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Olá a todos, hoje venho falar-vos sobre a solidão que é um tema ainda bastante abafado nos

dias de hoje.

O autor da fotografia que escolhi para representar o tema é Alan Schaller que transformou a
sua carreira de músico sobrevivente num fotógrafo de renome, sendo atualmente um
fotógrafo londrino especializado em fotografias a preto e branco.

Schaller, com atualmente 31 anos estudou música na universidade e escreveu algumas letras
para rádios e televisões. Aos 25 anos decidiu fazer uma pausa no mundo da música visto que já
não era algo que o entusiasmava.

Em 2015 pegou pela primeira vez numa câmara de uma fotografa de rua e ficou
instantaneamente apaixonado. Começou por tirar fotos a preto e branco ás pessoas nos
metros, dos subsolos das cidades que ia visitando e mais tarde a partilhá-las nas redes sociais,
algum tempo depois, o seu hobby começou a trazer rendimentos e quando percebeu que
podia fazer daquilo a sua vida, começou a dedicar se verdadeiramente à fotografia.

A maioria do seu trabalho destaca se dos restantes por ser abstrato, incorporar elementos
surrealistas e propor altos contrastes e realidades distintas da vida humana.

‘The Guardian’, ‘The New York Times T Magazine’, ‘The Washington Post’ e ‘The Financial
Times’ são uns dos seus trabalhos com mais destaque.

Allen é então uma pessoa bastante simples e reservada que ganha a vida a fotografar os
quotidianos neutros das pessoas que com ele se cruzam.

Um dos seus trabalhos mais recentes retrata de uma maneira bastante simplicista mas nítida a
solidão do ser e do não ser, representatividade esta que o fotógrafo encontrou nos cantos
mais solitários de Londres, em casas ao abandono e em alguns locais praticamente inabitáveis,
sobre a qual também escreveu uma anotação. Uma das fotografias que faz parte dessa sua
obra é esta que vos venho apresentar hoje.

Nesta imagem é nos possível visualizar um velhote sentado a olhar para a janela, com os
braços juntos ao corpo que parece ligeiramente melancólico. Este é o homem que nos vai
servir como molde representativo da sociedade, de uma forma generalizada, ao longo desta
apresentação.

Se procurarmos na wikipédia o significado de solidão aparece como ‘o estado de quem se acha


ou se sente desacompanhado ou só’.

A solidão é o sentimento ambíguo que o ser sente quando não tem nada, ou quando tem tudo.
É a sensação de vazio e aperto em simultâneo, de escuro e de clarão enorme e visível.

Não é um sentimento que possa aparecer do dia para a noite, ou que surja assim que abrimos
a janela, mas sim uma emblemática que com o passar do tempo se vai tornando mais forte e
em simultâneo mais dolorosa ou até indolor, que cresce assim como as histórias e as rugas
certamente evidentes no personagem sentado na cama.

Não posso deduzir que existe um significado para este sentimento porque, como sentimento
que é, só quem o sente lhe pode atribuir o devido significado.
Ás vezes, quando pensamos neste tema é nos muitas vezes apresentado como um tema
descolorido, a preto e branco, tal como podemos ver nesta fotografia, no entanto até os
quadros mais versáteis, com as cores mais vibrantes que existem podem sentir se solitários às
vezes.

Não é só o escuro que trás essa sensação amarga, a cor pode ser tão ou mais solitária que o
vazio.

Podemos estar completamente coloridos por fora, mas por dentro nem sempre essa cor é bem
recebida, como vos vou mostrar neste pequeno filme. (https://youtu.be/VhHRcz2wBYg)

A imagem que escolhi, assim como o pequeno filme que acabamos de ver, é bastante simples,
no entanto transborda uma complexidade de emoções, ainda que vazia, leva nos a pensar o
que passará na cabeça daquele velhote ou o que não passará..

É tudo muito subjetivo, porque la está, é um tema bastante frágil para a maioria das pessoas,
mas precisa de ser falado.

Qual será o sentimento de acordar todas as manhãs, vestir as mesmas roupas velhas, e ficar
sentado na cama a olhar para a janela à espera que algo de novo surja, enquanto somos
esquecidos pelo resto do mundo..

A solidão vem muitas vezes aliada a outras tipologias mais complexas como a depressão e as
fobias sociais.

E vivermos numa sociedade e num país que ainda resguarda muito estes temas e menospreza
a sua relevância faz com que o numero de incidências seja maior e, por sua vez, a ajuda seja
menos requerida por medo ou receio de falar abertamente sobre o assunto.

A solidão é muitas vezes descrita como uma ausência de contacto social, no entanto eu não
concordo com isso pois nós podemos perfeitamente estar rodeados de pessoas que gostamos
e que nos fazem sentir bem e ainda assim sentirmo-nos sós, imprestáveis e irrelevantes. Claro
que os casos são mais recorrentes quando há envolvência de isolamento social mas ainda
assim, podemos ser as pessoas mais sociáveis do mundo e as mais extrovertidas e sentir-mo
nos sós.

No nosso país cerca de 20% da população que se sente só é representada por mulheres e
apenas 7% por homens, revelando nos ainda que é um sentimento que só tende a aumentar
com a idade.

É raro vermos uma criança com 7/8 anos com este tipo de comportamentos, ou até mesmo
um jovem que esteja na puberdade, apesar de já ser mais comum. Mesmo assim, os idosos
ainda são a parte da população que mais sofre com este fator. Porque são a geração velha, a
geração imprestável, à qual já não precisamos de dar o nosso tempo e atenção, são as pessoas
que já não nos são relevantes e que acabam por ficar esquecidas no tempo e nas suas casas
cheias de recordações de vidas coloridas ou não.

Mas, muitas vezes esquecemos nos que eles são os que mais precisam de companhia, e que
quando dizem que se sentem sozinhos não é para chamar a atenção ou para ‘empatar’ as vidas
fúteis e gananciosas das pessoas, é porque eles precisam de tempo, precisam de afeto e de se
sentirem acompanhados, isto independentemente da situação.
Mesmo assim, queria só referir que eu mesma me sinto solitária, ás vezes durante dias, ás
vezes durante semanas, às vezes durante meses. E não é necessariamente por não ter
ninguém ao pé de mim ou com quem possa contar. É porque às vezes nos perdemos de nós
próprios e isso é outra grande emblemática que leva ao isolamento social, a problemas de
comunicação e lá está, ao sentimento impotente de nos sentirmos sozinhos.

Por fim, gostava só de referir que, esta imagem me remete imenso para a sociedade de hoje
em dia, em que as pessoas vivem mais preocupadas com o olhar para cima e o mundo visto de
uma perspetiva mais alta e esquecem se que se calhar se abrirmos uma janela e olharmos para
a frente vamos encontrar umas quantas pessoas cujo, talvez, só um sorriso já lhes melhore o
dia, ou um simples olá.

Uma pessoa atarefada pode sentir se sozinha. Uma pessoa desocupada pode sentir se sozinha,
uma pessoa feliz pode sentir se sozinha e uma pessoa triste também.

Não podemos é deixar que seja um tema banalizado, não é por podermos que temos que nos
sentir assim. Há ajudas e soluções, talvez não definitivas mas, algumas hão de ajudar de
certeza.

Este é um tema que a mim particularmente me interessa bastante, porque pesquiso muito e
informo me muito sobre ele e acho fundamental falarmos abertamente sobre isto! Aliás, quem
sabe talvez esta apresentação tenha ajudado alguém..

Obrigada por me ouvirem

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