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Retratos Da Leitura 5 o Livro IPL
Retratos Da Leitura 5 o Livro IPL
Leitura no
Brasil
5
Zoara Failla or gan iz a d or a
l Promover a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a cada quatro anos,
desde 2007, é o principal compromisso assumido pelo Instituto Pró-Livro,
para oferecer um amplo diagnóstico da realidade da leitura no Brasil e
possibilitar a avaliação das políticas públicas e orientar ações e investimentos
voltados ao fomento à leitura e ao acesso ao livro.
p r e pa r o d e o r i gi na i s : Ana Grillo
r ev i são : Luís Américo Costa
i m age m d e ca pa : arte em cerâmica de Sil Capela
i m age n s d o m io l o : ShutterStock
i m age m da pági na ao la d o:
Francesc Domingo Segura
Rapaz lendo, óleo sobre tela, 1893
Instituto Pró-Livro
Rua Funchal, 263, cj. 61-62, Vila Olímpia
04551-060 São Paulo – SP
www.prolivro.org.br
Tel.: (11) 3846-6475
p r e fác io
José Ângelo Xavier p r e s i d e nte d o i n st ituto p ró -l ivro
“É urgente melhorar esse
‘retrato’ − transformar o Brasil em um país de
leitores é desafio de toda a sociedade brasileira.”
Para debater e criar políticas públicas Com efeito, o livro é a ponta de lança de
– em especial na educação e na cultura uma luta por equidade. O desenvolvimento
–, é decisivo o bom conhecimento das social e econômico do Brasil depende de
problemáticas, é necessária a produção de combatermos o analfabetismo funcional
métricas que captem as variadas facetas de – segundo o Indicador de Alfabetismo
cada assunto, além da análise e da divulgação Funcional (INAF) de 2018, três em cada
desses panoramas. A pesquisa Retratos dez brasileiros entre 15 e 64 anos têm esse
da Leitura é um instrumento que cumpre déficit. Devemos insistir que o Índice de
esses papéis: provê os brasileiros – gestores Desenvolvimento Humano (IDH) leve em
públicos, editores, escritores, livreiros e conta as marcas da leitura e estimular a
outros cidadãos interessados – de meios de paixão por ler nas famílias – afinal, exibe
entender o que o Brasil lê, quem são seus a Retratos, são elas que criam o gosto pela
leitores – e, a partir daí, projetar o que é leitura: mães, pais e parentes são os mais
preciso para ampliar a leitura no país. influentes nesse contexto.
O panorama apresentado pela Retratos Essa tarefa – a ampliação da leitura – é
indica que, de 2015 a 2019, sofremos uma uma das urgências deste século em que o
perda: passamos de 104,7 milhões de leitores Brasil passará por grandes mudanças na
para 100,1 milhões – uma queda de 4,6 sua base social. Até 2030, nossa população
milhões, mais acentuada nas classes A (de será, em sua maioria, idosa – os brasileiros
76% de leitores para 67%) e B (de 70% para com 60 anos ou mais serão numericamente
63%) e entre os que cursaram o Ensino superiores àqueles abaixo dos 14 anos,
Superior (de 82% para 68%). Essas e outras segundo dados do Instituto Brasileiro
informações recolhidas pela pesquisa têm de Geografia e Estatística (IBGE). Essa
um tom de alerta: é necessário reforçar tendência, que deve se intensificar nas
o Plano Nacional do Livro e da Leitura, décadas posteriores, expõe necessidades
entender e superar as dificuldades que há no não só de seguridade e saúde, mas também
atingimento de suas metas de fomento do de aprendizado e formação cultural, que
ato de ler e de solidificação da sua economia. possibilitam bem-estar e emprego.
Essas questões devem ser assumidas pela Vale notar outro dado da Retratos:
sociedade civil, pela iniciativa privada e pelo decrescem os leitores conforme avança a
poder público. faixa etária. De 50 a 69 anos, são 38%; acima
de 70, 26% – marcas também menores que
as de 2015.
12 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
Para as entidades do livro não basta investir pesquisa, a única em âmbito nacional para
na cadeia produtiva do livro. O leitor é conhecer os indicadores e hábitos de leitura
a principal razão e o que alimenta esse dos brasileiros, é colher os resultados desse
ecossistema do livro. Um ecossistema que compromisso e do investimento nesse
depende da sociedade onde está inserido. importante projeto.
Nos orientamos pela crença de que uma Nesta edição contamos com a parceria
sociedade mais humana, mais justa e do Itaú Cultural, o que possibilitou manter a
mais desenvolvida depende da educação de periodicidade e ampliar a amostra de 5 mil
qualidade e de uma população leitora. para 8 mil entrevistas, permitindo a leitura
do hábito de leitura em todas as capitais do
Brasil. Também ampliamos o escopo do
Em 2005, a ABRELIVROS, a CBL e o SNEL estudo para aprofundar o conhecimento
unem-se para criar e manter o Instituto Pró- sobre o leitor de livros de literatura e de
-Livro, certos de sua responsabilidade social e literatura em outros meios ou plataformas.
de que uma educação de qualidade, a ciência Conhecer quem são os leitores, o que
e a leitura são a base para a construção de leem, seus hábitos e motivações, como
uma sociedade mais humana, mais justa e acessam os livros e, também, conhecer
desenvolvida. os não leitores e por que não leem é
Promover a pesquisa Retratos da Leitura fundamental para orientar políticas,
no Brasil a cada quatro anos, desde 2007, programas e ações de governos e da
possibilitando a construção da série histórica, sociedade civil, mas é especialmente
foi o principal compromisso assumido pelo importante para orientar as ações do IPL e da
IPL, dirigido pelas entidades do livro, para cadeia produtiva do livro.
oferecer um amplo diagnóstico da realidade Infelizmente não temos o que
da leitura no Brasil, possibilitar a avaliação das comemorar nesta edição, pois a pesquisa
políticas públicas do livro e leitura e orientar aponta uma redução no percentual de
ações e investimentos voltados ao fomento à leitores de 56% (edição 2015) para 52% e
leitura e ao acesso ao livro. acende um alerta. Por que não avançamos?
Chegar à 5ª edição com um amplo Por que mantemos um patamar próximo a
reconhecimento sobre a importância da 50% de não leitores desde 2007?
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Leitura transformando
vidas e sociedades
44 ca p ít ul o 1
Leitura, educação e objetivos
de desenvolvimento sustentável
(ODS)
Maria Rebeca Otero Gomes e Célio da Cunha
– u n e s co
A formação do leitor
56 ca p ít ul o 2
O analfabetismo funcional e os
não leitores – Um diálogo entre as
pesquisas INAF e Retratos da Leitura sobre
avanços e retrocessos na formação de leitores
Ana Lucia Lima
66 ca p ít ul o 3
Leitores que perdemos pelo
caminho – Os perfis do leitor de literatura:
do aluno-leitor ao professor-leitor
Rita Jover-Faleiros
78 ca p ít ul o 4
O encantamento das crianças
pelos livros e pela leitura nas
famílias e nas escolas: letramento
emergente e alfabetização
Idmea Semeghini-Siqueira
90 ca p ít ul o 5
Bibliotecas escolares – Livros nas
estantes ou leituras que conquistam leitores
e promovem aprendizagem?
Maria das Graças Monteiro Castro
Leitores de livros,
de literatura e digitais
pa rt e 2
– o que leem A
156 A 5ª edição da pesquisa
100 capí tulo 6
Retratos da Leitura no Brasil
Trajetórias de leitura na – 2019/2020
formação de um autor 157 1. A Retratos da Leitura no Brasil –
Rodrigo Lacerda Apresentação, objetivos e histórico
160 2. A 5ª edição da Retratos da Leitura
106 capí tulo 7 no Brasil − 2019-2020
Por onde andará a literatura 161 3. O Instituto Pró-Livro – IPL
infantil e juvenil brasileira? 162 4. Relatório metodológico
João Luís Ceccantini
> Mas leitores para quê? Qual Se mais de 40% dos entrevistados
brasileiro pode ser o protagonista informam, na pesquisa, que não
ou o sujeito de uma transformação leem porque têm dificuldades para
social ou de sua vida? compreender o que leem, concluímos que
quatro em cada dez brasileiros com mais
A pesquisa revela que leitores desempenham de 5 anos não dispõem de ferramentas
um repertório de atividades sociais, culturais básicas para o acesso ao conhecimento, à
e até esportivas bem mais diversificado e com aprendizagem e para a transformação da
maior frequência do que não leitores. Essa sua situação social.
diferença entre comportamentos de leitores Essa constatação nos traz a pergunta
e não leitores, apesar de quase óbvia, nos que não nos deixa calar: conseguiremos
revela o tamanho do fosso que se desenha melhorar o patamar de desenvolvimento
entre esses dois sujeitos sociais. Certamente social e humano do Brasil com 93 milhões
temos mais leitores nas classes sociais mais de não leitores e, entre eles, quase 78 milhões
favorecidas e com maior possibilidade de de pessoas que não leem não porque não
acesso a atividades sociais e bens culturais, gostam de ler ou porque não têm tempo
mas essa condição revela um cenário para ler, mas porque não compreendem o
preocupante: a manutenção desse status quo. que leem?
Nenhuma sociedade pode melhorar
seu patamar de desenvolvimento humano,
reduzir desigualdades sociais e construir > Aclamando os leitores para
uma democracia sólida se quase metade da revelar os não leitores
sua população não é leitora.
Sabemos que estamos distantes de ser Para destacar a importância da leitura
essa nação leitora, e os 48% de não leitores exaltamos o que a habilidade leitora e o
revelados por esta edição da Retratos da interesse e o gosto pela leitura possibilitam
Leitura confirmam essa distância e revelam aos leitores.
o tamanho do desafio para melhorarmos Em um texto recente que publiquei na
esses indicadores e nossa posição em relação newsletter Pró-Livro, busquei palavras para
à proficiência em leitura no ranking de homenagear os leitores, enaltecendo suas
indicadores internacionais como o PISA.1 habilidades e seus dons especiais:
1 De acordo com o PISA 2018, no ranking de Para aquele que se encanta com palavras,
proficiência em leitura, composto por 77 países, que chora com histórias, que sonha com
o Brasil ocupa a 57ª posição. Pouco mais de personagens, que embala seus momentos
50% dos estudantes brasileiros com 15 anos não com a ficção... todos os dias são dias para se
conseguiram atingir o nível básico de leitura. aventurar pelo desconhecido, espiar amores,
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imaginar sabores, viver outras vidas, perder É urgente traduzirmos as revelações dessa
ou vencer batalhas... virando uma página. reflexão, amparada nos dados da Retratos,
Só o leitor, aquele que lê por prazer e até para orientar políticas e ações mais efetivas,
por vício, sabe que as palavras escritas não e para denunciarmos o que “rouba” o direito
são combinação de letras, mas depositárias à leitura a todos os brasileiros.
de emoções e conhecimentos.
Certamente o leitor quer livros com
muita “coisa escrita”, porque descobriu “Retratos” para quê?
que as coisas escritas contam e guardam > Retratos... um momento no
histórias, desvendam verdades, constroem mapeamento da leitura em
conhecimentos, transformam vidas, nosso país!
empoderam e... libertam da ignorância. Sim!
Isso é temeroso para aqueles que têm medo Um momento marcado na história reflete:
de verdades escritas. o cenário político e socioeconômico; a
efetividade das políticas públicas, dos
Mas qual a importância de exaltar o que programas e das ações que orientam a
diferencia os leitores? formação de leitores; a formação dos
Além de valorizar essa habilidade, ao professores e o acesso à leitura e ao livro
aclamar aquele que lê − em geral pelo fato de no Brasil. O “retrato” reflete também o
ter sido privilegiado socialmente, ter nascido momento do entrevistado, sua opinião
em uma família leitora, ter estudado em e suas representações sobre leitura e
escolas com ensino de melhor qualidade, ter livro, além de sua trajetória educacional
acesso aos livros – conseguimos escancarar e formação leitora.
tudo que está sendo negado aos não leitores Ao construir uma série histórica
e contrapor essa habilidade leitora às podemos acompanhar o impacto dessas
dificuldades daquele a quem foi roubado o políticas, desses investimentos e ações. Na
direito do letramento e de descobrir como é série histórica construída pela Retratos
gostoso ler e sonhar com coisas escritas. desde 2007 dimensionamos o tamanho do
Penso, também, que essa reflexão, desafio: quase metade dos brasileiros não é
amparada nos dados da Retratos, possibilita leitora e muitos deles não leem porque não
buscar na trajetória leitora daquele que lê o compreendem o que leem. Uma gangorra
que o fez leitor: sua família, seu professor, que oscila até seis pontos percentuais de
a escola, o acesso ao livro... para descobrir quatro em quatro anos. Podemos deduzir
o que foi “roubado” e não garantiu ao não que as políticas públicas não estão sendo
leitor o direito de ler e de descobrir o prazer efetivas. Mas uma leitura mais atenta da
da leitura. pesquisa agrega outras explicações a essa,
que, sem dúvida, é fundamental.
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> Uma pesquisa não muda a Mas nenhum diagnóstico tem sentido
realidade se não estiver orientado pelo seu principal
objetivo.
A pesquisa contribui para revelar uma
realidade. Possibilita dimensionar os
problemas e os desafios para superá-los. > Nossa contribuição
Indica o que piorou, o que deu certo, o
que precisa mudar e possibilita identificar A legitimidade da Retratos se prova ao
responsabilidades. Instiga a pensar no oferecer um mapeamento sobre a realidade
tamanho do desafio para melhorar esse da leitura e ao medir o tamanho do nosso
retrato. Promove uma representação positiva desafio para mudar de patamar, e ganha
da importância da leitura. importância ao oferecer esses dados àqueles
Sabemos que diagnósticos não que desenvolvem outros estudos e projetos
transformam realidades, mas sem eles na área da leitura e da formação leitora.
não conseguimos mapear avanços A ampla divulgação da pesquisa em
e, principalmente, identificar o que mídias diversas e a promoção de análises,
efetivamente acontece para além dos entrevistas e debates em relação ao que
discursos, dos planos e dos projetos. ela revela sobre os leitores e os não leitores
Definem-se metas, mas não se avalia seu apresentam a diferentes públicos o “retrato”
cumprimento. Muitas vezes se oferece da leitura no Brasil. É difícil medir o impacto
formação, mas sem um acompanhamento dessa ampla divulgação, mas acredito que
que constate se ela contribui, efetivamente, promova uma representação positiva em
para melhorar práticas. Há uma perversa relação à importância da leitura junto
dissociação entre a formulação de políticas àqueles que desconhecem nossa realidade
e projetos e sua execução nas bases. Um e revele o impacto que a leitura pode ter
vácuo entre formuladores, gestores e na vida das pessoas e na transformação
executores. Entre estes, que conhecem de uma sociedade. Talvez a Retratos ganhe
muito sobre essa realidade e que reclamam essa importância ao ter seus resultados
por não serem ouvidos, encontramos apresentados até mesmo na TV.
os professores, os mediadores, os Socializar nossos desafios e avanços é
bibliotecários... fundamental para envolver toda a sociedade
Sabemos também que há outros estudos na mesma missão.
para explicar nosso déficit quanto a números
de leitores ou os desafios para formar
leitores ou para o letramento. Avaliam Como explicar números
e propõem metodologias, desenvolvem que nos frustram
estudos de casos e pesquisas em
profundidade. Estudos e teses fundamentais Em 2015, na 4ª edição da pesquisa, os
para orientar políticas e ações mais números nos surpreenderam positivamente.
efetivas. Uma pesquisa estatística com a Eles indicavam um incremento no percentual
abrangência da Retratos se propõe a mapear de leitores, especialmente adultos.
o comportamento leitor em todas as regiões Nossa torcida era para que essa
do Brasil, mas precisa dessas outras “lentes” curva ascendente se mantivesse, mas
para sua análise e para traçar caminhos. Essa desconfiávamos, mesmo sem ter visto as
é nossa principal orientação ao convidar tabelas preparadas pelo Ibope, que teríamos
especialistas que desenvolvem estudos mais que olhar para baixo.
aprofundados na academia sobre os temas O desmonte dos programas voltados
abordados na Retratos. à democratização do acesso ao livro, à
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pode ser explicada por vários “acidentes” lido pelo lado cheio do copo, e que está
que marcaram esses quatro anos, como já em sintonia com o resultado positivo na
apontei: o desmonte ou a descontinuidade proporção de leitores entre 5 e 10 anos, é
de políticas públicas e de programas do livro a elevação, de 82% para 86%, no número
e leitura e a redução no potencial de compra de leitores que estavam estudando no
e de acesso da população brasileira motivada momento da pesquisa e que completaram
pela situação socioeconômica que passou a o Ensino Fundamental I. A redução
se deteriorar a partir de 2016. foi verificada entre estudantes que
completaram o Fundamental II (de 84% para
75%) e o nível superior (de 91% para 86%).
“Retratos” da Retratos –
Os destaques desta edição da
pesquisa > A mudança no padrão –
A redução no percentual de
A pesquisa aborda diferentes temas para leitores em alguns segmentos
apresentar os indicadores de leitura dos
brasileiros e traçar o perfil do leitor e do não Desde a primeira edição da pesquisa
leitor: seus hábitos, interesses, influências, encontramos mais leitores entre aqueles
formas de acesso, o que lê, por que lê e, que têm nível superior e melhor situação
também, por que não lê. Nesta quinta edição, econômica, identificados na pesquisa como
o escopo da pesquisa e sua amostra foram segmentos de maior renda familiar (mais
ampliados para incluir nesse diagnóstico de 10 salários mínimos) ou classe A. Isso
abrangente os hábitos de leitura em todas as se mantém na 5ª edição, mas com redução
capitais brasileiras e para conhecer o leitor expressiva no percentual de leitores
de literatura em livros e em outros meios nesses estratos, o que pode ter impactado
ou plataformas. a redução do percentual de leitores nesta
A pesquisa traz essa imensidão de edição. Em relação ao número de livros
informações analisadas segundo diferentes lidos, o destaque é a redução no número de
perfis socioeconômicos e educacionais, de leitores de livros em geral e livros inteiros
faixa etária, localização, gênero e até religião. no nível superior. Ocorreu apesar de não ter
Recorrendo à “lupa” para analisar o que havido redução no número médio de livros
a Retratos 5 revela, se optarmos por focar lidos de 2015 a 2019.
o lado cheio do copo, podemos dizer que,
apesar da redução de 56% (2015) para 52%
(2019/20) no percentual de leitores, a média > O uso do tempo livre – Uma das
de livros lidos permaneceu estável, de 2,54 hipóteses para a mudança no
para 2,60, considerando um período de três padrão
meses, que é o período de referência para a
definição de leitor. O uso do tempo livre foi o motivo que
Outro dado positivo se refere às teve maior ressonância entre os analistas
crianças de 5 a 10 anos, com uma elevação desta edição para explicar a redução no
no percentual de leitores de 67% para percentual de leitores com nível superior de
71%, apesar de, nas demais faixas etárias, escolaridade, como já antecipei. A pesquisa
identificarmos estabilidade ou redução, revela que 86% desses leitores usam com
sendo a redução mais expressiva observada frequência o WhatsApp (eram 76% em
na faixa entre 14 e 18 anos − de 75% para 67%. 2015). As redes sociais (Facebook, Instagram
O decréscimo também aparece entre ou Twitter) também parecem roubar o
estudantes, mas um dado que pode ser tempo para os livros, pois foram citadas
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por 64% dos que tinham nível superior, e 14 a 17 anos (24%). Importante destacar
enquanto o percentual dos que leem livros que na faixa etária entre 5 e 10 anos assistir
no tempo livre foi de 42% entre os que a vídeos ou filmes em casa (71%) perde
atingiram esse nível de escolaridade (eram somente para assistir a TV (82%) e escrever
46% em 2015). (75%). Entre crianças e adolescentes, outra
Entre os leitores em geral, atividade bastante realizada no tempo
independentemente do nível de livre é jogar videogame, citada por 40% das
escolaridade, o percentual de quem usa seu crianças de 5 a 10 anos e 38% daquelas com
tempo livre no WhatsApp é menor: 68%, 11 a 13 anos, o que confirma que essa tem
apesar de ter havido um aumento expressivo sido a opção dos pais para o entretenimento
em 2019 (eram 53% em 2015). das crianças em seu tempo livre e que
Considerando crianças e adolescentes, também reduz o tempo para a leitura de
a proporção dos que realizam atividades livros, atividade citada por 29% das crianças
relacionadas à internet no tempo livre de 5 a 10 anos.
também é maior justamente entre os
adolescentes de 14 a 17 anos (66% deles
informam o uso de redes sociais no tempo > Os não leitores − Dificuldades
livre). Essa proporção é de apenas 11% para ler
entre crianças de 5 a 10 anos e de 35% entre
aquelas de 11 a 13 anos. Portanto, a pesquisa Outro dado que merece destaque nesta
demonstra que a concorrência pelo tempo “radiografia” é a proporção da população
livre entre as atividades na internet e a com 5 anos ou mais que afirma não ter
leitura de livros é maior entre adolescentes dificuldades para ler. Ela se manteve em
com idade para estar no Ensino Médio. Por 33% nas duas últimas edições (2019 e 2015),
outro lado, a proporção dos que leem livros mas apresentou redução significativa
no tempo livre varia menos entre as faixas em relação a 2011, quando o resultado foi
etárias de 5 a 10 anos (29%), 11 a 13 anos (22%) de 48%.
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declaram que encontram nessa biblioteca se podemos comparar esses leitores − seus
todos os livros que os professores indicam; interesses e suas experiências leitoras − com
23%, que encontram parte dos livros; e 8%, os leitores no suporte livro. Nesse sentido, as
que não encontram os livros indicados primeiras questões que surgem são: o leitor
pelos professores. Já 18% dizem que os que acessa (ou recebe) textos literários em
professores não indicam livros. Essa outras plataformas ou outros meios é leitor
avaliação piora entre os que completaram o de literatura? Teríamos leitores em mutação?
Ensino Fundamental II, pois somente 26% As conexões mediadas pela internet e as redes
declaram que encontram todos os livros que sociais estão despertando novos interesses e
os professores indicam e 22% dizem que os comportamentos leitores?
professores não indicam livros. Entre aqueles Além dessas, muitas outras questões
que completaram o Ensino Médio, somente despertam essa inquietação:
20% dizem que encontram na biblioteca da
escola ou faculdade todos os livros indicados
pelos professores. − A preferência pelo livro
em papel
futuro leitor, destacando a importância dos sem qualquer compromisso com identidade,
textos informativos e dos textos literários amando e vasculhando centenas de autores.
(estes, enquanto arte) para a formação do “Por onde andará a literatura infantil
sujeito leitor. Acha que os dados da pesquisa e juvenil brasileira?”, pergunta João Luís
acerca das percepções dos entrevistados Ceccantini, para nos dizer que, segundo
sobre o que entendem como bibliotecas sua leitura dos resultados da pesquisa, os
escolares apontam para uma relação direta índices de leitura de literatura contradizem
entre os diferentes níveis de escolaridade aqueles que dizem que cada vez se lê
e a motivação e a frequência de uso da menos literatura. Na defesa da sua tese
biblioteca. ele destaca que 28,9% dos entrevistados
declararam-se leitores de livros de literatura,
Propus a Rodrigo Lacerda nos relatar o que corresponde a cerca de 55 milhões de
sua trajetória leitora com o propósito de leitores; além de 31,7% que declararam ser
descobrir, nesse percurso, leituras e autores leitores de literatura em outros formatos
que seduzem a tal ponto que despertam a digitais, o que corresponde a cerca de 61
vontade de “imitar” ou de “botar pra fora” milhões de leitores. Mas também traz uma
o que tais leituras desvendaram sobre sua dúvida sobre esses leitores, ao verificar
existência. Leituras que transformam um que um número significativo não indicou
leitor em autor devem ser poderosas. A o título do último livro que teriam
significativa aprendizagem que Rodrigo nos lido. Ceccantini traz outro contraponto
traz, em especial para mediadores e para importante ao analisar as obras citadas
aqueles que sonham descobrir como formar pelos leitores de literatura infantil e juvenil:
leitores, destaca como os interesses mudam a prevalência de obras estrangeiras, apesar
nessa trajetória, que vai se desenhando da diversidade e da qualidade da produção
desde a infância, ganhando complexidade nacional, com “alto padrão criativo de nossa
na adolescência, ao buscar personagens que literatura infantil e juvenil, reconhecida
provoquem maior compreensão de si ou do nacional e internacionalmente”. Mas o mais
mundo na busca de “companhia” para seus perturbador, nas palavras dele, é a ausência,
problemas, ou, quando já adulto e escritor, na lista de autores citados, de autores
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consagrados como Lygia Bojunga, Marina Setor Editorial Brasileiro, atendeu nossa
Colasanti, Ziraldo, Ricardo Azevedo, João “encomenda” para analisar se o que a
Carlos Marinho, plenamente inseridos nos Retratos revela sobre os consumidores de
acervos enviados a bibliotecas escolares de livros está em sintonia com os estudos
todo o país. Essa lamentável constatação desenvolvidos sobre o mercado editorial e
o leva a apontar como fundamental, para se esses conhecimentos podem orientar a
reverter o quadro deficitário em relação à cadeia produtiva. Em “A demanda por livro:
leitura, a necessidade de políticas e ações dois lados de uma mesma moeda”, Mariana
mais efetivas para garantir a mediação destaca vários achados importantes, como a
de leitura e a formação de mediadores preferência dos leitores pelo livro em papel
(professores, bibliotecários e agentes). e o preocupante, para o mercado livreiro,
Em “Literatura de ficção, escola e utopia”, aumento expressivo do uso do tempo livre
Ricardo Azevedo nos leva a percorrer poesias nas redes sociais e acessando conteúdos via
para mostrar a importância da literatura e streaming. Outra sinergia entre os estudos
da ficção na formação do jovem. Defende verifica-se na redução de leitores de nível
a literatura que “trabalhe as semelhanças/ superior que rebate, entre 2014 e 2019,
identidade entre as pessoas” e não as diferenças na queda do subsetor de CTP (Científicos,
(infantil, juvenil, adulta). Para ele, “a criação Técnicos e Profissionais). Mas, além de outras
da utopia depende da capacidade de criação leituras, a meu ver, Mariana deixa alguns
das pessoas, e essa capacidade tem a ver, entre recados importantes para a cadeia produtiva:
outras coisas, com a ficção: a arte de imaginar o se os leitores de literatura leem e consomem
que não existe, mas poderia existir”. Portanto, livros cinco vezes mais do que os demais
não depende de idade e é fundamental para brasileiros leitores, parece ser estratégico
que o jovem experimente emoções ou imagine investir no incentivo e, eu diria, na formação
situações que ainda não viveu. do leitor de literatura para “gerar um
Mariana Bueno, economista e responsável incremento positivo na demanda por livros”.
pela pesquisa Produção e Vendas do Mariana “cutuca” um pouco mais ao afirmar
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que “a expansão concreta da demanda” por valor simbólico do livro e o direito à leitura
livros depende de “pleitos” que promovam e à literatura, está sendo desenhado. Mas
políticas públicas voltadas à formação de não poderia deixar de destacar, porque
uma população leitora dentre aqueles quase compartilho integralmente, o alerta que
50% que se declaram não leitores. Castilho apresenta, com tantos argumentos,
Fabio Malini, convidado a refletir sobre os sobre as responsabilidades do Estado: na
impactos da leitura de livros em plataformas garantia dos “direitos básicos da cidadania
digitais no Brasil a partir dos dados da para todos, somente o poder público, em
pesquisa, certamente foi quem me trouxe todos os seus níveis federativos, tem a
mais inquietações, ao identificar, em seu possibilidade de trabalhar com programas
artigo “A plataformização da leitura e redes e ações com escala para atingir a maioria
sociais: impactos no consumo de livros”, da população”, em especial em um
como as plataformas (Facebook, WhatsApp, país tão complexo, diverso, com tantas
Instagram, etc.) impactam a leitura à medida exclusões e com a tamanha extensão.
que priorizam os conteúdos, atores (autores) Mesmo reconhecendo a importância das
e a agenda que serão mais visibilizados. organizações não governamentais e de
Nesse sentido, encontra “achados” na outros entes da sociedade civil que lutam
pesquisa que apontam para uma “mutação” por um Brasil de leitores, em especial em
na ideia de público leitor para “amigo- momentos de desmonte como o atual,
-seguidor”, na ampliação do percentual para ele “é igualmente verdadeiro que só
daqueles que citam o autor como fator alcançaremos um Brasil de leitores se houver
de escolha e de compra do livro. Para ele, uma forte política pública”. Eu acrescentaria:
essa preferência, não pela obra ou o tema, nós, da sociedade civil, devemos ficar
indica que o interesse é despertado pela atentos e alertas aos “cantos das sereias”:
identificação e a relação de “proximidade” as responsabilidades do Estado não podem
que esse “leitor” estabelece, ou que acredita ser transferidas, sob o argumento da “livre
que tem, com esse autor nas redes e mídias inciativa” ou da qualidade desses serviços,
sociais. Malini, ao defender que essa para a sociedade civil ou para o privado.
mutação pode impactar o consumo de
livros, destaca também a ampliação do uso * Zoara Failla Socióloga pela Unesp, com
da internet em todos os segmentos e aponta mestrado em Psicologia Social na PUC-SP e
o interesse por temas “plataformizados” pós-graduação pela FGV-SP. Foi consultora do
que polarizam nas redes sociais, aglutinando PNUD e coordenou o Programa de Melhorias
grupos e definindo audiências em torno do Ensino Médio/SEE-SP. Consultora nos 5
de “autores” e suas ideias. Na indicação de PALOPS, entre outras atividades na Fundap.
gêneros lidos por esses leitores, aponta a Desde 2006 responde pelos projetos do
preferência por textos mais ligeiros, como o Instituto Pró-Livro, tendo coordenado o
conto e a poesia. Programa Mais Livro e Mais Leitura, em
José Castilho Marques Neto, o conhecido parceria com o MINC; a Plataforma Pró-
pai do PNLL, e somente ele, poderia nos -Livro e as quatro edições do Prêmio IPL
ajudar a explicar por que os números da – Retratos da Leitura. Coordenou também
Retratos 5 nos frustraram tanto. Em seu as três últimas edições da Pesquisa Retratos
artigo, “Retratos da leitura no Brasil e as da Leitura no Brasil e, em 2018/2019, a
políticas públicas do livro e leitura − O realização da Pesquisa Retratos da Leitura
que nos diz a série histórica”, Castilho nos – Bibliotecas Escolares. Foi organizadora
traz um apanhado importante sobre a das obras Retratos da Leitura no Brasil
escala desse desmonte ou de como esse 3 e 4 e é autora de vários artigos sobre o
projeto, que vai aos poucos minando o comportamento leitor do brasileiro.
42 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
i ntrodução | 43
Leitura
transformando
vidas e
sociedades
ca p í t u l o 1
Maria Rebeca Otero Gomes ( u n es co) *
Célio da Cunha ( u n e s c o) **
Leitura, educação e objetivos
de desenvolvimento
sustentável (ODS)
exígua parcela da população. Além disso, mesmo quando elas dominam a técnica
como foi dito, entre os livros mais lidos da leitura. É nisso, fundamentalmente, que
destaca-se a Bíblia, o que mostra um sintoma a globalização é trágica, não por dissolver
preocupante dos tempos de transição que as identidades, mas por “planetarizar”
estamos vivendo. Não que a Bíblia não a massificação, carregando os detritos
seja uma leitura relevante no marco da culturais até os confins do universo e, assim,
civilização ocidental, mas a distância que a destruindo a curiosidade intelectual sem a
separa, em termos do número de leitores, qual deixa de existir o prazer da leitura.
de outros gêneros literários é enorme e (rouanet, 2003, p. 71).
indicativa de uma crise mais ampla. Talvez
uma das explicações possíveis para esse Como no Brasil existem milhões de
fenômeno esteja nas reflexões de François letrados que poderiam usufruir da riqueza
Dubet (2020, p. 114), em sua afirmação de multidimensional de obras de grande
que a “história social está se tornando uma alcance em todos os gêneros disponíveis
história religiosa, a de uma fé destruída pelo e não o fazem, o argumento de Rouanet
mundo real. À custa de uma negação da tem procedência e deve ser considerado,
história pode-se sempre guardar a fé [...]”. sobretudo em uma fase da história nacional
Neste ponto do texto, vale salientar em que as políticas de cultura parecem
que as sociedades mais avançadas são caminhar à margem das preocupações
também as que mais valorizam o livro com predominantes. E, na medida em que isso
a consciência de sua importância, tanto ocorre, perde-se a oportunidade de “adicionar
em termos de crescimento pessoal como algo ao mundo”, para usar um pensamento
para o desenvolvimento social, econômico de Hannah Arendt (apud Bauman, 2003)
e cultural. É certo que, entre os fatores que referente ao papel das artes. A propósito,
estariam contribuindo para o assustador Bauman observa ainda que, com toda a
retrato da leitura no Brasil, podem estar certeza, os livros enriqueceram o mundo.
presentes o elevado contingente de Eles sempre fizeram parte do mundo e essa é
analfabetos funcionais e os alarmantes precisamente a razão pela qual o aditamento
déficits de escolarização. Todavia, existem oferecido por eles pode ser assimilado. Além
outros atores que podem contribuir para um disso, salienta esse notável pensador:
entendimento mais amplo da crise de leitura
e que deveriam participar da discussão em nosso mundo globalizado, o destino
sobre as causas da inexistência, no Brasil, do livro não depende das tecnologias da
de uma sociedade de leitores. Nessa direção, impressão, nem pode ser explicado por elas
emerge o argumento de Sérgio Paulo ou por qualquer outra coisa relacionada
Rouanet (2003, p. 58) quando pergunta se a com o mercado editorial. Os livros estão
crise do livro que preocupa os intelectuais condenados a compartilhar a sorte das
do país não constituiria antes uma crise da sociedades das quais fazem parte. Quando
cultura, na qual a crise do livro poderia ser pensarmos em livros, pensemos em
um epifenômeno ou ao menos um sintoma. primeiro lugar nas sociedades. Quando
Rouanet continua, afirmando que: estivermos inquietos com o futuro dos livros,
consideremos, antes de tudo, com maior
Se nossa análise é apropriada, existe atenção a sociedade e suas tendências.
realmente uma crise da cultura que, em Para tornarmos os livros mais adaptados
grande parte, reproduz a crise do livro. As à sociedade em que vivemos, estejamos
pessoas não leem, não por serem analfabetas, vigilantes para evitar que a sociedade se
mas por serem vítimas do fenômeno social torne inadaptada aos livros.
do “iletrismo”, ou seja, a recusa de ler, (bauman, 2003, p. 33)
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É certo que nem todos os livros que “seja orientada no sentido do pleno
acrescentam algo ao mundo, mas os que desenvolvimento da personalidade humana
podem fazer isso são inúmeros, a exemplo e do fortalecimento do respeito pelos
de duas obras marcantes da história da direitos do ser humano e pelas liberdades
Unesco, que resultaram de relatórios fundamentais”. Esse direito se efetiva por
mundiais, respectivamente Aprender a meio de escolas e livros que proporcionem
ser (1972), coordenada por Edgar Faure, e a todas as pessoas a oportunidade de
Educação: um tesouro a descobrir, de Jacques aprender, ler e compreender o mundo,
Delors. Ambas percorrem o mundo até hoje condição essencial para a busca do pleno
e contribuíram para chamar a atenção e desenvolvimento humano. Alguns países
colocar em evidência certos pressupostos perceberam isso há muito tempo, como é
fundamentais do processo educativo. o caso da França, que, segundo o estudioso
Milhares de educadores(as) ampliaram da leitura Élie Bajard (2002), oferece
seus projetos pedagógicos após a leitura livros às crianças desde a pré-escola, de
dessas obras. modo a proporcionar o encontro destas
Em relação ao Brasil, o fato de o país com a literatura já nos primeiros anos de
não ter ainda se constituído como uma escolaridade.
sociedade leitora se configura como um Foi a partir dos direitos assegurados pela
estágio inquietante e desafiador que pode Declaração Universal de 1948 que a Unesco
estreitar horizontes promissores e possíveis, edificou os fundamentos de sua atuação
caso fossem outras as condições de educação mundo afora, inserindo na agenda de debates
e cultura. Também é certo que seria muito das quase duzentas nações que a integram
grave imaginar uma sociedade inadaptada temas importantes e indispensáveis para
aos livros, conforme alertou Bauman – garantir o direito pleno à educação, como
como exemplo disso, a pesquisa Retratos o combate ao racismo e a todas as formas
da Leitura indicou aspectos que podem de discriminação, a igualdade de gênero e o
ser potencializados, como a influência da respeito à diversidade e ao meio ambiente.
escola e de professores e professoras na Todos esses avanços foram incorporados
indicação de livros. Sob esse aspecto, e em nos Objetivos de Desenvolvimento
que pesem circunstâncias adversas, imagina- Sustentável (ODS), aprovados na 70ª Sessão
se como possível construir, pela escola e por da Assembleia Geral das Nações Unidas.
intermédio de políticas continuadas, uma Os ODS foram formalizados em uma agenda
sociedade leitora até o ponto de se atingir o norteadora em termos de planos e políticas
estágio em que se pode afirmar, com Moacyr de educação, de forma a assegurar, conforme
Scliar (2008, p. 40), que “a leitura continua estabelece o ODS 4, uma educação inclusiva
sendo ato simbólico. Simboliza aquilo que e equitativa de qualidade, e promover
a humanidade tem de melhor”. E, se essa oportunidades de aprendizagem ao longo da
afirmação de Scliar sobressai como relevante, vida para todos. Os ODS foram incorporados
não se pode deixar na periferia do processo à Declaração de Incheon (Coreia do Sul, 2015),
educativo de crianças e adolescentes um que salienta a necessidade de se desbloquear
bem comum e tão valioso como a leitura. o poder da educação para todos, mesmo
Sob essa perspectiva, a leitura – em situações de crises e conflitos, como
nomeadamente de livros que “adicionam a que estamos vivendo com a pandemia
algo ao mundo” e às pessoas que os leem – se do coronavírus. Nesse contexto, a leitura
configura como um direito proclamado desponta como um dos mais proeminentes
pela Declaração Universal dos Direitos caminhos para liberar as mentes para um
Humanos (1948), que, em seu Artigo 26, continuum da educação e da aprendizagem
assegura o direito de todos a uma educação ao longo da vida.
capí tu lo 1 | 49
Com isso, todas as metas estabelecidas circunscrito aos limites de uma “pedagogia
pela Declaração de Incheon para serem da prosperidade material”, conforme alertou
cumpridas até o ano de 2030 (entre elas, Gabriel Perissé (2006, p. 56). O processo
a garantia de que todas as meninas e de construção da cidadania planetária não
todos os meninos tenham acesso a uma se encerra na aquisição de competências
educação de qualidade nos anos iniciais de técnicas para o mercado, que são necessárias
escolarização; a ampliação das competências e indispensáveis: ele constitui uma parte
técnicas e profissionais de jovens e adultos; – e não necessariamente a maior – de uma
a superação das disparidades de gênero; concepção mais ampla de educação, presente
a garantia de acesso a todos os níveis de nos ODS e em todo o acervo de pressupostos
educação e formação profissional aos mais e conhecimentos que a Unesco logrou reunir
vulneráveis; a garantia de alfabetização para ao longo de sua história.
todos; e a ampliação da oferta de professores Daí a importância dos livros e da
qualificados) dependem de um processo leitura em ambientes de liberdade e de
permanente de educação, que somente pode mentes abertas para diferentes culturas e
ser efetivado por atualizações continuadas, civilizações, ambientes livres de posturas
em decorrência da crescente multiplicação ortodoxas que marcham na contramão da
do conhecimento, que ocorre de forma sem história ocidental. Nunca se pode esquecer
precedentes na história. Além disso, há outro dos ensinamentos da pedagogia maiêutica
aspecto de igual importância. Os ODS e as de Sócrates, que colocava a dúvida e a
metas da Declaração de Incheon apontam pergunta no centro de sua filosofia. Por
para um processo educativo pautado por isso, como salientou Perissé (2006), a
valores fundamentais para a construção da importância dos livros e da leitura deve ser
cidadania planetária, cada vez mais urgente apaixonada, viva, vivificadora e condizer a
diante do cenário de múltiplas desigualdades. um pensar que integra o desintegrado, que
Nessa linha de argumentos, o processo realiza conexões entre os opostos, podendo
de educação contínua não poderá ser mesmo inventar ou descobrir nexos
entre realidades afins ou contrastantes.
Acrescente-se a isso a afirmação de Maria
Elena Rodriguez (2006, p. 144) de que
“la educación necesita ser vista como
indagación. Los maestros necesitan ser vistos
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currículos. Por isso Élie Bajard (2002, p. 60) As reflexões de Fischer nos levam a
sublinha que “o domínio da leitura não reconhecer que, se, por um lado, devem
pode ser isolado das práticas linguísticas. ser realizados todos os esforços no sentido
E essas não podem ser dissociadas das de imaginarmos quanto antes a melhoria
práticas semióticas e comunicativas”. do Retrato da Leitura no Brasil, por outro,
Adicione-se destarte que as práticas de devem ser empreendidos esforços pari passu
leitura constituem estratégias pedagógicas para a sedimentação e a consolidação de
de inegável alcance para uma concepção instituições escolares cidadãs, formadoras
integrada e transdisciplinar do currículo, de mentes abertas à diversidade e livres de
de modo a ensejar nexos e ligações que preconceitos, que trilhem caminhos para a
contribuam para atenuar a fragmentação do construção de uma cultura de paz.
conhecimento.
Ainda em termos do potencial
pedagógico dos livros e da leitura, no Referências bibliográficas
contexto da reforma do Ensino Médio
vigente no país – que estabeleceu a ARENDT, Hannah. Apud BAUMAN, Z. “O livro no
possibilidade de vários itinerários educativos diálogo global entre culturas”. In: PORTELLA, E.
–, a leitura de livros, seguida da prática (org.). Reflexões sobre os caminhos do livro. São
da elaboração de textos, pode se tornar Paulo: Unesco; Editora Moderna, 2003.
módulos curriculares preciosos. Isso com a BAJARD, Élie. Os caminhos da escrita: espaços de
vantagem de aproveitamento de recursos aprendizagem. 3ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 2002.
virtuais, que podem transformar a leitura de BAUMAN, Zygmund. “O livro no diálogo global entre
uma obra, por exemplo, sobre a degradação culturas”. In: PORTELLA, E. (org.). Reflexões sobre
ambiental planetária, em um seminário os caminhos do livro. São Paulo: Unesco; Editora
interativo com a participação de estudantes Moderna, 2003, pp. 15-34.
e professores de uma ou mais escolas. DUBET, François. O tempo das paixões tristes. São
Por último, é preciso reconhecer, Paulo: Vestígio, 2020.
conforme nos assevera Steven Fischer FISCHER, Steven Roger. História da leitura. São Paulo:
(2006), que o acelerado processo de Unesp, 2006.
inovações em curso está moldando o futuro PERISSÉ, Gabriel. Literatura e educação. Belo
da leitura, à medida que um novo padrão Horizonte: Autêntica, 2006.
virtual começa a existir. No caso da leitura RODRIGUEZ, Maria Elena. Adquisición de la lengua
como entretenimento (de ficção ou não escrita. Washington: OEA, 2006.
ficção), o leitor está sendo induzido ao reino ROUANET, Sérgio Paulo. “Do fim da cultura ao fim
até então inimaginável do ciberespaço. do livro”. In: PORTELLA, E. (org.). Reflexões sobre
A leitura religiosa e ritualística também os caminhos do livro. São Paulo: Unesco; Editora
está ganhando espaços imprevisíveis. Moderna, 2003, pp. 57-78.
Todavia, como pondera esse especialista, SCLIAR, Moacyr. “Os muitos retratos da leitura no
há mais de 2.400 anos Sócrates advertia Brasil”. In: AMORIM, G. (org.) Retratos da leitura
para o perigo da palavra escrita lida por no Brasil. São Paulo: Imprensa Oficial; Instituto
pessoas despreparadas e sem condições Pró-Livro, 2008, pp. 15-30.
de compreender o que liam. Os escritos UNESCO. Educação 2030: a Declaração de Incheon e o
fundamentalistas que conquistam dezenas Marco de Ação da Educação. Brasília: Unesco, 2016.
de milhões de leitores representam YUNES, Eliana. “Escrita e leitura na sociedade e
atualmente uma ameaça implícita à na escola: o papel do Estado”. In: SIMPÓSIO
civilização, uma vez que enfraquecem o INTERNACIONAL SOBRE LEITURA E ESCRITA NA
processo de aquisição de conhecimento, SOCIEDADE E NA ESCOLA. Anais. Belo Horizonte:
aprimorado com tanto sacrifício. AMAE, 1994, pp. 171-176.
capí tu lo 1 | 53
Tabela 1:
INAF / Brasil – Níveis de Alfabetismo – 2001 a 2018 (popu lação bras i le i ra de 1 5 a 6 4 a n o s)
Rudimentar 27% 26% 26% 26% 25% 20% 21% 23% 22%
Elementar 28% 29% 30% 31% 32% 35% 37% 42% 34%
Intermediário 20% 21% 21% 21% 21% 27% 25% 23% 25%
Analfabetos funcionais 39% 39% 38% 37% 34% 27% 27% 27% 29%
Funcionalmente
61% 61% 62% 63% 66% 73% 73% 73% 71%
alfabetizados
Tabela 2:
Retratos da Leitura no Brasil – 2019 (bras i l – popu lação de 5 anos ou ma i s po r fa ix as e tá r i as)
Leitores 71% 81% 67% 59% 55% 53% 45% 38% 26%
Não leitores 29% 19% 33% 41% 45% 47% 55% 62% 74%
capí tu lo 2 | 61
Tabela 3:
Retratos da Leitura no Brasil – 2019 (bras i l – popu lação de 5 anos ou ma i s)
Tabela 4:
Retratos da Leitura no Brasil – 2019 x 2015 (bras i l – popu lação de 5 ano s o u ma i s po r fa ix as e tá r i as)
2015 33% 16% 25% 33% 41% 43% 52% 59% 73%
2019 29% 19% 33% 41% 45% 47% 55% 62% 74%
Variação 4 p.p. 3 p.p. 12 p.p. 18 p.p. 4 p.p. 4 p.p. 3 p.p. 3 p.p. 1 p.p.
Tabela 5:
Retratos da Leitura no Brasil – 2019 (bras i l – popu lação de 5 anos ou ma i s po r l e ito r e s e n ã o l e ito r e s)
Leitores Não 14 a 17 18 a 24
Total
leitores anos anos
Brasil
5+ anos
Reúne-se ou sai com amigos ou família 44% 49% 40% 53% 52%
Desenha, pinta, faz artesanato ou trabalhos manuais 17% 22% 11% 16% 10%
Não faz nada, descansa ou dorme 18% 17% 18% 21% 17%
O comparativo entre leitores e não leitores reconhecer que o ambiente digital parece
traz, de maneira inequívoca, evidências da estabelecer conexões e vínculos com
desigualdade de oportunidades entre os dois indivíduos nessa faixa etária que precisam
grupos. Correlações demonstradas tanto ser avaliados e melhor compreendidos para
na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil construir, no espaço digital, estratégias
quanto no INAF entre hábitos e práticas capazes de fortalecer as competências de
de leitura com o grau de escolaridade e letramento junto a esse público.
deste com a renda explicam, em parte, Se, numa primeira camada, os espaços
uma menor exposição dos indivíduos não digitais costumam propor textos breves,
leitores a atividades culturais e de lazer, um com uma linguagem mais simples
menor acesso a fontes de informação e, por e fortemente apoiados por recursos
consequência, um menor repertório para a audiovisuais, permitindo a pessoas com
leitura de mundo. limitado letramento superar as dificuldades
Quanto à maior propensão de e avançar na leitura, isso não significa
adolescentes e jovens em relação a conteúdos que esse leitor possa interagir e usufruir
e formatos disponíveis em aplicativos da potência dos conteúdos em suas
de mensagens, redes sociais e demais multimodalidades. Mais uma vez, tais
plataformas e formatos digitais, é necessário limitações excluirão o leitor não proficiente.
capí tu lo 2 | 63
Sobre as pesquisas
como alguém que leu um livro ou parte dele nos 5 Não se tratando do foco de nossa discussão
últimos três meses e os dados acima mencionados neste texto. Para situar o debate em seu corte
consideram a penetração da leitura no intervalo longitudinal, sugerimos as leituras seminais de
dos últimos 12 meses quando da realização da Marisa Lajolo e Regina Zilberman (1991) e Márcia
coleta. Abreu (1999, 2006).
4 De acordo com os dados oferecidos pelo IBOPE 6 Sendo a lista bastante extensa e em não se
Inteligência (responsável pela aplicação da tratando aqui de discorrer sobre esse recorte
pesquisa), a população brasileira com 5 anos ou específico da questão, sugerimos a leitura
mais (pré-requisito para os respondentes) equivale de Claudete Daflon dos Santos; Silvio Renato
a 193 milhões de habitantes. Jorge (2014).
capí tu lo 3 | 69
justificativas para que o estudo de filosofia, história poeta Manoel de Barros, que “a poesia é inútil,
e literatura constem dos currículos escolares. porém, necessária”.
70 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
ensino da literatura. Na tríade que descreve uma forma de leitura? Não lhes foi pedido que
a leitura como um processo interativo em lessem ao longo dos três meses que antecederam
que estão em jogo três componentes estáveis a pesquisa? Eis aqui uma pista interessante
e indissociáveis – a saber, o leitor, o texto e de investigação acerca das representações
o contexto –, a leitura, entendida aqui como sobre declarar-se “leitor” que, em razão dos
coconstrução de uma imagem mental do limites materiais deste texto, não poderá ser
lido, é um resultado do encontro desses três desenvolvida.
capí tu lo 3 | 71
uma percepção inicial da relação com o 23% em 2007) e, por fim, o número daqueles
livro e a leitura bastante positiva, mas que afirmam “não gostar de ler” oscila
que progressivamente vai diminuindo na faixa entre 23% e 22% de 2007 a 2019.
com o avanço da idade e do processo de Chamam a nossa atenção dois aspectos no
escolarização. intervalo verificado: se, por um lado, há um
Quando interrogados sobre a leitura de progressivo – mas tímido? – aumento de
literatura (contos, crônicas, romances ou pessoas que afirmam gostar “um pouco”
poemas) não exigida pela escola, a leitura de ler, por outro, o número de pessoas
“por vontade própria” de acordo com a que afirmam “não gostar de ler” aumenta
pesquisa, a maioria (54%) afirma não ler também progressivamente em pessoas
literatura; mas, quando observados por faixa com Ensino Superior e nas classes sociais
etária, na grande faixa dos 5 aos 17 anos, os A e B no intervalo entre a 4ª e a 5ª edição
números apontam para leitores de literatura da pesquisa.13
que leem porque querem de maneira mais Quanto à faixa etária, destacamos, mais
expressiva do que os demais (24% dos uma vez, o gosto pela leitura manifestado
respondentes leem ao menos uma vez por pelos respondentes de 11 a 13 anos: 36%
semana de forma espontânea), notadamente gostam “muito” de ler e 62% gostam
na faixa etária dos 11 aos 13 anos, ou seja, na “um pouco”. Esses números sofrem
idade ideal de alunos do Fundamental II. redução a partir dos 18 anos até a faixa de
Diretamente relacionado à leitura que
se realiza espontaneamente pelos leitores 13 Aqui cabe interrogarmo-nos sobre as condições
está o gosto pela leitura. A 5ª edição em que essa mudança se fez: tratar-se-ia de uma
registra, assim, um aumento dos números, diminuição efetiva no número de pessoas que
apontando para uma valorização da leitura gosta de ler ou, no intervalo entre 2015 e 2019,
ao longo das edições da pesquisa desde essa alteração estaria relacionada à redução
2007. Em 2019, 45% afirmaram gostar “um das políticas governamentais de fomento ao
pouco” de ler (43% em 2015, 37% em 2011 livro e à leitura ou ainda a uma assunção de que
e 39% em 2007); 31% afirmaram gostar “não gostar de ler” não seria mais um demérito.
“muito” de ler (30% em 2015, 25% em 2011 e Trata-se de pista de investigação a ser explorada
futuramente.
capí tu lo 3 | 73
respondentes mais velhos, em que 24% em outros suportes (filmes, séries) que
gostam “muito”, 34% gostam “um pouco” e suscitaram o desejo de ler a obra original 14
31% não gostam. e, entre os leitores em geral, 15% afirmam
Entre os leitores de literatura, 54% afirmam que o gosto pela leitura foi transmitido
gostar “muito” de ler, 43% gostam “um pouco”
14 Aqui o tema a ser investigado é fulcral por mais
e 3% não gostam de ler. Entre os leitores de
literatura em “outros meios”, 28% gostam de uma razão, seja pelo advento das sagas, séries,
“muito” de ler, 54% gostam “um pouco” e 17% adaptadas a partir de uma obra literária impressa
não gostam de ler. Podemos destacar, quanto (cf. O Senhor dos anéis, Harry Potter) ou mesmo de
ao suporte – literatura lida em “outros meios” um evento singular na cultura do entretenimento,
−, que há diferenças de comportamento tanto em que uma saga, originalmente criada no
no apreço à leitura quanto na singularidade formato tradicional de livro impresso, foi concluída
de um segmento de leitores que afirmam em seu formato “série de televisão”, mas não no
ler literatura “apenas em outros meios”, formato livro. Estamos falando aqui do advento da
apontando para padrões de consumo e de série Game of Thrones, epicentro de polêmicas em
representação da leitura distintos daqueles nível mundial em razão das soluções de desfecho
dos leitores de literatura “onívoros” – para narrativo para as personagens que não estavam
os quais o suporte não é excludente e que ainda escritas, pois o sucesso da série teria ofuscado
preferem ler no papel (70% dos leitores de a conclusão de sua versão escrita. Os desfechos da
literatura preferem ler literatura impressa no narrativa – quem morre, quem tem direito ao trono
papel, enquanto 16% preferem livros digitais e e afins, foram em grande parte “recusados” por
14% são indiferentes ao suporte), mas aceitam muitos fãs da série, que, para além das fanfics – em
ler em outros suportes. que os desfechos são virtualmente inesgotáveis
Entre os leitores de literatura, é –, manifestaram a não aceitabilidade do modo
importante observar que o papel exercido como encerrou-se a série, gerando um fenômeno de
pelo professor na indicação de leituras é recepção bastante rico a ser estudado do ponto do
relevante: 52% atribuem a um professor horizonte de expectativas da audiência dos fãs.
a motivação para ler literatura, 50% leem
literatura motivados pelas adaptações
74 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
que, em sua maioria, gosta de ler (63%) e É difícil, à luz desses dados, delinear
tem livros em casa (94%). Não é possível um perfil leitor comum, mas destacamos
precisar quais as disciplinas ministradas dois aspectos: a literatura brasileira
pelos respondentes, mas é possível saber aparece materializada pela referência
o que esse grupo de leitores está lendo inexorável a Machado de Assis, que traduz
ou leu recentemente. Os oito títulos mais uma visada plenamente legítima de obra
citados coincidem, em alguma medida, com literária que já está disponível ao grande
as obras citadas pelos leitores em geral: público em diferentes suportes (filmes,
a Bíblia é a obra mais citada e permeia HQ, séries, memes) e cuja leitura é exigida
todos os levantamentos de leitura com com frequência para fins de entrada
papel inconteste.16 Os demais oscilam no Ensino Superior nos concursos de
entre clássicos da literatura nacional, como acesso; e a ausência de autores nacionais
Dom Casmurro, best-sellers que formaram contemporâneos de poesia e prosa.
gerações de leitores, como Harry Potter, e Poderíamos aventar a hipótese de que,
livros de autoajuda. Cabe observar o registro para a grande maioria dos professores
das bases baixas no número de obras entrevistados, haja um grupo de leituras
citadas para avaliar sua representatividade comuns, grandes obras que devem ser
do ponto vista estatístico. Quanto aos ensinadas e outro grupo de leituras de
autores citados, a lista é também bastante entretenimento, sem consequências nem
heterogênea: autores literários, educadores, ganhos em seu estudo, sem a legitimidade
historiadores, autores de autoajuda, líderes social prevista por uma cultura escolar
religiosos. letrada, que reforça essa distinção, apontada
por nós inicialmente, entre a leitura literária
16 Não por acaso, associam-se a leitura e o livro como uma finalidade em si, uma leitura de
à Bíblia. Não saberíamos precisar, por meio dos fruição, cujo gesto é espontâneo, e a leitura
dados levantados, se a população de leitores é literária canônica, a ser estudada, mas que
fervorosamente cristã, mas sem dúvida alguma, não é prevista a partir dessa visada de lazer,
como nos lembra Arlindo Machado (1994) em seu sendo uma leitura transitiva que serve a um
artigo “Fim do livro?”: “Nós nos acostumamos fim que não está nela.
a chamar de livro ao que, na verdade, é uma Não por acaso, perdemos leitores ao
derivação do modelo do códice cristão.” longo do processo de escolarização. Uma das
Assim, desde o advento da impressão de livros, hipóteses para essa perda se deve à transição
progressivamente passou-se a nomear as Escrituras
Sagradas de “livro”.
76 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
aguardamos com impaciência pela 6ª edição MACHADO, Arlindo. “Fim do livro?”. Revista de Estudos
da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que Avançados, vol. 8, n. 21. São Paulo, maio/agosto
possivelmente nos descortinará, em razão de 1994.
de sua abrangência e seu rigor, as dimensões SANTOS, Claudete Daflon dos; JORGE, Silvio Renato.
desse impacto para o mundo do livro e da “Literatura e ensino: um tema e seus problemas”.
leitura. Gragoatá, n. 37, 2º semestre de 2014, pp. 177-200.
Chamarei de literatura, da maneira mais Arte Visual & Literatura Infantil − que
ampla possível, todas as criações de toque abrirão as portas para um novo universo:
poético, ficcional ou dramático em todos a aprendizagem da leitura nos meios
os níveis de uma sociedade, em todos os impressos e digitais, os biletramentos ou
tipos de cultura, desde o que chamamos multiletramentos.17
de folclore, lenda, chiste, até as formas As brincadeiras que envolvem a
mais complexas e difíceis da produção oralidade (cantigas, rimas, jogos de
escrita das grandes civilizações. [...] palavras, parlendas), a mediação da
Ora, se ninguém pode passar vinte e leitura pelo diálogo, na família e na
quatro horas sem mergulhar no universo escola, são atividades que propiciarão
da ficção e da poesia, a literatura concebida as oportunidades iniciais de letramento
no sentido amplo a que me referi parece emergente, preparatórias para que a
corresponder a uma necessidade universal, alfabetização ocorra de modo lúdico
que precisa ser satisfeita e cuja satisfação e eficaz, sem sofrimento, produzindo
constitui um direito. encantamento pelas palavras, pela
antonio candido linguagem.
Vale enfatizar, também, que o termo
“alfabetização” não está obrigatoriamente
> A possibilidade de sonhar e de relacionado ao ato de escrever. O fato
ler com fluência é um direito
de toda criança 17 O termo em inglês “literacy” foi traduzido
imagens e textos, mas que os jovens estão criadora para que se envolvam com a
dedicando menos tempo à leitura de livros. aprendizagem da leitura (Semeghini-
Dados dessa pesquisa − Retratos 5ª edição -Siqueira, 2002; 2013a). Segundo Read (1986,
− trazem contribuições muito relevantes p. 62), convém lembrar que “sem interesse,
para o problema em questão e apontam a a criança não começa a aprender; sem
necessidade de reflexões sobre a criança concentração, não é capaz de aprender;
pequena, tanto na família como na escola − sem imaginação, é incapaz de utilizar
Educação Infantil. criativamente o que aprendeu”.
Quanto à pesquisa de âmbito Isso significa que os órgãos públicos
internacional sobre avaliação, PISA, os precisam reorientar a concepção de
resultados têm constituído um forte alerta, alfabetização, atualmente centrada no
apontando o grau reduzido de proficiência ensino da escrita, para uma concepção de
em leitura de nossos jovens de 15 anos processo que tem início no fortalecimento do
egressos do Ensino Fundamental II (EF II). letramento emergente lúdico − oralidade e
Em 2000, eram 32 países e o Brasil ocupou leitura − e passa naturalmente/posteriormente
o último lugar. Em 2019, dos 79 países, a para a leitura e a escrita convencionais.
posição foi a 58ª, muito abaixo da pontuação Para esse segundo momento, no Ensino
dos países desenvolvidos. Fundamental, Soares (2020) apresenta
Além do PISA, as avaliações nacionais, resultados de pesquisas em que alfabetização
como o IDEB (2019), têm sido muito e letramento caminham lado a lado.
esclarecedoras, indicando que a É preciso também lembrar que, além da
aprendizagem da leitura proficiente é um leitura com os olhos (de imagens, de palavras,
problema a ser solucionado com urgência da Língua Brasileira de Sinais − LIBRAS),
para o Brasil inserir os jovens no século XXI. é possível ler com as mãos (a datilologia
Com relação às crianças, em pesquisa que para o surdo-cego, a escrita em Braille para
envolveu Brasil e Japão, Kishimoto (2009, o cego, os sistemas pictográficos em
p. 462) ressalta a importância da ludicidade material tridimensional) e também ler com
na infância: os ouvidos (pela leitura com os olhos do
outro: presencial ou por meio de gravação).
Brincar e educar são dimensões necessárias Ao ouvir histórias ou notícias lidas pelos
para desenvolver o ser humano. Concebido professores, as crianças internalizam o
como a atividade mais importante da fase discurso escrito, portanto aprendem a
infantil, o brincar é o caminho para uma organização do texto escrito, ampliam o
educação mediada pelo adulto. Ao respeitar o vocabulário, capacitando-se para recontar,
protagonismo infantil e a inserção da criança ressignificando o que ouviram.
na cultura, o brincar e o educar ocupam
espaço na educação, proporcionando
aprendizagens que geram desenvolvimento
(Vygotsky, 1984).
> Linguagem verbal e não verbal: das crianças e dos jovens na atualidade.
o hibridismo no decorrer das No decorrer das “cartas”, a autora propõe
leituras o biletramento, que as crianças sejam
duplamente letradas, tanto em livros
Há sempre uma linguagem mediando impressos como em leitura digital. Após
a interação entre os seres humanos. elencar várias perguntas, na página 128 ela
O termo “leitura” remete a LINGUAGEM acrescenta: “E por fim, o que podemos fazer
VERBAL (palavras, orais ou escritas) e a contra os potenciais efeitos negativos das
LINGUAGEM NÃO VERBAL (imagens, cores, diferentes mídias sobre a leitura, sem perder
sons, movimentos, gestos...). O hibridismo, suas contribuições imensamente positivas
ou a mistura do verbal com o não verbal, para as crianças e para a sociedade?”
ocorre nas línguas, nas artes visuais, nas Em função do breve espaço que nos cabe
artes cênicas, nas artes audiovisuais e nesta publicação, ressaltamos somente que
permeia todas as tecnologias de informação a autora focaliza a atenção, a concentração
e comunicação. Simultaneamente, lemos: e a memória na “era da distração”, discute
palavras/textos, imagens, formas, volumes, as implicações para a “leitura profunda”
planos, cores, luzes, movimentos, sons, e, na carta número 6 − “Do colo para os
olhares, gestos, acontecimentos... Fazemos computadores de colo (Laptops) nos cinco
leituras. Utilizamos o nosso universo interior primeiros anos. Não vá tão depressa” −,
perceptivo e cognitivo-ideológico a fim de focaliza a criança pequena. Wolf (2019, p. 155)
que se processe a leitura por meio do diálogo esclarece:
entre nós e o objeto lido (Bakthin, 1987;
Semeghini-Siqueira, 1999).
No livro O sítio da mente: pensamento,
emoção e vontade no cérebro humano,
Schützer-Del Nero (1997, pp. 11-13) procura
inventariar todos os tópicos que “parecem
relevantes para uma visão unificada do
fenômeno do surgimento da mente a
partir do cérebro humano”. Ressalta que
“a mente não é só pensamento/cognição,
mas também emoção e vontade − todos
os três contracenando no grande palco da
consciência”. Quando nos debruçamos sobre
as relações mente-cérebro com o intuito
de compreender um pouco mais sobre
como ocorre a aprendizagem da leitura,
deparamo-nos com a importância desses
três componentes e com o fenômeno da
plasticidade cerebral, com efeitos muito
significativos nos primeiros anos de vida das
crianças, sobretudo nas famílias de leitores.
Além desses três componentes
mencionados, consideramos relevantes os
inúmeros questionamentos apresentados
por Wolf (2019) no livro O cérebro no mundo
digital: os desafios da leitura em nossa
era, para refletirmos sobre a educação
capí tu lo 4 | 83
Como afirmam tanto Andrew Piper livros de Arte Visual & Literatura Infantil
quanto Naomi Baron, a leitura não tem a amplia a memória discursiva e afetiva
ver somente com o cérebro das crianças das crianças, nutrindo mente e cérebro,
pequenas; envolve o corpo como um todo: portanto expandindo o repertório cultural
elas veem, cheiram, ouvem e sentem os e linguístico. São atividades básicas,
livros. E, se os pais forem indulgentes e vivenciadas em famílias de leitores,
compreensíveis, também os saboreiam. Isso imprescindíveis para as crianças desde a
não acontece com a tela que não tem colo. primeira infância.
Colocar na boca um iPad não é exatamente Para explicitar a importância desse
a mesma coisa. Ver, ouvir, morder e tocar os conjunto de atividades com as crianças
livros ajudam as crianças a fixar o melhor pequenas, recorremos a Vygotsky (1998)
das conexões multissensoriais e linguísticas, no livro O desenvolvimento psicológico na
naquele período que Piaget chamou infância. Esse livro contém seis conferências
apropriadamente de estágio sensório-motor que tratam da percepção, da memória, do
do desenvolvimento cognitivo. pensamento, das emoções, da imaginação
e da vontade. Ao focalizar a imaginação,
A seguir, quando Wolf ressalta que Vygotsky (1998, p. 123) esclarece que
“linguagem e pensamento levantam voo
juntos nesse período”, lembramos que o o processo de desenvolvimento da
desenvolvimento do letramento emergente imaginação infantil, assim como o
requer dedicação/mediação intensiva dos processo de desenvolvimento de outras
adultos para introduzir, ludicamente, as funções superiores, está seriamente
crianças no universo da leitura. ligado à linguagem da criança, à forma
psicológica principal de sua comunicação
com aqueles que a rodeiam, isto é, à forma
> Famílias de leitores: fundamental de atividade coletiva social da
oportunidades que as crianças, consciência infantil.
desde bebês, desfrutam com
relação ao letramento emergente
> Famílias de crianças das classes
O desenvolvimento da oralidade, da vulneráveis: quais causas inter-
interação dialógica (fala e escuta) e -relacionadas interferem no seu
consequentemente do letramento desenvolvimento?
emergente tende a ocorrer de modo
natural em famílias de leitores, com Para avançar na formação das crianças das
amplo repertório cultural e que dispõem classes afetadas pelas desigualdades sociais,
de recursos e de tempo para interagir temos de refletir sobre duas causas a partir
com as crianças. Desde bebês, a mãe/o dos dados da pesquisa Retratos 5.
pai lendo livros com/para a criança no A primeira refere-se às fontes restritas
colo é uma cena aconchegante e diária, de letramento no contexto familiar: baixa
em geral, fotografada. São livros que escolaridade dos pais (confirmada pelos
pertencem à biblioteca da família! Esse dados) e renda familiar restrita – observando
precioso tempo dedicado pelos pais ao somente os extremos, 34% recebem até
brincar livre, às brincadeiras, às cantigas, um salário mínimo e 1% recebe mais de
à música, aos jogos de palavras, aos dez salários. Provavelmente, esses fatores
diálogos e progressivamente à contação de produzem, como consequência, ausência
histórias, à leitura de poemas, ao manuseio do conjunto de atividades mencionadas
para exploração dos livros-álbuns ou inerentes a famílias de leitores.
84 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
Como segunda causa é preciso ressaltar o (4%); preferir outras atividades (5%); falta de
aporte educacional frágil a que certamente tempo (7%); não gostar de ler (8%); não saber
essas crianças tiveram acesso na Educação ler (65%).
Infantil (creche e pré-escola), que pode ser Esses dados referentes às dificuldades
sintetizado pela ausência de recursos para ao ler, sobretudo os 65%, resultantes de
provocar sua criatividade, suas habilidades uma pesquisa de âmbito nacional com
comunicativas e suas explorações físicas, crianças de 5 a 10 anos no Brasil, constituem
como: brinquedos, jogos, materiais para um alerta extremamente significativo da
desenhar/pintar, instrumentos musicais, pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 5
livros-álbuns ou livros de Arte Visual & para refletirmos sobre o que teria ocorrido
Literatura Infantil, cartazes a serem afixados quando eram crianças ainda mais novas,
nas paredes com letras de música, varal com período em que teriam direito a uma
poemas, tela em que são projetadas imagens Educação Infantil de qualidade. Temos de
e textos. Além disso, temos de considerar caminhar em busca de solução!
as condições inadequadas para atuação dos
professores, devido ao tempo insuficiente/
inexistente, no contexto do trabalho, para > “Atualmente está lendo algum
a autoformação e para o planejamento livro?”: as respostas de crianças e
de atividades por meio das quais possam jovens em foco
realizar a mediação de forma lúdica.
Há, portanto, fortes evidências de que Segundo a Retratos 5, responderam
é necessário investir em atividades que afirmativamente à questão: 51% das crianças
propiciem o encantamento pela oralidade e de 5 a 10 anos; 46% dos jovens de 11 a 13 anos
a leitura na Educação Infantil (creche e pré- e 37% dos jovens de 14 a 17 anos.
-escola) de modo a favorecer o letramento As crianças estão lendo mais livros do que
emergente de todas as crianças na os jovens. É importante lembrar que, nessa
primeira infância, nesse período de intensa faixa etária, os livros em que predominam
plasticidade cerebral, importante para a as imagens são os mais acessíveis, pois
aprendizagem (Semeghini-Siqueira, 2013 b). há pouco texto verbal. Por outro lado, os
dados nos alertam também para os 49% das
crianças que não estão lendo nenhum livro
> Dados da pesquisa Retratos atualmente! Além de livros, muitas crianças
5 confirmam e explicitam de 5 a 10 anos são vistas comumente com
as “justificativas” para as seus celulares ou tablets, acessando games,
dificuldades ao ler: foco nas animes e podcasts literários. Na internet,
crianças de 5 a 10 anos elas preferem os vídeos e os filmes (75%).
Há ainda os gibis que 54% das crianças
Tendo em vista as edições anteriores da estão lendo.
Retratos, a porcentagem de livros lidos por Quanto aos jovens, há inúmeras
crianças apresentou um relativo aumento. explicações para o interesse decrescente
Isso é muito importante. No entanto, pela leitura de livros. Faremos referência
questionado sobre as causas de possíveis a duas. A primeira explicação diz respeito
dificuldades ao ler, o grupo de crianças ao fato de que, quando eram crianças, não
que se encontra em fase de alfabetização tiveram a oportunidade de desfrutar de
apresentou as seguintes justificativas: um letramento emergente lúdico nem na
sentir-se muito cansado para ler (1%); não família, nem na escola (Educação Infantil
ter paciência para ler (2%); ter dificuldades e anos iniciais do Ensino Fundamental).
para ler (4%); não ter bibliotecas por perto Portanto não tiveram acesso a vivências
capí tu lo 4 | 85
Em artigo do livro Infância e suas de imagens dos livros de Arte Visual &
linguagens, Pinazza e Gobbi (2014, p. 36) Literatura Infantil e contem histórias
formulam questões que apontam caminhos para seus colegas e familiares, além das
ou propostas para reflexões sobre os inúmeras brincadeiras de faz de conta. Faz-se
ambientes a serem imaginados/projetados necessário, portanto, integrar a leitura e a
para acolher as crianças: escrita de forma envolvente e significativa
para os alunos (Semeghini-Siqueira, 2015).
O que fazer para que o rico e vasto mundo
das artes se conecte ao mundo infantil?
Como criar relações em que imaginação, > O papel do Fundeb na formação
poesia, literatura, teatro cheguem às de leitores no Brasil desde a
crianças aproximando-se delas? É factível Educação Infantil
integrar linguagens − ou reintegrar quando
trabalhamos numa perspectiva não O Fundeb (Fundo de Manutenção e
integrada do conhecimento − de modo a Desenvolvimento da Educação Básica
compreendê-las também como elaborações e de Valorização dos Profissionais da
em que arte e ciência estejam juntas de modo Educação) poderá criar oportunidades
respeitoso? apropriadas às crianças, em todos os
municípios brasileiros, tanto na Educação
Para colocar em prática essas propostas, Infantil quanto nos anos iniciais do
portanto, é urgente que cada escola pública Ensino Fundamental, se funcionar como
de todos os municípios do Brasil receba mecanismo permanente e redistributivo
investimentos para criar ambiente acolhedor de financiamento da educação pública; se
e instigante – Sala de Múltiplas Linguagens – garantir salários dignos para professores
com a participação dos diversos atores. atuarem em tempo integral (não somente
As instâncias governamentais devem com alunos, mas também no planejamento
fazer uso adequado dos recursos públicos e na autoformação); se viabilizar condições
direcionando-os para a efetiva melhoria inovadoras de infraestrutura nos ambientes
das condições estruturais das escolas − Sala de Múltiplas Linguagens − para dar
e das condições de trabalho e formação conta dos multiletramentos.
permanente dos profissionais da educação
pública e gratuita.
Os diretores devem empenhar-se na
gestão e organização de recursos, ou seja,
na obtenção de diversos materiais, como
almofadas, jogos e brinquedos, cadernos
para desenho, giz de cera, instrumentos
musicais, folhas e canetas para cartazes,
livros (impressos, digitais, em braile e em
áudio), computadores e outros recursos
tecnológicos, além de colaborarem na gestão
da dimensão pedagógica.
Os professores entusiastas com
condições, conhecimentos e tempo
suficientes para imaginar projetos
atuarão como mediadores, possibilitando
que as crianças apreciem livros e sejam
protagonistas, criem narrativas a partir
88 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
READ, Herbert. A Educação pela Arte. São Paulo: WOLF, Marianne. O cérebro no mundo digital: os
Martins Fontes, 1986. desafios da leitura na nossa era. Trad. Rodolfo Ilari
SEMEGHINI-SIQUEIRA, Idmea. “Educação & cultura e Mayumi Ilari. São Paulo: Contexto, 2019.
multi-hipermidiática”. In: III Congresso de Arte e
Ciência — Descoberta/Descobrimentos — Terra * Idmea Semeghini-Siqueira Graduada em
Brasilis. São Paulo: ECA/USP, 1999. v. 2. Letras Neolatinas, doutora em Linguística
__________. “O encontro lúdico da criança com a e livre-docente em Educação pela USP.
literatura na escola: ambientes acolhedores e Como professora sênior da Faculdade de
instigantes”. In: Vários Autores (orgs.) PEC — Educação da USP, atua na pós-graduação.
Formação Universitária. São Paulo: SEE-SP/USP/ Desde suas interações em cursos de Letras,
UNESP/PUC, 2002, v. 2, pp. 303-335. Licenciatura e Pedagogia tem desenvolvido
__________. “Recursos educacionais apropriados pesquisas concernentes à Leitura no âmbito
para recuperação lúdica do processo de da Magia/Arte & Informação/Ciência
letramento emergente”. Rev. Bras. Est. Pedag., em textos impressos e hipermidiáticos,
Brasília, v. 92, n. 230, jan./abr. 2011, pp. 148-165. visando otimizar o uso de linguagens desde
__________. “Brincar com linguagens na Educação o letramento emergente na infância. Na
Infantil: espaço-tempo para falar, ouvir, cantar, SEE-SP e na SME-SP, atuou na formação
representar, desenhar, ler e escrever”. In: de professores, além de elaborar textos
KISHIMOTO, T. M. (org.) Brinquedos e brincadeiras para publicações. Participou de Grupos de
na creche e na pré-escola. Brasília: MEC- TV Pesquisa do Instituto de Estudos Avançados
ESCOLA / Salto para o Futuro, boletim nº 12, da USP. Na FEUSP, atua no GP Contextos
junho 2013 (a), pp. 27-40. Integrados de Educação Infantil e coordena
__________. “Questões de letramento emergente o GP Diversidade Cultural, Linguagem,
e do processo de alfabetização em classes do Mídias e Educação.
1º ano do Ensino Fundamental para crianças
de 6 anos”. In: KISHIMOTO, T. M.; OLIVEIRA-
-FORMOSINHO, J. (orgs.) Em busca da Pedagogia
da Infância: pertencer e participar. Porto Alegre:
Penso, 2013 (b).
__________. Magia / Arte & Informação /
Conhecimento na educação de crianças e jovens
neste início do século XXI no Brasil. São Paulo:
USP-Faculdade de Educação [tese de Livre
Docência], 2015.
SOARES, Magda. Alfaletrar: toda criança pode
aprender a ler e a escrever. São Paulo: Contexto,
2020.
SCHÜTZER-DEL NERO, Henrique. O sítio da mente:
pensamento, emoção e vontade no cérebro
humano. São Paulo: Collegium Cognitio, 1997.
VYGOTSKY, Lev. S. O desenvolvimento psicológico
na infância. Trad. Claudia Berliner. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
ca p í t u l o 5
Maria das Graças Monteiro Castro *
Bibliotecas escolares
– Livros nas estantes ou leituras que conquistam
leitores e promovem aprendizagem?
a literatura, como uma de suas expressões, Ensino Médio e Ensino Superior. Mesmo
são um reino do particular traduzido pelo apresentados de forma fragmentada, os
imaginário. A literatura para crianças e resultados da pesquisa estão interligados e
jovens traduz representações do mundo as respostas determinam a compreensão do
pela perspectiva do escritor, do poeta e do perfil desse leitor. O leitor efetivo é aquele
ilustrador. que lê para fins escolares e está diretamente
Já o texto informativo é uma tentativa, influenciado pelas indicações e exigências
como bem apresentam Souza e Castro (2004, do professor. Para conhecer e compreender
pp. 1-3), de síntese entre a arte e a ciência, essa determinação é necessário considerar
e nele há compromissos éticos, estéticos e a complexidade existente na tentativa de
científicos. Seria o espaço de encontro das identificação de um comportamento leitor.
possíveis metáforas capazes de traduzir em A objetividade das perguntas e das
palavras a realidade do texto informativo. A respostas aponta para uma idealização e
zona de contato entre essas duas estruturas uma fetichização presentes em pesquisas de
guarda características dos dois sistemas – a opinião. A comparação dos resultados e sua
arte e a ciência –, formando um terceiro, por análise apenas fomenta debates e reflexões
meio das relações determinadas por ambas que precisariam ser contextualizados e
as partes. Para estabelecer os parâmetros aprofundados. Ao identificarmos o processo
de avaliação do livro informativo, Carlos de de leitura efetivo como uma tarefa escolar,
Souza e Castro (2004, pp. 8-10) apresentam não podemos deixar de considerar que
pressupostos a serem considerados e ele foi pautado apenas por indicadores
que podem ser agrupados em quatro quantitativos: número de livros ou partes de
categorias: linguagem, conteúdo, estrutura e livros lidos em um determinado período de
características físicas. tempo. As características ou a qualidade da
Assim, percorremos alguns conceitos que leitura realizada não podem ser apanhadas
auxiliarão nas análises dos resultados da em sua prática, metodologia e mediação
5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no quando a pesquisa está pautada na
Brasil a seguir. autodeclaração do entrevistado.
A constatação de que o leitor declarado
se encontra na escola diante de imposições
> Percorrendo os resultados da práticas e didático-pedagógicas e tendo
pesquisa como foco a leitura de literatura merece
investigações mais contundentes, em
Analisaremos os resultados da 5ª edição especial quando nos referimos às diferentes
da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil etapas do ensino. O itinerário de cada uma
a partir de cruzamentos de informações e das etapas de ensino aponta para o tipo de
das escolhas conceituais expostas sobre o leitura e seus usos, e certamente o valor
perfil do leitor e sua relação com a idade que possui e a quantidade de livros lidos
e a escolaridade; o significado de leitura não define um leitor nem cria as condições
para esse leitor; as preferências de leitura necessárias para que o sujeito se reconheça
reveladas a partir das formas de acesso; e a como tal.
presença e o significado da biblioteca escolar Nesse sentido, outra questão emerge
na formação do leitor. dos dados da pesquisa: a participação
Considerando a definição de leitor do professor é determinante na busca e
adotada e os resultados apresentados, leitura de um livro, é ele quem estabelece a
podemos identificar um sujeito com idade trajetória de leitura a partir de concepções
entre 5 e 24 anos, agrupado pelas etapas que integram o uso do texto no contexto
de ensino: Fundamental I, Fundamental II, pedagógico e certamente conduzirá o
96 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
William Faulkner
na Universidade
de Virginia,
c. 1925
está no leitor que sou hoje e estará no que Os exemplos de continuidade, no meu
serei amanhã, a tal ponto que a barreira caso, são eloquentes. O senso de humor
temporal se desfaz. inteligente dos quadrinhos que eu lia
Embora a ideia me atraia, e até certo quando criança, sua leveza, generosidade
ponto eu concorde com ela, não sei se é e doce sabedoria, reaparecem, de fato, nos
a única ideia que me atrai e com a qual livros que marcaram minha adolescência.
eu concordo. Afinal, na dimensão em que Posso perfeitamente imaginar Chatotorix,
vivemos, no espaço mais íntimo, temos o bardo gaulês das Aventuras de Asterix,
a sensação muito palpável de que nossa fazendo par com Dâmaso Salcede, o uber-
sensibilidade muda à medida que o tempo chato em Os Maias, de Eça de Queiroz;
passa, de que não somos os mesmos leitores a Mafalda argentina, mais velha porém
de ontem e não seremos os mesmos amanhã. igualmente politizada, nos livros do
Frequentemente nos acontece de escritores Fernando Gabeira sobre a guerrilha urbana
que adorávamos anos atrás de repente e a contracultura; o pequeno Nicolau
perderem o encanto, distanciarem-se de alucinando nas praias da Itaparica de João
nós, enquanto outros, rejeitados numa fase Ubaldo Ribeiro; e o Capitão Haddock –
anterior, passam a fazer muito sentido. Ou “Mil raios e trovões!” – com certeza seria
seja, costumo também aceitar como real a íntimo do Athos, o mais genioso em Os três
evolução constante e imprevisível de nossas mosqueteiros, de Alexandre Dumas.
afinidades, com os artistas da palavra e todos Por outro lado, a passagem de um
os outros também. mundo para outro foi transformadora.
Do embate entre os dois polos – Os personagens da nossa infância, quando
continuidade absoluta X mutabilidade ressurgem nos livros da adolescência,
infinita – não sai uma síntese, mas talvez estão inseridos em ambientes cuja
se possa aceitar que, entre eles, há uma complexidade é mais explícita, as relações
convivência contraditória, tensa e, no entre eles são mais frágeis, seus gestos de
entanto, fluente e harmônica. Ao mesmo violência têm consequências irreversíveis
tempo continuidade e transformação. Os e seus destinos costumam ser bem mais
dois opostos tornam-se complementares. cruéis. Alguns são tocados pela melancolia,
capí tu lo 6 | 103
ou por uma compreensão maior de si e existe para ninguém. E isso, se não resolve
do mundo, outros se fecham, outros se todos os meus problemas, pelo menos me
estragam. faz sentir muito mais acompanhado!
Não é difícil, nesse embalo, chegar no Nesse processo, conheci e continuo
segundo momento de minha transformação conhecendo muitos escritores e livros que
como leitor, entre os 17 e os 35 anos, mais ou adoro – Osman Lins, Mina R, Marguerite
menos. O D’Artagnan de antes cairia muito Yourcenar, Auto do frade, Manuel Bandeira,
bem em várias peças de Shakespeare, tanto Homero, David Foster Wallace, Adélia Prado,
o alegre quanto o sargentão deprimido da Tolstói, Raymond Carver, O poderoso chefão,
continuação Vinte anos depois; o Sargento Grande sertão: veredas, Bashô, Cormac
Getúlio, já que falei em Faulkner, poderia MacCarthy, Ana Martins Marques, etc., etc.
muito bem arrastar seu prisioneiro através No nível existencial, por algum capricho
dos pântanos sociais e raciais da Louisiana insondável da minha história de vida, ou
e do Tennessee. E, da mesma forma, é simples fatalidade arqueológica, uns me
mais complicado ainda o mundo daqueles marcaram mais que outros, mas, como
escritores que entraram depois na minha artistas, aprendi a amar e admirar dezenas,
“timeline”. centenas deles. Um leitor e um escritor,
como duas substâncias químicas, podem
* se tocar sem se misturar por anos a fio, mas
Às vezes, em palestras aqui e ali, costumo uma determinada alteração no ambiente
dividir de outra forma minha trajetória de que os cerca, ou na composição de cada uma,
leitor. Nesta nova divisão, parto do difícil ou nas duas, de repente permite uma fusão
momento da adolescência, quando nos antes impossível.
sentimos a única pessoa infeliz do mundo,
e digo que os personagens literários mais
importantes para mim foram aqueles que
me ensinaram a rir da minha condição. A
superação, pelo humor, das minhas falhas,
fraquezas e inseguranças, tornou-se uma
filosofia de vida. Em seguida, no início
da vida adulta, personagens com
maior poder de autodeterminação
do próprio destino, vilões ou
heróis, me instigaram a não
apenas conviver com meus
problemas, rindo deles,
mas também a arregaçar as
mangas para resolvê-los, e me
mostraram a possibilidade de
a vida ficar melhor graças às
minhas ações e escolhas. Por fim,
a partir dos 35 anos e até agora, as
histórias com que mais me identifico são
aquelas nas quais, embora os personagens
continuem lutando pela felicidade, fica
combinado que tristezas, fraquezas e
contradições são inerentes à condição
humana. Que a felicidade absoluta não
104 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
pesquisa convidam a que procuremos solicitado.23 A tabela que se segue expõe com
compreender melhor – num patamar clareza a situação.
também qualitativo – como se configura
esse leitor, que títulos lê, quais são os
ÚLTIMO LIVRO LIDO (ou que está lendo)
autores desses livros, quais são as obras de
literatura por ele lidas e que integram seu
Base 8.076
imaginário.
Quando analisamos o conjunto Não está lendo/não leu livro 6.078
considerável de respostas22 à pergunta “Qual
Não lembra 182
é o último livro que o(a) sr.(a.) leu ou está
lendo?” e à pergunta seguinte, “Quem é o Não sabe 193
autor deste último livro que o(a) sr.(a.) leu
ou está lendo?”, delineia-se um horizonte Não respondeu 7
familiaridade com o universo do livro e possui por Zoara Failla (Rio de Janeiro: Sextante, 2016), no
certa maturidade de leitor, a ponto de memorizar capítulo “Mentira que parece verdade: os jovens
o título das obras que lê e, sobretudo, o nome de não leem e não gostam de ler”, ocupei-me desses
seus autores, dois fatores que podem orientar suas segmentos do mercado editorial, o que permite
escolhas de leitura, como, por exemplo, ler toda a a comparação com muitos dados e ideias aqui
obra de um autor de sua preferência. abordados.
capí tu lo 7 | 111
vinculadas ao livro e à leitura e estratégias vezes ao número das nacionais. Nesse caso,
implementadas pelo mercado editorial. o dado não chega a espantar, se se levar em
No conjunto de 1.254 livros a que se conta que, do ponto de vista da produção,
chegou após a eliminação dos números o segmento de literatura young adult
referentes às indicações da Bíblia (362) e dos nacional ainda é incipiente comparado ao
livros cujo título não foi informado (382), dos países de língua inglesa, havendo por
foram identificados 258 livros (nova base) ora relativamente poucos profissionais da
que contemplam as categorias explicitadas escrita atuando nesse filão. O conjunto de
na tabela abaixo (ficaram de fora, por títulos disponíveis nos catálogos das editoras
exemplo, as obras informativas, religiosas é ainda restrito, contando com poucas obras
e de literatura adulta), correspondendo a que tenham alcançado grandes tiragens e
20,6% desse conjunto. Vale enfatizar que, repercussão mais significativa.
na seleção dos títulos, houve o cuidado Desse quadro geral das obras lidas por
de diferenciar a produção nacional da crianças e jovens merece ainda destaque
estrangeira quando isso foi possível o fato de a poesia ocupar uma posição
(literatura infantil, literatura juvenil e young absolutamente marginal no conjunto
adult). No caso das categorias HQ e poesia, analisado. Se se levar em conta que a
a identificação dos livros, por vezes, era produção editorial de poesia voltada a
vaga (“poesia”, “poemas”, “HQ”, “gibi”), sem a crianças já tem razoável tradição entre nós,
explicitação de autores ou títulos, não sendo com espaço importante no catálogo de
possível diferenciar as obras de literatura literatura infantil de muitas editoras; se
brasileira e estrangeira. se considerar que boa parte das obras de
poesia infantil são bem ilustradas e possuem
ÚLTIMO LIVRO LIDO OU QUE ESTÁ LENDO materialidade atraente para os leitores
(base: 258) iniciantes; se se levar em conta, além disso,
que esses livros têm sido objeto de alentadas
Nacional Estrangeira compras governamentais nas duas últimas
décadas, com a distribuição de muitos
Literatura infantil 17,8% 36,4%
livros do gênero a escolas e bibliotecas de
Literatura juvenil 5,4% 14,7% todo o país, o evidente descompasso entre a
produção do gênero no Brasil e o percentual
Young Adult 2,7% 14,0%
de leitores que o menciona na pesquisa é
HQ 7,8% desconcertante.
As duas tabelas que se seguem
Poesia 1,2% apresentam o rol de autores brasileiros
de literatura infantil que foram evocados
A informação de caráter geral mais pelos entrevistados: a primeira elenca
imediata que se depreende da tabela é a aqueles escritores usualmente associados à
superioridade quantitativa da leitura de literatura infantil e juvenil; a outra relaciona
obras de literatura estrangeira em contraste autores geralmente mais conhecidos por
com as obras de literatura brasileira. No caso sua produção adulta, mas que também
da literatura infantil, as obras traduzidas publicaram eventualmente alguns títulos
correspondem aproximadamente ao dobro de literatura infantil ou juvenil. Em comum
das obras nacionais, e, no caso da literatura às duas, destaca-se o fato de que quase para
juvenil, correspondem ao triplo. No que nenhum autor há mais de uma menção. Ao
diz respeito à categoria young adult, a contrário, há uma expressiva pulverização
desproporção é bem maior, com as obras de nomes. A exceção resume-se a Monteiro
estrangeiras correspondendo quase cinco Lobato, Ruth Rocha, Walcyr Carrasco e Pedro
112 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
Moacyr Scliar 1
AUTORES NACIONAIS DE LITERATURA Olavo Bilac 1
Infantil e juvenil
Paulo Leminski 1
Ruth Rocha 3
Walcyr Carrasco 2
No conjunto de autores listados
predominam escritores vivos – 54% do total
Pedro Bandeira 2
–, cuja produção literária se dá sobretudo
Maria José Dupré 1 após a primeira metade do século XX. Do
Vinicius de Moraes 1 conjunto de escritores, 59,4% são homens,
Marco Túlio Costa 1
89,1% se originam do Sul e do Sudeste do
país e todos são brancos.
Carina Rissi 1
A tabela que apresenta os autores
Mirna Pinsky 1 estrangeiros citados no universo de obras
Sérgio Klein 1 em pauta, em comparação com as duas
Sônia Salerno Forjaz 1 tabelas dos escritores brasileiros, revela
menos pulverização quanto ao número de
Tânia Alexandre Martinelli 1
escritores.
Paula Pimenta 1
quatro autores foi amplamente adaptada Joel Rufino dos Santos Gustavo Bernardo
para o cinema e/ou para a televisão, Eliane Ganem Nilma Lacerda
convertendo-se em fenômeno midiático de Toni Brandão João Anzanello Carrascoza
proporções globais. Heloisa Prieto Mário Teixeira
Na tabela de autores estrangeiros é Daniel Munduruku Jean-Claude Alphen
relevante perceber também que há uma
Angela Lago André Neves
predominância de homens (72,7%); quase
Roger Mello Menalton Braff
todos os escritores (homens e mulheres) são
Vivina de Assis Viana Nelson Cruz
de língua inglesa (90,9%) – a exceção cabe a
Dipacho (colombiano) e Júlio Verne (francês); Sonia Rodrigues Stella Barbieri
e todos são brancos. Nessa lista chama Rosana Rios Ilan Brenman
Embora deixados de fora das listas estatura que possuem Lygia Bojunga,
anteriores, esses 49 escritores (muitos Marina Colasanti, Ziraldo, Ricardo Azevedo,
deles também ilustradores) não são, de João Carlos Marinho, plenamente inseridos
modo algum, periféricos no universo nos acervos enviados a bibliotecas escolares
da literatura infantil e juvenil brasileira. de todo o país, não sejam flagrados pela
Muitos deles ocupam, em realidade, uma pesquisa?
posição central. São escritores plenamente É lamentável que esse problema remeta
inseridos no mercado de literatura infantil a uma questão sobejamente debatida no
e juvenil brasileira, com muitas obras que, país nos últimos anos, nas mais diversas
nas últimas décadas, alcançaram altíssimos instâncias, mas para a qual não se tem
índices de vendas tanto no varejo (físico chegado a um efetivo enfrentamento:
e e-commerce) quanto no setor de vendas a mediação da leitura. Enquanto essa
ao governo. pauta não for assumida, de forma plena,
Trata-se de uma produção que tem pela sociedade brasileira, continuaremos
chegado largamente às mãos dos leitores patinando frente ao problema, investindo
das camadas médias e altas da população em recursos materiais, a um alto custo, sem
(sobretudo a de natureza urbana), assim que mudanças substantivas aconteçam. Ou
como têm ocupado as prateleiras de um seja, livros nacionais da melhor qualidade
sem-número de bibliotecas públicas, estão disseminados pelo país afora, mas
escolares ou não, por todo o país – e parecem não povoar o imaginário de
não apenas das zonas mais ricas e/ou nossas crianças e nossos jovens porque
urbanizadas –, em função de programas provavelmente não têm sido lidos.
governamentais, de variada envergadura, A pesquisa desnuda esse processo,
destinados à aquisição e distribuição assim como vem sendo apontado há
de livros. tempos por especialistas da área e direta
Além disso, a maior parte dos autores ou indiretamente explicitado em variadas
em pauta produziu obras que alcançaram instâncias, como, por exemplo, os exames
plena legitimação, tanto por receberem de avaliação de alunos – o PISA em nível
importantes prêmios nacionais e federal e outros exames em nível estadual
estrangeiros quanto por constituírem ou municipal –, expondo nossos resultados
frequente objeto da crítica acadêmica e pífios em leitura.
jornalística regularmente produzida e Não se tem assumido, de fato, para
disseminada em diferentes mídias. fora do círculo restrito das boas escolas
Assim, é no mínimo perturbador mirar particulares e públicas, dos clubes de
o retrato pálido obtido da literatura infantil leitura ou das atividades promovidas
e juvenil brasileira quando flagrada pelas por bibliotecas de excelência – para ficar
lentes da pesquisa Retratos da Literatura aqui em alguns poucos exemplos –, que
no Brasil 5. Não condiz com o vigor, a é absolutamente viável e possível formar
diversidade e o alto padrão criativo de nossa bons leitores no país, de textos em geral e
literatura infantil e juvenil, reconhecida de literatura, incluídos aí mesmo crianças e
nacional e internacionalmente. Tal jovens oriundos de meio iletrado. Mas para
instantâneo não parece coerente com que isso se dê, no ponto a que chegamos,
os altos investimentos que se tem feito será necessário um esforço nacional e
no país por meio de diversos e variados institucional de grande porte, de visada
programas de aquisição de obras literárias integradora, que envolva diferentes esferas:
por governos municipais, estaduais e sociais, políticas, culturais, educacionais e
federal. Como explicar, ou melhor, como econômicas.
aceitar pacificamente que escritores da
capí tu lo 7 | 115
A balela de culpar, por nosso mau esses leitores sejam “permanentes”, isto é,
desempenho em leitura, as rápidas aqueles que, passada a etapa da formação (e
mudanças por que vem passando a porque ela foi eficiente), continuam sendo
sociedade nas últimas décadas, sobretudo leitores ao longo de toda a vida até a idade
devido às conquistas implementadas no mais avançada. Teremos, então, nos gráficos
âmbito tecnológico, em particular na esfera da Retratos uma reta ascendente no que se
digital, já não convencem. Ao contrário, a refere à prática de leitura, da infância à idade
própria Retratos mostra bem que os jovens e avançada. Algo bem diferente daquilo que se
crianças que mais leem são também aqueles observa hoje na quinta edição da pesquisa.
que mais se valem das novas tecnologias e
de seus produtos, e que, de um modo geral, * João Luís Ceccantini Professor de
mais atividades realizam: esporte, internet, Literatura Brasileira na UNESP – FCL Assis.
música, redes sociais, filmes, interação com Dedica-se à pesquisa de temas como leitura,
amigos. literatura infantil e juvenil e literatura
Tem ficado cada vez mais evidente para brasileira contemporânea, com várias
os estudiosos do tema no país que, se a publicações na área. Coordena o Grupo de
mediação da leitura continuar sendo tratada Pesquisa CNPq Leitura e Literatura na Escola.
da forma secundária, episódica e localizada Integra a Red Temática de Investigación
como vem ocorrendo, não vamos conseguir Literaturas Infantiles y Juveniles em el
reverter o quadro geral deficitário – que já Marco Ibérico, vinculada à Universidade
se tornou crônico – no que tange a aspectos de Santiago de Compostela (Espanha).
quantitativos e qualitativos ligados à leitura. Coordenou durante alguns anos o Grupo
O país já possui hoje um instrumento de Trabalho Leitura e Literatura Infantil e
legal, sem equivalente na América Latina, Juvenil da ANPOLL (Associação Nacional
que contempla com seriedade a questão de Pós-Graduação em Letras e Linguística).
da mediação, inserindo-a num contexto É votante da FNLIJ (Fundação Nacional do
amplo, de políticas públicas – trata-se da Livro Infantil e Juvenil).
“Lei Castilho”. Sancionada em meados de
2018, institui a “Política Nacional de Leitura
e Escrita como estratégia permanente
para promover o livro, a leitura, a escrita, a
literatura e as bibliotecas de acesso público
no Brasil”.
Resta que, de fato, por meio de um
esforço coletivo envolvendo os mais
diversos setores da sociedade, se
implementem as ações urgentes para
superar o atual impasse. Quem
sabe assim chegaremos a uma
futura edição da Retratos da
Leitura no Brasil que revele o
imaginário de nossas crianças e
nossos jovens então fartamente
povoado pelo que há de
melhor e mais ousado na nossa
literatura infantil e juvenil. E que
ca p í t u l o 8
Ricardo Azevedo *
Literatura de ficção,
escola e utopia
26
ao lad o:
Louis-Félix Amiel
Retrato do Imperador Carlos Magno do Ocidente
(742-814); óleo sobre tela, 1837 ou 1839
de uma questão de ética, de civilização e Nos dias de hoje – pelo menos no Brasil –
de educação política. Queremos ou não existem poucos adultos leitores de literatura
queremos que nossos jovens tenham e poesia. A ideia corrente de leitura hoje
consciência da sociedade e do mundo em é apenas utilitária e está cada vez mais
que vivem e queiram participar de sua associada a manuais técnicos e informativos.
construção e de sua melhoria? Na minha Sem falar no Google. Vamos pensar na
visão, um jovem despolitizado, sem um chamada literatura “juvenil”. “Juvenil” é
mínimo de cultura humana e sem utopia – principalmente um conceito cultural. Faixas
um analfabeto político e social – é um barril de idade são noções culturais e, olhando
de pólvora pronto para explodir: é muita bem, numa sociedade de consumo, são fatias
energia para apenas examinar o próprio de mercado. É uma divisão de pessoas tão
umbigo e só pensar em consumir, usar o milimétrica que daqui a pouco teremos
WhatsApp, comprar tênis e celulares e jogar poesia para mulheres separadas de 32 anos.
videogames. Isso sem falar nos jovens que, Estou entre aqueles que preferem que
por serem pobres, não puderam estudar a literatura trabalhe não com as diferenças
e são prisioneiros do trabalho braçal e da – sempre ocasionais e provisórias –,
ignorância. mas com as semelhanças entre todas as
Lembro e repito: a criação da utopia pessoas e aborde assuntos que possam
depende da capacidade de criação das criar identificações entre crianças, jovens e
pessoas, e essa capacidade tem a ver, entre adultos. Todos ficamos apaixonados, todos
outras coisas, com a ficção: a arte de imaginar temos dúvidas, podemos sofrer, temos
o que não existe mas poderia existir. Nesse medo, gostamos de conforto, sonhamos,
sentido, podemos aprender muito com a detestamos ser humilhados, temos
literatura e a poesia. Elas são formas de ficção contradições e todos, fatalmente, um dia
e, como ensinou o filósofo Richard Rorty, de morreremos. Prefiro imaginar que um jovem
“redescrição” da realidade. Redescrições são examine seu avô e pense: “Como esse cara é
recriações e estas podem nos humanizar parecido comigo!” Prefiro lembrar que um
e ampliar nossa consciência e nossos homem de 80 anos de idade nunca teve 80
horizontes. Por meio de personagens de anos antes. Nesse sentido, é um aprendiz
ficção – penso em Dom Quixote ou Madame análogo a um menino de 8 anos.
Bovary ou Peter Pan ou Alice e seu país de Uma coisa é certa: a literatura não
maravilhas, todos personagens que nunca trabalha com objetividade e raciocínio
existiram, mas poderiam ter existido – aritmético onde 2 mais 2 é sempre igual a
podemos pensar e repensar muita coisa a 4. Na literatura, 2 mais 2 pode ser igual a
respeito de nós mesmos, da vida e do mundo. 1, a 3 ou a 7. Até porque a lógica, a ciência
A partir da literatura podemos nos e a técnica não dão conta de tudo. De que
redescrever como pessoas. A literatura adianta, numa guerra, saber que nela
tem o dom de ampliar nosso vocabulário existem moléculas e átomos? De que
subjetivo. Não me refiro apenas ao número adianta para um homem apaixonado
de palavras, mas, sim, a palavras que entram saber que a mulher amada tem esqueleto,
no nosso vocabulário de forma inesperada, fígado, rins, pâncreas, moléculas, átomos
para expressar, expandir, ressignificar, e cromossomos? A literatura trabalha com
“redescrever” nossos sentimentos, nossa subjetividades. Eis porque ela não deve
visão política e social, nossa leitura da trazer respostas nem lições, mas, sim, fazer
vida e do mundo. Tento dizer que o novo perguntas e lançar hipóteses. Fora isso, na
vocabulário pode permitir que digamos literatura, cada caso é um caso.
uma coisa que nunca tínhamos dito antes a Vou adaptar o que disse Zumthor:
ninguém, nem a nós mesmos. Não é pouco. na literatura “o complexo é muitíssimo
capí tu lo 8 | 121
Mulher, como você se chama? – Não sei. Às vezes, pequenos grandes terremotos
Quando você nasceu, de onde você vem? – ocorrem do lado esquerdo do meu peito.
Não sei.
Por que cavou esse buraco no chão? – Não sei. Fora, não se dão conta os desatentos.
Desde quando você está aí escondida? – Não
sei. Entre a aorta e a omoplata rolam
Por que mordeu minha mão? – Não sei. alquebrados sentimentos.
Não sabe que a gente não vai te fazer
nenhum mal? – Não sei. Entre as vértebras e as costelas
De que lado você está? – Não sei. há vários esmagamentos.
É guerra, você tem que escolher. – Não sei.
Tua aldeia ainda existe? – Não sei. Os mais íntimos
Esses são teus filhos? – São. já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.
Trago agora um trecho do poema “No
caminho com Maiakovski”, de Eduardo Alves Peço licença agora para trazer um poema
da Costa: escrito por mim. “Pássaro” está no livro Feito
bala perdida e outros poemas e costuma ser
[…] Na primeira noite eles se aproximam lido por adolescentes, mas não só.
e roubam uma flor
do nosso jardim. A verdade não se prende em gaiola
E não dizemos nada. Não se derruba com tiro
Na segunda noite, já não se escondem; Nem se mata para comer
pisam as flores,
matam nosso cão, A verdade apresenta espécies variadas
e não dizemos nada. Sua roupagem é transparente embora opaca
Até que um dia, o mais frágil deles Seu bico reinventa todos os cantos
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, A verdade voa para opostas direções
conhecendo nosso medo, Tem usos e costumes contraditórios
arranca-nos a voz da garganta. Pousa inefável em galhos imensuráveis
E já não podemos dizer nada […]
Invisível, a verdade é infinita a olho nu
Pode existir de múltiplas maneiras
A quantas e quantas redescrições esse Sua beleza esconde ensina ilumina e
texto corresponde! Estamos redescrevendo confunde
ditaduras? Estamos falando da corrupção?
Estamos redescrevendo traficantes de A verdade é revelação rude e selvagem
drogas? Estamos usando outras palavras
para falar de uma doença como câncer De seu corpo inconstante transcende lento e
ou aids? Pessoas de todas as idades, veloz
crianças, jovens e adultos podem sentir e O pássaro que jamais imaginamos.
sentem angústia. Textos que trazem esse
sentimento humano com clareza e de forma
compartilhável podem nos tornar mais
humanos. Vejamos o poema “Assombros”, de
Affonso Romano de Sant’Anna:
124 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
capí tu lo 8 | 125
Não há no país uma pesquisa um indivíduo que tenha lido ao menos um livro,
dedicada a realizar o diagnóstico inteiro ou em parte, nos últimos três meses.
da demanda por livros. A pesquisa 28 Relação de leitores (L) e não leitores (NL)
Retratos da Leitura, conhecida e −2007: 55% L, 45 % NL; 2011: 50% L, 50% NL; 2015:
reconhecida mundialmente por traçar 56% L, 44% NL; 2019 52% L, 48% NL.
130 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
efetiva por livros é constituída por essa infância que o gosto aparece como a principal
parcela da população. motivação, suscitando um questionamento
Nesse universo de leitores, apenas 23% imediato: por que razão o gosto pela leitura
compraram ao menos um livro nos últimos deixa de ser fator determinante para a leitura
três meses. A principal forma de aquisição de um livro à medida que a população
é através das livrarias físicas e/ou virtuais, envelhece?
corroborando os dados apurados pelo Para os adultos e adolescentes, tema
mercado.29 Livros presenteados ocupam ou assunto é a principal motivação
a segunda posição no ranking e foram para a escolha de um livro; já para
citados por 25% dos leitores. Ao considerar as crianças a escolha é determinada
que os livros presenteados também foram fundamentalmente pela capa e pelo título.
comprados, observa-se que a compra é, sem A Bíblia continua sendo o livro mais lido,
dúvida, a principal forma de aquisição de um seguido por contos, religiosos e romances, e
livro, representando 66% do total. Dentre em relação ao último livro lido ou que está
os compradores de livros, tema ou assunto, sendo lido, dos seis mais citados, quatro são
título e autor lideram o ranking de fatores infantojuvenis.30
que influenciam a compra de um livro. Em relação ao formato, os dados apontados
Capa foi o fator mais citado pelas crianças e pela Retratos estão em linha com os dados
apresentou crescimento significativo de 7%. apurados pelo mercado:31 67% dos leitores
O preço é fator determinante para 22% desses declararam ter preferência pelo livro físico
consumidores. e 17% disseram preferir o formato digital.
A Retratos também mostra que nos Dentre aqueles que já acessaram um livro
últimos três meses os leitores brasileiros digital, apenas 18% declararam ter pago
leram 5,03 livros, sendo 3,13 lidos por vontade pelo download do conteúdo. Além disso, o
própria e 1,23 de literatura lidos inteiros. As aumento substantivo apontado em relação
motivações mais citadas para ler um livro são: ao uso da internet, do WhatsApp e a assistir a
gosto, crescimento pessoal e distração. É na vídeos corrobora a ideia do mercado de que
o livro passou a ter novos concorrentes, pois
29 De acordo com a pesquisa Produção e Vendas, a ampliação e a intensificação do uso das
redes sociais, dos serviços de streaming e de
realizada pela Nielsen Book e coordenada pelo SNEL
toda a tecnologia on demand resultam numa
e pela CBL, as vendas para livrarias físicas e virtuais
transformação do cotidiano e na maneira como
representaram, em 2019, 63% do faturamento das
os indivíduos leitores ocupam seu tempo.
editoras.
Outro aspecto importante apontado pela
Retratos é a redução do número de leitores
que possuem Ensino Superior ou que estão que se declaram não leitores. Os resultados
cursando a universidade. A série histórica referentes à população não leitora apontam
da pesquisa Produção e Vendas do Setor para um aspecto estrutural da demanda por
Editorial Brasileiro 32 aponta que, entre 2014 e livros: o déficit educacional do país.
2019, o subsetor de CTP (Científicos, Técnicos Dentre as dificuldades apontadas pelos
e Profissionais) acumulou queda real de 50%. indivíduos não leitores, 19% disseram
Nos últimos anos o mercado tem observado que leem devagar, 13% declararam não
mudança significativa no comportamento ter concentração suficiente para ler, 9%
desses leitores e consumidores de livros, afirmaram não compreender o que leem e
mas as respostas para tal fenômeno ainda 4% não sabem ler. Ou seja, as dificuldades
parecem ser insuficientes.33 apontadas por 45% das pessoas possuem
Pela primeira vez a pesquisa traçou forte relação com problemas de compreensão
um diagnóstico específico para os leitores e/ou capacidade leitora e correspondem ao
de literatura, e os resultados obtidos conceito de analfabetismo funcional.
mostram que esses indivíduos podem A última edição do INAF 34 mostrou que
ser considerados “mais leitores”: todos os o país apresentou mobilidade no índice
indicadores apresentam um resultado mais de analfabetismo da base para o meio
positivo quando comparados com leitores da pirâmide. Em outras palavras, houve
de outros conteúdos. O consumo de livros uma redução no número de analfabetos e
do leitor de literatura também é maior; um crescimento da população com nível
portanto, sob a ótica do mercado, o incentivo elementar.35 No entanto, é importante
à leitura de literatura tende a gerar um destacar que não houve alteração no topo
incremento positivo na demanda por livros. da pirâmide, o percentual da população
Se por um lado a Retratos possibilita considerada proficiente, com total
que os agentes da cadeia produtiva do livro capacidade leitora, permaneceu estável e os
tracem um perfil do leitor e do consumidor mesmos 12% detectados em 2001, início da
do livro e consequentemente da demanda série, foram detectados em 2018, último ano
por livros, por outro a pesquisa permite em que a pesquisa foi apresentada.
um diagnóstico do universo não leitor, o
34 Relatório do Instituto Paulo Montenegro sobre
outro grupo representado por cerca de 50%
da população. Para o mercado de livros, analfabetismo funcional: <https://ipm.org.br/
olhar esse lado da moeda não é menos relatorios>.
35 De acordo com o INAF, os indivíduos dessa
importante, uma vez que a expansão
concreta da demanda depende não apenas categoria são capazes de: selecionar uma ou
de um incremento positivo no hábito de mais unidades de informação, observando
leitura da população que já é leitora, mas certas condições, em textos diversos de extensão
também e fundamentalmente da formação média realizando pequenas inferências; resolver
de uma população leitora entre aqueles problemas envolvendo operações básicas com
números da ordem do milhar, que exigem certo
32 A série histórica da Pesquisa Produção e Vendas grau de planejamento e controle (total de uma
é realizada pela Nielsen Book e coordenada pelo compra, troco, valor de prestações sem juros);
SNEL e pela CBL. Os dados são apresentados em comparar ou relacionar informações numéricas
termos reais e deflacionados por meio da variação ou textuais expressas em gráficos ou tabelas
acumulada do IPCA. simples, envolvendo situações do contexto cotidiano
33 M. Bueno e H. Fürst. ¿Dónde están los lectores de doméstico ou social; reconhecer significado de
libros científico-técnico-profesionales? <https:// representação gráfica de direção e/ou sentido de
cerlalc.org/donde-estan-los-lectores-de-libros- uma grandeza (valores negativos, valores anteriores
cientifico-tecnico-profesionales/>. ou abaixo daquele tomado como referência).
132 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
2001/2002
2002/2003
2003/2004
2004/2005
2007
2009
2011
2015
2018
pelo governo federal em 1997 com o objetivo de Nielsen Book, cedidos especialmente para este
promover o hábito da leitura e ampliar o acesso artigo.
capí tu lo 9 | 133
VOLUME VENDIDO (1.000 exs) – Livros infantis e juvenis f onte : n ie ls e n – n ie ls e n b ooks can
10.000
9.000
8.000
7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
2015 2016 2017 2018 2019 2020*
* dados referentes ao período de 01/01/2020 até 22/11/2020
> O suporte preferencial da leitura Há várias hipóteses para isso. Uma delas
digital é o telefone celular tem a ver com a maneira como os livros
circulam hoje, especialmente no Ensino
Essa maior dedicação à busca de informação Superior, em que as disciplinas se iniciam
e conhecimento através da internet fez com os professores disponibilizando um
aumentar o número de leitores de livros acervo digital de livros e capítulos para serem
digitais. Em 2015, era de 26% o número lidos, já que a maior parte dos alunos (dado
de pessoas que tiveram contato com a corroborado nesta pesquisa) está em faixa
leitura de um livro digital. Em 2019, 37%. etária que tem como hábito ler e realizar
A maior parte delas nos grupos etários de tarefas de estudo diretamente em telas digitais,
18 a 24 anos (25%), de 30 a 39 anos (24%) o que explica uma média relativamente alta
e de 25 a 29 anos (14%), majoritariamente de livros digitais lidos por ano (43% dos que
aqueles com Ensino Médio (43%) ou já leram livros digitais leram de dois a cinco
Superior (42%). Um público que passou livros nesse formato), ainda que o formato
também por uma mutação tecnológica preferido por 67% dos leitores que já leram um
radicalizada no percurso desta década, livro digital seja o livro de papel.
quando os smartphones passaram a ser o
principal dispositivo de leitura digital. Em Quando analisada a leitura de livro digital,
2015, 56% dos que já tinham lido um livro percebe-se que esse é um hábito mais
digital o haviam feito através de celular. Em associado aos leitores de livros de literatura,
2019, 73%. No mesmo período, o consumo já que 53% deles já leram algum e-book. Já
literário em computadores e tablets entrou o número de leitores de livros em outros
em uma descendência de uso. Em 2015, 49% formatos que relataram experiências com o
e 18%, respectivamente. Em 2019, 31% e 9%. livro digital foi de 40%.
Grande parte dessa centralidade do telefone Entre os mais escolarizados, quem tem
celular está associada com a ampliação Ensino Superior lê duas vezes mais do que os
da capacidade de armazenamento de que possuem apenas o Ensino Fundamental;
dados, o aumento do tamanho das telas e quem recebe mais de 10 salários mínimos
e o advento da cultura dos aplicativos, de renda familiar mensal lê dez livros
que possibilitam ao usuário trafegar inteiros ou em parte por ano − o triplo de
documentos considerados pesados em quem recebe apenas um salário mínimo.
termos de carga de bytes, como livros, por É importante reportar que baixar um livro
exemplo. Essas funções só fazem sentido diretamente da internet é uma ação mais
porque são demandas de uma cultura
de compartilhamento de conhecimento,
que faz com que o acesso gratuito a livros
aconteça mais rápido do que o pagamento
pelo download. Oitenta e oito por cento
dos que leem livro digital fazem download
gratuito. Ainda que o pagamento pelo
download aumente entre os leitores de
classes de renda mais alta, a grande maioria
lê livros digitais baixados gratuitamente da
internet, uma forma de acesso que cresceu
de 9% (2015) para 12% (2019), aumento
também registrado entre aqueles que não
compraram livros nos últimos três meses:
de 70% para 73%.
142 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
associada às novas gerações, estando mais O impacto disso foi a aceleração da difusão
concentrada numa faixa etária que vive do conhecimento no interior de aplicativos
o estágio de Ensino Superior, a de 18 a 24 como WhatsApp, Telegram, Messenger, etc.
anos. Nesta, 7% responderam que o último Livros, músicas, softwares, artigos, jornais,
livro lido foi baixado da internet e 14% enfim, uma gama de materiais passou a
compraram pela internet. Em lojas físicas, ser distribuída por grupos para que seus
28%. Isso demonstra um leitor híbrido membros os baixassem e consumissem
quanto ao local onde prefere adquirir na tela do telefone ou de um computador,
um livro. O mesmo pode-se dizer sobre o demonstrando que a digitalização bottom-up
formato. O hibridismo é uma tendência com é uma prática dominante nessas aplicações.
crescimento lento, mas já se nota presente Circular material literário passou a ser
nessa população: 16% leram livros digitais. um valor de grupo, um modo de ganhar
mais legitimidade como influenciador de
microcosmos digitais (grupos de amigos,
> Gêneros literários em suportes de família, de trabalho, etc.). E essa é
digitais: a liderança do conto uma tendência que não se concentra em
e da poesia apenas uma região do país. Ao contrário,
quando comparadas as regiões brasileiras,
A pesquisa também investigou a leitura de observa-se um percentual maior de pessoas
gêneros literários em outras plataformas, alfabetizadas que tiveram acesso a contos por
sobretudo a digital. O conto segue sendo o WhatsApp nas regiões Norte (36%) e Nordeste
gênero preferido entre esses leitores: 78% (30%) – e também na região Sul (30%). Essa
destes responderam ter lido, nos últimos cultura do compartilhamento literário
três meses, contos; 65%, poesias; 60%, mostra a plataformização da leitura como
crônicas; e 49%, romances. Esses gêneros uma tendência que só se amplia, dando a
são mais lidos, quando não nos livros físicos, essas aplicações a possibilidade futura de
predominantemente através de diferentes comercializar obras no interior delas.
plataformas digitais, é o que aponta a pesquisa. No Facebook e no Instagram, o gênero
No WhatsApp, 28% dos entrevistados que melhor se molda à plataforma é poesia:
alfabetizados lê contos; 26%, poesia; 22%, 27% dos respondentes alfabetizados a
crônicas; e 19%, romances. Em geral, o leem nesses ambientes. Nos segmentos
perfil predominante desses usuários, da população são os das classes A (37%) e
além de lerem mais contos e poesias, é de B (34%), com Ensino Superior (37%), e com
adolescentes de 14 a 17 anos (35% e 39%, idade entre 14 e 24 anos (46% de 14 a 17,
respectivamente) e jovens de 18 a 24 (42% e 44% de 18 a 24 anos) e residente nas regiões
34%), das classes mais altas A (27% e 27%) e Nordeste (31%), Sul (31%) ou Norte (30%),
B (31% e 30%) e residentes das regiões Norte onde estão os percentuais mais altos de
(36% e 31%) e Nordeste (30% e 33%). acesso à poesia. Contraintuitivamente,
É óbvio que não é possível ler esses esses dados vão de encontro ao mapa de
gêneros no WhatsApp, dado que o conectividade da internet no Brasil, que
conteúdo que trafega na ferramenta mostra uma maior concentração de banda
são mensagens textuais e audiovisuais larga de qualidade no Sudeste; porém
principalmente. Contudo, com as mudanças também é sabido que é nessa região onde
mais recentes na plataforma (que datam estão mais concentrados os equipamentos
do período da pesquisa), foi incorporada a culturais de acesso físico à leitura (livrarias,
função de postagem de documentos e de bibliotecas, etc.), que poderiam constituir
compartilhamento de links para download de um fator inibidor do consumo de diferentes
arquivos pesados (em quantidade de bytes). gêneros literários via internet.
capí tu lo 10 | 143
A poesia passou a ser um gênero digital, Mais uma vez, esse perfil de leitores
com a emergência de inúmeras experiências de crônicas em outros suportes está
em que o compartilhamento de imagens predominantemente nas regiões Norte e
com dizeres poéticos virou uma prática Nordeste, independentemente de qual seja
corrente entre os usuários para expressar o ambiente: em sites de internet, 27% de
certo “espírito do dia”, servindo de base para entrevistados alfabetizados do Norte e 19%
revelar sentimentos e emoções, mandar do Sudeste. Em jornais ou revistas, 14% dos
mensagens indiretas, produzir declarações que moram no Nordeste e 13% no Sudeste,
amorosas, enfim, útil a um conjunto diverso ainda que sejam mais os mais ricos que
de comportamentos em plataformas que são acessam o livro a partir desses suportes,
dependentes de textos breves para comunicar principalmente digitais.
memórias, afetividades e indignações, fato
reportado por 29% dos leitores de livros de
literatura e descrito na tabela “Literatura Referências bibliográficas
compartilhada nos 12 meses”.
A crônica segue sendo um gênero mais BUCHER, Taina. If… Then: Algorithmic Power and
resiliente à brevidade de mídias sociais e Politics. Nova York: Oxford University Press, 2018.
mensageiros instantâneos (como WhatsApp). VAN DIJCK, Jose; POELL, Thomas; DE WAAL, Martijn.
Está mais presente em espaços onde os The Platform Society: Public Values in a Connective
argumentos encontram um público que World. Nova York: Oxford University Press, 2018.
se dedica a um tempo maior de leitura.
Vinte e dois por cento dos entrevistados * Fabio Malini Pesquisador em ciências de
alfabetizados passam o seu tempo lendo dados e redes sociais. Especializou-se na
crônicas em “outros sites da internet”, 10% produção de visualizações de grafos a partir de
em blogs, 15% em jornais ou revistas. Entre megadados (big data) sobre relações políticas e
2015 e 2019, a entrada em cena de sites como culturais produzidas em redes. Possui doutorado
Medium (focado em textos analíticos), a em Comunicação e Cultura pela Universidade
ampliação de uma blogosfera literária e de Federal do Rio de Janeiro. Escreveu, com
sites especializados em resenhas, fandoms Henrique Antoun (UFRJ), o livro A internet e a
(clubes de leitura e escrita feito de fãs) fizeram rua (Sulina, 2013). É professor na Universidade
o mercado de reviews de livros se diversificar Federal do Espírito Santo, onde coordena o
e se integrar também às novas dinâmicas Labic (Laboratório de Estudos sobre Imagem e
de legitimidade da leitura digital, o que se Cibercultura), dedicado a coleta, mineração,
constata no número crescente de cronistas visualização e análise de megadados de
se deslocando para sites e mídias sociais, temas econômicos, políticos e culturais nas
ampliando e cultivando novos públicos, redes sociais. Desenvolveu visualizações
além, obviamente, de serem pautados pelas interativas para os jornais e revistas El País,
narrativas que são disputadas nesses meios. O Globo, Estadão, Folha de S.Paulo, Zero
Sobre quem lê crônicas em outros Hora, Carta Capital e Placar, entre outros.
suportes (que não os livros de papel), em
sites de internet, por exemplo, destacam-se
a população mais adolescente (37% entre
14 e 17 anos) e a mais jovem (31% entre 18
e 24 anos). Já em jornais e revistas, esse
dado muda, pois é a população mais adulta
que majoritariamente lê crônicas nesses
suportes: 18% dos grupos de entrevistados
alfabetizados entre 30 e 39 anos, sobretudo.
Como melhorar
esse retrato?
As políticas públicas
e a sociedade civil
ca p í t u l o 11
José Castilho Marques Neto *
Retratos da leitura no
Brasil e as políticas públicas
do livro e leitura
41
– O que nos diz a série histórica
“O Estado deve fazer o que é útil. leitores sabem a dimensão exata desta
O indivíduo deve fazer o que é belo.” tragédia que é retroceder e não expandir.
Oscar Wilde Vários motivos podem ajudar a
explicar essa queda, mas nada é mais
> O Brasil perde leitores central e importante do que a paralisia e a
posterior destruição das políticas públicas
A quinta pesquisa Retratos da Leitura no de formação de leitores no último
Brasil revela um número deprimente: quadriênio.
nosso país perdeu 4,6 milhões de O que define uma política pública
leitores entre 2015 e 2019. Na quarta de livro e leitura, aqui ou em qualquer
edição, período de 2011 a 2015, havíamos hemisfério do planeta, é a importância
acrescido 16,6 milhões de brasileiros e objetiva e o valor simbólico que o Estado
brasileiras ao mundo da leitura. Se em atribuir a este maravilhoso instrumento
termos percentuais estatísticos o número humano que é a sua capacidade de
da perda pode parecer pequeno, quando criar narrativas, traduzi-las em palavras
transformamos as porcentagens em escritas, que serão lidas por outros seres
pessoas atingidas podemos entender humanos, que as recriarão de acordo com
melhor o alcance do dano. seu juízo e sua sensibilidade. O resultado
Os muitos brasileiros e brasileiras que desse processo complexo, que envolve
estão nas escolas, nas bibliotecas, nos inúmeras variáveis além das palavras, é
centros comunitários, nas margens e nas uma apreensão do real e do imaginário
pontas avançadas deste país construindo, que nos possibilita compreender o que
um a um, o universo de concidadãos somos e o que os outros são. Ler o mundo,
na síntese de Paulo Freire.
41 Partes deste texto foram publicadas no jornal A leitura e a escrita são uma
Rascunho, n. 247, Curitiba, novembro/2020. construção social amplamente
148 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
um Brasil de leitores se houver uma forte clamamos pelo direito à leitura para todos
política pública. Somente a ação continuada e por programas de incentivo e valorização
de entes da sociedade, por melhores que do livro, da leitura, da literatura e das
sejam suas ações e intenções, não modificará bibliotecas. Sem esse eixo, o caminho será
a pesada sentença histórica que carregamos: a percorrido sem unidade, vislumbrando e
negação do direito à leitura. incentivando árvores frondosas, mas sem
Essa compreensão, política por enxergar a floresta. É preciso regar todas
excelência, a começar porque responsabiliza as nossas plantas, públicas, comunitárias e
o Estado pelos direitos básicos da cidadania privadas, sempre e com muita energia, mas
para todos, é fundamental para não se perder será da compreensão da totalidade, e da ação
o fio condutor do que é mais estratégico unitária de todos os elos dessa grande cadeia
reivindicar em todos os momentos da luta em defesa de programas de escala pública,
pela leitura. Admitir o contrário é aceitar, que poderemos ter no futuro um Retrato da
também nesse campo, a ideia de que as leis Leitura no Brasil que seja muito mais justo
da livre iniciativa devem conduzir o que do que este que observamos hoje.
é dever público e que ações individuais,
embora praticadas por organizações civis, * José Castilho Marques Neto Doutor em
podem substituir de forma perene aquilo Filosofia pela Universidade de São Paulo,
que é ofício público. É ter a ilusão, e navegar professor da UNESP, editor, autor, gestor
nela com todas as boas intenções, de que público e consultor da JCastilho Consultoria.
o privado substitui o público e alcança a Foi Secretário Executivo do Plano Nacional
maioria da população. do Livro e Leitura – PNLL. Presidiu a Editora
É preciso não perder a noção da Unesp, a Biblioteca Mário de Andrade e as
centralidade estratégica da política pública Associações Brasileira e Ibero-Americana de
de formação de leitores para não se perder Editoras Universitárias (ABEU e EULAC).
o eixo do que é preciso reivindicar quando
parte 2
>A
A 5ª edição da pesquisa
Retratos da Leitura
no Brasil 2019/2020
parte 2 | 157
1. A Retratos da Leitura
no Brasil
− Apresentação, objetivos e histórico
É a única pesquisa, em âmbito nacional, que A Retratos da Leitura teve sua primeira
tem por objetivo avaliar o comportamento edição em 2001, promovida pela CBL e o
leitor do brasileiro. SNEL, com apoio da Bracelpa, com outra
Tem como objetivo central promover, a metodologia e composição da amostra.
partir desse amplo diagnóstico, reflexões, A partir de 2007, já na segunda edição,
estudos e decisões em torno de possíveis quando passou a ser realizada pelo IPL
novas intervenções – do governo e da e adotou a metodologia de padrão
sociedade civil –, orientando políticas internacional do CERLALC/Unesco,
públicas e ações para melhorar a qualidade ampliou significativamente o tamanho
e os atuais indicadores de leitura e de acesso da amostra para ter representatividade
ao livro pelos brasileiros. nacional e das regiões brasileiras. Incluiu
E tem como objetivos específicos na amostra crianças com 5 anos ou mais,
conhecer o perfil do leitor e do não leitor para avaliar a leitura enquanto estudantes
e o comportamento leitor, medindo da Educação Básica, e ampliou as questões
intensidade, forma, limitações, motivação, para conhecer o perfil leitor e os hábitos
representações e condições de leitura e de de leitura.
acesso ao livro – impresso e digital – pela Tem buscado, a cada edição, aperfeiçoar,
população brasileira. A 5ª edição aborda ampliar e atualizar o escopo desse estudo
também os hábitos de leitura dos leitores de para conhecer novas tendências e leituras
literatura em livros – impressos e digitais − e em diferentes suportes, leitura digital,
em outras plataformas ou suportes. leitura de literatura, consumo de livros e o
uso de bibliotecas pelos brasileiros.
parte 2 | 159
2. A 5ª edição da Retratos
da Leitura no Brasil – 2019-2020
2 SM”, “mais de 2 SM até 5 SM”, “mais de 5 resultados para o total das amostras de 26
SM até 10 SM” e “mais de 10 SM”. capitais brasileiras.
A amostra foi selecionada em três
• Classe social: segmentação em classes A, estágios: seleção aleatória de municípios
B, C e DE. no interior das UFs, seleção probabilística
de setores censitários nos municípios
• Condição de ocupação: categorização selecionados pelo método de Probabilidade
em “Ocupados” (que trabalham, ou seja, Proporcional ao Tamanho e seleção dos
exercem alguma atividade remunerada, respondentes considerando cotas de sexo,
dentro ou fora de casa, incluindo trabalho idade, escolaridade e ocupação definidas
formal, com carteira assinada ou não, e com base nos dados mais atualizados do
autônomos) e “Não ocupados”. IBGE (PNADC 2017).
Assim garantiu-se a leitura consistente
• Região: divisão regional do país, segundo e segura dos resultados em todas as
definições do IBGE, nas macrorregiões segmentações necessárias e exigidas pelo
Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste estudo. A amostra foi ponderada para a
e Sul. recomposição das proporções do universo.
Apresentação
> Público-alvo
População brasileira residente com 5 anos e mais,
alfabetizada ou não.
48% Homens
52% Mulheres
23
18
14
12
9 8
7 5
4
5 a 10 | 11 a 13 | 14 a 17 | 18 a 24 | 25 a 29 | 30 a 39 | 40 a 49 | 50 a 69 | 70 e mais
parte 2 | 171
Norte 8%
Nordeste
28%
Sudeste
Centro-Oeste
42%
42%
Sul
14%
172 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
Escolaridade do respondente
32
22 22
16
7
Estudante
36 Até 1 SM 26
18 Mais de 1 a 2 SM 26
11 Mais de 2 a 5 SM 23
3 Mais de 5 SM 14
3 Não respondeu 11
Classe
Definição de Leitor e
Não leitor
> Leitor
é aquele que leu, inteiro ou em parte, pelo menos
1 livro nos últimos 3 meses.
>Leitor
Percentual e
Estimativa populacional
Base: População brasileira com 5 anos ou mais – 2007 (173 milhões) /
2011 (178 milhões) / 2015 (188 milhões) / 2019 (193 milhões)
Estimativa
Milhões
Leitor (%)
Não leitor (%)
104,7
95,6 100,1
88,2
55 56
50 52
50 48
45 44
>Leitor
Gênero e Idade (2015 x 2019)
Base: Amostra 2015: 5.012 | 2019: 8.076
Gênero (%)
2015
2019
59
52 54
50
Masculino Feminino
Idade (%)
2015
84 81 2019
75
71
67 67 67
59 59 57 53
55
48 45
41 38
27 26
5 a 10 | 11 a 13 | 14 a 17 | 18 a 24 | 25 a 29 | 30 a 39 | 40 a 49 | 50 a 69 | 70 e mais
11,7 6,5 9,8 13,8 8,7 18,2 12,2 16,6 2,7 2019
11,4 7,6 11,9 15,0 9,4 17,7 12,4 16,4 2,5 2015
178 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Leitor
Cor ou raça (%)
Base: Amostra 8.076
55
52
48
>Leitor
Estudante e Escolaridade
(2015 x 2019) Base: Amostra 2015: 5.012 | 2019: 8.076
Estudante (%) 2015 Estimativas em
2019 milhões de habitantes:
84 81
46
42
45,9 54,2 2019
Escolaridade (%) 82
68
60 62 2015
54 55 2019
50 49
Estimativas em
milhões de habitantes:
>Leitor
Escolaridade de quem estuda
atualmente (2015 x 2019)
Base: Estudantes 2015: 1.337 | 2019: 2.101
93
86 86
82 84
78 79
75
>Leitor
Classe e Renda familiar
(2015 x 2019) Base: Amostra 2015: 5.012 | 2019: 8.076
Classe (%)
76
67 70
63
57
53
40 38
2015
2019
A B C D/E
Gênero (%)
Feminino
Masculino
46 54 Leitor de livros
Leitor de livros
44 56
de literatura
Idade (%)
05-10 14-17 25-29 40-49 70 e mais
11-13 18-24 30-39 50-69
Leitor de livros
Leitor de livros
de literatura
Estudante (%)
Não está estudando
Está estudando
39 61 Leitor de livros
Leitor de livros
47 53 de literatura
Escolaridade (%)
Superior Fundamental II
Ensino Médio Fundamental I
Leitor de livros
Leitor de livros
de literatura
Classe (%)
A C
B C/E
4 26 49 21 Leitor de livros
Leitor de livros
4 28 49 19 de literatura
23 26 25 13 3 10 Leitor de livros
Leitor de livros
23 26 23 13 4 11 de literatura
>3
Indicadores de leitura
– Livros lidos e leitores
parte 2 | 187
Classe (%)
2015
2019
56
52 50
48 47
45
33 31
26 24
16
13
82
Leitor de livros EM GERAL (%)
68
60 62
56 54 55 2015
52 50 49 2019
34 36
33 31 30 33
24 26
Idade (%)
2015
2019
68 71
66 66 68 64
62
54 54 55
52
46 46
41
5 a 10 11 a 13 14 a 17 18 a 24 25 a 29 30 a 39 40 e +
Norte
% total de leitores 8 8 8 10
Penetração (%) 55 47 53 63
Milhões de leitores 7,5 6,7 8,3 10,3
Centro-Oeste
% total de leitores 7 8 8 8
Penetração (%) 59 53 57 46
Milhões de leitores 7,1 6,8 8,0 6,8
Sul
% total de leitores 14 13 13 16
Penetração (%) 53 43 50 58
Milhões de leitores 13,2 11,3 13,7 16,1
parte 2 | 191
Total Brasil
Penetração (%) 55 50 56 52
Milhões de leitores 95,6 88,2 104,7 100,1
Nordeste
% total de leitores 25 29 25 25
Penetração (%) 50 51 51 48
Milhões de leitores 24,4 25,4 26,2 25,3
Sudeste
% total de leitores 45 43 46 42
Penetração (%) 59 50 61 51
Milhões de leitores 43,4 38,0 48,3 41,6
192 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Média de livros
lidos nos últimos 3 meses
Base: Amostra 2007 (5.012) / 2011 (5.012) / 2015 (5.012) / 2019 (8.076)
Total
Total
Em parte
Inteiros
2,54 2,60
1,85
1,47 1,55
1,03
1,06 1,05
0,82
Leitores
Total
Em parte
Inteiros 5,04
4,54
3,74
3,00
2,64
2,08
1,91 2,04
1,66
>Média de livros
lidos nos últimos 3 meses
Base: Leitores (4.270) / Leitores de literatura (2.335)
Considerando tanto os livros inteiros quanto em parte.
>Média de livros
lidos por ano
Base: Amostra 2007 (5.012) / 2011 (5.012) / 2015 (5.012) / 2019 (8.076)
Considerando tanto os livros inteiros quanto em parte.
2,53 2,55
2,10
2,43 2,41
2,00
>Número de livros
lidos por ano
Base: Amostra 2007 (5.012) / 2011 (5.012) / 2015 (5.012) / 2019 (8.076)
Considerando tanto os livros inteiros quanto em parte.
4,7 livros / ano 4,0 livros / ano 5,0 livros / ano 5,0 livros / ano
2,1 inteiros 2,4 inteiros 2,5 inteiros
2,0 em parte 2,5 em parte 2,4 em parte
parte 2 | 197
Gênero
Região
>4
Motivações e hábitos
de leitura
parte 2 | 199
2015
2019 Entre leitores
Até Fundamental I: 37% de literatura,
Ensino Superior: 21% 38%
leram o
5 a 10 anos: 48% último livro
11 a 13 anos: 33% de literatura
14 a 17 anos: 24% por gosto
Ensino Superior: 24%
Ensino Superior: 21%
25 26
19
17 15 14 13
10 11
11 9 7 7
4 4 5
1 1 1
2015
2019
33 40 a 49 anos: 42%
Tema ou assunto Ensino Superior: 45%
30
12
Dicas de outras pessoas
11
11
Título do livro 11
5 a 10 anos: 29%
10
Capa Até Fundamental I: 21%
11
Leitor de literatura: 15%
10
Dica de professores 7
9 Leitor de literatura: 12%
Autor
12
5
Críticas ou resenhas 5
3
Propaganda ou anúncios
2
1
Outro fator 1
3
Não sabe/Não respondeu
8
parte 2 | 201
202 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
2019 Total
Base: Sabe ler e escrever 7.645
Todos os dias ou quase todos os dias 8
Pelo menos 1 vez por semana 12
Pelo menos 1 vez por mês 14
Menos de 1 vez por mês 11
Não lê 54
2019 Total
Base: Sabe ler e escrever 7.645
Todos os dias ou quase todos os dias 8
Pelo menos 1 vez por semana 12
Pelo menos 1 vez por mês 14
Menos de 1 vez por mês 11
Não lê 54
parte 2 | 203
Escolaridade (%)
Fundamental I (1ª a 4ª Fundamental II (5ª a 8ª Ensino Médio
Superior
série ou 1º ao 5º ano) série ou 6º ao 9º ano) (1º ao 3º ano)
1.529 1.653 2.695 1.768
9 8 8 10
8 14 13 11
8 14 16 17
7 11 12 18
68 53 51 43
Escolaridade (%)
Estudando
Não está
2019 Total Está estudando
estudando
Base: Sabe ler e escrever 7.645 2.101 5.544
Todos os dias ou quase todos os dias 6 15 2
Pelo menos 1 vez por semana 10 22 5
Pelo menos 1 vez por mês 10 19 7
Menos de 1 vez por mês 8 12 6
Não lê 66 30 80
Escolaridade (%)
Fundamental I (1ª a 4ª Fundamental II (5ª a 8ª Ensino Médio
Superior
série ou 1º ao 5º ano) série ou 6º ao 9º ano) (1º ao 3º ano)
1.529 1.653 2.695 1.768
9 7 4 3
10 12 8 7
7 11 12 10
4 8 8 12
70 61 68 67
Bíblia 42 42 35
Contos 23 22 22
Religiosos 30 22 22
Romance 31 22 22
Didáticos, ou seja, livros utilizados nas matérias do seu curso 32 16 16
Poesia 20 12 16
Infantis 22 15 14
História, Economia, Política, Filosofia ou Ciências Sociais 11 11 13
Histórias em quadrinhos, Gibis ou RPG 19 13 11
Ciências - 10 10
Técnicos ou universitários, para formação profissional - 10 10
Culinária, Artesanato, “Como Fazer” 7 10 9
Biografias 11 8 9
Artes 6 7 8
Autoajuda 12 8 8
Saúde e Dietas - 8 8
Juvenis 11 7 5
Educação ou Pedagogia - 6 5
Línguas (como inglês, espanhol, etc.) - 5 4
Viagens e esportes - 5 4
Enciclopédias e dicionários 9 4 4
Direito - 3 3
Esoterismo ou Ocultismo 2 2 2
Outros 1 - 1
Não sabe/Não respondeu - 5 1
Média de Gêneros por Entrevistado - 2,8 4,1
2019 Total
Escolaridade
Ensino
Fundamental I Fundamental II
Médio Superior
(1 a 4 série ou 1o ao 5o ano)
a a
(5 a 8 série ou 6o ao 9o ano)
a a
(1o ao 3o ano)
739 870 1.473 1.188
42 32 37 30
25 21 23 20
14 17 25 30
7 16 27 33
12 11 14 28
11 20 16 16
26 11 10 13
4 7 12 28
13 12 8 14
10 10 9 13
1 2 9 28
3 7 12 16
4 7 10 15
11 9 6 8
1 3 12 17
4 5 9 14
3 7 4 7
2 2 3 13
2 3 4 9
3 2 4 7
1 3 3 7
1 2 2 9
0 0 2 4
3 1 1 0
3,2 3,4 4,1 5,7
210 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
2019 Total
Faixa etária
70 e
5 a 10 11 a 13 14 a 17 18 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 69
mais
437 255 388 587 398 760 581 739 125
23 19 15 30 27 42 49 51 51
38 30 29 23 27 18 13 16 11
10 3 8 19 27 26 33 31 36
6 16 31 32 32 18 21 20 13
19 24 21 24 15 15 15 5 2
17 30 21 18 18 12 14 11 1
44 17 5 8 11 16 9 8 3
3 3 14 17 23 13 13 13 8
22 21 13 9 11 8 10 7 1
15 16 9 17 6 10 9 5 2
0 0 7 18 16 14 12 5 6
2 1 5 10 11 13 13 13 6
5 6 10 14 13 8 9 6 6
18 14 9 10 8 6 6 3 0
1 0 5 12 15 10 12 8 8
2 2 3 7 9 12 13 9 12
6 11 10 7 5 3 4 2 1
2 5 2 5 8 8 8 3 0
5 5 7 6 5 3 4 3 2
3 3 4 3 3 6 6 3 3
1 5 4 3 3 6 4 2 1
2 2 2 6 3 5 3 2 1
0 0 1 1 2 2 3 3 1
1 0 0 1 0 0 1 1 3
3,7 3,6 3,7 4,6 4,5 4,3 4,3 3,7 3,1
>5
Barreiras para
a leitura
214 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
2015 2019
77% SIM 82% SIM
23% NÃO 18% NÃO
parte 2 | 215
53 53
47
43 43
32
27
22
59
53 51
48 48
42
38
33
A B C D/E
34 2015
Por falta de tempo 32 2019
28
Porque não gosta de ler 28
14
Porque não tem paciência para ler 13
8
Porque prefere outras atividades 10
6
Porque se sente muito cansado para ler 9
3
Porque não há bibliotecas por perto 4
2
Por ter problemas de saúde/visão 2
1
Porque acha o preço de livro caro 2
1
Porque não tem dinheiro para compar 2
Por não ter um local onde comprar 1
livros onde mora 1
0
Porque não tem acesso à internet 1
6
Não sabe ler 20
1
Não sabe/Não respondeu 1
parte 2 | 219
220 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
2007 2011
77 Assiste a televisão 85
18 Usa a internet 24
54 Escuta música ou rádio 52
Usa WhatsApp
29 Assiste a vídeos ou filmes em casa 38
21 Escreve 18
Reúne-se com amigos ou família ou
sai com amigos
Usa Facebook, Twitter ou Instagram 18
2015 2019
73 Assiste a televisão 67
47 Usa a internet 66
60 Escuta música ou rádio 60
43 Usa WhatsApp 62
44 Assiste a vídeos ou filmes em casa 51
40 Escreve 46
Reúne-se com amigos ou família ou
45 44
sai com amigos
35 Usa Facebook, Twitter ou Instagram 44
>Dificuldades
para ler (%)
Base: Amostra 2007 (5.012 / 2011 (5.012) / 2015 (5.012) / 2019 (8.076)
Item revisado em 2019: incluída a explicação “que dificultam a leitura”
P.39) O(A) sr.(a.) tem algumas das seguintes dificuldades para ler?
2019 2015
2011 2007
26
24
Não tem paciência para ler 20
11
19
20
Lê muito devagar 19
16
20
Tem problemas de visão ou outras 17
limitações físicas que dificultam a leitura* 13
8
13
11
Não tem concentração suficiente para ler 12
7
9
8
Não compreende a maior parte do que lê 8
7
38
38
Não tem dificuldade nenhuma 43
48
4
10
Não sabe ler 9
15
1
Não sabe/Não respondeu
224 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>6
Gosto pela leitura
e representações
parte 2 | 225
>Gosto
pela leitura (%)
Base: Amostra 2007 (5.012) / 2011 (5.012) / 2015 (5.012) / 2019 (8.076)
P.27) De maneira geral, o(a) sr.(a.) gosta muito, gosta um pouco
ou não gosta de ler?
25
23 23 22
9 9
4
2
Gosta muito
Gosta um pouco
Não gosta
38
42 42
48 48
57
41 42 45
39 42
35
8 12 10 17 16 17
2015 | 2019 2015 | 2019 2015 | 2019
Ensino Superior Classe A Classe B
226 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
Leitor (2019)
Gosta muito Não gosta
Gosta um pouco Não sabe/Não respondeu
48 46 6 Leitor
Não leitor
12 43 40 4
49 45 5 1 Comprador
Não comprador
24 45 29 2
parte 2 | 227
Idade (2019)
Gosta muito Não gosta
Gosta um pouco Não sabe/Não respondeu
27 24
30 30 29 32 30
36
48
34
36
50 49 46 47
53
39 31
9 62 21 2 34
3 3 16 20 21 22 4 10
5 a 10 | 11 a 13 | 14 a 17 | 18 a 24 | 25 a 29 | 30 a 39 | 40 a 49 | 50 a 69 | 70 e mais
228 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
Escolaridade (2019)
Gosta muito Não gosta
Gosta um pouco Não sabe/Não respondeu
13
29 28 28
21
48
43
51 49 42
39
19 22 28 23
12 1
Superior Ensino Médio Fundamental II Fundamental I Não alfabetizado/
(1o ao 3o ano) (5a a 8a série ou (1a a 4a série ou Não frequentou
6o ao 9o ano) 1o ao 5o ano) escola formal
Estudante (2019)
Gosta muito Não gosta
Gosta um pouco Não sabe/Não respondeu
42 50 8 Está estudando
>Representação
– O que a leitura significa
por perfil Leitor x Não leitor (%)
Base: Leitor (4.270) Não leitor (3.806)
P.46) Qual das seguintes frases mais se aproxima do que significa
leitura para você? E em segundo lugar?
2019 2015
34% SIM 33% SIM
66% NÃO 67% NÃO
parte 2 | 233
3
Outra pessoa 4
4
67
Ninguém em especial/ Não foi 67
influenciado / Não gosta de ler 50
234 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
2019
Leitor
Não leitor
15
6 Algum professor ou professora
13
4 Mãe ou responsável do sexo feminino
6
2 Pai ou responsável do sexo masculino
5
2 Algum outro parente
2
1 Padre, pastor ou algum líder religioso
1
Marido, esposa ou companheiro(a)
5
1 Outra pessoa
Sempre Nunca
Às vezes Não sabe/Não respondeu
14 25 60 1 Total
Base (8.076)
18 31 50 1 Leitor
Base (4.270)
10 19 70 1 Não leitor
Base (3.806)
236 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Escolaridade
dos pais (%)
Base: Amostra 2015 (5.012) / 2019 (8.076)
Base: Leitores (4.270) / Não Leitores (3.806)
P.06) Até qual ano da escola o seu pai ou responsável do sexo
masculino estudou?
P.07) E até qual ano da escola a sua mãe ou responsável
do sexo feminino estudou?
Mãe Pai
(2015) (2015)
16 Analfabeto 16
15 Não respondeu 25
parte 2 | 237
Leitor
Não leitor
Mãe Pai
(2019) (2019)
11 Analfabeto 11
22 20
2 Sabe ler ou escrever, mas não cursou a escola 3
3 3
28 29
Até o Ensino Fundamental I
26 24
16 Até o Ensino Fundamental II 14
9 7
26 19
Até o Ensino Médio
14 9
7 5
Ensino Superior e Pós-graduação
3 2
9 Não respondeu 18
22 33
238 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
39 61 2019
36 64 2015
44 21
38 18
Algumas vezes
31 11
38 13
47 76
53 Nunca 79
60 87
49 85
Base: Leitores: 2007 (2.757) / 2011 (2.506) / 2015 (2.798) / 2019 (4.270)
Base: Não leitores: 2007 (2.256) / 2011 (2.506) / 2015 (2.214) / 2019 (3.806)
240 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>8
Leitura atual
– O que está lendo?
parte 2 | 241
Sim
Não
44 56 2019
41 59 2015
49 51 2011
>Frequência
de leitura e motivação para
ler o livro atual (%)
Base: Está lendo algum livro atualmente: 2011 (1.227) / 2015 (1.147) / 2019
(1.998)
P.17) Quando foi a última vez que o(a) sr.(a.) leu esse livro?
P.18) Por que o(a) sr.(a.) está lendo esse livro? Escolha somente uma opção.
52 36 7 22 2019
2015
57 32 8 21
parte 2 | 243
>Último livro
lido ou que está lendo
Base: Amostra 2007 (5.012) / 2011 (5.012) / 2015 (5.012) / 2019 (8.076)
P.19) E qual é o último livro que o(a) sr.(a.) leu ou está lendo?
Números
Os 37 mais citados Classificação
absolutos
Bíblia 1o 1o 1o 362
Diário de um Banana - - 2 o
14
Turma da Mônica - - - 14
Harry Potter 4o 10o 28o 12
A Cabana - 3 o
20 o
10
O Pequeno Príncipe 26o 7o - 10
A Sutil Arte de Ligar o Foda-Se - - - 9
Casamento Blindado - - 3o
8
As Crônicas do Gelo e Fogo - - - 8
Cinquenta Tons de Cinza - - 5 o
8
Dom Casmurro 12o 9o - 7
Bases Baixas
Números
Os 37 mais citados Classificação
absolutos
Mulheres que Correm com os Lobos - - - 4
O Monge e o Executivo 13 o
- 8o
4
After - - - 4
Pinóquio - - - 4
O Milagre da Manhã - - - 4
Extraordinário - - - 3
Nada é por Acaso - - - 3
Bases Baixas
Batalha Espiritual - - - 3
O Poder Oculto - - - 3
Depois de Você - - - 3
Sherlock Holmes - - - 3
A Menina que Roubava Livros - 19 o
15 o
3
Ansiedade - - - 3
Cem Anos de Solidão - - - 3
As Brumas de Avalon - - - 3
2 2019
Não lembra
2 2015
2019
Números
Os 18 mais citados
absolutos
João Ferreira de Almeida 31
Augusto Cury 31
Zibia Gasparetto 24
Edir Macedo 13
J. K. Rowling 12
Allan Kardec 12
Mauricio de Souza 12
Padre Reginaldo Manzotti 10
Chico Xavier 9
Bases Baixas
Machado de Assis 9
George R. R. Martin 7
Agatha Christie 6
Monteiro Lobato 5
Yuval Noah Harari 5
J. R. R. Tolkien 5
Ellen G. White 5
Joseph Smith 5
Paulo Coelho 5
Bispo Renato Cardoso e Cristiane Cardoso 5
8%
6%
1% Geralmente referindo-se à
Bíblia (Moisés, Paulo, etc.)
Não sabe/Não Não lembra Citou entidade
respondeu religiosa
parte 2 | 247
>Presença
do livro lido em casa (%)
Base: Está lendo atualmente: 2015 (1.147) / 2019 (1.998)
Base: Está lendo atualmente, mas não está com o livro em casa:
2015 (180) / 2019 (315)
P.21) Esse último livro que o(a) sr.(a.) leu ou está lendo está aqui na sua casa?
P.22) (SE NÃO) Por que o livro não está aqui?
84 16 2019 Sim
Não
84 16 2015
Por que o livro que está lendo não está na sua casa? (%)
Devolveu para a biblioteca 30
20
Lê na escola/Deixa na escola 9
15
Lê no trabalho 10
10
4
Lê na internet
0
Outros 4
7
2019
Não sabe/Não respondeu 2
4 2015
248 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Indicação do
último livro lido (%)
Base: Leitores 2019 (4.270)
P28B_C) Quem indicou esse último livro que o(a) sr.(a.) leu ou o que está
lendo? (LER OPÇÕES - RU)
22 Amigo(a)
8 Outra pessoa
2019 Total
Faixa etária
70 e
5 a 10 11 a 13 14 a 17 18 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 69
mais
437 255 388 587 398 760 581 739 125
53 48 38 26 14 14 10 5 3
8 12 26 24 29 24 26 23 19
13 11 6 6 5 6 3 2 0
0 0 0 0 1 5 5 9 9
0 0 0 2 3 6 7 5 1
0 0 3 4 2 5 4 4 0
0 2 2 6 7 4 3 2 0
4 5 5 3 0 0 3 1 3
6 2 7 6 10 6 12 11 10
13 17 12 22 28 28 27 37 53
3 3 0 1 1 1 2 2 1
252 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
0% Não sabe/
Não respondeu
>9
Livros e autores que
conhece e prefere
256 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
Diário de um Banana - - 6o 57
Violetas na Janela 9 o
9 o
8 o
45
Crepúsculo - 7o 10o 38
Cinquenta Tons de Cinza - - 5o 37
Dom Casmurro 7o
6 o
12 o
33
Sítio do Pica-Pau Amarelo 2o 4o 9o 28
Como eu Era Antes de Você - - - 25
A Moreninha 23o 10o - 25
parte 2 | 257
23 2019
Nenhum 2015
23
27
Não sabe/Não respondeu 23
258 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Autores
que mais gostam
Base: Amostra (8.076)
P.41) Quais são os autores que o(a) sr.(a.) mais gosta ou gostou de ler?
(Enunciado alterado)
Números
Os 15 mais citados
absolutos
Machado de Assis 297
Monteiro Lobato 187
Augusto Cury 172
Mauricio de Souza 157
Jorge Amado 156
Paulo Coelho 153
Zibia Gasparetto 149
Carlos Drummond de Andrade 81
Clarice Lispector 67
J. K. Rowling 66
Bases Baixas
Chico Xavier 62
Cecília Meireles 61
Agatha Christie 57
Vinicius de Moraes 54
José de Alencar 52
36% Nenhum
>Autores
mais conhecidos
Base: Amostra (8.076)
P.40) Quais são os autores que o(a) sr.(a.) conhece? (Enunciado alterado)
Números
Os 15 mais citados
absolutos
Machado de Assis 521
Monteiro Lobato 314
Paulo Coelho 245
Jorge Amado 240
Augusto Cury 208
Mauricio de Souza 177
Carlos Drummond de Andrade 159
Zibia Gasparetto 159
Clarice Lispector 111
Cecília Meireles 104
Bases Baixas
José de Alencar 94
Vinicius de Moraes 76
J. K. Rowling 70
Chico Xavier 70
Agatha Christie 62
Nenhum 40%
>10
Leituras digitais
e em outros suportes
parte 2 | 261
>Atividades
que mais realiza na internet
(respostas estimuladas) (%)
Base: Usou a internet nos últimos 3 meses 2019 (6.368)
P.69B) Qual das seguintes atividades o(a) sr.(a.) passa mais tempo fazendo
na internet? (Enunciado alterado)
25 Jogar
>Atividades em geral
realizadas na internet
por faixa etária
P.69B) Qual das seguintes atividades o(a) sr.(a.) passa mais tempo
fazendo na internet? (Enunciado alterado)
2019 Total
Faixa etária
70 e
5 a 10 11 a 13 14 a 17 18 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 69
mais
534 275 520 920 645 1269 973 1130 102
31 47 62 71 69 59 63 64 68
75 60 51 45 41 37 30 28 33
42 52 51 47 37 39 33 28 27
62 71 44 27 17 14 13 9 12
11 12 11 16 23 28 29 32 16
6 9 13 20 22 24 27 21 20
7 10 10 18 21 30 28 19 22
6 5 16 21 23 16 17 14 7
11 8 13 16 14 12 12 10 17
2 2 6 7 10 12 11 11 10
11 13 13 6 6 6 3 4 6
264 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Atividades
relacionadas à leitura que
realiza na internet (%)
(respostas estimuladas)
Base: Usou a internet nos últimos 3 meses 2019 (6.368)
P.69A) O(A) sr.(a.) usa a internet para_________ : (*Itens alterados** Itens novos)
24 Ler revistas
>Atividades
relacionadas à leitura que
realiza na internet (%)
(respostas estimuladas)
Base: Usou a internet nos últimos 3 meses 2019 (6.368)
P.69A) O(A) sr.(a.) usa a internet para_________ :
74
Leitor Ler notícias e informações em geral 58
Não Leitor
Aprofundar conhecimento sobre os temas 75
do seu interesse 50
>Livros digitais
Base: Alfabetizados (8.076), Leitores (4.270), Leitores de literatura (2.335),
Leitores apenas em outros meios (2.559)
Base: Já ouviu falar em livros digitais - Total (3.809), Leitores (2.533),
Leitores de literatura (1.446), Leitores apenas em outros meios (1.345)
P.70) O(a) sr.(a.) já ouviu falar de livros digitais, os chamados e-books?
P.71) E o(a) sr.(a.) já leu algum livro digital?
Total
44 47 9
Leitores de livros
55 36 8
Já leu?
37% Total
40% Leitores de
literatura apenas em
outros formatos
268 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
Gênero
Leitor de livros
Leitor de livros digitais
54
49 51
46
Masculino Feminino
Idade
Leitor de livros
Leitor de livros digitais
25
24
18
17
14 14
12 11 12 12
10 9
7 7
3 3 3
1
5 a 10 | 11 a 13 | 14 a 17 | 18 a 24 | 25 a 29 | 30 a 39 | 40 a 49 | 50 a 69 | 70 e mais
parte 2 | 269
270 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
2015 2019
56 Leu no celular 73
ou smartphone
49 Leu no computador 31
18 Leu no tablet 9
ou iPad
4 Leu em leitores 5
digitais, como Kindle,
Kobo e Lev
parte 2 | 271
Telefone celular
Notebook
Computador de mesa
Tablet
99
96 97
93
89
76
54
40
46
35
33
39 28 28
35
30
25 23
22
19
16 15
11 11
>Formato
que prefere ler
Base: Já leu livro digital e leu algum livro inteiro
ou em parte nos últimos 3 meses (1.242)
Base: Já leu livro digital e leu livro de literatura por
vontade própria (772)
P79) O(a) sr.(a.) prefere ler _____ (LER OPÇÕES – RU)
>Formas
de acesso a livros digitais (%)
Base: Já leu livro digital 2011 (270) / 2015 (539) / 2019 (1.452)
P.73) E o(a) sr.(a.) teve acesso a esses livros de que forma?
87 88 88
15 18
13
2 2
79%
40% Ensino Superior
>11
Leitores de literatura
– Em livros e outras
plataformas
parte 2 | 277
15 Capa
12 Autor 9
12 Título 11
10 Dicas de professores 8
5 Críticas ou resenhas 7
1 Editoras 1
1 Propagandas ou anúncios 8
1 Outro fator 2
44 47 9 2 Total
Leitores de livros
48 46 6
2 Outros
280 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
2019 Total
Faixa etária
70 e
5 a 10 11 a 13 14 a 17 18 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 69
mais
390 266 464 732 487 897 699 838 121
77 76 68 56 49 45 42 35 43
39 51 61 58 57 51 48 37 35
32 46 49 47 46 41 39 34 34
19 23 33 34 41 39 44 31 37
31 32 42 36 37 33 30 24 24
70 54 41 29 24 23 25 21 30
43 40 31 28 26 24 27 23 26
26 32 37 24 30 26 22 16 10
17 30 22 19 15 23 22 17 21
40 33 27 17 19 15 14 15 31
10 14 13 18 15 23 25 24 37
25 35 19 18 11 12 12 10 7
2 2 5 11 12 13 14 16 21
5 4 7 6 6 7 7 5 4
0 0 1 1 2 3 3 5 5
282 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Motivação
para ter lido literatura (%)
Base: Leitores de livros de literatura (2.335), Está lendo algum livro
atualmente (1.998), Leitores de literatura apenas em outros formatos (2.559)
P18) Por que o(a) sr.(a.) está lendo este livro?
P18A) Por que o(a) sr.(a.) leu esse último livro de literatura?
Escolha somente uma opção. (RU)
P18B) Por que o(a) sr.(a.) leu esse conto, crônica, romance ou poesia?
Escolha somente uma opção. (RU)
Para se distrair 18
Outro motivo 2
9 31
10 9
21 10
9 2
1 2
10
284 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Último livro
de literatura lido
Base: Leitores de livros de literatura (2.335)
P19) E qual é o último livro que o(a) sr.(a.) leu ou está lendo?
P19B) E qual é o último livro de literatura, como contos, crônicas,
romance ou poesia, que o(a) sr.(a.) leu? (RU)
Ranking
Números
Os 14 mais citados total de
absolutos
leitores
Bíblia 35 1o
O Pequeno Príncipe 27 5o
Diário de um Banana 27 3o
Harry Potter 27 4o
A Cabana 26 6o
A Culpa é das Estrelas 23 21o
Dom Casmurro 20 11o
Cinquenta Tons de Cinza 17 8o
Branca de Neve e os Sete Anões 13 22o
Turma da Mônica 12 2o
Como eu Era Antes de Você 11 69o
O Diário de Anne Frank 11 233o
As Crônicas de Gelo e Fogo 11 10o
A Bela e a Fera 10 91o
Nenhum 34%
>Último autor
de literatura lido
Base: Leitores de livros de literatura (2.335) /
Leitores de literatura apenas em outros formatos (2.559)
P20B) E quem é o autor desse último livro de literatura, como contos,
crônicas, romance ou poesia, que o(a) sr.(a.) leu? (RU)
P20C) E quem é o autor do último conto, crônica, romance
ou poesia que o(a) sr.(a.) leu? (RU)
Números absolutos
Os 15 mais citados Leitores de livros de Leitores de literatura
literatura apenas em outros meios
Machado de Assis 45 44
Zibia Gasparetto 36 19
J. K. Rowling 22 1
Augusto Cury 21 14
Paulo Coelho 20 13
Jorge Amado 17 18
Mauricio de Souza 15 5
Monteiro Lobato 14 12
John Green 11 5
George R. R. Martin 10 0
Dan Brown 10 2
Agatha Christie 9 4
Nicholas Sparks 9 5
50%
Nenhum
55%
21%
Não sabe/Não respondeu
29%
286 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Indicação
do último livro (%)
Base: Leitores (4.270) / Leitores de literatura (2.335)
P28B_C) Quem indicou esse último livro que o(a) sr.(a.) leu ou
o que está lendo? (LER OPÇÕES - RU)
P28B_D) Quem indicou esse último livro de literatura que o(a) sr.(a.) leu?
(LER OPÇÕES - RU)
Leitores de livros
Leitores de livros de literatura
22
Algum professor ou professora 27
22
Amigo(a) 24
6
Mãe ou responsável do sexo feminino 4
3
Filho(a), enteado(a) ou tutelado(a) 4
3
Viu no YouTube, Instagram ou Facebook 4
2
Pai ou responsável do sexo masculino 2
3
Marido, esposa ou companheiro(a) 3
3
Viu matérias na televisão, jornais ou revistas 3
2
Alguma outra indicação 1
25
Não recebeu indicação/Ninguém em especial 21
1
Não sabe/Não respondeu 2
parte 2 | 287
>Formato
que prefere ler
Base: Já leu livro digital e leu algum livro inteiro ou em parte nos últimos
3 meses (1.242)
Base: Já leu livro digital e leu livro de literatura por vontade própria (772)
P79) O(a) sr.(a.) prefere ler _____ (LER OPÇÕES – RU)
P80) O(a) sr.(a.) prefere ler livros de literatura, como contos, crônicas,
romance ou poesia, em_____ (LER OPÇÕES – RU)
>Autores de
literatura que mais gostam
Base: Leitores de literatura independentemente do meio (4.894), Leitores
de literatura (2.335), Leitores de literatura apenas em outros meios (2.559)
LT3) Quais são os autores de literatura, ou seja, de contos, crônicas,
romance ou poesia, que o(a) sr.(a.) mais gosta ou gostou de ler? (RM )
Números absolutos
14%
9% Nenhum
18%
50%
47% Não sabe/Não respondeu
53%
parte 2 | 289
290 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
Leitores de livros de
literatura
Base: Leitores de livros de literatura (2.335)
LT6) O(a) sr.(a.) costuma ler mais de um livro de literatura de um mesmo
autor? (RU)
LT7) O(a) sr.(a.) já leu todos os livros de uma saga ou série de livros, ou seja,
livros do mesmo autor que contam a sequência de uma mesma história? (RU)
39%
1%
Sim Não Não sabe
Não respondeu
38%
Sim Não
parte 2 | 291
56
71
81 Total
100
45
57
67 Contos
78
41
55
66 Poesias
65
38
51
62 Crônicas
60
32
44
56 Romances
49
292 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Gênero Literário
lido nos últimos 3 meses
por plataformas
Base: Alfabetizados (7.645)
C1.1) Agora pensando em literatura, nos últimos três meses o(a) sr.(a.) leu
contos? (RM) / C1.2) E nos últimos três meses o(a) sr.(a.) leu crônicas? (RM)
/ C1.3) Ainda pensando em literatura, nos últimos três meses o(a) sr.(a.) leu
romances? (RM) / C1.4) E nos últimos três meses o(a) sr.(a.) leu poesias? (RM)
Contos Crônicas
18% Em outros materiais impressos 14%
que não sejam livros
Romances Poesias
11% Em outros materiais impressos 14%
que não sejam livros
8% Em blogs 10%
>Literatura
compartilhada nos 12 meses (%)
Base: Leitores de livros de literatura (2.335)
Base: Leitores de literatura em outros formatos, porém não em livro (2.559)
LT4) Pensando nos livros de literatura que o(a) sr.(a.) leu, como contos,
crônicas, romance ou poesia, nos últimos 12 meses, o(a) sr.(a.) ____ (RU) /
LT4A) Pensando no que você leu de literatura como contos, crônicas, romance
ou poesia, nos últimos 12 meses, o(a) sr.(a.) compartilhou essas experiências de
leitura ________ (RU)
Leitores de
Leitores de livros literatura apenas
de literatura em outros meios
71 Conversando com um 43
amigo ou familiar
5 Conversando em um 3
sarau ou slam
parte 2 | 295
>Participação
em evento literário (%)
Base: Amostra (8.076)
F1) Nos últimos 12 meses o(a) sr.(a.) foi a algum evento literário, como
bienais ou feiras do livro ou festivais de literatura, por vontade própria?
(ESPONTÂNEA – RU)
Sim
Não
14 86 Total
22 78 Leitores de livros
Leitores de livros
27 73
de literatura
Leitores de literatura
14 86 em outros formatos
296 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>12
Acesso aos livros
– Consumo/Compra
parte 2 | 297
>Principais
formas de acesso aos livros (%)
Base: Leitores 2015 (2.798) / 2019 (4.270)
P.38) Os livros que o(a) sr.(a.) costuma ler são _______?
2019
2015
41
43 Comprados em lojas físicas ou pela internet
25
23 Presenteados
18
Emprestados por biblioteca de escola
18
17
Emprestados por alguém da família ou amigos
21
13
Livros baixados da internet
9
8
Distribuídos pelo governo ou pela escola
9
7
Emprestados por bibliotecas públicas ou comunitárias
7
5
Emprestados de outros locais
5
4
Fotocopiados, xerocados ou digitalizados
5
2
Não sabe/Não respondeu
7
298 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
Leitores de livros
Leitores de livros de literatura
36
Comprado em loja física ou pela internet 32
21
Presenteado 19
13
Emprestado por biblioteca de escola 16
11
Emprestado por alguém da família ou amigos 13
4
Livro baixado da internet 4
46
48 Livrarias físicas
20
Livrarias on-line (pela internet)
24
13
15 Sebos ou lojas de livros usados
10
11 Bancas de jornal e revistas
9
8 Outros sites da internet
9
10 Bienais ou Feiras de livros
5
5 Na escola
3
Supermercados ou lojas de departamentos
4
3
2 Na rua, com vendedores ambulantes
2
2 Igrejas e outros espaços religiosos
>Compra de livros
nos últimos 3 meses
excluindo os que compraram
somente cópias ou apostilas
Base: Amostra 2015 (5.012) / 2019 (8.076)
P.47A) Nos últimos três meses o(a) sr.(a.) comprou ____ em papel, em
formato digital ou não comprou?
23
26
74 77
2015 2019
parte 2 | 301
Classe (%) 38
Comprador 77
Não comprador
66
52
48
34
23
40
A B C D/E
53
47
30 28
20
16
2019
2015
27
31 Há menos de 3 meses
7
Entre 3 meses e 1 ano atrás
10
6
Entre 1 e 2 anos atrás
6
22
18 Há mais de 2 anos
31
30 Nunca comprou livros
8
5 Não sabe/Não respondeu
62 31 8 2019
65 30 5 2015
parte 2 | 303
>Principais fatores
que influenciam a escolha
de um livro para compra (%)
Base: Já comprou livros: 2011 (2.205) / 2015 (3.237) / 2019 (5.548)
P.51) Qual destes fatores mais influencia o(a) sr.(a.) na hora de escolher
um livro para comprar?
2019 52
Tema ou assunto
2015 55
31
Título do livro 17
27
Autor 19
22
Preço 16
20
Recomendações de amigos ou familiares
20
14
Capa 7
11
Recomendações de professores
12
10
Críticas ou resenhas 4
7
Propaganda ou anúncio
2
5
Ilustrações 4
5
Editora 3
Recomendações em site especializados, 3
blogs ou redes sociais 3
>13
Bibliotecas
– percepção e uso
parte 2 | 305
2019
2015
56
71 Um lugar para pesquisar ou estudar
22
29 Um lugar para emprestar livros
16
Um lugar voltado para estudantes
26
16
26 Um lugar voltado para todas as pessoas
Existência de biblioteca
Base: Amostra 2007 (5.012) / 2011 (5.012) / 2015 (5.012) / 2019 (8.076)
P.58) Pelo que o(a) sr.(a.) sabe ou ouviu falar, existe na sua cidade ou bairro
_________ onde o(a) sr.(a.) poderia pegar livros emprestados?
47 45 8 2019
55 36 9 2015
67 18 15 2011
67 20 13 2007
14 77 9 2019
15 73 12 2015
parte 2 | 307
>Frequência
em bibliotecas e tipo de
biblioteca que frequenta
Base: Amostra 2015 (5.012) / 2019 (8.076)
Base: Quem frequenta biblioteca sempre ou às vezes: 2011 (1.203) /
2015 (1.001) / 2019 (1.441)
P.52) O(a) sr.(a.) diria que costuma ir a bibliotecas _______?
4 13 14 68 2019
5 15 14 66 2015
3
Empresas ou instituições 3
2
2
Circulantes, como ônibus, 2
barcos, trens, etc. 0
0
Outra 1
1
2
Não sabe/Não respondeu 1
0
parte 2 | 309
>Frequência
com que costuma ir a
bibliotecas, por tipo de leitor (%)
Base: Amostra (8.076)
P.52) O(a) sr.(a.) diria que costuma ir a bibliotecas _______?
P.52A) Quais destes tipos de biblioteca o(a) sr.(a.) frequenta?
Sempre Raramente
Às vezes Não frequenta bibliotecas Não sabe/Não respondeu
4 13 14 68 Total
7 20 20 52 Leitores
9 25 22 44 Leitores de literatura
Leitores apenas em
3 12 17 67 outros formatos
310 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Perfil do frequentador
de bibliotecas
Base: Quem frequenta biblioteca sempre ou às vezes (1.441)
Gênero (%)
48 Masculino
52 Feminino
Classe (%)
49
26
21
3
A B C D/E
Estudante (%)
60
40
Região (%)
38
27
16
12
8
26 28
21 22
Idade (%)
17 17 16
12 12 11
6 8 2
5 a 10 | 11 a 13 | 14 a 17 | 18 a 24 | 25 a 29 | 30 a 39 | 40 a 49 | 50 a 69 | 70 e mais
312 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Avaliação da biblioteca
que frequenta (%)
Base: Quem frequenta biblioteca sempre ou
às vezes, 2015 (1.001) / 2019 (1.441)
P.54) Na biblioteca que o(a) sr.(a.) frequenta,
o(a) sr.(a.) diria que __________:
2019
2015
96
É bem atendido? 95
90
Acha que ela é bem cuidada? 89
85
É atendido por bibliotecários? 86
88
Gosta muito da biblioteca que frequenta? 86
>Motivos para
ir a bibliotecas (%)
Base: Quem frequenta biblioteca sempre ou às vezes: 2015 (1.001) / 2019 (1.441)
P.55) Por qual destes motivos o(a) sr.(a.) vai à biblioteca?
Mais algum? Algum outro?
51
65 Ler livros para pesquisar ou estudar
33
37 Ler livros por prazer
21 Estudar ou fazer trabalhos da escola ou faculdade
6
11 Emprestar livros em geral
7 Ler livros que não consegue encontrar em outros lugares
1 Acessar áudio
1
1 Outros
2019 1
2015 1 Não sabe/Não respondeu
314 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
2019
2015
26
Ter mais livros ou títulos novos 32
20
Ter títulos interessantes ou que me agradem 22
19
Ser mais próxima de casa ou de fácil acesso 8
17
Ter atividades culturais
15
13
Ter um bom atendimento 14
12
Ter internet 13
Ter ambiente mais agradável, mais claro 8
ou com mais luz 10
9
Melhor disposição dos livros
ou facilidade de acesso 11
>Motivos para
não ir a bibliotecas (%)
Base: Quem não frequenta bibliotecas: 2007 (3.658) / 2011 (3.759) /
2015 (3.297) / 2019 (5.326)
P.56) Qual a principal razão para o(a) sr.(a.) não frequentar bibliotecas?
Mais alguma?
2019
2015
34
40 Não tem tempo
20
Não gosta de ler
19
13
Não tem bibliotecas próximas de mim
18
13 Porque prefere ler em casa ou em outro local
0
11
13 Não gosta de ir a bibliotecas
11
Falta de necessidade
0
5
8 Acha que a biblioteca é para estudantes
Ter internet 10
Outros 2
>14
Bibliotecas escolares
e universitárias
– percepção e uso
parte 2 | 319
>Avaliação
de bibliotecas escolares e
universitárias
Base: Quem está estudando atualmente: 2015 (1.337) / 2019 (2.101)
Base: Quem está estudando atualmente e tem biblioteca na escola:
2015 (1.178) / 2019 (1.778)
P.59) Na sua escola ou faculdade existe uma biblioteca ou sala de leitura
com livros?
P.60) Essa biblioteca ou sala de leitura pode ser frequentada por todos os
alunos nos dias em que há aulas?
84 15 1 2019
89 10 1 2015
90 8 1 2019
90 9 1 2015
320 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Avaliação
de bibliotecas escolares
e universitárias
Base: Quem estuda atualmente e tem na escola onde estuda uma
biblioteca ou sala de leitura com livros: 2015 (1.178) / 2019 (1.778)
P.61) Nessa biblioteca ou sala de leitura há um funcionário
para atender os alunos?
P.62) O(a) sr.(a.) procura livros nessa biblioteca ou sala de leitura?
86 13 1 2019
89 11 1 2015
73 27 2019
78 22 2015
parte 2 | 321
>Avaliação
de bibliotecas escolares
e universitárias
Base: Quem estuda atualmente e tem na escola onde estuda uma
biblioteca ou sala de leitura com livros: 2015 (1.178) / 2019 (1.778)
P.63) E lá o(a) sr.(a.) encontra os livros que gostaria de ler?
P.64) Os professores da sua escola ou faculdade indicam livros para leitura?
58 15 1 27 2019
63 14 23 2015
83 17 2019
82 18 2015
322 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Avaliação de bibliotecas
escolares e universitárias
por Escolaridade (%)
P.65) E nessa biblioteca ou sala de leitura o(a) sr.(a.) __________
Escolaridade
Fundamental II
2019 Total Fundamental I Ensino
(5a a 8a série
(1a a 4a série ou Médio Superior
ou 6 ao 9
o o
1o ao 5o ano) (1o ao 3o ano)
ano)
Base: Estuda atualmente e
tem na escola onde estuda
1.778 461 527 370 420
uma biblioteca ou sala de
leitura com livros
Encontra todos os livros
30 41 26 20 32
indicados pelos professores
Encontra parte dos livros
30 23 25 37 44
indicados pelos professores
Não encontra os livros
12 8 15 15 5
indicados pelos professores
Não procura esses livros
indicados pelos professores
na biblioteca ou sala 10 7 12 13 7
de estudo da escola ou
faculdade
Professor não indica livros 17 18 22 13 9
Não sabe/ Não respondeu 1 3 0 1 2
324 | r e t r ato s da l e itu r a n o b rasi l 5
>Avaliação de bibliotecas
escolares e universitárias
por faixa etária
*Bases baixas – dados apresentados em números absolutos
P.65) E nessa biblioteca ou sala de leitura o(a) sr.(a.) __________
2019 Total
Base: Estuda atualmente e tem na escola onde estuda uma biblioteca
1.778
ou sala de leitura com livros
Encontra todos os livros indicados pelos professores 30
Encontra parte dos livros indicados pelos professores 30
Não encontra os livros indicados pelos professores 12
Não procura esses livros indicados pelos professores na biblioteca ou
10
sala de estudo da escola ou faculdade
Professor não indica livros 17
Não sabe/ Não respondeu 1
parte 2 | 325
Faixa etária
70 e
5 a 10 11 a 13 14 a 17 18 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 69
mais
42 31 23 24 30 24 16 12 1
20 32 28 41 38 40 27 15 0
9 11 18 9 6 8 5 0 0
6 8 12 11 16 15 3 2 0
20 18 18 14 10 10 9 1 1
3 0 1 0 0 4 0 1 0
5ª Edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2019-2020
Itaú Cultural - IC
Instituto Pró-livro
Biênio: maio/2019 a maio/2021
Eduardo Saron Diretor
Diretoria
Aplicação da pesquisa
José Ângelo Xavier de Oliveira Presidente
IBOPE Inteligência
Marcos da Veiga Pereira Vice-Presidente
Rosi Rosendo Diretora de contas
Administrativo
Guilherme Militão Analista de atendimento
Vitor Tavares Vice-Presidente Técnico
e planejamento
Maria Cristina Rodrigues Swiatovski
Taís Magalhães Analista de atendimento
Primeiro Secretário
e planejamento
Alfredo Weiszflog Segundo Secretário
Alexandre Carvalho Analista de atendimento
Jorge Yunes Primeiro Tesoureiro
e planejamento
Renato Soares Fleischner Segundo Tesoureiro
Coordenação da pesquisa
Conselho Fiscal
Instituto Pró-Livro – IPL
Titulares
Zoara Failla Coordenadora das pesquisas
Karine Pansa
Retratos da Leitura
Diego Drumond
Comissão técnica Dante José Alexandre Cid
Instituto Pró-Livro
Suplentes
Gerencia de Projetos e Pesquisas
Maria Lúcia Kerr Cavalcante de Queiroz
Zoara Failla Coordenação da Comissão
Paulo Vicente Ruiz Moregola
Consultores
Fabio Malini
Idmea Semeghini-Siqueira
João Luís Ceccantini
José Castilho Marques Neto
Esta obra foi editada
na cidade do Rio de Janeiro
e impressa nas oficinas
da Lis Gráfica Editora,
em papel Couché matte
de 115 g/m2,
no outono de 2021.
Foram usados tipos
The Antiqua e The Sans,
criados por Lucas de Groot
em 1995
cip-brasil. catalogação na publicação
sindicato nacional dos editores de livros, rj
R345