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CIPE®: UMA LINGUAGEM PADRONIZADA

PARA A PRÁTICA PROFISSIONAL


TELMA RIBEIRO GARCIA
CLAUDIA C. BARTZ
AMY M. COENEN

INTRODUÇÃO e os componentes que dão sustentação ao


ciclo de vida da terminologia e, por fim, as
A Classificação Internacional para a Práti- orientações para a construção de afirmati-
ca de Enfermagem (CIPE®) é uma termino- vas de diagnósticos/resultados e interven-
logia padronizada, ampla e complexa, que ções de enfermagem, tendo como linha a
representa o domínio da prática de enfer- ISO 18104:2014. Conclui-se afirmando que
magem no âmbito mundial. É considerada, a CIPE® tem demonstrado ser uma tecnolo-
também, uma tecnologia de informação que gia de informação que, durante a execução
proporciona a coleta, o armazenamento e a do Processo de Enfermagem, facilita o ra-
análise de dados de enfermagem em uma ciocínio clínico e a documentação padroni-
variedade de cenários, linguagens e regiões zada do cuidado prestado ao paciente, seja
geográficas, no âmbito mundial, contribuin- em prontuários eletrônicos ou em sistemas
do para que a prática dos profissionais da manuais de registros; e que os dados e as in-
enfermagem seja eficaz e, sobretudo, se tor- formações resultantes dessa documentação
ne visível no conjunto de dados sobre saúde podem/devem ser usados na elaboração de
e reconhecida pela sociedade.1 políticas de saúde e de educação em enfer-
Ao facilitar a representação do domí- magem; no planejamento e gerenciamento
nio da prática da enfermagem em todo o do cuidado de enfermagem; e na análise do
mundo e em todos os níveis de apoio à in- impacto que as ações de enfermagem exer-
formação, a CIPE® tem assumido impor- cem sobre as condições de saúde e bem-es-
tância em um dos pilares de atuação do CIE tar das pessoas.
– a área de Projetos –, sendo um componen-
te essencial do e-Health, que objetiva o uso
das tecnologias de informação e comunica-
ção (TICs) nos sistemas de atenção à saúde.
EVOLUÇÃO DA CIPE® 1989 A 2017
Precisamos, pois, atentar para sua evolução
e estudar e aplicar seus conceitos em nossa A construção da CIPE® teve início quan-
prática cotidiana. do foi aprovada, pelo Conselho Nacional de
Neste capítulo, faz-se uma breve re- Representantes (CNR-CIE), durante a rea-
trospectiva histórica sobre os avanços do lização do Congresso Quadrienal do CIE
conhecimento sobre a CIPE®, ressaltando- ocorrido em 1989, em Seul, na Coreia, uma
-se os fatos marcantes em sua evolução no Resolução que previa o desenvolvimento de
período de 1989 a 2017, o Programa CIPE® uma classificação internacional dos elemen-

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2   Telma Ribeiro Garcia (Organizadora)

tos da prática profissional. A aprovação des- Em dezembro de 1996, o CIE divul-


sa Resolução acolhia a preocupação expres- gou a Classificação Internacional para a Prá-
sa por grupos de enfermeiras(os) sobre a tica de Enfermagem – Versão Alfa: Um Mar-
dificuldade para se nomear as situações ou co Unificador, contendo duas classificações.
problemas com que a Enfermagem lidava A primeira delas, a Classificação dos Fenô-
em seu cotidiano, devido à falta de uma lin- menos de Enfermagem, era monoaxial, com
guagem padronizada. A Resolução também os termos arranjados de forma hierárquica.
acolhia as dificuldades percebidas por esses A segunda, a Classificação das Intervenções
profissionais para descrever a contribuição de Enfermagem, era multiaxial, com os ter-
específica da enfermagem para a solução, mos organizados segundo os eixos: tipos de
o alívio e a prevenção de problemas de saú- ação, objetos, abordagens, meios, local do
de, ou para a promoção de modos saudá- corpo e tempo/lugar.3 Quanto aos resulta-
veis de vida. A falta de atenção dada ao de- dos de enfermagem, afirmava-se ser esse um
senvolvimento de uma linguagem comum termo problemático, pois os resultados de-
para a enfermagem começava a ser vista veriam visar o paciente ou cliente, em vista
como uma desvantagem para a profissão, do que seria preferencial a expressão resul-
razão por que a frase pronunciada à épo- tados sensíveis à enfermagem; e que os resul-
ca por Norma Lang se tornou emblemáti- tados deveriam conotar tanto a prevenção e
ca: “Se não podemos descrever [a enferma- a estabilização como a melhoria ou a reso-
gem], não podemos exercer controle sobre lução de um problema/diagnóstico de en-
ela, obter financiamentos, ensinar, pesqui- fermagem. Ressaltava-se, ainda, ser impor-
sar ou inseri-la em políticas públicas”.2 tante distinguir entre resultados, resultados
Antes do início, propriamente dito, da esperados e metas.4
construção da CIPE®, foram realizados um Na continuidade, foram publicadas
levantamento na literatura da área e uma as versões Beta e Beta 2, respectivamente
pesquisa junto às Associações vinculadas ao em 1999 e 2001, sendo necessário destacar
CIE, para identificar que sistemas de classi- que a versão Beta 2 representou muito mais
ficação em enfermagem eram conhecidos e uma revisão editorial (revisão gramatical;
usados nos diferentes países; e a familiarida- correções ou alterações em códigos; e cor-
de que se tinha com outros sistemas de clas- reções em definições) do que propriamente
sificação, a exemplo da Classificação Inter- uma nova versão da CIPE®.5
nacional de Doenças (CID), que faz parte da Nas versões Beta e Beta 2, houve
Família de Classificações Internacionais da uma mudança na denominação da Classi-
Organização Mundial de Saúde (OMS). Ob- ficação de Intervenções de Enfermagem,
jetivava-se, também, saber se havia, de fato, que passou a ser denominada Classifica-
interesse na construção do sistema de clas- ção de Ações de Enfermagem. Argumen-
sificação previsto na Resolução do CNR-CIE. tava-se à época que, embora toda inter-
Como resultado, o CIE divulgou, em 1993, venção de enfermagem seja uma ação de
o documento Próximo avanço da enferma- enfermagem, nem toda ação de enfermagem
gem: uma Classificação Internacional para a é, necessariamente, uma intervenção de en-
Prática da Enfermagem CIPE (Nursing’s next fermagem. Segundo esse argumento, ação
advance: an International Classification for de enfermagem estava sendo entendida co-
Nursing Practice ICNP), em que estão identi- mo um conceito mais abrangente, organi-
ficados 14 sistemas de classificação em en- zador das intervenções de enfermagem. Em
fermagem, desenvolvidos na Austrália, Bél- vista disso, definiu-se ação de enfermagem
gica, Canadá, Dinamarca, Suécia e Estados como o “desempenho de enfermeiras(os)
Unidos. Além disso, constatou-se que a en- na prática”; e intervenção de enfermagem
fermagem, nas diversas regiões e países do como “[...] uma ação realizada em respos-
mundo, valorizava a ideia do desenvolvi- ta a um diagnóstico de enfermagem, com a
mento de um sistema de classificação que a finalidade de produzir um resultado de en-
representasse no âmbito mundial.2 fermagem”.5

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Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) Versão 2017   3

Outra alteração que ocorreu nas ver- “[...] título atribuído pela(o) enfermeira(o)
sões Beta e Beta 2 foi a adoção de enfoque a uma decisão sobre um fenômeno que é o
multiaxial para ambas as Classificações, a foco de intervenções de enfermagem”. Por
dos Fenômenos e a das Ações de Enferma- seu turno, resultado de enfermagem foi de-
gem, cada uma com oito eixos. Os oito eixos finido como “[...] a medida ou o estado de
da Classificação dos Fenômenos de Enfer- um diagnóstico de enfermagem em pontos
magem eram: foco da prática de enferma- no tempo, após uma intervenção de enfer-
gem, julgamento, frequência, duração, to- magem”.5 Ou seja, os resultados de enfer-
pologia, local do corpo, probabilidade e magem passavam a ser compreendidos, a
portador. Os oito eixos da Classificação das partir de então, como possíveis mudanças
Ações de Enfermagem eram: tipo de ação, ocorridas nos diagnósticos de enfermagem
alvo, meios, tempo, topologia, localização, em resposta a intervenções de enfermagem,
via e beneficiário.5 identificadas em pontos distintos no tem-
O enfoque multiaxial das duas Classi- po.4 As versões Beta e Beta 2 apresentaram
ficações, a de Fenômenos e a de Ações de uma representação gráfica da dinâmica dos
Enfermagem, passou a permitir combina- resultados de enfermagem em resposta às in-
ções de termos de distintos eixos, propor- tervenções de enfermagem (Figura 1).
cionando maior solidez à CIPE® e diversi- A utilização das versões Beta e Beta 2
ficando a expressão de seus conceitos. Os na prática profissional evidenciou que sua
termos desses eixos podem ser utilizados estrutura dificultava o alcance da meta de
para elaborar afirmativas de diagnósticos/ um sistema de linguagem unificada de en-
resultados de enfermagem e de interven- fermagem; e que não estava satisfazendo
ções de enfermagem, o que caracteriza a as necessidades das(os) enfermeiras(os).
CIPE® como uma terminologia combinató- Partindo dessa constatação, o Comitê de
ria, em que conceitos simples (atômicos) se Aconselhamento Estratégico da CIPE® de-
combinam para formar conceitos mais com- senvolveu uma investigação entre líderes
plexos (moleculares). Exemplo: os concei- mundiais no domínio de vocabulários usa-
tos simples (atômicos) “sono”, do eixo foco dos em cuidados de saúde, com a finalidade
da prática de enfermagem, e “perturbado”, de assegurar que a CIPE® Versão 1.0, cuja
do eixo julgamento, podem ser combinados construção já havia sido iniciada, fosse, de
para formar o conceito complexo (molecu- fato e de direito, consistente com os voca-
lar) “sono perturbado”, um diagnóstico de bulários e normas existentes.7
enfermagem (Quadro 1). Entre as principais recomendações
Nas versões Beta e Beta 2, fenômeno de dos participantes da investigação, afirma-
enfermagem foi definido como “aspecto de va-se ser imperativo prover uma base mais
saúde relevante para a prática de enferma- formal para a CIPE® e usar um software que
gem”; e diagnóstico de enfermagem como o fosse capaz, entre outros critérios, de evitar

Quadro 1
Combinação de conceitos simples (atômicos) para formação de um diagnóstico de enfermagem
(conceito molecular)
“sono” “perturbado” “sono perturbado”

Conceito atômico + Conceito atômico = Conceito molecular

Foco da prática de enfermagem Julgamento Diagnóstico de enfermagem


Fonte: Garcia.6

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4   Telma Ribeiro Garcia (Organizadora)

Avaliação inicial

Primeiro diagnóstico
de enfermagem

Avaliação Intervenções de enfermagem


dos resultados

Resultado:
Segundo diagnóstico
de enfermagem

Avaliação Intervenções de enfermagem


dos resultados

Resultado:
Terceiro diagnóstico
de enfermagem

Figura 1 Dinâmica dos resultados de enfermagem em resposta a intervenções de enfermagem.


Fonte: International Council of Nurses.5

a redundância e a ambiguidade entre os ter- termos nela contidos. As versões Beta e Beta
mos da classificação. Assim, para a constru- 2 estavam estruturadas em duas classifica-
ção da Versão 1.0, divulgada em 2005, uti- ções (a de Fenômenos e a de Ações de Enfer-
lizou-se a Web Ontology Language (WOL) magem), com um total de dezesseis eixos,
em um ambiente de desenvolvimento de ao passo que a CIPE® Versão 1.0 contém
ontologia, o software Protegé.7,8 Ressalte-se uma única estrutura de classificação, orga-
que essa abordagem formal, ontológica, pa- nizada em sete eixos – o Modelo de Sete Ei-
ra lidar com os conceitos do domínio da en- xos (Figura 2).
fermagem, diferenciava a CIPE® de outros A nova estrutura simplificou a repre-
sistemas de classificação de enfermagem.9 sentação e resolveu, significativamente, os
A Versão 1.0, divulgada em 2005, tor- problemas de redundâncias e ambiguida-
na a CIPE® mais do que um mero vocabulá- des de termos, aspectos inerentes às ver-
rio especializado. Desde então, ela permite sões Beta e Beta 2. Os sete eixos da CIPE®
a acomodação de vocabulários existentes, Versão 1.0 estão definidos e exemplificados
por meio do mapeamento cruzado, o que a no Quadro 2.
caracteriza como um marco unificador dos O Modelo de Sete Eixos facilita a com-
diferentes sistemas de classificação dos ele- posição de afirmativas, que podem ser or-
mentos da prática de enfermagem. Além ganizadas de modo a se ter acesso rápido
disso, como uma terminologia combinató- a agrupamentos de “enunciados preestabe-
ria, a CIPE® permite o desenvolvimento de lecidos de diagnósticos, intervenções e re-
novos vocabulários, locais, e, como uma ter- sultados de enfermagem” – os Catálogos
minologia de referência, permite a identifi- CIPE®, direcionados a clientelas (indiví-
cação de relacionamentos entre conceitos e duo, família e comunidade), a prioridades
vocabulários disponíveis.7,8 de saúde (relacionadas a condições especí-
Uma das principais novidades da CIPE® ficas de saúde, ambientes ou especialidades
Versão 1.0 foi o modelo de organização dos de cuidado) ou a fenômenos de enferma-

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Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) Versão 2017   5

Foco da Classificação de Fenômenos


prática de Enfermagem
Julga­
Portador mento
Probabi­
Frequência
lidade
Local do Duração Cliente Foco
corpo
Topologia
Localização Julgamento
CIPE® Versão Beta 2 CIPE® Versão 1.0

Tipo de
Tempo Meios
ação
Benefi­ Alvo
ciário Ação

Via Meios
Modelo de Sete Eixos
Locali­
zação Tempo

Topologia Classificação de Ações


de Enfermagem

Figura 2 Da CIPE® Versão Beta 2 para o Modelo dos Sete Eixos da Versão 1.0.
Fonte: International Council of Nurses.7

Quadro 2
Eixos da CIPE® Versão 1.0

Eixo Definição Exemplos de termos


Foco Área de atenção relevante para a Dor – Eliminação – Expectativa de vida –
enfermagem Conhecimento
Julgamento Opinião clínica ou determinação relacionada Risco de – Aumentado – Interrompido –
ao foco da prática de enfermagem Melhorado
Meios Maneira ou método de executar uma Bandagem – Cateter urinário – Técnica de
intervenção respiração
Ação Processo intencional aplicado a, ou Promover – Encorajar – Entrevistar –
desempenhado por um cliente Aliviar
Tempo O momento, período, instante, intervalo ou Admissão – Período Pré-natal –
duração de uma ocorrência Intermitente
Localização Orientação anatômica ou espacial de um Anterior – Cavidade torácica – Creche
diagnóstico ou intervenções – Hospital-dia
Cliente Sujeito a quem o diagnóstico se refere e que Criança – Pai – Família – Comunidade
é o beneficiário de uma intervenção de
enfermagem
Fonte: International Council of Nurses.7

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6   Telma Ribeiro Garcia (Organizadora)

gem. Os Catálogos CIPE® podem originar pitalizados, cuidados especiais em creche,


dados a serem usados para apoiar e melho- cuidados pós-operatórios a pessoas com ar-
rar a prática clínica, o processo de tomada troplastia total do quadril, prevenção de úl-
de decisão, a pesquisa e a formação profis- cera por pressão e saúde mental de adultos
sional. Além disso, têm o potencial de con- hospitalizados.
tribuir para a expansão do uso da CIPE® no Em 2008, entendendo a importân-
âmbito mundial, uma vez que permitem fo- cia de promover a inserção de dados de
calizar as variações culturais e linguísticas, enfermagem nos sistemas de informação
locais, regionais e nacionais; os conjuntos em saúde, o CIE divulgou o Guia para de-
de afirmativas de diagnósticos/resultados e senvolvimento de Catálogos CIPE®. Entre
intervenções de enfermagem neles contidos as recomendações constantes nesse Guia,
podem ser usados em qualquer país em que destaca-se que, durante o processo de de-
se tenha traduzido a CIPE®, pois os códigos senvolvimento de um Catálogo CIPE®, ao
para essas afirmativas são sempre os mes- serem propostos novos conceitos (afirmati-
mos.9-12 vas preestabelecidas de diagnósticos/resul-
É possível o acesso a Catálogos CIPE® tados e de intervenções de enfermagem),
já aprovados no portal eletrônico do CIE estes devem ser submetidos para análise da
(<http://www.icn.ch/what-we-do/icnp- possibilidade de inserção na CIPE®. Tam-
-download/>). Além de dois Catálogos con- bém podem ser encaminhados para análi-
tendo os termos pré-coordenados de diag- se conceitos já constantes na CIPE®, quando
nósticos/resultados e de intervenções de há sugestão de alguma mudança (acrésci-
enfermagem da CIPE®, há outros, focali- mo ou retirada) em seu conteúdo ou a reco-
zando temas específicos, já disponíveis pa- mendação de sua desativação.12
ra uso e validação clínica: adesão ao tra- Uma das grandes metas da constru-
tamento, cuidado de crianças com HIV e ção da CIPE® é que seu uso possa prover
AIDS, cuidados paliativos, enfermagem co- o intercâmbio de dados entre populações,
munitária, enfermagem em desastres natu- ambientes de prestação de cuidado, lin-
rais, indicadores de resultados de enferma- guagens e lugares geográficos distintos. Os
gem, manejo da dor pediátrica e cuidado de Catálogos CIPE® podem facilitar o alcance
enfermagem no pré-natal. dessa meta. Ressalte-se ainda que, com a
Há, ainda, outros tipos de Catálogos possibilidade de elaboração de enunciados
CIPE®,* como as tabelas de equivalência en- de diagnósticos, intervenções e resultados
tre afirmativas de diagnósticos/resultados e de enfermagem, a CIPE® passou a se ca-
intervenções de enfermagem da CIPE® e racterizar, além de combinatória, como
da SNOMED-CT (Systematized Nomenclatu- uma terminologia enumerativa. Além dos
re of Medicine Clinical Terms); e a tabela de conceitos primitivos, dispostos no Mode-
equivalência entre os diagnósticos de enfer- lo de Sete Eixos, a Versão 1.0 já previa a
magem da CIPE® e a Classificação de Cuida- elaboração de conceitos pré-coordenados
dos Clínicos (CCC) de Virgínia Saba. – de diagnósticos/resultados e de interven-
No portal eletrônico do CIE também ções de enfermagem.
é possível o acesso a versões preliminares Após a Versão 1.0, em 2005, mais
de Catálogos CIPE® ainda em desenvolvi- seis versões da CIPE® foram divulgadas
mento: cuidados a clientes pediátricos hos- até o momento: a Versão 1.1 (em 2008),
a Versão 2.0 (em 2009), a Versão 2011,
a Versão 2013, a Versão 2015 e, mais re-
* Observe-se que há diferentes tipos de Catálogos centemente, por ocasião do Congresso do
CIPE® disponibilizados no portal eletrônico do
CIE ocorrido em Barcelona, na Espanha,
CIE: Mapeamento Cruzado entre Terminologias
(Terminology Cross-mapping), Subconjunto Termi-
a Versão 2017. Nessas versões, mantém-
nológico (Terminology Subset), Conjunto de Dados -se a representação multiaxial (Modelo
Mínimos de Enfermagem (Nursing Minimum Data de Sete Eixos) para organizar os concei-
Set) e Tabela de Equivalência (Equivalency Table). tos primitivos do domínio da enfermagem

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Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) Versão 2017   7

e, além disso, apresentam-se conjuntos de Intervenção; Intervenção em Processo Não


conceitos pré-coordenados, de diagnósti- Corporal e em Processo Não Psicológico; In-
cos/resultados e de intervenções de enfer- tervenção em Processo Corporal; Interven-
magem, para facilitar a elaboração de Ca- ção em Processo Psicológico; Diagnóstico
tálogos CIPE®. e Resultado; Diagnóstico e Resultado, Me-
A Figura 3 demonstra a progressão do lhorados; Diagnóstico e Resultado, Negati-
número total de conceitos da CIPE®, entre vos; Diagnóstico e Resultado Não Corporal
2005 e 2017. Como se pode visualizar, este e Não Psicológico; Diagnóstico e Resultado,
é um processo contínuo em que, progressi- Positivos; Diagnóstico e Resultado de Pro-
vamente, se contará com um número maior cesso Psicológico.
de termos adicionados à CIPE®, para uma A nova versão contém 4.326 termos
representação cada vez mais completa do distribuídos entre 10 Conceitos organizado-
domínio de atuação da enfermagem. res, 1.915 Conceitos pré-coordenados (re-
Em relação aos conceitos da CIPE®, o lativos a diagnósticos/resultados e inter-
que se tem observado é que, à medida que venções de enfermagem) e 2.401 Conceitos
aumenta o número de conceitos pré-coor- primitivos. A Tabela 1 ilustra a distribuição
denados (diagnósticos/resultados e inter- de conceitos na Versão 2017.
venções de enfermagem), tem diminuído a Entre as principais novidades da CIPE®
participação percentual de conceitos primiti- Versão 2017, enumeram-se:
vos, inseridos no Modelo de Sete Eixos. Em
2005, quando foi divulgada a Versão 1.0, a 1. Inclusão de 114 novos conceitos: 91 con-
participação percentual de conceitos primi- ceitos pré-coordenados (47 diagnósti-
tivos era de 83%, passando para 55,7% na cos/resultados de enfermagem e 44 in-
Versão 2017. Por seu turno, a participação tervenções de enfermagem) e 23 con-
percentual de conceitos pré-coordenados era ceitos primitivos (22 no eixo Foco e 1
de 17% na Versão 1.0, passando a 44,3% na no eixo Meios).
Versão 2017. 2. Alteração editorial (exceto no código) em
Vale ressaltar que, desde a Versão 25 conceitos, a maioria das quais na gra-
2015 da CIPE®, 10 termos, por seu ca- fia (18 – 72%, como Dyspnea, alterado pa-
ráter de abstração, e tendo em vista que a ra Dyspnoea; Instruction Material, altera-
partir deles se organizam os outros termos do para Instructional Material; etc). Em
da classificação, passaram a constituir um sete (28%), as alterações editoriais visa-
grupo denominado de Conceitos organiza- vam corrigir imprecisões conceituais: Pro-
dores (Organizing Concepts – OC). São eles: blema Ambiental (DE/RE), Nível de Gli-

5.000
4.212 4.326
4.000 3.894
3.290
3.000 2.842
2.499
1.994
2.000

1.000

0
2005 2008 2009 2011 2013 2015 2017

Figura 3 Evolução do número total de conceitos da CIPE®, por versão divulgada, 2005 a 2017.
Fonte: Garcia e colaboradores,13 atualizado com dados da Versão 2017.

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8   Telma Ribeiro Garcia (Organizadora)

TABELA 1
Distribuição e número de ocorrências de conceitos da CIPE® Versão 2017 (n=4.326)

Conceitos da CIPE® Versão 2017 Número de ocorrências


Conceitos organizadores 10
Conceitos pré-coordenados 1.915
Diagnósticos/Resultados de enfermagem 852
Intervenções de enfermagem 1.063
Conceitos primitivos 2.401
Foco 1.418
Julgamento 45
Ação 232
Localização 259
Meios 346
Tempo 69
Cliente 32
Total 4.326
Fonte: Planilha de termos da CIPE® Versão 2017, recebida do CIE em 05 abr. 2017, para tradução.

cose Sanguínea, nos Limites Normais PROGRAMA CIPE®


(DE/RE), Cateterizar Bexiga Urinária
(IE), Executar Desimpactação Fecal (IE), Desde o lançamento da Versão Alfa, há 21
Orientar sobre Técnica de Desimpactação anos, várias pesquisas e experiências de apli-
Fecal (IE), Técnica de Desimpactação Fe- cação da CIPE® na prática profissional estão
cal (M) e Impactação Fecal (F).. em andamento, no âmbito mundial. No ano
3. Inativação de quatro conceitos, com os de 2000, o CIE formalizou o Programa CIPE®,
respectivos códigos: 10028044 – Fun- vinculando-o à área de Prática Profissional,
ção do Sistema Imunológico, Eficaz; que, à época, junto com a área de Regulação
10040670 – Bom Humor; 10038448 – e a de Bem-Estar Socioeconômico, constituíam
Manejo (Controle) da Doença, por si pró- os Pilares de atuação do Conselho. Atualmen-
prio; e 10038453 – Manejo (Controle) do te, por considerar as políticas de ação que de-
Sintoma, por si próprio. senvolve para promover o avanço da enfer-
4. Reposição/Realocação de três dos con- magem, das(os) enfermeiras(os) e da saúde;
ceitos inativados, que receberam novos as parcerias que estabelece; o apoio ativo a
códigos: 10047471 – Função do Sistema ideias ou causas específicas; o desenvolvi-
Imunológico, Eficaz; 10050015 – Bom mento de lideranças; a formação de redes de
Humor; 10046844 – Manejo (Controle) trabalho; a promoção de congressos e a ela-
da Doença, por si próprio. boração de projetos especiais, o CIE identifi-
cou três áreas-chave, que passou a denomi-
Esses são aspectos que interessam es- nar como seus Pilares de atuação – a área de
pecialmente a desenvolvedores de siste- Projetos, a de Política de Enfermagem e a de
mas de informação, e a que somente se tem Advocacy. Mais recentemente, foram acres-
acesso ao fazer o download da versão com- centadas as áreas de Educação e de Eventos.*
pleta da CIPE®, o que inclui planilhas espe-
cíficas para cada caso mencionado. * Disponível em: < http://www.icn.ch/what-we-
-do/what-we-do/> Acesso em: 20 jul. 2017.

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Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) Versão 2017   9

Na área de Projetos, que nos interessa envolvidos nesse componente orientam a


mais de perto, estão incluídos: o Desenvol- revisão de conteúdo e o lançamento de no-
vimento de Liderança; o Fundo Educacional vas versões, em que se busca a inserção de
para Crianças do Sexo Feminino (ou para conteúdos que reflitam mudanças ocorridas
Meninas); a Biblioteca Móvel; os Centros de na prática de enfermagem e/ou uma me-
Bem-Estar para Trabalhadores de Atenção à lhor compreensão de termos já constantes,
Saúde; e, por fim, o e-Health, em cujo âmbi- bem como a adição de termos que preen-
to está inserido o Programa CIPE®. cham lacunas existentes e a remoção de ter-
Em seus aspectos organizativos, o Pro- mos redundantes ou desatualizados, além
grama CIPE® envolve três componentes – de assegurar que a CIPE® seja/esteja com-
pesquisa e desenvolvimento; manutenção patível com o desenvolvimento da ciência
e operações; disseminação e educação –, de enfermagem, das ciências da classifica-
os quais, atuando de modo articulado, dão ção e da informática e do cuidado de saúde.
sustentação ao Ciclo de vida da terminolo- Em relação ao componente Dissemina-
gia (Figura 4). Cada componente envolve ção e Educação, considera-se que somente
múltiplos processos e requer diferentes fer- se avalia o potencial e a qualidade de uma
ramentas para realizar as tarefas e gerar os terminologia, como de qualquer outra tec-
produtos que lhes são próprios.8,9 nologia de informação, a partir da familiari-
No componente Pesquisa e Desenvolvi- dade que se demonstre ter com sua aplica-
mento, os estudos sobre a CIPE® envolvem ção no sistema de atenção à saúde,8,9 isto é,
a validação de conceitos, abrangência e am- com seu uso na prática profissional, seja por
pliação de seu conteúdo, análises semânti- meio do registro em prontuários eletrônicos
cas, aplicação e utilidade prática,8,9 entre ou em sistemas manuais de informação. Pa-
outros, que representam uma importante ra isso, considera-se necessário que se este-
fonte para o desenvolvimento e fortaleci- ja atento às recomendações do CIE para a
mento da terminologia. elaboração de afirmativas de diagnósticos/
Em Manutenção e Operações, compo- resultados e intervenções de enfermagem,
nente essencial do ciclo de vida da CIPE®, foco do item abordado mais adiante.
tem-se dado atenção à prática baseada em Em 2003, como parte da tarefa de
evidências; à melhoria constante da qua- coordenar a disseminação e utilização da
lidade do conteúdo e à conformação com CIPE®, entre outras atividades relaciona-
os padrões internacionais para desenvol- das ao Ciclo de vida da terminologia, o CIE
vimento de terminologias.8,9 Os processos começa a desenvolver, por intermédio do
Programa CIPE®, a ideia de acreditação de
Centros para Pesquisa e Desenvolvimento da
CIPE®, dando-se particular atenção ao pro-
cesso de submissão de propostas, critérios
Pesquisa e Manutenção para avaliação, escopo de trabalho e res-
desenvolvimento e operações ponsabilidades desses Centros.14
Um Centro CIPE® Acreditado pelo CIE
CICLO DE VIDA DA é uma Instituição, Faculdade, Departamen-
TERMINOLOGIA CIPE® to, Associação Nacional ou grupo semelhan-
te, que preenche os critérios do CIE para ser
designado como Centro para Pesquisa e De-
senvolvimento da CIPE. Esses Centros são
considerados elementos importantes não
somente para o desenvolvimento da profis-
Disseminação
e educação
são, mas também para a produção de infor-
mação e conhecimento com potencial para
Figura 4 Ciclo de vida da terminologia CIPE®. influenciar a enfermagem nos anos futuros.
Fonte: International Council of Nurses.8 Nesse contexto, ressalta-se a visão da CIPE

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10   Telma Ribeiro Garcia (Organizadora)

como parte integral da infraestrutura global Suíça, e por três grupos de usuários da
de informação sobre as políticas e práticas CIPE® desses países.
de cuidado à saúde.15 5. Centro Franco-Canadense para Pesquisa
Cada Centro CIPE® identifica suas e Desenvolvimento da CIPE®, localizado
especificidades de trabalho (tradução, va- na Escola de Enfermagem da Universi-
lidação, aplicação, identificação de novos dade Sherbrooke, em Quebec, Canadá.
termos para inserção na CIPE®, etc.), es- 6. Centro Italiano para Pesquisa e Desenvol-
paço geográfico de atuação (local, regio- vimento da CIPE®, localizado na Unidade
nal, nacional, interinstitucional, etc.) ou de Pesquisa em Enfermagem do Departa-
âmbito de organização (área de especia- mento de Saúde Pública e Doenças Infec-
lização, experiência em pesquisa, etc.). ciosas da Universidade Sapienza de Roma.
Trabalhando em seus próprios projetos
7. Centro Norueguês para Pesquisa e Desen-
e, ao mesmo tempo, comunicando-se en-
volvimento da CIPE®, localizado no De-
tre si, constituem o Consórcio de Centros
partamento de Ciência da Saúde e Enfer-
CIPE®, fortalecendo a enfermagem, seja
magem da Universidade de Agder, Kris-
no âmbito local, regional ou global.15
Há, hoje,* quinze Centros CIPE® tiansand, Noruega.
Acreditados pelo CIE em todo o mundo, as- 8. Centro para Descoberta de Conhecimen-
sim distribuídos: três na América do Nor- to sobre Dados Mínimos de Enfermagem
te, estando um deles localizado nos Es- da Escola de Enfermagem da Universida-
tados Unidos e dois no Canadá; dois na de de Minnesota, Estados Unidos.
América do Sul, um localizado no Chile 9. Centro para Pesquisa e Desenvolvimento
e um no Brasil; seis na Europa, sendo um da CIPE® da Associação Iraniana de En-
sediado em Berlim, um na Polônia, um na fermagem, localizado em Teerã, no Irã.
Itália, um em Portugal, um na Irlanda e 10. Centro para Pesquisa e Desenvolvimento
um na Noruega; três na Ásia, estando um da CIPE® da RNAO, localizado em On-
no Irã, um na Coreia e um em Singapu- tário, no Canadá, e vinculado à Associa-
ra; e um na Oceania, localizado na Aus- ção de Enfermeiras(os) Registradas(os)
trália. São eles: de Ontário (Registered Nurses’ Association
of Ontario – RNAO).
1. Centro Chileno para Pesquisa e Desen-
11. Centro para Pesquisa e Desenvolvimen-
volvimento da CIPE®, localizado no De-
to da CIPE® da Universidade Federal da
partamento de Enfermagem da Univer-
Paraíba, vinculado ao Programa de Pós-
sidade de Concepción, Chile.
-Graduação em Enfermagem, da Univer-
2. Centro Coreano para Pesquisa e Desen-
sidade Federal da Paraíba, Brasil.
volvimento da CIPE®, localizado na Fa-
culdade de Enfermagem da Universida- 12. Centro para Pesquisa e Desenvolvimen-
de Nacional de Seul. to da CIPE® da Universidade Médica de
Łódź, Polônia.
3. Centro de Enfermagem em Desastres
do Programa de Pesquisa da Universi- 13. Centro para Pesquisa e Desenvolvimento
dade Flinders, localizado em Adelaide, de Sistemas de Informação da Escola de
Austrália. Enfermagem do Porto, Portugal.
4. Centro do Grupo de Língua Alemã de 14. Grupo de Usuários da CIPE® da Escola de
Usuários da CIPE®, sediado em Berlim, Enfermagem e Ciências Humanas da Uni-
é composto pelas Associações Nacionais versidade da Cidade de Dublin, Irlanda.
de Enfermagem da Áustria, Alemanha e 15. Programa de Pesquisa em Enfermagem
Salutogênica (SUN), localizado no Cen-
* Disponível em: < http://www.icn.ch/what- tro de Estudos de Enfermagem Alice Lee
-we-do/icn-accredited-centres-for-icnpr-re- (ALCNS), Escola de Medicina Yong Loo
search-a-development/>. Acesso em 20 jul. Lin (NUSMed) da Universidade Nacio-
de 2017. nal de Singapura (NUS).

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Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) Versão 2017   11

Entre as vantagens de ser um Centro gem necessários à prática cotidiana. Res-


CIPE® acreditado pelo CIE incluem-se o re- salte-se que o principal objetivo daquela
conhecimento internacional, as oportunida- norma ainda continua válido, especialmen-
des de colaboração como membro do Con- te no que diz respeito ao apoio à comuni-
sórcio de Centros CIPE® e a possibilidade de cação interdisciplinar. Entretanto, no perí-
participar na tomada de decisão sobre as- odo de 2008-2009, essa norma passou por
suntos que focalizam o desenvolvimento e um processo de revisão, de que participa-
disseminação da CIPE®. Entre as obrigações ram peritos, representantes de países mem-
estão as de ser coerente com a missão glo- bros da ISO e representantes da indústria e
bal do CIE e com a visão e metas estratégi- de organizações da enfermagem.18
cas estabelecidas para a CIPE®.14,15 A segunda edição da norma, aprovada
em 2014, aborda as conclusões e recomen-
dações feitas durante uma revisão abran-
ELABORAÇÃO DE AFIRMATIVAS gente da primeira edição. Atendendo as re-
DE DIAGNÓSTICOS/RESULTADOS comendações, duas categorias redundantes
foram removidas (dimensão e recipiente do
E INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM cuidado), além de terem sido feitas outras
alterações, tanto para corrigir erros identi-
Desde a Versão 1.0, divulgada em 2005, as ficados no decorrer da aplicação da versão
orientações para a construção de afirma- anterior, como para esclarecer e atualizar
tivas de diagnósticos/resultados e inter- definições de termos. A nova edição defi-
venções de enfermagem estiveram basea- ne estruturas categoriais de expressões ter-
das nos termos do Modelo de Sete Eixos da minológicas para representar diagnósticos
CIPE® e, particularmente, na ISO 18104, de enfermagem e ações de enfermagem, de
da Organização Internacional para Padro- modo a estar em conformidade com os pro-
nização (International Organization for cessos correntes de desenvolvimento de ter-
Standardization). À época, eram aplicadas minologias, e para refletir a prática contem-
as orientações da primeira edição dessa porânea da enfermagem.18
norma, a ISO 18104:2003, que objetivava
“[...] estabelecer um modelo de terminolo-
gia de referência de enfermagem coerente
Estrutura categorial para
com as metas e objetivos de outros mode-
los específicos de terminologia em saúde, representar diagnósticos
de modo a fornecer um modelo de referên- de enfermagem
cia em saúde mais unificado”.16
Segundo análise de Marin e colabo- Na ISO 18104:2014, um diagnóstico de en-
radores,17 a finalidade da ISO 18104:2003 fermagem é considerado um “título atribuí-
era harmonizar as várias terminologias usa- do a um achado, evento, situação ou outro
das pela(os) enfermeiras(os) para a docu- aspecto de saúde, resultantes de uma coleta
mentação de dados dos pacientes, por se de dados (assessment), para indicar que são
entender que uma terminologia de referên- considerados pela(o) enfermeira(o) e pe-
cia facilitaria o mapeamento dos termos de lo sujeito do cuidado como merecedores de
enfermagem com outras terminologias de atenção.”18 A Figura 5 contém uma repre-
saúde, promovendo-se, desse modo, a inte- sentação gráfica da estrutura categorial pa-
gração dos registros de enfermagem aos sis- ra diagnósticos de enfermagem.
temas de informação em saúde. Uma afirmativa diagnóstica de enfer-
A aplicação da ISO 18104:2003 foi magem pode ser expressa como um julga-
essencial para o desenvolvimento e pa- mento sobre um foco (p.ex.: mobilidade li-
dronização da CIPE®, e para que as(os) mitada, nutrição deficitária), ou como uma
enfermeiras(os) desenvolvessem diagnósti- expressão simples de um achado clínico re-
cos/resultados e intervenções de enferma- presentando um estado alterado, um pro-

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12   Telma Ribeiro Garcia (Organizadora)

cesso alterado, uma estrutura alterada, uma do cuidador, competências parentais pobres.
função alterada ou um comportamento al- Uma afirmativa diagnóstica de enfermagem
terado que se observou em um sujeito do pode ser qualificada por grau (leve, mode-
cuidado (p.ex.: ferida, náusea, dor e de- rado, severo – p.ex.: ansiedade moderada,
pressão). Para o primeiro tipo de expressão dor severa), curso clínico (agudo, crônico,
(julgamento sobre um foco), são obrigatórios súbito – p.ex.: infecção aguda, redução sú-
um descritor para julgamento e um descritor bita no peso corporal) e tempo (p.ex.: náu-
para o foco. O foco pode ser qualificado, ain- sea matinal).18
da, pelo lugar em que ocorre (p.ex.: integri-
dade tissular do calcanhar esquerdo).18
A afirmativa diagnóstica de enferma-
gem pode ter um potencial associado, in- Estrutura categorial para
dicando que há um risco de ou chance de representar ações de enfermagem
ocorrência de um diagnóstico de enferma-
gem. Um risco é um potencial para ocorrên- Na ISO 18104:2014, ação de enfermagem é
cia de um diagnóstico negativo (p.ex.: risco considerada, de modo geral, como “atos in-
de depressão, risco de úlcera por pressão); tencionais aplicados a um ou mais alvos, por
uma chance (ou oportunidade) é um poten- meio de uma ação.” Mais particularmente, o
cial para ocorrência de um diagnóstico posi- termo é entendido como “atos realizados por
tivo (p.ex.: chance de peso corporal reduzi- uma(um) enfermeira(o), ou sob sua orien-
do, chance de interação social melhorada). tação, com a intenção de, direta ou indireta-
Uma afirmativa diagnóstica de enfermagem mente, melhorar ou manter a saúde de uma
também pode estar associada a um sujeito da pessoa, grupo ou população.”18
informação que não seja o sujeito do registro Na norma em tela, ressalta-se que o
(normalmente, o paciente) – p.ex.: estresse termo intervenção de enfermagem às vezes

Sujeito da informação
0..1

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM
Grau [0..1]
Curso clínico [0..1]
Tempo [0..1] Potencial
{ou}
0..1

1 1 1
Achado clínico Foco Julgamento
{completo}

Risco de Chance de
0..1
Local

Figura 5 Estrutura categorial para representar diagnósticos de enfermagem.


Fonte: Traduzida e reproduzida da ISO 18104:2014,18 mediante autorização expressa da Associação Brasileira de Normas Técnicas
– ABNT.

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Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) Versão 2017   13

é usado como sinônimo de ação de enfer- sujeito do registro e inerente à expressão,


magem. Citam como exemplos: a CIPE®, quando não há necessidade de incluí-lo.18
em que se define ação de enfermagem co- As afirmativas de ações de enferma-
mo o “desempenho de enfermeiras(os) na gem podem ser qualificadas por meios
prática” e intervenção de enfermagem co- (p.ex.: alimentar com colher, em que a
mo “uma ação realizada em resposta a ação alimentar tem como meio a colher),
um diagnóstico de enfermagem, com a fi- via (p.ex.: administrar insulina subcutâ-
nalidade de produzir um resultado de en- nea, em que a ação administrar insulina
fermagem”; a Classificação de Cuidados tem como via a subcutânea) e tempo (p.ex.:
Clínicos, de Virgínia K. Saba, em que in- administrar antieméticos antes das refei-
tervenção de enfermagem é definida como ções, em que a ação administrar antiemé-
“uma ação de enfermagem, um tratamen- ticos tem, como tempo em que deve ocor-
to, um procedimento, atividade ou servi- rer, o período que antecede as refeições).
ço, designado a atingir um resultado para A categoria lugar deve ser usada na elabo-
um diagnóstico médico ou de enfermagem, ração de afirmativas de ações de enferma-
pelo qual a(o) enfermeira(o) é responsá- gem para especificar melhor a posição de
vel”; e a Classificação de Intervenções de um alvo (p.ex.: remover o curativo da feri-
Enfermagem (Nursing Interventions Clas- da, em que a ação remover o curativo tem,
sification – NIC), que define o termo in- como local da remoção, a ferida).18
tervenção de enfermagem como “qual-
quer tratamento, baseado no julgamento
clínico e no conhecimento, realizado por
uma(um) enfermeira(o) para melhorar os Resultados de enfermagem
resultados obtidos pelo paciente/cliente”.
Concluem que esses exemplos não abran- Desde a Versão Alfa, divulgada em 1996, o
gem, explicitamente, ações de coleta de CIE tem se referido à CIPE® como uma ter-
dados (assessment) ou de avaliação, con- minologia padronizada, que nomeia, classi-
siderados componentes-chave da práti- fica e vincula fenômenos que descrevem a
ca profissional e incluídos nos registros prática de enfermagem: o que a enferma-
de enfermagem. Do mesmo modo, não in- gem faz (intervenções de enfermagem), fa-
cluem o planejamento da assistência e de ce ao julgamento sobre determinadas ne-
outras atividades de coordenação de cui- cessidades humanas e sociais (diagnósticos
dado. Por essas razões, justificam que, na de enfermagem), para produzir resultados
ISO 18104:2014, o termo ação de enferma- sensíveis às intervenções de enfermagem
gem é usado “para incluir a coleta de dados (resultados de enfermagem).3,7 Nas ver-
(assessment), avaliação e planejamento de sões Beta e Beta 2, resultado de enfermagem
ações, bem como intervenções mais dire- foi definido como “a medida ou o estado de
tas a exemplo de cuidar de, administrar, re- um diagnóstico de enfermagem em pontos
mover, orientar, alimentar, executar”, entre no tempo, após uma intervenção de enfer-
outros.18 magem”.5
A Figura 6 contém uma representação Esse entendimento parece estar rati-
gráfica da estrutura categorial para ações ficado na ISO 18104:2014, em que um re-
de enfermagem. sultado de enfermagem é definido como “um
A afirmativa de uma ação de enferma- julgamento que identifica a extensão da
gem deve conter um descritor para ação e, mudança em um achado clínico ou diagnós-
no mínimo, um descritor para alvo, ou seja, tico de enfermagem, ou o alcance de me-
a entidade que é afetada pela ação (p.ex.: tas/resultados esperados”. Estão descri-
remover curativo da ferida, em que a ação tos na norma três padrões para elaboração
remover tem como alvo o curativo da feri- de afirmativas de resultados de enferma-
da). A exceção é quando o único alvo é o gem.18 São eles:

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14   Telma Ribeiro Garcia (Organizadora)

AÇÃO DE ENFERMAGEM
Nota
Via [0..1] Uma Ação de Enfermagem
Meio(s) [0..1] DEVE ser composta por uma
Tempo [0..1] Ação e pelo menos um alvo,
exceto onde/quando o único
{ou} alvo é o Sujeito do Registro.

1 1..*
Ação Alvo Local

0..1

1
Sujeito do registro

Figura 6 Estrutura categorial para representar ações de enfermagem.


Fonte: Traduzida e reproduzida da ISO 18104:2014,18 mediante autorização expressa da Associação Brasileira de Normas
Técnicas – ABNT.

a) Mudança/ausência de mudança em um observado antes e após uma ação de


achado clínico mensurado ou observado enfermagem.
antes e após uma ação de enfermagem. Exemplo
Exemplo – Meta: dormir ao menos 5 horas por
– Primeiro achado clínico: dorme 2-3 noite
horas por noite – Achado clínico após intervenção:
– Segundo achado clínico: dorme 6 dorme 6 horas por noite
horas por noite – Resultado: meta alcançada
– Resultado: padrão de sono melho- Os padrões descritos indicam que a es-
rado trutura categorial descrita na norma ISO
b) A medida ou o estado de um diagnóstico 18104:2014 para representar diagnósticos
de enfermagem em pontos no tempo, de enfermagem (incluindo achados clínicos)
após uma intervenção de enfermagem. é suficiente para orientar a representação de
metas e resultados de enfermagem esperados,
Exemplo
de modo que não é necessário o desenvolvi-
– Primeiro diagnóstico: sono extrema-
mento de uma estrutura categorial específica
mente alterado para resultados de enfermagem, uma das re-
– Segundo diagnóstico: sono modera- comendações que foram apresentadas na re-
damente alterado visão da primeira edição dessa norma.18
– Resultado: padrão de sono melho-
rado
c) Alcance ou progresso em relação a uma CONSIDERAÇÕES FINAIS
meta/resultado esperado, identificados
pela mudança/ausência de mudança O CIE assumiu a tarefa de coordenar a cons-
em um achado clínico mensurado ou trução da CIPE® por entendê-la como um

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Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) Versão 2017   15

instrumento de informação para descrever do a excelência das ações, as suas e as de


a prática da enfermagem; prover dados que sua equipe, para alcançar a principal finali-
identifiquem a contribuição da enfermagem dade da profissão – prestar um cuidado dig-
na atenção à saúde; promover avanços nos no, sensível, competente e resolutivo, que
campos de prática profissional, por meio de contribua para a solução, para o alívio ou
sua aplicação na assistência, educação, pes- para a prevenção de problemas de saúde,
quisa e gerência de enfermagem. promovendo modos saudáveis de vida pa-
A CIPE® foi planejada para ser parte ra as pessoas.
integral da infraestrutura global de infor-
mação, fornecendo dados sobre as práticas
e as políticas de atenção à saúde, de sorte a REFERÊNCIAS
melhorar a atenção à clientela, no âmbito
mundial. Desse modo, caracteriza-se como 1. Garcia TR, Nóbrega MML. Classificação
um instrumento que facilita a comunicação Internacional para a prática de enferma-
da(o)s enfermeira(o)s entre si, com outros gem: inserção brasileira no projeto do
profissionais de saúde e com os formulado- Conselho Internacional de Enfermeiras.
res de políticas relacionadas à saúde e à for- Acta Paul Enferm. 2009;22(Esp):875-9.
mação de recursos humanos. 2. International Council of Nurses. Nursing’s
Em sua evolução, a CIPE® tem de- next advance: an International Classifica-
tion for Nursing Practice (ICNP). Geneva:
monstrado ser uma tecnologia de informa-
ICN; 1993.
ção que, durante a execução do Processo
3. International Council of Nurses. The Inter-
de Enfermagem, facilita o raciocínio clíni-
national Classification for Nursing Prac-
co e a documentação padronizada do cui- tice: a unifying framework – The Alpha
dado prestado ao paciente pelo profissional Version. Geneva: ICN; 1996.
de enfermagem, seja em prontuários eletrô- 4. Garcia TR, Cubas MR, Almeida MA. Resul-
nicos ou em sistemas manuais de registros. tados de enfermagem. In: Garcia TR, Egry
Os dados e as informações resultantes dessa EY. Integralidade da atenção no SUS e sis-
documentação podem ser usados na elabo- tematização da assistência de enfermagem.
ração de políticas de saúde e de educação Porto Alegre: Artmed; 2010. p. 127-34.
em enfermagem; no planejamento e geren- 5. International Council of Nurses. Interna-
ciamento do cuidado de enfermagem; e na tional Classification for Nursing Practice:
análise do impacto que as ações de enfer- ICNP®. Beta 2. Geneva: ICN; 2001.
magem exercem sobre as condições de saú- 6. Garcia TR. Aplicabilidade da CIPE® na
de e bem-estar das pessoas. atenção de enfermagem em saúde ma-
Entretanto, como já afirmado, a apli- terna. Proenf Saúde Materna e Neonatal.
cação deliberada e, sobretudo, a documen- 2013;4(2):9-52.
tação padronizada do Processo de Enferma- 7. International Council of Nurses. Interna-
gem não são consenso no meio profissional. tional Classification for Nursing Practice:
Para a Enfermagem, o descaso com o re- ICNP®. Version 1.0. Geneva: ICN; 2005.
8. International Council of Nurses. Interna-
gistro do processo de cuidado no prontuá-
tional Classification for Nursing Practice:
rio do paciente ou em outros documentos
ICNP®. Version 2. Geneva: ICN; 2009.
próprios da Enfermagem pode resultar, por
9. Coenen A, Kim TY. Development of termi-
um lado, em ausência de visibilidade e de nology subsets using ICNP®. Int J Med In-
reconhecimento profissional e, por outro, formatics. 2010;79(7):530-8.
em obstáculo para o avanço da ciência de 10. International Council of Nurses. Nurse ex-
Enfermagem. Faz-se necessário, pois, que perts needed for ICNP® catalogue review.
as(os) enfermeiras(os) utilizem o conhe- ICNP® Bulletin [Internet]. 2007 [captura-
cimento teórico-prático e os instrumentos, do em 23 jul. 2014];7(1). Disponível em:
métodos e processos específicos da área, ao http://www.icn.ch/images/stories/docu-
ensinar, ao pesquisar, na gerência e na exe- ments/news/bulletins/icnp/ICNP_Bulle-
cução do cuidado de enfermagem, buscan- tin_June_2007_eng.pdf

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16   Telma Ribeiro Garcia (Organizadora)

11. Bartz C, Coenen A, Hardiker N, Jansen – CIPE®: aplicação à realidade brasileira.


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Sheerin F, Ehnfors M, Sermeus W, editors. 15. International Council of Nurses. ICN Ac-
ACENDIO 2007: proceedings of the 6th Eu- credited Centres for ICNP® Research
ropean Conference of ACENDIO; Amster- and Development: guidelines for applica-
dam: Oud Consultancy; 2007. p. 256-258. tion and re-accreditation. Geneva: ICN;
12. International Council of Nurses. Guidelines 2013.
for ICNP® catalogue development. Geneva: 16. International Organization for Standard-
ICN; 2008 [capturado em 04 abr. 2016]. Dis- ization. Health informatics: integration of
ponível em: http://www.icn.ch/images/sto- a reference terminology model for nurs-
ries/documents/programs/icnp/icnp_cata- ing (ISO/FDIS 18104:2003). Geneva: ISO;
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13. Garcia TR, Bartz CC, Coenen A. CIPE®: 17. Marin HF, Peres HHC, Dal Sasso GTM. Aná-
uma linguagem padronizada para a prati- lise da estrutura categorial da Norma ISSO
ca professional. In: Garcia TR, organizado- 18104 na documentação em Enfermagem.
ra. Classificação Internacional para a Prá- Acta Paul Enferm. 2013;26(3):299-306.
tica de Enfermagem – CIPE®: aplicação à 18. International Organization for Standar-
realidade brasileira. Porto Alegre: Artmed; dization. Health Informatics: categorial
2015. p. 24-36. structures for representation of nursing
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Pesquisa e Desenvolvimento da CIPE®. In: logical systems (ISO/FDIS 18104:2014).
Garcia TR, organizadora. Classificação In- Geneva: ISO; 2014.
ternacional para a Prática de Enfermagem

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