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Breves considerações sobre a recepção crítica da obra de Gabriela Mistral no Brasil

Jacicarla Souza da Silva


Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Resumo: Escritoras como Gabriela Mistral, sem dúvida, demonstram, juntamente com outras
grandes personalidades femininas, a importância das mulheres no espaço intelectual da
América Latina no século XX. Será durante a sua estadia no Brasil que a poetisa chilena
receberá a notícia do Prêmio Nobel de Literatura que lhe foi concedido em 1945 com a obra
Tala. Ela passa a viver em terras brasileiras em 1941, na cidade de Petrópolis. Aqui Mistral
pôde, em função do cargo que desempenhou junto ao Consulado do Chile, executar projetos
em parceria com diferentes escritores brasileiros. Levando em conta a representatividade da
produção intelectual de Gabriela Mistral no que diz respeito à literatura de autoria feminina nas
letras hispânicas, bem como a importância de analisar a repercussão da sua obra no território
brasileiro, onde Mistral desenvolveu trabalhos significativos quanto à integração entre os
países latino-americanos, como também teve sua produção reconhecida mundialmente, esta
comunicação pretende observar a recepção crítica da sua obra no Brasil. Para isso, este trabalho
tem como base os pressupostos teóricos da crítica feminista, centrados em (re)examinar as
leituras e métodos defendidos pela crítica tradicional.
Palavras-chave: Mulher; literatura; recepção crítica; Gabriela Mistral.

Resumen: No cabe duda de que escritoras como Gabriela Mistral, juntamente con otras
grandes personalidades femeninas, demuestran la importancia de las mujeres em el espacio
intelectual de América Latina en el siglo XX. Será durante su estancia en Brasil que la poetisa
chilena recibirá la noticia del Premio Nobel de Literatura que le galardonaron en 1945 por la
obra Tala. Ella pasa a vivir en tierras brasileñas en 1941, en la ciudad de Petrópolis. En Brasil
Mistral pudo, en función del cargo que desempeñó junto al Consulado de Chile, poner en
marcha proyectos con diferentes escritores brasileños. Al tener en cuenta la representatividad
de la producción intelectual de Gabriela Mistral a lo que toca la literatura de autoría femenina
en las letras hispánicas, así como la importancia de analizar la repercusión de su obra en el
territorio brasileño, donde Mistral desarrolló trabajos significativos cuanto a la integración
entre los países latinoamericanos y también tuvo su producción reconocida mundialmente, esta
ponencia pretende observar la recepción crítica de su obra en Brasil. Para ello, este estudio se
basa en los aportes teóricos de la crítica feminista, centrados en re(examinar) las lecturas y
métodos defendidos por la crítica tradicional.
Palabras clave: Mujer; literatura; recepción crítica; Gabriela Mistral.

Introdução

Escritoras como Gabriela Mistral, sem dúvida, demonstram, juntamente com outras
grandes personalidades femininas, a importância das mulheres no espaço intelectual da
América Latina no século XX.
Em decorrência dos trabalhos desenvolvidos por Mistral na direção do Liceo de Niñas
de Temuco no Chile durante o período de 1918 e 1920 e no Liceo de Niñas Número 06 na
cidade de Santiago em 1921, ela viaja para o México em 1922, a convite do Ministro da
Educação José de Vasconcelos, para participar do programa educativo mexicano. Ainda nesse
mesmo ano, Gabriela publica Desolación pelo Instituto de las Españas en Nueva York. É a
partir desse momento, como lembra Nuria Girona (2005, p. 32), que a poetisa ganha projeção
literária, o que lhe permitiu realizar viagens por diversos países para desempenhar cargos
diplomáticos, como também para proferir conferências, receber prêmios e homenagens.
Mistral após deixar o Chile em 1922, como se sabe, ela voltou em poucas ocasiões ao
seu país, passou grande parte da sua vida viajando por diversos lugares.
O “nomadismo” mistraliano, como bem apontou Raquel Olea (s/d, não paginado),
corresponde a um aspecto crucial para entender a vida, bem como a trajetória profissional de
Gabriela Mistral.
Será durante a sua estadia no Brasil que a poetisa chilena receberá a notícia do Prêmio
Nobel de Literatura que lhe foi concedido em 1945 com a obra Tala. Ela passa a viver em terras
brasileiras em 1941, na cidade de Petrópolis, depois de um conturbado período de atividades
diplomáticas na Europa. Aqui Mistral pôde, em função do cargo que desempenhou junto ao
Consulado do Chile, executar projetos em parceria com diferentes escritores brasileiros,
segundo salienta Ana Pizarro:

Pide al Ministerio de su país, a través de los oficios consulares, libros para


donaciones. Son libros simples, por ejemplo los de los cursos superiores de
los liceos […] de manera que por su lengua sencilla puedan ser leídos por
los estudiantes, por los obreros e incluso puedan ser útiles para los
escritores. Se benefician de esto la Biblioteca Municipal de Petrópolis y la
Escuela de Perfeccionamiento de Minas Gerais, en donde entrega el impulso
para una Biblioteca Hispanoamericana. En el interés por el desarrollo del
conocimiento sobre Hispanoamérica es apoyada por Cecilia Meireles y
también por Manuel Bandeira, con quien mantiene diálogos sobre estos
temas y a quien apoya en su cátedra de Literatura Hispanoamericana de la
Universidad de Río de Janeiro, que el gran poeta e intelectual asumirá hasta
su muerte. (PIZARRO, 2005, p. 29).

A permanência de Gabriela no Brasil, sem dúvida, representou um momento de grande


importância na sua atuação intelectual, em que ela passa a contribuir de maneira significativa
para o estreitamento cultural entre as produções artísticas brasileira e hispano-americana.
Gabriela Mistral e o Brasil

Se na Europa Gabriela Mistral deparou-se com um clima de Guerras e ditaduras, em


terras brasileiras o clima político também não foi ameno, pois ela se instalou no Brasil durante
o 2º mandato de Getúlio Vargas, sob o governo autoritário do “Estado Novo”.
Assim como o período que a poetisa chilena permaneceu no México foi importante para
estabelecer vínculos com intelectuais da época, o momento que ela ficou no Brasil frente ao
Consulado do Chile também representou uma fase de grande relevância para a consolidação de
Mistral como escritora. Aqui ela conheceu diferentes figuras como Assis Chateaubriand, Jorge
de Lima, Murilo Mendes, Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa, Gilka Machado, Mário de
Andrade entre outras. Ana Pizarro (2005, p. 9) chama a atenção para a necessidade de se
analisar de maneira mais atenta esse momento, uma vez que se trata de um período
representativo na trajetória intelectual da autora, em que ela esteve em evidência, atuando de
forma bastante incisiva no que concerne à troca cultural entre os países da América Latina.

En el período brasileño hay un proyecto intelectual que tiene que ver con la
configuración de América como unidad de las áreas hispana y lusoamericana
así como continúan la proyección de su futuro individual tal como fue
concebido tempranamente en términos también de vida intelectual: allí
recibe noticia del Premio Nobel, en 1945. Pero hay también un proyecto
personal que se ve destruido: en este lapso se suicida su hijo en Petrópolis.
(PIZARRO, 2005, p. 9).

No Brasil, Mistral experimentou as situações mais diversas, como Pizarro ressalta no


fragmento acima, que envolvem tanto sua vida profissional como pessoal. Foi em Petrópolis
que ela recebeu a notícia do Prêmio Nobel, como também foi na cidade fluminense que o seu
filho adotivo, Juan Miguel, chamado carinhosamente de Yin Yin, cometeu suicídio, fato que a
marcou profundamente. Apesar desse acontecimento que contribuiu para sua ida em 1946 aos
Estados Unidos, a poetisa participou ativamente do cenário cultural brasileiro, cooperando com
diversos periódicos como A Tribuna de Petrópolis, O jornal de Petrópolis, A Pequena
Ilustração, O Jornal de Rio de Janeiro, A Manhã e a revista Diretrizes (PIZARRO, 2005, p.
25-26). Por meio dessas publicações foi possível aproximar as culturas chilena e brasileira,
criando um espaço de intercâmbio entre os dois países. Também a partir de programas de rádio
em Petrópolis e em Minas Gerais, Mistral divulgou pela primeira vez textos como “Recados
sobre Michoacán” e “Chile y la piedra”, como lembra Pizarro (PIZARRO, 2005, p. 26).
Pode-se afirmar que Gabriela Mistral não representa uma escritora à margem do cânone,
entretanto, a visão canônica em relação à sua obra, como ressalta Gastón Lillo (1997, p. 19),
acabou “esquecendo” alguns aspectos importantes da vasta produção intelectual mistraliana.
Um desses aspectos, sem dúvida, corresponderia a sua relação com o Brasil. Frente a essa
lacuna, o presente projeto de pesquisa pretende observar a recepção crítica da sua obra no
Brasil, levando em conta que em território brasileiro ela desenvolveu projetos significativos
quanto à integração entre os países latino-americanos, como também teve sua produção
reconhecida mundialmente.
Com base nos pressupostos teóricos da crítica feminista atual que se preocupa em
resgatar textos de autoria feminina “esquecidos” pela crítica tradicional, assim como discutir
as leituras e métodos defendidos por essa crítica que este trabalho se fundamenta. No que se
refere ao posicionamento da crítica tradicional, vale destacar as considerações de Sylvia
Molloy (1991) que mostra como a imagem de muitas escritoras é construída de maneira
estereotipada:

[...] la visión de Delmira Agustini como la virgen licenciosa; Alfonsina Storni


como una ridícula virago; Victoria Ocampo como la anfitriona con
veleidades intelectuales; Gabriela Mistral como la madre espiritual; Norah
Lange como la dadaísta extravagante y Silvina Ocampo como la excéntrica
perversa. (MOLLOY apud CORBATA, 2002, p.20-21, grifos do autor).

Neste sentido, examinar a fortuna crítica de Gabriela Mistral no Brasil é uma forma de
repensar como esse significativo nome dentro da produção de autoria feminina na América
Latina foi recebido, lido e comentado pela crítica brasileira. Trata-se, portanto, de repensar até
que ponto a recepção da obra mistraliana ficou presa aos rótulos como a de “madre espiritual”
ou se foi possível atribuir a ela leituras que valorizassem o seu posicionamento como intelectual
preocupada com as causas feministas e com a ideia de integração cultural entre os países latino-
americanos.
Ao considerar a importância da tradução como veiculadora desse diálogo intercultural,
a presente pesquisa também visa a observar a repercussão da produção mistraliana, a partir das
versões em português, editadas no Brasil, de sua obra. Como lembra Vanamala Viswanatha e
Sherry Simon: “as traduções constituem uma reveladora porta de entrada para a dinâmica da
formação da identidade cultural nos contextos colonial e pós-colonial” (VISWANATHA;
SIMON apud BASSNETT, 2002, p.10).
Pascale Casanova (2001, p.192) reitera que o ato de traduzir vai além de aspectos
linguísticos ou formais da língua, uma vez que o tradutor, para a autora, tem o papel não
somente de fazer que uma língua tida como periférica seja introduzida no espaço “central”,
mas também de projetar o que é considerado “central” no contexto “periférico”. Diante disso,
a função do tradutor, para Pascale, é a de fazer com que essas diferentes obras literárias
circulem nos diferentes espaços letrados, o que a estudiosa chama de “literarização”
(CASANOVA, 2001, p. 183).
Ao pensar nessa importância do papel do tradutor, caberia pensar como a produção de
Gabriela Mistral se inseriu nesse processo de “literarização” no universo letrado brasileiro.
Valeria examinar ainda como os tradutores que se dedicaram à prática da tradução de sua obra
realizaram essas escolhas. Foram meras encomendas editoriais? Ou foram escolhas
ideológicas? Qual o papel dessas traduções no que diz respeito tanto à produção literária de
autoria feminina na América Latina quanto à ideia de integração cultural entre os países latino-
americanos?
A partir desses questionamentos este estudo pretende observar o diálogo entre as
traduções realizadas sobre a obra de Mistral no Brasil e o discurso predominante da crítica
literária brasileira sobre a poetisa. Para isso, o presente trabalho utilizou-se do Banco de Teses
e Periódicos da CAPES, o Arquivo digital mistraliano da Biblioteca Nacional do Chile, bem
como as bibliotecas que integram o banco de dados Dedalus da USP,
Desta forma, com a finalidade de ampliar o conhecimento em torno da recepção da obra
de Gabriela Mistral no Brasil, o presente texto apresenta um levantamento e estudo da
bibliografia crítica dos trabalhos publicados em nosso país sobre a poetisa chilena, como
também observa as traduções em português editadas no mercado editorial brasileiro da sua
produção literária. Espera-se, portanto, que este trabalho futuramente possa auxiliar aos
estudiosos da obra mistraliana, a partir do levantamento que aqui será realizado, como forma
de expandir o entendimento de sua obra, por meio da análise do discurso da crítica a respeito
da produção literária da autora de Tala.

Crítica cristalizada?

A pesquisadora Ana Maria Domingues de Oliveira, ao analisar a bibliografia crítica


acerca da obra da poetisa brasileira Cecília Meireles, utiliza o termo crítica cristalizada para
analisar a produção sobre a autora de Viagem, uma vez que, segundo Oliveira (2003), os
estudos sobre Cecília endossam uma visão que tende a restringir sua poética ao campo do
etéreo, do efêmero. Essa mesma percepção a coloca como uma escritora que não estaria
envolvida com os assuntos relacionados ao contexto social da sua época.
Como apontou Sylvia Paixão (1990), trata-se do olhar condescendente em relação à
mulher que escreve, em que se nutre a ideia de que as vozes femininas manifestam-se somente
diante de temas mais amenos que, por sua vez, são tratados de maneira delicada e sublime. O
discurso predominante da crítica mistraliana não se diferirá neste aspecto. Tal afirmação pode
ser constatada nas palavras de Adolfo Castañon (2010, p.11, grifos meus):

Escritura ensimismada y transparente, sencilla y abismal, la de esta poeta


explícitamente telúrica y terrenal abarca en el arco de sus cuatro libros
esenciales no solo un atlas íntimo y otro exterior, con sus abismos y
infructuosidades, sino que concentra en la pulida e impecable factura de sus
poemas un mestizaje, una hibridización sintáctica y léxica que presupone un
arte poética, a la par arcaica y novísima donde diversas edades y tiempos de
la lengua se funden en una suerte de diario cósmico más allá o más acá de
las reducciones de la novela sentimental, donde lo cotidiano y lo sagrado se
compaginan.

É interessante observar a recorrência de adjetivos referente à intimidade, ao místico, ao


sagrado. São vocábulos que remetem a ideias abstratas e menos palpáveis, normalmente
sempre presentes quando se comenta a produção de autoria feminina. Este texto de Calderón
que integra, juntamente com outros, uma edição comemorativa da obra de Mistral reforça o
estereótipo de Gabriela Mistral como “madre espiritual”, como mencionou Molloy (apud
Corbata, 2002). Esta publicação comemorativa, organizada pela Real Academia Española,
exemplifica a visão marcada por um discurso cristalizado sobre a produção mistraliana. Ao
considerar que se trata de uma obra de grande circulação no universo hispânico, é válido pensar
como esta imagem em torno da figura de Gabriela vai sendo reforçada e cunhada por esse
discurso que vai ratificando esse olhar generalizado em torno de sua produção:

La creadora de la enjundiosa poesía que ha iluminado la consciencia


espiritual de América desde el aliento entrañable del valle de Elqui, ha sido
la inmensa lírica chilena Gabriela Mistral. Los principales biógrafos y
estudiosos de esta figura cumbre de la literatura hispanoamericana han
estimado que, aunque la ilustre poeta no era propiamente una mística, su
poesía, su comportamiento y su visión de la vida reflejan una dimensión
contemplativa y espiritual del mundo. (CANDELIER, 2010, p.LIII, grifos
meus).

O fragmento do texto “La veta mística en la lírica de Gabriela Mistral” de Bruno


Rosario Candelier insiste em notar o misticismo na poética de Mistral. Aqui novamente
percebe-se a presença de elementos voltados para o campo do sublime, do etéreo como:
“consciência espiritual” e “dimensão contemplativa e espiritual”.
Levando em conta que um dos objetivos atuais da crítica feminista é confrontar as
leituras e métodos sustentados pela crítica tradicional, pretende-se destacar, a seguir, a recepção
crítica da bibliografia sobre a obra de Gabriela Mistral no Brasil, no sentido de examinar a
forma como a crítica brasileira vem analisando a produção da poetisa chilena.
Apesar de ser o primeiro prêmio Nobel no contexto latino-americano e de ter
participado da ativamente da vida intelectual brasileira, é curioso notar a quantidade pouco
expressiva de trabalhos direcionados à produção de Mistral nos bancos de dados utilizados no
presente estudo. No que diz respeito aos livros encontrados durante a pesquisa, evidenciam-se
as seguintes publicações em português, presente na biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas (FFLCH) da USP:

• MEIRELES, Cecília. Gabriela Mistral & Cecilia Meireles. Trad. Ruth Sylvia de
Miranda Salles. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2003.
Trata-se de uma obra que reúne ensaios de Cecilia Meireles e Adriana Valdés, bem
como poemas traduzidos por Ruth Sylvia de Miranda Salles. Há poemas de Cecília em
espanhol, como também poemas de Gabriela em português.

• MISTRAL, Gabriela. Gabriela Mistral y el Brasil. Santiago do Chile: Brasileiro de


Cultura, 1963. 53 p. (Cadernos Brasileiros, 12)
Trata-se de um caderno comemorativo da visita ao Chile do Presidente João Goulart.

• PINILLA, Norberto. Bibliografía crítica sobre Gabriela Mistral. Santiago:


Universidad de Chile, 1940.
Refere-se a um estudo sobre a crítica mistraliana.

Ainda nesse mesmo acervo é possível encontrar títulos em jornais e trabalhos oriundos
de participação em eventos acadêmicos, a saber:

• COELHO, Nelly Novaes. Poesia feminina na América Latina da primeira metade do


século: Cecilia Meireles (Brasil), Gabriela Mistral (Chile), Juana de Ibarbourou
(Uruguai). In: CONGRESS OF THE INTERNATIONAL FEDERATION FOR
MODERN LANGUAGES AND LITERATURES (19. 1993 Brasília). Brasília:
Universidade de Brasília, 1996. v.3 p.1215-1221.

• ECHEVERRIA, Maria Lídia Enriqueta Neghme. Gabriela mistral, a poesia telúrica.


Estado de São Paulo. Cultura, p. 4-5, 08 abr. 1989.

• HOSIASSON, Laura Janina. Coletânea recupera desafios da obra de Gabriela Mistral.


Folha de S. Paulo. Ilustrada, São Paulo, p.6, 19 mar. 2011.

• PELLEGRINO, Gabriela. Sociabilidades intelectuais e circulação cultural: Gabriela


Mistral na Argentina, no México e no Brasil. In: CADERNO DE RESUMOS, São
Leopoldo: Oikos, 2007, julho 2007. p. 399.

Ao considerar o significativo acervo da biblioteca da FFLCH da USP, com mais de 600


mil títulos na área de Humanidades, surpreende a quantidade de trabalhos sobre Gabriela
Mistral. Apesar da presença de obras da escritora chilena em espanhol, ao percorrer os estudos
voltados à sua produção em língua portuguesa, o número é pouco expressivo. Nesse sentido,
no banco de Periódicos acadêmicos da CAPES foi possível encontrar alguns textos destinados
em analisar à obra de Mistral, os quais destacam-se:

• FIOL-MATTA, Licia. Mulher-Raça: A Reprodução da Nação em Gabriela Mistral.


Revista Estudos Feministas, 2005 maio-ago., v.13, n.2, p.227-264.

• MARQUES, Reinaldo. Henriqueta Lisboa: tradução e mediação cultural. Scripta, out.


2004, v.8, n.15, p.202-212.

• MONTENEGRO, Pedro Paulo. Gabriela Mistral: Vida e obra. Clã: Revista de Cultura,
1958, v.17, p.110-118.

• OLIVEIRA, Ana Maria Domingues de. A temática da Morte em Cecília Meireles e


Gabriela Mistral. Revista de Letras, 1992, v.32, p.127-139.

• ROJAS, Gabriel Farías. Gabriela Mistral: feminismo e educação na Revolução


Mexicana e seus alcances na atualidade1. Revista Acesso Livre, 01 dez. 2016, v.6, n. 6,
p.158-172.

• SILVA, Jacicarla Souza da. Em torno de um (in)visible college na América Latina.


Universitas humanística, 2015, v.79, p.165-192.

1
O texto, embora divulgado em um periódico acadêmico brasileiro, está publicado em espanhol.
Já com relação às teses e às dissertações, ao fazer um breve levantamento no banco de
teses da CAPES, constatam-se os seguintes títulos que envolvem a figura pública e a produção
de Gabriela Mistral:

• DALLOZ, Julio Aldinger. Feminismo e gênero na prosa de Gabriela Mistral. São


Paulo, 2000. 163 f. Tese (Doutorado)

• FERREIRA, Rosangela Veiga Julio. Entre leitores, bibliotecas, campos e jardins-


Gabriela Mistral e Cecília Meireles em projetos de educação popular no México
(1920) e no Brasil (1930). Juiz de Fora, 2014. 304 f. Tese (Doutorado)

• MORELATO, Adrienne Kátia Savazoni. As vestes do corpo e da melancolia na poesia


de autoria feminina: Cecília Meireles, Gabriela Mistral e Henriqueta Lisboa.
Araraquara, 2017. Tese (Doutorado)

• KIRINUS, Gloria Mercedes Valdivia de. Meia volta - volta e meia: em torno das
cantigas de roda de Cecilia Meireles e Gabriela Mistral. São Paulo, 1998. 307 f. Tese
(Doutorado)

• SILVA, Jacicarla Souza da. Um (in)visible college na América Latina: Cecília


Meireles, Gabriela Mistral e Victoria Ocampo. Assis, 2012. 213 f. Tese (Doutorado)

• VALENZUELA, Sandra Trabucco. Gabriela Mistral e Poema de Chile. São Paulo,


1998. 211 f. Tese (Doutorado)

• VALENZUELA, Sandra Trabucco. Ternura e o americanismo em Gabriela Mistral.


São Paulo, 1992. 200 f. Dissertação (Mestrado)

• VASQUEZ, Carola Gabriela Sepulveda. Gabriela Mistral: das danças de roda de uma
professora consulesa no Brasil. Campinas, 2014. 194 f. Tese (Doutorado).

Em relação aos trabalhos científicos como as dissertações, teses e artigos publicados


em periódicos, embora a quantidade não seja significativa, vale ressaltar a diversidade de temas
presentes nesses títulos. Ainda que se note a presença de estudos que se centram em analisar a
representatividade de Gabriela Mistral no âmbito da Educação2, há pesquisas que buscam fazer

2
Sobre esse tema, destacam-se as teses de doutorado Entre leitores, bibliotecas, campos e jardins-Gabriela
Mistral e Cecília Meireles em projetos de educação popular no México (1920) e no Brasil (1930), de Rosangela
Veiga Julio Ferreira, Meia volta - volta e meia: em torno das cantigas de roda de Cecilia Meireles e Gabriela
Mistral, de Gloria Mercedes Valdivia de Kirinus e Gabriela Mistral: das danças de roda de uma professora
consulesa no Brasil, de Carola Gabriela Sepulveda Vasquez.
aproximação entre a escritora chilena e autoras latino-americanas3, bem como trabalhos
voltados para destacar o feminismo4 em Mistral e o americanismo em sua produção.
Como comentado anteriormente, apesar de poucos estudos sobre a autora de Tala no
Brasil, nota-se que a variedade temática dessas pesquisas acaba se sobressaindo inclusive com
relação à bibliografia crítica da autora difundida no Chile. Tais trabalhos descortinam aspectos
arraigados pela crítica tradicional, apontando até mesmo contradições em Gabriela Mistral
como ressalta Fiol-Mata:

[...] Entre uma identidade sexual proibida e uma identidade nacional racista,
permanecem as contradições de Mistral como mulher-raça: proclamando os
dogmas do latino-americanismo, trabalhando no interior de suas formulações
heteronormativas e de gênero, e reproduzindo o Estado racista e homofóbico.
[...] (FIOL-MATA, 2005, p.264).

Dessa forma, Fiol-Mata, assim como outros estudiosos da obra mistraliana, descontrói
o estereótipo de “madre espiritual”, atribuído por grande parte da crítica acerca da poetisa
chilena.
A proposta de percorrer o discurso da crítica sobre Gabriela Mistral no Brasil, se, por
um lado, mostra que ainda há um caminho a ser desbravado, por outro, evidencia a diversidade
de temas que a produção intelectual mistraliana tem despertado nos pesquisadores brasileiros.
A presença de poucos trabalhos sobre a autora é, no mínimo, inquietante, justamente ao levar
em conta a representatividade da sua obra e da sua atuação no cenário brasileiro, durante o
período em que ela viveu no Brasil.

Palavras finais

É possível atribuir este grande silêncio em torno da produção de Mistral no Brasil ao


número de traduções disponíveis em língua portuguesa? Apesar das bibliotecas e mesmo o
mercado editorial brasileiro disponibilizarem diversas publicações da poetisa chilena em

3
Com relação a esse aspecto, evidenciam-se as teses de doutorado As vestes do corpo e da melancolia na poesia
de autoria feminina: Cecília Meireles, Gabriela Mistral e Henriqueta Lisboa, de Adrienne Kátia Savazoni
Morelato e Um (in)visible college na América Latina: Cecília Meireles, Gabriela Mistral e Victoria Ocampo, de
Jacicarla Souza da Silva.
4
A respeito dessa temática, merece destaque a tese de doutorado Feminismo e gênero na prosa de Gabriela
Mistral, de Julio Aldinger Dalloz.
espanhol, são pouco exemplares que circulam em português. Ao realizar uma rápida consulta
na biblioteca da FFLCH da USP, por exemplo, encontram-se as seguintes edições:

• MISTRAL, Gabriela. Poesias escolhidas. Trad. Henriqueta Lisboa, Jorge Edwards e


Marianne Clouzod. Rio de Janeiro: Delta, 1969.

• MISTRAL, Gabriela. Poesias escolhidas. Rio de Janeiro: Opera Mundi, 1971.

• MISTRAL, Gabriela; MEIRELES, Cecília. Gabriela Mistral & Cecilia Meireles.


Ensaios de Cecilia Meireles e Adriana Valdés. Poemas traduzidos por Ruth Sylvia de
Miranda Salles. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2003.

A produção poética de Gabriela Mistral ainda pode ser lida em português nas
Antologias que apresentam um ou outro poema da escritora chilena como, por exemplo, nas
publicações a seguir:

• ANTOLOGIA poética ibero-americana. Trad. Anderson Braga Horta; Fernando


Mendes Vianna; José Jeronymo Rivera. Cuiabá: Asociación de Agregados Culturales
Iberoamericanos, 2006. 277p.

• GRANDES vozes líricas hispano-americanas. Trad. Aurélio Buarque de Holanda. Rio


de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. 388p.
• MISTRAL, Gabriela. Poesias escolhidas. Trad. Henriqueta Lisboa. Rio de Janeiro:
Delta, 1964. 167 p.

• POETAS da américa de canto castelhano. Trad. Tradutor: Thiago de Mello, São Paulo:
Global, 2011. 494p.

A carência de versões em português da autora de Desolación faz pensar na


importância que as traduções representam no universo letrado, como foi destacado
anteriormente neste trabalho. Como ressalta Casanova (2001, p.183): Es la traducción a una
gran lengua literaria la que hará entrar su texto em el universo literario: la traducción no es
una simple “naturalización” (en el sentido de un cambio de nacionalidad), ni el paso de una
lengua a otra; es, mucho más específicamente, una “literarización”.
Nesse sentido, as escritoras Henriqueta Lisboa e Cecília Meireles tiveram um papel
fundamental para a divulgação da obra de Mistral no Brasil5. Ambas foram grandes tradutoras

5
Sobre a colaboração de Henriqueta Lisboa e Cecília Meireles para a difusão da obra de Gabriela Mistral no
Brasil, ver 2ª parte da obra Um (in)visible college na América Latina: Cecília Meireles, Gabriela Mistral e
da produção mistraliana e, sem dúvida, colaboraram para que presença poética de Gabriela se
“literarizasse” e não se perdesse no idioma de Florbela Espanca.
Este breve percurso pela recepção crítica da obra de Mistral no Brasil aponta que nem
mesmo uma autora canônica como Gabriela está livre do esquecimento. Além disso, os
caminhos para os estudos no âmbito da crítica literária demonstram-se desafiadores, uma vez
que requer um olhar atento e vigilante para que não se caia nas armadilhas dos princípios
cristalizadores, os quais uma grande parte da crítica mistraliana parece ainda estar arraigada.

Referências

ANTOLOGIA poética ibero-americana. Trad. Anderson Braga Horta; Fernando Mendes


Vianna; José Jeronymo Rivera. Cuiabá: Asociación de Agregados Culturales Iberoamericanos,
2006. 277p.

BASSNETT, S. Estudos de tradução. Tradução de Viviana de Campos Figueiredo. Lisboa:


Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

CALDERÓN, A. Semejanzas de Gabriela en voces de Mistral. In: MISTRAL, G. Gabriela


Mistral en verso y prosa: Antología. Edición conmemorativa. Lima: RAE, 2010. p. XXXI-
LII.

CANDELIER, B. R. La vesta mística en la lírica de Gabriela Mistral. In: MISTRAL, G.


Gabriela Mistral en verso y prosa: Antología. Edición conmemorativa. Lima: RAE, 2010. p.
LIII-LXVIII.

CASANOVA, P. La república mundial de las Letras. Traducción Jaime Zulaika. Barcelona:


Anagrama, 2001.

CORBATA, J. Feminismo y escritura femenina em Latinoamérica. Buenos Aires:


Corregidor, 2002.

DALLOZ, J. A. Feminismo e gênero na prosa de Gabriela Mistral. 2000. 163 f. Tese


(Doutorado em Letras) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

FERREIRA, R. V. J. Entre leitores, bibliotecas, campos e jardins-Gabriela Mistral e


Cecília Meireles em projetos de educação popular no México (1920) e no Brasil (1930).
2014. 304 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de
Fora, 2014.

Victoria Ocampo, São Paulo: Editora Unesp, 2014, apresento de forma com exemplos pontuais. Livro disponível
em:
<http://editoraunesp.com.br/catalogo/9788568334263,um-invisible-college-na-america-latina>. Acesso em: 08
dez. 2017.
FIOL-MATTA, L. Mulher-Raça: A Reprodução da Nação em Gabriela Mistral. Revista
Estudos Feministas, 2005 maio-ago., v.13, n.2, p.227-264.

GIRONA, N. Introducción. In: MISTRAL, Gabriela. Tala/Lagar. 2.ed. Madrid: Cátedra,


2005. p.13-69.

GRANDES VOZES líricas hispano-americanas. Trad. Aurélio Buarque de Holanda. Rio de


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