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Relatório Final:
Processo de concessão da titulação de terra do Quilombo Sacopã
São Paulo
2021
Eloísa Alves Ventura - 10725571
Fernanda Nicolli Martins- 10725481
Laura Domingues - 11209729
Laura Steinert - 10725244
Patricia Kang - 10725442
Relatório Final:
Processo de concessão da titulação de terra do Quilombo Sacopã
São Paulo
2021
Sumário
Resumo 4
1. Introdução 5
2. Objetivos 6
2.1 Objetivo Geral 6
2.2 Objetivos Específicos 6
3. Desenvolvimento 6
3.1 Análise histórica e repercussão do racismo institucional 6
3.2 Direito Ambiental e Direitos Quilombolas 8
3.3 Processo de titulação 9
3.4 Processo de titulação do Quilombo Sacopã 9
4. Cronograma 15
5. Conclusão 16
Referências 18
Resumo
Buscou-se com o presente estudo de caso entender como se deu a titulação desta terra,
como os conflitos foram ou não solucionados, quais eram os atores envolvidos e quais papéis
eles desempenhavam. Tudo isso sendo analisado conjuntamente com os conhecimentos
adquiridos na disciplina, para assim entender se a titulação de terras do Quilombo Sacopã se
deu de maneira justa e se esse processo pode servir de exemplo para outros quilombos que
ainda estão na luta para garantir a titulação de seus territórios.
Entender se o caso do Quilombo Sacopã, na zona sul do Rio de Janeiro, pode servir de
exemplo para outros quilombos quanto à tentativa de conseguirem a titulação de suas terras.
Entender, também, a problemática na regulamentação fundiária do Quilombo Sacopã e como
o Racismo Institucional interfere neste processo.
3. Desenvolvimento
No século XX, esse problema persistiu. Parte dos camponeses negros e quilombolas
do passado foram transformados em caboclos, caiçaras, pescadores e retirantes, aos olhos
dos recenseadores do IBGE quase nunca eram considerados "pretos", podiam ser "pardos" e
até mesmo "brancos", e o pior: as atividades econômicas não eram contempladas nos dados
censitários, pois se articulavam entre a agricultura familiar, os trabalhadores sazonais e o
extrativismo; quase tudo ignorado nos censos agropecuários republicanos (GOMES, 2015).
Isso foi feito como forma de embranquecimento da população e invisibilização dessa parte da
população nos registros históricos do Brasil.
Mas a história do Brasil é também marcada por lutas. Em 1930, houve confluência
entre a luta por reparação às populações escravizadas. Após a abertura política pós-ditadura,
em 1985, as comunidades remanescentes de quilombos se transformaram no campesinato
negro, articuladas com as questões da reforma agrária e outras, devido a invisibilidade no
censo agrícola e nas políticas públicas (GOMES, 2015).
Em 1988, a Constituição Federal Brasileira garantiu, por meio do Artigo 68, o Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, o reconhecimento e a regularização fundiária das
comunidades negras rurais, “Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que
estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado
emitir-lhes os títulos respectivos“. Além disso, a Constituição também garante pelo artigo
215 e 216, o exercício dos direitos culturais e a proteção dos patrimônios culturais (BRASIL,
1988).
De acordo com Costa (2008), a falta dos direitos humanos fundamentais é um gatilho
importante para diversos outros problemas como a desigualdade social e a pobreza e todos os
problemas decorrentes destes. Essa falta também impacta a saúde física, mental e a vida dos
seres humanos dentro de uma sociedade. Com o direito da titulação de terras para populações
quilombolas não poderia ser diferente. Como dito na cartilha ‘’Direitos Humanos e
Desenvolvimento no Oeste do Pará: combate a extrema pobreza através da educação em
direitos humanos’’, a garantia do território para esses povos é essencialmente fundamental,
uma vez que sem direito à seu próprio espaço, todas as tentativas de mantimento da cultura,
dos costumes, dos hábitos e da história dos remanescentes de quilombos fica completamente
comprometida.
Para enfrentar tais limitações é preciso entender mais sobre o racismo, que segundo
Werneck (2016) “reconhecido em sua dimensão ideológica que conforma as relações de
poder na sociedade, participando, portanto, das políticas públicas, uma vez que estas estão
entre os mecanismos de redistribuição de poder e riqueza existentes”. Isto é, o racismo é um
dispositivo de poder que permite hierarquizar e estruturar o poder de determinação das
formas de relações sociais como privilégio de um grupo particular de seres humanos.
Segundo a autora, o racismo penetra nos diferentes campos da vida social e produz seus
resultados, ideias e imagens estereotipadas e inferiorizados acerca da diferença do outro, o
que nos permite compreender como o racismo estrutura profundamente o escopo da
democracia no Brasil (WERNECK, 2016).
Neste estudo de caso foi analisado o Quilombo Sacopã e seu processo de titulação. O
quilombo está localizado próximo a Lagoa Rodrigo de Freitas no estado do Rio de Janeiro.
No quilombo residem 28 familiares, que são da sexta geração da família Pinto, após a
chegada do patriarca Manoel Pinto Jr. O quilombo, diferente da maioria, é um quilombo
urbano, isto é, não reside em área rural. Possui 6.404,17m² e faz parte da zona sul do Rio de
Janeiro, bairro nobre da cidade, local de extrema valorização do mercado imobiliário urbano
carioca (CASTRO MAIA, 2011). Em entrevista feita com Luis Sacopã por FALBO e
FALCÃO (2015) ele diz sobre a falta de conhecimento dos moradores locais que negam a
identidade quilombola do Quilombo do Sacopã como “artimanha” para construírem prédios
no local, “eles estão lutando para fazer ali um logradouro de um montão de prédios, de um
aglomerado de prédios, fazer condomínio”.
Após o Quilombo ter conseguido seu reconhecimento oficial na esfera federal e ter
tido a derrota na segunda instância no processo no administrativo, a comunidade começou a
exercer pressão através de ações coordenadas com outras comunidades quilombolas do
estado e exigiu do governo federal o atendimento de seus direitos territoriais, em torno da
questão de titulação da área pelo INCRA. Essa articulação resultou em algumas conquistas
significativas. Como em 08 de junho de 2006, a 46a Vara Cível acatou uma notificação
recebida do INCRA e suspendeu o processo de reintegração de posse até que o órgão
concluísse a regularização fundiária da comunidade quilombola. (RJ, 2015)
No dia 14 de agosto de 2012, foi julgado o agravo de instrumento que o INCRA havia
apresentado contra a proibição de realização de atividades culturais e comerciais no
quilombo, concedido um ano antes com a interdição da entrada de carros no local. Luiz
Sacopã representou as famílias do Quilombo do Sacopã na audiência e foi acompanhado pelo
advogado da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Tito Mineiro, e pelo procurador do
INCRA, Diogo Tristão. “De acordo com relato de Marcos Romão, comunicador social do
Mama Terra que acompanhou a audiência a pedido de Luiz, o que ele assistiu ali foi um ato
de expressão judicial próprio do banido da humanidade, digno do regime do Apartheid na
África do Sul”. (RJ, 2015)
Marcos Romão relatou também que a desembargadora Helena Cândida Gaede chegou
à audiência demonstrando desconhecer os autos do processo, e desde o princípio tomou
postura ofensiva para com os moradores do quilombo. A desembargadora, ao descobrir de
qual local se tratava falou que era um terreno em que se realizavam “pagodes que
infernizavam os vizinhos e que ali não era local para aquele tipo de gente” demonstrando que
os autos eram menos importantes do que o que a desembargadora já ouvira falar a respeito.
Segundo Romão, houve intenso debate na audiência, mas a desembargadora Gaede não
encontrou argumentos que embasassem a sua objeção à existência do quilombo na Lagoa que
fossem além de seu gosto pessoal e de sua repulsa ao samba. “De acordo com o relato, ao ser
indagada pelos demais desembargadores do por quê de não se incomodar com a existência de
pagodes em Madureira e nos subúrbios, mas na Lagoa sim, respondeu que é para lá mesmo
que os Quilombolas deveriam ir, pois lá as pessoas já estariam acostumadas.” (RJ, 2015)
Sabendo dos relatos da audiencia é evidente a discriminação racial sofrida pelos
quilombolas do Sacopã na Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
Nesta mesma audiência houve um empate técnico na votação, e o INCRA apresentou
recurso na Justiça Federal. E no dia 19 de setembro de 2014, o INCRA emitiu a Portaria nº
506/2014 de Reconhecimento do território quilombola de Sacopã. Este documento é, segundo
o INCRA, o último passo antes da titulação definitiva das terras em nome das famílias. Na
portaria, o território da Comunidade Remanescente de Quilombos de Sacopã (Família Pinto)
ficou estabelecido com uma área de 6.404,17 m². (RJ, 2015). Ao todo foram 39 anos desde a
entrada do primeiro processo.
A titulação do Quilombo Sacopã ocorreu porque o juiz que julgou o caso era
obstinado. Segundo o relato de Luiz, uma liderança do quilombo: "Pô, cara, agora tenho até
de te dar uma boa notícia. Nós tivemos uma resolução favorável a nós este mês, aí. O juiz
daquela vara julgou contra a Ação de Reintegração de Posse daquela imobiliária grileira, aí,
esses dias. Cara, mas foi uma sorte tremenda! O advogado ligou, aí, pra mim, e falou que foi
uma sorte este processo ter caído na mão de um juiz obstinado. Parece que o cara é
realmente incorruptível, não propinado, sabe como é? Aí, foi uma vitória tremenda, estamos
com sorte. O juiz, lá, apontou que não tem como nos expulsar por conta do artigo 68 da
Constituição. Uma decisão primorosa, vou até enviar para você ler!” (Luiz Sacopã, em abril
de 2015).
A luta do Quilombo Sacopã, não foi só interna, mas sim com o objetivo de promover
o fortalecimento dos direitos de todos os quilombos.
“Nos dias 06 e 07 de setembro daquele ano, cerca de 40 lideranças
quilombolas de todo o estado estiveram reunidas no Quilombo Sacopã, no
Encontro Estadual Quilombola, para discutir os problemas enfrentados pelas
comunidades. Estiveram presentes representantes das comunidades de
Campinho da Independência (Paraty), Santa Rita do Bracuí (Angra dos
Reis), Rasa (Búzios), Alto da Serra (Rio Claro), Marambaia (Mangaratiba),
Santana (Quatis), Sacopã (Rio de Janeiro) e Lagoa Feia (Campos dos
Goytacazes).” (RJ, 2015)
Embora tenha sido conquistada a titulação de terra, o Quilombo ainda está na luta
para conseguir realizar suas atividades culturais. O Quilombo está localizado dentro do
Parque Natural Municipal José Guilherme Merchior, e a Justiça determinou a suspensão das
iniciativas sob o argumento de que as atividades – incluindo aulas de jongo e capoeira – são
incompatíveis com as características da área, residencial, e não podem ser realizadas em
unidades de conservação integral. (RÊGO, 2016)
A questão é monitorada pela Defensoria Pública que tenta, sem sucesso, recorrer das
decisões. Um novo recurso foi apresentado no fim de agosto de 2016 . “A ação original é
muito antiga, de 1989, movida pelos condomínios contra o Luiz Sacopã e sua família. Foi
julgada procedente e vem sendo executada ao longo dos anos”, explicou a coordenadora do
Núcleo contra a Desigualdade Racial (Nucora), defensora pública Lívia Cásseres, que
acompanha o caso. (RÊGO, 2016) O grupo não encontrou novidades no andamento deste
caso.
Houve também a proibição da típica feijoada com roda de samba, em 2015, a partir de
reclamações de barulho feitas pelos vizinhos do Quilombo. Após a proibição, o local passou
a ser monitorado por uma patrulha da Polícia Militar 24h. Tânia Rêgo (2016) relata que o
presidente da Associação de Moradores da Fonte da Saudade, Rafael Szabo, disse que a ação
dos condomínios incomodados pelo barulho e pela movimentação da rua em dias de samba é
compreensível. “Fazer um evento para mil pessoas, com música alta, em área residencial, em
área de morro, claramente o som vai ecoar e afetar os moradores. É um fato” e em resposta,
Luiz Sacopã, que tocava nas rodas de samba, relatou que o evento tinha capacidade para até
180 pessoas - o limite da varanda - e que não passava do horário permitido, 20h.” (RÊGO,
2016)
4. Cronograma
Atividade Prazo
Ao estudar este caso, o grupo pode então concluir a necessidade urgente da titulação
das terras, não só para o quilombo em questão mas para todos aqueles que ainda estão
passando ou irão passar por este processo. O problema de ordem macro identificado no
estudo, que não afeta somente o caso do Quilombo Sacopã mas de todos os outros e da
população negra no Brasil, foi o racismo institucional presente no Poder Judiciário.
Posteriormente, podemos nos deparar com um problema mais específico do Quilombo
Sacopã, que foi a demora para a concessão do reconhecimento de seu território. É claro que
esse problema não foi um caso isolado da família Pinto, a demora da regularização fundiária
cerca a relação dos sujeitos com o próprio local que historicamente ocuparam. Demonstrando
o racismo sistemático que estrutura o poder judiciário e o Ministério Público, negligenciando
os quilombolas a reivindicar aquilo que é básico e um direito das comunidades.
Primeiramente, os absurdos a que passou a família Pinto durante tantos anos de uma
luta árdua e incessante é um exemplo do que não deve acontecer com as comunidades que
estejam reivindicando seu direito à terra. Não se pode admitir tamanho descaso e negligência
por parte do Estado e de toda a população, que não se mobilizou por isso, pelo contrário, se
opôs. O bárbaro tempo de espera a qual a família foi submetida faz com que o processo não
possa servir de exemplo, já que não podemos naturalizar tamanha demora. Os quilombos que
estão hoje na luta pela titulação de suas terras devem ter ciência que essa tramitação há de ser
muito mais ágil e eficiente, e que suas vidas e território não podem esperar tanto por conta
do menosprezo estatal.
Por outro lado, por mais que os Sacopã tenham sofrido por ter direitos negligenciados,
justamente pela enorme necessidade que é ter a titulação de suas terras, eles não pararam.
Hoje, a família têm completa ciência de quais são seus direitos e deveres, e nada na
Constituição pode justificar sua retirada dali. Essa família lutou até conseguir o que era deles
por direito, por mais entraves que tenham encontrado durante o (longo) caminho. Desse
modo, acreditamos que os Sacopã podem ser referência em como utilizar dos recursos que
estão à sua disposição para não deixar que seus direitos sejam negados. Ainda existe o
agravante de estarem lutando pela titulação em uma região alvo da especulação imobiliária. A
zona sul do Rio de Janeiro tem um dos metros quadrados mais caros do país e lutar contra
pessoas de altíssimo poder aquisitivo e principalmente imobiliárias, dificultou mais o
processo.
Ao redor do Brasil existem famílias que também precisam de suas titulações, mas pela
luta de remanescentes de Quilombos contra o Estado e empresas privadas ser tão injusta, elas
ainda não estão conseguindo o acesso à esse direito. Logo, a família Pinto deve servir como
um referencial de resistência para o movimento Quilombola.
Referências
RÊGO, Tânia. Quilombo ameaçado por ação judicial no Rio luta para manter atividades
culturais. Agência Brasil, 2016. Disponível em:
<https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-08/quilombo-ameacado-por-acao-judicia
l-no-rio-luta-para-manter-atividades>. Acesso em: 12 jul. 2021.
RJ – Pressionados pela explosão imobiliária, a família Pinto preserva a Mata Atlântica e luta
pelo reconhecimento do Quilombo do Sacopã, na cidade do Rio de Janeiro. MAPA DE
CONFLITOS ENVOLVENDO INJUSTIÇA AMBIENTAL E SAÚDE NO BRASIL. 11
maio 2015. Disponível em:
<http://mapadeconflitos.ensp.fiocruz.br/conflito/rj-pressionados-pela-explosao-imobiliaria-a-
familia-pinto-preserva-a-mata-atlantica-e-luta-pelo-reconhecimento-do-quilombo-do-sacopa-
na-cidade-do-rio-de-janeiro/>. Acesso em: 12 jun 2021.
SOUZA, Paulo Roberto Pereira de. Os princípios do direito ambiental como instrumento
da efetivação da sustentabilidade do desenvolvimento econômico. Veredas do Direito,
v.13, n 26, p. 289- 317 Belo Horizonte, 2016. Acesso em: 15 jun. 2021 Disponível em
<https://ae4.tidia-ae.usp.br/access/content/group/d78b7a4e-d099-458c-8b73-799ec8c4dcb3/A
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