Você está na página 1de 3

Quatro golpes para a morte

Personagens:

Investigador
Psicopata
Policial

Pessoa de preto 1

Pessoa de preto 2

(As mulheres de preto tem a função de mudar cenário, sonoplastia, iluminação e qualquer
outra coisa necessária ao redor dos atores e passarem despercebidas ao máximo)..

Em cena:

Uma delegacia. Deve haver uma cadeira ocupando o centro do palco, virada para a
esquerda, nela o investigador se encontra sentado, olhando para o horizonte e respirando
profundamente, nervoso e ansioso. Outra cadeira está a sua frente, vazia. Do lado direito
deve haver um corredor que leva até a porta da delegacia.

Psicopata entra pelo corredor sorrindo largo, nefasto. Policial o acompanha enquanto come
algum doce (Pode ser uma rosquinha colorida).

Policial: Cê' tem muita sorte de tá' indo pra sala de interrogatório, pelo menos lá tem ar
condicionado e você
não vai derreter que nem o sorvete de morango do Rafael. (Solta uma risada alta e bem
escandalosa) Ele manchou a cadeira de rosa com o sorvete derretido. (Ri novamente ao
que a memória o invade, agora ainda mais alto)

Psicopata: (Não reage ao policial, como se não o ouvisse, mas começa a murmurar para si
mesmo, devagar) Um... Dois... Três... Quatro... Um... Dois... Três... Quatro...

Policial: Quatro? Oh, sim! (Ri escandaloso) Foram quatro horas tentando limpar a cadeira.
(Tem dificuldade para falar de tanto rir) Usamos todo o sabonete do banheiro e ninguém
conseguiu lavar as mãos para almoçar. (Mostra uma das mais aberta para o psicopata e
continua a rir).

Psicopata: (Se mantém murmurando, porém a voz se torna mais alta e presente e a
contagem acelerar gradativamente) Um... Dois... Três... Quatro... Um, dois, três, quatro. Um,
dois, tres, quatro.

Policial: (Para a caminhada) Chegamos. (Morde o doce) Foi bom conversar com você, meu
chapa. (Bate, amigavelmente, no ombro do psicopata e vai embora pelo corredor rindo e
comendo seu doce; Se o doce chegar ao fim ele deve reclamar disso e murmurar algo
sobre comprar mais um).
Psicopata: (Para de murmurar e analisa a porta da sala de interrogatório durante alguns
segundos, agora sem sorrir, completamente sério. Ele encara a plateia, passando os olhos
entre as pessoas, e lentamente um sorriso macabro brota em seu rosto. Uma risada
discreta escapa por seus lábios antes de ele se virar para a porta e adentrar a sala).
A sala de interrogatório deve ter ar condicionado.

Investigador: (Respira fundo antes de olhar para trás e seu olhar cruzar com o do psicopata)
Entre. Sente-se.

O Psicopata dá um sorriso de lábios fechados que, claramente, tenta conter, mas não
consegue. Ele se aproxima a passos ansiosos e se senta sobre a cadeira vazia, encara o
investigador nos olhos como se o desafiasse. Ambos trocam olhares durante alguns
segundos para então o investigador estender algumas fotografias para que o psicopata
veja. As fotografias mostram o corpo de uma mulher morta, ensanguentada. Podem haver
fotos de partes específicas do corpo, mas devem ser fotos bem traumatizantes.

Investigador: Conhece essa mulher? (A única resposta que obter é a face do psicopata se
tornando séria e impassível) É minha esposa. Foi encontrada morta dentro de casa, eu
mesmo a encontrei quando voltei do trabalho. Sabe quantas vezes ela foi golpeada?

Psicopata: Quatro... (Responde interrompendo o investigador) Um... Dois... Três... Quatro...


Um... Dois... Três... Quatro... (Aos poucos sua contagem acelera e se torna mais alta,
misturando-se a uma risada) Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro. Um, dois, três,
quatro! Um! Dois! Três! Quatro! (Até que a risada se torna tão escandalosa que substitui sua
fala).

Investigador: Foram quatro vezes. (Neste momento, a luz da sala de interrogatório pisca
algumas vezes até se estabilizar) Droga, essas lâmpadas com defeito... (Volta aolhar para o
psicopata) Sim, foram quatro vezes. A arma utilizada foi...

Psicopata: Faca. De quinze centímetros.

Um silêncio carregado de tensão toma a sala, a luz torna a piscar, mas agira de forma
discreta e não arranca reação nenhuma dos personagens.

Investigador: Essa informação não foi a público.

Psicopata: (De repente, muito sério) Eu só queria me divertir. Eu nunca me diverti como as
outras crianças. Eu só queria me divertir. (Sua raiva cresce) Eu só queria me divertir! Eu só
queria me divertir! Eu só queria me divertir! (Para de repente, agora se tornando triste e
nostálgico) Eu só queria me divertir como as outras crianças se divertem.

Investigador: (Retira um par de algemas da roupa) Você está preso...

Sua voz é interrompida pelas luzes piscando uma vez mais e agora estas se apagam
durante alguns longos segundos. Quando as luzes tornam a se acender, o psicopata está
abraçado ao investigador, por trás, e tem uma faca em seu pescoço.
Alguns segundos de silêncio até que o psicopata arraste a lâmina da faca pelo pescoço do
investigador.

- Vamos nos divertir juntos? Eu sempre quis me divertir como as outras crianças fazem.

Fim.

Você também pode gostar