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Universidade Wutivi - UniTiva

Contabilidade
Agrícola

MAPUTO

Agosto de 2010

1. Introdução

O Sector Agrícola apresenta particularidades que o diferencia dos demais sectores da


economia. O clima determina as épocas de plantio, tratos culturais, colheitas, escolha
de variedades e espécies, vegetais e animais. Algumas fases do processo produtivo se

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desenvolvem sem a existência de trabalho físico. Não há flexibilidade para alterar a
seqüência da produção e a terra é participante da produção.

Além disso, o empresário rural se depara com um Sistema de Competição Económica


que o impede de controlar o preço de seus produtos, que ditado pelo mercado, pode
ser até inferior aos custos de produção. Há o alto custo de saída e/ou entrada para
algumas culturas, como por exemplo, a de café, devido à exigência de altos
investimentos em benfeitorias e máquinas e os produtos não são uniformes,
acarretando custos adicionais com a classificação e padronização.

Da mesma forma, a Contabilidade Rural, que abrange não só o Sector Agrícola, mas
também as atividades zootécnicas e agroindustriais, contém peculiaridades que a
distingue de forma acentuada da Contabilidade aplicada a outros sectores. Não só
pelas particularidades da Contabilidade Rural, mas principalmente pela importância
desta contabilidade para o empresário rural, é que o presente módulo da disciplina de
Contabilidades sectoriais, visa abordar as características do ramo da Contabilidade
Rural, especificamente as de Contabilidade Agrícola, na qual se procura identificar o
nível de conhecimento profissional necessário para a aplicação prática.

O conteúdo programático desta disciplina trata dos conceitos básicos da actividade


rural: agrícola, zootécnica e agroindustrial; o ano agrícola X exercício social; forma
jurídica de exploração na agropecuária; fluxo contabilístico na atividade agrícola:
culturas temporárias, permanentes, correção monetária; novos projectos agropecuários
e gastos com melhorias; depreciação na agropecuária; casos de exaustão e
amortização;

A matéria relacionada com a planificação contabilística e operacionalização do plano de


contas; inventário periódico e permanente; sistema auxiliar de contas, bem como toda a
problemática relacionada com a Contabilidade da Pecuária, reservamo-las para o
semestre seguinte, na continuidade da disciplina, em Contabilidades sectoriais II.

2. Conceitos Básicos

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Agricultura é definida como a arte de cultivar a Terra. Arte essa decorrente da acção
do homem sobre o processo produtivo à procura da satisfação de suas necessidades
básicas.

O processo produtivo, por sua vez, é o conjunto de eventos e acções através dos quais
os factores de produção se transformam em produtos vegetais e animais. É também
um sistema de preparar a terra para plantar, tratar e colher, com a finalidade de
produzir alimentos para subsistência do homem e do animal. A agricultura será tão
mais próspera quanto maior for o domínio que o homem venha a ter sobre o processo
de produção, que se obterá na medida do conhecimento acerca das técnicas de
execução e gerência.

Empresas rurais são aquelas que exploram a capacidade produtiva do solo por meio
do cultivo da terra, da criação de animais e da transformação de determinados produtos
agrícolas.

O campo de actividade das empresas rurais pode ser dividido em três grupos distintos:

• Produção vegetal – actividade agrícola;


• Produção animal – actividade zootécnica;
• Indústrias rurais – actividade agroindustrial.

A Actividade agrícola pode ser dividida em dois grandes grupos:

• Cultura hortícola e forrageira


- Cereais (feijão, soja, arroz, milho, trigo, aveia, ...)
- hortaliças (verduras, tomate, pimentão, ... )
- tubérculos (batata, mandioca, cenoura, ...)
- plantas oleaginosas (amendoim, girassol, ...)
- especiarias ( cravo, canela, piripiri, ...)
- fibras ( algodão, pinho)
- floricultura, forragens, plantas industriais, ...
• Arboricultura:
- florestamento (eucalipto, pinho, ...) - pomares (manga, laranja, maçã, ...) -
vinhedos, olivais, seringais, etc.

A Actividade Zootécnica tem a ver com a criação de animais, de onde podemos


distinguir, entre outras:

• Apicultura (criação de abelhas)


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• Avicultura (criação de aves)
• Cunicultura (criação de coelhos)
• Pecuária (criação de gado)
• Piscicultura (criação de peixes)
• Ranicultura (criação de rãs)
• Sericicultura (criação do bicho da seda)
• Outros pequenos animais

A Actividade Agroindustrial compreende:


• Beneficiamento do produto agrícola (arroz, café, milho).
• Transformação de produtos zootécnicos (mel, lacticínios, casulos de seda)
• Transformação de produtos agrícolas (cana de açúcar em álcool e
aguardente, soja em óleo, uvas em vinho e vinagre, moagem de trigo e
milho).

A Contabilidade Rural pode ser estudada de modo geral (para todas as empresas) ou
particular (aplicada a certo ramo de actividade ou sector da economia).

Quando estudada de forma genérica, a contabilidade é denominada Contabilidade


geral ou financeira. Quando aplicada a um ramo específico, normalmente é
denominada de acordo com a actividade daquele ramo. Assim, há:

• Contabilidade Agrícola: é a contabilidade geral aplicada às empresas


agrícolas.
• Contabilidade Rural: é a contabilidade geral aplicada às empresas rurais.
• Contabilidade da Zootécnica: é a contabilidade geral aplicada às empresas
que exploram a zootécnica.
• Contabilidade da pecuária: é a contabilidade geral aplicada às empresas
pecuárias  Contabilidade Agropecuária: é a contabilidade geral aplicada às
empresas agropecuárias.
• Contabilidade da Agroindústria: é a contabilidade geral aplicada às empresas
agroindustriais.

2.1 Operações Agrícolas

Sãs as fases necessárias do processo produtivo, de acordo com o tipo de cultura. Esta
separação traz diversos benefícios à gestão, por exemplo: na programação e
distribuição das tarefas do pessoal e máquinas; possibilita medir o desempenho e

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comparar com outras áreas; identificar os custos de cada operação ou sub-operação de
acordo com sua relevância em termos de valor, etc.

Como etapas das Operações Agrícolas, podemos destacar:

a) Preparo do Solo/Calagem: Entende-se por destoca, limpeza, roçada,


correcção do solo, gradeação, subcolagem, aração, conservação de solo,
sistematização de solo e drenagem.

b) Plantio/Adubação: Entende-se por sulco, adubação básica, coveamento,


alinhamento, marcação, confecção de canteiro, distribuição de mudas,
selecção, desinfecção de mudas, coleta de estacas, adubação básica,
plantio, semeadura, replantio, transplante, tutoramento, retirada de mudas,
embalagem de mudas e transporte de mudas e sementes.

c) Adubação: Adubação de cova ou sulco, adubação de solo, adubo foliar e


cobertura.

d) Tratamento Fitossanitário: controlo de formiga, tratamento do solo, de


semente, fitossanitário e transporte de água.

e) Irrigação: Aguação, irrigação e transporte de água

f) Cultivo Manual: Coroamento, recoroamento, capina, roçada e limpeza.

g) Cultivo Mecânico: Gradeação, roçada mecânica, aração e limpeza mecânica.

h) Cultivo Químico: Aplicação de herbicida.

i) Raleação e Desbate: Raleação, desbrota e raleação de frutos.

j) Poda: Poda na formação, na frutificação e poda na limpeza.

k) Colheita: Distribuição de caixa, coljeita, transporte até o ponto de carga,


embalagem (saco/caixa/barbante), carregamento de caminhão e transporte
da produção até os silos ou até a fábrica para os produtos perecíveis.

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l) Outras: Colecta de borbulhos, enxertia, sobreenchertia, cobertura morta,
aplicação de hormônio, despendoamento, erradicação de plantas doentes,
secagem e outras operações.

2.2 Ano Agrícola x Exercício económico

Regra geral

Uma pergunta constante na actividade agropecuária é quanto ao término do exercício


económico: deveria ser encerrado normalmente em 31/12, como ocorre com a maioria
das empresas comerciais, industriais e de serviços, coincidindo-se com o ano civil? A
resposta é não.

Observe-se que as empresas, de maneira geral, têm receitas e despesas constantes


durante os meses do ano, não havendo dificuldades quento à fixação do mês de
encerramento do exercício económico para o apuramento de resultados. Qualquer mês
escolhido reflectirá o resultado distribuído de maneira quase equitativa ao longo dos 12
últimos meses.

Daí a opção para o mês de Dezembro, não só pelo facto de ser o último mês do ano,
mas também pela redução ou até interrupção da actividade operacional, propiciando
férias colectivas, consequentemente, condições mais adequadas para o inventário das
mercadorias.

Actividade Agrícola

Na actividade agrícola, porém, a receita concentra-se, normalmente, durante ou logo


após a colheita. Ao contrário de outras actividades cuja comercialização se distribui ao
longo dos 12 meses, a produção agrícola, essencialmente sazonal, concentra-se em
determinado período que pode traduzir-se em alguns dias de um mês do ano.

Ao término da colheita e, quase sempre, da comercialização dessa colheita, temos o


encerramento do ano agrícola. Ano agrícola é o período em que se planta, colhe e,
normalmente , comercializa a safea agrícola. Algumas empresas, em vez de
comercializarem o produto, desde que possível, armazenam a safra para obter melhor
preço. Neste caso considera-se ano agrícola o término da colheita.

Ora, não existe melhor momento para medir o resultado do período, senão logo após a
colheita e sua respectiva comercialização. Não há lógica para se esperar 6, 8, ... meses
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até o final do ano (se a colheita for no início do ano) para mensurar o resultado (lucro
ou prejuízo) da safra agrícola.

Evidentemente, o apuramento do resultado, quando realizada logo após a colheita e a


comercialização, contribui de forma mais adequada na avaliação do desempenho da
safra agrícola; não há por que esperar meses para se conhecer o resultado que é tão
importante para a tomada de decisões, sobretudo a respeito do que fazer no novo ano
agrícola.

Se o ano agrícola terminar em Março, o exercício económico poderá ser encerrado em


31/3 ou 30/4, e assim sucessivamente.

Dessa forma, evita-se a cultura em formação, por ocasião do apuramento de resultado.


Se o exercício económico fosse encerrado antes da colheita (defasagem em relação ao
ano agrícola), teríamos plantas em crescimento, o que seria difícil de avaliar, e mesmo
inadequado.

Imagine-se uma cultura de milho em formação, com 1 m de altura, a dois meses de


colheita. Encerrando-se o exercício económico antes da colheita, não se poderia apurar
o resultado (não houve ainda venda) e dificilmente haveria condições de determinar o
valor económico dessa cultura em formação. Dessa forma, se realizada, a
contabilidade seria de pouca utilidade. Por isso, recomenda-se fixar para após colheita
e a comercialização (término do ano agrícola) o encerramento do ano económicol.

Produtos agrícolas com colheitas em períodos diferentes

Há empresas que diversificam suas culturas e apresentam colheitas em períodos


diferentes no ano.

Nesse caso, recomenda-se que o ano agrícola seja fixado em função da cultura que
prevaleça economicamente.

Assim, se a empresa, em cultura conjugada, planta feijão entre os pés de café, ou milho
entre as ruas de uva, certamente o período de colheita do café e da uva é que
determinará o ano agrícola, mesmo que no seu encerramento haja uma cultura
secundária em formação (o que é inevitável). Assim sendo, seria feita a avaliação da
cultura em formação, e a avaliação, ainda que não perfeita, não traria grandes
distorções à contabilidade, pois o valor apurado não seria relevante em relação à
cultura principal.

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O memso raciocínio é válido para diversas culturas, mesmo que não conjugadas.
Assim, se uma actividade tivesse culturas de milho, soja e cana de açúcar,
simultâneamente, por exemplo, o ano agrícola (consequentemente o exercício social)
seria fixado com base na cultura de maior representatividade económica.

Actividade Pecuária

O período adequado para o encerramento do exercício económico, assim como da


actividade agrícola, não é o ano civil. O ideal é realizá-lo logo após o nascimento dos
bezerros ou do desmame.

De maneira geral, o nascimento de bezerros concentra-se em determinado período do


ano.

Há empresas pecuárias que planificam lotes de nascimentos para determinados


períodos do ano ( em virtude da seca e inverno, períodos de pastagem ruim; observe-
se que o bezerro inicialmente não pasteja) por meio de inseminação artificial ou da
estação de monta (período de cruzamento de touro e vaca) planeada, aceleração dos
«cios», etc.

Ora, havendo a ocorrência de nascimentos de bezerros, a contabilidade, por intermédio


de demonstrações financeiras, informará imediatamente os usuários sobre tal facto.
Para tanto há necessidade do encerramento do exercício económico e de confecção
do balanço patrimonial.

O raciocínio que se deve utilizar aqui é o mesmo utilizado para a colheita agrícola.
Nesse caso, todavia, o bezerro será o «fruto», o produto final que valoriza o património
da empresa.

Logicamente, as empresas que não planificam períodos de nascimentos terão


dificuldades na fixação do mês de encerramento, porquanto os nascimentos se
espelham ao longo do ano. Mesmo assim, existirá uma concentração de nascimentos
que determinará o mês do término do exercício económico.

Há empresas pecuárias que fixam o exercício económico com base no mês seguinte
em que se concentra a venda das reses para o frigorífico. Esse critério é igualmente
válido quanto ao nascimento dos bezerros.

Exercício económico e Imposto sobre o Rendimento

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O código do Imposto sobre o rendimento das Pessoas Colectivas (IRPC) tornou
obrigatório, para todas as empresas, o exercício económico coincidindo com o ano civil,
ou seja, de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro.

Essa imposição traz sérios prejuízos à contabilidade agrícola, já que esse sector,
necessariamente, deveria ter seu exercício económico coincidente com o ano agrícola,
para melhor avaliar o desempenho da empresa.

Ressalvemos, que nada impede que se faça de acordo com o que descrevemos nos
itens anteriores, o que genericamente será de extrema relevância.

2.3 Forma jurídica de exploração na agropecuária

Pessoa física e pessoa jurídica

Na actividade agrícola encontramos as duas formas jurídicas possíveis de exploração,


com bastante frequência: pessoa física e pessoa jurídica.

Pessoa física é a pessoa natural, é todo ser humano, é todo indivíduo (sem nenhuma
execpção). A existência de pessoa física termina com a morte.

Pessoa jurídica é a união de indivíduos que, por meio de um trato reconhecido por lei,
formam uma nova pessoa, com personalidade distinta da de seus membros. As
pessoas jurídicas podem ter fins lucrativos, empresas industrias, comerciais, etc.) ou
não (cooperativas, associações culturais, religiosas, etc.).

Normalmente, as pessoas jurídicas denominam-se empresas.

Em Moçambique, prevalece a exploração na forma de pessoa física, por ser menos


onerosa que a de pessoa jurídica, além de proporcionar mais vantagens de ordem
fiscal, principalmente em relação a pequenas actividades.

As pessoas físicas tidas como pequeno e médio produtor rural, não precisam para fins
de Imposto sobre o rendimento, fazer escrituração regular em livros contabilísticos e
podem utilizar apenas um livro Caixa e efectuar uma escrituração simplificada.

Todavia, as pessoas físicas tidas como grande produtor rural serão equiparads às
pessas jurídicas para fins contabilísticos, devendo fazer escrituração regular, por
intermédio de profissionais contabilistas qualificados, utilizando como base o método
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das partidas dobradas (lançamentos a débito e a crédito simultâneamente).
Evidentemente que a nossa atenção nessa matéria, será direccionada para as pessoas
jurídicas e para pessoas físicas equiparadas às jurídicas.

Exercício de Aplicação nº 01

Em cada teste há apenas uma alternativa correcta. Indique-a:

1. Como exemplo de actividade agrícola temos:


a) Hortaliças
b) Avicultura
c) Moagem de trigo
d) Metalúrgica
2. Como exemplo da actividade zootécnica temos:
a) Hortaliças
b) Avicultura
c) Moagem de trigo
d) Metalúrgica
3. Como exemplo da actividade agroindustrial temos:
a) Hortaliças
b) Avicultura
c) Moagem de trigo
d) Metalúrgica
4. Como exemplo da actividade pecuária temos:
a) Hortaliças
b) Avicultura
c) Moagem de trigo
d) Ovinocultura
5. Actividade pecuária de maior significação económica é:
a) Bovinocultura
b) Suinocultura
c) Caprinoculura
d) Equinocultura
6. A contabilidade Agropecuária é aplicada:
a) Apenas às empresas agrícolas
b) À todas as empresas rurais
c) Apenas às empresas agropecuárias
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d) Apenas às empresas zootécnicas 7. A contabilidade rural é
aplicada:
a) Apenas às empresas agrícolas
b) À todas as empresas rurais
c) Apenas às empresas agropecuárias
d) Apenas às empresas zootécnicas
8. A fixação do ano agrícola é importante para:
a) Determinar o plano de contas
b) Determinar a actividade operacional
c) Detrminar os planos da empresa
d) Determinar o exercício económico
9. Numa actividade agrícola com diferentes culturas e periodos de colhetas
diferentes, prevalece o ano agrícola com base em:
a) Cultura permanente
b) Cultura temporária
c) Participação económica de cada cultura
d) Tempo de colheita

10. A Quinta Agostinho, SA tem diversas culturas, com a seguinte participação no


facturamento total:

Milho – colheita em novembro / dezembro 8%


………………..
Arroz – colheita em abril / maio
10%
……………………………
Feijão – colheita em março
10%
…………………………………
Uva – colheita em Janeiro / Fevereiro
22%
……………………...
Cana de açúcar colheita em março / abril
30%
………………….
Café – colheita em julho / agosto
15%
…………………………..
Outras culturas -
5%
……………………………………………
100%
Qual seria o mês para o encerramento do balanço (exercício económico) diante
da Teoria da Contabilidade.

11. Explique as diferenças básicas, na agropecuária, entre os conceitos de


contabilidade:
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a) Contabilidade Rural
b) Contabilidade Agropecuária
c) Contabilidade Agrícola
d) Cotabilidade Agrária
e) Contabilidade da Pecuária

3. Fluxos Contabilísticos na Actividade Agrícola

Várias objecções têm sido apontadas sobre a adoção da contabilidade nas empresas
rurais. Estas objeções que usualmente tem se levantado podem ser classificadas em
dois grupos, que são:

• a extensão das operações rurais e sua complexidade não permitem uma


contabilização perfeita dos factos das empresas rurais;
• a ignorância em que vive o homem do campo.

Estas objeções não podem mais subsistir, pois, no estado actual de nossa cultura
contabilística é inadmissível que uma pessoa, possuidora de conhecimentos práticos
da vida económica, os aceite de boa fé.

Sobre o primeiro grupo, pode-se dizer que a extensão da empresa rural não impede a
perfeita contabilidade. Se fosse questão de complexidade dos factos administrativos
realizados seria impossível a existência da contabilidade pública.

Com relação ao segundo grupo, o mesmo ressalte-se que a ignorância não pode ser
um motivo de escusa, pois, a contabilidade é uma ciência difundida, pois se os
responsáveis pela nossa economia rural não possuem o seu conhecimento, deve-se-
lhes impor estas habilidades.

Todas as empresas necessitam de registos das suas operações, por várias razões:

a) por menor que seja uma empresa, a informação que se acumula durante um
ano é demasiado complexa para que se possa analisar os resultados sem ter
anotações adequadas.
b) os membros desta empresa necessitam das informações sobre os factos
ocorridos e que seria difícil de obtê-las sem a existência dos registos.

Quanto maior for a empresa mais necessários são os registros sobre as operações e,
especialmente, nas empresas associativas onde os sócios têm direito e obrigação de
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analisar o desenvolvimento da empresa e participar de sua gestão. As principais
características desejáveis para um sistema provedor de informações
contabilísticasábeis são as seguintes:

• devem ser simples, de fácil compreensão;


• devem ser confiáveis em seus registos, exactos nos números;
• devem ser coerentes, sem repetições ou contradições;
• devem estar sempre actualizados para se obter melhor as informações
desejadas.

A organização contabilística-administrativa de qualquer empresa precisa estar ajustada


à sua dimensão, onde é destacado que de qualquer maneira, porém, a administração
económica não pode prescindir da contabilidade, cuja aplicação é necessária, onde
exista uma administração organizada que busca níveis de competitividade cada vez
mais altos.

Dentro das várias técnicas de controle que auxiliam a obtenção de informações


gerenciais é fundamental que identifiquemos o nível de detalhamento e sofisticação
que a estrutura organizacional conseguirá gerar normalmente para que possamos
escolher a técnica mais adequada.

Não existe uma estrutura capaz de gerar informações, é preciso procurar uma solução
mais simples, porque ao trabalhar com informações não confiáveis se estará gerando
resultados também sem confiabilidade.

Existem dois factores que definem a viabilidade do apuramento de recursos alocados


em insumos, mão-deobra, serviços, despesas, custos indiretos, amortização de
investimentos e outros, que são:

• a coleta dos dados de campo: e


• a possibilidade de gerar uma planilha de custos unitários de cada recurso.

Caso não existam condições para apurar os recursos alocados nos vários factores,
podemos adoptar algum modelo de controle baseado nas movimentações financeiras.

Este processo depende de um bom controle das compras, vendas de produtos e


movimentação de caixa. Com uma simples estruturação, o produtor poderá obter os
itens de classificação dessas movimentações, bastando um agrupamento por conta
deste lançamento para obter resultados. Este deve ser um controle bem mais simples
do que o de alocação de recursos e pode ser gerado de forma bem mais dinâmica,
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oferecendo resultados globais que permitam avaliar rapidamente o andamento da
actividade.

Se o produtor, gerente ou administrador souber desenhar o modelo ideal de controle,


ele não terá mais problemas para obter informações gerenciais e passará a contar com
um precioso suporte auxiliar para solucionar suas dificuldades na tomada de decisões.

3.1 Culturas Temporárias e Permanentes

A diferença básica entre estas duas culturas é que a temporária ou anual está sujeita
ao replantio e é arrancada do solo, enquanto que a permanente ou perene está
vinculada ao solo, dando produção por diversos anos.

A cultura temporária se extingue pela colheita, sendo seguida de um novo plantio,


enquanto que a permanente tem duração superior a um ano ou proporciona mais de
uma colheita sem a necessidade de novo plantio, recebendo apenas tratos culturais no
intervalo entre as colheitas. Exemplo de culturas temporárias: milho, trigo, feijão etc e
de perenes, jaqueira, mangueira, cajueiro etc.

Na cultura temporária, os custos com a formação (plantio, adubação, sementes,


calcário, mão-de-obra, herbicidas etc) e com a colheita (mão-de-obra, combustível, etc)
são contabilizados no Activo Circulante, em uma conta denominada de “Cultura
Temporária” e em uma sub-conta intitulada ”Cultura em Formação”, sendo classificada
como Stock.

Após a colheita, esta conta é baixada pelo seu valor de custo e transferida para a conta
“Produtos Agrícolas”, em que serão acumulados todos os custos posteriores à colheita.

À proporção da venda dos produtos, dá-se baixa em “Produtos Agrícolas” e transfere o


custo para “Custo do Produto Vendido”, para que possa haver o confronto entre a
Receita e Custo e o apuramento do Resultado Bruto.

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Na cultura permanente, os custos necessários para a formação da cultura, como
adubação, formicidas, forragem, herbicidas etc, são apropriados no Activo Permanente
– Imobilizado, na conta “Cultura Permanente em Formação”, tendo como sub-conta o
tipo de cultura.

Após a formação da cultura, antes da primeira produção, transferem-se os custos da


conta “Cultura Permanente em Formação” para uma conta denominada “Cultura
Permanente Formada”, que permanece no Activo Permanente, Imobilizado.

A partir deste ponto, na fase produtiva, os custos que surgirem não serão mais
contabilizados no Imobilizado, mas no Activo Circulante – Stock; geralmente, em uma
conta intitulada “Colheita em Andamento”, especificando o produto.

Esta conta é composta de todos os custos necessários para a realização da colheita:


mão-de-obra e respectivos encargos sociais, produtos químicos, custo com irrigação,
custo do combate a formigas e outros insectos, seguro da safra, secagem da colheita,
serviços de terceiros etc. Caso os recursos aplicados na cultura permanente beneficiem
a produtividade ao longo dos anos, o valor não deve sobrecarregar a safra do ano, mas
ser incorporado ao Imobilizado e diluído às safras por meio da depreciação ou, se for o
caso, da exaustão.

Ao término da colheita, o valor acumulado na conta “Colheita em Andamento” transfere-


se para conta “Produtos Agrícolas”, também do Activo Circulante – Stock. Nessa conta
é acrescentado o gasto de beneficiamento ou acondicionamento, se houver.

À medida que os produtos agrícolas forem vendidos e o respectivo custo transferido da


conta “Produtos Agrícolas” para a conta “Custo do Produto Vendido”, sempre
discriminando o tipo da plantação, haverá a confrontação da Receita e do Custo do
Produto Vendido, apurando-se o Resultado Bruto.

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3.2 Melhorias no Solo para o Cultivo

Os gastos com desmatamento, destocamento, terraplanagem, desvios de leitos de rios


ou córregos para irrigação, nivelamento do solo e outros preparos para tornar a terra
bruta agricultável, não devem ser acumulados à “Cultura em Formação”,
sobrecarregando a primeira safra.

Os custos com desmatamento, destocamento, correcção do solo e outras melhorias


para propiciar o desenvolvimento das culturas agrícolas que beneficiam mais de uma
safra devem ser contabilizados por seu valor original, no Activo Diferido, como encargo
das culturas agrícolas desenvolvidas na área, deduzidas as receitas líquidas obtidas
com a venda dos produtos oriundos do desmatamento ou destocamento.

Estes custos são apropriados ao valor da terra ou amortizados ao longo dos anos. Na
hipótese da amortização como custo em vários períodos, a classificação correcta é no
Activo Permanente – Diferido.

Quanto ao título da conta, a mais adequada, seria “Melhorias”, pois, na Contabilidade, o


termo Melhoria significa incremento na capacidade produtiva, que envolve reforma
significativa no Activo de propriedade da empresa, com alterações técnicas e de
produtividade naquele Activo.

Outros gastos, como cercas, estradas, açudes, instalações e bebedouros, não devem
ser contabilizados na conta “Melhoria”, mas individualmente no Activo Permanente -
Imobilizado.

Entretanto, os correctivos aplicados ao solo, como calcário, adubação orgânica etc,


quando beneficiarem vários períodos, serão alocados também no Activo Diferido, para
serem amortizados com base na quantidade de períodos que irão beneficiar.

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Exercício de Aplicação nº 02

Em cada teste há apenas uma alternativa correcta. Indique-a:

1. Cana de açúcar é:
a) Cultura temporária
b) Cultura em erradicação
c) Cultura permanente
d) Cultura flutuante 2. Milho é:
a) Cultura temporária
b) Cultura em erradicação
c) Cultura permanente
d) Cultura flutuante
3. Cultura temporária em formação é classificada como:
a) Stock
b) Investimento
c) Imobilizado
d) Diferido
4. Cultura permanente em formação é classificada como:
a) Stock
b) Investimento
c) Imobilizado
d) Diferido
5. Mão de obra na plantação de qualquer cultura é:
a) Despesa
b) Custo
c) Perda
d) Património Líquido
6. Juros de financiamentos agrários são considerados:
a) Despesa
b) Custo
c) Activo Permanente
d) Patimónio Líquido
7. Cultura permanente formada é considerada:
a) Despesa
b) Custo

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c) Activo Imobilizado
d) Património Líquido
8. Cultura temporária colhida e não vendida é considerada:
a) Despesa
b) Custo
c) Activo Circulante
d) Património Líquido
9. O lucro agropecuário será contabilizado como:
a) Despesa
b) Custo
c) Activo realizável a longo prazo
d) Património líquido
10. Inundações, incêndios, geadas são considerados:
a) Custo
b) Perda
c) Despesa
d) Ganho

11. A Cia. Milharal prepara muitos hectares para plantar milho doce, voltado para
produtos alimentícios. Sabendo-se que o ciclo vegetativo do milho não
ultrapassa 180 dias, que o período de sementeira será entre setembro e
novembro, que o ano agrícola, consequentemente o exercício económico, está
fixado para 31/3, os custos para a referida cultura foram:

Cultura de milho – de Setembro a Janeiro em 10^3


Mt

Adubo ………………………………………………. 58.000


Semente …………………………………………….. 122.800
Outros custos …..…………………………………… 36.000

Mão de obra – serviços de terceiros:


- lavoura, plantação, capinagem, colheita ………….. 21.000
- debulha (destacar o grão da espiga) 4.200
……………….

- de Janeiro a Março
Armazenagem em paiol (dois meses – 6.500

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aluguel )…….

A colheita totalizou 20.400 sacas. Em 25/3 a produção foi totalmente vendida, à


vista, a 20.000 Mt a saca. Considerando-se que todos os custos acima foram à vista,
que a empresa contraiu despesas operacionais no período, também à vista, no total de
12.060.000 Mt, apurar o lucro operacional do período, sabendo-se que a situação
patrimonial ao final de Agosto era:

Em 10^3 Mt
ACTIVO PASSIVO e CAPITAIS PROPRIOS

Circulante Circulante

Disponível 510.000 -- 0

Cultura em Formação 0 Património Líquido

Produtos Agrícolas 25.000 Capital 2.000.000

Permanente Lucros Acumulados 335.000

Imobilizado 1.800.000 2.335.000

Total 2.335.000 Total 2.335.000

Observações:

a) Como nesse exercício se solicita apenas o Lucro Operacional, não será feita a
provisão para Imposto sobre o rendimento.

Pede-se: contabilizar as operações apresentadas e efectuar as demonstrações


financeiras

b) O stock de produtos agrícolas no valor de 25.000.000 mt deve permanecer no


Balanço. Para esse item não se dará tratameno mais aprofundado.
O Docente: Paulo Rassul
c) Está-se admitindo que não houve depreciação e que todo o imobilizado é
composto de terrenos.

d) Se se quiser descer a um nivel de maior detalhe, pode-se abrir uma conta


intermediária entre “Cultura em formação” e “Produtos Agrícolas”, com o título “
Cultura ou (Produtos) em Beneficiamento”, em que se tem o gasto de mão de
obra para a debulha.

e) Normalmente, no encerramento do Balanço Patrimonial, o saldo da conta


“Cultura em Formação” é zero, pois o balanço é elabrado após a colheita (ano
agrícola). Pode ocorrer em situações em que haja cultura secundária em
formação, por ocasião do término do ano agrícola da cultura principal.
Todavia, o valor da cultura em formação deverá ser pouco relevante.
12. A Cia. PUC Agropecuária apresentou os seguintes gastos para a cultura
em formação da maçã: Em 10^3 Mt
Destroncamento, limpeza do solo 10.800
……………………………………..
Adubaçãoe preparação para o plantio
1.200
…………………………………
Mudas
6.000
………………………………………………………………….
Mão de obra geral
16.000
……………………………………………………..
Tratamento fitossanitário
……………………………………………… 4.000

Nesse período, o exercício social é encerrado. No período seguinte há novos


gastos:

Manutenção da culura em crescimento ………………………………. 5.000

Mão de obra …………………………………………………………..

12.000 Outros gastos

………………………………………………………… 10.000

O Docente: Paulo Rassul


Novamente o período é encerrado.

Está prevista uma colheta anual de maçã durante 20 anos. Na primeira colheita,
os gastos sem depreciação foram de 38.000.000 Mt.

Evidenciar no grupo Stock e Imobilizado os dados apresentados, considerando a


primeira colheita terminada e não vendida.

13. A Fazenda Grande SA. apresenta o seguinte Balanço Patrimonial em 31-


12-X8

Em Mt
ACTIVO PASSIVO e CAPITAIS
PROPRIOS
Circulante Circulante

Disponível 100 Fornecedores 4.000

Insumos 800 Imposto a Pagar 1.000

Produtos 4.000 Contas a Pagar 500


Agrícolas
4.900 5.500

Permanente
Património Líquido
Imobilizado 14.100 20.000
Capital
Terras 10.000 5.000
Res. Capital
Cafeeiro 2.000 1.000
Res. Legal
Tractor 4.000 2.000
Res.

O Docente: Paulo Rassul


Bens de 30.100 Reavaliação 1.500
Escritório
Lucros 29.500
Acumulados
Total 35.000 Total 35.000

São efectuadas as seguintes operações a partir de 1-01-X9:

1. Início do plantio da soja, cujos custos iniciais são:


- Insumo (constante em stock) 700
……….. Mt
- Adubos adquiridos a prazo
1.800
………….
- Mão de obra paga
80
……………………
- Outros Custos
……………………….. 420
Para suportar “Outros custos” foi obtido um empréstimo de 500 Mt, para pagar
em 14/01/X10, com juros totais de 50% ao ano, sendo devolvido junto com o
principal.

2. Foi vendida metade da colheita do café, à vista, constante no Stock


por 6.000 Mt 3. A empresa iniciou a colheita da próxima safra de café,
tendo os seguintes custos:
- Mão de obra paga ………………….. 1.500 Mt

- Outros custos à vista ………………. 1.400

4. A depreciação do tractor é distribuida: metade para soja e metade para a


colheita do café, já que ele é usado na manutenção e na colheita.
5. Os valores brutos do imobilizado são:
Terrenos Cafeeiros Tractores Bens
Escritório
Valor Total 14.100 20.000 4.000 5.000

Depreciação - 10.000 2.000 1.000


Acumulada
Taxa de 0 5% a.a. 25% a.a. 10% a.a.
Depreciação

O Docente: Paulo Rassul


6. As despesas operacionais à vista, além dos juros, são:
- Vendas (ocorreram após o item “b”abaixo) ………. 1.200

- Administrativa (não inclui depreciação) ………….. 800

Considerando que a empresa não fez correcção monetária e está isenta de


Imposto sobe o rendimento, pede-se:

a) Os lançamentos contabilísticos no razão esquemático, sabendo que os


custos finais à vista, foram:
Soja ……………………. 1.080

Café (colheita) ………… 950

Obs. A empresa ainda não constituiu nova reserva.

b) Apurar o Resultado do Período, sendo que 1/3 da soja colhida foi vendida à
vista por 5.000 Mt

c) Apresentar o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultados do


Exercício, sabendo-se que não houve mais venda de café, embora a colheita
já esteja terminada. A colheita de soja ainda não foi concluída.

4. Novos projectos Agropecuários e os Gastos de Melhorias

4.1 Início de uma actividade agrícola (cultura Permanente)

A conta «Cultura Permanente em Formação» do Activo Imobilizado, sera evidenciada


pelo seu valor de custo histórico.

Na fase de implantação, no plantio da primeira cultura, observa-se que o período de


formação e crescimento da cultura permanente, até a sua maturidade, denominado
«período pr-e-operacional», é relativamente longo, ao contrário do que acontece nas
empresas industriais, de maneira geral.

Na primeira cultura, considerando que não existe outra receita operacional, a empresa
não apurará resultado; como não houve realização da receita, não haverá a

O Docente: Paulo Rassul


apropriação das despeas, uma vez que não há possibilidade de confronto para o
apuramento do resultado. Desta forma, não haverá em período préoperacional a
Demonstração do resultado do Exercício.

Gastos Pré-Operacionais

Todas as despesas pagas ou incorridas pela empresa, durante o período que antecede
o início de suas operações e que não forem identificadas directamente com a cultura,
serão enquadradas como préoperacionais no Activo permanente diferido.

Observe-se que os gastos relativos à cultura (mão de obra, serviços de terceiros,


preparação do solo, sementes, ....) ou a qualquer item do Imobilizado (prédios. Galpão,
pastos, ...) serão acumulados em suas respectivas contas e não em gastos pré-
operacionais.
Dessa forma, serão acumulados como gastos pré-operacionais: despesas operacionais
(propaganda, administrativas, financeiras...), despesascom constituição, despesas com
pesquisas e estudos de viabilidade económica.

Pela teoria da contabilidade, toda receita obtida nesse período, como receitas
financeiras, receitas extraordinárias, deve ser tratada como redução (diminuição) dos
gastos pré-operacionais.

No que tange à amortização dos gastos pré-operacionais (distribuição das despesas


diferidas ao longo dos períodos), ela ocorrerá a partir da primeira colheita (inclusive),
respeitando-se um limite máximo de 10 anos e um prazo mínimo de 5 anos (a taxa
variará, facultativamente, de 10 a 20% ao ano.)

4.2 Culturas Novas em empresa Agrícola já existente

Quando já existe actividade agropecuária em produção e um novo projecto referente a


uma cultura permanente é introduzido, há necessidade de alguns cuidados especiais.

A conta «Cultura Permanente em Formação» relativa a nova cultura não sofre


modificação quanto à teoria já vista, ou seja, todos os custos de formação da cultura
serão acumulados no activo imobilizado.

As despesas operacionais da actividade em produção continuam sendo lançadas como


despesas do período. As despesas operacionais que se referem ao novo projecto, após
identificação, serão acumuladas e contabilizadas em Gastos pre-operacionais (activo
diferido). Ressalte-se todavia, que a tarefa de separação dessas duas despesas,
O Docente: Paulo Rassul
quando comuns a todos os projectos, é complexa. Em virtude disso, constatando-se
que as despesas referentes ao novo empreendimento não são relevantes, é normal
apropriar tudo como despesa do período. Ou, ainda, é razoável as despesas
identificarem-se directamente com o novo projecto (pessoal administrativo que trabalha
especificamente para esse projecto, encargos financeiros concernentes ao
financiamento do novo projecto, etc.), serem activadas (diferido) e, as comuns e de
difícil rateio, serem apropriadas como despesa do período.

4.3 Desmatamento, destocamento e outras melhorias no solo para cultivo

Normalmente ao se preparar a terra bruta para agricultura, ocorre uma série de gastos,
tais como: desmatamento, destocamento, terraplanagem, desvios de leitos, de rios ou
córregos para irrigação, nivelamento do solo, etc.

Evidentemente, esses gastos não devem ser acumulados à conta «Cultura em


Formação», já que sobrecarregariam indevidamente a primeira cultura ou a primeira
safra, principalmente se se tratar de cultura temporária.

Estes gastos, normalmente, são adicionados ao valor da terra, pois são entendidos
como valorização da terra, já que a tornam agricultável.

4.3.1 Classificação no Balanço patrimonial

Dessa maneira, sugere-se contabilizar o gasto em uma conta separada do Activo


Permanente, distribuindose esse gasto entre as diversas culturas ou safras ao longo
dos anos.

A classificação no Activo Permanente é indiscutível, porquanto esses gastos beneficiam


a actividade agropecuária por diversos períodos.

A dúvida que frequentemente surge é quanto ao título ao subgrupo em que essa conta
deve ser classificada: Imobilizado ou Diferido?

Não resta dúvida de que a classificação adequada é no Activo Diferido, já que se trata
de aplicações de recursos em gastos que contribuirão para a formação do resultado de
mais de um exercício económico.

O Docente: Paulo Rassul


4.3.2 Título da Conta

Quanto ao título da conta, há algumas divergências entre os contabilistas: Benfeitorias,


Melhorias, gastos com Desmatamento ou Destocamento, Gastos Pre-Operacionais,
etc.

O termo Benfeitorias implica, na contabilidade, construções em terrenos arrendados de


terceiros e instalações ou melhorias em prédio ou edifício alugados, revertendo-se ao
proprietário do imóvel ao final da locação. Por se tratar de bens corpóreos que visam a
actividade operacional, as Benfeitorias são classificadas no Imobilizado (e não no
Diferido). Conclui-se, pelos motivos expostos, que o termo Benfeitorias é totalmente
inadequado para reflectir os gastos de destocamento estudados.

O termo Melhorias, na contabilidade, significa incremento na capacidade produtiva, que


envolve reforma significativa no Activo de propriedade da empresa, havendo alterações
técnicas e de produtividade naquele Activo. Observa-se que aqueles gastos estudados
podem ser perfeitamente adequados dentro do título Melorias no Activo Diferido.

Os outros termos estudados, embora também aplicáveis, não são tão abrangentes a
adequados como melhorias.

4.3.3 Baixa desses Gastos como Custo do Período

Os gastos denominados Melhorias serão distribuídos como custos ao longo dos anos.
Essa baixa, corresponde à distribuição do valor do capital aplicado entre várias
colheitas, e pode ser denominado amortização.

Os recursos aplicados no Activo diferido serão amortizados em prazo não superior a 10


anos, a partir da primeira cultura ou colheita, e em prazo não inferior a cinco anos.

As melhorias serão totalmente baixadas como perda do período quando as culturas,


projectos ou empreendimentos não produzirem resultados suficientes para amortizá-lo.

4.3.4 Correctivos

Os correctivos aplicados no solo, que beneficiarão vários períodos (várias culturas),


também serão classificadas no Activo Diferido e serão amortizados (distribuídos como
O Docente: Paulo Rassul
custo) de acordo com a quantidade de períodos ou número de culturas que irão
beneficiar.

4.3.5 Receitas no desmatamento e outras considerações

Normalmente a madeira que resulta do desmatamento é vendida. Esse resultado deve


ser contabilizado como recuperação de custo, abatendo (ou reduzindo) o gasto de
Melhorias.

Outros gastos referentes a cerca, instalações, bebedouros, etc., devem ser


contabilizados individualmente, e não fazem parte da conta Melhorias.

No caso de culturas permanentes, em que haja grande número de colheitas (pelo


menos cinco), esse gasto denominado melhorias poderia fazer parte do custo da
«Cultura Permanente em Formação»

Exercício de Aplicação nº 03

1. Na implementação de novos projectos, há maior dificuldade de ordem


contábil para: a) Cultura temporária
b) Cultura permanente
O Docente: Paulo Rassul
c) Ambas as culturas
d) Nenhuma cultura
2. O período de implantação de um novo projecto normalmente é
conhecido como:

a)Fase de instalação

b)Fase pré-agrícola

c) Fase Pré-industrial

d)Fase Pre-operacional

3. Os gastos pré-operacionais numa cultura permanente serão


classificados no:
a) Activo Circulante
b) Activo realizável a longo prazo
c) Activo permanente Imobilizado
d) Activo permanente diferido
4. Pela Teoria da Contabilidade, as receitas diversas na fase pré –
operacional serão classificadas na:
a) Receita Operacional
b) Conta redutora dos gastos pré-operacionais
c) Receita não operacional
d) Nenhuma das anteriores
5. No que tange a amortização dos gastos pré-operacionais na
agropecuária, os prazos mínimo e máximo serão respectivamente:
a) 5 a 10 anos
b) 5 a 15 anos
c) 10 a 20 anos
d) 10 a 25 anos
6. Desmatamento, destroncamento, nivelamento ... do solo podem ser
agrupados numa conta de:
a) Benfeitoria
b) Reforma
c) Melhoria
d) Correctivos

O Docente: Paulo Rassul


7. A conta “Melhoria do Solo” deve ser classificada no:
a) Activo circulante
b) Activo realizável a longo prazo
c) Activo permanente Imobilizado
d) Activo permanente diferido
8. Toda a receita obtida na fase pré – operacional é:
a) Isenta do Imposto sobre o rendimento
b) Tributada pelo Imposto sobre o rendimento se o resultado for
positivo, maior que o diferido
c) Tributada pelo Imposto sobre o rendimento após a primeira
colheita
d) Nenhuma das anteriores
9. A conta “Correctivos”que beneficiará várias colheitas é classificada no:
a) Activo Circulante
b) Activo realizável a longo prazo
c) Activo permanente Imobilizado
d) Activo Permanente Diferido
10. A baixa da conta “Correctivo”é:
a) De 5 a 10 anos
b) De acordo com as regras fixadas pela lei das Sociedades e
Imposto sobre o
Rendimento
c) De acordo com o número de anos ou colheitas que beneficiará
d) Todas podem ser verdadeiras

11. A Cia. Lucro Certo Agropecuária cultiva as suas terras dentro do


seguinte plano: Ano 1:

- Etapa A: espalha calcário e correctivos no solo; o benefício desses


insumos terá efeito de cinco anos.

- Etapa B: planta soja no terreno preparado.

Ano 2:

- Etapa A: Aduba o solo; o benefício previsto desse insumo é de um ano.

- Etapa B: Planta novamente soja.

O Docente: Paulo Rassul


Ano 3:

- Etapa A: Aduba o solo; o benefício será de um ano.

- Etapa B: Planta novamente soja.

Ano 4:

- Etapa A: Aduba o solo; o benefício será de um ano.

- Etapa B: Planta azevém para pastagem do rebanho.

Ano 5:

- Etapa A: Aduba o solo; o benefício será de um ano.

- Etapa B: mantém o azevém.

Nos próximos 5 anos o ciclo será repetitivo, e assim sucessivamente.

Considerando o primeiro ciclo agrícola (cinco anos), indicar, em termos


contábeis, onde devem ser classificadas as seguintes contas:

- Calcário

- Correctivo

- Adubo

Como o custo do calcário e do correctivo comporão o custo das culturas


anuais?

12. A empresa canavieira São Judas foi constituída com a finalidade de


explorar o cultivo da cana-de-açúcar. Os irmãos Joaquim Mendonça e
Manuel Mendonça integralizaram o capital de 970.000 Mt, com bens
particulares. Após a avaliação por três peritos, constataram os
seguintes bens que compõem o património:
Terrenos rurais ......................... 250.000,00

O Docente: Paulo Rassul


Instalações rurais ..................... 100.000,00

Benfeitorias rurais ................... 50.000,00

Casa de bombas ...................... 40.000,00

Electrificação rural ................. 60.000,00


Tractores ........................ 100.000,00
........
Camiões .........................
50.000,00
........
Rádio de
10.000,00
Comunicações ........
Móveis e
165.000,00
utensícios ...............
Florestas ........................
100.000,00
........
Canalização de
25.000,00
Agua ............
950.000,00
Dinheiro .........................
20.000,00
.......
Total 970.000,00

Após constituída, a empresa dará início as suas actividades, realizando as


seguintes operações até o final do exercício económico, do qual devemos apurar
o resultado.

a) Preparação do terreno para o plantio de cana-de-açúcar,


mediante a contratação de serviços de terceiros no valor de
3.000,00 pagos em dinheiro.
b) Aquisição de mudas para plantio, no valor de 80.000,00
conforme empréstimo rural obtido no Banco central, pelo prazo
de 5 anos. Os juros serão de 10% ao mês e deverão ser pagos
mensalmente até o último dia do mês.
c) Aquisição de adubos e fertilizantes, pagando 1.000,00 a vista e
o restante com prazo de 60 dias, no montante de 10.000,00.

O Docente: Paulo Rassul


d) Pagamento da mão de obra eventual para efectuar o plantio, no
valor de 2.000,00
e) Pagamento por serviço de limpeza no canavial, conforme
contratação de firma especializada,
2.000,00.
f) Venda de 20% de excedentes de mudas, com recebimento a
vista de 30.000,00.
g) Gastos com colheita e preparo da cana para venda, 2.000,00 a
vista.
h) Venda da primeira colheita; recebidos em dinheiro 250.000,00;
a quantia restante de 150.000,00 será paga dentro de 60dias.

Estão previstas mais duas colheitas nos anos seguintes.

Apresentar o Balanço Patrimonial. Após a contabilização em razões


esquemáticos, consideram-se os seguintes dados:

- Despesas de vendas: 10.800,00 já pagos.

- Despesas Administrativas: 12.200,00 já pagos.

- Despesas Financeiras: juros pagos mensalmente durante 12 meses.

Não houve amortização do empréstimo, já que no primeiro ano há uma carência


e a amortização será nos quatro anos seguintes.

- A empresa foi constituída em Julho e seu exercício económico será encerrado


em 30/6.

- A dívida com a aquisição de adubos foi liquidada; as duplicatas referentes a


venda a prazo não foram recebidas.

- Nesse primeiro exercício a empresa não fez depreciação, excepto a exaustão


da cultura de cana-de-açúcar.

13. Gastos da Cia. Cafeeira

Anos Valores Inflação Médio do Gastos pré-


ano operacionais
O Docente: Paulo Rassul
1º 150.000,00 4 % 60.000,00
ano
260.000,00 5 % 80.000,00

ano 50.000,00 4% 1ª colheita


ano
Pede-se:

a) Apresente o Activo Permanente no final do 2º ano.


b) Admitindo uma previsão de 20 colheitas, calcule o preço da primeira colheira,
no final do terceiro ano.
c) Contabilizar as operações acima. Admitindo-se que a Cia. Cafeeira inicia o
primeiro ano com 1.500.000,00 de Caixa e que todos os gastos são a vista.
Contabilize em razões esquemáticos. O capital tinha o mesmo valor que o
Caixa?
d) Apresente o Balanço Patrimonial após o terceiro ano, admitindo-se que não
houve outra operação além das descritas.
e) Esta empresa, na fase pré-operacional, deverá apurar Resultado? Porquê?
Se a sua resposta for negativa, diga quando ela será afirmativa.
5. Depreciação na Agropecuária

Depreciação, na linguajem corrente, significa o esgotamento e o desgaste de um activo.


Entretanto, no sentido contabilístico, é um encargo financeiro que se tem sobre certas
contas do Activo Imobilizado, que reflecte o custo de utilização de um activo em um
dado exercício económico, e mais, especialmente, reproduz a porção do custo
monetário original de ingresso desse activo que foi utilizado na obtenção de receitas de
um exercício económico em particular.

O termo depreciação aplica-se somente aos bens tangíveis (máquinas,


equipamentos); exaustão, aos recursos naturais exauríveis (reservas florestais,
petrolíferas) e amortização, aos bens intangíveis (marcas e patentes).

Na Agricultura, não contradizendo os conceitos expostos, a depreciação é aplicada a


culturas permanentes, tais como, florestas ou árvores e todos os vegetais de menor
porte, dos quais são extraídos apenas os frutos, sendo, ainda, empreendimento da
própria empresa.

O Docente: Paulo Rassul


A exaustão ocorre quando a árvore é cortada ou extraída do solo, como acontece com
a cana-de-açúcar. Outros exemplos seriam as pastagens e as florestas e espécies
vegetais destinadas ao corte, para industrialização, consumo, ou comercialização.

Tanto para a depreciação quanto para a exaustão, o período é determinado em função


do número de anos de produção (vida útil) e de cortes das árvores, ou da produção total
estimada. A taxa só pode ser definida por agrônomo ou pelo agricultor, que detém o
conhecimento desta informação. A depreciação só começa a incidir sobre a cultura a
partir da primeira safra.

A depreciação também é utilizada nos implementos agrícolas, como tractores,


colhedeiras, aparelhos agrícolas etc. Nesse caso, a depreciação é calculada por hora,
pois a apropriação é em decorrência do uso às respectivas culturas ou projetos.

Já a amortização, aplica-se na aquisição de direitos sobre empreendimentos de


propriedade de terceiros, apropriando-se ao longo do período contratado. Exemplo:
“...casos de aquisição de direitos de extração de madeira de floresta pertencente a
terceiros ou de exploração de pomar alheio, por prazo determinado, a preço único e
prefixado”.

5.1 Depreciação de Implementos agrícolas (tractores, máquinas, ... )

Uma das dificuldades encontradas para calcular o custo das lavouras ou das safras é o
cálculo exacto do custo dos equipamentos agrícolas utilizados na cultura agrícola.
Implementos agrícolas como tractores, colhedeiras, aparelhos agrícolas, etc., não são
utilizados ininterruptamente durante o ano, em virtude de entressafra, chuvas, geadas,
ociosidades, etc. Dessa forma, recomenda-se a apropriação da depreciação em
decorrência do uso às respectivas culturas ou projectos. Daí a necessidade de se
calcular a depreciação por hora, estimando-se um número de horas de trabalho por
equipamento, em vez da quantidade de anos de vida útil.

Assim em vez de utilizar as taxas de depreciação constantes da portaria sobre as


Amortizações e Reintegrações, na falta de melhores dados, poderemos utilizar padrões
para os países em desenvolvimento proposto pelo Programa Cooperativo do Banco
Mundial/FAO, cujas estimativas são:
• Tractores de peneus – 8.000 horas aproximadas de trabalho;
• Tractores de esteira – 9.000 horas aproximadas de trabalho

O Docente: Paulo Rassul


Propõe-se ainda ainda que após esse número de horas de trabalho, o valor residual
desse equipamento seja desprezível. Dessa forma, o cálculo da depreciação horária do
tractor ou outros implementos agrícolas seria:
Valor do equipamento
----------------------------------------------- = Valor da Depreciação por hora
Nº estimado de horas de trabalho

O cálculo do custo por hora pelo uso do tractor é obtido considerando-se as seguintes
variáveis:

Para calcular o custo por hectare, precisamos conhecer o número de horas necessárias
para passar o tractor num hectare.

Multiplicando-se o número de horas pelo custo de uma hora, temos o custo por hectare.

Normalmente, considera-se para esse cálculo o tempo improdutivo que o tractor


despende no percurso da oficina ao campo, voltas em torno do campo agrícola, trocas
de equipamentos adicionais para a tractoragem, etc. Normalmente o acrécimo de
tempo improdutivo sugerido é de 15%. Assim temos:
O Docente: Paulo Rassul
Custo por hectare (tractor + equipamentos) = {(Custo do tractor por hora + Custo do
equipamento por hora + Salário do tractorista por hora) x Número de horas trabalhadas
por hectare} x 1,15

5.2 Depreciação na Pecuária

No caso de gados reprodutores (touros e vacas), animais de trabalho e outros animais


constantes ao Activo
Permanente (por cnsiderar que se trata de activo tangível de vida útil limitada, pois com
o passar do tempo há uma perda da capacidade normal de trabalho – no caso de
animais de trabalho -, assemelhando-se nesse aspecto à perda da capacidade de
produção de uma máquina ou equipamento qualquer), as deduções dos valores são
também denominados Depreciação.

Um dos problemas da depreciação do gado de reprodução é quanto ao método a ser


itilizado, considerandose que o declínio de potencialidade de reprodução é acelerado
no final da sua vida útil. Entretanto, pela dificuldade (causada pela variabilidade das
raças, do clima, das condições de vida, das distânicas a percorrer, etc) em estabelecer
uma curva de eficiência do gado de reprodução, o método mais utilizado é o da linha
recta.

Outro problema é determinar a vida útil do rebanho. Podem-se observar variações em


regiões próximas, que oscilam de quatro a dez anos (após o início da sua reprodução).
Considerando-se a moda como medida estatística, constatam-se os seguintes prazos
de via útil:

• Gado reprodutor mestiço - cinco anos


• Gado matriz mestiça - sete anos
• Gado reprodutor puro - oito anos
• Gado matriz pura - dez anos

Ressalte-se, todavia, que o veterinário é a pessoa mais indicada para determinar a vida
útil do gado reprodutor.

Outro aspecto importante na determinação da depreciação do gado de reprodução é


que se deveria considerar o valor residual correspondente ao seu peso multiplicado
O Docente: Paulo Rassul
pelo preço por arroba que se conseguiria no frigorífico, por ocasião de sua venda, após
castrado e engordado para abate, o que acontece sempre que não é mais utilizado
como reprodutor.

Em alguns casos o touro, mesmo que não sirva para monta, é útil para o fornecimento
de sêmen (inseminação artificial), e não é descartado de imediato para a venda ao
frigorífico. O perídodo de captação do sêmen também será considerado como tempo
de vida útil para a taxa de depreciação.

Exemplo:

Valor admitir que um touro avaliado em 55.000 tenha uma vida útil estimada de oito
anos para permanecer junto às vacas para procriação (monta) e de mais dois anos
para colecta de sêmen (inseminação artificial), totalizando des anos (taxa de
depreciação: 10%). Esse touro pesa aproximadamente 800 Kg e, se fosse vendido hoje
para corte (frigorífico), valeria 6.000. Suponde-se que o seu peso deverá ser mantido
após o término da vida útil, o valor a ser depreciado será de 49.000 (55.000 – 6.000).
Assim teremos:

O Docente: Paulo Rassul


5.3 Casos de Exaustão

Se determinada empresa é proprietária de uma floresta destinada ao corte para


comercialização, consulo ou industrialização, levará a custos de cada período o
montante que expressa a parcela nela consumida. Para o cálculo do valor da cota de
exaustão será observado o seguinte critério:
• Apurar-se-á inicialmente, o percentual que o volume de recursos florestais
utilizados ou a quantidade de árvores extraídas durante o período-base
representa em relação ao volume ou à quantidade de árvores que no início do
ano-base compunha a floresta.
• O percentual encontrado será aplicado sobre o valor da floresta registada no
Activo, e o resultado será considerado como custo dos recursos florestais
extraídos.

Exemplo:

O Docente: Paulo Rassul


Para um reflorestamento que envolve 10.000 eucaliptos cujo custo da cultura formada é
de 100.000,00 mt e há um total de quatro cortes previstos, a quota de exaustão será de
25% ( 100 / 4 cortes) por corte.
Vamos supor que na primeira colheita (em andamento) até o final do exercício
económico (ano-base) houve a colheita de 4.800 árvores. Qual será o custo dos
recursos florestais extraídos?

4.800 árvores extraídas


% das árvores extraídas = ---------------------------------------------- = 0,48 = 48%
10.000 árvores da floresta total

Cálculo da exaustão 0 48% extraídas x 25% exaustão x 1.000.000 Mt = 12.000,00 , custo dos
eucaliptos extraídos

Cana do Açúcar

O custo de formação da plantação da cana de açúcar, acumulado na conta «Cultura


Permanente em formação», será registado no Imobilizado – Activo permanente e nunca
no Realizável a longo Prazo.

O canavial, uma vez plantado, poderá gerar, dependendo da região, de três a quatro
cortes (ou mais).

A quota de exaustão anual será, admitindo três cortes, de 33,33% ( se de quatro cores,
25%). Supondo que toda a extração ocorra dentro do exercício económico (ano-base),
basta multiplicar a percentagem de 33,33% pelo custo de formação da cana de açúcar
para obter-se o custo da cultura formada.

A esse custo serão somados outrso de colheita e os custos de manutenção da cultura


nesse período.

Considerando porém, que o exercício económico termine antes do ano agrícola, ou


seja, a colheita não está terminada por ocasião do final do exercício económico, há
necessidade de calcular a percentagem do volume ou a quantidade extraída em
relação à cultura total.

Pode-se neste caso, medir a área (por exemplo 1.200 hectares extraídos em relação a
um total de 2.800 hectares; o percentual para fins de cálculo é de 42,86% - 1.200/2800
– sobre os 33,33%), ou a percentagem pode ser medida em função da tonelada
extraída em relação ao total esperado, ou outros critérios.

O Docente: Paulo Rassul


Como a legislação não fixa expressamente as taxas que devem ser utilizads, há quem
use, baseado em laudo do Planalsucar, quotas de exaustão decrescentes, nos
seguintes percentuais/ano:

• 1º corte - 35.4%

• 2º corte - 25.1%

• 3º corte - 21.4%

• 4º corte - 18.1 %.
Exercício de Aplicação nº 04

1. Toda a cultura permanente, cujo produto final é o fruto, será alvo de:
a) Depreciação
b) Exaustão
c) Amortização
d) Nenhuma das anteriores
2. As taxas de depreciação numa cultura permanente, podem ser calculadas:
a) Pelo tempo de vida útil de cada espécie de cultura
b) Pela produção estimada de cada unidade durante sua vida útil
c) Pelo número de hectares
d) As alternatives a e b estão certas
3. A depreciação passa a incidir sobre a cultura:
a) A partir do plantio das sementes
b) A partir do instante em que ela está totalmente formada mas ainda
não produz c) A partir da primeira safra
d) A partir do momento em que está em formação
4. Para os gados reprodutores, animais de trabalho e outros do activo pemanente
incidem taxas de: a) Amortização
b) Depreciação
c) Exautão
d) Sobre eles não incide nenhuma taxa
5. A quotas de exaustão podem ser aplicadas em:
a) Animais reprodutores cuja fertilidade entra em declínio
b) Culturas permanentes após cada colheita dos frutos

O Docente: Paulo Rassul


c) Florestas e espécies vegetais destinadas ao corte, para industrialização,
consumo ou comercilização
d) Animais destinados para corte
6. No caso das pastagens, podem ser aplicadas taxas de:
a) Exaustão, na proporção de sua perda de potencialidade
b) Depreciação, à medida que forem consumidas pelos animais
c) Depreciação, proporcionalmente ao tempo de vida útil estimado
d) Nenhuma das anteriores
7. Para os casos de aquisição de direitos sobre empreendimentos de propriedade
de terceiros ocorre: a) Exaustão
b) Depreciação
c) Amortização
d) Nenhuma das anteriores

8. Exaustão é aplicada a:
a) Pastagem
b) Cafeeiro
c) Aquisição de direitos sobre empreendimentos de propriedade de terceiros
d) Nenhuma das anteriores
9. Depreciação é aplicada a:
a) Cana de açúcar
b) Pomares
c) Aquisição de direitos sobre empreendimentos de propriedade de terceiros
d) Nenhuma das anteriores
10. Amortização é aplicada a:
a) Palmito
b) Laranjal
c) Aquisição de direitos sobre empreendimentos de propriedade de terceiros
d) Nenhuma das anteriores

11. A Cia.Agropecuária Catalúnia utiliza no seu plano de contas o item “ Pastagens


Artificiais em Fomação” . Essa conta regista o valor de todos os gastos com a
formação das pastagens artificiais. A empresa considera que a formação da
pastagem vai desde a derrube da mata, queimada, limpeza, plantio, etc. até à
primeira limpeza de formação.

O Docente: Paulo Rassul


Adopta o sistema de que, até dois anos depois do plantio, qualquer gasto
(limpeza de formação, ressemeio, etc) deve ser incluido em “Pastagem em
Formação”. Após isso, com a pastagem formada, o valor dessa conta é
transferido para “Pastagens Artiticiais Formadas”, quando passariam a ser
utilizadas e amortizadas

Admitindo-se que o valor total da pastagem no período em formação seja de


980.000,00 Mt, que o periodo de formação da pastagem foi exactamente dois
anos e que a vida útil estimada da pastagem será de oito anos, responder as
seguintes perguntas:

a) Deve-se amortizar essa pastagem? Porquê?


b) Qual a denominação correcta, Exaustão ou Depreciação? Porquê?
c) Qual será o valor de amortização anual?
d) Se houver reforma na pastagem, o gasto concernente fará parte do
Imobilizado ou será tratado como custo?

12. A Cia. de Reflorestamento Dona Ondina, por meio de debates e orientações


fiscais, conclui que o custo de formação de florestas ou de plantações de certas
espécies vegetais que não se extinguem com o primeiro corte, mas voltam,
depois desse, a produzir novos troncos ou ramos e permitem um segundo ou até
terceiro corte, deve ser objecto de quotas de exaustão, ao longo do período total
de
vida útil do empreendimento. Devem-se efectuar os cálculos em função do
volume extraído em cada período, em confronto com a produção total esperada,
que engloba os diversos cortes. Evidentemente, as empresas que estiverem em
situações desse tipo devem munir-se de elementos hábeis às demonstrações
exigidas pelo Fisco, como, entre outros, laudos de profissionais qualificados no
ramo (engenheiros florestais, engenheios agrónomos), que possam
seguramente servir de base aos cálculos, tomando-se em consideração o
eventual decréscimo de produção após os sucessivos cortes.

Conforme laudo de engenheiros florestais, o reflorestamento Dona Ondina será


alvo de três cortes, havendo uma previsão de 2.000.000 m³. No primeiro corte,
constata-se um total de 800.000 m³ de Madeira colhida. Qual seria a taxa de
exaustão para apurar o resultado dessa primeira colheita?

O Docente: Paulo Rassul


13. Indique a seguir com um X se se trata de amortização, depreciação ou exaustão
e se o melhor critério de cálculo é por hora, volume (quantidade) ou uma taxa
anual.

Itens Depeciação Exaustão Amortização Por Por Anual


H Vol.

Palmito

Châ

Café

Gado Bovino

Pastagem

Banana

Arado

Cana de Açúcar

Colhedeira

Reflorestamento

Laranja

Direitos adquiridos de
reflorestamento de
terceiros
Gastos pré-operacionais

Uva

Guaraná

Seringueira

Suínos

Tractor

O Docente: Paulo Rassul


14. A Cia. Lojicard adquiriu um tractor de esteira por 48.000 Mt. Esse tractor tem
uma vida útil estimada em 3.000 horas. A taxa de depreciação consta nos
mapas entregues.
No primeiro ano o tractor trabalhou 100 dias, à base de quarto horas em média
por dia. Calcule a depreciação do primeiro ano:

a) Para fins de imposto sobre o rendimento;


b) Para fins de gerência
c) Para fins contábeis, considerando a taxa fixa na média indicada;
d) Consierando a tabela Americana, apresentada em anexo.

15. O touro Ferdinando, da Agropecuária Madri, será colocado na sua primeira


estação de monta, após três anos de crescimento. Seu custo total é de
60.000,00 Mt. Prevê-se que será útil para monta durante seis anos, e mais um
ano para fornecimento de sêmen. Após tudo isso será vendido ao frigorífico por
11.000,00 Mt. Calcular a primeira depreciação de Ferdinando.

Estimativa de duração de Construções e Melhoramentos


Construções e Melhoramentos Duração Taxa de
em
anos Depreciação

O Docente: Paulo Rassul


Parede de tijolos, coberta de telha 25 4%

Parede de Madeira, coberta de telha 15 6,67%

Parede de barro, coberta de telha 10 10%

Parede de barro, coberta de sapé 5 20%

Piso de tijolo, cimentado 25 4%

Melhoramentos

Linha de força e luz, telefone com postes de 30 3,33%


Madeira
50 2%
Linha de força e luz, telefone com postes de
ferro ou concreto 10 10%

Cercas de pau à pique 10 10%

Cercas de arame 10 10%

Rede de água (encanamentos) 10 10%

Cerca eléctrica

Vida média produtiva de alguns animais


Animais Vida media Taxa de
produtiva Depreciação

Anos Anual
Animais de 8 12,5%
Criação
10 10%
Bovinos
Reprodutores

Bovinos Matrizes 4 25%

Suínos

Animais de 12 8,33%
Trabalho
8 12,5%
Burro de tracção
5 20%
Cavalo de sela

Boi de carro

O Docente: Paulo Rassul


Duração média de Máquinas e Equipamentos

Itens Duração em Taxa de Depreciação


anos Anual
Tractores *

De roda 10 10%
De esteira 10 10%
Microtractor 7 14,28%
Veículos

Camião 5 20%
Carroça 10 10%
Carro de bois 10 10%
Carreta de tractor 15 6,67%
Implementos

Ancinho 12 8,33%
Arado de discos e 15 6,67%
aiveca
15 6,67%
Grade de discos
15 6,67%
Carreta com pneus
15 6,67%
Semeadeira de linhas
20 5%
Semeadeira de grãos
miúdos 12 8,33%

Cultivador 15 6,67%

Plaina 8 12,5%

Colhedora de algodão 10 10%

Colhedora de milho 10 10%

Combinada automotriz 10 10%

Combinada rebocada 20 5%

Grade de dentes e de 10 10%


molas
12 8,33%

O Docente: Paulo Rassul


Colhedeira de forragens 10 10%

Ceifadeira

Plantadeira
Bico de Pato (Planet) 5 20%

Máquina de café 10 10%

Máquna de debulhar 10 10%


milho
20 5%
Desintegrador
15 6,67%
Picadeira de forragem
15 6,67%
Motores eléctricos
20 5%
Serraria
10 10%
Pulverizador
7 14,28%
Ensiladeira
10 10%
Polvilhadeira
10 10%
Ordenhadeira
8 12,5%
Carrinho de terreiro
10 10%
Roçadeira
6 16,67%
Encerado
10 10%
Secador de cereais
3 33,3%
Saco de colheita
8 12,5%
Adubadeia
2 50%
Jacá
6 16,67%
Riscador
6 16,67%
Arreio
* Imposto sobre o rendimento- Quatro anos – 25% ao ano
Cultura Permanente N. de Taxa de
Anos Depreciação

O Docente: Paulo Rassul


Amoreira (p/bicho de seda) 20 5%

Banana 8 12,5%

Café 20 5%

Chá 20 5%

Figo 17 5,88%

Laranja 15 6,67%

Maracujá 5 20%

Pastagem formada (artificial)- 5 20%


exaustão
17 5,88%
Pêssego
20 5%
Uva
4 25%
Cana de açúcar - exaustão

Relação estimada entre a vida útil esperada e uso pelo tipo de máquina
Horas Tractor Máquina para Máquina para Máquina para
por
ano Aração-vida em plantio Colheita

Anos Horas Anos Horas Anos Horas Anos Horas

O Docente: Paulo Rassul


50 - - - - 20 1.000 - -

100 20,0 2.000 15,0 1.500 12 1.200 12,0 1.200

150 16,7 2.500 13,3 2.000 10 1.500 12,0 1.800

200 15,0 3.000 12,0 2.400 8 1.600 11,0 2.200

250 14,0 3.500 10,5 2.600 7 1.750 10,0 2.500

300 14,0 4.200 9,0 2.700 6 1.800 9,0 2.700

400 12,5 5.000 7,0 2.800 5 2.000 7,0 2.800

500 12,0 6.000 6,0 3.000 4 2.000 6,0 3.000

600 12,0 7.200 6,0 3.600 - - 5,0 3.000

800 11,0 8.800 5,0 4.000 - - 4,0 3.200

1.000 10,0 10.000 4,0 4.000 - - 4,0 4.000

1.400 7,5 10.500 - - - - - -

1.800 6,0 11.000 - - - - - -

2.200 5,0 1.500 - - - - - -

Fonte: Pearsons, Merton S. et. Al. Farm machinery; depreciacion, and replacement.
Maio 1960. 3186 – Biblioteca IEA.

O Docente: Paulo Rassul

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