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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Artes, Ciências e Humanidades


ACH 1096 - Resolução de Problemas VI

ARIANY BEZERRA BRAZ


FERNANDO HENRIQUE BATISTA
GUILHERME DIAS PEREIRA
JAQUELINE LOPES POLVANI
JULIA CONTI BARBOSA
LAURA DOMINGUES
LUDMILLA FRANCISCA DUARTE
MAYARA DOS SANTOS COSTA
STEFANNY LIMA
TALITA DANIELA DA SILVA

Drenagem Urbana de São Paulo: Uma análise do Programa de


Recuperação de Fundos de Vale frente aos ODS 6, 11 e 13

SÃO PAULO
2021
ARIANY BEZERRA BRAZ (10526093)
FERNANDO HENRIQUE BATISTA(9318654)
GUILHERME DIAS PEREIRA (11209570)
JAQUELINE LOPES POLVANI (6808464)
JULIA CONTI BARBOSA (11210082)
LAURA DOMINGUES(11209729)
LUDMILLA FRANCISCA DUARTE(11336603)
MAYARA DOS SANTOS COSTA(11242881)
STEFANNY LIMA (11209372)
TALITA DANIELA DA SILVA (11209740)

Drenagem Urbana de São Paulo: uma análise do Programa de


Recuperação de Fundos de Vale frente aos ODS

Trabalho parcial da disciplina de


Resolução de Problemas VI,
apresentado à Escola de Artes,
Ciências e Humanidades da
Universidade de São Paulo, sob
orientação do Prof. Dr. Marcelo
Antunes Nolasco, como requisito
parcial para a aprovação na
disciplina.

SÃO PAULO
2021
RESUMO

A urbanização da forma como ocorreu na cidade de São Paulo resultou em diversas


problemáticas de cunho holístico, dentre elas está um falho sistema de drenagem municipal
que demanda infraestruturas verdes por meio de políticas públicas como o Programa de
Recuperação de Fundos de Vale e o Planclimasp. O presente trabalho tem como objetivo a
análise de um suposto alinhamento entre as ferramentas municipais mencionadas e os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de Nº 6, 11 e 13.

Palavras-chave: Drenagem de São Paulo; ODS; Programa de Recuperação de


Fundos de Vale; Planclimasp; Infraestruturas verdes.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 5

2. FUNDOS DE VALE PAULISTANOS E PARQUES LINEARES 7


2.1. Ocupação e supressão de córregos na cidade de São Paulo 7
2.2. Funções socioambientais de parques lineares (Tali) 9

3. PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DE FUNDOS DE VALE (Ju) 10


3.1. Implementação e atuação do Programa de Recuperação de Fundos de Vale 16

4.ODS E O PRFV 17
4.1. Metas dos ODS 6 (Ari) 17
4.2. Metas dos ODS 11 (May) 18
4.3. Metas do ODS 13 (Laura) 20
4.4. O Programa de Recuperação de Fundos de Vale atinge as metas dos ODS 6, 11 e
13? (Gui e May) 25

5.POTENCIALIDADES DO PRFV FRENTE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 32

6.CONSIDERAÇÕES FINAIS 34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 36
1. INTRODUÇÃO

Em São Paulo, as áreas urbanas periféricas possuem um histórico de ocupação


irregular, caracterizadas pela urbanização acelerada e desorganizada que se inicia em meados
do século XX com a expansão do sistema fabril e os grandes fluxos migratórios para o
Sudeste. A falta de planejamento adequado resultou em problemáticas de ordem social,
econômica e ambiental, como segregação espacial, saneamento básico precário, falta de
manejo de águas pluviais e ocupação de áreas sensíveis, como os fundos de vale (MIRANDA
& DECESARO, 2018).
Enchentes e alagamentos se tornaram um problema crônico na cidade, principalmente
nas áreas de maior vulnerabilidade. Contudo, assim como ocorre com outros serviços de
infraestrutura, os investimentos públicos para melhoria do sistema de drenagem urbana são
normalmente destinados às regiões mais centrais, consideradas de maior interesse econômico,
o que dificulta a resolução do problema (MARICATO, 2000).
A gestão hídrica ganha ainda mais visibilidade e importância no contexto de
variabilidade climática atual. O aumento na frequência e intensidade dos eventos climáticos
extremos poderá causar impactos significativos à vida da população urbana. Um dos
principais efeitos das mudanças climáticas, previstos para a cidade de São Paulo, está
associado ao aumento do número de vítimas de enchentes causadas por chuvas intensas e
tempestades (PLANCLIMASP, 2020).
São Paulo é uma cidade global que abriga mais de doze milhões de pessoas,
apresentando bons status econômicos, mas também grandes desigualdades sociais. Como
metrópole global, o município tem o papel de protagonizar o combate aos efeitos das
mudanças climáticas internacionalmente. A cidade participa da rede global C40, que une
cidades comprometidas a tomar medidas de ações climáticas sustentáveis (TORRES et. al,
2020). Logo, é importante que a cidade alinhe suas ações às metas internacionais, formulando
políticas que garantam a salvaguarda de seus habitantes, com foco especial aos periféricos,
que em demasia serão os mais afetados pelas alterações do clima.
Visando alcançar os objetivos estabelecidos internacionalmente, em 2015, pelo Acordo
de Paris, a Prefeitura de São Paulo lançou, em 2021, o PlanClimaSP, Plano de Ação
Climática do Município de São Paulo, no qual são discutidas de que formas a cidade poderá
ser afetada pelas mudanças climáticas, bem como as medidas que serão tomadas para reagir
ao problema. O estudo contratado para elaboração do plano avaliou as tendências de risco
climático para 2030 e 2050 e identificou as duas principais ameaças enfrentadas pela cidade:
inundações e ondas de calor. No documento, a prefeitura também reconhece a relação entre as
mudanças climáticas e o aumento de enchentes na cidade e, consequentemente, o aumento de
vítimas deste fenômeno (PLANCLIMASP, 2020).
Neste cenário, a implantação de infraestruturas verdes aparece como uma forma de
mitigar os impactos socioambientais decorrentes da ocupação irregular e da falta de manejo
pluvial e controle da vazão de cheias. Essas infraestruturas apresentam soluções
multifuncionais e de longo prazo, dentro de uma escala local de abrangência, e são aplicadas
por meio das técnicas compensatórias, que visam otimizar a infiltração de água de chuva e
reduzir o escoamento superficial. Exemplos de infraestruturas verdes voltadas à melhoria da
drenagem são os jardins de chuva, trincheiras de infiltração, biovaletas, parques lineares,
entre outras. (FRIEDRICH, 2007; PAULEIT et al., 2017)
No âmbito do município de São Paulo, uma diretriz que incorpora infraestruturas
verdes no plano de melhoria dos sistemas de drenagem é o Programa de Recuperação de
Fundos de Vale, disposto no Art. 272, Seção III da Lei nº16.050, de 2014. Trata-se de um
programa voltado ao planejamento de intervenções urbanas nos fundos de vale, integrando
ações de saneamento, drenagem, implantação de parques lineares e urbanização de favelas.
Tais questões também vêm sendo discutidas no âmbito internacional. Em 2015, a
Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu a Agenda 2030, que instituiu os 17
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), os quais integram 169 metas a serem
atingidas até 2030. Trata-se de um compromisso global, assumido por 193 países, incluindo o
Brasil.
Os ODS servem como metas para a redução de impactos sociais, econômicos e
ambientais a serem adotadas na gestão pública de forma prioritária, de modo a alinhar seu
plano de desenvolvimento aos ideais internacionais, visando, como objetivo final, a
erradicação da pobreza e vida digna para todos.
A Agenda 2030 também aponta a importância das cidades globais, como São Paulo, no
papel de “agentes da sustentabilidade", e enfatiza a necessidade de participação de governos
locais a partir da promoção de estratégias focadas em seu local de atuação. Ainda que sua
ação se dê em esfera local, sua contribuição pode reverberar nas esferas regionais e, até
mesmo, na esfera global (TORRES, et. al, 2020, p. 215 e 216).
A adequação da cidade de São Paulo à Agenda 2030 requer uma visão interdisciplinar
sobre a sustentabilidade urbana, por isso, vale ressaltar a relevância deste tema para gestoras
e gestores ambientais. A atuação destes profissionais, quando balizada pela integração das
ODS ao planejamento e gestão do espaço urbano, pode contribuir para que as metas
estabelecidas sejam de fato traduzidas em políticas públicas (SOTTO et al, 2019).
O presente trabalho tem como objetivo verificar se as políticas públicas do município
de São Paulo relacionadas à drenagem urbana, em especial o Programa de Recuperação de
Fundos de Vale, estão alinhadas com os seguintes ODS: Nº06 - garantir disponibilidade e
manejo sustentável da água e saneamento para todos; Nº11 - tornar as cidades e os
assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; e Nº 13 - tomar
medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos (ONU, 2015). (e os
específicos?)
A pesquisa se baseou em artigos acadêmicos sobre o tema, documentos públicos, como
o Planclimasp e o Programa de Recuperação de Fundos de Vale (PRFV), presente na revisão
do Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo de 2014, e o documento Agenda
2030 da ONU, especialmente no que diz respeito aos ODS 6, 11 e 13.
A respeito do método, utilizou-se palavras-chave, tais como: ODS; ODS 6, 11 e 13;
Infraestruturas Verdes; recuperação de fundos de vale; planejamento urbano; parques
lineares; integração de ODS às políticas públicas. As buscas foram realizadas nas bases de
dados "Web of science", "Scielo" e "Google scholar”, de modo a selecionar o material
relevante, considerando o número de citações e aderência ao tema abordado.
Para atingir os objetivos estabelecidos, foi realizada uma pesquisa qualitativa,
permitindo uma abordagem heterodoxa quanto aos diferentes tipos de materiais, (MARTINS,
2004). Estes materiais foram analisados em uma abordagem transversal, permitindo o
cruzamento de dados qualitativos de tipologias diferentes, como documentos e literatura
acadêmica (BARDIN, 2010).
2. FUNDOS DE VALE PAULISTANOS E PARQUES LINEARES

2.1. Ocupação e supressão de córregos na cidade de São Paulo

A infraestrutura urbana está diretamente ligada ao processo de urbanização pretérita


que ocorreu no Brasil, o qual foi um país majoritariamente agrícola. Deste modo, tudo o que
hoje abrange este vasto território é uma consequência das relações do passado que
aconteceram no campo. A distribuição das terras se deu de maneira desigual, e isso acabou
por determinar quem tem e quem não tem poder no campo, e, consequentemente, quem tem
poder nas cidades. Com o aumento da produção e com o uso da mão de obra escrava indígena
e negra, ocorre a modernização agrícola, que acarreta no aumento do consumo e da produção,
o que representa uma importante troca entre o rural e o urbano, de modo que começam a se
formar as vilas e, posteriormente, as cidades (SANTOS, 1993).
A cidade se formou com essa divisão do trabalho agrícola, que levou à divisão
territorial do trabalho, como fruto de uma divisão do espaço de acordo com o que nele é
produzido (cana no nordeste, e café no sudeste). Esta divisão provocou uma segregação
espacial, levando às diferenças regionais. Resultante a este processo tem-se, então, um país
que é urbanizado em torno do aumento da produção, de forma que quanto maior a divisão do
trabalho existente em uma região, mais cidades surgem, com uma maior distinção entre elas,
considerando também o maior número de desigualdades existentes quanto maior a cidade
(SANTOS, 1993).
Um marco importante, ao se tratar do planejamento urbano que resultou na organização
desordenada e desigual das cidades, é o Código de Posturas de 1886. Através dele, o poder
público delimitou a Cidade Legal e a Cidade Ilegal, onde, na primeira, as leis eram cumpridas
e as infraestruturas eram postas, enquanto na segunda ocorria o oposto, sem leis e sem
infraestruturas, proibindo também a instalação de cortiços nos grandes centros. A
industrialização, entre 1950 e 1970, levou muitos imigrantes às grandes cidades em busca de
ofertas de trabalho, o que provocou um rápido aumento populacional. Contudo, as vagas
disponíveis eram desproporcionais à quantidade de pessoas, levando a um aumento na
ocupação da Cidade Ilegal pelas pessoas de baixa renda, como a população escrava liberta e
imigrantes vindos do Norte e Nordeste para a região Sudeste (ROLNIK, 1999).
Assim, em razão desta instalação crescente de imigrantes nessas regiões, a gestão
pública municipal da época se viu com dificuldades em planejar o espaço para alocar
adequadamente toda a população, o que se consolidou em um aumento da ocupação irregular
em áreas de fundo de vale, no entorno de recursos hídricos, mananciais e áreas de várzea
(OLIVEIRA, 2015). Esse planejamento, ocorrido de modo desigual, interligado à falta de
infraestrutura em regiões periféricas, é o que gera grandes problemas atuais, como
deslizamentos, ilhas de calor e enchentes, que tendem a aumentar devido à emergência
climática. Além destes, também ocasiona desigualdades de emprego, saúde, educação,
transportes, lazer, saneamento, água, serviços, alimentação, além das violências étnico-raciais
e de gênero (SANTOS, 1993).
Como resultado de uma prestação ineficaz dos serviços de infraestrutura urbana nas
regiões periféricas, tem-se o aumento das desigualdades sociais.
.

2.2. Funções socioambientais de parques lineares (Tali)

Dentro dos objetivos do Programa de Recuperação de Fundos de Vale está a ampliação


de áreas verdes permeáveis, visando mitigar possíveis enchentes, por meio da implantação de
dispositivos voltados para retenção de águas pluviais. Um dos principais instrumentos
utilizados para tal fim são os parques lineares que, segundo Friedrich (2007), são áreas
lineares voltadas para a conservação dos recursos naturais, interligando segmentos florestais e
servindo tanto para propósitos ecológicos quanto recreacionais, culturais, estéticos e
políticos. Dentre suas funções, estão: drenagem; manutenção do sistema natural; lazer,
educação ambiental e coesão social; estruturação da paisagem urbana; desenvolvimento
econômico e função política.
A ideia de caminhos lineares verdes originou-se em 1865 como parkways, termo
designado pelo arquiteto, paisagista e agricultor Frederick Law Olmsted. Este desenvolveu a
ideia com o intuito de levar a natureza até as pessoas que viviam em condições insalubres
(FRIEDRICH, 2007. P. 50). Outro termo importante é o greenbelt, designado por Benton
MacKaye em 1920 para idealizar a criação de espaços verdes lineares pelas cidades. A fusão
deste termo com parkway provavelmente deu origem ao conceito mais utilizado atualmente:
greenway. Este, por sua vez, é designado para as áreas verdes lineares que, no cenário urbano,
passam a desenvolver múltiplos papeis sociais e ambientais (GIORDANO, 2004, P.7-9).
Atualmente, parques lineares são vistos como infraestruturas verdes integrantes do
planejamento urbano, capazes de exercer diferentes funções no contexto urbano, além de
servir como instrumento de mitigação riscos socioambientais, como enchentes, ilhas de calor
e deslizamentos (FRIEDRICH, 2007. P. 56).
Há 5 diferentes tipos de parques lineares: criados dentro de programas de recuperação
ambiental; como ambientes recreacionais; corredores ecológicos para migração de espécies;
rotas cênicas; e, por último, redes de parques. Neste estudo, trataremos de parques lineares
criados ao longo de rios e córregos como parte da recuperação dos fundos de vale
(FRIEDRICH, 2007, p. 57; GIORDANO, 2004, p. 10).
O propósito mais recorrente dos Parques Lineares está em sua função de drenagem,
uma vez que essas infra estruturas dispõem da capacidade fundamental de aumentar a
permeabilidade do solo em margens de cursos d’água, tornando a vazão mais lenta durante o
curso da inundação. Para além da função de drenagem, os Parques Lineares também atuam na
manutenção da biodiversidade, uma vez que atuam na conexão entre ecossistemas,
permitindo o intercâmbio entre espécies e servindo como um corredor migratório para
espécies de aves, por exemplo. (SEARNS, 1995, FRISCHENBRUDER E PELLEGRINO,
2006 apud FRIEDRICH, 2007)
Saindo da dimensão estritamente biológica, tais parques também desenvolvem uma
função urbanística, considerando que são incorporados aspectos de planejamento urbano ao
integrar o escopo da drenagem ao de transporte, gerenciamento de resíduos, cidadania e
educação ambiental, em um aglutinamento das interfaces físicas e sociais, no que tange às
possibilidades de troca interpessoal. (FRANCO, 2011 e MAZZAFERRO, 2004 apud
FRIEDRICH, 2007).
Os parques lineares exercem, ainda, uma função no desenvolvimento econômico, pois
pressupõem uma valorização do espaço, caracterizando-os como um atrativo relacionado a
áreas de lazer e maior qualidade de vida (SCALISE, 2002). Neste ponto, cabe discorrer sobre
tal função de valorização do espaço, que se relaciona com a função política, relacionada à
inclusão da participação social na discussão de aplicabilidade dessas estruturas verdes.
Considerando que os Parques Lineares são implementados em regiões de
vulnerabilidade tanto ambiental quanto socioeconômicas, como regiões periféricas de grandes
aglomerados urbanos caracterizados pela ocupação desordenada de áreas de fundo de vale, a
valorização de terras por meio de espaços verdes como um parque linear pode elevar o custo
das propriedades de seu entorno e pressionar, por meio das forças de mercado materializadas
pelo mercado imobiliário, o deslocamento de moradores prévios em relação à implementação
do parque, o que é caracterizado como gentrificação verde. (DOOLING, 2009)

3. PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DE FUNDOS DE VALE (Ju)

Em meados da década de 2000, começaram a ser idealizadas novas políticas públicas


que tratam as várzeas e rios urbanos no Município de São Paulo, cujo pano de fundo é
formado pelo Plano Diretor Estratégico (PDE) de 2002 e pelos Planos Regionais Estratégicos
de 2004. As águas superficiais ganharam um status importante no PDE; neste, a rede de
águas superficiais foi considerada como um dos quatro elementos estruturadores do território
municipal e recebeu a denominação Rede Hídrica Estrutural. Essa rede é composta pelos rios,
córregos e talvegues, e, ao longo dela, devem ser propostas intervenções urbanas de
recuperação ambiental, drenagem, recomposição da vegetação e saneamento.
A primeira vez que os parques lineares aparecem oficialmente no planejamento
urbano de São Paulo foi na Lei 13.430/2002, que instituía o PDE da cidade, através do Artigo
57:
“Art. 57 - São ações estratégicas para a gestão da Política Ambiental:
[...]
§ II - implantar parques lineares dotados de equipamentos comunitários de
lazer, como forma de uso adequado de fundos de vale, desestimulando invasões e
ocupações indevidas; [...] ” (SÃO PAULO, 2002)

Os parques lineares, eram destinados aos equipamentos comunitários de lazer,


ampliação de áreas verdes, reurbanização de favelas, ciclovias, drenagem, saneamento, locais
para educação ambiental, além de uma forma de evitar ocupações ilegais.
Sob o PDE, os parques lineares foram inseridos no Programa de Recuperação
Ambiental de Cursos D’Água e Fundos de Vale, previsto nos Art. 106 e 107, que deveria
compreender um conjunto de ações coordenadas pela Secretaria Municipal de Planejamento
(Sempla), pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) e pela Secretaria Municipal
de Habitação (Sehab) com a participação da sociedade e o apoio da iniciativa privada, sob
coordenação do Executivo, visando promover transformações urbanísticas estruturais e a
progressiva valorização e melhoria da qualidade ambiental da cidade através, principalmente,
da implantação de Parques Lineares contínuos e de Caminhos Verde4 (TRAVASSOS, L.,
2012).
“ Art. 106 - Apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para
melhorar a gestão da água e do saneamento. Apoiar e fortalecer a participação das
comunidades locais, para melhorar a gestão da água e do saneamento
Art. 107 - São objetivos do Programa de Recuperação Ambiental de Cursos
D`Água e Fundos de Vale:
I - ampliar progressiva e continuamente as áreas verdes permeáveis ao longo dos
fundos de vales da Cidade, de modo a diminuir os fatores causadores de enchentes e
os danos delas decorrentes, aumentando a penetração no solo das águas pluviais e
instalando dispositivos para sua retenção, quando necessário;
II - ampliar os espaços de lazer ativo e contemplativo, criando progressivamente
parques lineares ao longo dos cursos d`água e fundos de vales não urbanizados, de
modo a atrair, para a vizinhança imediata, empreendimentos residenciais;
III - garantir a construção de habitações de interesse social para reassentamento, na
mesma sub-bacia, da população que eventualmente for removida;
IV - integrar as áreas de vegetação significativa de interesse paisagístico, protegidas
ou não, de modo a garantir e fortalecer sua condição de proteção e preservação;
V - ampliar e articular os espaços de uso público, em particular os arborizados e
destinados à circulação e bem-estar dos pedestres;
VI - recuperar áreas degradadas, qualificando-as para usos adequados ao Plano
Diretor Estratégico;
VII - melhorar o sistema viário de nível local, dando-lhe maior continuidade e
proporcionando maior fluidez da circulação entre bairros contíguos;
VIII - integrar as unidades de prestação de serviços em geral e equipamentos
esportivos e sociais aos parques lineares previstos;
IX - construir, ao longo dos parques lineares, vias de circulação de pedestres e
ciclovias;
X - mobilizar a população envolvida em cada projeto de modo a obter sua
participação e identificar suas necessidades e anseios quanto às características
físicas e estéticas do seu bairro de moradia;
XI - motivar programas educacionais visando aos devidos cuidados com o lixo
domiciliar, à limpeza dos espaços públicos, ao permanente saneamento dos cursos
d`água e à fiscalização desses espaços;
XII - criar condições para que os investidores e proprietários de imóveis
beneficiados com o Programa de Recuperação Ambiental forneçam os recursos
necessários à sua implantação e manutenção, sem ônus para a municipalidade;
XIII - aprimorar o desenho urbano, mobilizando equipes técnicas diferenciadas, de
modo a valorizar e conferir características ímpares aos bairros e setores urbanos
envolvidos;
XIV - promover ações de saneamento ambiental dos cursos d`água;
XV - implantar sistemas de retenção de águas pluviais;
XVI - buscar formas para impedir que as galerias de águas pluviais sejam utilizadas
para ligações de esgoto clandestino.” (SÃO PAULO, 2002)

A implementação desse programa teria como objetivo promover progressivamente a


implantação dos parques lineares e dos caminhos verdes, de modo a aumentar a
permeabilidade nas várzeas, a ampliar as áreas de lazer, a integrar as áreas de vegetação
significativa de fundos de vale urbanos e de interesse paisagístico, a ampliar e articular os
espaços públicos (preferencialmente os arborizados) de circulação e bem-estar dos pedestres
e construir pistas de caminhada e corrida ao longo dos vales. Por fim, implantar sistemas de
retenção de águas pluviais, quando necessário. O programa também pretendia recuperar áreas
degradadas, promover o reassentamento da população que vive às margens de rios e córregos,
melhorar o sistema viário local, promover ações de saneamento ambiental e localizar os
equipamentos sociais nas proximidades dos parques.
Foram previstos 37 parques lineares pelo PDE 2002, sendo 15 entregues até 2006 e o
restante até 2012. (TRAVASSOS, L., 2012)
As primeiras ações municipais ocorreram por volta de 2006, quando a SVMA
escolheu 33 regiões prioritárias para a implantação dos parques lineares, que foram
transformados no Programa de Parques Lineares, lançado no mesmo ano.
Entretanto, as áreas escolhidas para os futuros parques lineares não coincidiam com
os previstos do PDE 2002. Algumas bacias selecionadas são de grandes dimensões e em
áreas altamente urbanizadas, demandando maiores recursos (financeiro e técnico) para a
desapropriação e a implantação dos parques. Os recursos para a compra de terras em áreas
prioritárias eram provenientes da própria dotação orçamentária da SVMA, do Fundo de
Desenvolvimento Urbano (FUNDURB), do Fundo Especial do Meio Ambiente (FEMA) e de
fontes externas, como os Termos de Compensação Ambiental (TCA) por grandes
empreendimentos. Apesar de existirem vários fundos municipais para a implantação dos
parques lineares, eles não cobriam todos os que foram planejados. Diante disso, foi priorizado
o estabelecimento de um banco de terras públicas para garantir a implantação dos parques.
Esse período, entre 2006 e 2008, foi a primeira fase dos parques lineares em São
Paulo, com a SVMA responsável pela escolha de áreas, aquisição de terrenos, publicação das
DUPs e a criação legal dos parques, através de decretos. Simultaneamente, surgiram
iniciativas de algumas subprefeituras e de outras secretarias municipais para a criação de
parques lineares. Com dimensões menores e atendendo objetivos específicos, foi o segundo
período de planejamento dos parques lineares.
A partir dos parques definidos no Plano Diretor Estratégico e nos Planos Regionais
Estratégicos, e na ausência de um programa que congregasse os diversos órgãos do poder
público, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, por sua atribuição setorial, tinha em suas
mãos um plano ambicioso do ponto de vista da quantidade de parques que lá estavam
gravados. A secretaria, então, criou o Programa “100 Parques para São Paulo”, para
incorporar o “Programa Parques Lineares”.
Segundo Devecchi (2008), a estratégia adotada foi a de criar um banco de terras
público, adequado à prestação de serviços ambientais, e construir um plano de adaptação às
mudanças climáticas globais. A manutenção dos fundos de vale livres de ocupação densa e
preferencialmente como parques urbanos atende ambos os objetivos; portanto, a inclusão dos
parques lineares idealizados no PDE e nos PREs é uma tática importante para o programa.
Para a consecução de suas metas, o programa estabelece algumas regiões para
concentrar ações: a borda da Cantareira, área limite de expansão da mancha urbana ao norte,
a área de proteção aos mananciais sul, nas bacias das represas Billings e Guarapiranga, e nas
nascentes do rio Aricanduva, ao leste. As intervenções do programa nessas regiões devem se
dar a partir de três critérios:
● A identificação de projetos de parques lineares;
● A identificação de importantes áreas de produção de água para os mananciais
através de assinatura de convênio com a Sabesp;
● A criação de um sistema de áreas verdes que possibilite a consolidação de
corredores ecológicos.
O critério de escolha das localizações para implantação dos futuros parques foi
embasado na identificação de áreas públicas existentes, assim como áreas ambientalmente
frágeis, principalmente concentradas nos extremos sul e norte do município, bem como
aquelas produtoras de água e de fundos de vale.
A secretaria atende às subprefeituras que demandam a construção de parques lineares
em seus territórios. Com dimensões entre 10.000 m² e 224.000 m², os parques lineares
paulistanos tiveram diversas estratégias de implantação, desde aproveitamento das áreas
livres públicas junto aos córregos até desapropriação.
A recuperação de áreas públicas, um dos parâmetros do programa “100 Parques para
São Paulo”, é uma questão importante na escolha dos perímetros que vêm se efetivando como
parques. A quase totalidade das áreas inseridas nestes é de propriedade do poder público, o
que elimina um grande entrave à consecução dos parques: a desapropriação de terras.
Não há, na seleção dos perímetros, parâmetros relacionados às áreas de maior risco à
inundação, mesmo porque o município ainda não conta com um plano de drenagem, nem
foram levantadas as manchas de inundação, a despeito dos inúmeros problemas que vive o
município no manejo de suas águas superficiais. O plano de drenagem que está em
elaboração atualmente considera somente uma parcela do território municipal, seis
sub-bacias.
Então o Programa de Recuperação de Fundo de Vale passa a projetar parques lineares
envolvendo articulação intersecretarial, pois, as áreas adjacentes aos córregos possuem
diversos agentes atuando sobre elas, de modo que conciliar e dialogar com diferentes
interesses e prioridades é um dos grandes desafios no planejamento e projeto dos parques
lineares. Portanto, programas de diferentes secretarias e organizações da Prefeitura de São
Paulo tem em sua composição a projeção e implantação de parques lineares de maneira
conjunta porém com interesses divergentes, como é o caso da SEHAB com o “Programa
Habitacional” ou o “Programa Córrego Limpo” que vem de uma parceria da PMSP com a
SABESP, todos seguindo as diretrizes do Programa de Recuperação de Fundo de Vales.
Além das fontes de recursos tradicionais (SVMA, FEMA, FUNDURB e TCA),
foram utilizadas verbas de outras secretarias, como a da Habitação (SEHAB), Subprefeituras
e de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB), além de órgãos estaduais, como a Companhia
de Saneamento Básico de São Paulo (SABESP) e o Fundo Estadual de Recursos Hídricos
(FEHIDRO).
O Programa de Recuperação de Fundo de Vales permaneceu no Plano Diretor
estabelecido pela Lei Nº 16.050 de julho de 2014 no Art. 272, porém com alterações no
objetivo em relação ao Plano Diretor estabelecido em 2002 e suas diretrizes estão sob
vigência atualmente.
“Art. 272. O Programa de Recuperação de Fundos de Vale é composto por

intervenções urbanas nos fundos de vales, articulando ações de saneamento, drenagem,

implantação de parques lineares e urbanização de favelas.

Parágrafo único. São objetivos do Programa de Recuperação Ambiental de Fundos

de Vale:

I – ampliar progressiva e continuamente as áreas verdes permeáveis ao longo dos

fundos de vales, criando progressivamente parques lineares e minimizando os fatores

causadores de enchentes e os danos delas decorrentes, aumentando a penetração no solo

das águas pluviais e instalando dispositivos para sua retenção, quando necessário;

II – promover ações de saneamento ambiental dos cursos d’água;

III – mapear e georreferenciar as nascentes;

IV – priorizar a construção de Habitações de Interesse Social para reassentamento,

na mesma sub-bacia, da população que eventualmente for removida;

V – integrar na paisagem as áreas de preservação permanente com as demais

áreas verdes, públicas e privadas, existentes na bacia hidrográfica;

VI – aprimorar o desenho urbano, ampliando e articulando os espaços de uso

público, em especial os arborizados e destinados à circulação e bem-estar dos pedestres;

VII – priorizar a utilização de tecnologias socioambientais e procedimentos

construtivos sustentáveis na recuperação ambiental de fundos de vale;

VIII – melhorar o sistema viário de nível local, dando-lhe maior continuidade e

proporcionando maior fluidez à circulação entre bairros contíguos;

IX – integrar as unidades de prestação de serviços em geral e equipamentos

esportivos e sociais aos parques lineares previstos;

X – construir, ao longo dos parques lineares, vias de circulação de pedestres e

ciclovias;

XI – mobilizar a população do entorno para o planejamento participativo das

intervenções na bacia hidrográfica, inclusive nos projetos de parques lineares;

XII – desenvolver atividades de educação ambiental e comunicação social voltadas

ao manejo das águas e dos resíduos sólidos;

XIII – criar condições para que os investidores e proprietários de imóveis

beneficiados com o Programa de Recuperação Ambiental de Fundos de Vale forneçam os

recursos necessários à sua implantação e manutenção, sem ônus para a municipalidade.”

(SÃO PAULO, 2014)

3.1. Implementação e atuação do Programa de Recuperação de Fundos de Vale

Para que um programa intersetorial seja estabelecido, é preciso que haja um grupo
com as mesmas características que o sustente. Esse deve contar com uma equipe técnica
composta por funcionários dos diversos órgãos públicos participantes, conformando um
verdadeiro grupo de trabalho, com dedicação exclusiva ao tema da recuperação dos fundos de
vale. Como os objetivos e demandas para cada intervenção são diferentes, seria interessante
que um órgão de planejamento, como a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, no
caso de São Paulo, fosse protagonista em tal grupo de trabalho, assumindo um papel de
coordenação das ações.
A partir do trabalho técnico coletivo, o Plano de Recuperação Ambiental de Cursos
d’Água e Fundos de Vale proporia um conjunto de estratégias que serão utilizadas em cada
caso, para responder às demandas colocadas: redução de inundações, aumento de
permeabilidade na várzea ou na bacia, urbanização de favelas, remoção de famílias de áreas
de risco, desafetação de áreas públicas, desapropriação, revegetação e implementação de
infraestrutura de esgotamento sanitário. O plano assim concebido deverá servir de diretriz
para a priorização das ações setoriais de cada órgão, com relação às suas políticas para os
fundos de vale, e redundaria em intervenções mais completas e menos desiguais pelo
território.
Segundo Devecchi (2008), a estratégia adotada foi a de criar um banco de terras
público, adequado à prestação de serviços ambientais, e construir um plano de adaptação às
mudanças climáticas globais, ainda que não tenham sido detalhados, a priori, os parâmetros
para tanto.

4.ODS E O PRFV

Texto introdutório

4.1. Metas dos ODS 6 (Ari)

O ODS 6 - “Água potável e saneamento” tem como principal meta, garantir


disponibilidade e o manejo sustentável da água, bem como o saneamento para todos
(ONU-BR 2015).
O termo saneamento é definido pela ONU como:
“a provisão de instalações e serviços para o gerenciamento e o descarte de
resíduos líquidos e sólidos gerados por atividades humanas. Também pode ser
definido como o controle dos fatores para obter e garantir a saúde pública, através
de um conjunto de ações, recursos e técnicas. É dividido em Saneamento
Ambiental, Saneamento Básico e Saneamento Geral. Saneamento ambiental é a
parte do saneamento que se encarrega de conservar e melhorar as condições do
meio ambiente em benefício da saúde. Cuida da proteção do ar, do solo e das
águas contra a poluição e a contaminação.Saneamento básico é o conjunto de
serviços, infraestruturas e instalações operacionais com Retiradas sustentáveis
Reutilização segura da água Saneamento vistas ao abastecimento de água potável,
esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e
manejo das águas pluviais urbanas. Saneamento geral, como o nome indica,
refere-se a programas de saúde pública também de um modo geral: controle de
doenças transmitidas por diferentes vetores, limpeza urbana, tratamento de lixo,
etc.” (ONU, 2018).

Além dos itens abordados pela definição de saneamento dada pela ONU, Guimarães,
Carvalho e Silva (2007), ainda trazem a coleta de águas pluviais e controle de empoçamentos
e inundações como tema relevante dentro do termo “saneamento”. Assim, podemos
considerar que o Plano de Recuperação de Fundos de Vale também deve considerar a ODS 6
para sua estruturação, haja vista que um de seus objetivos é a redução de fatores causadores
de enchentes e inundações (SÃO PAULO, 2002).
A meta 6.6 tem por objetivo “proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a
água, incluindo montanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos” (ONU 2015).
Neste sentido, podemos identificar a sua relação com a criação dos parques lineares, que são
definidos como infraestruturas verdes que exercem diferentes funções dentro do
planejamento urbano, permeando fatores sociais, urbanísticos e ecológicos (FRIEDRICH,
2007. P. 56).
Em relação à meta 6b “Apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para
melhorar a gestão da água e do saneamento”(ONU, XX), podemos identificar sua relação
com o PRFV no art. 106 da lei (xx) que institui a criação do plano, devendo considerar a
participação da sociedade civil dentro da gestão dos recursos hídricos e do saneamento na
cidade:

Art. 106 - Apoiar e fortalecer a participação das comunidades


locais, para melhorar a gestão da água e do saneamento. Apoiar e
fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão
da água e do saneamento. (SÃO PAULO, 2002).
4.2. Metas dos ODS 11 (May)

O ODS 11 tem por ideal “tornar as cidades e comunidades mais inclusivas, seguras,
resilientes e sustentáveis” (ONU, 2015). Neste escopo, as cidades devem ter a capacidade de
retornar à sua condição primeva após passar por perturbações (COSTA, 2020) e
compreenderem um funcionamento que respeite seus recursos de modo que estes não
escasseiem, logo se tornando cidades resilientes e sustentáveis.
Estima-se que mais da metade da população viva em ambientes urbanos (MOOM, et
al., 2020) e isso por si só já apresenta a importância em se preocupar com o modo como estes
ambientes se desenvolvem. A sustentabilidade e a resiliência nos meios urbanos são objetivos
complexos, dado que estes são ambientes que passam por alterações negativas que suprimem
as características naturais (GUIMARÃES, 2019).
O ODS 11 pode ser materializado através da implantação das infraestruturas verdes
(BAUMGARTNER, 2021). Estas podem ser definidas como redes de áreas verdes no tecido
urbano que geram serviços ecossistêmicos, integrando os aspectos naturais e sociais
(BENEDICT; McMAHON, 2002). Dentre estas estão os parques lineares que possuem a
função de criar áreas permeáveis nos meios urbanos (FRIEDRICH, 2007; MACHADO,
2017). Sendo assim buscou-se analisar a relação das metas com o Programa de Recuperação
de Fundos de Vale e os parques lineares, instrumentos criados pelo mesmo.
O art. 272, inciso IV, que diz respeito à oferta de habitação social para populações
afetadas por possíveis remoções (SÃO PAULO, 2014), correlaciona-se à meta 11.1 por esta
discriminar sobre a oferta de habitação segura. No entanto, o mesmo não faz menção à
garantia dos serviços básicos, apenas às remoções para local dentro da própria bacia.
As ocupações irregulares em fundos de vale vieram a colocar pessoas em risco,
relegando muitas à marginalização nas cidades, colocando-as em situações precárias
(ROLNIK, 2006). Estas são as mais vulneráveis aos efeitos dos extremos climáticos,
considerando o fato de que o planejamento urbano ainda é muito teórico e deixa passar
questões como a habitação social e a drenagem (NOBRE et al., 2010; MARICATO, 2000).
Compreende-se que a participaçaõ destes grupos no planejamento urbanístico seja importante
para integrar os principais afetados pela intensa urbanização e falta de áreas verdes
(MOURA, et al; 2014; NOBRE, et al. 2010).
A meta 11.3 situa a urbanização inclusiva e sustentável como passo para alcançar o
objetivo de cidade resiliente e sustentável. Esta pode ser interpretada dentro do programa no
inciso XI do art. 272, que por sua vez integra a mobilização da população nas intervenções na
bacia e nos projetos dos parques lineares (SÃO PAULO, 2014).
A meta 11.5 objetiva a redução de mortes e pessoas atingidas por catástrofes. No que
se refere ao Brasil, desastres de ordem hidrometeorológica e climatológica foram deixados
em destaque por se tratar da realidade brasileira (IPEA, 2019). No Plano Diretor, art. 272,
inciso I, é estabelecida a necessidade em ampliar as áreas verdes permeáveis nos fundos de
vale, os parques lineares, para minimização das enchentes. Tal ponto nos leva ao art. 273, de
criação dos parques lineares, precisamente incisos IV e V, que apontam controle de enchentes
e a redução da ocupação de fundos de vale, respectivamente (SÃO PAULO, 2014),
obedecendo à função em garantir permeabilidade do solo (FRIEDRICH, 2007. P. 58).
Mesmo que o lazer seja função secundária de infraestruturas verdes (FRIEDRICH, p.
60, 2007), é visto integrado no Programa de Recuperação de Fundos de Vale. O
estabelecimento de espaços públicos consta no inciso VI do art. 272 que dispõe sobre a
ampliação de espaços de uso público. Esta meta também pode ser relacionada ao inciso IX
que dispõe sobre a inserção de equipamentos para práticas esportivas, compreendendo-se o
lazer dos transeuntes. E em nível de confirmação, o art. 273, incisos VI e VII, apresentam
como objetivo promover parques lineares como espaços para inclusão da população em
atividades de lazer. Logo, enquadra-se na meta 11.7 dado que os parques lineares podem
aparecer como os espaços verdes e inclusivos para os grupos vulneráveis, dado que os
espaços de fundos de vale são ocupados de forma majoritária por estes (MIGLIACCI, 2016;
DUARTE, et al. 2021).
A meta 11.b diz respeito à implementação de políticas e planos com a finalidade de
criar instrumentos para mitigação e adaptação às mudanças climáticas e resiliência a
desastres. Aqui podemos mencionar novamente o art. 272, inciso I pela ampliação das áreas
verdes para minimização dos efeitos dos extremos climáticos. Além disso, há forte relação
com o art. 273, incisos I e II da lei referenciada que dizem respeito à criação de espaços
fluidos naturalmente entre a área verde e os cursos hídricos (SÃO PAULO, 2014), criando
assim, ambientes resilientes e sustentáveis.
Os parques lineares devem estar inseridos dentro do planejamento público por meio
de políticas públicas, programas governamentais e necessita da participação social
(FRIEDRICH, 2007. P. 62) A meta 11.b pode ser relacionada à própria existência do
Programa de Recuperação de Fundos de Vale por este propor medidas para readequar os
ambientes de fundos de vale, dentre elas, a criação dos próprios parques lineares.

4.3. Metas do ODS 13 (Laura)

O ODS 13 tem como objetivo a resiliência urbana e sua aptidão para os riscos
climáticos e aos desastres naturais que ocorrerão com maior frequência devido à emergência
climática. Segundo a Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (Cobrade) estes
desastres naturais são classificados da seguinte forma:
Título: Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (Cobrade)

1. Geológico

Terremoto Tremor de terra/ Tsunami

Emanação Vulcânica -

Movimento de massa Quedas, Tombamentos e Rolamentos/


Deslizamentos/ Corridas de Massa/
Subsidências e Colapsos

Erosão Costeira; Marinha/ Margem Fluvial/


Continental

2. Hidrológicos

Inundações -

Enxurradas -

Alagamentos -

3. Meteorológicos

Sistema de Grande Escala/ Escala Regional Ciclones/ Frentes Frias; Zonas de


Convergência

Tempestades Tempestade local; Convectiva

Temperaturas Extremas Onda de Calor/ Onda de Frio

4. Climatológico

Seca Estiagem/Seca/Incêndio Florestal/ Baixa


Umidade do ar

5. Biológico

Epidemias Doenças infecciosas virais, bacterianas,


parasíticas e fúngicas

Infestações/pragas Animais/ Algas/Outras


Fonte: Cobrade, MDR.

O AR5 do IPCC destaca que desde 1950 houve uma queda nas temperaturas frias e as
temperaturas quentes, o aumento do nível do mar e as chuvas se agravaram. Estes eventos se
relacionam diretamente com os desastres geológicos, hidrológicos, meteorológicos e por fim
com os climatológicos. É importante mencionar que a gravidade destes desastres está
relacionada com a exposição e a vulnerabilidade. Nas regiões metropolitanas de São Paulo,
com o aumento das precipitações ocorrem enchentes, deslizamentos e inundações e isso se dá
pelo processo de urbanização e pelo uso do solo. (AMBRIZZI, CARVALHO E GARCIA,
2019).
Na cidade de São Paulo estes efeitos irão se intensificar e afetar as populações de forma
desigual, principalmente as ocupações nos fundos de vale. Diante da falta de integração dos
setores dentro das políticas públicas muitos problemas urbanos como por exemplo enchentes,
inundações e ilhas de calor são solucionados com metas de curto prazo e menor custo. Porém,
estas soluções não são suficientes para mitigar as mudanças climáticas. Para isso, as metas
propostas nos ODS são meios de mitigação.
A meta 13.1 tem por objetivo “Ampliar a resiliência e a capacidade adaptativa a riscos
e impactos resultantes da mudança do clima e a desastres naturais” (IPEA, 2019) uma forma
de minimizar este impacto no meio urbano é com a política de criar espaço para o curso do
rio com espaços verdes públicos, os quais conectam as áreas verdes e espaços públicos além
de serem essenciais para controlar enchentes. No Brasil esses espaços são chamados de
parques lineares que além de contribuírem ambientalmente também impactam culturalmente,
fora do meio urbano uma forma são os corredores ecológicos (TRAVASSOS E SCHULT,
2013), tal meta se relaciona com os incisos III e IV ao citar os espaços públicos e enchentes.
A meta 13.2 diz respeito a “Integrar a Política Nacional sobre Mudança do Clima
(PNMC) às políticas, estratégias e planejamentos nacionais” (IPEA,2019) esta meta se
relaciona diretamente com o papel de governança e sua correlação com as atividades em nível
local, regional, estadual e nacional além da associação com vários setores como os de
saneamento e saúde, infraestruturas hídricas, mobilidade, urbanização, dentre outros. Dessa
forma, parcerias variadas para tomada de decisão atuando nessas diversas escalas territoriais
são decisivas para solucionar os problemas a partir de ações coletivas e equitativas
(OSTROM, 2010; ANDERSSON & OSTROM, 2008). Tal meta se relaciona com os § 1º e §
3º ao tratar da multisetorialidade e participação pública nos Conselhos.
A meta 13.3 tem como objetivo “Melhorar a educação, aumentar a conscientização e a
capacidade humana e institucional sobre mudança do clima, seus riscos,
mitigação,adaptação,impactos e alerta precoce” (IPEA, 2019) a educação ambiental aliada a
redução de riscos e desastres é uma boa estratégia para a divulgação do conhecimento e
mitigação de desastres, o que amplia a percepção de risco e o meio físico. O mapeamento das
áreas riscos de inundação e enchentes e melhoria na previsão de alertas também são duas
estratégias importantes para a educação, sensibilização e conscientização das comunidades.
Tal meta se relaciona com os incisos IV,V, VII ao tratar do controle das enchentes, evitar a
ocupação inadequada dos fundos de vale e aumentar a percepção dos cidadãos no meio físico,
respectivamente.
A meta 13.b tem como objetivo “ Estimular a ampliação da cooperação internacional
em suas dimensões tecnológica e educacional objetivando fortalecer capacidades para o
planejamento relacionado à mudança do clima e à gestão eficaz, nos países menos
desenvolvidos, inclusive com foco em mulheres, jovens, comunidades locais e
marginalizadas” (IPEA, 2019). A gestão participativa cidadã é uma estratégia para mitigar os
riscos, como as enchentes, o que amplia a percepção dos cidadãos sobre o meio físico.
Esta gestão dentro dos Conselhos nas subprefeituras é necessária porque somente as
mulheres, jovens, comunidades locais e marginalizadas conseguem opinar sobre suas próprias
vivências, de forma que estejam comprometidos com os seus objetivos e necessidades, o que
contribui para ampliar as áreas verdes destinadas à conservação ambiental, lazer, fruição e
atividades culturais (JACOBI, JÚNIOR, GONÇALVES, 2019). Tal meta se relaciona com os
incisos IV,VI,VII e § 3º, ao tratar de controle de enchentes, propiciar áreas verdes; cultura e
lazer, ampliar a percepção dos cidadãos sobre o meio físico e participação pública nos
Conselhos.
Considerando as observações aqui levantadas, na tabela abaixo foi realizada a
correlação objetiva entre os pontos mencionados em legislação às próprias metas dos
Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável de número 06, 11 e 13.

Tabela 1

Metas Art. 272 Art. 273


ODS

I II IV V VI IX XI XII I II III IV V VI VII § §


1º 3º

6.2

6.6

6.b

11.1

11.3

11.5

11.7

11.b

13.1

13.2

13.3

Objetivos Parques Lineares ODS 6, 11 e 13

6.6 6. 11. 11. 11. 13. 13.2 13.3 13.


b 5 7 b 1 b

I - proteger e recuperar as áreas de


preservação permanente e os
ecossistemas ligados aos corpos
d'água;
II - proteger, conservar e recuperar
corredores ecológicos;

III - conectar áreas verdes e espaços


públicos;

IV - controlar enchentes;

V - evitar a ocupação inadequada dos


fundos de vale;

VI - propiciar áreas verdes destinadas


à conservação ambiental, lazer, fruição
e atividades culturais;

VII - ampliar a percepção dos cidadãos


sobre o meio físico.

§ 1º Os parques lineares são parte


integrante do Programa de Recuper
ação Ambiental de Fundos de Vale e
sua plena implantação pressupõe a
articulação de ações de saneamento,
drenagem, sistema de mobilidade,
urbanização de interesse social,
conservação ambiental e paisagismo

§ 2º Os parques lineares em
planejamento integrantes do Mapa 5
anexo estão delimitados na escala de
planejamento, não se constituindo em
perímetros definitivos até que sejam
elaborados os respectivos projetos.

§ 3º O projeto dos parques lineares


deverá ser elaborado de forma
participativa, ouvido o Conselho
Participativo da Subprefeitura.

§ 4º A LPUOS ou lei específica, após a


definição precisa do perímetro do
parque linear, deverá enquadrá-lo
como ZEPAM.
Fonte: São Paulo, lei municipal nº 16.050 e ONU
4.4. O Programa de Recuperação de Fundos de Vale atinge as metas dos ODS 6, 11
e 13? (Gui e May)

O Programa de Recuperação de Fundos de Vale prevê a implantação de parques


lineares como forma de intervir nos fundos de vale (SÃO PAULO (Município), 2014). Desta
forma, entende-se que as metas dos ODS relacionados a esse tipo de infraestrutura verde
poderiam servir como direcionadores para o programa.
Tal suposição, entretanto, não pode ser entendida como genérica dado que a
implantação dos Parques Lineares passaram e ainda passam por uma série de dificuldades.
Segundo Nagano (2018), o PDE de 2002 previu a implantação de 37 parques lineares, mas
apenas 5 foram implantados até 2017, sendo eles: Tiquatira, Bananal-Itaguaçu, Rio Verde,
Ribeirão Guaratiba e Ribeirão Oratório. Destes, apenas o Tiquatira foi implantado
completamente, os demais foram implantados de forma parcial. Alguns não saíram das
margens ou não foram despoluídos. O principal motivo para isso é a falta de articulação entre
os órgãos públicos no processo de planejamento e implantação dos parques (NAGANO,
2018). Este cenário de dificuldades na articulação entre os órgãos públicos coloca em xeque a
efetividade das ações do Programa, e portanto o distancia das metas dos ODS.
Um exemplo disso é o processo de gentrificação ecológica ocorrido em função da
implantação de pelo menos três parques lineares. Gentrificação ecológica é um termo criado
por Sarah Dooling (2009) para designar o processo pelo qual infraestruturas verdes e parques
implementados com o propósito de atender as agendas globais ambientais dentro da malha
urbana preveem em plano a remoção de moradores originais, normalmente os mais pobres, e
os realocam distantes do local de origem. Desta forma, os benefícios gerados por essas
intervenções urbanas não atingem todos equitativamente (DOOLING, 2009).
Tal processo pode ser observado, por exemplo, nos Parques Lineares Sapé, Canivete
(ZANIRATO et al., prelo) e Rio Verde (DUARTE et al., 2021). Este último envolveu a
retirada de moradores da Favela da Paz em 2015 e prevê em plano a retirada de mais de duas
mil famílias de outras favelas até a sua finalização. Os moradores foram realocados em um
conjunto habitacional de interesse social a mais de 4 km do parque (DUARTE et al., 2021).
Nos casos dos Parques Lineares Sapé e Canivete algumas realocações, quando feitas, foram
até mesmo em outros bairros (ZANIRATO et al., prelo).
O artigo 272 do PDE de São Paulo prevê a urbanização de favelas como um dos
componentes do Programa de Recuperação de Fundos de Vale (SÃO PAULO (Município),
2014). Mas como urbanizá-las se o parque estiver previsto em sobreposição à área da favela?
Neste sentido, pode-se pensar nesse programa realmente como uma forma de tornar a cidade
de São Paulo mais sustentável, como proposto nas metas do ODS 11? Sustentável para quem?
Ainda há questionamento quanto à efetividade em relação ao saneamento tendo em
vista que em alguns casos os córregos não passaram pelo processo de despoluição ou então
não foram finalizados, o que na prática significa que o parque não está cumprindo o seu papel
da forma que foi planejada. O mesmo pode ser dito para parques que ficaram somente nas
margens. Em muitos casos as áreas permeáveis não são suficientes para dar conta do
escoamento de água. Nestes casos, a função ambiental do parque deixa a desejar, mantendo
alguns dos problemas ambientais existentes antes de sua implantação (TRAVASSOS, 2010).
Há ainda que se considerar quais são as áreas previstas para receber tal tipo de
intervenção, quais já receberam e se essas são as áreas suscetíveis a inundações. No mapa Y
podemos observar que as áreas com maiores históricos de inundações estão na XXX.
Enquanto que a maioria dos Parques Lineares estão localizados na parte XXX, conforme
mapa Z.
Mapas (Ju/Jaque)

Isso pode ser um indicativo que existem outros interesses, além do social e ambiental,
estejam sendo utilizados para priorizar a construção destes parques. Esse ponto é importante
pois evidencia que esta política não rompe com os paradigmas desenvolvimentista e
rodoviarista do século passado. Áreas com rios suprimidos, e que também são suscetíveis à
enchentes, não fazem parte do planejamento do PRFV, mesmo quando estas áreas são
resididas por pessoas de baixa renda.
O que se tem feito na realidade é criar um esverdeamento aparente com a justificativa
de se melhorar as condições de vida das populações mais pobres residentes em áreas de risco
ambiental. Do ponto de vista da forma como são implantados os parques lineares, este é um
ponto um tanto quanto criticável, dado que muitas vezes as remoções são mais significativas
do que a própria produção desses espaços (TRAVASSOS, 2010), de forma que aqueles que
sofreram e resistiram por tanto tempo as amenidades do ambiente ficam sem acesso aos
benefícios da infraestrutura implantada (ZANIRATO et al., prelo; DUARTE et al., 2021;
MIGLIACCI, 2016; DOOLING, 2009). Todas as questões levantadas anteriormente
interferem diretamente no cumprimento das metas das ODS selecionadas para esta análise.
Se considerarmos o campo teórico de planejamento, apresentado no tópico anterior,
observa-se que há um certo alinhamento entre a função de parques lineares e algumas metas
dos ODS 6, 11 e 13. Entretanto, este se distancia da prática, de forma que a interpretação do
PRFV passa uma ideia muito mais “sustentável” do que a cidade realmente é ou está se
tornando, considerando as metas dos ODS selecionados.

Parte que aborde essa discussão → países da américa latina (México, Peru, Colômbia
(Medelin) Barcelona (Anguelovski)), países desenvolvidos (ou aqui, ou no começo do
trabalho)--> acho q isso ficaria perfeito na parte sobre parques lineares que a Tali escreveu.
Soluções baseadas na natureza para recuperar os fundos de vales
urbanos: Potencialidades e limitações dos parques lineares paulistanos
Mariana de Fatima Gallardo Raimundo
biologamari@usp.br

Objetivos PRFV ODS 6, 11 e 13

6.2 6.6 6.b 11.1 11.3 11.5 11.7 11.b 13.1 13.2 13.3
I - ampliar progressiva e
continuamente as áreas
verdes permeáveis ao
longo dos fundos de
vales, criando
progressivamente parques
lineares e minimizando
os fatores causadores de
enchentes e os danos
delas decorrentes,
aumentando a penetração
no solo das águas
pluviais e instalando
dispositivos para sua
retenção, quando
necessário;

II - promover ações de
saneamento ambiental
dos cursos d`água

III - mapear e
georreferenciar as
nascentes;

IV - priorizar a
construção de Habitações
de Interesse Social para
reassentamento, na
mesma sub-bacia, da
população que
eventualmente for
removida

V - integrar na paisagem
as áreas de preservação
permanente com as
demais áreas verdes,
públicas e privadas,
existentes na bacia
hidrográfica;
VI - aprimorar o desenho
urbano, ampliando e
articulando os espaços de
uso público, em especial
os arborizados e
destinados à circulação e
bem-estar dos pedestres;

VII - priorizar a
utilização de tecnologias
socioambientais e
procedimentos
construtivos sustentáveis
na recuperação ambiental
de fundos de vale;

VIII - melhorar o sistema


viário de nível local,
dando-lhe maior
continuidade e
proporcionando maior
fluidez à circulação entre
bairros contíguos;

IX - integrar as unidades
de prestação de serviços
em geral e equipamentos
esportivos e sociais aos
parques lineares
previstos;

X - construir, ao longo
dos parques lineares, vias
de circulação de
pedestres e ciclovias;

XI - mobilizar a
população do entorno
para o planejamento
participativo das
intervenções na bacia
hidrográfica, inclusive
nos projetos de parques
lineares;
XII - desenvolver
atividades de educação
ambiental e comunicação
social voltadas ao manejo
das águas e dos resíduos
sólidos;

XIII - criar condições


para que os investidores e
proprietários de imóveis
beneficiados com o
Programa de
Recuperação Ambiental
de Fundos de Vale
forneçam os recursos
necessários à sua
implantação e
manutenção, sem ônus
para a municipalidade.

● 6.2: Até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para
todos, e acabar com a defecação a céu aberto, com especial atenção para as
necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade.
● 6.6: Até 2020, proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo
montanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos
● 6.b: Apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão
da água e do saneamento
● 11.1: Até 2030, garantir o acesso de todos à habitação segura, adequada e a preço
acessível, e aos serviços básicos e urbanizar as favelas
● 11.3: Até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentável, e as capacidades para
o planejamento e gestão de assentamentos humanos participativos, integrados e
sustentáveis, em todos os países.
● 11.5: Até 2030, reduzir significativamente o número de mortes e o número de
pessoas afetadas por catástrofes e substancialmente diminuir as perdas econômicas
diretas causadas por elas em relação ao produto interno bruto global, incluindo os
desastres relacionados à água, com o foco em proteger os pobres e as pessoas em
situação de vulnerabilidade
● 11.7: Até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços públicos seguros,
inclusivos, acessíveis e verdes, particularmente para as mulheres e crianças, pessoas
idosas e pessoas com deficiência
● 11.b: Até 2020, aumentar substancialmente o número de cidades e assentamentos
humanos adotando e implementando políticas e planos integrados para a inclusão, a
eficiência dos recursos, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, a resiliência a
desastres; e desenvolver e implementar, de acordo com o Marco de Sendai para a
Redução do Risco de Desastres 2015-2030, o gerenciamento holístico do risco de
desastres em todos os níveis
● 13.1: Reforçar a resiliência e a capacidade de adaptação a riscos relacionados ao
clima e às catástrofes naturais em todos os países
● 13.2: Integrar medidas da mudança do clima nas políticas, estratégias e planejamentos
nacionais
● 13.3: Melhorar a educação, aumentar a conscientização e a capacidade humana e
institucional sobre mitigação, adaptação, redução de impacto e alerta precoce da
mudança do clima

A dependência da criação de lei específica para Áreas de Intervenção Urbana (AIUs)


impossibilitou a implantação dos demais 32 parques, pois esta não foi aprovada para os
parques lineares. Logo, optou-se recorrer às secretarias e outros mecanismos como os Termos
de Compensação Ambiental (TCA), fazendo com que os projetos dos parques lineares
passassem a disputar com outros projetos públicos.

5.POTENCIALIDADES DO PRFV FRENTE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS


Considerando o futuro cenário para 2050 de 10 bilhões de pessoas e recortando para o
cenário brasileiro que não possui bom histórico na articulação em suas políticas relacionadas
à água, o cenário não é positivo (JACOBI, et al; 2020, p. 119). Crescem os números de
ocupações em áreas irregulares que são historicamente esquecidas pelos governantes. Estas
áreas sofrem com a falta de saneamento e, no caso das regiões inundáveis como os fundos de
vale, ainda podem vir a sofrer com enchentes do esgoto não tratado que a curto prazo provoca
desastres, a longo prazo propaga doenças. Um programa que trate da recuperação e
requalificação dessas áreas se faz de extrema necessidade no contexto de ocupação dos
fundos de vale, mas que seja de forma democrática e participativa.
No que diz respeito sobre cidades sustentáveis, planejamentos urbanos estruturados nos
países do Hemisfério Sul são dinamicamente difíceis de virarem realidade pela falta de
recursos e capacitações. A falha na implantação de mecanismos que tornem as cidades mais
resilientes e sustentáveis pode vir deste aspecto (MOMM, et al; 2020, p.
193-194).Atualmente em São Paulo, temos programas de intervenção com metodologias e
tempos de implementação diferentes, atuando em áreas que apesar de serem legítimas para
tal, tendem a fragmentar os esforços e investimentos, como consequência as intervenções
urbanísticas resultantes se tornam pouco abrangentes.
Por exemplo, “Os Programas da Sehab começam pelas áreas de maior conflito, o
Programa 100 parques e o Programa Córrego Limpo optam por áreas onde os conflitos são
menores, no intuito de realizar mais ações em um espaço de tempo mais curto e aproveitar as
oportunidades. Esse desencontro restringe as intervenções em áreas de habitação precária nos
fundos de vale especialmente no que concerne ao saneamento, drenagem e a criação de
espaços públicos. Ao menos até o final da década de 2000, em nenhum dos casos as
intervenções foram implantadas ao longo de um curso d'água inteiro, mesmo nas áreas de
maior fragilidade ambiental”. (Travassos, 2015)
Tais programas poderiam estar articulados em regiões com interesse comum para
potencializar seus investimentos, reduzir custos e trazer maior prioridade às áreas
vulneráveis, historicamente negligenciadas pelo poder público, além de se complementarem
em outras instâncias sócio-políticas, aproximando lideranças locais e dando base para o
engajamento político da população local organizando e capacitando jovens para a
continuidade dos projetos.
Dentro dos planos concorrentes, a participação civil é um dos pilares e em termos de
adaptação climática passa a ter cada vez mais importância. A sociedade civil em São Paulo
principalmente em regiões periféricas têm um afastamento sistemático da tomada de decisão
por diversos fatores. Dentre eles ressalta a falta de organização sócio-política emerge como
um problema sistemático dificultando o desenvolvimento de processos participativos dentro
das comunidades em articulação com o Estado. Para Santos, "É necessário estabelecer uma
comunicação deste grupo com ele mesmo, com a finalidade de perceber anseios comuns
estabelecendo, deste modo, uma consciência crítica necessária à sua organização. Uma vez
construída esta organização, ela terá maior poder de pressão diante do Estado, na perspectiva
de atuarem em conjunto dentro dele.“ (Santos, 2003)

O Plano Diretor Estratégico do município de São Paulo encontra-se em processo de


revisão atualmente. Este é um fator que abre novas portas para se discutir as diretrizes já
existentes do PDE anterior e propor novas metas de planejamento urbano e ambiental para os
próximos dez anos, sendo bem oportuno para que questões, como as postas sobre o PRFV
neste texto, possam ser discutidas de forma participativa e democrática.
Devido a crise sanitária, poucos avanços foram feitos quanto à revisão do PDE.
Entretanto, um diagnóstico prévio do PDE de 2014 já foi feito pela prefeitura. De acordo com
este documento, o PRFV foi avaliado como tendo médio grau de efetividade, justificado pelo
necessidade de melhor articulação entre os diferentes setores envolvidos. No caso de parques
lineares a avaliação apresenta o mesmo graus sob a justificativa de que só nove dos vinte e
três parques lineares existentes foram concluídos depois de 2014 (SÃO PAULO, 2021).
A distância existente entre planejamento e a prática do Programa de Recuperação de
Fundos de Vale e dos parques lineares até aqui apresentadas não devem ser vistas tão somente
como negativa ao conteúdo da política, mas sim quanto à sua forma. É neste contexto que se
faz relevante discutir as potencialidades deste programa para o cumprimento das metas dos
ODS 6, 11 e 13.
----
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS

As metas dos ODS 06 , 11 e 13 e sua relação com a proposta de parques lineares


Tal meta pode ser relacionada à própria existência do Programa de Recuperação de


Fundos de Vale por este propor medidas para readequar os ambientes de fundos de vale que
sofrem mais com os extremos hidrometereológicos resultantes das mudanças climáticas.
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