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A SENTENÇA

VITOR ONOFRE

QUARTO TRATAMENTO

VITOR.P2301@GMAIL.COM
A SENTENÇA
FADE IN:

INT. SALA DELEGACIA - NOITE


Um gravador de áudio portátil de fita, posto em cima de uma
mesa, reproduzindo um áudio falhado.
ÁUDIO GRAVADOR
(voz chorosa feminina)
Por favor para... Eu já falei... eu
sou só uma prostituta, esse é o meu
trabalho, eu não quero arranjar
problemas, já te disse que eu não
me envolvo com esse tipo de
cliente.
Vemos a mão de um POLICIAL, ele está com o rosto machucado
segurando o gravador em sua mão apoiado sobre uma mesa e uma
xícara de café na outra mão, o ambiente é uma sala de
interrogatório, com somente uma porta e um grande espelho em
uma das paredes. No outro lado da mesa está sentado um
SUSPEITO cabisbaixo, olhando em direção as suas mãos que
estão postas sobre a mesa e presas com uma algema, ele está
com uma jaqueta de couro e o rosto bem machucado.
O Policial encara o rosto do suspeito por algum tempo, o
homem continua olhando para baixo e em silencio, desviando do
seu olhar.
POLICIAL
O que você sabe sobre isso?
SUSPEITO
Alguém a fez gravar isso antes de
mata-la.
POLICIAL
E por que fariam isso?
SUSPEITO
Como é que eu vou saber?
POLICIAL
Não se faça de burro, o que você
estava fazendo lá?
SUSPEITO
Investigando.
2.

POLICIAL
Investigando o que espertão?
SUSPEITO
Não posso revelar dados de uma
investigação que ainda está em
andamento.
POLICIAL
Humpf.. Investigador particular?
Trabalhei com alguns, mas nunca
ouvi falar de você, da onde cê é?
O suspeito permanece em silencio, ainda olhando para baixo.
POLICIAL (CONT'D)
E o cadastro como investigador
autônomo, tu tem?

O suspeito permanece em silencio, agora batucando com os


dedos na mesa.

POLICIAL (CONT'D)
(Sarcástico)
Qual é irmão, você realmente acha
que eu sou burro o suficiente para
acreditar nessa sua historinha mal
contada? Se você fosse um
investigador vc teria ligado para a
policia na hora que viu aquele
corpo, não teria ficado parado lá
esperando ser preso. Fala logo
porque vc fez ela gravar essa fita
antes de morrer e eu talvez possa
te ajudar a sair dessa.

SUSPEITO
Já te disse que eu não a matei,
esse gravador não é coisa minha!

O Suspeito termina a frase com uma risada de escárnio.


POLICIAL
(Sarcásticamente)
Ah claro! Não foi você que matou
aquela pobre mulher não é mesmo?

SUSPEITO
Isso mesmo...

POLICIAL
E nem gravou essa fita?
3.

SUSPEITO
(Bravamente)
Já te disse que não!
O Suspeito pela primeira vez levanta seu rosto e olha
diretamente nos olhos do Policial.
Vendo a reação o Policial sorri de canto de boca.
POLICIAL
(Ironicamente)
Ahh, entendi, bom então acho que o
senhor consegue me explicar o
porque de eu te encontrar em frente
ao corpo da vítima, junto à esse
gravador, logo após receber uma
denuncia de barulhos de briga
dentro daquela casa, não é mesmo
Thiago?
O Policial se apoia na mesa se aproximando do Suspeito,
balançando o gravador em uma das sua mãos.
O Suspeito desvia o olhar novamente.
SUSPEITO
Já te expliquei, mas não é como se
fosse adiantar alguma coisa.
O Suspeito suspira, balançando a cabeça de sinal de negação.
SUSPEITO (CONT'D)
Não, não... na verdade vai adiantar
sim, vai corroborar com o seu
teatro.

O policial continua olhando para o suspeito em silêncio,


esperando que ele continue a falar.

SUSPEITO (CONT'D)
(Inquieto)
Eu já te disse, eu fui até aquela
casa para investigar, e encontrei
ela morta, com esse gravador sobre
a mesa.

POLICIAL
Que tipo de investigador entraria
na cena do crime e não contataria a
policia logo em seguida?
4.

POLICIAL (CONT'D)
O que você foi investigar lá
Thiago? Você já sabia que ela iria
morrer?

SUSPEITO
Não, minha investigação não tem
nada a ver com a morte de Izabel, e
já disse que sou proibido de
revelar dados sobre a investigação.

O Policial suspira de cansaço, se encostando na cadeira


novamente, dando um gole de café e tirando um cigarro do seu
bolso da jaqueta e o ascendendo com um Zippo, o Suspeito
encara o cigarro nervoso.
POLICIAL
Quer um cigarro?

O Policial puxa mais um cigarro do maço, segurando ele entre


os dois, atraindo a o olhar do Suspeito.

O Suspeito faz um sinal de afirmativo com a cabeça e levanta


a mão em direção ao cigarro, mas o Policial puxa o cigarro
para trás se desviando do suspeito.

POLICIAL (CONT'D)
Calma ae... cê vai fumar irmão, mas
primeiro me explica que é isso
aqui.

O Policial tira um pequeno caderno de um bolso e o poem sobre


a mesa, nesse momento o suspeito tenta pega-lo rapidamente
com as mãos algemadas, mas o policial puxa o caderno para
longe novamente.

SUSPEITO
Me devolve porra! São as anotações
da minha investigação.
POLICIAL
Investigação né? Você tá com esse
papo de investigador... Mas não tem
documento nenhum, e esse caderno
parecem mais coisa de maluco.

O Policial abre o caderno em uma página específica e mostra


para o Suspeito, é uma lista de nomes de várias mulheres os 2
primeiros estão riscados e o 3 é o de Izabel.

POLICIAL (CONT'D)
Quem são as duas primeiras?
5.

O Suspeito permanece em silencio, olhando para o caderno com


expressão de raiva.
O Policial puxa o cigarro e coloca no maço novamente, o
guardando em um bolso da jaqueta.
POLICIAL (CONT'D)
Assim fica difícil de te ajudar
parceiro, você quer sair dessa ou
não?

SUSPEITO
Se quer me ajudar começa tirando
essa porra de mim!

O suspeito levanta os braços mostrando a algema em seus


pulsos.

POLICIAL
Enquanto você for o principal
suspeito não posso fazer isso,
vamos voltar as minhas perguntas e
dependendo das suas repostas quem
sabe eu tire.

POLICIAL (CONT'D)
Você planejava matar todas elas
também? Ou não sei o que mais você
gosta de fazer com elas.

SUSPEITO
Eu não matei ninguém, responder
suas perguntas idiotas não vai me
ajudar em nada.

O policial com uma expressão de cansaço fecha o caderno


batendo ele sobre a mesa e assopra uma nuvem de fumaça no
rosto do Suspeito.

POLICIAL
Mentiroso!
O Suspeito se desvia da fumaça e volta a olhar para o
Policial com uma postura agressiva, se apoiando sobre a mesa
e encarando o Policial.

SUSPEITO
(Falando alto)
Você vai ficar com essas
brincadeirinhas até quando? Nós
dois sabemos que o mentiroso aqui
não sou eu, é obvio que não fui eu
que matei ela!
6.

POLICIAL
Por que seria?
O Suspeito abre um sorriso e se levanta.
SUSPEITO
(Raivoso)
Aquela mulher tava com um furo na
cabeça! E por acaso o cê encontrou
alguma arma comigo na cena do
crime? Você acha que eu furei a
testa dela com o meu dedo porra?
O Suspeito termina a frase mostrando o dedo do meio, e o
Policial percebendo que a situação está saindo do controle da
um passo para trás e posiciona a mão direita em seu coldre
estendendo o braço esquerdo na direção do suspeito, com a mão
espalmada.
POLICIAL
Peço que o senhor se sente, nosso
interrogatório ainda não terminou,
minha equipe está investigando a
cena do crime em busca da arma ou
evidências.
SUSPEITO
(Provocando)
Ah, eu acho que já acabou sim, você
não vai achar nenhuma arma minha
lá... talvez não além da que você
mandou sua equipe plantar é claro.
O Policial faz uma expressão de raiva, e aperta sua mão em
volta da empunhadura da arma.
POLICIAL
(Irritado)
Senta porra!
O Suspeito suspira indignado e puxa a cadeira bruscamente, se
sentando novamente.
SUSPEITO
Me da um cigarro logo.
O Policial o ignora, sentando devagar na cadeira encarando o
suspeito de forma ríspida.
POLICIAL
Que papinho de plantar arma é esse?
Você tem noção do que tá
insinuando?
7.

SUSPEITO
É isso mesmo que você entendeu seu
corrupto nojento, eu já saquei o
seu jogo, você deveria ter pensado
melhor na hora de armar a
armadilha, e ter riscado o número
de série do seu batalhão de trás
desse gravador.
O Suspeito empurra o gravador em direção ao policial.
O Policial com expressão de confusão pega o gravador em cima
da mesa e confere a pequena logo adesivada atrás do
equipamento, ele parece entender algo e fica mais irritado,
joga o gravador longe e puxa o suspeito pelo colarinho,
ficando cara a cara com ele.
POLICIAL
(Gritando)
Que merda é essa? Aonde você
conseguiu isso?
O Suspeito ri na cara do Policial.
SUSPEITO
Burro!
O Policial aperta o colarinho da camisa do suspeito em volta
de seu pescoço, o enforcando.
POLICIAL
(Raivoso)
Para quem você trabalha seu rato
filho da puta? Quem foi que te
mandou aqui?
SUSPEITO
(Surpreso)
Você sabe muito bem que ninguém me
mandou aqui, acabe logo com esse
seu joguinho idiota.
POLICIAL
(Gritando)
Mentira!
O Policial empurra o pescoço o suspeito para longe, o fazendo
bater contra o encosto da cadeira e quase cair no chão.
O Suspeito se segura na mesa assustado, recuperando seu
folego e olha surpreso para o Policial.
8.

O Policial controla sua respiração e arruma seu cabelo, se


recompondo, e olha cauteloso em direção ao grande espelho na
lateral da sala.
POLICIAL (CONT'D)
(Ameaçando)
Vou te falar o seguinte porra, você
sabe muito bem que se eu quiser eu
te jogo dentro de uma cela cheia de
vagabundo igual tu na hora que eu
quiser, e com essas tuas anotações
aqui não fica difícil te passar
como estuprador... cê sabe oque
isso significa na cana né?

SUSPEITO
(Provocando)
E você esta preparado para mandar
um homem inocente para ser abusado
na cadeia?

POLICIAL
Humpf.. Inocente o caralho!

O Policial puxa pega o maço de sua jaqueta e puxa mais um


cigarro, colocando na boca e ascendendo com o Zippo
novamente. Encara o suspeito por alguns segundos e joga outro
cigarro em cima da mesa para ele pegar.

O Suspeito pega o cigarro rapidamente como um animal faminto


e o coloca na boca, desajeitado por conta das algemas, e
aponta com as mãos em direção ao Zippo na mão do Policial.

O Policial insinua um riso de zombaria, guarda o Zippo no


bolso da jaqueta, e depois de algum tempo tateando o bolso de
sua calça, joga um pequeno isqueiro Bic branco sobre a mesa.

O Suspeito pega o isqueiro e tenta ascender o cigarro, a


pedra roda algumas vezes soltando faísca mas sem sucesso em
ascender a chama, após algumas tentativas falhas, a chama se
ascende.
FADE OUT:

“PARA EXISTIR O INOCENTE, É PRECISO EXISTIR O CULPADO.”

FIM

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