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Brazilian Journal of Animal and Environmental Research

Benchmarking dos indicadores econômicos entre a produção orgânica de leite e


o sistema convencional com produtividade similares

Benchmarking of economic indicators between organic and conventional milk


production with similar productivity
DOI: 10.34188/bjaerv3n2-030

Recebimento dos originais: 20/01/2020


Aceitação para publicação: 30/03/2020

Thérèsse Camille Nascimento Holmström


Mestre em Produção Animal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, IZ-DPA
Instituição: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Endereço: Rodovia BR 465, Km 07, s/n Zona Rural, Seropédica - RJ, 23890-000
E-mail: theresseholmstrom@yahoo.com.br

Dayane Aparecida Santos


Mestre em Produção Animal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, IZ-DPA
Instituição: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Endereço: Rodovia BR 465, Km 07, s/n Zona Rural, Seropédica - RJ, 23890-000
E-mail: dayane.a.s@hotmail.com

Nelma Pinheiro Fragata Beltrão


Mestre em Produção Animal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, IZ-DPA
Instituição: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Endereço: Rodovia BR 465, Km 07, s/n Zona Rural, Seropédica - RJ, 23890-000
E-mail: fragatta1@hotmail.com

Fernanda Giácomo Ragazzi


Doutora em Produção Animal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, IZ-DPA
Instituição: Universidade Iguaçu
Endereço: BR-356, 02 - Cidade Nova, Itaperuna - RJ, 28300-000
E-mail: ragazzi.fernanda@gmail.com

Elisa Cristina Modesto


Doutora em Zootecnia pela Universidade Estadual do Maringá
Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Endereço: Av. Paulo Gama, 110 Secretaria de Comunicação Social - 8º andar - Reitoria -
Farroupilha, Porto Alegre - RS, 90040-060
E-mail: ecmodesto@gmail.com

RESUMO
Na agropecuária nacional, a produção orgânica de leite é um processo, com escassas informações
sobre sua viabilidade econômico-financeira. E isso pode ser explicado pela pouca oferta dos
produtos orgânicos no mercado e pelo pagamento diferenciado dos mesmos. Outro fator que pode
estar contribuindo negativamente para este quadro são os custos mais elevados em comparação ao
sistema convencional de produção de leite. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a viabilidade
da produção de leite no sistema orgânico, comparando os indicadores econômicos com o sistema
convencional de produção, utilizando a ferramenta Benchmark em propriedades com número de
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vacas lactantes similares. Os indicadores econômicos analisados foram: margem bruta (R$/L/dia);
margem bruta (R$/ano); margem líquida (R$/L); margem líquida (R$/ano); margem líquida (R$/ha),
custo médio (R$/L), retorno sobre o capital investido (%), receita total (R$/L) e fluxos de caixa
(R$/ha/L). Como resultados, a propriedade orgânica teve R$ 0,20/L e R$89.060,00/ano para
margens brutas e -R$0,21/L, -R$93.513,00/ano; -R$10,47/ha para margens líquidas. Observa-se que
a fazenda orgânica apresenta o segundo melhor desempenho nas duas margens brutas, sendo os
valores positivos por litro de leite, por ano. No entanto, no caso das margens líquidas, observa-se
um resultado negativo por litro de leite, por ano e por área. Nas margens líquidas, a propriedade
orgânica ficou em quinto lugar por litro de leite, ano e área. Considerando o custo médio do litro do
leite, a propriedade orgânica ficou na quarta colocação, abaixo de três propriedades convencionais.
Apesar de possuir muitos entraves para sua produção, ainda assim, nesta comparação, a propriedade
orgânica ficou em melhor colocação do que três propriedades convencionais de similar tamanho, ou
seja, conseguiu manejar o sistema de forma sustentável e bem competitiva com o sistema
convencional. O retorno sobre o capital investido da propriedade leiteira foi negativo, possuindo o
segundo menor RCI comparado às outras propriedades convencionais. O retorno sobre o capital
investido da propriedade leiteira foi negativo, possuindo o segundo menor RCI comparado às outras
propriedades convencionais. Se faz necessário advertir que a propriedade orgânica vende produtos
lácteos e na tabela a comparação é por leite fluido, o que torna a comparação injusta já que, como
alegado anteriormente, uma vez que, por vender derivados, o litro do leite é muito mais elevado do
que os meros R$ 1,20 que lhe é atribuído no trabalho para efeito de comparação e análise de
viabilidade do sistema. A receita total por litro de leite da propriedade orgânica foi a segunda mais
alta, sendo menor em R$ 0,15 em comparação com a propriedade de maior RT. Quando comparada
com as outras propriedades, foi maior em R$ 0,02 em relação à segunda fazenda convencional com
o maior RT, e em R$ 0,30 comparado com a fazenda convencional de menor RT, mostrando que o
retorno financeiro seria de R$ 0,15 no leite orgânico, R$ 0,26 e -R$ 0,70, respectivamente para as
propriedades citadas. Se o preço do leite fosse atribuído ao valor que a fazenda realmente recebe
por litro, essa situação mudaria, observando que a correção das margens líquidas com base nesse
valor real do litro de leite, nas margens por litro de leite, por ano e por área seria de R$8,54;
R$3.480.582,00 e R$ 139.223,28, respectivamente e o fluxo de Caixa em reais e em reais por hectare
por mês seria R$ 246.492,89 e R$ 9.859,71, respectivamente. Portanto, pode-se concluir que a
produção de leite no modelo orgânico é sustentável, demonstrando a competitividade do sistema
orgânico em relação aos sistemas convencionais, quando a base de comparação é o número de vacas
lactantes de cada propriedade.

Palavras-chave: margem bruta, margem líquida, número de vacas em lactação, produtividade e


sustentabilidade

ABSTRACT
In national agriculture, organic milk production is a process, with information on its economic and
financial viability. This can be explained by the low supply of organic products on the market and
the different payment for them. Another factor that may be contributing negatively to this scenario
is the higher costs compared to the conventional milk production system. The objective of the
present work was to evaluate the viability of milk production in the organic system, comparing the
economic indicators with the conventional production system, using the Benchmark tool in
properties with similar number of lactating cows. The economic indicators analyzed were: gross
margin (R $ / L / day); gross margin (R $ / year); net margin (R $ / L); net margin (R $ / year); net
margin (R $ / ha), average cost (R $ / L), return on invested capital (%), total revenue (R $ / L) and
cash transfers (R $ / ha / L). As a result, an organic property had R $ 0.20 / L and R $ 89,060.00 /
year for gross margins and -R $ 0.21 / L, -R $ 93,513.00 / year; -R $ 10.47 / ha for net margins.
Note that an organic farm has the second best performance on both gross margins, with positive
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values per liter of milk, per year. However, in no case of net margins, note a negative result per liter
of milk, per year and per area. On the net margins, organic ownership came in fifth place per liter
of milk, year and area. Considering the average cost of a liter of milk, the organic property ranked
fourth, below three conventional properties. Despite having many obstacles to its production, even
so, in this comparison, the organic property was in a better position than three conventional
properties of similar size, that is, it managed to manage the system in a sustainable and very
competitive way with the conventional system. The return on invested capital of the dairy property
was negative, having the second lowest RCI compared to other conventional properties. The return
on invested capital of the dairy property was negative, having the second lowest RCI compared to
other conventional properties. It is necessary to warn that the organic property sells dairy products
and in the table the comparison is for fluid milk, which makes the comparison unfair since, as
previously stated, since, by selling derivatives, the liter of milk is much higher than the mere R
$ 1.20 attributed to him at work for the purpose of comparison and analysis of the system's viability.
The total revenue per liter of milk from the organic property was the second highest, being lower
by R $ 0.15 compared to the property with the highest RT. When compared to the other properties,
it was R $ 0.02 higher than the second conventional farm with the highest RT, and R $ 0.30
compared to the conventional farm with the lowest RT, showing that the financial return would be
R $ 0.15 in organic milk, R $ 0.26 and -R $ 0.70, respectively for the properties mentioned. If the
price of milk were attributed to the value that the farm actually receives per liter, this situation would
change, noting that the correction of the net margins based on this real value of the liter of milk, in
the margins per liter of milk, per year and per area would be R $ 8.54; R $ 3,480,582.00 and R
$ 139,223.28, respectively, and the cash flow in reais and reais per hectare per month would be R
$ 246,492.89 and R $ 9,859.71, respectively. Therefore, it can be concluded that milk production in
the organic model is sustainable, demonstrating the competitiveness of the organic system in relation
to conventional systems, when the basis of comparison is the number of lactating cows in each farm.

Keywords: gross margin, net margin, number of lactating cows, productivity and sustainability

1 INTRODUÇÃO
O Brasil se destaca no cenário mundial por ter uma produção no espaço rural basicamente
desenvolvido para a atividade agropecuária, sendo um dos países mais fortes na pecuária, com
relevância do abastecimento do mercado interno e produção para exportação. Com essa importância,
o país possui um dos maiores rebanhos bovinos do mundo, com mais 213 milhões de cabeças e o
maior rebanho comercial do mundo com 195,5 milhões de animais, segundo o IBGE (2020). A
produção leiteira foi maior do que 33 bilhões de litros de leite em 2018, tendo apenas São Paulo
contribuído com 4,8% comparado ao Brasil e 14,8% comparada a região Sudeste (IEA, 2020).
As variações de preços do leite ao longo da cadeia são muito discutidasentre os produtores,
pois esse indicador planeja a gestão da atividade e afeta diretamente na sua renda bruta (ROCHA &
CARVALHO,2019). Se tratando de leite orgânico, esta variação é maior, uma vez que ainda não
tem diferenciação de tabelas com manejo diferente do tradicional, o que pode ser um entrave ao
produtor. No Brasil, a produtividade por vaca em 2017 foi de 1.963Kg de leite (LEITEet al, 2019),

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mostrando a importância desse parâmetro quando se analisa a eficiência da propriedade. Os dados


para propriedade orgânica de leite são escassos e não se tem relatado sua produtividade.
A demanda crescente por alimentos saudáveis impulsiona a pecuária orgânica produzido no
Brasil e no mundo, para consumo interno ou exportação. Estudo feito pelo IPEA (2020) mostra que
a demanda mundial tende a se ampliar nos próximos anos. Embora siga a tendência mundial, a
produção orgânica no Brasil ainda enfrenta desafios como a falta de informações suficientes para
acompanhamento, consulta e planejamento dessa atividade. Estima-se que cerca de 240 produtores
sejam adeptos do modelo de manejo orgânico do rebanho, com um total de 2.070 vacas e 6,8 milhões
de litros de leite por ano, segundo pesquisador da Embrapa Cerrados (SNA, 2014).
O que se observa é uma constante demanda por esses produtos e ainda uma baixa adesão,
principalmente por falta de capacidade técnica especializada, dados econômicos incentivando esse
manejo, dificuldades de encontrar insumos, entre outros.
O presente trabalho teve como objetivo analisar e avaliar a viabilidade da produção de leite
em sistema orgânico, comparando técnico e economicamente ao sistema convencional de produção,
utilizando a ferramenta Benchmark em propriedades com características de tamanho de rebanho
leiteiro semelhantes.

2 MATERIAL E MÉTODOS
A comparação usando Benchmarking se deu em uma fazenda de produção orgânica
(Propriedade A) e seis fazendas de produção convencionais (Propriedades L,M, N, O, P e Q)
localizadas no estado de São Paulo. O banco de dados possuía cerca de 3259 fazendas e os critérios
de seleção foram o número suficiente de características semelhantes às da propriedade orgânica,
principalmente em relação ao tamanho do número de vacas em lactação, criação semi-intensiva,
clima, raça dos animais e região onde estavam localizados, evitando assim muitas variáveis.
A propriedade A possui 102 hectares (ha), dos quais 25 ha são utilizados na produção de
leite orgânico, 32 ha de Área de Proteção Permanente (APP) e Área de Reserva Legal (ARL), o que
significa que são áreas protegidas nas quais a vegetação nativa deve ser preservada. Possui
Certificação com o selo orgânico (BRASIL, 2003), atendendo a todos os requisitos da legislação. O
rebanho leiteiro é constituído por animais das raças Gir, Jersey e Holandesa, incluindo cruzamentos
dessas raças. Os animais são mantidos em um sistema semi-intensivo de pastejo rotacionado e a
dieta consiste predominantemente em pastagens de Tifton-85, Pennisetum purpureum Schum e
sorgo. Os animais são suplementados com silagem de cana de açúcar e sal mineral, porémsem
alimentos transgênicos no orgânico. Seus produtos são vendidos no sudeste do Brasil.

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Para analisar a viabilidade das propriedades orgânicas em relação às convencionais, foi


avaliadoos valores de margens e os indicadores econômicosem planilhas do Excel®. Esses valores
foram atribuídos com base no preço médio que o CEPEA / ESALQ pago ao produtor de sistemas
convencionais, considerando R$1,00 o preço de um litro de leite, mesmo que não seja o valor real
recebido pelo sistema orgânico. Foram analisados os dados de características físicas da fazenda,
máquinas e equipamentos, pecuária, produção de leite, investimentos, pagamento de dívidas, custos
totais, receita e aluguel por 12 meses (2013-2014) e comparados entre as propriedades selecionadas.
Os indicadores de margem analisados foram: 1) Margem Bruta Diária (MBD (R$/L/dia)) =
Receita Bruta (vendas de leite + venda de produtos + venda de animais) Custos Operacionais Diários
menos efetivos (COD = custos agregados relacionados a os animais); 2) Margem Bruta Anual (MBA
(R$/ano)) = MBD mais todos os outros custos agregados, como inseminação artificial, transporte,
impostos e taxas, reparos e melhorias, etc., multiplicados pela produção anual total; 3) Margem
Líquida Diária (R$/L) = Receita Bruta menos Custos Operacionais Totais (COT menos COD + mão
de obra doméstica + depreciação de máquinas); 4) Margem Líquida Anual (R$/ano) = Margem
Líquida Diária (R$/L) multiplicada pela produção anual total; 5) Margem Líquida por Hectare
(R$/ha) = Produção diária por vaca em lactação (litros/vaca/dia) = produção diária de leite / número
de vacas em lactação; 6) A metodologia de custeio foi baseada no custo operacional (HOFFMAN
et al. 1987) e nos métodos de custo total. Outros indicadores analisados foram: 1) Custo Médio
(R$/L) = COT + retorno do capital médio investido em animais, benfeitorias, máquinas, forragens
não anuais divididas pelos bens produzidos; 2) Retorno do capital investido (%) = rentabilidade
como um percentual do capital investido; 3) Receita total (R$/L) = venda de produtos; 4) Fluxo de
caixa (R$) = custo total menos receita total e 5) Fluxo de caixa mensal (R$/ha/mês) = fluxo de caixa
por área implantada na produção orgânica.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados de margens bruta por litro de leite e por ano, bem como as margens líquidas
por litro de leite, por ano e por área, influenciadas pelo rebanho leiteiro da propriedade, podem ser
visualizados na Tabela 1. Nota-se que a fazenda orgânica tem o melhor desempenho quantos às
margens brutas, ficando empatado com uma propriedade convencional, sendo os valores positivos
tanto por litro de leite, quanto por ano. Mas verificando-se os valores de margens líquidas, observa-
se resultado negativo por litro de leite, por ano e por área. Na ML, a propriedade orgânica ficou em
penúltima, última e penúltima colocações, respectivamente para margens por litro de leite, por ano
e por área.

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Tabela 1. Margens brutas (MB) e margens líquidas (ML) das propriedades com números de vacas lactantes similares
MB MB ML ML
Propriedade ML (R$/ha)
(R$/L/dia) (R$/ano) (R$/L) (R$/ano)

A 0,20 89.060,00 -0,21 -93.513,00 -10,47


L 0,20 77.680,51 0,15 58.033,53 109,83
M 0,21 54.440,12 0,09 22.372,87 58,84
N -0,02 -6.034,33 -0,14 -40.456,03 -0,76
O 0,27 115.426,95 0,21 88.866,25 261,76
P 0,72 135.043,86 0,70 132.403,86 711,95
Q -0,30 -73.407,52 -0,35 -85.851,57 -423,31

Com relação às medidas de eficiência econômica, margem bruta, líquida, resultados de


pesquisas têm mostrado que a atividade leiteira apresenta um resultado positivo (MORAES et al,
2004; OLIVEIRA et al, 2007). Quando se trata de sistema orgânico espera-se resultados negativos,
pois, pelo menos, em seu início de implantação os custos são altos, principalmente por conta dos
insumos, onde há uma necessidade de se especializar melhor com técnicas e manejo de pastagens e
consórcios com gramíneas e leguminosas, além de adubações orgânicas. O uso de raças de animais
mais adaptados ao ambiente também se faz necessário, uma vez que medicação profilática alopática
não pode ser utilizada.
Nesta tabela, é interessante lembrar que se trata de um valor do litro de leite atribuído, uma
vez que foram calculados com base no valor monetário vendido do leite convencional. Lembrando
que corrigindo os resultados das margens líquidas com base nesse valor real do litro de leite, as
margens seriam R$ 8,54; R$ 3.480.582,00 e R$ 139.223,28, respectivamente para margens líquidas
por litro de leite, por ano e por área.
Produzir leite orgânico no Brasil compensa uma vez que por pesquisas desenvolvidas
identificou-se que a remuneração do capital é de 5% ao ano, maior do que aquela obtida no sistema
convencional 2% ao ano, mesmo ocorrendo uma Redução de produtividade por vaca (33%); da terra
(63%); da mão-de-obra (47%) e aumento do custo total por litro de leite em 50%, porém o valor
agregado do produto dependendo da região varia de 50 a 70% a mais do que o valor do leite
convencional. Para que seja economicamente viável é necessário um preço ao produtor seja 70%
superior ao praticado para o leite convencional (AROEIRAet al., 2005).
Os resultados para o retorno sobre o custo médio, o capital investido, sobre as receitas e
fluxo de caixa da atividade em propriedades com número de vacas lactantes similares podem ser
vistos na Tabela 2. Considerando o custo médio do litro do leite, a propriedade orgânica ficou na
quarta colocação, abaixo de três propriedades convencionais. Apesar de possuir muitos entraves

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para sua produção, ainda assim, nesta comparação, a propriedade orgânica ficou em melhor
colocação do que três propriedades convencionais de similar tamanho, ou seja, conseguiu manejar
o sistema de forma sustentável e bem competitiva com o sistema convencional. O retorno sobre o
capital investido da propriedade leiteira foi negativo, possuindo o segundo menor RCI comparado
às outras propriedades convencionais. Se faz necessário advertir que a propriedade orgânica vende
produtos lácteos e na tabela a comparação é por leite fluido, o que torna a comparação injusta já
que, como alegado anteriormente, uma vez que, por vender derivados, o litro do leite é muito mais
elevado do que lhe é atribuído no trabalho para efeito de comparação e análise de viabilidade do
sistema.
A receita total por litro de leite da propriedade orgânica foi a segunda mais alta, sendo menor
em R$ 0,15 em comparação com a propriedade de maior RT. Quando comparada com as outras
propriedades, foi maior em R$ 0,02 em relação à segunda fazenda convencional com o maior RT, e
em R$ 0,30 comparado com a fazenda convencional de menor RT, mostrando que o retorno
financeiro seria de R$ 0,15 no leite orgânico, R$ 0,26 e -R$ 0,70, respectivamente para as
propriedades citadas.

Tabela 2. Custo médio (CM), retorno sobre o capital investido (RCI), receita total (RT) e fluxos de caixa (FC) das
propriedades com números de vacas lactantes similares
CM RCI RT FC FC
Propriedade
(R$/L) (%) (R$/L) (R$) (R$/ha/mês)

A 1,00 -0,34 1,15 -191.989,14 -639,96


L 1,04 0,68 1,30 -34.216,94 -698,30
M 0,96 0,26 1,09 -18.917,21 -556,39
N 1,21 -0,01 1,06 -26.525,26 -7,43
O 0,87 1,25 1,08 -27.059,48 -751,65
P 0,15 0,06 0,85 -1.724,39 -118,92
Q 1,48 -1,10 1,13 -29.115,71 -1.712,69

Como no sistema orgânico não é possível otimizar o espaço de criação por conta da
legislação de orgânicos e os animais devem ter manejo de criação semi-intensiva (BRASIL, 2011),
os resultados são sugestivos de que, quando o benchmark é com base no número de vacas em
lactação, os custos da propriedade de sistema orgânico ficam maiores comparativamente ao sistema
convencional, cujas fazendas podem maximizar o número de vacas lactantes sem preocupações de
natureza legal ou regimental.

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Diversos estudos (CARVALHO, 2000; RUBEZ, 2003) têm evidenciado que o Brasil possui
as melhores características para dominar o mercado exportador de lácteos. A disponibilidade de
áreas agricultáveis aliada à abundância de água doce são fatores determinantes para colocar o Brasil
como destaque. Contudo, em diversos fóruns do setor, o tema referente à qualidade do leite e a
garantia de sanidade são colocados como barreiras para o país alcançar esse patamar e o orgânico
com uma legislação específica, principalmente para a parte sanitária se enquadraria perfeita nesse
tópico.
Os resultados para o fluxo de caixa em reais e em reais por hectare por mês da propriedade
orgânica a colocam na última e na quarta colocação, respectivamente. Mas quando se calcula com
base nos valores reais de produção de derivados lácteos, estes parâmetros são positivos, sendo
R$246.492,89 e R$ 9.859,71, respectivamente, exibindo um retorno financeiro efetivamente maior
do que aquele visto na tabela acima. De acordo com BASTOS et al.(2019), o maior fluxo de caixa
mostra um maior retorno para a atividade. Uma das formas de medir se a atividade está crescendo,
ou não, é avaliando seu fluxo de caixa. No orgânico, recursos disponíveis estão sendo suficientes
para cobrir as despesas para a execução da atividade leiteira, pois está tendo um fluxo de caixa bem
maior do que esperado e comparado com o de sistema convencional.

4 CONCLUSÃO
A produção de leite no modelo orgânico, quando calculada com o valor real de venda no
mercado, é sustentável do ponto de vista econômico, sendo uma alternativa viável para os produtores
de leite.
É necessário continuar pesquisando para melhorar e disseminar técnicas e práticas orgânicas,
pois os estudos são raros.

AGRADECIMENTO
Os autores agradecem o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq) deste trabalho. Especialmente para Edinaldo da
Silva Bezerra (†) por todas as orientações e ensinamentos.

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REFERÊNCIAS

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