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9 de junho de 2013

São João de Jerusalém, o Esmoler


Nosso Patrono
Ir∴ José Roberto Cardoso
Loja Estrela D’Alva nº 16 - GLMDF

A Maçonaria é uma doutrina


filosófica assentada em
princípios éticos e morais e traz
em seu bojo aspectos que o
tempo moldou no campo
científico, místico, esotérico,
filosófico e religioso. Sofreu as
mais diversas influências
culturais, principalmente dos
povos da região da Mesopotâmia
e dos egípcios e, mais tarde dos
gregos e romanos.

No hemisfério sul há carência de


documentos, obras literárias e científicas bem fundamentadas sobre
a Arte Real para serem manuseadas e analisadas.

As potências maçônicas possuem suas escolas de estudos, de


perfeição, capítulos, conselhos, consistórios e, também, uma
quantidade enorme de curiosos dentre os quais me incluo.

É certo que o Maçom é livre pensador e que está sempre em busca


da verdade e que essa verdade é sempre subjetiva mudando com
frequência ao sabor do conhecimento ou do entendimento do
pesquisador.
Ultimamente tenho observado dúvidas sobre quem dos São Joões é
o Patrono ou Padroeiro da Maçonaria.

Existem muitas peças de arquitetura a respeito do assunto e, na


mesma proporção, muitas dúvidas.

Fala-se em três Joões: João Batista, João Evangelista e João de


Jerusalém, o Esmoler, sendo os dois primeiros mais famosos e ligados
ao deus Janus e também ao Cristianismo.

De alguma sorte observamos que os princípios da Maçonaria estão


atrelados às virtudes teologais: fé, esperança e caridade e tiveram,
pelo menos no período monacal, grande influência da Igreja Católica.

São Bento de Núrsia

São Bento, nasceu em Núrsia no ano


de 480 e faleceu em Monte Cassino
no ano de 547. Era filho de família
nobre romana e na sua juventude
estudou em Roma. Fundou a Ordem
monástica dos Beneditinos que
embora vivessem reclusos se
dedicavam à construção de Igrejas,
Catedrais e Hospitais e, também,
muito expressivamente às causas
filantrópicas. A maçonaria operativa
se divide em duas partes, o período
monástico dos monges e o período
dos construtores leigos.

Pouco depois da morte de São Bento, nasceu no ano de 550 d.c, em


Amathunt, cidade de Chypre, na Itália, em Amanhut, na Ilha de
Chipre, São João de Jerusalém, o Esmoler, também filho de família
nobre, que se tornou o Patriarca de Alexandria. São João se dedicou
inteiramente aos mais carentes a quem chamava de “meus
senhores”. No período em que exerceu esse cargo se dedicou a
reconstruir Igrejas destruídas no Egito e no Oriente Médio e também
a construir hospitais para cuidar dos pobres.

Logo após sua posse, quando se assentou na cadeira de patriarca de


Alexandria chamou os seus mordomos e lhes disse:

“Não é justo tenhamos cuidado de alguém primeiro de


que Cristo ide pela cidade colher informações e organizai
uma lista de todos os “meus senhores”.

Essa ordem surpreendeu aos auxiliares do ilustre prelado, pois


ninguém sabia quais eram os senhores do patriarca e, indagado sobre
isso disse:

“São os pobres porque eles me podem dar entrada no


Reino dos Céus”.

Uma semana depois se preparou São João Esmoler, como fazia todos
os dias, para receber as súplicas e remediar as queixas dos miseráveis
e necessitados. Passaram-se várias horas e chegou a noite sem que
ninguém o procurasse. Pôs-se o santo muito triste e pensativo, e,
interrogado por um de seus íntimos, explicou:

“Hoje a ninguém fiz bem, nem pude oferecer, em


desconto de meus pecados, o mínimo sacrifício”. (1)

Segundo Alain Demurger, a construção dos primeiros hospícios ou


hospitais foi estimulada pela generosidade e pela insistência dos fiéis
e só foi alcançada através da assistência principesca (DEMURGER,
2002, p. 27-28). Em meados do século VI, o Patriarca de Alexandria,
João, o Esmoler, tinha criado e equipado inúmeras destas
instituições. De acordo com o pesquisador Harrison Smith, ele
auxiliou os pobres e aconselhou a todos aqueles que se abrigavam
em seus domínios. Para João, não havia insignificância em qualquer
pedido de caridade. Após o saque em Jerusalém, em 614, ele também
prestou ajuda aos refugiados e enviou grandes quantidades de
recursos para o alívio da cidade.[2]

Quase quinhentos anos após sua morte, os monges beneditinos,


inspirados em sua obra fundaram, por volta do ano 1.070, a Ordem
dos Cavaleiros Hospitalários, construindo hospitais e cuidando de
enfermos e, principalmente dos feridos durante as lutas nas
cruzadas. O Primeiro Grão-Mestre dessa Ordem foi Geraldo de Tun.
Posteriormente, Godofredo de Bulhão dedica grande soma a
fundação de um hospital que recebeu o nome de São João Batista,
mas o nome desse santo nada tinha a ver com as questões da
Hospitalaria.

Cavaleiro Hospitalário

A pesquisa sobre a origem


dos Cavaleiros Hospitalários
e a dedicação às causas da
Hospitalaria e da
benemerência envolvendo
os monges beneditinos e
São João Esmoler merecem
ser feitas com carinho e
dedicação, em um trabalho
mais amplo, até porque mais
tarde esta Ordem se
transformou na Ordem dos
Cavaleiros de Malta e dará
origem às “Santas Casas de
Misericórdia”, hoje, quase
sempre, além da ajuda da
Igreja, mantidas por
beneméritos e pelo Estado.
Em nossas pesquisas encontramos referências feitas de forma
incorreta sobre São João de Jerusalém. Algumas o citam como se
tivesse deixado toda a riqueza para viver entre os cruzados e criar a
Ordem dos Hospitalários e isso é totalmente inviável, pois viveu entre
os anos de 550 e 619, na Ilha de Chipre.

Na verdade o que houve em 1070 foi a criação da Ordem pelos


monges beneditinos tendo como base o exemplo de São João de
Jerusalém, o Esmoler.

Há um mito também sobre João de Escócia. Diz-se mito porque não


se encontra nenhuma base de sustentação para essa hipótese.

Os outros São Joões são santos bíblicos e a Igreja teve muita


influência sobre os leigos na Idade Média.

É bom que se ressalte que nos primeiros séculos do primeiro milênio


a Igreja teve um duro trabalho de convencimento diante dos
romanos, principalmente aqueles ligados às legiões romanas, uma
vez que se dedicavam ao mitraismo.

Nessa luta a igreja teve que adotar determinados costumes e incutir


na cabeça dos soldados romanos a ideia de que Jesus havia nascido
no mesmo dia em que nasceu o “Sol Invictus”. Aliás, a grande maioria
dos deuses pagãos da antiguidade tinham seus nascimentos
comemorados no Solstício de Inverno.

A Igreja católica adotou a Eucaristia, a Mitra, a Chave de São Pedro e


vários outros simbolismos daquela religião, mantendo em
substituição às chamadas festas saturnálias a comemoração das
festas natalinas.

O Cristianismo, uma vez implantado, tratou de extirpar toda a


tradição pagã até então existente em Roma, que era ditada pelo
mitraísmo.
As festas solsticiais em homenagem ao deus Janus ocorriam em 21
de junho e 21 de dezembro, dias de entrada e saída do verão e
inverno, respectivamente, no hemisfério norte. No hemisfério sul,
ocorre o contrário.

Os santos bíblicos João Batista e João Evangelista estão ligados aos


dois solstícios (verão e inverno). No primeiro (24/06) se comemora o
nascimento de São João Batista e no segundo (27/12) se comemora
o aniversário de João Evangelista.

As evidências da importância desses santos na maçonaria se dão por


conta de serem famosos e representarem esses aspectos simbólicos
e místicos.

São João Batista

São João Batista poderia ser


chamado tranquilamente
como o Patrono dos
Aprendizes por representar
“aquele que inicia”, ou seja,
que batiza. Os aprendizes
após iniciados tomam
acento na coluna do Norte,
que é a coluna de São João
Batista. Aliás, naquele
mesmo lado do Templo está
a coluna zodiacal de Câncer
que também é representada
como sendo a “coluna dos
homens” e por ser onde na
data (22/06) ocorre o
Solstício de Inverno no
hemisfério sul.
São João Evangelista

São João Evangelista, da


mesma forma, poderia ser o
patrono dos Companheiros por
ser aquele que catequisa, que
ensina. Os companheiros
tomam assento na coluna do
Sul, que é a Coluna de João
Evangelista e onde se situa a
coluna de Capricórnio, que é a
“coluna dos espíritos” e ali se
dá o Solstício do Verão no
hemisfério sul (21/12).

Aliás, há na maçonaria uma


cena um tanto quanto
estranha que é a de São João
simbolizando aquele que trai e tem a cabeça cortada. São João
Batista nunca foi um traidor, muito pelo contrário.

Pois bem, para finalizar a nossa simples pesquisa, deixamos bem


claro que nenhum dos santos bíblicos está representado nas obras
de filantropia ou de hospitalaria desenvolvidas pela maçonaria.

São João de Jerusalém, o Esmoler, é o patrono dos nossos Irmãos do


Rito Adhoniramita e com razão, pelo que pude concluir, respeitando,
logicamente aqueles que pensam de forma contrária. A maçonaria se
dedica a fazer a humanidade feliz e a transformação espiritual do
homem em direção à luz.

Era a esses irmãos que o Cavaleiro André Michel de Ransay se referia


em seu famoso discurso de 26 de dezembro de 1736, onde disse:
“nossos antepassados, os Cruzados, reunidos de todas as
partes da Cristandade na Terra Santa quiseram reunir
assim, numa só Confraria, os indivíduos de todas as
nações (....)”. Certo tempo depois, (a) Ordem se uniu aos
Cavaleiros de São João de Jerusalém. Desde então
nossas Lojas trouxeram todas o nome de Lojas de São
João. Essa união foi feita a exemplo dos israelitas,
quando construíram o Segundo Templo. Enquanto
manejavam a trolha e a argamassa com uma mão,
traziam na outra a espada e o escudo.(....)[3]

Eis aí, portanto, a razão das Lojas maçônicas, até hoje, serem
conhecidas como Lojas de São João. Vem desses irmãos cavaleiros,
não só a tradição arquitetônica, propriamente dita, aplicada
especialmente na construção de asilos, hospitais, mosteiros e outras
obras públicas, mas principalmente a atuação filantrópica que se
observa na Ordem maçônica. Tanto que Lojas de hoje ainda se
mantém a tradição de nomear um irmão “hospitaleiro” para recolher
as contribuições dos irmãos para o “hospital”. [4]

Assim, a história dos hospitais filantrópicos está intimamente ligada


às origens e às tradições da maçonaria. Podemos dizer, sem nenhum
constrangimento, que foi o braço filantrópico e piedoso dos irmãos
cavaleiros que deram origem a esse importante equipamento de
saúde, que ainda hoje responde por uma boa parte dos serviços
médicos e assistenciais que servem à população carente do mundo
ocidental.

Destarte, embora as Santas Casas de Misericórdias sejam,


inegavelmente, uma concepção da Igreja Católica, delas não se pode
isolar a valiosa contribuição maçônica. Principalmente nos dias de
hoje, há uma grande participação da Ordem na gestão dessas
entidades. Na grande maioria das cidades brasileiras são maçons os
dirigentes das Misericórdias. Esse é um trabalho que engrandece a
maçonaria e enche os maçons de todo o mundo de justo orgulho.
É bom ressaltar que entre nós temos os nossos Irmãos Shiriners que
se dedicam a essa área de filantropia.

Com base nas evidências apresentadas e nos trabalhos consultados


posso afirmar que o nosso Patrono é São João de Jerusalém, o
Esmoler.

BIBLIOGRAFIA:

1. Ritual do Aprendiz Maçom


2. Biblia Sagrada
3. Trabalho de pós graduação de Bruno Mosconi Ruy e Jaime Estevão
dos Reis (UEM).
4. Trabalho do Ir.´. Hercule Spoladore – Loja de Pesquisas Maçônicas
“Brasil”, intitulado “Santos Padroeiros da Maçonaria, seu simbolismo
e sua relação com as religiões católica e pagã.
5. Bibliografia citada como referência de consultas no trabalho de
pós-gradução:

DEMURGER, Alain. Os cavaleiros de Cristo: templários, teutônicos,


hospitalários e outras ordens militares na Idade Média (séculos XI
– XVI). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, Editor, 2002.

FOREY, A. J. Novitiate and instruction in the military orders during


the twelfth and thirteenth centuries. In: SPECULUM, Vol. 61, nº 1,
1986, p. 1-17.

FOREY, A. J. Military orders from the twelfth to the early


fourteenth century. London: Macmillan, 1991.

GARCÍA, Florencio Huerta; FERNÁNDEZ, Nieves Esther Muela;


CAMPOS, Irene Poveda de. Herencia y la Orden de San Juan (siglos
XIII - XX). Ciudad Real, 1991.
GARCÍA-GUIJARROS RAMOS, Luis. La militarización de la Orden del
Hospital: líneas para un debate. In: Ordens Militares: guerra,
religião, poder e cultura. Actas do III Encontro sobre Ordens
Militares, Vol. 2. Lisboa: Edições Colibri e Câmara Municipal de
Palmela, 1998, p. 293-302.

GARCÍA-GUIJARROS RAMOS, Luis. Papado, cruzadas y órdenes


militares: siglos XI –XIII. Madrid: Cátedra, 1995.

NICHOLSON, Helen. The Knights Hospitaller. Woodbridge: The


Boydell Press, 2001.

NICOLLE, David. Knights of Jerusalem: the crusading Order of


Hospitallers 1100-1565. Oxford: Osprey Publishing, 2008.

RILEY-SMITH, J. Hospitallers: the history of the Orders of St. John.


London/New York: Continuum Publishing, 1999.

SEWARD, Desmond. The Monks of War. Londres, Eyre Methuen:


1972.

SIRE, H. J. A. The Knights of Malta. New Haven e Londres: Yale


University Press, 2005.

SMITH, Harrison. Order of Saint John of Jerusalem. Delft: Akker


Print, Delft, 1977.

6. Sites da internet.

[1] Lendas do Céu e da Terra (Malba Tahan).

[2] Trabalho de Pós Graduação de Bruno Mosconni Ruy e Jaime


Estevão dos Reis, ambos da UEM (Universidade Estadual de
Maringá, intitulado A ORDEM DO HOSPITAL: DO REINO DE
JERUSALÉM À QUEDA DE ACRE (1099-1291).
[3] (1) Jean Palou - Maçonaria Simbólica e Iniciática - Ed.
Pensamento, 1968.

[4] (2) Hospital, na maçonaria, se refere às obras filantrópicas


praticadas pela Loja.

Disponível:
http://joseroberto735.blogspot.com/2013/06/sao-joao-de-
jerusalem-o-esmoler-nosso.html

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