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com: a representação cartográfica, a construção do raciocínio geográfico1 e a o mapa só efetiva sua função se ele for lido e interpretado, ou seja,

do e interpretado, ou seja, se o leitor Porque compartilhamos da ideia de que a Cartografia e especificamente


formação inicial de professores de Geografia. conseguir construir significados e entendimentos a partir do contato com os as representações cartográficas possuem uma função primordial no
Não tenho dúvidas de que as representações espaciais são elementos que nele estão representados. Portanto, não basta estudantes se desenvolvimento do raciocínio geográfico, bem como nas aprendizagens do
instrumentos primorosos para auxiliar na compreensão das relações limitarem a decodificar os elementos do mapa. pensamento espacial de estudantes de qualquer idade, da Educação Infantil ao
socioespaciais. Isso porque essas auxiliam professor e aluno na construção de A atividade de (re)conhecer o espaço implica na compreensão mais Ensino Superior, por tratar-se de uma linguagem capaz de revelar as formas e
conhecimentos, conceitos, habilidades e competências imprescindíveis à leitura acurada do sujeito em se identificar como agente da transformação processos da organização socioespacial.
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE MAPAS PARA EFETIVAÇÃO
DO RACIOCÍNIO GEOGRÁFICO: EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES do espaço vivido e do espaço mundial, tornando-os capazes de representar socioespacial. Inclusive, nesse sentido, buscou-se com as atividades de Portanto, neste ensaio busco compartilhar o modo como me posiciono
suas realidades, entendendo as suas histórias e as contradições da sociedade. cartografia escolar, desconstruir “tradições do ensino de cartografia” e se diante das lacunas existentes no processo de ensino e de aprendizagem de
Paula Vanessa de Faria Lindo Passini (2013) afirma que na Geografia as representações cartográficas ainda apropriar e usar a linguagem cartográfica no contexto da construção dos cartografia, bem como tenho trabalhado para contribuir com o raciocínio
Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS
Campus Erechim/RS permitem que seja estabelecida a relação entre forma e conteúdo, já que a conhecimentos geográficos e no do desenvolvimento do pensamento espacial. geográfico de estudantes que serão futuros professores.
paula.lindo@uffs.edu.b utilização de diferentes linguagens melhora a significação do espaço O que significa dizer, como diz Katuta (2004), que não se pode usar a

Resumo: geográfico. Essas representações abrem possibilidade para que o representação cartográfica per se, mas como instrumental primordial, porém, EXPERIÊNCIAS E QUESTIONAMENTOS
Este ensaio propõe uma reflexão sobre o ensino da cartografia na Educação Básica e no
conhecimento sobre o espaço se aprofunde e se amplie. “A leitura permite ver não único, para elaboração de saberes geográficos. Um dos desafios que me movimenta na Geografia, ultimamente, é o
Ensino Superior para o desenvolvimento do raciocínio geográfico, como previsto na Base
Nacional Curricular e para além da formação escolar, como forma de pensar e conceber a o objeto e o objeto pode ser lido numa coordenação de ações que faz o sujeito Nesse sentido, em pleno século XXI, continuo questionando o papel da trabalho com o uso, leitura e elaboração de representações espaciais no curso
realidade. A partir da leitura de artigos e das experiências vividas em diferentes espaços da
universidade pública, observa-se que muitos conteúdos de cartografia não são trabalhados de passar de um conhecimento menor para um conhecimento melhorado” cartografia na escola, no Ensino Superior e no cotidiano. Ou mais de formação de professores. Afinal de contas, se o mapa é um dos
maneira suficiente para desenvolver o pensamento espacial dos estudantes. Também percebe-
se que há dificuldades de leitura, interpretação e elaboração de mapas que auxiliam na (PASSINI, 2013, p. 147). especificamente, o papel da cartografia nos currículos dos cursos superiores de instrumentos primordiais para a apreensão dos fenômenos espaciais, o que
compreensão de temas e conceitos geográficos. Partindo do pressuposto que os mapas e
outras representações devam ser incorporados como possibilidade para a construção e É sabido que qualquer construção de conhecimento pressupõe o uso de formação de professores de Geografia e Pedagogia, bem como o seu falta no cotidiano da sala de aula para efetivarmos a leitura e elaboração das
comunicação do raciocínio geográfico, propõe-se que esse seja concebido em duas etapas:
várias linguagens, que são diferentes tipos de signos construídos sócio- significado para o desenvolvimento do raciocínio geográfico. Por quê? Porque representações espaciais? Este trabalho, como mencionei anteriormente, trata
primeira, a qual foca em princípios de localização, extensão e distribuição e, segunda,
direcionada para saberes mais complexos de conexões, detecção de padrões-tendências do historicamente pela sociedade, com o intuito de comunicar e apreender ainda se detecta, na educação formal, grandes lacunas no processo de ensino de observações e reflexões da minha experiência com a Cartografia e a
fenômeno representado e estrutura espacial. Na busca por efetivar a prática de leitura,
interpretação e elaboração de mapas, apresentam-se sugestões com base em Simielli (1999), saberes e ideias sobre fenômenos, organizações espaciais, objetos, fatos etc. e aprendizagem de elementos cartográficos e dos mapas. Geografia, cuja intenção é compartilhar situações e buscar a construção de
Martinelli (2003) e Katuta (2002). Finaliza-se este texto apresentando cinco pontos necessários
para que estudantes, professores e futuros docentes ressignifiquem as representações Na ciência geográfica, além da linguagem escrita e oral que auxilia no ensino Porque pesquisas e artigos científicos, como os de Almeida (2011), diálogos.
cartográficas em seus cotidianos.
de conceitos e temas geográficos, a linguagem gráfica e cartográfica é utilizada Santos (2012) e Martin (2011), revelam a existência de um conjunto Minha relação com a Cartografia se inicia na Graduação e Pós-
Palavras-chave: representações cartográficas, raciocínio geográfico, leitura de mapas,
para representar quantidades e qualidades dos fenômenos representados. significativo de professores da Educação Básica com dificuldades para Graduação a partir da elaboração de mapas em SIG e de seus usos como
educação geográfica.
Portanto, essas representações possibilitam a análise espacial da informação trabalharem com mapas e conteúdos de cartografia escolar em sala de aula. instrumentos para auxiliar políticas públicas sociais. Nos últimos nove anos,
INTRODUÇÃO por meio da localização de diversidade, de ordem e de proporcionalidade dos Nessas pesquisas, docentes afirmam que faltou fundamentação teórica/prática como docente da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Erechim,
O ensino de Geografia é um constante desafio à prática docente, pontos, linhas e áreas de ocorrências de fenômenos e/ou processos. em sua respectiva formação de professores. Esses artigos demonstram que a tenho me dedicado ao ensino de Cartografia.
sobretudo para professores que estão em formação e/ou fase inicial da carreira Possibilitam? Sim, possibilitam, pois apesar da máxima que a tarefa cartografia muitas vezes é ensinada como se fosse conteúdo isolado de Construo e elaboro minha compreensão e concepção de cartografia com
profissional, seja na Educação Infantil, na Educação Básica ou no Ensino essencial da representação gráfica seja transcrever as relações de diversidade, coordenadas, escala, fuso horários e orientação. Os mapas são utilizados base em referências como Lívia de Oliveira, Maria Helena Simielli, Le Sann,
Superior. Dentre esses desafios chama atenção a convergência de teorias e de extensão dos fenômenos, da distribuição do fenômeno representado, da como simples instrumentos de localização ou como enfeite, cujas atividades, Rosangela Doin de Almeida, Elza Passini, Gisele Girardi, Sonia Castellar,
metodologias de ensino para o (re)conhecimento do espaço geográfico, tanto ordem e proporcionalidade espacial, de maneira a não gerar múltiplas leituras, na maior parte das vezes, são copiar, pintar e decorar. Trata-se de um Salete Kozel, Angela Katuta, Rosangela Archela, Ruth Nogueira, Mafalda
do ponto de vista da complexidade dos seus significados quanto da escala de empobrecimento do ensino e da compreensão da comunicação cartográfica Francischett, Marcelo Martinelli, Henri Acselrad, John Harley, Jader Janer
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O significado de raciocínio geográfico mencionado neste texto é baseada em estudos de
apreensão de fenômenos e processos que o caracterizam. Roque Ascenção, Valadão e Silva (2018). Para os respectivos autores trata-se de um enquanto processo (observação da realidade, elaboração gráfica com auxílio Moreira Lopes entre outros. Neste último período, especificamente, atuei no
movimento intelectual no qual se articula os componentes de pensamento espacial, os
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Neste ensaio, dedico-me a sistematizar reflexões acerca de possíveis conceitos fundantes da espacialidade e as dimensões cognitivas. Já o pensamento espacial é da linguagem cartográfica, o mapa como materialização da informação Curso de Licenciatura em Geografia e Pedagogia: i) ministrando componentes
compreendido como uma habilidade cognitiva relevante para o ensino de Geografia, que
relações e reproduções observadas durante momentos de estudo e de trabalho engloba ações que podem construir o raciocínio geográfico. cartográfica, usuário/leitor do mapa). curriculares de Cartografia Geral, Cartografia Temática e Cartografia Escolar; ii)

coordenando o PIBID com foco na Cartografia; iii) coordenando grupo de Há um acúmulo tão significativo sobre a importância dos mapas no pensamento espacial”, cujo foco do aprendizado é a ampliação gradativa da referentes ao espaço geográfico. Percebo que o domínio das regras da
estudo de Cartografia Social; iv) orientando trabalho de conclusão de curso desenvolvimento do raciocínio geográfico que não cabe mais questionar sobre concepção do que é um mapa e de outras formas de representação gráfica. semiologia gráfica não é suficiente para interpretar um mapa. Saber os
relacionado ao ensino de Cartografia na Educação Infantil e Ensino. “para que servem os mapas?”. Diante do exposto, parece-me pertinente Consta na BNCC (BRASIL, 2017, s./p.) que: métodos de representação cartográfica não é o bastante para se elaborar
Fundamental; e v) elaborando e executando projeto cartográfico para estudo da questionar o uso e a compreensão dos mapas nos cursos de formação de mapas. Ler mapas significa muito mais do que decodificar símbolos traduzidos
No Ensino Fundamental – Anos Iniciais, os alunos começam, por
Covid-19 no município onde atuo/moro. professores, já que se observam tantas falhas no cotidiano escolar e não meio do exercício da localização geográfica, a desenvolver o na legenda, é necessário prática. Katuta (2002) já afirmou que a leitura
pensamento espacial, que gradativamente passa a envolver outros
A lista de atividades desenvolvidas me permite detectar comportamentos escolar. princípios metodológicos do raciocínio geográfico, como os de propriamente dita deve auxiliar ou proporcionar ao leitor a atribuição de
localização, extensão, correlação, diferenciação e analogia espacial.
e me posicionar diante do ensino da cartografia escolar e dos usos das Questiono-me sobre o papel de componentes curriculares (CCRS), em No Ensino Fundamental – Anos Finais, espera-se que os alunos
significados.
representações cartográficas na Geografia. Seja nas escolas onde cursos de Licenciatura em Geografia, como Cartografia Básica, Introdução à consigam ler, comparar e elaborar diversos tipos de mapas temáticos, Na tentativa de efetivar a prática de leitura e interpretação de mapas no
assim como as mais diferentes representações utilizadas como
supervisionei estágio curricular, nas turmas onde acompanhei o PIBID e/ou nas Cartografia e Cartografia Temática e sobre o usos-ausências de ferramentas da análise espacial. Essa, aliás, deve ser uma Ensino Superior, incentivo os estudantes a realizarem uma primeira leitura,
preocupação norteadora do trabalho com mapas em Geografia. Eles
aulas das componentes curriculares do curso de Licenciatura em Geografia da representações cartográficas em outras CCRS do referido curso. Será que os devem, sempre que possível, servir de suporte para o repertório que buscando identificar inicialmente os principais elementos dos mapas
faz parte do raciocínio geográfico, fugindo do ensino do mapa pelo
UFFS, identifico, por exemplo, que apesar dos mapas e dos globos serem objetivos e conteúdos dessas componentes auxiliam os estudantes: i) a pensar mapa, como fim em si mesmo. (Quadro1):
instrumentos frequentemente associados ao ensino de Geografia, esses o espaço?; ii) a olhar, observar, descrever, registrar e analisar a relações
Apesar de críticas relacionadas ao modo como a BNCC foi elaborada e Quadro 1: Principais elementos do mapa para leitura inicial e aproximação da temática
instrumentos são pouco utilizados ou simplesmente ignorados como recursos socioespaciais?; e iii) a ler e representar tais relações? Talvez as respostas representada.
de sua respectiva implementação, gostaria de chamar atenção para um ponto Principais elementos dos mapas
para o desenvolvimento do pensamento espacial e do raciocínio geográfico. não sejam óbvias e muito menos simples, afinal de contas, se assim fosse, não
interessante. Na Base, fica explícito que o papel das representações TÍTULO: onde se encontra o nome do mapa Qual a localidade está representada
Então, ainda que frequentemente presentes no imaginário social quando haveria tantas lacunas no ensino e aprendizagem de cartografia. (para identificar a temática, recorte espacial e no mapa?
cartográficas não está restrito a localização e identificação da distribuição dos temporal).
associado à Geografia, em que medida se configuram em objetos para ESCALA: indica quantas vezes a superfície real Qual escala foi utilizada no mapa?
fenômenos espaciais. Os mapas e outras representações devem ser
foi reduzida (para se familiarizar com a fração e ( ) escala gráfica ( ) escala numérica
aprendizagem de raciocínios geográficos? CARTOGRAFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA E NA LICENCIATURA EM
incorporados como possibilidade para a construção e comunicação do desenvolver a noção de distância). Escreva a escala Numérica:
Outro fato que colabora para minhas reflexões e sistematização das GEOGRAFIA: CAMINHOS METODOLÓGICOS FONTE: indica de onde foram extraídos os dados Quais instituições responsáveis pelos
raciocínio geográfico. utilizados para a elaboração do mapa e a data dados? De qual ano são os dados
ideias é a atual visibilidade dos mapas nas mídias, relacionados à Covid-19. No Um possível ponto de partida para (re)pensar o uso da cartografia em (para perceber que a informação não é neutra, para elaboração dos mapas?
Tendo em vista os elementos supracitados, questiono-me como serão que tem uma origem e intencionalidade).
Brasil, desde março de 2020, verifica-se nos noticiários de telejornais, em CCRS de Licenciatura em Geografia, com vistas ao ensino de Geografia, pode ORIENTAÇÃO: onde se encontram os pontos Quais pontos cardeais de referência
abordados conteúdos de escala, orientação, coordenadas geográficas, fusos
cardeais (para observar que nem sempre a no mapa?
diversos sites de notícias e nas mídias sociais, uma quantidade generosa de ser a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Esse documento estabelece orientação é Norte ou que é possível usar outra
horários, cartas topográficas, elementos de semiologia gráfica etc., por
mapas sobre a quantidade de casos de Covid-19 e mortes. Diante da competências e habilidades que devem ser desenvolvidas durante a orientação).
exemplo, para que seja efetivado o que consta no documento normativo e LEGENDA: onde se encontra o significado dos O que as cores significam? O que os
exposição à sociedade de diversos mapas, costumo observar comentários e escolarização básica e elenca um conjunto de conhecimentos que todos os símbolos e cores dos mapas (que temas símbolos significam?
sobretudo para que o raciocínio geográfico seja gradativamente desenvolvido. representam? Como a temática é representada?).
reações, entre os quais há especialmente um que me incomoda: “que mapa estudantes têm o direito de aprender. A Geografia é estabelecida na BNCC ao Quais informações descobri nesse mapa: (a ideia é transformar a linguagem cartográfica
Para que futuros professores consigam desenvolver o objetivo previsto na linguagem escrita; esse processo auxilia na leitura e na formulação de novos
bonito!”. Claro que a estética do mapa pode ser levada em conta, mas a longo dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, questionamentos).
na BNCC, também se faz necessário avançar na atividade de leitura dos
problemática é quando o leitor “passivo” reduz a representação a uma figura enfatizando a necessidade do desenvolvimento do raciocínio geográfico e do Fonte: Material organizado a partir de referências como Simielli, Martinelli, Loch.
mapas. Além de saber localizar geograficamente continentes, estados, países,
bonita. pensamento espacial2. A BNCC do Ensino Fundamental, por exemplo, divide a Em um segundo momento, quando já se trabalham os elementos
cidades ou saber a localização de rios, bacias hidrográficas, cadeias
Penso que esse tipo de postura é comum, porque os poucos mapas Geografia em cinco unidades temáticas: 1. O sujeito e seu lugar no mundo; 2. semiológicos da Cartografia Temática, com base em Marcelo Martinelli (2003),
montanhosas, por exemplo, estudantes da Educação Básica, da graduação e
existentes nas paredes das salas de aula da Educação Básica e até do Ensino Conexões e escalas; 3. Mundo do trabalho; 4. Formas de representação e realiza-se uma leitura técnica do mapa. O objetivo dessa atividade é
professores precisam saber interpretar, analisar e elaborar mapas. Nos cursos
Superior são apenas peças decorativas, utilizados de vez em quando para pensamento especial; e 5. Natureza, ambientes e qualidade de vida. Elas são compreender como os elaboradores de mapas organizaram suas respectivas
de formação de professores de Geografia, os licenciados precisam, ao se
localizar pontos e áreas. Um uso restrito e pobre. É salutar interrogar o mapa, subdivididas em objetos de conhecimento e habilidades. representações. Além disso, é possível desenvolver o hábito de visualizar e
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formar, saber fazer uso da Cartografia e das representações cartográficas
compreender os fenômenos representados e questionar o porquê. Perguntar e Aqui destaco a unidade temática “Formas de representação e pensar como se organizam as representações. Trata-se de um modo dos
como instrumentos para a construção de saberes.
responder “onde?”, “o quê?”, “em que ordem?” e “quando?” o fenômeno é estudantes exercitarem a decodificação do mapa a partir dos seguintes
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Na BNCC não há uma conceitualização ou um aclaramento do significado de raciocínio
A leitura e interpretação de mapas tem de auxiliar a responder questões
representado, pode ser um primeiro passo para leitura ativa. geográfico e pensamento espacial.
elementos: a) método de representação: qualitativo, ordenado, quantitativo; b)

forma de implementação: pontual, linear e/ou zonal; c) variável visual: forma, Quadro 2: Sugestões de perguntas que podem ser elaboradas para ajudar na leitura e socioespaciais. Meus estudos e experiências demonstram que há problemas ed. São Paulo: Contexto, 2004. p. 133-139.
interpretação de mapas.
tamanho, cor, valor, granulação e orientação; e d) percepção visual: seletiva, Exemplo de questões para ler e interpretar o mapa estruturais no trabalho realizado com os conhecimentos cartográficos nas
MELO, I. B. N. Proposição de uma cartografia escolar no ensino superior.
associativa, ordenada. Questões Exemplos: escolas e em cursos de formação de professores esse problema é estrutural. É 2007. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geociências e Ciências
O quê? O que está representado no mapa? Qual ou quais fenômenos o mapa está
Exatas, Universidade Estadual Paulista (UNESP), 2007.
Esse exercício coloca os estudantes em uma posição mais ativa frente representando? necessário avançar nos usos e na construção das representações a partir de
Onde? Onde se localiza determinado Iugar? Onde ocorrem ou não os fenômenos a, b ou
ao mapa. Passa a entender o mapa como um objeto construído e passível de c? Onde se localiza a maior área? Onde estão localizadas as principais jazidas teorias e métodos para que haja clareza no processo de desenvolvimento do MARTIN, M. M. Alfabetização cartográfica no ensino fundamental: reflexões e
de didáticas. Revista Geográfica de América Central, v. 2, p. 1- 21, 2011.
ser questionado. Ao dominar as regras semiológicas, ele se coloca na posição ouro no território brasileiro? pensamento espacial e para a construção do raciocínio geográfico.
de elaborador, pois consegue avaliar os elementos utilizados e pensar outras Quanto? Qual a produtividade industrial e agrícola de determinadas áreas? Quantos Para concretizar tais aprendizagens, penso que estudantes, professores MARTINELLI, M. Mapas da Geografia e Cartografia Temática. São Paulo:
habitantes existem por quilômetro quadrado num determinado espaço? Qual a
média de precipitação da área x ou y? Quantas mortes no território w? Quantos Contexto, 2003.
possibilidades de representar a temática em análise. e futuros docentes precisam: a) aprender elementos de semiologia gráfica e
casos de infectados por área?
Para Simielli (1999), a leitura de mapas pelos estudantes do Ensino Quando? A partir de que década houve o aumento de usinas hidrelétricas no Brasil? Em conhecer outras metodologias não convencionais de representação espacial; b) PASSINI, E. Y. Alfabetização cartográfica. In: PASSINI, E. Y.; PASSINI, R.;
que período houve a expansão da cultura cafeeira no norte do estado do Paraná? MALYSZ, S. T. (orgs.). Prática do ensino de Geografia e estágio
Fundamental, Médio – e aqui incluo os estudantes do Ensino Superior – se Em Como se configuram as altitudes em determinado local? Quais são as ordens dominar conceitos geográficos relacionados aos fenômenos mapeados; c)
supervisionado. São Paulo: Contexto, 2013.
que representadas? Quais as áreas em uma cidade em que ocorrem uso residencial
constitui de um trabalho em três níveis: 1) localização e análise (o aluno ordem? intenso, moderado e baixo?
pesquisar informações, dados e outros subsídios que auxiliem na elaboração
Fonte: elaborado por Angela Katuta (2002, p. 173), com alterações da autora. SANTOS, I. S. Dificuldades em ensinar/aprender cartografia nas séries iniciais:
localiza e analisa um determinado fenômeno no mapa); 2) correlação (eles de leituras mais complexas da temática mapeada; d) saber elaborar questões
desafios na formação do professor/pedagogo. Revista Metáfora Educacional,
correlacionam duas, três ocorrências); e 3) síntese (o aluno analisa, relacionadas à temática mapeada para viabilizar reflexões sobre a realidade; e n. 13, p. 125-139, 2012.
Katuta (2002) ainda afirma que questões como “por que?” e/ou “como?”
correlaciona aquele espaço e faz uma determinada síntese de tudo). estão relacionadas à lógica da distribuição territorial dos fenômenos e apenas e) praticar com mais frequência a elaboração de representações e projetos
SIMIELLI, M. E. R. Cartografia no Ensino Fundamental e Médio. In: CARLOS,
Trata-se de um longo processo de ensino e de aprendizagem que visa a leitura do mapa não será suficiente para obter resposta. Daí a importância de cartográficos. A. F. A. A Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto,1999. p. 92-108.
desenvolver o raciocínio geográfico, como já foi dito. Pode-se dividir as Fazer leitura crítica/reflexiva de representação cartográfica faz parte do
o estudante pesquisar, resgatar ou construir um conjunto de saberes ROQUE ASCENÇÃO, V. O.; VALADÃO, R. C.; SILVA, P. A. Do uso
aprendizagens desse modo de pensar e fazer geográfico em duas etapas: i) desenvolvimento do raciocínio geográfico e exige tempo e treino. Por isso, faz- pedagógico dos mapas ao exercício do Raciocínio Geográfico. Boletim
geográficos, como, por exemplo, o trabalho de campo3, inclusive para alcançar
Paulista de Geografia, v. 99, p.34-51, 2018.
focada em princípios de: localização (no terreno), extensão (limites e fronteiras) se necessário o uso constante de representações cartográficas ao longo de
a segunda etapa do raciocínio geográfico. Essas aprendizagens não ocorrem
e distribuição (dos elementos representados); e ii) direcionada para saberes de maneira automática, é necessário praticá-la. toda formação dos estudantes, não somente em componentes curriculares
mais complexos de: conexões (compreensão da relação entre objetos e Sem dúvidas, o tema cartografia escolar é relevante para o contexto específicos de cartografia. Em razão disso, insisto para que todos os docentes
lugares), detecção de padrões e tendências do fenômeno representado e das diversas subáreas da Geografia exercitem com seus discentes a leitura e
educacional em sentido amplo, no que diz respeito aos processos de ensino e
estrutura espacial (ordem espacial dos elementos representados) interpretação de representações gráficas e cartográficas, pois a prática
de aprendizagem e, também, para o Ensino de Geografia/Educação
Com o objetivo de efetivar os níveis de leitura proposto por Simielli, é docente, além de ser um momento de construção do conteúdo, também é um
Geográfica de forma mais específica. Isso porque tais conteúdos são
interessante buscar no mapa elementos para responder “o quê”, “onde”, exemplo do fazer pedagógico.
imprescindíveis para que o estudante se reconheça como um sujeito capaz de
“quantas”, “quando” e “em que ordem”. Isso auxilia o desenvolvimento da
ler o espaço e transformar a realidade.
primeira etapa do raciocínio geográfico aqui proposto. Veja questões que REFERÊNCIAS
podem orientar o processo de leitura do mapa no Quadro 2. CONSIDERAÇÕES FINAIS ALMEIDA, R. D. (Org.). Novos Rumos da Cartografia Escolar: currículo,
linguagem e tecnologia. São Paulo: Contexto, 2011.
Compartilho da ideia de que cartografia não é apenas um conjunto de
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.
técnicas, ela é também uma construção social, por isso nos cursos de
formação de professores de Geografia os licenciandos precisam aprender a KATUTA, A. M. A leitura de mapas no ensino de Geografia. Revista
NUANCES: Estudos sobre Educação, FCT/UNESP, Presidente Prudente, v. 8,
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utilizar a linguagem cartográfica como instrumento importante para a
n. 8, p. 167-180, set. 2002.
construção de saberes geográficos, bem como para compreender as relações
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KATUTA, A. M. A linguagem cartográfica no ensino superior e básico. In:
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Ver KOZENIESKI, E; LINDO, P.; SOUZA, R. O trabalho de campo como produção de PONTUSCHKA, N. N.; OLIVEIRA, A. U. (Orgs.). Geografia em perspectiva. 2.
conhecimento: contribuições metodológicas à práxis geográfica. Inédito.

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