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FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
Curso de Mestrado 2002 / I o semestre
Linha de Pesquisa: Meios de Comunicação e Processos de Significação
Orientador: Professor Doutor Denilson Lopes
Orientador
Membros
Agradecimentos
Por fim, agradeço àqueles que com suas idéias, seu trabalho ou com
suas vidas contribuíram e contribuem para a melhoria da qualidade de vida de
gays, lésbicas e de todos que sofrem discriminação por amarem pessoas do
mesmo sexo.
6
Resumo
Abstract
It stems from interviews held with individuais present in the first photograph
of a GAI meeting and from my own participation in the group. It begins with
aspects of our life stories and highlights our passage through the group.
The struggle for visibility and the creation of points of reference drawn up
from the point of view of the “homosexuais”, mostly in the mass media, which
would come to characterize this strategy, came to be seen as fundamental in
the reordering of several discourses about “homosexualities” - that is,
relations based on sexual orientation, relations of power. They understood
that at that moment, the association homosexuality-death-AIDS sought to
undermine their very right to existence. The attempt would be to take a
stance, on the symbolic plane, of speaking as equals with “heterosexualities”.
8
índice
1. 1 Apresentação..........................................................................................11
2. 1 Motivações...............................................................................................17
3. 1 Pesquisa...................................................................................................19
Foto 19
Entrevistados 22
Relatos 24
Nomes e Imagens 27
Material de Campo 29
4. 1 Introdução................................................................................................34
4. 3 Alguns Dados..........................................................................................37
4. 5 Mito de Origem........................................................................................41
San Francisco 41
Gapa 42
Jornal Nós Por Exemplo 43
A AIDS Chega Perto 43
O Arco-Íris 44
Uma Visita 48
5. 1 Confrontos.............................................................................................. 49
5. 2 Histórias 49
Família 49
Escola 55
Histórias Brasileiras: Téo, John, Cláudio 57
5. 3 Ser Viado. 66
9
5. 4 Alternativas, Caminhos........................................................................... 72
MPB. O Espaço da Música 72
Código de Reconhecimento 73
O Dizer Não Era Possível 75
A Caminho da Cidade Grande 76
Acampamentos 77
Carnaval 77
Boates 78
Ecos de Fora 80
Jornal Lampião 81
Desalento 82
8. 1 Bibliografia........................................................................................... 147
Anexos............................................................................................................152
10
1.1 Apresentação.
“Mais um Boiola Assassinado”, foi mais ou menos dessa forma que vi,
no final dos anos 70, estampada na primeira página do jornal carioca “O Dia”
o bárbaro assassinato de um colega do Banco do Brasil com quem eu
convivia.
Não demora muito, nos anos 80, surge a AIDS: câncer gay, peste gay,
sangue bom, sangue ruim, e novamente outra cadeia de associações negativas
relacionadas às homo ssexualidades.
1 Representações para Chartier (1990: 17,18) são “as matrizes dos discursos e de práticas diferenciadas... São
classificações, divisões, delimitações que organizam a apreensão do mundo social como categorias
fundamentais de percepção e de apreciação do real. São percepções sociais... São estes esquemas intelectuais
incorporados que criam as figuras graças às quais o presente pode adquirir sentido, o outro tornar-se
inteligível e o espaço decifrado... As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à
universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as
foijam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem os
utiliza.”
13
Minha intenção é contar uma história dos gays2 brasileiros, tendo como
base de observação a memória de alguns gays e lésbicas que passaram pelo
GAI no momento em que ele se iniciava, respeitando suas próprias
construções do passado e considerando que exercer o direito de construir a
própria memória é um ato de cidadania.
Os relatos colhidos foram e são úteis para ilustrar como esses indivíduos
retrataram suas experiências. São importantes para podermos entender as
outras pessoas e para ampliarmos o conhecimento sobre a realidade social
vivenciada pelos homossexuais. Mais do que contar uma história individual,
essas narrativas contam a história do grupo ao qual se pertence e podem servir
de estímulo a mudanças sociais.
Para finalizar esta apresentação, esclareço que optei por incluir a auto-
representação como argumento crítico e como representatividade política5,
inserindo-me nas reflexões a partir da primeira pessoa do singular. A
importância da crítica pessoal, no caso, reside no fato de revelar aquilo que
está subsumido no discurso masculino heteronormativo, que constitui para as
mulheres heterossexuais, gays, lésbicas etc. a omissão, a invisibilidade, o
silêncio. A crítica pessoal vai contra a linguagem da abstração e contra as
teorias masculinas heterossexuais que estabelecem uma universalidade no
discurso do conhecimento, que não considera as diversidades.
2.1 Motivações
3.1 Pesquisa
Foto
Quase todos ainda eram (são) meus amigos, pessoas às quais eu teria
fácil acesso. Dois deles continuavam ligados organicamente ao grupo; os
outros, embora não estivessem mais participando, acompanhavam à distância
as atividades do GAI, em função dos laços de amizade.
8 “Para Franco Ferrarotti, por exemplo, cada vida pode ser vista como sendo, ao mesmo tempo, singular e
universal, expressão da história pessoal e social, representativa de seu tempo, seu lugar, seu grupo, síntese da
tensão entre a liberdade individual e o condicionamento dos contextos estruturais. Portanto, cada indivíduo é
uma síntese individualizada e ativa de uma sociedade, uma reapropriação singular do universo social e
histórico que o envolve.” (Goldenberg, 1998: 36,37)
9 Ver tabela (anexo 01) com dados sociográficos dos entrevistados.
50 Por ocasião da entrevista, Rosângela Castro era a vice-presidente do Arco-Íris.
22
Entrevistados
Tomei como referência o ano de 1993, em que a foto foi tirada, para
apresentar esquematicamente os dados sociográficos dos entrevistados, ou
seja, os dados dos presentes na foto que eu consegui entrevistar, mais os de
Cláudio e Rosângela.
Caê, Pedro, José Carlos e Sílvio eram amigos meus há muitos anos,
desde os tempos dos acampamentos decorrentes do movimento hippie. Os
quatro participaram, assim como Luiz e eu, de um grupo de dança afro-
brasileira, o “Ilê-Ofé”. Para aquela reunião, Pedro levou um amigo. Sílvio foi
com o namorado, e José Carlos, com o irmão. John, namorado de Caê, tinha
um amigo chamado Márcio, que foi com ele.
Todos éramos gays (ou lésbica). Esse foi um dos laços mais fortes que
nos aproximaram.
Relatos
12 Uma boa referência sobre essa discussão pode ser encontrada em Reed-Danahay (1997).
26
Nomes e Imagens
14 Durante os primeiros anos, o GAI sobreviveu de doações espontâneas dos participantes de suas reuniões.
Os que contribuíam regularmente depositavam os valores diretamente no banco através de uma guia de
depósito pré-impressa, onde constavam o nome e a conta do grupo.
29
Material de Campo
“Eu faço parte dessa história” afirma Caê, já no início de sua entrevista.
Essa observação alertou-me para a direção que o trabalho iria tomar e a função
que ele passou a ter, a de colaborador fundamental na construção de um mito
de origem, um mito fundador do GAI. A despeito das várias trajetórias
individuais e das inúmeras significações atribuídas ao GAI, para alguns
entrevistados, este trabalho gerou uma expectativa de referencialidade à
história do Grupo. A frase de Caê transcendeu sua própria história e a do GAI.
A intuição dele apreendeu que sua trajetória pessoal refletia uma história
coletiva, mais ampla.
Para melhor situar os relatos, após cada um, registrarei o nome de quem
fala, sua idade à época, a cidade e o ano ao qual eles se referenciam.
30
“Minha participação foi muito afetiva, social. Eu não tinha uma visão
do macro, uma visão política. Eu adorava ir ao Arco-Íris. Aprendi muita coisa.
Eu não via mulheres interessantes, inteligentes... As poucas que participavam
não me atraíam. Eu achava a parte feminina fraca e eu não tinha força para
lutar. Eu não acreditava que pudesse acontecer... O que me incomodava é que
eu percebia que eu não queria me expor. Não queria ter visibilidade pessoal.
Eu sabia que eu ia chegar até um determinado ponto e eu não teria coragem de
fazer uma passeata, de aparecer na frente. Eu achava extremamente
importante, é importantíssimo se expor, se assumir.” Amy, 38 anos, RJ
(1993).
Durante certo tempo, até 1996, V... outra participante muito ativa do
grupo afirmava, até mesmo para a imprensa, que era “gay”. Ela dizia que não
se sentia lésbica. O que contava era afirmar-se contrária ao padrão
heteronormativo. O GAI, na sua constituição social, era um grupo masculino.
15 Em 1996, realizou-se no Rio de Janeiro, o Primeiro Seminário Nacional de Lésbicas, organizado pelo
COLERJ-Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro, grupo fundado em 1994, que representou um marco no país
na luta política das lésbicas. Esse movimento organizado ainda sofre dificuldades maiores que as dos gays.
32
16 Estou me referindo a uma forma específica de violência sexual pradcada contra mulheres. Contra gays, a
denominação apropriada para descrever a forma característica de violência é a homofobia, que tem seus
próprios contornos
33
17 Quando tentava atualizar esses dados, entrei em vários sites de ONGs. Nos dois estudos com os quais
primeiro me defrontei: Abuso Sexual de Marlene Vaz e O Incesto, O Abuso Sexual Intrafamiliar de Cláudio
Cohen e Gisele Joana Gobbetti recolhidos no Sistema de Informação na Internet Sobre Violência Sexual
Contra Crianças e Adolescentes, os dados apontavam na mesma direção.
34
4.1 Introdução
18 Refiro-me aqui a uma nova imagem pública que surge. Sem dúvida, antes dos anos 70, já existiam aqueles
que abertamente lutavam para mudar esse padrão histórico e não se envergonhavam disso.
19 Pollak (1985: 54)
36
Os dados ainda são incompletos e parciais, tendo em vista que muitos crimes não
são sequer registrados. É que, freqüentemente, ao tentar registrar agressões nas
delegacias, homossexuais acabam sendo vítimas de mais discriminação e preconceito por
parte dos próprios policiais, passando de denunciantes a denunciados. As ocorrências são
então modificadas ou desestimuladas.
4. 3 Alguns Dados
23 International Lesbian and Gay Association - ILGA. A Associação era em 1995, e ainda é, em 2002, a maior
entidade internacional de defesa dos direitos de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros, com
centenas de grupos filiados em todo o mundo.
38
Sexta-feira, por volta das 19h, um grupo de rapazes sobe a rua Prof.
Luiz Catanhede, no bairro carioca de Laranjeiras. No meio da ladeira,
encontram outro grupo ao redor de um orelhão. Seguem-se as brincadeiras,
abraços, beijos e gozações. Eles afluíam de todos os bairros da cidade para se
reunir no Centro Cultural. Sabiam que nas noites de sexta tinham garantido
alguns momentos de satisfação. Poderiam compartilhar experiências e estar
com pessoas com que, de alguma forma, se identificavam.
Lá, era possível ter medo, falar do medo. Tentava-se não censurar
ninguém, procurava-se afastar o "politicamente correto". Era possível errar,
reconsiderar, mudar de idéia. Tentava-se transformar alguma coisa.
41
4. 5 Mito de Origem
San Francisco
Quando completei dez anos de vida em comum com Luiz Carlos, meu
namorado, em 1993, empreendemos uma viagem a San Francisco, nos EUA
onde, pela primeira vez, tomamos contato com a comunidade gay em Castro27,
considerada a maior do planeta. Era como irmos a Meca. A cidade tinha uma
importância simbólica enorme para nós e queríamos conferir de perto tudo o
que se dizia com relação ao dia-a-dia dos gays.
Gapa
vVNós todos intuíamos que não havia apenas uma epidemia grassando,
havia uma outra epidemia trabalhando em conjunto, tão danosa quanto aquela.
Era uma epidemia discursiva, um recrudescimento dos preconceitos e das
discriminações contra os gays. Os jornais acusavam: câncer gay, peste gay. Os
hospitais recusavam-se a aceitar internações e queimavam até mesmo os sofás
em que os gays haviam se sentado28. Os religiosos clamavam que a AIDS era
um castigo divino.
“Para NÓS POR EXEMPLO é vital que o homossexual brasileiro seja respeitado.
E para que isto aconteça, a busca do conhecimento é indispensável. Refletir sobre a
própria condição é iniciar o processo de auto-estima que é o único caminho para se fazer
respeitar. ”
A A ID S chega perto.
Didi morreu. A notícia chegou como uma bomba. Eles, meu irmão e
Didi, namoraram durante oito anos. Ele era da família, mas aconteceu. Já era
esperado que isso acontecesse. Era evidente para todos o que estava
acontecendo. Ele virara um fiapo humano. O tempo todo, recusou-se a
procurar e a aceitar ajuda, nem mesmo aceitava que era AIDS. Por quê? Por
que “não lutou” pela vida?
Minha inquietação só apontava para uma resposta: ele era gay e tinha
medo.
29 Fundado em dezembro de 1991, é publicado até 1995.
44
O Arco-Íris
30 Grupo de Artes Ilê-Ofé - grupo de danças afro-brasileiras. Dos entrevistados presentes na foto que deu
origem à presente dissertação, seis participaram do grupo de danças: Caê, José Carlos, Luiz Carlos, Pedro,
Sílvio e eu.
45
Para nós, a linguagem verbal não era a única e nem sempre a mais
efetiva. Há bem pouco tempo, ainda trabalhávamos com arte, mais do que
isso, com dança, com o corpo e imagens.
31 Na época, uma das principais infecções oportunistas relacionadas à AIDS, que a tomava visível, deixando
manchas escuras por todo o corpo.
47
Uma Visita
No entanto, uma frase desse homem que era uma referência para nós
acabou nos servindo de trilha: “A invisibilidade é o nosso maior problema.
Temos de aproveitar enquanto ainda somos um assunto exótico, para abrirmos
espaços de Visibilidade a nosso favor.”
5.1 Confrontos
Durante a compilação dos dados, o que primeiro saltou aos olhos foram
as referências negativas que predominavam no senso comum, no discurso, e
que apareciam mais marcadamente quando os participantes referiam-se às
suas famílias. Busquei avaliar os processos de produção e circulação de
sentidos vinculados às narrativas.
5.2 Histórias
Família
35 Formação discursiva se define como aquilo que numa formação ideológica dada - ou seja, a partir de uma
posição dada em uma conjuntura sócio-histórica dada - determina o que pode e deve ser dito. Orlandi (1999:
43)
36 Orlandi (1997: 78)
52
Trinta anos depois, em conversa com Luiz, ela desabafou que seu maior
medo, naquela época, seria que os filhos vestissem roupa de mulher e fossem
se prostituir no meio de marginais. A associação era direta: viado, efeminação,
prostituição, marginalidade.
38 “La domination, en ce cas, [des homosexuels] comme dans certaines espèces de racisme, prend la forme
d’un déni d’existence publique, visible. L’opression comme “invisibilisation” se traduit par un refus de
l’existence légitime, publique, c ’est-à-dire connue et reconnue, notamment par le droit, et par une
stigmatisation qui n’apparait jamais aussi clairement que lorsque le mouvement revendique la visibilité. On le
rappelle alors explicitement à la “discretion” ou à la dissimulation qu’il est ordinairement obligé de
s’imposer.” Bourdieu (1998:45
39 Apud Bourdieu (1998: 46).
54
“Em menino, dormindo com meu pai, eu brinquei com o falo dele. No
dia seguinte, ele me chamou para debaixo de uma árvore conversou comigo e
disse que aquilo era uma escolha, que o mundo era muito difícil, que as
pessoas não aceitavam, mais que eu soubesse o que eu realmente queria ser.
Não houve nenhuma recriminação... Meu pai me educou para ser um homem
não para ser um macho.” Sílvio, 9 anos, RJ (1967)
“Quando cheguei à conclusão que era gay, mesmo sem nunca ter
transado, achei que deveria assumir para a família. Não faria sentido participar
de movimentos públicos escondendo da família. Escrevi da Universidade uma
carta de quatro páginas para os meus pais na virada de 70 para 71. Três dias
depois, recebi um telefonema de meu pai que era super trancado. Aí, eu gelei,
puta que pariu! Ele me disse: 'Recebemos sua carta e só queremos que você
saiba que te amamos...' A expectativa era que fosse tudo bem, mas eu imaginei
que talvez tivesse um momento de perplexidade da parte deles. Eu não temi
por uma não-aceitação de mim, mas eu temi por uma não-aceitação da
homossexualidade em mim.” John, 20 anos, Michigan, USA (1971)
Em “meu pai me educou para ser um homem, não para ser um macho”,
e “queremos que você saiba que te amamos”, outras formações discursivas
abrem espaço, sob um olhar distinto, para a possibilidade de expressão de
sexualidades alternativas.
55
Escola
Nas entrevistas, embora haja referências à escola, elas são bem menos
freqüentes do que à família: quando citada, é retratada praticando regras que
freiam, em vez de favorecer a liberação da expressão. A escola surge como o
local onde os entrevistados começam a se perceber diferentes e no qual a
institucionalização do código da dissimulação ganha força.
Sílvio conta que foi no ginásio que ele descobriu que o fato de gostar de
outros homens seria uma “aberração”. Isso vai se dar quando ele se apaixona à
distância por Jorge. Para ele, era natural, mas percebeu algo diferente porque
só ele se interessava por homens. RJ 14 anos (1972)
Para Lúcio, foi na escola que começam os assuntos sobre sexo, com os
colegas. Ele começa a ter noção sobre algumas coisas “padronizadas”, porém
só se falava de menino com menina. Lúcio tenta então “fazer a sua própria
cabeça” para se interessar por mulheres, mas, segundo ele, era uma “forçação
de barra”, uma coisa de grupo. Foi um período em que ficou muito confuso,
entre os 13 e 14 anos. MG (1974)
Hoje, Rosângela acha que, para ela, a relação com as duas meninas
realmente era especial.
56
“Uma coisa que eu achei legal é que, naquele momento, eu não fiquei
com culpa. Se Maria não me curou é que aquilo não era pecado, então eu
podia continuar assim, só que não podiam saber.” Rosângela, RJ.
Fora a constatação de que na escola não havia espaço para uma mulher
que ame outra mulher, o fato de a punição ter se abatido só sobre Rosângela,
por gostar de mulheres, por ser negra e por não ser filha de militar, nos remete
a uma pergunta: que papel cumpria essa escola (e tantas outras) na relação
com o diferente?
57
Histórias Brasileiras.
Téo Identidade
Aos treze anos, já morando em Fortaleza com a família, entra para uma
escola de teatro ligada à Universidade Federal do Ceará, o que o deixa muito
feliz e surpreso, já que não entendia como o pai permitira. Mas pouco tempo
depois, conforme a novidade foi se espalhando, desenvolve-se um falatório na
vizinhança. Os vizinhos começam a falar que teatro é "coisa de viado" e que
ele iria acabar "virando viado" também. O comentário aumenta de tal forma
que o pai, incomodado, começa a cogitar de tirá-lo da escola.
Eu le;ria a cobrança coletiva que sie estabelecia sobre Téo como sua
inadaptação- às representações disponíveis. Naquela comunidade
conservadora, o papel que lhe cabia era “"daquele que chupava pau e dava o
cu'”. Os interesses dele não se encaixavam na sua “aparência masculina”. Para
quie as ansiedades coletivas geradas por essa indefinição fossem suportáveis,
ele tinha díe se moldar: ou mudava de; interesses ou assumia o padrão
efeminado, o que ocorreu durante um amo e meio. Ele assumiu visual e
comportamento andróginos, além de começar a tentar “dar”, o que segundo
ele, foram experiências desastrosas naquele momento.
Algums anos mais tarde, Téo muda-se sozinho para o Rio de Janeiro
para tentar ai vida.
60
John — Dissimulação
Todo dia, John saía para estudar na PUC RJ, Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. A noite, em casa de sua família brasileira, anotava
no diário como havia sido o dia e fazia outras observações.
Todo dia, assim que John saía para estudar, a mãe da família, sem que
ele soubesse, revirava sua bagagem para encontrar seu diário, o qual pedia que
a filha lesse.
Um dia, por meio das duas, John fica sabendo que as pessoas da família
descobriram que ele sabia o que elas vinham fazendo. Ele chega em casa, às
dez horas da noite, e percebe o clima tenso. De repente, a “mãe” começa a
alterar a voz, a ficar nervosa e a gritar. Diz que ele não poderia mais morar
naquela casa, deveria pegar sua bagagem e deixar a casa imediatamente,
porque haviam descoberto que ele era “bicha”.
O papel que lhe cabia era o da discrição, exigia-se dele que fingisse, que
aceitasse uma forma de violência sutil, tácita, implícita. Ele tinha de se
enquadrar para não sofrer sanções. Havia um papel definido contra o qual não
podia se rebelar, mesmo que tacitamente. John não revelou que sabia o que
acontecia. Não revelou que sabia que a família sabia que era gay.
41Nome que se dava a conjuntos de prédios, residências populares, construídas pelo extinto Instituto de
Assistência e Previdência dos Industriários - IAPI.
62
42
Burke (1992: 333,334) propõe que “chegou o momento de se investigar a possibilidade de encontrar um
modo de escapar a este confronto entre narradores e analistas. Um bom começo poderia ser criticar ambos
os lados, por uma suposição falsa do que eles têm em comum, a suposição de que distinguir os
acontecimentos das estruturas seja uma questão fá c il... Devido a essa imprecisão de definição, deveríamos
fazer o que Mark Philips sugeriu e 'pensar nas variedades de modos de narrativa e de não-narrativa,
existentes ao longo de uma série contínua' ... Também não deveríamos nos esquecer de questionar a relação
entre acontecimento e estruturas ... [um segundo debate] não está preocupado com a questão de escrever ou
não escrever a narrativa, mas com o problema do tipo de narrativa a ser escrita. ”
63
Cláudio — Referências
Ela fica chocada quando chega na minha casa e vê vários jovens todos
do sexo masculino: 'Que é que está havendo? O que está rolando nesta casa
cheia de homens?'
Eu fiquei super nervoso. Marcos vira e diz: 'Vamos acabar com essa
hipocrisia, eu sou viado, eu namoro ele, o namorado dele estava lá. Eu namoro
ele, eu gosto dele. Se a senhora quiser aceitar aceite, se não é problema seu.' E
aí a mulher senta no sofá, fica estática e começa aquela história toda: 'Onde foi
que eu errei?'
Eu tive que resgatar toda a minha história como referencial para ela,
explicar que eu nunca quis ser mulher, que eu sempre trabalhei em obra, que
ser homossexual não significava ser marginal, prostituto. Todo referencial que
ela tinha era esse. Ela colocava sempre nas falas dela naquele momento 'não
quero que meu filho seja um prostituto; não quero que meu filho apanhe das
pessoas, que seja um fraco, um frágil'.
64
Eu contei toda minha história para ela. 'Olha aqui meu quarto. Olha aqui
minha cozinha. Olha, tem chá, a senhora gosta de chá? No copo ou na xícara?'
Sabe, mostrar para ela que era uma casa comum como a casa de qualquer
outra pessoa. Levei até a área.'Olha aqui meu tanque, está cheio de roupa para
lavar. Eu tenho que lavar ainda toda a roupa. Olha a dispensa. Eu separo
materiais de higiene dos cereais.’
A mulher depois disso senta na sala e diz assim... Eu fiquei bobo!... Ela
pede desculpas a todo mundo, diz que ela ainda estava muito confusa, mas que
ela ficou muito impressionada com aquilo tudo.
43 Sobre a construção histórica das identidades homossexuais pode-se recorrer a Almeida (1999).
65
5. 3 Ser Viado
“Eu tinha medo de ser aquela bailarina do Campinho. Era uma coisa de
que não se podia falar”, Caê, 14 anos, RJ (1969), referindo-se a um vizinho
que se vestia de mulher no carnaval.
• “Eu não queria ser o vilão, eu queria ser o mocinho... Então eu não tinha
uma referência positiva, então ser o quê?” Toni, 15 anos, RJ (1978)
45 “Redefinindo, assim , a ideologia discursivamente, podemos dizer que não há discurso sem sujeito nem
sujeito sem ideologia. A ideologia, por sua vez, é interpretação de sentido em certa direção, direção
determinada pela relação da linguagem com a história em seus mecanismos imaginários ... Pela ideologia, se
naturaliza assim o que é produzido pela história.” Orlandi (1996: 31).
69
Para termos existência pública, nós somos mediados pela linguagem, por
operadores sociais, mediatizados pelos meios de comunicação. Essas
mediações, esses operadores, essas mídias se constituem através de outros
olhares. Então a nossa existência, a nossa identidade, a nossa identidade
pública estará sempre sendo negociada com outras forças que atuam
internamente e externamente a nós.
Se eu tenho de passar boa parte da vida dizendo que não sou uma pedra,
com certeza, da minha identidade vai constar o item "aquele que diz que não é
uma pedra". Então, posso afirmar que o olhar do outro também contribui na
construção de minha subjetividade, que a identidade é construída por diversas
forças sociais, por isso mesmo ela é histórica e negociada nas relações sociais,
porém deve-se observar que a sociedade não é um bloco monolítico, não é
uma coisa única.
5. 4 Alternativas, Caminhos
“Eu sou movido por alguma coisa que eu não sei o que é. Eu acho que é a
necessidade de ser feliz”
Pedro RJ 2001
Código de Reconhecimento
Os shows dos baianos podem ser vistos também por esse filtro como
pólos relacionais, pontos de reterritorialização, com códigos próprios de
reconhecimento, porém prefiro chamar de reterritorialização relativa (como o
próprio autor o faz em outros momentos), já que são provisórios. São mantidas
as vinculações com os universos familiares, de origem ou da sociedade
abrangente.
“O Cazuza, ele não assumia, mas eu sabia que ele era homossexual. Ele
era bonito, inteligente, poeta. No meu referencial, o Milton (Nascimento) era
gay. 'Qualquer maneira de amor vale a pena'.” Cláudio RJ (1989)
“Aos 14/15 anos, virei fâ da Angela Rô Rô. Ela foi uma coisa bastante
subversiva. Cassia Eller é pinto perto dela. Eu comecei a freqüentar a casa
dela. Eu vi um mundo que não era o meu.” Marcelo, RJ (1980)
Acampamentos
Carnaval
Boates
Ecos de Fora
John começa sua vida como ativista gay nos USA, e assume para a
família uma identidade gay, antes mesmo de ter iniciado sua vida sexual ativa.
Para ele, os direitos civis de qualquer grupo ou “minoria”, já eram valores
pelos quais se deveriam lutar e faziam parte de seu cotidiano e da cultura da
cidade em que viveu até os 18 anos, São Francisco, USA. Ele tinha referências
positivas com relação aos seus direitos e sabia que havia outras forças que
lutariam junto a ele caso fosse necessário. O seu caminho era o caminho da
própria luta pelo direito de ser o que quisesse ser.
81
Jornal Lampião
“O jornal Lampião50 foi importante para mim, eu comprava ele, lia todo
na ma e jogava ele fora porque não podia entrar com ele dentro de casa.” Luiz
Carlos, 20 anos, RJ (1978)
“Quando digo então que 'casa' e 'rua' são categorias sociológicas para os
brasileiros, estou afirmando que, entre nós, estas palavras não designam simplesmente
espaços geográficos ou coisas físicas comensuráveis, mas acima de tudo entidades morais,
esferas de ação social, províncias éticas dotadas de positividade, domínios culturais
institucionalizados, por causa disso, capazes de despertar emoções, reações, leis, orações,
músicas e imagens esteticamente emolduradas e inspiradas ”
50 Jornal "Lampião da Esquina" (1980), fundado por onze intelectuais assumidamente homossexuais, em
plena ditadura militar - Primeira publicação distribuída nacionalmente e vendida em bancas de jornais,
voltada para o público homossexual. Nesse momento, estava em ebulição o primeiro grupo homossexual
brasileiro com finalidades políticas, o Somos (1978 - SP). MacRae, Edward (1990) analisa a trajetória do
grupo Somos SP, incluindo reflexões sobre a atuação desse jornal.
51 (1997: 15)
82
Desalento
_ *
6.1 Passagens pelo Grupo Arco-lris
✓ .
Ninguém é Perfeito
✓ ■
A denominação Grupo Arco-íris de Conscientização Homossexual
surgiu nesse processo. Formou-se da necessidade de desnaturalizar idéias,
comportamentos e atitudes que foram sendo percebidos nas reuniões do grupo.
Acreditava-se que tomar conscientes alguns processos de significação era dar
uma referência para os freqüentadores e permitir-lhes uma escolha mais
embasada. Era dar-lhes ferramentas para perceber a possibilidade de mudança.
Debate, tô fora
Caê, que se identificava como negro, afirmava sobre a união que existia
no grupo: “O que unia as pessoas era a mesma coisa que unia há vinte anos
atrás, a força, o estar junto, o saber que não estavam sozinhas. Essas pessoas
se sentiam sozinhas porque eram gays... O que unia aquelas pessoas era a
homossexualidade e a discriminação por ser homossexual... Todas as outras
questões: ser negro, pobre, rica, zona norte, zona sul eram colocadas na
mesma panela, ser homossexual.”
52
Em São Paulo, em maio de 1978, surge o Grupo Somos, primeiro grupo brasileiro organizado de defesa
dos direitos civis de homossexuais de que se tem registro. Com ligações eventuais com o movimento
feminista, movimento negro e partidos políticos, esse grupo desempenhou importante papel no debate da
questão homossexual no Brasil.
” MacRae (1990:96).
88
Os Negros
Para tentar apreender um pouco mais outros olhares sobre a vida interna
do GAI, procurei os três entrevistados que se identificaram como negros, Caê,
Rosângela e Cláudio, e perguntei-lhes como percebiam, se é que percebiam, o
fato de serem negros participando de um grupo que priorizava a afirmação de
direitos de gays e lésbicas, nos seus primeiros momentos.
Para Caê, não se falava sobre isso, não era um assunto de primeira linha
por dois motivos: “dentro da cultura brasileira, nós não somos vistos como
negros. Socialmente, eu não sou visto como negro, eu passo por 'mulato claro’.
As pessoas não se preocupavam com essa questão porque não existiam negros
no Arco-íris. Negro no Brasil é uma questão de cor da pele. Por existir
preconceito no Brasil, as pessoas preferem ficar do lado claro. Por que haveria
discussões sobre negro se não existiam negros no Arco-Íris?”. O segundo
motivo alegado por Caê era que “naquele momento, a questão maior acima de
qualquer coisa era a questão sexual. A identidade sexual era o que importava.
A gente nunca se preocupou se tinha católico, se tinha judeu. Nós não
estávamos preocupados com aspectos políticos, se éramos do PDT ou do PT,
ou com questões estéticas, se éramos gordos ou magros ou ainda se éramos
pretos ou brancos. Todos os outros aspectos que compõem o indivíduo
ficavam em segundo plano”.
Cláudio também inicia seu depoimento reconhecendo que, por mais que
houvesse diferenças dentro do grupo, havia uma união em tomo da questão da
luta contra a discriminação a gays e lésbicas. “É claro que o fato de pessoas
freqüentarem o grupo, elas não estavam imunes à expressão de outros
preconceitos. Eu não sentia diretamente um corte de raça ou social dentro do
grupo. Nunca vivenciei, ou percebi nenhuma situação que caracterizasse
intolerância. A liderança política do grupo sempre se preocupou em
estabelecer um espaço harmonioso e de interação.”
“Eu acredito que a filosofia do grupo foi confirmada já que hoje [2002]
a participação de negros, judeus, nordestinos, moradores da periferia
constituem-se em 60 por cento do público freqüentador do grupo, conforme
nossa última estatística interna. Isso mostra que, ao instigar, ao fazer as
pessoas se conscientizarem de seus preconceitos, nós estamos criando espaços
favoráveis para receber diferentes pessoas no grupo.”
Cláudio encerra seu depoimento dizendo que “no GAI, eu me senti tão
bem acolhido que hoje eu sou o presidente do grupo”.
Na conversa com os três participantes, que são meus amigos até hoje, o
que primeiro me chamou a atenção, por mais óbvio pareça, é que ficou mais
claro que o grupo foi (e é) apenas mais um mediador social. O grupo não se
encerra em si. Por mais que trabalhássemos para demover certos preconceitos,
nossas possibilidades de atuação eram restritas, bem mais restritas do que
desejaríamos que fossem.
Cada sentimento tinha de ser construído: o de que valia a pena lutar pelo
direito de namorar em praça pública ou de que era legítimo andar de mãos
dadas na rua. Muitos se ressentiam por não serem tratados como casais em
várias circunstâncias, como dormir em cama de casal num hotel ou na hora de
juntar rendas para financiar um imóvel, por exemplo.
v .
55 Sílvio de Oliveira era o editor do Jornal "Nós por Exemplo" e um dos dirigentes, junto com seu
companheiro à época, Paulo Longo, do Núcleo de Orientação em Saúde Social - NOSS, uma ONG AIDS.
95
“Nós estamos todos no mesmo barco, mas com remos diferentes. Essas
armas nós precisamos conhecer, conhecer como cada um trata com isso. O
Arco-Íris se constrói pela construção das pessoas, do que as pessoas trazem de
experiências vividas.” Pedro.
A atuação num grupo gay, que tem uma repercussão pública e um lugar
político gradativamente construído, fazia os freqüentadores problematizarem
seus relatos de experiência, pondo em questão suas identidades gays.
96
O filtro pelo qual nós éramos retratados na mídia era o do jocoso. Por
outro lado, não percebíamos no grupo que mais se destacava então no Rio de
Janeiro, o Grupo Atobá, o caminho que queria trilhar. Seus integrantes eram
muito ativos, mas para nós, na ocasião, era como se partissem para a ação sem
uma estratégia, um projeto maior que embasasse suas táticas de atuação. Tudo
isso fazia-nos querer romper esse circuito.
Cláudio, que entrou no grupo no final de 1993, acrescenta que ele “não
concordava com a idéia de alguns pensadores, escritores que até hoje
defendem que não se podia fechar uma identidade, um conceito de
homossexualidade porque isso poderia aprisionar, criar padrões, excluir
outros, estabelecer discriminações e preconceitos. Era necessário, ao mesmo
tempo, ter um referencial porque a sociedade por muito tempo não tinha
informações, ou, quando tinha, era sempre de maneira estereotipada e jocosa.
Então, era necessário construir um referencial. Logicamente, esse referencial,
em dado momento, poderia ser excludente mas enquanto estratégia era
necessário..."
Ele afirma: "Para ser visível é necessário uma identidade. A gente não
estava trabalhando por uma identidade de grupo, mas que cada pessoa pudesse
se sentir homossexual à sua maneira, da sua forma... O subtexto de identidade
para nós era esse, era a pessoa assumir a si mesma e fazer a sua representação
de sua identidade como sendo uma identidade homossexual.”
99
57 Trabalhar focando, prioritariamente, a comunidade gay fornecendo instrumentos para que todos atuassem
como multiplicadores de uma atitude mais positiva relacionada às homossexualidades.
100
Nós aceitamos. Em nossa estréia na TV, ficamos duas horas no ar, entre
vários “especialistas”, conversando sobre homossexualidade e sobre nossa
experiência como casal gay. A participação suplantou nossas expectativas. O
programa transcorreu de maneira serena, respeitosa e num nível bom de
aprofundamento de discussões.
58Programa semanal exibido aos domingos pela rede Globo de televisão, de enorme audiência.
103
Alguns dias antes do Dia dos namorados, numa outra situação, recebo
na entrada do trabalho, um número do jornal “Bancário”, do Sindicato dos
Bancários do Rio de Janeiro. Ele anunciava uma seção especial de
classificados para o dia dos namorados, o “Classicarinho".
59 “Nós pagamos nossos impostos, queremos nossos direitos” afirmava Luiz Carlos; seu rosto ocupando toda
a tela da TV.
104
Luiz Carlos, que era um dos que mais tinha a imagem exposta por ser o
vice-presidente do grupo, acrescenta: “Eu tinha muito claro que o meu
comportamento correto era tido como certinho pela sociedade... Eu,
mostrando minha cara, meu comportamento, adicionando a informação de que
eu sou gay, eu podia então mostrar para as pessoas que elas estavam no
mínimo mal informadas sobre a homossexualidade, que qualidades de caráter
não têm a ver com orientação sexual..."
Ele segue: "O Arco-lris era uma idéia que foi tomando uma cara, que
lutava para construir uma imagem. Essa imagem era demolir a imagem de que
gay tinha de ser só sempre pintosa, pouco sério e, a exceção de algumas
poucas profissões associadas ao papel feminino, era mal sucedido
profissionalmente..."
106
Para Márcio, que teve uma presença muito ativa no grupo em seus
primeiros momentos, mas que se afastou assim que o GAI começou a ter um
reconhecimento público, a Visibilidade através dos meios de comunicação,
embora válida, deveria ser entendida como uma estratégia complementar. “A
transformação acontece no cotidiano. Na medida que eles sabem que eu sou
homossexual e sou amigo deles, isso certamente tem um efeito maior que uma
ação externa... Mais transformadora teria sido a possibilidade de ter conhecido
um professor ou um amigo de meus pais que fosse homossexual e fosse uma
pessoa amiga positiva."
Ele observa: "A cara que o Arco-Íris apresentava era uma visão
diferente de homossexual, mas como se fossem os homossexuais dentro de um
mundo de heterossexuais. Também tinha o lado de mostrar para os próprios
homossexuais que não eram do Arco-íris o que eram os homossexuais. É
como se eu imaginasse que a grande transformação era dos homossexuais e
não do mundo heterossexual.”
“Gay, (viado, bicha, baitola, qualira etc.) é o homem que quer ser mulher, por isso
é frágil, passivo na cama e em todos os outros aspectos da vida. Só pensa em sexo. É
incapaz de estabelecer uma relação afetiva, muito menos estável, e é um cidadão de
segunda categoria ”61
Tínhamos dois dias para decidir. Então, sentamos para pensar nos prós e
nos contras. Foi Adauto, namorado de Cláudio, que era membro do PIM -
Projeto Integrado de Marginalidade, que sugerira em 1993, em Viena, que a
conferência ocorresse no Rio de Janeiro. Por isso, Toni ligara para nós.
63 International Lesbian and Gay Association. Em 1995, era composta de mais de 400 grupos associados em
todo o planeta. A conferência ocorreu de 18 a 25 de junho no centro de convenções do Hotel Rio Palace, na
praia de Copacabana, Rio de Janeiro. Representantes do Governo Estadual, Municipal e do poder legislativo,
nas três esferas, estiveram presentes.
114
64 O patrocínio veio de várias fontes: órgãos do governo federal e do governo estadual ligados a prevenção à
AIDS, entidades internacionais de gays e lésbicas, artistas como Renato Russo e outros que pediram para não
serem identificados, inscrições e pequenas doações. Foi fundamental o trabalho de mais de oitenta voluntários
de todos os grupos ativistas que contribuíram de toda forma para o sucesso da conferência.
115
Luiz Carlos lembra das dificuldades por que passamos para resguardar o
sigilo dos participantes dos países onde a homossexualidade ainda era crime.
“A participação do representante do Paquistão, onde havia a pena de morte
para os homossexuais, exigiu uma complexa operação, desde o contato inicial
para que ele recebesse sua bolsa - passagens e hospedagem - até as
artimanhas para que a imprensa nacional não tivesse acesso a ele. Outra
novela ocorreu com os representantes do Chile e de Cuba, onde a
homossexualidade dava cadeia.”
66 Expressão utilizada para referir-se a um mercado consumidor composto de gays e lésbicas a partir da
suposição de que esse público teria uma situação financeira privilegiada.
67 Ver anexo 06 Jornal do Brasil - Editoria Cidade - 24.06.1995.
117
68 Erik Barreto, já falecido, foi um famoso transformista que se notabilizou imitando Carmem Miranda. Lola
Batalhão é um personagem conhecido no cenário carioca como drag queen, sobretudo no carnaval.
118
Violência
Certa vez, sem que percebêssemos, nosso carro foi cercado por policiais
de metralhadora, que nos levaram para um local totalmente ermo, querendo
nos chantagear. Diziam que, se não déssemos dinheiro, eles nos levariam para
a delegacia e estaríamos com nossa imagem estampada em todos os jornais do
dia seguinte.
70 O primeiro filme mudo a tratar do tema homossexualidade de que se tem notícia “Different From The
Others” de 1919, resgatado por ativistas gays alemães, trata do mesmo assunto, chantagem contra
homossexuais.
122
“Na fábula, a bruxa faz a bela cair no sono. Na vida real, esta história é assim:
você conhece o bonitão, ele joga charme, joga uma conversa fora e acaba jogando
sonífero na sua bebida. Conclusão: você acaba sendo roubado e às vezes, agredido. Esta
história, que não tem nada de fábula, vem se repetindo. Diversos casos de 'Doping', ou
'Boa Noite Cinderela' como vem sendo conhecido, continuam acontecendo, portanto ABRA
O OLHO. ”71
Caê, que como ele mesmo diz estava envolvido até a raiz do cabelo na
criação do projeto “Boa Noite Cinderela”, e depois foi vítima do golpe, nos dá
o seu depoimento sobre sua experiência em 1997. “A violência, ela sempre
permeou as discussões no Arco-Íris. Durante muito tempo, o GAI se
preocupou com a violência que surgia nos depoimentos, ou seja, a violência na
família. Naturalmente, pouco a pouco, quando as pessoas já tinham expurgado
essas questões, feito sua catarse íntima, quando as pessoas já estavam mais
fortes consigo mesmas, começaram a ver que aquilo era parte de uma
violência maior, era a ponta de um “iceberg”. Paralelamente, começam a
surgir, nos jornais e nos depoimentos nas reuniões, notícias sobre um golpe
que vinha sendo aplicado no meio gay. Por causa disso, a discussão tomou um
vulto muito grande e começamos a pensar estratégias para combater o
golpe..."
125
Caê continua: “Eu que estava envolvido até o fio de cabelo na criação
do projeto, eu fui vítima. Ser vítima foi muito cruel. Eu não tive
conseqüências físicas nem financeiras muito desastrosas. Talvez, pela
experiência no Arco-íris, de maneira inconsciente, eu não levei o cara para
minha casa, eu levei o cara para o hotel. Eu apaguei no hotel e só fui acordar
no dia seguinte na minha casa. Os funcionários do hotel devem ter me
encontrado após o horário, me levaram até um táxi e eu fui para casa. O
porteiro pagou o táxi. No caso, meu companheiro John, me contou que eu
cheguei meio-dia. Achou que eu estava completamente bêbado. Eu tirei a
roupa, deitei e apaguei... O agressor só levou o cartão de crédito e o pouco
dinheiro que eu tinha... No meu caso, a violência foi psicológica, de ser
enganado, ludibriado, um joguete. De repente, você se vê impotente. A
primeira coisa que eles tiram é a sua racionalidade. Fiquei muito triste.”
Xô Coió
Coió é uma gíria gay que significa todo tipo de violência física, moral e
psicológica, discriminação, achaques ou extorsão, assaltos e “Boa Noite
Cinderela” por parte de civis e policiais, sofrido pela comunidade gay-lésbica.
Partimos então para a única saída que ainda acreditávamos ser eficaz.
Focamos esforços na imprensa. Imediatamente, conseguimos meia página no
“Jornal do Brasil” contando em detalhes tudo que ocorria. De relatos de
vítimas das agressões até a indiferença do delegado (que acabou sendo
afastado) incluindo a postura dos donos das casas noturnas. No dia seguinte à
matéria, houve uma queda de aproximadamente cinqüenta por cento no
número de freqüentadores do “Baixo Gay”.
O Preço da Visibilidade
Luiz,
A
meu ex- companheiro, estava encarregado de levar a bandeira do
Arco-íris, que era o orgulho de todos. Ela media cem metros de
comprimento por dez de largura. No dia do evento, poucas horas antes de
seu início, ao chegar à sede do grupo, na Praça São Salvador, o caseiro
Manoel o recebe desesperado. Ele havia recebido vários telefonemas nos
quais desconhecidos ameaçavam citando os nomes: se a marcha fosse
realizada Luiz, Augusto e Cláudio seriam mortos.
Saldo
Caê preferiu destacar o seu conforto atual com sua orientação sexual e a
fusão das esferas privada e pública traduzida na sua conquista de expressar
publicamente sua afetividade. “Após o Arco-Íris, eu não tenho nenhum
problema em falar na minha homossexualidade. É engraçado, eu estou há
pouquíssimo tempo na PUC e todo mundo já sabe que eu estou casado com o
John e que tenho um filho. Eu falei para essas pessoas? Como é isso? Eu nem
percebi.”
Por outro lado, algumas formas de violência não surgiram nos relatos,
como por exemplo, a violência doméstica entre os parceiros gays ou lésbicas.
Por que não? Algumas hipóteses foram levantadas: a primeira seria que,
talvez, as agressões praticadas entre parceiros do mesmo sexo não fossem
identificadas, pelos mesmos, como violência por orientação sexual. Será que
as histórias de vida de indivíduos marcados por incompreensões e agressões
vindas de fora, dos “outsiders”, dos não-gays, nos nublaria a visão para outras
formas de violência? Outra hipótese é que seria muito mais fácil lidar com
fatos distantes, relacionados à infância, por exemplo, do que com histórias
presentes ou pelo menos mais recentes.
132
73 “a hipótese do agenda-setting não defende que os mass media pretendam persuadir. Os mass media,
descrevendo e precisando a realidade exterior, apresentam ao público uma lista daquilo sobre o que é
necessário ter uma opinião e discutir...0 pressuposto fundamental do agenda-setting é que a compreensão que
as pessoas têm de grande parte da realidade social lhes é fornecida, por empréstimo, pelos mass media”.
(Shaw, 1979, 96,101). Apud Wolf, Mauro (1994: 130).
134
A mídia teria um papel especial nesse processo? Por que focar a mídia
se as atitudes culturais relativas às variações sexuais são formadas por uma
grande variedade de influências?
Baudrillard (1970: 150) afirma que “no caso da TV (...) ela não leva a
ver nem a compreender os acontecimentos na especificidade própria
(histórica, social e cultural), mas os expõe a todos indiferentemente segundo
idêntico código, que surge ao mesmo tempo como estrutura ideológica e como
estrutura técnica - isto é, no caso da TV, o código ideológico da cultura de
massas (...) e o modo de corte e de articulação do meio de comunicação
impõem determinado tipo de discursividade, que neutraliza o conteúdo
múltiplo e móvel das mensagens.”
136
74 Ver Câmara, Cristina: Triângulo Rosa: A Busca pela Cidadania dos Homossexuais. (1993).
138
Nas reuniões das sextas-feiras, mesmo naquele espaço onde era possível
falar à vontade sobre os desejos de cada um, as dificuldades dos participantes
em falar de si, quando o assunto era afeto ou sexualidade, eram imensas. No
máximo, eles conseguiam referir-se a situações na terceira pessoa. O trabalho
interno dirigia-se para que os freqüentadores exercitassem a expressão de seus
desejos. “Eu gosto do fulano”, “Eu sinto atração por mulheres” etc. A
opressão, o não-exercício do desejos, nem mesmo da expressão oral dos
desejos, embotavam os indivíduos na formação da sua identidade do eu,
gerando situações esquizofrênicas. Essa preocupação era anterior à
preocupação de formação de uma identidade de grupo. Considere-se ainda o
fato de que um indivíduo que não sente como válida sua forma de amar jamais
lutaria por se fazer respeitar num plano individual ou lutaria por seus direitos
numa esfera pública.
Por outro lado, a utilização de uma foto como ponto de partida, ou como
delineamento do objeto a ser estudado, traz outros elementos à discussão das
identidades. Ela alerta para uma exigência cada vez maior da identidade
aproximar-se de uma aparência produzida por um olhar exterior, ou seja, uma
chamada a uma padronização, às referências externas. As máquinas
fotográficas e as câmeras não transcrevem simplesmente o vivido. Segundo
Featherstone76, elas mudam sua qualidade, transformam uma parte da vida
moderna numa enorme sala de espelhos. A vida se apresenta como uma
sucessão de imagens, de sinais eletrônicos de impressões registradas e
reproduzidas por meio da fotografia, dos filmes e da televisão.
Trabalho Apaixonado
“Seu trabalho está muito apaixonado!” Na hora, fiquei sem saber o que
falar e comecei a considerar por que meu trabalho seria apaixonado e a refletir
sobre importância de um trabalho apaixonado. Decidi, então, incluir os
comentários que se seguem.
Visibilidade
78 Pierre de Ronsard poeta francês nascido em 1524 “Vivez, si rnen croyez, n 'attendez à demain: Cueillez dès
aujourd'hui les roses de la v/e.” Quand Vous Serez Bien Vieille Sonnets pour Hèlène, II, XLUI Apud
Lagarde &Michard (1967: 145).
146
Essa estratégia, todavia, não era uma trajetória fácil para todos. Era e
ainda é comum no Brasil que pais expulsem de casa seus filhos ao descobrir
sua homossexualidade, jogando-os, da noite para o dia, da vida de casa para a
rua. Essa passagem abrupta da vida privada para a vida pública, que é
freqüentemente retratada como uma experiência negativa, a estratégia da
Visibilidade Gay pede que o homossexual reviva , só que agora como escolha
consciente.
8.1. Bibliografia
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94 - WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa Portugal: Coleção Textos de Apoio, Editorial
Presença, (1994)
ANEXOS
ANEXO -
Anexo 01
Dados Sociográfícos dos Entrevistados
Nome Idade Onde Onde Sexo Gênero Raça Nível Educacional Emprego Estado Relação Filho Religião
Real Nasceu Morava Civil
Amy Não 38 RJ Copa RJ F F B Superior Ser. Ass. Social S N N N
Social
Augusto Sim 37 RJ Tijuca RJ M M B Superior História B. Brasil S s s N
Nome?
Onde nasceu?
Sexo?
Gênero?
Emprego na época?
Mantinha alguma relação na época? (estável ou não) E como ele/a se identificava ( Gay
/Lésbica /Travesti/ Hetero/Transexual etc ou nada)________________________________
ANEXO - 03
Anexo 03
0 - Como você vê/sente/percebe o fato de nós estarmos aqui hoje fazendo esta entrevista,
desenvolvendo este trabalho?
1 - Pedir para que cada um fale de sua história do ponto de vista da sexualidade. Valorizar
a história de cada um.
8 - 0 que era ser homossexual, gay/ lésbica / travesti etc?.(para você e no grupo na época)
12 —Além de uma preocupação com você, havia uma preocupação política mais geral?
Anexo 03
22 - Como?
FH quer voltar
a ter imagem de
social-democrata
Fernando Henrique Cardoso quer retomar
sua imagem social-democrata. O presidente se
considera injustiçado pelas críticas dos xiitas
da esquerda e do movimento sindical que ten
tam vincular seu perfil ao dos liberais com os
quais está aliado no Governo. Ele não quer
mais ser comparado com a ex-primeira-minis-
(de boné) e Luiz, juntos há 12 anos: problemas com o síndico tra britânica Margaret Thatcher. Página 3
a* R»o Domingo. 11 de junho de 1995
Uésbica assume sua condição Casal usa aliança e tem álbum de recordações
íiirandah Villas-Bòas, autora go, o outro filho, mora com o pai ü pauusia Adauto oeiarmmo que ele era homossexual. Nasci Aids. Com relação à homosse Marcelo Carnaval
■Wrap que será tema da confe no Rio Grande do Sul. Alves, -ie 30 anos. g o baiano do* numa família pobre e nume xualidade. minha mãe apenas
rência internacional de gays e — Como todas as pessoas, sou Ciándio Nascimento Silva, àe 24. rosa (tem 12 irmãos) e o único a comentou: Eu já desconfiava.
lé&oicas, não se importa de falar filha de pais heterossexuais — usam aliança, dividem despe ingressar numa faculdade, até Primeiro ativista gay a ganhar
subre a sua condição sexual. assim, ela costuma saciar a cu sas do apartamento em Copaca aquela data Cláudio era a refe
riosidade em torno da imaginada rência positiva da casa humilde um prêmio internacional de di
MÒs é impossível conversar com bana. discutem por ciúmes, se reitos humanos, no ano passado,
'ilã sem que temas como cidada influência que teria na. opção se reconciliam. Como toU \.sai. os em Nova Iguaçu. Seus parentes
xual dos filhos, os dois. heteros não foram à cerimônia de casa nos Estados Unidos, Adauto afir
nia, ecologia, racismo, violência .iois têm também seu aiiyjn de ma não perceber se é discrimi
2 'direitos'” humanos venham à sexuais. ;■•? •-•rdações: guardam as foio- mento:
nado por ser portador do HIV:
oaila: Advogada e produtora mu- Para Sarandah. as manifesta nas e cs recortes '.ie .■ornais — A família, que deveria com
4iqaj. Sarandah, de 50 anos, di ções de preconceito enfrentadas preender o parente hom osse — Porém, quando discuto com
.... .. nubiicarãin o seu .asamen- alguém, a primeira coisa que me
vorciada de um jornalista há pelas lésbicas não ocorrem per f; ano oassado. r . altar xual, é sempre a primeira a ex
:n£is de 20 anos. já foi diretora causa da condição sexvc:. mas cluí-lo — critica Cláudio! jogam na cara é isso.
.-ovisade ;:o Sincica.c dos já os cinco irmãos de A.dauto Militantes dos movimentos em
def Conselho Estadual dos Direi sim porque sào mulheres. Ela evidenciários, onde Cláudio
to? d? Mulher e atualmente diri- faz questão de dizer que, como sempre foram mais tolerantes defesa dos direitos de gays. eles
trabalha há cinco anos. Fosse com o menino que “desde pe dizem que querem ser “care
gd o -Mulherarte, uma organiza odas as pessoas, os homosse uma uniào convencional, a his
i s '>ão governamental xuais pagam impostos e devem queno gostava de brincar com tas".
toria poderia provocar arruihos bon ecas” . Para surpresa de — Queremos ter os mesmos
Já estive heterossexual ter os mesmos direitos: de encantamento.
*v:«ora estou homossexual — con- — Não posso ser discriminada Adauto, até mesmo um irmão, direitos dos heterossexuais. As
tu1; :’a. ao lado de Jecimar Go- porque sou lésbica. A sociedade n. a h: ..ória de .-.dauto e que é policial militar, apoiou a pessoas dizem que o casamento
•jiis, com quem vive há oito aindr não abriu cs olhos para Lit.udio. conta .ia por elc-s. traz a idéia dò casamento: é uma instituição falida, mas o
?»&-’- , ver que estamos em todos os se tona as manifestações de precon — Embora longe de casa desde que faliu foi o projeto de casa!
As duas moram na Barra da tores da economia, contribuindo ceito. Antes que "fosse ixpulso. os 19 anos, há dois anos revelei à reprodutor — afirma Adauto.
i duca em companhia da filha de com a força de trabalho, gerando minha família que era homosse pesquisador do Instituto de Es-
S d r r .n r ls n P.va do l)ip . recursos e consumindo. ss ■'.uan.iú :'nn*.i hr:u xual e nnr:ad"or do vírus da rudos da Reiisião. Adauto Alves e Cláudio Silva: casal
r
D om ingo, 11 de ju n h o de 1995 R io * 3 3
P O R Q U E A M A IO R IA PR EFER E
OTICASD
• VALIDADE 17/06 9»Ü£ÇO, PR E C lN H © s M O R O U ?
ACEITAMOS IODOS OS CARTÕES DECRÉDITO / COBRIMOS QUALQUER ORÇAMENTO /TUDO EM VEZES SEMJUROS E SEMFIADOR
O C U L O S PA RA PERTO F IB R A " L A S E R " ( A R M A Ç Õ E S D E F IB R A )
N O SEU G R A U , Q U A LQ U ER G R A U
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REF. 80A6 ~~ ■—■■ - ^ —“
130 P E Ç A S MADE IN ITALY
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1 3 0 PEÇAS
REF 4 5 0 9
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5,70 = 17,10
59,10
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19,70 = 59,10
3 9 0 PEÇAS
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A R M A Ç Õ E S L IN H A JO V E M L I N H A I N F A T IL V E D E R E C O L L E C T IO N
REF. C O LLEC E 2 6 0 PEÇAS METAL LEVE SUPER RESISTENTE A R M A Ç Õ E S F E M IN IN A S
SO RS pK.<»m*o. ~sO RS SO RS
Ç FESTIVAL P E M U L TIFO C A i Q V A R IL U X C O M F O R T
{ A ta c a d o * T R A N S I T I O N S 2 0 0 PEÇAS TEilYENDAS
L E N T E S V A R IL U X V 2 E S P A C E C R IS T A L LENTES FQTQSENSÍVE1S RESIN A
I SÓ NA RUA CAMEI7INO 101 À 107 ■. R E S IN A 1 5 0 PEÇAS (021)
EscsBw o
I PEGUE E L E V E
Mesa c/ 4 Cadeiras Dobrâveis Pinrura Epoxi Branca.
158
ANEXO - 06
A primeira união gay coletiva
Homossexuais
recebem bênção
no Rio Palace
Iguais...para sempre
Sonhos e m edos de quem aguarda a aprovação da lei sobre união civil de gays
CELENE G U E D E S aprovação, no Congresso, de um projeto de lei que permite
E
les começaram flertando, como qualquer casal. firmar contrato de união civil entre pessoas do mesmo sexo.
Apaixonaram-se - o que também acontece com to Para tomar essa pressão ainda mais eficaz, um grupo de 24
do mundo, contanto que haja a tal química - , deci (tinha que ser!) ativistas esteve quarta-feira no Congresso
diram viver juntos seis meses depois e assim per distribuindo aos parlamentares cartilhas sobre o tema. Para
manecem até hoje. A diferença é que, há 12 anos, minimizar a polêmica, o projeto elimina o termo casamen
quando tudo começou, não havia quem os decla to, mas dá amparo legal equiparável ao que é oferecido a
rasse marido e mulher. Naquela época, foi a vida mesma
casais hetero. Casais normais, como se costuma dizer.
quem, solenemente, declarou Augusto Andrade e Luiz Car Mas não há nada de anormal em bater na porta de Au
los de Freitas marido... e marido. Se vão ser felizes para gusto e Luiz Carlos, na Tijuca. Quem atende é Leonardo, 15
sempre, quem sabe? Por enquanto, mesmo sustentando-uma anos, um menino tão interessado em meninas quanto a
união gay e, portanto, sem reconhecimento legal no Brasil, maioria dos colegas. “Oi! Sou o Luiz Carlos”, aproxima-se
os dois vão muito bem. Assim como vão bem Cláudio e em seguida o homem de 37 anos, óculos, voz grave, tom sé
Adauto, John e Jorge Luís, Jane e Rosângela, Toni e David, rio. É o pai de Leonardo. Logo depois, Augusto se junta à
Luiza e Mirian, Luiz e Marcelo, Antônio Carlos e Márcio e conversa. Mais descontraído, 40 anos, grisalho, também de
muitos, muitos outros casais homossexuais. óculos, sereno. É igualmente pai de Leonardo. A adoção do
A impossibilidade de contestar que essas uniões existem menino - aos 8 anos - complementou a unidade familiar
—e que a partir delas se constrói patrimônio —pressiona a que estraçalha ditames sociais e apavora homofóbicos.
D O M IN G O 1 4
Verônica Peixoto
.uma c a sa de cam p o (acima), a resp onsab ilidade so bre um filho de 15 an o s e a co ordenação do grupo ga y Arco-Íris
Em 12 anos, Augusto, gerente de expediente do Banco ano com grupos de homossexuais até chegar à forma final.
do Brasil, e Luiz Carlos, técnico em edificações da Light, Nem por isso a proposta enfrenta menos oposição. A úl
construíram juntos vida e patrimônio. Dividem cama, mesa, tima assembléia da Confederação Nacional dos Bispos do
responsabilidade sobre o filho e a liderança de um grupo Brasil, em abril, recomendou ao Congresso que rejeite o
gay. Bem como dois apartamentos, uma casa de campo, projeto. Há resistentes e favoráveis em qualquer partido. O
dois carros e telefone. Se um deles faltar, pelo menos meta assunto divide o PT e tem apoios surpreendentes, como o do
de que possui deve ir, por lei, para a família de origem. E conservador deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ),
nada garante que os outros 50% parem nas mãos do compa relator da comissão especial que deve começar a funcionar
nheiro. “Se for eu a faltar, Luiz Carlos talvez não tenha di nesta quarta-feira. A constitucionalidade do projeto promete
reito sequer à guarda de Leonardo”, conta Augusto, que a ser o ponto central das discussões. Pela Constituição, o
dotou o garoto dizendo-se
solteiro, ainda que a decisão
tenha sido do casal. O proje HÇÜig&llSS&B “A união civil é instrum ento ju ríd ic o p a r a que
p o ssa m se relacion ar com a sociedade como
to de união civil não fala em
adoção, mas certamente fa ca sa is”, dU M a rta Suplicy, autora do p rojeto
voreceria Luiz Carlos. E e
vitaria dramas como o de Toni Reis e David Harrad, que vi Estado só reconhece como unidade familiar uniões heteros
vem juntos há seis anos em Curitiba. Os dois quase se sepa sexuais estáveis. Professor da disciplina Aids e aspectos
raram porque o visto de David, que é inglês, estava venci jurídicos da Faculdade Cândido Mendes, Marcelo Turra diz
do. A mãe de Toni, viúva, 65 anos, chegou a dizer que se ca que o projeto dribla a inconstítucionalidade ao não tentar le
saria com o genro para ajudar o filho. Não foi preciso. A galizar o casamento gay. “Apenas preserva direitos que vão
ONG Dignidade empregou David, garantindo-lhe o visto. surgir com a união” , diz. “É um assunto muito polêmico. A
A deputada federal Marta Suplicy (PT-SP) - autora do maior dificuldade para formar a comissão foi o excesso de
projeto - explica que a lei asseguraria aos casais homosse deputados querendo participar”, diz Roberto Jefferson, que
xuais direitos civis semelhantes aos estipulados a heterosse quer ver o projeto ir a plenário ainda este ano. Leis seme
xuais. Mas seria preciso oficializar a união no papel, com lhantes vigoram em vários países (ver quadro na pág. 17).
um contrato. “É simplesmente um instrumento jurídico pa Por aqui, Augusto e Luiz Carlos estão otimistas. Mas se
ra que essas pessoas possam relacionar-se com a sociedade prepararam para o pior. Têm seguro de vida e testamentos
como casais”, explica Marta, que debateu o assunto por um prontos, privilegiando um ao outro. Cláudio Nascimento, de
D O M IN G O 15
25 anos, e Adauto Belarmino, 31, ainda não pensam tão lon
ge. Casados em uma cerimônia religiosa no Rio, há dois
anos, optaram por estabelecer uma sociedade de fato, insti
tuição jurídica que qualquer grupo de pessoas pode formar.
Um juiz mais conservador, porém, dificilmente considera a
sociedade válida para amparar uniões homossexuais. Cien
tes disso, Cláudio e Adauto se previnem, repartindo o que
conquistam. “O carro fica no nome de um, o telefone no no
me de outro e assim vai”, diz Cláudio.
Luiza Granado, 36, é Mirian Martinho, 41, vivem juntas
em São Paulo há sete anos e nunca se preocuparam com di
visão de patrimônio. Sequer pensam em assinar o contrato
de união civil, caso o projeto seja aprovado. Preferem evitar
formalismos. Mas defendem o direito de qualquer casal gay
legalizar sua situação. “O projeto amplia os direitos civis
dos homossexuais”, diz Mirian, que coordena, com Luiza, a
Rede de Informação Um Outro Olhar, ONG que trabalha
com homossexualismo feminino e Aids. Já o cantor lírico
Raymundo Pereira, 35, não vê a hora de se casar com seu
noivo, o pastor americano Thomas Hanks, 61. “Assim que o
projeto for aprovado, vamos firmar contrato e fazer um bo-
chincho na Prefeitura do Rio”, promete Raymundo.
Enquanto isso, Augusto e Luiz Carlos, o casal da Tijuca,
vão tocando a vida a dois. Para lazer, sobra pouco tempo,
que os dois aproveitam na casa de campo em Sampaio Cor
rêa, distrito de Saquarema. Ficam longe das badalações e
não freqüentam boates gays. Nada contra; só não gostam. O
isolamento ajuda a driblar uma das diferenças mais eviden
tes entre casais gays e hetero: raramente um estranho pre
sencia uma demonstração mais íntima de carinho. Um bei
jo, um afago, uma carícia despretensiosa em público são lu
xo que se vêem obrigados a dispensar.
Quando se deram conta desses limites, Augusto e Luiz
Carlos resolveram criar o Grupo Arco-Íris de Conscientiza
ção Homossexual. Foi em 93, na volta de uma lua-de-mel M irian e Luiza não planejam a ssin a r o contrato de.
em que comemoraram 10 anos de casados. Estiveram em
São Francisco, a cidade do mundo em que, dizem, os ho assassinado a cada quatro dias no Brasil. Com base em re
mossexuais menos temem a visibilidade e mais fazem valer cortes de jornais, o grupo enumerou, entre 1980 a 95,1.300
seus direitos. A bandeira do arco-íris, símbolo da luta ho crimes facilitados ou determinados pela orientação sexual.
mossexual, tremula na mesa do gerente de banco ou na por Das vítimas, 71% são homens gays, 23% são travestis e 6%
ta da casa do açougueiro. Casais do mesmo sexo circulam são lésbicas. “Na maioria dos crimes, há requintes de cruel
de mãos dadas sem receio. “Foi um choque de cidadania. dade. Os assassinos mais comuns são policiais, michês e pa
Nós dois, tão esclarecidos, tão intelectualizados, não conse rentes”, diz Mott, 50 anos, casado há 11 com o estudante de
guimos ficar à vontade nem lá”, lembram Augusto e Luiz História Marcelo Ferreira, 29. Uma pesquisa da Rede de In
Carlos, que não tiveram coragem de demonstrar carinho em formação Um Outro Olhar também obteve números preocu
público. Naquela mesma época, um amigo morreria com pantes: 80% das mulheres homossexuais foram agredidas
Aids, sem recorrer a ninguém com medo de ter sua homos com palavras ou fisicamente por causa da orientação sexual.
sexualidade revelada. Pouco
depois, numa reunião infor Leonardo, filho adotivo de Augusto e Luiz Carlos,
mal na casa de Luiz Carlos e
Augusto, nascia o Arco-Íris. I
j á fo i alvo de implicância dos colegas. Superou
Mais de 500 pessoas já tudo e hoje incentiva os pais a darem entrevistas
circularam pelas reuniões
do grupo. Toda sexta-feira à noite, de 30 a 40 homossexuais, Voltemos à Tijuca: Augusto e Luiz Carlos nunca se vi
a maioria homens, reúnem-se para trocar idéias sobre dis ram em grandes apuros por causa do preconceito. A confu
criminação, anonimato, família, sexo, paternidade, Aids e o são mais barulhenta foi com a vizinhança do prédio onde
que estiver “engasgado”. O preconceito funciona como fer moram. A mais dolorosa, envolveu Leonardo. “No início,
tilizante para as 63 ONGs dedicadas ao movimento gay no dávamos o nosso endereço para localização do Arco-íris. A í
Brasil. Uma das mais conhecidas é o Grupo Gay da Bahia começaram a reclamar, dizendo que o funcionamento de um
(GGB), que nasceu de um tabefe, em fins de 1979. Quem grupo gay desvalorizaria os imóveis”, lembra Augusto. O
conta é o antropólogo Luiz Mott, fundador do grupo e líder síndico chegou a apelar à Justiça, mas o processo não deu
da comissão que esteve em Brasília esta semana: “Estava em nada. De lá para cá, os vizinhos retomaram a cordialida
com um namorado no Farol da Barra. Um machão percebeu de e esqueceram do assunto. Há um ano, Luiz Carlos e Au
que éramos homossexuais e me deu um tapa na cara.” Re gusto também se calaram. “Resolvemos parar de dar entre
voltado, reagiu criando o GGB. Mais tarde, uma pesquisa vistas porque implicaram com o Leonardo na escola e ele
do grupo revelaria que Mott teve sorte: um homossexual é não soube como reagir", diz o casal, que rompeu o silêncio
D O M IN G O 16
P o lêm ica LO V E FOREVER.
é m undial
Em artigo publicado
em fevereiro Je 94. no jor
nal oficial do Vaticano, o
papa João Paulo II bateu o
martelo: “Promover as
tendências homossexuais
significa violar a ordem
estabelecida por Deus.”
Mas nem toda igreja pensa
desta forma. Emre os gru
pos protestantes tradicio
nais, algumas facções in
cluem gays em seus qua
dros ministeriais e até rea
lizam cerimônias de casa
mento semelhantes cs he
terossexuais. Nehemias
Marien, 62 anos, pastor da
Igreja Presbiteriana Uni
da Bethesda, em Copaca
bana, abençoou, por ini
ciativa pessoal, pelo me
nos três casais nos últimos
quatro anos. "Quiseram
me linchar. Felizmente a
nossa inquisição i sem fo
gueiras", conta.
Já o ex-seminarista ca C O M O U M A PARKER.
tólico Eugênio Ibiapino
...união civil, m a s defendem o direito d o s gay s dos Santos, 32, diz já ter
abençoado 18 casais gays.
A cerimônia mais badala
da foi a de Cláudio Nasci
mento e Adorno belarmi-
no, em abril de 94, com di Uma PARKER INSÍGNIA é um
reito a grinalda e alianças. presente para sempre. No Dia dos
Alguns países acenam u Namorados, dê uma INSÍGNIA
casamento gay (Suécia,
para quem você ama. Beleza
Noruega. Dinamarca,
Hungria. Bélgica e Holan duradoura e desempenho perfeito
da), mas a questão ainda é fazem da INSÍGNIA um presente
polêmica. Apesar de ter muito especial. E, como todos os
permitido o ingresso dt
instrumentos de escrita PARKER,
gays nas forças armadas,
o presidente Bill Clinton a INSÍGNIA tem certificado de
disse recentemente que garantia e qualidade.
não vetará projeto dos re
publicanos proibindo o ca PROCURE UM DOS REVENDEDORES
samento homossexual (ho ABAIXO E GANHE NA COMPRA UM
je . cerca de 30 cidades re PRESENTE EXCLUSIVO.
conhecem este tipo de RIO DE JANEIRO
união, inclusive Nova Ior • Caneta Continental - (021)262-1616
que e São Francisco). Na • Shok Presentes - (021)259-4496
França, um projeto de • Tabaco Rio Sul - (021)541-8189
união civil foi derrubado • Tutto Bello - (021)256-2189
em 92, mas, desde setem • Pak Presentes -(021)242-6874
bro de 95, seis cidades • Tabacaria Tijuca - (021)228-6944
• Tabaco & Cia - (021)352-2751
francesas permitem que
• Papel Picado - (021)262-6615
gays obtenham certidão de
John M eCarthy e Jorge Luiz: s ó sexo seguro concubinato.
pecuária, e Jane, 29, técnica em contabilidade, casadas há
um ano, discordam. “Não pensamos em maternidade para a
gora por não termos condições financeiras. Mas, daqui a um
tempo, poderemos até engravidar juntas”, diz Rosângela.
Para Augusto e Luiz Carlos, pior do que encarar o pre
conceito e as discussões de escola de Leonardo seria viver
se escondendo. Augusto nunca negou ser gay e jamais se re
lacionou cora mulheres. “Meus pais fingem não saber. Mas
já vieram aqui e viram a cama de casal.” Luiz Carlos tentou
o caminho straight. “N a adolescência, namorava com meni
nas e transava com homens”, lembra. Lá pelos 18 anos,
mantinha relacionamento com uma mulher, de.quem era
noivo, e com um rapaz. “Até ficar claro que eu não era bis-
sexual. M e relacionava com mulheres por homofobia.” Aca
bou expulso de casa ao romper o noivado para assumir a ho
mossexualidade. Foi acolhido por Roberto, o namorado.
Durante mais da metade desse tempo, Luiz Carlos não
voltou a ter contato com os pais, separados, nem com os
dois irmãos. Até o dia em que um amigo , também gay, pa
ra um jantar. O amigo apareceria com o namorado: ningucm
menos que Antônio Carlos, um dos dois irmãos de Luiz
Carlos. ‘F o i uma choradeira. Coisa de novela mexicana",
lembra Luiz. Antônio Carlos, 35, assumiu sua homossexua
lidade de maneira bem menos traumática. “Luiz Carlos me
abriu caminho. Ficamos muito amigos depois desse reen
contro. Mas também não posso dizer que sou mais amiao
dele que de meu irmão heterossexual”, diz Antônio Carlos,
que terminou um casamento de sete anos e vive há um ano
e meio com um novo namorado, Márcio. Às vezes saem a
quatro com Luiz Antônio, o caçula, 33 anos, e sua mulher e
se pegam conversando assuntos de casal.
Depois do reencontro com o irmão, Luiz Carlos retomou
o contato com a família e hoje recebe visitas da mãe. Ela
ainda não entende, mas já tolera a situação. Até admira a es
A da u to e Cláudio (de áculos) c asaram -se em cerim ônia tabilidade com que os dois vivem. Reações iniciais extre
religiosa há dois an o s e dividem a s tarefas do m ésticas mas, como a dela, normalmente são motivadas pnr mal-en
tendidos. “Meu maior problema era ficar imaginando você
para falar a Domingo depois que o próprio Leonardo os in rodando bolsinha, vestido de mulher na R uaR iachuclo'\ te
centivou. Acanhado como quase todo adolescente, ele não ria confessado certa vez ao filho. "Mas eu nunca quis ser
quis dar entrevista nem se deixou fotografar, mas garantiu mulher. Meu maior sonho era encontrar alguém louco feito
aos pais que não se assusta com a implicância dos colegas. eu”, diz Luiz Carlos, que conheceu Augusto numa festa.
Leonardo não tem o que temer. Não é gay. Se fosse, te Nestes 12 anos, nem tudo foi romance. O ano da lua-de-
ria a seu lado leis orgânicas de 71 municípios, inclusive o mel em São Francisco também foi o da crise. Em meio h
Rio, e constituições de 19 estados, entre eles o Rio de Ja mesmice que todo casal sente após tanto tempo juntos, Au
neiro, que proíbem a discriminação por orientação sexual. gusto se apaixonou por outro. “Era o que precisávamos pa
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Sexualidade ra reestruturar o casamento”, diz Luiz Carlos. Os dois nun-
Humana, Nelson Vitiello, as
leis mudam por força de
descobertas científicas. “A “Para a medicina, hom ossexualidade não é
medicina não vê mais a ho doença. M udar isso é com o educar um canhoto
mossexualidade como do a s e r d e stro ”d iz o m édico N elson Vitiello
ença. Também não é sem-
vergonhice. É meramente
uma alteração do objeto de desejo sexual. Querer mudar is ca acreditaram no modelo de fidelidade absoluta, mas a
so é como querer educar o canhoto a se tom ar destro.” consciência veio aos poucos e mudou o comportamento em
Nelson diz que a homossexualidade é uma interação de relação à Aids. No início, até dispensavam o preservativo.
tendências hereditárias com condições ambientais. “Estu Depois, concordaram em usar se transassem com outra pes
dos comprovaram que entre gêmeos idênticos a concordân soa. Agora, usam sempre. Nisso, se parecem com John Mc-
cia de homossexualidade é de 40% a 50%. Entre irmãos co Carthy, 45, diretor de curso de inglês, e Jorge Luiz Rodri
muns, a média é a mesma da população: 6% dos homens e gues, 41, designer, juntos há 16 anos. “As pessoas acham
4% das mulheres. Entre gêmeos não idênticos a incidência que monogamia é vacina contra Aids. Não é”, alerta John.
é um pouquinho maior, mas não é significativa. A idéia de Passado o terremoto dos 10 anos, as maiores discordân-
que há cada vez mais gays no mundo e a de que filho de gay cias de Augusto e Luiz Carlos são sobre como lidar com o
se toma gay também são falsas.” A única dúvida de Nelson Leonardo. “Ficou claro que Luiz Carlos é a pessoa com
é se não faria falta à formação da criança a presença de fi quem quero dormir, pagar contas, lavar cuecas... Com ele,
guras diferenciadas. Rosângela, 39 anos, técnica em agro tenho um projeto de vida.” Parece justo. Mas será legal? ■
D O M IN G O 18
$ & #
S IN D S P R E V GRAUS
Coió é uma gíria gay que significa: iodo tipo de violência fisica, © q u e f a z e r e m c a s o d e •vio áêgicia f í s i i
moral e psicológica, discriminação, achaques ou extorsão, assaltos 10 Ficar calado ou se esconder não ajuda em nada. Pelo contrário, grupos de fascistas,di
e “ Boa-noite Cinderela” por parte de civis e policiais, sofridos pela qüentes e bandidos contam exatamente com isso: que fiquemos com medo, não denur
comunidade gay-lésbica do Stio. mos para que continuem na impunidade.
Os casos de violência têm acontecido aqui, e não são poucos. Nós 2o Se a agressão causar ferimentos leves, entrar em contato imediato com um dos advogi
somos centenas de milhares de cidadãos, trabalhamos e pagamos do Arco-Íris. Caso não seja possível, ir até a Delegacia de Polícia mais próxima e fazs
impostos. Somos consumidores e um segmento importante desta Boletim de Ocorrência, narrando, detalhadamente, todos os fatos ocorridos, todos os
sociedade, temos nossos direitos e vamos fazer valer a nossa mentos sofridos e requerer uma guia para o Exame de Corpo de Delito.
força. 3o De posse da guia para o Exame de Corpo de Delito, ir, imediamente, ao Instituto Mé
N o s s o s D ir e á t o s Legal para o referido exame.
10 Homossexualidade não é crime. Segundo nossa Constituição Federal (Art. 4 o Se a agressão causar ferimentos mais sérios, procurar, imediatamente, um Pronto Socc
5o) somos todos iguais, sendo assim qualquer tipo de discriminação é cri para que possa ser atendimento, e solicitar contato com o Arco-Íris para que possa destaca
me. Na lei orgânica do município do Rio de Janeiro, consta um artigo (Art. S°, advogado para tomar as providências legais e jurídicas.
R Io) que proíbe a discriminação por orientação sexual. S° Em quaisquer dos casos, entrar em contato, o mais breve possível, com o Arco-lris, poi
2o Temos direito à livre expressão de afeto em público. dos advogados irá acompanhar todo o procedimento, idusive, se for o caso, a instauraçü
Inquérito Policial.
3o Temos o direito de ir e vir livremente (art 5, inciso X V daConstituição Federal).
Ô° O grupo Arco-lris é auxiliado por vários advogados que se colocam gratuitamente à disj
4o Qualquer reação ainda que, usando a força para se defender de agressão çáo para qualquer ação legal. Possuímos também uma comissão para:
física por parte de outros, é considerada pelo código penal, legítima defe
• Acompanhar as pessoas às delegacias, dar apoio moral e encaminhá-las aos advogados.
sa (art. 25 do Código Penal Brasileiro).
• Catalogar os casos e enviar um dossiê à comissão de Direitos Humanos, entidades gays
IP ro sa a a çõ ss internacionais e imprensa.
10 O medo não resolve nada. Não vamos viver acuados andando pelos cantos ou deixar de • Se aconteceu algo a você, recentemente ou já há algum tempo e, apesar de na época
freqüentar os lugares de que gostamos. Vamos tentar andarem grupo, em lugares iluminados. não ter tomado providências, mas agora deseja fazê-lo, comunique-se conosco.
2o A prudência é importante. Se você está sozinho ou com poucas pessoas num local deserto
T e l c s tf © r s e s ú r ib e is
e avistar um grupo suspeito, imediatamente mude seu percurso ainda que tenha que
voltar atrás no seu caminho. Polícia: 190
3o Não reaja a qualquer tipo de provocação. Nossa atitude é pacífica e dentro da lei. Instituto Médico Ilegais Tel: 232-6964 / 252-5945 (Av. Mem de Sá, 152 - Lapa - R/c
4 o A cooperação, solidariedade e união são as nossas melhores armas. Se você avistar um dos Somissão I3CÔ<> C O I Ó ! do Grupo Arco-Íris
nossos sofrendo qualquer tipo de achaque ou agressão reaja, chame os ou tros, dê o alarme, vá • Adr - Central 546-1636 / código 5 3 13421
em seu socorro, ligue para a polícia. Isso é fundamental pois os agressores acham que • Cláudio - 293-5322
os homossexuais são fracos, covardes, medrosos, desunidos. • Pedro- 557-5901
A CADA QUATRO DIAS UM HOMOSSEXUAL É ASSASSINADO NO BRASIL.
A maioria são homossexuais masculinos (71 %), mortos dentro de suas próprias casas.
Não deixe que isso aconteça com você. Quando for agredido, procure a polícia. Faça
o Boletim de Ocorrência, peça exame de corpo delito e denuncie o caso aos grupos de
ativistas homossexuais.
Caso você seja vítima de violência e/ou abuso de poder por policiais inescrupulosos,
não se intimide, mas não reaja violentamente. Anote seu nome e o número da viatura
e vá a uma Delegacia Policial.
VIOLÊNCIA ANTI-GAY
Esta história tem que acabar.
INICIATIVA:
GRUPO ARCO-ÍRIS DE CONSCIENTIZAÇÃO HOMOSSEXUAL
Praça da Cruz Vermelha, 36 - Sobrado - Centro - RJ
Tel.: (021) 254 6546
APOIO;
The INCONTRUS
B ^ ll Q UIO SQ UE RAINBOW
PLUG COMUNICAÇÃO
AGRADECIMENTOS:
Grupo Gay da Bahia - GGB
Grupo Dialogay - Sergipe
" -B O A N O IT E
QNDERELA"
★ Não ostente jóias, roupas caras ou qualquer outro símbolo de status social junto a
^ /o c ê sobe que história é esso? um desconhecido. Ele pode se sentir humilhado e, isso pode, gerar conflitos.
Antes de levar alguém para transar, aceite todos os detalhes. Esclareça se ele quer
i / # S fábula, a bruxa faz a bela cair no transar por prazer ou por dinheiro. Se assim for, aceite o preço, o que vão fazer e
sono. Na vida real esta história é assim: você quanto tempo vão ficar juntos. Hido pra não dar margem a discussões no final.
conhece o bonitão, ele joga charme, joga uma
conversa fora e acaba jogando sonífero na sua NÃO SE SINTA IN FERIO R A N IN GUÉM . SER HOMOSSEXUAL
bebida. Conclusão: você acaba sendo
NÃO É CRIME.
roubado e às vezes, agredido.
Esta história, que hão tem nada de fábula, vem
se repetindo. Diversos casos de "Doping", ou
"Boa noite Cinderela" , como vem sendo A CONSTITUIÇÃO FEDERAL GARANTE A TODOS OS CIDADÃOS IGUALDADE
conhecido, continuam acontecendo,
DE DIREITOS E PROÍBE QUALQUER FORMA DE DISCRIMINAÇÃO. ALÉM DISSO,
portanto ABRA O OLHO:
NA LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO CONSTA UM ARTIGO
Nunca beba líquidos
QUE PROÍBE A DISCRIMINAÇÃO POR ORIENTAÇÃO SEXUAL.
oferecidos pelo parceiro
i eventual, a bebida pode NÃO SE DEIXE INTIMIDAR POR CARA FEIA E NEM SE DEIXE LEVAR POR CARAS
'P conter soníferos. E nunca
descuide de seu copa BONITINHAS.
ANEXO - 08
omissão
André Ar r u d a
Total de palavras: 13
MARCELO MOREIRA