- os sistemas de microdrenagem e o siste-
nia com as ideias do positivismo então ma de macrodrenagem. O sistema de mi-
dominantes. A lógica de tentar evacuar as crodrenagem é aquele que drena as águas
águas pluviais o mais rapidamente e para precipitadas sobre as áreas particulares, os
o mais longe possível continua a vigorar passeios, vias e demais áreas públicas até
até hoje nas cidades brasileiras, mesmo lançar a água escoada no sistema de ma-
que modernizada por aportes científicos crodrenagem, que as conduz, em geral por
e tecnológicos, como a análise de risco ou gravidade, ao meio receptor. Os sistemas
a adoção do sistema separador absoluto de microdrenagem visam à proteção con-
para águas pluviais e esgoto sanitário. tra alagamentos enquanto o sistema de
macrodrenagem oferece proteção contra
Em áreas rurais inundações (ver p. 334). Assim, o período
de retorno de projeto para o sistema de
Nas áreas rurais, os sistemas de drenagem microdrenagem é pequeno, em geral de
apresentam diferenças substanciais quan- cinco a dez anos, enquanto para o sistema
do comparados aos sistemas das áreas ur- de macrodrenagem os períodos de retorno
banas. No meio urbano, os sistemas de adotados em projeto são sensivelmente S
drenagem recebem o escoamento de toda a maiores, podendo chegar a 100 anos.
área de contribuição. Já no meio rural, de
maneira geral, a drenagem pública recebe Sistema de microdrenagem
o escoamento proveniente exclusivamen-
te das vias, através das sarjetas. A lógica O sistema público de microdrenagem tem
norteadora da drenagem rural é, assim que sua configuração orientada segundo o ar-
possível, lançar o escoamento das sarjetas ruamento, e suas concepções, composi-
651
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
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SISTEMA DE DRENAGEM DAS ÁGUAS PLUVIAIS
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EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
Referências bibliográficas
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SISTEMAS DE INFORMAÇÕES DE SANEAMENTO – NACIONAL E MUNICIPAL
Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira civil, mestre em Sistemas Aquáticos e
Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França), doutora em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e pela Université Paris-Est (França).
Professora do EHR/UFMG.
S
SISTEMAS DE INFORMAÇÕES DE SANEAMENTO
– NACIONAL E MUNICIPAL
655
EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
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SISTEMAS DE INFORMAÇÕES DE SANEAMENTO – NACIONAL E MUNICIPAL
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
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SISTEMAS DE INFORMAÇÕES DE SANEAMENTO – NACIONAL E MUNICIPAL
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EIXO T - TEMAS TRANSVERSAIS
resíduos domiciliares e públicos entre os com o poder público, os quais foram res-
municípios, dentre outras informações. ponsáveis por 30,7% do total das tonela-
A partir do conjunto de informações são das coletadas seletivamente em 2018. Se-
calculados 47 indicadores no sistema, gundo o levantamento, foram apontadas
dentre eles taxa de cobertura do serviço 1.232 organizações de catadores no país,
de coleta domiciliar, massa recuperada distribuídas por 827 municípios, com
per capita e autossuficiência financeira do mais de 27 mil catadores vinculados a es-
órgão gestor. sas entidades – associações ou cooperati-
As informações fornecidas para a ela- vas. Relativo às quantidades de resíduos
boração do Diagnóstico do Manejo de sólidos urbanos, o Diagnóstico revelou
Resíduos Sólidos Urbanos são de res- que a massa de resíduos domiciliares e
ponsabilidade das prefeituras, titulares públicos coletados no ano de 2018 resul-
dos serviços. Ressalta-se que mesmo nos tou no indicador médio de coleta per capi-
casos em que esses serviços são terceiri- ta brasileiro de 0,96 quilograma por habi-
zados ou concedidos, essa situação não tante ao dia (kg/hab./dia). Extrapolando
transfere a titularidade das prefeituras. os valores para todo o país, estimou-se
Os dados fornecidos são essenciais pa- que foram coletadas 62,78 milhões de
ra a constituição do banco de dados e o toneladas (t) por ano ou 172,0 mil t por
desenvolvimento do setor, que depende dia de resíduos sólidos urbanos nos mu-
de informações de qualidade e acessíveis nicípios brasileiros. Enquanto isso, a
para a obtenção de um panorama o mais massa coletada de resíduos recicláveis foi
próximo possível da realidade. de apenas 14,4 kg/hab./ano, equivalente
Dentre as principais informações apon- a 1,7 milhão de t coletado seletivamente
tadas no último Diagnóstico publicado em 2018. Isto significa dizer que, para ca-
referente ao ano de 2018, 3.468 municí- da 10 kg de resíduos disponibilizado para
pios participaram da coleta, isto é, 62,3% a coleta, apenas 411 gramas são coletadas
do total do país. Em termos de popula- de forma seletiva. Tal fato conduz à con-
ção urbana este percentual representava clusão de que a prática da coleta seletiva
85,6% ou 151,1 milhões de habitantes no país, embora apresente alguns avan-
Portanto, conforme os dados autodecla- ços, ainda se encontrava num patamar
rados pelos gestores municipais, pôde-se muito baixo.
apontar que a cobertura do serviço regu- Quanto à destinação das 62,78 mi-
lar de coleta domiciliar de resíduos sóli- lhões de toneladas de resíduos coletados
dos atingiu 98,8% da população urbana e em 2018, o diagnóstico aponta a recupe-
92,1% da população total. ração de 124 mil t recebidas em 70 unida-
Quanto à coleta seletiva, o diagnóstico des de compostagem e 1,05 milhão de t de
apontou a presença do serviço em 1.322 resíduos recicláveis em 1.030 unidades de
ou 38,1% dos municípios do Brasil, sen- triagem. Este último número representou
do prestado na modalidade porta a porta 1,7% do total de resíduos domiciliares e
em 1.135 municípios, que representam públicos coletados no país, ou 5,6% da
37,8% da população urbana do país. Me- massa total potencialmente recuperável
rece destaque a participação formal de de recicláveis secos, o que perfazia um ín-
catadores na coleta seletiva em parceria dice de 7,37 kg/hab./ano de resíduos re-
660
SISTEMAS DE INFORMAÇÕES DE SANEAMENTO – NACIONAL E MUNICIPAL
661
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
va para uma pequena redução no percen- muitos deles não possuem dados de todos
tual de municípios que não o possui, a os municípios brasileiros, nem variáveis
qual passou de 70,1% dos municípios da e indicadores apropriados para avaliação
amostra, em 2017, para 67,7%, em 2018. dos aspectos qualitativos da prestação
A parcela de domicílios em situação de dos serviços e da apropriação da tecnolo-
risco de inundação pode ser identificada gia utilizada, restringindo-se, em geral, à
por meio desse mapeamento: havia um dimensão quantitativa da oferta e da de-
índice de 3,3% de domicílios em risco, em manda dos serviços.
2018. Por fim, verificou-se uma redução Para déficit o Plansab considera duas
na quantidade de pessoas desabrigadas categorias – sem atendimento e atendi-
ou desalojadas na área urbana dos mu- mento precário – e define como “ofertado
nicípios devido a eventos hidrológicos em condições insatisfatórias ou provisó-
impactantes – inundações, enxurradas e rias, potencialmente comprometedoras
alagamentos. Em 2017, o valor chegava a da saúde humana e da qualidade do am-
205.237 habitantes, enquanto, em 2018, biente domiciliar e do seu entorno”. Para
esse número foi de 141.548 habitantes. detalhes, consultar https://www.mdr.
Em relação aos dados financeiros, o in- gov.br/saneamento/plansab.
vestimento per capita dos serviços era Atualmente, no Brasil, os próprios pres-
R$ 18,15/hab.ano e a despesa per capita tadores municipais de serviço encontram
com os serviços foi de R$ 18,20/hab.ano. dificuldades para obter dados e informa-
Apenas três municípios afirmaram que ções. A falta de sistemas de informações
cobram taxa específica para os serviços municipais, bancos de dados, cadastro
de Dmapu: Santo André (SP), Porto Ale- técnico ou levantamento de dados siste-
gre (RS) e Montenegro (RS). máticos pode resultar em informações
inconsistentes e até incorretas, além de
Informações municipais não se ter informações que se consideram
questões qualitativas em relação aos ser-
Cabe aqui resgatar do Plano Nacional de viços prestados em saneamento básico.
Saneamento Básico (Plansab) esclareci- Outro desafio dos gestores municipais
mentos que dizem respeito às informa- é a ausência de capacitação e formação
ções sobre a situação do setor no país.9 técnica dos profissionais, além de existir
Os pesquisadores apontaram que, para uma recorrente ruptura na constituição
caracterizar como atendimento adequa- das equipes locais, quando a administra-
do ou déficit, foi necessário formular ção municipal passa para outro gestor, o
uma leitura crítica dos diversos sistemas que pode impactar as rotinas de sistema-
de informação e bancos de dados sobre tização de dados e informações.
saneamento básico disponíveis no país,
inclusive do SNIS. Isso porque a maioria Uso de dados do SNIS/SIMISAB
é incompleta, vários são desatualizados
e cada qual é concebido segundo lógica A importância de fornecer dados reais e
própria, fornecendo, portanto, infor- consistentes para o SNIS como principal
mações sobre diferentes dimensões da fonte de informações sobre o setor sane-
carência no atendimento. Além disso, amento com abrangência nacional e tam-
662
SISTEMAS DE INFORMAÇÕES DE SANEAMENTO – NACIONAL E MUNICIPAL
Referências bibliográficas
663
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Josiane Teresinha Matos Queiroz. Engenheira civil especialista nas áreas sanitária
e ambiental. Mestre, doutora e pós-doutora em Saneamento, Meio Ambiente e Recur-
sos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e pós-doutora em
Políticas Públicas em Saneamento e Saúde pelo Instituto René Rachou, da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
S
SOLUÇÕES COLETIVAS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO
664
SOLUÇÕES COLETIVAS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO
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EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
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SOLUÇÕES COLETIVAS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO
tência à abrasão e ataque químico, facilida- em áreas rurais e/ou isoladas, uma vez
de de transporte, disponibilidade do tama- que o custo para levar a rede até essas áre-
nho necessário, e os custos do material, do as urbanas de baixa densidade é elevado.5
transporte e do assentamento do tubo. Indicadores ou métricas são
estratégicos para monitorar e avaliar
Importância da gestão o alcance das metas estabelecidas pelo
PMSB. No caso do esgotamento sanitá-
Diversos fatores podem interferir na co- rio, relativo ao sistema coletivo, deve-se
leta e transporte do esgoto: vazamentos monitorar o índice de cobertura dos siste-
devido a problemas na rede, incrustações mas, ou seja, qual porcentagem da popu-
e oxidações das tubulações dependendo lação tem possibilidade de acessar a rede
do tipo de material adotado, possíveis de esgotamento. O índice de cobertura é
entupimentos devido à destinação de re- diferente do índice de atendimento, por-
síduos sólidos juntamente com o esgoto, centagem da população que efetivamente
entre outros problemas que podem ser está ligada à rede (o que também deve ser
acarretados por falta de manutenção e monitorado pelo poder público).6 Sendo
operação precária dos sistemas. assim, o gestor tem papel primordial em
Por isso, além de garantir que os servi- conscientizar a população de forma a in-
ços estruturais do sistema estejam sendo centivar a ligação nos locais com cobertu-
bem feitos, os gestores precisam garan- ra da rede de esgotamento sanitário.
tir que a gestão dos serviços, relativa A universalização do esgotamento sa-
às ações estruturantes, esteja condizen- nitário de modo algum se restringe à exe-
te com os objetivos a serem alcançados. cução de obras de infraestrutura, pois são
Ressalta-se que, as soluções individuais necessárias ações de sensibilização e par-
devem ser consideradas principalmente ticipação popular e medidas estruturantes.
Referências bibliográficas
667
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Lívia Cristina da Silva Lobato. Engenheira civil e doutora em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG.
Fabiana Lopes Del Rei Passos. Doutora em Engenharia Ambiental pela Universitat Po-
litècnica de Catalunya (UPC), Espanha. Professora adjunta do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
S
SOLUÇÕES DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
668
SOLUÇÕES DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
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EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
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SOLUÇÕES DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
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EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
Referências bibliográficas
672
SOLUÇÕES INDIVIDUAIS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO
torio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-AWWP8Q/1/disserta__o_marielle_apareci-
da_de_moura_raid.pdf.
INSTITUTO SISAR. Página web do Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar).
Disponível em: http://www.sisar.org.br. Acesso em: 23 out. 2019.
BASÍLIO SOBRINHO, G. Planos municipais de saneamento básico (PMSB): uma aná-
lise da universalização do abastecimento de água e do esgotamento sanitário. 2011.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil: Recursos Hídricos) – Centro de Tecno-
logia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2011. Disponível em: http://www.
repositorio.ufc.br/handle/riufc/17468.
TSUTIYA, M. T. Abastecimento de água. São Paulo: PHA/Poli/USP, 2006. p. 3.
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade
Estadual da Carolina do Norte (EUA). Professor Associado do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental (Desa) da Universidade Federal de Minas Gerais.
S
SOLUÇÕES INDIVIDUAIS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO
673
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
674
SOLUÇÕES INDIVIDUAIS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
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SOLUÇÕES INDIVIDUAIS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Deve-se escavar o solo nas dimensões (ver p. 604). Essas soluções também podem
do tanque, impermeabilizada com es- ser combinadas, dependendo do volume e
trutura de alvenaria, ferrocimento da carga de poluentes, da área disponível e
ou lonas resistentes, como geomembra- do possível aproveitamento dos subprodu-
nas de PVC ou Pead, e construir uma tos gerados. Pode-se, por exemplo, utilizar
câmara central (recepção), com a insta- o biodigestor seguido de filtro anaeróbio e
lação de meias calhas de cimento pré- sistema alagado construído ou tanque sép-
-moldado perfurado, tijolos perfurados tico seguido de filtro e sumidouro.
ou pneus, para digestão inicial. Acima
dessa câmara, é colocada uma camada Capacitação e participação
filtrante de brita e areia grossa e, acima
dessa camada, plantação de bananeiras A escolha dessas soluções deve ser par-
e taiobas, geralmente. Para evitar o en- ticipativa, o que exige que a população
charcamento do solo em que as plantas esteja informada e capacitada em relação
estão é recomendável construir uma às atividades de manutenção e operação
barreira em volta do sistema e colocar das possibilidades de disposição final ou
palha, folhas secas ou serragem em aproveitamento do lodo, se for gerado, e
cima da camada de terra. Na maioria da disposição final do efluente, no solo ou
das vezes o esgoto rico em nutrientes corpo d’água, ou seu aproveitamento.
é totalmente absorvido pelas plantas e No PNSR,2 há fluxogramas de auxílio
não há necessidade de disposição final. a tomada de decisão sobre essas tecnolo-
Além disso, estudos já comprovaram gias de esgotamento sanitário para áreas
que as bananas e as taiobas podem ser rurais considerando disponibilidade hí-
consumidos sem necessidade de preo- drica e profundidade do lençol freático.
cupação com contaminação.5 Essas ferramentas podem ser utilizadas
• Biodigestor: é uma unidade de em consonância com outros materiais
tratamento versátil e pode ser para o planejamento desse eixo do sanea-
utilizado para tratar esgoto, águas fe- mento em áreas do município onde não é
cais, esterco fresco e resto de alimen- viável a utilização dos sistemas coletivos
tos ou a combinação de todos esses em de esgotamento sanitário.
um processo de codigestão. Essa uni- Apesar de muitas dessas soluções ainda
dade consiste em um compartimento não terem normas de dimensionamento,
fechado alimentado por esses dejetos são alternativas já utilizadas que me-
e um compartimento de armazena- lhoram a qualidade de vida das comu-
mento do biogás gerado, que, inclusi- nidades buscando melhores condições
ve, pode ser aproveitado como gás de de higiene e saúde, apresentando menor S
cozinha, por exemplo. Essa tecnologia demanda por recursos financeiros e con-
não exige manutenção frequente, mas tribuindo para a sustentabilidade local.
deve-se ter atenção na operação devi- Essas vantagens podem ser melhor com-
do à produção do biogás. preendidas na bibliografia utilizada.2, 5, 8
No planejamento municipal, aabe aos
Algumas dessas alternativas enquadram- gestores municipais estarem sempre em
-se no conceito de saneamento ecológico contato com a população buscando atender
677
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
às demandas dos sistemas por meio de me- ção eventuais e medidas estruturantes de
didas estruturais de manutenção e opera- capacitação técnica e acesso à informação.
Referências bibliográficas
678
SUBSÍDIOS
Lívia Cristina da Silva Lobato. Engenheira civil e doutora em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG.
Fabiana Lopes Del Rei Passos. Doutora em Engenharia Ambiental pela Universitat Po-
litècnica de Catalunya (UPC), Espanha. Professora adjunta do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
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SUBSÍDIOS
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EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
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SUBSÍDIOS
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
tatou que, ainda que exista grande di- do país, à luz dos princípios norteadores
versidade na estrutura tarifária das em- da Lei de Saneamento Básico – univer-
presas, a maioria contempla a cobrança salidade, equidade, integralidade, inter-
de uma tarifa residencial social (mais setorialidade e qualidade –, constatou
baixa) para a prestação dos serviços de que apenas oito planos analisaram ou
água e esgotamento sanitário para as criaram tarifa social e/ou subsídio para
populações de baixa renda, cuja média os usuários de baixa renda e somente
varia entre R$ 0,89 por metro cúbico (m3) um município (Alagoinhas, BA) propôs a
e R$ 10,44/m3 para o consumo de água e criação de uma tarifa social popular com
de R$ 0,44/m3 a R$ 10,27/m3 para coleta valor simbólico (no caso, R$ 1,00) como
e tratamento de esgoto. solução para a inclusão da população ca-
As diretrizes para elaboração do pla- rente com vistas à universalização efeti-
nejamento municipal de saneamento va dos serviços de saneamento básico.8
contemplam os subsídios como parte da Ainda que a política de subsídios – como
sustentabilidade social da prestação dos parte das condições de sustentabilidade
serviços de saneamento básico, uma vez econômico-financeira– esteja sujeita às
que estabelece como um dos seus princí- normas de regulação e fiscalização dos
pios “utilizar tecnologias apropriadas e so- contratos de concessão para a prestação
luções graduais e progressivas, considerando de serviços de saneamento básico, as de-
a sustentabilidade ambiental e a capacidade ficiências relativas à aplicação efetiva dos
de pagamento dos usuários que, segundo subsídios ao longo do território brasileiro
a legislação, não pode ser impeditiva para têm sido associadas à ausência de um ór-
atingir as metas de universalização”.7 Po- gão regulador no nível nacional, à falta de
rém, além da falta de especificidade com capacidade de gestão da maioria das agên-
relação à operacionalização desses prin- cias reguladoras municipais e estaduais e
cípios, a única referência aos subsídios ao fato de que, de modo geral, as diretrizes
trata da forma como deve se dar a ade- de regulação tarifária (ver p. 560) defini-
quação dos mecanismos de cobrança e de das pela Lei 11.445 – da qual fazem parte
remuneração dos serviços para garantir os subsídios – ainda não foram implemen-
as condições de sustentabilidade econô- tadas.9 Esta situação é mais um dos desa-
mico-financeira dos serviços, a qual é de fios que os municípios deverão enfrentar
responsabilidade do ente fiscalizador no momento de elaboração do planeja-
designado pelo titular dos serviços, ge- mento da área para garantir a universali-
ralmente o município. Neste sentido, a zação do acesso e para que o saneamento
escolha do método de financiamento do seja de fato um instrumento efetivo de in-
saneamento influencia significativamen- clusão social e econômica de todas as po-
te o efeito redistributivo da política pú- pulações que habitam seu território.
blica nesta área, pois implica uma decisão
acerca de quem deve pagar, bem como as Subsídios na mudança
diversas modalidades de subsídios. do marco regulatório
Uma análise recente de 18 planos mu-
nicipais de saneamento básico abran- A aprovação do Projeto de Lei 14.026 de
gendo cinco macrorregiões e 14 estados 2020, que atualizou a LNSB, trouxe mu-
682
SUBSÍDIOS
Referências bibliográficas
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ris: OECD Publishing, 2009. Disponível em: https://www.oecd.org/env/42350563.pdf.
Acesso em: 12 jan. 2020.
2. FUNASA. Gestão econômico-financeira no setor de saneamento. 2 ed. Brasília: Fu-
nasa, 2014.
3. BRASIL. Decreto nº 82.587, de 6 de novembro de 1978. Regulamenta a Lei nº 6.528,
de 11 de maio de 1978, que dispõe sobre as tarifas dos serviços públicos de saneamento.
4. COSSENZO, C. L. Tarifa social dos serviços de abastecimento de água e esgotamen-
to sanitário no Distrito Federal. 2013. Dissertação (Mestrado Profissional em Saúde
Pública) – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz,
Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/24325.
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em: http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11445.htm.
6. CAMPOS, L. Política de subsídios e universalização. Abastecimento de água e esgota-
mento sanitário: pré-diagnóstico e desafios. Abes; BID, 2014. (Projeto de Regulação do
Setor de Água e Saneamento). Disponível em: http://abes-dn.org.br/regulacao/arqs/par-
te%203%20-%20Universalizacao%20e%20Subsidios_%20Leonardo%20Campos.pdf.
7. ARAUJO, F. C.; BERTUSSI, G. L. Saneamento básico no Brasil: estrutura tarifária e regu-
683
EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
Vitor Carvalho Queiroz. Engenheiro civil e mestre em saneamento, meio ambiente e re-
cursos hídricos pela UFMG. Possui experiência, principalmente, com políticas públicas e
gestão de saneamento e recursos hídricos.
684
SUSTENTABILIDADE
S
SUSTENTABILIDADE
685
EIXO 1 - ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS
686
SUSTENTABILIDADE
Agenda, logo tem que estabelecer políti- 11.445/2007, estão em consonância com
cas públicas para o cumprimento de seus os ODS, principalmente no que se refere a:
objetivos e metas.
Os ODS abordam diretamente os de- • integralidade, compreendida como
safios do saneamento no seu objetivo 6, o conjunto de todas as atividades e
que busca “assegurar a disponibilidade componentes de cada um dos diversos
e a gestão sustentável da água e esgota- serviços de saneamento básico, propi-
mento sanitário para todas e todos até ciando à população o acesso na confor-
2030”. Por meio de suas oito metas, os midade de suas necessidades e maximi-
recursos hídricos e os serviços a eles as- zando a eficácia das ações e resultados;
sociados são colocados no centro do de- • adoção de métodos, técnicas e proces-
senvolvimento sustentável e de suas di- sos que considerem as peculiaridades
mensões ambiental, econômica e social.9 locais e regionais;
Neste sentido, a universalização dos ser- • articulação com as políticas de desenvol-
viços de saneamento tem um valor tanto vimento urbano e regional, de habitação,
intrínseco como instrumental por ser en- de combate à pobreza e de sua erradica-
tendido como um elemento fundamental ção, de proteção ambiental, de promoção
nos esforços mundiais de erradicação da da saúde e outras de relevante interesse
pobreza e redução das desigualdades, social voltadas para a melhoria da quali-
na garantia da dignidade humana e na dade de vida, para as quais o saneamento
busca do crescimento econômico com básico seja fator determinante;
sustentabilidade ambiental. A adequa- • utilização de tecnologias apropriadas,
ção das metas globais à realidade brasi- considerando a capacidade de paga-
leira, assim como a definição e o moni- mento dos usuários e a adoção de solu-
toramento de indicadores para o alcance ções graduais e progressivas.1
dos objetivos e metas subscritos pelo pa- • Assim como os ODS, a Lei de Sanea-
ís, são de responsabilidade da Comissão mento Básico propõe uma visão mais
Nacional para os ODS. A instância cole- integral de como pode ser a articulação
giada paritária, de natureza consultiva, do saneamento com outras dimensões
foi criada pelo Decreto 8.892/2016, com e políticas públicas nos âmbitos social,
a finalidade de internalizar, difundir e político, econômico e ambiental, incor-
dar transparência ao processo de imple- porando, ainda que indiretamente, o
mentação da Agenda 2030 no Brasil e de conceito de sustentabilidade.
conduzir o processo de articulação, a mo-
bilização e o diálogo entre os entes fede- Predomínio econômico-financeiro
rativos e a sociedade civil.10 S
De modo geral, a sustentabilidade deve
A sustentabilidade e os serviços se traduzir na adequação dos serviços de
de saneamento no Brasil saneamento à realidade local por meio de
tecnologias e processos que estejam de
Os princípios norteadores para a presta- acordo com as características de cada mu-
ção dos serviços públicos de saneamen- nicípio e que possam ser apropriados pelo
to básico no Brasil, estabelecidos na Lei poder público e pela população local. Po-
687
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
rém, a Lei 11.445/2007, ainda que inova- princípios desses instrumentos de pla-
dora com relação às normativas anterio- nejamentos “utilizar tecnologias apro-
res, limita-se a estabelecer explicitamen- priadas e soluções graduais e progres-
te o princípio legal de sustentabilidade sivas, considerando a sustentabilidade
econômico-financeira como uma das ambiental e a capacidade de pagamento
bases da prestação dos serviços públicos dos usuários que, segundo a legislação,
de saneamento básico no país. Tal susten- não pode ser impeditiva para atingir as
tabilidade deve ser “assegurada, sempre metas de universalização”.11 Porém, há
que possível, mediante remuneração que muitos impasses com relação à opera-
permita a recuperação dos custos dos ser- cionalização desses pressupostos– eles
viços prestados em regime de eficiência” atingem, por exemplo, a adequação das
(art. 45 do Decreto 7.217/2010). formas de cobrança e de remuneração
Ou seja, na legislação nacional, a pre- dos serviços para as condições de sus-
ocupação com a sustentabilidade está tentabilidade econômico-financeira
principalmente vinculada à questão estabelecidas pela lei; a política de sub-
econômico-financeira. Esta, por sua vez, sídios (ver p. 679); e a fiscalização dos
liga-se diretamente à regulação (ver p. indicadores administrativos, operacio-
560) e à política tarifária (ver p. 32), nais e de qualidade dos serviços.
ainda que se abra espaço para que a co- A partir do referencial de outro princípio
brança pelo serviço não comprometa sua do Plano Nacional de Saneamento Básico
universalização sob pena de prejudicar (Plansab – ver p. 457), a intersetoria-
as famílias que não possuem capacidade lidade, a sustentabilidade das ações na
de pagamento. Neste sentido, há uma área deve se ampliar para além dos seus
preocupação com relação ao impacto componentes básicos, dialogando com a
direto na renda familiar da população abordagem e desafios do saneamento am-
e nos esforços em torno da redução das biental (ver p. 577), incorporando ações
desigualdades existentes no acesso a integradas com as políticas públicas de
serviços de saneamento no país. A Lei recursos hídricos, com as políticas de
estabelece requisitos legais para tal fim agricultura para o desenvolvimento rural
e propõe políticas de cobrança e de re- sustentável e com o saneamento enquan-
muneração de acordo com as caracterís- to instrumento da erradicação da pobreza
ticas de cada um dos componentes do extrema e promotor da saúde12 e da vida.
saneamento básico. Essas ações de abrangência nacional de-
vem ser territorializadas nos municípios,
Compreensão alargada em especial para as populações do campo,
em âmbito municipal da floresta e das águas (ver p. 499), que
exercem modos de vida e relação com a
Especificamente no âmbito dos planos natureza de forma específicas.
municipais de Saneamento Básico (PMS- A sustentabilidade é uma peça funda-
Bs – ver p. 450), também é contempla- mental para o alcance da universaliza-
da a sustentabilidade ambiental e, ção do acesso aos serviços de saneamen-
indiretamente, a sustentabilidade so- to, assim como a gestão, a eficiência, o
cial quando se estabelece como um dos monitoramento e a avaliação destes ser-
688
SUSTENTABILIDADE
viços. Porém, apesar dos avanços norma- mente pela fragmentação, pela setoria-
tivos, na prática é difícil avaliar se, do lização e pela insuficiência de recursos
ponto de vista qualitativo, as soluções e financeiros para as ações estruturais e
serviços de saneamento prestados estão estruturantes. Tais problemas somam-
respeitando os princípios norteadores -se à falta de coordenação entre as dife-
de universalização, integralidade, efici- rentes estruturas e órgãos de decisão e
ência e sustentabilidade, principalmen- planejamento da administração pública
te em decorrência da limitação de dados, e à falta continuidade dos organismos e
especialmente no nível municipal.12 A instrumentos normativos e econômicos
sustentabilidade dos serviços de sanea- para a gestão dos serviços de saneamen-
mento tem se visto ameaçada principal- to ao longo da história do país.
Referências bibliográficas
689
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
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http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro07_sustenta-
bilidadeambienta.pdf.
S
SUSTENTABILIDADE NO ESGOTAMENTO SANITÁRIO
690
SUSTENTABILIDADE NO ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Esta cadeia nos leva às dimensões terfaces com os outros ODS.2 Os servi-
que a sustentabilidade deve abarcar nos ços de saneamento são essenciais para a
âmbitos institucional, socioambiental e garantia da saúde pública, da qualidade
econômico-financeiro. Em relação ao ei- ambiental e, consequentemente, de qua-
xo institucional, a sustentabilidade sig- lidade de vida adequada.
nifica que conexões orgânicas devem ser Em relação aos serviços de esgotamen-
criadas entre os participantes da cadeia, to sanitário, há ainda um enorme déficit
ou seja, que eles entendam que fazem de cobertura por coleta e tratamento,
parte de um núcleo com interesses em em grande parte dos municípios e, geral-
comum, para que haja continuidade dos mente com o lançamento de esgoto bru-
serviços de saneamento independente- to no meio ambiente. Assim, planejan-
mente das mudanças administrativas. do com o enfoque da sustentabilidade,
No quesito socioambiental, a parti- além da ampliação dos serviços de coleta
cipação de todos os atores é muito im- de esgoto, é fundamental implemen-
portante e deve ser criado um ambiente tar, bem como gerir de forma apropria-
de colaboração para que o setor esteja da, sistemas de tratamento eficientes e
cada vez mais em expansão. No âmbito sustentáveis. 3 A defecação a céu aberto
econômico-financeiro deve haver cria- sendo substituída dignamente, evita
ção de parcerias e contratos para delimi- problemas graves, em particular os rela-
tar responsabilidades e a não dependên- cionados a gênero e saúde. A adoção de
cia de um só financiador ou recurso. tecnologias apropriadas à realidade lo-
cal, com envolvimento direto do público
Qualidade ambiental a ser alcançado, aumenta a chance de os
sistemas serem adequadamente opera-
De acordo com o Plano Nacional de Sa- dos e mantidos, cumprindo os objetivos
neamento Básico (Plansab – ver p. 457), para os quais foram instalados.
a sustentabilidade dos serviços de sa- Ademais, no tocante ao esgotamen-
neamento está associada à melhoria da to sanitário, é essencial uma mudança
qualidade ambiental, à relação com os de paradigma que envolva a população
usuários– tanto no âmbito da percepção não apenas como usuários/consumidores
quanto da aceitabilidade, propiciando a dos serviços, mas como sujeitos/
promoção da gestão democrática e par- protagonistas, tornando-os parte do
ticipativa – e à viabilidade econômica problema e da solução. O que une essas
dos serviços.1 Todas as dimensões do sa- duas pontas, sem arestas, é o princípio
neamento devem trabalhar nos três eixos da economia circular, em que o esgoto é
da sustentabilidade: institucional, socio- visto como insumo de um processo produ- S
ambiental e econômico-financeiro. tivo. Nele, além da produção do efluente
Nos Objetivos de Desenvolvimento tratado e/ou água para reúso, são gera-
Sustentável, a vertente “saneamento” é dos dois subprodutos principais, lodo e
abordada especificamente por meio do biogás,4 os quais tem elevado potencial de
ODS 6 – assegurar a disponibilidade e aproveitamento, promovendo assim a re-
gestão sustentável da água e saneamen- dução de impactos no meio ambiente e tor-
to para todos. Contudo, há estreitas in- nando os serviços financeiramente mais
691
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
692
SUSTENTABILIDADE NO ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Referências bibliográficas
693
EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Izabel Cristina Chiodi de Freitas. Engenheira civil pela UFMG, especialista em Saúde
Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Lívia Cristina da Silva Lobato. Engenheira civil e doutora em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG.
Fabiana Lopes Del Rei Passos. Doutora em Engenharia Ambiental pela Universitat Po-
litècnica de Catalunya (UPC), Espanha. Professora adjunta do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
694
T
evoluiu para a tentativa de imitar os vários (BMPs), sustainable urban drainage (SUD),
processos do ciclo hidrológico (ver p. 97), low impact development (LID), green in-
restabelecendo-se assim os fenômenos na- fraestructure (GI) e water sensitive urban
turais por meio de técnicas artificiais. design (WSUD). Muitas dessas nomencla-
As técnicas compensatórias de drena- turas refletem conceitos que vão além da
gem apresentam inúmeras vantagens escala da técnica, e tem em comum o uso
em relação às técnicas clássicas: sua uti- de técnicas mais sustentáveis para o ma-
lização é possível em diversas escalas, nejo das águas pluviais.
desde a escala da edificação, da parcela
(ou terreno) até a escala da bacia de hi- Classificação
drográfica. Essas técnicas permitem a
ocupação de áreas desprovidas de locais As técnicas compensatórias podem ser
de lançamento no meio receptor e, em classificadas como:
geral, melhoram a qualidade da água,
visto que o armazenamento permite a • técnicas para controle na fonte, quando
sedimentação de poluentes. implantadas próximo ao local de ge-
Além disso, essas soluções incluem a pos- ração do escoamento superficial – por
sibilidade de modulação do sistema, com exemplo, microrreservatórios, pavi-
implantação à medida que o desenvolvi- mentos permeáveis, poços de infiltra-
mento local ocorre, não incorrendo assim ção, trincheiras, valas, telhados verdes
em grandes investimentos em drenagem e jardins de chuva;
no início da ocupação da área. São técnicas • técnicas de controle a jusante, tais co-
integradas ao meio ambiente, com vocação mo as bacias de detenção e infiltração.
para usos múltiplos, como parques e áreas
de lazer, tendo como vantagens a valoriza- As técnicas de controle na fonte impe-
ção estética e eventual criação de habitats. dem que a água da chuva escoe por grandes
Além disso, sob o aspecto hidrológico, têm áreas, e também podem assumir arranjos
a vantagem de promover o aumento da paisagísticos integrados ao seu local de
evapotranspiração, quando associadas à implantação. Uma desvantagem, porém, é
presença de vegetação, e à recarga do len- que essas técnicas são dimensionadas para
çol freático, quando se tratar de técnicas períodos de retorno relativamente baixos,
de infiltração.1, 2 entre dois e dez anos. Como a implantação
As técnicas compensatórias em dre- dessas técnicas é feita por particulares em
nagem são também conhecidas no Bra- locais privados, os gestores públicos de-
sil por outras nomenclaturas: técnicas vem elaborar e padronizar instruções téc-
alternativas, infraestrutura verde e azul, nicas para construção e manutenção das
tecnologias verdes, soluções baseadas estruturas, assim como criar mecanismos
na natureza, sistemas de drenagem para garantir que elas sejam construídas
sustentável ou desenvolvimento urbano e mantidas adequadamente (ver projetos
de baixo impacto. Em inglês, as seguintes de sistemas de drenagem).
nomenclaturas também são utilizadas As técnicas de controle a jusante pos-
para se referir ao manejo sustentável das suem a vantagem de serem dimensiona-
águas pluviais: best management practices das para períodos de retorno elevados,
696
TÉCNICAS COMPENSATÓRIAS EM DRENAGEM
697
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Suas principais vantagens são seu baixo cionada pelas plantas, além de excelente
custo e a possibilidade de sua boa inte- integração paisagística.
gração ambiental. Quando as estruturas são esvaziadas
As valas ou valetas são sistemas por infiltração cuidados adicionais de
constituídos por depressões escavadas no projeto devem ser tomados a fim de re-
solo com o objetivo de recolher as águas duzir os riscos de contaminação do len-
pluviais e efetuar o seu armazenamento çol freático e garantir a integridade de
temporário, e eventualmente, favore- construções próximas aos sistemas. Uma
cer sua infiltração. Podem possuir uma consideração adicional é de que as estru-
boa integração ambiental, permitindo turas de reservação devem ter tempo de
outros usos. Têm como vantagem a deli- esvaziamento inferior a 24 horas, a fim
mitação do espaço, com possibilidade de de estarem prontas a receber uma nova
integração paisagística. precipitação e não serem propícias à pro-
Os telhados verdes são jardins liferação de vetores.
executados sobre coberturas
impermeáveis. Eles retêm o escoamento no Controle a jusante
substrato promovendo armazenamento
temporário da água e favorecendo o As bacias de detenção (também conhe-
processo de evapotranspiração. Podem cidas como piscinões) são obras de dre-
ser de dois tipos: intensivo, quando a nagem destinadas a estocar temporaria-
camada de substrato é relativamente es- mente as águas pluviais e/ou infiltrá-las,
pessa e permite o desenvolvimento de antes de as restituir ao meio receptor em
espécies vegetais de médio porte ou, ex- condições aceitáveis de quantidade e qua-
tensivo, quando a camada de substrato lidade, que reduzam os riscos de inunda-
tem menor espessura e permite apenas o ções. São estruturas implantadas para
desenvolvimento de vegetação rasteira. controle de escoamento de grandes áreas.
As vantagens da utilização de telhados Quanto à forma de operação, podem
verdes são a ausência de custo fundiário ser divididas em três tipos:
e melhoria do conforto térmico. Como
desvantagens há a necessidade de garan- • bacias de retenção, com estocagem tem-
tia da estanqueidade do sistema e a so- porária das águas pluviais proporcionan-
brecarga gerada na estrutura da edifica- do um rearranjo temporal das vazões;
ção por substrato, vegetação e água. • bacias de infiltração, que infiltram a to-
Os jardins de chuva ou sistemas de talidade da água que aflui a elas;
biorretenção consistem em escavações • bacias de retenção e infiltração, que
no terreno plantadas para onde o es- proporcionam um rearranjo temporal
coamento superficial é dirigido. Essas das vazões e uma redução no volume
técnicas podem ter uma estrutura de re- de escoamento.
servação subterrânea, melhorando sua
capacidade de armazenamento de água. No que diz respeito às suas características
Os jardins de chuva podem ser de deten- físicas, tais estruturas podem ser classifi-
ção ou infiltração e têm como vantagens cadas em: bacias a céu aberto com água
a melhoria da qualidade da água propor- ou seca e bacias enterradas. As bacias de
698
TÉCNICAS COMPENSATÓRIAS EM DRENAGEM
Referências bibliográficas
699
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira civil, mestre em Sistemas Aquáticos e
Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França), doutora em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e pela Université Paris-Est (França).
Professora do EHR/UFMG.
T
TÉCNICAS DE MAPEAMENTO
700
TÉCNICAS DE MAPEAMENTO
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
702
TÉCNICAS DE MAPEAMENTO
703
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Vídeo
É rio ou valão? Autores: Adriana Sotero Martins, Maria José Salles, Priscila Gonçalves
Moura, Natasha Berendonk Handam et al. ANA, 2017. 1 vídeo (25 min). Disponível em:
https://portal.fiocruz.br/video/e-rio-ou-valao
704
TÉCNICO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE (TVS)
T
TÉCNICO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE (TVS)
705
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
706
TÉCNICO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE (TVS)
707
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
lhador, até então sem identidade profis- turantes de seu trabalho: (1) organização
sional no interior do SUS, sem território e gestão do processo de trabalho da vigi-
definido e sem vínculos com uma equipe lância em saúde; (2) execução de ações e
de saúde. Tais profissionais possuíam procedimentos técnico-operacionais e (3)
diferentes formações – na maioria dos educação e comunicação. Esses eixos per-
casos, obtidas por meio de treinamentos mitem que o TVS desenvolva um conjunto
em serviço –, e desenvolviam suas ações de ações de natureza administrativa, ações
sob a orientação de um supervisor, aloca- técnico-operacionais específicas, ações
do nas secretarias de Saúde estaduais ou complementares ao trabalho de outros
municipais. Pela Constituição Federal de profissionais, trabalhadores e serviços de
1988, os gestores das três esferas do SUS saúde e compartilhadas com eles, além de
são responsáveis pela qualificação de sua atividades educativas e de comunicação.
força de trabalho, de modo a promover Além disso, eles indicam um conjunto de
melhorias nas condições de vida e na si- saberes e práticas articulados em bases
tuação de saúde da população. tecnológicas específicas, de modo a subsi-
diar o TVS no desenvolvimento de compe-
Desafios na formação e tências e habilidades para a reorganização
qualificação do TVS de ações articuladas com a ABS.6
Em 2012, a Política Nacional de Aten-
Em 2011, a Secretaria de Gestão do Traba- ção Básica (PNAB) evidenciou a necessi-
lho e da Educação na Saúde (SGTES) ela- dade de integração do trabalho do ACE
borou o documento Técnico em Vigilância e do ACS, assim como sua inclusão siste-
em Saúde: Diretrizes e Orientações para a mática nas ESFs para o cumprimento da
Formação,6 que destaca, como objetivos da integralidade do cuidado. Entendeu-se,
vigilância em saúde, a análise permanente nesse momento, que o trabalho desses
da situação de saúde e a organização e exe- dois profissionais é imprescindível para
cução de ações, medidas e procedimentos o reconhecimento do território, a criação
para o controle de determinantes, causas, de vínculos e a identificação de situações-
riscos e danos à saúde da população. As- -problema, cujas soluções exigem necessa-
sim, o TVS deve responder por ações de riamente a participação dos usuários na
promoção, prevenção e controle de doen- perspectiva democrática do envolvimen-
ças e agravos à saúde, articulando técnicas to dos cidadãos na produção de saúde. O
e conhecimentos de base interdisciplinar ACE tornou-se, junto com o ACS, um ar-
e compondo equipes interprofissionais - ticulador territorial, dinamizando ações
condições requeridas para a execução de e processos de promoção e proteção da
seu trabalho integrado de vigilância epi- saúde, com vistas ao fortalecimento de
demiológica, vigilância da situação de habilidades individuais e coletivas na co-
saúde, vigilância em saúde ambiental, munidade. Embora a política não mencio-
vigilância em saúde do trabalhador e vi- ne o TVS, sabe-se que, quando se refere ao
gilância sanitária.6 ACE, ela remete ao trabalho desenvolvido
O referido documento propõe que o TVS por esse novo profissional técnico.7
seja formado com base em conhecimentos Um agravante ao reconhecimento do
organizados conforme os três eixos estru- TVS no interior do SUS e da Visau é que
708
TÉCNICO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE (TVS)
essa categoria não consta das profissões tas e temporários), diferentes vínculos
elencadas na Classificação Brasileira institucionais no âmbito municipal, es-
de Ocupações (CBO) do Ministério do tadual ou federal e regimes de trabalho
Trabalho. Isso dificulta os processos de diferenciados. Há diferenças de esco-
qualificação profissional de TVSs, que laridade entre esses profissionais, com
ficam na dependência exclusiva da von- pessoal de nível fundamental, médio e
tade política de gestores em investir nes- superior desempenhando a mesma fun-
sa formação e liberar trabalhadores de ção. Eles são contratados como agentes
nível médio para ingressarem em cursos de endemias por meio de concurso pú-
técnicos reconhecidos pelos ministérios blico, sendo um pré-requisito terem, no
da Educação e da Saúde, com habilitação mínimo, completado o nível fundamen-
específica, diretrizes e orientações para tal. Tais agentes têm forte relação com
essa formação.4 os territórios onde atuam e devem estar
atentos aos problemas de saneamento
O papel e o significado básico e às endemias ali presentes, em
do trabalho do TVS especial às arboviroses, que exigem ob-
servação permanente e sistemática dos
A despeito das dificuldades burocráti- ambientes, com comunicação dialógica e
cas, os TVSs são trabalhadores do SUS, oportuna no tempo e lugar certos.
inseridos em ações de campo na área de Recentemente, a nova Pnab, aprovada
epidemiologia e no controle de doenças. em 2017, efetuou alterações na compo-
Essa função foi desenvolvida historica- sição das equipes de saúde da família,
mente por profissionais de nível médio tornando facultativa a inclusão do ACE/
e fundamental, denominados "mata- TVS. Esse fato tem impacto negativo no
-mosquitos”, guardas de saúde pública trabalho de vigilância dirigido à pro-
ou ACEs, entre outros trabalhadores. moção, proteção e prevenção de riscos e
Tais profissionais foram institucio- agravos à saúde no território, que fica fra-
nalizados no campo da saúde pública gilizado pela falta desse profissional em
em 1942, com a criação da Fundação campo. As funções atribuídas ao ACS na
de Serviços Especiais de Saúde Pública ABS não correspondem às do ACE/TVS,
(Fsesp). A Fundação atuou na região dado que remetem à assistência e aos pro-
amazônica, oferecendo ações de prote- cedimentos clínicos voltados a pessoas e
ção e assistência relacionadas à malária famílias. Mas contraditoriamente, essa
para cobrir o esforço de guerra nessa re- mesma normativa ressalta a importância
gião e contribuindo para manter os tra- da articulação entre as ações de vigilância
balhadores da borracha sãos, de modo em saúde e aquelas da ABS, com o propó-
que eles pudessem continuar atuando sito de cumprir com a integralidade do
na produção dessa matéria-prima des- cuidado e permitir que cada cidadão pos- T
tinada à fabricação de armamento. sa ser acompanhado ao longo da vida.1;7
Atualmente, ACE e TVS compõem A problemática ambiental, agravada no
equipes de vigilância em saúde, com século 21 pela ameaça da escassez de recur-
uma variedade de tipos de contrato de sos naturais, pela poluição e contaminação
trabalho (servidores públicos, celetis- do ar, da água e do solo e pelas mudanças
709
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Referências bibliográficas
710
TÉCNICO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE (TVS)
nico_vigilancia_saude_diretrizes_orientacoes_formacao.pdf.
7. MS. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: MS, 2012. Disponível em: ht-
tp://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/pnab.pdf.
Vídeos
Grácia Maria de Miranda Gondim. Arquiteta, doutora em Saúde Pública, Escola Na-
cional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Professora e pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/
711
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
T
TÉCNICO EM SANEAMENTO
712
TÉCNICO EM SANEAMENTO
713
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
714
TÉCNICO EM SANEAMENTO
Referências bibliográficas
715
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
716
TECNOLOGIA SOCIAL
T
TECNOLOGIA SOCIAL
Existem diversas definições de tecnolo- junto de técnicas de que dispõe uma so-
gia social (TS). Uma das mais difundi- ciedade, mais especificamente ao grau de
das foi adotada pela Rede de Tecnologia desenvolvimento de suas forças produti-
Social (RTS), criada em 2005, segundo vas. Por fim, um quarto sentido, ligado a
a qual, a TS compreende produtos, téc- este último, é o de tecnologia como “ide-
nicas e/ou metodologias reaplicáveis, ologia da técnica”.2
desenvolvidas em interação com a comu- A tecnologia é um dos elementos con-
nidade e que representam efetivas solu- ceituais que constituem momentos dis-
ções de transformação social.1 Definição tintos no processo de evolução humana,
abrangente e mesmo polissêmica, por ter em interação mútua com as relações so-
envolvido em sua formulação diversos ciais, a relação com a natureza, os mo-
segmentos da sociedade civil, traz a críti- dos de produção e reprodução da vida
ca às limitações da tecnologia convencio- cotidiana e as concepções mentais do
nal. Esse entendimento contempla o fato mundo, formando uma totalidade.3, 4
de que as TSs passam a atuar como movi-
mento social e consolidaram-se enquanto Conceitos em xeque
política pública.
O conceito de tecnologia possui quatro A TS constitui-se a partir da crítica à
sentidos mais usuais. O primeiro e mais suposta neutralidade da tecnociência
geral é o etimológico: tecnologia como o positivista, ao desenvolvimentismo e à
tratado da técnica. Estão englobadas a implantação de tecnologias exógenas aos
teoria, a ciência, as artes, as habilidades territórios (ver p. 729). Expressa conheci- T
do fazer, as profissões e, de forma geral, mentos populares e acadêmicos, e expan-
os modos de produzir alguma coisa. O se- diu-se no Brasil por ação dos movimentos
gundo sentido é tomado no senso comum sociais. Foi incorporada em políticas pú-
como sinônimo de técnica ou de conhe- blicas de ciência, tecnologia e inovação
cimento. O terceiro relaciona-se ao con- para inclusão social, geradora de trabalho
717
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
718
TECNOLOGIA SOCIAL
719
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
ser reaplicada em outras regiões do país por meio de políticas públicas e ações de
e com outras TSs relacionadas ao sanea- intercâmbio realizadas pelas universida-
mento básico, ao saneamento ambien- des e pelos movimentos sociais, inclusi-
tal e ao saneamento ecológico (ver p. 604). ve no escopo do Programa de Melhorias
Sanitárias Domiciliares, verifica-se ainda
Programas governamentais e no país um represamento da pesquisa
outras iniciativas da sociedade científica e tecnológica que responda às
necessidades básicas da população e da
O Programa Nacional de Universaliza- preservação da natureza, a exemplo das
ção do Acesso e Uso da Água – Programa TSs de saneamento ambiental de trata-
“Água para Todos”,24 no âmbito do Pla- mento domiciliar de água de baixo custo,
no Brasil sem Miséria, contemplou a im- de aproveitamento de águas de chuva, de
plantação de tecnologias sociais como as manejo ambiental de vetores, de reuso de
cisternas de placas (calçadão, enxurrada esgoto doméstico e de lodo na agricultu-
e telhado), barragem subterrânea, barrei- ra, de fomento à agroecologia, do enfren-
ro-trincheiro, sistema de barraginha, pe- tamento das doenças negligenciadas.
quenas barragens, microaçudes, tanques
de pedra, barreiro lonado, bomba d’água Autonomia, experiência e
popular e kits de irrigação.25 coletividade como bases
Outras TSs estão sendo implementadas
pelos três níveis de governo e pelos mo- A educação popular em saneamento e
vimentos. Entre os exemplos, filtros do- saúde insere-se no contexto das TSs, fun-
miciliares de água, bombas bola de gude, damentada em concepções teóricas que
bombas de catavento, irrigação por gote- têm como pressupostos a autonomia, o
jamento, quintais produtivos, sistemas tempo da experiência vivida e o trabalho
agroflorestais (SAFs), banco de sementes coletivo que fortaleça a organização co-
crioulas, minhocários e biodigestores. munitária e a economia solidária.27
O filtro cerâmico de água domiciliar é Esta pode compreender atividades
uma melhoria sanitária domiciliar (ver p. econômicas – sejam de inovação em tec-
386) e, como barreira sanitária para o en- nologias sociais, produção, distribuição,
frentamento das doenças infectoparasitá- consumo ou poupança e crédito – organi-
rias, apresenta resultados expressivos para zadas por meio da autogestão, do traba-
a segurança hídrica no ponto de uso.17 lho associado solidário, com autonomia e
Essa tecnologia social passou a ser re- democracia direta.27
comendada no Programa Saneamento O território, enquanto espaço de pro-
Brasil Rural (PSBR – ver p. 525), o que dução e reprodução da vida, possui em sua
também aconteceu com o dessaliniza- dinâmica a capacidade de criar novas for-
dor solar, tanques de evapotranspiração, mas de organização social e produtiva. A
zona de raízes, círculo de bananeiras, economia solidária, tendo como platafor-
compostagem, técnicas de infiltração de ma as TSs, pode ampliar as possibilidades
águas de chuva etc.26 de trabalho e renda por meio da associação
Mesmo considerando os avanços teó- de trabalhadores, apoiando a formação de
rico-metodológicos e de difusão das TSs cooperativas populares e incubadoras de
720
TECNOLOGIA SOCIAL
Referências bibliográficas
721
EIXO 2 - COMUNICAÇÃO E TERRITORIALIZAÇÃO
722
TECNOLOGIA SOCIAL
dos: ferramenta poderosa contra a pobreza. In: CAMPELLO, T.; FALCÃO, T.; COSTA,
P. V. (org.). O Brasil sem miséria. Brasília: MDS, 2014. Parte 2.
26. MDR. Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab). Documento em revi-
são submetido à apreciação dos conselhos nacionais de Saúde, Recursos Hídricos
e Meio Ambiente. Brasília: MDR, 2019. Disponível em: https://www.mdr.gov.br/
images/stories/ArquivosSDRU/ArquivosPDF/Versao_Conselhos_Resolu%C3%A7%-
C3%A3o_Alta_-_Capa_Atualizada.pdf.
27. VARANDA, A. P. M.; BOCAYUVA, P. C. C. Tecnologia social, autogestão e econo-
mia solidária. Rio de Janeiro: Fase; Lastro/Ippur/UFRJ, 2009. Disponível em: ht-
tp://www.ctamt.org.br/storage/publicacao/publicacao/tecnologia-social.pdf.
ASA. Página web da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). Disponível em: ht-
tps://www.asabrasil.org.br.
FBB. Banco de Tecnologias Sociais. Página web da Fundação Banco do Brasil. Dispo-
nível em: https://www.fbb.org.br/pt-br/ra/conteudo/banco-de-tecnologias-sociais.
Vídeos
723
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
T
TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
724
TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
725
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
pulação e os atores políticos. Permite aos fins de conhecer e atuar sobre as condi-
formuladores compartilhar espaços insti- ções de vida de territórios, sem interfe-
tucionais na organização das políticas lo- rir na territorialização que a população
cais ou em outras formas de intervenção realiza ao se estabelecer no lugar. Isto
territorial nas comunidades. define critérios para a governança, de
Técnica essencialmente pedagógica, ordem organizacional e operacional,
pois ensina a melhor forma de estabelecer adequados às características sociocul-
diálogos e instituir políticas conforme es- turais e sanitárias, dos equipamentos
pecificidades identificadas. Um processo públicos e dos serviços de saúde exis-
de interação pedagógica com a realidade tentes no território, no sentido de in-
social que compartilha a criação de novos clusão e de acesso a segmentos sociais
conhecimentos, pois, para além dos dados que tenham identidade em relação aos
acumulados, pode levar à reformulação limites definidos;
das observações preconcebidas por meio • na efetivação de estratégia educativa
da descoberta de novos caminhos. na formação de trabalhadores em di-
Como método de obtenção e análise de versas áreas de atuação. Consiste em
informações sobre as condições de vida um dispositivo poderoso para a apren-
de populações, é um instrumento para dizagem significativa sobre a realidade
entender os contextos de uso e de vida no social. Um processo que estabelece diá-
território em todos os níveis das ativida- logo pedagógico com a realidade social,
des humanas (econômicos, sociais, cultu- fazendo com que se estimule impor-
rais, políticos etc.). tante relação de aprendizagem, com os
No processo de territorialização são sujeitos, poderes instituídos, cenários e
identificadas vulnerabilidades, riscos, situações presentes no território;
populações expostas e potencialidades, • na inserção da participação social (ver
e selecionam-se problemas prioritários p. 424) nos processos decisórios para
para intervenções. Este processo permite efetivação de políticas, programas, or-
a escolha de ações mais adequadas, apon- ganização dos serviços e das práticas
tando estratégias e atores que foram iden- em saúde. O pertencimento aos lugares
tificados no processo de reconhecimento, de vida e de identidade territorial deve
buscando aproximação com as relações so- ser observado nos processos de plane-
ciais locais e melhor forma de operaciona- jamento de agendas territorializadas e
lizar intervenções e políticas públicas de na execução de planos de ação.
forma territorializada. Como tecnologia
estruturante da vida cotidiana, "faz falar Cabe destacar que a territorialização co-
o território" em diferentes situações:1 mo instrumento participativo consiste na
possibilidade de efetivar o controle social
• na atuação intersetorial, em que o ter- (ver p. 156), “dar voz” aos atores que ali
ritório agrega todas as coisas existen- constroem suas vidas. O controle dos ins-
tes em uma dada realidade, tornando- trumentos de investigação sobre a realida-
-se o elemento integrador da atuação de por parte dos atores sociais consiste na
dos diversos setores da gestão pública; capacidade destes de definir a linguagem
• na adoção de limites territoriais para que deve ser adotada na efetivação de ações.
726
TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
727
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
728
TERRITÓRIO
Maurício Monken. Geógrafo, doutor pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp)
da Fundação Oswaldo Cruz. Professor, pesquisador e coordenador da Estação de
Territorialização da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz.
Grácia Gondim. Arquiteta, doutora em Saúde Pública pela Ensp. Professora e pesquisa-
dora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e da Universi-
dade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
T
TERRITÓRIO
A base material da existência humana Atores sociais como o Estado (em seus
é o território. Pessoas e grupos apro- diversos setores de atuação, como saúde
priam-se dos diferentes espaços e lu- e educação), as empresas, as corporações
gares que o compõem para que a vida multinacionais, a população, os movimen-
aconteça. É um conceito que ajuda a des- tos sociais e as organizações não gover-
crever e entender as múltiplas formas namentais (ONGs) têm papel decisivo na
de viver, conhecer seus habitantes e as produção da vida cotidiana, consideran-
relações que os atores sociais estabele- do seus problemas e potencialidades. São
cem entre si para produzir e reproduzir atores que influenciam os territórios des-
suas condições de existência. de a escala local, passando pela regional,
Nas últimas duas décadas este conceito nacional e mundial e, com o processo de
ressurge na formulação de processos for- globalização, estão presentes no dia a dia
mativos e estudos acadêmicos, e em dife- em todos os lugares onde a vida acontece. T
rentes formas de planejamento, como é o
caso das políticas de saneamento, saúde e Entendimento em transformação
educação. O território é conceito central
na formulação e na implementação de po- Existem inúmeras definições para ter-
líticas públicas para estes setores. ritório, com base em interpretações que
729
EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
730
TERRITÓRIO
731
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Referências bibliográficas
732
TERRITÓRIO
Filme T
SANEAMENTO Básico. Roteiro e direção: Jorge Furtado. Produção executiva: Nora Gou-
lart e Luciana Tomasi. Intérpretes: Fernanda Torres, Wagner Moura, Camila Pitanga,
Bruno Garcia, Lázaro Ramos et al. Distribuído pela Columbia Pictures do Brasil. Porto
Alegre: Casa de Cinema de Porto Alegre, 2007. 1 filme (112 min).
733
EIXO 4 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Maurício Monken. Geógrafo, doutor pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da
Fundação Oswaldo Cruz. Professor, pesquisador e coordenador da Estação de Territo-
rialização da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz.
Grácia Gondim. Arquiteta, doutora em Saúde Pública pela Ensp. Professora e pesquisa-
dora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e da Universi-
dade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
T
TRATAMENTO DE ÁGUA
Este verbete foi elaborado na vigência da Portaria de Consolidação 5 de 2017, do Ministério da
Saúde, que foi substituída pela Portaria GM/MS 888, publicada em 4 de maio de 2021.
734
TRATAMENTO DE ÁGUA
735
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
736
TRATAMENTO DE ÁGUA
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Oxidação Adsorção
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TRATAMENTO DE ÁGUA
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Referências bibliográficas
740
TRATAMENTO DE ÁGUA
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EIXO 5 - ESGOTAMENTO SANITÁRIO
César Rossas Mota Filho. Doutor em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade
Estadual da Carolina do Norte (EUA). Professor Associado do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental (Desa) da Universidade Federal de Minas Gerais.
T
TRATAMENTO DO ESGOTO
No Brasil, em 2017, segundo a Agência Na- ambiente, é comum que a população resi-
cional de Águas (ANA), em torno de 45% dente no entorno seja contrária a instala-
da população não era atendida por coleta ção da estação. Muitas vezes, as pessoas
e tratamento de esgoto, e isso significa manifestam preocupação com a desvalori-
que aproximadamente 4,1 toneladas de zação dos terrenos do bairro, com o possí-
esgoto não tratado eram despejadas por vel mau odor, possibilidades de problemas
dia em corpos d’água. Em Minas Gerais, de saúde e êxodo das famílias para outros
por exemplo, apenas 43,7% da população bairros, sugerindo que as ETEs sejam
era atendida por coleta e tratamento de construídas em bairros de menor poder
esgoto.1 As estações de tratamento de aquisitivo ou mais afastadas, atitudes que
esgoto (ETEs) têm papel fundamental constituem o efeito ‘’não no meu jardim’’.3
nos sistemas de esgotamento sanitário, Independentemente do local a ser escolhi-
pois são responsáveis por minimizar o do, a aceitação não será unânime e, para
impacto do lançamento do esgoto nos minimizar problemas com a comunida-
corpos d’água. No Brasil, as ETEs obje- de, é necessário que todo o processo seja
tivam predominantemente a remoção de participativo, desde o planejamento até
matéria orgânica, embora a remoção de o projeto e instalação, com realização de
nutrientes também seja importante para audiências públicas, espaço que permitirá
evitar os impactos negativos do lança- esclarecer as dúvidas, ouvir os anseios da
mento de esgoto em corpos d’água.2 população e discutir alternativas.
Tão importante quanto os fatores técni-
cos é a aceitação da população em relação Objetivos a alcançar
à ETE. Embora reconheçam os impactos
positivos da implantação do tratamento O tratamento de esgoto é um conjunto de
de esgoto para saúde pública e para o meio processos que têm como objetivo remo-
742
TRATAMENTO DO ESGOTO
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
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TRATAMENTO DO ESGOTO
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
746
TRATAMENTO DO ESGOTO
• Sistemas alagados construídos: também Básico (ANA), informam que apenas 111
conhecidos como wetlands construídos, municípios no Brasil fazem tratamento por
zona de raízes ou jardins filtrantes, es- solução avançada com vista à remoção de
ses sistemas são promissores na remo- nutrientes, atendendo cerca de 4,5 milhões
ção de matéria orgânica, nutrientes, mi- de pessoas na zona urbana.1 No entan-
crorganismos e sólidos. Apesar de ainda to, tudo depende da qualidade com que o
serem aplicados em pequena escala no efluente chega na estação e da eficiência de
Brasil, no mundo existem diversas expe- remoção requerida considerando o padrão
riências de sucesso do uso desses siste- de lançamento no corpo d’água (ver p. 243).
mas para tratamento de esgoto sanitá- Para remover nutrientes do esgoto,
rio municipal, como é o caso de algumas principalmente nitrogênio e fósforo, há a
cidades de pequeno porte na França, possibilidade de usar lagoas de estabiliza-
na Alemanha e na Polônia. Os funda- ção, sistemas de disposição controlada no
mentos desse processo são baseados solo, lodos ativados ou processos físico-
em otimizar os processos naturais de -químicos. Para remover os organismos
transformação da matéria orgânica em patogênicos é necessário a utilização de
substâncias não nocivas. São soluções processos de desinfecção, existindo diver-
de operação simplificada e baixo custo sas alternativas para tal, como processos
de implantação e operação. Há presença naturais – lagoas de estabilização, dispo-
de material suporte como areia, brita ou sição controlada no solo – e artificiais –
pedra que funciona como um filtro pelo cloração, radiação ultravioleta, membra-
qual o esgoto percola. As plantas, geral- nas, ozonização e filtração terciária.
mente macrófitas, são responsáveis por Subprodutos do tratamento de esgoto
auxiliar na remoção dos poluentes.7 A De forma geral, o tratamento de esgoto
eficiência média de remoção desses sis- sanitário gera resíduos que devem seguir
temas está entre 80 e 90% de DBO, de para disposição final, aproveitamento ou
87 a 93% de sólidos suspensos e 99,9 a outra linha de tratamento. Dentre estes
99,99% de microrganismos patogêni- subprodutos estão o material retido no
cos.2 As modalidades mais aplicadas são gradeamento, areia removida na etapa de
a de sistemas alagados construídos de desarenação, escuma e lodo removido no
fluxo horizontal superficial ou subsu- tratamento primário, lodo secundário e
perficial e a de sistemas alagados cons- lodo químico – caso haja etapa físico-quí-
truídos de fluxo vertical. mica – e biogás gerado nos processos com
reatores anaeróbios (ver Aproveitamento
Tratamento terciário de lodo, biogás e efluente – p. 61).
Para a areia e o material retido no gra-
O tratamento terciário visa a remoção de deamento, a solução usual é dispô-los em
nutrientes e de organismos patogênicos. um aterro sanitário. Já a disposição final T
Não é uma etapa sempre necessária e, no do lodo tratado pode ser o aterro sanitá-
Brasil, é pouco aplicada por aumentar o rio, o uso agrícola ou a recuperação de
custo dos sistemas de tratamento. Dados áreas degradas. O biogás, por sua vez,
do relatório executivo do Atlas Esgotos, da pode ser queimado ou aproveitado para
Agência Nacional de Águas e Saneamento geração de energia.
747
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Referências bibliográficas
748
TRATAMENTO DO ESGOTO
Pacuí e trecho do rio São Francisco (SF6). Belo Horizonte: Universidade Federal
de Minas Gerais, 2018. No prelo.
Vídeos
COMO É feito o tratamento dos esgotos – tour virtual ETE Jesus Netto. Apresentação:
Dirlene Diniz. São Paulo: Sabesp, 2015. 1 vídeo (11 min). Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=w2gnqPq5NBU. Acesso em: 26 out. 2019.
ESTAÇÃO de tratamento de esgoto – como funciona. Itec Cursos, 2013. 1 vídeo (3
min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=f61JxBM8wrY. Acesso
em: 26 out. 2019.
Lívia Cristina da Silva Lobato. Engenheira civil e doutora em Saneamento, Meio Am-
biente e Recursos Hídricos pela UFMG.
Fabiana Lopes Del Rei Passos. Doutora em Engenharia Ambiental pela Universitat Po-
litècnica de Catalunya (UPC), Espanha. Professora adjunta do Departamento de Enge-
nharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
749
U
751
EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
recicláveis gerados pela população atual cláveis triados: Após triados e acondi-
no(s) município(s) atendido(s), tais como: cionados até o atendimento do volume
papel, papelão, metais, vidros e plásticos, necessário ao enfardamento, deverão ser
previamente segregados em suas fontes transportados para a área do galpão em
geradoras. O volume total de materiais a que deverão ser preparados para a esto-
ser processado numa instalação varia em cagem final, até sua expedição, os reciclá-
função, principalmente, da quantidade veis como: papéis, papelão, embalagens
de pessoas envolvidas na triagem2. plásticas tipo “filme” e semi rígidas que
deverão ser prensadas em fardos com di-
Componentes das UTs2 mensões médias de 110 x 60 x 60 cm e
peso médio variável entre 80 e 120 kg.
• Recebimento e estocagem dos mate- • Estocagem final dos fardos de reciclá-
riais: A área de descarga dos veículos veis: Os materiais serão estocados em
transportadores deverá estar posicio- área específica que permita a acumula-
nada sob beiral protetor da atividade ção ao menos de uma semana da pro-
de descarga e, tanto quanto possível, dução prevista e o acúmulo de “viagens
na região mais alta do terreno que será fechadas” dos principais materiais.
ocupado. Os desníveis possibilitarão a
descarga mecanizada ou por gravidade Coleta seletiva
dos resíduos e seu lançamento em si-
los de armazenamento, dos quais, por A coleta seletiva é um instrumento de edu-
sua vez, serão direcionados às mesas cação e mudanças permanentes na busca
de triagem. Os silos deverão ter capaci- pela transformação dos conhecimentos,
dade de armazenagem compatível com atitudes e práticas (CAP) relativos ao
o volume de resíduos estimativamente consumo, ao desperdício e à produção de
coletados ao longo de dois dias. resíduos. Conceitualmente, refere-se ao
• Triagem primária dos recicláveis: Os recolhimento diferenciado de materiais
materiais estocados serão separados de recicláveis, já separados nas fontes gerado-
forma manual, por triadores postados ras, por catadores, sucateiros, entidades,
em bancadas corridas ou transversais, prefeituras, entre outros, normalmente
dispostas ao longo dos referidos silos. em horários predeterminados, alternados
As bancadas de triagem deverão pos- com a coleta convencional3.
suir largura suficiente para o espalha- Toda e qualquer tentativa de separa-
mento e seleção dos materiais. ção dos materiais recicláveis é inútil se
• Triagem secundária: A separação dos não houver um sistema de coleta especí-
materiais recuperados será feita em fico, onde os materiais separados sejam
tantos tipos quanto sejam demanda- recuperados para reciclagem, reúso ou
dos pelo mercado comprador, podendo compostagem (ver p. 551). Além disso, é
haver compartilhamento de baias por recomendável a realização de estudo de
vários tipos de materiais, dispostos an- viabilidade da logística necessária para o
teriormente em “big bag” ou outro tipo transporte e das diversas rotas dos mate-
de contêiner. riais recicláveis até os locais de sua utili-
• Prensagem e enfardamento dos reci- zação enquanto matéria prima de novos
752
UNIDADES DE TRIAGEM E VALORAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
753
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Referências bibliográficas
1. ABRELPE. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2017. São Paulo: Abrelpe, 2018.
Disponível em: http://abrelpe.org.br/pdfs/panorama/panorama_abrelpe_2017.pdf.
2. MMA. Elementos para organização da coleta seletiva e projeto dos galpões de
triagem. Brasília: MCidades, 2008. Disponível em: https://www.mma.gov.br/estru-
turas/srhu_urbano/_publicacao/125_publicacao20012011032243.pdf.
3. LIMA, R. S. R. Implantação de um programa de coleta seletiva porta a porta com
inclusão de catadores: estudo de caso em Londrina. Orientadora: S. M. C. P. da Silva.
175f. 2006. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Edificações e Saneamento) –
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2006. Disponível em: http://www.
uel.br/pos/enges/dissertacoes/29.pdf.
4. SNIS. Diagnóstico do manejo de resíduos sólidos urbanos – série histórica. Dispo-
nível em: http://app4.mdr.gov.br/serieHistorica.
5. MMA. Agenda Nacional de Qualidade Ambiental Urbana. Programa Nacional Li-
xão Zero. Fase 2: Resíduos Sólidos Urbanos. Brasília: MMA, 2019. Disponível em:
https://www.mma.gov.br/images/agenda_ambiental/residuos/programalixaoze-
ro_saibamais.pdf.
754
URBANIZAÇÃO
U
URBANIZAÇÃO
Os termos urbano e cidade, assim como sua vez adjetivava aquilo que era relativo
rural e campo, muitas vezes são conside- ou próprio do campo, ou seja, um terreno
rados sinônimos. Entretanto, o substan- extenso fora do povoado.1
tivo “cidade” tem sua raiz etimológica no Evidentemente, estas palavras reajus-
latim civitas, -atis, onde os cidadãos (civis, taram seus significados de acordo com
is) romanos se reuniam; enquanto o urba- os períodos históricos e uma definição U
no (urbanus, -a, -um), adjetivo, referia-se de urbanização raramente será comple-
àquele ou àquilo que é “da cidade” (urbs, ta e consensual, pois ela pode ser tratada
is), oposto ao rural (ruralis, -e), que por a partir do urbanismo, da geografia, da
755
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
756
URBANIZAÇÃO
757
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
758
URBANIZAÇÃO
Referências bibliográficas
759
EIXO 3 - LEITURA DEMOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
760
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
U
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
761
EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
762
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
cidades que a população de baixa renda e áreas de desastres;11 Lei 12.608/12, que
em situação de vulnerabilidade direcio- institui a Política Nacional de Proteção
na-se como alternativa para instalar sua e Defesa Civil (PNPDEC);12 e o já citado
moradia. No entanto, são estes os locais Código Florestal.2
mais sujeitos a riscos de deslizamentos Tal lei (12.651/12) indica que largura
em eventos de fortes chuvas. A parcela da mínima da faixa de preservação junto
população que mora nestes locais é a mais aos cursos d’água é de:
exposta a desastres naturais. Conforme
indica o Ministério do Meio Ambiente • 30 metros (m), para os cursos d’água de
(MMA), “as áreas com risco de deslizamento menos de 10 m de largura;
ou enchentes devem permanecer • 50 m, para os cursos d’água que te-
desocupadas e, quando ocupadas, a melhor nham de 10 a 50 m de largura;
alternativa é promover sua desocupação, • 100 m, para os cursos d’água que te-
tendo em vista a possibilidade de ocorrência nham de 50 a 200 m de largura;
de novos eventos”.3 • 200 m, para os cursos d’água que te-
nham de 200 a 600 m de largura;
Legislação sobre uso e • 500 m, para os cursos d’água que te-
ocupação do solo nham largura superior a 600 m.
763
DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
guidas nos municípios brasileiros. Nem rio para que a sustentabilidade ambiental
todos são obrigados a ter um Plano Dire- e a qualidade de vida sejam asseguradas.
tor. Essa obrigatoriedade é restrita a de- Como apresentado, existem legislações
terminados perfis de municipalidades, próprias relacionadas ao tema que pro-
conforme apresentado no artigo 41.9 porcionam um suporte jurídico para estes
Com o aumento do nível de urbanização gestores e, caso sejam implantadas e fis-
(ver p. 755) nas cidades brasileiras, cabe calizadas em cada município, facilitarão
aos gestores municipais regulamentar o a aplicação das ações previstas nos planos
uso e a ocupação do solo em cada territó- municipais de saneamento.
Referências bibliográficas
764
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira civil, mestre em Sistemas Aquáticos e
Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França), doutora em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e pela Université Paris-Est (França).
Professora do EHR/UFMG.
765
V
Nas últimas décadas a energia tem sido tamento energético dos resíduos podem ser
considerada um tema estratégico na agen- consideradas. O PGIRS é um dos planos de
da da administração pública brasileira, ação que podem compor o Plano Municipal
sendo discutida por vários segmentos da de Saneamento Básico (PMSB – ver p. 450)
sociedade na busca de fontes mais susten- em conformidade com a Lei de Saneamen-
táveis. Os resíduos sólidos (RS) apresen- to Básico (Lei 11.445/2007)1 e a Política
tam potencial para aproveitamento ener- Nacional de Resíduos (Lei 12.305/2010)2.
gético. Algumas iniciativas já ocorrem, A Lei 14.026/2020, que atualiza o
mas não há o aproveitamento energético marco legal do saneamento, define no
dos RS em grande escala. Isso implica seu artigo 17 que “o serviço regionalizado
vencer desafios importantes relacionados de saneamento básico poderá obedecer a
a questões técnicas, regulatórias e insti- plano regional de saneamento básico elabo-
tucionais, principalmente quanto aos sis- rado para o conjunto de municípios atendi-
temas de coleta, separação e estocagem. dos e o plano regional de saneamento básico
Assim, o objetivo é apresentar a valoração dispensará a necessidade de elaboração e
energética dos resíduos sólidos no contex- publicação de planos municipais de sanea-
to da Política Nacional de Resíduos Sólidos mento básico”3.
(PNRS) e de seu fomento na política muni- A discussão sobre a valoração energéti-
cipal de saneamento básico . ca dos resíduos sólidos perpassa aspectos
Aos municípios, cabe, por meio do Plano relacionados a quantidade e característi-
de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos cas de resíduos, porte do município, regu-
(PGIRS – ver p. 463), traçar o seu planeja- lação e aspectos financeiros, além de ações
mento quanto a definição de novas tecno- claras sobre a recuperação e reciclagem de
logias para destinação final desses resídu- materiais e envolvimento do movimento
os, objetivando melhorar metas referentes nacional dos catadores de materiais reci-
a minimização de resíduos e de quantidade cláveis. Há uma preocupação da sociedade
de rejeitos enviados a aterros. Nesse con- quanto à “concorrência” entre recuperação
texto, tecnologias que envolvem o aprovei- energética e a reciclagem de materiais. Fa-
VALORAÇÃO ENERGÉTICA DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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VALORAÇÃO ENERGÉTICA DE RESÍDUOS SÓLIDOS
tários e dos biodigestores de incineração, Uma das alternativas, que vem desper-
pirólise, gaseificação e coprocessamento tando grande interesse, é a tecnologia
em fornos de clínquer (cimenteiras). de biodigestão anaeróbia de resíduos
No caso dos municípios de pequeno por- dos animais, e particularmente de resí-
te os consórcios serão uma alternativa im- duos gerados com a criação animal, pe-
prescindível para se obter ganho de escala la implantação de biodigestores. Estes
e suporte para investimento tecnológico. podem ser inteiramente alimentados
com resíduos agrícolas, ou mesmo de
1) Aproveitamento do biogás excrementos de animais e dos homens.
dos aterros sanitários Assim, ao contrário de ser um fator de
poluição, transforma-se em um auxiliar
O uso energético dos resíduos sólidos por do saneamento ambiental.
meio do aproveitamento do gás produzido A digestão anaeróbia requer a integra-
em aterro visa recuperar o biogás e desti- ção de conceitos de gestão dos resíduos
ná-lo a outros fins que não sejam somente locais e um complexo planejamento.
a emissão descontrolada na atmosfera. Depende, ainda, de decisão sobre qual o
Em geral, o biogás dos aterros é com- procedimento a ser seguido para que se
posto de 45 a 60% de metano, 35 a 50% atinjam os objetivos.
de dióxido de carbono (CO2) e uma peque-
na quantidade de outros elementos como 3) Processo térmicos
nitrogênio (N2), hidrogênio (H2), sulfeto
de hidrogênio (H2S), entre outras subs- Um pré-tratamento, como trituração, ho-
tâncias em menor concentração. mogeneização e secagem da massa a ser
O metano é o componente mais impor- introduzida, é obrigatório para todos os
tante para a utilização do biogás como processos apresentados a seguir. Tam-
combustível. Uma planta de aproveita- bém são necessários sistemas de contro-
mento de biogás de aterro deverá ter um le ambiental para os gases decorrentes
sistema de coleta de gás, um sistema de do processo de combustão5. Os proces-
tratamento e um sistema de recuperação sos diferem em temperatura, pressão e
de energia, sendo que os dois primeiros atmosfera.
determinarão a quantidade e a qualidade.
Ao coletar o gás, a planta poderá proces- Incineração
sá-lo para ser combustível em caldeiras,
turbinas a gás, motor alternativo a gás No processo de incineração, os resídu-
ou célula combustível, podendo produzir os são queimados através da adição de
energia elétrica para o consumidor final. combustível e ar a uma temperatura en-
tre 800 e 1.300 graus Celsius (oC), resul-
2) Biodigestores tando em geração de energia, bem como
em subprodutos como cinzas e gases de
Existem hoje diversas alternativas tec- combustão.
nológicas de aproveitamento da biomas- De forma simplificada, uma planta de
sa para geração de energia, tecnicamen- incineração de resíduos sólidos urbanos
te viáveis para a agricultura familiar. pode ser dividida em três partes. A etapa V
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EIXO 6 - MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Referências bibliográficas
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VALORAÇÃO ENERGÉTICA DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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EIXO 7 - MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
V
VAZÕES DE CHEIA
774
VAZÕES DE CHEIA
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
doppler current profiler, mais conhecido cota) versus a vazão é denominada cur-
por sua sigla ADCP.2 va-chave. Para determinar a curva-cha-
Os molinetes são equipamentos ve em uma dada seção fluvial é neces-
mecânicos dotados de uma haste vertical sário realizar medidas simultâneas do
com hélices em sua extremidade inferior. nível d’água e da vazão para diferentes
As hélices são dispostas em torno de um condições de escoamento: vazões baixas,
eixo horizontal e posicionadas dentro da médias e altas.
água perpendicularmente à direção do No posto fluviométrico, o nível
escoamento. Quando impulsionadas pela d’água é monitorado sistematicamente
passagem da água, elas giram e o núme- em frequência diária ou subdiária,
ro de rotações em um intervalo de tem- conforme as características da bacia
po pode ser relacionado à velocidade do hidrográfica, e, por meio da curva-
escoamento naquele ponto. Os medido- -chave, os dados de nível d’água são
res eletroacústicos baseiam-se no efeito convertidos em vazão. O nível d’água
Doppler para a medição da velocidade. pode ser monitorado através da leitura,
Uma vez submerso na água, o equipa- por um observador treinado, de réguas
mento emitirá pulsos acústicos em uma linimétricas instaladas nas margens do
frequência conhecida e captará o eco dos curso d´água, linígrafos mecânicos (em
pulsos refletidos pelas partículas presen- desuso) ou por meio de sensores auto-
tes na água. A diferença da frequência máticos, sendo mais comum o uso de
entre os sinais emitidos e recebidos pelo linígrafos de pressão ou sensores de dis-
equipamento é proporcional à velocidade tância ultrassônicos.
relativa entre o barco e as partículas na Linígrafos de pressão consistem em
água.1 A bibliografia complementar apre- sensores que devem ser instalados no
senta mais detalhes ou informações a res- fundo do rio ou canal e são sensíveis à
peito de outras técnicas.1-4 variação da pressão resultante do pe-
A medição de vazões em rios e córregos so da coluna d’água que atua sobre eles.
demanda tempo, mão de obra qualifica- Sensores de distância ultrassônicos são
da, equipamentos e recursos financei- instalados acima da cota máxima que
ros. Por esses motivos, não é praticável o curso d’água pode atingir e emitem
realizar o monitoramento sistemático pulsos de ultrassom que são refletidos
da vazão por meio dos métodos descritos pela superfície da água e recebidos pelo
acima em rios e córregos em frequência equipamento. O nível d’água é estimado
diária ou até mesmo superior, como se- a partir da distância entre o sensor e a
ria necessário em bacias hidrográficas superfície d’água, que, por sua vez, é obti-
de médio e pequeno porte, especialmen- da conhecendo-se o tempo decorrido en-
te em bacias urbanas. Alternativamente, tre a emissão do pulso e a recepção do eco,
procede-se à instalação de postos fluvio- além da velocidade de propagação do si-
métricos, que são pontos de monitora- nal.1 Os sensores automáticos registram
mento em seções fluviais que permitem os dados em uma memória e podem envi-
o estabelecimento de uma relação está- á-los aos dispositivos móveis de usuários
vel e única entre o nível d’água e a vazão. por meio de uma conexão bluetooth ou a
Essa relação entre o nível d’água (ou uma base de dados por meio da internet.4
776
VAZÕES DE CHEIA
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Referências bibliográficas
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ANA. Disponível em: https://capacitacao.ead.unesp.br/dspace/bitstream/
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778
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Talita Fernanda das Graças Silva. Engenheira civil, mestre em Sistemas Aquáticos e
Gestão da Água pela Ecole des Ponts Paris Tech (França), doutora em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e pela Université Paris-Est (França),
professora do EHR/UFMG.
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VIGILÂNCIA EM SAÚDE
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EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
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VIGILÂNCIA EM SAÚDE
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VIGILÂNCIA EM SAÚDE
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Referências bibliográficas
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VIGILÂNCIA EM SAÚDE
4. FERNANDES, V. R.; AMORIM, A. C.; MONKEN, M.; PROFETA DA LUZ, Z. M.; SÉR-
GIO, J. V.; CORREA E CASTRO, M.; LIMA, A. L. S.; SILVA, J. P. V.; GONDIM, G. M.
M. O lugar da vigilância no SUS - entre os saberes e as práticas de mobilização social.
Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 10, p. 3.173-3.181, 2017. Disponí-
vel em: https://www.scielo.br/pdf/csc/v22n10/1413-8123-csc-22-10-3173.pdf.
5. TEIXEIRA, C. F.; PAIM, J. S.; VILASBÔAS, A. L. SUS: modelos assistenciais e vigilân-
cia da saúde. IESUS, Brasília, v. 7, n. 2, p. 7-28, abr.-jun. 1998. Disponível em: http://
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6. MONKEN, M.; BATISTELLA, C. E. Vigilância em saúde. In: PEREIRA, I. B.; LIMA, J.
C. F. Dicionário da educação profissional em saúde. Rio de Janeiro: EPSJV, 2008.
p. 471-475. Disponível em: http://www.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/l43.pdf.
Vídeos
Grácia Gondim. Arquiteta, doutora em Saúde Pública, Escola Nacional de Saúde Pública
Sérgio Arouca (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Professora e pesquisadora
da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
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EIXO 9 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
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VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
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VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
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VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
(OMS), com entendimento expandido ção aos riscos ambientais, refletindo tam-
dos problemas que envolvem a produção bém a capacidade dos indivíduos de lidar
da saúde e da doença, ampliando o debate com estes riscos.1, 10 Vulnerabilidade pode
à luz das desigualdades socioambientais e ser compreendida como um indicador da
das iniquidades. Não se resume a exposi- iniquidade e da desigualdade social.
Referências bibliográficas
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DICIONÁRIO DE SANEAMENTO
Antonio Carlos da Silva Oscar Júnior. Geógrafo, doutor em Geografia. Professor ad-
junto do Departamento de Geografia Física, Instituto de Geografia da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
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