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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE FORMAÇÃO
PROGRAMA FORMA PARÁ
LICENCIATURA PLENA EM LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA

Luís Carlos da Silva e Silva 1


Marcleynne da Silva Gomes 2

Resumo
O presente artigo é uma pesquisa que buscou entender como é a vida das pessoas
que habitam nas proximidades de determinado lixão, despertada por interesse
pessoal, mas com fins exploratórios para exposição, já que ainda é um caso isolado
da sociedade e que não tem interferência do poder público. Com estes objetivos, os
pesquisadores fizeram uma pequena investigação, a qual teve suas limitações por
falta de conteúdos sobre a temática, por falta de apoio de instituições locais para
disponibilização de dados e por falta de tempo para uma pesquisa mais
aprofundada. Contudo, o pouco alcançado foi significante, foi possível ouvir um
pouco de cada pessoa a qual entrevistamos para entendê-las.
Palavras-chave: Lixão; sobrevivência; catadores.

1
Graduando do curso de Letras – Língua Portuguesa – Forma Pará

2
Graduando do curso de Letras – Língua Portuguesa – Forma Pará
1. Introdução
Este artigo aborda o tema “Lixão e Convivência”, o qual retrata a interação
social de pessoas que habitam nos lixões e em seus arredores, e sobrevivem do lixo
que é descartado no local, o que só retrata marcas da desigualdade social e da
miséria. No Brasil, milhões de pessoas estão vivendo em lixões espalhados por
todos os estados, não diferente dos demais estados, no Pará existem cerca de 134
lixões segundo apontou o levantamento da Abetre em 2020, divulgado pelo
OLiberal.com.
Devido a abrangência da temática, o artigo delimitou o foco apenas na
“Vivência de pessoas que atualmente se encontram morando nas proximidades de
um lixão no município de Monte Alegre”, ou seja, sobrevivendo da coleta de
materiais recicláveis, em condições precárias, passando por necessidades e sujeitos
a doenças por falta de saneamento básico. A lei federal n° 12.305/10 é bem clara, os
lixões já não deveriam mais existir, contudo, Monte Alegre, como muitos municípios
do estado, ainda não possui aterro sanitário para o correto descarte de resíduos
sólidos.
O tema escolhido foi movido pela busca por uma explicação, a qual fez as
pessoas pararem neste local. Para sermos mais específicos, nos deparamos com
um grupo de criaturas morando nas proximidades de um dos lixões do município, o
que despertou o interesse de pesquisar sobre como vivem as pessoas nesse
território.
Visto que há muitas consequências quanto a habitação dentro e perto de
onde se descartam resíduos sólidos a céu aberto, torna-se preocupante a
vulnerabilidade em que se encontram esses moradores, logo se vê o quão
necessário se faz reivindicar melhores condições de vida para esses seres
humanos, já que os mesmos situam-se em condições insalubres e padecem por
desinteresse ou falta de conhecimento da parte do governo e órgãos competentes.
Para estudar um pouco do que se passa em lixões, nada mais adequado que
usar como objeto de estudo pessoas que vivem essa realidade para falar sobre o
assunto. Nada mais correto que ir até esses sujeitos, ouvir e ver o cenário, o qual os
mesmos se enquadram, avaliar como proceder diante da situação e descobrir um
caminho que leve a uma resolução do problema.
OBJETIVO GERAL
 Investigar os impactos sociais causados pelo lixão à céu aberto em Monte
Alegre – PA.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
 Analisar como é o dia a dia de indivíduos que residem em lixões à céu aberto;
 Inferir como é a vida de indivíduos que residem em lixões à céu aberto;
 Investigar se há uma política pública municipal voltada para esses indivíduos;
De acordo com o Ministério do Trabalho, no ano de 2002 foi reconhecida a
profissão de catador e decretada na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações),
pelo 5192 de registro. Segundo a classificação, catadores são aqueles que catam,
selecionam e vendem materiais recicláveis como papel, vidro, papelão, materiais
ferrosos e não ferrosos, alumínio e outros materiais reaproveitáveis. Os catadores
de materiais recicláveis podem ser considerados grandes protagonistas da indústria
de reciclagem no país (GOUVEIA,2012), contudo, estes trabalhadores ainda sofrem
com o preconceito, com a exclusão social e falta de amparo. Logo, a profissão de
catador é vista como meio de sobrevivência, já que os trabalhadores lidam com
situações insalubres para ter um sustento, mas os mesmos não se envergonham do
que fazem, e usam argumentos como “É melhor tá aqui do que tá fazendo coisa
errada. Vergonha faz matar, roubar e isso a gente não faz” (FREIRE; OLIVEIRA;
SILVA, 2016).
O trabalho foi fundamentado com base em estatísticas disponibilizadas por
instituições públicas e artigos, os quais abordavam questões semelhantes
envolvendo a mesma temática. Trata-se de uma pesquisa de natureza descritiva-
exploratória, a qual LAKATOS E MARCONI (2003) compreendem como
investigações de pesquisa empírica, onde é sugerida a formulação de um
questionário ou um problema que tenha finalidade de: criar hipóteses e como
propõe nosso artigo, ter uma perspectiva sobre o modo de vida de quem se sustenta
por meio de coleta de resíduos sólidos recicláveis.
2. Metodologia
2.1 Local da pesquisa
A pesquisa foi realizada no município de Monte Alegre, no estado do Pará,
Região Norte do país. Localizada ao oeste do Estado (02º00'28") e (54º04'09").
Possui 18.152,560 km2 de área territorial, e está a uma altitude de 38 metros acima
do nível do mar. Sua população, conforme estimativas do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) de 2020, era de 58.162 habitantes. A pesquisa foi
desenvolvida no lixão a céu aberto distando aproximadamente 2 km da sede do
município.
2.2 Amosta da pesquisa
A amostra se deu pelos moradores que residiam próximo ao lixão a céu
aberto, pelos catadores que deslocam-se para coletar o material reciclável e pela
análise do local.
2.3 Tipo de pesquisa
Trata-se de uma pesquisa do tipo pesquisa de campo, onde foi realizada
observações diretas sob área de estudo, visando a diagnosticar qual a situação atual
do lixão a céu aberto de Monte Alegre - PA. Para tal, utilizou-se de visitas ao local do
lixão à céu aberto e de entrevistas direcionadas para indivíduos que residem na
região.
2.4 Abordagem e métodos de abordagem
A pesquisa é qualitativa, pois busca entender as condições em que catadores
vivem e seguiu o método indutivo na qual partiu de vivência particular para uma
pesquisa mais ampla, ou seja, um aspecto geral. A partir da observação foi possível
formular uma hipótese de como, de modo geral, os catadores sustentam-se e quais
os obstáculos enfrentam.
2.5 Etapas da pesquisa

ETAPA 1 – Primeiramente foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema


proposto e realização metodológica.

ETAPA II – Em seguida, foi realizado uma visita ao local de pesquisa para


observação do ambiente e possíveis entrevistados.

2.6 Instrumentos de coleta de dados


Ao chegar ao local de pesquisa, foram utilizados como instrumentos:
entrevistas, questionários e ainda a observação do espaço.
2.7 Tipos de dados
A pesquisa valeu-se dados quantitativos primários, ou seja, os levantamentos
foram feitos propriamente pelos pesquisadores em visita ao local.
2.8 Técnicas de análises de dados
Foram utilizados os números contabilizados pelos pesquisadores, feitas
análises e interpretações das falas dos entrevistados.
Contabilizou-se cerca de 30 moradias entorno do lixão. Entrevistou-se 5
famílias de forma aleatória simples.
3. Teoria
Atualmente, o mundo tem enfrentado inúmeros problemas ambientais que
repercutem negativamente no dia a dia de todos os indivíduos. Nas últimas décadas,
o aumento populacional desordenado, a ampliação de áreas urbanas sem
planejamento, o aumento do consumo de recursos naturais e a produção em
excesso, vem sendo apontados como os principais responsáveis pelo aumento de
resíduos sólidos no planeta (DE OLIVEIRA, 2016).

Os resíduos sólidos, popularmente conhecidos como “lixo” pode ser


conceituado como “qualquer resíduo descartado pela população, podendo ser
originado de residências, hospitais, comércios, praças, dentre outros.” Além disso, o
lixo pode ser classificado conforme sua periculosidade em: a) Classe I: (perigosos);
b) Classe II (não inertes) e Classe III (Inertes, não apresentando riscos).
Independente de sua classificação, o lixo traz consigo uma gama de impactos
negativos, seja para a sociedade ou para fauna e flora (DE SOUSA, et al. 2019).

Conforme COSTA, et al. 2016, os impactos gerados pelos lixões variam da


modificação do meio físico, decorrente da poluição do solo; modificação do meio
antrópico, causando poluição visual e do meio biótico, que é a redução da biota do
solo. Além de acarretar de impactos imensuráveis na saúde de indivíduos que
moram nas proximidades de lixões a céu aberto.

O lixão a céu aberto é uma realidade comum em país que estão em


desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, cerca de 50,8% dos resíduos produzidos no país ainda são
lançados em lixões à céu aberto, principalmente na região norte, onde
aproximadamente 59% dos municípios jogam seus resíduos em lixões (ABELPRE,
2010).

Sabe-se que a destinação final do lixo produzido em um município é de


responsabilidade da prefeitura municipal e que o descarte incorreto pode acarretar
na poluição da água, do solo e do ar, além de criar ambiente favorável para a
proliferação de macro e micro vetores causadores de doenças, diminuindo assim, a
qualidade de vida da população (COSTA, et al. 2016 & DE OLIVEIRA, 2016).

O Art. 137 da Lei Orgânica (2015, p.37) do município de Monte Alegre (PA)
afirma que:

Art. 137. A ordem econômica municipal, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os princípios da
soberania nacional, da propriedade privada, da função social da
propriedade, da livre concorrência, da defesa do consumidor, da defesa do
meio ambiente, mediante tratamento diferenciado conforme o impacto
ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação; da redução das desigualdades regionais e sociais; da busca do
pleno emprego; e do tratamento favorecido para as empresas de pequeno
porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e
administração no País.
Diante disso, conclui-se que município não cumpre o que lhe está imposto
quanto a responsabilidade de reduzir a desigualdade, e assegurar à todos existência
digna.

Ainda na Lei Orgânica Municipal de Monte Alegre (2015, p.45), consta que:

Art. 187. A política municipal do abastecimento terá como objetivo a


promoção da segurança alimentar e nutricional à população, através, dentre
outras, das seguintes medidas:
V - promoção de ações de combate às situações de insegurança alimentar e
nutricional;
VII – promoção à alimentação em situações emergenciais e de calamidade.
Mesmo com todos os amparos que o poder público é incumbido de dar, nota-
se que não há preocupação em exercer seu dever diante de uma comunidade em
estado de calamidade. Logo, se ver a necessidade de cobranças a autoridades, que
deveriam criar e apoiar projetos os quais beneficiassem os catadores que moram
nas proximidades do lixão, seja com alimentos, com saneamento básico, com
disponibilização de uma área ocupacional distante do perigo de contaminação, com
água potável, com energia, com algum tipo de auxílio financeiro, e até mesmo com
medicamentos, visto que não se tem uma unidade básica de saúde próxima.

4. Resultados

Através de toda a pesquisa realizada, obteve-se os resultados, os quais


dividem-se em análise das respostas e percepção dos pesquisadores.

Análise das respostas

Questionando os catadores de recicláveis que moram próximo ao depósito de


resíduos quais as maiores dificuldades enfrentadas, eles responderam que são a
falta de energia elétrica e abastecimento de água.

Uma senhora que não quis ser identificada fez o seguinte relato “A vida aqui é
tranquila, longe do barulho da cidade, apesar da falta de energia e água, a gente
vive bem aqui, graças a Deus”. A mesma mora com outras 6 pessoas, nas quais 2
são crianças e estudam. Recebe auxílio do governo federal chamado Auxílio Brasil,
mora a 3 anos na localidade, em seu próprio terreno. Quando perguntada se a
família tinha ajuda da prefeitura ou qualquer instituição vinculada ao município, a
resposta foi a mesma que os demais entrevistados, “não”.
Em outra entrevista, perguntamos quanto tempo o catador exercia a profissão
obtivemos a seguinte resposta: “Há 10 anos eu e a minha esposa sobrevivemos
disso, temos 4 filhos e além do ganho com recicláveis, recebemos Bolsa Família”
(Valdiney, 45 anos)
Ao visitarmos outra residência, entrevistamos um rapaz o qual é recém-
chegado ao local que informou que pela dificuldade de trabalhar por conta de um
problema de saúde, veio parar no local em um terreno de um empresário. “Não tô
podendo fazer força esses tempo então a família que morava aqui se mudou e eu
vim para cá”. (Paulo Marques, 27 anos)
Questionados quanto a doenças, todos falaram que não tiveram doenças em
decorrência dos resíduos. Afirmaram que o lugar não apresentava muitos riscos e
que tomavam cuidado para não se cortarem nos vidros, latas e pontas de madeira.
Percepção dos pesquisadores
Ao entrevistarmos os moradores e/ou catadores, fizemos análise dos espaços
em que eles se encontravam, percebemos que mesmo com afirmações que vivem
bem, há lacunas a serem preenchidas, é notável a escassez de mantimentos,
utensílios de cozinha, falta de saneamento básico, falta de acesso a saúde pública,
falta de água de qualidade. Em nossa visão, essas pessoas encontram-se isoladas,
literalmente excluídas, pois o descaso é preocupante. Apesar de todos afirmarem
que vivem de catar matérias recicláveis e de benefícios do governo federal, notamos
que também era possível ver marcas de agricultura, pois encontramos pequenos
plantios de milho, macaxeira, coco, jerimum, feijão, banana e caju que certamente a
produção serve de consumo.

5. Considerações finais
O presente artigo como principal objetivo mostrar para a sociedade monte-
alegrense e principalmente o poder público a situação das famílias que moram no
lixão da cidade. Assim impactar a sociedade mostrando a situação miserável em que
essas famílias vivem em que outros tempos não se via em nosso município.
De modo geral, foi constatado que esses moradores não são atendidos pelo
poder público qual deveria ampará-los.
Diante disso o artigo contribui com uma nova visão da sociedade para com as
famílias que moram no lixão e assim encontrar soluções para os seus problemas.
As limitações deste trabalho foram a falta de conteúdo escrito sobre o tema.
Sugere-se então, para futuras pesquisas e aprofundamento do assunto que os
meios de comunicação, os pesquisadores, escritores e repórteres abordassem mais
essa temática. E outra sugestão seria o papel da sociedade mais atuante e presente
na vida desses seres humanos que merecem viver em condições dignas.
Através desta pesquisa foi possível constatar que está aumentando o número
de famílias no lixão e que as providencias do setor público não chegam para acolher
os vulneráveis habitantes do Bairro da Paz.
REFERÊNCIAS
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Disponível em: https://www.google.com/amp/s/www.oliberal.com/para/fim-dos-lixoes-
ainda-e-grande-desafio-no-para-1.505642%famp=1. Acesso em 20 de ferreiro de
2023.

Abrelpe - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos


Especiais. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. 2010.

BRASIL. Lei Orgânica (2015). Lei Orgânica do Município de Monte Alegre (PA).
Monte Alegre, PA: Câmara de Vereadores. Disponível em:
http://www.montealegre.pa.gov.br/lei-organica-municipal/. Acesso em 21 de ferreiro
de 2023.

BRASIL. (2010) Lei n° 12.305/10, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional


de Resíduos Sólidos; altera a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras
providências. Brasília: Diário Oficial da União.

DE OLIVEIRA, Benone Otávio Souza. Impactos ambientais decorrentes do lixão da


cidade de Humaitá, Amazonas. Revista verde de agroecologia e
desenvolvimento sustentável, v. 11, n. 4, p. 80-84, 2016.

DE SOUSA, Gustavo Lemos; DE OLIVEIRA FERREIRA, Vitória Talita; DE


CARVALHO GUIMARÃES, Jairo. Lixão a céu aberto: implicações para o meio
ambiente e para a sociedade. Revista Valore, v. 4, p. 367-376, 2019.

COSTA, T. et al. Impactos ambientais de lixão a céu aberto no Município de


Cristalândia, Estado do Piauí, Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Gestão
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FREIRE, M. S.; OLIVEIRA, R. S.; SILVA C. Vivendo do lixo: a luta pela


sobrevivência e inclusão de catadores de materiais recicláveis no município de
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https//editorarealize.com.br/artigo/visualizar/23337. Acesso em 20 de fevereiro de
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GOUVEIA, Nelson. Resíduos sólidos urbanos: impactos socioambientais e


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LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 5ª ed.
São Paulo: Atlas, 2003.

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