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INSTRUÇÃO TÉCNICA PARA

ELABORAÇÃO DE ESTUDOS
E PROJETOS DE DRENAGEM

CAPÍTULO 5
SISTEMA DE DRENAGEM
FLUVIAL: MACRODRENAGEM,
TRATAMENTO DE FUNDO DE
VALE E MITIGAÇÃO DE
INUNDAÇÕES

BELO HORIZONTE
ABRIL / 2022
INSTRUÇÃO TÉCNICA PARA ELABORAÇÃO DE ESTUDOS E PROJETOS DE DRENAGEM
PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE
Prefeito Fuad Noman
SMOBI – SECRETARIA MUNICIPAL DE OBRAS E INFRAESTRUTURA
Secretário Leandro César Pereira
DGAU – DIRETORIA DE GESTÃO DE ÁGUAS URBANAS
Diretor Ricardo de Miranda Aroeira

Coordenação Geral:
Ricardo de Miranda Aroeira

Coordenação Técnica DGAU:


Úrsula Kelli Caputo

Coordenação Técnica UFMG:


Priscilla Macedo Moura

Equipe Técnica da DGAU:


Ana Paula Fernandes Viana
Ayrton Hugo de Andrade e Santos
Carlota Virgínia Pereira Alves
Fernando Barbosa Moreira
Mauriluci Batista
Raquel Arantes Braga
Rejane Cristina Siqueira
Thaís Braga Melgaço de Morais

Equipe de Pesquisadores da UFMG:


Amanda Tolentino Mendes
Deyvid Wavel Barreto Rosa
Francisco Eustáquio de Oliveira e Silva
João Marcos Soares de Oliveira
Nilo de Oliveira Nascimento
Pedro de Paula Drumond
Talita Fernanda das Graças Silva
Túlio Soares Lima
Veber Afonso Figueiredo Costa
Wilson dos Santos Fernandes
Apoio:
Assessoria de Comunicação Social da SUDECAP – ASCOM/SUDECAP
Gerência de Normas e Padrões da SUDECAP – GENPA/SUDECAP
Gerência de Produção Visual da Subsecretaria de Comunicação Social – GEPVI/SUCOM
Secretaria de Planejamento Urbano – SMPU
Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SMMA
Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil – SUPDEC/SMOBI

Grupo de Discussão:
Alanderson Rodrigues de Oliveira – SMMA
Alexandre Duarte de Oliveira Rocha – URBEL
Ana Luiza Passos de Marco – SUDECAP
Ana Paula Barbosa Vitor de Oliveira – SMMA
Claudionir Sebastião Maria – SMPU
Cristiane Rodrigues da Mata – SMPU
Dayan Diniz de Carvalho – SUPDEC
Dulce Maria Magalhães Pereira – SUDECAP
Eduardo Augusto Pedersoli Rocha – SUPDEC
Elcione Menezes Alves – SUPDEC
Isaac Henriques de Medeiros – SMPU
Luciano Campos Vieira – SMMA
Luiz Augusto Schmidt – BHTRANS
Marcelo Henrique Garcia Rodrigues – URBEL
Maria Altiva Prado de Oliveira – SUDECAP
Maria Aparecida Correia – SUDECAP
Mateus Braga Silva dos Santos – SMPU
Patrícia de Castro Batista – SLU
Rafael Rangel – FMPZ
Sônia Mara Miranda Knauer – SMMA
Suzana Rodrigues Seguro – SMMA
Thalita Silva de Barros Tepedino – BHTRANS

Ilustrações:
Ana Carolina Novaes de Andrade – SMOBI
Carla Taina Deltreggia – SUPLAN
Isabela Braz Rossetti – SUCOM
Pamella Victoria Costa Alves – SMOBI
Capas – Créditos das fotos:
Célula de Precipitação sobre Belo Horizonte – Arquivo SUPDEC/SMOBI
Córrego Clemente (Parque Ecológico Roberto Burle Marx) – Úrsula Kelli Caputo – DGAU/SMOBI
Estação de Monitoramento 9 (Ribeirão do Onça) – Abelino Gomes – DGAU/SMOBI
Jardim de Chuva (Parque Lagoa do Nado) – Arquivo PBH
Jardim de Chuva (Parque Nossa Sra. da Piedade) – Ana Carolina Novaes de Andrade – DGAU/SMOBI
Loteamento Jardim da Mata (Granja Werneck) – Imagem de drone – PRODABEL
Mapa de Relevo e Hidrografia de Belo Horizonte – DGAU/SMOBI
Rua Oswaldo Braga (B. Santa Amélia) – Úrsula Kelli Caputo – DGAU/SMOBI
Vista do Parque Primeiro de Maio (B. Aarão Reis) – Rogério França Pinto – ASCOM/ SUDECAP

Este documento faz parte da Instrução Técnica para


Elaboração de Estudos e Projetos de Drenagem,
disponível no Portal da PBH. São reservados à
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte todos os
direitos autorais. Desde que o documento seja
referenciado, é permitida a reprodução do seu
conteúdo. A violação dos direitos autorais sujeita os
responsáveis às sanções cíveis, administrativas e
criminais previstas na legislação.
APRESENTAÇÃO

Belo Horizonte tem suas origens na consolidação de uma proposta de planejamento urbano
higienista e que desconsiderou o traçado dos cursos d’água. O processo que se seguiu foi marcado
por uma expansão acelerada desse modelo equivocado, acompanhado de intensa
impermeabilização do solo. Esses fatores somados às mudanças climáticas se configuram como as
principais causas da instalação e do agravamento dos riscos e das consequências das inundações,
alagamentos e enxurradas que se verificam em vários pontos do Município.
Há cerca de duas décadas a Prefeitura de Belo Horizonte vem assumindo sua responsabilidade em
lidar com os problemas relacionados à gestão das águas urbanas. O Município foi um dos primeiros
no País a elaborar o Plano Diretor de Drenagem e o Plano Municipal de Saneamento, ainda nos anos
2000. Além disso, através do Programa DRENURBS, a Prefeitura fez um esforço adicional para
viabilizar uma mudança de paradigmas, inclusive materializando a implantação de parques lineares,
associados a intervenções de despoluição dos cursos d’água e de mitigação do risco de inundações,
em contraposição à proposta de canalização de córregos, considerada, até então, como a única
solução para o enfrentamento do problema das inundações.
Cabe destacar, ainda, a importância da institucionalização dos conceitos e práticas trazidos pelo
Plano Diretor de Drenagem e pelo Programa DRENURBS, por meio do novo Plano Diretor Urbano
de Belo Horizonte - Lei n° 11.181/2019, especialmente no que se refere à necessidade do controle
do escoamento pluvial e da preservação dos fundos de vale.
Esse novo e importante arcabouço legal, em total consonância com a valorização e adequada gestão
das águas urbanas, impulsionou a Administração Municipal na direção da atualização e revisão de
seus procedimentos de elaboração de projetos de drenagem, buscando assim a incorporação dos
aspectos atuais da legislação, como também aqueles relacionados a uma maior eficiência e
sustentabilidade técnica e ambiental.
Assim, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura - SMOBI, por meio de sua Diretoria de
Gestão de Águas Urbanas – DGAU, apresenta a nova INSTRUÇÃO TÉCNICA PARA ELABORAÇÃO DE
ESTUDOS E PROJETOS DE DRENAGEM URBANA PARA O MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE,
instrumento que objetiva padronizar e uniformizar os critérios para tratamento da questão de
drenagem no município, bem como trazer elementos para melhor controle e mitigação do aumento
de escoamento pluvial superficial no ambiente urbano.
Esse documento tem como objetivo oferecer um referencial técnico aos projetistas, fornecendo
elementos que permitam o conhecimento da legislação e de conceitos de hidrologia e hidráulica,
além de apresentar um conjunto de informações necessárias à análise e ao dimensionamento de
alternativas de concepção de soluções sustentáveis, buscando permitir uma adequada
compreensão das metodologias de elaboração de estudos e projetos de drenagem no Município de
Belo Horizonte.
Esse trabalho foi subsidiado por estudos desenvolvidos pela Universidade Federal de Minas Gerais
– UFMG, a partir da Fundação Christiano Ottoni - FCO e contou com a participação de um grupo de
discussão composto por representantes das diversas Secretarias e instituições da Prefeitura de Belo
Horizonte, com o apoio fundamental da Gerência de Normas e Padrões da SUDECAP - GENPA.
Antes deste marco atual, a Administração Municipal de Belo Horizonte utilizava como referência os
seguintes documentos para orientar a elaboração de estudos e projetos de drenagem urbana:
o Instrução Técnica para Elaboração de Estudos e Projetos de Drenagem Urbana do Município
de Belo Horizonte (outubro de 2004): apresentava diretrizes específicas para a elaboração
de estudos e projetos de microdrenagem;
o Procedimento para Elaboração de Projeto de Ligação Predial ao Sistema Público de
Drenagem Pluvial (setembro de 2011): apresentava orientações e diretrizes para elaboração
de estudos e projetos de drenagem predial, de drenagem urbana, bem como da ligação
desses empreendimentos ao sistema público de drenagem;
o Procedimento Padrão para Elaboração e Apresentação de Projetos de Infraestrutura,
capítulos 6, 10, 11 e 13 (abril de 2017): apresentava orientações para elaboração de projetos
de microdrenagem, de macrodrenagem e de tratamento de fundo de vale para os órgãos da
PBH ou para consultores por ela contratados.

Foram realizadas a consolidação e a atualização destes documentos, incorporando o que era


pertinente ao novo instrumento, de tal modo que, a partir deste momento, os procedimentos
listados deixam de ser aplicados e são substituídos pela Instrução Técnica aqui apresentada.
Vale ressaltar que este trabalho não se configura como um manual suficiente para solução de todos
os problemas de drenagem urbana, mas procura fornecer elementos técnicos para a adoção de
critérios uniformes, já que o desempenho dessas obras estará sempre associado à quantidade e à
qualidade dos dados e informações disponíveis e ao conhecimento dos responsáveis técnicos pela
elaboração dos estudos e projetos.
A presente Instrução Técnica está dividida em 6(seis) capítulos, enumerados a seguir, e contam com
alguns anexos e apêndices que complementam as informações das temáticas:

 Capítulo 1 – Drenagem Urbana em Belo Horizonte: Apresenta um breve histórico da gestão


de drenagem no Município e da Política de Gestão de Risco de Inundação.
 Capítulo 2 - Parcelamento do Solo com vistas à Drenagem Urbana: Propõe uma série de
verificações e recomendações na fase de planejamento dos loteamentos e dos
empreendimentos.
 Capítulo 3 - Controle na Fonte e Lançamento no Sistema Público de Drenagem: Apresenta
as orientações para cumprimento das vazões de restrição dos empreendimentos, com o
objetivo de atender ao estabelecido pelo Plano Diretor do Município e à segurança do
Sistema Público de Drenagem.
 Capítulo 4 - Sistema de Drenagem Pluvial: Microdrenagem e Controles Regionais: Traz
orientações quanto aos dimensionamentos dos dispositivos do sistema primário de
drenagem.
 Capítulo 5 - Sistema de Drenagem Fluvial: Macrodrenagem, Tratamento de Fundo de Vale
e Mitigação de Inundações: Apresenta as recomendações gerais para elaboração de estudos
hidrológicos/hidráulicos das bacias hidrográficas do Município, bem como discorre sobre
alternativas de intervenção nos fundos de vale e para controle de vazões.
 Capítulo 6 – Monitoramento Hidrológico e Gestão de Risco e Desastres: Exibe as
informações principais do Sistema de Monitoramento Hidrológico do Município, bem como
introduz as ações de proteção e defesa coordenadas pela Subsecretaria de Proteção e
Defesa do Município – SUPDEC.
SUMÁRIO

5. SISTEMA DE DRENAGEM FLUVIAL: MACRODRENAGEM, TRATAMENTO DE FUNDO DE


VALE E MITIGAÇÃO DE INUNDAÇÕES ........................................................................... 3
5.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 3
5.2. RECOMENDAÇÕES GERAIS .............................................................................................................. 5
5.3. ETAPAS PARA ESTUDOS E PROJETOS ............................................................................................... 6
5.3.1. FASE DE PROBLEMATIZAÇÃO .................................................................................................................. 7
5.3.1.1. DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS ......................................................................................................... 7
5.3.1.2. INFORMAÇÕES INICIAIS E LEVANTAMENTO DE CAMPO .................................................................... 8
5.3.1.3. DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 9
5.3.2. FASE DE PROPOSIÇÃO E SELEÇÃO DE ALTERNATIVAS .................................................................................. 11
5.3.2.1. DELIMITAÇÃO DE ALTERNATIVAS .............................................................................................. 12
5.3.2.2. ESTUDO DE VIABILIDADE ........................................................................................................ 17
5.3.2.3. AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DAS ALTERNATIVAS........................................................................ 18
5.3.2.4. INDICADORES DE DESEMPENHO DO CURSO D’ÁGUA ...................................................................... 19
5.3.2.5. AVALIAÇÃO DE CUSTOS E BENEFÍCIOS ECONÔMICOS ..................................................................... 27
5.3.3. CONCEPÇÃO / ESTUDO PRELIMINAR ...................................................................................................... 28
5.3.4. PROJETOS BÁSICO E EXECUTIVO............................................................................................................ 29
5.4. ESTUDOS HIDROLÓGICOS ............................................................................................................. 32
5.4.1. TEMPOS DE RETORNO E ANÁLISE DE RISCO ............................................................................................. 32
5.4.2. MODELOS DE TRANSFORMAÇÃO CHUVA-VAZÃO ...................................................................................... 33
5.4.3. USO DO SOLO................................................................................................................................... 33
5.4.4. DISCRETIZAÇÃO ESPACIAL.................................................................................................................... 34
5.4.5. TEMPOS DE CONCENTRAÇÃO................................................................................................................ 35
5.4.6. CHUVA DE PROJETO ........................................................................................................................... 38
5.4.7. SIMULAÇÕES HIDROLÓGICAS................................................................................................................ 39
5.4.8. RELATÓRIOS E PRODUTOS ................................................................................................................... 41
5.5. ESTUDOS HIDRÁULICOS ................................................................................................................ 42
5.5.1. CARACTERIZAÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA ................................................................................................. 43
5.5.1.1. CONDIÇÕES DE CONTORNO ..................................................................................................... 45
5.5.1.2. COEFICIENTE DE RUGOSIDADE ................................................................................................. 46
5.5.2. DIAGNÓSTICO HIDRÁULICO.................................................................................................................. 47
5.5.2.1. CAPACIDADE DOS CURSOS D’ÁGUA EXISTENTES........................................................................... 49
5.5.2.2. VERIFICAÇÕES ADICIONAIS ..................................................................................................... 50
5.5.3. ESTUDO HIDRÁULICO DE ALTERNATIVAS ................................................................................................. 53
5.5.4. RELATÓRIOS E PRODUTOS ................................................................................................................... 53
5.6. BACIAS DE DETENÇÃO................................................................................................................... 55
5.6.1. CARACTERÍSTICAS .............................................................................................................................. 56
5.6.2. PESQUISA LOCACIONAL....................................................................................................................... 56
5.6.3. ESTUDOS HIDROLÓGICOS E HIDRÁULICOS PARA BACIAS DE DETENÇÃO .......................................................... 57
5.6.3.1. ESTRUTURAS DE DESCARGA .................................................................................................... 58
5.6.3.2. VERIFICAÇÕES ADICIONAIS ...................................................................................................... 60
5.6.3.3. MULTIFUNCIONALIDADE ........................................................................................................ 63
5.6.3.4. MAPEAMENTO DE RISCO........................................................................................................ 64
5.6.3.5. APRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE BACIAS DE DETENÇÃO ................................................................ 65
5.7. REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 66
5. SISTEMA DE DRENAGEM FLUVIAL: MACRODRENAGEM,
TRATAMENTO DE FUNDO DE VALE E MITIGAÇÃO DE INUNDAÇÕES

5.1. INTRODUÇÃO

Nos capítulos anteriores desta Instrução foram apresentadas premissas e orientações para
concepção do território urbano, tomando como palco a temática drenagem urbana, a
proteção dos corpos hídricos e a adoção de medidas de controle na escala local e na regional.
Complementando a temática, o presente capítulo faz uma abordagem para o tratamento dos
eixos principais de drenagem do Município, conceituados aqui como macrodrenagem ou
fundo de vale.

Os eixos principais de drenagem, compostos por cursos d’águas naturais, canais, galerias e
respectivas planícies de inundação, são os pontos de recebimento e concentração das águas
pluviais provindas das superfícies, dos talvegues naturais e do sistema de microdrenagem. Em
bacias hidrográficas naturais, estas áreas, além da concentração e condução das águas,
apresentam funções ecológicas e de amortecimento de fluxo em suas várzeas. Na cidade
adensada estes eixos atendem demandas distintas daquelas naturais, pois são exigidos em um
regime hidrológico intensificado em função da urbanização e muitas vezes estão ocupados
por vias, infraestruturas e edificações.

A maioria das cidades seguiram os preceitos higienistas, retirando os cursos d’água da


paisagem urbana nos processos de canalização. Mesmo aqueles que não passaram por
intervenções, sofrem com erosões e deterioração da qualidade das águas. Estes impactos são
reflexo da alteração das áreas de contribuição de natural para urbanizada, principalmente
com a retirada da cobertura vegetal, a impermeabilização e consequente aumento do
escoamento pluvial.

No atual contexto de urbanização das cidades, a abordagem da drenagem fluvial é bastante


complexa e envolve, além das questões hidráulicas relacionadas à condução das águas, a
necessidade de um olhar mais apurado para a bacia hidrográfica. Dessa forma, os sistemas de
drenagem urbana devem ser pensados como um arranjo sistêmico, não existindo solução
prioritária, mas um leque de medidas e ações em múltiplas escalas. Este arranjo deve
proporcionar controles descentralizados (controle na fonte e regionais), na medida do
possível e verificar a necessidade de controles mais globais, com a implementação de
dispositivos de amortecimento com volumes mais substanciais.

A proteção da população contra as inundações, a valorização e a reintegração dos cursos


d’água à paisagem e a compatibilização das demandas urbanas existentes são premissas a
serem conciliadas. Neste sentido, as intervenções no ambiente urbano necessitam de
avaliações distintas para áreas nas quais os cursos d’água já sofreram intervenções antrópicas,
como as retificações, tamponamentos e canalizações; onde os cursos d’água ainda não
receberam tratamento, podendo estar em leito preservado em sua condição natural, ou
próxima dela e, ainda, aqueles que sofreram degradações que desconfiguraram a sua
condição original.
O Plano Diretor Municipal de Belo Horizonte, instituído pela Lei Municipal 11.181/2019,
delimitou áreas denominadas Conexões de Fundo de Vale, com o objetivo de fortalecer a
preservação dos cursos d'água que ainda mantêm algum aspecto natural e de impor a
obrigação de conservar estes locais para intervenções que promovam a integração do curso
d’água à paisagem, indicadas para implantação de parques lineares e de soluções
naturalísticas.

Este Capítulo tem por objetivo orientar e estabelecer procedimentos para elaboração de
estudos e projetos de implantação e/ou ampliação de sistemas de macrodrenagem urbana,
tratamento de cursos d’água e fundos de vale e de estruturas de controle de cheias. As
diretrizes aqui propostas visam garantir aos munícipes condições favoráveis de conforto e
segurança quando da ocorrência de eventos chuvosos e a melhor gestão pública do sistema
de macrodrenagem, propondo metodologias e premissas adequadas, sendo aplicáveis nos
seguintes casos:

✓ Diagnósticos hidrológico e hidráulico dos cursos d’água naturais ou não;


✓ Estudos e projetos necessários para tratamento e recuperação de fundos de vale;
✓ Estudos e projetos necessários para controle de vazões e redução dos riscos de inundação;
✓ Estudos e projetos necessários para otimização dos sistemas de macrodrenagem.
5.2. RECOMENDAÇÕES GERAIS

Os Sistemas de Drenagem Fluvial a serem concebidos ou redesenhados devem respeitar os


pontos principais descritos no Capítulo 2 - Parcelamento do Solo com vistas à Drenagem
Urbana, desta Instrução Técnica, principalmente no que diz respeito às questões que
envolvam a permanência dos principais eixos naturais de escoamento, a minimização dos
riscos decorrentes das cheias dos cursos d’água naturais ou canalizados, a qualificação dos
dispositivos públicos de drenagem urbana existentes e a garantia de reserva de espaço para
limpeza e adequação dos dispositivos de drenagem e adoção de medidas de controle de
cheias.

Todas as intervenções propostas pelo empreendedor deverão atender as premissas da Lei


Municipal 11.181/2019, que aprovou o Plano Diretor do Município de Belo Horizonte, e seus
instrumentos, em especial aquelas relacionadas às conexões verdes e às conexões de fundo
de vale, como o Decreto Municipal 17.273/2020 e suas alterações.

Os dispositivos convencionais a serem propostos devem estar de acordo com os padrões


estabelecidos no Caderno de Encargos da SUDECAP. Todos e quaisquer sistemas de drenagem
fora desta padronização deverão ser averiguados e justificados tecnicamente.

A definição de intervenções deverá levar em conta as soluções (de micro e macrodrenagem)


existentes ou planejadas, de maneira que se tornem parte integrante do sistema de drenagem
proposto para as bacias ou sub-bacias consideradas.

As premissas e diretrizes de drenagem urbana apresentadas no Capítulo 1 - Drenagem Urbana


em Belo Horizonte desta Instrução, devem ser observadas durante todas as fases de
concepção e projeto.
5.3. ETAPAS PARA ESTUDOS E PROJETOS

Apesar das diferenças que os estudos relacionados à temática possam ter, é importante que
se tenham critérios a serem seguidos para a realização de cada um deles. Desse modo, o
presente documento tem o objetivo de estabelecer critérios gerais a serem adotados, sem,
entretanto, ser exaustivo em suas propostas. O processo de elaboração de projetos para o sistema
de drenagem fluvial, no âmbito da PBH, é apresentado na Figura 5.1 e detalhado na sequência.

Figura 5.1 - Fases e etapas de elaboração de projeto de drenagem fluvial


Além das questões relacionadas à temática drenagem urbana tratadas nesta Instrução,
também os Procedimentos de Projetos SUDECAP apresentam o arcabouço a ser seguido
durante as etapas de elaboração de projetos para o Município de Belo Horizonte.

5.3.1. Fase de Problematização

A fase definida aqui como Fase de Problematização é baseada na análise das informações,
levantamentos iniciais e das constatações do diagnóstico. Seu objetivo é elencar elementos
para a proposição de alternativas de intervenções, com vistas aos objetivos do
empreendimento e aos planos direcionadores existentes como PEA, PRU etc.

5.3.1.1. Definição de Objetivos

A definição de objetivos é o ponto de partida que delimita o foco dos estudos a serem
desenvolvidos e motivam as alternativas de intervenção a serem estudadas.

As motivações de um empreendimento quase sempre permeiam questões como a


necessidade de melhoria das condições do curso d’água em função de alguma degradação
que ele esteja sofrendo ou venha a sofrer no caso de áreas de expansão urbana, a solução de
um problema de drenagem já identificado, a necessidade de implantação de infraestrutura, a
necessidade de regularização urbanística, o atendimento aos anseios da população e a
identificação da oportunidade de intervir atendendo a múltiplos objetivos.

No Município de Belo Horizonte, além da legislação em vigor, existem vários instrumentos que
norteiam as intervenções no território, e alguns trazem diretrizes para cada local conforme
suas especificidades. Cabe aqui fazer o destaque para os seguintes:

✓ Plano de Regularização Urbanística (PRU) - instrumento de planejamento dos


processos de urbanização e regularização fundiária, que apresenta estudo da realidade
de loteamentos irregulares ocupados, predominantemente, por população de baixa
renda.

✓ Plano Global Específico (PGE) - instrumento de planejamento que visa nortear as


intervenções de reestruturação urbanística, ambiental e de desenvolvimento social
nas vilas, favelas e conjuntos habitacionais de interesse social.

✓ Plano de Estruturação Urbana e Ambiental (PEA) - a Lei Municipal 11.181/2019


estabelece a elaboração de um PEA para cada porção territorial identificada como
conexão de fundo de vale, com o objetivo de garantir a não intensificação da ocupação
e do uso do solo local e assegurar a qualificação ambiental na área.

✓ Plano Municipal de Saneamento (PMS) - diagnóstico e metas de saneamento básico


por bacias e sub-bacias hidrográficas.

✓ Planos Diretores por Bacias Hidrográficas - estudos específicos elaborados para as


bacias hidrográficas, que diagnosticam a situação local, delimitam pontos de maior
fragilidade quanto ao risco de inundação e indicam ações e empreendimentos
estruturantes necessários, com vistas à otimização do sistema de drenagem e
revitalização dos cursos d’água.

Cada empreendimento coordenado pela SUDECAP possui um documento chamado


Planejamento Integrado do Empreendimento – PINE. O PINE tem como principal objetivo a
viabilização e a inclusão do empreendimento no Plano de Obras do Município, a busca de
diretrizes preliminares que auxiliem na antecipação de ações na elaboração dos projetos, a
análise da viabilidade prévia e legal, sob os aspectos urbanísticos e ambientais, além da
identificação, quando possível, dos órgãos nos quais os projetos devem ser aprovados.

Importante ressaltar que a delimitação das diretrizes de um empreendimento e de todo o


fluxo de projeto devem ser pautados em um processo participativo envolvendo os setores
pertinentes da sociedade civil. Assim, no cronograma de um empreendimento, devem ser
previstos momentos para estas discussões.

5.3.1.2. Informações Iniciais e Levantamento de Campo

Os estudos que se referem às intervenções na macrodrenagem são amplos e complexos e, no


caso de Belo Horizonte, se referem a áreas normalmente já ocupadas com cursos d’água
alterados em termos de regime hidrológico e características geomorfológicas. Sendo assim, a
proposição de alternativas de projeto deve considerar as peculiaridades locais e sua inserção
na drenagem em escala de bacia hidrográfica.

As informações iniciais que deverão ser registradas e/ou cadastradas para subsidiar a
elaboração de projetos são:

✓ Informações da bacia de estudo, cursos d'água, áreas de inundações, talvegues


naturais, reservas naturais, nascentes, nível do lençol freático, existência de regiões
alagadas ou facilmente alagáveis, solos brejosos etc.;
✓ Controles hidráulicos existentes, tais como bueiros, pontes, interseções, transições,
locais de acúmulo natural de água, bacias de detenção etc.;
✓ Estado atual dos terrenos, tipo de cobertura do solo, vegetação, aspectos
geomorfológicos, geológicos e pedológicos, comportamento previsível com relação ao
escoamento de água, evidência de erosão, assoreamento e outros processos em curso
no solo;
✓ Estado atual dos cursos d’água, revestimentos, aspectos geomorfológicos, evidência
de erosão, assoreamento, processos patológicos no caso de canalizações etc.;
✓ Caracterização urbana, usos do solo, zoneamento, infraestrutura existente, sistema
viário, situação do arruamento, tipos de pavimento etc.;
✓ Dispositivos de drenagem pluvial existentes, identificação dos eixos principais de
escoamento, existência de barreiras e limitadores de fluxo artificiais ou formações
naturais, pontos propícios ao acúmulo de águas pluviais, fluxos direcionados em
interior de quarteirões etc.
Estas informações devem constar em um Relatório de Conhecimento, pautado numa vistoria
técnica ao curso d’água e à bacia objeto de análise. Este Relatório deve conter o respectivo
relatório fotográfico das principais características, bem como os mapas e levantamentos de
campo iniciais que subsidiarão os estudos e projetos, tais como:

✓ Mapa geral com localização da área de estudo no Município de Belo Horizonte e sua
respectiva bacia hidrográfica;
✓ Planta geral da bacia contribuinte com a delimitação de todas as informações iniciais
pertinentes listadas anteriormente;
✓ Planos para levantamento planialtimétrico das áreas relevantes, constando todas as
informações pertinentes, interferências, cadastro do sistema de micro e
macrodrenagem, cursos d’água naturais e pontos de controle hidráulico;
✓ Em se tratando de novos loteamentos, levantamento topográfico primitivo e proposta
de urbanização que favoreça as questões de mitigação dos impactos, projeto
geométrico do sistema viário, projetos das demais infraestruturas etc.

O Levantamento de Informações Preliminares e a elaboração do Relatório de Conhecimento


devem também se orientar nas recomendações e detalhamentos exigidos no Capítulo 2 –
Considerações Gerais dos Procedimentos de Projetos SUDECAP, disponível no portal da
SUDECAP.

O cadastro do sistema de drenagem deve atender às recomendações e aos detalhamentos


exigidos no Capítulo 5 – Topografia dos Procedimentos de Projetos SUDECAP, disponível no
portal da SUDECAP.

A Diretoria de Gestão de Águas Urbanas - DGAU/SMOBI disponibiliza o cadastro da rede de


macro e microdrenagem existente na PBH, como informação preliminar para fins de
planejamento das atividades a serem realizadas. Não é permitida a utilização do cadastro
fornecido para fins de estudos e projetos, uma vez que ele não possui nível de detalhe
adequado para identificação de interferências e pode estar desatualizado devido à execução
de obras recentes. Desse modo, deverá ser sempre realizado o cadastro in loco das estruturas
de drenagem, por meio de levantamento topográfico.

5.3.1.3. Diagnóstico

A partir das informações iniciais levantadas e do Relatório de Conhecimento aprovado, os


estudos para intervenções de macrodrenagem devem ser iniciados por um diagnóstico da
área de intervenção e de sua bacia hidrográfica. Este diagnóstico terá por finalidade subsidiar
os estudos de alternativa de concepção, os estudos de viabilidade técnica, ambiental e
socioeconômica, estudos preliminares, bem como a análise dos impactos físicos,
socioeconômicos e ambientais decorrentes das propostas de intervenção.

Esse diagnóstico abrange tanto aspectos urbanísticos, quanto dos cursos d’água e suas áreas
marginais, contemplando elementos de diagnóstico físico, biótico e antrópico. Assim, deverá
inventariar os diversos elementos e subsistemas urbanos intervenientes situados na área de
abrangência do projeto.

A delimitação das bacias e sub-bacias do Município podem ser visualizadas no Anexo 1 desta
Instrução ou pelo Sistema BHMap (https://bhmap.pbh.gov.br/). Recomenda-se a utilização das
bacias e sub-bacias já delimitadas. Porém, é pertinente fazer uma aferição de seus limites
conforme a urbanização atual e o fluxo pluvial existente.

Os elementos mínimos a serem considerados nesse diagnóstico são:

• Mapeamento e análise urbanística e ambiental, contendo o zoneamento urbano da


área, ocupação existente, identificação de áreas de proteção ou preservação
ambiental, restrições físicas ou ambientais de ocupação;
• Ocorrência de nascentes;
• Aspectos demográficos da bacia por tipo de ocupação (espaço formal, vilas, favelas,
conjuntos habitacionais etc.);
• Aspectos sociais, envolvendo formas de organização coletiva, relacionamento com o
poder público municipal, expectativas e prioridades da população;
• Diagnóstico completo da infraestrutura sanitária da área de intervenção (incluindo as
redes de coleta de esgotos, interceptores de esgotos, poços de visita e outros
equipamentos relacionados ao sistema de esgotamento sanitário, redes de
abastecimento de água, adutoras, reservatórios e outros equipamentos relacionados
ao sistema de abastecimento de água);
• Diagnóstico completo da infraestrutura urbana da área de intervenção (iluminação
pública, equipamentos públicos de esporte e lazer etc.);
• Mapeamento e descrição de áreas públicas ou privadas onde há possibilidade de
implantação de infraestrutura de drenagem;
• Aspectos geomorfológicos, geológicos e pedológicos, com a caracterização
topográfica, batimétrica, geológica e geotécnica da área de abrangência e áreas
contribuintes, além da identificação de locais com risco geológico;
• Identificação de áreas com vocação para parques e áreas de lazer;
• Identificação de áreas propícias para dispositivos de amortecimento de cheias;
• Identificação de áreas propícias para atender demandas de reassentamento;
• Estudos e projetos pertinentes ao escopo a ser desenvolvido;
• Estudos Hidrológicos e Hidráulicos de diagnóstico:
o Caracterização da hidrografia com a identificação de corpos d’água (córregos,
nascentes, lagoas etc.);
o Detalhamento dos corpos hídricos (sinuosidade, seções transversais,
revestimentos, grau de preservação/degradação, estabilidade das margens e
fundo) e suas áreas marginais, incluindo uso do solo nas áreas adjacentes;
o Índices de permeabilidade dos solos para as condições de uso atual de cada
bacia elementar;
o Identificação das obras hidráulicas existentes (travessias, pontes, bueiros,
obras com cadastro existente, lançamentos das drenagens, necessidades de
complementação de cadastro ou cadastramento das estruturas);
o Identificação dos pontos de restrição de escoamento;
o Dinâmica das cheias e ocorrências de inundações;
o Estimativa das vazões de restrição a jusante da área de estudo, quando
possível;
o Identificação de áreas inundáveis e que sofrem com alagamentos e
identificação quali-quantitativa relacionada aos eventos críticos para cada local
identificado;
o Mapeamento das áreas de contribuição a cada uma das obras hidráulicas
identificadas, bem como dos sentidos de fluxo de escoamento.

A caracterização destes sistemas deverá considerar a área urbana formal, além das áreas
ocupadas por vilas e favelas, conjuntos habitacionais e áreas de risco classificadas ou não.

Deve ser dada atenção especial à identificação dos imóveis não atendidos ou não interligados,
sejam domésticos ou não domésticos, e dos pontos ou trechos do sistema coletor de esgotos
que apresentam descontinuidade, com lançamento de esgotos nos cursos d’água ou nos
sistemas de drenagem pluvial.

O diagnóstico deve ser apresentado em forma de relatório, contendo mapas e croquis


(quando o mapeamento não for possível). O mapeamento produzido deve ser realizado de
forma georreferenciada, utilizando-se o Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas
de 2000 (SIRGAS 2000), projeção UTM, Zona 23S.

O Diagnóstico deve estar compatível com as etapas necessárias para o respectivo


licenciamento ambiental ou urbanístico do empreendimento. Dessa forma, deve também se
orientar pelas recomendações e detalhamentos exigidos no Capítulo 3 – Licenciamento
Urbanístico e no Capítulo 4 – Licenciamento Ambiental dos Procedimentos de Projetos
SUDECAP, disponível no portal da SUDECAP.

Os Estudos Hidrológicos e Hidráulicos de Diagnóstico devem atender às premissas e aos


direcionamentos dos itens 5.4 e 5.5 do presente Capítulo.

5.3.2. Fase de Proposição e Seleção de Alternativas

Para fins desta Instrução, conceitua-se como alternativa um conjunto de intervenções que
visam cumprir a motivação do empreendimento e proporcionar tratamento de drenagem
adequado, levando em consideração as condições ambientais e urbanas existentes. A partir
do diagnóstico efetuado pode-se iniciar a Fase de Proposição e Seleção de Alternativas. A
Figura 5.2 apresenta, de maneira sintética, esse fluxo.
Figura 5.2 – Fluxo da Fase de Proposição e Seleção de Alternativas

5.3.2.1. Delimitação de Alternativas

A fase de delimitação de alternativas é uma etapa conceitual do trabalho e deve ser realizada
por uma equipe multidisciplinar para que se garanta que toda a diversidade de soluções seja
explorada.

A delimitação de soluções não deve se restringir às mais usuais e convencionais, mas sim
permitir a avaliação de novas tecnologias e arranjos. Nessa etapa, não deve haver uma
preocupação excessiva com a viabilidade e com o custo das soluções propostas, o que pode
incorrer em uma eliminação precoce de soluções, antes da análise de viabilidade que
acontecerá na etapa posterior.

As propostas devem compor um leque de soluções diversas que contemplem vários níveis de
intervenção na bacia e nos cursos d’água. Para a proposição das alternativas, devem ser
consideradas variações dos seguintes aspectos:

✓ Mínima e máxima intervenção – recomenda-se iniciar o estudo com a avaliação das


implicações de uma alternativa de referência com intervenção hidráulica zero, ou seja,
nenhuma intervenção. Esta alternativa de referência deve se basear no diagnóstico
realizado, na possibilidade apenas de adequação da área com retirada de população
na área de risco ou adoção de medidas de alerta, proteção e defesa. A partir deste
ponto, a delimitação das demais alternativas deve partir para intervenções gradativas
mínimas até as mais complexas.

✓ Técnicas de controle distribuídas na bacia – as alternativas propostas devem


contemplar soluções distribuídas na bacia hidrográfica como o controle na fonte e o
regional, tratados nos capítulos anteriores, bem como, de controle mais concentradas
como a presença de bacia de detenção. A adoção de técnicas distribuídas não deve ser
pautada apenas nas eficiências em relação ao sistema de macrodrenagem, mas nos
ganhos para o sistema de escoamento pluvial e a sustentabilidade global do arranjo.

✓ Intervenções no corpo hídrico – as soluções devem avaliar intervenções no corpo


hídrico em maior e menor grau, quanto aos itens:
o Geometria e seção transversal;
o Permeabilidade do revestimento;
o Rigidez do revestimento;
o Sinuosidade.

✓ Criação ou manutenção de áreas verdes adjacentes – incorporação de áreas laterais


propícias a cumprir funções ecológicas, como o próprio extravasamento do curso
d’água, ou sociais, como a implantação de parques ou outros equipamentos urbanos.

A Figura 5.3 apresenta, de forma conceitual, as diferentes configurações do curso d’água, nos
aspectos levantados acima.

Figura 5.3 – Diferentes configurações de um curso d’água urbano


As alternativas em relação ao grau de intervenção no corpo hídrico podem ser classificadas
em grupos, conforme apresentado na Tabela 5.1. O Apêndice 14 - Característica de
Revestimentos dos Cursos d’Água, apresenta a relação dos revestimentos usuais de cursos
d’água e suas características quanto à rigidez, permeabilidade e flexibilidade.

Tabela 5.1 – Níveis de Intervenção no Corpo Hídrico

Intervenção Geometria da Grau de


Permeabilidade Rigidez do Manutenção
Grupo no corpo seção movimentação
do revestimento revestimento da sinuosidade
hídrico transversal de terra

Sem Sem
1 Nenhuma Natural revestimento revestimento Sim Nenhum
(natural) (natural)

Trapezoidal com
2 Mínima baixa declividade Alta Baixa Sim Mínimo
das margens

Trapezoidal com
declividade
3 Mediana Moderada Moderada Sim Mediano
mediana das
margens

Trapezoidal com
declividade
4 Alta Moderada Moderada Não Mediano
acentuada das
margens

Seções
retangulares ou
compostas com
5 Muito alta Baixa Alta Não Alto
declividade
acentuada das
margens

Para intervenções do Grupo 1 é importante ressaltar que todo impacto da urbanização da área
de contribuição tem que ser mitigado pelo uso das técnicas de controle de escoamento na
fonte, regionais ou de jusante e/ou por áreas verdes adjacentes.

Ressalta-se, ainda, que nos cursos d’água onde permanecem indícios dos aspectos naturais,
devem ser obrigatoriamente estudadas alternativas dos Grupos 1 e 2, visando:

✓ Proteção e recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Conexões de


Fundo de Vale, conforme Roteiro de Requalificação de APPs (SMMA/PBH) e diretrizes
para Conexões de Fundo de Vale (SUPLAN/PBH);
✓ Integração do curso d’água à paisagem natural, considerando primordialmente a
preservação ou a recomposição das matas ciliares;
✓ Estabilização flexível de margens com manutenção da permeabilidade, da assimetria
das margens e dos meandros do curso d’água;
✓ Implantação de parques lineares.

No caso de intervenções em cursos d’água com revestimento rígidos e tamponados, devem


ser avaliadas alternativas dos grupos com menores impacto no corpo hídrico, em comparação
ao cenário atual, ou seja, a reversão gradativa do estado de canalização e reintegração do
curso d’água à paisagem urbana não deve ser descartada.

A Tabela 5.2 apresenta a matriz de alternativas possíveis em função dos critérios abordados
nesta Instrução Técnica.

Tabela 5.2– Matriz de Composição de Alternativas


Intervenção Criação / manutenção Técnicas de controle na Técnicas de
Alternativa Grupo no corpo de áreas verdes fonte ou regionais controle a
hídrico adjacentes distribuídas na bacia jusante
1A X
1B X X
1C X X X
1 Nenhuma
1D X
1E X X
1F X
2A X
2B X X
2C X X X
2 Mínima
2D X
2E X X
2F X
3A X
3B X X
3C X X X
3 Mediana
3D X
3E X X
3F X
4A X
4B X X
4C X X X
4 Alta
4D X
4E X X
4F X
5A X
5B X X
5C X X X
5 Muito alta
5D X
5E X X
5F X
A Figura 5.4 até a Figura 5.9 trazem exemplos de diferentes tipos de tratamento em cursos
d’água situados no Município de Belo Horizonte.

Figura 5.4 – Exemplo Grupo 1 - Córrego Clemente - Parque das Águas (Fonte: Arquivos DGAU/SMOBI)

Figura 5.5 - Exemplo Grupo 2 - Córrego Primeiro de Maio – Parque Primeiro de Maio
(Fonte: Arquivos DGAU/SMOBI)

Figura 5.6 - Exemplo Grupo 2 - Córrego Baleares – Parque Baleares (Fonte: Arquivos DGAU/SMOBI)
Figura 5.7 - Exemplos Grupo 3 - Córregos Engenho Nogueira e Bonsucesso (Fonte: Arquivos DGAU/SMOBI)

Figura 5.8 - Exemplos Grupo 4 - Córregos Marimbondo, Bonsucesso e da Av. Marselhesa


(Fonte: Arquivos DGAU/SMOBI)

Figura 5.9 – Exemplo Grupo 5 - Córrego Ressaca (Fonte: Arquivos SUDECAP)

5.3.2.2. Estudo de Viabilidade

Após a proposição das alternativas conceituais inicia-se a fase de estudo de viabilidade e


exclusão de alternativas que não cumprem integralmente as motivações do empreendimento
e que não atendem as premissas de controle de fluxo necessárias.

Para tanto, as alternativas devem passar por estudo hidrológico e hidráulico para verificação
das eficiências hidráulicas requeridas, verificando os aspectos de amortecimento e condução
e as manchas de inundação remanescentes, nos cenários de situação atual do local e a
situação futura em função de mudanças e uso e ocupação do solo e da inserção de obras ou
estruturas já projetadas e/ou implantadas.

Para os arranjos que cumprem as motivações elencadas para o empreendimento, deve ser
realizada uma análise de viabilidade técnica, econômica e ambiental, nos termos previstos no
Capítulo 2 - Condições Gerais dos Procedimentos de Projetos SUDECAP.

O estudo de viabilidade deverá selecionar as alternativas que contenham intervenções:

✓ Consistentes e que atendam aos objetivos propostos;


✓ Tecnicamente exequíveis, baseadas em dimensionamento, e com base no trabalho de
equipe multidisciplinar das diversas áreas de engenharia;
✓ Ambientalmente aceitáveis: os impactos negativos ao meio ambiente devem ser
determinados e compensados pelos impactos positivos;
✓ Legalmente aceitáveis e administrativamente possíveis: devem respeitar os aspectos
legais e administrativos;
✓ Que considerem todas as interferências com as infraestruturas existentes, bem como
soluções para remanejamento de tais interferências;
✓ Associadas e harmonizadas aos aspectos urbanísticos, socioeconômicos e ambientais;
✓ Que contemplem as considerações apontadas pelos Estudos Ambientais;
✓ Econômica e financeiramente viáveis.

Todos os aspectos que impliquem na não viabilidade de uma alternativa, devem ser
devidamente registrados para compor a justificativa técnica de sua exclusão.

Ao final dessa etapa deve-se eleger pelo menos 5(cinco) soluções que irão para a etapa de
avaliação de desempenho.

5.3.2.3. Avaliação de Desempenho das Alternativas

A Etapa de Avaliação de Desempenho das Alternativas é o conjunto de estudos desenvolvidos


para avaliação dos benefícios sociais, econômicos, urbanísticos, ambientais e de mitigação de
risco de inundação decorrentes da implantação, permitindo a comparação das alternativas e
a identificação da mais adequada dentre as disponibilizadas para a análise.

Os estudos de viabilidade das alternativas propostas deverão compor uma matriz que forneça
as hierarquizações, descrevendo as vantagens e as desvantagens de cada proposta.

Nesta avaliação vários aspectos podem ser considerados, como a preservação do ambiente e
da qualidade de vida dos indivíduos atingidos, a valorização das águas naturais e de áreas
permeáveis, os ganhos hidrológicos e sanitários, o aproveitamento de dispositivos existentes,
as interferências com as infraestruturas, as áreas disponíveis, a ocupação existente, o número
de desapropriações, remoções e reassentamentos, a aceitação da população, a acessibilidade,
a mobilidade, a possibilidade de provocar impactos ou mitigá-los, os riscos envolvidos e os
retornos socioambientais.

A presente Instrução propõe a utilização de indicadores para a avaliação do desempenho


quanto aos aspectos do curso d’água e do sistema de drenagem fluvial. Tais aspectos,
somados aos aspectos socioambientais e econômicos do empreendimento, conforme as
recomendações dos órgãos responsáveis, poderão compor uma matriz que subsidie a escolha
da alternativa mais adequada.

A proposta é de se utilizar indicadores que sejam ao mesmo tempo abrangentes, tendo em


vista a representação dos múltiplos aspectos envolvidos e não serem de estimativa complexa.
A Figura 5.10 apresenta os diversos aspectos para a avaliação de desempenho do curso d’água
propostos e os seus respectivos indicadores.

Figura 5.10 - Aspectos a serem considerados na avaliação de desempenho e seus respectivos indicadores

5.3.2.4. Indicadores de desempenho do curso d’água

Para verificação do desempenho do curso d’água foram propostos cinco indicadores:

• Área Inundável Remanescente (IAI);


• Vazão de Jusante (IQJ);
• Seção Transversal / Áreas Adjacentes (IAH);
• Revestimento (IR);
• Desenvolvimento Longitudinal (IS).

Para a definição da alternativa mais adequada em relação ao curso d’água e ao sistema de


drenagem fluvial, deve-se agregar os indicadores de desempenho propostos, calculados para
cada alternativa. Para tanto é necessária a ponderação desses indicadores tendo em vista que
há diferentes graus de importância relativa entre eles. Neste sentido, focando na necessidade
de um enfoque de preservação maior nas áreas de conexão de fundo de vale, como trazido
pela legislação, tentou-se manter a proporção de pesos para os aspectos por eles avaliados
para estas áreas, conforme a Tabela 5.3 e a Equação 5.1, que apresentam a ponderação
necessária ao cálculo do desempenho da alternativa (Av).

Tabela 5.3 – Valores dos pesos para cada indicador utilizado na avaliação de alternativas em córregos
situados em conexão de fundo de fundo de vale
Indicadores Pesos
Área inundável remanescente após a intervenção (IAI) 20%
Impacto nas vazões de jusante (IQJ) 20%
Seção transversal/ Áreas adjacentes (IAH) 20%
Revestimento (IR) 20%
Desenvolvimento longitudinal (IS) 20%

𝐴𝑣 = 0,20𝐼𝐴𝐼 + 0,20𝐼𝑄𝐽 + 0,20𝐼𝐴𝐻 + 0,20𝐼𝑅 + 0,20𝐼𝑆 (equação 5.1)

Nos córregos situados fora das áreas de conexão de fundo de vale, cujas características atuais
são a existência de revestimento mais rígido, priorizou-se os aspectos do controle de
inundações e do impacto nas vazões de jusante, conforme pesos indicados na Tabela 5.4 e na
Equação 5.2, para o cálculo do desempenho da alternativa (Av).

Tabela 5.4 – Valores dos pesos para cada indicador utilizado na avaliação de alternativas em cursos d’água
não situados em conexão de fundo de vale
Indicadores Pesos
Área inundável remanescente após a intervenção (IAI) 30%
Impacto nas vazões de jusante (IQJ) 30%
Seção transversal/ Áreas adjacentes (IAH) 20%
Revestimento (IR) 10%
Desenvolvimento longitudinal (IS) 10%

𝐴𝑣 = 0,30𝐼𝐴𝐼 + 0,30𝐼𝑄𝐽 + 0,20𝐼𝐴𝐻 + 0,10𝐼𝐼𝐴 + 0,10𝐼𝐼𝑠 (equação 5.2)

As alternativas mais adequadas, sob o ponto de vista de desempenho, são aquelas que
tiverem maiores valores de AV.

Deve-se destacar que o processo aqui proposto é de auxílio e que a decisão final pela
alternativa a ser implantada deve ser acrescida dos demais aspectos ambientais, sociais e
econômicos e de uma análise crítica que leve em consideração as eficiências e as deficiências
de cada uma das alternativas de projeto avaliadas, bem como da alternativa de não
intervenção, comparando-as à situação atual.

A metodologia de cálculo para cada indicador de desempenho do curso d’água proposto é


apresentada a seguir.
a) Área Inundável Remanescente (IAI)

Esse indicador quantifica a área inundável remanescente após a intervenção e avalia a


capacidade da alternativa proposta em reduzir as inundações e os alagamentos na área de
contribuição da intervenção.

Para o cálculo desse indicador, as áreas das manchas de inundação modeladas serão
utilizadas. Caso seja possível, pode-se incluir nas áreas das manchas as áreas que são passíveis
de acúmulo de água por alagamentos. Tendo em vista que inundações e alagamentos têm
impacto diferentes em função do tipo de uso do solo do local atingido, o indicador proposto
leva em consideração, por meio de pesos, esse critério.

O indicador proposto tem sua formulação de acordo com a Equação 5.3.

𝐴𝑖𝑣 𝑥0,05+ 𝐴𝑖𝑒 𝑥0,35+𝐴𝑖𝑑 𝑥0,28+𝐴𝑖𝑝 𝑥0,025+𝐴𝑖𝑖 𝑥0,26+𝐴𝑖ℎ 𝑥0,35


𝐼𝐴𝐼 = 1 − (equação 5.3)
𝐴𝑖 𝑎𝑙𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎 𝑛

Os pesos adotados para a vulnerabilidade de cada tipo de ocupação foram baseados no


trabalho de Moura (2008).

Onde:
IAI – Indicador de área inundável remanescente, com variação de 0 a 1;
Aiv – Área inundável após a implantação da alternativa proposta ocupada por sistema viário;
Aie – Área inundável após a implantação da alternativa proposta ocupada por
estacionamentos;
Aid – Área inundável após a implantação da alternativa proposta ocupada por domicílios;
Aip – Área inundável após a implantação da alternativa proposta ocupada parques, praças ou
áreas verdes;
Aii – Área inundável após a implantação da alternativa proposta ocupada por indústrias;
Aih – Área inundável após a implantação da alternativa proposta ocupada por hospitais ou
outros equipamentos urbanos de grande concentração de pessoas com mobilidade reduzida,
como escolas infantis;
Ai alternativa n – Área inundável após a implantação da alternativa que tem a maior área
inundável remanescente dentre as alternativas em comparação.

Para a estimativa dessas vazões, um período de retorno relativamente alto deve ser utilizado.
Recomenda-se a utilização de um período de retorno de 100 anos ou superior, no caso em
que todas as alternativas não possuam manchas para as condições consideradas.

A Figura 5.11 apresenta um exemplo de delimitação da mancha de alternativas distintas para


a mesma área.
Figura 5.11 – Mancha de inundação em diferentes alternativas com especificação de usos

A necessidade de se utilizar, no cálculo do indicador, a maior área inundável remanescente


dentre as alternativas em comparação reside no fato de que, para que um indicador seja
sensível, ou seja, consiga diferenciar as alternativas em comparação, ele não pode ter valores
muito diferentes dos valores dos outros indicadores, sempre variando de 0 a 1.

A necessidade de se utilizar, no cálculo do indicador, a maior área inundável remanescente


dentre as alternativas em comparação reside no fato de que ele será agregado aos demais
indicadores por meio da equação 5.2 e, dessa forma, deve estar na mesma escala dos demais
indicadores. Todos os indicadores aqui propostos variam de 0 a 1, sendo que quanto mais
próximo de um melhor o desempenho da alternativa.

b) Vazão de Jusante (IQJ)

O indicador de vazão de jusante (IQJ) tem o objetivo de avaliar o impacto da intervenção sobre
a vazão no trecho a jusante. A avaliação, exemplificada pela Figura 5.12, será em função da
superação da vazão de restrição (QR), e da comparação, no trecho de jusante, das vazões de
pico atual (Qa) com a vazão de pico após a intervenção (Qd). Este indicador é proveniente do
trabalho de Evangelista (2011), conforme a Equação 5.4.
Figura 5.12 – Vazões de análise para o indicador de vazão de jusante

Para a estimativa dessas vazões, um período de retorno relativamente alto deve ser escolhido.
Esse tempo de retorno deve ser maior ou igual àquele escolhido para o projeto do
empreendimento. A vazão de restrição a jusante deve ser aquela de máxima capacidade do
trecho de jusante do curso d’água, muitas vezes devido à infraestrutura já implantada ou,
ainda, ser baseada em algum critério legal de restrição.

A vazão de pico atual deverá ser estimada no exutório da área de contribuição utilizando-se
os dados da situação da bacia antes da intervenção. A vazão de pico após a intervenção será
estimada da mesma maneira, considerando os sistemas de drenagem a serem implementados
na área de contribuição.

𝑆𝑒 𝑄𝑑 ≤ 𝑄𝑅 → 𝐼𝑄𝐽 = 1
𝑆𝑒 𝑄𝑑 > 𝑄𝑅 𝑒𝑛𝑡ã𝑜:
𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑄𝑑 ≥ 𝑄𝑎 → 𝐼𝑄𝐽 = 0
(𝑄 −𝑄 )
𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑄𝑑 < 𝑄𝑎 → 𝐼𝑄𝐽 = 1 + (𝑄𝑑 −𝑄𝑅) (equação 5.4)
𝑅 𝑎

Onde:
IQJ – Indicador de impacto nas vazões a jusante, com variação de 0 a 1;
Qd – Vazão de pico a jusante após a intervenção para o tempo de retorno adotado;
QR – Vazão de restrição do trecho a jusante da intervenção, ou seja, capacidade do trecho;
Qa – Vazão de pico a jusante na situação atual para o tempo de retorno adotado.
c) Seção Transversal e Áreas Adjacentes ao Corpo d’Água (IAH)

O indicador de seção transversal foi proposto por Evangelista (2011), com o objetivo de avaliar
a adaptabilidade hidráulica da alternativa. A avaliação das áreas adjacentes ao corpo hídrico
é pautada na largura de implantação da intervenção, considerando o canal e as áreas
adjacentes ao corpo d’água, ou seja, as áreas verdes laterais que podem ser atingidas
eventualmente pelas cheias do curso d’água, conforme Figura 5.13.

Figura 5.13 – Exemplo seção transversal, áreas adjacentes e


parâmetros considerados para cálculo do fator de condução

Para o cálculo deste indicador é utilizado o conceito de Fator de Condução (Baptista e Coelho,
2002), que corresponde a um coeficiente k que, multiplicado pela raiz quadrada da declividade
do canal, fornece a sua capacidade de vazão. Este fator k é determinado em função da
geometria e da rugosidade da seção do canal, conforme Equação 5.5.

𝐴5/3
𝐾= 2/3 (equação 5.5)
𝑛.𝑃𝑠

Onde:
A – Área da seção transversal do canal;
Ps – Perímetro molhado da seção do canal;
n – Coeficiente de Manning.
Com os fatores de condução da seção transversal futura de cada alternativa (K Fut) calculados,
a mensuração do indicador IAH será a razão entre o fator de condução da seção transversal
futura de cada alternativa pelo máximo fator de condução verificado entre as alternativas,
conforme Equação 5.7.

𝐾𝐹𝑢𝑡
𝐼𝐴𝐻 = 𝐾 .........................................................................................................(equação 5.7)
𝐹𝑢𝑡 𝑚á𝑥

Onde:
IAH – Indicador de seção transversal, variando de 0 a 1;
KFut – Fator de condução da seção transversal futura do canal para a alternativa em análise;
KFut-max – Maior fator de condução da seção transversal futura, verificado entre as alternativas
em análise.

Caso a alternativa tenha trechos com diferentes tipos de configurações de canais, deve-se
calcular o indicador para cada trecho e depois calcular o indicador médio da alternativa por
meio de soma ponderada pela extensão do trecho e dividir essa soma pelo comprimento total
dos canais, tal como mostrado na Equação 5.8.

∑𝑛
𝑖=1 𝐾𝐹𝑢𝑡 𝐿𝑖
𝐾𝐹𝑢𝑡 = ∑ 𝐿𝑖
(equação 5.8)

Onde:
KFut – Fator de condução da seção transversal futura do canal para a alternativa em análise;
n – Número de trechos homogêneos quanto à seção transversal;
Li – Extensão do trecho “i” do curso d’água.

d) Revestimento (IR)

As intervenções em cursos de água podem ter características que permitam ou não a sua
integração aos ecossistemas. O indicador de Revestimento busca avaliar o quanto a
intervenção interfere nas funções e nas interrelações do curso d´água, tais como o fluxo entre
os cursos d’água e o lençol freático, a alteração da paisagem pela artificialização de sua seção,
a redução do seu coeficiente de rugosidade, bem como implicações como o aumento da
velocidade e a redução da diversidade de habitats em função da alteração da temperatura e
do aporte de nutrientes pela vegetação das margens, conforme a Figura 5.14.

Figura 5.14– Ilustração do fluxo entre os cursos d’água e o lençol freático


Essa avaliação leva em consideração a integração ambiental das formas e revestimentos
adotados para o canal e margens, como nas tipologias apresentadas no Apêndice 14 -
Características de Revestimentos dos Cursos d’Água. Para a avaliação desse aspecto escolheu-
se o indicador de Integração Ambiental proposto por Evangelista (2011), conforme a Equação
5.9.

∑𝑛ℎ
𝑖=1 𝑘𝑖 𝐿𝑖
𝐼𝑅 = ∑ 𝐿𝑖
(equação 5.9)

Onde:
IR – Indicador de revestimento, variando de 0 a 1;
nh – Número de trechos homogêneos quanto ao padrão de técnicas aplicadas e forma da seção;
Li – Extensão do trecho “i” do curso d’água;
ki – Coeficiente de seção transversal do trecho “i”, de acordo com o Apêndice 14.

Os valores de k apresentados no Apêndice 14 são uma referência para o analista, que para
casos não contemplados, poderá adotar valores de k que mais se ajustem ao comportamento
da técnica utilizada.

Caso seja adotada a seção mista, adota-se a média ponderada dos coeficientes pelo
perímetro, exceto no caso de presença insignificante de determinados materiais em apenas
alguns pontos do trecho em análise, utilizando-se neste caso, o coeficiente da tipologia
predominante.

e) Desenvolvimento Longitudinal (IS)

O desenvolvimento longitudinal das intervenções em tratamentos de fundo de vale deve levar


em consideração a manutenção das condições dos meandros e sinuosidade dos cursos d’água
originais. Elas são importantes para garantir o equilíbrio geomorfológico e ecológico do curso
d’água. Esse aspecto pode ser avaliado por meio do indicador de sinuosidade do curso d’água,
calculado pela Equação 5.10, conforme apresentado na Figura 5.15.

Figura 5.15 – Exemplo de cálculo de indicador de sinuosidade

𝐿
𝐼𝑆 = 𝐿 (equação 5.10)
𝑠

Onde:
IS – Indicador de sinuosidade, com valores entre 0 e 1;
L – Distância, em linha reta, do ponto de intervenção mais a montante ao ponto mais a jusante
do curso d’água;
Ls – Extensão do trecho do ponto de intervenção mais a montante ao ponto mais a jusante do
curso d’água acompanhando a sinuosidade original do curso d’água.
5.3.2.5. Avaliação de Custos e Benefícios Econômicos

A avaliação dos custos das alternativas pode ser feita por um indicador de custos composto
pelos custos estimados de implantação, manutenção e operação dos sistemas de drenagem.
A seguir, apresenta-se um exemplo de metodologia de avaliação de custos baseada em Moura
(2004), com a proposta de um indicador de custos.

O indicador de custos (Ck) é composto de três parcelas: o custo de implantação, o custo de


manutenção e o custo de operação. As parcelas dos custos de operação e manutenção são o
Valor Presente Líquido (VPL) dos custos anuais, atualizadas através de uma taxa de desconto,
considerando a vida útil do sistema de drenagem em análise.

O Valor Presente Líquido é dado por:

1−(1+𝑖)−𝑛
𝐴=𝑅 (equação 5.11)
𝑖

Onde:
A – Valor presente líquido, em unidades monetárias;
R – Montante a ser pago anualmente;
i – Taxa de desconto;
n – Número de intervalos de pagamento.

A comparação entre as alternativas de projeto normalmente se faz entre sistemas com vida
útil diferentes e, para que se possa homogeneizar os períodos de análise, de acordo com Lanna
(2000), duas abordagens poderão ser estabelecidas.

A primeira abordagem é válida quando a vida útil de uma alternativa for múltipla da vida útil
da outra. Neste caso, repete-se o projeto de vida útil menor, tantas vezes em sequência,
quantas forem necessárias para serem igualadas as vidas úteis. O período de análise será o
número de anos de vida útil do projeto que a tem maior.

A segunda abordagem possível é quando a vida útil de uma alternativa não for múltipla da
outra. O projeto de vida útil menor deverá ser repetido tantas vezes, em sequência, quantas
forem necessárias para ultrapassar a vida útil do projeto de longa duração. Na última
sequência o projeto será interrompido de forma a serem igualadas as vidas úteis. O valor
residual será avaliado neste ponto e constará como um benefício.

O indicador de custos para um sistema de drenagem é então a soma de três parcelas: o custo
de implantação e os Valores Presentes Líquidos dos custos de manutenção e de operação. As
parcelas dos custos de operação e manutenção são atualizadas para o valor da data de base
por meio de uma taxa de desconto, considerando a vida útil do sistema em análise.
Recomenda-se a adoção de uma taxa de desconto de 12% ao ano, devido ao fato de ser o
valor previsto para taxas de juros na Constituição Brasileira de 1988.

A avaliação de custos de cada alternativa é então realizada com base na Equação 5.12.
∑𝑛𝑇
𝑘=1 𝐶𝑘
𝑛𝑇
𝐴𝐶𝑘 = 𝐶𝑘
(equação 5.12)

Onde:
k – alternativa em análise;
Ack – Avaliação de custos referente à alternativa k, cujos valores são superiores a 0;
Ck – Indicador de custos da alternativa k;
nT – Número total de alternativas.

A avaliação de cada alternativa será realizada de forma gráfica, com a avaliação de


desempenho representada em um eixo e a avaliação de custos representada em outro,
conforme a Figura 5.16.

Figura 5.16 – Aspectos e indicadores de desempenho propostos para a avaliação

As alternativas que se localizam mais próximas ao canto superior direito representam as


soluções mais adequadas, enquanto as alternativas que se localizam mais próximas ao canto
inferior esquerdo, representam as soluções menos adequadas. A tomada de decisão de qual
alternativa será a implantada pode então ser realizada com o auxílio do gráfico apresentado.

Ressalta-se que a escolha da alternativa deve ser também pautada na apuração dos benefícios
e dos prejuízos pela não realização do empreendimento, bem como nos retornos
socioeconômicos que cada alternativa pode implicar. Dessa forma, é importante avaliar a
necessidade de adoção de outras metodologias complementares ou a substituição da
metodologia aqui descrita por outra mais adequada, em função das necessidades do
empreendimento.

5.3.3. Concepção / Estudo Preliminar

Esta etapa destina-se à representação gráfica das características gerais e preliminares da


alternativa escolhida com todas as intervenções indicadas. Deve conter os elementos para o
completo entendimento do escopo a ser detalhado.
Nos documentos desta etapa devem estar claramente definidas a concepção do objeto e as
diretrizes a serem seguidas durante o desenvolvimento do projeto básico e executivo de
drenagem, com a representação de seus elementos, instalações, componentes,
interferências, áreas remanescentes e seus respectivos usos etc.

O estudo preliminar deve ser desenvolvido a partir do estudo hidráulico da alternativa


escolhida, dos levantamentos topográficos, estudos geotécnicos e demais estudos iniciais
necessários que permitam o detalhamento e a representação gráfica das características gerais
e preliminares das intervenções propostas, bem como de uma avaliação global dos custos.

Deverão ser seguidas as diretrizes apresentadas no Procedimento de Projetos SUDECAP e


conter no mínimo:

• Planta(s) geral(is) com a localização das propostas de intervenção, contemplando todo


o sistema proposto, sentido de fluxo, drenagem superficial, dispositivos de controle na
fonte, redes mantidas, redes propostas, necessidade de compatibilização de greides e
a devida compatibilização com as propostas das demais temáticas etc.;
• Levantamento e estudo das interferências do sistema de drenagem proposto,
considerando o levantamento topográfico, vistorias em campo, cadastros dos órgãos
públicos estaduais e municipais e das concessionárias de serviços;
• Memória de cálculo e descrição clara de toda a proposta de intervenção, de forma a
torná-los autoexplicativos, possibilitando a compreensão do perfeito funcionamento
do sistema, além das informações, desenhos, gráficos, planilhas, anexos e demais
documentos que forem necessários ao seu perfeito entendimento;
• Planilha de quantitativo e estimativa de custos.

5.3.4. Projetos Básico e Executivo

Constituem-se nas etapas com os dimensionamentos e os detalhamentos pertinentes de


todas as intervenções propostas, a partir da concepção definida, que contempla todas as
premissas de execução da obra, integrando desenhos, plantas, perfis, seções, detalhes, notas
de serviço, quantitativos, memorial descritivo etc.

Deverão ser apresentadas todas as especificações dos materiais e serviços com todas as
recomendações técnicas pertinentes, além dos estudos hidráulicos complementares,
principalmente referentes às bacias de detenção previstas.

O Projeto Básico para intervenções em um curso d’água deverá ser apresentado em prancha
de formato padrão contendo:

• Planta, na parte superior da prancha;


• Perfil, na parte intermediária da prancha;
• Seção-tipo na parte inferior da prancha, inclusive com indicação da vala a ser
executada.
As escalas serão definidas conforme orientação da PBH, em função do número de informações
contidas no projeto, utilizando de preferência:

• Planta – 1:1.000 ou 1:500


• Perfil – 1:100 ou 1:50

Os eixos deverão ser estaqueados e as estacas inteiras identificadas. As estacas iniciais, finais
e de interseções deverão ser registradas, inclusive as coincidentes, com registro também das
coordenadas. As plantas deverão conter no mínimo:

• Marcos de coordenadas e RN;


• Cadastro de edificações;
• Cadastro de redes de utilidade pública;
• Curvas de nível: deverão ser de metro em metro, com destaque para as cheias
(múltiplas de 5), que deverão ser anotadas;
• Representação dos cursos d’água;
• Nome das vias: localizado fora da caixa da via;
• Azimute de cada eixo de projeto e de eixos que interceptam a via;
• Marcação dos furos de sondagem à percussão;
• Cadastro de plantas;
• Bordas da(s) pista(s);
• Meio-fio;
• Linhas de off sets de terraplenagem;
• Marcação do Norte.

Todos os dispositivos projetados deverão ser assinalados na planta, através de suas


convenções, e caracterizados por seu tipo, se for o caso, e localizados através do
estaqueamento, principalmente os poços de visitas.

No perfil deve-se representar o perfil da sondagem à percussão, a linha do terreno, a linha do


greide e a altura da lâmina d’água. Deverão ser anotadas as igualdades de estaqueamento,
com cota e nome da via.

Todos os dispositivos deverão ser representados nos perfis, com os dados de localização e
cotas (tampa e fundo). Em trecho por trecho, deverão ser anotados os dados obtidos, através
dos cálculos:

Q - Vazão (m³/s);
V - Velocidade (m/s);
S - Seção nominal (m x m);
L - Comprimento (m);
I - Declividade (m/m).
Todas as informações pertinentes para correta execução das intervenções devem constar nos
projetos. No caso de adoção de técnicas de bioengenharia, devem constar no detalhamento
todas as especificações de material, sementes, mudas, informações sobre plantios,
espaçamentos, coberturas, cuidados pós-intervenção etc.
5.4. ESTUDOS HIDROLÓGICOS

Sob o ponto de vista prático, os estudos aqui detalhados são aqueles para áreas de
contribuição total acima de 1 km².

Para o controle na fonte e para o sistema de drenagem pluvial que comporão as alternativas
de intervenção, a metodologia a ser adotada deve seguir os procedimentos descritos no
Capítulo 3 – Controle na Fonte e Lançamento no Sistema Público de Drenagem e no Capítulo
4 – Sistema de Drenagem Pluvial: Microdrenagem e Controles Regionais.

A chuva de projeto deve ser obtida por meio da IDF para a Região Metropolitana de Belo
Horizonte, conforme recomendado pelos estudos apresentados no Apêndice 1.

5.4.1. Tempos de Retorno e Análise de Risco

O conceito de Tempo de Retorno (TR) em um estudo e/ou projeto reflete a probabilidade


associada a uma vazão ser igualada ou superada em relação à série histórica. Como não existe
série histórica de vazões no Município, adota-se a superação do evento chuvoso.

No Município de Belo Horizonte esse parâmetro é estabelecido em virtude do porte dos cursos
d’água, das bacias hidrográficas e das estruturas propostas, conforme descrito na Tabela 5.5.

Tabela 5.5 – Tempos de Retorno recomendados


Tempo de Retorno
Curso d’Água / Estrutura
recomendado
Ribeirões Arrudas, Isidoro e Onça 100 anos
Afluentes diretos dos Ribeirões Arrudas, Isidoro e Onça 50 anos
Demais córregos e cursos d’água 25 anos
Descidas d’água 25 anos
Bueiros 25 anos, com verificação para 50 anos
Barragens – extravasores de emergência 500 anos, 1.000, 10.000 anos e/ou PMP

Quando falamos de dimensionamento das estruturas de condução de vazões, a questão


fundamental na avaliação dos custos e benefícios de um projeto é a não transferência de
prejuízos para jusante, que é inclusive consagrada como um dos princípios do Plano Diretor
de Drenagem do Município. De fato, ampliar as seções das galerias sem o devido cuidado pode
acarretar o rápido escoamento, com o risco do incremento de eventuais prejuízos a jusante.

Esta questão deve ser trabalhada não somente à luz dos eventos extremos, que têm sido mais
frequentemente vivenciados no Município, mas na necessidade de um contorno adequado do
risco de inundações, para não causar a soma de impactos em locais de jusante. Assim, para
dimensionamento de dispositivos de condução, recomenda-se prudência no estabelecimento
de TRs de projetos superiores aos recomendados na Tabela 5.4.

As soluções deverão minimizar ao máximo os riscos de inundação, utilizando o Tempo de


Retorno (TR) adequado, diante de uma análise de risco a ser efetuada durante o
desenvolvimento dos estudos.
Nos estudos é recomendada a realização de simulações para Tempos de Retorno superiores
aos de projeto, para subsidiar as ações de proteção e defesa contra eventos extremos.

5.4.2. Modelos de Transformação Chuva-Vazão

Para a escala da bacia hidrográfica, ou seja, concernente à macrodrenagem, o modelo


recomendado para transformação chuva-vazão é o Hidrograma Unitário Sintético Triangular
proposto pelo Soil Conservation Service - SCS, atual Natural Resources Conservation Service -
NRCS (NRCS, 1986), amplamente utilizado em virtude de sua simplicidade de parâmetros e
facilidade de aplicação.

Neste modelo, a retenção de parte da chuva na bacia e a infiltração no solo são os principais
processos que determinam a quantidade de chuva que se converte em escoamento
superficial, ou seja, a precipitação efetiva (PE). A estimativa da precipitação efetiva considera
o tipo hidrológico do solo, o uso e ocupação do solo e a condição de umidade anterior,
representados pelo parâmetro CN (Curve Number), que varia de 0 a 100. Quanto maior o CN,
maior a parcela da precipitação que escoa. Com o total precipitado em cada intervalo, calcula-
se a chuva excedente, que se torna escoamento superficial direto.

5.4.3. Uso do Solo

A metodologia para estabelecimento dos valores de CN nos Cenários Atual e Futuro para Belo
Horizonte foi proposta pela Fundação Christiano Ottoni - FCO (2021) e baseou-se na
classificação supervisionada de ortofotos do Município, na classificação da ocupação e nas
características físicas existentes. Dessa forma, foram produzidos mapas do CN na condição
atual e futura por bacia hidrográfica, conforme indicado na Figura 5.17.
Figura 5.17 – Mapas do CN nas condições atual e futura, por bacia hidrográfica (FCO, 2021)

Os mapas, em escala, para os valores de CN atual e futuro a serem utilizados para cada bacia
da área de estudo estão apresentados no Apêndice 10 desta Instrução e são apresentados no
Sistema BHMap, disponível em https://bhmap.pbh.gov.br/.

5.4.4. Discretização Espacial

A delimitação das bacias e sub-bacias do Município podem ser visualizadas no Anexo 1 desta
Instrução ou pelo Sistema BHMap (https://bhmap.pbh.gov.br/). Recomenda-se a utilização das
bacias e sub-bacias já delimitadas. Porém, é pertinente realizar uma aferição de seus limites
conforme a urbanização atual e o fluxo pluvial existente.

A discretização espacial da área de estudo deve permitir a indicação de pontos de controle


nos quais pretende-se conhecer as vazões. Os pontos de controle devem ser determinados
necessariamente para os pontos de confluências, sub-bacias, travessias e dispositivos de
amortecimento existentes e/ou previstos.

Deve ser apresentado diagrama unifilar com a discretização espacial proposta e indicação dos
principais pontos de controle (junções), similar ao ilustrado na Figura 5.18.
Figura 5.18 – Proposta de representação de Diagrama Unifilar (Fonte: Acervos de Estudos da SUDECAP)

5.4.5. Tempos de Concentração

O tempo de concentração pode ser definido como o intervalo de tempo necessário, a partir
do início de uma precipitação, para que toda a bacia hidrográfica esteja contribuindo com
o escoamento superficial passante em seu exutório.

Na estimativa do tempo de concentração da área de contribuição usualmente são adotados


métodos baseados em equações empíricas, com destaque para as propostas por Carter,
Schaake, Kirpich e Desbordes. Esses métodos podem levar a erros nas estimativas do
tempo de concentração e, consequentemente, a erros nas estimativas de vazão e de
volumes de escoamento superficial. Em bacias que possuem monitoramento de chuva e
nível é importante a comparação do tempo de concentração levantado por equações
empíricas com as observações verificadas em eventos reais.

Para a estimativa do tempo de concentração da área de contribuição recomenda-se a


utilização do método cinemático, que considera a estimativa de velocidade de escoamento.
No método cinemático, ou método da velocidade do NRCS (1986), considera-se o tempo
de concentração igual à soma dos tempos decorridos do escoamento em cada tipo de
superfície: natural, canal raso ou canalização.

Assume-se que o escoamento nas áreas de montante das bacias ocorra sobre as superfícies
naturais e, após alguns metros, esse escoamento se concentra nos talvegues. Este processo
inicial pode ser assimilado a escoamento em canais rasos e, quando chegam aos cursos
d’água, as condições de escoamento passam a ser as de canais.
O tempo de escoamento em superfície (tes) será obtido considerando um comprimento de
até 100 m na porção de montante do talvegue, caracterizando-se por pequenas espessuras
de lâminas d'água com velocidade baixa (NRCS, 1986). Em contexto urbano, o escoamento
superficial se inicia nas cabeceiras e se prolonga até que o escoamento atinja as vias e
ocorra superficialmente nas vias e sarjetas. Este tempo depende da declividade e
rugosidade do terreno e da intensidade de precipitação no local e pode ser obtido pela
Equação 5.13:

0,115 𝑛𝑒𝑠 𝐿 0,6


𝑡𝑒𝑠 = ( ) (equação 5.13)
𝑖 0,4 √𝑆

Onde:
tes – Tempo de escoamento superficial, em horas;
i – Intensidade de precipitação, com duração próxima ao tempo de concentração, em
mm/hora;
nes – Coeficiente de rugosidade para escoamento em superfície (valores da Tabela 5.6);
L – Comprimento do escoamento, em metros;
S – Declividade do terreno, em metro por metro.

Tabela 5.6 - Coeficientes de rugosidade para escoamento em superfície (traduzido de NRCS, 1986)

Superfícies nes

Superfícies lisas concreto, asfalto, pedras ou solo exposto 0,011

Solo não cultivado sem resíduos 0,050

cobertura por resíduos ≤ 20% 0,060


Solo cultivados
cobertura por resíduos > 20% 0,170

pastagens 0,150

Gramíneas pastagens densas 0,240

grama Bermudas 0,410

Cobertura vegetal natural - 0,130

vegetação rasteira esparsa 0,400


Florestas *
vegetação rasteira densa 0,800

*Para a escolha do nes considerar que somente uma cobertura de 30 mm interfere no escoamento em superfície.

Com relação à intensidade da precipitação para cálculo do tes, sua duração deve corresponder
ao tempo de concentração da área de contribuição e período de retorno de 2 anos (NRCS,
1986). Assim, o cálculo do tempo de concentração se torna um processo iterativo. Deve-se
estimar inicialmente um valor de tempo de concentração para a área de contribuição, em
seguida calcula-se os tempos de escoamento com as equações 5.13, 5.14 e 5.15 e o tempo de
concentração com a equação 5.16. Caso o tempo de concentração encontrado seja diferente
daquele utilizado como a duração da precipitação utilizada para o cálculo do tempo de
escoamento superficial (Equação 5.13), recalcula-se o tempo de escoamento superficial
utilizando-se uma duração de precipitação mais próxima ao tempo de concentração estimado
e em seguida recalcula-se o tempo de contração (por meio da Equação 5.16). Esses passos
devem ser repetidos até que se obtenha um tempo de concentração próximo à duração da
precipitação utilizada na equação 5.13.

O tempo de escoamento em canais rasos pode ser estimado pela Equação 5.14. Pode-se
considerar que o escoamento ocorre em canais rasos quando ele chega ao sistema viário e
passa a ocorrer nas vias e sarjetas.

𝐿
𝑡𝑐𝑟 = 3600𝐶 0,5
(equação 5.14)
𝑟𝑆

Onde:
tcr – Tempo de escoamento em canal raso, em horas;
L – Comprimento do escoamento, em metros;
Cr – coeficiente multiplicativo que depende do tipo de superfície, devendo-se adotar 4,92
para superfícies não pavimentadas e 6,20 para superfícies pavimentadas;
S – Declividade do terreno, em m/m.

A partir do ponto onde o escoamento entra nas redes, galerias e canais ele é considerado em
canais. O tempo de escoamento em canais pode ser estimado considerando-se escoamento
uniforme, conforme Equação 5.15.

𝑛𝐿
𝑡𝑐𝑎 = (equação 5.15)
3600𝑅ℎ 2/3 √𝑆

Onde:
tca – Tempo de escoamento em canais, em horas;
n – Coeficiente de rugosidade de Manning para canais (Tabela 5.9 e Tabela 5.10 do item 5.5.1.2);
L – Comprimento do canal, em metros;
Rh – Raio hidráulico do canal, em metros;
S – Declividade do terreno, em m/m.

Finalmente, o tempo de concentração da área de contribuição será obtido pela equação 5.16:

𝑇𝑐 = 𝑡𝑒𝑠 + 𝑡𝑐𝑟 + 𝑡𝑐𝑎 (equação 5.16)

Onde:
Tc – Tempo de concentração, em horas;
tes – Tempo do escoamento em superfície, em horas;
tcr – Tempo do escoamento em canal raso, em horas;
tca – Tempo do escoamento em canal, em horas.
Apesar de se estimar o tempo de concentração para o exutório da área de contribuição, esse
deve ser tomado como referência para início dos estudos. Uma avaliação de diferentes
durações de precipitação, para cada período de retorno avaliado, deve ser realizada a fim de
se definir qual duração crítica para o arranjo proposto e que será utilizada em projeto.

5.4.6. Chuva de Projeto

Em sistemas complexos de macrodrenagem, a avaliação da chuva de projeto/estudo deve


considerar uma ampla gama de durações de precipitações, tendo em vista as vazões críticas
nos principais pontos de controle do estudo hidrológico.

Para a determinação da chuva de projeto deverá ser identificada a duração crítica de


referência, estimada com base nas curvas IDF, propostas por Pinheiro e Naghettini (1998).
Deverão ser avaliadas chuvas com durações variando de 10 minutos, 30 minutos, 45 minutos,
60 minutos, 90 minutos e 2 horas, pelo menos.

Para empreendimentos de macrodrenagem convencional e de tratamentos de fundo de vale,


a duração crítica deverá estar associada à precipitação capaz de produzir a maior vazão nos
pontos de controle e/ou no exutório.

Para empreendimentos onde forem propostos reservatórios e bacias de detenção, a duração


crítica deverá estar associada à precipitação capaz de produzir a maior sobrelevação do nível
d’água (NA) no interior do reservatório (maior volume).

A discretização temporal da precipitação deve contemplar pelo menos 5(cinco) intervalos de


precipitação e deve ser baseada nos hietogramas adimensionais propostos para Belo
Horizonte por Pinheiro e Naghettini (1998), com probabilidade de excedência de 50%.

Frequentemente utiliza-se a precipitação pontual para estimativa da precipitação média


espacial. Entretanto, sabe-se que a precipitação não se distribui de maneira uniforme sobre a
área de contribuição e as diferenças nas duas estimativas aumentam com o aumento da área
de contribuição. A precipitação média espacial varia com o relevo e a forma da área de
contribuição, mas sobretudo com a intensidade e duração do evento chuvoso, assim como
com o tipo de precipitação (Santos e Naghettini, 2003).

Dessa forma, recomenda-se a utilização de coeficientes de abatimento espacial baseados no


trabalho de Santos e Naghettini (2003). Os coeficientes de abatimento espacial dependem da
duração e do período de retorno do evento chuvoso e da área de contribuição, conforme
apresentados na Tabela 5.7. Os valores apresentados de abatimento devem ser multiplicados
pelos valores de precipitação total, dando origem às precipitações de projeto.
Tabela 5.7 – Coeficientes de Abatimento Espacial (Santos e Naghettini, 2003).

5.4.7. Simulações Hidrológicas

As simulações hidrológicas deverão ser feitas utilizando softwares de última geração, que
permitam considerar os efeitos de amortecimento e de propagação dos hidrogramas de
cheias.

A PBH recomenda a utilização do software HEC-HMS (desenvolvidos pelo U.S. Army Corps of
Engineers). Outros softwares, tais como o SWMM (Storm Water Management Model), ABC6
(Análise de Bacias Complexas) e SWAT (Soil and Water Assessment Tool, aplicado
principalmente em bacias rurais) também são opções para uso em estudos e em simulações
hidrológicas.

O modelo utilizado nestas simulações deve permitir a descrição adequada das características
fisiográficas das sub-bacias na condição atual e futura, através dos parâmetros determinados
para as sub-bacias, incluindo áreas de drenagem, tempos de concentração ou retardo,
coeficientes de infiltração, curvas cota x vazão de dispositivos de controle, dentre outros.
A seguir apresenta-se os cenários usuais a serem considerados nos estudos e simulações:

✓ Cenários de Diagnóstico

o Cenário Atual – Cenário que contempla a atual infraestrutura hidráulica


existente, estruturas de amortecimento já implantadas e condição atual de
uso e ocupação de solo da bacia hidrográfica;

o Cenário Futuro – Cenário que contempla a atual infraestrutura de drenagem


existente, estruturas de amortecimento já implantadas e projeção futura de
uso e ocupação de solo da bacia hidrográfica;

o Cenário Evento Real - Cenário que contempla a atual infraestrutura


hidráulica existente, estruturas de amortecimento já implantadas e
precipitação e níveis reais registrados pelo sistema de monitoramento
hidrológico. Cenários com a simulação de eventos reais selecionados são
importantes para análise da aderência ou calibração do modelo.

✓ Cenário de Alternativa - Cenário que contempla a infraestrutura de drenagem e de


amortecimento propostas em uma alternativa e a projeção futura de uso e
ocupação de solo da bacia hidrográfica;

✓ Cenário Original - Cenário que contempla a situação original da bacia, ou seja, ainda
em estado natural. Em alguns casos pode ser necessário o estudo deste cenário para
verificação da magnitude de impactos no curso d’água, em função da urbanização
existente.

A Figura 5.19 apresenta um exemplo de hidrograma resultante em modelo realizado no


software HEC-HMS para distintos cenários.

Figura 5.19 - Exemplo de Hidrogramas


5.4.8. Relatórios e Produtos

Deverão ser entregues os arquivos digitais do modelo computacional e o Relatório


Consolidado contendo, no mínimo, os seguintes elementos:

• Mapa com subdivisão, caracterização e discretização das bacias e sub-bacias


estudadas e diagrama unifilar;
• Escolha, descrição e justificativa de metodologia e parâmetros adotados (climáticos,
hidrológicos e fisiográficos);
• Apresentação em tabelas com os parâmetros e dados das simulações de definição
da crítica da chuva de projeto;
• Apresentação em tabelas com os dados das simulações para os pontos de controle,
para os diversos cenários e TRs estudados;
• Curva cota x área x volume dos reservatórios existentes ou previstos, a partir dos
dados de levantamento cadastral;
• Curva cota x descarga dos dispositivos de controle existentes ou previstos, a partir
dos dados de levantamento cadastral;
• Interpretação, comparação dos diferentes impactos nos cenários estudados e
análise crítica dos resultados;
• Hidrogramas resultantes para os pontos de controle, para os diversos cenários e TRs
estudados;
• Tabelas com resultados dos cenários estudados para os diversos tempos de retorno
utilizados, com apresentação das vazões afluentes, vazões defluentes e indicação
da capacidade de amortecimentos dos reservatórios, caso existentes ou propostos;
• Avaliação da eficiência da alternativa estudada e comparação das alternativas
propostas, para subsidiar a escolha;
• Conclusões e recomendações;
• Arquivos do modelo completo em HEC-HMS ou outro utilizado nas simulações.
5.5. ESTUDOS HIDRÁULICOS

Os mesmos cenários considerados nos estudos hidrológicos devem ser estudados e simulados
no modelo hidráulico. As vazões consideradas nos estudos para cada ponto de referência de
seção de controle considerados devem estar apresentadas em uma tabela resumo, como
exemplificada na Tabela 5.8.

Tabela 5.8 – Exemplo de Tabela de Apresentação de Resumo de Vazões consideradas no Estudo Hidráulico

TR (anos) / Vazão de Pico nas Seções de Controle (m³/s)


Cenários Duração
(min) Seção de Seção de Seção de
Controle 1 Controle 2 Controle 3

Diagnóstico - Uso e Ocupação Atual

Diagnóstico - Uso e Ocupação Futura

Evento dia XX/XX/XX

Alternativa 1

Alternativa ...

Alternativa n

Os estudos hidráulicos devem ser realizados por meio da resolução das equações de Saint-Venant
uni ou bidimensionais, considerando regimes de escoamento permanentes ou não permanentes.

Tendo em vista a complexidade dos cálculos de sistemas hidráulicos, as modelagens deverão


ser realizadas utilizando-se ferramentas computacionais de última geração, que permitam
considerar os efeitos de amortecimento e trânsito no processo de propagação das ondas de
cheias, bem como diferentes condições de contorno. Assim, recomenda-se a utilização dos
modelos HEC-RAS, desenvolvidos pelo U.S. Army Corps of Engineers. O software SWMM
(Storm Water Management Model) é uma opção para uso em estudos e em simulações
hidrodinâmicas.

A definição dimensional deve ser baseada nas características e na complexidade do sistema a


ser modelado e adequada à sua finalidade. Assim, recomenda-se a avaliação da necessidade
de adoção de modelos bidimensionais para transições complexas, dispositivos de divisões de
vazões, dentre outros.
5.5.1. Caracterização dos Cursos d’Água

Para o diagnóstico hidráulico dos dispositivos existentes recomenda-se, no primeiro


momento, uma descrição geral da geometria com apresentação da topologia, delimitação de
trechos, extensões e seções de controle, detalhamento das seções transversais, perfis
longitudinais, transições, travessias e interferências dos cursos d’água a serem modelados,
além dos coeficientes de rugosidade adotados e demais características pertinentes.

Deverão ser utilizados dados de cadastros e levantamentos topo-batimétricos atualizados,


considerando principalmente as singularidades, curvas e confluências.

A Figura 5.20 apresenta um exemplo de apresentação das características do curso d’água.

Figura 5.20 – Exemplo de caracterização dos segmentos de um curso d’água

Deve ser apresentada a topologia que será considerada no modelo com as principais seções
transversais indicadas de todos os cursos d’águas da bacia de abrangência dos estudos,
diferenciando as seções cadastradas das interpoladas, conforme Figura 5.21.
Bacia hidrográfica
Hidrografia
Seções - Córrego A
Seções - Córrego B

Figura 5.21 – Indicação de Seções em Planta e Topologia

Todas as informações pertinentes devem constar nas seções e perfis a serem lançados no
modelo e apresentados nos relatórios, principalmente os seguintes elementos:

✓ fundo do canal;
✓ topo do canal;
✓ greide da via, no caso de canal fechado;
✓ níveis dos bordos (direito e esquerdo, caso sejam distintos);
✓ níveis das restrições existentes, no caso de canal em leito natural;
✓ entrada de afluentes;
✓ indicação de vias;
✓ travessias;
✓ poços de visita.

A definição dos limites das seções transversais a serem lançadas nos modelos devem ser
suficientes para caracterizar a lâmina d’água e definir o traçado das manchas de inundação.

A Figura 5.22 e a Figura 5.23 apresentam exemplos de geometria lançada no software de


modelagem hidráulica.
Figura 5.22 – Exemplo de apresentação de perfil (Fonte: Arquivos SUDECAP)

Figura 5.23 – Exemplo de apresentação de seção (Fonte: Arquivos SUDECAP)

5.5.1.1. Condições de Contorno

As definições das condições de contorno (crítico, artificial, canal) do modelo devem estar
explícitas. Caso o controle do escoamento a jusante não possa ser caracterizado com exatidão,
modelar cenários com diferentes tipos de controle a jusante (condições de afogamento e não
afogamento do último trecho modelado), conforme exemplo ilustrativo da Figura 5.24.
Figura 5.24 – Diferentes tipos de controle a jusante

5.5.1.2. Coeficiente de Rugosidade

Os coeficientes de rugosidade adotados para as estruturas existentes devem ser baseados em


vistorias de campo. Recomenda-se a apresentação prévia de relatório de vistorias constando
fotografias dos canais, seus revestimentos, estado de conservação, existência de patologias,
obstruções, erosões etc.

A Tabela 5.9 e a Tabela 5.10 apresentam coeficientes de rugosidade usuais de canais artificiais
e naturais.

Tabela 5.9 - Coeficientes de rugosidade para canais artificiais (Baptista e Lara, 2016)
Rugosidade
Revestimento
Mínima Usual Máxima
Concreto pré-moldado 0,011 0,013 0,015
Concreto com acabamento 0,013 0,015 0,018
Concreto sem acabamento 0,014 0,017 0,020
Concreto projetado 0,018 0,020 0,022
Gabião 0,022 0,030 0,035
Espécies vegetais 0,025 0,035 0,070
Aço 0,010 0,012 0,014
Ferro fundido 0,011 0,014 0,016
Aço corrugado 0,019 0,022 0,028
Solo sem revestimento 0,016 0,023 0,028
Rocha sem revestimento 0,025 0,035 0,040
Tabela 5.10 - Coeficientes de rugosidade para canais naturais (Baptista e Lara, 2016)
Rugosidade
Tipo Características
Mínima Usual Máxima
Canais de pequeno porte em planície Limpos 0,025 0,033 0,045
(B < 30 m) Trechos lentos 0,050 0,070 0,080
Canais de pequeno porte em montanhas Leito desobstruído 0,030 0,040 0,050
(B < 30 m) Leito com matacões 0,040 0,050 0,070
Canais de grande porte Seções regulares 0,025 - 0,060
(B> 30 m) Seções irregulares 0,035 - 0,100
Pastagens 0,025 0,030 0,035
Planícies de inundação Culturas 0,020 0,040 0,050
Vegetação Densa 0,045 0,070 0,160

5.5.2. Diagnóstico Hidráulico

As simulações hidráulicas devem ter como resultado a representação completa das condições
de operação dos cursos d’água e estruturas hidráulicas existentes. Deste modo, como
resultados do diagnóstico devem ser apresentados pelo menos:

• Perfil hidráulico com linha d’água modelada e identificação de pontos de interesse,


como insuficiências, ressaltos hidráulicos, remansos etc.
• As manchas de inundação para cada TR, duração e situação de ocupação considerada;
• Tabelas de resultados, com o compilado das saídas do modelo, constando para cada
trecho de similaridade a seção, vazão, declividade, nível de fundo, altura da lâmina
d’água, velocidade e número de Froude.

A Figura 5.25 e a Figura 5.26 apresentam exemplos de apresentação do perfil longitudinal do


curso d’água com as linhas d’água e o traçado de mancha de inundação para distintos cenários.

Figura 5.25 – Exemplo de apresentação de perfil longitudinal (Fonte: Arquivos SUDECAP)


Figura 5.26 – Exemplo do traçado de mancha de inundação para distintos cenários
5.5.2.1. Capacidade dos Cursos d’Água Existentes

A modelagem considera os trechos dos cursos d’água como componentes de um todo. Dessa
forma, muitas vezes os resultados dos modelos não apresentam clareza para constatação de
quais trechos estão realmente trabalhando com insuficiência ou se aquele extravasamento
constatado é resultado de algum ponto de restrição, trecho de insuficiência a jusante ou
restrições no curso d’água receptor.

Assim, é importante que o projetista faça algumas considerações adicionais em relação às


condições de controle a jusante, verificando a influência de confluências ou pontos de
restrições e identificando a capacidade (vazão de restrição) dos trechos relevantes do curso
d’água. Esta análise visa identificar a possibilidade de aproveitamento da infraestrutura
existente possibilitando a economia de recursos e a minimização de transtornos à população,
mediante novas construções.

A pesquisa de vazão de restrição pode ser realizada analisando-se situações distintas, como
exemplo:

✓ Considerando nenhuma influência do curso d´água (ou trecho) de jusante;


✓ Considerando a vazão máxima que pode ocorrer no curso d´água (ou trecho) de jusante
para que a vazão de restrição do curso d’água (ou trecho) de montante não se altere;
✓ Considerando a vazão de restrição do curso d’água (ou trecho) de montante
considerando a ocorrência da vazão de restrição do curso d’água (ou trecho) de jusante.

A capacidade de cada curso d’água ou de cada trecho de relevância, deve estar clara para
subsidiar as alternativas de intervenção a serem propostas. Desse modo, recomenda-se a
apresentação de um diagrama resumo das vazões de restrição existentes na malha
hidrográfica estudada, conforme exemplo apresentado na Figura 5.27.

Figura 5.27 – Exemplo de diagrama de vazões de restrição


5.5.2.2. Verificações Adicionais

Além das questões apontadas anteriormente, para avaliação das condições de operação de
cursos d’água existentes e para propostas de intervenção, deve-se fazer as seguintes
verificações adicionais:

a) Borda Livre

Deverá ser considerada lâmina d’água com altura máxima de escoamento de 80% da altura
da seção. Outros valores poderão ser admitidos, desde que tecnicamente justificados.

b) Velocidade Limite

A velocidade média do escoamento não deverá ser inferior a 0,75 m/s e superior a 6 m/s, para
revestimentos em concreto. Para outros tipos de revestimentos deverão ser avaliadas as
velocidades máximas admitidas. A Tabela 5.11 e a Tabela 5.12 apresentam valores de
referência para cursos d’água sem revestimento e revestidos. Para revestimentos
diferenciados os valores de velocidade máxima admissível devem ser buscados na literatura
técnica de referência.

Tabela 5.11 – Velocidade máxima para cursos d’água sem revestimento

Velocidade Admissível (m/s)


Material Constituinte
Água sem Água com Água com
Sedimentos Sedimentos Sedimentos Coloidais
Não Coloidais
Areia Fina 0,46 0,46 0,76

Argilo-Arenoso 0,53 0,61 0,76

Argilo-Siltoso 0,61 0,61 0,91

Silte Aluvionar 0,61 0,61 1,07


Solos Não
Argiloso 0,76 0,69 1,07
Coloidais
Argila Estabilizada 1,14 1,52 1,52

Cascalho Fino 0,76 1,14 1,52

Cascalho Grosso 1,22 1,98 1,83

Seixos e Pedregulhos 1,52 1,98 1,68

Argila Densa 1,14 1,52 1,52


Solos
Silte Aluvionar 1,14 0,91 1,52
Coloidais
Silte Estabilizado 1,22 1,52 1,68
Fonte: Adaptado de Yang (1996), apud Baptista et al. (2016)
Tabela 5.12 – Velocidade máxima para cursos d’água revestidos
Proteção
Tipo de Gabiões Gabiões Pedra Solo Estacas
Concreto Faxinas com galhos Biomanta
Revestimento Caixa manta Argamassada reforçado vivas
de árvores

Velocidade de Escoamento

< 1 m/s ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓

≥ 1 - 2,5 m/s ✓ ✓ ✓ ✓ x ✓ ✓ ✓ ✓

≥ 2,5 - 4 m/s ✓ ✓ ✓ ✓ x x x x x

≥ 4 - 6 m/s ✓ ✓ ✓ ✓ x x x x x

Declividade das Margens

≤ 1,5H : 1V ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓

> 1,5H : 1V ✓ ✓ x x x x x x x

próximos à
✓ ✓ x x x x x x x
vertical
Fonte: Adaptado de Escarameia (1998); Baptista e Lara (2012); Vide (1997) apud Baptista et al. (2016)

Em casos de velocidades incompatíveis com os limites do revestimento proposto, a concepção


do projeto deverá ser revista (geometria, declividade, inserção de degraus, uso de outros
revestimentos etc.).

Para caso de lançamentos finais podem ser propostos dissipadores, devendo estes serem
devidamente dimensionados, indicando sua velocidade final, que deve ser menor ou igual ao
limite máximo de velocidade, de acordo com o tipo de revestimento do trecho a jusante.

c) Declividade Longitudinal

As declividades mínima e máxima deverão estar limitadas pelos valores de altura máxima da
lâmina d’água e velocidade máxima permitidas, respectivamente.

d) Recobrimento Mínimo

O recobrimento mínimo sobre a laje da galeria, para vias de tráfego ou travessia, deverá ser
avaliado em função da atuação do trem tipo que atuará sobre a laje.

e) Transições e Confluências

Nos trechos onde houver mudança de seção de galeria (altura e/ou largura) é importante que
a transição seja gradual. Dessa forma, deve-se verificar a necessidade de previsão de módulo
de transição. Do mesmo modo, é necessário atenção aos trechos de lançamento e de junção
de cursos d’água, para que não ocorra mudanças bruscas no fluxo, vórtices, represamentos
etc. Na definição da proposta deve-se priorizar confluências e transições que minimizem os
efeitos de remanso e ressaltos. Quando não for possível evitar ressaltos, sua localização deve
ser devidamente identificada em planta e perfil e serem previstos e especificados
revestimentos especiais nestes pontos.

A concordância de módulos de transição deverá ser através do nivelamento das lajes de tampa
da galeria ou topo do canal aberto, utilizando-se as rampas para nivelamento das lajes de
fundo. O comprimento da transição será definido hidraulicamente. Recomenda-se o mínimo
de 10,0 m.

Os trechos de transição e junção podem ser modelados utilizando-se de simplificações, mas


coeficientes de perda de carga localizadas, tais como contração e expansão, devem ser
considerados. Em casos complexos pode haver a necessidade de estabelecimento de modelo
bidimensional para verificar o funcionamento hidráulico da estrutura de transição e junção.

f) Curvas

Os trechos em curva devem ser verificados ou dimensionados considerando as sobre-


elevações do nível d’água. Em modelos hidráulicos unidimensionais a sobre-elevação em
curvas não é explícita, assim, recomenda-se a avaliação adicional desta altura, levando em
conta o regime de escoamento e a formação de ondas no caso de regime supercrítico.

g) Degraus e Dissipadores

Quando necessário, deve ser prevista a implantação de degraus e dissipadores ao longo dos
cursos d’água, para redução das velocidades de escoamento.

h) Poços de Visita

O poço de visita de galeria é um dispositivo que permite a aeração, a inspeção e a limpeza do


dispositivo. O espaçamento entre os poços de visita deverá ser definido no projeto.

O Caderno de Encargos SUDECAP apresenta a padronização deste dispositivo e traz detalhes


construtivos de canais e galerias em seu Capítulo 5 - Galeria Celular e Contenções, disponível
no portal da SUDECAP.

i) Travessias

Sob as travessias viárias, ferroviárias ou de infraestruturas sobre os cursos d’águas são


geralmente previstas a implantação de pontes ou bueiros.

No caso de adoção de bueiros, os critérios de dimensionamento hidráulico devem ser


apresentados, informando seu tipo de funcionamento (canal, orifício ou conduto forçado);
número de linhas, seções; declividade; carga; delimitação de lâmina d’água represada a
jusante ou a montante, se houver; borda livre; altura do reaterro; necessidade de dissipação
de energia etc. Ressalta-se que o funcionamento em conduto forçado é admitido apenas em
situações excepcionais com as devidas justificativas técnicas.
Para dimensionamento de bueiros em condições de escoamento livre, funcionando como
canal, deve-se considerar o dimensionamento por meio da fórmula de Manning, com uso da
declividade longitudinal do trecho, do coeficiente de rugosidade para a seção transversal,
considerando como condição de contorno o controle hidráulico do bueiro. No item 5.6.3.1 são
encontradas considerações para o dimensionamento de bueiros em condição de entrada
afogada e saída livre.

No caso de adoção de pontes, não se recomenda a restrição da seção hidráulica do curso


d’água com pilares ou outras estruturas que comprometam o fluxo fluvial. Para locação do
tabuleiro da ponte deve ser prevista borda livre necessária à segurança na passagem de vazões
superiores à Cheia Máxima de Projeto. Todos os critérios de dimensionamento devem ser
apresentados.

Deve ser verificada a necessidade de proteção das ombreiras da ponte e do reaterro dos bueiros.

5.5.3. Estudo Hidráulico de Alternativas

A partir do diagnóstico hidráulico realizado e das vazões dos cenários de alternativas (com
amortecimento ou não) deve-se efetuar o estudo hidráulico para cada alternativa de
intervenção no curso d’água.

Poderá, a princípio, ser realizado pré-dimensionamento hidráulico de todos os dispositivos


propostos (orifícios, bueiros, comportas, canais, vertedores etc.). O pré-dimensionamento
poderá ser determinado com a aplicação da fórmula de Manning, com uso da declividade
longitudinal do trecho e do coeficiente de rugosidade para a seção transversal.

A partir da delimitação geral da intervenção no curso d’água (seção, declividade, revestimento


etc.) o modelo hidráulico deve ser adaptado incluindo as intervenções propostas em cada
trecho, para cada alternativa. Nos estudos hidráulicos de cada alternativa devem constar as
mesmas verificações do cenário de diagnóstico, bem como ter a mesma forma de
apresentação de resultados. Os resultados dos estudos hidráulicos de alternativas servirão
como subsídio para as etapas de estudo de viabilidade e escolha da alternativa mais
adequada.

5.5.4. Relatórios e Produtos

Os estudos hidráulicos devem ser apresentados na forma de relatório, contendo mapas,


croquis e o modelo computacional. As nomenclaturas dos componentes do modelo devem
estar relacionadas no relatório de forma a permitir a compreensão da estrutura do modelo
entregue, assim como dos dados de entrada.

As verificações das capacidades de vazão, dos regimes de escoamento, das velocidades de


escoamento, das cotas de níveis d’água e das bordas livres nas seções de controle, nas
estruturas e em cada trecho devem ser apresentadas. Uma análise das singularidades, tais
como transições, confluências e curvas deve ser apresentada. Os resultados das simulações
devem conter os perfis com níveis d’água e profundidades de escoamento correspondentes,
apresentados por meio de gráficos e tabelas.

Deverão ser entregues, além dos arquivos digitais do modelo computacional, um Relatório
Consolidado com, no mínimo, os seguintes elementos:

• Caracterização física das barragens e estruturas associadas, bem como dos canais de
macrodrenagem (seção, declividade, rugosidade, singularidades, transições, existência
de obstáculos etc.);
• Identificação de seções de controle, regime de escoamento etc.;
• Escolha, descrição e justificativa da metodologia adotada;
• Estabelecimento, descrição e justificativa de parâmetros hidrodinâmicos e fisiográficos
adotados;
• Interpretação e análise crítica dos resultados, considerando a situação prevista no
projeto e a implantada;
• Perfis longitudinais com os resultados de escoamento (vazões, níveis e velocidades)
para todos os cenários estudados;
• Principais seções tipo com os resultados de escoamento para todos os cenários
estudados;
• Tabelas com resultados dos cenários estudados por trecho, para os diversos tempos
de retorno utilizados, com apresentação das vazões, velocidades, alturas de
escoamento e número de Froude;
• Mapeamento das manchas de inundação para os diversos cenários estudados;
• Mapas do risco hidrodinâmico, caso aplicável.
5.6. BACIAS DE DETENÇÃO

As técnicas de reservação, aqui denominadas Bacias de Detenção, apresentam um papel


importante no controle das cheias urbanas e são utilizadas mundialmente nos sistemas de
drenagem pluvial e fluvial. São dispositivos hidrológicos/hidráulicos cuja finalidade é o
amortecimento de vazões, volumes e velocidades, que podem ser previstas para
complementar controles realizados a montante ou quando ocorre a necessidade de um
controle mais global na bacia hidrográfica.

O amortecimento de vazões é proporcionado a partir do armazenamento temporário em um


volume de espera natural ou construído e da restrição da vazão de saída com o
estabelecimento de um controle hidráulico.

Outros tipos de funções também podem ser previstos nas bacias, como a infiltração, a
retenção de sedimentos, o tratamento de poluentes e a integração paisagística com a
manutenção de uma lâmina d’água permanente.

A Figura 5.28 e a Figura 5.29 apresentam exemplos de bacias de detenção implantadas no


Município de Belo Horizonte.

Figura 5.28 – Bacia de Detenção Córrego Bonsucesso – Vista interna e vertedores


(Fonte: Arquivos PBH)

Figura 5.29 – Bacia de Detenção Santa Lúcia– Lago e vertedor


(Fonte: Arquivos PBH)
5.6.1. Características

As bacias de detenção podem ser em série (in line), quando são alimentadas diretamente pelo
curso d’água que passa internamente à bacia de detenção ou em paralelo (off line), quando
são alimentadas a partir de uma derivação no curso d’água, em determinadas condições de
escoamento.

A composição básica deste dispositivo inclui um volume deixado livre para armazenamento
das águas de escoamento e/ou para eventual infiltração, usualmente denominado volume de
espera, além dos dispositivos de controle de saída.

A saída de fluxo pode ser por gravidade, com a adoção de uma estrutura hidráulica (descarga
de fundo, controlada ou não por comportas e válvulas), ou com a necessidade de
bombeamento. Também é necessária a implantação de um vertedor de emergência para
garantir a segurança adequada quando as vazões são superiores àquelas de projeto.

A escolha da tipologia construtiva da bacia deve ser baseada em diagnóstico detalhado dos
aspectos geotécnicos, topográficos e urbanísticos como: localização em relação ao sistema de
drenagem, tipo de bacia (enterrada, a céu aberto, com ou sem espelho d’água etc.), tipo de
estrutura de reservação (construção de barramento, bacia escavada), forma e revestimento
da bacia, além de outros usos da bacia.

Com relação aos aspectos sanitários, recomenda-se que dispositivos de amortecimento de


cheias somente possam ser instalados onde houver interceptores de esgotos ou onde a
intercepção será implantada na mesma intervenção de construção da bacia, de forma a
garantir que não haja entrada de esgotos juntamente com as águas de chuva nas bacias de
detenção.

5.6.2. Pesquisa Locacional

Quanto à localização, as bacias de detenção podem se situar em diferentes pontos em relação


ao curso d’água, sendo este fator determinado pela eficiência de amortecimento requerida,
pelas condições topográficas e por fatores ambientais, urbanísticos e construtivos.

Na etapa de diagnóstico da bacia hidrográfica é recomendado que sejam verificadas e


avaliadas as áreas potenciais para o recebimento de dispositivos de amortecimento,
analisando-se a possibilidade do aproveitamento das áreas inundáveis existentes, dos locais
livres de ocupação e da conformação geométrica adequada.
5.6.3. Estudos Hidrológicos e Hidráulicos para Bacias de Detenção

Para a implantação de bacias de detenção, a análise do potencial de amortecimento deve ser


realizada em escala da bacia hidrográfica, considerando o funcionamento em conjunto com
outros dispositivos de amortecimento de cheias implantados ou previstos, em distintas
escalas de controle. Para essa avaliação deve-se ter como base o diagnóstico hidrológico e
hidráulico realizado.

A escolha das alternativas locacionais e operacionais dos dispositivos a serem implantados


deve ser baseada na definição do amortecimento requerido e do hidrograma de saída
almejado, bem como nos objetivos gerais do empreendimento.

As bacias podem ser previstas com o objetivo da realização do amortecimento de fluxo para
redução de extravasamento em um determinado trecho de canal existente. Assim, a vazão de
restrição seria aquela correspondente à máxima capacidade desse canal. A localização da obra
seria aquela, dentre as opções possíveis, que levaria a uma configuração de otimização do
funcionamento do sistema de drenagem. Também, os dispositivos podem ser propostos com
o objetivo de mitigar os efeitos da expansão urbana em determinada bacia hidrográfica,
proporcionando ganhos de capacidade do sistema de drenagem para os trechos de jusante.

Após a definição dos locais de implantação a serem estudados deve-se definir a tipologia do
dispositivo de amortecimento de cheias, que pode ser de infiltração ou de detenção, ou ainda
misto, funcionando com infiltração associada a uma saída de escoamento controlada. O
tempo de esvaziamento após o evento chuvoso deve ser definido nesta etapa. Recomenda-se
que o tempo máximo de esvaziamento seja de 24 horas.

O dimensionamento da estrutura deve ser realizado com base no método de Puls, para cálculo
do armazenamento, com diferentes durações de precipitações de entrada, conforme os
cenários estudados. A duração da precipitação deve ser aquela que leva ao maior volume de
acumulação, atendendo à vazão de restrição estabelecida com base na análise da bacia
hidrográfica.

A redução de vazões de amplo espectro, com um único dispositivo tendo altas eficiências para
períodos de retorno diferentes, é uma premissa adequada para a proposição das estruturas.
A proteção de amplo espectro pode ser conseguida com dispositivos de controle de descarga
escalonados, conforme exemplos apresentados na Figura 5.30.
Figura 5.30– Dispositivos de controle de descarga escalonado para diferentes tipos de períodos de retorno
(Fonte: PCRFCD, 2014 e Georgia, 2016)

Nos modelos hidrológicos devem ser incluídos os dispositivos existentes e previstos,


considerando todas as informações pertinentes, conforme as características dos vertedores,
como cotas, áreas, volumes e vazões de saída. Deve ser informada a eficiência do dispositivo
nos cenários estudados para o local de implantação e para os pontos de controle a jusante.

5.6.3.1. Estruturas de Descarga

A estrutura de descarga dos dispositivos de amortecimento de cheias é aquela que regulariza


a vazão e permite a saída controlada do escoamento. A definição da estrutura de descarga
deve levar em consideração as características construtivas da bacia de detenção, assim como
as características da rede de macrodrenagem a jusante dessa. Também devem ser
consideradas a cota de fundo do dispositivo a ser implantado e as cotas de lançamento no
sistema de macrodrenagem existente.

A descarga dos dispositivos por gravidade é sempre preferível a qualquer outro tipo de
descarga, tendo em vista as questões de operação e manutenção dos sistemas. Os sistemas
que funcionam por gravidade apresentam menor risco de falha de funcionamento.

A adoção de dispositivos dependentes de bombeamento deve ser justificada com a apuração


dos custos operacionais dos dispositivos em relação aos benefícios. Nestas bacias de detenção
a regra operativa deve ser parte integrante do projeto. A Figura 5.31 apresenta a construção
de bacia profunda dependente de bombeamento.
Figura 5.31 – Construção de bacia de detenção profunda - Córrego do Nado
(Fonte: Arquivos SUDECAP)

As bacias de detenção por gravidade devem ser providas de dispositivos de operação e


descarregadores de emergência, que conduzirão o escoamento excedente ao sistema de
macrodrenagem existente de forma segura.

Vários são os tipos de vertedores que são usados nas configurações das bacias de detenção,
tais como canais, bueiros, orifícios, vertedores de soleira livre, vertedores com comportas etc.
A configuração física da bacia irá propiciar a escolha do dispositivo mais adequado. Esses
dispositivos devem ser devidamente dimensionados do ponto de vista hidráulico e estrutural,
para garantir o bom funcionamento e a segurança das estruturas. A seguir são descritas as
características dos dispositivos mais comuns.

a) Bueiros e Dispositivos de Descarga (Orifícios)

Bueiros são estruturas hidráulicas que possuem peculiaridades que variam de acordo com as
condições de funcionamento. O dimensionamento de bueiros e orifícios, conforme as
condições estabelecidas no projeto, podem ser feitos em condição de entrada afogada e saída
livre, funcionamento como canal ou ainda considerando carga hidráulica também na saída,
quando tecnicamente justificável. A Figura 5.32 apresenta exemplos de orifícios.
Figura 5.32 – Dispositivos de descarga da Bacia de Detenção Assis das Chagas e da Lagoa da Pampulha
(Fonte: Acervo PBH)

Caso o escoamento em bueiros esteja associado a elevadas velocidades, é necessária a


proposição de dissipadores, devendo estes serem devidamente dimensionados, indicando
velocidade final, menor ou igual ao limite máximo de velocidade, de acordo com o tipo de
revestimento do trecho a jusante.

b) Vertedores de Soleira Livre

São estruturas de controle de vazões, podendo ser conformados por paredes, diques ou
aberturas sobre as quais a água escoa, conforme ilustrado na Figura 5.33.

Figura 5.33 – Vertedores de Soleira Livre Lateral e Tulipa da Lagoa da Pampulha


(Fonte: Acervo PBH)

O dimensionamento de vertedores de soleira livre deverá considerar a carga hidráulica sobre


o vertedor e as características geométricas deles.

5.6.3.2. Verificações adicionais

Com o dimensionamento da bacia definido, nas etapas de projeto básico e executivo, deve-se
fazer algumas verificações adicionais, definir os dispositivos complementares, caso
necessários, bem como observar aspectos construtivos relevantes. A seguir cita-se alguns
aspectos que devem ser considerados.

a) Necessidade de Dissipação de Energia

Dispositivos dissipadores de energia muitas vezes devem ser empregados nas entradas e
saídas operacional e de emergência das bacias de detenção. A avaliação da necessidade de
implantação de dissipadores de energia passa pela avaliação das velocidades de escoamento
nas entradas e saídas d’água, comparando-as com a capacidade do revestimento local em
resistir às tensões provocadas pelo escoamento. Para lançamento direto, deverão ser obtidas
velocidades compatíveis com as características do solo. A Figura 5.34 apresenta um exemplo
de dispositivo de dissipação de energia.

Figura 5.34 – Bacia de Dissipação da Barragem do Córrego Bonsucesso


Fonte: Acervo PBH

Estes dispositivos consistem em bacias de dissipação, rampas dentadas, blocos, degraus, salto
esqui, escadas etc. Em virtude da complexidade associada a eles, tais dispositivos devem ser
dimensionados de acordo com suas características de funcionamento, de geometria e de
revestimento. Não se recomenda o uso de dissipadores de impacto, tendo em vista o acúmulo
de resíduos sólidos e água, frequentemente observados nesse tipo de dissipador em áreas
urbanas.

b) Posição de Entrada e Saída do Fluxo

A configuração geométrica da bacia de detenção e as posições de entrada e saída do fluxo,


devem levar em conta a geometria natural do curso d’água, e serem adequadas para evitar
zonas mortas, trabalhando assim o aspecto da qualidade do fluxo.

O fundo da bacia de detenção deve ter uma declividade mínima de 1%, a fim de evitar o
empoçamento de água e os problemas dele decorrentes.
c) Bacia de Deposição de Sedimento

As configurações das bacias de detenção podem prever a implantação de volume a montante,


com dimensionamento hidráulico adequado, destinado à retenção de sedimentos, facilitando
as operações de limpeza do dispositivo.

d) Grades e Proteções

A necessidade de implantação de grades ou outros dispositivos para a retenção de resíduos


sólidos, para proteção dos vertedores, deve ser avaliada e devidamente dimensionada e
detalhada.

e) Acessos e Manutenção

As bacias de detenção devem ser acessíveis a veículos e equipamentos, objetivando a


execução das ações de manutenção, recomenda-se a implantação de vias de acesso com
largura mínima de 3 metros, portões de acesso com largura mínima de 4 metros, declividade
das rampas máxima de 15% e facilidade de manobra para retorno dos veículos. Estes acessos
devem chegar a todos os dispositivos que necessitam de limpeza mecanizada, incluindo o
fundo das bacias.

f) Revestimentos e Proteções

No detalhamento dos projetos deverão ser definidos os tratamentos para proteção das
ombreiras e taludes, bem como soluções de drenagem superficial (canaletas, escadas
hidráulicas etc.) no barramento e nas estruturas associadas.

g) Borda Livre

Caso sejam propostas barragens de terra, mista, de concreto, dentre outras, deverão ser
realizadas nos estudos a análise de bordas livres, indicadas na Figura 5.35.

Figura 5.35 – Imagem ilustrativa de borda livre de barragens


As bordas livres normal e mínima requerida deverão ser calculadas e verificadas conforme
metodologias propostas pela Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) (Manual do
Empreendedor sobre Segurança de Barragens - Volume V - Diretrizes para a Elaboração de
Projetos de Barragens, 2016) e por Saville et al. (Freeboard allowances for waves in inland
reservoirs, Proceedings, American Society of Civil Engineers, 1962).

Conforme preconizado pela ANA, caso a borda livre mínima requerida calculada seja inferior
a 1,0 m para barragens de aterro (terra ou enrocamento), ou inferior a 0,5 m para as barragens
de concreto, deverá ser considerada nas análises uma borda livre mínima de 1,0 m para
barragens de aterro, ou de 0,5 m para as barragens de concreto.

5.6.3.3. Multifuncionalidade

A recomendação é que as áreas de implantação das bacias de detenção sejam


multifuncionais. A adoção de equipamentos urbanos adjacentes ao dispositivo de
drenagem apresenta inúmeras vantagens e deve ser sempre preferível, bem como sua
associação com parques lineares. Somente nas situações em que houver inviabilidade de
criação de áreas multifuncionais é que se deve optar por dispositivos com área fechada e
sem integração sócio urbanística. A Figura 5.36 apresenta um exemplo de utilização do
barramento e das áreas lindeiras às bacias de detenção em Belo Horizonte, como pista de
caminhada.

Figura 5.36 – Bacia de Detenção Parque Primeiro de Maio


(Fonte: Arquivos PBH)

A relação que o público terá com a bacia de detenção é importante para se ter a definição de
características construtivas, tais como declividades de margens, localização dos acessos,
implantação de grades de proteção, necessidade de cercamento.

A definição da geometria das bacias de detenção deve ser realizada logo após a definição da
multifuncionalidade, assim como a especificação de materiais e revestimentos. A Tabela 5.13
apresenta sugestão de algumas características construtivas das bacias de detenção.
Tabela 5.13 – Características Construtivas das Bacias de Detenção

Tipo de Bacia
Aspecto a ser considerado
Sem acesso ao público,
Com acesso ao público Sem acesso ao público
cercada
Declividade das margens
6:1 4:1 3:1
(H:V)

Utilização de grades e
seixos de grande
diâmetro para proteger
Proteção das entradas e Grades apenas para fins
as entradas e saídas de Utilização de grades.
saídas d'água de manutenção.
água, evitando altas
velocidades e acesso de
pessoas.

Necessária implantação
Rampas e acessos
de rampas ou escadas
Presença de escadas ou apenas para fins de
Rampas com inclinação para acesso de
rampas que facilitem a manutenção.
baixa e bem indicadas. manutenção ou saída
saída de pessoas da bacia Cercamento
de bacia em caso de
obrigatório.
entrada acidental.

É comum, principalmente no cenário internacional, a adoção do uso distinto ao de detenção


das áreas internas dos dispositivos, por exemplo, com o acoplamento de equipamentos
urbanos, fora do período chuvoso. A utilização da área interna dos dispositivos deve ser
subsidiada por estudos específicos em relação ao aspecto sanitário e de segurança dos
usuários.

5.6.3.4. Mapeamento de Risco

Os projetos das bacias de detenção que possuem barragens, além dos estudos listados, devem
possuir os detalhamentos hidrológicos e hidráulicos necessários para subsidiar os Planos de
Segurança e de Ações Emergenciais conforme previsto na legislação. Assim, nestes casos, os
estudos hidrológicos / hidráulicos deverão ser complementados com os seguintes itens:

• Simulação da propagação de onda da ruptura hipotética das barragens, para os


cenários estudados;
• Apresentação das bordas livres obtidas;
• Mapeamento com delimitação da Área de Zona de Autossalvamento (ZAS);
• Apresentação das velocidades máximas, profundidades máximas e tempo de chegada
da onda de cheia para os principais pontos das ZAS;
• Elaboração de mapas para os tempos de chegada, profundidades, velocidades e risco
hidrodinâmico ao longo das ZAS.
5.6.3.5. Apresentação de Projetos de Bacias de Detenção

Além do previsto no item 5.3.4. Projeto Básico e Executivo, as soluções que contemplem a
adoção de bacias de detenção devem apresentar o detalhamento do projeto. A partir dos
resultados das simulações hidrológicas e hidráulicas, dos estudos das alternativas e de
viabilidade, bem como dos ajustes necessários à geometria e à configuração dos dispositivos,
deverá ser apresentado projeto contendo as informações mínimas necessárias para
levantamento dos quantitativos e execução das obras. Deverão, ainda, ser apresentados
desenhos com detalhamento geométrico, contendo, no mínimo:

• Planta de arranjo geral, contemplando reservatório, canais de entrada e saída,


dispositivos hidráulicos e demais elementos previstos na concepção, contendo:
o Marcos de coordenadas e referência de nível - RN;
o Cadastro de edificações;
o Cadastro de redes de utilidade pública;
o Curvas de nível de metro em metro, com destaque para as cheias (múltiplas de
5), que deverão ser anotadas;
o Representação dos cursos d’água;
o Nome das vias, localizado fora da caixa da via;
o Azimute de cada eixo de projeto e de eixos que interceptam a via;
o Marcação dos furos de sondagem à percussão;
o Cadastro de plantas, conforme padrão, se aprovado ou particular;
o Bordas da(s) pista(s);
o Meio-fio;
o Linhas de off sets de terraplenagem, conforme padrão;
o Marcação do Norte;
o Todos os dispositivos projetados deverão ser assinalados na planta, através de
suas convenções, e caracterizados por seu tipo, se for o caso.
• Perfis longitudinais, transversais e seções que possibilitem identificar todos os
elementos previstos na bacia de detenção. Todos os dispositivos deverão ser
representados nos perfis, com os dados de localização e cotas (topo e fundo);
• Projeto de cada estrutura hidráulica prevista no arranjo da bacia de detenção;
• Projeto de drenagem superficial da bacia de detenção (canaletas, escadas hidráulicas
etc.);
• Caso sejam propostas barragens, deverá ser prevista ainda a elaboração de projeto de
instrumentação com a respectiva carta de risco para cada instrumento proposto;
• Memorial descritivo detalhando as características de cada elemento proposto na bacia
de detenção (geometria, material, localização etc.);
• Manual de Operação e Manutenção.
5.7. REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Manual do Empreendedor sobre Segurança de


Barragens - Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens. Brasília: ANA,
2016.

BAPTISTA, M. B., COELHO, M. M. L. P. Fundamentos de Engenharia Hidráulica. Belo Horizonte:


Editora UFMG, 2002. 440 p.

BAPTISTA, M. B., LARA, M. M. Fundamentos de Engenharia Hidráulica. Belo Horizonte: Editora


UFMG, 2016. 4ª ed.

BAPTISTA, M. B. et al. Restauração de Sistemas Fluviais. Belo Horizonte: Manole, 2016. pp.
259-354.

EVANGELISTA, J. A. Sistemática para Avaliação Técnica e Econômica de Alternativas de


Intervenções em Cursos de Água Urbanos (Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-
Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos). Escola de Engenharia da
UFMG, 2011.

FIGUEIRA, José et. al. Multiple Criteria Decision Analysis: State of Art - Surveys. International
Series in Operations Research & Management Science. New York: Springer International
Editions - Verlag, 2005.

LANNA, A. E. Sistemas de Gestão de Recursos Hídricos. In: Revista de Ciência & Ambiente n.
21. Jul/Dez 2000. p. 23-56.

MOURA, P.M. Contribuição para a avaliação global de sistemas de drenagem urbana


(Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e
Recursos Hídricos) - Escola de Engenharia da UFMG, 2004. 164 p.

MOURA, P.M. Méthode d’évaluation des performances des systèmes d’infiltration des eaux de
ruissellement en milieu urbain. (Thèse de doctorat en Mécanique, Énergétique, Génie civil,
Acoustique - L’Institut National des Sciences Appliquées de Lyon). Lyon. 2008. 363 p.

NATURAL RESOURCES CONSERVATION SERVICE (NRCS) - UNITED STATES DEPARTMENT OF


AGRICULTURE. Engineering Field Handbook. Chapter 18. USDA, 1986.

PINHEIRO, M. M. G., NAGHETTINI, M. Análise regional de frequência e distribuição temporal


das tempestades na Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH." Revista Brasileira de
Recursos Hídricos 3.4. 1998. pp. 73-88.

PIMA COUNTY REGIONAL FLOOD CONTROL DISTRICT DESIGN (PCRFCD). Stormwater


Retention/Detention Manual. Tucson, 2015.
SANTOS, E. C. X., NAGHETTINI, M. Agregação do coeficiente de abatimento espacial à relação
intensidade-duração-frequência das precipitações sobre a Região Metropolitana de Belo
Horizonte. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 8, n. 1, pp. 189-199, 2003.

SAVILLE, et al. Freeboard allowances for waves in inland reservoirs. Proceedings. American
Society of Civil Engineers, 1962.

STATE OF GEORGIA. Georgia Stormwater Management Manual, Vol. 1 e 2, 2016.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG). Relatórios Técnicos: Estabelecimento de


Nova Instrução Técnica para Elaboração de Estudos e Projetos de Drenagem no Município de
Belo Horizonte. Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 2021.

________. Lei Municipal Nº 11.181, de 25 de maio de 2019. Dispõe a aprovação do Novo Plano
Diretor do Município de Belo Horizonte e dá outras providências. Diário Oficial do Município,
Belo Horizonte, 2019. Disponível em: http://portal6.pbh.gov.br/dom/Files/dom07082019-
gp.rtf

________. Decreto Municipal Nº 17.273, de 04 de fevereiro de 2020. Regulamenta os Títulos


V a IX da Lei nº 11.181, de 8 de agosto de 2019, sobre parcelamento do solo, ocupação do
solo, uso do solo, áreas de interesse ambiental e patrimônio cultural e urbano no Município,
e dá outras providências. Diário Oficial do Município, Belo Horizonte, 2013. Disponível em:
https://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/files/estrutura-de-governo/meio-
ambiente/dec17273.p

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