Você está na página 1de 112

OSHO

AQUI E AGORA

Sobre a Morte, o Morrer


e as Vidas Anteriores

AnDre
Advaita Samtusti
a_r_z_@terra.com.br

Í n dice
CAPÍ TULO 1. NÃO HÁ MAI OR MENTI RA QUE A MORTE

CAPÍ TULO 2. VER A VI DA COMO UM SONHO

1ª . Pergunt a: Podem os m orrer plenam ent e conscient e, m as com o


podem os t er um a consciência plena ao nascer?
2ª Pergunt a: Que relação há ent re a m edit ação e o j at i- sm aran,
a lem brança das vidas ant eriores?
3ª Pergunt a: m eu am igo, que é iogue, afirm a que na vida ant erior
foi um pardal. É possível isso?

CAPÍ TULO 3. TODO O UNI VERSO É UM TEMPLO

1ª Pergunt a: Most rast e- nos o m ét odo da negação para conhecer


a verdade ou o divino: o m ét odo de excluir t odo o rest o para
conhecer o eu. É possível conseguir o m esm o result ado fazendo
o cont rário? Não podem os t ent ar ver deus em t udo? Não
podem os sent i- lo em t udo?
2ª Pergunt a: Se a m edit ação conduzir ao sam adhi e o sam adhi conduz
a Deus, que necessidade há ent ão de ir aos t em plos? Não
deveríam os suprim i- los?
3ª Pergunt a: Vaga algum as vezes o at m an ( a alm a ou a consciência)
depois de abandonar o corpo?
4ª Pergunt a: Esses seres que esperam nascer podem ent rar no corpo
de alguém e incom odar a est a pessoa?

CAPÍ TULO 4. VOLTAR Para A FONTE

1ª Pergunt a: Segundo o que há dit o, podem os t riunfar sobre a m ort e


por m eio da m edit ação ou do sadhana. Mas acaso não se
produz o m esm o est ado quando est am os dorm idos? E em t al caso,
por que não se pode vencer à m ort e por m eio do sonho?
2ª Pergunt a: No que se diferencia o que você cham a m edit ação da
aut ohipnósis?
3ª Pergunt a: encont rast e a Deus?
4ª Pergunt a: O que significa “ a liberação do ciclo da m ort e?

CAPÍ TULO 5. ENCONTREM SEU PRÓPRI O CAMI NHO

1ª Pergunt a: Há dit o que não há verdade m aior que a m ort e. Tam bém
há dit o algum a vez que cham am os m ort e não exist e.
Qual das afirm ações é verdadeira?
2ª Pergunt a: As coisas que querem os suprim ir, t ais com o as cadeias de
a fé cega ou da superst ição, ficam confirm adas ainda m ais
em seus bat e- papos. Segundo o que diz parece ser que há vida depois da
m ort e, que há deuses e fant asm as, que exist e a t ransm igração do
da alm a. Nesse caso, será difícil livrar- se das superst ições.
Não se reforçarão ainda m ais?
3ª Pergunt a: Exist e Deus? O que é a j ivat m an, a alm a individual?
Onde est á o m oksha? Quem criou o céu? Exist e o inferno?
por que apareceu o hom em sobre a Terra?
Qual é o obj et ivo da vida?

CAPÍ TULO 6. O AMOR É PERI GOSO

1ª Pergunt a: por que pensar na m ort e?


Tem os a vida: vam os viver a. Vivam os o present e. por que
nos pôr a pensar na m ort e?
2ª Pergunt a: Algum as pessoas se suicidan.
O que pode dizer delas? Não t êm m edo à est as m ort e
pessoas?

CAPÍ TULO 7. EU ENSI NO A VI DA PELA MORTE


1ª Pergunt a: Est á ensinando às pessoas a m orrer? Est á ensinando a
m ort e?
Deveria ensinar, m as bem , a vida
2ª . Pergunt a: vais ensinar nos a rej uvenescer nossos corpos? Vai a
nos m ost rar algum m eio alquím ico para nos volt ar j ovens de novo?
Ent ão valeria a pena gast ar o dinheiro para ir ali
3ª . Pergunt a: O que é um a m ent e cheia de ilusões? O que é um a m ent e
m uit o confusa? O que é a claridade m ent al?
4ª Pergunt a: Que diferença há ent re est ar em m edit ação e prat icar a
m edit ação?

O AUTOR

CAPÍ TULO 1

N ã o h á m a ior m e nt ir a que a m or t e

A
MADOS:
Quando o hom em conheceu algo, libera- se disso. E quando o hom em chegou a conhecer
algo, é capaz de t riunfar sobre isso. Nosso fracasso e nossa derrot a só se devem a
nossa ignorância. A derrot a se deve à escuridão: quando há luz, a derrot a é im possível:
a luz se convert e em vit ória.
O prim eiro que queria lhes dizer da m ort e é que não há m aior m ent ira que a
m ort e. Mas, cont udo, a m ort e parece verdadeira. Não só parece verdadeira, m as
t am bém parece, inclusive, que é a verdade cardeal da vida: parece que t oda a vida est á
ordenada pela m ort e. Em bora a esqueçam os, ou em bora não a t enham os em cont a, a
m ort e segue est ando pert o de nós por t oda part e. A m ort e est á at é m ais pert o de nós
que nossa som bra.
est rut uram os nossas m esm as vist as a part ir de nosso m edo à m ort e. O m edo à
m ort e criou a sociedade, a nação, a fam ília e os am igos. O m edo à m ort e t em feit o
perseguir o dinheiro e nos t em feit o am bicionar posições sociais m ais elevadas. E o m ais
surpreendent e é que nossos deuses e nossos t em plos t am bém surgiram que m edo à
m ort e. Por m edo à m ort e, há pessoas que rezam de j oelhos. Por m edo à m ort e, há
pessoas que rezam a Deus com as m ãos unidas e elevadas para o céu. E nada m ais
falso que a m ort e. Por isso, qualquer sist em a de vida que t enham os criado acredit ando
que a m ort e é verdadeira se convert eu em falso.
Com o conhecem os a falsidade da m ort e? Com o podem os saber que não há
m ort e? Enquant o não saibam os, não perderem os o m edo à m ort e, nossas vidas seguirão
sendo falsas. Enquant o exist a o m edo à m ort e, não poderá haver vida aut ênt ica.
Enquant o t rem am os de m edo para a m ort e, não poderem os aprovisionar a capacidade de
viver nossas vidas. Só podem viver aqueles para os que a som bra da m ort e desapareceu
para sem pre. Com o poderá viver um a m ent e assust ada e t rem ent e? E Com o é possível
viver quando parece que a m ort e se aproxim a de cada inst ant e? Com o podem os viver?
Por m uit o que deixem os de t er em cont a a m ort e, nunca a esquecem os de t udo.
Não im port a que levem os o cem it ério aos subúrbios da cidade: a m ort e segue nos
m ost rando seu rost o. Todos os dias m orre alguém ; t odos os dias se apresent a em
algum a part e a m ort e e faz t rem er os alicerces m esm os de nossas vidas.
Quando vem os que se produz a m ort e, som os conscient es de nossa própria
m ort e. Quando choram os a m ort e de alguém , não só nos faz chorar a m ort e dessa
pessoa, m as t am bém t am bém a lem brança renovada da nossa própria. Não só sent im os
dor e pena pela m ort e de out ra pessoa, m as sim pela possibilidade aparent e da nossa
própria. Toda m ort e que acont ece é, ao m esm o t em po, nossa própria m ort e. E Com o
podem os viver, enquant o sigam os rodeados da m ort e? Viver dest a form a é im possível.
Assim não podem os conhecer o que é a vida: nem sua alegria, nem sua beleza, nem sua
bênção. Assim não podem os alcançar o t em plo de Deus, a verdade suprem a da vida.
Os t em plos que se criaram por m edo à m ort e não são os t em plos de Deus. As
orações que se com post o por m edo à m ort e t am pouco são orações dirigidas a Deus. Só
o que est á cheio da alegria da vida alcança o t em plo de Deus. O reino de Deus est á
cheio de alegria e de beleza, e os sinos do t em plo de Deus só repicam para os que est ão
liberados dos t em ores de t odo t ipo, para os que se t iraram de cim a t odos os m edos.
I st o faz parecer difícil, dado que nós gost am os de viver com m edo. Mas ist o não
é possível: só pode ser verdadeira um a das duas coisas. Recordem : se a vida for
verdadeira, ent ão a m ort e não pode ser verdadeira; e se a m ort e é verdadeira, ent ão a
vida não será m ais que um sonho, um a m ent ira: ent ão a vida não pode ser verdadeira.
As duas coisas não podem exist ir sim ult aneam ent e. Mas aferram os às duas coisas de
um a vez. Tem os a sensação de que est am os vivos e t em os além disso a sensação de
que est am os m ort os. ouvi falar de um faquir que vivia em um vale longínquo. Muit a
gent e ia visit ar o para lhe fazer pergunt as. Um a vez, um hom em chegou ant e ele e lhe
pediu que lhe explicasse algo a respeit o da vida e da m ort e. O faquir disse:
- Convido- t e a aprender sobre a vida: m inha port a est á abert a. Mas se quer
aprender sobre a m ort e deve ir a out ra part e, porque eu não m orri nem m orrerei nunca.
Não t enho experiência com a m ort e. Se quer aprender sobre a m ort e, pergunt a aos que
m orreram , pergunt a aos que j á est ão m ort os.
O faquir riu e seguiu dizendo:
- Mas com o poderá pergunt ar aos que j á est ão m ort os? E se m e pede a direção de
um m ort o, não lhe posso dar isso Pois desde que cheguei ou sej a que não posso m orrer,
t am bém sei que ninguém m orre, que ninguém m orreu j am ais.
Mas com o podem os acredit ar nest e faquir? Todos os dias vêem m orrer a alguém ;
a m ort e se apresent a diariam ent e. A m ort e é a verdade suprem a; faz- se visível
penet rando at é o cent ro de nosso ser. Podem os fechar os olhos, m as, por longe que
dela est ej am os, segue visível. Por m uit o que nos dela separem os, por m uit o que dela
fuj am os, segue nos rodeando. Com o podem os dem onst rar a falsidade dest a verdade?
É obvio, algum as pessoas t ent am dem onst rar sua falsidade. Solo por seu m edo à
m ort e, a gent e acredit a na im ort alidade da alm a: por puro m edo. Não sabem : lim it am -
se a acredit ar. Todas as m anhãs, algum as pessoas se sint am em um t em plo ou em um a
m esquit a e repet em : “ Ninguém m orre: a alm a é im ort al.” equivocam - se ao acredit ar
que a alm a se fará im ort al pelo m ero feit o de repet ir as palavras “ a alm a é im ort al” . A
m ort e nunca se volt a falsa por est as repet ições: só conhecendo a m ort e é possível
dem onst rar sua falsidade.
Recordem os que ist o é m uit o est ranho: sem pre aceit am os o opost o ao que não
deixam os de repet ir. Quando alguém diz que é im ort al, que a alm a é im ort al; quando
repet e ist o, não faz m ais que indicar que sabe, m uit o dent ro de si, que m orrerá, que t erá
que m orrer. Se soubesse que não t em que m orrer, não t eria que falar t ant o da
im ort alidade; só os que t êm m edo seguem repet indo- o. E verão que a gent e t em e à
m ort e naqueles países, naquelas sociedades que m ais falam da im ort alidade. Em nosso
país se fala incansavelm ent e da im ort alidade da alm a; m as há alguém na Terra que t em a
à m ort e m ais que nós? Ninguém t em e à m ort e m ais que nós! Com o podem os
reconciliar est es dois ext rem os?
É possível que um povo que acredit a na im ort alidade da alm a caia na escravidão?
Preferiria a m ort e; est aria dispost o a m orrer, pois saberia que não há m ort e. Os que
sabem que a vida é et erna, que a alm a é im ort al, seriam os prim eiros que chegariam à
Lua! Seriam os prim eiros que escalariam o Everest ! Seriam os prim eiros que
explorariam as profundidades do oceano Pacífico! Mas não: nós não som os desses. Nem
escalam os o Everest , nem chegam os à Lua nem exploram os as profundidades do oceano
Í ndico. E nós som os o povo que acredit a na im ort alidade da alm a! Em realidade, dá- nos
t ant o m edo a m ort e que, por m edo a ela, não deixam os de repet ir: “ A alm a é im ort al” . E
nos fazem os a ilusão de que, à força de repet i- lo, possivelm ent e se faça realidade. Nada
se faz realidade à força de repet i- lo.
Não é possível negar a m ort e a apóie de repet ir que a m ort e não exist e. Terem os
que conhecer a m ort e, t erem os que nos encont rar com ela, t erem os que vivê- la. Terão
que lhes fam iliarizar com ela. Mas, em vez disso, não deixam os de fugir da m ort e.
Com o podem os vê- la? Quando vem os a m ort e, fecham os os olhos.
Quando passa um funeral pela rua, a m ãe encerra em casa a seu filho e lhe diz:
“ Não saia: m orreu alguém ” . I ncineram os os cadáveres nos subúrbios dos povos para
que ninguém o vej a, para que não t enham os a m ort e ali m esm o, ant e nossos olhos. E
se falarm os com alguém da m ort e, a out ra pessoa nos prohíbe que t oquem os esse t em a.
Um a vez convivi com um sannyasin. Ele falava t odos os dias da im ort alidade da
alm a. Eu lhe pergunt ei:
- Dá- t e cont a de que t e est á aproxim ando da m ort e?
Ele m e respondeu:
- Não diga coisas de m au agouro. Não é bom falar dessas coisas.
Eu lhe disse:
- Se um a pessoa disser, por um a part e, que a alm a é im ort al, m as por out ro lado
lhe parece de m au agouro falar da m ort e, ent ão est á confundindo- o t udo. Não deve
encont rar nada t em ível, nenhum m au augúrio, nada m au, em falar da m ort e: pois, para
ele, não há m ort e.
- Em bora a alm a é im ort al, eu prefiro não falar da m ort e para nada –m e disse ele- .
Não devem os falar de coisas t ão carent es de significado e t ão am eaçadoras.
Todos fazem os o m esm o: dam os as cost as à m ort e e fugim os dela.

H
E OUVI DO CONTAR O SEGUI NTE: Cert o dia, em um povo, um hom em se volt ou louco.
Era um a t arde calorosa e o hom em andava sozinho por um cam inho afast ado. Andava
com bast ant e pressa, t ent ando não assust ar- se: é possível assust ar- se quando há
alguém , m as com o pode assust ar- se alguém quando não há ninguém ? Mas nos
assust am os quando não há ninguém . Em realidade, t em o- nos m edo a nós m esm os, e
quando est am os sozinhos o m edo é ainda m aior. A ninguém t em em os m ais que a nós
m esm os. Tem os m enos m edo quando nos acom panha alguém , e m ais m edo quando
ficam os sozinhos.
Aquele hom em est ava sozinho. assust ou- se e pôs- se a correr. Tudo est ava
t ranqüilo e silencioso: era pela t arde; não havia ninguém . Quando com eçou a correr
m ais depressa, percebeu o som de uns pés que corriam det rás dele. I nvadiu- o o pânico:
pensou que alguém o seguia. Cheio de t em or, olhou at rás de reoj o e viu que o perseguia
um a larga som bra. Era sua própria som bra; m as, quando viu que o perseguia um a
som bra larga seguiu correndo m ais depressa ainda. Aquele hom em não podia det er- se,
porque, quant o m ais corria, m ais depressa corria a som bra det rás dele. Por últ im o, o
hom em se volt ou louco. Mas há pessoas que veneram inclusive aos loucos.
Quando a gent e o via passar correndo pelos povos, acredit avam que seguia
algum a grande prát ica ascét ica. Jam ais se det inha, salvo na escuridão da noit e, quando
desaparecia a som bra e ele acredit ava que não t inha a ninguém det rás. Mais t arde, não
se det inha sequer de noit e, pois pensava que apesar de t udo o que t inha deslocado pelo
dia a som bra o alcançava enquant o ele descansava de noit e, para persegui- lo de novo à
m anhã seguint e. De m odo que seguia correndo at é de noit e.
Ao fim se volt ou com plet am ent e louco; não com ia nem bebia. Milhares de
pessoas o viam correr e lhe arroj avam flores; alguns ent regavam um pedaço de pão ou
um pouco de água. A gent e o venerava cada vez m ais; m ilhares de pessoas lhe
apresent avam seus respeit os. Mas o hom em est ava cada vez m ais enlouquecido, at é
que, um dia, caiu ao chão e m orreu. Os habit ant es do povo onde t inham m orrido
cavaram sua t um ba sob a som bra de um a árvore e pediram a um velho faquir do povo
que gravasse na lápide um a inscrição. O faquir escreveu um a linha na lápide.
Ali segue a t um ba, em um povo, em algum a part e. É possível que a vej am algum
dia. Leiam a linha. O faquir escreveu na lápide: “ Jaz aqui um hom em que fugiu de sua
som bra t oda sua vida; que esbanj ou t oda sua vida fugindo de um a som bra. E esse
hom em não sabia sequer t ant o com o sabe sua lápide. Pois a lápide est á na som bra e
não corre, assim não faz som bra.”
Nós correm os t am bém . Podem os nos assom brar de que um hom em fuj a de sua
própria som bra; m as t am bém nós fugim os de som bras. E aquilo do que fugim os
t am bém fica a nos perseguir. quant o m ais correm os, m ais depressa nos segue, pois é
nossa própria som bra.
A m ort e é nossa própria som bra. Se fugirm os dela, não serem os capazes de nos
plant ar ant e ela e de reconhecer o que é. Se aquele hom em se det eve e t ivesse vist o o
que t inha det rás, possivelm ent e se t ivesse post o- se a rir e houvesse dit o: “ Quem sou eu,
que fuj o de um a som bra?” Ninguém pode escapar de um a som bra; ninguém pode,
sequer, lut ar com um a som bra e vencê- la. Mas ist o não quer dizer que a som bra sej a
m ais fort e que nós, nem que não possam os vencer nunca; quão único quer dizer é que
não há som bra, que não é um a quest ão de vencer. Não podem os t riunfar sobre o que
não exist e. Por isso se segue deixando derrot ar a gent e pela m ort e: porque a m ort e não
é m ais que um a som bra da m ort e.
Enquant o a vida avança, sua som bra a segue t am bém . A m ort e é a som bra que
se form a det rás da vida, e nós não querem os nunca volt ar a vist a at rás para ver o que é.
Tem os cansado esgot ados m uit as vezes, depois de t er realizado est a carreira um a e
out ra vez. Não é que t enham chegado a est a arrem at a pela prim eira vez: podem t er
est ado aqui ant es; possivelm ent e não fora est a borda; seria algum a out ra borda.
Possivelm ent e não fora est e corpo: seria algum out ro corpo. Mas a carreira deveu ser a
m esm a. As pernas deveram ser as m esm as; a carreira deveu ser a m esm a.
Vivem os m uit as vidas carregando com o m edo à m ort e, m as não som os capazes
de reconhecê- la nem de vê- la. Est am os t ão assust ados e t ão cheios de m edo que,
quando se aproxim a a m ort e, quando sua som bra t ot al se abat e sobre nós o m edo nos
deixa inconscient es. Em geral, ninguém se m ant ém conscient e no m om ent o da m ort e.
Se nos m ant ivéram os conscient es por um a vez, o m edo à m ort e desapareceria para
sem pre. Se um a pessoa visse, em bora só fora um a vez, o que é m orrer, o que acont ece
na m ort e, a seguint e vez não t eria m edo à m ort e porque não haveria m ort e. I st o não
quer dizer que t riunfaria sobre a m ort e: só podem os t riunfar sobre as coisas que
exist em . Pelo sim ples feit o de conhecer a m ort e, est a desaparece. Ent ão não fica nada
sobre o que t riunfar.
m orrem os m uit as vezes, m as cada vez que se produziu a m ort e nos ficam os
inconscient es. I st o se parece com quando o m édico ou o cirurgião nos anest esia ant es
de nos operar para que não sint am os a dor. Tem os t ant o m edo a m orrer que no
m om ent o da m ort e ficam os inconscient es volunt ariam ent e. Ficam os inconscient es um
pouco ant es de m orrer. Morrem os inconscient es, e depois renascem os em um est ado de
inconsciência. Não vem os a m ort e nem vem os o nascim ent o; por isso, nunca som os
capazes de com preender que a vida é et erna. O nascim ent o e a m ort e não são m ais que
paradas onde nos t rocam os de roupa ou t rocam os de cavalos.
Ant igam ent e, quando não havia ferrovias, a gent e viaj ava de diligências de
cavalos. Passavam pelos povos e, quando os cavalos est avam cansados, t rocavam - nos
na post a por cavalos de refresco. Quando chegavam ao povo seguint e volt avam a t rocar
de cavalos. Mas os que t rocavam de cavalos não advert iam nunca que o que faziam era
com o m orrer e volt ar a nascer, porque quando t rocavam de cavalos est avam plenam ent e
conscient es.
Algum as vezes acont ecia que um cavaleiro viaj ava depois de t er bebido. Quando
olhava a seu redor nesse est ado, pergunt ava- se com o t inha t rocado t udo, com o era que
t udo parecia t ão diferent e. ouvi dizer que cert o cavaleiro bêbado chegou a dizer- se: “ É
possível que eu t enha t rocado t am bém ? Nem sequer m e parece que est e sej a o m esm o
cavalo que levava ant es. É possível que m e t enha convert ido em um hom em diferent e?”
O nascim ent o e a m ort e não são m ais que post as onde se t roca de veículo: onde
se deixam at rás os veículos velhos, onde se abandonam os cavalos cansados e se t om am
out ros de refresco. Mas am bos os at os t êm lugar em nossa est ado de inconsciência. E a
pessoa cuj o nascim ent o e cuj a m ort e se produzem nest e est ado de inconsciência não
pode viver um a vida conscient e: realiza sua vida quase em um est ado sem iconscient e,
quase em um est ado de sem ivigilia.
O que quero dizer é que é fundam ent al ver a m ort e, com preendê- la, reconhecê-
la. Mas ist o só é possível quando m orrem os; só podem os vê- lo quando est am os
m orrendo. Ent ão, o que farem os agora? E se só vem os a m ort e quando est am os
m orrendo, ent ão não t em os m aneira de com preendê- la, pois no m om ent o da m ort e
est arem os inconscient es.
Sim : podem os fazer algo agora. Podem os realizar o experim ent o de ent rar na
m ort e por vont ade própria. E posso dizer que a m edit ação ou sam adhi não é nada m ais
que isso. A experiência de ent rar volunt ariam ent e na m ort e é a m edit ação, o sam adhi.
O fenôm eno que se produzirá aut om at icam ent e um dia ao deixar o corpo podem os
produzi- lo volunt ariam ent e criando um dist anciam ent o, dent ro de nós, ent re o eu e o
corpo. Assim , deixando o corpo de dent ro, podem os conhecer o sucesso da m ort e,
podem os conhecer o acont ecim ent o da m ort e. Podem os conhecer a m ort e hoj e, est a
t arde, porque o acont ecim ent o da m ort e significa sim plesm ent e que nossa alm a e nosso
corpo conhecerão, nessa viagem , a m esm a dist inção ent re am bos que se produzem
quando o viaj ant e deixa at rás seu veículo e prossegue sua viagem .

H
E OUVI DO CONTAR que um hom em foi visit ar um faquir m uçulm ano, o xeque Farid, e lhe
disse:
- ouvim os dizer que quando cort aram ao Mansoor as m ãos e as pernas ele não sent iu dor.
É difícil de acredit ar. At é um espinho dói quando nos cravam os isso no pé. Com o
não vai doer que a um cort em as m ãos e as pernas? Parece que t odos esses relat os são
um as fant asias. diz- se –acrescent ou t am bém o hom em - que quando cravaram ao Jesus
na cruz ele não sent iu nenhum a dor. E pôde dizer suas últ im as orações. É difícil de
acredit ar o que disse Jesus em seus últ im os m om ent os, sangrando e nu, ferido de
espinheiros, com as m ãos cravadas!
Jesus disse: “ Perdoa- os, porque não sabem o que fazem .” Devem t er ouvido est a
frase. E t odas as gent e de t odo o m undo que acredit am em Crist o a repet em
cont inuam ent e. A frase é m uit o singela. Jesus disse: “ Senhor, perdoa- os, porque não
sabem o que fazem ” . As pessoas que lêem est a frase revist am ent ender que Jesus diz
que aquelas pobres gent e não sabiam que est avam m at ando a um hom em bom com o
era ele.
Não: aquilo não era o que queria dizer Jesus. O que queria dizer Jesus era o
seguint e: “ Est as gent e insensíveis não sabem que a pessoa a que est ão m at ando não
pode m orrer. Perdoa- os, porque não sabem o que fazem . Fazem algo im possível: est ão
com et endo o at o de m at ar, que é im possível.”
- É difícil acredit ar que um a pessoa a que est ão a pont o de m at ar m anifest asse
t ant a com preensão –disse aquele hom em - Em realidade, est aria cheio de ira.
Farid solt ou um a gargalhada e disse:
- expusest e um a boa pergunt a, m as t e responderei m ais t arde. Prim eiro, m e faça
um pequeno favor.
Tom ou um coco que est ava no chão pert o dele, o ent regou e lhe pediu que
rom pesse a casca com cuidado de não danificar a polpa.
Mas o coco est ava verde, e o hom em disse:
- Perdoa: não posso fazê- lo. O coco est á com plet am ent e verde, e se rom per a
casca se danificará t am bém a polpa.
Farid lhe pediu que deixasse a um lado o coco. Depois lhe ent regou out ro coco,
que est ava am adurecido, e lhe pediu que rom pesse a casca.
- Pode salvar a polpa? –pergunt ou- lhe.
E o hom em respondeu:
- Sim : posso salvar a polpa.
- Dei- t e um a respost a –disse Farid- Com preendest e- m e?
- Não com preendi nada –respondeu o hom em - . O que t em que ver um coco com
sua respost a? O que t em que ver o coco com m inha pergunt a?
- Deixa t am bém est e coco –disse Farid- . Não faz falt a rom pê- lo, nem nenhum
out ro. O que t e est ou indicando é que há um coco verde que t em a casca unidas e a
polpa: se se golpear a casca, danifica- se t am bém a polpa. E t am bém há um coco
am adurecido. No que se diferencia o coco am adurecido do coco verde? Há um a ligeira
diferença: a polpa do coco am adurecido se encolheu no int erior e se separou que a
casca: a casca se separou da polpa. Agora, com o você diz, pode- se rom per a casca
salvando a polpa. Assim respondi a sua pergunt a!
- Sigo sem ent endê- lo –disse o hom em .
- Vê, m orre e com preende –disse o faquir- ; de out ro m odo não poderá seguir o
que est ou dizendo. Mas nem sequer ent ão será capaz de seguir m inhas palavras, porque
no m om ent o da m ort e ficará inconscient e. Um dia se separará a casca da polpa, m as
nesse m om ent o ficará inconscient e. Se quer com preender, com eça agora a separar a
polpa da casca: agora, enquant o est á vivo.
Se a casca ( o corpo) e a polpa ( a consciência) separam - se nest e m esm o inst ant e,
acaba- se a m ort e. Com a criação dest e dist anciam ent o chegarão ou sej a que a casca e a
polpa são duas coisas independent es: que sobrevivem em bora se rom pa a casca, que
não há possibilidade de que lhes desagreguem , de que desapareçam . Nesse est ado,
em bora acont ezca a m ort e, não poderá penet rar dent ro de vós: acont ecerá fora de vós.
O que são vós sobreviverá.
Est e é o significado m esm o da m edit ação ou sam adhi: aprender a separar a casca
da polpa. podem - se separar porque são coisas independent es. podem - se conhecer por
separado porque são coisas independent es. Por isso cham o eu à m edit ação um a ent rada
volunt ária na m ort e, encont ra- se com ela e chega ou sej a que “ a m ort e est á ali, m as eu
sigo aqui” .

S
ÓCRATES ESTAVA A pont o de m orrer. aproxim avam - se os últ im os m om ent os: j á
est avam preparando o veneno para m at á- lo. Ele pergunt ava um a e out ra vez:
- Faz- se t arde, quando t erm inarão de preparar o veneno? Seus am igos choravam
e lhe diziam :
- Est á louco? Querem os que vivas um pouco m ais. subornam os ao que t em que
preparar o veneno: persuadim o- lo para que t rabalhe devagar.
Sócrat es saiu e disse ao que preparava o veneno:
- Est á dem orando m uit o. Parece que não sabe fazê- lo. É novo no ofício? Algum a
vez t inha preparado veneno? Algum a vez t inha adm inist rado veneno a um condenado?
- Levo adm inist rando veneno t oda m inha vida –disse o hom em - , m as nunca t inha
vist o um louco com o você. por que t em t ant a pressa? Est ou- o preparando devagar para
que possa respirar um pouco m ais, para que vivas um pouco m ais, para que conserve a
vida um pouco m ais. E você não deixa de dizer loucuras, de dizer que se faz t arde. por
que t em t ant a pressa por m orrer?
Tenho m uit a pressa porque quero ver a m ort e –disse Sócrat es- Quero ver com o é
a m ort e. E t am bém quero ver, m esm o que se t enha produzido a m ort e, se eu sobreviver
ou não. Se não sobreviver, acabou- se t oda a quest ão; e se sobreviver, ent ão se acabou
a m ort e. Em realidade, quero ver quem m orrerá com a m ort e: m orrerá a m ort e, ou
m orrerei eu? Quero ver se sobreviverá a m ort e ou se serei eu o que sobreviva. Mas
com o poderei ver ist o se não ser est ando vivo?
Ent regaram ao Sócrat es o veneno. Seus am igos com eçaram a chorar por ele: não
est avam em seu são j ulgam ent o. E que fazia Sócrat es? Dizia- lhes:
- O veneno chegou aos j oelhos. Tenho as pernas com plet am ent e m ort as at é os
j oelhos: se m e cort assem isso, não m e int eiraria. Mas, m eus am igos, direi- lhes que
em bora t enha m ort as as pernas sigo vivo. I st o significa que um a coisa é segura: eu não
era m inhas pernas. Sigo aqui; est ou aqui com plet am ent e. Nada em m im se há disolvido
ainda. Agora perdi as duas pernas –seguiu dizendo Sócrat es- ; t udo t erm inou at é m inhas
pant orrilhas. Se m e cort assem as pernas pelas pant orrilhas não sent iria nada. Mas eu
sigo aqui! E aqui est ão m eus am igos, que seguem chorando!
- Não chorem –diz Sócrat es- Olhem ! Hei aqui um a oport unidade para vós: um
hom em se est á m orrendo e lhes est á inform ando que segue vivo. Podem m e cort ar as
pernas int eiras, e nem sequer assim est arei m ort o; m esm o assim seguirei aqui.
Tam bém m e est ão insensibilizando as m ãos; m inhas m ãos t am bém m orrerão. Ah!
Quant as vezes m e ident ifiquei com est as m ãos, com est as m esm as m ãos que agora m e
est ão deixando! Mas eu sigo aqui.
E Sócrat es segue falando assim enquant o m orre.
- Lent am ent e, t udo se pacifica –diz- ; t udo se afunda, m as eu sigo int act o. dent ro
de um m om ent o possivelm ent e não sej a capaz de seguir lhes inform ando, m as não criam
por isso que j á não est ou. Pois se eu est iver aqui depois de perder t ant o de m eu corpo,
com o poderia m e chegar o fim por perder um pouco m ais do corpo? Possivelm ent e não
sej a capaz de lhes inform ar ( pois isso só é possível at ravés do corpo) , m as eu
perm anecerei.
No últ im o m om ent o, diz:
- Agora, possivelm ent e lhes digo o últ im o: falha- m e a língua. Não poderei lhes
dizer um a só palavra m ais, m as ainda lhes digo que exist o.
At é o últ im o m om ent o da m ort e seguiu dizendo: “ Sigo vivo” .

T
AMBI ÉN NA MEDI TAÇÃO devem os ent rar lent am ent e no int erior. E as coisas com eçam a
desprender- se gradualm ent e, um a at rás de out ra. cria- se um dist anciam ent o com t odas
e cada um a das coisas, e chega um m om ent o em que se sent e que t udo est á longe,
afast ado. Alguém se sent e que o cadáver de out ra pessoa est á t endido na borda, m as a
gent e exist e. O corpo est á ali t endido, m as não exist e: separado, t ot alm ent e
independent e e diferenciado.
Quando conhecem os em vida a experiência de ver a m ort e cara a cara, j á não
t em os nada que ver com a m ort e. A m ort e seguirá vindo, m as será com o fazer um a
parada; será com o t rocar- se de roupa, será com o t om ar cavalos de refresco, com o ficar
um corpo novo e em preender um a nova viagem , por novos cam inhos, para m undos
novos. Mas a m ort e nunca será capaz de nos dest ruir. I st o só se pode saber
encont rando- se com a m ort e. Terem os que conhecê- la; t erem os que passar por ela.
Com o t em os t ant o m edo à m ort e, nem sequer som os capazes de m edit ar. Muit as
pessoas vêm para m im e m e dizem que são incapazes de m edit ar. Com o posso lhes
dizer que seu problem a verdadeiro é out ro? Seu problem a verdadeiro é o m edo à
m ort e… e a m edit ação é um processo de m ort e. Em est ado de m edit ação t ot al
chegam os ao m esm o pont o ao que chega um m ort o. A única diferença é que o m ort o
chega ali em est ado de inconsciência, enquant o que nós chegam os ali conscient em ent e.
Est a é a única diferença. O m ort o não t em conhecim ent o do que passou, de com o se
rom peu a casca e sobreviveu a polpa. O buscador que prat ica a m edit ação sabe que a
casca e a polpa se separaram .
O m ot ivo fundam ent al que im pede às pessoas prat icar a m edit ação é o m edo à
m ort e: não há out ro m ot ivo. Os que t em em à m ort e não podem ent rar nunca no
sam adhi. O sam adhi é um convit e volunt ário à m ort e. convida- se à m ort e: “ Vêem :
est ou preparado para m orrer. Quero saber se sobreviverei ou não depois da m ort e. E é
m elhor que saiba est ando conscient e, porque não poderei saber nada se o fat o se produz
est ando inconscient e.”
assim , o prim eiro que lhes digo é que enquant o sigam fugindo da m ort e est a lhes
seguirá vencendo; e que o dia em que lhes plant em e saiam ao encont ro da m ort e, nesse
m esm o dia lhes deixará a m ort e, m as vós perm anecerão.
Nest es t rês dias só lhes falarei das t écnicas por m eio das quais podem lhes
encont rar com a m ort e. Espero que nest es t rês dias m uit os cheguem ou sej a m orrer,
m uit os serão capazes de m orrer. E se sabem m orrer aqui, nest a borda… E est am os em
um a praia incrível. Krishna cam inhou um dia por est as areias: o m esm o Krishna que
disse a Arj una, durant e cert a guerra: “ Não se preocupe; não t em a. Não t enha m edo a
m at ar ou a ser m at ado, pois t e digo que ninguém m orre nem ninguém arbust o” .
Tam pouco m orreu ninguém nunca nem pode m orrer ninguém j am ais m orrer ninguém
j am ais; e t udo o que m orre, t udo o que pode m orrer, j á est á m ort o. E o que não m orre
nem pode ser m at ado não t em m aneira de m orrer. E isso é a vida m esm a.
Est a noit e nos reunim os inesperadam ent e nest a praia pela que cam inhou um a vez
o m esm o Krishna. Est as areias viram cam inhar a Krishna. A gent e deveu acredit ar que
Krishna t inha m orrido verdadeiram ent e, pois conhecem os a m ort e com o a única
verdade: para nós, t odo m undo m orre. Est e m ar, est as areias, nunca acredit aram que
Krishna m uriese; est e céu, est as est relas e a Lua nunca acredit aram na m ort e da
Krishna.
Em concret o, na vida não há lugar em nenhum a part e para a m ort e, m as t odos
acredit am os que Krishna t inha m orrido. Acredit am - porque sem pre nos persegue o
pensam ent o de nossa própria m ort e. por que nos preocupa t ant o o pensam ent o de
nossa m ort e? Est am os vivos agora m esm o; port ant o, por que t em os t ant o m edo à
m ort e? por que nos assust a t ant o m orrer? Em realidade, det rás dest e m edo há um
segredo que devem os com preender.
det rás disso há um a cert a arit m ét ica, e est a arit m ét ica é m uit o int eressant e.
Nunca nos vim os m orrer a nós m esm os. Vim os m orrer a out ros, e isso reforça a idéia de
que t am bém nós t erem os que m orrer. Por exem plo, um a got a de chuva vive no m ar
com out ros m ilhares de got as, e um dia os raios do sol caem sobre ela e se convert e em
vapor, desaparece. As dem ais got as acredit am que m orreu, e t êm razão, porque viram à
got a recent em ent e e agora desapareceu. Mas a got a exist e ainda nas nuvens. Mas
com o vão ou sej a o as dem ais got as at é que elas m esm as se convert am na nuvem ?
Para ent ão, aquela prim eira got a t erá cansado ao m ar e se convert eu em got a de novo.
Mas com o podem saber ist o as dem ais got as at é que elas m esm as em preendam essa
viagem ?
Quando vem os m orrer a alguém de nosso ent orno acredit am que as pessoas j á
não exist em , que m orreu um a pessoa m ais. Não nos dam os cont a de que essa pessoa,
sim plesm ent e, evaporou- se, ent rou no sut il e, cont inuando, em preendeu um a nova
viagem : é um a got a que se evaporou para convert er- se de novo em got a. Com o vam os
ver o? O único que nos parece é que se perdeu um a pessoa m ais, que um a pessoa m ais
est á m ort a. Assim , t odos os dias m orre alguém ; t odos os dias se perde algum a got a. E
pouco a pouco nos invade a cert eza de que t am bém nós t erem os que m orrer, de que
“ t am bém eu m orrerei” . Depois nos dom ina um t em or: “ Morrerei” . Est e t em or nos
dom ina porque est am os olhando a out ros. Vivem os observando a out ros, e est e é nosso
problem a.
Ont em à noit e cont ei a uns am igos um relat o. Um a vez, um faquir j udeu se
alt erou m uit o por seus problem as. Quem não se alt era? A t odos incom odam nossos
infort únios, e o que m ais nos incom oda é ver felizes a out ros. Tam bém ist o t em sua
arit m ét ica, a m esm a arit m ét ica de que falei em relação com a m ort e. Vem os nossa
t rist eza e vem os as caras de out ros. Não vem os a t rist eza em out ros; vem os seus olhos
alegres, os sorrisos em seus lábios. Se olharm os a nós m esm os, vem os que, apesar de
t er problem as int eriores, m ant em os o sorriso ext erior. Em realidade, o sorriso é um a
m aneira de ocult ar a t rist eza.
Ninguém quer dar am ost ras de que é infeliz. Se a pessoa não pode ser
verdadeiram ent e feliz, ao m enos quer dar am ost ras de que chegou a ser feliz, porque
dar am ost ras de ser infeliz provoca grandes sent im ent os de hum ilhação, de perda e de
derrot a. Por isso m ant em os ext ernam ent e um sorriso, e int ernam ent e ficam os com o
est am os. I nt eriorm ent e se seguem acum ulando as lágrim as; ext eriorm ent e prat icam os
nossos sorrisos. Assim , quando alguém nos olhe do ext erior, encont ra- nos sorrident es;
m as quando essa pessoa olhe dent ro de si m esm o encont ra ali t rist eza. E isso se
convert e em um problem a para ele. Acredit a que t odo m undo é feliz, que solo ele é
infeliz.
O m esm o acont ecia a est e faquir. Um a noit e, em suas orações a Deus, disse:
- Não t e peço que não m e envie infelicidade, porque se m erecer a infelicidade
ent ão devo recebê- la, sem dúvida; m as ao m enos posso t e pedir que não m e envie
t ant os sofrim ent os. Vej o que a gent e ri no m undo e que eu sou o único que chora. Todo
m undo parece feliz, e eu sou o único infeliz. Todo m undo parece alegre; eu sou o único
t rist e, perdido na escuridão. Ao fim e ao cabo, que m al t e t enho feit o? m e faça o favor,
rogo- lhe isso: m e ent regue a infelicidade de algum a out ra pessoa em t roca da m inha.
Troca m inha infelicidade pela de qualquer out ro que queira, e a aceit arei.
Aquela noit e, enquant o dorm ia, t eve um sonho est ranho. Viu um a m ansão
enorm e em que havia m ilhões de ganchos. Ent ravam ali m ilhões de pessoas, e cada
um a levava às cost as um fardo de infelicidade. Ao ver t ant os fardos de infelicidade se
assust ou m uit o e se desconcert ou. Os fardos que levavam as dem ais pessoas eram
m uit o sem elhant es ao dele. Todos os fardos t inham exat am ent e o m esm o t am anho e
form a. Sent iu um a grande confusão. Sem pre t inha vist o sorrir a seu vizinho; e t odas as
m anhãs, quando o faquir lhe pergunt ava com o part iam as coisas, est e lhe dizia: “ Tudo
vai bem ” . E aquele hom em carregava ent ão com a m esm a quant idade de infelicidade.
Viu polít icos com seus seguidores, a gurús com seus discípulos, e t odos chegavam
com um a carga do m esm o t am anho. Os sábios e os ignorant es, os ricos e os pobres, os
sãs e os doent es: t odos levavam um a m esm a carga em seus fardos. O faquir est ava
at ônit o. Via pela prim eira vez os fardos: até ent ão, só t inha vist o as caras da gent e.
de repent e, um a fort e voz encheu a sala: “ Pendurem seus fardos! ” Todos, at é o
faquir, fizeram o que lhes m andavam e penduraram seus fardos nos ganchos. Todos se
apressaram a t irar- se de cim a seus problem as; ninguém queria carregar com suas
desgraças nem um segundo m ais, e se nos brindasse essa m esm a oport unidade,
t am bém os penduraríam os em seguida.
Depois se ouviu out ra voz que dizia: “ Agora, cada um de vós deve t om ar o fardo
que prefira.” Podem os suspeit ar que o faquir t om o im ediat am ent e o fardo de out ra
pessoa. Mas não com et eu t al engano. At errorizado, apressou- se a t om ar seu próprio
fardo ant es de que t om asse out ra pessoa: do cont rário, t eria um problem a, pois t odos os
fardos pareciam iguais. Pensou que era m elhor carregar com seu próprio fardo: ao
m enos, o que havia em lhe result ava fam iliar. Quem sabe que desgraças havia nos
fardos de out ros? A desgraça que nos result a fam iliar é um t ipo m enor de desgraça: é
um a desgraça conhecida, um a desgraça reconhecível.
Assim , presa de pânico, correu a t om ar seu próprio fardo ant es de que ninguém
m ais pudesse lhe pôr as m ãos em cim a. Mas quando olhou a seu redor descobriu que
t odos out ros t inham deslocado t am bém a t om ar seus próprios fardos; ninguém t inha
eleit o um fardo que não fora o seu. Pergunt ou:
- por que t êm t ant a pressa por t om ar seus próprios fardos?
- Assust am o- nos –lhe responderam - . at é agora, t ínham os acredit ado que t odos
out ros eram felizes, que só nós fom os desgraçados.
A t odos os que int errogava o faquir naquela casa lhe respondiam que sem pre
t inham acredit ado que t odos out ros eram felizes.
- I nclusive acredit ávam os que você t am bém foi feliz –lhe disseram - . Tam bém
você andava pela rua com um sorriso. Nunca im aginam os que t am bém você levava
dent ro um fardo de desgraças.
O faquir pergunt ou, cheio de curiosidade:
- por que recolheram seus próprios fardos? por que não os t rocaram por out ros?
- Hoj e, cada um de nós rezou a Deus lhe dizendo que queríam os t rocar nossos
fardos de desgraça –lhe responderam - . Mas quando vim os que as desgraças de out ros
eram iguais, t ivem os m edo: nunca nos t ínham os im aginado t al coisa. De m odo que
supusem os que era m elhor recolher nosso próprio fardo. É fam iliar e conhecido. por
que cair em desgraças novas? Com o t em po, t am bém acost um am os às desgraças
velhas.
Aquela noit e ninguém recolheu um fardo que pert encesse a out ra pessoa. O
faquir despert ou e deu graças a Deus m isericordioso por lhe haver perm it ido recuperar
suas velhas desgraças, e decidiu não pedir nunca m ais um a coisa assim em suas
orações.
Em realidade, ist o se apóia na m esm a arit m ét ica. Quando olham os as caras de
out ros e observam os nossa própria realidade, ent ão é quando com et em os um grande
engano. E em nossa visão da vida e da m ort e int ervém a m esm a arit m ét ica errônea.
Viram m orrer a out ros, m as nunca lhes viram m orrer a vós m esm os. Vem os as m ort es
de out ras pessoas, m as nunca chegam os ou sej a se algo dessas pessoas sobrevive.
Com o ficam os inconscient es nesses m om ent os, a m ort e segue sendo um a est ranha para
nós. port ant o, é im port ant e que ent rem os volunt ariam ent e na m ort e. Quando um a
pessoa vê a m ort e um a só vez, libera- se dela, t riunfa sobre a m ort e. Em realidade, não
t em sent ido dizer que venceu, porque não há nada que vencer. Ent ão a m ort e se volt a
falsa; ent ão a m ort e, sim plesm ent e, não exist e.
Se um a pessoa t iver que som ar dois e dois e escreve “ cinco” com o respost a, ao
dia seguint e descobre que dois e dois são quat ro, poderia dizer que t riunfou sobre o
cinco e o convert eu no quat ro? Diria, m as bem , que não se t rat ava de t riunfar: não
havia cinco! O cinco era um engano dele, um a ilusão dela; seu cálculo era errôneo; o
t ot al era quat ro: ele o t inha ent endido com o cinco, e aquele era seu engano. Quando a
gent e aprecia o engano, ali t erm ina a quest ão. Aquela pessoa não poderia dizer- se:
“ Com o posso m e t irar de cim a o cinco? Agora vej o que dois e dois são quat ro, m as
ant es t inha obt ido um cinco com o som a. Com o posso m e liberar do cinco?” A pessoa
não pediria essa liberação, porque assim que a gent e descobre que dois e dois são
quat ro, ali t erm ina a quest ão. Já não há nenhum cinco. port ant o, do que t erá que
liberar- se?
Não t em os que nos liberar da m ort e nem t em os que t riunfar sobre ela. O que
precisam os é conhecer a m ort e. O m esm o feit o de conhecê- la- se convert e em liberdade;
o conhecim ent o m esm o se convert e na vit ória. Por isso pinj ent e ant es que conhecer é
poder, que conhecer é liberdade, que conhecer é vit ória. O fat o de conhecer a m ort e faz
que se dissolva; ent ão, de repent e e pela prim eira vez, conect am o- nos com a vida.
Por isso vos pinj ent e que o prim eiro que devem saber da m edit ação é que é um a
ent rada volunt ária na m ort e. O segundo que quero dizer ao respeit o é que o que ent ra
volunt ariam ent e na m ort e se encont ra, repent inam ent e, com a ent rada na vida. Em bora
vá em busca da m ort e, em lugar de encont rar- se com a m ort e descobre em realidade a
vida definit iva. Em bora o propósit o de sua busca o leve a ent rar na m ansão da m ort e,
acaba em realidade no t em plo da vida.
Deixem que lhes indique que nos m uros do t em plo da vida est ão gravadas as
som bras da m ort e. m e perm it am t am bém que lhes indique que os m apas da m ort e
est ão desenhados nos m uros do t em plo da vida, e que, com o fugim os da m ort e, na
prát ica est am os fugindo t am bém do t em plo da vida. Só quando aceit arm os a m ort e
serem os capazes de aceit ar est es m uros. A deidade da vida reside ent re os m uros da
m ort e; as im agens da m ort e est ão gravadas por t oda a superfície do t em plo da vida.
Sim plesm ent e, est ivem os fugindo de sua im agem m esm a.
Se t iverem visit ado Khaj uraho, t erão vist o um a coisa est ranha: em t odos seus
m uros se esculpiram relevos de cenas sexuais. As im agens parecem nuas e obscenas.
Se o que a vê põe- se a correr, não será capaz de chegar à deidade que est á no t em plo
int erior. Dent ro est á a im agem de Deus, e fora há relevos com im agens de sexo, de
paixão e de cópulas. Os que const ruíram os t em plos do Khaj uraho deviam ser um povo
m aravilhoso. Represent aram um a profunda realidade da vida: deram a ent ender que o
sexo est á ali, no m uro ext erior, e que se fugirm os dali nunca serem os capazes de
alcançar o brahm acharya, a cast idade, porque o brahm acharya est á dent ro. Se forem
capazes de passar desses m uros, t am bém vós alcançarão o brahm acharya. Nos m uros
aparece represent ado o sam sara, o m undo m ort al, e se fugirem dele nunca chegarão a
Deus, porque o que est á sent ado dent ro dos m uros do sam sara é o m esm o Deus.
Eu lhes digo exat am ent e o m esm o. Em algum a part e, em algum lugar, devem os
const ruir um t em plo em cuj os m uros apareça represent ada a m ort e e em cuj o int erior
est ej a a deidade da vida. Assim é a verdade. Mas, com o não deixam os de fugir da
m ort e, perdem o- nos t am bém a divindade da vida.
Digo am bas as coisas de um a vez: a m edit ação é ent rar volunt ariam ent e na
m ort e, e o que ent ra volunt ariam ent e na m ort e alcança a vida. I st o significa que o que
se encont ra com a m ort e descobre em últ im o ext rem o que a m ort e desapareceu e que
ele est á abraçado pela vida. I st o parece bast ant e cont radit ório; ir em busca da m ort e
para encont rar- se com a vida; m as não o é.
Por exem plo, eu est ou vest ido com roupas. Agora bem , se vierem em m inha
busca, encont rarão- lhes em prim eiro lugar com m inhas roupas, apesar de que eu não
sou as roupas. E se lhes assust am de m inhas roupas e saem correndo, ent ão não
poderão m e conhecer j am ais. Mas se lhes aproxim am de m im cada vez m ais, sem lhes
assust ar de m inhas roupas, ent ão encont rarão debaixo de m inhas roupas m eu corpo.
Mas o corpo, em um sent ido m ais profundo, t am bém é um a vest im ent a, e se fugissem
de m eu corpo não encont raria ao que est á dent ro de m im . Se não lhes assust assem do
corpo e prosseguissem sua viagem para o int erior, sabendo que t am bém o corpo é um a
vest im ent a, ent ão lhes cont raria sem dúvida com o que est á dent ro, com aquele ao que
t odos desej am conhecer.
Que int eressant e é que o m uro est ej a com post o pelo corpo e que o divino est ej a
dent ro, cheio de graça! O m uro é feit o de m at éria, e dent ro est á o divino, a consciência
assent ada na glória. São coisas bem opost as: o m uro de m at éria e a divindade de vida.
Se o ent enderem bem , saberão que o m uro é feit o de m ort e e que o divino é feit o de
vida.
Quando um pint or pint a um quadro, se desej a fazer ressalt ar a cor branca o sit ua
sobre um fundo escuro. As linhas brancas result am claram ent e visíveis sobre o fundo
escuro. Se alguém se assust asse do negro, não seria capaz de chegar ao branco. Mas é
que não saberia que é o negro o que faz ressalt ar o branco.
De m esm o m odo, as rosas em flor est ão rodeadas de espinhos. Se alguém se
assust asse dos espinhos, t am bém ficaria privado das flores. Mas o que aceit a os
espinhos e se aproxim a delas sem t em or descobre com assom bro que os espinhos só
servem para prot eger à flor, que seu único fim é servir de m uro ext erior para a flor: são
o m uro prot et or. A flor brot a ent re os espinhos; os espinhos não são inim izades da flor.
As flores form am part e dos espinhos, e os espinhos form am part e das flores: am bas
surgiram que um a m esm a força vivificadora da plant a.
O que cham am os vida e o que cham am os m ort e form am part e, am bas as coisas,
de um a vida m ais am pla. Eu est ou respirando. Sai um a baforada de ar; ent ra um a
baforada de ar. A m esm a baforada de ar que sai volt a a ent rar ao cabo de um t em po, e
a m esm a baforada de ar que ent ra volt a a sair ao cabo de um t em po. I nspirar é a vida,
exalt ar é a m ort e. Mas am bos os são passos de um a vida m ais am pla: da vida e a m ort e
que cam inham j unt as. O nascim ent o é um passo, a m ort e é out ro passo. Mas se
pudéssem os ver, sim pudéssem os penet rar, alcançaríam os a visão da vida m ais am pla.
Nest es t rês dias prat icarem os a m edit ação de ent rar na m ort e. E eu lhes falarei
de m uit as de suas dim ensões. Hoj e prat icarem os a m edit ação do prim eiro dia. m e
perm it am que lhes explique algum as cost ure sobre ela.
Já devem t er com preendido m eu pont o de vist a: t em os que alcançar um pont o
int erior, m uit o dent ro de nós, onde não há possibilidade de m orrer. Tem os que solt ar
t oda a circunferência ext erior, t al com o acont ece na m ort e. Na m ort e, o corpo se solt a,
os sent im ent os se solt am , os pensam ent os se solt am , a am izade se solt a, a inim izade se
solt a: t odo se solt a. Todo m undo ext erior part e; só ficam os nós, só fica o eu, só fica em
alt o a consciência.
Tam bém na m edit ação devem os solt á- lo t udo e m orrer deixando unicam ent e ao
observador, à t est em unha int erior. E est a m ort e se produzirá. Nest es t rês dias de
m edit ação, se t iverem o valor de m orrer e de solt ar a seu eu, pode produzir um
fenôm eno que se cham a sam adhi.
Recordem : “ sam adhi” é um a palavra m aravilhosa. O est ado de m edit ação t ot al
se cham a “ sam adhi” , e t am bém cham am os “ sam adhi” à t um ba que se const rói depois da
m ort e de um a pessoa. Tinha- o pensado algum a vez? Am bos se cham am “ sam adhi” .
Em realidade, am bos com part ilham um segredo, am bos t êm um pont o com um de
coincidência.
Em realidade, para a pessoa que alcança o est ado de sam adhi, seu corpo é com o
um a t um ba: nada m ais. Depois, chega a advert ir que há alguém m ais dent ro; fora, não
há m ais que escuridão.
Depois da m ort e de um a pessoa cavam os um a t um ba e a cham am os “ sam adhi” .
Mas est e sam adhi o const róem out ros. Se form os capazes de criar nosso próprio
sam adhi ant es de que o const ruam out ros, ent ão criam os o fenôm eno que est am os
desej ando. Sem dúvida, out ros t erão ocasião de cavar nossa t um ba, m as é possível que
nós percam os a oport unidade de criar nosso próprio sam adhi. Se form os capazes de
criar nosso próprio sam adhi, ent ão nesse est ado só m orrerá o corpo, e não haverá
possibilidade de que m ora nossa consciência. Nunca m orrem os nem podem os m orrer
j am ais. Ninguém m orreu nunca, nem ninguém pode m orrer j am ais. Mas, para sabê- lo,
t erem os que percorrer t odos os passos que levam at é o fundo da m ort e.
Quero lhes m ost rar t rês passos que darem os. E quem sabe? Possivelm ent e se
produza est e fenôm eno nest a m esm a praia e possam t er seu sam adhi: não o sam adhi
que const róem out ros, a não ser o que alguém cria com sua própria vont ade.
Há t rês passos. O prim eiro passo é relaxar o corpo. Têm que relaxar o corpo at é
t al pont o que com ecem a sent ir que seu corpo est á a cert a dist ância de vós. Têm que
recolher t oda a energia de seu corpo e levá- la dent ro. Toda a energia que t em o corpo a
ent regam os nós. O corpo recebe t ant a energia com o nós lhe ent reguem os; o corpo
perde t ant a energia com o nós lhe recolhem os.
not ast es um a coisa? Quando brigam com out ra pessoa, de onde recebe o corpo
t oda essa energia acrescent ada? Nesse est ado de ira, podem levant ar um a pedra t ão
grande que não seria capazes nem de m ovê- la em est ado de calm a. Em bora sej a obra
de seu corpo, não lhes pergunt ast es de onde saiu a energia? Vós int roduziram a
energia: necessit ava- se; est avam em apuros; havia perigo: est avam cara a cara com o
inim igo. Sabiam que sua vida est ava em perigo se não levant avam a pedra, e
int roduziram t oda sua energia no corpo.

Ou
NA VEZ PASSOU O SEGUI NTE. Um hom em levava dois anos paralisado, prost rado na
cam a. Não podia levant ar- se; não podia m over- se. Os m édicos o despej aram , lhe
anunciando que est aria paralisado durant e o rest o de sua vida. Um a noit e, sua casa se
acendeu e t odos saíram correndo. Quando est iveram fora, deram - se cont a de que o
cabeça de fam ília est ava apanhado dent ro da casa e de que não podia correr. O que ia
ser dele? Alguns levavam t ochas, e viram sua luz que o velho j á t inha saído.
Pergunt aram - lhe se t inha saído da casa por seu pé. O hom em disse: “ Com o pude andar?
O que passou?” Mas t inha andado, sem dúvida: não cabia out ra explicação.
A casa est ava em cham as; t odos fugiam , e ele esqueceu por um m om ent o sua
paralisia e volt ou a int roduzir em seu corpo t oda sua energia. Mas quando a gent e o viu
à luz das t ochas e lhe pergunt aram com o t inha conseguido sair, ele exclam ou: “ Ai, sou
um paralít ico! ” , e caiu ao chão. Tinha perdido a energia. Não est ava a seu alcance
com preender com o se produziu esse fenôm eno. Todos ficaram a lhe explicar que não
era um verdadeiro paralít ico, que se t inha cam inhado at é ali podia seguir cam inhando o
rest o de sua vida. O hom em não deixava de repet ir: “ Não podia levant ar a m ão. Não
podia levant ar nem um pé. Ent ão, com o acont eceu?” Não sabia. Não sabia sequer
quem o t inha t irado.
Ninguém o t inha t irado: ele t inha saído por seu pé. Mas não sabia que, ant e o
perigo, sua alm a t inha vert ido t oda sua energia sobre seu corpo. E depois, por sua
sensação de est ar paralisado, a alm a t inha recolhido em seu int erior sua energia, e o
hom em ficou paralít ico um a vez m ais.

E
STE I NCI DENTE não passou a um a pessoa nem a dois: produziram - se cent enares de
casos no m undo em que um a pessoa prost rada pela paralisia saiu que sua enferm idade,
esqueceu sua enferm idade em caso de incêndio ou ant e out ra sit uação de perigo.
O que quero dizer é que int roduzim os energia em nosso corpo, m as não t em os
idéia de com o recolhê- la. De noit e nos sent im os descansados porque a energia se
recolhe no int erior e o corpo j az em um est ado depravado, e pela m anhã volt am os a nos
sent ir frescos. Mas algum as pessoas não são capazes sequer de recolher int eriorm ent e
sua energia de noit e. A energia segue encerrada no corpo, e lhes result a difícil dorm ir.
A insônia indica que a energia que se int roduziu ant eriorm ent e no corpo não encont ra o
cam inho de volt a a sua font e. Na prim eira et apa dest a m edit ação t erá que ret irar do
corpo t oda a energia.
Agora bem , o int eressant es é que, pelo sim ples feit o de sent ir a energia, est a se
t ranslada para o int erior. Se um a pessoa for capaz de sent ir que sua energia se est á
recolhendo para dent ro e que seu corpo se est á relaxando, descobrirá que seu corpo
segue relaxando- se m ais e m ais. O corpo chegará a um pont o em que a pessoa não será
capaz de levant ar a m ão em bora o desej e: t udo est ará depravado. Assim , sent indo- o,
podem os ret irar do corpo nossa energia.
De m odo que o prim eiro é ret irar o prana, a energia vit al, fazendo que volt e para
sua font e. Dest a m aneira, o corpo ficará im óvel, com o um a casca, e se observará que se
produziu um dist anciam ent o ent re a casca e a polpa do coco, que nos t ornam os duas
coisas independent es e que o corpo j az fora de nós com o um a casca, com o um a
roupagem do que nos despoj am os.
O seguint e é relaxar a respiração. Muit o dent ro, a respiração cont ém a energia
vit al, o prana, e por isso m orre a pessoa quando se int errom pe a respiração. Muit o
dent ro, a respiração nos m ant ém conect ados com o corpo. A respiração é a pont e ent re
o at m an, a alm a, e o corpo: ali é onde se encont ra o vínculo. Por isso cham am os prana
à respiração. Assim que cessa a respiração part e o prana. Nest e sent ido se aplicam
várias t écnicas.
O que acont ece quando um a pessoa relaxa por com plet o sua respiração, deixa
que fique im óvel e t ranqüila? A respiração chega pouco a pouco a um pont o em que a
pessoa não sabe se est á respirando ou não. É norm al que com ece a pergunt ar- se se
est iver viva ou m ort a, se se est á produzindo a respiração ou não. A respiração se volt a
t ão t ranqüila que a pessoa não sabe sequer se est á at uando.
Não faz falt a que cont rolem a respiração. Se o t ent arem , não cont rolarão nunca o
fôlego: t ent ará sair à força, e se t ent am cont rolá- lo desde fora, t ent ará ent rar na força.
Por isso lhes digo que não faz falt a que façam nada por sua part e: deixem ,
sim plesm ent e, que se relaxe cada vez m ais, que se t ranqüilize m ais e m ais. A respiração
chega, pouco a pouco, at é um pont o de repouso. Em bora esse pont o de repouso só dure
um m om ent o, nesse m om ent o podem os apreciar um a dist ância infinit a ent re a
consciência e o corpo: nesse m esm o m om ent o se vê a dist ância. É com o se caísse agora
m esm o um raio e eu visse nesse m om ent o as caras de t odos vós. Depois, o raio j á não
est aria, m as eu t eria vist o suas caras.
Quando a respiração se det ém durant e um m om ent o, exat am ent e no cent ro,
nesse m om ent o m esm o cai um raio dent ro de t odo nosso ser e apreciam os claram ent e
que o corpo é independent e e de que nós som os independent es: de que se produziu a
m ort e. assim , na segunda et apa devem relaxar a respiração.
Na t erceira et apa t erá que relaxar a m ent e. Em bora não est ej a relaxada a m ent e,
se o est iver a respiração, o raio cairá, é obvio, m as não saberão o que acont eceu porque
a m ent e est ará ocupada com seus pensam ent os. Se caísse agora m esm o um raio e eu
est ivesse perdido ent re m eus pensam ent os, só saberia depois de que t ivesse passado.
Mas, enquant o isso, sobreveio o raio e eu est ava perdido em m eus pensam ent os. O raio
cairá, é obvio, assim que se det enha a respiração; m as só o advert irem os se t iverem
cessado os pensam ent os; do cont rário, não o advert irem os e t erem os perdido a
oport unidade. Por isso, a t erceira et apa é relaxar a m ent e.
Percorrerem os est as t rês et apas e depois, na quart a et apa, ficarem os dez m inut os
em silêncio. Nest es t rês dias, durant e est e silêncio, esforçarão- lhes por ver a m ort e, por
deixá- la descender. Eu lhes darei indicações para que sint am que o corpo se est á
relaxando, que a respiração se est á relaxando, que a m ent e se est á relaxando. Depois
m e calarei, apagarem os as luzes e ficarão dez m inut os t endidos em silêncio. Ficarão
quiet os, em silêncio, observando o que acont ecer seu int erior.
Lhes separe uns de out ros para que, se o corpo cair, não caiam sobre out ro. Os
que queiram lhes j ogar devem deixar um espaço a seu redor. Seria m elhor que lhes
j ogassem t ranqüilam ent e na areia. Ninguém deve falar… ninguém deve part ir na m et ade
da sessão.
Sim : sent em - se. Sent em - se onde est ão ou lhes j ogue. Fechem os olhos…
fechem os olhos e relaxem o corpo. Depois, quando eu faça indicações, com ecem a
sent ir com igo. Enquant o sent em , seu corpo se relaxará cada vez m ais: ent ão, o corpo
ficará t endido, t ot alm ent e depravado, com o se não houvesse vida nele.
Com ecem a sent ir. O corpo se est á relaxando…siga relaxando- o… Siga relaxando
seu corpo e sent indo que se relaxa. O corpo se est á relaxando… sint a… relaxem cada
part e de seu corpo. E sint am dent ro… o corpo se est á relaxando. Sua energia volt a
dent ro… a energia de seu corpo se recolhe, ret ira- se… a energia se recolhe. O corpo se
est á relaxando… o corpo se est á relaxando… o corpo se est á relaxando… o corpo se est á
relaxando. Solt em com plet am ent e, com o se j á não est ivessem vivos. Deixem cair o
corpo t al com o est á… deixe com plet am ent e solt o. O corpo se relaxou… o corpo se
relaxou… o corpo se relaxou. Solt em … solt em .
O corpo se relaxou. O corpo se relaxou com plet am ent e, com o se não t ivesse
vida. Toda a energia do corpo se recolheu dent ro. O corpo se relaxou… o corpo se
relaxou… o corpo se relaxou… o corpo se relaxou… o corpo se relaxou. Solt em , solt em
com plet am ent e, com o se j á não est ivesse aqui o corpo.
Transladam o- nos dent ro. O corpo se relaxou… o corpo se relaxou… o corpo se
relaxou. A respiração se est á t ranqüilizando… relaxe t am bém a respiração… relaxem
com plet am ent e. Deixem que vá e venha por si m esm o… deixem solt a. Não faz falt a
det ê- la nem fazê- la m ais lent a; sim plesm ent e, deixem que se relaxe. Que ent re ao
fôlego t ant o com o possa… que saia t ant o com o possa. A respiração se est á relaxando… a
respiração se est á acalm ando.
Sint am assim : a respiração se est á acalm ando… a respiração se est á acalm ando e
se est á relaxando… a respiração se est á relaxando… a respiração se est á acalm ando. A
respiração se acalm ou… a respiração se acalm ou… a respiração se acalm ou. Agora,
deixem que a m ent e se relaxe e sint am que os pensam ent os se est ão acalm ando…os
pensam ent os se est ão acalm ando… a m ent e se acalm ou… a m ent e se acalm ou…

CAPÍ TULO 2

Ve r a vida com o um son h o

A
MADOS:
form ularam - se algum as pergunt a sobre o bat e- papo de ont em à noit e. Um am igo
pergunt ou:
Podem os m orrer plenam ent e conscient es, m as com o podem os t er um a consciência plena
ao nascer?

E
N REALI DADE A MORTE o nascim ent o não são dois sucessos: são dois lados de um
m esm o fenôm eno, com o as duas caras de um a m oeda. Se um hom em t iver na m ão um a
cara de um a m oeda, t am bém t erá aut om at icam ent e a out ra. Não posso t er na m ão um a
cara de um a m oeda e m e pergunt ar onde posso encont rar a out ra: disponho da out ra
aut om at icam ent e.
A m ort e e o nascim ent o são duas caras de um m esm o fenôm eno. Se a m ort e se
produzir em um est ado conscient e, a m ort e t em lugar indevidam ent e em um est ado
conscient e. Se a m ort e se produzir em um est ado inconscient e, o nascim ent o se produz
t am bém em est ado de inconsciência. Se a pessoa m orrer plenam ent e conscient e no
m om ent o de sua m ort e, t am bém est ará cheia de consciência no m om ent o de seu
nascim ent o seguint e.
Com o t odos m orrem os em est ado de inconsciência e nascem os em est ado de
inconsciência, não recordam os nada de nossas vidas ant eriores. Mas a lem brança de
nossas vidas ant eriores sem pre fica present e em algum rincão de nossas m ent es, e
podem os reviver est a lem brança se o desej arm os.
Não podem os fazer nada diret am ent e em relação com o nascim ent o: t udo o que
possam os fazer est ará relacionado unicam ent e com a m ort e. Não podem os fazer nada
depois da m ort e: t udo o que possam os fazer devem os fazê- lo ant es da m ort e. A pessoa
que m ora em est ado inconscient e não poderá fazer nada at é que volt e a nascer. Não há
rem édio: seguirá inconscient e. assim , se vós m orrest es em est ado inconscient e, t erão
que nascer de novo em est ado inconscient e. O que t erei que fazer t erá que fazer- se
ant es da m ort e, pois dispom os de m uit as oport unidades ant es da m ort e: a oport unidade
de t oda um a vida. Com est a oport unidade podem os fazer um esforço por despert ar.
Seria, pois, um grande engano esperar at é o m om ent o da m ort e para despert ar. Não
podem os despert ar no m om ent o da m ort e. O sadhana, a viagem para o despert ar, t erá
que com eçar m uit o ant es da m ort e: t erá que preparar- se para ela. Se não lhes
prepararem , é seguro que ficarão inconscient es na m ort e. Em bora est e est ado
inconscient e é bom para vós, em cert o m odo, se ainda não est ão preparados para nascer
em est ado conscient e.
Por volt a de 1915, o rei de Quase foi operado do abdôm en. Foi a prim eira
operação dest e t ipo que se realizou no m undo sem anest esia. Est avam pressent em t rês
m édicos brit ânicos, que se negavam a realizar a operação sem adm inist rar anest esia,
pois diziam que era im possível abrir o est ôm ago a um a pessoa durant e um a hora e m eia
ou duas horas para realizar um a operação im port ant e sem que o pacient e est ivesse
inconscient e. Era perigoso, pois o pacient e podia grit ar, m over- se, salt ar ou cair a causa
da dor insuport ável. Podia acont ecer algo. Por isso, os m édicos não est avam dispost os a
realizar a operação.
Mas o rei insist iu em que não t inha que o que preocupar- se, sem pre que ele
est ivesse em est ado de m edit ação, e afirm ava que era capaz de passar de um a hora e
m eia a duas horas em est ado de m edit ação sem dificuldade. Não est ava dispost o a
t om ar anest esia; dizia que queria que o operassem est ando conscient e. Mas os m édicos
desconfiavam : acredit avam que era perigoso fazer sofrer t al dor a um a pessoa
conscient e. Por fim , com o não encont ravam out ra alt ernat iva, os m édicos lhe pediram
em prim eiro lugar, a m odo de experim ent o, que ent rasse em est ado de m edit ação.
Quando ele est eve nesse est ado, fizeram - lhe um cort e na m ão. Ele nem sequer t rem eu.
Só duas horas m ais t arde se queixou de que lhe doía a m ão. Mais t arde, realizaram a
operação.
Foi a prim eira vez no m undo que uns m édicos abriram o est ôm ago de um
pacient e durant e um a hora e m eia sem lhe adm inist rar anest esia. E o rei perm aneceu
plenam ent e conscient e durant e t oda a operação. Para alcançar t al est ado de consciência
é preciso prat icar um a m edit ação profunda. A m edit ação t em que ser t ão profunda que
alguém conheça plenam ent e, sem som bra de dúvida, que o eu e o corpo são
independent es. A m ais m ínim a ident ificação com o corpo pode ser perigosa.
A m ort e é a m aior operação cirúrgica de t odas. Nenhum m édico realizou um a
operação t ão grande. Pois na m ort e exist e um m ecanism o que t ransplant a t oda a
energia vit al, o prana, de um corpo físico a out ro corpo físico. Ninguém realizou um a
operação t ão espet acular, nem ninguém a realizará j am ais. Podem os am put ar um a
part e do corpo ou out ra, ou t ransplant ar um a part e em out ra, m as no caso da m ort e t erá
que t om ar t oda a energia vit al de um corpo e int roduzi- la em out ro.
A nat ureza procurou bondosam ent e que fiquem os plenam ent e inconscient es
quando se produz est e fenôm eno. É por nosso próprio bem : possivelm ent e não
fôssem os capazes de suport ar t ant o dor. É possível que o m ot ivo pelo que ficam os
inconscient es é que a dor da m ort e é insuport ável. I nt eressa- nos ficar inconscient es; a
nat ureza não nos perm it e recordar o passo pela m ort e.
Em t odas as vist as repet im os quase os m esm os enganos que repet im os em
nossas vidas ant eriores. Se fôssem os capazes de recordar o que fizem os nas vidas
ant eriores, possivelm ent e não t ropeçaríam os com as m esm as pedras. E se fôssem os
capazes de recordar o que fizem os em nossas vidas ant eriores, j á não seríam os com o
som os agora. É im possível que seguíssem os sendo os m esm os, pois am ont oam os
riquezas um a e out ra vez e em t odas as ocasiões a m ort e despoj ou que sent ido a essas
riquezas. Se fôssem os capazes de recordá- lo, possivelm ent e não levaríam os dent ro a
m esm a m ania pelo dinheiro que levam os at é agora. Apaixonam o- nos m il vezes, e vim os
um a e out ra vez que, à larga, não t inha sent ido. Se fôssem os capazes de recordá- lo,
desapareceria nossa m ania de nos apaixonar e de procurar que se apaixonem por nós.
fom os m ilhares e m ilhares de vezes am biciosos, egoíst as; alcançam os o êxit o, o alt o
nível social, e ao final t odo result ou inút il, t udo ficou reduzido a pó. Se fôssem os
capazes de recordá- lo, é possível que nossa am bição perdesse força, e ent ão não
seríam os quão m esm os som os agora.
Com o não recordam os nossas vidas ant eriores, seguim os nos m ovendo quase por
um m esm o círculo. O hom em não se dá cont a de que j á percorreu o m esm o círculo
m uit as vezes nem de que o est á volt ando a percorrer com a m esm a esperança que o
im pulsionou ant es. Depois, a m ort e frust ra t odas as esperanças e volt a a com eçar o
círculo. O hom em se m ove em círculo, com o o boi em um a noria.
Podem os nos salvar dest e dano, m as necessit am os um grande nível de
consciência e devem os experim ent ar cont inuam ent e. Não podem os nos pôr a esperar a
m ort e diret am ent e, porque não é possível nos fazer conscient es de repent e, no
t ranscurso de um a operação t ão im port ant e, de um t raum a t ão grande. Terem os que
fazer experim ent os pouco a pouco, com desgraças pequenas, para descobrir com o
podem os ser conscient es enquant o as passam os.
Por exem plo, t em os um a dor de cabeça. Ao m esm o t em po nos volt am os
conscient es e com eçam os a sent ir que t em os um a dor de cabeça, não que a cabeça t em
um a dor. De m odo que t erem os que experim ent ar com a pequena dor de cabeça e
t erem os que aprender a sent ir que “ a dor est á na cabeça e eu sou conscient e dele” .
Quando o Swam i RAM visit ou a Am érica, às pessoas lhe cust ava m uit o ent endê- lo
ao princípio. Quando o president e dos Est ados Unidos lhe fez um a visit a, t am bém se
sent iu confuso. Pergunt ou: “ Que língua é essa?” ; porque RAM est ava acost um ada falar
em t erceira pessoa. Não dizia “ Tenho fom e” , m as sim dizia: “ RAM t em fom e.” Não
dizia: “ Dói- m e a cabeça” , a não ser “ A RAM dói m uit o a cabeça.”
Ao princípio, às pessoas lhe cust ava m uit o ent endê- lo. Por exem plo, um a vez
disse: “ Ont em à noit e, RAM se est ava gelando.” Quando lhe pergunt aram de quem
falava, respondeu que falava de RAM. Quando lhe pergunt aram : “ De que RAM?” , disse,
dest acando- se a si m esm o: “ De est e RAM: o pobre se est ava gelando de frio ont em à
noit e. Ríam o- nos e lhe pergunt ávam os: “ Com o vai o frio, RAM?”
Dizia: “ RAM est ava passeando pela rua e algum as pessoas ficaram a insult á- lo.
Rim os a gargalhadas e dissem os: “ O que lhe parecem os insult os, RAM? Se buscas
honrar, é fácil que t e encont re com insult os” . Quando lhe pergunt avam : “ De quem fala?
Quem é esse RAM?” , dest acava- se a si m esm o.
Terão que com eçar por fazer experim ent os com desgraças de t ipo m enor.
Encont rarão- lhes isso t odos os dias da vida; est ão pressent em t odos os dias. Não só as
desgraças: t erão que incluir t am bém a felicidade no experim ent o, porque é m ais difícil
ser conscient es na felicidade que na desgraça. Não é t ão difícil conhecer que nossa
cabeça e a dor que há nela são duas coisas independent es, m as é m ais difícil conhecer
que ” o corpo é independent e, e a alegria de est ar são t am bém é independent e de m im ;
eu t am pouco sou isso” . É difícil m ant er est e dist anciam ent o quando est am os sãs, pois
nos m om ent os de felicidade nós gost am os de est ar próxim os a est a. Nos m om ent os de
desgraça é evident e que nós gost am os de nos sent ir independent es, separado- se dela.
Se chegasse a ficar claro que a dor é independent e de nós, quereríam os que seguisse
assim para est ar liberados da dor.
Terão que experim ent ar o m odo de lhes m ant er conscient es t ant o na desgraça
com o na felicidade. que realiza t ais experim ent os est á acost um ado a provocar- se
desgraças para as viver. Est e é, em essência, o segredo de t odo ascet ism o: é um
experim ent o no qual se sofre um a dor volunt ária. Por exem plo, um a pessoa realiza um
j ej um . A apóie de passar fom e, t ent a descobrir o efeit o da fom e sobre sua consciência.
Em geral, a pessoa que realiza um j ej um não t em a m enor ideia do que faz: quão único
sabe é que t em fom e, e espera com avidez sua com ida do dia seguint e.
O propósit o fundam ent al do j ej um é sent ir que “ a fom e est á aqui, m as est á longe
de m im . O corpo t em fom e, eu não.” assim , induzindo volunt ariam ent e a fom e, a gent e
t ent a saber, de dent ro, se a fom e est iver ali. “ RAM t em fom e; eu não t enho fom e. Sei
que a fom e est á ali, e est e deverá ser um conhecim ent o cont ínuo at é que eu chegue a
um pont o em que se produza um dist anciam ent o ent re a fom e e eu, no que eu j á não
t enha fom e: at é dent ro da fom e eu j á não t enho fom e. Só o corpo segue t endo fom e, e
eu sei. Eu j á não sou m ais que um que sabe.” Ent ão, o significado do j ej um se volt a
m uit o profundo; port ant o, j á não significa sim plesm ent e passar fom e.
Norm alm ent e, que em preende um j ej um se repet e as vint e e quat ro horas do dia
que t em fom e, que não com eu nada aquele dia. Sua m ent e não deixa de albergar
fant asias e planos sobre o que com erá ao dia seguint e. Os j ej uns dest e t ipo não t êm
sent ido. Por conseguint e, não são m ais que abst er- se de com er. A diferença ent re
abst er- se de com er e prat icar o j ej um , o upavas, é a seguint e: o j ej um significa residir
cada vez m ais pert o. Mais pert o do que? Significa aproxim ar- se do eu produzindo um
dist anciam ent o do corpo.
A palavra “ upavas” não significa abst er- se de com er. “ Upavas” significa residir
cada vez m ais pert o. Mais pert o do que? Significa residir m ais pert o do eu, residir m ais
pert o do eu e m ais longe do corpo. Tam bém é possível que um a pessoa com a m as se
m ant enha no est ado de j ej um . Se, enquant o com e, sabe dent ro de si que o at o de
com er t em lugar em out ra part e e que a consciência é t ot alm ent e independent e do at o,
ent ão é upavas. E t am bém é possível que um a pessoa não est ej a j ej uando de verdade.
Em bora se t enha privado da com ida; pois pode acont ecer que est ej a m uit o conscient e de
t er fom e, que se est ej a m orrendo de fom e. Upavas é um a consciência psicológica da
separação do eu e o est ado físico da fom e.
Tam bém se podem provocar volunt ariam ent e out ros dores sim ilares, m as a
provocação dest es dores é um experim ent o m uit o profundo. Um hom em pode t om bar-
se sobre um leit o de espinheiros só para sent ir que os espinheiros só cravam o corpo, e
não seu eu. Assim , é possível provocar um a desgraça para sent ir a dissociação da
consciência com respeit o ao plano físico.
Mas no m undo j á aparecem m uit os desgraças sem que as provoquem os: não faz
falt a que provoquem os nenhum a m ais. Já dispom os de m uit as desgraças: devem os
com eçar a experim ent ar com elas. As desgraças aparecem sem ser provocadas, em t odo
caso. Se podem os m ant er a consciência de que “ sou independent e de m inha dor”
durant e a desgraça que vem sem ser provocada, ent ão o sofrim ent o se convert e em um
sadhana, em um a disciplina espirit ual.
Terem os que seguir prat icando est e sadhana at é com a felicidade que se
apresent ou por si m esm o. Com o sofrim ent o, é possível que consigam os nos enganar a
nós m esm os, porque nós gost aríam os de acredit ar que “ eu não sou a dor” . Peri, por isso
respeit a à felicidade, o hom em quer ident ificar- se com ela, porque j á acredit a que “ sou
feliz” . Por isso, o sadhana é m ais difícil ainda de prat icar com a felicidade.
Em realidade, nada é m ais difícil que sent ir que som os independent es de nossa
felicidade. Na prát ica, ao hom em gost a de inundar- se por com plet o na felicidade e
esquecer- se que é independent e dela. A felicidade nos alaga; a desgraça nos desconect a
e nos separa do eu. Chegam os a acredit ar, de algum m odo, que nossa ident ificação com
o sofrim ent o se deve unicam ent e a que não fica nenhum a out ra eleição, m as dam os a
bem - vinda à felicidade com t odo nosso ser.
Sede conscient es na dor que lhes chegue; sede conscient es na realidade que lhes
chegue; e, de vez em quando, a m odo de experim ent o, sede conscient es t am bém na dor
provocada, porque nele as coisas são um pouco diferent es. Nunca podem os nos
ident ificar plenam ent e com nada que nos provoquem os volunt ariam ent e. O
conhecim ent o m esm o de que é um pouco provocado gera um dist anciam ent o. O
hóspede que se apresent a em sua casa não é da casa: é um hóspede. Do m esm o m odo,
quando provocam os o sofrim ent o com o hóspede, j á é algo que est á afast ado de nós.
Cam inhando descalços, e a dor nos crava um espinho no pé. É um acident e, e a
dor será ent rist ecedora. Est e acident e desgraçado é diferent e do que se produz quando
t om am os volunt ariam ent e um espinho e nos cravam os isso no pé, sabendo em cada
m om ent o que nos est am os at ravessando o pé com o espinho e que est am os observando
a dor. Não lhes digo que façam t al coisa, que lhes t ort urem a vós m esm os: j á exist em
m uit os sofrim ent os. O que quero dizer é o seguint e: em prim eiro lugar, est ej am
at ent os, t ant o no sofrim ent o com o na felicidade; m ais t arde, algum dia, lhes provoque
algum a desgraça e vej am quant o podem dist anciar dela sua consciência.
Recordem : o experim ent o de provocar a desgraça é m uit o significat ivo, porque
t odo m undo quer provocar a felicidade, m as ninguém quer provocar a desgraça. E o
int eressant e é que a desgraça que não desej am os vem por si m esm o, e que a felicidade
que procuram os não chega nunca. Mesm o que chega por acaso, fica fora de nossa
port a. A felicidade a que cham am os não chega nunca, enquant o que a felicidade que
não pedim os nunca ent ra em casa por si só. Quando um a pessoa faz provisão da força
suficient e para provocá- la desgraça, isso quer dizer que é t ão feliz que pode provocar
um a desgraça. É t ão bem - avent urado que não lhe result a difícil provocar um a desgraça.
Agora pode pedir à desgraça que venha e que fique.
Mas est e não é um experim ent o m uit o profundo. Enquant o não est ej am os
preparados para em preender t al experim ent o, devem os t ent ar ser conscient es de t odo
sofrim ent o que nos chegue por si m esm o. Se nos fizerm os m ais e m ais conscient es cada
vez que nos cruzem os com a desgraça, farem os provisão da capacidade suficient e para
nos m ant er conscient es inclusive quando nos chegar a m ort e. Nesse m om ent o a
nat ureza nos perm it irá que perm aneçam os acordados t am bém na m ort e. A nat ureza
sabe que se o hom em for capaz de perm anecer conscient e na dor, t am bém pode
m ant er- se conscient e na m ort e. Ninguém é capaz de m ant er- se conscient e na m ort e
sem preparação, sem t er vivido um a experiência prévia desse t ipo.
Faz alguns anos m orreu um hom em cham ado P.D. Ouspensky. Era um grande
m at em át ico russo. É a única pessoa que realizou nest e século um a am pla série de
experim ent os relacionados com a m ort e. Três m eses ant es de m orrer caiu gravem ent e
doent e. Os m édicos lhe recom endaram que guardasse cam a, m as, apesar disso, realizou
um t rabalho t ão incrível que result a inim aginável. Não dorm ia pelas noit es, viaj ava,
cam inhava, corria, sem pre est ava m ovendo- se. Os m édicos est avam escandalizados:
diziam - lhe que necessit ava descanso absolut o. Ouspensky reuniu a seu lado a t odos
seus am igos ínt im os, m as não lhes disse nada.
Os am igos que conviveram com ele em seus t rês últ im os m eses de vida, disseram
m ais t arde que t inham vist o pela prim eira vez, ant e seus próprios olhos, a um hom em
que aceit ava a m ort e em est ado conscient e. Pergunt aram - lhe por que não seguia os
conselhos dos m édicos. Ouspensky respondeu: “ Quero conhecer a dor de t odo t ipo, não
sej a que a dor da m ort e sej a t ão grande que m e deixe inconscient e. Quero passar por
t odos os dores ant es da m ort e, para adquirir um a resist ência que m e perm it a est ar
com plet am ent e conscient e quando chegar a m ort e.” De m odo que, durant e t rês m eses,
realizou um esforço exem plar por passar t odo t ipo de dores.
Seus am igos deixaram escrit o que quando os m ais sãs e fort es se cansavam ,
Ouspensky seguia em at ividade. Os m édicos insist iam em que necessit ava repouso
absolut o, pois do cont rário podia sofrer grandes danos, m as ele não fazia caso. A noit e
em que m orreu Ouspensky, não deixava de passear- se por sua habit ação. Quão m édicos
o exam inaram anunciaram que suas pernas j á não t inham a força necessária para andar;
m as ele seguiu cam inhando t oda a noit e.
Dizia: “ Quero m orrer cam inhando, pois se m orro sent ado posso ficar inconscient e,
ou se m orro dorm ido posso ficar inconscient e.” Enquant o cam inhava, dizia a seus
am igos: “ um pouco m ais: dez passos m ais, e t udo t erá t erm inado. Est ou- m e afundando,
m as seguirei cam inhando at é que t enha dado m eu últ im o passo. Quero seguir fazendo
algo at é o final; do cont rário, a m ort e poderá m e encont rar despreparado. Poderia lhe
relaxar e ficar dorm ido, e não quero que m e passe ist o no m om ent o da m ort e.”
Ouspensky m orreu enquant o dava seu últ im o passo. Muit o poucas pessoas no
m undo m orreram assim , andando. Caiu andando, quer dizer, que só caiu ao chão
quando se produziu sua m ort e. Enquant o dava seu últ im o passo, dizia: “ I st o é: est e é
m eu últ im o passo. Agora est ou a pont o de cair. Mas ant es de part ir quero lhes dizer
que solt ei m eu corpo faz m uit o t em po. Agora verão a liberação de m eu corpo, m as eu vi
faz m uit o t em po que o corpo t em cansado e eu sigo exist indo. Agora só cairá o corpo:
eu não posso cair de m aneira nenhum a.”
No m om ent o de sua m ort e, seus am igos viram um a espécie de luz em seus
olhos. fez- se visível um a paz, um a alegria e um resplendor que se deixam ver quando
alguém est á na soleira do out ro m undo. Mas um deve preparar- se para ist o, deve
prat icar um a preparação cont ínua. Quando um a pessoa se prepara plenam ent e, a m ort e
se convert e em um a experiência m aravilhosa. Não exist e out ro fenôm eno t ão valioso
com o est e, pois o que se revela no m om ent o da m ort e não se pode conhecer de
nenhum a out ra m aneira. Ent ão, a m ort e parece um a am iga, pois só quando acont ece a
m ort e, e não ant es, podem os conhecer que som os um organism o vivo.
Recordem : quant o m ais escura é a noit e, m ais brilham as est relas. Quando as
nuvens são escuras, o raio dest aca sobre elas com o um fio de prat a. Do m esm o m odo, o
cent ro m esm o da vida se m anifest a com t oda sua glória quando a m ort e em sua
plenit ude nos rodeia por t oda part e, e não ant es. A m ort e nos rodeia com o a escuridão,
e dent ro dela, o cent ro m esm o da vida, ao que podem os cham ar at m an, a alm a, brilha
com seu esplendor pleno; a escuridão que o rodeia o faz lum inoso. Mas nesse m om ent o
ficam os inconscient es. No m om ent o m esm o da m ort e, que podia ser de out ro m odo o
m om ent o em que conhecêssem os nosso ser, ficam os inconscient es. Por isso, t erem os
que nos preparar para elevar nossa consciência. A m edit ação é essa preparação.
A m edit ação é um experim ent o sobre o m odo em que alguém alcança um a m ort e
gradual, volunt ária. É um experim ent o sobre o m odo em que alguém se t ranslada a seu
int erior e abandona depois o corpo. Se um a pessoa prat icar a m edit ação ao longo da
vida, alcançará a m edit ação t ot al no m om ent o da m ort e.
Quando se produz a m ort e em est ado pleno de consciência, a alm a da pessoa
realiza seu nascim ent o seguint e em est ado pleno de consciência. port ant o, o prim eiro
dia de sua nova vida não é um dia de ignorância, m as sim de conhecim ent o pleno.
I nclusive no vent re de sua m ãe est á plenam ent e conscient e. que m orreu em est ado de
consciência só pode nascer um a vez m ais, porque o que conheceu o que é o nascim ent o,
o que é a m ort e e o que é a vida, alcança o balanço.
Ao que nasceu em est ado de consciência o cham am os avat ara, t irt hankara, Buda,
Jesus, Krishna. E o que dist ingue a est es do rest o de nós é a consciência. Eles est ão
acordados e nós est am os dorm idos. Por t er nascido conscient em ent e, est e se convert e
em sua últ im a viagem sobre a t erra. Têm algo que nós não t em os; t êm algo que eles
procuram incansavelm ent e nos t razer para nós. A diferença ent re os acordados e nós é,
sim plesm ent e, a seguint e: sua últ im a m ort e e o nascim ent o post erior t eve lugar em um
est ado de consciência: por isso vivem t oda sua vida em est ado de consciência.
As gent e do Tíbet prat icam um pequeno experim ent o cham ado “ o Bardo.” É um
experim ent o m uit o valioso que só se realiza no m om ent o da m ort e. Quando alguém est á
a pont o de m orrer, seus conhecidos- se reúnen a seu redor e lhe fazem prat icar o Bardo.
Mas só ao que prat icou a m edit ação durant e t oda sua vida lhe pode fazer seguir o Bardo;
do cont rário, é im possível. No experim ent o do Bardo, assim que m orre a pessoa, lhe
indica do ext erior que deve m ant er- se plenam ent e acordada. Lhe diz que siga
observando o que passa a seguir, pois m uit as vezes passam nesse est ado coisas que a
pessoa que est á m orrendo não é capaz de com preender. Não é fácil ent ender a prim eira
vist a os fenôm enos novos.
Se um a pessoa for capaz de m ant er- se conscient e depois da m ort e, durant e cert o
t em po não saberá que est á m ort a. Só chegará ou sej a com segurança que est á m ort a
quando out ros se levem seu cadáver e se disponham a incinerá- lo na pira funerária;
pois, em realidade, nada m orre dent ro: só se produz um dist anciam ent o. Est e
dist anciam ent o não se conheceu nunca em vida. A experiência é t ão nova que não é
possível com preendê- la por um a definição convencional. A pessoa sent e, sim plesm ent e,
que algo se separou. Mas m orreu algo, e isso só o com preende quando t odos os que a
rodeiam ficam a chorar e a lam ent ar- se, inclinam - se sobre seu cadáver cheios de dor e
se dispõem a levar o cadáver para incinerá- lo.
Se incinerarm os o cadáver t ão logo, é por um m ot ivo. Queim am os ou
incineram os o cadáver assim que podem os para nos assegurar de que o corpo est á
m ort o, de que se reduz a cinzas. Mas a pessoa só pode sabê- lo se t iver m orrido em
est ado conscient e; a pessoa que m orre em est ado inconscient e não pode sabê- lo.
assim , para que a pessoa que prat ica o Bardo vej a queim ar- se seu corpo, lhe indica:
“ Olhe bem com o arde seu corpo. Não fuj a nem t e apart e apressadam ent e. Quando a
gent e se leve seu corpo para incinerá- lo, não deixe de acom panhá- los e de est ar ali
present e. Cont em pla com perfeit a at enção a crem ação de seu corpo, para que a
próxim a vez não t e apegue ao corpo físico.”
Quando vem os que algo se queim a e se reduz a cinzas, nosso apego para isso
desaparece. Nat uralm ent e, out ros verão a crem ação de seu corpo, m as se vós a vêem
t am bém , perderão t odo apego para ele. Norm alm ent e, em novecent os e novent a e nove
casos de cada m il, a pessoa est á inconscient e no m om ent o da m ort e: não t em nenhum
conhecim ent o dela. No caso rest ant e, de cada m il no que est á conscient e, evit a ver
com o se queim a seu corpo; foge do lugar da crem ação. Por isso, no Bardo lhe diz:
“ Olhe: não t e perca a oport unidade. Observa a crem ação de seu corpo; cont em pla a de
um a vez por t odas. Olhe com o se dest rói por com plet o aquilo com o que est ivest e
ident ificado seu eu. Olhe com o se reduz com plet am ent e a cinzas, para que em seu
próxim o nascim ent o recorde quem é.”
Assim que a pessoa m orre, ent ra em um m undo novo do que não sabem os nada.
Esse m undo pode nos parecer t em ível e t errorífico porque não é sem elhant e nem dist int o
de nenhum a de nossas vivencias. Em realidade, não t em relação algum a com a vida na
Terra. Enfrent ar- se a est e m undo novo é m ais t em ível que o que t eria que passar um
hom em que se encont rasse em um país desconhecido, onde não conhecesse ninguém ,
nem ent endesse a língua nem os cost um es. Evident em ent e, sent irá- se m uit o pert urbado
e confuso.
O m undo no que vivem os é um m undo de corpos físicos. Quando deixam os est e
m undo com eça o m undo im at erial, um m undo que não conhecem os nunca. E est e
m undo pode nos dar m edo, porque é diferent e de qualquer de nossas vivencias. Em
nosso m undo, por est ranho que sej a o lugar onde est ej am os, por diferent es que sej am
de nós os habit ant es e seus m odos de vida, sem pre exist irá um vínculo ent re eles e nós:
é um m undo de seres hum anos. Ent rar no m undo dos espírit os im at eriais pode ser um a
experiência incrivelm ent e t errorífica.
Norm alm ent e, passam o- la em um est ado inconscient e, pelo qual não a
advert im os. Mas o que acont ece ela em est ado conscient e sofre grandes dificuldades.
Por isso, no Bardo se t ent a explicar à pessoa que t ipo de m undo será, o que passará ali,
com que seres se encont rará. Só os que prat icaram a m edit ação profunda podem ser
guiados ao longo dest e experim ent o; de out ro m odo, é im possível.
Ult im am ent e t ive freqüent em ent e a im pressão de que podem os realizar o
experim ent o do Bardo, em um a m aneira ou out ra, com nossos am igos que prat icam a
m edit ação. Mas ist o só é possível quando ent raram na m edit ação profunda; do cont rário,
nem sequer seriam capazes de ouvir o que lhes diz. Não seriam capazes de ouvir o que
lhes diz no m om ent o da m ort e, nem de seguir o que lhes explica. Para seguir o que se
diz se necessit a um a m ent e m uit o silenciosa e m uit o vazia. Quando a consciência
com eça a desvanecer- se e a desaparecer, e quando com eçam a desat ar- se t odos os
vínculos t errest res, só um a m ent e m uit o silenciosa é capaz de ouvir as m ensagens que
se t ransm it em desde est e m undo; se não ser m uit o silenciosa, não será capaz de ouvi-
los.
Recordá- lo: ist o só se pode fazer com respeit o à m ort e; nada pode fazer- se com
respeit o ao nascim ent o. Mas algo que façam os com respeit o à m ort e afet ará t am bém ,
em conseqüência, a nosso nascim ent o. Nascem os no m esm o est ado em que m orrem os.
que despert ou escolhe livrem ent e um vent re. I st o dem onst ra que nunca escolhe
nada cega e inconscient em ent e. Escolhe a seus pais, do m esm o m odo que o hom em rico
escolhe a casa onde vive. O pobre não pode escolher casa a seu gost o. Necessit am os
de cert a capacidade para poder escolher. Necessit am os de cert a capacidade para
com prar um a casa. O pobre nunca escolhe sua casa. Poderíam os dizer; em realidade,
que a casa escolhe ao pobre: um a casa pobre escolhe a um inquilino pobre. O m ilionário
decide onde quer residir, com o t em que ser o j ardim , onde t êm que est ar sit uadas as
port as as j anelas, se a luz do sol t iver que ent rar pelo est e ou pelo oest e, com o deve
est ar dispost a a vent ilação, que am plit ude t em que t er a casa… o decide t udo.
que despert ou escolhe um vent re para si m esm o: essa é sua decisão. Os
personagens com o Mahavira ou Buda não nascem em qualquer part e nem em qualquer
m om ent o. Nascem depois de considerar t odas as possibilidades: com o será o corpo e
que pais o conceberão; com o será a energia e o que poder t erá est a; de que facilidades
disporá. Nascem depois de est udar t udo ist o. Têm claro o que t êm que escolher, onde
devem ir. Desde dia em que nascem vivem a vida que escolheram .
A alegria de viver um a vida escolhida pela gent e m esm o é com plet am ent e
diferent e, pois a liberdade com eça por t er um a vida escolhida por nós m esm os. Não
pode haver um a alegria do m esm o t ipo em um a vida que nos ent rega, pois ent ão se
convert e em servidão. Nest es casos, sim plesm ent e som os em purrados à vida, e ent ão o
que acont eça, acont ece: a pessoa não influi para nada a respeit o.
Se se fizer possível t al despert ar, ent ão se pode fazer, decididam ent e, essa
eleição. Se o nascim ent o m esm o acont ecer por nossa eleição, ent ão podem os viver o
rest o de nossas vidas a nossa eleição. assim , podem os viver com o um j ivan- m ukt a. que
m orre em est ado acordado nasce em est ado acordado, e ent ão vive sua vida em est ado
de liberação.
Ouvim os com freqüência a palavra “ j ivan- m ukt a” , em bora possivelm ent e não
saibam os o que quer dizer: “ Jivan- m ukt a” é o que nasce em est ado acordado: só essa
pessoa pode ser um j ivan- m ukt a. A pessoa que não o é pode t rabalhar t oda sua vida por
conseguir a liberação, m as só pode alcançar a liberação em sua vida seguint e: não será
livre nest a vida. Para ser j ivan- m ukt a nest a vida, a pessoa deve dispor da liberdade de
escolher desde dia m esm o de seu nascim ent o. E ist o só é possível quando a pessoa
alcançou a consciência plena no m om ent o da m ort e ao final de sua vida ant erior.
Mas ist o não é o que nos ocupa de m om ent o. A vida est á aqui; ainda não chegou
a m ort e, de m om ent o. Tem que chegar com segurança: nada é m ais seguro que a
m ort e. Podem os duvidar de out ras coisas, m as não cabe dúvida algum a com respeit o à
m ort e. Algum as pessoas duvidam de Deus; out ras duvidam da alm a, m as j am ais t erão
conhecido a ninguém que duvide da m ort e. É inevit ável; t em que vir com t oda
segurança; j á est á em cam inho. aproxim a- se m ais e m ais a cada inst ant e. Podem os
aproveit ar os m om ent os que ficam ant es da m ort e para despert ar. A m edit ação é um a
t écnica que conduz a esse fim . Nest es t rês dias t ent arei lhes aj udar a com preender que
a m edit ação é a t écnica que conduz a esse m esm o despert ar.
Um am igo pergunt ou: Que relação há ent re a m edit ação e o j at i- sm aran, a
lem brança das vidas ant eriores?

“J
ATI - SMARAN” SI GNI FI CA: “ O m ét odo para recordar as vist as ant eriores.” É um a
m aneira de recordar nossos est oque passadas. É um a form a de m edit ação. É um a
aplicação concret a da m edit ação. Por exem plo, alguém poderia nos pergunt ar: “ No que
se diferencia um rio de um canal?” Responderíam o- lhe que o canal é um a aplicação
concret a do rio: bem planej ado, cont rolado e sist em at izado. O rio é caót ico,
incont rolado. Tam bém chegará a algum a part e, m as seu dest ino é incert o. O dest ino do
canal est á garant ido.
A m edit ação é com o um rio grande; chegará ao m ar; é seguro que t em que
chegar ao m ar. A m edit ação com t oda segurança lhes levará at é Deus. Mas t am bém
exist em out ras aplicações int erm édias da m edit ação. Est as aplicações int erm édias
podem levar- se, com o pequenos afluent es, aos canais da m edit ação. O j at i- sm aran é
um dest es m ét odos auxiliares de m edit ação. Tam bém podem os canalizar o poder da
m edit ação para nossas vidas ant eriores; a m edit ação não é m ais que cent rar a at enção.
Podem exist ir aplicações nas que alguém cent ra sua at enção sobre um obj et o dado, e
um a dest as aplicações é o j at i- sm aran: cent rar- se nas lem branças, em est ado lat ent e,
das vidas ant eriores.
Recordem : as lem branças não se apagam j am ais; um a lem brança sem pre fica em
est ado lat ent e, ou sai à luz. Mas a lem brança em est ado lat ent e parece apagado. Se eu
lhes pergunt ar o que fizeram em 1° de j aneiro do an o 1950, não serão capazes de m e
responder. I sso não quer dizer que não t enham feit o nada nesse dia. Mas, de repent e,
nos prim eiro dia de j aneiro de 1950 parece um vazio t ot al. Não pôde est ar vazio: est eve
cheio de at ividade. Mas hoj e parece um vazio. Do m esm o m odo, o dia de hoj e se
convert erá t am bém em um vazio m anhã. dent ro de dez anos não ficará nenhum rast ro
do dia de hoj e.
assim , não é que nos prim eiro dia de j aneiro de 1950 não t enha exist ido, nem que
vós não exist ierais aquele dia: o que quero dar a ent ender é que, dado que são
incapazes de recordar aquele dia, com o podem acredit ar que exist iu verdadeiram ent e?
Mas sim exist iu, e há um a m aneira se soubesse. A m edit ação t am bém pode cent rar- se
nessa direção. Descobrirão com surpresa que assim que a luz da m edit ação recaia sobre
esse dia, est e lhes parecerá m ais vivo que nunca.
I m aginem , por exem plo, que um a pessoa est á em um quart o escuro dirigindo de
um lado a out ro a luz de um foco. Quando dirige a luz para a esquerda, a part e direit a
fica às escuras, m as não desaparece nada à direit a. Quando dirige a luz para a direit a, a
part e direit a cobra vida de novo, m as a part e esquerda fica ocult a na escuridão.
A m edit ação t em um cent ro de enfoque, e se querem os canalizá- la em um a
direção concret a devem os ut ilizá- la com o um foco. Mas se querem os dirigir a m edit ação
para o divino, ent ão devem os aplicar a m edit ação com o um abaj ur. Procurem ent ender
bem ist o.
O abaj ur não t em cent ro de enfoque próprio: não est á enfocada. O abaj ur se
lim it a a arroj ar um a luz que se difunde a seu redor. Ao abaj ur não int eressa ilum inar em
um a direção ou em out ra: t udo o que caia dent ro do rádio de sua luz se ilum ina. Mas
um foco é com o um abaj ur enfocado.
Com o foco dispom os de t oda a luz para dirigi- la em um a direção det erm inada.
assim , é possível que com um abaj ur os obj et os se façam visíveis m as difusos, e que
para vê- los claram ent e t enham que concent rar t oda a luz em um só pont o; convert e- se
em um foco. Ent ão o obj et o se volt a claram ent e visível, m as out ros obj et os se perdem
de vist a. Na prát ica, se um a pessoa quer ver claram ent e um obj et o, t erá que enfocar
sua m edit ação t ot al em um a só direção e deixar às escuras o rest o.
que queira conhecer diret am ent e a verdade da vida desenvolverá sua m edit ação
com o um abaj ur: esse será seu propósit o único. E, em realidade, o único propósit o do
abaj ur é ver- se a gent e m esm o; bast a com que brilhe o bast ant e para ist o, e não faz
falt a nada m ais. Mas se devem os dar um a aplicação especial ao abaj ur, t al com o
recordar as vist as passadas, ent ão será preciso canalizar a m edit ação em um a direção
det erm inada.
vou com part ilhar com vós duas ou t rês indicações sobre o m odo de canalizar a
m edit ação nessa direção. Não lhes darei t odas as indicações porque o m ais provável é
que a m uit o poucos de lhes int eresse as aplicar, e se a algum int eressa pode falar
pessoalm ent e com igo. Cit arei, pois, duas ou t rês indicações que em realidade não lhes
perm it irão experim ent ar com a lem brança das vidas ant eriores, m as que lhes darão
cert as noções. Não o expor t udo porque não é recom endável para t odos experim ent ar
com est a idéia. Por out ra part e, est e experim ent o pode lhes pôr em perigo em m uit os
casos.
vou cont ar lhes um incident e para que fique claro o que lhes digo. Um a
professora est eve prat icando a m edit ação com igo durant e dois ou t rês anos. Ela insist ia
m uit o em experim ent ar com o j at i- sm aran, em conhecer sua vida ant erior. Eu a aj udei a
realizar o experim ent o; m as t am bém lhe advert i de que seria m elhor que não o
realizasse at é que não t ivesse desenvolvido plenam ent e sua m edit ação, do cont rário
podia ser perigoso.
As lem branças de um a só vida j á são difíceis de suport ar por si só. Se as
lem branças das t rês ou quat ro vist as ant eriores salvam a barreira e alagam à pessoa,
est a pode volt ar- se louca. Por isso, a nat ureza dispôs as coisas de t al m aneira que
sem pre esquecem os o passado. A nat ureza nos há provido da capacidade de esquecer
m ais do que recordam os, para que nossa m ent e não t enha um a carga m aior da que pode
suport ar. A carga m aior só se pode suport ar quando aum ent ou a capacidade de nossa
m ent e, e se o peso dest as lem branças recai sobre nós ant es de t er aum ent ado est a
capacidade, ent ão com eçam os problem as. Mas ela insist ia. Não t inha em cont a m eus
conselhos e em preendeu o experim ent o.
Quando a invadiu por fim a inundação das lem branças de sua vida ant erior, veio
correndo a ver- m e por volt a das duas da m adrugada. Parecia um a confusão; est ava
m uit o angust iada. Disse- m e: “ I st o t em que parar de algum j eit o. Não quero ver nunca
esse aspect o das coisas.” Mas não é t ão fácil det er a m aré das lem branças quando se
t ransbordou. Em m uit o difícil fechar a port a quando a at iraram abaixo: a port a não só se
abre, m as t am bém se rom pe. Aquilo durou uns quinze dias: só ao cabo desse t em po
cessou a quebra de onda de lem branças. Qual era o problem a?
Aquela senhora est ava acost um ada afirm ar que era m uit o piedosa, que era um a
m ulher de virt ude im pecável. Quando se encont rou com a lem brança de sua vida
ant erior, em que t inha sido um a prost it ut a, e quando com eçaram a sair à luz as cenas de
sua prost it uição, t odo seu ser se est rem eceu. Toda sua m oralidade sobre sua vida
present e se t ranst ornou.
Nas revelações dest e t ipo, não é com o se as visões pert encessem a out ro: a
m esm a m ulher que passava por cast a se via si m esm o com o um a prost it ut a. Est á
acost um ado a acont ecer que as pessoas que se prost it uíram em um a vida ant erior se
volt am profundam ent e virt uosas na vida seguint e: é um a reação ant e o sofrim ent o da
vida ant erior. É a lem brança da dor e do dano da vida ant erior o que a convert e em um a
m ulher m uit o cast a.
Est á acost um ado a acont ecer que as pessoas que foram pecadores em vist as
ant eriores se volt am religiosas nest a vida. Por isso, exist e um a relação bast ant e
profunda ent re os pecadores e os religiosos. Est á acost um ado a produzir um a reação
dest e t ipo, e isso se deve a que o que chegam os a conhecer nos faz m al e, por isso,
passam o- nos ao ext rem o opost o.
O pêndulo de nossa m ent e não deixa de m over- se para o lado opost o. Assim que
o pêndulo chega à esquerda oscila de novo para a direit a. Logo que há m eio doido a
direit a quando volt a a oscilar para a esquerda. Quando virem que o pêndulo de um
relógio se m ove para a esquerda, não duvidem de que est á aprovisionando a energia
suficient e para volt ar a dirigir- se para a direit a: chegará a deslocar- se para a direit a
t ant o com o se deslocou para a esquerda. Do m esm o m odo est á acost um ado a acont ecer
na vida: a pessoa virt uosa se convert e em pecadora, e o pecador se volt a virt uoso.
I st o é m uit o corrent e: est á oscilações se produzem nas vidas de t odos. Não criam
que é regra geral que o que chegou à sant idade nest a vida deveu que ser t am bém um
sant o em sua vida ant erior. Não necessariam ent e é assim . O que se cum pre
necessariam ent e é exat am ent e o cont rário: est á carregado da dor do que t eve que
acont ecer sua vida ant erior e girou no sent ido opost o.
ouvi cont ar o seguint e:

Ou
NA VEZ VI VI A UM RELI GI OSO ant e a casa de um a prost it ut a. Am bos m orreram o
m esm o dia. Mas a alm a da prost it ut a t inha que subir ao céu, e a do religioso t inha que
baixar ao inferno. Os em issários que t inham chegado para levar os est avam m uit o
desconcert ados. Não deixavam de pergunt ar- se: “ O que passou? É um engano? por
que devem os levar a religioso ao inferno? Não era um religioso?
O m ais sábio deles disse: “ Era um religioso, em efeit o, m as invej ava à prost it ut a.
Sem pre pensava nas fest as que organizava em sua casa e nos prazeres que se
desfrut avam ali. As not as da m úsica que chegavam at é sua casa o afet avam no m ais
fundo. Nenhum adm irador da prost it ut a que a cont em plasse sent ado ant e ela se
com ovia t ant o com o ele, que escut ava os sons que saíam da casa dela, as not as das
cascavéis que ela ficava nos t ornozelos para dançar. Toda sua at enção est ava cent rada
naquele lugar. Mesm o que adorava a Deus, t inha at ent os os ouvidos aos sons que saíam
de casa dela.
“ E a prost it ut a? Enquant o adoecia no poço da desgraça, sem pre se pergunt ava
pelas bem - avent uranças desconhecidas em que vivia o religioso. Quando o via
carregado de flores para o cult o da m anhã, ela se pergunt ava: “ Quando serei digna de
levar flores para o cult o do t em plo? Sou t ão im pura que logo que t enho valor para
ent rar sequer no t em plo.” A fum aça do incenso, o brilho dos abaj ures, os sons do cult o,
arrebat avam à prost it ut a e a faziam cair em um a espécie de m edit ação, pelo que não era
capaz o religioso. A prost it ut a sem pre sonhava com a vida do religioso, e o religioso
sem pre desej ava os prazeres da prost it ut a.”

S
US I NTERESSE E SUAS ATI TUDES, t ão diferent e, t ão opost os ent re si, t inham t rocado
por com plet o. I st o est á acost um ado a acont ecer; e est es fat os seguem cert as leis.
assim , quando a aquela professora chegou a lem brança de sua vida ant erior,
doeu- lhe m uit o. Doeu- lhe porque lhe dest roçou seu am or próprio. O que soube de sua
vida ant erior a est rem eceu, e depois queria esquecê- lo. Eu j á lhe t inha advert ido de
ant em ão que não devia recordar sua vida ant erior sem preparar- se a fundo.
Com o m e pergunt ast es isso, darei- lhes algum as noções básicas para que possam
com preender o significado do j at i- sm aran. Mas não lhes servirão para experim ent ar com
isso. Os que queiram experim ent ar t erão que est udá- lo por sua cont a.
A prim eira noção é que o propósit o do j at i- sm aran é, sim plesm ent e, conhecer a
vida ant erior de um ; para isso, devem os apart ar nossa m ent e do fut uro. Nossa m ent e
est á orient ada ao fut uro e não ao passado. Norm alm ent e, nossa m ent e est á cent rada no
fut uro; desagrade- se para o fut uro. A corrent e de nossos pensam ent os est á orient ada
para o fut uro, e se nossa m ent e est á orient ada para o fut uro e não para o passado é pelo
bem da vida. por que preocupar do passado? foi; acabou- se; e o que nos int eressa é o
que t em que vir. Por isso pergunt am os const ant em ent e aos ast rólogos o que nos
reserva o fut uro. I nt eressa- nos descobrir o que vai passar no fut uro. que quer recordar
o passado t em que renunciar, por com plet o, a t odo int eresse pelo fut uro. Pois assim que
o foco da m ent e se cent ra no fut uro, assim que a corrent e dos pensam ent os com eçou a
dirigir- se para o fut uro, j á não é possível fazê- la volt ar para o passado.
assim , o prim eiro que t erá que fazer é rom per por com plet o com o fut uro durant e
alguns m eses, durant e um período de t em po det erm inado. A pessoa t em que decidir- se
a não pensar no fut uro durant e seis m eses. Se lhe apresent a um pensam ent o
relacionado com o fut uro, lim it ará- se a saudá- lo e a solt á- lo; não se ident ificará com
nenhum a idéia de fut uro nem se deixará levar por ela. O prim eiro é, pois, pensar
durant e seis m eses que não há fut uro e fluir para o passado. E assim , assim que se
solt a o fut uro, a corrent e dos pensam ent os flui para o passado.
Para com eçar t em que ret roceder nest a vida; não é possível ret ornar em seguida
a um a vida ant erior. E exist em t écnicas para ret roceder nest a vida. Por exem plo, com o
pinj ent e ant es, não recordam o que fizeram - nos dia 1° de j aneiro de 1950.
Exist e um a t écnica para descobri- lo. Se ent rarem na m edit ação que lhes indiquei,
ao cabo de dez m inut os ( quando a m edit ação se feit o m ais profunda, quando o corpo
est ej a depravado, a respiração est ej a relaxada, a m ent e est ej a t ranqüila) , ent ão deixem
que o único que fique na m ent e sej a a pergunt a: “ O que acont eceu 1° de j aneiro de
1950?” Deixem que t oda sua m ent e se cent re nisso. Se essa for a única not a que
ressona em sua m ent e, ao cabo de vários dias verão de repent e que se levant a um pano
de fundo: aparece- nos prim eiro dia de j aneiro, e com eçam a viver de novo t odos e cada
um dos fat os daquele dia, da saída do sol at é a noit e. E verão em prim eiro de j aneiro
com m uit o m ais det alhe de que puderam ver realm ent e naquele dia concret o, porque
aquele dia possivelm ent e não est avam t ão conscient es. De m odo que devem com eçar
por fazer experim ent os de regressão nest a vida at ual.
É m uit o fácil fazer regressões at é a idade de cinco anos; volt a- se m uit o difícil
chegar ant es dest a idade. E, em geral, não podem os recordar o que acont eceu ant es
dos cinco anos de idade; é o lim it e m áxim o que podem os alcançar. Algum as pessoas
podem recordar at é seu t erceiro ano de vida. Mas m ais à frent e se volt a ext rem am ent e
difícil: levant a- se com o um a barreira ant e a ent rada e t odo se bloqueia. A pessoa que
adquire a capacidade de evocar será capaz de despert ar plenam ent e a lem brança de
qualquer dia a part ir de seus cinco anos de idade. A lem brança com eça a reviver por
com plet o.
Depois, t erá que pô- lo a prova. Por exem plo, anot em em um papel os fat os de
hoj e e guardem sob chave. Vos anos m ais t arde, recordem o dia; leiam a not a e
com parem com ela sua lem brança. Descobrirão com assom bro que fost es capazes de
evocar m ais coisas das que t inha cot ado no papel. Os sucessos volt arão para sua
m em ória com t oda segurança.
O Buda cham ou a ist o alaya- vigyan. Há um rincão de nossas m ent es ao que o
Buda cham ou alaya- vigyan. “ Alaya- vigyan” significa “ o arm azém da consciência” . Assim
com o nós guardam os t odos nossos t rast es no porão da casa, exist e um arm azém da
consciência onde se recolhem as lem branças. Tudo se guarda nele, nascim ent o det rás
nascim ent o. Nada se ret ira nunca dali, porque o hom em não sabe nunca quando pode
necessit ar essas coisas. O corpo físico t roca, m as em nossa exist ência cont inuada esse
arm azém segue exist indo, segue conosco. Nunca sabem os quando podem os necessit á-
lo. E sej a o que sej a o que t enham os feit o em nossas vidas, o que t enham os vist o,
conhecido, vivido, t odo isso se arm azena ali.
Ele que é capaz de recordar at é a idade de cinco anos pode chegar além de t al
idade: não é m uit o difícil. A nat ureza do experim ent o será a m esm a. além dos cinco
anos há out ra port a que lhes conduzirá at é o pont o de seu nascim ent o, at é o m om ent o
em que apareceram sobre a Terra. Ent ão nos encont ram os com out ra dificuldade,
porque as lem branças de nossa est adia no vent re m at erno t am pouco desaparecem
nunca. Podem os nos int roduzir t am bém nest as lem branças, chegando at é o inst ant e da
concepção, at é o m om ent o em que se unem os gens da m ãe e do pai e ent ra a alm a. O
hom em só pode ent rar em suas vidas ant eriores depois de t er chegado a est e pont o; não
é capaz de ent rar nelas diret am ent e. Devem os realizar t oda est a viagem de volt a: só
ent ão é possível passar t am bém à vida ant erior.
depois de t er ent rado na vida ant erior, a prim eira lem brança que nos chegue será
do últ im o sucesso que t eve lugar naquela vida. Recordem , não obst ant e, que ist o
provocará cert as dificuldades e que não t erá m uit o sent ido. É com o se proj et am os um
film e part e at rás ou com o se lem os um a novela com eçando pela últ im a página: sent im o-
nos perdidos. Nossa prim eira ent rada em nossa vida ant erior, confundirá- nos, porque a
seqüência dos fat os est ará em ordem inversa.
Quando volt arem a sua vida ant erior, encont rarão- lhes em prim eiro lugar com a
m ort e; depois, com a vexe, com a j uvent ude, com a infância, e, por últ im o, com o
nascim ent o. Est ará em ordem inversa, e nessa ordem lhes result ará m uit o difícil
ent ender as coisas. assim , quando sair à luz a lem brança pela prim eira vez lhes sent irão
t rem endam ent e inquiet os e agit ados, porque é difícil ent ender as coisas; é com o se
vissem um film e ou com o se lessem um a novela ao reverso. Possivelm ent e só sej am
capazes de desent ranhar um fat o depois de reordená- lo várias vezes. De m odo que o
m aior esforço que t erá que realizar ao volt ar para as lem branças de nossa vida ant erior é
o de ver em ordem inversa uns fat os que norm alm ent e t ranscorrem em ordem norm al.
Mas, ao fim e ao cabo, qual é a ordem norm al, e qual é o inverso? É sim plesm ent e um a
quest ão de com o ent ram os no m undo e de com o saím os dele.
Ao princípio sem eam os um a sem ent e, e a flor aparece ao final. Mas se
observarm os est e fenôm eno ao reverso viria em prim eiro lugar a flor, seguida do casulo,
da plant a, das folhas e do brot o, e o últ im o seria a sem ent e. Com o não t em os um
conhecim ent o prévio dest a ordem inversa, necessit am os m uit o t em po para reordenar
coherent em ent e as lem branças e para det erm inar claram ent e a nat ureza dos fat os. O
m ais est ranho é que virá em prim eiro lugar a m ort e, seguida da velhice e da
enferm idade, e depois virá a j uvent ude: as coisas acont ecerão em ordem inversa. Ou,
se lhes casaram e lhes divorciaram , quando repassarem o baú das lem branças verão em
prim eiro lugar o divórcio, seguido do am or e, depois, do m at rim ônio.
Será ext rem am ent e difícil seguir os sucessos dest a m aneira regressiva, porque
norm alm ent e com preendem os as coisas de um a m aneira unidim ensional. Nossas
m ent es são unidim ensionales. É m uit o difícil ver as coisas na ordem cont rária: não
est am os acost um ados a t al experiência; est am os acost um ados a nos m over de m aneira
linear. Fazendo um esforço, não obst ant e, podem os com preender os sucessos de um a
vida passada seguindo, secuencialm ent e, a ordem inversa. Sem dúvida, será um a
experiência incrível.
Repassar as lem branças seguindo est a ordem inversa será um a experiência
surpreendent e, porque ao ver em prim eiro lugar o divórcio, depois o am or e depois o
m at rim ônio ficará claro im ediat am ent e que o divórcio era inevit ável: o divórcio era
inerent e ao t ipo de am or que se produziu: o divórcio era o único result ado possível do
m at rim ônio que t eve lugar. Mas no m om ent o daquele m at rim ônio da vida ant erior não
t ínham os a m enor ideia de que acabaria em divórcio; e o divórcio foi conseqüência desse
m at rim ônio. Se víssem os t udo ist o em sua int egridade, ent ão o am or de hoj e seria algo
com plet am ent e diferent e, porque agora poderíam os ver de ant em ão o divórcio que t inha
aparelhado; agora poderíam os ver a inim izade que se m ora, ant es inclusive de
est abelecer a am izade.
A lem brança da vida ant erior dará a volt a por com plet o a nossa vida at ual, porque
j á não serão capazes de viver com o viveram em sua vida ant erior. Em sua vida ant erior
t inha a opinião ( e inclusive agora persist e essa opinião) de que o êxit o e a felicidade
grande se conseguiam a apóie de lavrar um a fort una. O que verão prim eiro em sua vida
ant erior será sua est ado de infelicidade, ant es de que vej am com o ganharam essa
fort una. Assim verão claram ent e que o fat o de ganhar um a fort una, em lugar de ser
um a font e de felicidade, conduziu- lhes em realidade à infelicidade; e verão que a
am izade lhes conduziu à inim izade; que o que t om avam por am or se convert eu em ódio,
e que o que acredit ava que era um a união se convert eu em separação. Ent ão verão pela
prim eira vez as coisas em sua perspect iva corret a, com seu t rascendencia com plet a. E
est as conseqüências t rocarão sua vida, t rocarão por com plet o o m odo em que vivem
agora. Será um a sit uação com plet am ent e diferent e.

H
E OUVI DO CONTAR QUE UM HOMEM foi visit ar um m onge e lhe disse:
- Agradeceria- lhe m uit o que m e aceit asse com o discípulo.
O m onge se negou. O hom em lhe pergunt ou por que não queria t om á- lo com o discípulo.
O m onge respondeu:
- Em m eu nascim ent o ant erior t ive discípulos que se convert eram m ais t arde em
inim igos m eus. Vi- o t udo, e agora sei que t er discípulos é ganhar inim igo, que fazer
am igos é sem ear as sem ent es da inim izade. Agora não quero ganhar inim igos, para o
qual não t enho nenhum am igo. Sei que bast a est ando sozinho. nos aproxim ar de um a
pessoa equivale, em cert o m odo, a afast ar a de nós.

E
L BUDA HÁ DI TO QUE O ENCONTRO com o que nos agrada produz alegria, e que a
despedida do que não nos agrada t am bém produz alegria; que a despedida do ser
querido que nos am am os produz dor; e que o encont ro com o ser não querido t am bém
nos produz dor. Assim se acredit ava e assim se ent endia. Mas m ais t arde chegam os a
com preender que aquele ao que cham am os o ser querido pode convert er- se no ser não
querido, e que aquele ao que considerávam os o ser não querido pode convert er- se no
ser querido. Assim , com a evocação das lem branças passadas, as sit uações exist ent es
t rocarão radicalm ent e; verão- se de um pont o de vist a com plet am ent e diferent e.
Est as evocações são possíveis, em bora não são nem necessárias nem inevit áveis;
e em algum as ocasione est as lem branças t am bém podem aparecer de im proviso quando
prat icam os a m edit ação. Se as lem branças das vidas passadas chegam a apresent ar- se
de repent e ( sem est ar prat icando nenhum experim ent o; sim plesm ent e, em sua
m edit ação norm al) , não lhes int eressem m uit o por eles. lhes lim it e a olhá- los, a ser
t est em unha deles; pois, norm alm ent e, a m ent e é incapaz de suport ar de repent e um a
t urbulência t ão grande. Se a gent e t ent a agüent á- la, corre o claro perigo de volt ar- se
louco.
Um a vez m e t rouxeram para um a m enina que t inha uns onze anos e que,
inesperadam ent e, t inha recordado t rês de suas vidas ant eriores. Não t inha experient e
com nada: m as às vezes se produzem enganos. Est e foi um engano por part e da
nat ureza, e não um a bênção que est a out orgasse à m enina: de algum m odo, a nat ureza
se equivocou em seu caso. É com o se alguém t ivesse t rês olhos ou quat ro braços: é um
engano. Quat ro braços seriam m uit o m ais fracos que dois braços; quat ro braços não
poderiam funcionar t ão bem com o dois. O corpo com quat ro braços seria m ais débil, não
m ais fort e.
De m odo que a m enina, de onze anos, recordava t rês vist as ant eriores, e seu
caso se est udou m uit o. Em sua últ im a vida ant erior t inha vivido a uns cent o e t rint a
quilôm et ros de onde eu vivo agora, e naquela vida t inha m orrido aos sessent a anos de
idade. As pessoas com as que viveu ent ão vivem agora em m inha cidade, e ela os
reconhecia a t odos. Ent re um a m ult idão de m ilhares de pessoas foi capaz de reconhecer
a seus ant igos parent es: a seu próprio irm ão, a suas filhas, a seus net os, a suas filhas e
a seus genros. Foi capaz de reconhecer a seus parent es longínquos e a cont ar m uit as
coisas deles que eles m esm os t inham esquecido.
Seu irm ão m aior vive ainda. Tem na frent e a cicat riz de um a ferida pequena. Eu
pergunt ei à m enina se sabia algo a respeit o daquela cicat riz. A m enina riu e disse: “ Nem
sequer m eu irm ão sabe. Que ele t e diga quando e com o se fez aquela ferida.” O irm ão
não era capaz de recordar quando se feit o a ferida. Disse que não t inha a m enor ideia.
A m enina disse: “ O dia de suas bodas, m eu irm ão caiu do cavalo do cort ej o
nupcial. Tinha ent ão dez anos.” Os anciões do povo confirm aram o relat o, pois
recordavam que, em efeit o, o irm ão se cansado do cavalo. E o hom em não recordava
aquele sucesso. A m enina m ost rou t am bém um t esouro que t inha ent errado na casa em
que t inha vivido em sua vida ant erior.
Naquela vida ant erior t inha m orrido aos sessent a anos de idade, e na vida
ant erior a aquela t inha nascido em um povo da região do Assam . Naquela vida t inha
m orrido aos set e anos. Não sabia o nom e do povo nem sua direção, m as conhecia a
língua do Assam , t al com o a podia falar um a m enina de set e anos. Tam bém sabia
dançar e cant ar com o um a m enina de set e anos. fizeram - se m uit as pesquisas, m as não
foi possível localizar a que foi sua fam ília naquela vida.
A m enina t em um a experiência vit al de um t ot al de sessent a e set e anos, além de
seus onze anos nest a vida. Tem os olhos de um a m ulher de sessent a e cinco a set ent a e
oit o anos, em bora em realidade só t em onze anos. Não pode j ogar com as m eninas de
sua idade, porque se sent e m uit o velha. Leva consigo as lem branças de set ent a e oit o
anos; vá a si m esm o com o um a m ulher de set ent a e oit o anos. Não pode ir à escola
porque, apesar de que t em onze anos, parece- lhe que o professor poderia ser seu filho.
assim , em bora seu corpo só t em onze anos, sua m ent e e sua personalidade são os de
um a m ulher de set ent a e oit o anos. Não é capaz de j ogar nem de divert ir- se com o
fazem as m eninas; só lhe int eressam as coisas sérias das que revist am falar as anciãs.
Sofre m uit o; est á cheia de t ensão. Seu corpo e sua m ent e não est ão em harm onia.
acha- se em um a sit uação m uit o t rist e e dolorosa.
Eu recom endei a seus pais que m e t rouxessem para a m enina e que m e
perm it issem aj udá- la a esqueçam as lem branças de suas vidas ant eriores. Assim com o
exist e um m ét odo para recuperar as lem branças, t am bém exist e um a m aneira de
esquecê- los. Mas t odo aquele assunt o encant ava a seus pais! Acudiam m ult idões a ver
a m enina; com eçavam a venerá- la. Aos pais não int eressava que ela se esquecesse do
passado. Advert i- lhes que a m enina se volt aria louca, m as eles não fizeram cont a. Hoj e
est á ao bordo da loucura, pois não é capaz de suport ar a carga de t ant as lem branças.
Out ro problem a é que não há m aneira de casá- la. Result a- lhe difícil pensar em casar- se
quando, em realidade, sent e- se com o um a anciã de set ent a e oit o anos. Nela não há
harm onia de nenhum a classe: seu corpo é j ovem , m as sua m ent e é velha. É um a
sit uação m uit o difícil.
Mas ist o foi um acident e. Tam bém vós podem at ravessar est a front eira com um
experim ent o. Mas não é necessário viaj ar nest a direção, em bora os que o desej em
podem experim ent ar. Mas ant es de passar ao experim ent o é essencial que prat iquem a
m edit ação profunda para que suas m ent es possam volt ar- se t ão silenciosas e t ão fort es
que, quando as alagar a m aré das lem branças, possam aceit á- los com o sim ples
t est em unhas. Quando um a pessoa é capaz de presenciar as coisas com o um a sim ples
t est em unha, suas vidas ant eriores não lhe parecem m ais que sonhos. Ent ão não o
at orm ent am as lem branças: não significam para ele nada m ais que os sonhos.
Quando a gent e consegue evocar as vist as ant eriores e lhe com eçam a parecer
com o sonhos, t am bém sua vida at ual com eça a lhe parecer im ediat am ent e um sonho.
Os que cham aram m aia a est e m undo não o t êm feit o sim plesm ent e para defender um a
dout rina filosófica. det rás disso se encont ra o j at i- sm aran, a lem brança das vidas
ant eriores. Para o que recordou suas vidas ant eriores, t udo se convert eu de repent e em
um sonho, em um a ilusão. Onde est ão seus am igos das vidas ant eriores? Onde est ão
seus parent es, sua m ulher e seus filhos, as casas nas que viveu? Onde est á aquele
m undo? Onde est á t udo o que lhe parecia t ão real? Onde est ão aquelas preocupações
que lhe t iravam o sonho? Onde est ão aqueles dores e sofrim ent os que lhe pareciam t ão
insuperáveis, que levava com o um peso às cost as? E o que foi da felicidade que
desej ava? O que foi de t odo aquilo pelo que t rabalhou e pelo que se esforçou? Se forem
capazes de recordar sua vida ant erior, e se viveram set ent a anos, o que vissem nesses
set ent a anos lhes pareceria um sonho, ou um a realidade? Na verdade, pareceria- lhes
um sonho que veio e se m urchou.
ouvi cont ar o seguint e:

Ou
NA VEZ O FI LHO DE UM REI j azia em seu leit o de m ort e. Levava oit o dias em vírgula:
não podiam salvá- lo, m as a m ort e t am pouco devia levar se o O rei rezava pedindo por
sua vida, por um a part e, m as era conscient e, ao m esm o t em po, de que t udo est á cheio
de dor e de sofrim ent o e advert ia a fut ilidade da vida. O rei passou oit o noit es sem
dorm ir, m as na novena noit e, por volt a das quat ro da m adrugada, venceu- o o sonho e
com eçou a sonhar.
Est am os acost um ados a sonhar com as coisas que não conseguim os na vida; por
isso, o rei, sent ado j unt o a seu único filho, que m orria, sonhou que t inha doze filhos
fort es e form osos. viu- se com o im perador de ou grande reino, com o rei de t oda a Terra,
dono de palácios grandes e belos. E se viu enorm em ent e feliz. E, enquant o sonhava
t odo isso…
O t em po t ranscorre m ais depressa nos sonhos; o t em po dos sonhos é
com plet am ent e diferent e do t em po de nossa vida diária. Em um sonho se pode salt ar
em um m om ent o um int ervalo de m uit os anos, e quando despert am os parece difícil
ent ender com o havem os t alher t ant os anos em um sonho que só durou uns m om ent os.
Em realidade, o t em po t ranscorre m uit o depressa nos sonhos; podem os cobrir m uit os
anos em um m om ent o.
assim , enquant o o rei sonhava com seus doze filhos e com as lindas esposas
dest es, com seus palácios e com seu grande reino, o príncipe doent e, que t inha doze
anos, m orreu. Reina- a deu um grit o, e o sonho do rei ficou int errom pido bruscam ent e.
O rei despert ou, assust ado. Reina- a, ent rist ecida, pergunt ou- lhe:
- por que parece t ão assust ado? por que não t em lágrim as nos olhos? por que
não diz nada?
O rei respondeu:
- Não, não est ou assust ado: est ou confuso. Enfrent o a um grande dilem a.
Pergunt o a quem devo chorar. Devo chorar aos doze filhos que t inha faz um m om ent o,
ou a est e filho que acabo de perder? O que m e inquiet a é que não sei quem m orreu. E
o m ais est ranho é que, quando eu est ava com aqueles doze filhos, não sabia nada dest e
filho. Não est ava em nenhum a part e: não havia rast ro dele, nem de t i. Agora que saí
que sonho, est e palácio est á aqui, você est á aqui, m eu filho est á aqui; m as aqueles
palácios e aqueles filhos desapareceram . O que é o verdadeiro? É verdadeiro ist o, ou o
era aquilo? Não sou capaz de det erm iná- lo.

C
UANDO RECORDEM SUAS VI DAS ant eriores, result ará- lhes difícil det erm inar se o que
vêem nest a vida é verdadeiro ou não. Darão- lhes cont a de que j á viram as m esm as
coisas m uit as vezes e de que nada durou para sem pre: t udo se perdeu. Ent ão lhes
pergunt arão: “ É o que vej o agora t ão verdadeiro com o o que vi ant es? Porque t am bém
ist o passará e se desvanecerá, com o t odos os sonhos ant eriores.”
Quando vem os um film e, parece- nos verdade. Quando t erm ina o film e,
dem oram os alguns m om ent os em volt ar para nossa realidade, em reconhecer que o que
vim os no cinem a não era m ais que um a ilusão. Em concret o, m uit as pessoas que
revist am ser incapazes de m anifest ar seus sent im ent os chegam a chorar quando vêem
um film e. sent em - se m uit o aliviadas, porque do cont rário t eriam que procurar algum
out ro pret ext o para liberar seus sent im ent os. perm it em - se chorar ou rir no cinem a.
Quando saím os de ver o film e, o prim eiro que nos ocorre é o m uit o que nos ident ificam os
com o que acont ecia na t ela. Se virm os o m esm o film e cada dia, a ilusão se desvanece
pouco a pouco. Mas t am bém nos esquece o que nos passou no últ im o film e. E quando
vam os ver um film e novo, com eçam os de novo a nos acredit ar o que acont ece ela.
Se pudéssem os recuperar as lem branças de nossas vidas ant eriores, nossa vida
at ual t am bém com eçaria a nos parecer um sonho. Quant as vezes sopraram est es
vent os! Quant as vezes acont eceram est as nuvens pelo céu! Apareceram e
desapareceram , e o m esm o passará a est as que est ão aqui: j á est ão desaparecendo!
Se chegarm os a nos dar cont a dist o, conhecerem os o que se cham a m aia. Tam bém
conhecerem os que t odas as circunst âncias, t odos os sucessos, são irreais: nunca são
idênt icos, m as são t ransit ivos. Chega um sonho: a est e segue out ro, e a est e out ro
m ais. O peregrino part e de um m om ent o dado e passa ao seguint e. Os m om ent os
desaparecem um após o out ro, m as o peregrino segue avançando.
assim , conhecem - se de um a vez duas coisas: em prim eiro lugar, que o m undo
obj et ivo é um a ilusão, m aia: só o observador é real; em segundo lugar, que as
aparências são falsas: só o espect ador, só a t est em unha é verdadeira. As aparências
t rocam cada dia, sem pre t rocaram : só a t est em unha, o observador, é o m esm o que
ant es e não t roca. E recordem que enquant o as aparências pareçam reais, sua at enção
não se cent rará no espect ador, na t est em unha. Só quando as aparências result am
irreais nos fazem os conscient es da t est em unha.
Por isso lhes digo, pois, que recordar as vist as acont ecidas é út il, m as só depois
de que t enham aprofundado na m edit ação. Aprofundem na m edit ação para que
alcancem a capacidade de ver a vida com o um sonho. Convert er- se em m ahat m a, em
hom em de vida Sant a, t em t ant o de sonho com o convert er- se em ladrão: podem t er
sonhos bons e sonhos m aus. E o m ais int eressant e é que o sonho de ser um m ahat m a
dem ora algum t em po m ais em desaparecer, porque parece m uit o agradável. Assim , o
sonho de ser um m ahat m a é m ais perigoso que o sonho de ser um ladrão. Querem os
prolongar nossos sonhos agradáveis, enquant o que os dolorosos se dissolvem por si só.
Por isso est á acost um ado a acont ecer que o pecador consegue alcançar a Deus enquant o
que o religioso não o consegue.
Hei- lhes dit o algum as cost ure sobre a lem brança de suas vidas ant eriores, m as
t erão que prat icar a m edit ação para isso. vam os com eçar a ent rar dent ro de nós
m esm os desde hoj e m esm o: só ent ão podem os est ar preparados para o seguint e. Sem
est a preparação é difícil ent rar nas vidas ant eriores.
I m agine, por exem plo, um a casa grande com adegas subt errâneas. Se um
hom em que est iver fora da casa quer ent rar na adega, t erá que ent rar na prim eiro casa,
pois à adega se acessa desde dent ro da casa. Nossas vidas ant eriores são com o adegas.
Em cert a época vivem os ali, e depois as abandonam os: agora vivem os em out ra part e.
Mas agora est am os no ext erior da casa. Para desvelar as lem branças das vidas
ant eriores t êm que ent rar na casa. I st o não t em nada de difícil, de incôm odo nem de
perigoso.

Out ro am igo pergunt ou: m eu am igo, que é iogue, afirm a que em sua vida ant erior
foi um pardal. É possível ist o?

E
S POSSÍ VEL QUE EM TRANSCURSO de sua evolução um a pessoa t enha sido um anim al
em um a ocasião, m as não pode nascer de novo com o anim al. No processo da evolução
não podem os ret roceder: é im possível o ret rocesso. É possível avançar da form a do
nascim ent o ant erior, m as não é possível ret roceder de um a form a avançada de
nascim ent o. Nest e m undo não se volt a at rás: não há possibilidade disso. Só há dois
cam inhos: ou avançam os, ou ficam os onde est am os; não podem os ret roceder.
É com o quando um escolar aprova o prim eiro grau e passa ao segundo grau;
m as, se suspender, fica no prim eiro grau. Do m esm o m odo, se suspender o segundo
grau podem os deixá- lo ali, m as de m aneira nenhum a podem os levá- lo de novo ao
prim eiro grau. Nós podem os ficar em um a espécie durant e m uit o t em po ou avançar à
espécie seguint e, m as não podem os ret roceder a um a espécie inferior a que est ávam os.
É possível, verdadeiram ent e, que um a pessoa t enha sido ant es um anim al ou um
pássaro: deve havê- lo sido. Mas é out ra coisa saber quant o t em po passou naquela
espécie. Se aprofundarm os em nossas vidas ant eriores, serem os capazes de evocar as
espécies pela que passam os at é agora. Podem os t er sido um anim al, um pássaro, um
pequeno pardal… espécies cada vez inferiores. Algum a vez t erem os sido seres t ão
inert es que result aria difícil encont rar em nós algum indício de consciência.
Tam bém as m ont anhas est ão vivas, m as logo que t êm consciência. São inert es
em um novent a e nove por cent o e só t êm um por cent o de consciência. Quando vai
evoluindo a vida, cresce a consciência e decresce o com ponent e inert e. A divindade é
um cem por cem de consciência. A diferença ent re divindade e m at éria é um a quest ão
de percent agens. A diferença ent re a divindade e a m at éria é um a quest ão de
quant idade e não de qualidade. Por isso, a m at éria pode chegar a convert er- se em
Deus.
Não é est ranho nem difícil aceit ar que um ser hum ano t enha podido ser um
anim al em sua vida ant erior. O verdadeiram ent e surpreendent e é que, apesar de ser
hum ano, com port em o- nos com o anim ais! Não t em nada de surpreendent e que em
algum a vida ant erior t odos t enham os sido anim ais, m as at é sendo hum ano nosso nível
de consciência pode ser t ão baixo que podem os parecer hum anos só a nível físico. Se
observarm os nossas t endências parece que, em bora j á não som os anim ais, t am pouco
nos convert em os ainda em seres hum anos: parece que nos ficam os ent upidos em um
pont o int erm édio. Assim que se apresent a a oport unidade, não perdem os t em po em
volt ar de novo para nível dos anim ais.
I m aginem , por exem plo, que vão cam inhando pela rua com o cavalheiros e que
chega um t ipo e lhes dá de m urros e lhes insult a. I m ediat am ent e, o cavalheiro que há
em vós se ret ira e lhes encont ram m anifest ando ao m esm o anim al int erior que devem
t er sido em algum a vida ant erior. Se escavarem um pouco por debaixo da superfície,
aparece a best a que há dent ro; e sai a reluzir com t ant a violência que alguém se
pergunt a se aquela pessoa foi algum a vez um ser hum ano.
Nosso est ado de ser at ual cont ém t udo o que fom os ant es. Exist em est rat os e
est rat os de t odos os est ados que at ravessam os no passado. Se escavarm os um pouco
dent ro, podem os chegar aos est rat os int eriores de nosso ser. Podem os chegar,
inclusive, ao est ado em que fom os um a pedra: t am bém est e const it ui um est rat o
int erior. Muit o dent ro de nós som os ainda pedras; por isso, quando alguém nos leva a
força at é esse est rat o, com port am o- nos com o pedras, podem os obrar com o pedras.
Tam bém podem os nos com port ar com o anim ais: de fat o, assim o fazem os. O que t em os
por diant e não são m ais que nossas pot encialidades: não são est rat os. Em bora algum as
vezes dam os um salt o e t ocam os est as pot encialidades, volt am os a cair ao chão.
Podem os ser deuses algum dia, m as de m om ent o não o som os. Tem os a
pot encialidade de nos volt ar divinos, m as o que som os agora est á com post o do que
fom os no passado.
Há, pois, duas coisas: se escavarm os dent ro de nós, encont ram o- nos com nossos
diversos est ados passados do ser; e se som os arrast ados para diant e na cadeia dos
nascim ent os, conhecem os os est ados que t em os por diant e. Mas, do m esm o m odo que
quando dam os um salt o ) separam os do chão por um segundo, m as volt am os a cair a
t erra ao cabo de um m om ent o, algum as vezes salt am os de nosso est ado anim al e nos
convert em os em seres hum anos, m as depois volt am os a cair naquele m esm o est ado. Se
o observarem com cuidado, verão que em um período de vint e e quat ro horas só som os
verdadeiros seres hum anos de vez em quando e em m om ent os det erm inados. E t udo
ist o sabem os m uit o bem .
Devem t er observado aos m endigos. Sem pre vão pedir pela m anhã. Nunca vão
cair a t arde, porque é quase im possível que ao cair a t arde alguém siga sendo um ser
hum ano. O m endigo espera que a pessoa sej a um pouco hum ana pela m anhã, quando
se t iver levant ado descansada depois de um bom sonho, fresca e alegre. Não espera
nenhum a caridade ao cair a t arde, porque sabe o que t eve que passar a pessoa com o
passar do dia: o escrit ório, o m ercado, os t um ult os e as m anifest ações, os periódicos e
os polít icos: t odo isso o t ranst ornou, necessariam ent e. Tudo deveu agravar e at ivar os
est rat os anim ais que t em dent ro. Ao cair a t arde, o hom em est á cansado; convert eu- se
em um a best a. Por isso, nos cabarés vêem best as que m anifest as t endências best iais.
O hom em , cansado de ser hum ano durant e t odo o dia, t em ânsia de álcool, de ruído, de
j ogo, de bailes, de espet áculos erót icos: quer est ar ent re out ras best as. Os cabarés
em prest am seus serviços ao anim al que há dent ro do hom em . Por isso, as m anhãs são
m ais adequadas para prat icar a oração; por isso, a t arde é m enos propícia para isso. Em
t odos os t em plos soam os sinos pela m anhã; de noit e se abrem as port as dos cabarés,
dos cassino, dos espet áculos. As prost it ut as não podem receber client es pela m anhã: só
recebem a seus client es de noit e.
depois de um duro dia de t rabalho, o hom em se convert e em anim al; por isso, o
m undo da noit e é diferent e ao m undo do dia. A m esquit a cham a à oração pela m anhã, e
o t em plo faz soar seus sinos pela m anhã. Exist e cert a esperança de que o hom em ,
recém acordado pela m anhã, volt e- se para Deus; há m enos esperança de que lhe
acont eça ist o a um hom em que est á cansado, ao anoit ecer.
Pelo m esm o m ot ivo, exist em grandes esperança de que os m eninos se volt em
para Deus, m as há m enos esperança para os velhos: est ão no crepúsculo de suas vidas;
a vida j á deveu que lhes t irar t udo. Por isso, devem os em preender a viagem assim que
possam os, t ão de am anhã com o podem os. Já cairá a t arde por si m esm o. Mas se j á
em preendem os a viagem pela m anhã, é m ais provável que, ao cair a t arde, t am bém nos
encont rem os no t em plo.
Nosso am igo t em razão, pois, ao pergunt ar- se se for possível que um a pessoa
t enha podido ser um anim al ou um ave em sua vida ant erior. Mas o que devem os
procurar é não seguir sendo pássaros nem best as nest a vida.

A
NTES DE PASSAR À MEDI TAÇÃO, vam os com preender algum as cost ure. Em prim eiro
lugar, devem lhes deixar levar com plet am ent e. Se lhes ret raírem em bora só sej a um
pouco, isso será um obst áculo para a m edit ação. lhes deixe levar com o se est ivessem
m ort os, com o se lhes t ivessem m orrido de verdade. Terá que aceit ar a m ort e com o se j á
t ivesse chegado, com o se t ivesse m orrido t odo o rest o e nos est ivéssem os afundando
cada vez m ais fundo, dent ro de nós. Agora só sobreviverá o que sobrevive sem pre:
Solt arem os t odo o rest o que possa m orrer. Por isso hei dit o que est e é um experim ent o
com a m ort e.
Est e experim ent o t em t rês part es. A prim eira é a relaxação do corpo; a segunda
é a relaxação da respiração; a t erceira é a relaxação do pensam ent o. O corpo, a
respiração e o pensam ent o: t erá que solt ar lent am ent e os t rês.
Vos rogo que lhes separem os uns dos out ros. É possível que alguém caia; por
isso, lhes separe um pouco uns de out ros. lhes at rase um pouco ou avancem um pouco,
m as procurem não lhes sent ar m uit o pert o uns de out ros; do cont rário, t eria que est ar
sem pre pendent es de não cair em cim a de alguém .
Quando o corpo fica solt o, pode cair para diant e ou para t rás: nunca se sabe. Só
podem est ar seguros disso enquant o o suj eit am . Quando deixarem de suj eit ar seu
corpo, est e cairá aut om at icam ent e. Quando afrouxarem sua suj eição de dent ro, quem
suj eit ará o corpo? O norm al é que caia. E se não deixarem de lhes preocupar de evit ar
que caia, ficarão onde est ão: não serão capazes de ent rar na m edit ação. Assim , quando
seu corpo est ej a a pont o de cair, considerem com o um a bênção. Deixem em seguida.
Não o suj eit em , pois se o suj eit am lhes im pedirão a vós m esm os passar para dent ro. E
não lhes zanguem se alguém cai sobre vós: deixem . Se alguém recost ar sua cabeça
sobre seu regaço durant e algum t em po, deixem : não lhes incom odem .
Agora, fechem os olhos. Fechem brandam ent e. Relaxem o corpo. Deixem
com plet am ent e solt o, com o se não houvesse vida nele. Ret irem t oda a energia de seu
corpo; levem dent ro. Quando a energia se ret ire dent ro, o corpo ficará solt o.
Agora com eçarei a lhes fazer sugest ões de que o corpo se est á ficando solt o, de
que nos est am os ficando em silêncio… Sint am com o fica solt o o corpo. Solt em . Passem
dent ro, com o um a pessoa que ent ra em sua casa. Passem dent ro, ent rem . O corpo se
est á relaxando… Solt e por com plet o… deixem sem vida, com o se est ivesse m ort o. O
corpo se est á relaxando, o corpo se relaxou, o corpo se relaxou por com plet o…
Dou é obvio que relaxast es por com plet o seu corpo, que solt ast es a suj eição a
que o t inha subm et ido. Se o corpo cair, que assim sej a; se se inclinar para diant e,
deixem que se incline. Que o que t enha que acont ecer, acont eça: vós, lhes relaxe.
Com provem que não est ão suj eit ando nada. Apareça dent ro de vós para lhes assegurar
de que não est ão suj eit ando seu corpo. Devem ser capazes de lhes dizer: “ Não est ou
suj eit ando nada. Deixei- m e levar por com plet o.”
O corpo est á depravado, o corpo est á solt o. A respiração se est á acalm ando, a
respiração se est á fazendo m ais lent a. Sint am respiração se feit o m ais lent a… solt em
por com plet o. Deixem t am bém sua respiração, renunciem por com plet o à suj eição a que
a t êm subm et ida. A respiração se est á fazendo m ais lent a, a respiração se est á
acalm ando… A respiração se acalm ou, a respiração se feit o m ais lent a.
A respiração se acalm ou… os pensam ent os t am bém se est ão acalm ando. Sint am .
Os pensam ent os se est ão ficando em silêncio… solt em . solt ast es o corpo, solt ast es a
respiração; agora, solt em t am bém os pensam ent os. lhes apart e… passem por com plet o
ao int erior, lhes apart e t am bém dos pensam ent os.
Tudo ficou em silêncio, com o se t udo o que há fora est ivesse m ort o. Tudo est á
m ort o… t odo se ficou em silêncio… só fica dent ro a consciência… um abaj ur aceso de
consciência: o rest o est á m ort o. Solt em por com plet o… com o seu seu corpo est ivesse
m ort o, com o se seu corpo j á não exist isse. Sua respiração est á im óvel, seus
pensam ent os est ão im óveis, com o se se t ivesse produzido a m ort e. E passem dent ro,
passem com plet am ent e dent ro. Solt em … solt em t udo. Solt em t udo por com plet o, não
lhes guardem nada. Est ão m ort os.
Sint am com o se t udo est ivesse m ort o, que t udo est á m ort o: só fica dent ro um
abaj ur aceso; t odo o rest o est á m ort o. Todo o rest o est á m ort o, elim inado. lhes perca
na vacuidade durant e dez m inut os. Sede t est em unhas. Observem est a m ort e. Todo o
rest o que lhes rodeia desapareceu. Tam bém fica at rás o corpo, ficou m uit o at rás, m uit o
longe: não fazem os m ais que observá- lo. Sigam observando; lhes m ant enha com o
t est em unhas. Sigam olhando por volt a de dent ro durant e dez m inut os.
Sigam olhando dent ro… t odo o rest o est ará m ort o no ext erior. Solt em … est ej am
com plet am ent e m ort os. Sigam observando, lhes m ant enha com o t est em unhas. Solt em
t udo com o se est ivessem m ort os e com o se o corpo, no ext erior, est ivesse m ort o. O
corpo est á im óvel; os pensam ent os est ão im óveis; só fica observando o abaj ur da
consciência; só fica o espect ador; só fica a t est em unha. Solt em … solt em … solt em por
com plet o.
Acont eça o que acont ecer, deixem que passe. Solt em por com plet o; lhes lim it e a
observem o int erior e solt em o rest o. Renunciem por com plet o a sua suj eição.
A m ent e se ficou em silêncio e vazia, a m ent e se ficou com plet am ent e vazia… a
m ent e se ficou vazia, a m ent e se ficou com plet am ent e vazia. Se ainda est ão suj eit ando
um pouco, solt em t am bém esse pouco. Solt em por com plet o, desapareçam , com o se j á
não exist ierais. A m ent e se ficou vazia… a m ent e se ficou em silêncio e vazia… a m ent e
se ficou com plet am ent e vazia.
Sigam olhando dent ro, sigam olhando dent ro com at enção: t udo se ficou em
silêncio. O corpo fica at rás, fica m uit o at rás; a m ent e fica m uit o at rás; só arde um
abaj ur, um abaj ur de consciência; só fica acesa a luz…
Agora, respirem devagar várias vezes. Não deixem de observar sua respiração…
Com cada respiração, o silêncio se fará m ais profundo. Respirem devagar várias vezes e
sigam olhando dent ro; lhes m ant enha t am bém com o t est em unhas da respiração. A
m ent e ficará ainda m ais em silêncio… respirem devagar várias vezes, e depois abram os
olhos brandam ent e. Se alguém se t iver cansado, que respire fundo prim eiro e se levant e
devagar depois. Não lhes apressem se forem incapazes de lhes levant ar; não lhes
apressem se lhes result a difícil abrir os olhos… Respirem fundo prim eiro, e depois abram
os olhos devagar… lhes levant e m uit o brandam ent e. Não façam nenhum m ovim ent o
brusco: nem ao lhes levant ar nem ao abrir os olhos…
Nossa sessão m at ut ina de m edit ação t erm inou.

CAPÍ TULO 3

Todo o u n ive r so
É u m t e m plo

A
MADOS:
Um am igo pergunt ou: Most rast e- nos o m ét odo da negação para conhecer a verdade ou o
divino: o m ét odo de excluir t odo o rest o para conhecer o eu. É possível conseguir o
m esm o result ado fazendo o cont rário? Não podem os t ent ar ver deus em t udo? Não
podem os sent i- lo em t udo?

C I STO OMPRENDER SERÁ benéfico para vós.


que não é capaz de conhecer deus dent ro de seu próprio eu nunca pode conhecer o de
nenhum m odo. que não reconheceu ainda a Deus dent ro de seu próprio eu não é capaz
de reconhecê- lo em out ros. O eu é o m ais próxim o que t êm ; qualquer que est ej a a cert a
dist ância de vós est ará m ais longe de vós que o eu. E se não serem capazes de ver deus
em seu próprio eu, que é o que t êm m ais próxim o, t am pouco poderão vê- lo de m aneira
nenhum a nos que est ej am longe de vós. Devem conhecer deus em prim eiro lugar em
seu próprio eu; que conhece t erá que conhecer, prim eiro, o divino: é a port a m ais
próxim a.
Mas, recordem : é m uit o int eressant e que o indivíduo que ent ra de repent e em seu
eu encont ra de repent e a ent rada de t udo. A port a que conduz ao próprio eu é a port a
que conduz a t udo. Assim que um a pessoa ent ra em seu eu, descobre que ent rou em
t udo, porque, em bora sej am os diferent es ext ernam ent e, int ernam ent e não o som os.
Ext ernam ent e, t odas as folhas são diferent es ent re si. Mas se um a pessoa fora
capaz de penet rar em um a só folha, chegaria à font e da árvore, onde t odas as folhas
est ão em harm onia. Cada folha, vist a por separado, é diferent e; m as quando t iverem
conhecido um a folha em sua int erioridade t erão chegado à font e da que em anam t odas
as folhas e em que se dissolvem t odas as folhas. que ent ra em seu eu ent ra,
sim ult aneam ent e em t udo.
A diferença ent re “ você” e “ eu” só se m ant ém enquant o não t enham os ent rado
em nosso próprio eu. O dia em que ent rem os em nosso eu, desaparece o eu, e t am bém
o você. O que fica ent ão é o t udo.
Em realidade, “ o t udo” não significa a som a do você e o eu. O t udo é onde nos
havem os disolvido você e eu, e o que fica depois é o t udo. Se o eu não se houver
disolvido ainda, ent ão podem os som ar “ eus” e “ vocês” , m as o t ot al não será igual à
verdade. Em bora som em os t odas as folhas, não aparece um a árvore, em bora lhe
t enham som ado t odas as folhas. A árvore é algo m ais que a som a de t odas as folhas.
Quando som am os um a folha a out ra, est am os caso que cada um a é independent e. Mas
um a árvore não est á com post a de folhas independent es, absolut am ent e.
assim , assim que ent ram os no eu, est e deixa de exist ir. O prim eiro que
desaparece quando ent ram os no int erior é a sensação de ser um a ent idade
independent e. E quando desaparece essa “ eu- idad” , t am bém desaparecem a “ você-
idad” e a “ ot ridad” . O que fica ent ão é o t udo.
Nem sequer é corret o cham á- lo “ o t udo” , porque “ o t udo” t em t am bém a
conot ação do velho “ eu” . Por isso, os que sabem não querem sequer cham á- lo “ o t odo” .
Eles diriam : “ Do que é som a esse t udo? O que é o que est am os som ando?” Além disso,
eles afirm ariam que só fica o um . Em bora possivelm ent e duvidassem em dizer isso
sequer, porque a afirm ação do um dá a im pressão de que há dois: dá a ent ender que o
“ um ” não t em significado por si só, sem a noção correspondent e do dois. Um só exist e
no cont ext o do dois. port ant o, os que t êm um a com preensão m ais profunda não dizem
sequer que fica o um ; dizem que fica o advait a, a não dualidade.
I st o é m uit o int eressant e. Est as pessoas dizem : “ Não ficam dois” . Não dizem :
“ Fica o um ” , m as sim dizem : “ Não ficam dois” . Advait a significa que não há dois.
Poderíam os lhes pergunt ar: “ por que falam com t ant os rodeios? Digam ,
sim plesm ent e, que só há um ! ” O perigo de dizer “ um ” é que faz surgir a idéia do dois. E
quando dizem os que não há dois, deduz- se que t am pouco há t rês: dá- se a ent ender que
não há um , nem m uit os, nem t odos. Em realidade, est a diferenciação n foi m ais que
um a conseqüência da visão apoiada na exist ência do eu. Assim , com a cessação do eu,
fica o que é int eiro, o indivisível.
Mas, para conhecer ist o, podem os fazer o que nos sugere nosso am igo?, não
podem os visualizar a Deus em t odos? Fazê- lo assim não seria m ais que t er fant asias, e
t er fant asias não é o m esm o que perceber a verdade.
Faz m uit o t em po algum as pessoas apresent aram a um hom em religioso.
Disseram - m e que aquele hom em via deus em t odas part es, que desde fazia t rint a anos
t inha vist o deus em t udo: nas flores, nas novelo, nas pedras, em t udo. Eu pergunt ei ao
hom em se via deus em t udo por um a quest ão de prát ica; pois, se era assim , suas visões
eram falsas. Não m e ent endia. Volt ei a lhe pergunt ar:
- Teve algum a vez fant asias ou desej os de ver deus em t udo?
Ele m e respondeu:
- Sim , em efeit o. Faz t rint a anos com ecei a prat icar um sadhana no que eu
t ent ava ver deus nas pedras, nas novelo, nos Mont es, em t udo. E com ecei a ver deus
em t odas part es.
Eu lhe pedi que passasse t rês dias com igo e que, durant e esse t em po, deixasse
de ver deus em t udo.
Acessou. Mas ao dia seguint e m e disse:
- Tem - m e feit o m uit o dano. Só passaram , doze horas desde que abandonei m inha
prát ica habit ual e j á com ecei a ver as rochas com o rochas e os Mont es com o Mont es:
Arrancast e a m eu Deus! Que classe de pessoa é?
- Se pode perder a Deus com apenas doze horas que deixa de prat icar –disse eu- ,
ent ão é que o que via não era Deus: não era m ais que um a conseqüência de seu
exercício habit ual.
É com o quando um a pessoa se repet e algo sem cessar e se forj a um a ilusão.
Não: não é preciso ver deus em um a pedra; é preciso, m as bem , alcançar um est ado no
qual na pedra não fica nada m ais que ver a não ser Deus. São duas coisas diferent es.
Com eçarão a ver deus em um a pedra por m eio de seus esforços por vê- lo ali, m as
esse Deus não será m ais que um a proj eção m ent al. Esse será um Deus que t erão
proj et ado sobre a pedra: será frut o de sua im aginação. Esse Deus será puram ent e sua
criação: será um produt o de sua im aginação. Esse Deus não é m ais que seu sonho, um
sonho que consolidast es reforçando- o um a e out ra vez. Não há nenhum problem a em
ver assim a Deus, m as é viver um a ilusão, não é ent rar na verdade.
Um dia acont ece, é obvio, que o indivíduo m esm o desaparece e que, em
conseqüência, não vê nada m ais que a Deus. port ant o, a gent e não sent e que Deus est á
na pedra; o que sent e é: “ Onde est á a pedra? Só est á Deus! ” Com preendem a
diferença que est ou est abelecido? port ant o, a gent e não sent e que Deus exist e na plant a
nem que exist e na pedra; que a plant a exist e e que, na plant a, t am bém exist e Deus.
Não, nada disso. O que alguém chega a sent ir é: “ Onde est á a plant a? Onde est á a
pedra? Onde est á o m ont e?” … porque, em t udo o que nos rodeia, em t udo o que vem os,
quão único exist e é Deus. Assim , ver deus não depende de um exercício de sua part e,
depende de sua experiência pessoal.
O m aior perigo no t erreno do sadhana, da prát ica espirit ual, é o perigo da
im aginação. Podem os fant asiar verdades que, de out ro m odo, deviam convert er- se em
experiências pessoais nossas. Conhecer por experiência pessoal é diferent e de t er
fant asias. Um a pessoa que acont eceu fom e t odo o dia com o em sonhos de noit e e se
sent e m uit o sat isfeit o. Possivelm ent e não lhe agrade t ant o com er quando est á acordado
com o com er quando est á sonhando: no sonho pode com er o prat o que desej e. Mas à
m anhã seguint e segue t endo o est ôm ago vazio, e a com ida que consum ou em seu sonho
não o alim ent a. Se um hom em decide viver só dos m ant im ent os que com e em sonhos,
não cabe dúvida de que m orrerá cedo ou t arde. Por m uit o sat isfat ória que sej a a com ida
que com e no sonho, em realidade não é com ida. Não pode passar a form ar part e de seu
sangue, nem de sua carne, nem de seus ossos, nem de sua m edula. Um sonho não
pode causar m ais que enganos.
Não só com eu feit as de sonhos. Tam bém há um Deus feit o de sonhos. E, do
m esm o m odo, há um a m oksha, um a liberação, feit a de sonhos. Há um silêncio feit o de
sonhos, e há verdades feit as de sonhos. A m aior capacidade da m ent e hum ana é sua
capacidade para enganar- se a si m esm o. Mas ninguém pode alcançar a alegria e a
liberação caindo no engano dest e t ipo.
Não lhes peço, pois, que com ecem a ver deus em t udo. Só lhes peço que
com ecem a olhar dent ro e a ver o que há ali, a prim eira pessoa que desaparecerá será
vós m esm os: deixarão de exist ir em seu int erior. Descobrirão pela prim eira vez que seu
eu era um a ilusão e que desapareceu, que se desvaneceu. Assim que j ogam um a olhada
ao int erior, o prim eiro que desaparece é o eu, o ego. Em realidade, a sensação de que
“ eu sou” , só persist e at é que olham os dent ro de nós m esm os. E se não olharm os dent ro
é, possivelm ent e, por m edo de que, se o fizéssem os, poderíam os nos perder.
Terão vist o um hom em que faz girar um a t ocha que t em na m ão at é que est a
form a um círculo de fogo. Em realidade, não há t al círculo; quão único acont ece é que
quando a t ocha gira com grande velocidade produz, vist a de longe, a aparência de um
círculo. Se a virem de pert o, descobrirão que não é m ais que um a t ocha que se m ove
rapidam ent e, que o círculo de fogo é falso. Do m esm o m odo, se passarm os ao int erior e
olham os com cuidado, descobrirem os que o eu é absolut am ent e falso. Assim com o a
t ocha que se m ove rapidam ent e produz a ilusão do eu. Est a é um a verdade cient ífica, e
devem com preendê- la.
Possivelm ent e não o t enham advert ido, m as t odas as ilusões da vida est ão
provocadas por coisas que giram a grande velocidade. A parede parece m uit o sólida, a
pedra que pisam parece claram ent e sólida, m as, segundo os cient ist as, as pedras não
são sólidas. Agora é bem sabido que quant o m ais de pert o observaram os cient ist as a
m at éria, m ais desapareceu est a. Enquant o o cient ist a est ava afast ado da m at éria,
acredit ava nela. Est ava acost um ado a ser o cient ist a o que dizia que a m at éria era a
única verdade, m as agora é esse m esm o cient ist a o que diz que não exist e o que
cham am os m at éria. Os cient ist as dizem que o m ovim ent o rápido das part ículas elét ricas
produz a ilusão de densidade. A densidade, com o t al, não exist e em nenhum a part e.
Por exem plo, quando um vent ilador elét rico gira rapidam ent e não podem os ver os
t rês sinais de m ult iplicação que se m ovem ; não podem os cont ar quant as sinais de
m ult iplicação há. Se excursão m ais depressa ainda, parecerá que se m ove um a peça
circular de m et al. pode- se fazer girar t ão depressa que, em bora um se sent asse sobre
ele, não sent iria o vazio ent re os sinais de m ult iplicação: pareceria- lhe que est á sent ado
sobre um a peça de m et al sólido.
As part ículas da m at éria se m ovem a um a velocidade sem elhant e; e as part ículas
não são m at éria, são energia elét rica que se m ove rapidam ent e. A m at éria parece densa
pelas part ículas de elet ricidade que se m ovem rapidam ent e. Toda a m at éria é um
produt o da energia que se m ove rapidam ent e: em bora pareça que exist e, em realidade
não exist e. Do m esm o m odo, a energia da consciência se m ove m uit o depressa e, por
isso, cria- se a ilusão do eu.
Exist em dois t ipos de ilusões no m undo: a prim eira é a ilusão da m at éria; a
segunda é a ilusão do eu, do ego. Am bas as som basicam ent e falsas, m as só
aproxim ando- se delas se faz um conscient e de que não exist em . Quando a ciência se vai
aproxim ando da m at éria, a m at éria desaparece; quando a religião nos aproxim a do eu, o
eu desaparece. A religião t em descobert o que o eu não exist e, e a ciência t em
descobert o que a m at éria não exist e. Quando m ais nos aproxim am os, m ais nos
desenganam os.
Por isso digo: passem dent ro; olhem de pert o: há algum eu dent ro? Não lhes
peço que criam que vós não são o eu. Se o criem , convert erá- se em um a crença falsa.
Eu sou at m an, eu sou Brâm ane; o ego é falso” , ent ão cairão na confusão. Se ist o se
convert er em um a m era coisa repet it iva, ent ão não est arão fazendo m ais que repet ir
um a falsidade. Não lhes peço que prat iquem um a repet ição dest e t ipo. O que lhes digo
é que passem dent ro, que olhem , que reconheçam quem são. que olhe dent ro e se
reconhece a si m esm o descobre: “ Eu não est ou” Em t al caso, quem est á dent ro? Se eu
não est iver, ent ão deve est ar ali algum out ro. O fat o de que “ eu não est ou” não significa
que ali não est ej a ninguém , porque t em que haver alguém ali, em bora solo sej a para que
reconheça a ilusão.
Se eu não est iver, quem est á ali? A experiência do que fica depois do
desaparecim ent o do eu é a experiência de Deus. A experiência se volt a expansiva
im ediat am ent e: ao deixar cair ao eu, t am bém cai o “ você” , t am bém cai o “ ele” , e só fica
um oceano de conhecim ent o. Nest e est ado verá que só Deus é. port ant o, pode parecer
errôneo afirm ar que Deus é, porque result a redundant e.
É redundant e dizer: “ Deus é” , porque Deus é o nom e que dam os ao que é” . A
qualidade de ser é Deus; por isso, a afirm ação “ Deus é” é um a t aut ologia, não é corret a.
O que significa que “ Deus é” ? Dizem os que algo “ é” quando t am bém pode convert er- se
em “ não é” . Dizem os: “ A m esa é” , porque é m uit o possível que a m esa não exist a
am anhã ou que a m esa não exist isse ont em . Algo que ant es não exist iu pode deixar de
exist ir de novo. Logo, que sent ido t em dizer “ isso é” ? Deus não é algo que não t enha
exist ido ant es, nem é possível que deixe de exist ir. Por isso, não t em sent ido dizer que
“ Deus é” . É. Em realidade, t am bém cham am os deus “ o que é” . “ Deus” Significa:
“ exist ência” .
Em m inha opinião, se im puserm os a nosso Deus sobre “ o que nos é est am os
precipit ando na falsidade e no engano. E recordem que os deuses que criam os são feit os
de diferent es m aneiras; cada um t em sua própria m arca de fábrica. O hinduist a t em
feit o a seu próprio Deus; o m uçulm ano t em ao dele. O crist ão, o j ainist a, o budist a:
cada um t em a seu próprio Deus. Todos cunharam seus próprios t érm inos respect ivos;
t odos se criaram a seus respect ivos deuses. Floresce t oda um a grande indúst ria de
fabricação de deuses! Em suas casas respect ivas, as gent e fabricam a seu Deus;
produzem a seu próprio Deus. E t odos est es fabricant es de deuses com pet em ent re si
no m ercado, do m esm o m odo que os art esãos que elaboram obj et os em suas casas. O
Deus de cada um é diferent e do de t odos out ros.
Em realidade, enquant o acont eça que “ eu sou” , t udo o que eu crie será diferent e
do seu. Enquant o acont eça que “ eu sou” , m inha religião, m eu Deus, será diferent e do de
out ros, porque t erá sido criado pelo eu, pelo ego. Com o consideram os a nós m esm os
ent idades independent es, t udo o que acredit am t erá um carát er independent e. Se
houvesse liberdade para criar religiões, haveria no m undo t ant as religiões com o pessoas:
nenhum a m enos. Se no m undo há t ão poucas religiões é porque falt a um a liberdade
adequada para isso.
O pai hinduist a procura fazer hinduist a a seu filho ant es de que est e chegue a ser
independent e. O pai m uçulm ano volt a m uçulm ano a seu filho ant es de que est e t enha
uso de razão; pois um a pessoa que t ivesse uso de razão não quereria fazer- se hinduist a
nem m uçulm ana. assim , exist e a necessidade de encher ao m enino de t odas est as
est upidezes ant es de que alcance o uso de razão.
Todos os pais se preocupam de ensinar sua religião a seus filhos da infância, pois
quando o m enino se faça m aj or com eçará a pensar e a causar problem as. Form ulará
pergunt as de t odo t ipo; e, com o não encont rará respost as sat isfat órias, expor sit uações
difíceis a seus pais. Por isso, os pais procuram ensinar sua religião a seus filhos desde a
prim eira infância dest es: quando o m enino não é conscient e de m uit as coisas, quando
est á dispost o a aprender qualquer est upidez. Assim é com o as pessoas se volt am
m uçulm anas, hinduist as, j ainist as, budist as, crist ãs: algo que lhes ensine.
Por isso, as pessoas às que cham am os religiosas result am ser m uit as vezes pouco
int eligent es. Falt a- lhes int eligência, porque o que cham am os religião é algo que nos
envenenou ant es de que t enha surt o em nós a int eligência; e inclusive depois de surgir
est a m ant ém sua presa int erior. Não é de sent ir saudades que os hinduist as e os
m uçulm anos lut em ent re si em nom e de Deus, em nom e de seus t em plos e de suas
m esquit as.
Acaso há m uit as variedades de Deus? É um a variedade o Deus que adoram os
hinduist as e de out ra o Deus que adoram os m uçulm anos? Por isso lhes parece com os
hinduist as que seu Deus foi profanado quando t ira o chapéu um ídolo, ou aos
m uçulm anos parece que seu Deus foi desonrado quando se dest rói ou se incendeia um a
m esquit a?
Em realidade, Deus é “ o que é” . Exist e t ant o em um a m esquit a com o em um
t em plo. Exist e t ant o em um m at adouro com o em um lugar de cult o. Exist e t ant o em
um bot equim com o em um a m esquit a. Est á t ão present e em um ladrão com o em um
religioso: não é possível que est ej a present e um ápice m enos. Quem vai residir em um
ladrão a não ser o divino? Est á t ão present e em Ram o com o na Ravana: não est á um
ápice m enos na Ravana. Exist e t ant o dent ro de um hinduist a com o de um m uçulm ano.
Mas o problem a é que se chegássem os a acredit ar que a m esm a divindade exist e
em t odos, nossa indúst ria de fabricação de deuses se resent iría m uit o. Para evit ar que
acont eça ist o, seguim os im pondo a nossos deuses respect ivos. Se um hinduist a olhe
um a flor, proj et ará sobre ela seu próprio Deus, verá seu Deus nela, enquant o que um
m uçulm ano proj et ará e visualizará ao dele. São capazes, inclusive, de brigar por isso,
em bora possivelm ent e vam os m uit o longe ao supor um conflit o ent re hinduist as e
m uçulm anos por t al coisa.
Seus est abelecim ent os est ão a cert a dist ância uns de out ros, m as exist em ,
inclusive, disput as, disput a ent re as “ loj as de divindade” que são parent es próxim as. Por
exem plo, Varanasi est á bast ant e longe da Balance, m as no Varanasi os t em plos de Ram o
e da Krishna est ão próxim os ent re si. E ali exist em problem as do m esm o calibre.
ouvi falar de um grande sant o… Eu o cham o grande porque a gent e est ava
acost um ada cham á- lo grande, e o cham o sant o porque a gent e est ava acost um ada
cham á- lo sant o.
Era devot o de Ram o. Um a vez o levaram a t em plo da Krishna. Quando viu o
ídolo da Krishna com um a flaut a na m ão se negou a prost rar- se ant e a im agem . De pé
ant e a im agem , disse: “ Só se t om asse o arco e a flecha poderia m e prost rar ant e t i, pois
ent ão seria m eu Senhor” . Que est ranho! Tam bém im pom os condições a Deus: com o e
de que m aneira ou em que post ura deve apresent ar- se. Est abelecem os o ent orno;
m arcam os nossos requisit os, e só ent ão est am os dispost os a venerá- lo.
É m uit o est ranho: som os nós os que det erm inam os as coisas sem pre. O que
ident ificam os at é agora com o “ Deus” é um produt o apoiado em nossas próprias
especificações. Enquant o est e Deus art ificial se int erponha em nosso cam inho não
serem os capazes de conhecer esse Deus que não foi det erm inado por nós. Não serem os
capazes de conhecer que nos det erm ina . assim , precisam os nos liberar do Deus
art ificial se querem os conhecer deus que é. Mas isso é duro; inclusive à pessoa de
coração m ais benévolo lhe result a difícil. At é ao hom em ao que t em os por
porm enorizado lhe result a duro livrar- se dest e Deus art ificial, t ant o com o o hom em
est úpido. Podem os perdoar ao hom em est úpido, m as é difícil perdoar ao hom em
porm enorizado.
Recent em ent e chegou à a Í ndia Khan Abduk Gaffar Khan. Prega por t odo o país a
unidade dos hinduist as e os m uçulm anos, m as ele pessoalm ent e, é um m uçulm ano
convencido. Não lhe im port a rezar na m esquit a com o bom m uçulm ano, e depois prega
por t oda part e a unidade dos hinduist as e os m uçulm anos. Gandhi era um hinduist a
convencido, e t am bém ele est ava acost um ado a pregar a unidade dos hinduist as e os
m uçulm anos. A t al gurú, t al discípulo: o gurú era um hinduist a convencido, o discípulo é
um m uçulm ano convencido. E com o pode chegar t al unidade enquant o exist am no
m undo hinduist as convencidos e m uçulm anos convencidos? Devem relaxar- se um
pouco: só ent ão será possível a unidade. Est es cium ent os hinduist as e m uçulm anos
est ão na raiz de t odos os problem as ent re as duas religiões, em bora em realidade não
são visíveis as raízes dest es problem as. Os que pregam a unidade dos hinduist as e os
m uçulm anos não t êm a m enor ideia de com o conseguir essa unidade.
Enquant o Deus signifique coisas diferent es para as diferent es pessoas, enquant o
exist am lugares de cult o diferent es para as diferent es pessoas, enquant o sej am
diferent es as orações e as escrit uras ( enquant o o Corán sej a um pai para uns e o Git a
sej a um a m ãe para out ros) , nunca chegarão a seu fim os duros enfrent am ent os ent re as
religiões. Agarram o- nos ao Corán e à a Git a. Dizem os: “ Leiam o Corán e ensinar às
pessoas a deixar a inim izade e a unir- se. Leiam o Git a e ensinem às pessoas a deixar a
inim izade e a unir- se” . Mas não nos dam os cont a de que as palavras m esm as do Corán
e do Git a são a prim eira causa de t odos os problem as.
Se alguém lhe cort ar a cauda a um a vaca, desencadeiam - se dist úrbios ent re os
hinduist as e os m uçulm anos, e dizem os que as lut as as provocaram uns bagunceiros. E
o m ais gracioso é que nenhum bagunceiro pregou nunca que a vaca é nossa m ãe
sagrada. Em realidade, ist o o ensinam nossos m ahat m as, nossos religiosos, que acusam
aos “ bagunceiros” de provocar os dist úrbios. Porque, quando alguém lhe cort a a cauda à
vaca, ent ão, para as int enções dos m ahat m as, não é a cauda da vaca, a não ser a cauda
da Sant a m ãe. Quando fazem ver ist o às pessoas, com eçam os dist úrbios, nos que
part icipam os bagunceiros, aos que logo se acusa de havê- los provocado.
Assim , aquelas pessoas às que cham am os m ahat m as est ão, em realidade, na raiz
do problem a. Se se apart assem , os bagunceiros seriam inofensivos, não t eriam força
para lut ar. Recebem sua força dos m ahat m as. Mas os m ahat m as se ocult am t ão bem ,
que não nos dam os cont a nunca de que eles poderiam est ar na raiz do problem a.
Qual é, em realidade, a raiz do problem a? A causa radical de t odo o problem a é
seu Deus: o Deus que fabricam em suas casas. Tent em lhes salvar dos deuses que
criam em suas casas respect ivas. Não podem fabricar a Deus em suas casas: a
exist ência de um Deus assim seria um puro engano.
Não lhes peço que proj et em a Deus. Ao fim e ao cabo, o que proj et arão no nom e
de Deus? Um devot o da Krishna dirá que vá a Deus ocult o depois de um arbust o e com
um a flaut a na m ão, enquant o que um devot o de Ram o verá deus com um arco e um a
flecha na m ão. Todos verão deus de m aneira diferent e. Est a m aneira de ver não é m ais
que um a proj eção de nossos desej os e de nossos conceit os. Deus não é assim . Não
podem os encont rá- lo proj et ando nossos desej os e nossos conceit os: para encont rá- lo,
t erem os que desaparecer por com plet o. Terem os que desaparecer, j unt o com t odos
nossos conceit os e t odas nossas proj eções. Am bas as coisas não podem exist ir de um a
vez. Enquant o vós exist am com o um ego; só ent ão é possível conhecê- lo. Eu não posso
franquear a port a do divino enquant o não exist a m eu eu, m eu ego.

H
E OUVI DO CONTAR QUE UM HOMEM renunciou a t udo e chegou à port a do divino. Tinha
renunciado a sua riqueza, a sua esposa, a sua casa, a seus filhos, à sociedade, a t udo; e,
depois de t er renunciado a t udo, aproxim ou- se da port a do divino. Mas o port eiro o
det eve e lhe disse:
- Ainda não pode ent rar: Prim eiro, vê e deixa- o t udo at rás.
- Mas o deixei t udo! –aduziu o hom em .
- É evident e que t e t rouxest e para seu eu –lhe explicou o port eiro- . Não nos
int eressa o rest o; só nos int eressa seu eu. Não nos im port a o rest o: só nos int eressa
seu eu. Não nos im port a o rest o: só nos int eressa seu eu. Não nos im port a o que diz
que deixast e at rás: o que nos int eressa é seu eu. Vet e, solt a- o e volt a.
- Não t enho dinheiro, nem esposa, nem filhos. Não possuo nada.
- Ainda t em a seu eu em sua bolsa –disse o port eiro- Vet e e solt a- o. Est as port as
est ão fechadas para os que t razem para seu eu: as port as est iveram fechadas sem pre
para eles.

P
ERO COMO SOLTAR O EU? Nunca solt arem os o eu a apóie de t ent ar deixá- lo. Com o
posso solt ar o m esm o eu? I st o é im possível. Seria com o se alguém t ent asse levant ar- se
si m esm o at irando- se dos cordões dos sapat os. Com o posso solt ar o eu? At é depois de
solt á- lo t udo, ainda ficarei eu. Com o m uit o, alguém poderia dizer- se: “ solt ei o ego” ; m as
isso dem onst raria que ainda leva em cim a seu eu. Alguém se volt a egocênt rico inclusive
no que se refere a solt ar seu ego. Ent ão, o que deve fazer um ? É um a sit uação
bast ant e difícil.
Eu lhes digo que est a sit uação não t em nada de difícil, porque não lhes peço que
solt em nada. Em realidade, não lhes peço que façam nada. O eu, o ego, reforça- se com
t udo o que se faz. O único que lhes peço é que passem dent ro e que procurem o eu. Se
o encont rarem , não podem solt á- lo de m aneira nenhum a. Se sem pre exist ir ali, o que é
o que fica que possam solt ar? E se não o encont ram , ent ão t am pouco há m aneira de
solt á- lo. Com o podem solt ar algo que não exist e?
assim , passem dent ro e vej am se o eu est á ali ou não. O único que lhes digo é
que o que olhe dent ro de si m esm o ri a gargalhadas, porque não é capaz de encont rar a
seu eu em nenhum a part e dent ro de si m esm o. port ant o, o que fica? O que fica ent ão é
Deus. O que fica depois de desaparecer o eu, pode est ar separado de vós? Quando
deixa de exist ir o m esm o eu, quem vai est abelecer essa separação? Só o eu m e separa
de t i e a t i de m im .
Hei aqui a parede dest a casa. As paredes produzem a ilusão de que dividem em
dois o espaço, em bora o espaço nunca se part e pela m et ade: o espaço é indivisível. Por
m uit o grosa que sej a a parede que levant am , o espaço int erior da casa e o espaço
ext erior não são dois espaços diferent es: são um sozinho. Por m uit o alt a que sej a a
parede que levant em , o espaço int erior da casa e o ext erior não se separam nunca. Mas
o hom em que vive dent ro da casa t em a im pressão de que dividiu em dois o espaço: um
espaço no int erior de sua casa e out ro no ext erior. Mas se se derrubasse a parede, com o
diferenciaria o hom em o espaço int erior da casa do espaço ext erior? Com o o
det erm inaria? Só ficaria espaço.
Do m esm o m odo, dividim os a consciência em fragm ent os levant ando as paredes
do eu. Não se t rat a de que, quando se derrubar a parede do eu, eu com eçarei a ver
deus em t i. Não: ent ão não t e verei t i; só verei deus. Vos rogo que ent endam com
cuidado est a dist inção t ão sut il.
Seria errôneo dizer que eu com eçarei a ver deus em t i: eu não t e verei m ais a t i;
só verei o divino: Não se t rat a de que eu verei o divino. Quando alguém diz que Deus
exist e em t odos e cada um dos át om os, equivoca- se t ot alm ent e, porque est á vendo o
m esm o t em po ao át om o e a Deus. Não é possível ver os dois de um a vez. A verdade da
quest ão é que t odos e cada um dos át om os são Deus, e não é que Deus exist a em t odos
e cada um dos át om os. Não é que haj a algum Deus dent ro de cada át om o; t udo o que
é, é Deus.
Deus é o nom e que dam os, por am or, ao que é” . “ O que é” é verdadeiro;
cham am o- lo Deus por am or. Mas o nom e que lhe at ribuam os não t em im port ância. Não
lhes peço, port ant o, que com ecem a ver deus em t odas as pessoas. O que lhes digo é
que com ecem a olhar dent ro. Assim que olhem dent ro, desaparecerão. E, ao
desaparecer, o que verão será Deus.
Out ro am igo pergunt ou: Se a m edit ação conduzir ao sam adhi e o sam adhi conduz
a Deus, que necessidade há ent ão de ir aos t em plos? Não deveríam os suprim i- los?

E
S I NÚTI L I R Aos TEMPLOS, m as é igualm ent e inút il suprim i- los. por que nos incom odar
em suprim ir algo no que Deus não exist e, em qualquer caso? Deixem os t em plos onde
est ão. Para que suprim i- los? Mas est e problem a surge cada cert o t em po.
Por exem plo, Mahom a disse que a Deus não lhe encont ra nos ídolos, e os
m uçulm anos acredit aram que queria dizer que havia a que dest ruir os ídolos. E ent ão
com eçou a acont ecer no m undo um a coisa m uit o curiosa; j á havia gent e com a loucura
de const ruir os ídolos. Agora, os const rut ores de ídolos se ocupam celosam ent e de
const ruir ídolos, enquant o que os dest ruidores de ídolos se ocupam dia e noit e de
encont rar m odos de dest ruir os ídolos. Alguém devia lhes pergunt ar quando disse
Mahom a que se encont raria a Deus dest ruindo os ídolos. É possível que Deus não est ej a
present e em um ídolo, m as quem há dit o que Deus est ej a present e no fat o de dest ruir os
ídolos? E se Deus est á present e no fat o de dest ruir os ídolos, que dificuldade há em que
Deus est ej a present e no ídolo? Deus t am bém pode est ar present e no ídolo. E se não
est ar present e no ídolo, com o pode est ar present e em sua dest ruição?
Não digo que devam os suprim ir os t em plos. O que digo é que devem os nos dar
cont a da verdade de que Deus est á em t odas part es. Quando nos dem os cont a dest a
verdade, t udo se convert e em seu t em plo: port ant o, é difícil dist inguir o t em plo do que
não é t em plo. Em t al caso, qualquer lugar onde est ej am os será seu t em plo; algo que
olhem os será seu t em plo; qualquer lugar onde repousem os será seu t em plo. Já não
haverá m ais lugares sagrados de peregrinações: t odo m undo será um lugar sagrado.
Ent ão não t erá sent ido criar ídolos concret os, porque t udo o que exist a será im agem
dela.
Não pret endo que lhes dediquem a suprim ir os t em plos nem que dissuadam às
pessoas de que vá a eles. Eu não hei dit o nunca que Deus não est ej a present e no
t em plo. Quão único digo é que o que só vá a Deus no t em plo e não o vê em nenhum a
out ra part e não t em o m enor conhecim ent o de Deus.
que chegou a conhecer a divindade sent irá a presença de Deus em t odas part es:
t ant o no t em plo com o em um lugar alheio ao t em plo. Com o dist inguirá, pois, o que é
um t em plo do que não é um t em plo? I dent ificam os o t em plo com o um lugar onde est á a
presença de Deus, m as se a gent e sent ir sua presença em t odas part es, ent ão t odo lugar
é seu t em plo. Já não será necessário const ruir t em plos concret os, nem t am pouco
suprim ir os t em plos.
observei que a gent e est á acost um ada com et er com m uit a freqüência o engano
de com preender algo com plet am ent e opost o ao que hei dit o, em lugar de ent ender
m inhas palavras. Às pessoas lhe int eressa m ais o que t erá que suprim ir, o que t erá que
dest ruir, o que t erá que elim inar, não t ent am com preender o que é. Est es enganos se
produzem cont inuam ent e.
Um dos enganos fundam ent ais que com et e a pessoa é ouvir algo com plet am ent e
diferent e do que lhe diz. Agora, alguns de vós poderia t om ar por um inim igo dos
t em plos, m as lhes cust aria t rabalho encont rar a um pessoa que aprecie os t em plos m ais
que eu. por que lhes digo ist o? Pela singela razão de que eu gost aria que t oda a Terra
se visse com o um t em plo; o que m e int eressa é que t odo se convert a em um t em plo.
Mas alguns, depois de m e escut ar, podem ent ender que as coisas est ariam m elhor se
suprim íssem os os t em plos. Não serviria de nada livrar- se dest es t em plos. As coisas só
funcionam bem quando t oda a vida se convert e em um t em plo.
Am bos os grupos est ão equivocados: os que vêem deus nos t em plos e o que
dest roem os t em plos. que só vá a Deus no t em plo com et e um engano. Est e é seu
engano: A quem vê fora do t em plo? Evident em ent e, seu engano é que não vá a Deus
m ais que no t em plo. Seu t em plo é m uit o insignificant e: o definit ivo é m uit o vast o: não
pode confinar a Deus em seus t em plos m inúsculos e insignificant es. O engano da out ra
pessoa é est e: quer suprim ir os t em plos, dest rui- los. Acredit a que só ent ão poderá ver
deus. Seus t em plos são m uit o pequenos para que sirvam de m oradas de Deus ou para
im pedir a ninguém ver deus. Recordem : seus t em plos são t ão ridiculam ent e pequenos
que não podem convert er- se na m orada de Deus, nem t am pouco podem ser um cárcere
onde est ej a encerrado Deus, que supost am ent e ficaria livre ao dest rui- los. Devem
com preender exat am ent e o que lhes digo.
O que lhes digo é ist o: só quando ent ram os na m edit ação ent ram os
verdadeiram ent e em um t em plo. A m edit ação é o único t em plo que não t em paredes; a
m edit ação é o único t em plo em que, assim que se ent ra nele, ent ra- se verdadeiram ent e
em um t em plo. E o que com eça a viver em m edit ação com eça a viver no t em plo vint e e
quat ro horas ao dia.
Do que serve a um a pessoa visit ar o t em plo se não viver em m edit ação? Que
sent ido t em que vá a um lugar que est am os acost um ados a cham ar “ t em plo” ? Não é
fácil que, sent ados em seu lugar de t rabalho, encont rem de repent e o cam inho que
conduz ao t em plo. Nat uralm ent e, é fácil que levem o corpo ao t em plo: o corpo é t ão
pouca coisa que podem levá- lo com vós aonde desej em . A m ent e não é t ão singela. Um
loj ist a que cont a dinheiro em sua loj a pode levant ar- se de repent e, se assim o desej ar, e
levar seu corpo ao t em plo. Pelo m ero feit o de que seu corpo est á no t em plo, o hom em
pode acredit ar neciam ent e que ele est á no t em plo. Mas se aparecer um pouco a sua
própria m ent e, descobriria com assom bro que ainda est ava sent ado em sua loj a
cont ando dinheiro.
ouvi cont ar o seguint e:

A
UM HOMEM O FAZI A SOFRER m uit o sua m ulher. A t odos os hom ens passa, m as a est e
sua m ulher o fazia sofrer m uit o. Ele era hom em religioso, m as a m ulher não t inha nada
de religiosa. Norm alm ent e acont ece o cont rário, ( a m ulher é religiosa e o m arido não o
é) , m as t udo pode acont ecer! Eu ent endo que só um dos dois pode volt ar- se religioso.
O m arido e a m ulher não se podem volt ar religiosos j unt os: um sem pre será opost o ao
out ro. Nest e caso, o m arido se t ornou prim eiro religioso, e a m ulher não se preocupou
disso; m as o m arido t ent ava cada dia volt á- la religiosa.
As pessoas religiosas t êm um a debilidade essencial: querem volt ar para out ros
com o elas. I st o é m uit o perigoso; é um a condut a violent a. Não est á bem t ent ar volt ar
para out ros com o som os nós. Bast a expondo a out ros nosso pont o de vist a; m as
encurralar a alguém e obrigá- lo a acredit ar o que acredit am nós é um at o de repressão,
de t ort ura: é um a espécie de violência espirit ual.
Todos os gurús prat icam at ividades dest e t ipo. Est ranha vez se encont ra a um a
pessoa m ais violent a que um gurú. O gurú t em ao discípulo agarrado pelo pescoço e
t ent a lhe im por as roupas que deve ficar, com o deve levar o cabelo, o que deve com er,
quando deve dorm ir, quando deve levant ar… lhe im põe ist o, aquilo e o de m ais à frent e,
coisas de t odo t ipo. A base de im posições com o est as, os gurús virt ualm ent e m at am às
pessoas.
De m odo que o m arido est ava m uit o desej oso de volt ar religiosa a sua m ulher.
Em efeit o: às pessoas lhe agrada m uit o volt ar religiosos a out ros. Volt ar- se religioso a
gent e m esm o é um a m udança m uit o radical, m as às pessoas lhe sat isfaz t rem endam ent e
acossar a out ros para que se volt em religiosos, porque, fazê- lo- a, dão é obvio que eles
m esm os são pessoas religiosas. Mas a m ulher não fazia caso a seu m arido. O m arido,
desesperado, foi a seu gurú e lhe suplicou que fora a sua casa e que convencesse a sua
esposa.
O gurú chegou um dia, m uit o cedo, por volt a das cinco da m anhã. O m arido j á
est ava na sala de cult o. A m ulher varria o pát io. O gurú a abordou ali m esm o e lhe
disse:
- Seu m arido m e diz que não é um a pessoa religiosa. Nunca adora a Deus, nunca
reza, nunca ent ra no t em plo que const ruiu seu m arido em sua casa. Olhe a seu m arido:
são as cinco da m anhã e j á est á no t em plo.
A m ulher respondeu:
- Não recordo t er vist o m eu m arido ir nunca ao t em plo.
O m arido, que est ava em seu t em plo, ouviu o que havia dit o sua m ulher e ficou
verm elho da ira. As pessoas religiosas se enfurecem com facilidade, e m ais ainda as que
est ão em um t em plo. Não lhes podem im aginar quão fácil é avivar sua ira; só o céu
sabe se a gent e vai aos t em plos para ocult ar ali as cham as de sua ira ou por algum out ro
m ot ivo. Quando um a pessoa se volt a religiosa, convert e em um inferno a vida do rest o
de sua fam ília.
O m arido est ava com plet am ent e indignado. I a pela m et ade de suas orações
quando ouviu o que havia dit o sua m ulher. Não dava crédit o a seus ouvidos: o que havia
dit o ela era um a m ent ira absolut a. Ele no t em plo, e sua m ulher dizendo ao gurú que não
sabia se t inha ent rado ali algum a vez! apressou- se a t erm inar suas orações para poder
sair e desm ent ir t am aña m ent ira.
O gurú com eçou a brigar à m ulher:
- O que diz? Você m arido vai ao t em plo com regularidade.
O m arido, que ouvia ist o, ficou a recit ar suas orações com voz ainda m ais fort e.
O gurú disse:
- Olhe com quant o vigor reza!
A m ulher riu e respondeu:
- Cust a- m e acredit ar que t e engane t am bém essa recit ação! É verdade que est a
repet indo o nom e de Deus em voz alt a; m as, por isso eu vej o, não est á no t em plo: est á
na loj a do sapat eiro, regat eando com ele.
Aquilo foi m uit o! O m arido não pôde cont er- se m ais. I nt errom peu sua oração e
saiu correndo do t em plo.
- A que vêm t odas essas m ent iras? - grit ou- Não via que est ava rezando no
t em plo?
- Olhe dent ro de t i com um pouco m ais de at enção –disse a m ulher- Acaso não
est ava regat eando com o sapat eiro? E não t ivest e um a discussão com ele?
O m arido ficou confuso, pois o que dizia ela era verdade.
- Mas com o o soubest e? –pergunt ou- lhe.
- Ont em à noit e, ant es de t e deit ar, disse- m e que o prim eiro que faria est a m anhã
seria ir com prar t e um par de sapat os, que lhe fazem falt a –respondeu a m ulher- Disse-
m e t am bém que t e parecia que o sapat eiro pedia m uit o pelos sapat os. Sei por
experiência que quão últ im o a gent e pensa ant es de deit ar- se de noit e é o prim eiro que
pensa à m anhã seguint e. Por isso, supus que devia est ar na sapat aria.
- Não posso dizer nada, pois t em razão –disse o m arido- Eu est ava, em efeit o, na
sapat aria, e discut im os o preço dos sapat os. E quant o m ais nos acalorávam os em nossa
discussão, m ais alt o repet ia eu o nom e de Deus. Possivelm ent e est ivesse repet indo
ext eriorm ent e o nom e de Deus, m as em m eu int erior est ava discut indo com o sapat eiro.
Tem razão: é possível que eu não t enha est ado nunca verdadeiram ent e no t em plo.

N
Ou É TÃO FÁCI L ENTRAR EM UM TEMPLO: não é quest ão de ent rar em um lugar qualquer
e dizer que est á em um t em plo. Seu corpo pode t er ent rado no t em plo, m as e sua
m ent e? Com o podem confiar de onde est ará sua m ent e? Com o podem confiar de onde
est ará sua m ent e dent ro de um m om ent o?
E sua m ent e t enha ent rado no t em plo, por que lhes preocupar de se o corpo for o
t em plo ou não? A m ent e que encont rou a ent rada ao t em plo descobre de repent e que
est á rodeado por t oda part e pelo vast o t em plo: agora é im possível sair do t em plo. Vão
onde vão, ainda est arão em seu t em plo. Podem ir à Lua… Recent em ent e t em po que
Arm st rong alunissou nela. Quer isso dizer que deixou o t em plo de Deus? Não podem
sair do t em plo de Deus, de m aneira nenhum a. I m aginam que fica algum lugar onde a
gent e possa est ar fora de seu t em plo?
Assim , os que acredit am que o t em plo que const ruíram é o único t em plo de Deus
e que não fica nenhum t em plo de Deus fora dele, equivocam - se. E os que acredit am que
é preciso dest ruir est e t em plo porque Deus não est á present e nele, equivocam - se
igualm ent e.
por que j ogar a culpa aos pobres t em plos? Se pudéssem os deixar at rás nossa
ilusão de que Deus só exist e nos t em plos, nossos t em plos poderiam ser m uit o form osos,
m uit o cheios de am or; m uit o dit osos. Em realidade, a um povo que não t em t em plo
parece que lhe falt a algo. Pode dar m uit a alegria t er um t em plo. Mas um t em plo
hinduist a nunca pode ser um a font e de alegria, com o t am pouco pode ser font e de alegria
um t em plo m uçulm ano nem um t em plo crist ão. Só o t em plo de Deus pode ser font e de
alegria.
Mas a polít ica hinduist a, a m uçulm ana e a crist ã som t ão profundas que não
perm it em nunca que um t em plo represent e ao ser divino. Por isso parece t ão feios os
sant uários hinduist as e as m esquit as m uçulm anas. Um a pessoa que sej a sincera não
quer sequer lhes pôr a vist a em cim a. convert eram - se em focos de descarados: ali se
urde t odo t ipo de m aldades. E os que urdem est as m aldades não sem pre ent endem o
que fazem . Eu ent endo que ninguém urde m aldades ent endendo do t udo o que faz: as
m aldades sem pre se urdem sem consciência plena. E t oda a Terra est á apanhada nest a
t ram a.
Se algum a vez desaparecerem os t em plos da superfície da Terra, não será obra
dos at eus, m as sim dos cham ados t eíst as. Já est ão desaparecendo os t em plos: quase
desapareceram de t udo. Se querem os salvar os t em plos da Terra, devem os ver prim eiro
o vast o t em plo que nos rodeia: a própria exist ência. Depois, salvarão- se
aut om at icam ent e os t em plos m enores: sobreviverão com o sím bolos da presença divina.
É com o se eu lhes ent regasse um lenço com o present e: o present e pode valer uns
poucos paisa, m as vós o conservam a boa cobrança em um cofre.
Um a vez visit ei um povo. A gent e m e acom panhou at é a est ação para m e
despedir e alguém m e pôs ao pescoço um a grinalda de flores. Eu m e t irei isso e a
ent reguei a um a m enina que est ava a m eu lado. Seis anos m ais t arde volt ei a visit ar
aquele m esm o povo, e a m esm a m enina deveu falar com igo e m e disse:
- conservei a grinalda que m e ent regou a últ im a vez. Em bora as flores se
m urcharam e a gent e diz que j á não fica arom a, est ão t ão frescas e fragrant es com o o
prim eiro dia. Ao fim e ao cabo, deu- m e isso você.
Visit ei sua casa e ela t irou um a preciosa caixa de m adeira em que est ava
deposit ada cuidadosam ent e a grinalda. As flores se m urcharam e est avam secas;
t inham perdido sua fragrância. Qualquer que as visse podia lhe pergunt ar: “ por que
guardast e esses desperdícios em um a caixa t ão bonit a? Que necessidade t inha? A caixa
é valiosa m as esses desperdícios não valem nada” . A m enina podia at irar a caixa, m as
não os desperdícios. Ela via algo m ais nos desperdícios: para ela eram um sím bolo.
Podiam ser desperdícios para o rest o do m undo, m as não para ela.
Se os t em plos, as m esquit as, as I glesias, pudessem m ant er- se com o lem branças
do desej o do hom em de subir para Deus… E est a é a verdade. Olhem a alt a agulha de
um a igrej a, o alt o m inaret e de um a m esquit a, a cúpula de um t em plo que sobe at é o
céu. Não são m ais que sím bolos do desej o do hom em de elevar- se, sím bolos de sua
viagem em busca de Deus. São sím bolos do fat o de que o hom em não se cont ent e com
um a casa, m as sim quer const ruir t am bém um t em plo. O hom em não se cont ent e
est ando só na Terra, m as sim quer ascender t am bém para o céu.
Viram algum a vez os abaj ures de cerâm ica que ardem nos t em plos? Pergunt ast e-
lhes algum a vez por que se acendem nos t em plos est es abaj ures que cont êm ghee,
m ant eiga desencardida? advert ist es algum a vez que est es abaj ures são as únicas coisas
da Terra cuj a cham a algum a vez se dirige para baixo? Sem pre se dirige para cim a.
Em bora invist am o abaj ur, cham a- a segue subindo. Cham a- a, que sem pre sobe, é um
sím bolo das aspirações hum anas. Vivem os na Terra, m as t am bém nós gost aríam os de
fixar nossa residência no céu. Est am os at ados à Terra, m as t am bém desej am os nos
m over livrem ent e pelo céu abert o.
E advert ist es algum a vez a rapidez com que um a cham a se eleva e desaparece?
E advert ist es que quando um a cham a se eleva e desaparece j á não podem os encont rar
nenhum rast ro dela? I st o t am bém é sim bólico: sim boliza o fat o de que o que ascende,
desaparece. O abaj ur de cerâm ica é de m at éria sólida, enquant o que a cham a é m uit o
fluida: assim que se eleva, desaparece. assim , a cham a do abaj ur cont ém a m ensagem .
É um sím bolo do fat o de que o que se eleva por cim a do vulgar desaparece.
Quando um a pessoa decide queim ar ghee em seu abaj ur, faz- o puram ent e por
am or. Em bora não t em nada de m au ut ilizar querosene em um abaj ur ( Deus não lhes
im pedirá isso) , parece- nos que só o que se t ornou puro com o o ghee pode subir. A
cham a de um abaj ur de querosene t am bém subirá ( o querosene não é inferior ao ghee) ,
m as o ghee é um sím bolo de nosso sent im ent o de que o que se desencardiu será capaz
de subir m ais alt o.
Os t em plos, as m esquit as e as I glesias t am bém são uns sím bolos sem elhant es a
est e. Podem ser preciosos: um as ilust rações incríveis criadas pelo hom em . Mas se
t ornaram feios porque ent raram neles m uit as coisas absurdas. Agora, o t em plo j á não é
um t em plo: convert eu- se no t em plo dos hinduist as. E não só dos hinduist as, m as
t am bém dos vaishnavas, dos devot os do deus Visnú. E não só é o t em plo dos
vaishnavas, m as t am bém o t em plo de fulano ou de belt rano. Assim , com est a
desint egração cont ínua, t odos os t em plos se convert eram em focos de polít ica.
Alim ent am o sect arism o e o fanat ism o que levam a t odos ao desast re. Com o t em po,
convert eram - se em uns est abelecim ent os oficiais que se dedicam const ant em ent e a
explorar e a conservar seus int eresses criados.
Não lhes peço que suprim am os t em plos. O que lhes peço é que lhes liberem de
t udo quão inút il passou a form ar part e dos t em plos. Terá que dest ruir seus int eresses
criados. Terá que salvar aos t em plos de que se convert am em est abelecim ent o oficiais;
t erá que salvá- los do sect arism o e do fanat ism o. Um t em plo é um lugar m uit o form oso
se não deixar de ser um aviso do divino, de Deus, se não deixar de ser um sím bolo dele,
se reflet ir um fenôm eno que sobe para o céu.
Quão único quero dizer é que, enquant o os t em plos sigam sendo a m ola principal
da polít ica, seguirão provocando desgraças. E agora, em efeit o, os t em plos não são a
não ser a m ola principal da polít ica. Quando se const rói um t em plo para os hinduist as,
convert e- se aut om at icam ent e em um foco de polít ica, pois a polít ica significa sect arism o.
E a religião não t em absolut am ent e nada que ver com o sect arism o. A religião significa
um sadhana, um com prom isso pessoal com a espirit ualidade, e a polít ica significa
sect arism o. Sede conscient es sem pre de que a religião se pode relacionar com um
sadhana, m as não pode relacionar- se nunca com o sect arism o. A polít ica se alim ent a do
sect arism o, o sect arism o se alim ent a do ódio e o ódio se alim ent a de sangue; e t odas
est as m aldades seguem adiant e.
O t em plo se t ornou im puro com o sím bolo de Deus. Terá que elim inar essa
im pureza; port ant o, o t em plo será um sím bolo de grande beleza. Se um povo t iver um
t em plo que não pert ença nem aos hinduist as nem aos m uçulm anos nem aos crist ãos, o
povo parecerá form oso. O t em plo se convert erá em um adorno do povo. O t em plo se
convert erá em um a lem brança do infinit o. Aos que ent rem no t em plo não lhes parecerá
que, por fazê- lo, aproxim aram - se de Deus, nem que fora do t em plo est avam longe dele;
a gent e sent irá, sim plesm ent e, que o t em plo é um lugar onde lhes result a m ais fácil
ent rar em si m esm os, que o t em plo só t em que ser um lugar onde a gent e conhece a
beleza, a paz e a solidão. Em t al caso, o t em plo será sim plesm ent e um lugar adequado
para prat icar a m edit ação. E a m edit ação é o cam inho que conduz ao divino.
Não t udo encont ram facilm ent e em suas casas a paz necessária para prat icar a
m edit ação; m as t odos os habit ant es de um povo, j unt os, podem const ruir facilm ent e
um a casa t ão pacífica. Não t odos podem perm it ir- se cont rat ar a um professor part icular
para seus filhos e oferecer a est es um a escola própria com j ardim e pát io de j ogos. Se
cada pessoa se dedicasse a fazer ist o, surgiria um problem a: só uns poucos m eninos
t eriam est udos. Por isso const ruím os um a escola no povo e proporcionam os t odo o
necessário para t odos os m eninos do povo. Do m esm o m odo, cada povo deve t er um
lugar para prat icar o sadhana, para prat icar a m edit ação. I sso é t udo o que significam o
t em plo e a m esquit a: nada m ais. Na at ualidade, j á não são lugares para prat icar o
sadhana: convert eram - se em cent ros para difundir agit ações e m aldades.
assim , não t em os necessidade de suprim ir os t em plos. Mas devem os procurar
que o t em plo não siga sendo um cent ro de agit ação. Tam bém devem os procurar que o
t em plo volt e para m ãos da religião e que não siga em m ãos dos hinduist as nem dos
m uçulm anos.
Se os m eninos de um povo podem ir à m esquit a com t ant a liberdade com o ao
t em plo, se podem ir à igrej a com t ant a liberdade com o ao t em plo da Shiva, em t al caso,
isso denot a que esse é um povo verdadeiram ent e religioso. Logo é que as gent e desse
povo são boas gent e. Ent ão é que os pais desse povo não são inim igos de seus filhos.
Por conseguint e, advert e- se que os pais dest e povo am am a seus filhos, e que est ão
sent ando as bases para que seus filhos não lut em ent re eles. Os pais dest e povo dirão a
seus filhos: “ A m esquit a é sua casa, t ant o com o o t em plo. Vão ali onde encont rem a
paz. Passem aqui: procurem deus lá. Todas as casas são de Deus, m as o que im port a é
vê- lo. E, para isso, ent rem em vós m esm os. Ou vão onde lhes pareça” . O dia em que
ist o se faça realidade, criará- se no m undo o t em plo t al com o deve ser. Ainda não fom os
capazes de const rui- lo.
Eu não m e cont o ent re os que querem suprim ir os t em plos. Pelo cont rário, digo
que nossos t em plos j á foram dest ruídos por quão m esm os afirm am ser seus vigilant es.
Mas é difícil det erm inar quando serem os capazes de nos dar cont a disso. E, além disso,
a gent e m e ent ende m au, pensa que sou um dos dest ruidores de t em plos. O que
ganharia eu dest ruindo um t em plo? Nat uralm ent e, t erá que elim inar t udo o que chegou
a rodear o t em plo e que não é próprio de um t em plo. Não t em nada de m au dedicar- se
a est e t rabalho.

Responderei a um a últ im a pergunt a, e depois darem os com eço a nossa


m edit ação. Um am igo pergunt ou depois do bat e- papo da m anhã: Vaga algum as vezes o
at m an ( a alm a ou a consciência) depois de abandonar o corpo?

A
ALGUMAS ALMAS, A ALGUNS SERES, result a- lhes difícil, em efeit o, t om ar um corpo novo
im ediat am ent e depois da m ort e. I st o t em um a causa, e possivelm ent e não lhes t enha
ocorrido qual é est a causa. Podem os dividir a t odas as alm as em t rês cat egorias.
Alguém é a inferior: a das pessoas com a consciência do t ipo m ais baixo; out ra é o t ipo
m ais alt o de t odos, a consciência m uit o superior e m ais pura; e a t erceira é a da gent e
int erm édia, que t êm algo de cada um a das duas prim eiras.
Tom em os com o exem plo a dam roo, um t am bor pequeno. É largo pelos ext rem os
e est reit o no cent ro. Se o invest íssem os de t al m odo que fora largo no cent ro e est reit o
nos ext rem os, com preenderíam os a sit uação dos seres im at eriais. Nos ext rem os
est reit os há m uit o poucos seres. Aos seres m ais baixos result a difícil t om ar um corpo
novo, t ant o com o aos seres superiores. Os int erm édios não se at rasam absolut am ent e:
alcançam um corpo novo assim que deixam o ant erior. O m ot ivo é que sem pre há um
vent re disponível para alm as m edíocres, para as m edianas.
Em cont o m orre um a pessoa a alm a, o ser, vá a cent enares de pessoas, a
cent enares de casais, que copulam . E quando se sent e at raída por um casal, ent ra no
vent re. Mas m uit as alm as superioras não podem ent rar em vent res corrent es:
necessit am vent res ext raordinários. A alm a superiora necessit a a união de um casal com
um nível excepcional elevado de consciência, para que est ej a disponível o nível m ais
elevado de possibilidades para o nascim ent o. assim , um a alm a elevada t em que esperar
o vent re adequado. Do m esm o m odo, os seres inferiores t am bém t êm que esperar,
porque t am pouco podem encont rar facilm ent e a um casal: não lhes result a fácil
encont rar um vent re de t ipo inferior. Dest a form a, os t ipos m ais elevados e os inferiores
não nascem com facilidade, enquant o que os m edíocres não t êm dificuldades. Sem pre
há vent res disponíveis para recebê- los: a alm a m edíocre se sent e at raída im ediat am ent e
por um deles.
Est a m anhã lhes falei do Bardo. Quando se prat ica est e m ét odo, diz- se ao
m oribundo: “ Verá cent enares de casais que copulam . Não t enha pressa. pense- lhe isso
um pouco; espera um pouco, passa ali algum t em po ant es de ent rar em um vent re. Não
ent re im ediat am ent e no prim eiro vent re que t e at raia” . É com o se um a pessoa fora ao
bairro com ercial e com prasse o prim eiro que lhe cham asse a at enção em um a crist aleira.
A prim eira loj a que vê o at rai: ent ra im ediat am ent e na loj a. Mas o com prador int eligent e
visit a várias loj as, com prova um a e out ra vez os art igos, inform a- se, com para os preços
e, depois, decide.
port ant o, no m ét odo Bardo se advert e ao m oribundo: “ Cuidado! Não t e precipit e,
não t enha pressa, segue procurando: pense- lhe isso t en t odo em cont a” . Lhe diz ist o
porque sem pre há cent enares de pessoas copulando. A pessoa vê claram ent e a
cent enares de casais fazendo o am or, e ent re elas só se sent e at raído pelo casal que é
capaz de lhe oferecer um vent re adequado.
Tant o as alm as superioras com o as inferiores devem esperar at é que encont ram
um vent re adequado. As alm as inferiores não encont ram facilm ent e um vent re de
carát er t ão baixo que, at ravés dele, possam alcançar suas possibilidades. As alm as
superioras t am pouco encont ram facilm ent e um vent re de carát er superior. As alm as
inferiores que est ão falt as de corpos são os que cham am os m aus espírit os, e as alm as
superioras que esperam nascer são os que cham am os devat as, deuses. Os seres
superiores que esperam ao vent re adequado são deuses. Os fant asm as e os m aus
espírit os são as alm as m ais baixas, que est ão falt as de corpos por sua qualidade inferior.
Para o ser corrent e sem pre há disponível um vent re. Assim que se produz a m ort e, a
alm a ent ra inst ant aneam ent e em um vent re.
O m esm o am igo pergunt ou t am bém : Esses seres que esperam nascer podem
ent rar no corpo de alguém e incom odar a essa pessoa?

T
I STO AMBI ÉN É POSSÍ VEL, porque as alm as inferiores, as que não encont raram ainda
um corpo, est ão m uit o at orm ent adas, enquant o que as alm as superioras são felizes sem
corpos. Devem t er present e est a diferença. As alm as superioras sem pre consideram o
corpo com o um a espécie de at adura de um t ipo ou out ro: querem m ant er- se t ão ligeiros
que preferem , inclusive, não carregar com o peso de um corpo. E, em últ im o ext rem o,
querem livrar do corpo, pois lhes parece que o corpo não é m ais que um a prisão.
Chegam a sent ir que o corpo lhes obriga a fazer cert as coisas que não m erecem a pena;
por isso, suas alm as não est ão m uit a apegadas ao corpo. As alm as inferiores não são
capazes de viver nem um m om ent o sem o corpo: seus int eresses e sua felicidade est ão
at ados ao corpo.
Alguns prazeres se podem alcançar sem est ar em um corpo. Por exem plo,
t om em os o caso da alm a de um pensador. Pois bem , a gent e pode desfrut ar de do
prazer de pensar sem est ar em um corpo, porque o pensam ent o não t em nada que ver
com o corpo. Assim , se a alm a de um pensador com eça a vagar e não alcança um
corpo, nunca dá am ost ras de nenhum a pressa por est ar de novo no corpo, porque pode
desfrut ar de do prazer de pensar inclusive no est ado em que se encont ra. Mas
suponham os, por exem plo, que um a pessoa desfrut a com paixão da com ida. Não é
possível apreciar esse past ar sem est ar em um corpo, de m odo que em t al caso a alm a
se volt a t rem endam ent e inquiet a pelo desej o de ent rar de algum m odo em um corpo. E
se não conseguir encont rar um vent re adequado, ent ão pode ent rar em um corpo que
t em um a alm a débil. Alm a débil é aquela que não é propriet ária de seu corpo. E ist o
acont ece quando a alm a débil se encont ra em est ado de m edo.
Recordem que o m edo t em um significado m uit o profundo. O m edo é aquilo que
lhes faz lhes cont rair. Quando t êm m edo, cont raem - lhes; quando são felizes, dilat am -
lhes. Quando um a pessoa se encont ra em est ado de m edo, sua alm a se cont rai, e em
conseqüência fica livre em seu corpo um grande espaço vazio para que ent re out ra alm a
e o ocupe. Não só um a alm a m as t am bém m uit as podem ent rar de um a vez nesse
espaço e ocupá- lo. port ant o, quando um a pessoa se encont ra em est ado de m edo, pode
ent rar um a alm a em seu corpo. E o único m ot ivo pelo que um a alm a quereria fazer t al
coisa é porque t odos seus desej os est ão ligados ao corpo: t ent a saciar seus desej os
ent rando no corpo de alguém . I st o é perfeit am ent e possível. Exist em provas t angíveis
que o dem onst ram : t udo ist o se apóia com plet am ent e na realidade.
O que ist o quer dizer é que um a pessoa t em erosa sem pre corre perigo: est á
sem pre cont raída. Vive, por assim dizê- lo, em um a só habit ação da casa, enquant o o
rest o das habit ações ficam disponíveis e podem ser ocupadas por out ros inquilinos.
de vez em quando, as alm as superioras ent ram em um corpo hum ano, m as por
m ot ivos m uit o diferent es. Alguns at os de com paixão não se podem realizar sem est ar
em um corpo. I m aginem os, por exem plo, que um a casa se incendeia e que não aparece
ninguém dispost o a salvá- la. A m ult idão cont em pla o incêndio, im pot ent e; ninguém se
at reve a ent rar na casa em cham as. de repent e se adiant a um hom em , apaga o incêndio
e consegue salvar a alguém que est ava apanhado dent ro. Mais t arde, quando t udo
t erm inou, aquele m esm o hom em se pergunt a com o foi capaz de fazê- lo. Est á seguro de
t er obrado e at uado sob a influência de um poder desconhecido: sabe que não foi obra
dela, que alguém m ais o fez. Nesses casos é que o hom em é incapaz de fazer provisão
do valor necessário para um a boa causa, um a alm a superiora pode ent rar no corpo
hum ano e cum prir a t arefa. Mas est as coisas acont ecem poucas vezes.
Com o aos seres superiores result a difícil encont rar vent res adequados, algum as
vezes t êm que esperar cent enares de anos at é seu nascim ent o seguint e. E, coisa
surpreendent e, est as alm as aparecem sobre a Terra quase ao m esm o t em po. Por
exem plo, o Buda e Mahavira nasceram am bos na Í ndia faz 2,500 anos. Am bos nasceram
no Bihar, e na m esm a época est avam pressent em out ros seis seres ilum inados na
m esm a região do Bihar. Seus nom es não são conhecidos porque não iniciaram a
nenhum discípulo, porque não t iveram seguidores ( é o único m ot ivo) ; m as eram seres do
m esm o calibre que o Buda e Mahavira. E realizaram um experim ent o m uit o at revido:
nenhum deles iniciou a nenhum seguidor. Um a dest as pessoas foi Prabuddha
Kat yayana; out ro Aj it Keshkam bal, e out ro foi Sanj ay Vilet hiput ra. Tam bém viveu ent ão
Machali Gosal, e out ros. Oit o pessoas do m esm o gênio e da m esm a pot encialidade
nasceram naquele período de t em po na região do Bihar. Com t odo m undo ao seu dispor,
est as oit o alm as esperaram m uit o t em po para nascer naquela pequena região do Bihar.
E quando chegou a oport unidade, chegou para t odos de um a vez.
Est á acost um ado a acont ecer ( e t am bém acont ece com as alm as m alvadas) que
se produz um a cadeia de nascim ent os de alm as boas. Ao m esm o t em po que o Buda e
Mahavira nasceu Sócrat es na Grécia, seguido ao pouco t em po pelo Plat ón e Arist ót eles.
Para a m esm a época nasceram na China Confucio, Lao Tse, Chuang Tse e Mencio ( Meng
Tse) . Aproxim adam ent e na m esm a época nasceram em part es diferent es do m undo
um as pessoas incríveis. Todo m undo est ava cheio de pessoas fascinant es. Parece que
as alm as dessas pessoas levavam algum t em po esperando, e que lhes surgiu por ent ão
um a oport unidade; apareceram vent res disponíveis para elas.
Quando acont ece que há vent res disponíveis, aparecem m uit os vent res
disponíveis de um a vez. É com o o florescim ent o das novelo. Quando chega a
t em porada, encont ram o- nos que se abert o um a flor, depois vem os um a segunda flor, e
logo um a t erceira. As novelo est ão esperando florescer. Chega o alvorada, e assim que
se levant a o sol sobre o horizont e a flor se abre. As flores acont eceram t oda a noit e
esperando, e quando saiu o sol, abriram - se.
Às alm as inferiores acont ece exat am ent e o m esm o. Quando se desenvolve na
Terra um ent orno adequado, nascem em cadeia. Por exem plo, em nossos t em pos
nasceram na m esm a época pessoas com o Hit ler, St alin e Mao. Est as pessoas t ão
horríveis deveram esperar m ilhares de anos para nascer: não lhes result ava m uit o fácil
encont rar vent res. St alin m at ou ele sozinho a uns seis m ilhões de pessoas na União
Soviét ica, e Hit ler m at ou a uns dez m ilhões de pessoas.
Os sist em as para m at ar que invent ou Hit ler não t inham precedent es na hist ória
da hum anidade. Organizou assassinat os em m assa com o não o t inha feit o ninguém at é
ent ão. Tam erlán e Genghis Kan parecem uns principiant es a seu lado. Hit ler invent ou
câm aras de gás para realizar lhes assassinar em m assa. Parecia- lhe m uit o chat o e caro
m at ar às pessoas um a a um a e desfazer- se depois de seus cadáveres; por isso, invent ou
sist em as engenhosos para o assassinat o em m assa. Tam bém exist em out ros m eios para
o assassinat o em m assa ( com o vim os, por exem plo, nos recent es dist úrbios com unais do
Ahm adabad e em out ras part es) , m as são m ét odos m uit o cust osos.
Além disso, m at ar às pessoas um a a um a é m uit o t rabalhoso e leva m uit o t em po.
Mat ar pessoas um a a um a não dá result ado: m at a- se a um a aqui e nasce out ra em out ra
part e. De m odo que Hit ler fazia colocar a cinco m il pessoas de um a vez em um a câm ara
de gás, e, com apenas apert ar um bot ão, est as cinco m il pessoas se evaporavam . Não
se derram ava um a got a de sangue nem t erei que cavar um a só t um ba. Tudo era m uit o
eficient e.
Ninguém pode acusar ao Hit ler de derram ar sangue. Se Deus segue repart indo
j ust iça segundo os princípios ant igos, encont raria ao Hit ler com plet am ent e inocent e.
Não derram ou nenhum a got a de sangue; não at ravessou nenhum peit o com sua espada;
lim it ou- se a invent ar um m ét odo engenhoso para m at ar, um m ét odo indescrit ível.
Colocava às pessoas em um a câm ara de gás, apert ava um bot ão elét rico e a gent e se
evaporava. Não ficava nenhum vest ígio de sua exist ência. Pela prim eira vez na hist ória,
Hit ler se desfazia da gent e do m esm o m odo que nós fazem os ferver a água e a
evaporam os. Convert eu em fum aça a dez m ilhões de pessoas!
A um a alm a com o a do Hit ler lhe result a m uit o difícil encont rar um corpo novo em
pouco t em po. E é bom que lhe result e t ão difícil; do cont rário, a Terra t eria um grande
problem a. Hit ler t erá que esperar m uit o t em po, pois é ext rem am ent e difícil que se
produza de novo um a concepção de qualidade t ão baixa.
O que significa nascer por um a concepção inferior? Significa que várias gerações
de ant epassados dos pais t êm um a larga cadeia acum ulada de m ás obras. Em um a só
vida não é possível acum ular t ant o m al para explicar a concepção de um a pessoa com o
Hit ler. Quant o m au, quant os assassinat os pode com et er um hom em em um a vida para
produzir um filho com o Hit ler? Para que um filho com o Hit ler escolha a seus pais, faz
falt a um a larga cadeia de m ás obras, de obras realizadas pelos pais durant e cent enares,
m ilhares, m ilhões de anos. I sso significa que só se um a pessoa t rabalhasse em um
m at adouro cont inuam ent e durant e m ilhares de anos poderiam seus gens, sua raça,
volt ar- se capazes de at rair a um a alm a com o a do Hit ler.
O m esm o se cum pre com as alm as boas. Às alm as m édias, corrent es, não lhes
result a difícil nascer: em t odas part es há vent res dispost os a receber a t ais alm as. Por
out ra part e, suas exigências são m uit o corrent es. Têm os m esm os desej os: com er,
beber, ganhar dinheiro, desfrut ar de do sexo, aspirar à honra e à posição social: desej os
corrent es. Todo m undo anseia est as coisas; por isso, a alm a não t em problem as para
encont rar um vent re. Todos os pais podem brindar a qualquer alm a a oport unidade de
conseguir t odas est as coisas corrent es. Mas se um a alm a quer viver em um corpo
hum ano um a vida t ão pura que lhe produza reparo incluso pisar a Terra com seus pés,
se quer viver cheio de um am or t ão t ot al que não queira que ninguém se incom ode por
seu am or nem que seu am or se convert a em um a carga para ninguém , ent ão t erem os
que esperar m uit o t em po at é que nasça t al alm a.

A
HORA vam os preparar nos para a m edit ação vespert ina. Ant es vou deixar claras
algum as cost ure. observei que lhes sent am m uit o pert o de out ros, e isso não lhes
perm it e lhes sent ar sem lhes preocupar da possibilidade de cair sobre out ra pessoa. Est a
sit uação não lhes perm it e aprofundar. assim , o prim eiro que t êm que fazer é lhes separe
uns de out ros. Os que queiram lhes deit ar podem fazê- lo. I nclusive m ais adiant e,
durant e a m edit ação, se sent irem que seu corpo vai cair ao chão, não o suj eit em .
Solt em com plet am ent e, deixem cair o corpo.
Agora, apaguem as luzes.
O prim eiro: fechem os olhos. Relaxem o corpo… Relaxem o corpo
com plet am ent e, com o se não ficasse corpo. Sint am que t oda a energia de seu corpo
est á acont ecendo dent ro… sint am que vós est ão acont ecendo dent ro do corpo. Têm que
ret irar dent ro t oda sua energia.
Durant e t rês m inut os lhes farei sugest ões de que seu corpo se est á relaxando, e
vós t êm que sent i- lo. Têm que sent ir seu corpo e relaxá- lo. Sent irão pouco a pouco que
pedist es sua suj eição do corpo; se o corpo com eçar a cair ent ão deixem cair; não o
suj eit em . Se cair para diant e, deixem cair; se cair para t rás, deixem cair. Por sua part e,
não m ant enham suj eit o o corpo não. Solt em a suj eição a que t êm o corpo subm et ido.
Est a é a prim eira et apa.
Agora lhes farei sugest ões durant e t rês m inut os. Do m esm o m odo, farei- lhes
depois sugest ões para sua respiração e, depois, para seus pensam ent os. Ao final,
passarem os dez m inut os perdidos no silêncio.
Seu corpo se est á relaxando. Sint am : seu corpo se est á relaxando…seu corpo se
est á relaxando… seu corpo se est á relaxando… Solt e, com o se o corpo j á não exist isse.
Renunciem a sua suj eição. Seu corpo se est á relaxando… deixe t odo cont role sobre o
corpo, com o se seu corpo est ivesse m ort o.
passast es dent ro; a energia foi absorvida dent ro: agora, o corpo fica at rás, com o
um a casca. O corpo se est á relaxando… o corpo est á com plet am ent e depravado… Solt e.
Sent irão que se foi, foi- se, foi- se. Deixem cair se ele quiser. O corpo est á depravado,
com o se agora est ivessem m ort os, com o se o corpo j á não exist isse, com o se o corpo
t ivesse desaparecido.
Relaxem t am bém a respiração. Sua respiração se est á relaxando… sint a que sua
respiração se est á relaxando… sua respiração se relaxou por com plet o… Solt em … solt em
o corpo; solt em t am bém a respiração. Sua respiração se relaxou.
Tam bém seus pensam ent os se est ão ficando em silêncio… os pensam ent os se
est ão ficando em silêncio… Sint am que seus pensam ent os ficam t ot alm ent e em silêncio…
sint am dent ro: os pensam ent os se est ão acalm ando. O corpo est á depravado, a
respiração est á relaxada, os pensam ent os est ão em silêncio…
Tudo est á em silencio dent ro de vós. Est am o- nos afundando nest e silêncio;
est am o- nos afundando; est am os caindo cada vez m ais fundo, com o o que cai em um
poço, cada vez m ais fundo… do m esm o m odo caím os cada vez m ais fundo no vazio, no
Shunya. Solt em , solt em sua suj eição com plet am ent e… Sigam lhes inundando no vazio,
sigam lhes inundando… Dent ro só ficará a consciência, que arde com o um a cham a,
observando com o um a sim ples t est em unha.
Lhes lim it e a lhes m ant er com o t est em unhas. Sigam observando dent ro… Fora,
t udo est á m ort o; o corpo ficou t ot alm ent e inert e. A respiração é m ais lent a, os
pensam ent os são m ais lent os; em nosso int erior, est am os caindo no silêncio. Sigam
observando, sigam observando, observando cont inuam ent e: surgirá um silêncio m uit o
m ais fundo, um silêncio m uit o m ais profundo. Nesse est ado de observação, eu t am bém
desaparecerei; só ficará um a luz acesa, um a cham a que arde.
Agora ficarei calado dez m inut os, e vós seguirão despareciendo dent ro, cada vez
m ais fundo. Renunciem a sua suj eição, solt em . lhes lim it e a seguir observando.
Durant e dez m inut os, sede observadores, t est em unhas.
Tudo est á em silêncio… Olhem dent ro, seguir olhando dent ro. Que dent ro só
exist a observação. A m ent e se est á ficando cada vez m ais em silêncio… Verão seu
próprio corpo t endido a cert a dist ância, com o se fora o corpo de out ro. Separarão- lhes
do corpo, com o se t ivessem abandonado o corpo. Parece que é out ro o que respira.
Ent rem m ais ainda, ent rem m ais fundo… Sigam observando, sigam olhando
dent ro, e a m ent e se afundará por com plet o em um nada. Afundem m ais, ent rem m ais
fundo… sigam observando… a m ent e se ficou com plet am ent e em silêncio.
O corpo fica at rás, o corpo est á com o m ort o. Apart am o- nos que corpo. Solt em ,
solt em por com plet o; não lhes guardem nada, com o se est ivessem m ort os dent ro de
vós. A m ent e se est á ficando ainda m ais em silêncio… o corpo j az longe; afast am o- nos
que corpo… A m ent e se ficou em silêncio t ot al…
Olhem dent ro. O eu há desparecido por com plet o; só fica a consciência, só fica o
conhecim ent o. Todo o rest o desapareceu…
Respirem fundo várias vezes, devagar. A m ent e est á agora em silêncio t ot al.
Observem t odas e cada um a das respirações, e sent irão que a m ent e fica ainda m ais em
silêncio. Sua respiração t am bém parecerá dist anciada de vós, separada de vós.
Respirem com suavidade e devagar. Observem o longe que est á a respiração…
observem quão dist anciada est á de vós.
Respirem fundo várias vezes, devagar. Depois, abram os olhos devagar. Não faz
falt a que lhes apressem para lhes levant ar. Se forem incapazes de abrir os olhos, não
faz falt a que lhes dêem pressa. Abram os olhos devagar e com suavidade, e depois
aparece em ext erior um m om ent o.
Nossa m edit ação vespert ina t erm inou.

CAPÍ TULO 4

VOLTAR Pa r a A FON TE

Ou
N AMI GO PERGUNTOU: Segundo l9o que há dit o, podem os t riunfar sobre a m ort e por
m eio da m edit ação ou do sadhana. Mas acaso não se produz o m esm o est ado quando
est am os dorm idos? E, em t al caso, por que não se pode vencer à m ort e por m eio do
sonho?

L
Ou PRI MEI RO QUE SE DEVE ENTENDER é que a idéia de t riunfar sobre a m ort e não quer
dizer que exist a um pouco cham ado m ort e ao que podem os vencer. Triunfar sobre a
m ort e significa, sim plesm ent e, que chegam os ou sej a que não há m ort e. Saber que a
m ort e não exist e é vencê- la. Não há um a coisa cham ada m ort e a que podem os vencer.
Assim que sabem os que não há m ort e, cessa nossa bat alha const ant e e perdida cont ra a
m ort e. Exist em alguns inim igos, e exist em out ros que em realidade não exist em m as
sim só o parecem . A m ort e é um dest es inim igos que não t êm um a exist ência real: só
parece que exist e.
assim , não suponham que o t riunfo significa que a m ort e exist e em algum a part e
e que a vencerem os. Seria com o um hom em que se volt asse louco e que ficasse a lut ar
cont ra sua própria som bra, at é que alguém lhe dissesse: “ Olha- o bem : a som bra não
t em subst ância. Não é m ais que um a aparência” . Se o hom em olhasse a som bra e se
desse cont a do que fazia, riria de si m esm o: só ent ão poderia saber que venceu à
som bra. Vencer à som bra significa sim plesm ent e saber que não exist ia nem a m enor
som bra com a que lut ar: qualquer que o t ent asse se volt aria louco. que lut a cont ra a
m ort e, perderá; que conhece a m ort e, vencerá- a.
I st o t am bém significa que, se não haver m ort e, ent ão em realidade nós não
m orrem os nunca, sej am os conscient es disso ou não. As gent e do m undo não se dividem
em gent e que m orrem e em gent e que não m orrem : não, não é assim . Nest e m undo
ninguém m orre nunca. Mas sim é verdade que há dois t ipos de pessoas: os que
conhecem esse fat o e os que não o conhecem : est a é a única diferença.
No sonho chegam os ao m esm o lugar onde chegam os na m edit ação. A única
diferença é que no sonho est am os inconscient es enquant o que na m edit ação est am os
plenam ent e conscient es. Se alguém se volt asse plenam ent e conscient e em pleno sonho,
t eria a m esm a experiência que na m edit ação.
Por exem plo, se anest esiarm os a um a pessoa e em seu est ado inconscient e a
t iram os um a m aca a um j ardim cheio de flores form osas, com o ar cheio de fragrância,
onde brilha o sol e cant am os pássaros, essa pessoa seria com plet am ent e inconscient e
de t odo isso. Quando volt ássem os a levá- la ao pont o de part ida e se recuperasse da
anest esia, se lhe pergunt ássem os se gost ou do j ardim , não seria capaz de nos dizer
nada. Depois, se a levarm os a m esm o j ardim quando est ivesse plenam ent e conscient e,
conheceria t udo o que est ava ali present e quando a levaram ali ant eriorm ent e. Em
am bos os casos, em bora a pessoa foi levada a m esm o lugar, no prim eiro caso est ava
inconscient e do belo ent orno, enquant o que no segundo caso era plenam ent e conscient e
das flores, da fragrância, do cant o dos pássaros, do sol nascent e. Assim , em bora em
est ado inconscient e chegarão, sem dúvida, t ão longe com o em est ado conscient e, chegar
a algum a part e em est ado inconscient e é com o não chegar.
No sonho chegam os ao m esm o paraíso ao que chegam os na m edit ação, m as não
som os conscient es disso. Viaj am os cada noit e a esse paraíso e ret ornam os depois…
inconscient em ent e. Em bora nos acaricia a fresca brisa e a encant adora fragrância desse
lugar, e os cant os dos pássaros ressonam em nosso ouvido, nunca som os conscient es
disso. E, apesar de ret ornar dest e paraíso sendo com plet am ent e inconscient es disso,
podem os dizer: “ Est a m anhã m e sint o m uit o bem . Sint o- m e m uit o t ranqüilo. Est a noit e
dorm i bem ” .
por que lhes sent em t ão bem ? O que acont eceu que bom quando dorm ist es bem ?
Não pode t rat ar- se sim plesm ent e do hech9o de t er dorm ido: sem dúvida, devem t er
est ado em algum a part e; deve- lhes t er acont ecido algo. Mas, pela m anhã, não t êm
conhecim ent o disso, além de um a vaga sensação de bem - est ar. que dorm iu
profundam ent e de noit e se levant a refrescado pela m anhã. I st o m ost ra que a pessoa
chegou em seu sonho a um a font e refrescant e, em bora em est ado inconscient e.
que é incapaz de dorm ir bem de noit e se encont ra m ais cansado pela m anhã que
ao deit ar- se na noit e ant erior. E se um a pessoa passa vários dias sem dorm ir bem ,
result a- lhe difícil sobreviver, pois se rom pe sua conexão com a font e da vida. É incapaz
de chegar ao lugar onde lhe result a essencial chegar.
O pior cast igo possível no m undo não é a m ort e: a m ort e, com o cast igo, é fácil de
suport ar; passa em uns m om ent os. O pior cast igo que se invent ou no m undo é não
deixar dorm ir à pessoa. At é em nossos t em pos há países com o a China e Rússia onde se
im pede de dorm ir aos prisioneiros. Os t ort uras que t em que padecer um prisioneiro se
não lhe perm it e dorm ir durant e quinze dias são inim agináveis: quase se volt a louco. fica
a difundir a inform ação que de out ro m odo não t eria com unicado ao inim igo. Com eça a
falar, com plet am ent e inconscient e das conseqüências.
Na China se invent aram m ét odos sist em át icos. im pede- se aos prisioneiros dorm ir
durant e seis m eses. Em conseqüência, volt am - se com plet am ent e loucos. Esquecem por
com plet o os quais são, com o se cham am , qual é sua religião, de que cidade ou povo são,
qual é seu país: esquecem - no t udo. A falt a de sonho int roduz em suas consciências um
t ranst orno com plet o, um caos. Nesse est ado lhes pode fazer aprender algo.
Quando os soldados am ericanos que caíram prisioneiros na Coréia ret ornaram dos
cam pos de prisioneiros da Rússia e da China, a falt a de sonho os t inha deixado em um as
condições t ão t erríveis que, quando saíram , est avam abert am ent e cont ra os Est ados
Unidos e a favor do com unism o. Prim eiro se im pedia de dorm ir a est es soldados e,
quando suas consciências ficavam t ranst ornadas, lhes dout rinava no com unism o.
Quando suas ident idades ficavam sum idas no caos, lhes dizia por m eio de sugest ões
repet idas que eram com unist as. Dest a form a, ant es de sua liberação aqueles soldados
t inham sofrido um a lavagem de cérebro com plet o. Os psicólogos am ericanos que
t rat avam a est es soldados ficavam desconcert ados.
Se se privar de sonho a um a pessoa, est a fica isolada da font e m esm a da vida.
No m undo seguirá crescendo o at eísm o na m esm a proporção em que o sonho se siga
fazendo m ais ligeiro. Nos países nos que a gent e t em um sonho ligeiro, o at eísm o
aum ent ará m ais. E nos países nos que a gent e dorm e m ais profundam ent e, aum ent ará
m ais o t eísm o. Mas est e t eísm o e at eísm o são um a coisa com plet am ent e est ranha para
o hom em , pois surgem de um est ado inconscient e. A pessoa que dorm iu profundam ent e
passa o dia seguint e em paz, enquant o que a que não dorm iu profundam ent e passa o dia
seguint e inquiet a e agit ada. Com o vai poder ser recept iva ant e Deus um a m ent e
inquiet a e agit ada? Um a m ent e alt erada, insat isfeit a, t ensa e iracunda se nega a aceit ar
a Deus, nega sua exist ência.
A prim eira causa do increm ent o do at eísm o no Ocident e não é a ciência: o
problem a arranca do carát er desordenado e caót ico do sonho. Em Nova I orque, ao
m enos t rint a por cent o dos habit ant es não podem dorm ir sem t ranqüilizadores. Os
psicólogos acredit am que, se est a sit uação prevalecer durant e cem anos m ais, nenhum a
só pessoa será capaz de dorm ir sem m edit ação.
Há pessoas que perderam por com plet o a capacidade de dorm ir. Se um a pessoa
que perdeu est a capacidade nos pergunt asse com o dorm im os e nós lhe respondêssem os:
“ Quão único faço é apoiar a cabeça no t ravesseiro e dorm ir ” ,não nos acredit aria.
Pareceria- lhe im possível, e suspeit aria que há algum t ruque que ela não conhece, pois
ela t am bém apóia a cabeça no t ravesseiro e não passa nada.
Pode chegar um t em po, Deus não o queira, dent ro de m il ou dois m il anos, em
que t odo m undo t enha perdido a capacidade de t er um sonho nat ural, e a gent e se
negará a acredit ar que m il ou dois m il anos ant es a gent e se lim it ava a apoiar a cabeça
no t ravesseiro e ficava dorm ida. Tom arão por um a ficção, por um relat o m ít ico dos
Puranas. Não se acredit arão que era verdade. Dirão: “ I st o não é possível, porque o que
não é verdade ent re nós, com o pode ser verdade ent re out ros?”
Faço- lhes ver t udo ist o porque faz t rês ou quat ro m il anos a gent e fechava os
olhos e ent rava em est ado de m edit ação com t ant a facilidade com o dorm im os hoj e em
dia. dent ro de dois m il anos será difícil dorm ir em Nova I orque: j á é difícil na at ualidade.
est á- se volt ando difícil em Bom bay e, logo será difícil t am bém na Dwarka: é quest ão de
t em po. Hoj e nos result a difícil acredit ar que houve um a época em que um a pessoa
fechava os olhos e ent rava em est ado de m edit ação; porque hoj e, quando lhes sent am
com os olhos fechados, não chegam a nenhum a part e: os pensam ent o seguem dando
volt as dent ro de vós e ficam onde est ão.
No passado era fácil prat icar a m edit ação para os que est avam pert o da nat ureza,
com o o é at ualm ent e o sonho para os que vivem pert o da nat ureza. Prim eiro
desapareceu a m edit ação; agora est á desaparecendo o sonho. Se perderem prim eiro as
coisas conscient es; depois dest as, perdem - se as coisas inconscient es. Com o
desaparecim ent o da m edit ação o m undo se t ornou quase irreligioso, e quando
desaparecer o sonho o m undo se volt ará com plet am ent e irreligioso. A religião não t em
esperanças em um m undo sem sonho.
Não lhes poderão acredit ar o est reit a, o profundam ent e que est am os conect ados
com o sonho. O m odo em que um a pessoa vive sua vida depende com plet am ent e de
com o sonha. Se não dorm ir bem , t oda sua vida seria um caos: t odas suas relações
pessoais se enredariam ; t udo se volt aria venenoso, cheio de raiva. Pelo cont rário, se
um a pessoa dorm ir profundam ent e, em sua vida haverá frescura: fluirão cont inuam ent e
a paz e a alegria. Suas relações pessoais, seu am or; t udo se apoiará na serenidade.
Mas se perder o sonho, t odas suas relações pessoais porão- se a rodar. Afundarão- se
suas relações com sua fam ília, com sua m ulher, com seu filho, com sua m ãe, com seu
pai, com seu professor, com seus alunos: com t odos. O sonho nos leva a t odos a um
pont o de nosso inconscient e onde t odos est am os im ersos em Deus; em bora não por
m uit o t em po. At é a pessoa m ais sã só alcança seu nível m ais profundo durant e dez
m inut os de suas oit o horas diárias de sonho. Durant e esses dez m inut os est á t ão
com plet am ent e perdida, inundada no sonho, que não t em nem sequer um sonho.
O sonho não é t ot al enquant o a pessoa est á sonhando: não deixa de oscilar ent re
o est ado de sonho e o de vigília. O sonho é um est ado em que a pessoa est á m eio
dorm ida e m édio acordada. Ter um sonho significa que, em bora t enham os fechados
olhos, não est am os dorm idos: as influências ext ernas ainda nos afet am . As pessoas com
que t rat am os de dia seguem conosco de noit e em nossos sonhos. Os sonhos ocupam o
est ado int erm édio ent re o sonho e a vigília. E há m uit as pessoas que perderam a
capacidade de dorm ir: lim it am - se a ficar no est ado dos sonhos sem alcançar nunca o
est ado de sonho. E não im port a que não recordem os pela m anhã o que sonham os
durant e a noit e. Nos Est ados Unidos se est ão levando a cabo m uit as invest igações sobre
o sonho. Uns dez grandes laborat órios realizaram experim ent os com m ilhares de
pessoas durant e oit o ou dez anos.
Os am ericanos est ão dando am ost ras de int eresse pela m edit ação porque
perderam o sonho. Acredit am que a m edit ação possivelm ent e sirva para lhes devolver o
sonho, que possivelm ent e possa levar a suas vidas um pouco de paz. Por isso não vêem
na m edit ação m ais que um t ranqüilizador. Quando Vivekananda int roduj 9o pela prim eira
vez a m edit ação nos Est ados Unidos um m édico o visit ou e lhe disse: “ desfrut ei
enorm em ent e de sua m edit ação. É, decididam ent e, um t ranqüilizador não quím ico. Não
é um m edicam ent o, m as faz dorm ir: é m agnífico.” A influência crescent e dos iogues nos
Est ados Unidos não se deve a eles m esm os: a causa verdadeira é a falt a de sonho. Os
am ericanos t êm o sonho t ranst ornado, e por isso a vida nos Est ados Unidos est á cheia de
t rist eza, de depressão, de t ensão. Por isso vem os que nos Est ados Unidos há um a
necessidade crescent e de t ranqüilizadores: para fazer dorm ir de lacuna m aneira às
pessoas.
Cada ano se gast am m ilhões de dólares em t ranqüilizadores nos Est ados Unidos.
Dez grandes laborat órios est ão realizando invest igações com m ilhares de suj eit os aos
que pagam para que passem noit es de sonho bast ant e incôm odo e m olest o. conect am -
se t odo t ipo de elet rodos e m ilhares de cabos ao corpo dos suj eit os e os est udam desde
t odos os ângulos para descobrir o que acont ece dent ro deles.
Um descobrim ent o incrível que puseram que m anifest o est es experim ent os é que
o hom em passa quase t oda a noit e sonhando. Ao despert ar, algum as pessoas diziam
que não t inham sonhado, enquant o que out ras diziam que sim t inham sonhado. A única
diferença era que as que t inham m elhor m em ória recordavam t er sonhado, enquant o que
as que t inham pior m em ória não o recordavam . t irou o chapéu, não obst ant e, que um a
pessoa com plet am ent e sã era incapaz de cair em um sonho profundo e sem sonhos
durant e dez m inut os.
É possível det ect ar os sonhos com m áquinas. Cert os nervos do cérebro
perm anecem at ivos em nossos est ado de sonhos, m as quando cessa o sonho os nervos
deixam de ser at ivos, e a m áquina indica que se produziu um int ervalo vazio. O
int ervalo vazio m ost ra que, naquele m om ent o, a pessoa não est ava nem sonhando nem
pensando, est ava perdida em algum a part e.
É int eressant e que as m áquinas seguem regist rando m ovim ent os dent ro da
pessoa enquant o est a se encont ra no est ado de sonhos, m as assim que cai no sonho
sem sonhos a m áquina m ost ra um int ervalo vazio. Não sabem onde foi parar a pessoa
nesse int ervalo. assim , o sonho sem sonhos significa que a pessoa chegou a um lugar
m ais à frent e do alcance da m áquina. É nesse int ervalo quando a pessoa ent ra no
divino.
A m áquina é incapaz de det ect ar est e espaço int erm édio, est e vazio. A m áquina
regist ra a at ividade int erna enquant o a pessoa est ej a sonhando; depois, chega o
int ervalo vazio e a pessoa desaparece em algum a part e. E depois, ao cabo de dez
m inut os, a m áquina fica a regist rar de novo. É difícil det erm inar onde est eve a pessoa
nesse int ervalo de dez m inut os. Aos psicólogos am ericanos os int riga m uit o est e
int ervalo vazio; por est a razão, consideram que o sonho é o m aj or dos m ist érios. A
realidade é que, depois de Deus, o sonho é o único m ist ério. Não exist e nenhum out ro
m ist ério.
Dorm em t odos os dias, m as não t êm idéia do que é o sonho. A pessoa passa t oda
sua vida dorm indo, m as nada t roca: não sabe nada do sonho. O m ot ivo pelo qual não
sabem nada do sonho é que quando o sonho est á ali, vós não est ão. Recordem : vós só
est ão enquant o o sonho não est ej a. assim , só chegam a conhecer t ant o com o conhece a
m áquina. Do m esm o m odo que no int ervalo vazio a m áquina se det ém e não é capaz de
chegar ali onde foi t ransport ada a pessoa, vós não podem chegar ali t am pouco, porque
vós t am pouco at ravessam esse int ervalo vazio, o sonho segue sendo um m ist ério: est á
fora de seu alcance. I st o é assim porque a pessoa só cai no sonho profundo quando
deixa de exist ir em seu conscient iza do “ eu sou” . E port ant o, quando o ego cresce, o
sonho se reduz cada vez m ais. A pessoa egoíst a perde sua capacidade de dorm ir porque
seu ego, o eu, não deixa de afirm ar- se a si m esm o as vint e e quat ro horas do dia. É o
eu que se acordada, é o m esm o eu que cam inha pela rua. O eu se m ant ém t ão present e
durant e t odas as vint e e quat ro horas que, no m om ent o de ficar dorm ido, quando chega
o m om ent o de solt ar o eu, a pessoa é incapaz de livrar- se dele. Evident em ent e, result a-
lhe difícil ficar dorm ida. Enquant o exist a o eu, o sonho é im possível. E, com o vos
pinj ent e ont em , enquant o exist a o eu, é im possível ent rar no divino.
Ent rar no sonho e ent rar no divino é exat am ent e um a m esm a coisa: a única
diferença é que at ravés do sonho um ent ra em Deus em est ado inconscient e, m int a que
at ravés da m edit ação um ent ra em Deus em est ado conscient e. Mas est a diferença é
m uit o im port ant e. Podem passar m ilhares de vidas ent rando em Deus at ravés do sonho,
m as não chegarão a conhecer deus. Mas se ent rarem na m edit ação em bora sej a por um
m om ent o, t erão alcançado o m esm o lugar que levam alcançando no sonho profundo
durant e m ilhares e m ilhões de vidas ( em bora sem pre em est ado inconscient e) , e ist o
t ransform ará com plet am ent e sua vida.
O m ais int eressant e é que assim que um a pessoa ent ra em est ado de m edit ação,
quando ent ra nesse vazio onde o leva o sonho profundo, j á nunca fica inconscient e: nem
sequer quando dorm e. Quando Krishna diz no Git a que o iogue perm anece acordado
quando t odos out ros est ão dorm idos, não quer dizer que o iogue não durm a nunca. Em
realidade, ninguém dorm e t ão bem com o um iogue. Mas inclusive em seu sonho m ais
profundo, aquela part e dela que ent rou no est ado de m edit ação se m ant ém acordada. E
o iogue ent ra no sonho t odas as noit es nesse est ado acordado. Ent ão, a m edit ação e o
sonho se convert em para ele em um a m esm a coisa: não fica nenhum a diferença ent re as
duas coisas. port ant o, sem pre ent ra no sonho com consciência plena. Quando um a
pessoa ent ra em si m esm o por m eio da m edit ação, j á nunca pode encont rar- se em
est ado inconscient e quando dorm e.
Ananda viveu m uit os anos com o Buda. Passou anos dorm indo pert o do Buda.
Um a m anhã pergunt ou à a Buda:
- passei anos vendo dorm ir. Não t e m ove nenhum a só vez; passas t oda a noit e em
um a m esm a post ura. Seus m em bros ficam ali onde est avam quando t e deit ou de noit e;
não há o m enor m ovim ent o. Muit as vezes m e levant ei de noit e para observar se t e t inha
m ovido. passei noit es int eiras t e observando. Suas m ãos, seus pés, ficam em um a
m esm a posição; nunca t e m ove. Leva um a espécie de regist ro de seu sonho de t oda a
noit e?
- Não preciso chegar nenhum regist ro –respondeu o Buda- Durm o em est ado
conscient e, de m odo que não t enho necessidade de m e m over. Se quiser, posso fazê- lo.
Trocar de post ura não é um requisit o do sonho, é um requisit o da m ent e inquiet a.
Um a m ent e inquiet a não é capaz de ficar em um só lugar durant e t oda um a noit e,
e m uit o m enos durant e o dia. O corpo m anifest a const ant em ent e sua inquiet ação, at é
dorm indo de noit e.
Se observarem a um a pessoa que dorm e de noit e, verão que est á
const ant em ent e inquiet a, t odo o t em po. Verão que m ove as m ãos de m aneira m uit o
parecida com com o as m ove quando est á acordada de dia. De noit e, ent re sonhos,
verão que corre e ofega de m aneira m uit o parecida com as pessoas acordadas; sent e- se
cansada, sem fôlego. De noit e, ent re sonhos, lut a de m aneira m uit o parecida com com o
lut a de dia. Est á iracunda de noit e com o de dia. Est á cheia de paixão de dia, e t am bém
de noit e. Não exist e nenhum a diferença fundam ent al ent re o dia e a noit e de um a
pessoa assim , salvo o fat o de que de noit e se deit a esgot ada, inconscient e; t odo o rest o
segue funcionando com o sem pre. Por isso disse o Buda: “ Posso m e m over de noit e se
quiser, m as não t enho necessidade de fazê- lo” .
Mas não nos dam os cont a… Um hom em sent ado em um a cadeira não deixa de
m over as pernas. lhe pergunt em : “ por que se m ovem suas pernas? É com preensível
que se m ovam quando anda, m as por que se m ovem quando est á sent ado em um a
cadeira?” Assim que lhe digam ist o, o hom em fará parar suas pernas im ediat am ent e.
Depois ficará im óvel durant e um segundo, m as não será capaz de explicar por que o
fazia. I st o m ost ra o m odo em que a inquiet ação int erior provoca agit ação em t odo o
corpo. Dent ro est á a m ent e inquiet a; não é capaz de est ar quiet a, em um a m esm a
post ura, nem por um m om ent o. Fará que t odo o corpo est ej a em m ovim ent o: as pernas
t rem erão, a cabeça girará; at é sent ado, o corpo t rocará de post ura.
Por isso lhes result a t ão difícil ficar sent ados e quiet os em m edit ação em bora só
sej a dez m inut os. E o corpo lhes pede desde m il pont os diferent es que lhes agit em e
lhes m ovam . Não advert im os ist o at é que ficam os sent ados prat icando com at enção a
m edit ação. Ent ão nos dam os cont a de que corpo é o nosso: não quer ficar quiet o em
um a post ura nem por um segundo. A confusão, a t ensão e a excit ação da m ent e agit am
t odo o corpo.
No sonho profundo desaparece t udo durant e uns dez m inut os; em bora est es dez
m inut os não est ão ao alcance de t odos, a não ser só dos que est ão com plet am ent e sãs e
em paz. Out ros alcançam ent re um e cinco m inut os de sonho dest e t ipo; a m aioria das
pessoas só alcançam um ou dois m inut os de sonho profundo. O pouco suco que
recebem os nesse m inut o em que alcançam os a font e da vida o aplicam os para funcionar
em nossas vint e e quat ro horas seguint es. O pouco azeit e que recebe o abaj ur nesse
breve período o ut ilizam os para t irar adiant e nossas vidas durant e vint e e quat ro horas.
O abaj ur da vida se alim ent a da quant idade de azeit e que recebe. Est a é a razão pela
que arde t ão pouco o abaj ur: não se recolhe azeit e suficient e para que o abaj ur da vida
esquilo com força, para que possa convert er- se em um a luz brilhant e.
A m edit ação lhes leva pouco a pouco at é a font e da vida. port ant o, j á não se
t rat a de que dela t irem um punhado de alim ent o, encont ram - lhes, sim plesm ent e, na
font e m esm a. assim , j á não se t rat a de que recarreguem seu abaj ur com m ais azeit e:
t êm a sua disposição t odo o m ar de azeit e. Ent ão com eçam a viver nesse m esm o m ar.
Com a vida desse t ipo, desaparece o sonho; não no sent ido de que j á não volt em a
dorm ir, a não ser no sent ido de que, m esm o que est ão dorm idos, há alguém dent ro que
segue plenam ent e acordado. Por conseguint e, j á não exist em os sonhos. O iogue se
m ant ém acordado; dorm e, m as não sonha nunca; seus sonhos desaparecem por
com plet o. E quando desaparecem os sonhos, desaparecem os pensam ent os. O que
cham am os pensam ent os no est ado de vigília se cham am sonhos no est ado de sonho. Só
exist e um a pequena diferença ent re os pensam ent os e os sonhos: os pensam ent os são
sonhos ligeiram ent e m ais civilizados, enquant o que os sonhos t êm um carát er algo
prim it ivo. Um dos dois é o pensam ent o prim it ivo.
Em concret o, os m eninos, ou os m em bros das t ribos aborígenes, só são capazes
de pensar com im agens, não com palavras. Os prim eiros pensam ent os dos hom ens
sem pre são em im agens. Por exem plo, quando um m enino pequeno t em fom e não
pensa em palavras: “ Tenho fom e” . O m enino pode visualizar o peit o de sua m ãe; pode
im aginar- se a si m esm o m am ando do peit o. Pode encher do desej o de aproxim ar- se do
peit o, m as não pode form ar as palavras. A form ação das palavras com eça m uit o m ais
t arde; as im agens aparecem ant es.
Tam bém nós ut ilizam os im agens para nos expressar quando não conhecem os
um a língua det erm inada. Se forem a um país est rangeiro cuj a língua não conhecem e
querem beber água, podem lhes levar a boca a m ão cavada, e o est rangeiro ent enderá
que t êm sede; pois quando falt am as palavras surge a necessidade das im agens. E o
m ais int eressant e é que as línguas faladas são diferent es em diferent es lugares, m as a
linguagem das im agens é universal, pois a linguagem de im agens de t odos os hom ens é
o m esm o.
invent am os palavras diferent es, m as as im agens não são nossa invenção. As
im agens são a língua universal da m ent e hum ana. Por isso, as pint uras se ent endem em
qualquer lugar do m undo. Não faz falt a t rocar a língua para com preender um a escult ura
do Khaj uraho ou um quadro do Leonardo. A escult ura do Khaj uraho a ent enderá um
chinês, um francês ou um alem ão, com o a ent endem vós. E se visit arem o m useu do
Louvre, na França, não lhes result ará difícil ent ender os quadros que se exibem ali.
Possivelm ent e não ent endam os t ít ulos, pois est ão escrit os em francês, m as não lhes
cust ará t rabalho ent ender os quadros. A linguagem das im agens é um a linguagem de
t odos.
A linguagem das palavras é út il durant e o dia, m as não é út il de noit e. De noit e
volt am os a ser prim it ivos. No sonho deixam os de ser com o som os. Perdem os nosso
t ít ulos, nossos est udos universit ários, t udo. Som os t ransport ados ao pont o onde est eve
um a vez o hom em prim it ivo. Por isso surgem im agens de noit e, no sonho, e de dia
aparecem palavras. Se querem os fazer o am or durant e o dia, podem os pensá- lo em
palavras, m as de noit e não há m aneira de expressar o am or se não ser por m eio de
im agens.
Não parece que os pensam ent os t enham t ant a vida com o os sonhos. Nos sonhos
aparece ant e nós t oda a im agem . Por isso nos divert e m ais ver um film e apoiado em
um a novela que ler a m esm a novela. A única explicação dist o é que a novela est á na
linguagem das palavras, enquant o que o film e est á na linguagem das im agens. Do
m esm o m odo, vocês gost am m ais est ar aqui e m e escut ar em pessoa. Vocês não
gost ariam t ant o escut ar est e bat e- papo gravado em um a cint a, porque aqui est á
present e a im agem , e na cint a só há palavras. A linguagem das im agens est á m ais
próxim o a nós, é m ais nat ural. De noit e as palavras se convert em em im agens; essa é a
única diferença.
O dia que desaparecem os sonhos, t am bém desaparecem os pensam ent os; o dia
que desaparecem os pensam ent os, t am bém desaparecem os sonhos. Se o dia est iver
vazio de pensam ent os, a noit e est ará vazia de sonhos. E recordem que os sonhos não
lhes perm it em dorm ir e que os pensam ent os não lhes perm it em despert ar. Procurem
ent ender am bas as coisas: os sonhos não lhes deixam dorm ir e os pensam ent os não lhes
deixam despert ar. Se desaparecerem os sonhos, o sonho será t ot al; se desaparecerem
os pensam ent os, o despert ar será t ot al. Se o despert ar é t ot al e o sonho é t ot al, ent ão é
que não exist e grande diferencia ent re am bos. A única diferença é que os olhos se t êm
abert os ou fechados e que o corpo t rabalha ou repousa. que despert ou t ot alm ent e,
dorm e t ot alm ent e, m as sua consciência se m ant ém exat am ent e igual em am bos os
est ados. A consciência é um a, inalt erável; só t roca o corpo. O corpo acordado,
t rabalha; o corpo dorm ido, repousa.
Ao am igo que pergunt ou por que não se alcança a Deus no sonho, eu lhe
responda lhe pode alcançar, se nos m ant iverm os acordados inclusive no sonho. assim ,
m eu m ét odo de m edit ação é um m ét odo de sonho: dorm ir em at enção, ent rar no sonho
com at enção. Est a é a razão pela que lhes peço que relaxem o corpo, que relaxem a
respiração, que acalm em seus pensam ent os. Tudo ist o é um a preparação para o sonho.
port ant o, est á acost um ado a acont ecer que alguns am igos ficam dorm idos durant e a
m edit ação. A razão é clara: é um a preparação para o sonho. E, quando se preparam
para o sonho, ficam dorm idos sem dar- se cont a. Por isso repit o eu a t erceira sugest ão:
perm aneçam acordados dent ro de vós, perm aneçam conscient es dent ro; deixem que o
corpo est ej a t ot alm ent e depravado, deixem que a respiração est ej a t ot alm ent e relaxada,
m ais relaxada do que est á acost um ado a est ar durant e o sonho. Mas perm aneçam
acordados dent ro de vós. Deixem que sua consciência esquilo dent ro de vós com o um
abaj ur para não ficar dorm idos.
As condições de part ida da m edit ação e do sonho são iguais, m as exist e um a
diferença na condição final. A prim eira condição é que o corpo se relaxe. Se padecerem
insônia, o prim eiro que lhes ensinará o m édico será a lhes relaxar. Pedirá- lhes que
façam o m esm o que lhes peço eu: relaxem o corpo, não perm it am que fique nenhum a
t ensão em seu corpo; deixem o corpo com plet am ent e solt o, com o um penugem de
algodão. Viram algum a vez com o dorm e um cão ou um gat o? Dorm em com o se não
est ivessem . Viram algum a vez a um m enino pequeno dorm ido? Não há t ensão em
nenhum a part e: seus braços e suas pernas perm anecem incrivelm ent e solt os. Observem
a um j ovem e a um velho: verão- o t udo t enso neles. De m aneira que o m édico lhes
pediria que lhes relaxassem por com plet o.
Um a m esm a condição se aplica ao sonho: a respiração deve ser relaxada,
profunda e lent a. Devem t er advert ido que, quando correm , a respiração se acelera. Do
m esm o m odo, quando o corpo se cansa com o t rabalho, a respiração se acelera e
aum ent a a circulação do sangue. Para dorm ir, a circulação do sangue deve fazer- se
m ais lent a ( a sit uação deverá ser exat am ent e quão cont rária ao correr) . A segunda
condição é, pois: relaxar a respiração.
Quando os pensam ent os se aceleram , o sangue t em que circular rapidam ent e no
cérebro; e, quando acont ece ist o, o sonho se faz im possível. É condição para o sonho
reduzir o fluxo de sangue ao cérebro. Por isso nos servim os de t ravesseiros, para reduzir
o fluxo de sangue ao cérebro. Sem t ravesseiro, a cabeça j az ao m esm o nível do corpo,
e, por isso, o sangue flui na m esm a proporção por t odo o corpo, da cabeça aos dedos
dos pés. Quando se levant a a cabeça, ao sangue cust a ascender; reduz- se seu fluxo no
cérebro e circula pelo rest o do corpo. Por est e m ot ivo, quant o m ais lhe cust e à pessoa
ficar dorm ida, m ais t ravesseiros deverá ficar sob a cabeça para levant á- la. Quando se
reduz o fluxo de sangue, o cérebro se relaxa e à pessoa result a fácil ficar dorm ida.
Com o fluxo rápido de pensam ent os, o sangue t am bém t em que fluir m ais
depressa; porque para que se m ova um pensam ent o, est e precisa apoiar- se no fluxo do
sangue. As veias do cérebro com eçam a t rabalhar m ais depressa. Devem t er advert ido
que quando um a pessoa se zanga, lhe encham as veias. I st o se deve a que as veias t êm
que fazer m ais sit io para que circule m ais sangre por elas. Quando a cabeça se
t ranqüiliza, t am bém dim inui a pressão sangüínea.
Com a ira, a cara e os olhos ficam verm elhos. I st o se deve ao increm ent o do
fluxo de sangue pelas veias. Nesse est ado, os pensam ent os se m ovem t ão depressa que
o sangue t em que circular t am bém m ais depressa. E t am bém a respiração se acelera.
Quando o sexo se apodera da m ent e, a respiração se faz m uit o pesada e o sangue flui
m ais depressa. Com o os pensam ent os se m ovem m uit o rapidam ent e, a m ent e com eça a
funcionar t ão depressa que t odas as veias do cérebro com eçam a encher- se de sangue
que flui a grande velocidade.
port ant o, as condições prim eiras para a m edit ação são quão m esm as as aplicáveis
ao sonho, relaxar o corpo, relaxar a respiração, solt ar os pensam ent os. As condições
prim eiras se cum prem igualm ent e para o sonho e para a m edit ação. A diferença é a
condição final. No sonho, ficam os dorm idos profundam ent e; na m edit ação, ficam os
plenam ent e acordados: isso é t udo.
assim , nosso am igo t em feit o bem ao expor est a pergunt a. Exist e um a relação
profunda ent re o sonho e a m edit ação, ent re o sam adhi e o sushupt i, o sonho profundo.
Exist e, não obst ant e, um a diferença m uit o significat iva ent re am bos: a diferença de um
est ado conscient e com um est ado inconscient e. O sonho é inconsciência, a m edit ação é
despert ar.

Out ro am igo pergunt ou: No que se diferencia o que você cham a m edit ação da
aut ohipnósis?

L
A DI FERENÇA É QUÃO MESMA exist e ent re o sonho e a m edit ação. Tam bém devem
com preender ist o.
O sonho propriam ent e dit o vem de m aneira nat ural, enquant o que o sonho induzido por
m eio de um esforço é a aut ohipnósis. Est a é a única diferença. A palavra hypnos
significa sonho. Hipnose significa t andra, sonho. O prim eiro é o t ipo de sonho que
chega por si m esm o, o segundo é cult iva, induzido. Se alguém t iver dificuldades para
dorm ir, t erá que fazer algo a respeit o. Se um hom em se deit ar e com eça a pensar
const ant em ent e que se est á ficando dorm ido, e se est e pensam ent o ent ra em seu ser e
se apodera de sua m ent e, o corpo com eçará a responder t am bém em conseqüência. O
corpo com eçará a relaxar- se, a respiração com eçará a desacelerar- se, a m ent e com eçará
a t ranqüilizar- se.
Se se produzir dent ro do corpo um ent orno adequado para o sonho, o corpo
com eçará a funcionar devido a est a circunst ância. Ao corpo não lhe int eressam os fat os;
o corpo é m uit o obedient e. Se t iverem fom e t odos os dias às onze, e seu relógio se ficou
parado às onze da noit e ant erior, olharão o relógio e seu est ôm ago lhes dirá: “ É hora de
com er” ; em bora possivelm ent e não sej am m ais que as oit o da m anhã. Ainda não são as
onze; falt am t rês horas para as onze; m as se o relógio assinala as onze, o est ôm ago se
queixará de fom e, porque o est ôm ago funciona m ecanicam ent e. Se est ão acost um ados
a lhes deit ar a m eia- noit e, e se por acaso seu relógio est á adiant ado duas horas,
com eçarão a lhes sent ir sonolent os assim que o relógio dê as doze, em bora só sej am as
dez. O corpo dirá im ediat am ent e: “ São as doze. É hora de deit ar- se! ”
O corpo é m uit o obedient e. quant o m ais são est á o corpo, m ais obedient e é. Um
corpo são é um corpo obedient e. Um corpo doent e é um corpo que deixou que
obedecer: t em os sonho, m as o corpo se nega a dorm ir; t em os fom e, m as o corpo não
quer com er. Um corpo que deixa de obedecer é um corpo doent e, e o corpo que
obedece é um corpo são, porque o corpo nos segue com o um a som bra. A dificuldade
surge quando o corpo deixa de obedecer. O aut ohipnot ism o significa sim plesm ent e que
t erá que dar inst ruções ao corpo, que t erá que obrigá- lo a obedecer as ordens.
A m aioria de nossas enferm idades são só um engano. Quase cinqüent a por cent o
de nossas enferm idades são falsas. A causa de que no m undo haj a m ais doent es não é
que aum ent em as enferm idades, m as sim aum ent a a falsidade do hom em . Procurem
ent ender bem ist o. Ao aum ent ar os conhecim ent os e as condições econôm icas, deveria
descender o núm ero de enferm idades. Mas ist o não acont eceu, pois seguiu aum ent ando
a capacidade do hom em para m ent ir. O hom em não só m int a a out ros, m as t am bém
t am bém se m int a a si m esm o. Tam bém cria novas enferm idades.
Por exem plo, se um hom em t iver sofrida grandes quebras nos negócios e est á ao
bordo da quebra, possivelm ent e não queira aceit ar que est á em quebra, e por isso pode
t er m edo de ir ao m ercado: sabe que t erá que enfrent ar- se com seus credores. de
repent e, descobre que o dom inou um a enferm idade que o obriga a guardar cam a. É
um a enferm idade criada por sua m ent e. Sua vant agem é dupla. Agora pode dizer a
out ros que sua enferm idade lhe im pede de at ender a seu negócio ( j á se convenceu a si
m esm o disso, e agora pode convencer t am bém a out ros) , e agora est a enferm idade é
incurável. I nicialm ent e, est a enferm idade não é t al enferm idade, m as quant o m ais
t rat am ent os recebe o hom em , m ais doent e ficará.
Se a m edicina não consegue lhes curar, saibam bem que sua enferm idade não é
curável por m eio da m edicação. A causa da enferm idade se encont ra em algum a out ra
part e; não t em nada que ver com a m edicação. Podem am aldiçoar à m edicina e dizer
que os m édicos são uns est úpidos porque não encont ram o t rat am ent o adequado para
vós; podem provar a m edicina ayurvédica ou a nat uropat ía; podem recorrer à alopat ia
ou à hom eopat ia: nada dará result ado. Nenhum m édico pode lhes servir de nada, pela
singela razão de que um m édico só pode t rat ar um a enferm idade verdadeira; não pode
cont rolar um a enferm idade falsa. E o m ais int eressant e é que lhes t rabalham em
excesso em produzir enferm idades com o est as e que querem que perdurem .
m ais de cinqüent a por cent o das enferm idades fem ininas são falsas. As m ulheres
aprenderam desde sua infância um a fórm ula: só recebem am or quando est ão doent es, e
não de out ro m odo. Quando a esposa est á doent e, o m arido não vai a seu t rabalho,
t om a um a cadeira e se sint a j unt o à cam a dela. Possivelm ent e se est ej a am aldiçoando a
si m esm o por fazê- lo, m as o faz. Assim , sem pre que um a m ulher quer receber cuidados
de seu m arido, cai doent e em seguida. Por isso nos encont ram os que as m ulheres est ão
doent es quase sem pre. Sabem que, est ando doent es, podem dom inar a t oda a casa.
A pessoa doent e se convert e em um dit ador, em um t irano. Se a pessoa disser:
“ Apaguem a rádio! ” , apagam - na im ediat am ent e. Se a pessoa disser: “ Apaguem as luzes
e lhes deit e” , ou “ Fica t odos em casa; que não saia ninguém ” , os fam iliares fazem o que
diz. Quando m aj or sej a a t endência dit at orial de um a pessoa, m ais doent e ficará; pois
quem est á dispost o a ferir os sent im ent os de um doent e? Mas ist o é perigoso. Dest a
form a, est am os cont ribuindo em realidade à enferm idade. É bom que um m arido se
sent e j unt o a sua esposa quant o est a est á sã; é com preensível. Mas, cert am ent e, não
deve deixar de ir ao escrit ório quando ela est á doent e, fom ent ando assim sua
enferm idade. É um a solução m uit o cust osa.
Um a m ãe não deve em prest ar m uit a at enção a seu filho quando est e cai doent e;
do cont rário, o m enino cairá doent e sem pre que quiser que lhe em prest em at enção.
Quando o m enino cai doent e, não lhes preocupem t ant o por ele para que não se
est abeleça em sua m ent e nenhum a associação ent re enferm idade e am or. O m enino
não deve capt ar a im pressão de que sem pre que cair doent e sua m ãe o acariciará e lhe
cont ará cont os. Pelo cont rário, a m ãe deve m im ar ao filho quando est e est ej a feliz, para
que o am or se associe à alegria e à felicidade.
associam os o am or à desgraça, e isso é m uit o perigoso, porque significa que,
sem pre que alguém necessit e am or, cham ará à desgraça para que possa vir depois o
am or. Mas nunca se encont ra ao am or pela enferm idade. Recordem : a enferm idade
produz lást im a, não am or, e ser obj et o de lást im a é insult ant e, é m uit o degradant e. O
am or é um a coisa com plet am ent e diferent e. Mas não t em os consciência do am or.
O que quero dizer é que o corpo segue nossas sugest ões: se querem os est ar
doent es, o pobre corpo cai doent e. O hipnot ism o é út il para curar est as enferm idades.
O que quer dizer ist o é que as enferm idades falsas se curam com rem édios falsos, não
com a m edicina verdadeira. Se podem os nos fazer acredit ar em nós m esm os que
est am os doent es, t am bém podem os nos fazer acredit ar em nós m esm os que est am os
sãs e nos liberar da enferm idade. Hoj e em dia, em quase t odos os hospit ais dos países
desenvolvidos t êm em sua palm ilha um perit o em hipnot ism o. No Ocident e, o m édico
t rabalha em equipe com o perit o em hipnot ism o, pois exist e um a série de enferm idades
ant e as quais o m édico é com plet am ent e im pot ent e, e que só pode t rat ar um perit o em
hipnot ism o. Est e som e ao pacient e em um sonho hipnót ico e lhe sugere que se sent e
bem .
Sabia que só t rês por cent o das serpent es são venenosas? Mas é corrent e que
um hom em se m ora inclusive pela m ordida de um a serpent e não venenosa se acredit ar
que a serpent e pode m at ar a um hom em . Por est e m ot ivo, os m ant ras e os exorcism os
t am bém podem servir para t rat ar um a m ordida de serpent e. O cant o de m ant ras e os
exorcism os são, em out ras palavras, seudot écnicas. Um a serpent e venenosa rem ói a um
hom em . Quão único faz falt a é convencer o de que o veneno da serpent e foi anulado.
I sso bast ará: o veneno j á não t erá nenhum efeit o. É com o se não t ivesse havido
nenhum veneno. E se a pessoa se convencesse plenam ent e de que o t inha m ordido um a
serpent e, m orrerá. Não m orreria pela m ordida da serpent e, m as sim pela crença de que
o t inha m ordido um a serpent e.

H
E OUVI DO CONTAR O SEGUI NTE:
Um a vez acont eceu que um hom em passou a noit e em um a est alagem . Jant ou de noit e
e à m anhã seguint e ficou em cam inho cedo. Um ano m ais t arde chegou à m esm a
est alagem . O hospedeiro se surpreendeu ao vê- lo.
- Est á bem ? –pergunt ou ao viaj ant e.
- Est ou bem . por que? O que passou?
- Est ávam os m uit o preocupados –disse o hospedeiro- Verá; a noit e que passou
aqui, caiu um a serpent e na panela e a guisaram com a com ida que lhes serviram .
Out ras quat ro pessoas que com eram daquela com ida m orreram pouco depois. Não
sabíam os o que t e t inha passado, pois t e part iu m uit o de am anhã. Est ávam os m uit o
preocupados com t i.
Quando o viaj ant e ouviu ist o, disse:
- Com o? Um a serpent e em m inha com ida!
E caiu m ort o. Tinha passado um ano! E m orreu de m edo.

E
L HI PNOTI SMO É MUI TO ÚTI L para est as enferm idades. O hipnot ism o significa
sim plesm ent e que a falsidade que criam os a nosso redor pode ser neut ralizada por out ra
falsidade. Recordem : se lhes cravast es no pé um espinho im aginário, não t ent em t irá- la
com um espinho de verdade: seria perigoso. Em prim eiro lugar, não t iraria o espinho
im aginário; e, o que é m ais, a verdadeira lhes fará m al no pé. Para t irar um espinho
falso t erá que usar um espinho falso.
assim , que relação há ent re a m edit ação e o hipnot ism o? Só est a: o hipnot ism o é
necessário para t irar os espinhos falsos que se cravam em seu corpo.
Um exem plo de hipnot ism o é quando lhes digo que sint am que o corpo se est á
relaxando. I st o é hipnot ism o. Em realidade, vós m esm os t êm supost o que o corpo não
pode relaxar- se. O hipnot ism o é necessário para anular est e supost o, e não em out ro
caso. Se não fora por seu falso supost o, o corpo se relaxaria com que sent issem um a só
vê que o corpo est á depravado. As sugest ões que eu lhes dou não est ão dest inadas em
realidade a relaxar seus corpos, a não ser a lhes t irar de cim a a crença de que o corpo
não pode relaxar- se. I st o não se pode conseguir a não ser criando em vós a
cont racreencia de que o corpo se est á relaxando. Seu falso conceit o se neut ralizará com
est e falso conceit o, e quando seu corpo se relaxe, vós saberão que est á depravado. A
relaxação é um a qualidade m uit o nat ural do corpo, m as lhes enchest es que t ant a t ensão
que agora t êm que fazer algo para lhes liberar disso.
Est e é o alcance do hipnot ism o. Quando com eçam a sent ir que o corpo se est á
relaxando, que a respiração se est á relaxando, que a m ent e se est á acalm ando, ist o é
hipnose. Mas só at é est e pont o. O que vem a seguir é m edit ação; at é est e pont o não há
m edit ação. A m edit ação com eça depois dist o, quando est ão no est ado de consciência.
Quando são conscient es de seu int erior, quando com eçam a ser t est em unhas de que o
corpo est á depravado, de que a respiração est á relaxada, de que os pensam ent os
cessaram ou de que seguem m ovendo- se, quando com eçam a observar, a observar
sim plesm ent e, est a observação, est as est ado de t est em unhas, é m edit ação. O que
passa ant es dist o é hipnose.
assim , a hipnose é um sonho cult ivado. Quando não t em os sonho, induzim o- nos
o sonho. Fazem os um esforço; convidam os ao sonho. Tam bém podem os convidar ao
sonho se nos prepararm os para ele e passam os a um est ado em que nos solt am os. Mas
a m edit ação e a hipnose não são um a m esm a coisa. Vos rogo que o com preendam .
Enquant o sent em o que eu lhes sugiro, isso é hipnose. Quando sent em que cessam
m inhas sugest ões e com eça a consciência, isso é o com eço da m edit ação. A m edit ação
com eça com a chegada da est ado de t est em unhas.
A hipnose é necessária porque lhes provocast es um est ado de hipnose inversa.
Em t érm inos cient íficos, ist o não é hipnot izar, é deshipnot izar. Já est am os hipnot izados,
em bora não som os conscient es de com o nos hipnot izam os nem de que m eios nos
servim os para produzir est e est ado de hipnose. vivem os a m aior part e de nossas vidas
sob a influência da hipnose. E quando est am os dispost os a ser hipnot izados, não nos
dam os cont a do que fazem os. Passam os assim t oda nossa vida. Se ist o ficar claro,
rom perá- se o influxo hipnót ico; e quando se rom pe est e est ado hipnót ico, será possível
passar ao int erior, pois a hipnose é, essencialm ent e, um m undo de irrealidade.
Por exem plo, um hom em est á aprendendo a m ont ar em biciclet a. Para prat icar,
fica em m archa em um a est rada larga. A est rada m ede dezoit o m et ros de largura, e há
um m arco no bordo. Em bora o hom em queria m ont ar com os olhos enfaixados por essa
est rada t ão larga, seria m uit o difícil que se chocasse com o m arco. Mas o hom em ainda
não sabe m ont ar em biciclet a.
Não olhe a est rada nem por um m om ent o; seus olhos det ect am em prim eiro lugar
o m arco e o m edo de se chocar com o m arco se apodera dele. I sso é t udo. Assim que
se apodera dele est e m edo de se chocar com o m arco, est á hipnot izado. Quando digo
que fica hipnot izado quero dizer que j á não vê a est rada: com eça a ver só o m arco.
assust a- se, e o guidão de sua biciclet a com eça a girar para o m arco. quant o m ais gira o
guidão, m ais se assust a ele. Nat uralm ent e, o guidão girará para o pont o onde t enha
enfocada sua at enção, e sua at enção est á enfocada no m arco, porque ele t em m edo de
se chocar com ele. Assim , a est rada desaparece de sua vist a e só fica o m arco.
Hipnot izado pelo m arco, desvia- se para ele. quant o m ais se desvia, m ais se assust a;
quant o m ais se assust a, m ais se desvia. Por fim , choca- se com o m arco.
Qualquer pessoa int eligent e que visse ist o poderia pergunt ar- se com o é possível
que o hom em m e chocasse com o m arco em um a est rada t ão larga. Com o é que não
pôde apart ar- se dele? Evident em ent e, est ava hipnot izado. concent rou- se no m arco
para livrar- se de at errissar sobre ele, e ist o fez que não visse m ais que o m arco. Quando
sua m ent e se fixou no m arco, suas m ãos fizeram girar aut om at icam ent e a biciclet a nessa
direção, porque o corpo segue a nossa at enção. quant o m ais se assust ava, m ais t inha
que concent rar- se no m arco. Ficou hipnot izado pelo m arco; seu m edo o arrast ou para
ele, e acabou se chocando com ele.
Na vida est am os acost um ada com et er os m esm os enganos que preferiríam os
evit ar. Ficam os hipnot izados por eles. Por exem plo, um hom em t em e perder a paz de
espírit o e zangar- se. Nest a sit uação, zanga- se vint e e quat ro vezes cada vint e e quat ro
horas. Quando m ais m edo t em a zangar- se, m ais se sent irá hipnot izado pela ira. Ent ão
procurará desculpas para est ar zangado as vint e e quat ro horas do dia.
Out ro hom em , t em ent e olhar às m ulheres form osas porque poderiam excit á- lo
sexualm ent e, verá m ulheres form osas as vint e e quat ro horas do dia. Com o t em po, at é
as m ulheres feias lhe parecerão form osas; at é os hom ens com eçarão a lhe parecer
m ulheres. Se vir de cost as a um sadhu que leva o cabelo com prido, procurará ver se se
t rat a de um hom em ou de um a m ulher. Por fim , at é as m ulheres das fot ografias e dos
pôst eres com eçarão a at rai- lo, a hipnot izá- lo. Esconderá fot ografias de m ulheres nuas
no Git a e no Corán, e as olhará sem pergunt ar- se sequer com o pode deixar- se hipnot izar
assim por sim ples linhas e cores. Sem pre quis salvar- se das m ulheres, e agora as t em e;
agora vê m ulheres em t odas part es. Quando vai ao t em plo ou à m esquit a, ou a qualquer
out ra part e, não vê m ais que m ulheres. Tam bém ist o é hipnose.
Um a sociedade que est á cont ra a sexualidade acaba por volt ar- se sexual. Quando
um a sociedade é opost a à sexualidade, quando abom ina da sexualidade, t oda sua m ent e
se volt ará sexual, pois ficará hipnot izada por aquilo m esm o que crit ica: t oda sua at enção
ficará concent rada nisso. quant o m ais fala de cast idade um a sociedade, m ais lascivas e
luxuriosas serão as pessoas que nasçam em seu seio. O m ot ivo é que ao falar da
cast idade a m ent e se cent ra na sexualidade. Tudo ist o é hipnose ( criada por nós
m esm os) , e vivem os dent ro dela. Todo m undo est á enredado nest a hipnose. E é difícil
rom pê- la, pois a hipnose aum ent a com t odos os int ent os de rom pê- la que fazem os por
nossa part e.
Só Deus sabe quant os t ipos de hipnose criam os j á e quant os seguim os nos
criando. E depois vivem os com eles. Devem os rom pê- los para que possam os despert ar.
Mas para rom per t oda est a rede de falsidade devem os descobrir m ét odos falsos.
Em cert o m odo, t odo sadhana, t oda prát ica espirit ual, serve para elim inar a
falsidade que nos rodeia. assim , t odo sadhana é falso. Os m ét odos que se invent aram
em t odo m undo para nos aj udar a alcançar a Deus são falsos, porque nunca nos
separam os que ele. Só nos separam os que ele com o pensam ent o.
É com o se um hom em dorm e na Dwarka e sonha que est á na Calcut a. E em seu
sonho com eça a preocupar- se: sua m ulher est á doent e e ele est á na Calcut a: deve
ret ornar a Dwarka. Com eça a pergunt ar a uns e a out ros, a consult ar os horários de
t rens, a int eirar- se dos aviões que pode t om ar para ret ornar a Dwarka assim que possa.
Mas qualquer sugest ão que lhe façam sobre o m odo de ret ornar a Dwarka est ará
equivocada, causará- lhe problem as, porque seu pont o de part ida não é Calcut a. Nunca
foi a Calcut a: só era um sonho, um a hipnose. Qualquer m eio que alguém lhe indique
para ret ornar a Dwarka não servirá m ais que para lhe causar problem as.
Nenhum cam inho t em significado algum : t odos os cam inhos são falsos. Em bora o
hom em ret orne a Dwarka, a rot a que seguiria seria falsa. Não é capaz de encont rar o
cam inho de volt a porque não pode exist ir nenhum : ele nunca foi sequer a Calcut a. O
que significa para ele encont rar um cam inho de volt a? O t rem que t om ará para ir a
Dwarka será t ão falso com o sua est adia na Calcut a. Se for à est ação do Howrah, com pra
um bilhet e e t om ada um t rem que se dirige a Dwarka, t odo isso será falso. Todas as
est ações pelas que acont ecerá sua viagem de volt a serão falsas. assim , chegaria a
Dwarka e despert aria feliz. Mas se surpreenderia ao saber que não t inha ido nunca a
nenhum a part e, que t inha est ado em sua cam a t odo o t em po. port ant o, com o ret ornou?
Sua idéia foi falsa, com o t am bém foi sua volt a.
Ninguém saiu nunca de Deus, que é a realidade últ im a. É im possível, porque só
ele é: não há m aneira de sair dele. Todas as saídas são falsas, t udas as volt as são
falsas. Mas com o j á saím os em nossa viagem im aginária, t em os que ret ornar: não há
out ro cam inho. Tem os que encont rar o m eio de ret ornar. Mas quando t iverem
ret ornado descobrirá que t odos os m ét odos eram falsos, que t odo sadhana era falso. O
sadhana só era necessário para nos fazer volt ar do sonho. Quando t iverm os
com preendido ist o, ent ão é possível que não t erei que fazer nada e que descubram de
repent e que ret ornast es. Mas ist o é difícil de com preender, porque criem que j á est ão na
Calcut a. Podem dizer: “ O que diz é cert o, m as eu j á est ou na Calcut a. I nsígnia m e o
cam inho de volt a! ” .
Out ro am igo pergunt ou: encont rast e a Deus?

E
STA PERGUNTA É, precisam ent e, do t ipo das que faria o hom em que viaj ou a Calcut a.
eu gost aria de pergunt ar a est e am igo: “ perdest e algum a vez a Deus?” . Pois se disser
que encont rei a Deus, isso significa que o t inha dado por perdido. Já est á encont rado.
Mesm o que nos parece que o perdem os, ele segue ainda conosco. Quão único acont ece
é que est am os hipnot izados e que, por isso, parece- nos que o perdem os. Por
conseguint e, se alguém disser: “ Sim , encont rei a Deus” , equivoca- se. Segue sem
com preender que nunca chegou a perdê- lo. port ant o, os que chegam a conhecer deus
nunca dizem que encont raram a Deus. Dizem : ” Nunca o perdi” .
O dia em que o Buda ficou ilum inado, a gent e se reuniu a seu redor e a
pergunt ou:
- O que alcançast e?
O Buda respondeu:
- Não alcancei nada. Sim plesm ent e, cheguei a ver o que não t inha perdido nunca.
encont rei o que j á t inha
Os aldeãos que ouviram ist o t iveram piedade dele e lhe disseram :
- Que lást im a! t rabalhast e em vão.
- Sim –disse o Buda- , nesse sent ido é cert o que t rabalhei em vão. Mas agora j á
não t enho necessidade de t rabalhar: essa vant agem ganhei. Agora não irei procurar
nada, agora não vagarei para alcançar nada, agora não em preenderei nenhum a viagem :
isso ganhei. Agora sei que est ou onde j á est ava.
Só vam os em nossos sonhos. Nunca chegam os realm ent e aos lugares onde nos
parece que chegam os. Por isso, em cert o sent ido, t odas as religiões são falsas; t odos os
sadhanas ou prát icas espirit uais são falsos; t odos os iogas são falsos. São falsos no
sent ido de que t odos são m ét odos para ret ornar. Mas, cont udo, são m uit o út eis.
Um cham án de povo que elim ina o veneno das serpent es recit ando m ant ras é
m uit o út il para os que foram m ordidos por um a serpent e, em bora t enham sido m ordidos
por um a serpent e falsa. Sem ele, a gent e m orreria pela m ordida de um a serpent e que
não est ava ali.
Em m eu bairro viveu um a vê um hom em assim . Já m orreu. Vinha a vê- lo gent e
desde m uit o longe para que lhes t irasse o veneno de serpent e. Era um hom em m uit o
hábil; t inha am est rado algum as serpent es. Quando vinha a vê- lo um a pessoa a que
t inha m ordido um a serpent e, ele aplicava suas habilidades cham ánicas e lhe pergunt ava
que t ipo de serpent e era, onde a t inha m ordido, se a serpent e est ava m ort a ou viva…
depois de recolher t oda est a inform ação, punha em j ogo seu t ruque e cham ava à
serpent e. Tinha- o calculado t udo: a que serpent e t erei que solt ar, com que sinal,
et cét era. Ao cabo de um a hora, m ais ou m enos, ent rava pela port a, assobiando, um a
serpent e que se at ia à descrição. Todo aquilo causava sensação: o hom em m ordido pela
serpent e ficava assom brado.
A pessoa a que rem ói um a serpent e est ranha vez é capaz de ver nem de ent ender
nada com claridade: Que serpent e o m ordeu? Com o era? Onde est ava? Est á t ão
afligida pelo fat o de t er sido m ordido que, enquant o isso, a serpent e desaparece. Se
t inham m at ado à serpent e, o cham án invocava à alm a dest a para que acom panhasse à
serpent e dele. Depois, brigava e insult ava à serpent e por t er m ordido a aquele hom em .
A serpent e hum ilhava a cabeça em t erra pedindo perdão. Enquant o isso, ia passando o
efeit o do veneno que t inha absorvido a vít im a. Em seguida o cham án dizia à serpent e
que ext raíra o veneno. A serpent e se aproxim ava im ediat am ent e ao hom em que t inha
sido m ordido e aplicava sua boca à ferida, e a vít im a se recuperava.
Por desgraça, acont eceu um a vez que um a serpent e m ordeu ao filho dest e
hom em . Teve ent ão um grande problem a, pois nenhum de seus t rat am ent os dava
result ado. Acudiu correndo para m im e m e disse:
- Rogo- t e que m e aj ude. Tenho um grande problem a. Suplico- t e que m e diga o
que posso fazer. Um a serpent e m ordeu a m eu filho, e ele conhece o segredo de m inhas
serpent es am est radas. O que desgraçado sou! Rogo- t e que m e diga o que posso fazer.
Est ou im pot ent e. Meu filho não sobreviverá!
Eu fiquei surpreso. Pergunt ei- lhe:
- Mas e seu t rat am ent o? A gent e vem a vert e de longe para que as cure!
- I sso est á m uit o bem –disse- , m as at é eu m esm o t eria um grande problem a se
m e m ordesse um a serpent e: não seria capaz de m e salvar a m im m esm o. Eu conheço
os t ruques do ofício; não m e poderia em m ãos de ninguém que m e t rat asse com o eu
t rat o às pessoas.
O m oço m orreu. Aquele hom em não foi capaz de salvar a seu filho.
Fazem falt a m eios falsos para elim inar a falsidade. E est es m eios t êm um
significado próprio. São significat ivos porque nós t em os cansado em falsidades.
port ant o, não lhes incom odem em pergunt ar: ao princípio, t rat a- se, em efeit o, de
hipnot ism o. As prim eiras et apas são hipnot ism o, sonho; só a et apa final é m edit ação, e
essa é a que t em um valor precioso. ant es de que possam alcançar est a et apa, é
necessária t oda est a preparação: é necessária para que possam sair da falsidade em que
lhes perdest es.
Não pergunt em algum a vez: “ encont rast e a Deus, ou não? Todo isso é um
engano: Quem vai encont rar o? O que t erá que encont rar? O que é, é. O dia que
cheguem ou sej a ist o, verão que não perdest es nada nunca, que não fost es nunca a
nenhum a part e. Nada se dest ruiu nunca, nada m orreu nunca. O que é, é. Esse dia
t erm inarão t udas as viagens, t udo o que é ir a algum a part e.

E agora est a pergunt a: O que significa “ a liberação do ciclo do nascim ent o e da


m ort e?

L
A LI BERAÇÃO DO CI CLO DO NASCI MENTO e da m ort e não significa que não vades volt ar
a nascer aqui out ra vez. Significa que j á não há nem que ir a nenhum a part e nem vir de
nenhum a part e, em nenhum plano. Ent ão ficam arraigados ali onde est ão. O dia que
acont ece ist o, brot am por t oda part e os m ananciais da alegria. Não podem os conhecer a
alegria se est iverm os em um plano im aginário; só podem os encont rar a alegria se
est iverm os onde est am os de verdade. Só podem os ser felizes sendo o que som os;
nunca podem os ser felizes sendo o que não som os. assim , seguir o ciclo do nascim ent o
e da m ort e significa que est am os vagando por lugares ilusórios: est am os perdidos em
algum a part e onde não est ivem os nunca, j am ais. Est am os vagando por algum a part e
onde não devem os est ar nunca, j am ais, enquant o que perdem os que vist a o lugar onde
est am os em realidade. De m odo que a liberação do nascim ent o e da m ort e significa
volt ar aonde est am os, volt ar para casa.
Ent rar em Deus significa est ar exat am ent e onde est am os em realidade. Não se
t rat a de que algum dia vades encont rar lhes com Deus em algum a part e e lhe vades
saudar dizendo: “ Graças ao céu que t e encont rei! ” Não exist e um Deus com o est e, e se
por acaso lhes encont ram com um , saibam bem que t udo é hipnot ism o. Um Deus assim
será sua criação, e lhes encont rar com ele será t ão falso com o foi o perdê- lo. Não é
assim com o encont rarão algum dia a Deus.
Nossa língua est á acost um ada result ar enganosa, pois a expressão “ encont rar a
Deus” ou “ alcançar a Deus” dá a im pressão de que serem os capazes de ver deus cara a
cara. Est as palavras são m uit o enganosas. Ao as escut ar, t em os a im pressão de que
alguém vai se m anifest ar, de que m ant erem os um cont at o visual com ele, de que
poderem os abraçá- lo. I st o é errôneo. Se algum a vez lhes encont rarem com um Deus
assim , cuidado! Um Deus assim t erá sido criado t ot alm ent e por sua m ent e: será frut o
da hipnose.
Todos t em os que sair da hipnose, de t odos os condicionam ent os, e volt ar sobre
nossos próprios passos at é o pont o em que não há sonho, em que não há hipnose, em
que est am os com plet am ent e conscient es, arraigados em nosso próprio ser. O
conhecim ent o que t erem os ent ão será o conhecim ent o de que a exist ência é um a,
indivisível. O nom e desse conhecim ent o é Deus.
Nos preparem os agora para a m edit ação m at ut ina. Falarei m ais dest e t em a em
nossa m edit ação vespert ina. lhes separe um pouco os uns dos out ros. E não falem : lhes
separe em silêncio. Deixem um pouco de espaço livre ent re vós. Os que queiram deit ar-
se, podem fazê- lo: devem deixar espaço suficient e para que se deit em . Em inclusive em
plena m edit ação, se alguém chegar ao pont o de cair, deve cair: não deve im pedir- se a si
m esm o cair.
Sim : subam ao corrim ão, m as deixem sít io livre ent re vós… Pois, m ais t arde, se
lhes caírem em cim a de alguém lhes sent irão m au, e o out ro t am bém se dist rairá.
port ant o, lhes separe. Sim : baixem aqui.
Fechem os olhos… Os m eninos não devem falar: passarão dez m inut os sent ados
em silêncio. Fechem os olhos… deixem o corpo depravado… deixe o corpo
com plet am ent e depravado com o se não houvesse vida no corpo. Deixem que passe
dent ro t oda a energia. Toda a energia do corpo est á acont ecendo dent ro… fluindo para
dent ro… nos est am os encolhendo dent ro de nós, e o corpo ficará com o um a casca que
pendura por fora. Pode cair, ou pode ficar suj eit o, m as será algo ext erno, com o a
roupa. Passem dent ro… e deixem o corpo depravado. Agora lhes farei sugest ões. as
sint am com igo.
Sint am que o corpo se est á relaxando… o corpo se est á relaxando… o corpo se
est á relaxando. Sint am , e deixem o corpo com plet am ent e depravado. O corpo é m uit o
obedient e. Quando o sent irem de t odo coração, convert erá- se quase em um cadáver.
Sint am que o corpo se est á relaxando… o corpo se est á relaxando… o corpo se est á
relaxando… o corpo se est á relaxando… o corpo segue relaxando- se. Solt em , solt em
t oda suj eição… não sigam suj eit ando o corpo de dent ro, solt em com plet am ent e… ret irar
t odo cont role sobre ele, com o se o corpo não fora seu; agora, t udo o que lhe passe,
passará. Se cair, cairá; se o perderem , perderão- o. lhes apart e dele por com plet o…
ret irem dele suas sensações.
O corpo se est á relaxando. O corpo se est á relaxando… o corpo se est á
relaxando… o corpo se est á relaxando… o corpo se est á relaxando… o corpo se est á
relaxando. O corpo se relaxou. Solt em , solt em t oda suj eição do corpo… se cair, que
caia. O corpo se relaxou… com o se se convert eu por com plet o em um cadáver… com o se
o corpo se part iu… o corpo j á não est á… nos separam os que ele… nos apart am os que ele.
A respiração se est á relaxando. Sint am que a respiração se segue relaxando… a
respiração se est á relaxando… a respiração se est á relaxando… a respiração se est á
relaxando… a respiração se est á relaxando… a respiração se est á relaxando… a
respiração se segue relaxando… a respiração se segue relaxando. Solt em … solt em
t am bém a respiração… ent rem m ais dent ro. A respiração se relaxou… a respiração se
relaxou… a respiração se relaxou… a respiração se relaxou. ent rast es m ais ainda det rás
da respiração… a respiração se relaxou.
Os pensam ent os t am bém se est ão relaxando. Os pensam ent os t am bém se est ão
relaxando… os pensam ent os t am bém se est ão relaxando. lhes apart e t am bém dos
pensam ent os… solt em t am bém os pensam ent os. Os pensam ent os t am bém se est ão
relaxando… os pensam ent os t am bém se est ão relaxando… os pensam ent os t am bém se
est ão relaxando… os pensam ent os t am bém se est ão relaxando… os pensam ent os
t am bém se est ão relaxando… os pensam ent os t am bém se est ão relaxando. Solt em
t am bém os pensam ent os. Os pensam ent os se est ão relaxando… os pensam ent os se
est ão relaxando… os pensam ent os se est ão relaxando… os pensam ent os se est ão
relaxando.
O corpo se relaxou, os pensam ent os se relaxaram ; agora passem dez m inut os
sim plesm ent e acordados dent ro de vós… passem dez m inut os sim plesm ent e acordados
dent ro de vós. Durant e dez m inut os, t udo m orreu; dent ro, ficam o- nos acordados com o
um a cham a. O corpo est á longe… a respiração se ouça ao longe… os pensam ent os se
t ranqüilizaram … dent ro, nossa consciência est á acordada observando- o t udo. Não
fiquem dorm idos: sigam acordados dent ro de vós.
Sigam acordados dent ro… sigam observando dent ro… sigam observando…
convert íos em observadores, e com eçará um a profundidade repent ina… com eçará um
silêncio repent ino… com eçará um vazio. Agora, durant e dez m inut os, lhes lim it e a sigam
observando dent ro em silêncio.
L
A MENTE SE FI COU EM SI LÊNCI O… a m ent e se ficou em um silêncio com plet o.
Sum ergíos m ais fundo nas profundidades… com o se caíssem a um poço profundo. Sigam
caindo… siga caindo. Sigam acordados dent ro e sigam lhes convert endo em um vazio.
Sigam conscient es dent ro, sigam acordados, e sigam observando. E t udo m orreu… o
corpo ficou longe; a respiração ficou longe; os pensam ent os desapareceram . Só ficam os
nós. Sigam observando acordados… sigam observando… a m ent e seguirá esvaziando- se
m ais…

Respirem fundo várias vezes, devagar, e volt em da m edit ação. Abram os olhos
devagar e com m uit a suavidade. Nossa sessão m at ut ina t erm inou.

CAPÍ TULO 5

En con t r e m se u pr ópr io Ca m in h o

Ou
N AMI GO PERGUNTOU: Há dit o que não há verdade m aior que a m ort e. Tam bém há dit o
algum a vez que aquilo que cham am os m ort e não exist e. Qual das duas afirm ações é
verdadeira?

A MBAS SÃO VERDADEI RAS. Quando digo que não há verdade m aior que a m ort e,
est ou lhes fazendo ver que o fenôm eno da m ort e é um a realidade enorm e nest a vida, no
que cham am os “ vida” e no que ent endem os por “ vida” ; em t érm inos de nossa
personalidade, que consist e no que eu descrevo com o “ o eu” Est a personalidade
m orrerá; o que cham am os “ vida” m orrerá t am bém . A m ort e é inevit ável. Sem dúvida,
vós m orrerão e eu m orrerei, e est a vida t am bém se dest ruirá, ficará reduzida a pó,
apagada.
Quando digo que não há verdade m aior que a m ort e, quero lhes recordar o fat o
de que t odos vam os m orrer. E quando digo que a m ort e é com plet am ent e falsa, quero
lhes recordar que dent ro dest e “ eu” , dent ro de “ vós” , há alguém que não m orrerá nunca.
E t am bém há um a vida que é diferent e do que vós criem que é a vida: um a vida sem
m ort e. Am bas as coisas são verdadeiras: são verdadeiras de um a vez. Se supuserem
que só um a delas é verdadeira, não serão capazes de com preender t oda a verdade.
Se alguém disser que a som bra é um a realidade, que a escuridão é um a
realidade, t em razão. A escuridão exist e, e t am bém exist e a som bra. E se out ra pessoa
diz que a escuridão não exist e, t am bém t em razão. O que diz é que a escuridão não t em
um a exist ência posit iva. Se lhes pedir que m e t ragam um par de sacos de escuridão
não seriam capazes de fazê- lo. Um a habit ação est á cheia de escuridão; m as se lhes
pedem que dela t irem a escuridão, não serão capazes de fazê- lo. Ou se eu lhes digo:
“ Se ali houver escuridão, façam o favor de m e t razer isso não poderão fazê- lo. por que?
Porque a escuridão t em um a exist ência negat iva; a escuridão é, sim plesm ent e, a
ausência de luz.
Em bora a escuridão exist e, ent ret ant o não é m ais que a ausência de luz. assim ,
se alguém dissesse que não há escuridão, t em razão. Exist e a presença de luz e exist e a
ausência de luz, m as não exist e a escuridão com o t al. Por est a razão podem os fazer o
que quiserm os com a luz, m as com a escuridão não podem os fazer nada. Se querem
elim inar a escuridão, t erão que acender a luz; se querem produzir escuridão, t erão que
apagar a luz. Não se pode fazer nada diret am ent e com a escuridão.
Vão correndo por um a est rada. Sua som bra aparece det rás de vós; corre
t am bém com vós. Todos podem ver a som bra; ninguém pode negar sua exist ência. Mas
t am bém pode dizer- se que não há som bra, porque não t em ent idade própria. A som bra
exist e porque seu corpo det ém a luz do sol. Quando seu corpo det ém a luz, form a- se
um a som bra; quando t êm o sol sobre a cabeça, não se form a som bra, porque os raios do
sol não se det êm . Se fizéssem os um a figura hum ana de vidro, não apareceria nenhum a
som bra, porque os raios at ravessariam o crist al.
Quando se bloqueia a luz, form a- se um a som bra; a som bra não é m ais que um a
ausência de luz. port ant o, se um a pessoa disser que a som bra exist e, não se equivoca.
Mas est a é um a verdade pela m et ade. Deveria acrescent ar, além disso, que a som bra
não exist e. Em t al caso a verdade fica com plet a. I st o significa que um a som bra é algo
que exist e m as, de um a vez, não exist e. Mas com nossa m aneira de pensar não som os
capazes de ver nada se não o dividirm os em duas part es independent es.
Um a vez j ulgaram a um hom em acusado de com et er um assassinat o. Tinha
m at ado a out ro hom em , e os que t inham vist o com et er o crim e se apresent aram com o
t est em unhas. Um a t est em unha disse:
- O crim e se com et eu ao ar livre e brilhavam as est relas no céu. Eu via as est relas
e vi o crim e.
A seguir se apresent ou out ra t est em unha ocular que disse:
- O crim e se com et eu dent ro da casa, pert o da port a j unt o a um a parede. Há
m anchas de sangue na parede, e, com o eu est ava j unt o à parede, t am bém m e m anchou
de sangue a roupa. Est e assassinat o se com et eu dent ro da casa.
O j uiz est ava confuso. Com o podiam dizer a verdade os dois? Evident em ent e,
um dos dois m ent ia. O assassino pôs- se a rir. O j uiz lhe pergunt ou do que ria. O
assassino disse:
- Direi- lhe que am bos t êm razão. A casa est ava ao m eio const ruir: ainda não se
levant ou o t elhado. viam - se as est relas. O assassinat o se com et eu a céu abert o, m as
pert o da port a, j unt o à parede que est á m anchada de sangue. A casa est ava quase
t erm inada: t inham const ruído as paredes; só falt ava o t elhado. De m odo que am bos
t êm razão.
A vida é t ão com plicada que at é as coisas que parecem cont radit órias result am
verdadeiras. A vida e m uit o com plexa. A vida não é com o acredit am : cont ém m uit as
cont radições; é m uit o vast a.
Em cert o sent ido, a m ort e é a m aior das verdades, pois o m odo em que vivem os
t erá fim ; m orrerem os, deixando de ser com o som os, e o m arco que criam os t am bém
será dest ruído. Aqueles aos que consideram os com o t odo nosso m undo ( nossa esposa
ou m arido, nosso filho, nosso pai, nosso am igo) m orrerão t am bém . Mas, ao m esm o
t em po, a m ort e é um a falsidade, porque há algo que reside dent ro do filho que não é o
filho, e que não m orrerá nunca. Há algo que reside dent ro do pai que não é o pai, e que
não m orrerá nunca. O pai m orrerá, é obvio, m as dent ro dele há algo m ais que o pai,
além da relação fam iliar, que não m orre.
O corpo m orrerá, m as há algo dent ro do corpo que não m orre nunca. Am bas as
coisas são verdadeiras de um a vez. assim , é preciso t er pressent e am bas as coisas para
com preender a nat ureza da m ort e.

Ou
TRO AMI GO PERGUNTOU: As coisas que querem os suprim ir, t ais com o as cadeias da fé
cega ou da superst ição, ficam confirm adas ainda m ais em seus bat e- papos. Segundo o
que diz, parece ser que há vida depois da m ort e, que há deuses e fant asm as, que exist e
a t ransm igração da alm a. Nesse caso, será difícil livrar- se das superst ições. Não se
reforçarão ainda m ais?

É preciso com preender duas coisas nest e sent ido. A prim eira e que se algo se
t om ar com o superst ição sem est udá- lo e invest igá- lo devidam ent e, isso equivale a criar
um a superst ição ainda m aior: é am ost ra de um a m ent alidade alt am ent e superst iciosa.
Um a pessoa acredit a que há fant asm as e espírit os m alignos e vós a cham am
superst iciosa, e isso lhes faz lhes sent ir m uit o ent endidos. Mas a pergunt a é: o que é a
superst ição? Se alguém acredit ar que há fant asm as e espírit os m alignos sem invest igá-
lo, isso é superst ição; e se out ra pessoa acredit a que não exist em t ais coisas, t am bém
isso é superst ição. A superst ição é acredit ar algo sem saber se for cert o. Um a pessoa
não é superst iciosa pelo m ero feit o de que t enha crenças opost as às suas.
que acredit a em Deus pode ser t ão crédulo com o o não crent e. Devem os
com preender a definição de superst ição. Significa acredit ar cegam ent e em algo sem
com prová- lo. Os russos são uns superst iciosos at eus; os hindus são uns t eíst as
superst iciosos: am bos caem na fé cega. Os russos nunca se preocuparam de descobrir
se for verdade que Deus exist e: lim it aram - se a acredit á- lo assim ; e os hindus t am pouco
procuraram descobrir se for verdade que Deus exist e ant es de acredit á- lo assim .
port ant o, não com et am o engano de acredit ar que só os t eíst as são superst iciosos: os
at eus t am bém t êm suas próprias superst ições. Parece cont radit ório: com o pode exist ir
um a superst ição cient ífica?
Se t iverem est udado geom et ria, devem conhecer a definição do Euclides que diz
que a linha t em longit ude m as não t em grossura. E bem , acaso pode haver algo m ais
superst icioso que ist o? Nunca exist iu um a linha sem grossura. Aos m eninos lhes ensina
que o pont o não t em nem longit ude nem grossura; e at é o m aior dos cient íficos part e do
supost o de que o pont o não t em longit ude nem grossura. Pode exist ir um pont o sem
longit ude nem grossura? Todos est am os acost um ados a usar as cifras do um aos nove.
Bem poderíam os nos pergunt ar: é que ist o não é um a superst ição? por que nove cifras?
Nenhum cient ist a pode explicar por que se usam nove cifras. por que não set e? O que
t em de m au o set e? por que não t rês? Alguns m at em át icos ( Leibniz foi um deles) as
arrum aram com apenas t rês cifras. Leibniz disse: ao um , dois, t rês, segue- lhes o dez,
onze, doze, t reze; depois vem o vint e, vint e e um , vint e e dois, vint e e t rês. Assim era
seu sist em a de num eração; dirigia- se m uit o bem com ele, e desafiou aos que não
est avam de acordo com ele a que dem onst rassem que est ava equivocado. Pôs em
t ecido de j ulgam ent o a necessidade de nove cifras.
Mais t arde, Einst ein disse que t am pouco eram necessárias sequer t rês cifras e que
bast ava com dois; seria difícil arrum ar- lhe com solo um a cifra, m as dois são suficient es.
A necessidade de nove cifras nas m at em át ica é um a superst ição cient ífica. Mas o
m at em át ico t am pouco est á dispost o a renuncia a ela. Diz: “ Com o podem os t rabalhar
com m enos de nove cifras?” assim , ist o não é m ais que um a crença; não t em m ais
significado que ist o.
De um pont o de vist a cient ífico acredit am que são verdade cent enares de coisas
que, em realidade, são superst ições. Os cient ist as t am bém são superst iciosos, e em
nossos t em pos se est ão dissipando as superst ições religiosas enquant o aum ent am as
superst ições cient íficas. A diferença ent re as duas consist e, sim plesm ent e, em que se
pergunt arem a um a pessoa religiosa com o chegou a conhecer a exist ência de Deus, dirá-
lhes que est á escrit o no Git a, enquant o que se lhe pergunt am com o chegou ou sej a que
a arit m ét ica funciona com nove cifras, dirá- lhes que est á escrit o no livro de t al ou qual
m at em át ico.
Que diferença há ent re as duas? As respost as de cert o t ipo se encont ram no Git a,
no Corán; as respost as de out ro t ipo se encont ram em um livro de m at em át ica. Que
diferença há? I st o dem onst ra que t em os que com preender o que é realm ent e a
superst ição. A superst ição é aquilo no que acredit am sem t er um conhecim ent o disso.
Aceit am os m uit as coisas e rechaçam os m uit as coisas sem saber nada delas: t am bém ist o
é superst icioso.
Suponham que em um povo um hom em é poseído por um espírit o. As pessoas
cult as dirão que é um a superst ição. Suponham os que as pessoas sem cult ura são
superst iciosas: j á as t acham os que superst iciosas porque est as pessoas singelas, com o
são incult as, são incapazes de apresent ar nenhum argum ent o que apóie sua crença.
Assim , t odas as pessoas cult as do povo sust ent am que o cont o de que est e hom em est á
poseído por um espírit o é falso; m as não sabem que em um a universidade com o a do
Harvard, nos Est ados Unidos, há um depart am ent o em que se levam a cabo
invest igações sobre os espírit os e os fant asm as. O depart am ent o publicou inclusive
fot ografias dest es seres. Não t êm nem idéia de que na at ualidade alguns cient ist as
m uit o respeit ados realizam sérias invest igações sobre os fant asm as e os espírit os, e
obt iveram t ais result ados que m ais t arde ou m ais cedo chegarão a dar- se cont a de que
eram eles, os hom ens cult os, os que eram superst iciosos, e de que em bora aqueles aos
que cham avam superst iciosos não sabiam nada daquilo no que acredit avam , o que
diziam era verdade.
Se lerem ao Ryon ou ao Oliver Lodge, surpreenderão- lhes, Oliver Lodge foi um
cient ist a que recebeu o prêm io Nobel. Ao longo de t oda sua vida fez invest igações sobre
os fant asm as e os espírit os. ant es de m orrer deixou escrit o um docum ent o no que dizia:
“ Todas as verdades da ciência que t enho descobert o não são, nem m uit o m enos, t ão
verdadeiras com o os fant asm as e os espírit os. Mas não t em os conhecim ent o deles
porque os superst iciosos cult os não se preocupam de int eirar- se dos descobrim ent os que
se produzem no m undo.”
Se um a pessoa disser que é capaz de ler a m ent e de out ro, dizem os que é um a
superst ição. Na Rússia, onde há cient ist as aos que poderíam os cham ar “ rigorosos” , há
um hom em cham ado Fiodev. É um grande cient ist a russo. com unicou seus
pensam ent os de Moscou, sem m édios visíveis, à m ent e de um a pessoa que est ava no
Tiflis, a m il e quinhent os quilôm et ros de dist ância. I st o se exam inou cient ificam ent e e se
com provou que era cert o. Os cient ist as realizam invest igações dest e t ipo porque cedo
ou t arde result arão út eis nas viagens espaciais. No caso de um a avaria m ecânica em
um a espaçonave, que sem pre é possível, os cient ist as poderão ficar em cont at o com os
t ripulant es por est es m eios. De out ro m odo, a espaçonave poderia perder- se para
sem pre. Com est e fim os cient ist as russos est ão realizando invest igações int ensivas
sobre a t elepat ia e obt iveram result ados assom brosos.
Fiodev realizou suas invest igações com a colaboração de um am igo dele. Seu
am igo est ava no Tiflis, a m il e quinhent os quilôm et ros, e se t inha escondido depois de
um arbust o, em um parque, provido de um aparelho de rádio, e Fiodev e ele est avam em
cont at o. Ao cabo de cert o t em po, o am igo inform ou ao Fiodev de que t inha chegado um
hom em que se sent ou no banco núm ero dez. Pediu ao Fiodev que enviasse a aquele
hom em a m ensagem de que dorm isse em t rês m inut os. O hom em est ava plenam ent e
acordado; est ava fum ando e cant arolando a sós. Fiodev com eçou a lhe enviar sugest ões
( t al com o faço eu) . “ Est á- t e relaxando; est á- t e relaxando.” A um a dist ância de m il e
quinhent os quilôm et ros. Fiodev lhe enviou int ensam ent e durant e t rês m inut os est a
sugest ão: “ Durm a; durm a.” Ao cabo de t rês m inut os exat am ent e, o hom em que est ava
sent ado no banco ficou dorm ido e lhe caiu o cigarro das m ãos.
Mas podia t rat ar- se de um a coincidência. Era possível que o hom em que se
sent ou no banco est ivesse cansado e se ficou dorm ido. De m aneira que o am igo disse ao
Fiodev que o hom em se ficou dorm ido, em efeit o, m as que podia t rat ar- se de um a
coincidência, assim pediu ao Fiodev que despert asse exat am ent e set e m inut os m ais
t arde. Fiodev enviou a aquele hom em sugest ões de que despert asse, e exat am ent e set e
m inut os m ais t arde o hom em abriu os olhos e se levant ou. O hom em do banco era um
desconhecido; não t inha idéia do que est ava passando, e o am igo do Fiodev o abordou e
lhe pergunt ou se havia sent ido algo est ranho.
- Sim –disse o hom em - , cert am ent e que sim . Est ou m uit o sent ido saudades.
Tinha vindo aqui para esperar a um a pessoa, e de repent e sent i que m eu corpo est ava a
pont o de ficar dorm ido. Perdi o cont role e fiquei dorm ido. E depois t ive um a fort e
sensação de que alguém m e dizia: “ t e levant e, t e levant e. t e levant e dent ro de set e
m inut os! ” . Não ent endo nada.
O hom em não t inha a m enor ideia do que t inha acont ecido.
A com unicação do pensam ent o sem nenhum m eio visível se convert eu em um a
realidade cient ífica, m as um a pessoa cult a o cham aria superst ição. É possível que um
doent e sej a curado de um a cidade dist ant e: não é m uit o difícil. Tam bém é possível curar
um a m ordida de serpent e desde m ilhares de quilôm et ros de dist ância: não t em grande
dificuldade. Mas há m uit os t ipos diferent es de superst ições. E recordem que a
superst ição da pessoa cult a sem pre é m ais perigosa que a da pessoa incult a, porque a
pessoa cult a não considera que sua superst ição sej a um a superst ição. Para ela, é um a
conseqüência a que chegou depois de m uit a reflexão.
Est e am igo nos diz agora que t em os que rom per as cadeias da superst ição. lhes
assegure prim eiro de que exist em cadeias, do cont rário podem rom per t am bém os
braços e as pernas a alguém . Só se podem rom per cadeias quando há t ais cadeias. E se
não haver nenhum a? Devem lhes assegurem t am bém de que o que t om am por um a
cadeia que deve rom per- se não result a ser um adorno que t erão que reconst ruir. Todas
est as coisas devem est udar- se com m uit o cuidado.
Eu est ou cont ra a superst ição por com plet o: devem suprim i- las superst ições de
t odo t ipo. Mas ist o não significa que est a supressão sej a m inha superst ição. Não
significa que devam os nos pôr às suprim ir sem as com preender claram ent e, que
devam os nos em penhar nas rom per sem um a reflexão adequada. Tal supressão
arbit rária t am bém se convert eria em superst iciosa.
Cada época t em suas próprias superst ições. Recordem : as superst ições t am bém
t êm suas m odas. As superst ições adot am um a form a nova em cada época. O hom em
abandona as superst ições ant igas e adot a out ras novas, m as nunca se libera delas para
sem pre; m odifica- a e as t roca. Mas não nos dam os cont a disso nunca.
Por exem plo, houve um a época em que corria a superst ição de t er por religioso ao
hom em que se aplicava o t ilak, o sinal na frent e. O que t em que ver a aplicação do t ilak
com a religiosidade? Mas assim se ent enderia. E o que não se aplicava o t ilak era
pont uado de irreligioso. Est a velha superst ição j á não est á de m oda. Agora t em os
novas superst ições, igualm ent e néscias. Ao hom em que leva gravat a lhe considera
dist int o: que não a leva é t ido por vulgar. É o m esm o: não há nenhum a diferença. A
gravat a subst it uiu ao t ilak, e o hom em segue sendo o m esm o. Que diferença há?
A gravat a não é m elhor que o t ilak. Possivelm ent e sej a pior ainda, pois ao m enos
a aplicação do t ilak t inha um significado. A gravat a não t em significado algum nest e
país, em bora possivelm ent e o t enha em algum out ro país. A gravat a é út il nos países
frios, pois serve para prot eger a gargant a do frio. Nesses países, o hom em que não
pode prot eger do frio a gargant a deve ser pobre, evident em ent e. O hom em endinheirado
pode prot egê- la gargant a com um a gravat a; m as quando alguém fica um a gravat a ao
pescoço em um país quent e com o o nosso nos dá um pouco de m edo: pergunt am o- nos
se for um hom em endinheirado ou um louco!
O fat o de que um a pessoa sej a enriquecida não significa que t enha que padecer o
calor ou levar aquele laço ao pescoço. A gravat a é um laço; a gravat a é um nó
corrediço. Levá- la em ao algum país frio t em sent ido, m as levá- la em um país quent e
não t em o m enor sent ido. Apesar do qual, o hom em que t em cert o conceit o de sua
dignidade ( o m agist rado, o advogado, o polít ico) sai com seu laço ao pescoço. E est as
m esm as pessoas t acham de superst iciosos aos que levam o t ilak! Bem poderíam os lhes
pergunt ar: “ Acaso não é t am bém um a superst ição levar gravat a? Em virt ude de que
princípio cient ífico lhes at ast es esse laço ao pescoço?” Mas a gravat a é aceit ável porque
é um a superst ição dest a época, e o t ilak é inaceit ável porque é um a superst ição de out ra
época.
Com o pinj ent e ant es: assim com o a gravat a t em algum significado para os
habit ant es dos países frios, a aplicação do t ilak t am bém pode t er um significado; m as é
absolut am ent e perigoso e errôneo dizer que se t rat a de um a superst ição sem reflet ir
sobre isso. Possivelm ent e não t enham pensado por que se aplica o t ilak. est á
acost um ado a se aplicar por superst ição; m as quando a gent e o aplicava originalm ent e,
t inha cert a explicação cient ífica. Em concret o, o t ilak se aplica na frent e, no pont o
sit uado ent re os olhos onde est á sit uado o agya chakra, o chakra do t erceiro olho. Est e
pont o se esquent a assim que se prat ica um pouco a m edit ação, m as se esfria aplicando
m adeira de sândalo. A aplicação da m adeira de sândalo é um a t écnica m uit o cient ífica,
m as que j á se perdeu: às pessoas j á não lhe int eressa essa ciência. Agora j á ninguém se
aplica m adeira de sândalo, em bora saiba o que é o agya chakra, prat ique ou não
prat ique a m edit ação.
É est ranho ver gent e que leva gravat a nos países quent es. O cost um e de llevar
gravat a pode t er um a base cient ífica nos países frios, e, do m esm o m odo, o t ilak t em um
significado cient ífico para o que m edit a sobre o agya chakra, pois a m adeira de sândalo
esfria esse pont o. Quando se m edit a sobre o agya chakra, produz- se um est ím ulo e essa
zona se esquent a: t erá que esfriá- la; do cont rário podem produzir- se danos no cérebro.
Mas se nos propuséssem os elim inar t odos os t ilak, o t iraríam os, é obvio, a t odos os que
o levam sem sent ido, m as t am bém o t iraríam os da frent e ao pobre hom em que
possivelm ent e o t enha aplicado por razões pessoais. E se não o quer t irar, cham arem o-
lo superst icioso.
O que quero dizer é que não há m aneira de det erm inar o que é superst icioso e o
que não o é. Em realidade, um a m esm a coisa pode ser um a superst ição em cert as
circunst âncias e pode ser cient ífica em circunst âncias diferent es. Um a coisa que pode
parecer cient ífica em cert as circunst âncias pode parecer acient ífica em um conj unt o
diferent e de circunst âncias.
Por exem plo, no Tíbet exist e o cost um e de banhar- se um a vez ao ano, coisa
m uit o racional, porque no Tíbet não há pó e, com o o clim a é frio, a gent e não sua, pelo
qual não precisam banhar- se. Banhar- se t odos os dias seria daninho para seus corpos:
faria- lhes perder m uit o calor corporal. E com o poderiam recuperar esse calor? No Tíbet
seria m uit o cust oso est ar desabrigadas. Se um a pessoa passasse t odo o dia
desabrigada, necessit aria quarent a por cent o m ais de m ant im ent os para recuperar as
calorias que perderia. Em um país com o a Í ndia, o hom em que anda nu é respeit ado,
pois lhe considera um ascet a. Mahavira era razoável: ia nu; e em um país quent e com o
est e, quant o m ais calor desprende o corpo, m ais afresco se sent e em seu int erior. Mas
se chegasse ao Tíbet um seguidor da Mahavira nu, m ereceria que o encerraram em um
m anicôm io. Aparecer assim no Tíbet será com plet am ent e acient ífico, um a est upidez.
Mas assim acont ece sem pre.
Quando vem à a Í ndia um lam a t ibet ano, não se banha nunca. Um a vez convivi
com Bodas Gaya com uns lam ba t ibet anos. Cheiravam t ão m al que era um t ort ura est ar
sent ado a seu lado. Quando pergunt ei a que se devia aquilo, responderam - m e:
“ Seguim os a regra de nos banhar só um a vez ao ano.” Aqui é onde est abeleço a
diferença ent re a superst ição e a ciência. O que é um a ciência no Tíbet é um a
superst ição na Í ndia. Aqui, est es lam as cheiram m al sem dar- se cont a de que seus
corpos suam m uit o nem de que há m uit o pó.
Não nos dam os cont a, m as há países onde não há nada de pó. Quando Kruschev
veio à a Í ndia pela prim eira vez o levaram a Agra para que visse o Taj Mahal, e pelo
cam inho viu que se form ava um redem oinho de pó. Fez parar o carro, apeou- se e ficou
no cent ro do redem oinho. Est ava m uit o cont ent e. Disse: “ Que sort e! Nunca t inha t ido
um a experiência com o est a.” Não nos parecia um a sort e nos ver rodeados de t ant o pó.
Mas em seu país há m ont ões de neve, não de pó. Era um a experiência fascinant e para
ele, com o o é a neve para nós. Quant o nos em ociona cam inhar pela neve no Him alaya!
port ant o, não lhes ponham a rom per coisas porque criam que são cadeias, sem
considerar ant es a época, as circunst âncias e sua ut ilidade.
A m ent alidade cient ífica é a que sem pre t it ubeia. A pessoa que t em m ent alidade
cient ífica nunca t om a um a decisão precipit ada dizendo- se: “ I st o é corret o e aquilo é
errôneo” . Sem pre se diz: “ É possível que ist o sej a corret o, m as vou invest igar ainda
m ais.” At é ao final de suas invest igações não t om a um a decisão afirm ando com cert eza:
“ De acordo; ist o é errôneo: vam os suprim ir o.” A vida é t ão m ist eriosa que não
podem os afirm ar nada de um a m aneira t ão definit iva. Quão único podem os dizer é: “ De
m om ent o conhecem os at é aqui, e à luz dest es conhecim ent os parece que t al e t al coisa é
errônea.” I sso é t udo. A pessoa com at it ude cient ífica dirá: “ À luz da inform ação de que
dispom os at é o m om ent o, hoj e não parece que t al e t al coisa sej a corret a; m as, com
um a nova inform ação, pode parecer corret a m anhã.” Est a pessoa não t om a nunca um a
decisão precipit ada sobre o que é corret o e o que é errôneo. Sem pre segue invest igando
com m ent alidade inquisit iva e hum ilde.
Mant er um a superst ição produz agrado, e t am bém produz agrado quebrant á- la.
O agradável de m ant er um a superst ição é que nos econom iza o t rabalho de pensar:
acredit am o que acredit am t odos out ros. Nem sequer querem os nos pergunt ar a
explicação nem por que é assim . por que nos incom odar? Lim it am o- nos a seguir à
m ult idão. Ter superst ições é côm odo.
E t am bém há pessoas que se dedicam a quebrant ar as superst ições: t am bém isso
é m uit o côm odo. A pessoa que quebrant a as superst ições dá a im pressão de ser racional
sem sê- lo verdadeiram ent e. Não é fácil ser racionais: para ver as coisas racionalm ent e
t erá que pôr em t ensão t odos os nervos. O hom em est uda t ão at ent am ent e as coisas
que lhe result a difícil fazer afirm ações cat egóricas. Dirá: “ Em t ais circunst âncias é válido
não banhar- se no Tíbet , enquant o que em t ais out ras circunst âncias é um a superst ição
absolut a não banhar- se na Í ndia.” A pessoa que pensa racionalm ent e falará dest e m odo.
Por out ra part e, o reform ist a social não se preocupa do que diz: preocupa- se de
suprim ir coisas; quer suprim ir cert as coisas. Eu lhe digo: adiant e; suprim e. Há m uit as
coisas que devem ser suprim idas; m as o prim eiro que t erá que suprim ir, ent ret ant o, é a
irreflexão. O prim eiro que t erá que suprim ir é a t endência a obrar sem pensar
racionalm ent e as coisas ant es. O que significa ist o é que se dest ruírem algo sem pensá-
lo devidam ent e, essa dest ruição não t em valor. Terá que im plant ar a t endência a pensar
racionalm ent e, e t erá que suprim ir a t endência a acredit ar irreflexivam ent e. I st o nos
levará a ver cont ext os diferent es, significados diferent es. Dest a form a, em preenderem os
um a busca int ensiva; pensarem os e raciocinarem os. Assim , considerarem os t odas as
possibilidades.
O psicanálise é m uit o popular no Ocident e, e o m ais int eressant e é que o
psicanálise est á realizando o m esm o t rabalho que desem penham os m édicos bruxos de
t oda a vida nos povos. At ualm ent e exist e na França um a seit a at iva fundada pelo Cuvier
se apóia nos m esm os princípios do m édico bruxo, com a diferença de que Cuvier é um
cient ist a e ut iliza t erm inologia cient ífica. Pelo rest o, t udo é o m esm o: não há diferença
algum a.
Surpreenderá- lhes saber que quando um sadhu, um ascet a lhe m ediquem , um
hom em corrent e do povo sem conhecim ent os de m edicina, ent rega em nom e de Deus
um pingo de cinza a um doent e, dizem os que é um a superst ição. Mas t em a m esm a
eficácia que produz a m esm a proporção de curas que o t rat am ent o alopát ico. É m uit o
int eressant e: a m esm a proporção. est ão- se realizando m uit os experim ent os nest e
sent ido.
Em um hospit al de Londres se realizou um experim ent o único. Um conj unt o de
cem pacient es que padeciam um a m esm a enferm idade se dividiu em dois grupos. A
cinqüent a pacient es lhes inj et ou a m edicação habit ual, e aos out ros cinqüent a lhes
inj et ou água. E o m aravilhoso foi que a proporção de pacient es curados foi a m esm a em
am bos os grupos. De m odo que surgiu um a pergunt a: O que passa aqui?
Em vist a dest e experim ent o, fez- se necessário exam inar m ais de pert o a quest ão.
E o que ficou claro foi que a idéia, a sensação de que se est á recebendo um
m edicam ent o, t em um efeit o m ais capit alist a que o m edicam ent o m esm o. Além disso,
nem sequer o m edicam ent o, a adm inist ração do m edicam ent o m esm o, t em t ant o efeit o
com o a idéia de quão caro é o m edicam ent o e da fam a que t em o m édico. Um m édico
m enos conhecida fracassa em seu t rat am ent o, não porque não conheça sua profissão, a
não ser, sim plesm ent e, porque não é m uit o conhecido. O m édico fam oso im pressiona
im ediat am ent e ao pacient e. Com seu t raj e ost ent oso, sua consult a bem inst alada, suas
m inut as, seu carro grande, a necessidade de pedir hora com m uit o adiant am ent o, a
m ult idão de pacient es, a cauda: t odo isso nos im pressiona t ant o que não im port a m uit o
que saiba ou não o que nos est á dando.
A verdade é que para ser um bom m édico não faz falt a t er grandes
conhecim ent os de m edicina; o que faz falt a é t er excelent es conhecim ent o da art e da
publicidade. A quest ão é o m elhor ou pior que o m édico se saiba anunciar. O que arroj a
benefícios é a publicidade, não a m edicina.
Recent em ent e se publicaram um as est at íst icas m édicas segundo as quais na
França há um as oit ent a m il m édicas e um as cent enas sessent a m il curandeiros. Quando
o pacient e se cansa dos m édicos t it ulados o curam os que não sabem m edicina. Mas
sabem t rat ar a um pacient e. Por isso vem os que se prat icam t ant as “ pat ías” . Não vos
est ranha que abundem t ant o as “ pat ías” nest a era da ciência? At é a nat uropat ía dá
result ado: um em plast ro de argila no vent re dá result ado; um enem a de água dá
result ado; os am ulet os do m édico bruxo dão result ado. At é a hom eopat ia, que não
consist e m ais que em pequenas pílulas de açúcar, dá result ado. Todo isso dá result ado,
com o a alopat ia.

Por isso surge a pergunt a: com o se cuera o pacient e? Se um curandeiro de aldeia


receit a um pouco de pó e padre a seus pacient es, t erem os que pensar com cuidado;
t erem os que nos preocupar de se convier ou não rom per est as superst ições. O hom em
que leva um est et oscópio ao pescoço e que t em um carro grande t am bém é capaz de
curar a seus pacient es por m ét odos cient íficos. Mas aqui t am bém int ervém um a m agia:
a m agia do carro, do est et oscópio.
Eu conheço um curandeiro. Não t em nenhum t ít ulo universit ário, m as curou a
m uit os pacient es que eu lhe enviei, pacient es que t inham sido despej ados por out ros
m édicos. É preparado; t em um a not ável com preensão da nat ureza hum ana. Em
realidade, assim é com o chega um a ser m édico t it ulado! Quando um visit a sua clínica
para receber um t rat am ent o, ele realiza o diagnóst ico de t al m odo que ao pacient e lhe
desaparece a m et ade da enferm idade enquant o o m édico lhe diagnost ica. É um m édico
ext rem am ent e hábil; int im ida a t odos out ros m édicos.
Tem um a sala de consult as grande, im ponent e e de aspect o sério, com um a
grande m esa em que faz t ender- se ao pacient e. Sobre o peit o do pacient e pendura um a
coisa parecida com um est et oscópio. Est e art efat o est á conect ado a dois t ubos
t ransparent es cheios de água colorida. Quando aplica ao peit o do pacient e o art efat o
sem elhant e a um est et oscópio, os bat im ent os do coração do coração fazem salt ar a água
do t ubo. O pacient e vê salt ar a água e se convence de que se encont ra em presença de
um grande m édico: nunca t inha vist o um m édico com o est e. O que ut iliza é um a espécie
de est et oscópio, em bora não o aplica aos ouvidos: observa a ascensão e a baixada da
água nos t ubos, e ist o convence ao pacient e de que est e não é um m édico corrent e.
Sabe por que os m édicos alopát icos escrevem as receit as com um a let ra t ão
ilegível? O m ot ivo é que se fossem capazes das ler, descobriria que são um a coisa t ão
corrent e que poderia com prá- la inclusive no m ercado; por isso, a receit a se escreve
int encionalm ent e de t al m odo que vós não podem lê- la. Em concret o, se apresent assem
de novo essa m esm a receit a ao m édico, não seria capaz de ent ender o que t inha escrit o
ele m esm o. Out ra coisa int eressant e é que os nom eie de t udo os rem édios t êm que
est ar escrit os em lat im e em grego. O m ot ivo é singelo: se t ivesse que escrever em
inglês, em hindi ou em guj arat i, j am ais lhe pagaria dez ou quinze rupias por um a
inj eção: saberia que não era m ais que um a decocción de sem ent es de com inho.
Todos est es são t ruques m ágicos. É o m esm o que o popular que adm inist ra a
seus pacient es um pingo de cinza. Mas t am pouco ist o seria eficaz se t ivesse o aspect o
de pessoa corrent e. Mas se vai vest ido com um a t única ocre, t erá m aior efeit o. E se o
hom em t em fam a de honrado, de virt uoso, de am ável e de sincero, o pingo de cinza t erá
m uit o m ais efeit o. Se se souber que não pede dinheiro, que nem sequer t oca nunca o
dinheiro, ent ão a cinza t erá um efeit o elet rizant e. assim , o que t em um efeit o não é a
cinza, são out ros fat ores que int ervêm . Terá que est udar com cuidado se se deve seguir
perm it indo que se prat iquem est as curas; pois se se prohíben est as curas, será preciso
encont rar out ras, igualm ent e falsas, para que as subst it uam . O processo não t em fim .
É necessário fazer que a pessoa pense racionalm ent e para que não se provoque
enferm idades falsas a si m esm o. Enquant o sigam cont raindo- se enferm idades falsas,
seguirão aparecendo m édicos falsos. Se elim inarem os ant igos m ét odos falsos,
aparecerão out ros novos; e se elim inarem est es, nascerão out ros. Exist em t ant os t ipos
de t rat am ent o no m undo que não há m aneira de decidir qual é o corret o: t odos afirm am
que são út eis para curar as enferm idades. E suas afirm ações são válidas: curam as
enferm idades, em efeit o.
quant o m ais aprofundam os no psiquism o hum ano, m ais claro fica que a
enferm idade est á em algum a part e da m ent e hum ana. Enquant o a enferm idade se
encont re na m ent e hum ana, seguirão exist indo t am bém os t rat am ent os falsos. Por est a
razão, não m e preocupa t ant o elim inar os t rat am ent os falsos: preocupa- m e m ais pôr fim
à enferm idade na m ent e hum ana. Se desaparecer a enferm idade na m ent e hum ana, se
se acordada a consciência do hom em , se est e se volt ar j udicioso, não est ará rodeado de
problem as m olest os. Se forem recolher a cinza, não é porque em um povo haj a um
hom em que a repart e. Não: se o hom em a repart ir, é porque vós est ão desej osos de
recolhê- la.
Ninguém se convert e em sua líder por si m esm o: são vós os que não são capazes
de viver nem um inst ant e sem um líder; est e é o m ot ivo pelo que alguém t em que
convert er- se em líder. Se elim inarem a um líder, encont rarão a out ro, e se est e é
elim inado, encont rarão a um t erceiro. E, em realidade, enquant o est ão elim inando a um
líder; j á lhes t erão inform ado de quem querem com o novo líder. Por isso, os líderes de
t odo o m undo conhecem bem a necessidade de seguir dirigindo part idos de oposição.
Sabem , com confiança, que quando o povo se cansa de um líder escolhe
aut om at icam ent e ao segundo, e que quando se cansa do segundo o subst it ui pelo
t erceiro. Por isso funciona em t odo m undo o bipart idism o. A gent e é igual em t odas
part es.
Nas últ im as eleições eu est ava no Raipur. m eu am igo, que vive no Raipur a m uit o
t em po t em po, t inha saído eleit o várias vezes com o deput ado, m as aquela vez t inha sido
derrot ado. Em seu lugar saiu eleit o out ro m eu am igo, com plet am ent e desconhecido e
que t inha chegado ao Raipur recent em ent e. Pergunt ei a m eu am igo com o t inha
acont ecido aquilo. Com o t inha podido perder seu banco a favor de um recém - chegado?
- Est á m uit o claro –m e disse- A gent e se acost um ou m uit o a m im . Esse hom em é
um a cara nova: a gent e não o conhece ainda. Não há de que preocupar- se: quando ele
se convert a t am bém em personagem fam iliar, t am bém ficará derrot ado. Terei que
esperar a que chegue o m om ent o de novo. Por ent ão se t ornaram a esquecer de m im , e
ent ão t erei vant agem .
No fundo, não é quest ão de elim inar a est e líder ou a aquele, de suprim ir est a
superst ição ou aquela: essa não é a quest ão. A quest ão é produzir no hom em um a
m udança fundam ent al. A m ent alidade cient ífica não será m uit o part idária da
superst ição, m as a superst ição seguirá exist indo enquant o o hom em est ej a sat isfeit o
com sua cegueira. Se o hom em não est á preparado para abrir os olhos, ent ão deverá
exist ir a cegueira.
E m e deixem que lhes pergunt e um a coisa: quais de ent re nós est am os dispost os
verdadeiram ent e a abrir os olhos? Nenhum de nós est á dispost o a ver com os olhos
abert os, pois com os olhos abert os podem ver verdades que não querem os ver. Por isso
fecham os os olhos e vem os o que nos diga nossa fant asia. Têm abert o algum a vez os
olhos e observast es com at enção com o é a vida? I sso não querem fazê- lo, pois ent ão
veria coisas t erroríficas.
Cada pessoa se considera a si m esm o absolut am ent e piedosa, um m ahat m a. Se
abrisse os olhos e olhasse com at enção, descobriria com horror à m aj or dos pecadores
escondido dent ro de si m esm o. Não quer ver isso, é obvio, porque ent ão lhe result aria
difícil ser um m ahat m a, e por isso se fecha os olhos a si m esm o. E não só isso: ao fazê-
lo, recorre às pessoas que podem lhe aj udar a fechar os olhos: at rai a seu redor a t odas
as pessoas que podem vir a lhe dizer que é um grande m ahat m a. Assim segue
recolhendo seguidores. Reúne a seu redor a t odas as pessoas que cont ribuem a
conseguir que siga cego.
E exist em m uit os t ruques m aravilhosos para at rair às pessoas; prat icam - se uns
enganos incríveis nest e sent ido. Um dos t ruques para at rair às pessoas é grit ar
const ant em ent e: “ Não lhes aproxim em de m im ! Não quero t er a ninguém a m eu lado! ”
Às pessoas a im pressiona t rem endam ent e est e t ruque. Vão em m assa ao lado de um a
pessoa assim . quant o m ais as rechaça, m aior m ahat m a se acredit am que é. Um
m ahat m a corrent e receberia bem às pessoas, m as est e levant a o fort ificação e rechaça
às pessoas. Não m anifest a int eresse por ninguém .
ouvi falar de um hom em que levava vários anos passeando- se por um a praia de
Califórnia. convert eu- se em um a espécie de at ração. Diziam dele que era um hom em
t ão sim ples que se alguém lhe dava a escolher ent re um bilhet e de dez dólares e um a
m oeda de dez cent avos, agarrava a m oeda de dez cent avos. Assim de inocent e era. Um
hom em , m ovido pela curiosidade, foi ver o cinco ou seis vezes e sem pre o encont rava
rodeado de um a m ult idão. A gent e lhe pergunt ava: “ Am igo, o que prefere: ist o ou
ist o?” , e ele t om ava em seguida a m oeda de dez cent avos, dizendo que gost ava, que
gost ava de seu brilho. A gent e t om ava por um hom em m uit o singelo.
Ao hom em curioso lhe result ava difícil acredit ar- se que depois de t ant os anos
aquele suj eit o não conhecesse os bilhet es de dez dólares. Era m uit a inocência! Um a
t arde, quando se havia disolvido a m ult idão, aquele hom em curioso abordou ao suj eit o e
lhe disse:
- Levo vint e anos observando- o e m e surpreende ver o que durou est e j ogo.
Segue você sem reconhecer os bilhet es de dez dólares?
O suj eit o riu e disse:
- Do prim eiro dia sabia o que era um bilhet e de dez dólares, m as, se o t ivesse
dado a ent ender, o j ogo t eria t erm inado ali m esm o. Não reconhecendo o bilhet e, recolhi
m oedas de dez cent avos de m ilhares de espect adores. Se reconhecer um bilhet e, será o
único bilhet e que chegaria a m inhas m ãos: essa gent e não m e daria nenhum bilhet e
m ais. De m odo que, se quero ganhar dinheiro de verdade, devo desprezar a riqueza; e
os bilhet es se irão acum ulando por si m esm o. Ent endo bem t oda a operação; m eu
t rabalho part e bem . Alguns dias recolho at é quinhent os dólares da gent e. O j ogo
seguirá adiant e com t oda segurança.
Ao que cham am m ahat m a conhece t am bém o valor do dinheiro, em bora se lhe
falam os de dinheiro dirá que nem sequer o t oca nunca. Mas seu discípulo, que est á a
seu lado, recolhe as oferendas e as guarda na caixa fort e: porque o m ahat m a não t oca
nunca o dinheiro!
O que se pode fazer se um a pessoa quer seguir cega? Quem será t ão parva de
fazer algo a respeit o? O personagem da praia não t em a culpa da m alícia. Os que
produzem a m alícia são os que o abordam . O pobre suj eit o t em que represent ar sua
farsa pela m alícia deles. Direi- lhes um a coisa: se não o t ivesse feit o ele, out ro t eria feit o
o m esm o. E a gent e é t ola: sem pre que puderem , seguirão fazendo o que fizeram com
aquele suj eit o; querem que alguém os est orvo o dinheiro. Por est e m ot ivo, seguirão- se
represent ando essas farsas. Só poderá dar- se os fim quando com eçarm os a dest ruir a
t olice do ser hum ano.
assim , não lhes preocupem m uit o de rom per as cadeias da superst ição, pois se a
pessoa que leva a cadeia segue sendo a m esm a, forj ará- se out ras. Não é capaz de viver
sem cadeias. As pessoas dest e t ipo criarão cadeias novas.
Todas as religiões aspiram a rom per est as cadeias, e cada religião cria um a cadeia
nova. O m undo viu m uit as religiões novas. Todas elas se est abeleceram para int roduzir
reform as; t odas elas proclam aram sua int enção de erradicar t odas as superst ições
est abelecidas, m as, enquant o se suprim em as superst ições, em realidade não se suprim e
nada. Nat uralm ent e, os que est ão fart os das superst ições ant igas as subst it uem por
out ras novas e ficam m uit o cont ent es, pois t êm a im pressão de que produziram um a
m udança.
Em realidade, a pessoa int eligent e nunca se aferra a nada; nem sequer a
nenhum a crença, nem m uit o m enos a um a superst ição. Vive int eligent em ent e; não se
agarra a nada. Nunca cria nenhum a cadeia, porque sabe que a vida em liberdade produz
um a alegria im ensa. Não lhes vós criem nenhum a cadeia.
De m odo que a verdadeira quest ão é despert ar em cada indivíduo a consciência
suficient e para que produza nele o desej o de ser livre, de volt ar- se int eligent e, de volt ar-
se aut orrealizado, de encher- se de consciência. Se se pudesse reduzir a t endência a
viver cegam ent e ( a convert er- se em seguidor, em sect ário, em crent es em alguém ) ,
t odas as superst ições se desm oronariam . Mas nesse caso não acont eceria que se
derrubaria um a superst ição enquant o sobrevivia out ra: derrubariam - se t odas,
desapareceriam t odas de um a vez. De out ro m odo, durariam para sem pre.
O que devem os ent ender é que não se consegue nada com um a sim ples m udança
de roupas. Que cada um leve a roupa que prefira. Se alguém quer levar roupas de cor
ocre, que as leve: por que im pedir- lhe Se alguém quer levar roupas negras, que as leve.
O que t erá que advert ir é que um a m udança de roupa não equivale a um a m udança de
vida. Quando nos dem os cont a dist o, j á não t em os necessidade de t rocar de roupa, pois
a pessoa que nos faça t rocar de roupa a subst it uirá im ediat am ent e por roupa de out ro
t ipo.
Um sannyasin, vest ido com roupas de cor ocre, foi visit ar o Gandhi e lhe disse que
suas idéias o t inham im pressionado m uit o e que t am bém ele queria servir à pát ria. O
que lhe respondeu Gandhi foi m uit o significat ivo. Disse- lhe:
- Est a bem , m as em prim eiro lugar t em que renunciar a suas roupas ocres,
porque seriam um obst áculo para seu t rabalho. Em geral, a gent e est á ao serviço dos
que levam roupas ocres, em lugar de ser ao cont rário.
I st o era m uit o cert o. Mas quando Gandhi lhe fez renunciar às roupas ocres,
recom endou- lhe a seguir que ficasse roupas de kadhi, de algodão fiado em casa.
Agora, os que levam roupas de kadhi fazem coisas que ant es não faziam nem
sequer os que levavam roupas ocres. O que é o que t rocou? Agora, os que levam
roupas de kadhi aceit am que out ros est ej am a seu serviço. As pobres gent e que
levavam as roupas ocres não aceit aram nunca t ant o serviço por part e de out ros com o o
que aceit am agora os que levam as roupas de kadhi. De m odo que o kadhi result ou
m uit o cust oso para est e país. O sannyasin est ava m uit o cont ent e de haver- se liberado
de sua superst ição a respeit o das roupas ocres; m as agora leva roupas de kadhi; agora
est á obst inado à superst ição do kadhi. Que diferença há?
A verdadeira quest ão não é fazer que a gent e deixe um a coisa e obrigá- la a t om ar
out ra. A quest ão é chegar a com preender a m ent alidade m esm a que se aferra às coisas.
Gandhi não agudizó a int eligência daquele hom em ; aquele hom em ficou t ão
néscio com o ant es. Não lhe fez m ais que t rocar de am ort ecedora, e o hom em ficou
m uit o cont ent e com isso. Mas o que t inha t rocado? Assim foram sem pre as coisas.
Nos últ im os cinco m il anos a hist ória da hum anidade foi m uit o desvent urada. No
int ent o de derrubar um as superst ições não t rocam os nunca ao hom em : lim it am o- nos a
elim inar a superst ição, m as o hom em cria a seguir um a superst ição nova. Sej a l que
sej a o que lhe ofereçam os, j oga- se sobre isso. “ Est á bem –diz- ; assim sej a. Deixarei a
out ra superst ição e aferrarei a est a! ” E nos sent im os m uit o cont ent es porque aceit ou
nossa superst ição.
Est ava acost um ado a vir a m e visit ar um j ovem . Falava das escrit uras dia e
noit e. sabia- se de cor os Upanishads, o Git a, veda- os. Eu lhe disse:
- Deixa de t olices. Não vais alcançar nada com ist o!
Ele se zangou m uit o com igo, m as seguiu m e visit ando. A pessoa que se zanga
m uit o conosco nunca deixa de nos visit ar, pois o aborrecim ent o t am bém est reit a os laços
pessoais. Est ava zangado com igo, sem dúvida, m as seguia vindo. Passou o t em po,
seguiu escut ando m inhas palavras, e algo o com oveu. Um dia se aproxim ou de m im e e
disse:
- Fiz um pacot e com o Git a, os Upanishads e os Veda e os at irei t udo a um poço.
- Quant o t e hei dit o eu que os at irasse? –pergunt ei- lhe.
- Tinha que esvaziar m inha prat eleira para fazer sít io para seus livros –disse ele-
Agora est ou plenam ent e de acordo com seus livros.
- Mas ist o t em feit o m ais difíceis as coisas –disse eu- . Não t rocou nada. O único
que t e dizia eu era que não est ivesse de acordo com nenhum livro. Nunca t e pedi que
at irasse aqueles livros e que aferrasse a m eus. O que é o que t rocou?
Os que cham am gurús ficam m uit o cont ent es quando a gent e com part ilha as
superst ições que eles propõem . Assim é com o, em bora sigam t rocando as superst ições,
o hom em segue sendo superst icioso.
De m odo que eu disse ao j ovem que at irasse m eus livros ao m esm o poço.
- Com o é possível? –disse- m e ele.
Assegurou- m e que não era capaz de fazer t al coisa. Assim que eu lhe disse:
- Ent ão, t udo se ficou com o est ava. Agora, m eu livro se convert eu em seu Git a. O
que t inha de m au o Git a do pobre Krishna? Se t inha a necessidade de carregar com
algo, seu Git a era suficient e: cobria suas necessidades; era m uit o m ais grosso que m eu
livro; proporcionava- t e o last ro suficient e. No que t rocaram as coisas agora? Quando
acusei eu a Krishna? Quando crucifiquei eu a Krishna?
Assim foram sem pre as coisas, e assim seguem sendo. O que acont ece é
sim plesm ent e, que o hom em segue sendo o m esm o: só t rocam seus brinquedos. “ Sim :
se alguém adot ar m eu brinquedo, isso é bom ; eu adoro que alguém t enha adot ado por
fim m inhas idéias. Meu ego se sat isfaz ao ver que alguém com eçou a acredit ar por fim
em m im m ais que na Krishna.” Mas assim não se t roca à hum anidade; ist o não pode
beneficiar nunca à hum anidade. O que deve nos preocupar é o m odo de rom per, de
dent ro, est a m ent alidade hum ana que se aferra às coisas. Com o pode superar o hom em
sua cegueira?
Eu faço est a sugest ão a nosso am igo: não t e proponha elim inar as superst ições;
pelo cont rário, t roca a m ent alidade superst iciosa. Troca essa m ent e que engendra a
superst ição, para que possa nascer um hom em novo. Mas é um t rabalho árduo; requer
m uit o esforço. Não é t arefa fácil. É preciso m ant er um a at it ude m uit o cient ífica para
levá- la a cabo.
Não lhes apressem t ant o em negar a exist ência dos fant asm as e dos m aus
espírit os. São m uit o m ais reais que vós. Não há nenhum a falsidade em sua exist ência;
m as t erão que est udá- lo. E est á acost um ado a acont ecer que os que t êm m edo aos
fant asm as com eçam t am bém a duvidar de sua exist ência. I sso dizem ; e não porque se
t ornaram m uit o ent endidos: o único m ot ivo é a sat isfação de seus desej os. Não querem
que exist am os fant asm as, porque se exist irem os fant asm as é difícil passear pelos becos
escuros. Por isso se repet em em voz alt a: “ os fant asm as não exist em . Não! São
superst ições: vam os suprim ir as superst ições! ” O que est ão dizendo é que lhes dão
m uit o m edo os fant asm as. Se de verdade exist issem os fant asm as, est es causariam
m uit os problem as, de m odo que não devem exist ir: ist o é o que desej am . Um a
m ent alidade com o est a nunca conseguirá que os fant asm as não exist am .
Se os fant asm as exist irem , é que exist em . Que o criam os ou não, não t roca as
coisas. O que exist e, exist e, e é m elhor que o invest iguem os, pois o que exist e est á
relacionado conosco de um a m aneira ou de out ra: é lógico que assim sej a. Por isso, é
m ais apropriado com preendê- los, reconhecê- los, e encont rar m aneiras de ficar em
cont at o com eles, descobrir o m odo de relacionar- se com eles. Não é coisa fácil.
O espaço vazio que vêem ent re vós e out ra pessoa não est á necessariam ent e
vazio. Ali pode haver alguém . Possivelm ent e não o vej am : isso é out ra quest ão. Mas a
idéia de que ali poderia haver alguém pode nos assust ar. Por isso não deixam os espaços
vazios; por isso nos aproxim am os os uns aos out ros. Sem pre t em os m edo aos espaços
vazios: por isso enchem os nossa habit ação de m óveis, de calendários, de im agens de
deuses e deusas, de algo. Os espaços vazios, as casas vazias, assust am - nos. Enchem o-
los de pessoas, de m óveis, para que não fique nenhum espaço vazio. Mesm o assim , fica
m uit o espaço vazio que não est á vazio de t udo. E t em sua ciência própria.
Se alguém quer t rabalhar nest e sent ido, pode fazê- lo. pode- se t rabalhar
sist em at icam ent e sobre est e t em a. É um a ciência independent e; t em suas leis e seus
m ét odos próprios, Mas não digam nunca que est as coisas exist em ou que não exist em ,
ant es de t er com eçado a t rabalhar nest e t em a. É m elhor deixar pendent e sua decisão,
post ergar suas conclusões de m om ent o: digam , sim plesm ent e, que não sabem .
Se a um a pessoa com m ent alidade cient ífica lhe pergunt a se exist irem ou não os
fant asm as, um a respost a sua caract eríst ica seria a seguint e: “ Não sei, pois ainda ou o
est udei. Tam pouco olhei ainda dent ro de m im sequer. Com o posso descobrir se
exist irem ou não os fant asm as? Nem sequer sou capaz de m e encont rar a m im m esm o! ”
port ant o, não lhes apressem a responder sim ou não. que oferece um a respost a rápida é
superst icioso. Sigam pensando, sigam procurando. Em realidade, a pessoa int eligent e
responde com m uit os hesit ações.
Um a vez pergunt aram ao Einst ein com o dist inguia ele a um cient ist a de um a
pessoa superst iciosa. Einst ein respondeu:
- Se a um a pessoa superst iciosa lhe fazem cem pergunt as, est ará preparada para
oferecer cent o um a respost as. E se a um cient ist a lhe fazem cem pergunt as, afirm ará
que ignora por com plet o a respost a de novent a e oit o. Às out ras dois responderá: “ Dist o
sei um pouco, m as m eus conhecim ent os não são definit ivos: podem t rocar am anhã” .
Recordem que a m ent alidade cient ífica é a única m ent alidade inocent e. A
m ent alidade superst iciosa não o é. Mas as aparências indicam o cont rário. Parece que a
m ent alidade superst iciosa é m uit o singela, m as não o é: é m uit o com plexa e ardilosa. A
m aior ast úcia da m ent alidade superst iciosa é afirm ar coisas das que não t em
conhecim ent os. A pessoa que t em est a m ent alidade nem sequer sabe nada a respeit o
de um a pedra que est á à port a de sua casa, m as em sua ânsia de dem onst rar que seu
Deus é verdadeiro e que o nosso é falso est á dispost a a sair a m at ar às pessoas. Nem
sequer é capaz de explicar o que é um a pedra… E se não ser capaz de dem onst rar que a
pedra é m uçulm ana ou hinduist a, com o será capaz de dem onst rar que Deus é hinduist a
ou m uçulm ano? Mas sairá a m at ar às pessoas! E recordem que recorrer à violência
dem onst ra que os m ot ivos de t ais at os est ão arraigados na superst ição.
A gent e nunca chega às m ãos por quest ões relacionadas com o conhecim ent o: é
im possível. Quando exist e um a lut a, podem est ar seguros de que int ervém a
superst ição, pois a pessoa superst iciosa quer dem onst rar por m eio da lut a que t em
razão: não dispõe de out ros m eios. Se um hom em caísse sobre m im e m e pusesse um a
espada ao pescoço, m e dizendo: “ m e diga que t enho razão, ou t e cort o a cabeça” ,
poderá m e cort ar a cabeça, é obvio, m as não dem onst rará com isso que t em razão.
Ninguém dem onst rou nunca que t em a razão a apóie de cort ar a cabeça a out ra pessoa.
Em bora t odos os m uçulm anos se reunissem e m at assem a t odos os hinduist as,
não dem onst rariam que t em a razão, do m esm o m odo que os hinduist as não
dem onst rariam que t êm razão se se unissem para passar a faca a t odos os
m uçulm anos. Quão único dem onst rariam seria sua est upidez, nada m ais. dem onst rou
algum a vez a espada a verdade de algo? Mas é o único m eio ao alcance a pessoa
superst iciosa. A que out ro m eio pode recorrer para dizer que t al coisa é verdade? Não
t em conceit os; não invest igou nunca; não t em provas; não t em orient ação. Só sabe
um a coisa: a força pode m ais que a razão.
As gent e de t odo o m undo est ão obrando assim . Não est ou dizendo que só sej am
os líderes religiosos os que est ej am realizando t ais at os de violência: os polít icos fazem o
m esm o. A razão na disput a ent re a Rússia e os Est ados Unidos se det erm inará solt ando
bom bas de hidrogênio: est á claro, não há out ro m eio. É exat am ent e o m esm o t ipo de
est upidez. É est e o m odo de det erm inar qual dos dois t em razão? Com o se pode
det erm inar se Marx t iver a razão ou não? Será por m eio da espada? Ou solt ando a
bom ba de hidrogênio? Com o será? Terá que det erm inar- se por m eio do pensam ent o,
m as o hom em ainda não t em liberdade para pensar, segue cegado pela superst ição.
Recordem , pois, que o que eu considero im port ant e não é rom per as cadeias; o
que considero im port ant e é elim inar a m ent alidade superst iciosa que cria essas cadeias.
Se se m ant iver essa m ent alidade, ent ão por m uit as cadeias que ela rom pam criará
out ras novas. E recordem que as novas at aduras são m uit o m ais at rat ivas, m ais
agradáveis, m ais dignas de aferrar- se a elas. E recordem t am bém out ra coisa: a cadeia
nova sem pre é m ais fort e que a ant iga, porque nosso conhecim ent o do m odo de forj ar
cadeias t am bém se desenvolveu m ais, avançou m ais. Est ou acost um ado a pensar que
os que se dedicam a elim inar as superst ições não conseguem m ais que proporcionar
superst ições m uit o m ais resist ent es que subst it uem às velhas e gast as: não fazem m ais
que ist o.
O que t erá que descart ar é a m ent alidade superst iciosa, do cont rário est a seguirá
engendrando superst ições. lhes volt e racionais e façam que out ros se volt em t am bém
racionais. Ser racionais significa pensar, procurar, invest igar. Não falem at é que t enham
a experiência adequada, e at é ent ão est ej am dispost os a reconhecer que sua experiência
não t em por que ser necessariam ent e corret a. A gent e pode t er experiências diferent es
m anhã. É possível, inclusive, que vós t enham que viver experiências diferent es, e não é
seguro que a que t iveram não fora um a alucinação.
assim , enquant o essa experiência não se verificou com dúzias de experiências, é
m elhor que não digam nada a respeit o. Por isso, os cient ist as realizam um
experim ent o, repet em - no m il vezes, fazem que out ras m il pessoas o repit am , e só ent ão
chegam a algum a conclusão. E inclusive ent ão não t erm inam de chegar a um a conclusão
definit iva. que quer chegar a um a conclusão com pressas não é capaz de pensar. A
pessoa que t em pressa por chegar a um a conclusão definit iva se enche indevidam ent e de
superst ição. E t odos t em os m uit a pressa.
Um am igo nos pergunt ou t udo o que busca o conj unt o da hum anidade sem t er
sido capaz de encont rá- lo! Pergunt ou- nos: Exist e Deus? O que é o j ivat m an, a alm a
individual? Onde est á o m oksha? Quem criou o céu? Exist e o inferno? por que
apareceu o hom em sobre a Terra? Qual é o obj et ivo da vida?

T
I ENE TANTA PRESSA que quer saber t udo ist o im ediat am ent e. Um a pessoa que t em
t ant a pressa se volt ará superst iciosa sem dúvida algum a. A busca requer grande
paciência, um a paciência enorm e: não im port a que não encont rem os em um a vida o que
procuram os, o que im port a é que sigam os procurando. Em realidade, para a pessoa
racional, o im port ant e não é alcançar, a não ser procurar. Para a pessoa superst iciosa o
im port ant e é alcançar, procurar não t em nenhum a im port ância.
A pessoa superst iciosa desej a angust iosam ent e saber com o pode alcançar. Não
lhe im port a m uit o descobrir prim eiro se exist ir Deus ou não. Não lhe int eressa a busca
de Deus: não é prat o de seu gost o. Diz: “ Busquem vós e m e m ost rem isso Por isso se
dedica a procurar um gurú.
que se dedica a procurar um gurú t em m uit as probabilidades de acabar volt ando-
se superst icioso: não parará at é que acabe assim . Em realidade, procurar um gurú
equivale a dizer: “ Você encont rast e algo; agora lhe rogam os que nos ensine isso. Com o
j á o encont rast e você, para que vam os buscá- lo nós? I nclinam os a seus pés. Rogam o-
lhe que nos ent regue o que alcançast e.” A idéia é que out ra pessoa lhes ponha a m ão na
cabeça e lhes faça conhecer deus. Por isso há gent e que vaga de um sít io a out ro
aceit ando m ant ras, fazendo- se iniciar, pagando cot as, lavando os pés a out ros, servindo
a out ros, com a esperança de poder fazer seu o que alcançou out ro. I st o não pode
acont ecer nunca. Aqui se m anifest a claram ent e o dom ínio da m ent alidade superst iciosa.
Nunca poderão fazer seu o que alcançou out ro. Out ra pessoa ficou a procurar e
encont rou, e vós querem t er o de balde? E recordem que se essa pessoa procurou,
enquant o procurava deveu dar- se cont a de que alguém alcança procurando, e não
pergunt ando. Por isso, não pret enderá t er discípulos. Só querem t er discípulos os que
ainda não alcançaram eles m esm os. Est ão pendent es de out ro gurú superior. Há um a
larga série de gurús, cada um dos quais espera t irar algo do ant erior.
Muit os gurús m orreram j á, m as há pessoas que seguem pendent es deles com a
esperança de que lhes darão algo. Há um a larga cadeia de gurús, que se rem ont a
m ilhares e a m ilhões de anos, e t odos est ão pendent es os uns dos out ros com a
esperança de que alguém lhes dê algo. Est e é o selo da m ent alidade superst iciosa.
A caract eríst ica da m ent alidade inquisit iva, o sinal de um a m ent e reflexiva, é que
se diz a si m esm o: “ Se exist ir Deus, buscarei- o. Se consigo encont rá- lo, será por m eus
próprios m érit os, por direit o próprio. Se o encont rar algum a vez, será por m inha
dedicação de t oda um a vida, por m eu sacrifício, por m inha m edit ação. Será frut o de
m eu próprio esforço.”
Recordem : se alguém oferecer a Deus de balde, a pessoa que pensa
racionalm ent e o rechaçará. Dirá- se: “ Não est á bem aceit ar algo que não é frut o de m eu
próprio esforço. Tenho- o que alcançar por m eu próprio esforço.” E t enham em cont a
que exist em algum as cost ure que só se podem alcançar pelo próprio esforço. Deus não
é algo que se enfaixa no m ercado, um a m ercadoria que se encont ra em qualquer part e.
A verdade não é um art igo que se enfaixa em um as loj as de depart am ent os, onde
qualquer pode ir com prar a. Mas sim t em abert as loj as dest e t ipo.
Há loj as, há bazares, que t êm um let reiro expost o que diz: “ Aqui se encont ra a
Verdade Aut ênt ica.” At é a verdade pode ser aut ênt ica ou falsa! Em cada um a dest as
loj as há um let reiro que diz: “ Aqui vive o aut ênt ico professor. Todos out ros que vivem
em out ras part es são im it ações. Est a é a única loj a aut ênt ica. Com prem aqui! nos
perm it a que lhes brindem os nossos serviços! ” E assim que t enham ent rado em um a
dest as loj as, o propriet ário se em penhará em não lhes deixar part ir. Todos est es danos
são obra da m ent alidade superst iciosa.
Eu gost aria de lhes dizer: confiem no que procuram , não no que pedia a out ros.
Não alcançarão a divindade pedindo a out ros, a não ser conhecendo. Tam pouco lhes
criam nunca o que dizem out ros. Alguém a pode t er alcançado ( sem pre é possível, é
obvio) ; por isso, t am pouco sej am incrédulos: t am bém isso é superst ição. Não sej am
nem crédulos nem incrédulos. Se se apresent ar alguém ant e vós dizendo que alcançou a
divindade, lhe digam : “ Parabéns. Deus foi m uit o com passivo cont igo ao t e perm it ir
encont rá- lo. Mas t e rogo que não m e ensine isso. m e deixe que o eu encont re t am bém ,
do cont rário seguirei est ando coxo” .
Se lhes levarem at é um dest ino onde out ro chegou andando ant es que vós,
chegarão coxos. Os pés se fort alecem andando. Chegar a um dest ino não é t ão
im port ant e; o verdadeiram ent e im port ant e é que o viaj ant e se fort alece no cam inho.
Alcançar algo não t em t ant a im port ância com o a t ransform ação do que o alcançou.
Deus, o conhecim ent o ou o Moksha não são coisas pré- fabricadas. São o frut o da
oferenda de nossa vida, de um a vida de esforço e de sadhana. É com o a flor definit iva
que chega por si m esm o. Mas se forem ao m ercado só encont rarão flores de plást ico.
Duram m ais t em po. Só t erá que lhes t irar o pó: duram m ais t em po e enganam . Mas a
quem enganam ? As flores de plást ico podem enganar a out ros. Podem enganar aos que
passam pela rua: os t ranseunt es podem acredit ar- se que t êm flores de verdade na
j anela, m as vós não podem lhes enganar, pois as com prast es vós m esm os.
Para t er flores de verdade t erá que sem ear as sem ent es, t erá que dedicar um
esforço, t erá que cuidar as novelo. Depois, as flores saem por si m esm os: ninguém as
t raz. A experiência do definit ivo é com o a flor; nosso sadhana é com o a plant a. Se
cuidarm os a plant a, a flor chegará por si m esm o. Mas nós t em os pressa. Dizem os:
“ Deixa de novelo: bast a com que nos dê a flor! ”
Algum as vezes, quando os m eninos t em um exam e na escola, não resolvem o
problem a de arit m ét ica: lim it am - se a copiar a solução que lêem nas últ im as páginas do
livro de arit m ét ica. Em bora a respost a que escrevem é absolut am ent e corret a, est á
t ot alm ent e equivocada. Com o pode ser corret a a respost a de um a pessoa que não
seguiu o m ét odo? Sua respost a é absolut am ent e corret a ( t êm escrit o “ cinco” ) , e os que
seguiram o m ét odo t am bém t êm escrit o “ cinco” . Mas vêem a diferença ent re a respost a
dos que seguiram o m ét odo e a dos que a copiaram que livro? E que diferença há se a
copiaram que Git a ou do Corán?
Em bora a respost a que dão am bos os grupos é a m esm a, não é a m esm a: exist e
um a diferença fundam ent al. A verdadeira quest ão não em encont rar a respost a; a
verdadeira quest ão não é encont rar o “ cinco” ; a verdadeira quest ão é aprender o m odo
de encont rar essa respost a. E o que copiou que as últ im as páginas do livro não
aprendeu ist o. Não aprendeu arit m ét ica; só encont rou a respost a.
Se t iverem aprendido algo em algum a part e, se t iverem recebido algo de alguém ,
se t iverem ouvido algo a alguém e lhes t êm obst inado a isso, ent ão se t rat a de um Deus
copiado do livro. Ent ão é um Deus inert e, m ort o, inút il, im prest ável, sem vida. Um a
religião cobra vida vivendo- a, não copiando as respost as de algum livro.
Mas t odos som os ladrões. Brigam os aos m eninos pequenos e lhes advert im os
que não devem roubar. O professor t am bém deixa claro que seus alunos não devem
copiar as respost as das últ im as páginas do livro, que não devem roubar em algum a part e
as respost as. Mas se se pergunt asse se t odas suas próprias respost as eram roubadas ou
não, pareceria- lhe que t am bém suas respost as eram roubadas.
Aquele ao que cham am gurú é um ladrão; o discípulo é um ladrão; o professor é
um ladrão. Todas as respost as da vida são roubadas. Ninguém pode encont rar a paz
nem a felicidade a base de respost as roubadas. A felicidade se alcança seguindo o
processo at ravés do qual brot am de dent ro as flores das respost as. Não podem pedir- se
em prest adas.

CAPÍ TULO 6

O a m or é pe r igoso

Ou
N AMI GO PERGUNTOU: por que pensar na m ort e? Tem os a vida: vam os viver a.
Vivam os o present e. por que nos pôr a pensar na m ort e?

H
A PERGUNTADO BEM. Mas o fat o m esm o de que pergunt e por que nos enchem os de
idéias de m ort e, ou de que recom ende que vivam os o present e sem pensar sequer na
m ort e, j á dem onst ra que ele m esm o não pode livrar- se de pensar na m ort e. A m ort e é
um fat o t ão enorm e que não é possível passá- lo por alt o, em bora nós t ent am os não
pensar na m ort e ao longo de nossas vidas: não porque não valha a pena pensar nela,
m as sim porque a idéia m esm a da m ort e é at erradora. A idéia m esm a de que “ eu
m orrerei” faz que um calafrio nos percorra as cost as. Nat uralm ent e, fará- lhes t rem er
quando lhes est iverem m orrendo, m as at é ant es, se a idéia se apoderar de suas m ent es,
fará- lhes t rem er at é a m edula.
O hom em t ent ou sem pre esquecer- se da m ort e, t ent ou não pensar nela.
organizam os t oda nossa vida de t al m odo que a m ort e não result e visível. Todos os
esforços e os planos hum anos dirigidos a falsificar a m ort e t êm um êxit o aparent e, m as
est e êxit o nunca é real, pois a m ort e est á ali. Com o escaparão dela? Onde lhes
esconderão? Em bora dela fuj am , acabarão lhes encont rando com ela. Onde quer que
fuj am , t om em o rum o que t om em , acabarão chegando a ela. aproxim a- se um pouco
m ais cada dia, pensem nela ou não, dela fuj am ou não. Ninguém pode escapar de um
fat o.
A quest ão não é que a m ort e sej a algo que só acont ecerá no fut uro, e que,
port ant o, não devam os pensar nela agora. Tam bém ist o é um conceit o errôneo. A
m ort e não acont ecerá no fut uro: a m ort e j á est á acont ecendo em t odo m om ent o.
Em bora se com plet ará no fut uro, em realidade est á t endo lugar em t odo m om ent o.
Est am os m orrendo nest e m esm o m om ent o. Se passarm os um a hora aqui, t erem os
m orrido um a hora. Possivelm ent e dem orem os set ent a anos em m orrer por com plet o,
m as est a hora form ará part e do processo. Durant e um a hora t am bém est arem os
m orrendo. Não é que ao cabo de set ent a anos um se m ora de repent e: a m ort e nunca
acont ece de m aneira fot o inst ant ânea. Não é um sucesso repent ino; é um
desenvolvim ent o que com eça com o nascim ent o.
Em concret o, o nascim ent o é a prim eira part e da m ort e, e a m ort e é a últ im a
part e. Est a viagem com eça com o nascim ent o. O que cham am os o dia do nascim ent o é,
em realidade, o prim eiro dia da m ort e. A viagem levará t em po, m as cont inuará.
Por exem plo, um hom em part e da Dwarka cam inho da Calcut a. O prim eiro passo
de sua viagem será t ão im port ant e para chegar a Calcut a com o o últ im o passado da
viagem . O últ im o passo será t ão út il para levá- lo a Calcut a com o o últ im o. E em bora o
prim eiro passo, por si m esm o, não pode levá- lo at é a Calcut a, o últ im o passo t am pouco
pode fazê- lo por si m esm o. I st o significa que quando deu seu prim eiro passo para a
Calcut a com eçou a chega a Calcut a. A cada passo que dava, Calcut a se aproxim ava
cada vez m ais. Possivelm ent e digam que dem orou seis m eses em chegar a Calcut a, m as
a realidade é que só obrigado a que com eçou a chegar seis m eses ant es pôde chegar
seis m eses depois.
O que eu gost aria de lhes dizer em segundo lugar é o seguint e: não criam que a
m ort e se encont ra em algum m om ent o fut uro. A m ort e est á present e em t odo
m om ent o. E o que é o fut uro? É o t ot al de t odos nossos pressent e. Est am o- lhe
som ando coisas const ant em ent e. É com o quando esquent am os água. Ao prim eiro grau,
a água se esquent a, m as ainda não se convert eu em vapor. E o m esm o acont ece
quando a água se esquent a dois graus. A água se convert erá em vapor quando se
esquent a at é os cem graus; m as com eçou a aproxim ar- se do est ado de vapor no
prim eiro grau, e seguiu no segundo, no t erceiro, e assim sucessivam ent e. Mas a água
não se convert e em vapor nem sequer quando est á a novent a e nove graus: isso só
acont ecerá quando chegarem aos cem .
Não lhes ocorreu pensar que o cent ésim o grau t am bém é um grau, do m esm o
m odo que o prim eiro grau t am bém é um grau? A viagem do nonagésim o nono grau at é
o cent ésim o é igual à viagem do prim eiro grau ao segundo: não há diferença. Assim ,
que sabe lhes advert irá no prim eiro grau que a água se convert erá em vapor, em bora
vós não vej am que a água se est á convert endo em vapor. Nat uralm ent e, pode dizer que
a água se est á esquent ando, m as acaso se est á convert endo em vapor? Podem os nos
enganar at é o nonagésim o nono grau pensando que a água ainda não se est á
convert endo em vapor, m as quando chegar ao cent ésim o grau é seguro que se
convert erá em vapor. Cada grau a aproxim a cada vez m ais ao pont o de ebulição.
port ant o, não t em sent ido que t ent em lhes salvar da m ort e ou post ergá- la
dizendo que a m ort e se encont ra no fut uro. A m ort e est á acont ecendo em t odo
m om ent o; est am os m orrendo t odos os dias. Em realidade, virt ualm ent e não exist e
nenhum a diferença ent re o que cham am os viver e o m orrer. O que cham am os viver não
é m ais que um sinônim o de m orrer gradualm ent e. Não lhes digo que pensem no fut uro;
o que lhes digo é que observem o que j á est á acont ecendo agora m esm o. Nem sequer
lhes digo que pensem .
Est e am igo pergunt ou: “ por que pensar na m ort e?” Eu não digo que pensem .
Pensar não lhes levará a nenhum a part e. Recordem : não é possível conhecer nenhum
feit o a apóie de pensar. Em realidade, pensar é um a m aneira de falsear os fat os. Olham
um a flor, e se com eçarem a pensar nela não conhecerão nunca a flor, porque quant o
m ais lhes dedicam a pensar nela, m ais se separará de vós. Adiant am - lhes em seus
pensam ent os enquant o a flor segue ali. O que t em que ver a flor com o que est ão
pensando? Um a flor é um fat o. Se querem conhecer um a flor, não pensem nela: olhem
a flor.
Exist e um a diferença ent re pensar e ver, e é um a diferença significat iva.
Ocident e dá m uit a im port ância ao pensam ent o. Por isso cham aram “ filosofia” a sua
ciência do pensam ent o. A filosofia é o pensam ent o concept ual. Nós cham am os à
m esm a ciência darshan. Devem os com preender ist o um pouco m elhor. Nós cham am os
darshan e eles a cham aram filosofia, e exist e um a diferença fundam ent al ent re am bas.
Os que acredit am que “ filosofia” e “ darshan” são sinônim os não sabem nada. Não são
sinônim os. Por isso não há um a filosofia hindu nem t am pouco há um darshan ocident al.
Ocident e t em um a ciência do pensam ent o: apóia- se na invest igação, a lógica, a
análise. Ao orient e lhe int eressam out ras coisas. O Orient e t em descobert o que exist em
cert os feit os que não se podem conhecer nunca a apóie de pensar neles. Est es fat os
t erão que ver- se, t erão que viver- se. E exist e um a diferença enorm e ent re viver e
pensar.
O hom em que pensa sobre o am or pode chegar a escrever um a t ese sobre ele,
m as o apaixonado o vive, vê- o, em bora possivelm ent e não sej a capaz de escrever um a
t ese sobre ele. E se alguém pede a um apaixonado que lhe diga algo sobre o am or, est e
pode fechar os olhos, pode encher- se de lágrim as e pode lhe responder: “ Você arena que
não m e pergunt e isso. O que posso dizer do am or?” que pensou sobre o am or se
passará horas int eiras explicando- o, m as possivelm ent e não saiba nada do am or.
Pensar e ver são dois processos com plet am ent e diferent es. Por isso não lhes digo
que devam pensar na m ort e. Nunca poderão conhecer a m ort e a apóie de pensar nela.
Terão que vê- la. O que lhes digo é ist o: a m ort e est á aqui, agora m esm o, dent ro de vós,
e vós t êm que vê- la. O que eu cham o “ o eu” se est á m orrendo const ant em ent e. Est e
fenôm eno da m ort e t erá que ser vist o, est e fenôm eno da m ort e t erá que ser vivido, est e
fenôm eno, est e “ eu m orro, eu m orro” , t erá que ser aceit o.
Fazem os t udo o que podem os por dem onst rar a falsidade da m ort e; invent am os
m il m aneiras de dem onst rar sua falsidade. É verdade que podem os nos t ingir as cãs,
m as assim não se dem onst ra que a m ort e sej a um a m ent ira: chega indevidam ent e. At é
debaixo do t int ura, as cãs seguem sendo brancas. São sinais de que a m ort e com eçou a
aproxim ar- se, de que t em que chegar com segurança. Com o podem os dem onst rar que é
falsa? Por m uit o que nos dediquem os a dem onst rar sua falsidade, não t rocarem os as
coisas: est á- se aproxim ando inexoravelm ent e. Quão único t roca é que nós podem os
deixar de sabê- lo.
O que eu lhes pergunt o é ist o: com o pode saber o que é a vida o que nem sequer
conheceu a m ort e? Minha post ura é que a m ort e est á na circunferência, e a vida est á no
cent ro. Se não conhecerm os sequer a circunferência, com o poderem os chegar a
conhecer algum a vez o cent ro? E se fugirm os da circunferência, nunca nos
aproxim arem os do cent ro. Se lhes assust arem das paredes ext eriores de um a casa e
fogem , com o poderão chegar a ent rar algum a vez no int erior da m oradia? A m ort e é a
periferia e a vida é o t em po que est á em seu cent ro. Se fugirm os da periferia, t am bém
fugim os da Vida. que chega a conhecer a m ort e a desvelará e, com o t em po, com eçará
a conhecer t am bém a vida.
A m ort e é a port a de ent rada ao conhecim ent o da vida. Fugir a m ort e é fugir
t am bém a vida. Assim , quando eu lhes digo: “ Conheçam a m ort e” , com preendam os
fat os, não lhes est ou pedindo que pensem .
Tam bém devem os com preender out ra coisa int eressant e. Pensar significa repet ir
m ent alm ent e o que j á sabem os. O pensam ent o não é original nunca, em bora nós
est am os acost um ados a dizer que os pensam ent os de t al e t al pessoa são m uit o
originais. Não: o pensam ent o não é original nunca. Os pensam ent os nunca podem ser
originais. O darshan, a visão, pode ser original.
Os pensam ent os sem pre est ão debulhados. Se eu lhes pedir que pensem nest a
rosa, o que pensarão? Não farão m ais que reit erar o que j á sabem a respeit o das rosas.
O que out ra coisa podem fazer? O que out ra coisa podem fazer com o pensam ent o?
Poderia acaso aparecer em seus pensam ent os um só pont o de vist a inusit ado e original a
respeit o de um a rosa? Com o seria isso possível?
Pensar não é m ais que reit erar os pensam ent os. Poderão lhes dizer: “ A rosa é
m uit o form osa” ; m as quant as vezes ouvist es ist o j á? Ou poderão lhes dizer: “ A rosa é
t ão form osa com o o rost o de m inha am ada” . Quant as vezes t erão ouvido ist o t am bém ?
Quant as vezes o t êm lido? Ou poderão lhes dizer: “ A rosa é m uit o fresca” . Mas quant as
vezes ouvist es ou lido ist o t am bém ? Do que servem os pensam ent os? Com o seria
capazes de ent rar no ser dessa rosa a apóie de pensar nela? O at o de pensar só lhes
pode levar at é o que t enham na m em ória a respeit o das rosas. Por isso, o pensam ent o
nunca é original. Nunca pode exist ir um pensam ent o original: só os que vêem são
originais.
A prim eira condição para olhar um a rosa é que a pessoa que a olhe não pense.
Deve elim inar de sua lem brança os pensam ent os; deve ficar vazio e viver nesse
m om ent o com a flor. Deixem que a flor est ej a a um lado e est ej am vós ao out ro lado, e
que não haj a nada ent re os dois: nada que t enham ouvido, nada que t enham lido, nada
que t enham conhecido nunca. Nada que t enham conhecido nunca deve int erpor- se.
Nada deve int erpor- se ent re os dois. Só ent ão com eçará a ent rar em seu ser o
desconhecido que se encont ra dent ro da rosa. Quando não encont rar nenhum obst áculo
ent re os dois, ent rará em vós, e ent ão vós não sent irão que querem conhecer a rosa,
sent irão que são um com a rosa. Ent ão conhecerão a rosa desde sua int erioridade.
que vê penet ra dent ro de um obj et o, enquant o que o pensador dá volt as a seu
redor: por isso, o pensador não alcança nada; só o que vê alcança. que vê penet ra no
int erior, porque não fica nenhum m uro ent re ele e o obj et o que t em diant e: o m uro se
derruba, desaparece.
Um a vez, Kabir pediu a seu filho Kam aal que fora ao bosque e t rouxesse um
pouco de feno para o gado de am bos. Kam aal obedeceu e ficou em cam inho. Saiu de
am anhã; m as chegou a hora do m eio- dia e Kam aal não t inha ret ornado ainda, e Kabir se
inquiet ou. E chegou a t arde, e Kam aal t am pouco deu sinais de vida. Kabir est ava cada
vez m ais inquiet o. Logo chegou o crepúsculo e se aproxim ava pôr- do- sol, e por fim ,
Kabir saiu em busca do Kam aal acom panhado de alguns fiéis seguidores deles.
Quando legaram ao bosque se encont raram ao Kam aal de pé ent re a erva
espessa, com os olhos fechados, ondulando- se com o um a folha de erva m ovida pela
brisa. Kabir se aproxim ou dele, pô- lhe a m ão no om bro e lhe pergunt ou:
- O que faz aqui?
Kam aal abriu os olhos. Volt ou em si, deu- se cont a do que t inha acont ecido e
pediu desculpas im ediat am ent e. Kabir disse:
- Mas o que t em feit o aqui t ant o t em po? É m uit o t arde!
- Sint o- o m uit o –respondeu Kam aal- , m as quando cheguei aqui, em vez de segar a
erva m e pus a olhá- la. E ao olhá- la fixam ent e, não se quando m e acont eceu, m as eu
t am bém m e convert i em um a folha de erva. Logo caiu a t arde e eu est ava aqui; t inha-
m e esquecido por com plet o de que “ eu sou Kam aal e vim a segar erva.” Convert i- m e na
m esm a erva. Havia m uit o gozo em ser a erva, um gozo que não t inha t ido nunca ao ser
um Kam aal. Me alegro de que viessem , porque eu não sabia o que acont ecia. A brisa
não m ovia a erva, a brisa m e m ovia : o colhedor e o que t inha que segar t inham
desaparecido.
Viram de verdade algum a vez a sua esposa, a seu filho, com quem t em vivido
t ant os anos? Viram - nos algum a vez? Eles passam pela m ent e as coisas que fez ont em
sua esposa, e est e pensam ent o se int erpõe ent re ela e vós. Recordam com o lhes brigou
quando saíam de casa pela m anhã para ir ao escrit ório, e o pensam ent o volt a a int erpor-
se ent re am bos. Vem - lhes à cabeça o que disse ela quando est avam j ant ando, e o
pensam ent o se int erpõe ent re am bos. Sem pre t êm pensam ent os; não viram nunca. E
por isso não há relações ent re o m arido e a esposa, ent re o pai e o filho, ent re a m ãe e o
filho. As relações se produzem quando j á não há pensam ent os e quando com eçou o
darshan, a visão. Ent ão é quando t êm lugar de verdade as relações, porque ent ão não
há nada que as obst aculize.
Recordem que um a relação pessoal não supõe que exist a um t erceiro fat or que
um a às duas pessoas. Enquant o exist a algo int erm édio que um a às duas pessoas,
t am bém est á present e o obst áculo. O que une t am bém separa. O dia que não exist e
nada que um a, quando só ficarem as duas pessoas, quando não ficar nada int erm édio,
esse dia o que fica em realidade é só um : ent ão j á não são dois.
A relação pessoal não significa que est ej am os unidos a alguém ; a relação pessoal
significa que j á não exist e nada ent re a out ra pessoa e nós, nada int erm édio, nem
sequer para nos unir. assim , desaparecem os dois rios e se fundem em um . I st o é o
am or. A visão lhes conduz ao am or; a visão é a font e do am or. E o que não am ou não
conheceu nada nunca. Por m uit o que t enha pret endido conhecer um a pessoa, só o
conheceu at ravés do am or.
port ant o, quando digo que t erá que conhecer a m ort e, quero dizer que t am bém
t erem os que am ar a m ort e. Terem os que ver a m ort e. Mas a pessoa que t em m edo à
m ort e, que a foge, com o pode am ar à m ort e, com o pode t er seu darshan, com o pode ver
algum a vez a m ort e? Quando se aparece a m ort e ant e ele, lhe volt a as cost as. Fecha os
olhos; não perm it e nunca que se apareça a m ort e ant e ele, cara a cara. Tem m edo, est á
assust ado; por isso é incapaz de ver a m ort e absolut am ent e, e t am pouco é capaz de
am á- la. E a pessoa que ainda não foi capaz de am ar a m ort e com o poderá am ar algum a
vez a vida?, pois a m ort e é um sucesso m uit o superficial, e a vida é um fenôm eno m uit o
m ais profundo. que fugiu o prim eiro degrau com o poderá chegar algum a vez às águas
profundas do gozo?
Por isso lhes digo que a m ort e t erá que viver- se, t erá que conhecer- se, t erá que
ver- se. Terão que lhes apaixonar por ela; t erão que olhá- la aos olhos. E assim que a
pessoa olhe à m ort e aos olhos, com eça a observá- la, penet ra nela, m aravilha- se.
Descobre, com grande assom bro: “ Que grande m ist ério se ocult a na m ort e! O que eu
cham ava m ort e, pelo que fugia, encerra em realidade dent ro de si a font e da vida
suprem a.” Por isso lhes digo: ent rem de boa vont ade na m ort e para que possam
alcançar a vida.
Há um dit o do Jesus que é incrível. Jesus há dit o: “ Porque o que queira salvar- se
perecerá, e o que ent regue a vida não será dest ruído. que se perca se encont rará, e o
que fique a salvo se perderá.” Se um a sem ent e quer salvar- se, apodrecerá- se; o que
out ra coisa lhe espera? E se um a sem ent e se aniquila a si m esm o na t erra, se
desaparecer, convert erá- se em árvore. A m ort e da sem ent e se convert e em vida para a
árvore. Se a sem ent e se prot egesse a si m esm o dizendo- se: “ Tenho m edo: poderia
m orrer. Não quero desaparecer. por que vou desaparecer?” Nesse caso, nem sequer
seguirá sendo sem ent e, nem m uit o m enos se convert erá em árvore. O m edo à m ort e
faz nos encolher.
Quero lhes dizer um a coisa m ais que possivelm ent e não lhes t enha ocorrido. Só o
que t em m edo à m ort e t em ego, pois o ego supõe um a personalidade est reit a, um nó
apert ado. que t em m edo à m ort e se encolhe em seu int erior. Tudo o que t em m edo
t em que encolher- se em seu int erior, e t udo o que se encolhe se convert e em um nó.
produz- se um com plexo dent ro da pessoa.
O sent im ent o do eu é o sent im ent o da pessoa que t em m edo à m ort e. Quando
um a pessoa penet ra na m ort e, nem t em m edo à m ort e, não foge dela, com eça a vivê- la,
ent ão seu eu desaparece, seu ego desaparece. E quando desaparece o ego só fica a
vida. Podem os expressá- lo assim : só m orre o ego, não a alm a. Mas com o nós seguim os
sendo egos, surge um a grande dificuldade. Em realidade, só pode m orrer o ego; só o
ego t em m ort e, porque é falso. Terá que m orrer. Mas aferram os a ele.
I m aginem , por exem plo, que se levant a um a onda no m ar. Se a onda quer
sobreviver com o onda, não pode fazê- lo: est á dest inada a m orrer. Com o pode
sobreviver um a onda com o onda? Tem que m orrer. A não ser que se convert a em gelo.
Se se volt ar sólida, pode sobreviver. Mas at é em um a sobrevivência dest e t ipo a onda j á
não exist e e fica o gelo: um gelo que é um a onda, fechada, desagregada do m ar.
Recordem que um a onda não é independent e do m ar: é um com o m ar. Convert ida em
gelo, se independiza do m ar, separa- se, solidifica- se. A onda se ficou geada.
Com o onda, era um com o m ar; m as se convert e em um bloco de gelo,
sobreviverá, é obvio, m as ficará desagregada do m ar. E quant o t em po sobreviverá
nesse est ado? Tudo o que est á gelado acabará por fundir- se, sem dúvida. Um a onda
pobre se fundirá um pouco ant es, enquant o que um a onda rica dem orará algum t em po
m ais: o que out ra coisa lhe espera? Os raios do sol dem orarão algum t em po m ais em
fundir um a onda grande, enquant o que um a onda m enor se fundirá ant es. Não é m ais
que um a quest ão de t em po, m as a fusão t em que acont ecer. A onda se fundirá e se
queixará m uit o, porque assim que se funda desaparecerá. Mas se a onda, ao volt ar a
cair ao m ar, forçasse- se a si m esm o a deixar de exist ir com o ent idade independent e, se
chegasse ou sej a que ela é, em realidade, o m ar, ent ão não se t rat aria do
desaparecim ent o da onda. assim , desapareça ou não, exist e ainda, porque sabe: “ Não
sou um a onda: sou o m ar” . Quando desparece com o onda, ainda exist e em est ado de
repouso. Quando se levant a, encont ra- se em est ado de at ividade. E o repouso não é
m enos agradável que a at ividade. Em realidade, é m ais agradável ainda.
Exist e um est ado de at ividade e exist e um est ado de repouso. O que nós
cham am os sam sara, o m undo, é o est ado de at ividade, e o que cham am os m oksha, a
liberação, é o est ado de repouso. É com o um a onda inquiet a que se choca com o vent o
e que lut a com ele, e que depois se afunda no m ar e desaparece. Ainda exist e. O que
era ant es no m ar segue sendo- o, m as agora est á em repouso. Mas se um a onda se
afirm asse a si m esm o com o onda, seria com o se est ivesse cheia de ego, e ent ão t eria
que desagregar do m ar.
Quando chegam a acolher a idéia do “ eu sou” , com o podem ser com o rest o de
t udo? Se opt arem por ser com o t udo, ent ão se perde o eu. Por isso insist e o eu: “ t e
desagregue de t udo” . E que int eressant e é que o fat o de lhes desagregar do t odo lhes
fazer ser desgraçados! E ent ão, um a vez m ais, o eu diz: “ t e relacione com o t udo.”
Assim de t ort uoso é o eu. O eu diz prim eiro: “ t e desagregue de t udo, t e isole; você é
diferent e de t udo. Com o vais seguir unido?” Dest a m aneira, o eu se separa, m as ent ão
se encont ra com problem as, pois assim que o eu se separa de t udo, sent e- se
desgraçado; seu fim se aproxim a. Em cont o a onda chega a acredit ar- se independent e
do m ar, com eça a m orrer; sua m ort e se aproxim a. Ent ão em preenderá a lut a por
prot eger- se da m ort e.
Enquant o foi um com o m ar, não exist iu a m ort e, pois o m ar não m orre nunca.
Recordem que pode exist ir um m ar sem um a onda, m as um a onda não pode
exist ir sem o m ar. Não podem os conceber um a onda sem o m ar: o m ar est ará present e
na onda. Mas o m ar pode exist ir sem um a onda. Quando as ondas form am part e
int egral do m ar, exist em em paz e em repouso. Mas assim que um a onda aspira a salvar
do m ar, surgem dificuldades: dissocia- se do m ar e com eça sua m ort e.
Por est e m ot ivo, que t em que m orrer quer am ar. O m ot ivo pelo que t odos nós
( que vam os m orrer) est am os t ão desej osos de am ar é que o am or é o m eio m ais
evident e para conect ar. Por isso ninguém quer viver sent indo- se desgraçado, sem am or.
Todos procuram os o am or: que alguém queira receber nosso am or, que alguém queira
nos ent regar am or. E para a pessoa que não encont ra am or, est e se convert e em um
problem a. Mas nos pergunt am os algum a vez qual é o significado do am or?
O am or é um int ent o de reconst ruir de novo, part e para part e, unindo diversas
part es, a relação com o t odo que t em os quebrado. Assim , um t ipo de am or é aquele
pelo qual t ent am os reconst ruir nossa relação perdida com o t udo a apóie de acrescent ar
diversas part es. I st o é o que cham am os am or. E exist e out ro t ipo de am or no qual
ret rocedem os em nosso int ent o de nos desagregar de t udo. I st o é o que cham am os
oração. Por isso, a oração é o am or absolut o. E t em um significado t ot alm ent e dist int o.
Não significa que est ej am os t ent ando recom por os pedaços; significa que deixam os que
nos desagregar de t udo. A onda anunciou: “ Eu sou o m ar” , e agora não t ent a conect ar-
se com cada um a das dem ais cheire.
Recordem que a onda m esm a se est á m orrendo, e que as dem ais cheire próxim as
t am bém se est ão m orrendo. Se est a onda t ent a relacionar- se com as dem ais cheire,
t erá problem as. Por isso, o que nós cham am os am or é m uit o doloroso, porque é um a
onda que t ent a relacionar- se com out ra onda. A onda e a out ra onda se est ão m orrendo,
m as est abelecem um a relação ent re am bas com a esperança de que unindo- se ent re si
possivelm ent e possam salvar- se. Est a é a razão pela que convert em os o am or em
segurança. assim , o hom em t em m edo de viver só. Quer t er um a esposa, um m arido,
um filho, um a m ãe, um irm ão, um am igo, um a sociedade, um a organização, um a nação.
São em penhos do ego; são int ent os de reunir- se de novo com o t udo por part e do que se
desagregou dele.
Mas t odos est es int ent os de união são convit es à m ort e, pois aquele com o que
est abelecem um a união est á igualm ent e rodeado da m ort e, igualm ent e rodeado do ego…
O m ais curioso é que o out ro quer volt ar- se im ort al unindo- se a vós, e que vós querem
lhes volt ar im ort ais lhes unindo ao out ro. E a realidade é que am bos ides m orrer. Com o
poderão lhes volt ar im ort ais? Um a união assim dobrará a m ort e; não servirá de elixir.
Os casais de am ant es desej am que seu am or se volt e im ort al; cant am - no dia e
noit e. sem pre se t êm escrit o poesias sobre o am or que se faz im ort al. Com o podem
desej ar a união im ort al duas pessoas que vão m orrer? A união dest as duas pessoas só
serve para que a m ort e sej a o dobro de real, nada m ais. O que out ra coisa pode ser? E
am bos se est ão fundindo, est ão- se afundando, est ão- se desvanecendo: por isso est ão
assust ados, preocupados.
A onda criou sua organização própria. diz- se: “ Tenho que sobreviver.” criou
nações; criou seit as hinduist as, m uçulm anas: ondas que criam suas organizações
próprias. E a realidade é que t odas est as organizações vão desaparecer: a única
organização verdadeira é o m ar que t êm debaixo. E a organização do m ar é um a coisa
com plet am ent e diferent e. A onda pert ence a ela, m as isso não quer dizer que se um a ao
m ar; quer dizer, m as bem , que a onda sabe: “ Não sou diferent e em nada do m ar” .
Dest a form a eu lhes digo que o hom em religioso não pert ence a nenhum a organização:
nem se aferra a um a fam ília, nem t em um am igo, um pai ou um irm ão.
Jesus pronunciou um as palavras m uit o fort es. Em realidade, só os que
alcançaram o am or podem pronunciar um as palavras t ão fort es; as pessoas débeis no
am or não são capazes das pronunciar. Um dia, Jesus est ava no m ercado rodeado por
um a m ult idão. Sua m ãe, María, foi ver o. Alguém grit ou ent re a m ult idão:
- Deixem passo, deixem passo à m ãe do Jesus. Deixem que se aproxim e.
Quando Jesus o ouviu, disse em você alt a:
- Se est ão deixando passo à m ãe do Jesus, não o façam , porque Jesus não t em
m ãe.
María se det eve, at ônit a. Jesus se dirigiu à m ult idão e disse:
- Enquant o t enham m ãe, pai, irm ão, não poderão lhes aproxim ar de m im .
São um as palavras m uit o duras. Result a- nos im possível im aginar sequer que
um a pessoa t ão cheia de am or com o Jesus pudesse pronunciar t ais palavras: “ Eu não
t enho m ãe. Quem é m inha m ãe?” Enquant o María ficava quiet a e at ônit a, Jesus seguiu
dizendo:
- Dizem que est a m ulher é m inha m ãe? Eu não t enho m ãe. E recordem :
enquant o t enham m ãe, não poderão lhes aproxim ar de m im .
O que passa aqui? Um a onda que t ent e unir- se a out ra onda não será capaz de
aproxim ar- se do m ar. Em realidade, as ondas se unem ent re si e criam um a organização
com o único fim de evit ar ir ao m ar. A onda, sozinha, t em m ais m edo a desaparecer, a
chegar a desparecer de verdade. Mas a verdade é que j á est á despareciendo.
Mas quando se reúnen um as poucas ondas se sent em m ais t ranqüilizadas; cria- se
um a organização de cert o t ipo; cria- se um a m ult idão. Por isso, ao hom em gost a de
viver ent re um a m ult idão; quando fica sozinho, t em m edo. A onda, em sua solidão, fica
com plet am ent e sozinha: deslizando- se, caindo, desvanecendo- se, a pont o de
desaparecer, sent indo- se alinhada por am bos os lados: a um lado o m ar, ao out ro o
rest o das ondas. Por isso cria um a organização, cria um a cadeia.
O pai se diz: “ Eu desaparecerei, m as isso não im port a: deixarei det rás de m im a
m eu filho.” A onda se diz: “ Eu desaparecerei, m as deixarei um a olit a: est a sobreviverá
det rás de m im ; a cadeia cont inuará; m eu nom e ficará” . Por est a razão, o pai se sent e
desgraçado quando não t em um filho: ist o significa que não poderá organizar sua
im ort alidade. Ele desaparecerá, é obvio, m as quer produzir out ra onda que seguirá m ais
adiant e, que ao m enos levará a ident idade da onda da que procede. Assim , à prim eira
onda não im port a desaparecer: deixa a out ra onda det rás de si.
Podem t er advert ido que as pessoas que realizam um a at ividade criat iva ( os
pint ores, os m úsicos, os poet as, os escrit ores) não se preocupam m uit o de t er filhos,
pela singela razão de que encont raram um subst it ut ivo. Suas pint uras sobreviverão,
suas poesias sobreviverão, suas escult uras sobreviverão; não se preocupam de t er filhos.
Por isso, os cient ist as, os pint ores, os escult ores, os escrit ores e os poet as não se
preocupam m uit o de t er filhos. O único m ot ivo disso é que encont raram um filho de
out ro t ipo. criaram um a onda que seguirá adiant e m uit o depois de que eles t enham
desaparecido. Em realidade, encont raram um filho que durará ainda m ais que os seus,
porque inclusive quando t iverem desaparecido seus filhos perdurará o livro do escrit or.
O escrit or não se preocupa m uit o de t er um filho, de t er descendência. Mas isso
não significa que est ej a despreocupado, quão único significa é que encont rou um a onda
duradoura; deixa de preocupar- se com as ondas m enores. Por isso não lhe int eressa t er
fam ília; criou um a fam ília de out ro t ipo. Tam bém ele aspira ao m esm o grau de
im ort alidade. Dirá- se, port ant o: “ O dinheiro se perderá, a riqueza se perderá, m as
m inha obra, m eus t ext os, sobreviverão; e ist o é, precisam ent e, o que ele desej a.
Mas t am bém se perderam t ext os escrit os. Nenhum t ext o dura para sem pre,
em bora, é obvio, dura cert o t em po. Quem sabe quant os t ext os se perderam j á, e
quant os se perdem cada dia? Tudo se perderá. Em realidade, no m undo das ondas, por
m uit o que se prolongue a si m esm o um a onda, t em que perder- se à larga. A onda t em
que enfrent ar- se à ext inção: de nada lhe serve prolongar- se a si m esm o.
assim , se lhes virem vós m esm os com o ondas, quererão evit ar a m ort e; seguirão
assust ados, com m edo. Eu lhes digo: olhem a m ort e. Não devem evit á- la, nem t em ê- la,
nem fugi- la. Olhem . E com apenas olhá- la descobrirá que o que parecia a m ort e vist o
desde est e lado result a ser a vida quando ent ram nela um pouco.
port ant o, a onda se convert e no m ar; desparece seu m edo à ext inção. Agora
bem , não desej a convert er- se em gelo sólido. Ent ão, no t em po de que dispõe, dança no
céu, regozij a- se sob os raios do sol, é feliz. E quando volt a a cair ao m ar, é igualm ent e
feliz em seu est ado de repouso. Assim é feliz na vida, é feliz na m ort e; porque sabe que
“ o que é” nunca nasce nem nunca m orre. O que é, é; só t rocam as form as.
Todos som os ondas no m ar da consciência. Alguns, a m aioria, convert em o- nos
em gelo. O ego é com o gelo, duro com o um a pedra. Que surpreendent e é que um
líquido com o a água possa volt ar- se duro com o o gelo e a pedra! Quando surge em nós
um desej o de nos congelar, a consciência ( que por out ra part e é m uit o singela e fluída)
gela- se e se convert e em um ego. Todos est am os cheios do desej o de nos congelar, e
por isso recorrem os a m eios de m uit os t ipos para t ent ar ficar gelados, solidificados.
Exist em leis segundo as quais a água se convert e em gelo, e t am bém exist em leis
que regem a form ação do ego. A água t em que esfriar- se para convert er- se em gelo,
t em que perder seu calor, t em que volt ar- se fria. quant o m ais se esfria, m ais dura fica.
A pessoa que quer criar um ego t am bém t em que esfriar- se, t em que perder seu calor.
Por isso falam os de “ um a bem - vinda cálida” . Um a bem - vinda sem pre é cálida; um a
bem - vinda fria não t em sent ido.
O am or significa calor; um calor frio não t em sent ido. O am or nunca é frio;
cont ém calor. Em realidade, o calor sust ent a a vida; a m ort e é fria, est á por debaixo de
zero. Por isso o sol é o sím bolo da vida, o sol é o sím bolo do calor. Quando sai pela
m anhã desaparece a m ort e; t udo se volt a t em perado e quent e. As novelo floresce e os
pássaros ficam a cant ar. O calor é o sím bolo da viúva, o frio é o sím bolo da m ort e.
Assim , que quer criar um ego t em que esfriar- se, e para esfriar- se t em que perder t odas
as coisas que dão calor. Tem que perder t udo o que dá calor a seu ser. Por exem plo, o
am or dá calor, o ódio produz frio. port ant o, pelo ego, a gent e t em que renunciar ao
am or e aferrar- se ao ódio. A piedade e a sim pat ia cont ribuem com calor, a crueldade e a
falt a de piedade cont ribuem com frio.
Assim com o exist em leis que regem o congelam ent o da água, t am bém exist em
leis que regem o congelam ent o da consciência hum ana. aplica- se um a m esm a lei:
seguir esfriando- se. Algum as vezes dizem os que t al pessoa é m uit o fria: nela não há
calor; volt a- se dura com o um a pedra. E recordem que quant o m ais cálida é um a pessoa,
m ais singela é. Ent ão sua vida t em um a liquidez que lhe perm it e fluir dent ro de out ros,
e que perm it e a out ros fluir dent ro dele. A pessoa fria se volt a dura, incapaz de fluir,
fechada por t oda part e. Ninguém pode ent rar nela, nem t am pouco pode ent rar ela
dent ro de ninguém . O ego é com o o gelo sólido, e o am or é com o a água, líquida, fluída.
A pessoa que t em m edo à m ort e fugirá dela. Seguirá congelando- se, pois esse m edo a
m orrer, a desaparecer, fará- o cont rair- se, e seu ego se m ant erá, volt ando- se m ais duro,
m ais fort e.
Aloj ei- m e vários dias com o hóspede em casa de m eu am igo. É m uit o rico; possui
m uit os bens. Mas um a coisa m e desconcert ou: nunca falava com am abilidade a
ninguém . Pelo rest o, era um bom hom em . Desconcert ava- m e m uit o ver que era m uit o
brando int eriorm ent e, m as era m uit o duro por fora. O criado t rem ia ant e ele; seu filho
t rem ia ant e ele; sua m ulher t inha m edo de vê- lo. A gent e o pensava m uit o ant es de
visit á- lo. Mesm o que chegavam a sua port a t it ubeavam ant es de cham ar o t im bre,
pergunt ando- se se deviam ent rar ou não.
Quando passei uns dias com ele e cheguei a conhecê- lo bem , pergunt ei a que se
devia t odo aquilo.
- Em realidade, é um hom em m uit o singelo –lhe disse. Ele m e respondeu:
- Tenho m uit o m edo. É perigoso est abelecer um a relação pessoal, pois se
est abelecer um a relação com alguém , cedo ou t arde com eça a t e pedir dinheiro. Se for
am ável e carinhoso com sua esposa, os gast os se m ult iplicam . Se não ser severo com
seu filho, pede- t e cada vez m ais dinheiro para seus gast os. Se falas com am abilidade a
seu criado, t am bém ele quer com port ar- se com o um am o.
port ant o, t inha que levant ar seu redor um sólido m uro de frieza, que espant asse a
sua esposa, que espant asse ao filho. Quant os pais t êm feit o ist o?
A verdade da quest ão é que logo que exist e nenhum lar onde o pai e o filho se
t rat em com am or. O filho recorre ao pai quando necessit a dinheiro; o pai vai ver o filho
quando quer lhe solt ar um serm ão; os dois não se reúnen em nenhum a out ra ocasião.
Não exist e nenhum pont o de reunião ent re o pai e o filho. O pai t em m edo e se rodeou
de um m uro sólido. O filho t am bém t em m edo; m ove- se às escondidas do pai. Não
exist e nenhum a harm onia ent re os dois. quant o m ais m edo t em um a pessoa, quant o
m ais se preocupa de sua segurança, m ais se solidifica. A fluidez é m uit o perigosa,
produz insegurança.
Est a é a razão pela que t em os m edo a nos apaixonar. Só quando est udam os à
pessoa e nos asseguram os a fundo chegam os a nos apaixonar. I sso quer dizer que
prim eiro nos asseguram os de que a pessoa não represent a nenhum perigo para nós e
depois nos apaixonam os. Por isso invent am os os m at rim ônios: prim eiro nos casam os,
prim eiro t om am os t odas as m edidas necessárias, e depois nos apaixonam os, porque o
am or é perigoso. O am or é fluido, dá ent rada a out ra pessoa. É perigoso apaixonar- se
por um a pessoa est ranha: pode escapar de noit e com t odos nossos obj et os de valor!
assim , invest igam os a fundo quem é essa pessoa, a que se dedica, de onde são seus
pais, que carát er t em , que qualidades t em . Tom am os t odas as m edidas, t om am os t odas
as precauções sociais possíveis; só depois dist o aceit am os cont rair m at rim ônio com a
pessoa.
Som os gent e assust adas; querem os assegurá- lo t udo prim eiro. Quando m ais nos
asseguram os, m ais duro e m ais frio se volt a o m uro de gelo que nos rodeia e que
encolhe t odo nosso ser. Nossa separação do divino se produziu por um único m ot ivo:
porque não som os líquidos, porque nos t ornam os sólidos. Est a é a única causa da
separação: não fluím os, ficam o- nos com o blocos; não som os água, som os com o gelo
sólido. Quando nos volt am os fluídos, j á não exist irá a separação; m as só nos volt am os
fluídos quando aceit am os ver e viver a m ort e, quando aceit am os que a m ort e exist e.
Quando vim os e reconhecem os que a m ort e exist e, por que t em os que t er m edo
algum ? Quando a m ort e est á ali com segurança, quando a onda sabe com segurança
que t em que desaparecer, se a onda t iver descobert o que o nascim ent o m esm o cont ém à
m ort e, se a onda t iver chegado ou sej a que sua desint egração com eçou no m om ent o
m esm o em que foi criada, ali t erm ina a quest ão. por que convert er- se ent ão em gelo?
Em seguida aceit ará ser um a onda enquant o t enha que sê- lo, e aceit ará ser o m ar
enquant o t enha que sê- lo. I sso! Aqui t erm ina a quest ão! Nesse inst ant e se aceit a t udo.
Nessa aceit ação, a onda se convert e no m ar. Ent ão desparece t oda inquiet ação por seu
desaparecim ent o, pois a onda sabe que exist ia ant es de sua ext inção e que seguirá
exist indo at é depois de desparecer; não com o o eu, m as sim com o o m ar sem lim it es.

C
UANDO LAO TSE ESTAVA a pont o de m orrer, alguém lhe pediu que revelasse alguns
secret os de sua vida. Lao Tse disse:
O prim eiro secret o é que ninguém m e venceu em t oda m inha vida!
Quando os discípulos ouviram ist o, em ocionaram - se m uit o. Disseram - lhe:
- Nunca nos havia dit o ist o! Nós t am bém querem os vencer. Rogam o- lhe que nos
ensine o m odo de consegui- lo.
- Equivocast e- lhes –respondeu Lao Tse- ouvist es out ra coisa. Eu hei dit o que
ninguém pôde m e vencer nunca, e vós dizem que t am bém vós querem vencer. As duas
coisas são com plet am ent e opost as, em bora pareça que significam o m esm o. No
dicionário, no m undo da linguagem , t êm um m esm o significado: a pessoa que não
conheceu a derrot a é vit oriosa. Eu só hei dit o que ninguém pôde m e vencer, e vós falam
de vencer. Fora daqui! Jam ais com preenderão m inhas palavras.
Os discípulos lhe suplicaram :
- Mesm o assim , rogam o- lhe que nos explique isso. I nsígnia nos com o fazê- lo.
Com o é que algum a vez lhe venceram ?
Lao Tse disse:
- Ninguém m e venceu porque eu sem pre est ava vencido. Não há m aneira de
vencer a um hom em vencido. Eu nunca fui vencido nunca quis a vit ória. Em realidade,
ninguém foi capaz de lut ar com igo. Se alguém pret endia m e desafiar, j á m e encont rava
vencido, e não poderia dar o gost o de m e vencer. O que produz alegria é vencer ao que
quer ser vencedor. Que gost o pode dar vencer ao que nem sequer quer ganhar?
E
N REALI DADE, DESTRUI R O EGO de out ra pessoa nos produz prazer porque assim
reforçam os o nosso. Mas se um hom em j á se deu por vencido, que gost o pode dar
dest ruir a essa pessoa? Nosso ego não se em ocionaria absolut am ent e. quant o m ais
conseguim os derrubar o ego do out ro se convert e na força do nosso. Mas o ego dest a
pessoa da que falam os j á est á derrubado.
Por exem plo, pret enderão vencer a um hom em em um a briga, e ant es de que o
ele derrubem se t ende no chão; e ant es de que lhes sent em sobre ele, ele lhes convida a
que lhes sent em sobre ele. Em que sit uação ficarão ent ão? Quereria pôr- se a correr! O
que out ra coisa poderia fazer? Os espect adores poriam - se a rir e lhes diriam : “ Adiant e:
sent e- se em cim a dele! Ponha côm odo! por que põe- se a correr?” Quem pareceria m ais
t ant o: que se sint a sobre o out ro, ou o que não deixava de rir, com um a risada que lhes
ressonaria nos ouvidos para t oda a vida?
assim , sem pre que alguém pret enda desafiar a aquele hom em , ele se t endia
im ediat am ent e no chão e lhe dizia: “ Adiant e: sent e- se sobre m im . viest e a isso, não?
Adiant e, pois. Não t e inquiet e, não t e incom ode: não faz falt a que t e canse. Vêem e
sent e- se sobre m im ” .

L
AO TSE ACRESCENTOU:
- Mas vós m e pergunt am out ra coisa. Vós querem que lhes explique o m odo de vencer.
Se pensarem em vencer, perderão. que alberga a idéia de vencer sem pre perde. Em
realidade, a derrot a com eça com a idéia m esm a da vit ória. E ninguém foi capaz de m e
ofender –acrescent ou Lao Tse.
- Rogo- t e que nos diga t am bém o segredo dist o, porque t am pouco nós gost am os
que nos ofendam –disse um discípulo.
- Volt am a com et er um engano. Ninguém foi capaz de m e ofender porque nunca
desej ei as honras. lhes ofenderão sem pre porque est ão cheios do desej o de honra. Não
m e expulsaram nunca de nenhum a part e porque sem pre m e sent ei pert o da port a onde
a gent e se t ira os sapat os. Nunca m e pediram que m e além de um sít io porque sem pre
m e fiquei ao final, onde ninguém podia m e enviar a um post o inferior. Eu est ava m uit o
cont ent e de est ar ao final: isso m e econom izava problem as de t odo t ipo. Ninguém m e
j ogou dali nem m e apart ou no últ im o post o. Ninguém queria est ar naquele post o. Eu
est ava a m inhas largas em m eu post o; sem pre est ive a m inhas largas em m eu post o.
Ninguém veio a m e j ogar de m eu post o.

T
AMBI ÉN DI Z Jesus: “ Eu lhes digo que os últ im os serão os prim eiros” . O que quer dizer
ist o?
Por exem plo, Jesus diz: “ Se alguém lhes der um a bofet ada na bochecha direit a, lhe
apresent em I st o esquerda significa que não lhe façam t om ar- se sequer a m olést ia de
lhes buscar a out ra bochecha: façam vós. Jesus diz: “ Se alguém vier a t e vencer, t e
deixe vencer. Se t e derrubar um a vez, cai você duas vezes” . E Jesus diz: “ Se um
hom em t e t irar o m ant o, lhe dê t am bém sua cam isa” . por que? Porque é possível que
ao hom em lhe dê vergonha t e t irar t am bém a cam isa. E Jesus diz: “ Se alguém t e pedir
que leve nas cost as sua carga um a m ilha, ao final da m ilha t e ofereça a levá- la m ais
longe” .
O que significa ist o? Significa que aceit ando t ot alm ent e as circunst âncias da vida,
t ais com o a insegurança, o fracasso, a derrot a e, ao final, a m ort e, vencem o- las a t odas.
Do cont rário, est as circunst âncias não conduzem a nenhum a part e, salvo à m ort e. Em
últ im o ext rem o, a m ort e é nossa derrot a t ot al. At é depois das derrot as m aiores
sobrevivem ; apesar de est ar derrot ados, seguim os exist indo. Mas a m ort e nos aniquila
por com plet o.
A m ort e é a m aior das derrot as; por isso querem os m at ar a nossos inim igos: não
há out ro m ot ivo. A m ort e é a derrot a definit iva; depois dela, o inim igo não t em
nenhum a possibilidade de vencer nunca m ais. O im pulso de m at ar ao inim igo procede
de nosso desej o de lhe infligir a derrot a definit iva. depois da m ort e j á não pode ficar
vencedor, pois j á não exist e.
A m ort e é a derrot a final, e t odos querem os fugir dela. E recordem t am bém que
a pessoa que t ent a fugir de sua própria m ort e procurará produzir a m ort e a out ros.
quant o m ais consegue m at ar a out ros, m ais vivo se sent irá ele. Por isso, a causa de
t oda a violência do m undo é com plet am ent e diferent e da que est á acost um ado a
acredit ar a gent e. A causa dest a violência não são as diferenças de idéias das pessoas
( que uns não queiram beber água sem filt rar ou que out ros com am depois de pôr- do-
sol) ; não, não é nada dist o.
A causa fundam ent al da violência é que o hom em m at a a out ros para esquecer- se
de sua própria m ort e. Quando m at a a out ros, acredit a que ninguém pode m at á- lo a ele,
pois ele t em o poder de m at ar. Hit ler, Genghis Kan e out ros com o eles m at aram a
m ilhões de pessoas para poder dizer- se a si m esm os: “ Ninguém pode m e m at ar, pois eu
Mat o a m ilhões de pessoas” . Tent am os nos liberar de nossa própria m ort e, t ent am os
confirm ar nossa independência a apóie de m at ar a out ros. Supom os que, dado que nós
som os capazes de m at ar a gent e, quem poderá nos m at ar a nós?
No m ais fundo, ist o é fugir a m ort e. No m ais fundo, a pessoa violent a foge da
m ort e. E o que quer salvar- se a si m esm o da m ort e nunca pode ser não violent o. Só o
que declara: “ Aceit o a m ort e, pois a m ort e é um a das circunst âncias da vida, é um a
realidade” , pode ser um a pessoa não violent a. Ninguém pode negar a m ort e. Onde nos
esconderem os dela? Onde nos refugiarem os?
O sol com eça a ficar assim que sai. O pôr- do- sol é t ão real com o a saída do sol;
só se diferenciam no sent ido. No ocaso, o sol chega exat am ent e ao pont o onde est ava à
alvorada, m as à alvorada est ava no est e, enquant o que no ocaso est á no oest e. O
nascim ent o est á a um lado, a m ort e est á ao out ro. O que sobe por um lado desce pelo
out ro. O ort o e o ocaso est ão unidos; em realidade, o ocaso est á ocult o no ort o. A
m ort e est á ocult a no nascim ent o. Ninguém que saiba ist o pode negar o de nenhum
m odo. Quando sabe, aceit a- o t udo. Ent ão vive est a verdade. Conhece- a, vê- a e a
aceit a.
Com a aceit ação chega a t ransform ação. Quando eu falo de vencer à m ort e,
quero dizer que assim que um a pessoa aceit a a m ort e ri, porque chegou ou sej a que a
m ort e não exist e. Só se form a e se desfaz o envolt ório ext erno. O m ar sem pre exist iu;
só a onda cobrou form a e se desint egrou depois. A beleza sem pre est eve present e; as
flores apareceram e se m urcharam . A luz sem pre brilhou; o sol saiu e ficou. E o que
brilhava com a saída do sol e com sua post a sem pre est ava present e, ant es do ort o e
depois do ocaso. Mas só chegarem os a ver ist o quando t iverm os vist o a m ort e, quando
t iverm os t ido a visão da m ort e, quando nos t iverm os encont rado com a m ort e, quando
nos t iverm os encont rado a m ort e cara a cara: nunca ant es.
Assim , nosso am igo nos pergunt a: “ por que pensar na m ort e? por que não nos
esquecer dela? por que não nos lim it ar a viver?” Eu queria lhe dizer que ninguém viveu
esquecendo a m ort e, nem ninguém pôde viver assim . E o que despreza a m ort e t am bém
despreza a vida.
É com o se t ivesse na m ão um a m oeda e dissesse: “ por que m e preocupar da
out ra cara da m oeda? por que não m e lim it ar a esquecê- la?” Se eu renunciar à cruz da
m oeda, t am bém perco a cara, pois am bas com põem as duas caras da m esm a m oeda.
Não é possível ficar um a cara da m oeda e at irar a out ra à rua. Com o seria possível? Se
ficar um a cara, ficarei aut om at icam ent e com a out ra. Se t iro um a cara, at irarei am bas
as caras; se ficar um a, ficarei as duas. Em realidade, am bas as som dois aspect os de
um a m esm a coisa. O nascim ent o e a m ort e são dois aspect os de um a m esm a vida. O
dia que alguém se dá cont a dist o, não só perde seu aguilhão a m ort e, m as t am bém
t am bém desaparece a idéia de não m orrer. Ent ão chega ou sej a um que o nascim ent o
est á ali e que t am bém est á ali a m ort e. Am bas com põem a felicidade.
Todas as m anhãs nos levant am os e vam os t rabalhar. Uns vão cavar sarj et as… A
gent e faz t rabalhos diferent es; alguns suam t odo o dia. Levant ar- se pela m anhã é
agradável, m as acaso não é igualm ent e agradável dorm ir de noit e? Se uns loucos
ficassem a convencer às pessoas de que não dorm isse de noit e, ent ão a gent e t am pouco
se levant aria pela m anhã, pois a pessoa que não dorm isse t am pouco seria capaz de
despert ar pela m anhã. Toda a vida se det eria. Alguém poderia t er m edo a deit ar- se,
afirm ando: “ Despert ar pela m anhã é t ão agradável que é m elhor ficar dorm ido, para não
danificar o encant o de despert ar” . Mas sabem os que ist o é ridículo: dorm ir é a out ra
cara da m oeda do despert ar.
que dorm e bem despert ará bem . que se acordada bem dorm irá bem . que vive
bem m orrerá bem . que m orre bem dará bons passos em sua vida fut ura. que não
m orre bem não viverá bem . que não vive bem não m orrerá bem . Será um desast re;
t udo se volt ará feio e dist orcido. O m edo à m ort e é responsável pela aparição da
fealdade e da dist orção.
Se a alguém o dom inasse o m edo a ficar dorm ido, a vida lhe faria difícil. Um a vez
um hom em m e t rouxe para sua m ãe, um a senhora anciã. Disse- m e que a sua m ãe dava
m uit o m edo ficar dorm ida. Eu lhe pergunt ei:
- A que se deve ist o?
- Tem cansado doent e recent em ent e –m e disse ele- , e acredit a que pode m orrer
enquant o dorm e. Tem m edo de não volt ar- se para despert ar se ficar dorm ida, e por isso
t ent a acont ecer t oda a noit e acordada. Tem os um grave problem a. Não se recupera de
sua enferm idade porque não dorm e de noit e, pelo m edo a m orrer e não volt ar- se para
despert ar. Rogo- t e que faça algo para liberar a dest e m edo; do cont rário, o problem a é
grave.
Em cert o m odo, dorm ir é com o m orrer t odos os dias. Est am os vivos t odo o dia;
est am os m ort os t oda a noit e. I st o é com o m orrer por part es, com o m orrer um pouco
cada dia. I nundam o- nos em nosso int erior de noit e e saím os afrescos pela m anhã.
Quando chegam os aos set ent a ou aos oit ent a anos de idade, o corpo est á desgast ado.
Ent ão t om a a m ort e. E com ela, o corpo experim ent a um a m udança com plet a. Mas
t em os m uit o m edo à m ort e, em bora não é m ais que um sonho profundo.
Sabem que o corpo sofre um a m udança t odas as noit es e que fica diferent e t odas
as m anhãs? A m udança é t ão m ínim o que vós não o advert em . A m udança não é t ot al;
é um a t ransform ação parcial. Quando lhes deit am de noit e, cansados e esgot ados, seu
corpo est á em um est ado det erm inado, e quando despert am pela m anhã est á em um
est ado diferent e. Pela m anhã, o corpo se sent e fresco e rej uvenescido; est á cheio de
energia, dispost o a enfrent ar- se com as at ividades de um novo dia. Agora lhes sent em
capazes de cant ar canções novas, coisa que não podia fazer a noit e ant erior. Ent ão
est avam cansados, quebrados, esgot ados. Mas nunca lhes pergunt ast es por que há
t ant o m edo à m ort e.
Quando despert am pela m anhã lhes sent em cont ent es, porque no sonho só t roca
um a part e de seu corpo; m as a m ort e, por sua part e, produz um a m udança com plet a.
Todo o corpo se volt a inút il e surge a necessidade de adquirir um corpo novo. Mas
t em os m edo à m ort e, e por isso t oda nossa vida se ficou com plet am ent e paralisada.
Todos os m om ent os est ão cheios do m edo à m ort e. Por causa dest e m edo, criam o- nos
um a vida, um a sociedade, um a fam ília que t em um m ínim o de vida e um m áxim o de
m edo à m ort e. E o t em ent e à m ort e não pode viver nunca: am bas as coisas não podem
produzir- se de um a vez. Só a pessoa que est á preparada para encont rar- se com a m ort e
de um a m aneira absolut am ent e espont ânea est á preparada t am bém para viver. A vida e
a m ort e são dois aspect os de um m esm o fenôm eno. Por isso eu lhes digo: olhem a
m ort e. Não lhes peço que pensem na m ort e, pois est a m aneira de pensar lhes
confundirá. O que farão se lhes põem a pensar na m ort e?
A um a pessoa doent e e desgraçada pode lhe result ar grat o pensar que t udo
t erm ina com a m ort e. Est e pensam ent o lhe result a grat o ao hom em , m as não por isso é
cert o. Recordem : não criam nunca que o que lhes parece agradável é necessariam ent e
cert o, porque o que lhes parece agradável não depende da verdade, depende do que vós
considerem convenient e. À pessoa desgraçada, cheia de problem as, doent e e dolorida
lhe parece que deveria encont rar- se com a m ort e t ot al, que não deveria deixar nada
det rás de si; pois se sobreviver algum a part e dele, isso significaria, evident em ent e, que
sobreviveria ele; ele, a pessoa desgraçada e doent e.

Um am igo pergunt ou: Algum as pessoas se suicida. O que pode dizer delas? Não
t êm m edo à m ort e est as pessoas?
T
AMBI ÉN TÊM MEDO À MORTE. Mas t êm m ais m edo à vida que à m ort e. A vida lhes
parece m ais dolorosa que a m ort e; por isso querem t erm iná- la. O fat o de que ponham
fim a suas vidas não significa que encont rem nenhum gozo na m ort e; m as, com o a vida
lhes parece pior que a m ort e, preferem a m ort e. que é desgraçado, que est á cheio de
dores, acredit ará- se de boa vont ade que a m ort e o leva t udo ( inclusive a alm a) , que a
m ort e não deixa nada det rás de si. Evident em ent e, não quer salvar nenhum a part e de si
m esm o, pois em t al caso não salvaria m ais que sua desgraça e sua dor.
que t em m edo à m ort e e quer salvar- se, aceit a de boa vont ade a fé na
im ort alidade da alm a. Todas est as coisas são conveniências; não fazem nada m ais que
dem onst rar o que nos int eressam nossas conveniências. Aceit ar est as coisas nos result a
côm odo, isso é t udo. Por isso t rocam os de crenças m uit as vezes. A pessoa que era
at éia em sua j uvent ude se convert e em t eíst a em seu vexe. Em realidade, a verdade é
que as crenças t rocam com os dores de cabeça.
Quando não nos dói a cabeça, t em os um conj unt o de crenças; quando nos dói a
cabeça, t rocam os est as por out ro conj unt o de crenças. É difícil det erm inar em que
m edida afet am as escrit uras a seu sist em a de crenças e em que m edida os afet a seu
fígado! " Não podem os saber se os afet a m ais o gurú ou o fígado” Quando o est ôm ago
est á revolt o, a pessoa t ende a volt ar- se at éia, e quando o est ôm ago est á bem t ende a
acredit ar em Deus! Com o pode acredit ar um a pessoa que exist e Deus quant o t em dor
de cabeça? Se exist ir Deus e t am bém exist e a dor de cabeça, com o conciliar a am bos?
Podem os fazer um experim ent o. Tom am os a cinqüent a hom em aos que fazem os
cont rair enferm idades crônicas, e deixam os a out ros cinqüent a com boa saúde. Fazem os
que os cinqüent a prim eiros vivam sum idos na desgraça e que os out ros cinqüent a
t enham felizes vidas. Descobrirão que o at eísm o aum ent ará no prim eiro grupo e que o
t eísm o aum ent ará no segundo grupo. Não se t rat a de que acredit ar em Deus provoque a
felicidade: é que a m ent alidade da pessoa desgraçada se volt a at éia indevidam ent e.
Recordem , pois, que se virem que aum ent a o at eísm o pelo m undo, saberão que est ará
aum ent ando t am bém a desgraça. Se virem que cada vez há m ais gent e que acredit a em
Deus, saberão que cada vez há m ais gent e feliz.
Digo- lhes, pois, que é m uit o provável que nos próxim os cinqüent a anos a Rússia
se volt e t eíst a e a Í ndia se volt e m ais at éia ainda. As crenças não significam nada. Na
Rússia, a gent e lê ao Marx, enquant o na Í ndia lem os a Mahavira: ist o não t roca as
coisas. As obras da Mahavira e as do Marx não est abelecem a m enor diferencia. Se as
gent e se fizessem cada vez m ais felizes na Rússia, ent ão nos próxim os cinqüent a anos
ressuscit aria o t eísm o e com eçariam a soar os sinos nos t em plos russos. acenderiam - se
os abaj ures e se cant ariam as orações. Só um a m ent e feliz faz soar os sinos do t em plo,
acende abaj ures e cant a orações. A gent e com eçaria a dar graças a Deus. Só um a
m ent e feliz quer dar as graças a alguém , e a quem vai dar se as a não ser a Deus?
Quando o hom em não encont ra m ot ivos da presença de sua felicidade int erior, a
agradece ao desconhecido, pois a isso t em que dever- se.
A m ent e infeliz quer expressar sua ira. E quando a pessoa não encont ra nenhum a
causa para sua infelicidade, com quem t em que zangar- se? Evident em ent e, se cheia de
ressent im ent o para o desconhecido. diz- se: “ Todo est e em brulho é culpa desse
desconhecido, é culpa de Deus. Ou não exist e ou se t ornou louco” .
O que est ou dizendo é que nosso t eísm o e nosso at eísm o, nossas crenças, são o
result ado do que m ais convém a nossa sit uação.
que quer fugir da m ort e se aferra, indevidam ent e, a algum a crença. Do m esm o
m odo, que quer m orrer t am bém se aferrará a algum a crença. Mas nenhum dos dois t em
o desej o, o anseia de conhecer a m ort e. Exist e um a grande diferencia ent re as
conveniências e a verdade. Nunca pensem m uit o em suas conveniências. O
pensam ent o sem pre se refere às conveniências. A visão é sem pre da verdade; o
pensam ent o sem pre se refere às conveniências.
Um hom em é com unist a. Faz m uit o ruído: t em que haver um a revolução; os
pobres t êm que deixar de ser pobres; t erá que repart ir a propriedade, et cét era. Mas lhe
dêem um carro, um a casa grande e um a m oça form osa para que se case com ela, e em
quinze dias verão um hom em diferent e. Ouvirão- lhe dizer: “ O com unism o e t odo o rest o
t olices! ” O que passou a est e hom em ? Suas conveniências conform aram sua m aneira
de pensar.
O out ro dia lhe convinha pensar que t erei que repart ir a propriedade; agora não
lhe convém pensar que t erei que repart ir a propriedade. Agora, a part ilha da
propriedade suporia repart ir seu carro, repart ir sua casa.
O hom em que não t em um a m ulher form osa bem pode dizer que t am bém t erá
que socializar às m ulheres. por que t êm que t er alguns hom ens o m onopólio das
m ulheres form osas? As m ulheres devem pert encer a t odos. Há pessoas que pensam
assim . Nest e m undo há pessoas que afirm am : ” Hoj e, a propriedade; am anhã, as
m ulheres” . E isso não t em nada de est ranho, porque vós j á t rat am às m ulheres com o se
fossem de sua propriedade.
Se alguém disser: “ Não est á bem que um a pessoa vida em um a casa grande e
out ra em um barraco” , ent ão o que t em de est ranho pergunt ar- se por que t em que t er
um hom em um a m ulher bonit a e out ro não t ê- la, j á que a part ilha deve ser igualit ário?
Est es são sinais de perigo. Est as pergunt as t êm que sair a reluzir cedo ou t arde. O dia
que se repart a a propriedade, é seguro que saia a reluzir a quest ão de com part ilhar às
m ulheres. Mas o hom em que t em um a m ulher form osa prot est ará, sem dúvida. Dirá:
“ com o é possível? Que t olices dizem ? Tudo ist o é um engano! ” .
assim , as conveniências conform am nossa m aneira de pensar, nossos
pensam ent os se form am pelas conveniências. Todos nossos pensam ent os fom ent am e
alim ent am nossas conveniências ou elim inam o que não nos convém . A visão é out ra
coisa. A visão não t em nada que ver com as conveniências. Recordem , pois, que a visão
é um t apascharya, um com prom isso pessoal profundo com o conhecim ent o da verdade.
Tapascharya significa que a um não im port am as conveniências; pelo cont rário, a gent e
t em que conhecer o que é, sej a com o for.
De m odo que não t erá que pensar no fat o da m ort e, a não ser vê- lo. Pensarão
segundo suas conveniências; suas conveniências det erm inam sua m aneira de pensar.
Não é um a quest ão de conveniências. Tem os que conhecer o que é a m ort e, t em os que
vê- la t al com o é. Suas conveniências e inconveniências não t rocam nada. O que é, sej a
o que sej a, produz- se um a t ransform ação em sua vida, porque não há m ort e. Só criem
em sua exist ência enquant o não a conhecest es. A experiência da ignorância é a m ort e;
a experiência da consciência é a im ort alidade.

C
OMENTAREMOS ALGUMAS PERGUNTA m ais na sessão vespert ina. Agora nos sent arem os
para prat icar a m edit ação da m anhã. A m edit ação represent a um a m ort e. A m edit ação
represent a ent rar no que é, aonde est am os. port ant o, só ent ram os na m edit ação
quando est am os preparados para m orrer, e não de out ro m odo.
Sent em - se a cert a dist ância uns de out ros. Sent em - se deixando cert o espaço a
seu redor. Os que queiram deit ar- se, podem fazê- lo ao princípio. E se alguém quer
deit ar- se durant e a experiência, deve fazê- lo. E sent em - se a cert a dist ância uns de
out ros para que ninguém lhes caia em cim a se alguém se deit ar ou cai.
Fechem os olhos… deixem relaxados os olhos e fechem as pálpebras… deixem os
olhos relaxados e fechem as pálpebras. Relaxem o corpo… relaxem o corpo… relaxem o
corpo… Deixem o corpo com plet am ent e depravado, com o se não houvesse vida nele.
Um dia, a vida lhes deixará: sint am solt ando- a agora. Um dia, a vida, deixará- lhes por
com plet o; em bora queiram conservá- la, não ficará. Levem , pois, essa m esm a vida
m uit o dent ro… peçam à vida que se ret ire m uit o dent ro e deixem o corpo depravado.
Sigam relaxando o corpo por com plet o. Agora lhes farei algum as sugest ões e vós
as sent irão com igo. O corpo se est á relaxando… sint a, o corpo se est á relaxando… o
corpo se est á relaxando… o corpo se est á relaxando. Sigam solt ando- o, sint am que o
corpo se est á relaxando… o corpo se est á relaxando… o corpo se est á relaxando. O
corpo segue relaxando- se… segue m orrendo… segue m orrendo. Seguim os nos
deslizando dent ro, ali onde est á a vida. Solt em … solt em … solt em a onda, sede uns com
o m ar. Solt em o corpo com plet am ent e, deixem cair se quiser, não lhes preocupem com
ele. Não o evit em … não m ant enham nenhum a suj eição sobre ele… solt em …
O corpo se est á relaxando… o corpo se est á relaxando… o corpo se est á
relaxando… o corpo se est á relaxando… o corpo se segue relaxando… o corpo se est á
relaxando… o corpo se est á relaxando. Solt em … com o se est ivesse m ort o, com o se se
t ivesse ficado com plet am ent e sem vida. Deslizam o- nos ao int erior… a consciência se
deslizou ao int erior… o corpo ficou com o um a casca… se cair, que caia. O corpo se
relaxou… o corpo se relaxou… o corpo se relaxou por com plet o.
A respiração se est á acalm ando… a respiração se est á acalm ando. Deixem
t am bém relaxada a respiração. A respiração se segue acalm ando… a respiração se est á
acalm ando. lhes apart e t am bém da respiração, ret irem t am bém dela sua energia. A
respiração se segue acalm ando… a respiração se est á acalm ando… a respiração se est á
acalm ando… a respiração se est á acalm ando… a respiração se est á acalm ando, est á- se
acalm ando. Deixem relaxada… deixe a respiração relaxada… a respiração se segue
acalm ando… a respiração se segue acalm ando… a respiração se relaxou.
Deixem t am bém os pensam ent os… lhes apart e t am bém deles… lhes apart e m ais
deles. Os pensam ent os se est ão relaxando… os pensam ent os se est ão relaxando. Sigam
sent indo… os pensam ent os se est ão relaxando… os pensam ent os se est ão relaxando… os
pensam ent os se seguem relaxando. Os pensam ent os t am bém est ão caindo… ret irast es
m ais… lhes ret irast es m ais. Os pensam ent os se seguem acalm ando… os pensam ent os
se seguem acalm ando… os pensam ent os se seguem acalm ando… os pensam ent os se
acalm aram .
Agora, durant e dez m inut os lhes lim it e a perm anecer acordados dent ro de vós,
perm aneçam conscient es dent ro de vós. Olhem para dent ro acordados. No ext erior se
produziu a m ort e. O corpo est á j azendo, quase m ort o, longe… nos ret iram os… a
consciência se ficou acesa com o um a cham a. Só são um conhecer… sozinho um ver.
Perm aneçam só com o observadores… lhes assent ar na visão. Durant e dez m inut os, lhes
lim it e a seguir olhando dent ro, não façam nada m ais só sigam olhando. Dent ro… m ais
dent ro… sigam olhando dent ro… devagar, devagar, deslizast e- lhes at é as profundidades…
com o o que cai a um poço profundo… segue caindo… segue caindo. Olhem … durant e dez
m inut os, lhes lim it e a seguir olhando.
( Faz- se um silêncio profundo… Ao cabo de uns m inut os, Osho com eça a fazer
sugest ões de novo) . Solt em por com plet o sua suj eição… e ent rem m ais fundo… ent rem
m ais fundo. lhes lim it e a seguir olhando acordados… devagar, devagar, t udo se
convert erá em um vazio. Só seguirá ardendo no vazio um a cham a de conhecim ent o,
esse “ conheço” … conheço… vej o… vej o… Solt e por com plet o, solt em t odo seu cont role…
sum ergíos nas profundidades e sigam olhando… a m ent e se seguirá t ranqüilizando.
A m ent e se est á ficando vazia… a m ent e se est á ficando vazia… solt em
t ot alm ent e… desaparecer… sim plesm ent e, m orram . Desapareçam com plet am ent e do
ext erior… solt em com plet am ent e do ext erior… com o pode desaparecer um a onda e
convert er- se no m ar. Solt em por com plet o… não m ant enham a m ais m ínim a suj eição. A
m ent e se est á ficando vazia… a m ent e se est á ficando vazia… a m ent e se est á ficando
vazia.
A m ent e se ficou com plet am ent e vazia… a m ent e se ficou vazia… a m ent e se ficou
vazia. Só ficou acesa um a cham a… um a cham a de conhecim ent o… de visão. Pelo rest o,
é com o se se produziu a m ort e… verão o corpo t endido ao longe… verão seu próprio
corpo m uit o longe… sua própria respiração lhes parecerá m uit o longínqua. Dent ro… m ais
dent ro… sum ergíos… solt em por com plet o… não m ant enham nenhum a suj eição…
solt em … solt em … solt em por com plet o.
Solt em por com plet o. Se o corpo quer cair, que caia… solt e por com plet o…
convert íos em um vazio… convert íos em um vazio por com plet o. A m ent e se convert eu
em um vazio… se convert eu em um vazio… se convert eu em um vazio por com plet o. A
m ent e se convert eu em um vazio… a m ent e se convert eu em um vazio… só ficou dent ro
um a cham a de conhecim ent o… t odo o rest o se convert eu em um vazio… t odo há
desparecido.
Solt em … solt em por com plet o… t enham o valor de m orrer… m orrer
com plet am ent e do ext erior. O corpo se ficou sem vida… nos deslizam os por com plet o ao
int erior… nos deslizam os por com pit o ao int erior… só ficou acesa um a cham a, pert o do
coração. Est am os vendo… est am os conhecendo… E t udo desapareceu… ficam os
unicam ent e com o observadores. A m ent e se convert eu com plet am ent e em um vazio.
Olhem com at enção est e vazio… dent ro de vós, olhem esse vazio. dent ro desse
m esm o vazio se desdobrará um grande espect ro de felicidade… um a grande luz de
felicidade encherá esse m esm o vazio. Pode surgir um a cat arat a, e só fluirá por t oda
part e felicidade, que lhes alaga por com plet o, t odas suas fibras, t odas suas part ículas.
Olhem com at enção esse vazio… e assim com o se abre um a flor quando sai o sol, do
m esm o m odo brot a a corrent e de felicidade quando olham o vazio int erior. Só im pera a
felicidade em t udo, por t oda part e. Olhem … olhem dent ro… deixem que brot o essa
corrent e… olhem dent ro… com o se em anasse um a font e de felicidade e a felicidade o
alagasse t udo.
Agora, respirar fundo, devagar, várias vezes. Parecerá- lhes que a respiração est á
longe. Respirem fundo, devagar… sigam observando a respiração. A m ent e se acalm ará
ainda m ais. Respirem fundo, devagar, várias vezes… respirem fundo, devagar, várias
vezes… m ais ainda m ais… a m ent e se acalm ará ainda m ais. Depois, abram os olhos
devagar… abram os olhos devagar… volt em da m edit ação.
Os que est ão deit ados ou t êm cansado, respirem fundo, devagar… depois, abram
os olhos… e lhes levant e m uit o devagar e com cuidado.

CAPÍ TULO 7

Eu e n sin o a vida
Pe la m or t e

Ou
N AMI GO PERGUNTOU: Est á ensinando às pessoas a m orrer? Est á ensinando a m ort e?
Deveria ensinar, m as bem , a vida.

T
I ENE RAZÃO: em efeit o, est ou ensinando às pessoas a m orrer. Est ou ensinando a art e
de m orrer, porque o que aprende a art e de m orrer t am bém se convert e em um perit o na
art e de viver. que acessa a m orrer faz digno de viver a vida suprem a. Só os que
aprenderam a suprim ir- se a si m esm os chegam t am bém ou sej a ser.
Podem parecer coisas opost as, porque t em os supost o que a vida e a m ort e se
opõem ent re si, que são coisas cont radit órias; m as não o são. est abelecem os ent re
am bas um a falsa cont radição que produziu uns result ados nefast os. É possível que nada
t enha feit o t ant o m achuco à raça hum ana com o est a cont radição, e est a cont radição se
est endeu a m uit os níveis de nossas vidas. Se t om arm os coisas que são, em essência,
um as, e as dividim os em part es independent es ( e não só independent es, m as t am bém
cont radit órias) , o result ado final só pode ser a criação de um hom em esquizofrênico,
louco.
Suponham os que há um lugar onde vivem gent e loucas. Surgiriam grandes
dificuldades se essas gent e acredit assem que o frio e o calor eram coisas não só
independent es ent re si, m as t am bém cont radit órias, pela singela razão de que o frio e o
calor não são cont radit órios, m as sim são graus diferent es de m edir um a m esm a coisa.
Nosso conhecim ent o do frio e do calor não é absolut o, é m uit o relat ivo. I st o ficará claro
com um pequeno experim ent o.
Sem pre nos encont ram os coisas quent es e coisas frit e. Vem os t am bém que o que
est á quent e est á quent e, e que o que est á frio est á frio: não acredit am que um a m esm a
coisa possa est ar quent e e fria ao m esm o t em po. Agora bem : quando volt arem a suas
casas, realizem um pequeno experim ent o. Tom em um recipient e com água quent e,
out ro recipient e com água fria e out ro recipient e com água a t em perat ura am bient e.
Coloquem um a m ão na água quent e e a out ra na água fria. Depois, t irem am bas as
m ãos e as coloquem na água que est á a t em perat ura am bient e. Um a m ão sent irá que a
água est á fria e a out ra sent irá que essa m esm a água est á quent e. Est á fria ou est á
quent e? Um a m ão dirá est á quent e, a out ra dirá que est á fria. Ent ão, qual é o
verdadeira est ado da água? Se um a m ão sent ir que a água est á quent e e a out ra sent e
ao m esm o t em po que est á fria, ent ão t erem os que nos dar cont a de que a água não est á
nem fria nem quent e: a sensação que produz de calor ou de frio depende de nossas
m ãos.
O calor e o frio são graus de um a m esm a coisa; não são coisas diferent es. A
diferença ent re am bos é um a quest ão de quant idade, não de qualidade.
pensast es algum a vez na diferença ent re a infância e a velhice? Est am os
acost um ados a pensar que são coisas opost as: a infância por um lado, a velhice por
out ro lado. Mas no que se diferencia, em realidade, a infância da velhice? A única
diferença é um a quest ão de anos, a única diferença é um a quest ão de dias; a diferença
não é qualit at iva, só é quant it at iva.
Pensem os, por exem plo, em um m enino de cinco anos. Podem os cham á- lo “ um
velho de cinco anos” . O que t eria de m au? Se disserm os “ um m enino de cinco anos” é
só por um cost um e da língua. Se quiserm os, podem os dizer ( com o se faz em inglês) que
é “ cinco anos velho” ( five years old) , o que t am bém pode significar que é “ um velho de
cinco anos” . Um hom em é um velho de set ent a anos, enquant o que out ro é cinco anos
velho. Que diferença há? Se quiserm os, podem os dizer que o hom em de set ent a anos é
um m enino de set ent a anos: ao fim e ao cabo, o m enino cresce at é fazer- se velho. Mas
quando observam os est as coisas por separado, parecem duas coisas cont radit órias.
Parece que a infância e a velhice são coisas opost as ent re si. Mas, se fossem , o m enino
não poderia fazer- se velho algum a vez. Com o poderia? Com o podem duas coisas
cont rárias ser um a m esm a? Viram algum a vez o dia ou a noit e em que o m enino se
convert ia em um velho? Podem assinalar sobre o calendário que em t al dia est e hom em
era um m enino e que em t al out ro dia se convert eu em velho?
Em realidade, o problem a é… Por exem plo, há uns degraus que levam a t erraço.
Vêem os degraus inferiores e vêem os degraus superiores, m as possivelm ent e não vej am
os degraus int erm édios. Pode lhes parecer que os degraus inferiores e os superiores são
independent es, que est ão apart ados uns de out ros. Mas o que é capaz de ver t oda a
escada negará t al dist inção. Dirá: “ A diferença ent re os degraus do fundo e os degraus
superiores só é aparent e, pela exist ência dos degraus int erm édios. O degrau do fundo
est á conect ado com o degrau superior” .
A diferença ent re o inferno e o céu não é um a quest ão de qualidade: a única
diferença é de quant idade. Não criam que o inferno e o céu são coisas cont rárias,
diam et ralm ent e opost as ent re si. A diferença ent re o inferno e o céu é quão m esm a
ent re o frio e o calor, ent re o degrau inferior e o superior, ent re o m enino e o velho.
Exist e um a diferença do m esm o t ipo ent re o nascim ent o e a m ort e; de out ra
m aneira, que nascesse nunca poderia m orrer. Se o nascim ent o e a m ort e fossem coisas
opost as, com o poderia t erm inar na m ort e o nascim ent o? Só podem os chegar at é o
pont o que nos é inerent e. O nascim ent o se desenvolve at é chegar à m ort e. I st o
significa que o nascim ent o e a m ort e são dois ext rem os de um a m esm a coisa.
Sem eam os um a sem ent e: est a se desenvolve at é convert er- se em plant a, e depois se
convert e em flor. acredit ast es algum a vê que exist ia um a oposição ent re a sem ent e e a
flor? A flor se desenvolve da própria sem ent e, que se convert e em flor. O
desenvolvim ent o é inerent e à sem ent e.
O nascim ent o se convert e em m ort e. Só Deus sabe por que necedad e em que
época desafort unada se fixou na m ent e hum ana a idéia de que o nascim ent o e a m ort e
são duas coisas independent es. Querem os viver; não querem os m orrer, m as não
sabem os que a m ort e form a part e da vida. Quando chegam os à conclusão de que não
querem os m orrer, desde esse m esm o m om ent o é seguro que nossas vidas est arão
cheias de problem as e de dificuldades.
Toda a hum anidade se t ornou esquizofrênica. A m ent e do hom em se desagregou
em part es, em fragm ent os; e ist o se deve a um m ot ivo. Tem os supost o que a t ot alidade
da vida est á dividida em part es, e enfrent am os ent re si a est as part es. O hom em é o
m esm o, m as nós criam os divisões dent ro dele e decidim os, além disso, que est as
divisões se opõem ent re si. Fizem os ist o em t odas as esferas. Dizem os a um a pessoa:
“ Não t enha ira; aprende a perdoar” , sem nos dar cont a de que a diferença ent re a ira e o
perdão t am bém é um a quest ão de graus, com o a diferença ent re o frio e o calor, ent re a
infância e a velhice. Podem os dizer que a ira, reduzida a seu nível m ais baixo é o
perdão: não exist e um a dicot om ia ent re am bos. Mas os ant igos preceit os da
hum anidade nos ensinam : “ Libra lhe da ira e prat ica o perdão” , com o se a ira e o perdão
fossem um as coisas t ão diferent es que fora possível deixar a ira e conservar o perdão. A
única conseqüência que pode t er t al coisa é dividir ao hom em em fragm ent os e lhe
produzir problem as.
Todos nossos ant igos sist em as de crenças dizem que a sexualidade e o
brahm acharya, a cast idade, opõem - se ent re si. Nada pode est ar m ais equivocado que
ist o. O brahm acharya é o nível m ais desço da sexualidade. A sexualidade, dim inuída,
reduzida, é o brahm acharya. A dist ância ent re os duas não é um a quest ão de inim izade
nem de cont radição. Recordem : nest e m undo não exist e absolut am ent e a cont radição.
Em realidade, não pode exist ir nunca a cont radição no m undo; pois, se exist isse, não
haveria m aneira possível de unificar os opost os. Se o nascim ent o e a m ort e fossem
ent idades independent es, o nascim ent o seguiria seu próprio curso e a m ort e seguiria o
seu: não se encont rariam em nenhum pont o. Assim com o duas linhas paralelas não se
encont ram em nenhum a part e, t am pouco se encont rariam nunca o nascim ent o e a
m ort e.
O nascim ent o e a m ort e est ão ent relaçados, são dois ext rem os de um processo
inint errupt o. O que quero dizer quando digo ist o é que se quiserm os que o hom em se
salve da loucura em um fut uro próxim o, t erem os que aceit ar a vida em sua t ot alidade.
Já não podem os nos perm it ir criar divisões e enfrent ar ent re si as part es.
É m uit o est ranho que o que diz: “ A sexualidade se opõe ao brahm acharya;
port ant o, nos liberem os da sexualidade” acabe por dest ruir- se a si m esm o em seus
int ent os de liberar- se da sexualidade. Est a pessoa não poderá alcançar nunca o
brahm acharya. Enquant o se esforça por elim inar de sua vida a sexualidade, sua m ent e
perm anecerá fixada unicam ent e na sexualidade: não poderá alcançar o brahm acharya
nunca, de m aneira nenhum a. Sua m ent e est ará subm et ida para sem pre a um a grande
t ensão e agit ação: isso m esm o será sua m ort e. Sua vida lhe result ará um a carga m uit o
pesada. Volt ará- se pesado e não será capaz de viver absolut am ent e, nem sequer um
m om ent o. Terá um grande problem a.
Se o olharem dest e m odo ( e est a é a realidade) , ent ão o que lhes digo é que a
sexualidade e o brahm acharya est ão relacionados ent re si, do m esm o m odo que o est ão
os degraus inferiores e os superiores. Quando o hom em sobe pela escala da
sexualidade, chega ao brahm acharya. O brahm acharya não é m ais que a sexualidade
reduzida a seu grau m ais baixo. A pessoa chega a um pont o onde quase sent e que t odo
se ficou vazio: chega ao fim últ im o. port ant o, não há cont radições na vida, não há
t ensões. Em t al caso, não há inquiet ação na vida. assim podem os viver um a vida
nat ural.
Est ou falando do m odo de viver um a vida m uit o nat ural, em t odos os aspect os.
Não vivem os de m aneira nat ural a nenhum nível, pois aprendem os os m odos de vida
ant inat urais. Se dissessem a um a pessoa: “ Só deve cam inhar com o pé esquerdo,
porque o pé esquerdo represent a a religião, o corret o. Não cam inhe com o pé direit o,
porque o pé direit o represent a o incorret o…” Se a pessoa se acredit asse ist o… e há
m uit as pessoas que acredit ariam , sem pre se encont raram pessoas dispost as a acredit ar
em idéias t ão est úpidas. Ent ão lhes encont raria com pessoas que aceit ariam que
cam inhar com o pé esquerdo é corret o e que cam inhar com o pé esquerdo é incorret o.
Em seguida com eçariam a cort ar o pé direit o e a t ent ar cam inhar com o pé esquerdo.
Não poderiam cam inhar.
Só podem os cam inhar pelo m ovim ent o m ist ura de am bas as pernas. A perna não
cam inha nunca sozinha, por si m esm o, em bora só adiant am os um a perna cada vez.
Quando cam inham , só levant am um a perna cada vez, o que pode produzir a falsa
im pressão de que só cam inham com um pé. Mas não esqueçam que o que est á quiet o,
que est á em repouso, é t ão im port ant e com o o que se m ove. O dia que a pessoa
alcança o brahm acharya, a sexualidade em repouso desem penha um papel im port ant e
nesse lucro, do m esm o m odo que a perna direit a est át ica desem penha um papel
im port ant e no m ovim ent o para diant e da perna esquerda. A perna esquerda seria
incapaz de m over- se sem a aj uda da direit a.
A sexualidade que se ficou em repouso se convert e no pont o de apoio para o
surgim ent o do brahm acharya quando a sexualidade deixou que m over- se. Se se
arrancar o pont o de apoio da sexualidade, se se rom per, conseguirá- se sem dúvida
suprim ir a sexualidade, m as isso não servirá para alcançar o brahm acharya. Pelo
cont rário, a pessoa ficará suspensa no lim bo, do m esm o m odo que t udo os ant igos
ensinos deixaram à hum anidade suspensa no lim bo. O que vem os nosso redor não é
m ais que o m ovim ent o do passo com a perna esquerda e com a direit a, do pé esquerdo e
do direit o.
Na vida t odo est á int egrado. A diversidade aparent e é com o as not as de um a
grande sinfonia. Se elim inarem algo, encont rarão- lhes em dificuldades. Alguém pode
dizer que a cor negra represent a o m al. Por isso ninguém pode ir vest ido de negro em
um as bodas: pode ir de negro quando m orreu alguém . Há pessoas que acredit am que o
negro é um signo do m al, e há pessoas que acredit am que o branco é um signo de
pureza. Não é m au est abelecer t ais diferenças em um sent ido sim bólico; m as se alguém
dissesse: “ nos liberem os do negro; elim inem os o negro da superfície da Terra” , ent ão,
recordem : ficaria m uit o pouco branco, pois a brancura do branco só dest aca com t oda
sua nit idez sobre um fundo negro.
O professor escreve com giz branco em um a piçarra negra. Est á louco? por que
não escreve em um a parede branca? Nat uralm ent e, podem os escrever em um a parede
branca, m as as let ras não dest acariam . O branco se m anifest a pelo fundo negro; em
realidade, o negro est á fazendo que dest aque o branco. Recordem : o branco do hom em
que recom enda a inim izade com o negro se volt ará indevidam ent e apagado, insípido.
Quando alguém recom enda não m anifest ar a ira, seu perdão será im pot ent e. A
força do perdão se encont ra na ira; só o que pode t er ira t em a capacidade de perdoar.
quant o m ais feroz sej a a ira, m aj or será a grandeza de ânim o do perdão. Em ausência
da ira, o perdão parecerá com plet am ent e esvaído, absolut am ent e carent e de vida,
m ort o.
Se se dest ruir a sexualidade de um a pessoa ( e exist em m édios para dest ruir a
sexualidade) , ent ão, recordem : assim não se convert erá em um brahm acharya, em um a
pessoa cast a; convert erá- se, sim plesm ent e, em um a pessoa im pot ent e. E exist e um a
diferença fundam ent al ent re am bas as coisas. Exist em m édios para elim inar a
sexualidade, m as a pessoa não pode convert er- se em um brahm acharya a apóie de
elim inar o sexo: assim só pode volt ar- se im pot ent e. Transform ando o sexo, aceit ando- o,
dirigindo sua energia para um nível superior, podem os alcançar sem dúvida o
brahm acharya. Mas recordem que o brilho que vêem nos olhos de um brahm achari, de
um a pessoa cast a, é o brilho da energia sexual m esm a. A energia é a m esm a, m as se
t ransform ou.
O que quero dizer é que as coisas que cham am os opost as não são opost as: a vida
se rege por um a ordem m uit o m ist eriosa. Devem t er vist o um m ont ão de t ij olos ant e
um a casa em const rução. Todos os t ij olos são iguais. Mas quando o arquit et o, o
const rut or, const rói um arco para pôr um a port a na casa, dispõe os t ij olos est abelecendo
um a oposição. Os t ij olos são iguais, m as ao const ruir o arco os dispõe opondo- o- los uns
aos out ros para que se sust ent em ent re si. Não poderia const ruir o arco se com eçasse a
const ruir em um ext rem o para chegar ao out ro: o arco cairia im ediat am ent e.
Os t ij olos que se apóiam só em um lado do arco não t êm força; não se encont ram
com um a resist ência que os sust ent e. Sem pre que se produz um a resist ência, cria- se
um a força. Toda força surge da oposição; t oda energia se produz a part ir da resist ência.
Na vida, a criação da energia, da pot ência, apóia- se no princípio da polaridade. Todos os
t ij olos são iguais, m as se dispõem um a um est abelecendo um a oposição.
Deus, divino arquit et o da vida, é m uit o int eligent e. Sabe que a vida se esfriaria
im ediat am ent e, dissolveria- se em seguida, se os t ij olos não se dispor est abelecendo um a
oposição ent re uns e out ros. Por isso dispôs a ira frent e ao perdão, a sexualidade frent e
ao brahm acharya, e assim se cria um a energia, pela resist ência present e ent re os
t érm inos. E essa energia é a vida. dispôs os t ij olos do nascim ent o e da m ort e j unt os,
um frent e ao out ro, e assim se cria um a port a de acesso à vida que passa por m eio de
am bos. Há pessoas que dizem : “ Só aceit arem os o t ij olo da vida; não aceit arem os o
t ij olo da m ort e” . Est á bem . Com o querem . Mas se não aceit arem a m ort e, m orrerão
nesse m esm o inst ant e, porque ent ão t odos os t ij olos que ficam serão iguais. Só ficarão
os t ij olos da vida, e se derrubarão im ediat am ent e.
Est e engano se repet iu m uit as vezes, e, por isso, o hom em padeceu e est eve
angust iado há dez m il anos. em penha- se em colocar t odos os t ij olos por um lado; não
quer t ij olos no lado opost o. “ Elim inem a polaridade” , diz. “ Se acredit arem em Deus,
ent ão não acredit arem os em nada m ais. Ent ão não acredit arem os no sam sara, no
m undo t errest re. Se houver Deus, ent ão não há sam sara; ent ão não podem os aceit ar
não o m undo t em porário. Não podem os est ar na praça do m ercado, não podem os nos
ocupar de nossos negócios; com o acredit am em Deus, farem o- nos m onges e viverem os
no bosque” .
O hom em que diz ist o quereria criar seu m undo com os t ij olos de Deus.
I m aginam as conseqüências que t eria que, por engano, as pessoas seculares se
volt assem loucas e se fizessem m onges? Desde aquele m esm o dia, as coisas não
avançariam nem um cent ím et ro; desde aquele m esm o dia o m undo ficaria em ruínas.
Em realidade, o hom em que se feit o m onge não t em idéia de que est á
sobrevivendo, de que seu pé esquerdo avança porque alguém , um secular, leva um a loj a
ali no m ercado. Um pé est á sit uado ali; por isso t em liberdade de m ovim ent o o m onge.
O fôlego vit al m esm o do m onge procede do secular. O m onge se faz a ilusão de que vive
por si m esm o, m as a realidade é que se alim ent a exclusivam ent e do m undo t em porário.
Mas ele segue insult ando ao secular, segue dizendo: “ Renuncia ao m undo e t e faça
m onge” . Não se dá cont a de que assim se produziria um a sit uação de suicídio universal,
um a sit uação da que nem sequer ele poderia livrar- se: t am bém ele m orreria. Pensa em
ut ilizar t ij olos que est ariam t odos dispost os de um m esm o lado.
Tam bém há pessoas que dizem o cont rário. Dizem : “ Não há Deus; só exist e est e
m undo, e nada m ais. Só acredit am na m at éria” . E, com o só acredit am na m at éria,
t am bém eles t ent am criar um m undo próprio. Tam bém eles chegaram a aquele lugar
onde se produziria o suicídio universal. Pois se só exist e a m at éria e não há Deus, ent ão
desaparece t udo o que dá sabor à vida, o que dá encant o à vida, o que dá m ovim ent o à
vida, o que nos anim a a nos levant ar.
Se acredit ássem os que não há Deus, que não exist e m ais que a m at éria, o que
significado t eria a vida? Ent ão a vida se volt a com plet am ent e inút il. Por isso há no
Ocident e pessoas com o Alfaiat e, Cam us, Kafka e out ros que falam m uit o do absurdo.
Hoj e em dia, t odos os filósofos ocident ais dizem ao uníssono que a vida é absurda. O
que disse um a vez Shakespeare se t ornou relevant e de repent e, e os pensadores
ocident ais o est ão repet indo no cont ext o da vida m esm a: “ Um cont o cont ado por um
louco, cheio de ruído e fúria, que não significa nada” . Não pode haver nenhum
significado, nenhum sent ido, porque só j unt ast es t ij olos de m at éria, de nada m ais que
m at éria. É norm al que desapareça com plet am ent e o significado. Assim com o o m undo
perderia seu significado se só houvesse m onges, t am bém se perderia o significado se só
houvesse seculares.
É int eressant e ver que o secular sobrevive graças ao ascet a e que o ascet a
sobrevive graças ao secular, do m esm o m odo que o pé esquerdo depende do pé direit o e
o pé direit o depende do pé esquerdo. Est a dependência parece com prim eira vist a um a
cont radição, m as a um nível m ais profundo não o é. Am bos os pés form am part e de um
m esm o ser; alguém o m ant ém sit uado, o out ro o faz m over- se.
Ninguém pode conhecer t oda a verdade da vida sem t er com preendido
corret am ent e est a cont radição. A pessoa que, por sua oposição, em penha- se em lhe
t irar a m et ade ainda não alcançou a int eligência suficient e. Podem lhe t irar a m et ade,
cert am ent e, m as assim que acont eça isso m orrerá t am bém a out ra m et ade; pois,
indubit avelm ent e, a segunda m et ade recebeu sua energia vit al da prim eira m et ade, e de
nenhum a out ra part e.
ouvi cont ar o seguint e: duas m onges m ant inham um a discussão, que podia
result ar út il em um apuro. Seu am igo o out ro m onge est ava acost um ada opinar: “ Para
que necessit am os o dinheiro? Som os ascet as, para que necessit am os o dinheiro? Só os
seculares t êm dinheiro” . Am bos est avam acost um ados a propor diversos argum ent os a
favor de seus pont os de vist a respect ivos, e os argum ent os de am bos pareciam corret os.
O m aior m ist ério dest e universo é que podem os apresent ar um núm ero igual de
argum ent os a favor de qualquer dos t ij olos opost os que se ut ilizaram em sua criação, e a
discussão é int erm inável porque am bos os t ij olos se em pregam por igual. Qualquer pode
dizer: “ Olhem : o universo foi criado com m eus t ij olos” , enquant o que out ro pode alegar
em cont ra do prim eiro: “ Não, o universo est á feit o com m eus t ij olos” .
E a vida é t ão vast a que poucas pessoas evoluem o suficient e para ver que t oda a
est rut ura est á form ada de t ij olos que se opõem . Out ros só vêem os t ij olos que t êm ao
alcance da vist a. Dizem : “ Tem razão: o universo foi criado pelos sannyas. Tem razão:
Brahm an é a font e do universo. Tem razão, o universo é feit o de at m an” . Out ros dizem :
“ O universo é feit o de m at éria, é feit o de pó, nada m ais. Tudo acabará em pó: “ pó é e
em pó t e convert erá” . Est as pessoas t am pouco podem m ost rar m ais que t ij olos que
cont em plam desde seu pont o de vist a part icular. Em t odo est e assunt o não se im põe na
discussão nem o t eíst a nem o at eu; não sai vit orioso nem o m at erialist a nem o
espirit ualist a. Não podem . Suas afirm ações part em de um a visão dicot óm ica da vida.
De m odo que aqueles duas m onges m ant inham um a viva discussão. A gent e
sust ent ava que era necessário t er dinheiro, enquant o que o out ro não est ava de acordo
com isso. Um a t arde chegaram a um rio com m uit a pressa. Se fazia de noit e. Um dos
m onges se dirigiu ao barqueiro, que j á am arrava sua barco para ret irar- se, e lhe disse:
- Rogo- t e que não am arre ainda a barco: nos leve a out ra borda do rio. faz- se de
noit e e devem os passar ao out ro lado.
- Sint o- o –disse o barqueiro- : j á t erm inei por hoj e e agora t enho que volt ar para
m inha aldeia. Levarei- lhes a out ro lado am anhã pela m anhã.
- Não - disseram os m onges- , não podem os esperar at é m anhã. Nosso gurú, com
o que vivem os, que nos ensinou t udo o que é a vida, est á a pont o de m orrer. Conform e
dizem , não chegará a m anhã. Convocou- nos. Não podem os passar aqui a noit e.
- Est á bem –disse o barqueiro- . Levarei- lhes a out ro lado por cinco rupias.
O m onge que era part idário de levar dinheiro riu e, olhando ao out ro m onge,
disse- lhe:
- O que t e parece, m eu am igo? Levar dinheiro é inút il ou é út il?
O out ro m onge não fez m ais que rir. O prim eiro m onge pagou cinco rupias ao
barqueiro: t inha vencido. Quando chegaram à out ra borda, o prim eiro m onge disse de
novo:
- O que t em que dizer, m eu am igo? Se não t ivéssem os levado dinheiro, não
t eríam os podido cruzar o rio.
O segundo m onge riu a gargalhadas. Disse:
- Se cruzarm os o rio não foi porque você levasse dinheiro, m as sim porque foi
capaz de t e desprender dele! Pudem os cruzar o rio, não porque você t ivesse dinheiro,
m as sim porque podia solt á- lo.
Assim , a discussão seguia em pé. O segundo m onge acrescent ou:
- Eu sem pre hei dit o que um m onge deve t er o valor de solt ar o dinheiro.
Podíam os renunciar a ele: por isso pudem os cruzar o rio. Se t e t ivesse obst inado a ele,
se não o t ivesse solt o, com o t eríam os cruzado o rio?
O problem a seguia pendent e. O prim eiro m onge rio t am bém . Chegaram ant e seu
gurú. Pergunt aram - lhe:
- O que podem os fazer? Est a quest ão se t ornou m uit o problem át ica. O que
acont eceu hoj e ilust ra m uit o claram ent e nossas diferenças. Um de nós acredit a que
pudem os cruzar o rio porque levávam os dinheiro em cim a, e o out ro acredit a que
pudem os cruzá- lo porque o solt am os. Mant em o- nos firm es em nossas post uras, e
parece que am bos t em os razão.
O gurú riu a grandes gargalhadas.
- Est ão loucos os dois –disse- Est ão caindo na m esm a t olice em que t em cansado
a hum anidade há séculos.
- Que t olice é essa? –pergunt aram os m onges.
O gurú respondeu:
- Cada um de vós est á olhando um a part e da verdade. É verdade que só puderam
cont rat ar a barco e at ravessar o rio porque solt aram o dinheiro; m as t am bém é verdade
a out ra part e: puderam deixar seu dinheiro porque t inha dinheiro que deixar.
Nat uralm ent e, é verdade que puderam at ravessar o rio porque levava dinheiro em cim a.
Mas a out ra part e é igualm ent e cert a: se não t ivessem levado dinheiro, não t eriam
podido passar. Passaram o rio porque solt aram o dinheiro. Assim , am bas as coisas são
verdadeiras. Não há cont radição ent re am bas.
P
ERO NÓS CRI AMOS t ais dicot om ias a t odos os níveis de nossas vidas. E o que acredit a
em um a das duas part es é capaz de apresent ar um argum ent o convincent e para apoiá-
la. Não é difícil, pois, ao fim e ao cabo, cada pessoa cont a ao m enos com a m et ade da
vida para apoiar- se. Est á vivendo a m et ade de sua vida, o que não é pouco. É m ais que
suficient e para defendê- lo. Nada se poderá resolver base de discussões. Terá que
invest igar a vida, conhecê- la em sua t ot alidade.
É verdade que eu ensino a m ort e, m as isso não quer dizer que est ej a cont ra a
vida. O que quer dizer é que a m ort e é a port a de acesso ao conhecim ent o da vida, e
t am bém o reconhecim ent o da vida. O que quer dizer é que não vej o que a vida e a
m ort e sej am opost as ent re si. Posso cham á- lo “ art e de m orrer” ou posso cham á- lo “ art e
de viver” : am bos os t érm inos significam a m esm a coisa. Depende de com o o olhem os.
Podem m e pergunt ar: “ por que não o cham a “ art e de viver” ? Exist em m ot ivos para isso.
O prim eiro é que nos apegam os à vida em ext rem o. E est e apego se t ornou
m uit o desequilibrado. Tam bém posso cham á- lo “ art e de viver” , m as não quero cham á- lo
assim porque vós est ão m uit o apegados à vida. Se lhes dissesse: “ Devei aprendam a
art e de viver” , viria correndo porque quereria reforçar seu apego à vida. Eu o cham o
“ art e de m orrer” para que possam recuperar seu equilíbrio. Se aprenderem a m orrer,
ent ão t erão ant e vós a vida e a m ort e em condições de igualdade: convert erão- se em
seu pé esquerdo e em seu pé direit o. Ent ão alcançarão a vida definit iva. Em seu est ado
definit ivo, a vida não cont ém nem nascim ent o nem m ort e, m as t em duas pernas, às que
nós cham am os nascim ent o e m ort e.
Nat uralm ent e, se exist isse um a cidade cuj os habit ant es fossem uns suicidas, onde
ninguém queria viver, eu não iria ali a falar da art e de m orrer. Ali diria: “ Aprende da
art e de viver” . E assim com o eu lhes digo a vós: “ A m edit ação é a port a da vida” . Lhes
diria: ” Venham , aprendam a viver, pois enquant o não t enham aprendido a viver, não
saberão m orrer. Se querem m orrer; deixem que lhes ensine a viver, pois quando
t iverem aprendido a viver, t erão aprendido t am bém a m orrer” . Só ent ão irão para m im
os habit ant es dessa cidade. Sua cidade é exat am ent e ao reverso: vós são os habit ant es
de um a cidade onde ninguém quer m orrer, onde t odos querem viver, onde a gent e quer
aferrar- se à vida com t ant a força que a m ort e não lhes chegue nunca. Por isso est ou
obrigado a lhes falar da m ort e. Não é m inha coisa; se o cham ar “ art e de m orrer” é por
vós. Sem pre hei dit o o m esm o.

Ou
NA VEZ, O BUDA CHEGOU A UM POVO. Era a m adrugada, e o sol est ava a pont o de
aparecer pelo horizont e. Um hom em lhe aproxim ou e lhe disse:
- Sou at eu: não acredit o em Deus. Você o que opina? Exist e Deus?
O Buda respondeu:
- Só Deus é. Não há nada m ais que Deus em t odas part es.
- Mas m e haviam dit o que você foi at eu! - disse o hom em .
- Deveram - lhe inform ar m al –assegurou o Buda- .
Eu sou t eíst a. Agora o ouvist e que m inha própria boca. Sou o m aior t eíst a que
houve nunca. Deus é, e não há nada m ais que Deus.
O hom em ficou sob a árvore com um a sensação de desconfort o. O Buda seguiu
seu cam inho.
Ao m eio dia lhe aproxim ou out ro hom em e lhe disse:
- Sou t eíst a. Acredit o absolut am ent e em Deus. Sou inim igo dos at eus. vim a t e
pergunt ar o que opina da exist ência de Deus.
O Buda respondeu:
- Deus? Nem o há, nem o pode haver nunca. Não exist e Deus, absolut am ent e
O hom em não dava crédit o a seus ouvidos.
- O que est á dizendo? –exclam ou- . Ouvi dizer que t inha chegado ao povo um
hom em religioso e vem a lhe pergunt ar se exist ir Deus. E m e responde assim ?
- Eu, hom em religioso? –replicou o Buda- . Eu, crent e? Eu sou o m aior at eu que
houve nunca.
O hom em ficou com plet am ent e confundido. Nós podem os com preender a
confusão dest e hom em ; m as Ananda, discípulos do Buda, est ava t errivelm ent e int rigado,
pois t inha ouvido am bas as conversações. inquiet ou- se m uit o; não ent endia aquilo. o
da m anhã est ava bem , m as pela t arde t inha surt o um problem a.
- O que lhe passou à a Buda? –pergunt ava- se Ananda- Pela m anhã disse que era
o m aj or dos t eíst as, m as pela t arde há dit o que era o m aj or dos at eus.
Dedicou- se a int errogar à a Buda aquela noit e, quando est ivessem a sós. Mas
aquela noit e Ananda o esperava out ra surpresa.
Quando caiu a noit e se aproxim ou out ra pessoa à a Buda e lhe disse que não
sabia se Deus exist ia ou não. Aquele hom em devia ser um agnóst ico, um a pessoa que
diz que não sabe se exist ir Deus ou não; que ninguém sabe e que ninguém poderia sabê-
lo nunca. Disse- lhe, pois:
- Não sei se houver um Deus ou não. Você o que diz? O que crie?
O Buda respondeu:
- Se você não souber, eu t am pouco sei. E seria bom que os dois guardássem os
silêncio.
Quando est e hom em ouviu a respost a do Buda, t am bém ele ficou confuso. Disse-
lhe:
- Tinha ouvido dizer que est ava ilum inado; por isso acredit ava que saberia.
- devest e ouvir m al –disse o Buda- Eu sou um hom em absolut am ent e ignorant e.
Que conhecim ent o posso t er? Tent em lhes fazer cargo do que devia est ar passando.
Ananda. lhes ponha em seu lugar. Advert em sua dificuldade? Quando se fez de noit e e
t odos se part iram , t ocou os pés do Buda e lhe disse:
- É que quer m e m at ar? O que faz?
- Quase m orro! Nunca t inha est ado t ão alt erado e t ão inquiet o com o o est ive hoj e.
O que é isso que est ivest e dizendo t odo o dia? Est á em seu são j ulgam ent o? Est á
seguro de que sabe o que há dit o hoj e? Pela m anhã há dit o um a coisa, pela t arde há
dit o out ra e de noit e dest e um a respost a com plet am ent e dist int a à m esm a pergunt a.
O Buda disse:
- Essas respost as não eram para t i. Dava aquelas respost as a quem correspondia.
por que as escut ou? Parece- t e bem ouvir o que digo a out ros?
- I st o é o cúm ulo! - disse Ananda- . Com o podia deixar das ouvir? Eu est ava
present e, ali m esm o, e não t inha os t am pados ouvidos! E com o poderia acont ecer que
eu não queria t e ouvir falar? eu adoro t e ouvir falar, sem que m e im port e com quem
fale.
- Mas por que est á alt erado? –Disse o Buda- Minhas respost as não eram para t i!
- Pode que não fossem –disse Ananda- , m as eu m e encont ro ant e um dilem a.
Rogo- t e que m e responda agora m esm o: Qual é a verdade? por que dest e t rês
respost as diferent es?
Buda lhe explicou:
- Tinha que levá- los aos t rês a um pont o de equilíbrio. O hom em que veio pela
m anhã era at eu. Sendo só at eu est ava incom plet o, pois a vida se com põe de t érm inos
opost os.
Tenham ist o present e: a pessoa verdadeiram ent e religiosa é as duas coisas: at éia
por um a part e e crent e no divino por out ra part e. Sua vida cont ém am bos os aspect os,
m as ele harm oniza os dois t érm inos opost os. Nessa harm onia m esm a est á a religião. E
ao que só acredit a em Deus lhe falt a m at uridade religiosa. Ainda não alcançou um
equilíbrio em sua vida. Por isso, o Buda disse:
- Tinha que int roduzir equilíbrio em sua vida. t ornou- se m uit o pesado de um lado,
e por isso eu t ive que pôr algum as pedras no out ro pires da balança. Além disso,
t am bém quis desest abilizá- lo, pois se t inha convencido de algum j eit o de que não há
Deus. Era preciso fazê- lo t it ubear em seu convencim ent o, pois o que chega a um a
cert eza, m orre. A viagem deve prosseguir; a busca deve cont inuar.
que veio pela t arde era t eíst a. Eu t ive que lhe dizer que eu era at eu porque
t am bém ele se desfocou; t am bém ele t inha perdido o equilíbrio. A vida é um equilíbrio.
que alcança est e equilíbrio, alcança a verdade.

E
L MOTI VO PELO QUE LHES DI GO que devem aprender a art e de m orrer é que sua vida se
desfocou. Est ão colocados com m uit a solidez na balança da vida e, por isso, t udo se
convert eu em pedra. A vida se solidificou; perdeu- se o equilíbrio.
Adiant e: convidem t am bém à m ort e. lhe digam : “ Vêem e sei você t am bém m inha
convidada. Aloj arem o- nos j unt os” . O dia em que a vida acessa a viver com a m ort e,
t ransform a- se na vida suprem a. O dia que dam os a bem - vinda à m ort e, que a
abraçam os, que a est reit am os cont ra nós, t erm ina- se a quest ão! Esse dia desaparece o
aguilhão da m ort e. O aguilhão se encont rava em nossa fuga da m ort e, em nosso m eço a
ela. Quando um a pessoa se adiant a e abraça à m ort e, ent ão a m ort e perde, a m ort e é
vencida, porque o hom em que abraça à m ort e, volt a- se im ort al. Agora, a m ort e não lhe
pode fazer nada. O que pode lhe fazer a m ort e quando o hom em m esm o est á preparado
para desaparecer?
Exist em dois t ipos de pessoas: às prim eiras as busca a m ort e; as segundas
procuram à m ort e. A m ort e procura os que fogem dela. E out ros procuram à m ort e,
m as est a os foge const ant em ent e. Procuram à m ort e sem cessar, m as não a encont ram .
Que t ipo de pessoa vocês gost ariam de ser: a que foge da m ort e, ou a que a abraça? A
pessoa que foge a m ort e seguirá derrot ada; t oda sua vida será a larga hist ória de um a
derrot a. que abraça à m ort e t riunfará im ediat am ent e sobre ela; j á não exist irá a derrot a
em sua vida. Ent ão sua vida se convert e em um a viagem t riunfal.
Sim : eu ensino a art e m esm o de m orrer. Est ou- lhes ensinando a m orrer para que
possam alcançar a vida. Sabem um segredo? Quando um a pessoa aprende a viver às
escuras, quando aceit a a escuridão absolut a, a escuridão se convert e em luz para ele.
Sabem que quando um a pessoa t om a veneno com am or, com alegria, com o se t om asse
néct ar, o veneno se convert e em néct ar para ele? Se não souberem , devem descobri- lo.
Um a das verdades m ais profundas da vida é que quando um a pessoa aceit a o veneno
com am or, o veneno deixa de ser veneno para ele: convert e- se em néct ar. E quando
um a pessoa aceit ou a escuridão m esm a de t odo coração, descobre com assom bro que a
escuridão se convert eu em luz. E quando um a pessoa recebe a dor com os braços
abert os. Descobre que j á não há dor: para ele só fica felicidade.
Ao que aceit a sua est ado de agit ação e aceit a viver com ela lhe abrem de par em
par as port as da paz e da t ranqüilidade. I st o parece um a cont radição. Mas recordem
que o que diz que quer alcançar a paz nunca pode t er paz, porque dizer “ quero alcançar
a paz” é, em realidade, procurar a agit ação. O hom em j á é inquiet o de dele; m as ainda
exist em alguns que se criam um a nova inquiet ação dizendo: “ Querem os t er paz” .
Um a vez foi a ver- m e um hom em . Disse- m e:
- est ive no ashram da Ram ana, no Pondicherry, e no ashram da Ram akrishna:
t odos est ão cheios de hipocrisia. Ali não pude encont rar nada m ais que isso. Eu procuro
a paz e não a encont ro em nenhum a part e. Levo dois anos viaj ando em sua busca. Ouvi
falar de t i no Pondicherry. De ali vim diret am ent e a vert e. Quero a paz.
Eu lhe disse:
- Te levant e e part e agora m esm o por essa port a; do cont rário, t am bém poderão
dizer de m im que sou um hipócrit a.
- O que quer dizer? –pergunt ou- m e ele.
- Sim plesm ent e, que vá –disse eu- E não volt e a vist a nunca m ais para aqui.
Será m elhor que m e ponha a salvo ant es de que t am bém m e cham e hipócrit a .
- Mas eu vim a procurar a paz! –disse o hom em .
- Te perca de vist a: isso é t udo –disse eu- E vou pergunt ar t e um a coisa: a quem
pergunt ast e o m odo de sofrer? Que gurú t e iniciou na art e da agit ação? A que ashram
assist ist e para aprender a est ar inquiet o?
- Não fui a nenhum a part e –respondeu o hom em .
Ent ão eu lhe disse:
- É um suj eit o t ão preparado que at é sabe t e criar sua própria agit ação m ent al.
Ent ão o que fica que t e ensinar? seguist e um cam inho para criar sua agit ação: segue o
cam inho opost o e encont rará a paz. O que quer de m im ? Não diga a ninguém que
viest e para ver- m e, nem por equívoco. Eu não t enho nada que ver com o que t e passa!
- Rogo- t e que m e ensine o cam inho para encont rar a paz –disse o hom em .
- Est á procurando cam inhos para deixar de lhe agit ar –lhe disse- Só há um
cam inho para alcançar a paz: est at e em paz com a inquiet ação.
que aceit a a inquiet ação em sua t ot alidade, que lhe diz: “ Vêem , t e aloj e com igo.
Sei m inha hóspede nest a m esm a casa” , descobre de repent e que a inquiet ação o
abandonou. Com a m udança de nossa at it ude m ent al, a inquiet ação desaparece.
Quando a gent e aceit a at é a própria inquiet ação, sua m ent e se t ranqüiliza. Com o vai
durar a inquiet ação se a m ent e est á sint onizada com a paz?
Est a inquiet ação surge de um a at it ude de não aceit ação: inclusive da não
aceit ação da inquiet ação m esm a. que diz que não quer aceit ar a inquiet ação seguirá
inquiet o, pois essa m esm a não aceit ação é, em si m esm o, raspei- a do problem a.
Alguém diz: “ Não quero aceit ar a inquiet ação; não posso aceit ar o sofrim ent o; não posso
aceit ar a m ort e; não posso aceit ar a escuridão” . Muit o bem : que não as aceit e; m as
seguirá rodeado de t udo o que não quer aceit ar. Vej am , pelo cont rário, o que passa
quando aceit am , quando adm it em algo que ninguém m ais quer adm it ir. Descobrirão
com grande surpresa que o que t inha por inim igo se convert eu em seu am igo. Se
convidarem a seu inim igo a que sej a hóspede sua o que out ra coisa pode fazer a não ser
volt ar- se seu am igo?
Se t iver passado t rês dias com ent ando com vós est as quest ões foi porque vi que
t inham acudido aqui com o desej o de vencer à m ort e. Deviam acredit ar que lhes
ensinaria algum t ruque para não m orrer nunca.

Um am igo t em escrit o um a cart a em que diz: vais ensinar nos a rej uvenescer
nossos corpos? vais m ost rar nos algum m eio alquím ico para nos volt ar j ovens de novo?
Ent ão valeria a pena gast ar o dinheiro para ir ali.

Q
UI ZÁS TENHAM VI NDO VÓS t am bém com a m esm a idéia. Em t al caso, ficarão
desiludidos, pois aqui lhes est ou ensinando a art e de m orrer. Digo- lhes: Morram ! por
que fugir da m ort e? Aceit em ; lhe dêem a bem - vinda. E recordem que lhes est ou
ent regando a chave m esm a da vit ória sobre a m ort e. Por m uit o que lhes subm et am a
um processo de rej uvenescim ent o, ainda t erão que m orrer. É seguro que o corpo
m orrerá.
O rej uvenescim ent o só pode at rasar um pouco m ais a m ort e; é possível evit ar
assim a m ort e durant e um pouco m ais de t em po. Quão único supõe ist o é que seus
problem as se alargarão durant e um período m aior. Em vez de m orrer depois de set ent a
anos, poderia m orrer depois de set ecent os anos. Os sofrim ent os aos que de out ro m odo
poderia t er dado fim ao cabo de set ent a anos se alargariam durant e set ecent os anos. O
que esperavam ? Os m ales de set ent a anos durarão set ecent os anos. As disput as de
set ent a anos durarão at é os set ecent os anos. As disput as de set ent a anos se alargarão
durant e set ecent os anos: est enderão- se, m ult iplicadas, durant e t odo esse t em po. O que
out ra coisa esperavam que acont ecesse?
Possivelm ent e não lhes t enha ocorrido, m as se de verdade lhes encont rassem
com um a pessoa que lhes pudesse dar um a poção, lhes dizendo: “ Tom e ist o e viverá
set ecent os anos” , vós lhe diria: “ Espera um m om ent o: deixa que o pense” . Não acredit o
que nenhum de vós se t om asse um a poção que alargasse a vida at é os set ecent os anos.
O que quereria dizer ist o? Quereria dizer: “ Eu seguirei com o sou. Est e eu m esm o t erá
que viver set ecent os anos” . E isso result ará m uit o cust oso; t eria graves conseqüências.
Se os cient ist as descobrirem algum dia o m odo de dar ao hom em um a vida
infinit a ( e est e descobrim ent o não é im possível; não é m uit o difícil) , ent ão, recordem : a
gent e com eçará a busca um gurú que lhes ensine a m orrer rapidam ent e. Assim com o
agora a gent e procura gurús que sej am capazes de lhes rej uvenescer os corpos, a gent e
procurará ent ão a alguém que lhes ensine o segredo, a t écnica da m ort e, para que não
os possam liberar dela nem sequer os cient ist as. Tent arão defraudar ao Est ado livrando-
se da vida.
Não com preendem os que um a vida larga não t em sent ido. O sent ido da vida se
encont ra em sua int ensidade. Um a pessoa pode viver um só m om ent o de um a m aneira
t ot al, m ais que o que pode alcançar out ra em um a núm ero infinit o de vidas. É quest ão
de viver, e só a pessoa que não t em m edo à m ort e pode viver. Do cont rário, com o vai
viver? O m edo à m ort e faz t rem er ao hom em nunca est á quiet o; não deixa de correr.
advert ist es que no m undo aum ent a const ant em ent e a velocidade? Tudo é veloz.
O foguet e é m elhor que o carro de bois em cert o sent ido, pois o foguet e pode nos levar
m ais depressa aos sít ios; m as por que dar t ant a im port ância à velocidade?
Possivelm ent e não lhes t enham dado cont a disso, m as a busca da velocidade por part e
do hom em é um int ent o de fugir de onde est á. Onde est á, est á t ão assust ado, t em t ant o
m edo, que quer part ir. Parece- lhe que em qualquer out ra part e est aria m elhor que onde
est á.
Em t oda a Europa e na Am érica os fins de sem ana e as fest as se convert eram em
um a grande m olést ia. A gent e se cansa m ais nest es dias que em qualquer out ro. O que
querem é salt ar ao carro e part ir a t oda pressa: a cem quilôm et ros, a duzent os
quilôm et ros, a t rezent os quilôm et ros, para fugir a um a paragem t ranqüila, ao m ont e, a
um povo de m ont anha, à praia. O que os m ove a part ir t ão depressa é que out ros
t am bém correm , t am bém t êm pressa, e poderiam chegar ant es ao m esm o sít io. Se lhes
pergunt a onde querem ir, não sabem . Mas um a coisa é segura: querem afast ar do lugar
onde est ão; querem afast ar- se de sua casa, de sua m ulher, de seu t rabalho.
O hom em é incapaz de viver, por isso corre t ant o de um lado a out ro. Quer t er
veículos cada vez m ais pot ent es para correr m ais. lhe pergunt em onde vai, onde quer ir,
e lhes responderá: “ Não lhe posso dizer isso agora m esm o, não t enho t em po. Tenho que
chegar logo… t em os que chegar à Lua; t em os que chegar a Mart e” . Passam os correndo
t oda nossa vida. Do que fugim os? O que t em os, por um a part e, ser incapazes de viver
plenam ent e; e, por out ra part e, o m edo à m ort e é im inent e, est á present e? Am bas as
coisas est ão conect adas ent re si. O hom em que t em m edo à m ort e não será capaz de
viver sua vida: seguirá com o t em or à m ort e. Ent ão que solução há?
Pergunt am - m e: “ Que solução há? Que rem édio t em os?” Eu lhes digo: aceit em a
m ort e. Convidem à m ort e e digam : “ Adiant e, preocuparei- m e da vida m ais t arde: vêem
você prim eiro. Deixa que t erm ine cont igo prim eiro para que possa deixar resolvida a
quest ão de um a vez por t odas. Depois viverei a gost o. Prim eiro vou ocupar m e de t i, e
depois m e assent ará a viver com odam ent e” . A m edit ação é o m eio para aceit ar a m ort e
com est a at it ude. A m edit ação é o m eio, a m edit ação é a solução que perm it e t ransm it ir
à m ort e t al convit e. que aceit a a m ort e dest e m odo se det ém im ediat am ent e. Sua
velocidade desaparece.
Observast e- lo algum a vez? Quando est ão zangados e vão em biciclet a, pedalam
m ais depressa. Quando est ão zangados e conduzem um aut om óvel, pisam m ais o
acelerador. Os psicólogos dizem que os acident e de aut om óvel não se devem ao m al
est ado das est radas a não ser à pessoa que pisa no acelerador: algo anda m al nessa
pessoa. Tem os dent es apert ados com ira e est á pisando m ais o acelerador, e de algum
j eit o desej a t er um acident e. Est á cheio do desej o de se chocar com algo. A vida lhe
parece t ão m onót ona e t ão inút il que quer lhe dar um pouco de em oção, um pouco de
variedade, em bora só sej a chocando- se com algo, a falt a de out ra coisa. Acredit a que
isso o em ocionará, fará- lhe sent ir- se bem . Parece- lhe que t erá a sat isfação de saber que
em sua vida acont eceu algo, que est eve t ot alm ent e vazia.
Na Europa e na Am érica m uit os crim inosos declararam ant e os t ribunais que não
t inham nada cont ra a pessoa a que m at aram : quão único queriam era ver seus nom es
em let ras de m olde, e aquela era a única m aneira a seu alcance. O nom e de um a boa
pessoa não aparece nunca nos periódicos: ali só lerão os nom es dos assassinos e dos
crim inosos. Exist em dois t ipos de assassinos: os que com et em um único assassinat o por
causas pessoais e os que com et em assassinat os colet ivos, os polít icos. Só os nom es
dest es aparecem nos periódicos; out ros é com o se não exist issem . Em bora sej am bons
cidadãos, seu nom e não figurará nos periódicos; m as se derem um a punhalada a um a
pessoa, sairão nos t it ulares.
Um crim inoso confessa ant e o t ribunal: “ Não t inha nenhum a inim izade cont ra
aquela pessoa: não t inha vist o nunca a aquele hom em . Só lhe vi as cost as e lhe cravei
um a faca. Quando brot ou o sangue da vít im a, eu sent i a sat isfação de que por fim t inha
feit o algo do que falaria a gent e. De que m inha vida não t inha passado em vão. O caso
aparece em t odos os periódicos. Os t ribunais, os j uizes e os advogados im port ant es
vest idos com t ogas negras discut em m eu caso com t oda seriedade. Quando vej o t udo
ist o, parece- m e que t am bém eu t enho feit o algo, que não sou um a pessoa corrent e” .
A pessoa que foge a m ort e, t em ent e a m ort e, ficou- se t ão frust rada, t ão t rist e e
aborrecida, que est á dispost a a fazer algo. Mas o único que não faz é dar a bem - vinda à
m ort e. Assim que um a pessoa dá a bem - vinda à m ort e, assim que aceit a a m ort e, abre-
se em sua vida um a port a nova, um a port a que o conduz at é o divino.
No ext erior do t em plo de Deus est á escrit a a palavra “ Morram ” , enquant o que
dent ro t ransborda o rio da vida. A gent e vê o let reiro que diz: “ Morram ” e volt a at rás.
Ninguém ent ra. É um a idéia m uit o boa, um a idéia m uit o int eligent e; do cont rário,
haveria um a m ult idão fora e seria difícil viver. Por isso, no ext erior do t em plo da vida há
um let reiro que diz “ Morra” . Os que se assust am ao vê- lo, fogem . Por isso lhes hei dit o
que t erá que aprender a m orrer.
O m aior secret o da vida é aprender a m orrer, aprender a aceit ar a m ort e. Deixem
que m ora o passado t odos os dias. Morram os t odos os dias. Não est am os deixando que
m ora o passado de ont em . O hom em de set ent a anos m ant ém vivos as lem branças
felizes de sua infância. Sua infância não m orreu ainda. O hom em ainda conserva o
desej o de ret ornar a sua infância. É t ão velho que não pode m over- se, que est á
acam ado, m as sua j uvent ude não m orreu ainda. Ainda pensa nas m esm as coisas. As
im agens se seguem m ovendo ant e seus olhos. Nunca aprovisionam os o valor de m orrer,
nunca deixam os que m ora nada, e, em conseqüência, t udo se am ont oa. Não deixam os o
m ort o por m ort o; pelo cont rário, acum ulam o- lo com o um a carga pesada, e ent ão result a
im possível viver sob seu peso. assim , um a das chaves da art e de m orrer é est a: deixem
o m ort o por m ort o.
Um a vez que Jesus passava j unt o a um lago acont eceu um incident e m aravilhoso.
Era de m adrugada. O sol est ava a pont o de sair e o horizont e acabava de averm elhar-
se. Um pescador t inha arroj ado sua rede ao lago para pescar. Quando com eçou a t irar
a rede, Jesus pôs sua m ão no om bro do pescador e lhe disse:
- Meu am igo, quer passar t oda a vida pescando peixes?
O pescador j á se expôs est a quest ão m uit as vezes. Há alguém que não a
exponha? Nat uralm ent e, os peixes podem ser dist int os, a rede pode ser dist int a, o lago
pode ser dist int o, m as de t odas m aneiras se expõe a pergunt a: “ Tenho que passar t oda
m inha vida pescando peixes?
O pescador se deu a volt a para ver quem era o hom em que o fazia a m esm a
pergunt a que ele se expôs. Olhou ao Jesus. Viu seus olhos serenos e alegres, sua
personalidade. Disse- lhe:
- Não t enho out ra possibilidade. No que out ra part e poderei encont rar um lago?
No que out ra part e poderei encont rar peixes e arroj ar a rede para pescá- los? Eu
t am bém m e pergunt o se seguirei pescando peixes o rest o de m inha vida.
Ent ão disse Jesus:
- Eu t am bém sou pescador, m as arroj o m inha rede em out ro m ar. Vêem , m e siga
se quiser; m as recorda: só o hom em que t em valor para renunciar a sua rede velha pode
arroj ar um a rede nova. Deixa at rás a rede velha.
O pescador devia ser hom em valoroso. Há m uit o pouca gent e valorosa com o ele.
Deixou ali m esm o sua rede cheia de peixes. Deveu lhe passar pela m ent e o desej o de
recolher, ao m enos, a rede que j á t inha enche, m as Jesus lhe disse:
- Só podem arroj ar sua rede ao novo m ar os que t êm valor para deixar at rás a
rede velha. Deixem a rede ali m esm o.
O pescador deixou sua rede e lhe pergunt ou:
- Me diga onde devo ir?
Parece hom em valent e! - disse Jesus- Tem capacidade para chegar a algum a
part e. Vêem com igo!
Quando se aproxim aram dos subúrbios do povo, chegou ant e eles um hom em que
corria. Est e det eve o pescador e lhe disse:
- Onde vai, louco? Seu pai, que est ava doent e m orreu. Onde est ava? Fom os t e
buscar ao lago e ali encont ram os sua rede. Onde vai?
O pescador disse:
- Rogo- t e que m e conceda alguns dias para ent errar a m eu pai e celebrar seu
funeral. Depois volt arei para seu lado.
As palavras que respondeu Jesus ao pescador são enorm em ent e m aravilhosas.
Disse- lhe:
- Néscio, deixa que os m ort os ent errem aos m ort os! Que necessidade t em que
vá? Vêem . m e siga. que m orreu j á est á m ort o; por que incom odar- se sequer em
ent errá- lo? Não são m ais que t ruques para m ant ê- lo vivo. que j á m orreu, m orreu para
sem pre. E há m uit os m ort os no povo. Eles ent errarão ao m ort o. Você vêem com igo.
O pescador duvidou um m om ent o. Observando- o, Jesus lhe disse:
- Possivelm ent e t e j ulguei m al quando acredit ei que foi capaz de deixar sua rede
velha.
O pescador se det eve um m om ent o e, depois, seguiu ao Jesus. Jesus disse:
- É hom em valent e. Se for capaz de deixar at rás aos m ort os, pode alcançar
verdadeiram ent e a vida.

E
N REALI DADE, DEVE SOLTAR- SE TUDO o que m orreu no passado.
Sent am - lhes em m edit ação, m as sem pre vêm logo a m e dizer que nunca dá result ado,
que lhes seguem chegando pensam ent os. Os pensam ent os não chegam assim ; a
quest ão é: chegast es a deixá- los? Sem pre seguem obst inados a eles, com o lhes j ogar a
culpa ?Se um hom em t iver um cão, dá- lhe de com er, t em - no pacot e em sua casa, e de
repent e um dia o solt a, j oga- o à rua, e o pobre cão volt a um a e out ra vez ao hom em ,
t eria a culpa o cão?
Todos est es dias dest es que com er ao cão, acariciast e- lo, dest e- lhe carinho,
j ogast es com ele, pusest e- lhe um colar ao pescoço, t ivest e- lo em sua casa. E de repent e
decidem m edit ar e dizem ao cão que se largue. Com o pode ser? O pobre cão não t em
idéia do que lhes passou que um a m aneira t ão repent ina, de m odo que se dá algum as
volt as e volt a para vós. Acredit a que possivelm ent e est ej am j ogando com ele; por isso,
quant o m ais insist em em j ogá- lo, m ais brincalhão se volt a, m ais volt a para vós. Parece-
lhe que est á acont ecendo algo novo, que possivelm ent e o am o est ej a de bom hum or, e
por isso se int eressa cada vez m ais pelo j ogo.
Vêm a m e dizer que os pensam ent os não lhes deixam . Com o vão deixar lhes?
Alim ent ast e- los que seu próprio sangue. At ast e- los a vós m esm os; pusest e- lhes um
colar ao pescoço, com seu nom e. Digam a alguém que o que pensa est á equivocado:
salt ará cont ra vós, dizendo: “ O que quer dizer?, o que o que penso est á equivocado?
Meus pensam ent os não podem est ar equivocados nunca! ” De m odo que o pensam ent o,
que leva um colar com seu nom e, volt a para vós. Com o vai ou sej a seu pensam ent o que
est ão m edit ando? Dizem a seu pensam ent o: “ Fora daqui! Com prido! ” Mas o
pensam ent o não se vai de qualquer j eit o.
Alim ent am os aos pensam ent os. Alim ent am os os pensam ent os do passado,
at am o- los a nós m esm os. Mas um dia, de repent e, querem que lhes deixem . Não lhes
deixarão em um só dia. Terão que deixar de lhes dar de com er, t erão que deixar de
cuidá- los.
Recordem : se querem deixar os pensam ent os, deixem de dizer: “ Meus
pensam ent os” . Com o poderão deixar algo que consideram seu? Se querem lhes t irar de
cim a os pensam ent os, deixem de lhes int eressar por eles. Com o vão part ir a não ser
que deixem de int eressados por eles? De out ro m odo, com o vão ou sej a que vós
t rocast es, que j á não lhes int eressam ?
Tudas nossas lem branças do passado são pensam ent os. Est am o- nos aferrando a
t oda um a rede deles. Não lhes perm it im os m orrer.
Deixem m orrer seus pensam ent os. Deixem m ort o o que est á m ort o: não t ent em
m ant ê- lo vivo. Mas o est am os m ant endo vivo…
Tam bém ist o form a part e da art e de m orrer. Mant enham t am bém present e est a
chave: se querem aprender a art e de m orrer, deixem o m ort o por m ort o. Nem sequer
faz falt a que o conservem em sua m em ória. lhe digam adeus, deixem part ir. Ont em
t erm inou ont em , agora j á não exist e; m as, apesar disso, m ant ém sua presa sobre nós.
Há out ra pequena pergunt a. Um am igo pergunt ou: O que é um a m ent e cheia de
ilusões? O que é um a m ent e m uit o confusa? O que é a claridade m ent al?

D
EBEMOS COMPREENDER I STO, pois será út il para a m edit ação, assim para aprender a
art e de m orrer. form ulou um a pergunt a m uit o significat iva. Pergunt a: “ O que é um a
m ent e confusa?” Mas aqui com et em os um engano: Dizem os “ m ent e agit ada” . Aqui se
encont ra o engano. Qual é o engano? O engano é que est am os ut ilizando duas palavras
( “ m ent e” e “ confusa” ) , e a verdade da quest ão é que não exist e a m ent e confusa. Em
realidade, o est ado m esm o de confusão é a m ent e. Não exist e um a m ent e confusa. A
m ent e é confusão.
Não se t rat a de que a m ent e possa t ranqüilizar- se: a m ent e é, em si m esm o, a
int ranqüilidade. E quando não há confusão, não se t rat a de que a m ent e se t ranqüilizou:
é que a m ent e desapareceu.
I m aginar, por exem plo, que há um a t orm ent a no m ar, que o m ar est á agit ado.
Diria que se t rat a de “ um a t orm ent a agit ada” ? Diria alguém que é “ um a t orm ent a
agit ada” ? Lhes lim it aria a dizer que é um a t orm ent a, pois, “ t orm ent a” j á é, de dele,
sinônim o de “ agit ação” . E quando se sossega a t orm ent a, dizem que a t orm ent a se ficou
t ranqüila? Quão único dizem é que a t orm ent a j á não exist e!
Para com preender a m ent e, recordem t am bém que “ m ent e” não é m ais que um
sinônim o de “ confusão” . Quando se faz a paz, não é que a m ent e se ficou em paz, a não
ser, m as bem , que a m ent e j á não exist e absolut am ent e. Aparece um est ado de no-
m ent e. E quando j á não exist e a m ent e, ent ão o que fica cham a at m an. O m ar exist e
m esm o que não há t orm ent a. Quando desaparece a t orm ent a, fica o m ar. Quando a
m ent e confusa deixa de exist ir, o que fica é o at m an, a consciência.
A m ent e não é um a coisa, não é m ais que um est ado de confusão, um a est ado de
desordem . A m ent e não é um a faculdade, não é um a subst ância. O corpo é um a coisa,
o at m an é out ra coisa, e a falt a de paz ent re am bos se cham a m ent e. Em est ado de paz
fica o corpo, fica o at m an, m as j á não há m ent e.
Não exist e um a m ent e t ranqüila. t rat a- se de um engano de expressão, devido à
língua que nos criam os. Falam os de “ um corpo doent e” , de “ um corpo são” . I st o é
corret o. Exist em corpos doent es, claro est á, e t am bém exist em corpos sãs. Ao
desaparecer a enferm idade, fica um corpo são. Mas não é assim no caso da m ent e. Não
exist e “ um a m ent e sã” e “ um a m ent e doent e” . A m ent e é, por si m esm o, doent e. Sua
m esm o ser é a confusão. Seu m esm o ser é insalubre. Sua m esm o ser é um a
enferm idade.
Não pergunt em , pois, com o podem liberar à m ent e da confusão, pois, com o
podem lhes liberar dest a m ent e? Pergunt em com o pode m orrer est a m ent e. Pergunt em
com o podem elim inar est a m ent e. Pergunt em o que podem fazer para que a m ent e
deixe de exist ir.
A m edit ação é um m eio para acabar com a m ent e, para despedir- se da m ent e. A
m edit ação significa sair da m ent e. A m edit ação significa apart ar- se da m ent e. A
m edit ação significa a cessação da m ent e. A m edit ação significa apart ar- se de onde reina
a confusão. Ao nos apart ar da confusão, a confusão se aquiet a, pois o que a cria é
nossa própria presença. Se nos apart arm os, deixa de exist ir.
Suponham os, por exem plo, que duas pessoas t êm um a briga. Você viest e a
brigar com igo e est am os brigados. Se eu m e apart ar, com o poderia cont inuar a briga?
Cessaria, pois só pode cont inuar se eu part icipar dela. Vivem os em um plano m ent al;
est am os pressent em ali onde reina a desordem , onde se produzem as agit ações. Não
querem os nos apart ar dali, m as querem os levar ali a paz. Ali não pode haver paz.
Tenham a bondade de lhes apart ar: isso é t udo.
Assim que lhes apart em , a agit ação cessará. A m edit ação não é um a t écnica que
sirva para levar a paz a sua m ent e; é, m as bem , um a t écnica para lhes apart ar da
m ent e. A m edit ação é um m eio para fugir, para lhes afast ar das ondas da confusão.
Out ro am igo form ulou um a pergunt a relacionada com a ant erior. Tam bém seria
bom ent ender ist o. pergunt ou: Que diferença há ent re est ar em m edit ação e prat icar a
m edit ação?

E
S A MESMA DI FERENÇA que j á lhes est ou explicando. Se um a pessoa est á prat icando a
m edit ação, est á t ent ando apaziguar um a m ent e confusa. O que fará? Tent ará
t ranqüilizar sua m ent e. Quando um a pessoa est á em est ado de m edit ação, não est á
t ent ando t ranqüilizar sua m ent e, m as bem , est á apart ando- se dela.
Se o sol apert ar m uit o, se for insuport ável, podem ver que um hom em abre sua
som brinha; e as som brinhas se podem abrir ao sol e a gent e pode refugiar- se em sua
som bra ou sob qualquer out ra som bra para prot eger- se. Mas não é possível abrir um a
som brinha dent ro da m ent e. O único am paro possível seria um pensam ent o, e est es não
t rocam nada. Seria com o se um hom em t ent asse perm anecer sob o sol com os olhos
fechados pensando que t em um a som brinha sobre a cabeça e que não sent e calor. Mas
t erá que sent ir calor. O hom em t ent a fazer algo, t ent a refrescar o sol. Tent a “ prat icar”
a m edit ação. Mas há out ro hom em que, quando faz sol, lim it a- se a levant ar- se, a
passear- se por sua casa e a relaxar- se. Não se esforça por refrescar o sol: lim it a- se a
apart ar do sol.
Prat icar a m edit ação significa fazer um esforço, um esforço por t rocar a m ent e. E
est ar em m edit ação significa não fazer nenhum esforço por t rocar a m ent e, a não ser
passar dent ro em silêncio.
Devem t er em cont a a diferença ent re am bas as coisas. Se fizer um esforço por
m edit ar, a m edit ação não se produzirá algum a vez. Se t ent am fazer um esforço lhes
forçam , decidem - lhes a acalm ar sua m ent e acont eça o que acont ecer, não dará
result ado, pois, ao fim e ao cabo, quem est ará fazendo t udo ist o? Quem est ará dando
essas am ost ras de decisão? Quem , a não ser vós?
Já est ão confusos, inquiet os do prim eiro m om ent o. Tent am lhes acalm ar: ist o
significa que lhes buscam um novo problem a. Est ão sent ados em t ensão, dispost os,
esquecendo- o t udo. quant o m ais rígidos lhes põem , quant as m ais dificuldades lhes
encont ram , m ais t ensos ficam . Est e não é o cam inho. Eu lhes peço que m edit em
porque a m edit ação é relaxação. Não t êm que fazer nada: sim plesm ent e, lhes relaxar.
Procurem ent endê- lo. m e deixem que lhes explique isso um pouco m elhor com
um pequeno exem plo. Ut ilizem com o crit ério últ im o. Um hom em nada no rio. Diz que
quer alcançar a out ra borda. A corrent e do rio é fort e e ele agit a os braços e as pernas
t ent ando avançar a nado. cansa- se, fat iga- se, est á esgot ado, m as segue nadando. Est e
hom em se est á esforçando. Nadar é um esforço para ele. Prat icar a m edit ação t am bém
é um esforço. Mas há out ro hom em . Em lugar de nadar, est e se lim it a a flut uar. deixa-
se levar pelo rio. Não agit a os braços nem as pernas; sim plesm ent e, deit a- se no rio. O
rio flui, e ele t am bém flui. Não nada absolut am ent e, só flut ua. Não faz falt a nenhum
esforço para flut uar; flut uar é um “ não- esforço” .
A m edit ação da que eu falo é com o flut uar, não é com o nadar. Observem a um
hom em que nada e a um a folha que flut ua no rio. O prazer e a alegria da folha que frot a
não são dest e m undo. Para a folha não há problem as, nem obst áculos, nem disput as
nem m olést ias. A folha é m uit o sábia. E no que se aprecia sua sabedoria? A folha é
sábia porque t em feit o do rio sua barco e agora navega sobre ele. A folha est á
preparada e dispost a a ir ali onde queira levá- la o rio. Assim , a folha dobrou a força do
rio. O rio não pode lhe fazer danifico porque a folha não lut a cont ra o rio. A folha não
quer oferecer nenhum a resist ência; lim it a- se a flut uar.
Assim , a folha t em um a conform idade com plet a. por que? Porque agora procura
est ar conform e com o rio; lim it a- se a flut uar: isso é t udo. Que o rio a leve onde queira:
assim sej a. Tenham present e, pois, à folha que frot a. Podem flut uar assim vós no rio da
vida? Não deverão pensar sequer em nadar, nem sequer t er a sensação de que nadam ;
a m ent e não deve exist ir para nada.
observast es que um hom em vivo se pode afogar em um rio enquant o que um
m ort o flut ua sobre a superfície? Ou pergunt ast es algum a vez no que consist e ist o? O
hom em vivo se afoga, m as o m ort o não se afunda nunca. Sobe à superfície
im ediat am ent e. Qual é a diferença? O m ort o chega a um est ado de não- esforço. O
corpo m ort o não faz nada; não poderia fazê- lo em bora quisesse. O corpo sobe à
superfície e frot a. O hom em vivo se pode afogar porque o hom em vivo faz um esforço
por m ant er- se vivo. Ao t ent á- lo, cansa- se, e quando se cansa se afoga. É seu lut a o
que o afoga, e não o rio. O rio não pode afogar ao hom em m ort o porque est e não lut a.
Com o não lut a, é im possível que fique sem forças. O rio não pode lhe fazer danifico. Por
isso frot a no rio.
A m edit ação da que lhes falo é sem elhant e a flut uar; não é sem elhant e a nadar.
Têm que flut uar, sim plesm ent e. Quando lhes digo que relaxem o corpo, quero dizer que
t êm que deixar que o corpo flut ue. Ent ão não m ant êm nenhum a suj eição sobre o corpo;
por conseguint e, não lhes at am à borda do corpo: solt am - no, flut uam . Quando lhes digo
que solt em t am bém a respiração, não lhes aferrem à beira da respiração. Deixem
t am bém , flut uem com ela t am bém . port ant o, onde irem os? Se solt arem o corpo,
passarão dent ro; se lhes aferrarem ao corpo, sairão.
Com o pode um ent rar no rio se se aferrar à borda? Só poderá volt ar para a
borda. Se a gent e deixar a borda, ent rará diret am ent e no rio. assim , dent ro de nós flui
um a corrent e de consciência divina, m as nos est am os aferrando à borda, à borda do
corpo.
Solt em . Solt em t am bém a respiração. Solt em t am bém os pensam ent os. Assim
deixarão at rás t odas as bordas. Onde irão? Com eçarão a flut uar em quão corrent e flui
dent ro. que se deixa flut uar nessa corrent e chega ao m ar.
A corrent e int erior é com o um rio, e o que se deixa flut uar nela chega ao m ar. A
m edit ação é com o flut uar. que aprende a flut uar alcança o divino. Não nadem : que
nada se perderá. que nada conseguirá, com o m áxim o, deixar est a borda e chegar à
out ra. O que out ra coisa pode fazer? Que m ais pode conseguir um nadador? I rá de
um a borda à out ra. Est a borda lhes perm it e sair do rio, com o a out ra. Um a pessoa
pobre, depois de m uit o nadar, pode chegar a fazer- se rica, com o m uit o, e nada m ais.
depois de nadar m uit o, um hom em que se sint a em um a cadeira pequena pode chegar a
sent ar- se em um a polt rona do Delhi, acaso pode conseguir algo m ais?
Est a borda do rio lhes perm it e sair do rio, igual à out ra. A borda da Dwarka est á
t ão se separada do rio com o a do Delhi: não há nenhum a diferença. O nadador só pode
alcançar a borda. Mas e o que frot a? Nenhum a borda pode det er o que frot a, porque se
deixou levar pela corrent e. A corrent e o levará. Levará- o e o fará chegar ao m ar, com
t oda segurança.
A m ent e m esm a é chegar ao m ar: o rio se convert e no m ar e a consciência
individual se convert e no divino. Quando se perde um a got a no largo m ar, alcança- se o
significado absolut o da vida, a felicidade suprem a da vida, a beleza m áxim a da vida.
O definit ivo é ist o: a art e de m orrer é com o a art e de flut uar. que est á preparado
para m orrer não nada nunca. Diz. “ m e leve onde queira. Est ou preparado! ” .
Todo aquilo do que falei nest es quat ro dias est eve relacionado com ist o. Mas
alguns am igos acredit aram que eu m e lim it ava a responder a pergunt as. Têm - m e
escrit o um a e out ra vez: “ Rogam o- lhe que diga algo por t i m esm o. Não t e lim it e a
responder a pergunt as” . Com o se fora out ro o que dava as respost as!
O problem a é que se volt am m ais im port ant es os cabides que as roupas que
penduram delas. O que dizem é: “ nos m ost re as roupas. por que t e incom oda em
pendurar as de cabides?” . Mas, em t odo caso, o que é o que est ou pendurando dos
cabides? O que eu t enha que dizer o pendurarei dos cabides de suas pergunt as. Mas
assim são nossas m ent es.

H
E OUVI DO CONTAR O SEGUI NTE:
Havia um circo cuj o propriet ário est ava acost um ado a dar aos m acacos quat ro plát anos
pela m anhã e t rês pela t arde. Um a m anhã acont eceu que não havia m uit os plát anos no
m ercado, de m odo que lhes deu t rês plát anos. Os m acacos de declararam em greve.
Disseram :
- I st o não pode ser! Querem os quat ro plát anos pela m anhã.
- Darei- lhes quat ro pela t arde –disse o propriet ário- ; t om em t rês agora.
Os m acacos insist iram :
- I st o não t inha acont ecido nunca. Sem pre t ínham os recebido quat ro plát anos
pela m anhã. Querem os quat ro plát anos agora m esm o!
- Tornast e- lhes loucos? - disse o propriet ário- De t odas m aneiras, receberão set e
plát anos em t ot al.
- Não nos int eressam suas cont as –insist iram os m acacos- O único que nos
im port a é que recebem os quat ro plát anos t odas as m anhãs. Querem os quat ro plát anos
agora m esm o!

L
VOS AMI GOS ME ESCREVEM CONSTANTEMENTE: “ Rogam o- lhe que diga algo por t i
m esm o. Não t e lim it e a responder às pergunt as” . E falarei, m as a quest ão é do que
falarei? As pergunt as m e servem unicam ent e de cabides; penduro delas o que t enho
que dizer. Posso falar ou posso responder às pergunt as. Que diferença há? Quem
falará? Mas lhes parece que devo dizer m inhas próprias coisas, porque sem pre
receberam quat ro plát anos pela m anhã
Em cada ret iro de m edit ação est ava acost um ada falar quat ro discursos e quat ro
sessões de pergunt as e respost as. Est a vez acont eceu que vós convert est es t odas as
reuniões em sessões de pergunt as e respost as. Mas ist o não t roca nada. Tenham
present e a cont a dos set e plát anos. Som em . Não faz falt a cont ar um a um , que haj a
quat ro pela m anhã e t rês de noit e ou ao cont rário. Eu lhes dei os set e plát anos. Se lhes
fizerem um a confusão com a cont a, podem passar por cim a o im port ant e. Por isso hei
dit o ao final que set e plát anos. Hei dit o t udo o que t inha que dizer.

O a u t or

L
A MAI ORI A DE NÓS vivem os nossas vidas no m undo do t em po, ent re lem branças do
passado e esperanças do fut uro. Só est ranha vez t ocam os a dim ensão int em poral do
present e, em m om ent os de beleza repent ina, ou de perigo repent ino, ao nos encont rar
com um a pessoa am ada ou com a surpresa do inesperado. Muit o poucas pessoas saem
do m undo do t em po e da m ent e, de suas am bições e de sua com pet it ividade, e ficam a
viver no m undo do int em poral. E m uit o poucas das que assim o fazem t ent aram
com part ilhar sua experiência com out ros. A Tse, Gaut am a Buda, Bodhidharm a… ou,
m ais recent em ent e, George Gurdj ieff, Ram ana Maharshi, J. Krishnam urt i: seus
cont em porâneos t om am por excênt ricos ou por loucos; depois de sua m ort e, cham am -
nos “ filósofos” . E com o t em po se fazem legendários: deixam de ser seres hum anos de
carne e osso para convert er- se possivelm ent e em represent ações m it ológicas de nosso
desej o colet ivo de nos desenvolver deixando at rás as coisas pequenas e o anedót ico, o
absurdo de nossas vidas diárias.
Osho t em descobert o a port a que lhe deu acesso a viver sua vida na dim ensão
int em poral do present e ( há dit o que é “ um exist encialist a verdadeiro” ) , e dedicou sua
vida a incit ar a out ros a que encont rem est a m esm a port a, a que saiam dest e m undo do
passado e do fut uro e a que descubram por si m esm os o m undo da et ernidade.
Osho nasceu na Kuchwada, Madhya Pradesh, na Í ndia, em 11 de dezem bro de
1931. Desde sua prim eira infância, o seu foi um espírit o rebelde e independent e que
insist iu em conhecer a verdade por si m esm o em vez de adquirir o conhecim ent o e as
crenças que lhe t ransm it iam out ros.
depois de sua ilum inação aos vint e e um anos de idade. Osho t erm inou seus
est udos acadêm icos e passou vários anos ensinando filosofia na Universidade do
Jabalpur. Ao m esm o t em po, viaj ava por t oda a Í ndia pronunciando conferências,
desafiando aos líderes religiosos a m ant er debat es públicos, discut indo as crenças
t radicionais e conhecendo pessoas de t odas as classes sociais. Lia m uit o, t udo o que
chegava a suas m ãos, para am pliar sua com preensão dos sist em as de crenças e da
psicologia do hom em cont em porâneo. A finais da década dos 60, Osho t inha com eçado a
desenvolver suas t écnicas singulares de m edit ação dinâm ica. Diz que o hom em m oderno
est á t ão carregado das t radições defasadas do passado e das angúst ias da vida m oderna
que deve acont ecer um processo de lim peza profunda ant es de t er a esperança de
descobrir o est ado depravado, livre de pensam ent os, da m edit ação.
Ao longo de seu t rabalho, Osho falou que quase t odos os aspect os do
desenvolvim ent o da consciência hum ana. dest ilou a essência de t udo o que é
significat ivo para a busca espirit ual do hom em cont em porâneo, sem apoiar- se na análise
int elect ual a não ser em sua própria experiência vit al.
Não pert ence a nenhum a t radição: “ Sou o com eço de um a consciência religiosa
t ot alm ent e nova” , diz. “ Vos rogo que não m e conect em com o passado: nem sequer vale
a pena recordá- lo” .
Seus bat e- papos dirigidos a discípulos e a buscadores espirit uais de t odo o m undo
se publicaram em m ais de seiscent os volúm enes e se t raduziram a m ais de t rint a
idiom as. E ele diz: “ Minha m ensagem não é um a dout rina, não é um a filosofia. Minha
m ensagem é um a cert a alquim ia, um a ciência da t ransform ação, de m odo que só os que
est ão dispost os a m orrer t al com o som e a nascer de novo a um pouco t ão novo que
agora nem sequer o podem im aginar… só essas poucas pessoas valent es est arão
dispost as a escut ar, porque escut ar será arriscado.
“ Ao t er escut ado, dest es o prim eiro passo para o renascer. De m aneira que est a
filosofia não lhes podem j ogar isso por cim a com o um casaco para presum ir. Não é um a
dout rina em que podráis encont rar o consolo ant e as dúvidas que lhes at orm ent a. Não,
m inha m ensagem não é nenhum a com unicação oral. É algo m uit o m ais arriscado. Trat a
nada m enos que da m ort e e do renascer” . Osho abandonou seu corpo em 19 de j aneiro
de 1990. Sua enorm e com una na Í ndia segue sendo o m aior cent ro de desenvolvim ent o
espirit ual do círculo e at rai a m ilhares de visit ant es de t odo o m undo que vão para
part icipar de seus program as de m edit ação, de t erapia, de t rabalho com o corpo, ou
sim plesm ent e para conhecer a experiência de est ar em um espaço búdico.

OSH O COM M UN E I n t e r n a t iona l

17 Koregaon Park
Pune 411 011 ( MS)
Í ndia
Lhe: + 91 ( 212) 628 562
Fax: + 91 ( 212) 624 181
Em ail:

Osh o I n t e r n a cion a l

570 Lexingt on Ave


New York. N.Y. 10022 USA
Em ail:
Phone: 1 800 777 7743 ( USA only)

Você também pode gostar