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A DIDÁTICA DO "APRENDER A APRENDER" - PEDRO DEMO

As ideias de Pedro Demo agregadas a esta proposição metodológica dizem


respeito à sua contribuição no debate sobre os desafios actuais da educação e à
participação da sociedade civil no campo das políticas públicas.

Pedro Demo se refere à participação como conquista, um processo


infindável, em constante vir a ser, sempre se fazendo. Assim, participação é
essencialmente autopromoção e existe enquanto conquista processual, que precisa
ser quotidianamente reconquistada. Não existe participação suficiente, nem
acabada. A participação, é, portanto um fenómeno político e se constitui num dos
pilares das políticas públicas.

Nesse sentido, a educação constitui um dos canais essenciais para o


exercício da participação. Pedro Demo defende, para isso, que a educação precisa ir
além do mero ensino e aprender, ou seja, superar o processo de
“ensino/aprendizagem”, o que se restringe à absorção de conhecimentos,
permanecendo o educando como objecto receptivo e domesticado. Nesse contexto
de educação não existe ambiente favorável para que a participação política possa
emergir.

Para tanto, um princípio fundamental da educação está na formação de


cidadãos críticos, donos de um saber construído socialmente, o que os torna
capazes de questionar e intervir na realidade de modo crítico e criativo. Uma
proposta pedagógica adequada a estes propósitos é a didáctica do “aprender a
aprender”, cujo enfoque está na sua metodologia emancipatória, traduzida em
competência e habilidades.

Na didáctica do “aprender a aprender”, a pessoa torna-se capaz de saber


pensar, avaliar, criticar e criar, assumindo o papel de sujeito histórico do processo
capaz de conceber e implementar um projecto próprio de desenvolvimento.
Aprender a aprender, é, portanto, uma metodologia crítica ancorada na atitude de
pesquisa. Permite uma constante produção e renovação do conhecimento, o qual se
dá em contacto com o mundo, com a sociedade, de forma interactiva e produtiva.

Na perspectiva do aprender a aprender, não se produz ciência, como a


entendemos academicamente, mas produz-se saber, na perspectiva da formação da
consciência crítica e da reconstrução do conhecimento, evidenciando nisso um
processo de autonomia crescente. É, portanto, a acção investigativa, questionadora,
que qualifica a intervenção na realidade. A intervenção na realidade se dá num
processo participativo, em que os atores sociais, através do diálogo, analisam,
interpretam, sistematizam e definem suas estratégias de acção.
A DIDÁTICA DO “APRENDER A APRENDER” APLICADA À AÇÃO
EXTENSIONISTA

A prática pedagógica de extensão rural, na perspectiva didática do aprender a


aprender, deve estar orientada pelos princípios da acção transformadora do homem sobre a
realidade, ou seja, na sua capacidade de mudar e aprender com as mudanças. Constitui um
esforço ético de contraposição às tendências excludentes historicamente vivenciadas no
espaço rural.

Assim, para uma intervenção crítica e criativa dos atores sociais na realidade em que
estão inseridos, é necessária a implementação de processos participativos integrados às
dinâmicas locais, buscando viabilizar as condições para o exercício da cidadania. Nesse
sentido, a acção extensionista, tendo como de partida a realidade da agricultura familiar, deve
privilegiar a construção participativa de processos de desenvolvimento sustentável, na
perspectiva do fortalecimento de suas formas organizativas e de sua participação efectiva na
formulação e implementação de políticas públicas.

Vale destacar que, no processo de organização dos grupos, deve ser assegurado o
respeito à identidade, à participação da mulher, do jovem, do idoso, dos grupos étnicos,
enfim, a legitimidade e representatividade dos atores sociais envolvidos.

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