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Recife - PE
2022
SUMÁRIO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS...............................................................................5
2. O MIB e as Assembleias...........................................................................................5
3. A constituição de 1988.............................................................................................8
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................15
REFERÊNCIAS.........................................................................................................15
5
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
2. O MIB e as Assembleias
dizem 14, outros 53 ou 57, varia muito. Após pesquisa realizada, apenas oito textos das transcrições de
diferentes Assembleias foram encontrados. As transcrições das 1ª, 2ª, 3ª, 6ª, 8ª, 10ª, 12ª e 13ª
Assembleias foram localizadas no arquivo particular da antropóloga Alcida Rita Ramos e no Setor de
Documentação do Arquivo do CIMI (Conselho indigenista missionário).
A Assembleia dos Chefes Indígenas representa um lugar onde diferentes grupos étnicos
compartilham um sentimento de luta por reconhecimento, e esses grupos começam a se ver como um
coletivo. A Assembleia é o lugar e a oportunidade de compartilhar suas angústias, frustrações, medos,
necessidades, esperanças, conquistas, culturas, hábitos, costumes, entre outros.
Cinco foram os acontecimentos fundadores escolhidos como marcos do MIB: as Assembleias
Indígenas; o Decreto de Emancipação de 1978; a Constituição de 1988; as comemorações dos 500
anos do descobrimento e a realização dos Acampamentos Terra Livre/abril Indígena. Estes são os
acontecimentos fundamentais e indispensáveis para se compreender o processo de formação,
organização e estruturação do MIB.
Alguns temas foram selecionados para a reflexão e que eram falados recorrentemente nas
assembleias: ensinamento e conscientização; dificuldades e diferenças; não índios e índios; o CIMI e a
FUNAI; o Estado e os índios; e as principais reivindicações.
Sobre a questão do ensinamento e conscientização, observa-se que a alegria do encontro é
partilhada em vários momentos alguns falavam: “Tive a satisfação de conhecer vários amigos e tribos
que não conhecia e não tinha ouvido falar. A reunião é boa pra nos conhecer tribo a tribo” (Página
162), como também a importância de transmitir os ensinamentos adquiridos aos demais membros da
aldeia quando eles retornassem para suas tribos. A consciência do sentimento partilhado por todos
reforçava, diante das dificuldades políticas, socioeconômicas, geográficas e linguísticas, a necessidade
da luta por reconhecimento.
Existem várias dificuldades, como o caminho para o local de encontro que é sempre longo e
de difícil acesso. A distância de um Brasil a outro é enorme geograficamente, principalmente quando
se trata de transporte envolvendo pessoas que falam outras línguas, têm costumes próprios e não lidam
com aspectos financeiros como a maioria da população brasileira. Apesar de não apoiar e nem
incentivar os encontros que deram origem às Assembleias, não se deve ignorar a ajuda da FUNAI em
alguns momentos com o auxílio de passagens, por exemplo.
Além dos obstáculos geográficos e financeiros, impedimentos de cunho político também
existiram, afinal, as Assembleias se organizaram e foram realizadas em meio a Ditadura Militar. O
caráter repressor do regime autoritário pôde ser mais bem observado na 13ª Assembleia Indígena, de
outubro de 1979. De acordo com Fábio Alves dos Santos, presidente do CIMI-Nordeste na época, “a
repressão militar foi percebida em dois momentos. Primeiro, durante a tentativa de penetração de um
coronel-espião e seus comandados no local de realização da 13ª Assembleia. Segundo, um serviço de
espionagem eletrônica e o aparato bélico teria sido montado pelo serviço de repressão militar a doze
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os indígenas das suas diferentes culturas, dos canais de reivindicação junto ao Estado (FUNAI), e
reforçar a consciência e a percepção dos índios sobre os seus direitos.
3. A constituição de 1988
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
Os avanços Constitucionais
Constituição de 1934:
"Art. 129 – Será respeitada a posse de terras de silvícolas que nelas se achem
permanentemente localizados, sendo-lhes, no entanto, vedado aliená-las.
Constituição de 1937:
"Art. 154 – Será respeitada aos silvícolas a posse das terras em que se achem
localizados em caráter permanente, sendo-lhes, no entanto, vedado aliená-las".
Constituição de 1946:
"Art. 216 – Será respeitada aos silvícolas a posse das terras onde se achem
permanentemente localizados, com a condição de não a transferirem."
Constituição de 1967:
"Art. 186 – É assegurada aos silvícolas a posse permanente das terras que habitam e
reconhecido o seu direito ao usufruto exclusivo dos recursos naturais e de todas as utilidades
nelas existentes".
"Art. 198 – As terras habitadas pelos silvícolas são inalienáveis nos termos em que a
lei federal determinar, a eles cabendo a sua posse permanente e ficando reconhecido o seu
direito ao usufruto exclusivo das riquezas e de todas as utilidades nelas existentes".
Assim, a base legal para as reivindicações mais básicas dos índios brasileiros,
estabelecida pela nova constituição, está atualmente sendo ampliada e reorganizada. No
entanto, a realidade brasileira mostra que, diante do persistente descaso com os mais diversos
interesses econômicos existentes, cabe aos índios e seus aliados a difícil tarefa de fazer
cumprir a lei e garantir o respeito aos direitos indígenas na prática. Garantir a plena validade
do texto constitucional é o desafio. Cabe aos índios, mas também às suas organizações,
entidades de apoio, universidades, movimentos sociais, ONGs, capacitações técnicas, relações
com o poder público e partidos políticos e outros articuladores. Sabe-se que é um processo
lento, mesmo condicionado à tarefa de sensibilização social. O sucesso dependerá
necessariamente do nível de empenho diário neste sentido por parte de todos os que trabalham
no tema.
índios e uma significativa atuação da sociedade civil contra mais um ato autoritário e
pernicioso do Governo ditatorial". (BICALHO, 2010, p.179).
Vale ressaltar que o projeto de emancipação foi sugerido pelo Estado justamente
quando este deveria concluir as demarcações das terras indígenas, por essa razão tal atitude
foi entendida como uma forma sorrateira do Estado se isentar da responsabilidade de tutela e
entregar as terras indígenas de vez para o capital. No entanto, de acordo com Bicalho (2010) a
atitude mais agressiva da sociedade civil diante da persistência do ministro Rangel em
consumar o seu intento realizou-se com um Ato Público que reuniu duas mil pessoas em São
Paulo. No curso da realização do Ato Público no Auditório do TUCA da PUC/SP, os índios
Nelson Xangrê e Daniel Pareci emitiram as suas opiniões sobre o projeto. Dentre várias
pautas importantes, os indígenas ressaltaram “Digo que esta emancipação nada mais, nada
menos é que uma arma mortífera que simplesmente nos tirará todo e qualquer direito de
reclamar os nossos direitos.” (BICALHO, 2010, p.185).
A autora destaca a participação no Ato de duas mil pessoas entre antropólogos;
representantes de instituições universitárias e religiosas; representantes de comunidades
indígenas; estudantes universitários; professores; personalidades políticas; representantes de
organizações de apoio ao índio; etc. As instituições envolvidas eram de variadas origens,
destacando-se as Universidades e seus respectivos Centros Acadêmicos Estudantis e
Programas de Pós-Graduações, a Igreja (Católica e Evangélica), principalmente o CIMI; e as
inúmeras organizações de apoio nacionais e internacionais. Nesse momento, uma grande
quantidade de pessoas moradoras das maiores cidades “tomou conhecimento de que os índios
de carne e osso existiam e que eram seres humanos; mais que isso, que lutavam pelo direito
de serem respeitados como grupos étnicos diferenciados e cidadãos brasileiros. A impressão
relacionada a esses povos começou a mudar.” (BICALHO, 2010, p.187).
A autora afirma que isso aconteceu devido ao fato de que a realidade histórica era
imensamente favorável à organização da sociedade civil, através de seus respectivos
movimentos sociais. Ela afirma que na década de 1980, o interesse, por parte dos
pesquisadores, por outros tipos de movimentos sociais, tais como o de mulheres, os
ecológicos e os dos negros, índios, pela paz, direitos humanos etc, colocou o movimento
indígena em vantagem na corrida rumo ao reconhecimento dos seus direitos, em nível local e
global. O que configurou a especificidade dos novos movimentos sociais dos anos de 1990.
No contexto da transição da influência da corrente marxista para as concepções dos
Novos Movimentos Sociais evidenciou-se a importância do Movimento Indígena. As críticas
do autor Marcelo Braz se referem exatamente as abordagens teóricas dos novos movimentos
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sociais porque elas tratam as novidades que surgiam da dinâmica da acumulação de capital,
como problemas desassociados das condições de que eram e sempre foram originários: a
apropriação privada dos meios de produção e o consequente pauperismo da classe proletária.
O MIB nos proporciona o exemplo perfeito para compreensão desse processo que acaba
mistificando e obscurecendo a realidade. Pois os ataques aos povos originários eram
provenientes do interesse do capital nas terras, através do decreto de emancipação o governo
pretendia transformá-las em meras mercadorias e moedas de troca. Porém, “para este a terra
não é coisa, não é mera medida. É a terra dos seus mortos, dos seus mitos de explicação da
existência e de justificação das relações sociais... “. (MARTINS, 1979 apud BICALHO, 2010,
p.189). Esse cenário levou alguns pesquisadores a considerarem o MIB um movimento de
questão apenas identitária e cultural. Esse é o problema analítico que ocorre quando se isola
um objeto das ciências sociais, essa abordagem não alcança a complexidade que é a
sociedade.
A crítica do autor se refere ao fato dessas novas tendências teóricas terem deslocado o
fulcro das lutas de classes, acabando, na busca de novas alternativas à mudança social,
vivenciando todo tipo de ecletismo, mistificando a realidade, concorrendo para obscurece-la
na tentativa de explicá-la, foi o que aconteceu nas análises acerca dos novos movimentos
sociais com novas características como o MIB, no processo que explicitamos acima. Diante
das lutas e da resistência dos índios e da sociedade civil organizada, todo esforço foi
recompensado, quando foi informado através do MINTER, em Brasília, que a presidência da
República decidiu, estrategicamente, esquecer por algum tempo a aprovação do projeto de
emancipação de grupos indígenas. Esta talvez tenha sido a primeira grande conquista do
Movimento Indígena contemporâneo.
A União das Nações Indígenas (UNI) foi o primeiro exemplo de uma organização
política criada pelos índios, surgindo em 1980, em Campo Grande - MS, em um período que
tinha um ambiente político marcado por luta social de oposição às iniciativas governamentais
de emancipação dos índios. Foi percebida a necessidade, pelo MIB (Movimento Indígena
Brasileiro), de unir amplamente os povos como uma estratégia para as lutas concretas e
também para uma interlocução com o Estado, em diversas instâncias como o Ministério da
Educação, Saúde etc. Esse momento de organização política dos indígenas, assim como no
primeiro momento das assembleias pode ser entendido a partir de Gohn (2000, p. 13), já que
“Não bastam as carências para haver um movimento. Elas têm que se traduzir em demandas,
que por sua vez poderão se transformar em reinvindicações, através de uma ação coletiva”,
pois é exatamente o momento em que as carências, nesse caso, a necessidade de se defender,
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Há indicadores de que a UNI nasceu com certa instabilidade administrativa, pois sua
organização tinha padrões organizacionais dos não índios, com diretoria constituída por
presidente, vice-presidente, secretário e tesoureiro, além também de um Conselho Indígena,
com representante de vários grupos étnicos e onze Coordenadorias Regionais. Todo
movimento social possui um princípio de solidariedade, articulando as relações entre os atores
sociais que estão envolvidos nele, mas, não quer dizer que existe constante harmonia. Pois,
para Gonh apud Bicalho (2010) “é mais comum que haja conflitos do que harmonia no
interior dos movimentos sociais, uma vez que a diferença existe e o princípio da solidariedade
é que entrelaça as mesmas” (GONH apud BICALHO, 2010, p. 194). Principalmente se
tratando de um movimento que abrange tamanha pluralidade étnica, é natural que exista
divergências dentro do movimento. Porém, compartilham o mesmo objetivo de proteção das
suas terras e dos seus direitos à diferença. No decorrer da década de 1980, houveram
modificações organizacionais e teóricas dos movimentos sociais, como na UNI, com a criação
do seu Conselho Indígena, por exemplo, que redistribuiu suas atividades entre os
conselheiros-líderes presentes em diversas comunidades. De acordo com Bicalho (2010), as
mudanças ocorridas mostraram a tendência de institucionalização dos movimentos sociais,
fazendo ressurgir as organizações locais e regionais para garantir participação mais direta das
comunidades. Sendo assim, é relevante ressaltar a análise de Braz (2012), ao abordar a
segunda e terceira fase do debate teórico no Brasil, visto que havia, entre o início e o final da
década de 1980, uma conjuntura que abrangia uma tensão política e uma abertura para
repensar a relação de Estado e sociedade, respectivamente.
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É importante destacar a importância da UNI, de acordo com Bicalho (2010), com seu
papel de mobilização da opinião pública, que foi além do território nacional. Pois, existem
vários documentos que mostram o alcance internacional da situação dos indígenas por meio
da atuação da UNI com outras organizações internacionais. Diversos debates foram realizados
entre a UNI e a ONU, como a educação indígena no Brasil, que era inexistente, a mineração
das terras, problemas relacionados à saúde e cultura, vivenciado por esse povo. Vale ressaltar
também a participação da UNI na Assembleia Nacional Constituinte, com candidaturas
indígenas, mesmo sem ter eleito nenhum candidato, serviu para que os índios pudessem
acompanharas votações que aconteciam na Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas,
Pessoas Deficientes e Minorias no Congresso. Outro fator importante para o movimento foi a
presença dos povos indígenas na mídia, alcançando a opinião pública através dos veículos de
comunicação.
Em 1988, a Constituição reconheceu a organização social dos indígenas, assim como
seus costumes, crenças e tradições, além dos direitos originários sobre as terras. A UNI era a
organização mais importante da época, que teve apoio de diversas instituições, que interligava
movimento, Estado e sociedade civil. O Movimento Indígena, durante o período de
redemocratização do país, se lançou no campo político, impulsionado pela elaboração da nova
Carta Constitucional. Isto faz relação com o que Braz (2012, p. 126) cita, ao dizer que “O
quadro político apontava para uma crescente institucionalização das lutas sociais, no qual se
constatava abertura de possibilidades de participação democrática ‘por dentro’ das instâncias
estatais, criando um espaço novo de diálogo dos movimentos sociais com os governos em
todos os níveis”. Embora houvesse dificuldades de conectar os diversos povos indígenas do
país, além da frágil representação de seus interesses, a UNI se apresentou como um papel
importante na organização do MIB.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRAVO, Juliana Souza (org); BRAVO, Maria Inês. Saúde, serviço social, movimentos
sociais e conselhos: desafios atuais. São Paulo: Cortez, 2012.
CONSTITUIÇÃO: Povos indígenas do Brasil. [S. l.], 21--. Disponível em:
<https://pib.socioambiental.org/pt/Constitui%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 1 out. 2022.
GOHN, Maria da Glória.500 anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e
terceiro setor. Rev. Mediações, v. 5. n. 1. Londrina, 2000.