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ELABORAÇÃO DE ESTUDOS
E PROJETOS DE DRENAGEM
CAPÍTULO 5
SISTEMA DE DRENAGEM
FLUVIAL: MACRODRENAGEM,
TRATAMENTO DE FUNDO DE
VALE E MITIGAÇÃO DE
INUNDAÇÕES
BELO HORIZONTE
ABRIL / 2022
INSTRUÇÃO TÉCNICA PARA ELABORAÇÃO DE ESTUDOS E PROJETOS DE DRENAGEM
PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE
Prefeito Fuad Noman
SMOBI – SECRETARIA MUNICIPAL DE OBRAS E INFRAESTRUTURA
Secretário Leandro César Pereira
DGAU – DIRETORIA DE GESTÃO DE ÁGUAS URBANAS
Diretor Ricardo de Miranda Aroeira
Coordenação Geral:
Ricardo de Miranda Aroeira
Grupo de Discussão:
Alanderson Rodrigues de Oliveira – SMMA
Alexandre Duarte de Oliveira Rocha – URBEL
Ana Luiza Passos de Marco – SUDECAP
Ana Paula Barbosa Vitor de Oliveira – SMMA
Claudionir Sebastião Maria – SMPU
Cristiane Rodrigues da Mata – SMPU
Dayan Diniz de Carvalho – SUPDEC
Dulce Maria Magalhães Pereira – SUDECAP
Eduardo Augusto Pedersoli Rocha – SUPDEC
Elcione Menezes Alves – SUPDEC
Isaac Henriques de Medeiros – SMPU
Luciano Campos Vieira – SMMA
Luiz Augusto Schmidt – BHTRANS
Marcelo Henrique Garcia Rodrigues – URBEL
Maria Altiva Prado de Oliveira – SUDECAP
Maria Aparecida Correia – SUDECAP
Mateus Braga Silva dos Santos – SMPU
Patrícia de Castro Batista – SLU
Rafael Rangel – FMPZ
Sônia Mara Miranda Knauer – SMMA
Suzana Rodrigues Seguro – SMMA
Thalita Silva de Barros Tepedino – BHTRANS
Ilustrações:
Ana Carolina Novaes de Andrade – SMOBI
Carla Taina Deltreggia – SUPLAN
Isabela Braz Rossetti – SUCOM
Pamella Victoria Costa Alves – SMOBI
Capas – Créditos das fotos:
Célula de Precipitação sobre Belo Horizonte – Arquivo SUPDEC/SMOBI
Córrego Clemente (Parque Ecológico Roberto Burle Marx) – Úrsula Kelli Caputo – DGAU/SMOBI
Estação de Monitoramento 9 (Ribeirão do Onça) – Abelino Gomes – DGAU/SMOBI
Jardim de Chuva (Parque Lagoa do Nado) – Arquivo PBH
Jardim de Chuva (Parque Nossa Sra. da Piedade) – Ana Carolina Novaes de Andrade – DGAU/SMOBI
Loteamento Jardim da Mata (Granja Werneck) – Imagem de drone – PRODABEL
Mapa de Relevo e Hidrografia de Belo Horizonte – DGAU/SMOBI
Rua Oswaldo Braga (B. Santa Amélia) – Úrsula Kelli Caputo – DGAU/SMOBI
Vista do Parque Primeiro de Maio (B. Aarão Reis) – Rogério França Pinto – ASCOM/ SUDECAP
Belo Horizonte tem suas origens na consolidação de uma proposta de planejamento urbano
higienista e que desconsiderou o traçado dos cursos d’água. O processo que se seguiu foi marcado
por uma expansão acelerada desse modelo equivocado, acompanhado de intensa
impermeabilização do solo. Esses fatores somados às mudanças climáticas se configuram como as
principais causas da instalação e do agravamento dos riscos e das consequências das inundações,
alagamentos e enxurradas que se verificam em vários pontos do Município.
Há cerca de duas décadas a Prefeitura de Belo Horizonte vem assumindo sua responsabilidade em
lidar com os problemas relacionados à gestão das águas urbanas. O Município foi um dos primeiros
no País a elaborar o Plano Diretor de Drenagem e o Plano Municipal de Saneamento, ainda nos anos
2000. Além disso, através do Programa DRENURBS, a Prefeitura fez um esforço adicional para
viabilizar uma mudança de paradigmas, inclusive materializando a implantação de parques lineares,
associados a intervenções de despoluição dos cursos d’água e de mitigação do risco de inundações,
em contraposição à proposta de canalização de córregos, considerada, até então, como a única
solução para o enfrentamento do problema das inundações.
Cabe destacar, ainda, a importância da institucionalização dos conceitos e práticas trazidos pelo
Plano Diretor de Drenagem e pelo Programa DRENURBS, por meio do novo Plano Diretor Urbano
de Belo Horizonte - Lei n° 11.181/2019, especialmente no que se refere à necessidade do controle
do escoamento pluvial e da preservação dos fundos de vale.
Esse novo e importante arcabouço legal, em total consonância com a valorização e adequada gestão
das águas urbanas, impulsionou a Administração Municipal na direção da atualização e revisão de
seus procedimentos de elaboração de projetos de drenagem, buscando assim a incorporação dos
aspectos atuais da legislação, como também aqueles relacionados a uma maior eficiência e
sustentabilidade técnica e ambiental.
Assim, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura - SMOBI, por meio de sua Diretoria de
Gestão de Águas Urbanas – DGAU, apresenta a nova INSTRUÇÃO TÉCNICA PARA ELABORAÇÃO DE
ESTUDOS E PROJETOS DE DRENAGEM URBANA PARA O MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE,
instrumento que objetiva padronizar e uniformizar os critérios para tratamento da questão de
drenagem no município, bem como trazer elementos para melhor controle e mitigação do aumento
de escoamento pluvial superficial no ambiente urbano.
Esse documento tem como objetivo oferecer um referencial técnico aos projetistas, fornecendo
elementos que permitam o conhecimento da legislação e de conceitos de hidrologia e hidráulica,
além de apresentar um conjunto de informações necessárias à análise e ao dimensionamento de
alternativas de concepção de soluções sustentáveis, buscando permitir uma adequada
compreensão das metodologias de elaboração de estudos e projetos de drenagem no Município de
Belo Horizonte.
Esse trabalho foi subsidiado por estudos desenvolvidos pela Universidade Federal de Minas Gerais
– UFMG, a partir da Fundação Christiano Ottoni - FCO e contou com a participação de um grupo de
discussão composto por representantes das diversas Secretarias e instituições da Prefeitura de Belo
Horizonte, com o apoio fundamental da Gerência de Normas e Padrões da SUDECAP - GENPA.
Antes deste marco atual, a Administração Municipal de Belo Horizonte utilizava como referência os
seguintes documentos para orientar a elaboração de estudos e projetos de drenagem urbana:
o Instrução Técnica para Elaboração de Estudos e Projetos de Drenagem Urbana do Município
de Belo Horizonte (outubro de 2004): apresentava diretrizes específicas para a elaboração
de estudos e projetos de microdrenagem;
o Procedimento para Elaboração de Projeto de Ligação Predial ao Sistema Público de
Drenagem Pluvial (setembro de 2011): apresentava orientações e diretrizes para elaboração
de estudos e projetos de drenagem predial, de drenagem urbana, bem como da ligação
desses empreendimentos ao sistema público de drenagem;
o Procedimento Padrão para Elaboração e Apresentação de Projetos de Infraestrutura,
capítulos 6, 10, 11 e 13 (abril de 2017): apresentava orientações para elaboração de projetos
de microdrenagem, de macrodrenagem e de tratamento de fundo de vale para os órgãos da
PBH ou para consultores por ela contratados.
5.1. INTRODUÇÃO
Nos capítulos anteriores desta Instrução foram apresentadas premissas e orientações para
concepção do território urbano, tomando como palco a temática drenagem urbana, a
proteção dos corpos hídricos e a adoção de medidas de controle na escala local e na regional.
Complementando a temática, o presente capítulo faz uma abordagem para o tratamento dos
eixos principais de drenagem do Município, conceituados aqui como macrodrenagem ou
fundo de vale.
Os eixos principais de drenagem, compostos por cursos d’águas naturais, canais, galerias e
respectivas planícies de inundação, são os pontos de recebimento e concentração das águas
pluviais provindas das superfícies, dos talvegues naturais e do sistema de microdrenagem. Em
bacias hidrográficas naturais, estas áreas, além da concentração e condução das águas,
apresentam funções ecológicas e de amortecimento de fluxo em suas várzeas. Na cidade
adensada estes eixos atendem demandas distintas daquelas naturais, pois são exigidos em um
regime hidrológico intensificado em função da urbanização e muitas vezes estão ocupados
por vias, infraestruturas e edificações.
Este Capítulo tem por objetivo orientar e estabelecer procedimentos para elaboração de
estudos e projetos de implantação e/ou ampliação de sistemas de macrodrenagem urbana,
tratamento de cursos d’água e fundos de vale e de estruturas de controle de cheias. As
diretrizes aqui propostas visam garantir aos munícipes condições favoráveis de conforto e
segurança quando da ocorrência de eventos chuvosos e a melhor gestão pública do sistema
de macrodrenagem, propondo metodologias e premissas adequadas, sendo aplicáveis nos
seguintes casos:
Apesar das diferenças que os estudos relacionados à temática possam ter, é importante que
se tenham critérios a serem seguidos para a realização de cada um deles. Desse modo, o
presente documento tem o objetivo de estabelecer critérios gerais a serem adotados, sem,
entretanto, ser exaustivo em suas propostas. O processo de elaboração de projetos para o sistema
de drenagem fluvial, no âmbito da PBH, é apresentado na Figura 5.1 e detalhado na sequência.
A fase definida aqui como Fase de Problematização é baseada na análise das informações,
levantamentos iniciais e das constatações do diagnóstico. Seu objetivo é elencar elementos
para a proposição de alternativas de intervenções, com vistas aos objetivos do
empreendimento e aos planos direcionadores existentes como PEA, PRU etc.
A definição de objetivos é o ponto de partida que delimita o foco dos estudos a serem
desenvolvidos e motivam as alternativas de intervenção a serem estudadas.
No Município de Belo Horizonte, além da legislação em vigor, existem vários instrumentos que
norteiam as intervenções no território, e alguns trazem diretrizes para cada local conforme
suas especificidades. Cabe aqui fazer o destaque para os seguintes:
As informações iniciais que deverão ser registradas e/ou cadastradas para subsidiar a
elaboração de projetos são:
✓ Mapa geral com localização da área de estudo no Município de Belo Horizonte e sua
respectiva bacia hidrográfica;
✓ Planta geral da bacia contribuinte com a delimitação de todas as informações iniciais
pertinentes listadas anteriormente;
✓ Planos para levantamento planialtimétrico das áreas relevantes, constando todas as
informações pertinentes, interferências, cadastro do sistema de micro e
macrodrenagem, cursos d’água naturais e pontos de controle hidráulico;
✓ Em se tratando de novos loteamentos, levantamento topográfico primitivo e proposta
de urbanização que favoreça as questões de mitigação dos impactos, projeto
geométrico do sistema viário, projetos das demais infraestruturas etc.
5.3.1.3. Diagnóstico
Esse diagnóstico abrange tanto aspectos urbanísticos, quanto dos cursos d’água e suas áreas
marginais, contemplando elementos de diagnóstico físico, biótico e antrópico. Assim, deverá
inventariar os diversos elementos e subsistemas urbanos intervenientes situados na área de
abrangência do projeto.
A delimitação das bacias e sub-bacias do Município podem ser visualizadas no Anexo 1 desta
Instrução ou pelo Sistema BHMap (https://bhmap.pbh.gov.br/). Recomenda-se a utilização das
bacias e sub-bacias já delimitadas. Porém, é pertinente fazer uma aferição de seus limites
conforme a urbanização atual e o fluxo pluvial existente.
A caracterização destes sistemas deverá considerar a área urbana formal, além das áreas
ocupadas por vilas e favelas, conjuntos habitacionais e áreas de risco classificadas ou não.
Deve ser dada atenção especial à identificação dos imóveis não atendidos ou não interligados,
sejam domésticos ou não domésticos, e dos pontos ou trechos do sistema coletor de esgotos
que apresentam descontinuidade, com lançamento de esgotos nos cursos d’água ou nos
sistemas de drenagem pluvial.
Para fins desta Instrução, conceitua-se como alternativa um conjunto de intervenções que
visam cumprir a motivação do empreendimento e proporcionar tratamento de drenagem
adequado, levando em consideração as condições ambientais e urbanas existentes. A partir
do diagnóstico efetuado pode-se iniciar a Fase de Proposição e Seleção de Alternativas. A
Figura 5.2 apresenta, de maneira sintética, esse fluxo.
Figura 5.2 – Fluxo da Fase de Proposição e Seleção de Alternativas
A fase de delimitação de alternativas é uma etapa conceitual do trabalho e deve ser realizada
por uma equipe multidisciplinar para que se garanta que toda a diversidade de soluções seja
explorada.
A delimitação de soluções não deve se restringir às mais usuais e convencionais, mas sim
permitir a avaliação de novas tecnologias e arranjos. Nessa etapa, não deve haver uma
preocupação excessiva com a viabilidade e com o custo das soluções propostas, o que pode
incorrer em uma eliminação precoce de soluções, antes da análise de viabilidade que
acontecerá na etapa posterior.
As propostas devem compor um leque de soluções diversas que contemplem vários níveis de
intervenção na bacia e nos cursos d’água. Para a proposição das alternativas, devem ser
consideradas variações dos seguintes aspectos:
A Figura 5.3 apresenta, de forma conceitual, as diferentes configurações do curso d’água, nos
aspectos levantados acima.
Sem Sem
1 Nenhuma Natural revestimento revestimento Sim Nenhum
(natural) (natural)
Trapezoidal com
2 Mínima baixa declividade Alta Baixa Sim Mínimo
das margens
Trapezoidal com
declividade
3 Mediana Moderada Moderada Sim Mediano
mediana das
margens
Trapezoidal com
declividade
4 Alta Moderada Moderada Não Mediano
acentuada das
margens
Seções
retangulares ou
compostas com
5 Muito alta Baixa Alta Não Alto
declividade
acentuada das
margens
Para intervenções do Grupo 1 é importante ressaltar que todo impacto da urbanização da área
de contribuição tem que ser mitigado pelo uso das técnicas de controle de escoamento na
fonte, regionais ou de jusante e/ou por áreas verdes adjacentes.
Ressalta-se, ainda, que nos cursos d’água onde permanecem indícios dos aspectos naturais,
devem ser obrigatoriamente estudadas alternativas dos Grupos 1 e 2, visando:
A Tabela 5.2 apresenta a matriz de alternativas possíveis em função dos critérios abordados
nesta Instrução Técnica.
Figura 5.4 – Exemplo Grupo 1 - Córrego Clemente - Parque das Águas (Fonte: Arquivos DGAU/SMOBI)
Figura 5.5 - Exemplo Grupo 2 - Córrego Primeiro de Maio – Parque Primeiro de Maio
(Fonte: Arquivos DGAU/SMOBI)
Figura 5.6 - Exemplo Grupo 2 - Córrego Baleares – Parque Baleares (Fonte: Arquivos DGAU/SMOBI)
Figura 5.7 - Exemplos Grupo 3 - Córregos Engenho Nogueira e Bonsucesso (Fonte: Arquivos DGAU/SMOBI)
Para tanto, as alternativas devem passar por estudo hidrológico e hidráulico para verificação
das eficiências hidráulicas requeridas, verificando os aspectos de amortecimento e condução
e as manchas de inundação remanescentes, nos cenários de situação atual do local e a
situação futura em função de mudanças e uso e ocupação do solo e da inserção de obras ou
estruturas já projetadas e/ou implantadas.
Para os arranjos que cumprem as motivações elencadas para o empreendimento, deve ser
realizada uma análise de viabilidade técnica, econômica e ambiental, nos termos previstos no
Capítulo 2 - Condições Gerais dos Procedimentos de Projetos SUDECAP.
Todos os aspectos que impliquem na não viabilidade de uma alternativa, devem ser
devidamente registrados para compor a justificativa técnica de sua exclusão.
Ao final dessa etapa deve-se eleger pelo menos 5(cinco) soluções que irão para a etapa de
avaliação de desempenho.
Os estudos de viabilidade das alternativas propostas deverão compor uma matriz que forneça
as hierarquizações, descrevendo as vantagens e as desvantagens de cada proposta.
Nesta avaliação vários aspectos podem ser considerados, como a preservação do ambiente e
da qualidade de vida dos indivíduos atingidos, a valorização das águas naturais e de áreas
permeáveis, os ganhos hidrológicos e sanitários, o aproveitamento de dispositivos existentes,
as interferências com as infraestruturas, as áreas disponíveis, a ocupação existente, o número
de desapropriações, remoções e reassentamentos, a aceitação da população, a acessibilidade,
a mobilidade, a possibilidade de provocar impactos ou mitigá-los, os riscos envolvidos e os
retornos socioambientais.
Figura 5.10 - Aspectos a serem considerados na avaliação de desempenho e seus respectivos indicadores
Tabela 5.3 – Valores dos pesos para cada indicador utilizado na avaliação de alternativas em córregos
situados em conexão de fundo de fundo de vale
Indicadores Pesos
Área inundável remanescente após a intervenção (IAI) 20%
Impacto nas vazões de jusante (IQJ) 20%
Seção transversal/ Áreas adjacentes (IAH) 20%
Revestimento (IR) 20%
Desenvolvimento longitudinal (IS) 20%
Nos córregos situados fora das áreas de conexão de fundo de vale, cujas características atuais
são a existência de revestimento mais rígido, priorizou-se os aspectos do controle de
inundações e do impacto nas vazões de jusante, conforme pesos indicados na Tabela 5.4 e na
Equação 5.2, para o cálculo do desempenho da alternativa (Av).
Tabela 5.4 – Valores dos pesos para cada indicador utilizado na avaliação de alternativas em cursos d’água
não situados em conexão de fundo de vale
Indicadores Pesos
Área inundável remanescente após a intervenção (IAI) 30%
Impacto nas vazões de jusante (IQJ) 30%
Seção transversal/ Áreas adjacentes (IAH) 20%
Revestimento (IR) 10%
Desenvolvimento longitudinal (IS) 10%
As alternativas mais adequadas, sob o ponto de vista de desempenho, são aquelas que
tiverem maiores valores de AV.
Deve-se destacar que o processo aqui proposto é de auxílio e que a decisão final pela
alternativa a ser implantada deve ser acrescida dos demais aspectos ambientais, sociais e
econômicos e de uma análise crítica que leve em consideração as eficiências e as deficiências
de cada uma das alternativas de projeto avaliadas, bem como da alternativa de não
intervenção, comparando-as à situação atual.
Para o cálculo desse indicador, as áreas das manchas de inundação modeladas serão
utilizadas. Caso seja possível, pode-se incluir nas áreas das manchas as áreas que são passíveis
de acúmulo de água por alagamentos. Tendo em vista que inundações e alagamentos têm
impacto diferentes em função do tipo de uso do solo do local atingido, o indicador proposto
leva em consideração, por meio de pesos, esse critério.
Onde:
IAI – Indicador de área inundável remanescente, com variação de 0 a 1;
Aiv – Área inundável após a implantação da alternativa proposta ocupada por sistema viário;
Aie – Área inundável após a implantação da alternativa proposta ocupada por
estacionamentos;
Aid – Área inundável após a implantação da alternativa proposta ocupada por domicílios;
Aip – Área inundável após a implantação da alternativa proposta ocupada parques, praças ou
áreas verdes;
Aii – Área inundável após a implantação da alternativa proposta ocupada por indústrias;
Aih – Área inundável após a implantação da alternativa proposta ocupada por hospitais ou
outros equipamentos urbanos de grande concentração de pessoas com mobilidade reduzida,
como escolas infantis;
Ai alternativa n – Área inundável após a implantação da alternativa que tem a maior área
inundável remanescente dentre as alternativas em comparação.
Para a estimativa dessas vazões, um período de retorno relativamente alto deve ser utilizado.
Recomenda-se a utilização de um período de retorno de 100 anos ou superior, no caso em
que todas as alternativas não possuam manchas para as condições consideradas.
O indicador de vazão de jusante (IQJ) tem o objetivo de avaliar o impacto da intervenção sobre
a vazão no trecho a jusante. A avaliação, exemplificada pela Figura 5.12, será em função da
superação da vazão de restrição (QR), e da comparação, no trecho de jusante, das vazões de
pico atual (Qa) com a vazão de pico após a intervenção (Qd). Este indicador é proveniente do
trabalho de Evangelista (2011), conforme a Equação 5.4.
Figura 5.12 – Vazões de análise para o indicador de vazão de jusante
Para a estimativa dessas vazões, um período de retorno relativamente alto deve ser escolhido.
Esse tempo de retorno deve ser maior ou igual àquele escolhido para o projeto do
empreendimento. A vazão de restrição a jusante deve ser aquela de máxima capacidade do
trecho de jusante do curso d’água, muitas vezes devido à infraestrutura já implantada ou,
ainda, ser baseada em algum critério legal de restrição.
A vazão de pico atual deverá ser estimada no exutório da área de contribuição utilizando-se
os dados da situação da bacia antes da intervenção. A vazão de pico após a intervenção será
estimada da mesma maneira, considerando os sistemas de drenagem a serem implementados
na área de contribuição.
𝑆𝑒 𝑄𝑑 ≤ 𝑄𝑅 → 𝐼𝑄𝐽 = 1
𝑆𝑒 𝑄𝑑 > 𝑄𝑅 𝑒𝑛𝑡ã𝑜:
𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑄𝑑 ≥ 𝑄𝑎 → 𝐼𝑄𝐽 = 0
(𝑄 −𝑄 )
𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑄𝑑 < 𝑄𝑎 → 𝐼𝑄𝐽 = 1 + (𝑄𝑑 −𝑄𝑅) (equação 5.4)
𝑅 𝑎
Onde:
IQJ – Indicador de impacto nas vazões a jusante, com variação de 0 a 1;
Qd – Vazão de pico a jusante após a intervenção para o tempo de retorno adotado;
QR – Vazão de restrição do trecho a jusante da intervenção, ou seja, capacidade do trecho;
Qa – Vazão de pico a jusante na situação atual para o tempo de retorno adotado.
c) Seção Transversal e Áreas Adjacentes ao Corpo d’Água (IAH)
O indicador de seção transversal foi proposto por Evangelista (2011), com o objetivo de avaliar
a adaptabilidade hidráulica da alternativa. A avaliação das áreas adjacentes ao corpo hídrico
é pautada na largura de implantação da intervenção, considerando o canal e as áreas
adjacentes ao corpo d’água, ou seja, as áreas verdes laterais que podem ser atingidas
eventualmente pelas cheias do curso d’água, conforme Figura 5.13.
Para o cálculo deste indicador é utilizado o conceito de Fator de Condução (Baptista e Coelho,
2002), que corresponde a um coeficiente k que, multiplicado pela raiz quadrada da declividade
do canal, fornece a sua capacidade de vazão. Este fator k é determinado em função da
geometria e da rugosidade da seção do canal, conforme Equação 5.5.
𝐴5/3
𝐾= 2/3 (equação 5.5)
𝑛.𝑃𝑠
Onde:
A – Área da seção transversal do canal;
Ps – Perímetro molhado da seção do canal;
n – Coeficiente de Manning.
Com os fatores de condução da seção transversal futura de cada alternativa (K Fut) calculados,
a mensuração do indicador IAH será a razão entre o fator de condução da seção transversal
futura de cada alternativa pelo máximo fator de condução verificado entre as alternativas,
conforme Equação 5.7.
𝐾𝐹𝑢𝑡
𝐼𝐴𝐻 = 𝐾 .........................................................................................................(equação 5.7)
𝐹𝑢𝑡 𝑚á𝑥
Onde:
IAH – Indicador de seção transversal, variando de 0 a 1;
KFut – Fator de condução da seção transversal futura do canal para a alternativa em análise;
KFut-max – Maior fator de condução da seção transversal futura, verificado entre as alternativas
em análise.
Caso a alternativa tenha trechos com diferentes tipos de configurações de canais, deve-se
calcular o indicador para cada trecho e depois calcular o indicador médio da alternativa por
meio de soma ponderada pela extensão do trecho e dividir essa soma pelo comprimento total
dos canais, tal como mostrado na Equação 5.8.
∑𝑛
𝑖=1 𝐾𝐹𝑢𝑡 𝐿𝑖
𝐾𝐹𝑢𝑡 = ∑ 𝐿𝑖
(equação 5.8)
Onde:
KFut – Fator de condução da seção transversal futura do canal para a alternativa em análise;
n – Número de trechos homogêneos quanto à seção transversal;
Li – Extensão do trecho “i” do curso d’água.
d) Revestimento (IR)
As intervenções em cursos de água podem ter características que permitam ou não a sua
integração aos ecossistemas. O indicador de Revestimento busca avaliar o quanto a
intervenção interfere nas funções e nas interrelações do curso d´água, tais como o fluxo entre
os cursos d’água e o lençol freático, a alteração da paisagem pela artificialização de sua seção,
a redução do seu coeficiente de rugosidade, bem como implicações como o aumento da
velocidade e a redução da diversidade de habitats em função da alteração da temperatura e
do aporte de nutrientes pela vegetação das margens, conforme a Figura 5.14.
∑𝑛ℎ
𝑖=1 𝑘𝑖 𝐿𝑖
𝐼𝑅 = ∑ 𝐿𝑖
(equação 5.9)
Onde:
IR – Indicador de revestimento, variando de 0 a 1;
nh – Número de trechos homogêneos quanto ao padrão de técnicas aplicadas e forma da seção;
Li – Extensão do trecho “i” do curso d’água;
ki – Coeficiente de seção transversal do trecho “i”, de acordo com o Apêndice 14.
Os valores de k apresentados no Apêndice 14 são uma referência para o analista, que para
casos não contemplados, poderá adotar valores de k que mais se ajustem ao comportamento
da técnica utilizada.
Caso seja adotada a seção mista, adota-se a média ponderada dos coeficientes pelo
perímetro, exceto no caso de presença insignificante de determinados materiais em apenas
alguns pontos do trecho em análise, utilizando-se neste caso, o coeficiente da tipologia
predominante.
𝐿
𝐼𝑆 = 𝐿 (equação 5.10)
𝑠
Onde:
IS – Indicador de sinuosidade, com valores entre 0 e 1;
L – Distância, em linha reta, do ponto de intervenção mais a montante ao ponto mais a jusante
do curso d’água;
Ls – Extensão do trecho do ponto de intervenção mais a montante ao ponto mais a jusante do
curso d’água acompanhando a sinuosidade original do curso d’água.
5.3.2.5. Avaliação de Custos e Benefícios Econômicos
A avaliação dos custos das alternativas pode ser feita por um indicador de custos composto
pelos custos estimados de implantação, manutenção e operação dos sistemas de drenagem.
A seguir, apresenta-se um exemplo de metodologia de avaliação de custos baseada em Moura
(2004), com a proposta de um indicador de custos.
1−(1+𝑖)−𝑛
𝐴=𝑅 (equação 5.11)
𝑖
Onde:
A – Valor presente líquido, em unidades monetárias;
R – Montante a ser pago anualmente;
i – Taxa de desconto;
n – Número de intervalos de pagamento.
A comparação entre as alternativas de projeto normalmente se faz entre sistemas com vida
útil diferentes e, para que se possa homogeneizar os períodos de análise, de acordo com Lanna
(2000), duas abordagens poderão ser estabelecidas.
A primeira abordagem é válida quando a vida útil de uma alternativa for múltipla da vida útil
da outra. Neste caso, repete-se o projeto de vida útil menor, tantas vezes em sequência,
quantas forem necessárias para serem igualadas as vidas úteis. O período de análise será o
número de anos de vida útil do projeto que a tem maior.
A segunda abordagem possível é quando a vida útil de uma alternativa não for múltipla da
outra. O projeto de vida útil menor deverá ser repetido tantas vezes, em sequência, quantas
forem necessárias para ultrapassar a vida útil do projeto de longa duração. Na última
sequência o projeto será interrompido de forma a serem igualadas as vidas úteis. O valor
residual será avaliado neste ponto e constará como um benefício.
O indicador de custos para um sistema de drenagem é então a soma de três parcelas: o custo
de implantação e os Valores Presentes Líquidos dos custos de manutenção e de operação. As
parcelas dos custos de operação e manutenção são atualizadas para o valor da data de base
por meio de uma taxa de desconto, considerando a vida útil do sistema em análise.
Recomenda-se a adoção de uma taxa de desconto de 12% ao ano, devido ao fato de ser o
valor previsto para taxas de juros na Constituição Brasileira de 1988.
A avaliação de custos de cada alternativa é então realizada com base na Equação 5.12.
∑𝑛𝑇
𝑘=1 𝐶𝑘
𝑛𝑇
𝐴𝐶𝑘 = 𝐶𝑘
(equação 5.12)
Onde:
k – alternativa em análise;
Ack – Avaliação de custos referente à alternativa k, cujos valores são superiores a 0;
Ck – Indicador de custos da alternativa k;
nT – Número total de alternativas.
Ressalta-se que a escolha da alternativa deve ser também pautada na apuração dos benefícios
e dos prejuízos pela não realização do empreendimento, bem como nos retornos
socioeconômicos que cada alternativa pode implicar. Dessa forma, é importante avaliar a
necessidade de adoção de outras metodologias complementares ou a substituição da
metodologia aqui descrita por outra mais adequada, em função das necessidades do
empreendimento.
Deverão ser apresentadas todas as especificações dos materiais e serviços com todas as
recomendações técnicas pertinentes, além dos estudos hidráulicos complementares,
principalmente referentes às bacias de detenção previstas.
O Projeto Básico para intervenções em um curso d’água deverá ser apresentado em prancha
de formato padrão contendo:
Os eixos deverão ser estaqueados e as estacas inteiras identificadas. As estacas iniciais, finais
e de interseções deverão ser registradas, inclusive as coincidentes, com registro também das
coordenadas. As plantas deverão conter no mínimo:
Todos os dispositivos deverão ser representados nos perfis, com os dados de localização e
cotas (tampa e fundo). Em trecho por trecho, deverão ser anotados os dados obtidos, através
dos cálculos:
Q - Vazão (m³/s);
V - Velocidade (m/s);
S - Seção nominal (m x m);
L - Comprimento (m);
I - Declividade (m/m).
Todas as informações pertinentes para correta execução das intervenções devem constar nos
projetos. No caso de adoção de técnicas de bioengenharia, devem constar no detalhamento
todas as especificações de material, sementes, mudas, informações sobre plantios,
espaçamentos, coberturas, cuidados pós-intervenção etc.
5.4. ESTUDOS HIDROLÓGICOS
Sob o ponto de vista prático, os estudos aqui detalhados são aqueles para áreas de
contribuição total acima de 1 km².
Para o controle na fonte e para o sistema de drenagem pluvial que comporão as alternativas
de intervenção, a metodologia a ser adotada deve seguir os procedimentos descritos no
Capítulo 3 – Controle na Fonte e Lançamento no Sistema Público de Drenagem e no Capítulo
4 – Sistema de Drenagem Pluvial: Microdrenagem e Controles Regionais.
A chuva de projeto deve ser obtida por meio da IDF para a Região Metropolitana de Belo
Horizonte, conforme recomendado pelos estudos apresentados no Apêndice 1.
No Município de Belo Horizonte esse parâmetro é estabelecido em virtude do porte dos cursos
d’água, das bacias hidrográficas e das estruturas propostas, conforme descrito na Tabela 5.5.
Esta questão deve ser trabalhada não somente à luz dos eventos extremos, que têm sido mais
frequentemente vivenciados no Município, mas na necessidade de um contorno adequado do
risco de inundações, para não causar a soma de impactos em locais de jusante. Assim, para
dimensionamento de dispositivos de condução, recomenda-se prudência no estabelecimento
de TRs de projetos superiores aos recomendados na Tabela 5.4.
Neste modelo, a retenção de parte da chuva na bacia e a infiltração no solo são os principais
processos que determinam a quantidade de chuva que se converte em escoamento
superficial, ou seja, a precipitação efetiva (PE). A estimativa da precipitação efetiva considera
o tipo hidrológico do solo, o uso e ocupação do solo e a condição de umidade anterior,
representados pelo parâmetro CN (Curve Number), que varia de 0 a 100. Quanto maior o CN,
maior a parcela da precipitação que escoa. Com o total precipitado em cada intervalo, calcula-
se a chuva excedente, que se torna escoamento superficial direto.
A metodologia para estabelecimento dos valores de CN nos Cenários Atual e Futuro para Belo
Horizonte foi proposta pela Fundação Christiano Ottoni - FCO (2021) e baseou-se na
classificação supervisionada de ortofotos do Município, na classificação da ocupação e nas
características físicas existentes. Dessa forma, foram produzidos mapas do CN na condição
atual e futura por bacia hidrográfica, conforme indicado na Figura 5.17.
Figura 5.17 – Mapas do CN nas condições atual e futura, por bacia hidrográfica (FCO, 2021)
Os mapas, em escala, para os valores de CN atual e futuro a serem utilizados para cada bacia
da área de estudo estão apresentados no Apêndice 10 desta Instrução e são apresentados no
Sistema BHMap, disponível em https://bhmap.pbh.gov.br/.
A delimitação das bacias e sub-bacias do Município podem ser visualizadas no Anexo 1 desta
Instrução ou pelo Sistema BHMap (https://bhmap.pbh.gov.br/). Recomenda-se a utilização das
bacias e sub-bacias já delimitadas. Porém, é pertinente realizar uma aferição de seus limites
conforme a urbanização atual e o fluxo pluvial existente.
Deve ser apresentado diagrama unifilar com a discretização espacial proposta e indicação dos
principais pontos de controle (junções), similar ao ilustrado na Figura 5.18.
Figura 5.18 – Proposta de representação de Diagrama Unifilar (Fonte: Acervos de Estudos da SUDECAP)
O tempo de concentração pode ser definido como o intervalo de tempo necessário, a partir
do início de uma precipitação, para que toda a bacia hidrográfica esteja contribuindo com
o escoamento superficial passante em seu exutório.
Assume-se que o escoamento nas áreas de montante das bacias ocorra sobre as superfícies
naturais e, após alguns metros, esse escoamento se concentra nos talvegues. Este processo
inicial pode ser assimilado a escoamento em canais rasos e, quando chegam aos cursos
d’água, as condições de escoamento passam a ser as de canais.
O tempo de escoamento em superfície (tes) será obtido considerando um comprimento de
até 100 m na porção de montante do talvegue, caracterizando-se por pequenas espessuras
de lâminas d'água com velocidade baixa (NRCS, 1986). Em contexto urbano, o escoamento
superficial se inicia nas cabeceiras e se prolonga até que o escoamento atinja as vias e
ocorra superficialmente nas vias e sarjetas. Este tempo depende da declividade e
rugosidade do terreno e da intensidade de precipitação no local e pode ser obtido pela
Equação 5.13:
Onde:
tes – Tempo de escoamento superficial, em horas;
i – Intensidade de precipitação, com duração próxima ao tempo de concentração, em
mm/hora;
nes – Coeficiente de rugosidade para escoamento em superfície (valores da Tabela 5.6);
L – Comprimento do escoamento, em metros;
S – Declividade do terreno, em metro por metro.
Tabela 5.6 - Coeficientes de rugosidade para escoamento em superfície (traduzido de NRCS, 1986)
Superfícies nes
pastagens 0,150
*Para a escolha do nes considerar que somente uma cobertura de 30 mm interfere no escoamento em superfície.
Com relação à intensidade da precipitação para cálculo do tes, sua duração deve corresponder
ao tempo de concentração da área de contribuição e período de retorno de 2 anos (NRCS,
1986). Assim, o cálculo do tempo de concentração se torna um processo iterativo. Deve-se
estimar inicialmente um valor de tempo de concentração para a área de contribuição, em
seguida calcula-se os tempos de escoamento com as equações 5.13, 5.14 e 5.15 e o tempo de
concentração com a equação 5.16. Caso o tempo de concentração encontrado seja diferente
daquele utilizado como a duração da precipitação utilizada para o cálculo do tempo de
escoamento superficial (Equação 5.13), recalcula-se o tempo de escoamento superficial
utilizando-se uma duração de precipitação mais próxima ao tempo de concentração estimado
e em seguida recalcula-se o tempo de contração (por meio da Equação 5.16). Esses passos
devem ser repetidos até que se obtenha um tempo de concentração próximo à duração da
precipitação utilizada na equação 5.13.
O tempo de escoamento em canais rasos pode ser estimado pela Equação 5.14. Pode-se
considerar que o escoamento ocorre em canais rasos quando ele chega ao sistema viário e
passa a ocorrer nas vias e sarjetas.
𝐿
𝑡𝑐𝑟 = 3600𝐶 0,5
(equação 5.14)
𝑟𝑆
Onde:
tcr – Tempo de escoamento em canal raso, em horas;
L – Comprimento do escoamento, em metros;
Cr – coeficiente multiplicativo que depende do tipo de superfície, devendo-se adotar 4,92
para superfícies não pavimentadas e 6,20 para superfícies pavimentadas;
S – Declividade do terreno, em m/m.
A partir do ponto onde o escoamento entra nas redes, galerias e canais ele é considerado em
canais. O tempo de escoamento em canais pode ser estimado considerando-se escoamento
uniforme, conforme Equação 5.15.
𝑛𝐿
𝑡𝑐𝑎 = (equação 5.15)
3600𝑅ℎ 2/3 √𝑆
Onde:
tca – Tempo de escoamento em canais, em horas;
n – Coeficiente de rugosidade de Manning para canais (Tabela 5.9 e Tabela 5.10 do item 5.5.1.2);
L – Comprimento do canal, em metros;
Rh – Raio hidráulico do canal, em metros;
S – Declividade do terreno, em m/m.
Finalmente, o tempo de concentração da área de contribuição será obtido pela equação 5.16:
Onde:
Tc – Tempo de concentração, em horas;
tes – Tempo do escoamento em superfície, em horas;
tcr – Tempo do escoamento em canal raso, em horas;
tca – Tempo do escoamento em canal, em horas.
Apesar de se estimar o tempo de concentração para o exutório da área de contribuição, esse
deve ser tomado como referência para início dos estudos. Uma avaliação de diferentes
durações de precipitação, para cada período de retorno avaliado, deve ser realizada a fim de
se definir qual duração crítica para o arranjo proposto e que será utilizada em projeto.
As simulações hidrológicas deverão ser feitas utilizando softwares de última geração, que
permitam considerar os efeitos de amortecimento e de propagação dos hidrogramas de
cheias.
A PBH recomenda a utilização do software HEC-HMS (desenvolvidos pelo U.S. Army Corps of
Engineers). Outros softwares, tais como o SWMM (Storm Water Management Model), ABC6
(Análise de Bacias Complexas) e SWAT (Soil and Water Assessment Tool, aplicado
principalmente em bacias rurais) também são opções para uso em estudos e em simulações
hidrológicas.
O modelo utilizado nestas simulações deve permitir a descrição adequada das características
fisiográficas das sub-bacias na condição atual e futura, através dos parâmetros determinados
para as sub-bacias, incluindo áreas de drenagem, tempos de concentração ou retardo,
coeficientes de infiltração, curvas cota x vazão de dispositivos de controle, dentre outros.
A seguir apresenta-se os cenários usuais a serem considerados nos estudos e simulações:
✓ Cenários de Diagnóstico
✓ Cenário Original - Cenário que contempla a situação original da bacia, ou seja, ainda
em estado natural. Em alguns casos pode ser necessário o estudo deste cenário para
verificação da magnitude de impactos no curso d’água, em função da urbanização
existente.
Os mesmos cenários considerados nos estudos hidrológicos devem ser estudados e simulados
no modelo hidráulico. As vazões consideradas nos estudos para cada ponto de referência de
seção de controle considerados devem estar apresentadas em uma tabela resumo, como
exemplificada na Tabela 5.8.
Tabela 5.8 – Exemplo de Tabela de Apresentação de Resumo de Vazões consideradas no Estudo Hidráulico
Alternativa 1
Alternativa ...
Alternativa n
Os estudos hidráulicos devem ser realizados por meio da resolução das equações de Saint-Venant
uni ou bidimensionais, considerando regimes de escoamento permanentes ou não permanentes.
Deve ser apresentada a topologia que será considerada no modelo com as principais seções
transversais indicadas de todos os cursos d’águas da bacia de abrangência dos estudos,
diferenciando as seções cadastradas das interpoladas, conforme Figura 5.21.
Bacia hidrográfica
Hidrografia
Seções - Córrego A
Seções - Córrego B
Todas as informações pertinentes devem constar nas seções e perfis a serem lançados no
modelo e apresentados nos relatórios, principalmente os seguintes elementos:
✓ fundo do canal;
✓ topo do canal;
✓ greide da via, no caso de canal fechado;
✓ níveis dos bordos (direito e esquerdo, caso sejam distintos);
✓ níveis das restrições existentes, no caso de canal em leito natural;
✓ entrada de afluentes;
✓ indicação de vias;
✓ travessias;
✓ poços de visita.
A definição dos limites das seções transversais a serem lançadas nos modelos devem ser
suficientes para caracterizar a lâmina d’água e definir o traçado das manchas de inundação.
As definições das condições de contorno (crítico, artificial, canal) do modelo devem estar
explícitas. Caso o controle do escoamento a jusante não possa ser caracterizado com exatidão,
modelar cenários com diferentes tipos de controle a jusante (condições de afogamento e não
afogamento do último trecho modelado), conforme exemplo ilustrativo da Figura 5.24.
Figura 5.24 – Diferentes tipos de controle a jusante
A Tabela 5.9 e a Tabela 5.10 apresentam coeficientes de rugosidade usuais de canais artificiais
e naturais.
Tabela 5.9 - Coeficientes de rugosidade para canais artificiais (Baptista e Lara, 2016)
Rugosidade
Revestimento
Mínima Usual Máxima
Concreto pré-moldado 0,011 0,013 0,015
Concreto com acabamento 0,013 0,015 0,018
Concreto sem acabamento 0,014 0,017 0,020
Concreto projetado 0,018 0,020 0,022
Gabião 0,022 0,030 0,035
Espécies vegetais 0,025 0,035 0,070
Aço 0,010 0,012 0,014
Ferro fundido 0,011 0,014 0,016
Aço corrugado 0,019 0,022 0,028
Solo sem revestimento 0,016 0,023 0,028
Rocha sem revestimento 0,025 0,035 0,040
Tabela 5.10 - Coeficientes de rugosidade para canais naturais (Baptista e Lara, 2016)
Rugosidade
Tipo Características
Mínima Usual Máxima
Canais de pequeno porte em planície Limpos 0,025 0,033 0,045
(B < 30 m) Trechos lentos 0,050 0,070 0,080
Canais de pequeno porte em montanhas Leito desobstruído 0,030 0,040 0,050
(B < 30 m) Leito com matacões 0,040 0,050 0,070
Canais de grande porte Seções regulares 0,025 - 0,060
(B> 30 m) Seções irregulares 0,035 - 0,100
Pastagens 0,025 0,030 0,035
Planícies de inundação Culturas 0,020 0,040 0,050
Vegetação Densa 0,045 0,070 0,160
As simulações hidráulicas devem ter como resultado a representação completa das condições
de operação dos cursos d’água e estruturas hidráulicas existentes. Deste modo, como
resultados do diagnóstico devem ser apresentados pelo menos:
A modelagem considera os trechos dos cursos d’água como componentes de um todo. Dessa
forma, muitas vezes os resultados dos modelos não apresentam clareza para constatação de
quais trechos estão realmente trabalhando com insuficiência ou se aquele extravasamento
constatado é resultado de algum ponto de restrição, trecho de insuficiência a jusante ou
restrições no curso d’água receptor.
A pesquisa de vazão de restrição pode ser realizada analisando-se situações distintas, como
exemplo:
A capacidade de cada curso d’água ou de cada trecho de relevância, deve estar clara para
subsidiar as alternativas de intervenção a serem propostas. Desse modo, recomenda-se a
apresentação de um diagrama resumo das vazões de restrição existentes na malha
hidrográfica estudada, conforme exemplo apresentado na Figura 5.27.
Além das questões apontadas anteriormente, para avaliação das condições de operação de
cursos d’água existentes e para propostas de intervenção, deve-se fazer as seguintes
verificações adicionais:
a) Borda Livre
Deverá ser considerada lâmina d’água com altura máxima de escoamento de 80% da altura
da seção. Outros valores poderão ser admitidos, desde que tecnicamente justificados.
b) Velocidade Limite
A velocidade média do escoamento não deverá ser inferior a 0,75 m/s e superior a 6 m/s, para
revestimentos em concreto. Para outros tipos de revestimentos deverão ser avaliadas as
velocidades máximas admitidas. A Tabela 5.11 e a Tabela 5.12 apresentam valores de
referência para cursos d’água sem revestimento e revestidos. Para revestimentos
diferenciados os valores de velocidade máxima admissível devem ser buscados na literatura
técnica de referência.
Velocidade de Escoamento
< 1 m/s ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
≥ 1 - 2,5 m/s ✓ ✓ ✓ ✓ x ✓ ✓ ✓ ✓
≥ 2,5 - 4 m/s ✓ ✓ ✓ ✓ x x x x x
≥ 4 - 6 m/s ✓ ✓ ✓ ✓ x x x x x
≤ 1,5H : 1V ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
> 1,5H : 1V ✓ ✓ x x x x x x x
próximos à
✓ ✓ x x x x x x x
vertical
Fonte: Adaptado de Escarameia (1998); Baptista e Lara (2012); Vide (1997) apud Baptista et al. (2016)
Para caso de lançamentos finais podem ser propostos dissipadores, devendo estes serem
devidamente dimensionados, indicando sua velocidade final, que deve ser menor ou igual ao
limite máximo de velocidade, de acordo com o tipo de revestimento do trecho a jusante.
c) Declividade Longitudinal
As declividades mínima e máxima deverão estar limitadas pelos valores de altura máxima da
lâmina d’água e velocidade máxima permitidas, respectivamente.
d) Recobrimento Mínimo
O recobrimento mínimo sobre a laje da galeria, para vias de tráfego ou travessia, deverá ser
avaliado em função da atuação do trem tipo que atuará sobre a laje.
e) Transições e Confluências
Nos trechos onde houver mudança de seção de galeria (altura e/ou largura) é importante que
a transição seja gradual. Dessa forma, deve-se verificar a necessidade de previsão de módulo
de transição. Do mesmo modo, é necessário atenção aos trechos de lançamento e de junção
de cursos d’água, para que não ocorra mudanças bruscas no fluxo, vórtices, represamentos
etc. Na definição da proposta deve-se priorizar confluências e transições que minimizem os
efeitos de remanso e ressaltos. Quando não for possível evitar ressaltos, sua localização deve
ser devidamente identificada em planta e perfil e serem previstos e especificados
revestimentos especiais nestes pontos.
A concordância de módulos de transição deverá ser através do nivelamento das lajes de tampa
da galeria ou topo do canal aberto, utilizando-se as rampas para nivelamento das lajes de
fundo. O comprimento da transição será definido hidraulicamente. Recomenda-se o mínimo
de 10,0 m.
f) Curvas
g) Degraus e Dissipadores
Quando necessário, deve ser prevista a implantação de degraus e dissipadores ao longo dos
cursos d’água, para redução das velocidades de escoamento.
h) Poços de Visita
i) Travessias
Deve ser verificada a necessidade de proteção das ombreiras da ponte e do reaterro dos bueiros.
A partir do diagnóstico hidráulico realizado e das vazões dos cenários de alternativas (com
amortecimento ou não) deve-se efetuar o estudo hidráulico para cada alternativa de
intervenção no curso d’água.
Deverão ser entregues, além dos arquivos digitais do modelo computacional, um Relatório
Consolidado com, no mínimo, os seguintes elementos:
• Caracterização física das barragens e estruturas associadas, bem como dos canais de
macrodrenagem (seção, declividade, rugosidade, singularidades, transições, existência
de obstáculos etc.);
• Identificação de seções de controle, regime de escoamento etc.;
• Escolha, descrição e justificativa da metodologia adotada;
• Estabelecimento, descrição e justificativa de parâmetros hidrodinâmicos e fisiográficos
adotados;
• Interpretação e análise crítica dos resultados, considerando a situação prevista no
projeto e a implantada;
• Perfis longitudinais com os resultados de escoamento (vazões, níveis e velocidades)
para todos os cenários estudados;
• Principais seções tipo com os resultados de escoamento para todos os cenários
estudados;
• Tabelas com resultados dos cenários estudados por trecho, para os diversos tempos
de retorno utilizados, com apresentação das vazões, velocidades, alturas de
escoamento e número de Froude;
• Mapeamento das manchas de inundação para os diversos cenários estudados;
• Mapas do risco hidrodinâmico, caso aplicável.
5.6. BACIAS DE DETENÇÃO
Outros tipos de funções também podem ser previstos nas bacias, como a infiltração, a
retenção de sedimentos, o tratamento de poluentes e a integração paisagística com a
manutenção de uma lâmina d’água permanente.
As bacias de detenção podem ser em série (in line), quando são alimentadas diretamente pelo
curso d’água que passa internamente à bacia de detenção ou em paralelo (off line), quando
são alimentadas a partir de uma derivação no curso d’água, em determinadas condições de
escoamento.
A composição básica deste dispositivo inclui um volume deixado livre para armazenamento
das águas de escoamento e/ou para eventual infiltração, usualmente denominado volume de
espera, além dos dispositivos de controle de saída.
A saída de fluxo pode ser por gravidade, com a adoção de uma estrutura hidráulica (descarga
de fundo, controlada ou não por comportas e válvulas), ou com a necessidade de
bombeamento. Também é necessária a implantação de um vertedor de emergência para
garantir a segurança adequada quando as vazões são superiores àquelas de projeto.
A escolha da tipologia construtiva da bacia deve ser baseada em diagnóstico detalhado dos
aspectos geotécnicos, topográficos e urbanísticos como: localização em relação ao sistema de
drenagem, tipo de bacia (enterrada, a céu aberto, com ou sem espelho d’água etc.), tipo de
estrutura de reservação (construção de barramento, bacia escavada), forma e revestimento
da bacia, além de outros usos da bacia.
As bacias podem ser previstas com o objetivo da realização do amortecimento de fluxo para
redução de extravasamento em um determinado trecho de canal existente. Assim, a vazão de
restrição seria aquela correspondente à máxima capacidade desse canal. A localização da obra
seria aquela, dentre as opções possíveis, que levaria a uma configuração de otimização do
funcionamento do sistema de drenagem. Também, os dispositivos podem ser propostos com
o objetivo de mitigar os efeitos da expansão urbana em determinada bacia hidrográfica,
proporcionando ganhos de capacidade do sistema de drenagem para os trechos de jusante.
Após a definição dos locais de implantação a serem estudados deve-se definir a tipologia do
dispositivo de amortecimento de cheias, que pode ser de infiltração ou de detenção, ou ainda
misto, funcionando com infiltração associada a uma saída de escoamento controlada. O
tempo de esvaziamento após o evento chuvoso deve ser definido nesta etapa. Recomenda-se
que o tempo máximo de esvaziamento seja de 24 horas.
O dimensionamento da estrutura deve ser realizado com base no método de Puls, para cálculo
do armazenamento, com diferentes durações de precipitações de entrada, conforme os
cenários estudados. A duração da precipitação deve ser aquela que leva ao maior volume de
acumulação, atendendo à vazão de restrição estabelecida com base na análise da bacia
hidrográfica.
A redução de vazões de amplo espectro, com um único dispositivo tendo altas eficiências para
períodos de retorno diferentes, é uma premissa adequada para a proposição das estruturas.
A proteção de amplo espectro pode ser conseguida com dispositivos de controle de descarga
escalonados, conforme exemplos apresentados na Figura 5.30.
Figura 5.30– Dispositivos de controle de descarga escalonado para diferentes tipos de períodos de retorno
(Fonte: PCRFCD, 2014 e Georgia, 2016)
A descarga dos dispositivos por gravidade é sempre preferível a qualquer outro tipo de
descarga, tendo em vista as questões de operação e manutenção dos sistemas. Os sistemas
que funcionam por gravidade apresentam menor risco de falha de funcionamento.
Vários são os tipos de vertedores que são usados nas configurações das bacias de detenção,
tais como canais, bueiros, orifícios, vertedores de soleira livre, vertedores com comportas etc.
A configuração física da bacia irá propiciar a escolha do dispositivo mais adequado. Esses
dispositivos devem ser devidamente dimensionados do ponto de vista hidráulico e estrutural,
para garantir o bom funcionamento e a segurança das estruturas. A seguir são descritas as
características dos dispositivos mais comuns.
Bueiros são estruturas hidráulicas que possuem peculiaridades que variam de acordo com as
condições de funcionamento. O dimensionamento de bueiros e orifícios, conforme as
condições estabelecidas no projeto, podem ser feitos em condição de entrada afogada e saída
livre, funcionamento como canal ou ainda considerando carga hidráulica também na saída,
quando tecnicamente justificável. A Figura 5.32 apresenta exemplos de orifícios.
Figura 5.32 – Dispositivos de descarga da Bacia de Detenção Assis das Chagas e da Lagoa da Pampulha
(Fonte: Acervo PBH)
São estruturas de controle de vazões, podendo ser conformados por paredes, diques ou
aberturas sobre as quais a água escoa, conforme ilustrado na Figura 5.33.
Com o dimensionamento da bacia definido, nas etapas de projeto básico e executivo, deve-se
fazer algumas verificações adicionais, definir os dispositivos complementares, caso
necessários, bem como observar aspectos construtivos relevantes. A seguir cita-se alguns
aspectos que devem ser considerados.
Dispositivos dissipadores de energia muitas vezes devem ser empregados nas entradas e
saídas operacional e de emergência das bacias de detenção. A avaliação da necessidade de
implantação de dissipadores de energia passa pela avaliação das velocidades de escoamento
nas entradas e saídas d’água, comparando-as com a capacidade do revestimento local em
resistir às tensões provocadas pelo escoamento. Para lançamento direto, deverão ser obtidas
velocidades compatíveis com as características do solo. A Figura 5.34 apresenta um exemplo
de dispositivo de dissipação de energia.
Estes dispositivos consistem em bacias de dissipação, rampas dentadas, blocos, degraus, salto
esqui, escadas etc. Em virtude da complexidade associada a eles, tais dispositivos devem ser
dimensionados de acordo com suas características de funcionamento, de geometria e de
revestimento. Não se recomenda o uso de dissipadores de impacto, tendo em vista o acúmulo
de resíduos sólidos e água, frequentemente observados nesse tipo de dissipador em áreas
urbanas.
O fundo da bacia de detenção deve ter uma declividade mínima de 1%, a fim de evitar o
empoçamento de água e os problemas dele decorrentes.
c) Bacia de Deposição de Sedimento
d) Grades e Proteções
e) Acessos e Manutenção
f) Revestimentos e Proteções
No detalhamento dos projetos deverão ser definidos os tratamentos para proteção das
ombreiras e taludes, bem como soluções de drenagem superficial (canaletas, escadas
hidráulicas etc.) no barramento e nas estruturas associadas.
g) Borda Livre
Caso sejam propostas barragens de terra, mista, de concreto, dentre outras, deverão ser
realizadas nos estudos a análise de bordas livres, indicadas na Figura 5.35.
Conforme preconizado pela ANA, caso a borda livre mínima requerida calculada seja inferior
a 1,0 m para barragens de aterro (terra ou enrocamento), ou inferior a 0,5 m para as barragens
de concreto, deverá ser considerada nas análises uma borda livre mínima de 1,0 m para
barragens de aterro, ou de 0,5 m para as barragens de concreto.
5.6.3.3. Multifuncionalidade
A relação que o público terá com a bacia de detenção é importante para se ter a definição de
características construtivas, tais como declividades de margens, localização dos acessos,
implantação de grades de proteção, necessidade de cercamento.
A definição da geometria das bacias de detenção deve ser realizada logo após a definição da
multifuncionalidade, assim como a especificação de materiais e revestimentos. A Tabela 5.13
apresenta sugestão de algumas características construtivas das bacias de detenção.
Tabela 5.13 – Características Construtivas das Bacias de Detenção
Tipo de Bacia
Aspecto a ser considerado
Sem acesso ao público,
Com acesso ao público Sem acesso ao público
cercada
Declividade das margens
6:1 4:1 3:1
(H:V)
Utilização de grades e
seixos de grande
diâmetro para proteger
Proteção das entradas e Grades apenas para fins
as entradas e saídas de Utilização de grades.
saídas d'água de manutenção.
água, evitando altas
velocidades e acesso de
pessoas.
Necessária implantação
Rampas e acessos
de rampas ou escadas
Presença de escadas ou apenas para fins de
Rampas com inclinação para acesso de
rampas que facilitem a manutenção.
baixa e bem indicadas. manutenção ou saída
saída de pessoas da bacia Cercamento
de bacia em caso de
obrigatório.
entrada acidental.
Os projetos das bacias de detenção que possuem barragens, além dos estudos listados, devem
possuir os detalhamentos hidrológicos e hidráulicos necessários para subsidiar os Planos de
Segurança e de Ações Emergenciais conforme previsto na legislação. Assim, nestes casos, os
estudos hidrológicos / hidráulicos deverão ser complementados com os seguintes itens:
Além do previsto no item 5.3.4. Projeto Básico e Executivo, as soluções que contemplem a
adoção de bacias de detenção devem apresentar o detalhamento do projeto. A partir dos
resultados das simulações hidrológicas e hidráulicas, dos estudos das alternativas e de
viabilidade, bem como dos ajustes necessários à geometria e à configuração dos dispositivos,
deverá ser apresentado projeto contendo as informações mínimas necessárias para
levantamento dos quantitativos e execução das obras. Deverão, ainda, ser apresentados
desenhos com detalhamento geométrico, contendo, no mínimo:
BAPTISTA, M. B. et al. Restauração de Sistemas Fluviais. Belo Horizonte: Manole, 2016. pp.
259-354.
FIGUEIRA, José et. al. Multiple Criteria Decision Analysis: State of Art - Surveys. International
Series in Operations Research & Management Science. New York: Springer International
Editions - Verlag, 2005.
LANNA, A. E. Sistemas de Gestão de Recursos Hídricos. In: Revista de Ciência & Ambiente n.
21. Jul/Dez 2000. p. 23-56.
MOURA, P.M. Méthode d’évaluation des performances des systèmes d’infiltration des eaux de
ruissellement en milieu urbain. (Thèse de doctorat en Mécanique, Énergétique, Génie civil,
Acoustique - L’Institut National des Sciences Appliquées de Lyon). Lyon. 2008. 363 p.
SAVILLE, et al. Freeboard allowances for waves in inland reservoirs. Proceedings. American
Society of Civil Engineers, 1962.
________. Lei Municipal Nº 11.181, de 25 de maio de 2019. Dispõe a aprovação do Novo Plano
Diretor do Município de Belo Horizonte e dá outras providências. Diário Oficial do Município,
Belo Horizonte, 2019. Disponível em: http://portal6.pbh.gov.br/dom/Files/dom07082019-
gp.rtf