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by
Andy (@larrypowerr)
Ephemeral
Tudo o que Louis queria era se desligar e fingir que não doía mais para
conseguir parar de chorar e soluçar ou ao menos aplacar a sensação vazia e,
ao mesmo tempo, dolorida o consumindo como brasa. Seu peito estava
doendo com cada inspiração e ele só desejava se poupar de mais algum
machucado irreversível.
O garoto que ele amava estava deitado imóvel em uma cama gelada, as
respirações curtas e artificiais preenchendo o ar do quarto junto com os
bipes de diferentes aparelhos conectados ao grande corpo pálido.
O que eram vinte minutos perto dos últimos meses que passaram juntos e
perto de todas as vezes que Harry o fez se sentir... Infinito? O que
significavam vinte minutos perto da eternidade que Harry lhe prometera sob
o céu estrelado de Holmes Chapel com os lábios colados ao seu pescoço e
as mãos grandes acariciando seus quadris com uma delicadeza quase
surreal?
que eu percebi, meu Meno, é que a nossa eternidade começou antes mesmo
de nos conhecermos. Lembra
de Zayn porque... Bem, ele era Zayn, o garoto que nem estava ligando para
aula e mesmo assim aprenderia toda a matéria se prestasse atenção por dez
segundos. Isso me deixava puto pra cacete, já que eu precisava revisar todos
os exercícios quando chegava em casa para começar a entender. Em
algumas vezes, eu tinha vontade de desenhar pentagramas com sangue no
chão do meu quarto para conseguir mais inteligência, mas Jay
provavelmente me faria limpar depois e... Nah.
Era o meu último ano. Ao mesmo tempo em que estava feliz, também havia
um sentimento estranho me preenchendo por completo. Não somente pela
pressão da
faculdade e das futuras cartas de aplicação, mas também porque minha vida
parecia estar na estaca zero o tempo inteiro, como se estivesse dentro de
algum jogo maldoso e alguém tivesse o pausado eternamente.
Ou seja, eu era um otário que nunca tinha feito nada de emocionante para
escrever sobre. Stephen King com suas experiências épicas me chutaria no
saco se me conhecesse. Minha vida seria apática e bosta para sempre.
Ele deu um tapa fraco no meu ombro e depois puxou a alça da minha
mochila, forçando-me a continuar andando
em direção ao refeitório que, na hora do intervalo, mais parecia um campo
livre para a maior manada de abutres do mundo. Quase todos na escola
eram animais, empurrando as pessoas com ombros e quadris para conseguir
um pouco mais de purê de batata ou hambúrguer integral.
estivesse nublado. Então, vinte graus era uma razão honrosa para se
comemorar com sorrisos gigantes.
Tomei um gole de água e deixei a garrafa de lado. Jay estava com essa coisa
maluca de que eu precisava tomar ao menos um litro de água por dia.
Pelo menos não quando ele ainda era pobre e sócio de um pequeno
escritório de advocacia caindo aos pedaços em Doncaster. Nos dias em que
algum processo não ocorria bem ou uma causa não era ganha, ele chegava
em casa bêbado tropeçando na soleira da porta e, antes do jantar, gritava
com minha mãe até que, chorando e exausta do trabalho, ela implorasse
para ele parar.
Eu tinha nove para dez anos naquele tempo, mas conseguia me lembrar de
que tapava os ouvidos de Charlotte e Felicite para que elas não escutassem
os gritos enquanto eu era obrigado a ouvi-los, não restando nenhuma opção
a não ser apertar os olhos e sussurrar que tudo ficaria bem.
Fizzy se mudou para Nova York com Mark e nos abandonou na primeira
oportunidade que teve de uma vida melhor, esquecendo-se de tudo que ele
já fez minha mãe passar. Porém, eu não esqueci.
Ah... hotdog.
— Zayn, você sabe que eles vendem essa porcaria em qualquer lanchonete
de esquina, né?
— Sei.
— Então?
Ri baixo.
— Cale a boca.
— Por que você quer ir ao jogo? — Não deixei o assunto escapar. — Dois
nerds nos jogos de temporada. Quão trágico isso pode ser?
— Você tem um crush! Eu não acredito que você tem um crush no Monstro-
de-Músculos que é Liam James Payne!
Comecei a gritar, mas Malik veio para cima do meu corpo e colocou as duas
mãos em frente à minha boca, fazendo com que eu me desequilibrasse no
banco e levasse nós dois ao chão de concreto.
De manhã, o vento fez com que meus lábios rachassem mesmo com a
quantidade absurda de protetor labial que passei ao longo das horas. E como
se a minha boca imitando a troca de pele de um réptil não fosse o suficiente,
o motor do meu Volvo s80 2007 fundiu no meio do estacionamento
principal.
Me contive para não chutar o pneu do carro quando uma fumaça cinza e
com cheiro de enxofre do inferno começou a sair do capô porque eu
provavelmente quebraria meu pé
Zayn apareceu cinco minutos depois segurando dois copos de isopor com
café quase borbulhando de tão quente e aquilo deve ter sido o ponto mais
alto do meu dia.
Você sabe que sua vida está uma merda quando quase tem um orgasmo por
causa de um café quente e forte.
Ele olhou para o capô fechado por mais ou menos três minutos e quando
terminou, ergueu os olhos e empurrou os óculos para cima na ponte do
nariz, concluindo:
— Está estragado.
Eu estava mais para uma árvore. Ficava ali imóvel em algum canto,
respirando e implorando por um pouco de sol. As pessoas só percebiam que
eu existia quando o aquecimento global – ou podemos chamar de semana
de provas – eclodia. Louis Tomlinson, o nerd que resolvia as
Ouvi três batidas suaves no capô do carro e ergui os olhos para encontrar...
Oh.
Wow.
Zayn certamente estava tendo um ataque cardíaco ao meu lado, mas eu não
conseguia virar o rosto ou mover minhas mãos para ajudá-lo.
Zayn sussurrou um "não" que foi encoberto pela minha tosse forçada.
— Não será incômodo algum. — Liam sorriu e olhou para Zayn, as linhas
de expressão suavizando. — Nos vemos depois, então.
Liam estava parecendo uma imagem esculpida à mão com o vento batendo
no seu rosto fazendo-o estreitar os olhos levemente, além do corpo repleto
de músculos por baixo da jaqueta cara e os jeans claros. Tirando o fato que
estava encostado à sua BMW preta que era mais brilhante do que meu
futuro.
— Tem certeza de que não vai incomodar? — Perguntei assim que paramos
em frente a Liam. — Nós realmente podemos pegar um ônibus.
— Não, tudo bem. Eu levo vocês com o maior prazer. Não vou pra casa
hoje, de qualquer forma.
Payne riu enquanto ligava o aquecedor dos bancos. Minha bunda começou
a esquentar e até que foi uma sensação boa.
Jogo.
enquanto
soltava
grunhidos
palavras
Estou indo.
— É assim que você fala do carro que leva essa sua bunda magrela para a
escola nos dias em que você está cansado demais para pegar ônibus?
Ingrato.
— Sim. Já que estamos sem a carruagem real, vou passar por cima das
minhas ideologias e pegar um carro emprestado do meu pai. Passo te
buscar.
O caminho até minha casa não era longo, mas para alguém completamente
sedentário que se entupia de
— Você não está indo para o matadouro e esse carro não é uma nave.
Alguns estavam sem camiseta e, fala sério, meu tríceps não ficaria daquele
tamanho nem se eu fosse preso e acorrentado a uma academia.
Quatro garotas tinham as letras "A" "H" "R" "Y" pintadas em vermelho nas
barrigas, o que não fazia sentido. Quem se chamava Ahry? Yrah? Ryah?
Talvez tivesse entrado um garoto israelense ou iraquiano no colégio.
as sobrancelhas, sendo fofo de uma forma que me fez apertar sua bochecha
esquerda, ecoando um "aww".
— Eles não conhecem copos? — Sussurrou após bater nos meus dedos para
afastá-los. — Não é uma invenção tão ultrapassada assim.
conversando
e
agitando
os
pompons
distraidamente.
— O quê? Eu nã–
Zayn era mais alto e mais forte do que eu e sabia usar sua força muito bem
para alcançar os objetivos de seu interesse, por isso eu fui arrastado pela
mão até a barraquinha mais próxima de cachorro-quente, assim como Jay
fazia quando eu não queria ir a algum lugar.
Deixei que ele pagasse tudo porque se eu fosse carregar sua mostarda, não
era obrigado a pagar também.
— Minha mãe disse que está com saudades de você e que você deveria ir
jantar lá em casa. — Malik disse após morder um pedaço do pão. — Cara,
isso é muito bom! E aí ela até prometeu que faria aquela massa com... Jesus,
essa mostarda! Camarão.
Eu não conhecia quase ninguém dali a não ser Zayn e alguns alunos da
classe de química. E era por isso que não gostava de ir aos jogos do time:
Sentia-me deslocado, como se não pertencesse àquela escola.
Eu não entendia absolutamente nada das jogadas e, a cada cara que era
jogado para cima pelo jogador do time adversário, eu tapava os olhos e
mordia os lábios de ansiedade porque... Aquilo machucava, não é? Foram
muitos chutes, socos e empurrões que passavam despercebidos pelo juiz e,
no final, acabou em 23 a 11
como
um
rei.
Meus
olhos
Liam foi para o outro lado e eu pude ver STYLES atrás do seu uniforme,
logo acima do número 17.
E... Beijaram-se.
Ah.
Chapter Two
A vitória dos Wild Wolves ao menos trouxe uma boa coisa no dia seguinte.
Quando Zayn e eu pegamos as bandejas de plástico para almoçar, percebi
que havia hambúrgueres com queijo em cima de uma grande chapa para
mantê-los aquecidos.
— O quê?
Zayn revirou os olhos tão rápido que eu fiquei com medo de ficarem
grudados atrás de sua cabeça.
— Na verdade, acho que foi antes do Natal do ano passado. — Ela disse,
empurrando a mochila de lado para que pudesse nos encarar
apropriadamente. — E aí?
— Elas me deixaram sozinha porque eu disse que não queria matar aula
para cheirar cocaína. — Revirou os olhos e pegou o hambúrguer, dando
uma mordida grande que fez uma boa parte do molho acumular no canto da
sua boca. — Aquelas estúpidas acham que serão muita merda
Boa parte dos alunos fumava maconha. A mídia local focava no uso de
drogas somente dentro dos colégios públicos, mas a verdade é que em Wye
Hill, os filhinhos de papais compravam heroína ou maconha e revendiam a
um pequeno preço somente pelo simples fato de serem Os Traficantes.
Ouvi uma risada rouca e alta preencher o refeitório, o som levemente firme
me fazendo erguer os olhos para encontrar Styles, o capitão do time,
entrando no lugar.
O resto da frase que eu ia dizer a Lottie ficou preso na minha garganta junto
com um caroço súbito e inexplicável.
— Por que você está olhando para Harry e a namorada dele? — Perguntou
com as sobrancelhas erguidas. —
Então ele se chamava Harry. Típico inglês que, com toda a certeza, deveria
ter um segundo nome antes do sobrenome.
— Zayn e eu.
Malik largou o hambúrguer e pressionou os lábios juntos, hesitando por
alguns segundos antes de soltar um murmúrio.
— Então... — Cruzei os braços sobre a mesa como quem não quer nada e
desviei o olhar para minhas unhas. —
Tive que segurar minhas pálpebras fechadas para não revirar os olhos e, ao
invés disso, escolhi balançar a cabeça afirmativamente e sorrir de uma
forma que eu tinha certeza que parecia falsa.
Olhei pra cima e vi Liam segurando apenas um copo de suco com a outra
mão dentro do bolso do casaco. Me perguntei onde estava a mochila dele,
mas como ninguém na mesa respondeu sua pergunta, assenti e sorri. Payne
se sentou em frente à Malik e tive que chutar meu amigo para que ele
tivesse alguma reação, já que estava parado no lugar com a boca suja de
molho e as mãos suspensas no ar, o hambúrguer espatifado no prato.
Lottie também não estava muito longe, com os olhos fixados no garoto e a
boca aberta em surpresa. Eles estavam parecendo estátuas de cera e Liam
riu quando percebeu isso, erguendo as sobrancelhas com vergonha.
— Estou incomodando?
— Se você não entendeu, — Dei um tapinha nas costas dele. — Zayn quis
dizer que não.
Ah, sim. Tinha um espaço. Tinha a porcaria de uma carteira vazia em frente
à minha, e somente com a remota possibilidade de me sentar atrás dele,
minhas pernas ficaram moles.
Estava tudo muito errado.
anéis
que
pareciam
ser
caros
batucarem
Deitei a cabeça na carteira e respirei pelo que pareceram cinco anos após
ficar sem oxigênio.
— Você está horrível. — Zayn disse quando nos sentamos a uma das mesas
do Arroto Molhado.
— Você está horrível. — Ela me disse a mesma coisa e se abaixou para dar
um beijo na bochecha de Zayn. —
— Não. Tem algo a ver com pílulas que a China está desenvolvendo que
podem te matar no final de–
— Ok, vão conversar sobre isso lá fora. — Pedi, esfregando os dedos sobre
as têmporas. — Meu dia foi horrível e eu agradeceria se essas conversas de
nerds ficassem de fora de toda a tortura.
— Diz a pessoa que tira a nota máxima em todos os exames. — Nora bateu
na parte de trás da minha cabeça com força o suficiente para me fazer
engasgar com o milkshake. — O que você tem?
Mas havia um detalhe minúsculo que não fazia nenhuma diferença: Ele
namorava. Hah.
— Isso é falta de... — Ela ergueu a mão e fez o típico movimento que
imitava uma punheta, levantando as sobrancelhas. — Você sabe o quê.
Liberar uns espermatozoides no ralo do banheiro, descascar uns milhos,
descabelar o palhaço, coisa e tal.
— Tchau, Nora.
— Fique longe da minha irmã, sua pervertida. Ela é nova pra você.
Zayn esperou que Nora fosse até outra mesa para falar, brincando com os
próprios dedos enquanto fingia que eles eram as coisas mais interessantes
do mundo.
Um homem da mesa ao lado largou o garfo que estava segurando e fez uma
careta pra mim.
— Você não vai poder usar as mãos se também tiver garfos prendendo-as na
mesa.
— Eu quero que você vá comigo amanhã. Liam vai levar alguns amigos e
podemos nos divertir.
Seu primeiro beijo foi comigo na sua cama embaixo das cobertas. Ele
ficava completamente vermelho toda vez que eu trazia o assunto à tona.
No
dia
que
aconteceu,
neve
estava
caindo
incessantemente e avisei minha mãe que não iria para casa, já que Trisha
havia me pedido para dormir lá. Algum filme antigo passava na televisão
quando eu o abracei de lado e tirei seus óculos, deslizando os dedos pelas
suas bochechas quentes, impulsionado por uma vontade repentina de ter
seus lábios nos meus e, claro, pelos hormônios atacados corroendo cada
parte da minha libido recém-descoberta.
Digo baixo, adquirindo aquele instinto protetor que sempre aflora quando se
trata do meu melhor amigo. — Não é só porque você gosta dele que é
obrigado a se sentir bem com qualquer movimento que ele fizer.
— Você vai estar lá, não vai?
— Sim, você vai. Por favor, Tommo. Eu não posso correr o risco de ficar
deslocado lá. E se Liam me largar sozinho? E
— Ao boliche.
Eu nem ao menos sabia o que era ter um encontro. Todos na escola eram
bons demais para o baixinho esquisito que sujava a própria roupa com suco
de uva e, claro, era pobre.
Por isso, eu mandava tudo de volta para Nova York com um simples bilhete
escrito "obrigado."
— Ficam mesmo.
que é?
encostei ao lado dela na parede, nós dois olhando para os nossos reflexos no
espelho.
Ao contrário do que pensei, ela não fez piada nem zombou da minha
pergunta que soava extremamente ridícula, somente franziu os lábios e
respirou fundo pela pequena brecha entre eles.
— Eu não sei muito sobre ele, ninguém sabe, na verdade.
— Inocente?
— Não. Ele não parece ser solitário. Vive rodeado pelos garotos do time.
— E a namorada dele?
— Ela é legal, um amor e auxiliar comunitária, mas não acho que eles
sejam amigos acima de namorados. Às vezes parecem indiferentes, às vezes
são como Barney e Robin, e outras... Parecem insatisfeitos com a presença
um do outro.
— Mas nunca disse que parece que se amam. Harry gosta de–
A frase dela foi interrompida por uma buzina. Olhei pela janela ao lado da
cama e vi o carro de Liam lá embaixo, já me sentindo culpado por Zayn ter
pedido a ele para vir me buscar.
— Não, você ainda tem cinco pra mim. Cale a boca. Se algo der errado, me
liga. Precisa de dinheiro?
Os olhos.
Eu não sabia de que cor seus olhos eram até aquele momento. Não havia
tido a oportunidade de vê-los mais de perto, mas agora, a pouco mais de um
metro de distância, tudo o que eu via era o verde.
Talvez eu devesse pedir para Liam passar com o carro em cima de mim.
— Obrigado por me buscar, Liam. — Eu disse, estendendo os braços por
cima do banco de passageiro para segurar os ombros de Zayn. — Não
queria te explorar.
Liam guiou Zayn pelas portas altas e iluminadas ao estilo retro do boliche
com uma mão na base de sua coluna, deixando Harry e eu para trás lado a
lado. Ele nem parecia notar minha presença, era como se eu realmente fosse
uma árvore o seguindo.
Por dentro, o lugar parecia uma danceteria saída direto dos anos oitenta.
ABBA tocando alto e garçonetes em patins deslizando pelo chão de
madeira segurando bandejas lotadas de comida com um equilíbrio sobre-
humano. Dei risada quando quase esbarrei em uma delas, que também riu,
me mandou um beijo enquanto recuperava a postura e rumou em direção à
uma das mesas espalhadas em volta das pistas.
Eles nos ofereceram sapatos fedidos e suados para jogar, mas optamos por
ficar descalços e evitar possíveis e futuras frieiras nos dedinhos. Pegamos
uma ficha e andamos por um pequeno corredor aberto até a pista sete.
Havia luzes de discotecas no teto e uma fonte de ponche com muito álcool,
então por que diabos estávamos sentados nas cadeiras com expressões
desconfortáveis e deslocadas?
Seria uma ótima ideia se o capitão do time que brotava do nada mais vezes
do que capim não estivesse de cabeça baixa cutucando os próprios jeans e
evitando encarar qualquer um. Talvez ele quisesse estar com a namorada, e
não com três gays exalando purpurina rosa e mágica.
Harry tirou os tênis e as meias e eu descobri que seus pés eram as únicas
coisas horríveis no seu corpo. Aquilo era assustador e parecia ter vida
própria. Mas aí me senti envergonhado porque meu pé era o menor dali.
Realmente menor.
Olhei para meus pés cobertos por meias coloridas de bolinha e me arrependi
no mesmo instante por tê-las pegado de Lottie. Ele estava sendo irônico e
zombando com a minha cara e – ainda mais inadmissível – com as meias.
Zayn derrubou quatro pinos e Liam fez um strike, abraçando Zayn com
força para comemorar e deixando
meu amigo meio sem jeito; porém, ainda sorrindo de orelha a orelha.
Suspirei de frustração.
Pelo jeito, éramos completamente feitos de conversas não terminadas.
Chapter Three
ou
feito
algo
fulminante,
mas
somente
— Posso dormir na sua casa hoje? — Zayn encaixou o rosto entre os dois
bancos da frente. — Se não tiver problema.
Enfiei o resto do KitKat na boca e acenei com a cabeça, sorrindo e tendo
certeza de que tinha chocolate até mesmo na minha testa. Malik voltou a
endireitar a postura e eu continuei comendo mais chocolate para fingir que
o azedume de Styles não estava travado na minha garganta.
Payne estacionou o carro em frente à minha casa e esperei que ele recebesse
um beijo demorado de Zayn na bochecha para só então agradecer pela
carona e pela noite. Quando decidi que ser educado seria uma boa
conduta, prestes a também dar boa noite a Harry, percebi que ele ainda
estava escrevendo no celular entre suas mãos gigantes. Por isso, ele ficou
sem boa noite e eu fiquei aliviado porque não sabia se conseguiria
realmente me despedir.
— Não. Digo... Só um beijo pequeno. Mas nem foi tanta coisa porque
Harry estava meio... Estressado. Acabou cortando o clima. Ou ao menos foi
o que pareceu.
Ergui a cabeça tão rápido que meu pescoço quase deslocou com o
movimento.
— Não. Nem faço ideia. Mas sei lá, tem algo errado com ele. Tenho
certeza.
É isso o que eu estava pensando. Ao menos não fui o único a perceber que
Harry escondia alguma coisa. Ou algum sentimento, uma identidade
secreta. Talvez ele fosse um ator pornô nas horas vagas ou até mesmo um
dos Teletubbies. Será que o nome dele era mesmo Harry?
Tanto faz.
Uma mão foi erguida timidamente e minha boca quase foi ao chão ao
perceber que foi Harry quem a levantou.
Obrigado.
— Você parece ser o tipo de pessoa que marca suas páginas preferidas do
livro com post-its coloridos. Com certeza tem alguma frase decorada aí.
Harry não virou para me olhar, mas percebi que ele estava sorrindo por
causa da covinha marcada na sua bochecha.
— E por que diz isso? — Ainda virado para frente, perguntou no mesmo
tom de voz que o meu, embora a sua fosse bem mais rouca e grossa.
— Não hoje?
Na verdade, ele falava mesmo grego porque Yaser tinha uma obsessão com
línguas estrangeiras que soavam elegantes, mas só colocava o
conhecimento em prática quando precisava xingar alguém que estava por
perto.
— Não, não... Digo, ela é bonita, muito bonita, fantástica e perfeita, mas
eu...
— O. Livro. — Sibilou.
Após as onze horas, o céu pareceu ter gritado "se fode aí, Louis, seu otário
de proporções intergalácticas" e mandou uma chuva torrencial para afogar
todas as minhas esperanças de um céu limpo e azul e mandar minha
felicidade água abaixo. Literalmente.
Eu estava sem carro, Zayn precisou ir para casa no penúltimo horário e as
questões de história estavam cortando e estrangulando meu último estoque
de paciência
E tudo melhorou.
Mentira.
— Silêncio! Está tudo bem! O gerador vai funcionar daqui a pouco. Façam
silêncio, pelo amor de Jesus Cristo. — Ele parecia realmente estressado e
eu dei toda a razão.
Esperamos por alguns minutos, até que uma das coordenadoras apareceu e
disse que deveríamos ir para casa, já que o gerador principal estava com
alguns problemas e a chuva não pararia tão cedo para que o conserto
pudesse ser realizado.
Foi como mágica: Em menos de dois minutos depois, a sala estava vazia,
restando somente eu e o professor.
E não. Eu me recusava.
Caralho, caralho!
Eu era novo. Não conhecia o David Beckham e nem a Rainha. Não podia
simplesmente morrer! Eu deveria sair correndo e gritando pela minha mãe.
Estava a ponto de voltar para sala e pedir socorro ao professor quando uma
mão pousou no meu ombro com firmeza. Antes que eu pudesse pôr em
prática tudo o que tinha aprendido com os programas gratuitos de defesa
pessoal no YouTube, um grito estridente e assustado deixou minha
garganta, meu corpo inteiro passando de hesitante para gelado, trêmulo e
estático.
estava molhado, o tecido das roupas colando no seu corpo e o lábio inferior
vermelho coberto por pequenas gotículas de água. Ow. Aquele lábio. — Eu
não queria te assustar.
Por que eu era um idiota que ficava com medo de lugares vazios e escuros?
Harry olhou para o outro lado, onde estava o Audi preto, e afastou alguns
fios de cabelos das bochechas pálidas antes de voltar o olhar para mim.
— Parece que a maioria dos celulares está. Eu tive que esperar Julie por
alguns minutos e aí vi você saindo. Quer uma carona?
Pergunta desnecessária número 321291 do dia: Então por que ele estava
todo estressado no boliche?
Harry Styles era único e singular, coberto por uma superfície maravilhosa e
perfeita para transmitir o recado que seu interior poderia ser definido da
mesma forma.
Virei as costas para ele, focado em alcançar a porta e entrar para me livrar
do que estava me sufocando apesar de toda a ventania batendo no meu
rosto. Escutei passos ecoando no piso molhado e dedos longos e gelados
fecharam-se em torno do meu pulso com suavidade, como se um
movimento mais brusco fosse me quebrar de várias maneiras opostas.
— Não. — Havia certo tom urgente em sua voz quando me virei mais uma
vez. Seus dedos permaneceram em contato com a minha pele. — Não
precisa, de verdade. Eu
sei onde você mora porque Liam foi buscar Malik aquela vez e é a caminho
de casa.
Respirei fundo quando ele largou meu pulso e continuou a me olhar por
baixo dos cílios úmidos, a boca ainda pressionada em linha reta.
— Ok. — Cedi.
Meu casaco era meio que inútil. Os casacos jeans tomavam meu guarda-
roupa e Lottie chegou a prometer que queimaria toda aquela coleção de
denim se eu ousasse comprar mais algum. E o pior: Não esquentavam
merda nenhuma e pareciam absorver mais água do que eu após ressaca.
Porém, sempre estavam em liquidação na
Forever 21. A falta de dinheiro vencia o senso de estilo, ainda mais por
cima da camisa ridícula do uniforme.
— Para você não se molhar tanto daqui até o carro. —
Sob seu olhar atento, comecei a vesti-la. Após ter as mangas longas
acomodadas nos meus braços e a gola ajeitada em cima da cabeça para
também tentar manter meus cabelos secos, percebi que meus dedos
literalmente não apareciam no limite das mangas porque elas eram grandes
demais para mim. A barra alcançava a parte superior das minhas coxas e
tudo cheirava tanto a Styles que eu tive vontade de me encolher em uma
bolinha e ficar parado para nunca mais ter que sentir outro cheiro.
— Pronto. — Disse a ele por baixo da sua blusa após desistir de empurrar a
franja para fora dos meus olhos, oferecendo um sorriso amigável.
Os cantos da sua boca levantaram por poucos segundos antes de ele menear
a cabeça e indicar para segui-lo. Nós dois saímos correndo na chuva,
desviando de poças e de lugares onde a água estava mais acumulada, o
casaco me
Mas esqueci desse plano quando realizei que havia mais duas garotas dentro
do carro me analisando da forma mais crítica possível.
— Ok.
Quando o carro parou no semáforo, Julie ousou mais um pouco e sua mão
foi parar exatamente em cima da virilha
de Harry, que riu baixo e tirou de lá, fazendo-a limitar os toques somente à
sua coxa.
Opa. Harry tinha mais uma pessoa com um possível crush nele?
Quando o Audi parou mais uma vez, foi em frente à mansão digna de Teen
Cribs da MTV. O portão alto de ferro maciço trabalhado foi aberto
automaticamente e Harry entrou, passando por um extenso jardim de grama
nivelada e árvores altas e podadas. Roseirais podiam ser vistos à distância e
pensei em Jay que, com toda a certeza, surtaria se visse como as rosas
vermelhas eram bem cuidadas.
Ela sabia meu nome? Como? E agora tinha baixado o espírito gentil da
Miss Universo nela? Por favor.
Não a respondi porque não consegui, já que ela somente se virou
novamente e aproximou-se de Styles. Esperei um beijo repleto de língua e
saliva, mas tudo o que vi foi um pequeno beijo e um chupando o lábio
inferior do outro por poucos segundos.
Ew.
Entendi um "te ligo depois" abafado entre os lábios e logo a garota saiu,
acompanhando a amiga para dentro da casa.
Harry suspirou e olhou por alguns segundos para onde o tecido branco
estava grudando na minha pele.
— Mas eu não.
O toque durou menos de cinco segundos, mas me fez imaginar como seria
se fosse por mais tempo, talvez até minutos.
Foi por causa dessa imaginação fértil até demais que eu me joguei no banco
de passageiro com todo o meu peso, atônito e com os olhos fixos no para-
brisa embaçado, condenando meus pensamentos malucos e impossíveis.
— Bem melhor. — Sussurrou para si mesmo e deu partida mais uma vez,
ligando o rádio com a mão que não estava no volante.
— Que droga.
— Pediu.
— Você quer...
A frase poderia acabar de várias formas diferentes. "Você quer sair do carro
e morrer de frio, seu babacão?" ou
O sinal abriu e ele voltou a se concentrar na rua. Observei uma gota de água
escorrer do seu rosto para o pescoço pálido e então sumir no limite da
camiseta.
Não, ele não estava. Harry era o capitão do time, pelo amor de Deus. Todos
o conheciam e, se ele quisesse,
— Acho que é melhor na minha casa. Se estiver tudo bem pra você?
Ai, merda. Não estava nada bem. Como eu poderia ir à casa dele?
— Ok.
Eu não estava perdendo nada. Harry tinha uma namorada, como se eu não
estivesse repetindo a mesma coisa durante todos os segundos do meu dia
desde que o
encarar. — Está chovendo muito. Espere um pouco para poder sair do carro.
Uma mulher brilhante. Mas podemos falar disso outra hora. Eu venho te
buscar amanhã depois do almoço, se estiver tudo bem. Deveríamos começar
a definir os parâmetros e a base da síntese.
O fato de ele ter falado "se estiver tudo bem" duas vezes dentro de mais ou
menos dez minutos me fez sorrir.
— Está. Ok.
Parabéns.
— Fui. Eu não entendo muito, mas acho que preciso experimentar novas
coisas no último ano da escola, assim como meu amigo disse.
Coloquei a mão no seu braço antes de puxar mais uma vez o cabelo para
longe dos meus olhos.
— Obrigado. De verdade.
Após ouvir por quase quinze minutos sobre como é importante não aceitar
carona de estranhos, nem mesmo de colegas da escola ("alguns adolescentes
têm fortes tendências a ser assassinos em série, Louis", ela disse
firmemente), eu me levantei para sair da cozinha, pensando que de jeito
nenhum que Harry Styles poderia fazer mal a alguém, mas a voz de mamãe
me deteve.
Ela abaixou o olhar para o centro do meu peito. Só então percebi que ainda
estava com a jaqueta de Styles. Fechei os olhos, murmurando um palavrão.
— Parece que alguém está vivendo o típico romance americano entre
popular e nerd. — Lottie cantarolou, passando por mim e deixando um
tapinha nos meus ombros no meio do caminho.
— Isso é pra você. — Zayn apareceu em minha frente assim que desci do
ônibus, entregando-me uma barrinha de Snickers e um copo de isopor com
chá. — Temos prova de álgebra geométrica hoje. Cafeína estimula as
células cerebrais responsáveis por–
"shhhh".
— Louis!
Abri o Snickers e dei uma grande mordida, as duas metades do meu corpo
discutindo entre mastigar ou cair no chão e dormir.
— Mais baixo, Zayn. Muito mais baixo. Use suas habilidades de yoga e
tente ficar quietinho.
— Não, eu não sei porque Harry faltou. — Deu uma mordida gigante no
bolinho e lambeu o creme em cima, sujando a boca inteira e nem se
importando. — Por que você está fazendo essa cara? Não pira, Louis. O
fato de ele ter faltado hoje não significa que tenha algo errado, relaxa.
Sempre que eu saía da biblioteca à noite com mais e mais livros dentro da
mochila, uma parte de mim me lembrava de que Harry deveria estar me
ajudando. Ele também deveria estar escrevendo e lendo aquelas obras do
século dezenove e vinte comigo.
— Tommo–
— Zayn. — Meu tom incisivo e curto deu a entender que o assunto estava
encerrado. E ele, pelo bem da minha dor de cabeça, compreendeu.
— Dorme comigo?
Não revidei a resposta porque era exatamente isso que estava acontecendo.
Meus sonhos constantes com Harry não eram suficientemente apropriados
para eu contar a Zayn.
— Olhem só para isso! — Lottie deu alguns pulinhos e soltou meu braço
para correr até o centro da área desocupada pelas mesas, olhando encantada
em volta
Essas luzes estão brilhando tanto e eu... Eu quero muito, muito me entupir
de comida até ter um troço!
Olhei com a sobrancelha erguida para Nora, que tinha os cabelos loiros
penteados de uma forma elegante e os lábios ressaltados com batom
vermelho-escuro que já estava manchado. Ela parecia com...
E não foi uma boa ideia. Foi a pior ideia de todas, na verdade.
Algumas pessoas dizem que a vodka derrete o filtro do cérebro até a boca, e
acho que elas estão certas, porque a partir do terceiro milkshake, eu já tinha
dado uma palestra sobre Styles digna de conclusão de mestrado.
Minhas pernas estavam sobre a cadeira vazia ao meu lado e o copo estava
equilibrado entre minha coxa e mão, o milkshake pela metade parecendo
nem tão atrativo assim por causa do nó que havia se acomodado no meu
estômago, passando a impressão de apertá-lo a cada respiração. Mas ainda
sim, isso não foi o suficiente para me fazer parar de falar do estúpido
capitão do time que estava me deixando na mão. Literalmente? Talvez.
Hah.
Zayn pagou a conta após pedir seis brownies para viagem e me guiou até o
ponto de ônibus enquanto Lottie parecia estar morrendo com as gargalhadas
guturais que atraiam os olhares das poucas pessoas que estavam na rua após
a meia-noite. Tentei chutá-la, mas acho que calculei a
Fiquei quieto.
— Você está bem?
Silêncio.
— Louis?
Silêncio.
Silêncio.
— Eu!
Devo ter retomado mais ou menos à consciência quando senti a cama macia
abaixo das minhas costas, o lençol gelado proporcionando-me um conforto
contra minha pele quente e suada, provavelmente por causa da quantidade
de álcool ingerido.
— Pra quê?
— Só faz.
Então, minha boca encheu de saliva e foi uma questão de segundos até que
rolasse de cima de Zayn, debruçasse na beira da cama e vomitasse no chão
inteiro.
— A partir de hoje, Louis nunca mais vai beber. Está decretado. Eu estou
decretando.
— Qual direito você tem para fazer isso? — Tentei ver meu reflexo no
talher, mas não era prata legítima e sim um material de uma lojinha de
artefatos para casa, além de ter sofrido o mau trato da máquina de lavar
louça. — Quem é você, Malik?
Uma risada anasalada ecoou pela cozinha e Lottie empurrou o pratinho com
os brownies em minha direção.
— Você queria desenhar a porra de uma carinha na cabeça do seu pau?! —
Encarou Zayn, que parecia focado demais em abrir a caixinha de cereais
para só então colocar na minha tigela, despejando o leite junto. — E você
limpou o vômito dele?!
— Lottie, algum dia eu vou mandar cortar suas cordas vocais tipo aquele
cachorro do filme Gente Grande. — A voz de mamãe soou na cozinha antes
mesmo de ela aparecer com o cabelo amarrado em um coque alto e vestida
com leggings e uma camiseta velha e desbotada do Hard Rock Cafe. —
Bom dia, crianças que falam alto demais.
Dissemos bom dia enquanto Jay contornava a mesa para deixar um beijo
carinhoso na testa de cada um, demorando um pouco mais com Lottie e
murmurando que estava brincando e que a voz dela era perfeita do jeito que
era.
— Eu... — Tentei pedir ajuda à Lottie, mas ela só continuou rindo e pegou a
tigela, saindo da cozinha e me deixando sozinho com o problema nas
costas. —
Estávamos falando sobre a classificação de compostos orgânicos. Se tiver o
grupo hidroxila ligado a um carbono saturado, significa que é um álcool.
Entendeu?
Me encolhi na cadeira.
Jay encheu uma chaleira de água e a colocou no fogo antes de vir se sentar
em minha frente através da mesa, lançando um olhar rápido e carinhoso a
Zayn, que estava franzindo os lábios para os farelos de brownie espalhados
na superfície de madeira enquanto os juntava com a palma da mão para
jogá-los fora.
— Eu sei que você não bebe... Ou não bebia, mas precisa ter mais
responsabilidade, Louis. Sabe que Lottie é quase tão louca quanto a Sra.
Pokémon, mas ela ainda é nova.
Encarei-a, atônito.
— Zayn me contou.
— O quê?!
Como se soubesse que iria sobrar para ele, Malik passou por mim correndo,
abraçou Jay e saiu da cozinha, quase
lugar
que-quem-caralhos-sabe-onde-fica
e,
para
os
pais
que
eles
tentavam,
constantemente, empurrá-lo para garotas de diferentes níveis da classe alta
de Londres. Bem, seria uma surpresa e tanto quando eles descobrissem que
um Malik de cílios longos com – rufem os tambores – um pau havia
roubado o lugar de todas as pessoas que, com certeza, deveriam babar por
Liam.
Esperei por alguma história que envolvesse Harry. Mesmo que não quisesse
admitir, eu estava sedento pelo som do nome dele na voz de outra pessoa
sem que fosse aquela repetitiva dos meus pensamentos, estava ansiando por
alguma
notícia.
Qualquer
uma,
qualquer
história
engraçada, qualquer "uma vez, Harry..." que pudesse aquietar todas minhas
ansiedades. Eu aceitaria até mesmo alguma frase que também envolvesse o
nome de Julie, mas, sobretudo, eu queria que Harry Styles estivesse bem.
Nada veio.
Com a mesma rapidez que seus traços foram iluminados por alegria, eles se
apagaram, trazendo uma expressão indecifrável ao rosto do garoto em
minha frente. E só porque Liam parecia ser um ursinho alegre e feliz o
tempo inteiro, deduzi que estava acontecendo algo realmente sério.
— Isso é... Isso é bom. Ótimo. Alguém aí já ouviu a piada do pintinho que
não tinha bunda?
pra casa num dia de chuva. Não faço a mínima ideia de como dizer isso
gentilmente, mas tenta esquecer ele, certo? Se ele reaparecer na escola, finja
que nunca conversaram. Você é legal, não quero que saia magoado.
Quando cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi tirar o casaco de
Harry do lugar onde estava, na cadeira em frente à mesa do notebook, e
guardá-lo dentro do guarda-roupa embaixo de muitos e muitos suéteres
empoeirados e que havia deixado de lado já fazia muito tempo.
problema estava enraizado no fato de eu não poder tapar o que Payne disse
no almoço com suéteres coloridos de lã. Não havia nada a fazer a não ser,
realmente, sentar e lamentar por toda a desgraça. Foi o que fiz.
— Ver Zayn e Liam se beijando foi tão ruim assim? Eu estaria agradecendo
a todas os deuses.
rosto inteiro. Eu queria rir dela, mas estava cansado demais até mesmo pra
isso.
— Ok. Suponhamos que minha vida seja os seus poros e que eles estejam
realmente lotados de impurezas –
sempre estiveram –, mas então tem essa espinha gigante no meio da testa
que surgiu do nada. Qual seria a melhor máscara para limpar tudo? E
eliminar a espinha nojenta.
Uma espinha alta, de pernas longas e uma boca gostosa que eu nunca nem
vi de perto, mas que parece ser tão–
— Você acabou de comparar Harry Styles com uma espinha no meio da sua
testa? Pus e tudo?
maravilhosa, sim? – fingindo ser hétero, por que ele iria me querer? Fala
sério. Eu não consigo nem comer nada sem sujar a boca inteira.
— Não viaja.
— Estou te ignorando.
— Qual?
— Lydia, uma garota do grupo de idiotas que cheiram cocaína, disse que o
viu em um posto de gasolina esses dias comprando um maço de cigarros e
Red Bull, acho.
Ela falou que Harry estava acabado, nada parecido com o capitão do time
de sempre.
Zayn tinha saído para comprar nachos com Liam, então fui sozinho até meu
armário para guardar os livros que estavam
começando
pesar
na
mochila
e,
— Não, você foi ótimo. E ainda tem uns pontos extras por ter feito tudo
sozinho. Pensei que você estivesse fazendo com Harry?
Olhei para ele e me surpreendi quando realizei que nunca havia o visto na
classe nem em lugar nenhum no Wye Hill.
— Eu sou Lo–
Chace ergueu as mãos, rindo baixo, fazendo-me notar que havia sido rude e
usado um tom defensivo.
— Eu sou amigo de Liam e ele não para de falar do garoto... Acho que
Zayn? De qualquer forma, já estou enjoado de ouvir sobre ele e sobre como
ele é perfeito. E
como uma coisa leva à outra, descobri que você é melhor amigo de Zayn.
Assenti, digerindo todas as informações. Fiz uma nota mental para contar a
Zayn que Liam não parava de falar dele como qualquer outro lovebird
caindo nas garras da vadia da paixão. Com um meio sorriso, me virei e
comecei a andar novamente, perguntando-me o porquê de esse garoto estar
falando comigo.
Não era como se eu não quisesse ou não estivesse precisando beijar alguém,
até porque já fazia um bom tempo desde que minha língua tinha lambido
alguma coisa
A lenda diz que pessoas como você não devem se relacionar ou almoçar
com pessoas como eu, e ela está certa. Desculpa.
Quando saí andando em direção ao pátio externo, ele não me seguiu. Pensei
no meu conselho e cheguei à conclusão de que estava completamente certo.
Eram dois mundos diferentes em todos os níveis.
Dei uma olhada rápida em direção às escadas, esperando que Lottie não
resolvesse sair do quarto agora, e desbloqueei a tela, abrindo o aplicativo do
Facebook que já não era usado há muito tempo. Foi necessário uma
inspiração lenta e mais duas batidas leves de cabeça no mármore gelado
para que eu pesquisasse Harry Styles, clicando no primeiro perfil que
apareceu.
A foto de perfil me deu enjoo, comecemos por aí. Ele e Julie e o fundo...
Paris?!
Ela estava em frente a ele com um sorriso amplo, as mãos grandes de Harry
estavam na barriga dela e não havia sorriso nenhum nos lábios dele a não
ser um pequeno repuxar para cima no canto esquerdo, mas mesmo assim.
Algumas fotos não estavam bloqueadas e achei mais e mais postagens dele
com ela, imagens dos dois em diferentes lugares do mundo e uma em que
estavam se beijando.
Fala sério.
Segurei a capa dura contra o peito e levei alguns segundos a mais que o
necessário para me levantar novamente, ajeitando a franja. Foi só aí que
descobri que a paixonite à la Nicholas Spark não tinha morrido. De fato,
estava bem viva... Muito mais do que os olhos de Styles.
Tentei sorrir como qualquer pessoa normal faria, porém meus dentes eram
tortinhos e rugas apareciam ao lado dos meus olhos quando meus lábios
repuxavam para cima e talvez tenha sido por isso que não fui
correspondido. De braços cruzados, ele tornou a abaixar a cabeça e puxou
as mangas do moletom para baixo, cobrindo os dedos e se concentrando no
livro posto em sua frente na mesa.
— Tomlinson, não está pensando em roubar esse livro, está? Dê-me aqui
para eu registrar.
Por isso, convenci a mim mesmo de que somente estava fazendo uma boa
ação por um colega de classe e dei passos lentos em direção à mesa em que
ele estava. Meu cérebro insistia em repetir que minhas pernas estavam
moles e que eu não conseguiria concluir o trajeto com total êxito, mas eu
sempre fui bem burro. Minhas pernas gelatinosas e meus dois pés esquerdos
inúteis cumpriram suas principais funções de me envergonhar e me fizeram
tropeçar assim que estava tão, tão próximo de Harry. So close, yet so far, já
cantava Hoostabank.
Meu queixo estava doendo e ou ele estava aberto e espirrando sangue como
uma mangueirinha ou eu tinha me quebrado de vez. Imerso demais na
vergonha, olhei, primeiramente, para os tênis literalmente em frente aos
meus olhos. All Star? Harry Styles usando All Star?
Não! Me deixe aqui para morrer e finja que nunca me viu na vida!
lábio
inferior
imperceptivelmente
Então, respondi.
— Oi.
— Uhum.
por Harry, que estava pedindo algo para a Sra. Blanc, e saí da biblioteca
sem ser notado.
— Eu não tenho nada a ver com a sua vida. — disse após retirar sua mão de
mim e pressionar o papel sozinho, dando um passo atrás. — Vou à
enfermaria. Obrigado por isso.
— Isso não vai dar certo! — Harry protestava enquanto eu o puxava pelo
corredor, tentando ignorar seus grunhidos baixos a todo instante. A questão
era que ele não queria me soltar, tendo em vista que era bem mais alto e
poderia me amassar no chão com os dedos. — Louis! Tomlinson, para!
senhor-olha-meus-músculos-e-minhas-pernas-nessas-calças-apertadas?
— Bem, Sr. Tomlinson, creio que você deva se sentar agora. Eu cuido disso.
Não me atrevi a olhar para Harry. Bufei, fazendo um esforço gigante para
parecer estressado, e fui até meu lugar, sentando-me largado na cadeira.
Quase todos os alunos estavam balbuciando algo tipo "isso aí, Styles!",
"Styles é foda" ou até mesmo "quero ser igual a você quando crescer!".
Chace Crawford, o mesmo garoto que veio falar comigo há alguns dias,
soltou uma risadinha sarcástica e gritou que a festa devia ter sido realmente
boa a julgar pela " sua aparência de merda". Meu sangue ferveu no mesmo
instante com a raiva inexplicável que se apossou de mim.
— Você é a tentação dele, ele gosta de pau, vocês transam. Fim. — Lottie
concluiu com um sorriso de lábios fechados e bochechas estufadas com
bolinhos de maçã e canela. — Olha aí, você até caiu por ele. E agora tá com
o queixo arrombado.
— Não sei o que ele quis dizer. Tem a ver com aquele lance de morrer
jovem? Live fast, die young. Ele é a Lana Del Rey com um pau se eu
acrescentar um be wild and have fun.
Roubei um bolinho de Lottie e lambi inteirinho para que ela nem Zayn
tentassem roubar de mim. Somente quando estava repleto de baba que
comecei a morder.
Mas Zayn não respondeu porque tanto seu olhar quanto o de Lottie estava
fixo nas portas de saída da escola. Harry parou ali, tirou um cigarro do
bolso e acendeu ao fazer uma pequena cobertura com as mãos. Deu um
pequeno trago e fechou os olhos ao soltar a fumaça no ar gelado e denso
que nos envolvia, continuando a revirar os bolsos dos jeans à procura de
alguma coisa.
Se ele nos viu, e é óbvio que o fez porque nós éramos os únicos em um
pátio gigante, não demonstrou. Desligou o alarme do carro, jogou a mochila
nos bancos de trás e entrou.
Encolhi os ombros como resposta e ela riu, dando o último bolinho a Zayn.
— Oh, merda! Deixei meu livro na sala. Já volto.
Ela desceu do muro baixo onde estava sentada e saiu correndo em direção
às portas da escola, tropeçando na entrada e quase derrubando todas as latas
de lixo ali perto.
— Está. — concordei.
Por essa razão, eu estava tentando enfiar o que Liam disse na cabeça. Ele
me magoaria? Me magoaria de que forma? Harry não parecia o tipo de
pessoa que sabia usar as palavras ou os punhos para ferir alguém, embora
sua estrutura e a posição imponente no time da escola desse a entender que,
sim, meu Deus ele é assustador e vai ferir meu coração e me deixará
sangrando. Além disso, não era como se tivéssemos estabelecido qualquer
tipo de relação... Íntima o suficiente para permitir tal coisa.
Fala sério.
À noite, como era a folga de Jay, Lottie e eu fizemos o jantar para ela, o que
consistia em macarrão com brócolis e molho de alguma coisa com queijo
parmesão. Assisti a um episódio reprisado de Breaking Bad com elas antes
de pegar a mochila, as chaves do Volvo e ir à biblioteca municipal para ver
se eu conseguia algum livro ou artigo
acesas. Não pude ver quem era, mas o símbolo da Audi estampado na frente
me deu todas as respostas de que precisava.
Merda...
— Você vai entrar ou o quê? — Harry perguntou alto por cima do barulho
da chuva, um tom rude atenuando sua voz.
— Por quê?
cachos emoldurando o rosto pálido. Dessa vez, era como se eu pudesse vê-
lo através da pele, enxergar todo o cansaço contido sob sua superfície. —
Por favor, Tomlinson. Eu te trago aqui para pegar seu carro depois.
Fechei a porta e ele apertou um botão que subiu a janela do meu lado,
isolando-nos do barulho de fora. O interior estava tomado por um perfume
suave, mas ainda sim marcante, embora houvesse uma fina camada de
tabaco pairando sobre nossas cabeças e congestionando meu nariz.
sozinhos em um espaço menor com tão pouca distância entre nós, seu lado
tímido havia retornado. Quase não consegui conter o sorriso. — Tudo bem?
Assenti com a cabeça e ele pegou no volante com as duas mãos, saindo da
frente da biblioteca. Senti o frio na barriga que parecia estar ali havia um
bom tempo retornar a seu lugar, formando nós na minha garganta e na base
do meu estômago.
— O que você quer falar? — Perguntei, colocando as mãos entre as coxas
para esquentá-las. Percebendo o gesto, Harry se apressou e estendeu a mão
para aumentar o aquecedor dos bancos e ligar o ar quente. O ar congelante
foi substituído por um menos tenso e mais...
Balançou a cabeça.
Respostas evasivas. Que ótimo. Que vida ótima. Que noite ótima.
"He needs no army where he's headed 'cause he knows that they're just
ghosts" antes de ser respondido.
— Harry.
Tentei explicar algumas vezes que já tinha jantado, mas Harry me ignorou
solenemente e pediu hambúrgueres, sorvetes com calda de chocolate e,
claro, batata-frita extra.
por longos e longos minutos até que parasse. Olhei para os lados, tentando
enxergar através das janelas embaçadas,
percebi
que
estávamos
em
um
Ele pegou um dos sacos de papel do meu colo e o abriu, sorrindo de forma
quase dolorosa antes de tirar um hambúrguer.
— Por quê?
Ou muito fofo.
— Você deve deixar a língua dentro da boca quando for morder. Assim,
olha...
— Está tudo bem, Harry. — interrompi sua frase, virando-me para ele no
banco com um pé embaixo da coxa no banco e o outro no assoalho. — Você
deve ter tido um motivo. Né?
— É, tive.
com uma tentativa de sorriso gentil. Já não estava mais pensando no que
Liam disse. — Aceita batata, Michelangelo?
— Michelangelo?
— Era minha tartaruga ninja preferida quando eu tinha uns... Nove anos,
acho. E você meio que come igual a uma.
Como
ele,
por
completo,
estava
me
tomando
gradativamente. Mesmo que ele tivesse uma namorada, que Liam tivesse
me dito para permanecer longe e que eu estivesse com um band-aid do
Homem-Aranha no queixo por causa dele.
Talvez tenha sido isso que o fez tão atraente para mim a ponto de ser quase
impossível. Nenhuma atração surge tão repentinamente se não houver
algum motivo por trás disso; se não houver algo que ninguém pode ver,
nem mesmo eu.
Bonito, alto, rico e com um histórico perfeito demais. Eu também achei que
ele fosse inteiro, sem nenhum pedaço faltando ou remendado. Sob as luzes
fortes, os cortes e partes podres refletem um sorriso incrível, porém, irreal.
— Não diga que sente muito, por favor. Eu não quero mais ouvir isso. Não
quero mais... Não quero mais ficar... Aqui.
Respirou, respirou, respirou. Sua voz tremulou para iniciar, mas assim que
o fez, eu senti meu peito comprimindo tanto que, com toda a certeza, estava
causando uma hemorragia interna.
Apertei meus dedos uns nos outros para aplacar a vontade de entrelaçá-los
aos seus, trêmulos e aparentemente gelados.
Yeah, estou. Ele foi para Nova York morar na Quinta Avenida e gastar a
porra da conta bancária com a recém assumida namorada de vinte e dois
anos. Me contou que, quando descobriu que mamãe estava em fase
terminal, não podia aguentar. Ele não podia aguentar! Como é que minha
mãe se sentia, então?!
Sem saber ao certo o que fazer e sentindo minha garganta apertar como se
uma mão estivesse em volta do meu pescoço, eu ergui a mão e a coloquei
no seu braço, já esperando que ele me afastasse ou gritasse. Não o fez. Ao
invés disso, se encolheu contra o toque, aceitando-o e, implicitamente,
pedindo por mais.
Era
um
porto-seguro
para
ambos,
Ele é um lixo.
Não parei de passar os dedos pelos seus cabelos por um segundo qualquer
quando ele fez uma pequena pausa. Eu não podia falar nada porque não
queria que ele soubesse que eu também estava chorando, lágrimas grossas e
pesadas escorrendo pelo meu rosto e deixando uma trilha ardida nas
bochechas.
— Desmond não esperou até que ela estivesse enterrada para ir embora. Ele
simplesmente foi... Me disse
York com a amante. Ou namorada, eu n-não sei. Eu olho para aquele lugar
vazio e não consigo evitar o pensamento de que quem está vazio, na
verdade, sou eu.
— Você não é vazio, Harry. Se as pessoas em volta de você são, isso não
significa que você também seja. Tenho certeza de que sua mãe te amou até
o último segundo.
Harry não deve ter escutado porque não disse uma única palavra após isso.
Ou quis me ignorar – era algo esperto de se fazer. Afastou-se,
desconectando cada centímetro do seu corpo do meu. Era como se eu
estivesse vendo-o se isolar, enrolando os braços em volta do próprio torso e
virando o rosto para a janela, onde sua respiração cobriu a superfície do
vidro com um embaçamento quase imperceptível. Retornei ao meu lugar no
banco e abaixei a cabeça, repentinamente envergonhado.
De repente, minha cabeça era inútil demais para raciocinar o que acabara de
acontecer. Tudo parecia pequeno demais para suportar o peso da vida de
Harry Styles, mesmo que fosse um pensamento amargo e egoísta, e
nenhuma palavra parecia exatamente apropriada. Eu me sentia ainda menor,
enrolado no meu próprio silêncio e
agarrando a barra da minha jaqueta tão forte quanto estava agarrado aos
meus pensamentos.
Desculpa.
cheiro abandonado para trás, de gordura e carne, fez meu estômago retorcer
de enjoo.
Parar foi um alívio, e pôr os pés no chão, também. Ainda estava um pouco
tonto quando Harry alcançou minha mochila e me entregou, mantendo os
olhos fixos nos meus dedos em volta da alça; talvez porque preferisse
manter a atenção em um objeto inanimado a me encarar e, ver em mim,
milhares de sentimentos e reações contidas em uma só expressão.
Talvez porque, mesmo sem falar, cada pequena ação minha representava
um "sinto muito". Por seu pai ser um covarde inútil, por ele não ter mais
ninguém para desabafar a ponto de me escolher, pela sua mãe... Por ele.
perguntei somente para ter certeza quando fechei a porta do Audi, apoiando
a mão no vidro erguido minimamente.
Semanas? — Com isso, alguma reação atravessou seu rosto tão rápido
quanto o farol de um carro aleatório na direção contrária. Mas então, foi
embora, e ele voltou a tapar suas expressões. — Não importa. Eu só...
Batatas engorduradas melhoram muitas coisas, mas conversar é ainda mais
eficiente.
segundo da noite e infinitamente mais bonito, mesmo que fosse meio sem
noção classificar os sorrisos de alguém como Harry Styles; todos eles eram
magníficos. Porém, era mais bonito porque eu sabia o que ele tava contendo
dentro de si. Toda a explosão, o impacto. O lado escuro que ainda não tinha
encontrado o claro para poder se opor.
Chorei no caminho mínimo até o carro e durante todo o trajeto até em casa.
Lottie não se importou quando eu deslizei para debaixo do seu cobertor e
solucei abafado contra o travesseiro até que o sol subisse e a escuridão lá
fora fosse substituída por mais um dia cinza, por mais nuvens pesadas e
densas. Não me importei que os arrepios no meu corpo não tivessem algo a
ver com o frio e sim com as inúmeras perguntas que rondavam minha
cabeça.
Mesmo que já tivesse visto tudo aquilo na primeira vez, agora eu tinha mais
tempo para parar e admirar.
Ri sem humor algum enquanto mastigava o twizzler. Não, claro que não.
era ridículo, algo que Mick Jagger usaria na juventude – e uma parte do seu
peito expunha-se devido à camisa azul suave com os dois primeiros botões
abertos.
— É.
Ele se moveu um pouco para o lado, como se dissesse para eu me sentar ali,
mesmo que a beira da piscina fosse gigante. Olhei em volta, ansioso, mas
tudo o que vi foi uma vastidão verde e árvores. Me sentei, tomando todo o
cuidado para não encostar qualquer parte do corpo nele; não parecia que
Harry queria ser tocado, ao contrário daquela noite. Meus pés alcançavam
bem menos do que os seus e minhas meias de pequenos alienígenas eram
infantis perto das suas botas.
Então, todo mundo sabia que Liam era gay menos os próprios pais.
Imaginei que eles não quisessem ver.
— Depende.
Desviei o olhar dos anéis que estavam de volta nos seus dedos longos e me
concentrei na copa de uma árvore perfeitamente podada.
— Pede para sua namorada. — Não saiu como um tom ciumento, apenas...
Esgotado e impaciente.
— Comecei há umas três semanas. Me ajuda a... Sei lá, relaxar. Você tem
um estoque de meias de estampas coloridas e estranhas?
— Que coisa?
A grama ainda era bem cortada, mas parecia que aquela parte em particular
da propriedade havia sido esquecida se levasse em conta os roseirais altos
demais para serem podados periodicamente ou alguns galhos de árvores
perigosamente baixo para uma pessoa como eu, que tinha o desastre como
uma parte do DNA.
— Ai, meu Deus. — Sem pensar muito, agarrei a parte de trás da sua
camisa e – quase – colei ao seu corpo, olhando para os lados e para cima,
onde o cinza do céu só podia ser visto entre os vãos dos galhos mais altos.
—
— Harry?
— Não faz mais isso, idiota! Achei que você fosse reencenar Sexta-Feira 13
ou A Morte do Demônio, não sei.
Harry riu alto e colocou o cigarro no canto da boca, puxando-me para ficar
em sua frente. Deu um pequeno toque na base da minha coluna para
sinalizar que eu deveria continuar andando.
Não que eu fosse babaca para achar que garotos não podiam elogiar uns aos
outros sem que tivesse algo a mais em vista, mas... Qual era o significado
de hétero, mesmo?
Eu poderia jurar que tinha ouvido um "fofo" sussurrado sob sua respiração,
mas não podia saber ao certo porque a cada passo que dávamos, as folhas
secas estalavam sob nossos pés, somente fazendo para me deixar mais
apreensivo. Nós dois continuamos a andar até que eu parei bruscamente ao
ver o espaço aberto que havia se revelado bem em frente aos meus olhos.
— Acho que, até agora, eu nunca tinha visto uma dessas na vida real. —
confessei, querendo mais que tudo ir até lá, mas temi que fosse soar muito
infantil se dissesse em voz alta. — É do Liam?
minúsculos
tornando
momento
quase
cinematográfico.
Eu não era estúpido ou sonso o suficiente para achar que aquilo era
resultado de alguma noite com Julie, porém,
Uma risada baixa me tirou dos meus pesadelos envolvendo várias cenas
horripilantes e eu percebi que Harry estava balançando a cabeça
negativamente, divertido.
— Eu?! Claro que não. Nunca. Como você pode pensar isso de mim?
— Obrigado, Sr. Styles. — Fingi jogar o cabelo por cima dos ombros,
arrancando-o um olhar afetuoso, e subi o primeiro degrau, um pouco
incomodado com a forma que minha calça era justa nas coxas.
Pedir para Charlotte comprar roupa para mim era um erro imperdoável. Na
última vez que eu o fiz, ela apareceu com jeggings; calças tão apertadas e
coladas que mais pareciam ser leggings, iguais àquelas que ela usava. Eu
cobria minha bunda com as camisetas compridas, mas em alguns
momentos, ainda parecia que ela ficava maior do que já era naquela calça.
Como, por exemplo, enquanto eu subia a escada.
— Não me lembrava de que essas escadas eram tão pequenas para os meus
pés. — Harry surgiu na entrada e me fez desviar o olhar para ele, que
começou a ficar de pé. — E eu–
Um baque foi ouvido e só então eu percebi que ele tinha batido a cabeça no
teto com força. Tentei não rir, mas foi impossível quando seu chapéu caiu
no chão e sua mão foi direto para o topo dos cabelos, sua expressão
contorcida em dor ao se sentar em minha frente.
Isso é injusto.
Eu iria tocar nos cabelos de Harry Styles pela segunda vez. A vida era boa.
Silêncio.
Harry se inclinou à frente mais uma vez, deixando nossos rostos no mesmo
nível a poucos centímetros de distância.
Sua boca estava molhada por causa da sua língua contornando o lábio
inferior todo instante e foi uma ação de reflexo também passar a língua pelo
meu.
respiração
me
alcançou
e,
em
compensação, a
minha falhou. — Eles são incríveis. Não é um azul simples, é o mesmo azul
das baías em Bali. Do céu em Veneza quando o tempo está quente. É algo
único.
Eu deveria me sentir mal por estarmos tão próximos, já que Julie e ele eram
algo e o relacionamento deles significava bastante por causa do longo
período juntos, mas... Não consegui me importar. Era errado, era muito
errado, mas me forcei a não me importar. Não ali e não quando eu estava
me sentindo especial desde muito tempo.
Uma linha pequena surgiu entre suas sobrancelhas, mas logo foi substituída
por um sorriso tenso. Endireitou a postura, recolocando a mesma distância
entre nós de antes.
Com oito anos, Liam e eu costumávamos vir aqui para brincar nos dias em
que minha mãe e Karen ofereciam almoços para a alta sociedade de
Londres. Era ridículo. —
Trazia paz o suficiente para eu não ter que ficar me lembrando a cada
segundo que aquilo ali era improvável.
ser mais um em meio aos idiotas vestindo as jerseys como uma armadura.
A película superficial e tão frágil quanto seus lábios nos envolvendo foi
rompida bruscamente.
— Louis?! Harry?!
Tão próximo que eu ainda fiquei parado no lugar por bons segundos após
ele sussurrar um palavrão e descer pela escada, deixando-me sozinho com
um coração acelerado, mãos suadas e o raciocínio jogado pelo chão.
Chapter Seven
Foi preciso alguns minutos para que eu pudesse me recompor, obrigando
minhas mãos a pararem de tremer.
Não tinha ideia do que havia acontecido ali, mas eu soube que as coisas não
seriam as mesmas. Agora, eu sabia como a sua pele cheirava de perto, como
as suas pálpebras abaixavam lentamente e como a sua boca ficava de uma
cor única quando amaciada muito tempo por sua língua. Agora, eu sabia
que Harry quis me beijar por uma fração de segundos, talvez movido por
um ímpeto irracional. Eu não poderia dizer ao certo porque minha mente
estava enevoada, preenchida em todos os cantos por ele e mais nada. Havia
uma ponta de culpa tornando essa sensação amarga nas bordas, mas de
resto, era tão doce quanto o gosto dos Twizzlers ainda recente na minha
língua.
dele parado, encostado a uma árvore com outro cigarro entre os dedos não
fez nada para ajudar. Pelo contrário, somente piorou.
Abaixei o rosto para rir enquanto retornávamos pelo mesmo caminho que
tínhamos vindo. Lado a lado, cercados pelo cheiro de tabaco e tão rígidos
quanto a pele de Edward Cullen.
— Que bom que o maior deles está comigo, então. Sem risco de ter meu
coração arrancado e dilacerado.
Harry sorriu de lado ao me olhar, uma única covinha aparecendo.
— Quem disse?
Eu não queria ter a impressão de que mijaria nas calças de novo, então
preferi não responder. No meio do caminho, seu cigarro acabou e ele jogou
a bituca dentro do maço, esfregando as mãos nos jeans. Parecia uma mania
que só aparecia após terminar de fumar. Suspeitei que fosse por causa do
cheiro ruim na ponta dos seus dedos.
— Mantive os olhos à frente, nas árvores e até mesmo nos meus pés. Em
tudo menos nele. — Está tudo bem. Eu sei
que seria ruim se as pessoas soubessem que você já conversou comigo. Que
conversa comigo.
O "e que seu toque é suave quando se trata de mim" estava nas entrelinhas,
coberto pela sombra das árvores escondendo a expressão óbvia nos meus
traços.
— Do que você está falando? — sua mão repousou sobre meu ombro,
obrigando-me a parar e virar para ele. Com muita coragem, encarei-o de
frente, tentando não me sentir intimidado pela forma que precisava erguer a
cabeça minimamente. — Eu não tenho vergonha. Por que teria?
— Harry–
— Sem essa de "Harry". É sério... Você nunca percebeu que eles te encaram
ou que falam sobre você? Nunca?
— É impossível. E eu não estou pescando elogio, é só que as coisas são
como são.
— Louis. — Seu tom urgente guardava algo que eu tentei decifrar através
do verde opaco nos seus olhos. Senti vontade de vê-los vivos, brilhantes,
não mórbidos. — Eu quis– quero te beijar. Você tem aquilo que passa a
impressão de ser inalcançável, bom demais para qualquer pessoa, e eu só...
Acho que você nem percebe que faz
isso. Eu não deveria perceber que você faz isso e nem deveria gostar tanto.
— Não foi bem assim. Talvez Harry quisesse... Sei lá, contar meus cílios.
Ou as pintinhas nas minhas bochechas. Quem sabe?
Malik surgiu ao lado dela com os olhos fixos nos sapatos e os dedos
brincando compulsivamente com a barra do paletó, piscando de forma
lenta. Não interferiu na conversa e Charlotte o cutucou com o graveto como
se ele fosse um inseto grudado na janela do carro.
— Tá vivo, garoto?
— Tô.
— Você se esqueceu de Julie? Não era você que dizia que eles eram fofos,
blah, blah, blah?
— Não.
demorou algum tempo pra eu perceber que seu peito subia e descia
rapidamente.
Porém, antes que eu pudesse questionar o que estava acontecendo, ele disse:
— O que é rimming?
Meu pulmão quase saiu voando da minha boca quando comecei a tossir, o
peito comprimindo e o ar desvanecendo. Apoiei as mãos na borda da mesa
e, em questão de um segundo, Zayn colocou-se ao meu lado e pegou minha
garrafinha de água deixada de lado. Me forçou a tomar longos goles,
esfregando o espaço entre meus ombros com a palma da mão sobre a
camisa.
Assisti seu olhar flutuar de mim para Liam como se fosse algo impensado,
uma ação impulsionada pelas suas próprias células detectando a presença de
Payne ou o calor de uma lembrança. Era incrível vê-lo gostando de alguém
cada vez mais.
— Ontem, enquanto você sumia floresta adentro com Harry – que brotou –,
Liam e eu meio que... Meio que descobrimos que eu posso... P-posso... —
Cobriu o rosto com as mãos, soltando um som frustrado adorável. —
Só que eu não sei o que é e... É bom? Digo, eu ainda sou virgem,
não
quero
perder agora.
Vai lá, Tomlinson. Faça isso pelo seu amigo, seja o Buda do Sexo, o Guru
sexólogo, não tenha vergonha. Um, dois e...
Zayn empalideceu.
— Lamber minha... Ai, meu Deus! O que é isso? Não, não, não... Eu não
posso, eu não sei, ele– Ai, droga, droga. Não é nojento? Deveria ser, não
deveria? Louis!
— Não acho que seja nojento. — Encolhi os ombros ao afastar uma parte
de seus cabelos que havia caído sobre a têmpora esquerda. — Se você gosta
dele e sente atração por ele e o sentimento é mútuo e a relação e o gosto são
consensuais, por que não? Só se você se sentir à vontade.
Está aí algo que as pessoas deveriam saber. A palavra consensual atiçou
amargo
das
minhas
Fui em direção à minha sala, mas não sem antes levar um tapa forte no
ombro.
O campo de futebol era cercado por uma densa floresta de árvores altas e
amplas. O cheiro era de natureza, de grama molhada, e o ar puro
compensou o fato de o lugar estar parcialmente vazio exceto pelos
jogadores, o treinador
algumas
cheerleaders
treinando.
Em
comparação com os dias dos jogos, aquilo ali estava parecendo Chernobyl.
Eu podia escutar meus pés afundando no gramado úmido pela chuva rala
enquanto andava ao lado de Zayn segurando uma sacola do Taco Bell, mas
Malik nem parecia se dar conta de que seu All Star branco agora estava
marrom e salpicado de barro. Limpei o molho do canto dos lábios mais uma
vez, contraindo a certeza de que não adiantava mais fazê-lo, e dei outra
mordida no taco, quase gemendo com o gosto enquanto rondávamos a
arquibancada, chegando à base dela.
Era uma tarefa difícil, mas eu fiz questão de passar todas as coisas que
estava segurando para uma única mão somente para mostrar o dedo do meio
para Malik, que riu alto. Liam, que estava no centro do campo segurando o
capacete embaixo do braço, limpou o suor da testa com o antebraço e olhou
para Malik. Os dois partilharam um
Não estavam falando alto, mas percebi que ela estava chorando e percebi
que se esforçava para não gritar enquanto dizia que não era justo. "Não é
justo e você é um egoísta do caralho, Styles!". Ele não disse nada, mas
também não a encarou.
pessoas para ter uma noção básica do quanto teria que correr caso
resolvessem defender a amiga e vir para cima de mim.
Não foi antes de vinte minutos que Harry surgiu, correndo até o centro do
campo de capacete já encaixado na cabeça e as mãos cerradas ao lado do
quadril. Julie só saiu da área embaixo da arquibancada segundos depois.
Embora sua cabeça estivesse baixa e algumas mechas de cabelo ruivo
estivessem caindo sobre suas têmporas, pude ver que ainda estava chorando
enquanto retornava para as outras cheerleaders. Foi inevitável me sentir
mal.
— Essa porra não vai parar?! — Ouvi Payne gritar, mantendo uma mão
espalmada contra o peito de Harry e a
Suspeitei que Liam seria um bom capitão do time caso houvesse uma nova
votação. Harry nem ao menos queria estar ali, baseado nos seus
movimentos restritos ao colocar o capacete e as luvas e nos ombros rígidos
mesmo com as ombreiras tornando-os mais altos e construídos. Ele era
forte, e eu não estava falando dos seus bíceps marcados embaixo das
mangas esticadas ou do seu peito estendido contra o tecido. Eu estava
falando do fato de ele estar ali, jogando e indo para cima quando eu sabia,
de alguma forma, que seu interior estava atormentado.
— Tomlinson?!
— O que você está fazendo aqui? — ele perguntou, seu sorriso não
vacilando por um único segundo. Senti um pouco de inveja.
Sua pergunta foi respondida quando Liam pulou o muro, subiu pela
arquibancada e nos alcançou, parando em frente a Zayn para deixar um
beijo na testa dele, que não se importou com o barro impregnado na camisa
do Monstro-De-Músculos.
lábios.
conversarmos? Rapidinho.
— Crawford, eu–
— Eu sei o que você me disse aquele dia, sobre não misturar as coisas, mas
eu só quero conversar. Pode ser?
— Não... Não, ok? Desculpa. — segurei a beirada do muro até que minha
mão começasse a doer. — Eu consigo descer.
Chace piscou, atônito, mas assentiu. Exigindo muito esforço, consegui fazer
com que meus pés tocassem a grama do campo. Parei em frente a ele e
entrelacei as mãos atrás das costas, sinalizando com um movimento de
cabeça para que Crawford pudesse prosseguir.
— Você quer ir amanhã? Antes que você possa falar algo, essa semana vai
ser na casa do Liam. O Zack, seu amigo, estará lá e terá pizza. Que tal?
— Eu também era assim, então não o julgo. — Alguém chamou seu nome a
distância, apontando de forma irritada para os vestiários em gestos
exagerados. — Acho que preciso ir, devo estar fedendo. Nos vemos
amanhã, Tomlinson?
— O que querem?
Eu já tô–
O All Star ainda continuava nos seus pés, mas ele estava parecendo um
Deus. Como sempre.
Malik ganhou um copo com canudo, que seria extremamente infantil não
fosse os olhos quase famintos de Liam nos lábios dele em volta do plástico,
e eu peguei uma lata de refrigerante. Atravessamos o corredor e paramos à
entrada da sala. Todos se viraram para nós.
Não era literalmente uma festa. A música que estava tocando havia sido
substituída pelo volume do filme e as únicas bebidas alcoólicas eram fracas
demais para deixar alguém bêbado o suficiente para tirar a roupa e pular no
lago artificial localizado na entrada da mansão. Harry também estava lá.
Sentado em uma poltrona integrante da decoração em tons de vermelho e
poucos detalhes em creme, com Julie no colo e a cabeça dela repousada no
seu ombro. Suas mãos, apesar disso, não estavam em nenhuma parte dela.
De um segundo para o outro, Chace estava sentado ao meu lado com uma
long neck Stella Artois entre os dedos e vestido com uma camisa engomada
e perfeitamente abotoada. Ele cheirava bem, algo como loção de barba e
hidratante.
Ele riu e tomou cuidado para não me tocar da forma errada ao levar a
garrafa até a boca, tomando um longo gole.
Eu não estava acostumado com elogios, nunca estive. Não era como se eu
conseguisse acreditar neles... Pareciam falsos e ditos com uma intenção
superficial.
Pelo canto dos olhos, vi o segundo em que Julie colocou um nacho puro na
boca de Harry e riu baixo quando ele a olhou com uma careta, os lábios
pressionados. Os dois se abraçaram, deixando espaço para ela sussurrar
algo no seu ouvido.
— Você está certo! — demos um high five que quase o fez desequilibrar a
cerveja. — Tento colocar isso na cabeça das pessoas, mas é complicado.
Aliás, balé é algo lindo.
Dei risada, com os olhos arregalados. Pés eram zonas seguras, mas... Era
algo estranho.
— O quê?
— Seu pé. Posso ver?
Olhou meu pé por longos segundos, parecendo que podia ver através do
Vans.
Abri a porta e, antes que pudesse voltar à sala, percebi que tinha um papel
embaixo do meu pé direito, grudado ali como um papel higiênico. Apanhei
do chão, esperando que não fosse uma pegadinha ou piada, e li.
Michelangelo
entrelaçou nossos dedos, guiando-me até lá. Não quebrei o contato durante
o caminho feito em silêncio.
Styles me fez subir primeiro e subiu logo atrás; não bateu a cabeça, já que
se sentou no mesmo instante em minha frente. A lua o iluminou, seus olhos
nítidos enquanto o restante estava imerso na escuridão ou desfocado.
— Porque eu sou uma zona proibida, Harry. E você também. Você namora,
não deveríamos estar aqui e isso não é certo.
— Não, não. Você não entende. Julie não é– Olha só, isso é difícil de
explicar. Eu não estou traindo ela... Eu nunca trairia alguém. — A
informação caiu sobre mim como um jato de água morna. Eu não sabia
como me sentir em relação àquilo ou como decifrar a frase, já que tinha
certeza de que Harry não me explicaria. Ele era assim. —
— Vampiros não existem, Louis. As piores coisas que podem acontecer são
reais e estão bem em nossa frente.
— Harry.
— Louis. — disse meu nome baixo, sussurrado. Cada sílaba era demorada e
profunda. — Se você quiser, vem aqui. Mais perto. Não consigo mais
aguentar.
Eu quero...
— Posso te tocar?
Assenti. Ele o fez. Porém, não com os dedos, e sim com a boca.
Inclinou-se e me encarou. Ali, eu podia ver apenas traços do seu rosto bem
estruturado, os cílios tremulando devagar e tudo extremamente delineado e
lindo, iluminado de forma parcial pela luz da lua que parecia estar
concentrada inteiramente na pequena janela ao nosso lado.
Ele seguiu mais abaixo, para o pescoço. Sua língua surgiu nos próximos
beijos, molhada e quente, lambendo pequenos espaços e queimando a área
sensível com resquícios de saliva. Os movimentos eram tão lentos que eu
pude antecipar mentalmente o exato segundo em que ele segurou meu
queixo com um pouco mais de firmeza para avançar até minha garganta.
Seus dentes rasparam com cuidado, arranhando e me fazendo ofegar tão
pesado que meus olhos arregalaram. Subitamente, meu corpo inteiro
estremeceu.
Segurei seu pulso com força e engoli em seco, apertando seu joelho com a
outra mão. Sua reação foi instantânea.
Subiu os beijos até parar com eles no meu queixo, nivelando nossos olhos,
que se perderam um no outro sem a noção de mais nada em volta daquele
lugar. Plantou um no canto da minha boca e, assim que seus olhos se
fecharam, eu fechei os meus também.
Seus lábios se abriram nos meus ao mesmo tempo em que ele segurou
minha cintura. Por uma batida de segundo, apenas chupou o meu lábio
inferior, passando a língua por ali diversas vezes até que eu me
impulsionasse
aos
meus
pequenos
incentivos,
suspiros. Ele suspirava a cada vez que mais partes de nossos corpos
encostavam.
Só percebi que seu celular estava tocando quando separou nossas bocas.
Voltei o olhar para o meu colo, recolhendo o pouco de saliva na minha boca
com a língua. O fato de eu ainda poder sentir seu gosto me afetou mais do
que deveria. Era meu primeiro beijo em muito tempo, mas sabia que toda a
espera tinha valido a pena.
Parecia com medo da minha reação assim como eu estava com medo da
sua. Éramos dois idiotas.
— Então... — começou.
— Yeah.
lo, o que acabou incentivando-o a fazer o mesmo. Nós dois rimos baixo
com os olhos fechados e os lábios juntos, querendo nunca mais separá-los.
Tivemos que voltar minutos depois. Harry me colocou em sua frente por
todo o caminho, mas nossas mãos entrelaçadas estavam em frente à minha
barriga, onde estava acomodada uma sensação estranha. Eu sabia que não
deveria tê-lo beijado, mesmo que ele tivesse dito que não estava traindo
Julie – como isso era possível? E sabia que eu já estava mergulhado demais
em tudo aquilo para retornar à superfície.
Julie foi a primeira a perceber e ouvir o ruído que um copo de vidro fez
quando dei um passo falso para o lado e esbarrei a mão na pia. As duas
pareciam meio altas ou bêbadas, mas os olhos arregalados em surpresa
quando me viram estavam extremamente ativos.
— Porra. — Julie sussurrou e abaixou a saia, que eu nem percebi que estava
erguida. — Que merda, cacete. Só me fodo. Espere aí, Candie.
Julie se virou para mim, encarando minha boca atentamente. Sua ficha caiu.
— Vocês estavam se beijando, não estavam? — ela mais disse do que
perguntou. Havia um tom oculto de riso na sua voz. — Finalmente. —
Ergueu a voz. — Harry. Estou esperando por você no quarto de hóspedes.
Um minuto.
Ela não pediu licença a Liam ou me deu tempo para avisar Zayn do que
estava acontecendo. Deus! Nem eu mesmo sabia.
Tentei me levantar da cama, mas Julie colocou uma mão firme no meu
ombro e me fez sentar de novo.
— Olha, eu não sei o que está acontecendo, mas estou bem confuso. Não
me matem. Ainda tenho saliva do Harry na boca e a polícia forense vai
saber que nos beijamos quando for investigar minha morte.
— Você é louco?
— Sou.
— Explica pra ele. — a voz de Harry soou lógica e inteligente após vários
segundos de silêncio. — Conta porque eu o beijei e porque você beija
Candice.
Foi assim que eu descobri que Julie funcionava como uma espécie de beard
para Harry enquanto ele fazia o mesmo por ela, que era lésbica e namorava
Candice há dois anos; conveniente para os dois e perfeito para enganar os
pais homofóbicos. Quando saíam juntos, não participavam de jantares
românticos como namorados, e sim iam a festas em cidades vizinhas como
o amigo gay e a amiga lésbica que eram. Seria cômico se não fosse trágico.
Uou.
— Você o acariciou. — foi tudo o que veio à minha boca após ouvir tudo
aquilo.
Eu já fingi que estava transando com Harry para Desmond nos flagrar.
Pegar no pênis do meu melhor amigo não significa nada.
Enfim, é isso.
— Eles acham que amigas fazem isso. Não se importam porque são um
bando de pervertidos. A maioria dos caras já pegou Candie e eu nos
beijando, mas é só Harry fazer uma piadinha idiota envolvendo nós três
numa cama que eles acham tudo normal. É horrível fazer Hazza passar por
um cara ridículo, mas... É necessário.
— Ele pega o que for bom o suficiente pra ele. — Julie respondeu,
levantando-se. — Vou voltar pra baixo. Me avisem caso precisem de algo.
Com uma piscadinha, Julie deixou o quarto e fechou a porta. E... Harry e eu
estávamos sozinhos. Numa cama.
Eita.
— Olha pra mim. — pediu, acariciando os nós dos meus dedos com o
polegar. Olhei. — Crawford está dando em cima de você?
— Isso tudo foi culpa do Desmond, sabe? Minha mãe sabia que eu não era
o que ele queria que eu fosse e ele também sabia, mas me pressionou a
namorar uma garota
rica e entrar no caminho para ter uma futura esposa ao lado, comandando a
empresa da família e tal. Eles sabiam.
É uma forma de você saber que tudo o que ele te fez está sendo apagado.
Ele puxou a mão que ainda estava com a sua e me fez inclinar para nos
beijarmos de novo.
único que tinha sofrido uma mudança brusca. Ao me sentar no sofá ao lado
de Zayn, toquei meu lábio inferior inchado e revestido por uma pequena
mordida de Harry só para ter certeza de que não acordaria com Charlotte
gritando de manhã. Aquilo tinha acontecido.
Zayn tinha essa habilidade de saber que algo estava errado comigo só por
um arquear de sobrancelha ou pelo ritmo da minha respiração; que, por
sinal, estava bem acelerada.
— Foi embora. Ele deve ter pensado que você desceu pela patente por
causa da demora.
O mesmo cara que separou a briga entre Harry e Chace, Beales, se levantou
e deu uma mordida gigante na fatia de
pizza antes de começar a falar, monopolizando a atenção e deixando todos
em um silêncio de expectativa.
— Ok, prestem atenção. O Josh aqui do lado está curioso para saber... —
Ele separou as mãos no ar e sorriu. —
Vamos lá, conta pra gente. Como é que você e Julie preferem? Ou outras
garotas, né?
Minha boca caiu aberta. Como é que ele falava essas coisas e ninguém
protestava ou ninguém ao menos se posicionava a favor de Julie? Ao invés
disso, eles riram ainda mais, e quando olhei para Harry, ele também estava
rindo. Seus olhos, porém, estavam apagados novamente.
Me segurei para não falar nada porque eu era novo entre o grupo e porque
os dois faziam isso há um bom tempo.
Candice também era uma boa atriz, porque ela se levantou, andou até Styles
e passou a mão pelos cabelos dele com um gesto que denotava sensualidade
em cada pequeno movimento.
— Será preciso um pouco mais que isso para me convencer a chupar uma
coisa envolvida nesse threesome, Capitão Styles.
Era uma pena que eles não soubessem que ela estava falando do pênis, não
da vagina.
Você não falou nada desde que chegou, conversa um pouco com a gente.
— Espera aí! — Beales riu alto e apontou o dedo de uma forma acusatória
para mim. Odiei aquilo. — Você é virgem?! Puta merda!
Contudo, bastou uma olhada em direção a Harry para eu ver que ele
também estava rindo. Não parecia verdadeiro, mas ainda sim. Ele estava.
Não.
— Louis! — Ouvi a voz de Zayn atrás de mim, mas eu não parei de andar.
Queria chegar ao Escalade, entrar e ir para casa. — Lou, para!
Embora eu não tenha diminuído os passos, Zayn me alcançou e puxou meu
braço, forçando-me a olhar para ele. Eu não tinha noção de que estava
chorando até o segundo em que ele me abraçou e beijou minha têmpora.
— Ei, está tudo bem. Vamos pra casa, kay? Não liga para eles.
— Posso falar com ele? — Styles perguntou a Zayn, que não se moveu um
centímetro. — Quero levá-lo pra casa.
Só notei que Liam estava junto quando o escutei falar algo para Zayn. Parei
de ser uma criança ridícula e me afastei do meu melhor amigo, limpando as
bochechas da forma que consegui e inspirando longas lufadas de ar.
— Não, não está. Vem comigo, por favor. Tenho que levar Julie e Candice
primeiro, mas quero conversar com você.
Por favor?
— Você quer conversar? — perguntei para ter certeza. Era uma D.R
prematura? — Agora?
— Sim.
Olhei para Zayn e ele me deu um aceno de incentivo, assim como Liam,
que estava com o braço em volta de sua cintura. Mordi o lábio e assenti
para Styles. Como se um botão tivesse sido apertado, ele pegou minha mão
no mesmo segundo, despediu-se dos garotos e me guiou até seu carro com
passos rápidos.
Resisti à vontade de rir baixo com a ironia. Há pouco tempo, era Julie quem
estava sentada ao lado dele enquanto eu estava com Candice no banco de
trás, nós dois encarando com raiva a cena que se desenrolava em nossa
frente. As perspectivas haviam, de fato, mudado.
Após nos quatro entrarmos, ele ligou o carro e deu ré, saindo do
estacionamento. Os barulhos molhados começaram atrás e eu nem precisei
olhar para saber que as duas estavam se pegando. Styles riu baixo e
aumentou o volume do rádio, Halsey cantando New Americana e a estrada
escura em nossa frente, apenas as luzes do farol alto iluminando a rua.
— Sim. — ele olhou pelo retrovisor e sorriu, ajeitando o espelho para que
focasse somente na rua. — Desde que começamos a "namorar".
— Legal.
— É. Legal.
preciso ser um otário para não prejudicar Julie. Por ter te beijado. Eles não
sabem nada sobre o que aconteceu com Anna e eu quero que fique assim.
Era verdade. Ninguém do time sabia. As pessoas que diziam ser amigas
dele não ligavam.
— Não, Tomlinson. Não tenho. — ainda meio inseguro, pegou minha mão
entre as suas e passou o polegar de leve pelos nós dos meus dedos, olhando
para o ponto de contato da nossa pele. — Sério. Eu não sabia o que fazer.
Eu não ligo.
Harry acariciou meus dedos mais uma vez antes de levantar a mão e afastar
a franja dos meus olhos. Eu não sabia para onde ele estava olhando porque
o meu olhar estava preso à sua boca.
você ainda está com o meu casaco, não está? Por que não veste ele?
Estará... Hum... Frio? Né?
— Jura? Você quer que eu vá ao jogo dos Wild Wolves com o casaco do
time? É como se eu fosse um pedaço de carne atirado ao leões. Não vai dar
certo, eles vão querer saber de quem é.
— Diga a eles que você trafica casacos do time para garotas e garotos que
querem se passar por íntimos dos jogadores.
— Acho que você já pode dizer que é, definitivamente, íntimo dele. Troca
de saliva o colocou nesse estágio.
Harry lambeu meu nariz. Ele literalmente lambeu meu nariz e depois
retrocedeu um pouco, franzindo o dele de forma adorável.
Acontece que essa pessoa era uma Johannah de roupão com a sobrancelha
erguida e os braços cruzados em frente ao peito. Pressionei os lábios ainda
sensíveis e senti meu rosto queimar de vergonha.
— Acho que sua mãe está perto o suficiente para ver o que está
acontecendo.
— Nos vemos amanhã. — beijei o canto da sua boca e dei espaço a ele para
que voltasse ao banco de motorista. —
Se cuida.
Saí do carro e ajeitei o casaco com as palmas das mãos, alisando o tecido
todo amassado. Mamãe virou as costas e foi em direção à porta. Antes que
fechasse, porém, acenei para Harry com uma feição que indicava em letras
néon
— Acha que me deve alguma explicação, Louis? — Jay indagou com o tom
"responde ou responde, motherfucker"
Pisquei pra ela. O creme parecia estar amargo na minha língua e eu queria
rir, mas provavelmente sairia chantilly até do meu nariz.
— Mãe...
— Estou brincando. Ou não. Nunca se sabe como a tecnologia vai estar
daqui alguns anos. — ela pegou um pedaço gigante de torta e enfiou inteiro
na boca. Minha mãe estava me superando nesse quesito? Inaceitável. —
— É.
— Reprovou?
deixá-lo te tocar?
Deixei de fora todas as vírgulas nas entrelinhas. A razão pela qual nos
aproximamos, o fato de ele esconder o relacionamento, o verdadeiro ele.
Não eram coisas para contar enquanto se divide uma torta com sua mãe
após a meia-noite na cozinha.
Talvez
vocês
fossem
destinados
se
Vou dormir porque preciso preparar uma exposição gigante amanhã. Boa
noite, William. — quando estava no meio do caminho, parou e exclamou:
— Da próxima vez que você chegar a esse horário, juro por Deus que te
deixo pra fora no frio. Te amo, filho.
"O gosto da sua boca é ainda melhor do que vodka de morango. Não sei
qual dos dois me deixou mais bêbado.
espalhado
pelo
campo,
treinando
alguns
— Agora?
Tudo o que eu disse foi "já volto" a Zayn e Charlotte. Os dois sabiam o que
estava acontecendo, eu havia contado de madrugada à Lottie sobre a noite
anterior e tive que tapar o rosto dela com o travesseiro para aquietar os
gritos e as frases como "é campeão, é campeão!".
Liam foi à frente e desviou por trás da arquibancada, onde ninguém podia
nos ver devido às armações com as bandeiras e cartazes do Wild Wolves.
Antes de alcançarmos a parte de trás do vestiário, eu parei e tirei o casaco
de Harry da bolsa. Vesti-o e Liam franziu as sobrancelhas, balançando a
cabeça de leve antes de continuar me guiando até lá. Havia uma porta de
ferro meio aberta, onde Payne parou e indicou para eu entrar.
Parei em frente a ele e tomei coragem, torcendo internamente para que me
desse a resposta que queria.
— Nós somos melhores amigos, mas eu sinceramente não sei, Louis. Ele
não, a questão é o que ele quer fazer.
Olha... Não estou no direito de te contar. Isso está com Styles. Vai lá, ele
está te esperando.
Suspeitei que não encontraria mais respostas com Payne, portanto empurrei
a porta e entrei, fechando-a atrás de mim. Era a primeira vez que estava
adentrando o vestiário dos jogadores, mas o vapor infestado com cheiro de
Axe e shampoos ruins já me fez odiar o lugar. Atravessei o corredor de
armários, olhando a parede vermelha com o símbolo dos Wild Wolves. Era
como um santuário ao time.
Dei o primeiro passo até a área dos chuveiros. O vapor estava ainda mais
denso, mas o cheiro não era ruim. As divisórias de vidro fosco separando as
duchas estavam molhadas e o azulejo do chão, também. Todos estavam lá
fora exceto por uma pessoa sentada no banco de madeira que os jogadores
usavam para colocar as toalhas e chuteiras. Harry estava de cabeça baixa, já
vestido com a jersey e as ombreiras, as leggings brancas extremamente
apertadas. Ele era... Ah.
Eu fui. Parei em sua frente e ele se levantou, levando-me até o fim da fila
de duchas. Entramos na última parte e Harry me colocou suavemente contra
a parede. Sua posição, a diferença de altura e os ombros levantados
deveriam me assustar ou me deixar intimidado, mas não o fez. Talvez
fossem as covinhas. Ou os olhos. Os cachos.
Ele inteiro.
— Lottie lavou. Ela fica com raiva nos dias dela de levar a roupa e coloca
absolutamente tudo que encontra no meu quarto dentro da máquina.
sussurrou repentinamente. Mais uma vez, ele era uma criança frágil. — É
estranho saber que ela não vai estar na arquibancada aplaudindo se eu
marcar algum ponto.
Eu dei um beijo de boa sorte nele, embora não acreditasse em sorte e sim na
capacidade de Harry, e saí do vestiário sendo praticamente capaz de ainda
sentir o sorriso tímido dele contra minha boca.
No meio do campo, cercado por pessoas, Chace sorriu para mim quando
tirou o capacete e eu correspondi, reprimindo a vontade de rir ao perceber
que Harry observava a cena atrás de Crawford com as sobrancelhas
franzidas e os cabelos suados. Uma parte de mim sabia que era ciúmes, a
outra... Bem, a outra também.
— Bebê. — passei a mão pelos cabelos dele e endireitei seus óculos para
que não caíssem. — Está tudo bem.
Virei-me para o campo somente para dar uma última olhada em Você-Sabe-
Quem. Ele precisou desviar de alguns jogadores exageradamente
empolgados para me encarar quando percebeu que eu estava o procurando,
mas no momento em que o fez, um sorriso incrível tomou conta dos seus
lábios pálidos. Ergui os polegares para ele, querendo mais que tudo abraçá-
lo e parabenizá-lo. Sem olhar para trás novamente, corri atrás de Zayn e
Lottie.
— Esse filme... Ele é triste. — Lottie murmurou após enfiar uma mão cheia
de pipoca na boca. Mastigou e limpou as lágrimas com a ponta do cobertor
macio em que estava enrolada no outro sofá. — Todo mundo diz que é
famosinho e só por isso as pessoas gostam, mas... Ele vai morrer, não vai?
Recebi uma almofada na cara antes mesmo que pudesse me dar conta do
que estava acontecendo. Hazel e
Michelangelo: adolescentes são estranhos. Tem uma garota jurando que vai
pular na piscina pelada e tudo o que eu não queria estar fazendo agora é
socializar numa festa de idiotas. Muito menos ver uma garota pelada.
Michelangelo: yeah.
Eu: já jantou?
Ele respondeu que não. Ponderei por um momento se deveria ou não dizer o
que estava pensando. Minha mãe chegaria só mais tarde e tenho certeza de
que Lottie e Zayn não ligariam, então escrevi e mandei a mensagem: Eu:
não tenho comidas sofisticadas aqui em casa, mas Lottie fez macarrão com
queijo e eu fritei asinhas de frango. Se você quiser jantar :)
Michelangelo: hum...
Não soube decifrar se sua mensagem era um "foda-se você e sua comida"
ou um "e daí?". Bloqueei o celular e coloquei no bolso de novo,
acomodando-me no sofá da forma que podia com a cabeça de Zayn na
minha coxa.
Ele estava quase dormindo, mastigando preguiçosamente as pipocas que eu
continuava colocando na sua boca.
Devia ser Jay avisando que teria que dormir fora de novo para viajar cedo.
Atendi.
— Você disse que tinha feito macarrão e... Ok, isso foi uma má ideia.
Desculpa, estou incomodando. Vou embora.
Já volto.
— Ah! Eu amo donuts. Obrigado. A gente come depois do jantar, pode ser?
— Não. Fica com ele, eu tenho outro. Você com meu casaco é um grande
incentivo. E o beijo de boa sorte também.
Sorri. Demonstre que está calmo, está tudo bem, quem tá nervoso?, não tem
ninguém nervoso aqui.
— Bom saber.
O frango terminou de fritar alguns minutos depois e eu fiz o prato para ele,
colocando em sua frente antes de alcançar uma lata de refrigerante na
geladeira e um copo no armário de cima que sempre precisava ficar na
ponta dos pés para alcançar.
— Aproveita, então.
Antes que eu pudesse me afastar, porém, Harry colocou o braço para trás e
fechou a mão na minha nuca, virando a cabeça o suficiente para me beijar.
Mudamos de posição rapidamente durante os movimentos de nossos lábios
e eu fiquei entre suas pernas, suas mãos nos meus quadris, as pontas dos
dedos roçando perigosamente perto da minha bunda.
Arrastei as unhas pelo seu pescoço e nós separamos o beijo, sua boca indo
direto para o meu pescoço e me fazendo fechar os olhos. Senti a ponta
gelada do seu nariz arrastando de forma preguiçosa pela extensão da pele
conforme eu me arrepiava e suas mãos desciam mais, mais e–
— Ok! Essa não é a cena que eu esperava ver quando chegasse em casa. O
que está acontecendo?!
Quando a voz de Jay ecoou na cozinha, Harry voltou a segurar uma zona
apropriada, à altura das minhas costelas. Escondeu o rosto no meu peito
instantaneamente e eu respirei fundo, incerto se deveria sentir vergonha, me
jogar da janela e cair na grama ou correr para o quarto. Na dúvida, não fiz
nenhum dos três. Virei a cabeça em direção a ela, sorrindo inocentemente
enquanto continuava acariciar os cabelos de Styles.
— Suponho que esse seja Harry. — ela me ignorou e parou ao nosso lado,
mantendo os olhos nos movimentos dos meus dedos nos cachinhos.
Harry tirou a cabeça do meu peito e olhou Johannah com cautela. Estava
com o rosto completamente vermelho e fiquei com medo que estivesse
sofrendo uma reação alérgica.
Eu sabia que teríamos outra conversa séria. — Bem, Louis. Eu estou com
fome também. Você pode fazer um prato pra mim enquanto converso com
Harry?
Ai, droga.
na cabeça das mães e dos pais. Entreguei o prato a ela e, para me distrair,
peguei um donut com cobertura roxa e me sentei em frente a eles.
Ouvi enquanto Harry respondia sua idade, onde morava, se bebia ou
fumava (ele mentiu), se fazia isso ou aquilo.
Ele somente começou a ser vago quando Jay iniciou as questões sobre o
futuro, querendo conhecê-lo um pouco mais. Quando não respondia,
encolhia os ombros e oferecia um sorriso pequeno de desculpas. Talvez não
quisesse entrar na Uni... Eu não fazia ideia.
Foi por isso que acabamos sentados no sofá com todas as luzes apagadas e a
televisão ligada em um programa de culinária aleatório em que estavam
ensinando a fazer salmão assado. Harry juntou nossos dedos no mesmo
instante em que eu estiquei a coberta no nosso colo e, devagar, me aninhei à
lateral do seu corpo. Ele era quente e seu perfume era viciante demais para
eu não me sentir no direito de me acomodar. Fora que os donuts em nossas
mãos passavam uma sensação de intimidade, como se nos sentássemos em
frente à TV todos os dias após o jantar.
passou o braço por cima dos meus ombros e ajeitou a coberta para que
meus pés não ficassem de fora. —
Obrigado de verdade. E obrigado por ter ido ao jogo e por ter ficado.
— Tudo bem, eu entendo. Quase pulei no Zayn quando você virou o placar.
Foi incrível. — Seria ainda mais se eu soubesse algo de futebol. — Você
não está dolorido de todos aqueles tombos?
— Já estou acostumado. Tenho problemas nas costas por causa disso, mas
acho que nunca tive coragem de parar.
continuassem
movendo-se
lentamente.
Acho que fazemos exatamente isso. Não nos livramos da parte ruim que nos
cerca por medo de sobrar pouco, por medo de nos sentirmos insuficientes.
A ideia de conviver com o que nos deixa incapacitados é melhor que o
medo de possuirmos o mínimo.
Demorei um pouco para tentar me livrar dessa parte podre que me cercava.
Embora tivessem restado alguns efeitos colaterais, como os pesadelos ou as
lembranças súbitas que retornavam nos momentos mais inoportunos, eu
sabia que aquilo iria embora hora ou outra. E eu não seria menor, seria bem
maior que todos os meus medos.
— Ninguém do time sabe que Anna morreu. — ele continuou assistindo à
televisão como se estivesse falando de um ingrediente da receita. — Da
escola, somente você, Julie, Candice e Liam sabem. E o diretor, mas isso
não vem ao caso. Eles nem se importaram comigo. Só ficaram felizes em
saber que eu estava de volta por causa dos jogos da temporada. Ao menos
para isso eu tenho algum valor. Além, claro, das bebidas, festas e drogas
que eu financio.
— Eu... — apertou meus dedos com um pouco mais de força, mas não
recolhi a mão. — Esquece, é estúpido.
Dizer que eu me importava com ele não adiantaria, sabia disso. Não era
sobre mim, era sobre toda aquela gente que ele conhecia desde o início. Era
sobre quem o cercava, mas que não estava ali quando se tratava de prestar
algum apoio.
Que vale a pena levantar à meia-noite por você para esquentar macarrão
com queijo e fritar frango. Que vale a pena estar aqui com você e que eu
quero estar aqui.
— Isso só me faz perceber ainda mais que não é justo com você. Que eu
sou egoísta. — ele virou o rosto, segurando a lateral do meu e percorrendo a
maçã do meu rosto com o polegar. — Você vai me odiar.
Abaixei a mão para a sua nuca, atrevendo-me a descer o toque para as suas
costas sob a roupa. A pele era quente, suave e me fez ter vontade de ver
como ele era sem camiseta. Não deixei de notar como seu corpo estremeceu
quase imperceptivelmente.
que o fiz, não tem como voltar atrás porque de jeito nenhum que, enquanto
eu puder estar perto, vou ficar longe da sua boca, de você.
Então nós iríamos passar o fim de ano juntos e eu iria descobrir o que o
afligia – o que quer que fosse, daríamos um jeito. Não fazia ideia de como
tinha chegado àquele ponto... No sofá de casa com Harry travando uma luta
de polegares e minha outra mão por baixo da sua camiseta, mas se eu sabia
de uma coisa, era que não havia mais nenhum lugar em que preferia estar.
— À noite, tudo é possível. Passar de um dia para o outro faz com que
possamos sonhar acordados. Aquilo de uma nova chance, sabe? Deixe-nos
sonhar.
O ponto era: ele sentia a mesma coisa. E não precisava da minha ajuda
porque aquelas sensações estavam implantadas em cada parte da sua
corrente sanguínea
Seus dedos encontraram o caminho até meu cabelo, puxando alguns fios
com o mínimo de força.
Minutos depois e eu estava a ponto de subir no colo dele, imerso até o fim
pelas sensações da sua boca e pela vontade de beijá-lo de verdade, com
língua e tudo – ainda não havíamos alcançado aquele estágio e era uma
merda
— De novo. — Styles mordeu meu lábio inferior antes de rir contra minha
bochecha.
Estou traumatizada, vocês estão irritados por terem sido interrompidos, nós
três vamos dormir bem putos da vida e é isso. Boa noite, Harry.
Styles se levantou após sussurrar um "bem direta" no meu ouvido.
Continuei sorrindo enquanto ele ajeitava o casaco
— Bem. Vou dormir, mãe. Por favor, não me dá uma bronca agora.
Amanhã. Pode ser? A gente marca horário.
Enquanto Liam se sentava à nossa mesa e continuava nos fazendo rir com
as histórias sobre o time, Harry estava do outro lado do refeitório ao lado de
Julie, que quase não desviava os olhos da namorada – como eu nunca
percebi isso?
É claro que isso não impedia nossos olhares de ficarem fixos um no outro,
mesmo com a distância considerável nos separando. Eu o encarava, ele me
encarava e nós
Bem, me culpem.
Ele dava um jeito de esbarrar em mim nos corredores para deslizar os dedos
pela minha mão ou pela base da minha coluna e nós já até tínhamos um
horário combinado para nos encontrarmos. Nos dias das aulas de literatura,
recolhíamos nosso material e saíamos da sala sem que ninguém percebesse
que estávamos agindo juntos. Então, íamos para fora da escola e nos
sentávamos na grama do estacionamento. Ele deitava a cabeça no meu colo
para fumar e eu brincava com seus cabelos, que vez ou outra estavam
presos por bandanas de diferentes estampas. Era tranquilo e Harry gostava
de observar o céu por minutos diretos, apontando vez ou outra para uma
nuvem que o lembrava de algo.
Era a primeira vez que eu conheceria sua casa. Não sabia ao certo o que
esperar, mas assim que vi o casarão moderno e produzido em uma
arquitetura impressionante, meu queixo quase foi ao chão.
Não pude ver muito da sala de estar porque ele me levou direto até a de
jantar após jogar o seu casaco e o meu no sofá de couro.
— Jantar e depois você me leva para conhecer seu quarto? — cutuquei suas
costelas. Vi um porta-retratos com uma fotografia em que ele estava
abraçando uma mulher linda e de sorriso incrível. Desviei o olhar, fingindo
não ver que todos os outros quadros estavam virados pra baixo.
— Olha, eu até poderia usar a louça de prata ou algo assim que existe em
algum lugar dessa casa, mas já estou acostumado a comer em prato de
isopor. — explicou, notando meu olhar para o talher. — A não ser que você
queira um normal. Eu posso ir pegar.
Ninguém trabalha mais nessa casa porque eu meio que os despedi e... Eu
nunca soube fazer limpeza. Preguiçoso desde que nasci.
— Eeei. Não peça desculpas. Só estou com vergonha porque agora você
sabe minhas manias estranhas.
Comi um pedaço de cenoura com o frango. — Batata-frita com sorvete é
uma delas?
Rindo, Harry empurrou meu ombro com o seu enquanto tentava tapar a
boca com a mão para mastigar o arroz.
Sua risada foi reduzida a um sorriso antes de ele levar o garfo à minha boca.
Comi o pedaço de frango com molho ainda o encarando.
Tive que enfiar quase todos os pedaços de frango na boca para que não
acabasse falando alguma merda.
— Tanto faz.
— Desculpa.
Nós ficamos sentados na beira da cama como dois idiotas, sem saber ao
certo o que fazer, ainda meio desconfortáveis e deslocados. Nunca
havíamos ficado sozinhos numa cama, a luz apagada e o clima... Gostoso.
— Hum...
Levei aquele "hum" como uma dica para eu ficar quieto e deixá-lo assistir o
filme.
Eu olhava para a televisão vez ou outra, mas na maioria das vezes, preferia
observá-lo. Gostava de ver como a curva do seu nariz era coberta por uma
superfície azul vinda da tela, como seus cílios eram grandes e como sua
boca era desenhada tão perfeitamente. O lábio inferior era mais cheio que o
superior e eles ficavam molhados o tempo inteiro porque Harry tinha essa
mania de lambê-los a cada segundo, o que me deixava uma pilha de nervos
no sentido mais proibido possível.
— Quantas vezes vou ter que falar que tudo o que você diz é importante?
Eu quero ouvir se você quiser me contar.
Também fui para baixo na cama até estar com o rosto à altura do seu. Beijei
a pontinha vermelha do nariz e sorri pequeno para tentar encorajá-lo a fazer
o mesmo.
— Olha, o peixinho não precisa provar para ninguém que é forte. Ele sabe
que é, sabe que pode superar sem mostrar isso para ninguém a não ser para
ele mesmo. Meno pode tudo o que quiser porque Meno é extraordinário. —
eu disse, sabendo que aquilo ali não era dirigido somente ao filme. Porém,
Harry balançou a cabeça e concordou.
— Melhor assim.
Sorri.
Fechei os olhos e subi o pé pela sua canela coberta pelos jeans, esfregando
algumas vezes com cuidado para testar
Movi a mão do seu peito para a sua barriga, acariciando os músculos firmes
ali. A forma como eles contraíram, rígidos e estendidos, foi o suficiente
para tirar meu fôlego. Em resposta, ele agarrou o cós da minha calça,
tocando uma pequena parte da minha pele e da barra da cueca.
— Se você fizer mais alguma coisa, a gente vai ter que parar o filme. — sua
voz estava mais baixa, mais afetada. Ah.
— É.
— Desculpa.
— Me beija.
Minha camiseta havia subido e a sua estava na altura das costelas, nossas
peles juntas, quentes e irradiando calor como se lá fora estivesse fazendo
trinta graus. Uma mão mantinha meu rosto erguido e a outra apertava meu
quadril, sua boca conduzindo a minha com habilidade e pequenos
movimentos que davam a entender que eram perfeitamente encaixados com
os que eu fazia. Seu abdômen rígido tremulava a cada vez que eu inspirava
com um pouco mais de força. Por um segundo, realizei que o cobertor já
não era mais necessário, ao menos não enquanto eu o tivesse me cercando
por todos os lados.
Nos separamos por pouco tempo, seus olhos procurando os meus em meio a
escuridão e o lábio superior brilhante com a nossa saliva. Enquanto
ofegava, fechei as mãos no seu pescoço e tentei me manter lúcido ao sentir
como ele ergueu minha camiseta com tanto cuidado até ela estar um pouco
abaixo do meu peitoral. Tentei não sentir vergonha, apesar das bochechas
vermelhas protegidas pelo escuro.
Eu arrastava as unhas pelo seu pescoço o mais leve que conseguia, embora
a urgência me consumindo não fosse nem um pouco suave, e ele segurou
meu quadril. Lambeu meu lábio inferior e eu abri a boca o suficiente para
que ele chupasse minha língua com intensidade e lentidão, enviando
pulsações pela minha virilha que me obrigaram a fincar as unhas na sua
nuca. No momento em que nossas línguas se encontraram pela primeira
vez, meu estômago parecia estar sendo corroído em ácido puro, retorcendo
e contraindo. Ele chupava a minha, molhado e devagar, e eu lambia a sua,
tentando extrair tudo o que podia como se fosse ficar em abstinência por
uma década. Seus suspiros eram as coisas mais – porra! – fantásticas que
eu já tinha ouvido. Eles me deixaram no limbo, o sangue pulsando nos
ouvidos e o único contato me mantendo firme sendo os seus lábios me
reivindicando.
Não sabia direito o que estava fazendo, mas ergui sua camiseta e ele a tirou
como se fosse uma ordem imediata.
Quase esmagado pela força e ritmo compulsivo que meu peito subia e
descia, encarei as tatuagens no seu peito, a borboleta
estampada
no
seu
estômago
Ele não era uma obra de arte clichê, era a obra excepcional que deveria ser
admirada e protegida por uma redoma de vidro.
— Você é lindo.
— Não diria isso se pudesse ver como você está me olhando agora. —
Harry se abaixou e deixou um beijo no centro das minhas costelas, o
pequeno toque tomando meu corpo pelos arrepios. O segundo beijo foi
deixado na minha barriga, quente e gracioso, enquanto ele empurrava a
camiseta para cima. Eu a tirei, não sabendo ao certo como tínhamos
avançado tanto. Mas suas costas pareciam tão lindas imersas nas sombras
da televisão e ele me olhava com tamanha admiração que eu me deixei
pensar que era digno daquilo. Era digno de me sentir desejado sem que o
gosto amargo retornasse. — Louis,
Balancei a cabeça, puxando-o para cima e fazendo com que seu corpo
esfregasse no meu durante todo o caminho até em cima. Segurei seu rosto.
Ainda me olhando, seus dedos desceram pelas laterais do meu corpo. Era
tão suave e gentil que eu parecia ser algo precioso e maleável, e os seus
olhos não desviando dos meus me ofereceram segurança. Continuou com os
avanços, partindo até a área debaixo do meu umbigo. Eu o sentia contra
meu quadril, sua ereção dura e contida pelos jeans deixando-me ciente que
aquilo estava o excitando tanto quanto a mim.
Mas aí... Aí Harry moveu as mãos para as minhas costas e sua boca foi para
o meu pescoço. Ele havia feito antes, na casa da árvore e na cozinha de
casa, eu me lembro, mas talvez tenha sido o fato de eu estar sem camiseta e
de olhos fechados que impulsionou um gatilho gelado através da minha
espinha.
" Se eu te tocar aqui, não será errado, amigão. Você me conhece e seu pai
também."
Não funcionava.
Harry estava me tocando, não ele. Não era ele. Por favor, consciência,
entenda isso. Não estrague, não estrague. Eu sabia que Styles estava
beijando meu peito, sua língua traçando caminhos tortuosamente lentos, eu
só não era capaz de senti-los. Estava longe, havia sido arrastado para aquela
parte da mente.
" Vamos lá, amigo. Ou você me deixa tirar sua calça ou eu conto para Jay
que você estava acordado até tarde jogando videogame. Isso é culpa sua,
Louis, se você fosse mais obediente... "
" Cala a porra da boca. Quando você gozar, vai ser bom.
Vai aprender."
— Louis! Fala comigo, por favor, por favor. — meus olhos se tornaram
nítidos conforme os piscava mais. Vi seu rosto preocupado entrar no
alcance da minha visão, os olhos verdes arregalados e os cabelos apontando
para todos os lados. — Lou... Lou?! Merda, o que eu fiz?! Me desculpa,
desculpa...
sempre fazia nas noites de pesadelos, mas sabia que não seria justo com ele.
estamos
dentro
de
um
pesadelo
— Eu sinto muito... O que quer que esse monstro tenha feito com você... Eu
sinto.
— Meu primo chega amanhã com a namorada para ficar até depois do ano-
novo. — Harry disse, desapontado e frustrado.
Não entendia como ainda me sentia confortável ao seu lado mesmo após ele
ter visto um daqueles momentos.
Confiança, acho. E a segurança de que ele não estava me julgando ou não
me via diferente.
— Ele. — confirmou. — Não sei se vou suportar. Disse que reservaria uma
suíte no Berkeley, mas- Hah! Ainda
Que droga.
Após acariciar a parte do seu braço que não estava coberta pela manga da
camiseta, levantei-me da mesa ao mesmo tempo em que Zayn e nós dois
caminhamos em direção a um dos lounges à beira da piscina, deixando-os
sozinhos para conversar. Atrevi-me a olhar a figura imponente da casa ao
nosso lado enquanto me sentava.
Quando olhada de baixo, a mansão era ainda mais sombria. Talvez fosse o
fato de estar vazia e silenciosa, mas eu não gostava tanto dos cômodos
empoeirados como deveria.
— O que aconteceu com nós dois? — Malik me olhou daquele jeito que
dava a entender que eu continha todas as respostas do mundo dentro de
mim. Era algo profundo demais para duas da tarde. — Liam Payne e Harry
Styles?
— Isso é muito Jane Austen pra você? Sem destino, coincidências, planetas
alinhados e lua em... Sei lá. Não entendo isso de horóscopo.
Ri baixo, tirando a camisa jeans e deixando apenas a tank top branca. Não
perdi o olhar de Harry, que fixou em mim no mesmo instante, uma
sobrancelha erguida por baixo dos óculos escuros.
Você não nasce destinado a alguém, você encontra a si mesmo nessa pessoa
e espera que ela se encontre em você. Tu te tornas eternamente responsável
por aquilo que cativas a partir do momento em que se torna mutuamente
cativante.
Zayn não respondeu. Quando o olhei, ele estava sorrindo de lado e pouco se
importando com os óculos escorregando no nariz.
Embora algo me dissesse que essa ideia poderia mudar alguma hora.
Evoluções, pessoas novas, uma possível paixão e dois olhos verdes que eu
sentia a necessidade borbulhante de trazer à vida e eliminar toda a morte
contida ali. Eu tinha fatores o suficiente, só precisava que eles me
mostrassem eficientes.
— Doze a seis, Styles! — Liam bateu a mão na mesa e me fez quase cair
para frente com o grito. — Você está me devendo dez libras.
Fui para trás até que pudesse me encostar ao peito de Harry, também
esticando as pernas e observando Zayn tomar a decisão de sua vida de pular
ou não na piscina.
meu pulso até o bíceps, a unha provocando a pele vez ou outra. — Gostei.
— Gosto.
Tirei o Ray Ban com cuidado e reprimi o suspiro ao perceber como suas
olheiras estavam ainda mais profundas e escuras.
— Não consegui. Na maioria das vezes, só durmo bem quando caio no sono
com a sua voz. Estranho?
Na verdade, cativante.
— Eu quero. Também gosto da sua voz, do jeito que você fala e como
começa a enrolar as palavras quando está quase caindo no sono.
— Ontem, perto das duas da manhã, você me disse que já sonhou comigo e,
depois, não respondeu mais porque tinha dormido. É verdade?
Oh, droga. Parte estúpida do cérebro, você precisa ficar de fora quando eu
estou meio aéreo.
— Não. Você sempre me pede para falar sobre as coisas que considero
bobas. É a sua vez. — depois de dois segundos, as linhas tensas em volta da
sua boca diminuíram e deram lugar a uma feição desconcertada. —
— Na última cabine.
— Ei, Lou. Olha pra mim. — pediu e eu acabei decidindo que não sabia
como me sentir em relação à sua voz meio quebrada. Encarei-o ao mesmo
tempo em que coloquei as mãos por cima das suas, entrelaçando nossos
dedos. —
Me
conta
o
que
estávamos
fazendo.
Meu Deus.
— Você estava–
Pelo suspiro, Styles ficou tão frustrado quanto eu. Depois me olhou e disse,
sem usar palavra alguma: "ainda vamos continuar com isso".
Cinco mensagens de Zayn. Cinco! Verifiquei que era mais de onze horas no
relógio digital do despertador antigo na mesa de cabeceira. Comecei a ler.
"LOUIS?!?!!!!????!!!!"
"LIAN ENTROU NS NINHA CASA DEPOIS DAD SETE DA MWNHA SWM
MEUS PAIS VEREM!!!!"
"E..."
INFERNO ME CONSUMINDO"
"AGORA
EU
SEI
QYE
RIMMING
NAO SEI??"
Acabei rindo mais alto do que pensava. Tive que tapar a boca com a mão
para evitar que os barulhos estranhos continuassem a sair ao mesmo tempo
em que condenava meu cérebro por insistir em tentar reproduzir a cena que
era gráfica demais para o meu gosto. Era muito para eu aguentar em um
domingo de manhã.
— Bom dia, mãe. Eu dormi bem também. Está fazendo um lindo dia lá
fora, não é? O que temos para o café da manhã? Não morri durante o sono,
obrigado!
— Charlotte vai estudar na casa de uma amiga e, se você for, nós vamos
almoçar naquele restaurante mexicano do centro que você gosta. Com
direito a margarita sem álcool.
Não virou para me olhar, mas acabou cortando o dedo com a faca e soltou
um palavrão antes de largar tudo e fechar os olhos com força. Guardei o
celular no bolso da calça de pijama – algo desnecessário – e peguei um
guardanapo de papel em cima do balcão, indo até ela.
Envolvi seu dedo com ele e, de perto, pude ver como rugas de preocupação
adornavam os olhos fechados.
Como a boca dela estava apertada daquela forma preocupada que eu não
gostava de ver.
Balancei a cabeça e pedi para ela esperar um pouco. Subi até o quarto e
peguei a caixinha de band-aid do Homem-Aranha (o qual eu tinha usado no
queixo), retornando à cozinha. Levei a tarefa de abrir a embalagem como
uma distração para não pensar em Mark.
— Lou... — Jay disse baixo, olhando para os meus dedos limpando o corte
para começar a enrolar o band-aid. — Eu nunca poderia te dar um carro
novo com o salário que ganho do museu, sabe disso. E o Volvo é velho.
Eu odiava a forma que ela se sentia insuficiente para minha vida, porque
sabia que era isso o que acontecia.
Sempre que Mark ligava para oferecer a merda daqueles presentes, Jay se
sentia ainda menor. Eu odiava que a razão de tudo isso fosse a outra pessoa
que também deveria me apoiar em tudo.
— Mãe...
— Só pensa. Por favor. Um carro novo iria facilitar muito sua vida. Ele é o
seu pai e também tem o dever de te dar o que você precisa, Lou. —
acariciou minha bochecha, o polegar traçando riscos suaves. — Obrigada
pelo curativo, amor. Vou trocar de roupa.
Ele não entendia que não, eu não iria para Nova York para agirmos como
pai e filho unidos e comemorar o ano-novo no topo da cobertura. Nunca
aconteceria e eu não aceitaria nada mais que a mensalidade da Wye Hill.
Já era demais.
"deu merda".
— Lou- Tomlinson. Oi. — Styles disse, adotando uma expressão mais
apropriada, nada parecida com aquela que iluminava seu rosto quando
estávamos juntos.
— Oi.
Quê?!
— Que ótimo!
Não, não era nada ótimo. Harry e Julie deram as mãos quando um homem
mais velho se aproximou e ela, meio inconscientemente, fez com que Styles
passasse o braço em volta de sua cintura. Forcei um sorriso e balancei a
cabeça para eles antes de tentar voltar a atenção ao grupo, mas dei de cara
com Johannah em minha frente.
— Dei uma pequena pausa. Você está bem, Lou? Parece que... — Jay
desviou o olhar para um lugar atrás de mim e franziu as sobrancelhas, os
lábios caindo abertos em surpresa ou irritação, eu não soube dizer. — Por
que Harry está de mão dada e sussurrando no ouvido de uma garota daquele
jeito?!
Chapter Eleven
Ao olhar para trás, constatei que era verdade. Harry estava sussurrando
no
ouvido
de
Julie,
mantendo-a
eram
mais
dois
adolescentes
apaixonados,
— Mãe, eu te explico em casa. Para de olhar pra eles, por favor. — segurei
o braço dela e tentei dar um passo a frente para levá-la junto, mas Jay
permaneceu imóvel. —
Virei de costas e tapei o rosto com as mãos. Mesmo assim fui capaz de
escutá-lo respondendo baixo:
— Namorada.
— Namorada! Uau! Isso sim é uma grande surpresa, não acha, Louis?
Peguei-a pela mão, acenando para Harry, Julie e os pais (que pareciam estar
no fim do mundo devido às expressões confusas) antes de seguir em direção
a um canto afastado da sala de exposição, protegido das luzes.
— Você está beijando um garoto que tem namorada, Louis?! Tem noção do
quão errado é isso? Não é justo com a menina!
— Eu garanto. Juro.
— Estarei lá as três, tudo bem? — disse. Soava tão exausto, esgotado, como
se tudo o que quisesse fazer fosse dormir e ficar fora de toda essa confusão
que eu tinha aumentado ao entrar em sua vida. — Eu quero te beijar, mas
preciso voltar para eles. Escapei dizendo que ia ao banheiro. Está ainda
mais bonito hoje, Tomlinson.
Sorri com sua habilidade de misturar vários assuntos em uma só fala. Ergui
a mão para acariciar os cachos soltos e beijei o que pude alcançar do seu
rosto com nossa posição.
— Obrigado. Você também. Gostei da camisa e... Sobre o beijo. Te
recompenso quando chegar em casa.
— Promete?
Deixei meus lábios por mais tempo que o necessário sobre sua têmpora,
sussurrando contra a área sensível:
— Prometo.
Peguei uma das canecas rosa de Lottie – pelo que eu sabia, era a cor
preferida dele, então por que não? – e enchi de água fervente. A cozinha
ainda estava em silêncio e eu não me atrevi a olhar para trás. Esperavam por
mim? Merda.
Eventualmente, não achei mais coisas para fazer e perder tempo e tive que
me sentar novamente. Entreguei a xícara e a caixinha de chá Yorkshire do
meu preferido. Enquanto Harry colocava o pequeno envelope dentro da
água, a voz dela ecoou pela cozinha:
— Eu vi vocês se beijando.
Deslizei a mão pela coxa dele e quis transmitir a mensagem que não
precisava responder a nenhuma pergunta. Não havia necessidade. Sua mão
grande cobriu a minha e ele tomou um longo fôlego antes de dizer:
— Há três anos, meu pai estava com medo que eu finalmente dissesse quem
eu sou. Ele é empresário e...
Bem, gays não são bem vistos no mundo dos negócios, principalmente o de
indústrias multinacionais. Obviamente, queria que eu comandasse a
empresa e, não sei... —
Com o tempo, descobri que Julie é lésbica e que os pais dela faziam o
mesmo. Ajudamos um ao outro.
— Minha mãe morreu. E não precisa se desculpar, está tudo bem. Só... —
girou a caneca rosa com os dedos longos e trêmulos. — Se estiver tudo
bem, não quero falar sobre ela.
Apesar disso, eu recebi uma repreensão silenciosa. Sabia que deveria ter
dito algo e sabia que ela me cobraria depois.
Eu só queria saber se você está de acordo comigo vindo aqui. Com o Louis
e... Hum, saindo? Mais ou menos.
— Estou, Harry. Tudo bem. Contanto que vocês não fiquem sozinhos em
lugares escuros e horizontais, por mim tudo ótimo. — completou com um
sorriso: — Você ajuda uma amiga sacrificando sua própria felicidade de
forma aberta e continua forte, garoto. É uma pessoa maravilhosa.
— Seus pés são feios. — disse baixo e tapei a boca para bocejar ao passar
por ele e me deitar na cama.
— Os seus são delicados. E parece que Chace Crawford sabe disso também.
— comentou casualmente quando
parou ao lado da cama sem saber o que fazer. Coçou a nuca, desconcertado.
— Ciúmes?
— Tudo bem. Você pode vir quando quiser contanto que minha mãe não
nos veja.
— O que você acha que ela faria?
Senti sua mão pousar sobre minhas costelas, deslizando devagar para baixo
até curvá-la em volta do meu quadril, embora ainda estivesse olhando para
o teto.
Ele também riu e, eventualmente, nós dois ficamos em silêncio por alguns
curtos instantes. Seu olhar ainda
estava no teto, os dedos movendo-se tão devagar na minha pele por cima da
camiseta que pareciam estar parados. Apesar de a situação ser perfeita, nós
dois não queríamos dormir.
— Ei... Me conta algo sobre você. — pedi, aproximando-me mais até ser
capaz de cheirar sua camiseta.
— Tipo o quê?
— Eu... Hum, eu fui para França estudar. Por isso sou atrasado na escola.
— Ooh. Que elegante, Edward. Usou uma boina nas tardes de maio?
Comeu um croissant em algum café escondido nas ruelas de Paris?
— Eu tenho uma boina, não zomba. E sim, eu amo croissant. E... — beijou
a ponta do meu nariz em um movimento rápido, fazendo-me apertar os
dedos na sua camiseta. — Je t'aime vos yeux.
Harry fazia um biquinho adorável para pronunciar as palavras, o nariz
franzido e uma expressão que deixava óbvio que falar francês para ele era
como um instinto, uma segunda natureza.
— Ama?
Ele não perdeu tempo em contornar minha boca com a língua e eu não
hesitei em arrastar as mãos pelos seus cabelos até o pescoço quente e
coberto parcialmente pela touca do moletom. Seus dedos estavam apertando
minha cintura, afundando na base da minha coluna e me segurando perto,
tão perto que eu precisei passar uma coxa por cima das suas pernas para dar
um pouco mais de espaço a nós dois. Minha barriga gelou de uma forma
completamente nova quando Harry deslizou a mão devagar desde a minha
cintura até a coxa que estava sobre suas pernas, segurando-a com força para
colocá-la em cima do seu quadril, deixando-me arqueado contra seu toque e
para o seu toque.
Eu queria ver se seria capaz sendo pressionado contra o colchão pelo seu
peso. Todos os fatores apontavam que sim, inclusive meu membro me
incomodando e estendendo o tecido da cueca. Eu sabia que não me
lembraria daquilo porque todo o meu corpo queria se acostumar com o de
Harry. Porque eu sabia que era ele, meu Michelangelo.
Quando fiz o mesmo para ele tirá-la, Harry negou com a cabeça.
Após essas duas palavras, foi como se tudo tivesse sido desbloqueado,
como se qualquer barreira que estivesse o impedindo de me tocar, de
literalmente me tocar, fosse derrubada. Não sabia de qual forma, mas estava
confiando a Harry o que eu nunca tinha conseguido confiar nem a mim
mesmo. E ele estava fazendo por merecer, dançando as pontas dos dedos
pela área abaixo do meu umbigo como se eu fosse me estilhaçar a qualquer
segundo.
Ele se abaixou e sua boca seguiu direto para o torso da minha garganta, os
cachos roçando minhas clavículas e sua boca molhada combinando com o
ritmo que seus dedos desceram até encontrar minha bunda, apertando com
tanta força que o fôlego ficou preso na minha garganta. Assim que sua
língua rodeou a ponta do meu mamilo e os dentes rasparam até retornar aos
meus lábios, seus quadris se abaixaram e encontraram os meus pela
primeira vez, nossos membros esfregando um no outro.
— Louis... — ele estava gemendo meu nome. Soava pecaminoso na sua voz
rouca, com o seu tom que exclamava sexo em cada sílaba. Senti o momento
em que meu pênis liberou mais pré-gozo e molhou a cueca, o tecido a ponto
de se tornar desconfortável. Arfei, apertando suas costas, subindo pelas
costelas até encontrar seus cabelos e puxá-los. Era desesperado, apressado,
meus ouvidos tomados pelo sangue pulsando.
extasiado tanto pelo fato de ter chegado até ali sem me desesperar quanto
pela visão que tinha a cada vez que olhava para cima.
Eu estava no céu, embora parecesse que a cada vez que seu gemido chegava
aos meus ouvidos e seu pau duro encostava no meu, Harry estivesse me
arrastando até o inferno.
Parecia estar com raiva, frustrado. — Está rangendo muito. Vamos acabar
acordando alguém.
— Muito.
— Uhum...
— Palavras, Lou.
Pela forma que seus dedos apertaram minhas nádegas por cima da calça a
ponto de separá-las, eu já sabia onde, exatamente, ele queria me chupar.
devagar... Porra... Eu seguraria suas mãos para trás e lamberia suas costas,
deixaria chupões nela sem pressa nenhuma. Até alcançar sua bunda. Então,
eu te chuparia e mataria a vontade de–
Ele deixou os dedos deslizarem para fora da minha boca e os substituiu com
a sua, beijando-me e me fazendo perguntar de onde tirava força para me
sustentar contra a parede durante longos minutos. Puxei seus cachinhos
suados para fora e beijei seu rosto inteiro, parando nas
Ele me deixou pôr os pés no chão, mas tive de me sentar na beira da cama
por causa das pernas trêmulas. De sobrancelhas franzidas, olhei o meu
abdômen coberto pelo líquido espesso e a boxer molhada na parte frontal
inteira.
— Ao menos vou saber que fui a razão das suas olheiras ou dos bocejos. E
valeu muito a pena. Porra, Lou, seus gemidos são tão...
Harry colocou minha boxer suja dentro da mochila e disse que lavaria junto
com as próprias roupas, já que no dia seguinte seria Jay a lavar as roupas e
ela acharia estranho se eu me oferecesse. Limpei nós dois com uma flanela
úmida antes de nos enfiarmos debaixo do cobertor com os pés quentinhos
por meias de lã – ele vestiu um par com desenhos de tartarugas e eu,
peixinhos. Estampas estranhas, hum?
de
mim.
Por vezes, eu tinha a sensação que, sem os seus enigmas e o olhar vazio,
Styles se quebraria. Ao contrário de uma rosa que sobrevive ao frio para
reviver sob o calor, Harry parecia estar dentro de um inverno rigoroso há
muito tempo. Meu maior medo era que ele desistisse de esperar pelo verão.
dentro
do
moletom.
Fechou
os
olhos
A estação de trem estava mais calma do que estaria no horário de pico após
as cinco da tarde. O grande relógio acima de nossas cabeças indicava seis e
vinte da manhã e o piso de linóleo estava perfeitamente polido a ponto de
fazer eu me sentir mal pelos Vans sujos de barro. Eu não sabia se tinha
cheiro de desinfetante porque Harry estava tão perto a ponto de eu não
sentir mais nada a não ser o perfume dele.
— Entendi.
— Você está meigo. Com sono, de óculos e bochechas coradas, coisa e tal.
Quer um café?
— Harry. Seu primo sabe que você não é... Huh. Que não namora com
Julie.
— Não. Vamos ter que fingir ser amigos perto dele, Lou.
Desculpa.
— Tudo bem.
Eu só queria que Harry pudesse ser quem ele realmente era sem mais
obstáculos, sem fingimentos. Mas isso também prejudicaria Julie. Parecia
um beco sem saída.
Tivemos que esperar uma senhora pegar o café para podermos fazer o
pedido. Um garoto negro sorridente, alto e de cavanhaque estava atendendo
na bancada, mais feliz às seis da manhã do que eu estaria até mesmo no
meu aniversário. Senti inveja. Quando chegou a nossa vez, deixando-me a
ponto de perguntar sobre os scones, o olhar intenso dele imediatamente caiu
sobre Harry com um arquear de sobrancelhas. Fui capaz de sentir Styles
enrijecer ao meu lado.
— Harry. — disse, um sorriso morno e os dentes aparecendo. — Quanto
tempo.
Balançou a cabeça, piscando para a mão dele que agora estava no meu
quadril. Hah. Harry virou o rosto pra mim e eu aproveitei a oportunidade
para enfiar a mão no bolso de trás do seu jeans. Ciúmes era um sentimento
novo pra mim.
— Ele é alto.
Então...
Estreitei os olhos, lutando contra um sorriso. — Clichê.
Harry se afastou no mesmo instante e meu coração não deveria ter apertado
da forma que fez. Nossa distância era necessária.
A primeira coisa que notei foi a forma que os cabelos loiros pareciam
brilhar sobre a iluminação fraca do final da madrugada, além do sorriso
aberto e uma postura que deixava óbvio que ele era algo a mais que um
simples cara chegando da Irlanda. A primeira vista, parecia legal, e seu
conceito, que estava no zero, subiu para dois quando ele olhou para a garota
ao seu lado com um sorriso que dava a entender que ela carregava o mundo
entre as mãos.
Ela estava de saltos altos, os cabelos pretos caindo sobre o vestido branco e
a trench coat com estampa de leopardo ou algo assim. Os dois estavam de
óculos escuros e eu me senti meio bosta por estar com a camiseta do pijama
e duas meias diferentes.
Não demorou para que Niall pegasse todas as malas e nós fôssemos para o
carro ouvindo sobre como a viagem deles havia sido agradável, como
haviam tomado "o champagne que poderia ser melhor devido à comodidade
esperada de uma primeira classe" e como escaparam para o banheiro em
certa hora. Harry murmurava um "uhum" de vez em quando, revirando os
olhos fora de alcance da vista deles.
Zayn nem parecia estar ali, praticamente carregado por Liam ao entregar a
chave do carro a ele.
— Digo, eu amo a cidade. Mas poderia fazer sol, não poderia? Vocês não se
incomodam? Olha isso, que tempo horríveeeel.
— Você não acha que continuar usando casacos que imitam pele dará a
ideia de que isso é correto? Que matar animais para fazer dinheiro com a
moda é... Correto?
— Zayn... É o seu nome, né? — virei-me para trás a tempo de vê-la tirando
os óculos. — Gostei de você. Vamos conversar mais sobre isso, ok?
— Ok.
— Ok. — repetiu.
Quando tentei me mover para o lado e jogar a coberta sobre a cabeça, fui
impedido com uma mão firme no meu ombro, o que me fez despertar no
mesmo instante com o coração já acelerado dentro do peito. Olhei para
cima e me deparei com Harry em cima de mim, as coxas à altura das
minhas costelas e uma câmera Canon entre as mãos cobrindo parcialmente
seu rosto; não consegui me irritar por causa do susto. Ouvi o clique do
obturador novamente e nem me dei ao trabalho de questionar como é que
ele estava ali às... Peguei meu celular na mesinha de cabeceira e liguei a
tela, grunhindo pela claridade quase incendiando meus olhos. Seis e vinte e
cinco da manhã.
— Bom dia, Lou. — vi um sorriso de canto nos lábios, embora meu quarto
ainda estivesse, na grande maioria, imerso na escuridão proporcionada pelas
cortinas escuras.
— Bom dia. Me diz que você não está tirando fotos minhas nesse estado.
Vou te processar.
Ouvi um suspiro. Pelo jeito, queria contar algo impressionante ao estilo fim
do filme Cartas para Julieta.
Depois da primeira vez que pude sentir sua pele livremente e tocá-la como
se cada centímetro tivesse sido moldado para mim, depois de ter gozado por
causa dele, eu parecia estar em um ritmo frenético o tempo inteiro. Era
ridículo e adolescente demais. Porém, eu nunca conseguiria me acostumar
com aquilo, com o fato de poder beijá-lo quando quisesse. O que não
parecia valer muito quando fingíamos não nos conhecer nos corredores da
escola.
— Muito. Estou feliz por você, H. — disse sinceramente, trazendo sua mão
até minha boca para beijar seus dedos.
quarto estava vazio, mas ouvi conversas lá embaixo e deduzi que Harry
estava na cozinha com Lottie. Vesti o uniforme, peguei a mochila e o paletó
e desci ainda com a gravata desfeita em volta do pescoço. Eu sentia inveja
dos jogadores do time, já que eles eram os únicos que podiam burlar as
regras da escola em relação à uniforme.
Lottie já estava vestida com o uniforme e com a boca cheia do que parecia
ser cereal, os cabelos amarrados em um rabo-de-cavalo alto e os olhos meio
fechados de sono.
O nome era estranho pra mim. Parecia muito menos que uma irmã,
igualava-se a uma conhecida distante.
— Vocês conversaram?
Fiz a caneca de chá para Harry e entreguei a ele, vendo que fingia não ouvir
a conversa. Na verdade, eu não sabia ao certo se estava ouvindo, parecia tão
concentrado na Canon, um brilho nos olhos que era completamente novo.
Espiei sorrateiramente só para confirmar que ele estava vendo as fotos que
havia tirado de mim. Pelo jeito, eu era o motivo das covinhas.
— Você sabe que pode ir se quiser, certo? Nova York deve ser linda no ano-
novo. Ouvi falar que eles fazem um espetáculo de–
Fui puxado pela mão até estar de cara com dois olhos verdes e curiosos,
rugas de concentração entre as sobrancelhas. Ele não disse nada, somente
puxou os lados da gravata e começou a dar um nó perfeito com os dedos
ágeis, roçando a unha no meu pescoço vez ou outra.
— Louis–
la piscar, assustada, por causa do meu tom de voz mais alto que o normal.
— Ok?! Para... Que saco. A gente discute isso outro dia. Não agora, não
hoje.
Merda.
— Eu liguei pra minha irmã ontem. Depois de achar a câmera... Eu- Não
sei, eu estava feliz, tipo, eu me sentia feliz e uma parte de mim pensou que
talvez ela tivesse me perdoado e talvez eu pudesse falar sobre você, sobre a
câmera e sobre mim pra ela. Porque ela é mais velha e ela sempre me
apoiou antes de ir pra Harvard.
Passei os polegares pela área escura abaixo dos seus olhos e ergui os dedos
para a linha do seu cabelo.
— E o que ela disse?
— Vou. Tentar. — ressaltei, mas mesmo assim foi o suficiente para que seu
sorriso aumentasse. — Como é o nome dela? Da sua irmã?
— É?
— E acho que a senhora deveria ir ao médico e ver como essa garganta está,
hum? Essa gripe de hoje em dia...
Abri o Facebook e dei uma olhada para Styles, que estava entre os
jogadores do time, sentado na mesa e com a mão na cintura de Julie e os
dedos traçando distraindo círculos sobre o quadril dela. Digitei Gemma
Styles e cliquei no primeiro perfil que apareceu abaixo da barra de pesquisa.
Harry com suas covinhas inconfundíveis devia ter cinco ou seis anos e
Gemma era um pouco mais velha. Anne e Desmond se abraçavam e
Gemma, parada atrás de Harry, apertava as bochechas dele com vontade, o
que não foi capaz de fazê-lo parar de sorrir.
— É a família do Harry.
— Ah.
— É.
Continuei vendo algumas postagens até que Zayn cutucou minhas costelas e
olhou, confuso, em direção as bandejas do almoço. Lottie discutia com
outra aluna, abrindo os braços e gesticulando exageradamente. O rosto
estava começando a ganhar mais cor, o que, pela minha própria experiência,
significava que a paciência tinha ido embora.
— Charlotte...
— Pense duas vezes antes de falar. Você ainda é sustentada pelos pais e
tenho certeza de que te oferecem como um ótimo exemplo a todo mundo.
Não gostariam de saber que a filha é uma viciadinha que tenta se fazer de
superior na escola que tanto eu quanto Lottie pagamos igual a você.
— Bem, se pessoas como você não olhassem tanto para o próprio nariz,
talvez os mendigos que você acha que servem como exemplo para uma
ofensa não morreriam todos os dias nas ruas do mundo inteiro. — coloquei
a mão no ombro dela, balançando a cabeça. — Para de ser fútil, garota.
Segundos depois, ela chacoalhou o ombro e fez minha mão cair, mostrando
o dedo do meio (muito maduro) antes de se afastar com a cabeça erguida e
as mãos no bolso do paletó.
— Irmão e irmã?
Juntei nossos dedinhos e ela sorriu. Claro que, dois segundos depois, torceu
o meu dedo até que eu a empurrasse e ela me empurrasse de volta.
Li a frase escrita em uma letra bonita no post-it rosa e não precisei olhar a
frente para saber de quem era. Conferi se o professor ainda corrigia as
redações e me inclinei um pouco enquanto fingia continuar ler o livro.
Tínhamos vinte minutos de descanso após a produção da redação e cada um
gastava como quisesse contanto que não fizesse barulho.
— Sem tirar fotos minhas. Não fui feito para ter fotos em boa qualidade,
sabe? Tem que ser uma câmera bem porcaria para esconder os defeitos.
— Baby...
Ele riu, estreitando os olhos que ficavam ainda mais verdes sob a luz do sol
fraco entrando através das grandes janelas da classe.
— Anotado. Lou?
jeito. — ele inclinou a cabeça pra trás e eu resisti a vontade de apertar seus
ombros para desfazer a tensão aparente mesmo por cima do casaco. —
Quero fumar. Tá a fim de sair da sala?
— Oi. — beijei o topo da sua coluna ao mesmo tempo em que ele levou o
cigarro à boca, apertando a mão na minha coxa. — Eu vou ao pub hoje se
você conversar com Jay.
— Certo.
— Falta uma semana e meia para o ano-novo. Não sei como ainda não está
nevando.
Seu corpo enrijeceu e eu sabia que não era por causa do frio. De qualquer
forma, deslizei as mãos pelos seus bíceps, querendo mais que tudo cobri-lo
com o casaco novamente.
Eu descobriria o que o deixava tão fechado em relação a mim dali a uma
semana. Não conseguia parar de pensar, de procurar milhares de teorias em
lugares das minhas poucas lembranças compartilhadas com Harry que nem
deveria estar visitando.
— Depende da mudança.
frias, claro. Eles precisam um do outro para sobreviver, para produzir calor
e tal.
Virei o rosto para tentar extrair alguma informação de sua expressão que
pudesse explicar a mudança abrupta de assunto. Harry fazia isso com
frequência, verdade, mas...
Eu senti que tinha algo a mais. Alguma razão por trás que coincidia com a
noite do ano-novo. Ele não me ajudou muito. Não quando o único
movimento aparente era o dos seus dedos segurando o cigarro.
— Eles procuram incessantemente por uma. Eles precisam dela para viver,
não é como se pudessem ficar sem.
Silêncio.
— Harry.
— Sim?
Suas
mãos
me
apertaram
mais,
mantendo-me
Harry sorriu de onde estava posicionado atrás de mim, como uma proteção
sutil, e Angelina acenou. Liam e Zayn ainda estavam conversando baixinho,
partilhando sorrisos que pareciam tão particulares a ponto de me deixar
envergonhado por olhar.
Niall explicou à namorada que Styles era capitão do time e Liam era um
dos melhores jogadores. Meu celular vibrou.
"Talvez devêssemos beber para enfrentar o que vem por aí. Meu Xbox está
nos esperando :("
— Íntimos?
Por isso, quando a palavra "íntimos" me atingiu, a primeira coisa que eu fiz
foi encarar Harry. Até mesmo um sinalizador no centro da Times Square
seria mais discreto.
Ou tentou. — Harry adora ficar sem roupas perto de amigos íntimos, não
sei se você já chegou a esse estágio.
Movi o olhar de Niall para Angelina e isso foi um erro. Ela me encarava
com a sobrancelha erguida, algo na linha ao lado de seus lábios revelando
que sabia mais que o namorado.
— Porque ficar pelado é uma coisa ótima, duh. Por que você acha que a
gente nasce assim? Agora, se vocês quiserem ir comigo ao bar e perguntar a
Julian sobre os hambúrgueres, seria ótimo. Obrigado. — Harry tirou o
casaco e o deixou no meu colo, inclinando-se rapidamente. — Já que não
vai beber, quer algo a mais?
— Refrigerante?
los e Zayn veio para o meu lado, olhando em volta com as mãos agarrando
meu braço, inseguro como usual.
O tom de voz que emitiu aquelas palavras era calmo, em contraste com o
batimento do meu coração. Angelina estava sorrindo, o dedo mexendo
tranquilamente a pulseira dourada no pulso e a cabeça levemente inclinada.
— O quê?
— Está querendo dizer que somos inimigos? Que eu o odeio ou algo assim?
— E mesmo assim você não negou que são muito, muito mais que amigos.
Harry te olha como se você segurasse o sol. Como se você fosse o sol, na
verdade. Como se ele fosse agradecido por você existir – o que tenho
certeza que é. É o mesmo jeito que Niall me olhava desde que iniciei o
tratamento e é como me olha agora.
— Ah! — havia uma curva gentil nos seus lábios ao notar como tanto eu
quanto Zayn estávamos confusos. —
— Niall e você namoram há cinco anos? Porque ele tem vinte e um e você
também, né?
Ela riu alto, verdadeiramente. A curva gentil em volta dos lábios vermelhos
de batom estava ainda mais ressaltada.
— Eu amo que você tenha ficado mais pasmo com o meu namoro do que
com o fato de eu ser trans.
Encolhi os ombros
— Não há porque ficar pasmo, Angelina. Somos o que somos, yeah?
— Muito. Obrigado.
Porra?
— Então...
— O quê?
Ele apenas sorriu.
Nunca.
Saímos do pub perto das três da manhã e após duas ligações de Jay nas
quais ela precisou conversar com Harry e se certificar que ele não estava
bêbado. A conta foi paga, Julian nos ofereceu cake pops e cada um pegou
um palitinho antes de seguirmos para fora, agradecendo-o com as vozes
alegremente altas. Estava frio e bastou o primeiro passo na calçada para
notar que alguns flocos de neve começavam a cair lentamente.
folhas que ainda não haviam sido cobertas pela fina camada branca. Dez
dias, repeti mentalmente, sentindo Harry procurar minha mão para juntar à
sua através do espaço entre os bancos. Sua cabeça estava encostada à
janela, os lábios repuxados em um sorriso tão leve e sereno que não
expunha nenhuma covinha. Mas era tranquilo e, engolindo em seco, pensei
que era assim que ele deveria se sentir o tempo inteiro.
Dez dias.
Fui até lá, forçando meus cabelos a permanecerem no lugar. Mais dois
passos. Harry e Niall. Mais dois.
Então ouvi.
— Você não pode! — Niall exclamou e um estrondo ecoou pelo espaço frio
me cercando. Eu não conseguia me
— Você nem sequer deveria ter visto os papéis. Você não tem nada a ver
com isso, com a minha vida.
— É.
— Isso é suicídio.
— Niall...
Dei um passo atrás, esbarrando na mesa atrás de mim para só então notar
como minhas pernas também tremiam.
Eu corri.
O carro estava ligado e eu suspeitei que Liam tinha ajudado, já que havia
acordado em algum ponto dos minutos anteriores. Bati a porta com força
atrás de mim e
não ouvi a mim mesmo dizendo para Zayn dar partida e sair dali. Não ouvi
meu choro ao olhar para o lado e me deparar com Harry parado no fim da
escadaria, parecendo encarar direto o meu lado de dentro, encarar tudo o
que eu estava sentindo, embora não conseguisse ver sequer meu rosto
devido aos vidros escuros. Não me ouvi sussurrando por favor baixo entre
minhas mãos, os pés sobre o banco e os joelhos encolhidos.
Baixo, baixo e baixo. Tudo pioraria. Naquele momento, não passou pelo
meu raciocínio corroído a palavra salvar ou... mostrar. Mostrar porque ele
deveria ficar.
O problema era que eu estava me sentindo uma peça fora do lugar, dentro
da caixa errada. O celular vibrava contra minha coxa ao menos duas vezes a
cada dez minutos. Era quatro e meia da manhã. Eu não chequei as
mensagens e não precisava. Sabia quem estava as mandando.
Aproveitar os dias sabendo que ele morreria no final por causa das malditas
pílulas.
Eu havia conhecido o mundo com Harry Styles nele, por trás das covinhas,
do verde excepcional e dos desenhos animados com significados
extremamente profundos e particulares, e não queria que aquela visão,
aquele toque e sua forma rara de lidar com simples aspectos fossem
embora. Não queria que ele fosse embora.
A parede branca fazia meus olhos arderem, mas foi a encarando que eu
consegui dormir.
Foi com a desculpa clássica de gripe que me esquivei das perguntas de Jay e
de Lottie, embora elas estivessem animadas demais com meu aniversário
dali a dois dias para prestar muita atenção na maneira de merda que eu fazia
tudo. Mais uma noite sem dormir.
frio que irradiou pelo meu corpo por baixo do uniforme assim que pisei no
início do corredor não tinha nada a ver com o piso limpo e os armários de
ferro. Me sentindo mal por fazê-lo, suspirei aliviado ao percorrer o olhar
pelas
— Oi, Tomlinson.
— Hum... — Zayn ajeitou meu paletó e depois o cabelo como uma mãe
orgulhosa do filho antes do baile de primavera. — Wild Wolves têm treino
hoje após a escola e... Quer ir?
"Sinto muito que tenha ouvido pela boca de outra pessoa e sinto muito que
eu não tenha contado antes. Sinto muito por tudo."
Dezoito anos e uma grande bagagem cheia de nada em todos aqueles anos.
Que merda eu fazia o tempo inteiro para não me lembrar de algo especial,
para não me sentir especial?
Jay precisou ir para o trabalho e Lottie havia ido para escola. Eu não fui de
novo e a desculpa da vez era o aniversário. Grande dia, grande alegria. Yay.
— Oi, Angel.
Ela tirou o olhar das plantas já abatidas pela temperatura baixa e sorriu
pequeno e polidamente pra mim. Vi seus dedos apertarem ainda mais a alça
da bolsa.
Assentiu, passando por mim de cabeça baixa. Fechei a porta atrás de nós e a
guiei até o sofá, esperando-a se sentar para poder fazer o mesmo. A julgar
pela sua expressão, eu já sabia do que se tratava, e não queria ouvir.
— Quer chá?
— Não é isso. A casa do Harry é tão gelada e a sua parece ser tão... quente.
Não no sentido literal, se me entende. Agora sei porque ele diz que gosta
daqui.
A pergunta saiu da minha boca e não me deu nenhum tempo para segurá-la:
— Ele diz?
tentando
mascarar
minha
surpresa
— Angel. Desculpa, mas não quero falar sobre isso, pode ser? Não quero
ter que pensar no que pode acontecer. Ao menos não agora.
— Ele ligou pra irmã ontem. — continuou como se eu não tivesse dito
nada, o timbre determinado não deixando espaço para minha objeção. Calei
a boca. — Não sei o que Gemma disse, mas não deve ter sido bom. Não
pela forma que ele subiu pro quarto tentando fingir que não estava
chorando. As coisas estão uma merda ainda maior desde o momento em que
você foi embora naquela madrugada. Ele não dormiu aquela noite, passou
horas e horas fumando cigarros e escrevendo notinhas que depois escondeu.
E acho que você também não dormiu.
Uma pequena faísca de raiva e irritação percorreu meu corpo inteiro,
fazendo surgir um sentimento que eu não conhecia, que não tinha a mínima
ideia do que era.
Louis.
Estou
aqui
porque
dois
garotos
— Conversar sobre o quê? Você realmente não sabe como é perceber que o
garoto que me conquistou de uma hora pra outra estará morto daqui pouco
tempo. Não porque ele está doente, mas porque ele quer morrer.
— Você sabe que ele já tem os comprimidos, certo? E
sabe o que esses comprimidos farão. Mas... ele não tomou a primeira pílula,
ok? Ele vai tomar no ano-novo; por isso, aparentemente, ele te contaria
nesse dia. Se isso te faz pensar em algo, não hesite. Não perca tempo,
entendeu?
Essa conversa entre nós pode ser uma memória daqui alguns meses, não sei
se benévola ou não.
Harry não havia tomado a primeira pílula. Ainda não. Era uma esperança?
Talvez alta, que fosse. Mas era...
Ele sabia o que estava fazendo ao me dar aqueles ingressos. Peguei o post-it
rosa no fundo da caixa e passei o dedo pelo curto relevo da letra de Styles,
mordendo o lábio com força.
gostar
do
festival.
Não sabia o que fazer e, mesmo se soubesse, com certeza não teria coragem
o suficiente. O celular estava em minha frente, um convite proibido para me
livrar da angústia e finalmente seguir em frente e falar com Harry.
Mas não foi para ele que liguei quando obtive cinco segundos de loucura
extraída de toda a frustração excruciante.
— Alô?
A voz dela era suave, calma até. O timbre estranhamente familiar mesmo
após tantos anos me deixou em silêncio porque não tinha a mínima noção
de como começar uma conversa. Eu não podia falar que sentia a falta dela
porque não sentia.
— Hum... oi. — atrevi-me a falar, torcendo para que não soasse tão
estranho quanto parecia. — Oi. Sou eu, Louis.
Apesar de saber que não tinha algo a ver com a minha atenção ao telefone e
sim ao silêncio tomando a linha, pressionei mais o celular contra o ouvido.
Ouvi a respiração pesada dela e me senti desconcertado mesmo que
ninguém pudesse me ver, mesmo que estivesse completamente sozinho.
Olhei para a barra do meu suéter e com os dedos gelados, puxei a linha
solta na barra, esperando por uma palavra dela.
— Oi. — disse finalmente. A voz era ainda mais leve quando tomada por
reconhecimento e surpresa. Não a culpava, também não sabia o porquê de
ter ligado. —
— Bem. Você?
— Não, não. Não desliga, por favor. Está tudo bem, não me importo. —
repetiu em um murmúrio: — Não desliga.
— Estamos, é. Faz alguns dias. — riu baixo antes de ruídos macios soarem
no meu ouvido, como um edredom sendo afastado. — Ela fala muito de
você e da mamã–
Jay. E de Jay.
— Felicite... eu só estou ligando para me certificar de que Lottie saiba que
eu nunca vou para Nova York, ok? Sei que não estou na posição de te pedir
algo, mas se ela mencionar, corte o assunto. Não quero que ela fique
magoada porque não suportaria vê-la triste.
— Você sabe que não precisa ficar necessariamente aqui, não é? Há muitos
hotéis por perto e–
— Não vou. — sibilei, largando a barra do suéter assim que me dei conta de
que já havia tirado um longo fio de tecido. — Nunca.
Parou aí.
— Obrigado.
ele não estava ali para comê-los. Mamãe, Lottie e eu acabamos encolhidos
sob a coberta em frente à televisão, devorando pedaços gigantes de bolo e
assistindo silenciosamente Grease porque, sim, era meu aniversário e sim,
eu tinha o direito de cantar todas as músicas sem que Lottie zombasse de
mim.
No dia seguinte pela manhã, eu me vi parado em frente à casa de Harry com
as mãos geladas dentro das luvas e o coração surtado. Os grandes portões
estavam fechados e o curto trajeto até a casa delineado por árvores altas
parecia convidativo demais de uma forma que nunca havia parecido. Apesar
de luxuosas, as mansões vizinhas exibiam
orgulhosamente
as
decorações
natalinas
conforme eu passei por elas, e ver que a casa de Styles estava tão apagada
quanto minha vontade de entrar ali era um pouco pesado.
Digitei a senha que ainda estava fixa no fundo da minha cabeça e entrei
com o Volvo, pensando em dar meia-volta e sair dali o tempo inteiro até
que, finalmente, o pátio se estendeu em minha frente e a casa entrou dentro
do ponto de vista. O Audi estava ali, estacionado de forma desleixada
abaixo das escadas que levavam até a porta.
Não entrei pela sala. Contornei a casa e entrei pelo mesmo lugar da última
noite que havia colocado os pés nos arredores da mansão: a cozinha. A
porta estava levemente emperrada, mais pesada que o normal, e a cada
empurrão forçado com as mãos rígidas, eu sentia meu peito contrair. Até
que o ferro cedeu com um ruído
— Hum... — olhei pra trás, constatando que não havia para onde correr de
novo, e entrei de vez na cozinha, fechando a porta atrás de mim. — Oi?
Devido à perda de luz que vinha lá de fora, a cozinha estava mais escura.
As luzes que pendiam acima do balcão localizado no centro do cômodo
davam conta do recado parcialmente, mas compensava por causa do calor
na casa. Era um alívio para os meus dedos quase congelados dentro do
tênis.
Quem é você?
— Você pode ser uma estelionatária. Por que eu te diria meu nome? Eu é
quem deveria estar te perguntando isso.
— Qual é, eu nunca soube mentir. Sou lerda demais para roubar algo. Ainda
mais uma propriedade como essa, fala sério. Seu nome? — perguntou de
novo.
— E o seu? — indaguei.
Eu queria rir. Estava nervoso e dar risada sempre foi minha válvula de
escape. Eu não sabia quem era a garota e, com um soco no estômago,
cogitei a possibilidade de Harry e ela terem dormido juntos. Então menti
sobre o que eu era dele porque não queria me sentir um perdedor caso os
dois realmente tivessem transado ou...
— Primo? — Joan sorriu. Ruguinhas apareciam nos cantos dos seus olhos.
— O velho e famoso incesto, então? Pênis com pênis e laços de sangue, que
fofura.
Tem vídeo?
Sim. — Harry apareceu. Ele é bonito, você sabe disso, e atrai a atenção de
qualquer pessoa que esteja com a cabeça erguida. Bebeu bastante e chegou
em mim, dizendo que eu me parecia com uma pessoa. Me chamou para vir
aqui e eu deveria ter notado que ele não prometeu sexo. — suspirou como
se o fato realmente a incomodasse. Incomodava a mim também. — Ele se
deitou, cheirou rápido e me chamou para deitar ao seu lado. Aí adivinha o
que aconteceu? Isso. Harry ligou o Netflix, colocou Procurando Nemo e
dormiu após algumas crises existenciais. Eu só dormi ao lado dele. Porra,
que cama boa.
— Cheirou?
— Cocaína. — respondeu.
Esfreguei os olhos com a palma da mão e abaixei a cabeça por alguns
segundos, distraindo-me com o contraste dos meus tênis sujos contra os
azulejos polidos.
Cocaína. Ok.
Assisti Joan bater a porta atrás de si e eu não estava a fim de saber como ela
ia embora ou como abriria o portão porque seu tom sarcástico ao pronunciar
a palavra "primo"
Ele piscou tão devagar quanto disse ainda com a voz rouca e grossa de
sono:
Mentalmente, dei dois tapinhas orgulhosos nas minhas próprias costas por
não ter gaguejado.
— Tenho vergonha. E medo de rirem de mim ou zombarem, não sei... —
murmurou, deixando as pálpebras pesadas cobrirem as íris verdes.
Continuou falando ao segurar meu pulso com firmeza, quase como se
estivesse me impedindo de fugir dele. — Mas acho que eu deveria.
Harry sorriu. Ele parecia drogado e não no sentido literal, mesmo que
tivesse cheirado cocaína na madrugada anterior – eu precisava descobrir se
isso era constante.
Drogado por estar alegre. Como se estivesse entorpecido por sorrir após
passar algum tempo olhando o vazio.
Retirei a mão do seu alcance, colocando-a entre minhas coxas para afastar a
sensação de formigamento. Nenhum de nós pareceu muito feliz com a
decisão, mas eu precisava de lucidez.
— Precisamos conversar.
Chapter Fourteen
Eu odiava arcar com responsabilidades.
Estava mais para o recorde alto do Flappy Bird que eu não conseguia bater.
E, mesmo que continuasse tentando por um mês inteiro, ainda não
conseguiria alcançar. E, bem...
Hoje?
— Eu te contaria no ano-novo.
Eu não queria que você entendesse algo errado e começasse a criar falsas
esperanças sobre me salvar
— Harry–
Assisti ele pôr pasta de dente na escova azul. Nossos olhos se encontraram
no espelho por poucos segundos e eu me considerei um pequeno passo
adiante por ter conseguido manter o contato até o momento em que Harry
abaixou a cabeça para começar a escovar os dentes.
ele voltou a me encarar quando eu disse seu nome. — Eu caí por você no
segundo em que te vi no campo, naquele maldito jogo, e eu quero um sinal
de que você também está caindo por mim porque nós dois já nos
machucamos demais sozinhos.
Não tive uma resposta, mas estava tudo bem porque sabia que não obteria
uma. Ele terminou de escovar os dentes em silêncio, enxaguou a boca e
passou os dedos pelos cachos emaranhados, acabando os bagunçando mais.
Quando seus dedos pararam na barra da cueca, eu virei a cabeça e saí dali.
Sabia que tinha feito de propósito para eu deixá-lo sozinho.
Que eu sou um egoísta — era uma afirmação, não uma pergunta. Eu odiava
o fato de a sua voz rouca ter assumido um tom tão monótono. — Porque é
verdade e porque não há nada que você possa fazer sobre isso. Eu deveria
ter me afastado, eu sei, e nunca vou poder expressar como sinto muito por
não tê-lo feito.
Harry passou a toalha uma última vez pelos cachos e caminhou de volta à
suíte para jogá-la dentro de um cesto.
— Você não me odeia porque acredita que pode me fazer mudar de ideia.
— Harry–
— Louis, me escuta. É isso, ok? Não é sobre você, não é sobre a gente. É
sobre mim — apontou para o próprio peito, deixando os braços caírem ao
lado dos quadris com um gesto pesado. — Eu estou cansado... cansado de a
minha irmã não parar de falar que eu ajudei a arruinar a família,
que
me
odeia
por
ser
gay
me
odeia por eu ser... eu. Que mereço ficar sozinho. Cansado da lembrança de
Desmond dizendo que nem sequer queria um filho. Que odiava minha
mãe... cansado porque minha mãe não está aqui e porque ela amou um cara
que a abandonou no mesmo instante. Eu só quero que isso pare.
— Por que comprimidos? — foi a pergunta mais estúpida de todas. Por que
você quer se matar tomando comprimidos? — E há quanto tempo você os
tem?
Por que você ainda está aqui, Louis?, minha consciência me alertava aos
berros. Vá embora! Vá!
conhecido
um
garoto
vazio
dilacerado
Eu queria ele. Queria fazê-lo sorrir, queria acreditar que ele poderia se
sentir amado. Sentir como se o mundo estivesse aberto a ele.
— Você não tem noção do que está me pedindo, Louis. Eu não posso fazer
isso com você, não posso ser egoísta e estar com você sabendo que eu te
deixarei sozinho. É
— Julie também. Eles sabem disso, tenho certeza, e você os deixou ficar.
Me deixa ficar. Mesmo se for como um amigo.
— Se você fosse embora, uma parte de mim iria junto e uma parte sua
ficaria. Vamos ser inteiros juntos, Harry.
— Não por muito tempo — ele me lembrou com uma longa inspiração. —
Eu quero que você pense. Leve o tempo que for, vá pra sua casa e pense
sobre isso.
Pensa. É uma concessão gigante e nenhum de nós faz coisas muito certas
perto um do outro. Eu posso responder suas perguntas por mensagem, mas
não quero que você me veja de novo antes de decidir "Harry, eu serei seu
amigo mesmo sabendo que isso não existirá daqui um tempo". Preciso que
saiba que não há o que fazer em relação a mim, o que mudar, e que não
preciso de pena ou de atos heroicos.
Assenti. Eu não seria o herói, eu sabia que eles não existiam. E qualquer um
que bancou o salvador da pátria, acabou ou enforcado ou desaparecido; os
que acabavam bem faziam parte da ficção.
Eu comi. Para não precisar responder perguntas, enchi minha boca de pernil
e salada de batatas. Para resistir à tentação de pegar o celular, mandar uma
mensagem a Harry, devorei metade da torta de pêssego. Sorria nos
momentos certos, acenava polidamente com a cabeça como um fantoche
para as especulações indelicadas dos tios que possuíam personalidades
desprezíveis, assisti à televisão e me mantive quente dentro do moletom
grosso e antigo, mesmo que Jay tivesse insistido para eu vestir o casaco de
lã que ela havia acabado de comprar.
Eu vestia meu suéter mais bem alinhado que possuía, mas mesmo assim
parecia algum tipo de caridade ao lado de Liam, vestido com camisa de
algodão azul e portando uma
postura ereta. Zayn, porém, me fazia sentir um pouco melhor por estar com
uma camiseta estampada com um patinho de borracha. Havia um balão de
fala direcionado a ele com um "don't know how to quack" escrito dentro.
— Julie vai contar para os pais dela. — Payne disse logo que encontramos
uma mesa afastada, posicionada no canto. Dessa forma, ele podia dar a mão
para Zayn e ninguém veria a batalha de polegares que os dois travavam sob
a toalha de linho. Eu continuava comendo as frutas salpicadas de baunilha
que havia recebido de um garçom no meio do caminho. — E aí, mesmo se
não aceitarem, o relacionamento falso entre ela e Harry vai acabar.
— Yeah.
Harry.
sorrindo, de estar em Londres e nem sequer ter ido ver Harry, engatou um
jato de fúria através do meu corpo. Vê-
la me irritou, estar tão próxima a ela me fez lembrar de que era uma egoísta
insensível.
— Você pode chamá-la aqui? — perguntei a Liam sem tirar os olhos dela.
Zayn não sabia do que Harry queria fazer, mas de qualquer forma, sua frase
me remeteu somente a isso.
"Amigos, então?"
"Amigos."
A primeira vez que nos vimos após firmar o tratado de amizade, foi em uma
festa dada por Harry na véspera do ano-novo. O pátio da casa dele estava
repleto de carros importados e adolescentes com copos de cerveja, Vodka
ou qualquer outro tipo de bebida nas mãos. Eu, por outro lado, me sentia
um pouco desconfortável por estar usando uma
tank
top
levemente
transparente
Lá dentro, aquela lembrança que eu tinha da sala vazia foi evaporada entre
a música alta, a escuridão parcial e as conversas tentando ser maiores que o
volume do som.
Parecia um caos, e Zayn pensava a mesma coisa porque pegou minha mão e
me olhou, assustado.
Do outro lado do cômodo, Payne conversava com uma garota loira, embora
estivesse com os olhos fixos em Zayn. Enquanto o observava, senti um
impulso contra a lateral do meu corpo e isso foi o suficiente para fazer eu
me afastar com o coração disparado na garganta.
— Ei, namorado do meu namorado — Julie sorriu para mim sob as luzes
brilhantes e fortes. Seu sorriso caiu quando viu minha expressão. — Wow,
Louis! Tá tudo bem? Te assustei?
me pertencia mais. — Não. Eu– hum... Harry e eu meio que não estamos
mais juntos?
— O quê?
Eu respondi um pouco mais baixo para que Zayn não ouvisse, o que não era
difícil, já que estava concentrado demais na expressão de gatinho raivoso
enquanto encarava Liam.
do sofá, ao lado dele, e deslizar a mão por dentro da camisa preta que
vestia.
— Opa! — Julie largou meu pulso e vestiu uma expressão exasperada que
me surpreendeu. — Isso é abuso, porra.
Um minuto.
Eu queria arrastá-lo para fora dali, levá-lo à casa da árvore e amarrar seus
braços para que ele não tomasse a primeira pílula, como Angel havia dito
que seria. Mas eu era impotente porque sabia que nunca poderia fazer isso.
— Ei, Chace.
— Ei, Louis — sorriu para mim, tocando meu cotovelo por um único
segundo para que eu saísse do caminho de um
grupo de garotas. — Não sabia que você viria. Ao menos terei alguém para
me fazer companhia à meia-noite quando todo mundo estiver se beijando.
— Opa.
Atrás dele, Liam apertava sua cintura e limpava o canto da boca com os
dedos.
— Liam quer me mostrar o... Hum, a sala de jogos que tem aqui. Você
ficará bem?
— Minha mãe já comentou sobre uma sala de jogos que tem no livro
erótico que ela lê — franzi as sobrancelhas. —
Sorri para assegurar Malik, já que ele ainda parecia desconfiado. — Vai lá,
Z. Ficarei bem.
Com um aceno tímido de cabeça, ele se virou e foi guiado por Liam. Os
dois desapareceram na multidão a tempo de Weak do AJR começar a tocar
alto. O som encheu meus
Acenei com a cabeça. Olhei Styles uma última vez, vendo-o tragar o cigarro
de olhos fechados enquanto Julie parecia irritada para caralho, ainda
sentada na perna dele.
Fiz um pedido silencioso para que o meu Harry ficasse bem e me virei para
seguir Crawford.
Chegar à cozinha foi uma luta repleta de obstáculos pelo caminho, mais
conhecidos como adolescentes bêbados, mas foi um alívio porque era o
único cômodo em que as luzes estavam acesas e era possível enxergar cada
centímetro sem que precisasse estreitar os olhos. Afastei alguns copos de
plástico e me sentei no balcão, puxando a barra da tank top para baixo
enquanto Crawford abria a geladeira e pegava uma garrafinha de
refrigerante pra mim.
confusão. — Como assim ninguém toma atitude com você em festas como
essa?
O único garoto que havia tomado uma atitude comigo queria ser apenas um
amigo porque achava que não me machucaria dessa forma. Harry sentia a
necessidade de não ser um incômodo, por mais que fosse algo bem longe
disso, porque durante toda sua vida, provavelmente havia sido tratado como
um por Des.
— Acho que deveríamos criar o clube dos adolescentes que não são focados
em se mostrar — Chace disse e estendeu a mão, esticando o polegar. —
Clube dos Idosos Adolescentizados.
— Moderadamente.
manhoso
meio
que
aparente
devido
camiseta
quase
transparente.
— Festa legal, Harry — Chace disse alto. Seu tom possuía zombaria o
suficiente para não atiçar meu lado protetor para cima de Styles. Tirei a mão
do seu aperto.
cabeça
para
tentar
recuperar
meus
— Vamos para o antigo escritório de Des — disse por cima da música alta e
eu concordei.
parecia que não havia nenhum outro problema no mundo a não ser a forma
que ele me olhava.
Ele passou por mim, a mão afundada dentro do bolso dos jeans, e foi até a
beira da mesa. Encostou-se à ela ao mesmo tempo em que retirou um maço
de cigarros do bolso, pegando um e colocando entre os lábios. Observei
suas mãos e os cachos bagunçados enquanto acendia e dava o primeiro
trago.
Cruzei os braços em frente ao peito. Não sabia se por causa do frio ou para
tentar me proteger, erguer alguma proteção em volta de mim.
— Então? — perguntei.
— Sim.
— Você aceita meus termos? A gente precisa falar sério, Louis. Eu não vou
estar aqui daqui algum tempo... e sem querer parecer presunçoso, mas eu
realmente estou tentando fazer de tudo para que você não sofra. É isso: o
fim da minha dor e o fim da sua, pode ser? Quando eu morrer, — a palavra
me fez engolir em seco e meus olhos, já contendo a sensação incômoda de
ardência, fecharam-
se por vontade própria. — você não vai mais se incomodar comigo ou com
as coisas que faço você pensar.
— A única coisa que você está me fazendo pensar agora, nesse exato
momento, é que eu tenho uma chance — ele abriu a boca para protestar,
mas ergui a mão e o impedi.
— Não de tentar fazer você ficar ou tentar fazer você gostar mais de mim,
mas uma chance de fazer você feliz.
Arrastei a sola dos tênis no tapete escuro cobrindo boa parte do chão e
abaixei o olhar quando ele sorriu em torno do cigarro. Suas covinhas
aprofundaram ao dar outro trago. Desencostou-se da mesa e veio até mim a
passos lentos. Parou em minha frente. Olhei para os meus Vans surrados e
as suas botas de couro, tentando decifrar de onde havia vindo a coragem
para falar aquilo.
— Não.
Então, completou:
— As pessoas vão ver que você está dançando com outro garoto — eu disse
com o coração disparado quando ele se aproximou, seus dedos entrelaçados
aos meus. Seu peito ficou colado às minhas costas, embora ele estivesse
vigiando para que sua virilha não tocasse minha bunda. —
— Eu não ligo para as pessoas. Julie vai contar para os pais depois de
amanhã sobre Candice e é isso. A menos que você queira que eu pare de
tocar em você... cara, relaxa — ele riu, o som reverberando próximo ao meu
ouvido. — Bonita camiseta.
Seus lábios rasparam na minha bochecha e eu era quase capaz de sentir seu
conflito interno, dizendo para me largar. Éramos amigos. Amigos não
faziam aquilo. Ele espalmou a mão na minha barriga e um garoto gritou
algo sobre faltar cinco minutos para a meia-noite.
A parte mais rápida da música começou.
no meu ouvido e me fez virar para encará-lo. Fingi não notar sua ereção
delineada pelos jeans apertados.
Ele parecia angelical, etéreo e tão leve quanto a atmosfera o cercando. Foi
mais ou menos aí que percebi.
Eu nem sequer sabia onde estava, mas o lençol sob mim era quente demais
para o meu corpo superaquecido.
Até que...
— Onde eu estou?
Com um suspiro pesado, inspirei o cheiro limpo dos lençóis. O céu escuro
continuava a despejar neve moderadamente, fazendo o quarto adquirir um
tom tranquilo e sombreado.
— Hum.
— Você nos impediu de transar, sabia? — ela não parecia realmente brava,
só... ressentida. — E insistiu que queria dormir entre nós. Você ficou bêbado
com duas cervejas, garoto. Precisa se controlar. Zayn queria levar você para
casa, mas você ficava dizendo que Liam tinha o quarto preto da dor ou algo
assim, sei lá. Uma completa loucura.
Soltei uma risada baixa ao mesmo tempo em que sentia o rubor se espalhar
pelas minhas bochechas com uma ardência que me fazia sentir grato por não
lembrar da noite
anterior. Candice também riu antes de virar de costas, fazendo seu cabelo
quase entrar na minha boca.
Obedeci.
Na próxima vez que acordei, foi por causa dos dedos correndo pelos meus
cabelos e voltando, bagunçando, acariciando devagar e me fazendo suspirar
baixinho.
— Não acredito que você está usando essa de amigo pra cima dele — Julie
disse, soando exasperada. Continuava olhando para o teto. — Você sabe que
não vai funcionar, Harry.
— Ainda mais se ele for com a gente hoje — Candice completou. — Não dá
pra se controlar perto de quem você gosta em um ambiente como aquele,
sério.
não
estava
falando
unicamente
do
meu
Supus que era a melhor hora para fingir que estava acordando. Me movi
devagar e fingi esbarrar no quadril de Harry, que olhou para baixo no mesmo
instante. Ele estava vestido com moletom e seus cachinhos encontravam-se
embaixo da touca verde dos Packers.
Pisquei para ele, inclinando a cabeça mais um pouco em direção a sua mão.
— Uhum. E trazer seu casaco... está frio demais lá fora e você se esqueceu
dele ontem.
Julie ecoou um "own" pelo quarto e Candice riu, fazendo Harry revirar os
olhos e acariciar a lateral do meu rosto com os dedos gelados antes de sorrir.
— Fechamos uma parte da boate — Harry explica. — Ela quer que seja um
evento grande, então por que não?
Jay me olhou de onde estava sentada no sofá quando passei pela porta. E
embora houvesse reprovação ao fato de eu ter passado a noite fora de casa,
também havia cautela em sua expressão. Provavelmente por causa de Mark,
o que me fez engolir em seco enquanto tirava os tênis na entrada e
caminhava até ela.
— Até tenho, mãe. Mas não estou a conhecendo porque tem uma Range
Rover na entrada.
— Lottie vai para Nova York daqui uma semana para ver Fizzy. Você vai
junto.
— O quê?! Não... não, eu não vou para Nova York. Eu não vou ver aquela
garota e muito menos ele. Se Lottie quer, ela que vá sozinha.
Tirei a coberta de cima de mim e me levantei sem dizer uma palavra, dando
passos apressados em direção à escada para sair da sala e me livrar da
sensação de aperto dentro da minha própria casa por causa da minha própria
mãe.
Dei a volta no sofá até parar em frente a ela. — Estou pronto. Com vossa
permissão, posso ir?
— Eu vou — ele me puxou para o seu lado e sorriu daquela forma que o
fazia parecer um sapo. — Jay, sei que
Louis
já
dormiu
fora
ontem, mas você acha que... hum... — suas bochechas ficaram vermelhas. —
ele poderia passar a noite em casa?
Eu...
Olhei Harry, pego de surpresa por algo que nem estava sabendo. E fiquei
ainda mais surpreso quando Jay riu, balançou a cabeça e voltou a se sentar.
— Sim, Harry, ele pode. Contanto que vocês se protejam, usem preservativo
e meu filho não apareça grávido... por enquanto. Não se esqueça de
alimentá-lo.
Ela me encarou duramente. — Isso significa que você está querendo transar
sem camisinha?
A palavra tinha um gosto amargo na minha boca. Gosto que somente ficou
ainda mais realçado quando ele suspirou, qualquer rastro de riso eliminado
completamente do seu tom.
— Sim, somos.
— Comprei porque Lottie disse que seria um atentado ao direito dos meus
quadris não fazê-lo.
Ficamos em silêncio. A mão dele quase queimava minha pele de onde estava
espalmada, os dedos longos movendo-se sutilmente vez ou outra.
A versão remix de uma música nova da Lana Del Rey tocava em volume
máximo, deixando-me um pouco tonto assim que coloquei o pé no ambiente
repleto de pessoas gritando e pulando. Drag queens dançavam em palcos
individuais suspensos no ar e as luzes revezavam entre cor-de-rosa, roxo e
verde. Garotas se beijavam, garotos
Principalmente por causa das mãos dele nos meus quadris, guiando-me até
onde quer que fosse.
Subimos por uma escada escura, contornada por luzes vermelhas nos
rodapés e na qual os degraus tremiam a cada batida mais forte da música. De
cima, a visão era ainda mais enlouquecedora, e Harry teve que me puxar em
direção à área VIP para que eu parasse de olhar. Não havia seguranças
impedindo a entrada ou conferindo as identidades; talvez todos ali
respeitassem a área um do outro.
Ouvi gritaria e foi isso o que me tirou da inércia. Bem, foi um erro ter
aceitado sair com casais porque Candice e Julie, Angelina e Niall e Zayn e
Liam eram a definição perfeita de relationship goals. E Harry... bem, Harry
me chamava de "cara" . Bro, pal. Fraternidade pura.
Foi involuntário quando, ainda vermelho por causa da pergunta, olhei Harry
no mesmo instante. Ele me encarou de volta e passou a língua pelo lábio
inferior como se quisesse estar lambendo outra coisa antes de quebrar a
conexão do nosso olhar.
— Você está lindo, garoto — Angel se inclinou para beijar minha bochecha.
Vestia vermelho-sangue estampado no vestido justo e os cabelos estavam
amarrados. Parecia pronta para matar. Ou enfartar Niall... — Conseguiu falar
com Harry ontem sobre...? Você sabe o quê.
álcool
que
Zayn
havia
pedido
Eu não sei o que fazer. E talvez... talvez eu não tenha o que fazer porque
estou perdido. Como vou orientá-lo se nem sequer sei onde estou?
— Talvez Harry precise de alguém que se perca junto com ele antes que
possa se achar. Ele precisa de uma bússola, e precisa encontrar a direção
com alguém porque ele tem essa
sensação
Ele
sempre está pedindo desculpas, sempre quer ser o mais silencioso possível
para não irritar alguém. É coisa da cabeça dele.
— Eu–
Seu braço esfregava no meu a cada vez que ele erguia a garrafa até a boca
para dar um gole. E um toque tão pequeno não deveria me fazer respirar
fundo, mas havia algo na música alta, no ambiente elétrico repleto da nossa
tensão e a privacidade proporcionada pelo escuro que me fazia querer.
Harry soltou uma risadinha baixa e deu mais um gole da Stella Artois, os
lábios inchados envoltos na ponta da garrafa. Tentei focar na conversa, nas
respostas de Zayn que eram um pouco mais altas quando Liam estava o
abraçando de lado, mas... prioridades.
Mais uma vez, eu senti meu coração subir à garganta quando sua mão veio
parar na minha coxa, os dedos alcançando a parte de trás dela e a segurando
firme. Me forcei a continuar olhando à frente como se nada estivesse
acontecendo. Então coloquei a mão em cima da sua, os anéis frios trazendo
um alívio à minha pele quente.
— Do quê?
A loira o olhou estranho pela distração, ainda sorrindo, mas repetiu.
— De quando nós fingimos que estávamos nos pegando no dia que a mãe de
Julie entrou no quarto de repente.
— Cale a boca.
— Assim que comecei a namorar Candice, ele disse que receberíamos lap
dance ao mesmo tempo quando também namorasse. E... você faria um lap
dance nele. Não é, Lou?
Angel e Niall riram alto. Zayn e Liam estavam ocupados demais se beijando.
Segurando-a pela cintura, ele a guiou pelas escadas, descendo até a pista
com toda a maldita elegância do casal real que os dois possuíam. Zayn e
Liam continuavam a se beijar (sério, eles não cansavam?) e Julie continuava
a me olhar, esperando por uma resposta.
— E acho que–
Julie parecia ter arquitetado um plano para atear fogo na cidade inteira
quando se levantou e ajeitou os cabelos. —
Vou dançar com Candy. Preciso mostrar para todo mundo quem é que sabe
rebolar. Liam! Zayn!
— Ahn?! Não, eu não s-sei dançar e... — Zayn ajeitou os óculos, tentando
arrumar o cabelo da forma que podia. —
Eu passaria vergonha. — Era para ter sido sútil, mas vi quando Julie apontou
com a cabeça em direção a mim e Harry. Zayn ainda não havia entendido,
mas Liam sim, por isso puxou meu amigo junto quando se levantou.
Eu danço com você, Z. Harry, Louis, fiquem aí e peçam algo pra gente
beber.
Eles desceram, gritando a música com toda a força desde o primeiro degrau
da escada. Nós ficamos sozinhos, encarando
as
próprias
mãos
procurando
Eu ri.
— Entendi.
— É.
Silêncio.
Engoli em seco. Sua mão parecia pesar mais de duzentos quilos sobre minha
perna. — Agora?
— Eu quero.
— Ok.
Eu só... obedeci. Prezando pelo sucesso dos fins educativos, obviamente. Ele
se acomodou mais no sofá quando me sentei nas suas pernas, minhas coxas
praticamente abraçando seus quadris. A música mudou para uma do The
Weeknd. Eu não sabia onde pôr as mãos, e estabeleci que seus ombros eram
zonas seguras ao mesmo tempo em que os primeiros versos da música
ecoaram em meus ouvidos, as batidas lentas, porém intensas, fazendo-me
não querer desviar os olhos da sua boca.
You don't know what's in store, but you know what you're here for
Ele não desviou os olhos ao abrir mais minhas pernas, apertando os dedos
em volta das minhas coxas como se estivesse ansiando por isso. Puxou-me
para perto. Sua boca estava a centímetros de distância e eu sentia sua
respiração tão acelerada quanto a minha bater nos meus lábios entreabertos.
Me perguntei se eu seria capaz de sentir o gosto da cerveja na sua língua
caso a chupasse com a minha, caso lambesse seus lábios e pedisse por mais.
Rebolei no seu colo, deixando minha bunda esfregar o topo das suas coxas
durante o movimento. Harry abriu a boca, mas tudo o que saiu dela foi um
suspiro baixo. Eu fiz novamente e, dessa vez, ele segurou minha cintura. As
mãos grandes, de alguma forma, faziam eu me sentir seguro e pequeno.
— Por que você disse que poderia me ajudar a fazer um lap dance, então?
— Porque eu queria você assim... do jeito que está agora, fazendo a mesma
coisa que está fazendo.
I'm right here, even though you don't roll, trust me boy...
Assim que terminei a frase, Harry segurou minha bunda com força, os dedos
afundando na parte mais firme dela para me segurar perto. Pressionei os
lábios para conter o gemido e me deixei ser envolvido pelo seu toque, pela
música, pelos seus lábios cobrindo cada centímetro da minha garganta pouco
a pouco.
Uma alça dos suspensórios caiu pelo meu braço e eu ergui a mão para
colocá-lo no lugar quando Harry abaixou as duas alças de vez, deixando-as
cair pelos meus quadris.
— Esses suspensórios me dão tantas ideias — disse, o tom de voz tão calmo
para a forma necessitada que continuava a segurar minha bunda ou beijar
todo o meu maxilar. — Vem cá.
Deixei todo o peso do meu corpo recair sobre o seu, as mãos espalmadas no
seu peito e sua pele quente transferindo um calor gostoso a elas. Eu teria dito
alguma coisa, mas Harry tirou uma mão do meu quadril para subi-la até
meus cabelos, angulando seu rosto com o meu. Os olhos procuraram os
meus em meio à escuridão e ele se aproximou quando percebeu a concessão
na minha expressão.
Tentando não parecer muito frustrado, saí do colo de Harry e desviei o olhar
quando ele ajeitou a postura para que a
ereção não o incomodasse. Começou a pedir as bebidas e, quando o garçom
desceu, todo mundo subiu de volta.
Dançamos na pista e cantamos I'm Coming Out da Diana Ross para Julie em
meio a todo mundo, mesmo sabendo que a conversa com os pais poderia não
ir tão bem como a noite estava indo. Era quase perto das quatro da manhã
quando fomos embora. Assumi o volante do Audi por não ter bebido
(mesmo sabendo que teria que vender Charlotte e meu rim para pagar um
carro daqueles) e ainda tive de passar no drive thru do McDonalds porque
Harry era uma criança birrenta que gostava de batata-frita e sorvete.
cós da Calvin Klein ficou aparente e ele deu passos macios até a cama,
subindo e engatinhando nela até parar em minha frente. O colar de cruz
balançava devagar e seus cachos estavam desgrenhados.
Levei a colherzinha a sua boca. A língua veio primeiro, é claro, e ele comeu
o sorvete. Comi a próxima colherada a tempo de Harry se sentar em minha
frente. Eu gostava da imagem do seu peito nu porque não havia mais um
arranhão novo à vista. Somente os rastros deles. Ele pegou o próprio sorvete
e o próprio saquinho de batatas fritas, iniciando o mesmo ritual.
— Teríamos nos beijado.
— Eu sei.
Eu não sou uma criança, tá certo? Eu sei que não posso mudar isso — ele
franziu as sobrancelhas com a minha abrupta mudança de humor. — Então,
sim. Eu faço ideia
de onde estou me metendo e eu sei exatamente aonde isso está nos levando.
Para de ser tão cauteloso comigo.
Harry sabia muito bem usar a diferença de altura a seu favor quando queria.
Que eu sei
tomar
Styles fechou os olhos. Respirou fundo e depois cerrou as mãos ao lado dos
quadris.
Pisquei. — O quê?
Harry segurou meus pulsos à frente do meu peito, entre nós dois, e abaixou a
cabeça quando eu o beijei de volta e chupei sua língua. Mordi seu lábio
inferior e ele mordeu o meu de volta, voltando a me beijar. Eu mal conseguia
tirar minhas mãos dele, do seu peito nu e da pele quente...
macia, gostosa.
Ele me levou para cama e nós dois trabalhamos juntos para tirar todos os
sacos do McDonalds do colchão e colocar no chão, revezando entre beijos e
as mordidas no pescoço. Quando o caminho estava livre, Harry se deitou por
cima de mim e se concentrou em lamber meu pescoço, segurando meus
quadris.
— É algo consensual. Não é você que manda, nós dois mandamos. Então
para de graça.
Harry riu baixo. A risada morreu conforme seus dedos iam arrastando minha
camiseta para cima.
— Posso te chupar?
Minha cabeça enevoada quase saiu rolando pelo chão ao ouvir aquelas
palavras. — Quê?
Afirmei com a cabeça. Harry abriu a boca e eu sabia que ele pediria um
consentimento verbal, por isso adiantei:
— Pode, Harry.
Se meu objetivo era suavizá-lo com o seu nome entoado em um tom quase
íntimo, não deu certo. Minha voz, ao invés, pareceu atear fogo ao seu lado
que me queria de quatro para e por ele. E foi assim que me encontrei
minutos depois: apoiado sobre os joelhos e cotovelos em cima da cama.
Parado atrás de mim, Harry deslizou a cueca pelas minhas pernas e eu tentei
não me contorcer ou me encolher com a timidez porque era a primeira vez
que eu ficava completamente nu em sua frente.
Completamente duro. As únicas luzes acesas eram as dos abajures, mas
mesmo assim.
— Você já sabe. Se quiser parar, é só falar... — ele arrastou a boca pela base
da minha coluna, deixando beijos com os lábios quentes que me obrigavam a
pressionar o rosto contra o colchão. — Abre mais as pernas.
Obedeci e, no mesmo instante, sua língua veio para o meio da minha bunda.
Tive que morder o braço para não gritar... era tão gostoso. Não tocou minha
entrada uma única vez, mas a sensação era enlouquecedora enquanto
suas mãos seguravam meus quadris com firmeza. Era molhada, quente, e
Harry lambia como fazia quando me beijava. Ele gemia baixo a cada vez que
eu impulsionava a bunda em seu rosto, querendo mais e tentando não me
desintegrar sob seu toque.
Sua saliva escorria e a sensação quente tomando aquela área sensível era
completamente nova. Eu estava perdido, sem saber se gemia alto ou se
continuava a morder meu antebraço por causa das provocações. Até que ele
finalmente lambeu minha entrada com a ponta rígida da língua, contornando
os músculos com habilidade, porém lentidão proposital, e eu não consegui
segurar seu nome que escapou quase como um grito. Minha barriga repuxou
no momento em que seu polegar esfregou a área, espalhando a saliva com a
ponta do dedo seca e me deixando excitado pra cacete por causa do contraste
de texturas. Ele voltou a me chupar e eu contraí o pressentimento de que iria
desmaiar a qualquer segundo.
Era tudo novo, a forma como eu não conseguia parar de tremer era nova e
sua boca e sua língua agindo em conjunto para me deixar flutuante eram as
melhores coisas que eu já havia experimentado. Isso, até que Harry forçou a
língua para dentro de mim e eu tive de agarrar os lençóis para não deixar
meu corpo inteiro ceder ao peso da gravidade. Sua mão livre veio para a
base da minha coluna, deixando-me parado enquanto ele movia a língua para
dentro e para fora, seus lábios chupando a área em volta e o calor do seu
corpo sobre o meu me tomando, puxando e me arremessando em uma
realidade que parecia quase alternativa.
— Harry! Por favor, por favor... — eu nem sabia ao certo pelo que
implorava, mas ele entendeu.
era... porra!, era. Harry me chupava como se fosse a forma que ele gostaria
de ser chupado, como se eu o deixasse faminto. Como se eu pertencesse a
ele.
Olhei pra baixo. Seus quadris não paravam de estocar contra o colchão,
esfregando o pau duro ali para tentar se aliviar. A realização de que ele
estava tão excitado simplesmente por estar fazendo aquilo comigo foi
despejada como um balde de água quente sobre mim. A temperatura
aumentou, seu polegar se juntou à língua esfregando sobre minha entrada e,
de repente, era tudo demais.
porra, Harry...
não senti os beijos na minha barriga, costelas e peito, dados quase com
reverência.
— Ei... — ouvi Harry sussurrar. Abri os olhos e me deparei com seu rosto
extremamente próximo ao meu. Ele sorria de lado, acomodando-se entre
minhas pernas. — Ver você gozar é uma obra de arte.
Harry riu alto ao deslizar a calça pelas pernas longas, levando a cueca junto.
As minhas ainda estavam trêmulas quando fui para o colo dele assim que se
sentou na cama.
Beijei seu nariz devagar, depois as bochechas e o queixo enquanto levava a
mão por baixo do meu corpo e a envolvia em torno da sua ereção.
talvez... talvez eu deixe você gozar na minha boca. Ou no meu rosto. Onde
você quiser.
Harry gozou.
Ele fechou os dentes no meu ombro e sua porra escorreu pelas minhas costas
e bunda enquanto seus dedos apertavam meus quadris com tanta força que
chegava a produzir uma dor gostosa, seu peitoral subindo e descendo contra
o meu.
E foi ainda mais gostoso quando ele voltou a me deitar no colchão e me
beijou para poder expressar com a boca o que seu corpo estava me
ensinando pouco a pouco.
— Lou.
Fechei os olhos com mais força, recusando-me a ser puxado para fora do
conforto gostoso proporcionado pelo sono, e me curvei mais contra a fonte
de calor atrás de mim. Senti um braço circular minha cintura e me puxar em
direção a um peito firme. O cheiro suave de sabonete após o banho que
havíamos tomado na noite anterior me deixou seguro.
— Lou, gatinho. Acorda. Julie me ligou agora... disse que contou para os
pais dela.
Ainda com os olhos fechados, segurei a mão dele e entrelacei nossos dedos.
— E aí?
— Ela disse que vai me contar mais quando nos encontrarmos. E que eu
deveria começar a planejar meu próprio come out.
indaguei.
Ele demorou para responder. — Não sei mais o que nós somos, Louis.
— Tudo bem.
A questão era: estava tudo bem. De verdade. Sem fingimentos. Só nós dois.
E eu estava pronto para segurar sua mão em frente a todo mundo dali a
poucos dias.
Chapter Sixteen
[Harry’s pov]
Eu estava ansioso.
Eu não podia incomodá-lo mais do que já fazia desde que tive a coragem de
me aproximar, por isso eu precisava transparecer tranquilo. Por ele.
Porém, eu deixaria todos sabendo que eu era gay por mim. Precisava fazer
aquilo por mim mesmo, não podia ir embora ainda usando a máscara que
havia construído ao longo dos anos.
Ele usava um suéter. Era bege, parecia confortável e macio, e já tendo noção
da sua sensibilidade maior ao frio, eu sabia que havia mais duas outras
blusas por baixo.
Soltou um sorriso pequeno ao me ver, mas logo tentou disfarçá-lo ao abaixar
a cabeça enquanto dava passos cuidadosos na calçada coberta de neve ainda
no processo de derretimento. Ele era assim... tão macio quanto o tecido do
suéter e, ao mesmo tempo, tão quente quanto o sol que Londres não via
havia um longo tempo. Louis tinha a capacidade única de fazer olhares
durarem três ou quatro segundos a mais sob ele e ser totalmente alheio a
isso.
Ele merecia muito mais. Merecia alguém que o amasse para sempre, que
prometesse a eternidade mesmo sabendo que talvez não durasse tanto assim.
Eu não o merecia. Ele era demais para mim e eu estava me sobrecarregando
cada vez mais com o calor que ele espalhava pelo meu corpo inteiro porque
era a única temperatura capaz de me fazer sentir menos congelado.
Louis era meu verão adolescente em todos os sentidos: quente, novo e, assim
como tudo o que é perfeito de forma particular, rápido.
trecho principal era: "se você não puder ficar, então eu te levarei para casa.
Se você mudar de ideia, nós poderemos ser mais que amigos essa noite." E...
porra. Hávia três noites, na minha cama, que nós havíamos sido bem mais
que amigos. Às vezes parecia que eu ainda era capaz de senti-lo na minha
língua, no meu colo, abraçando as coxas grossas nos meus quadris e gozando
com um gemido alto que reverberou na minha cabeça mesmo minutos após
ele cair no sono.
— Eu diria que combina com uma certa noite — respondeu a mesma coisa
que eu estava pensando. — Não com a gente. Somos indefinidos.
Yeah, éramos.
— Está pronto?
— Eu estou mais nervoso para a prova de Francês hoje do que para o que
estamos prestes a fazer. E você sabe que pode mudar de ideia a qualquer
segundo, né?
— Não, não. Quero que você vista quando sairmos do carro. Se for para
fazer da forma mais clichê possível, vamos fazer apropriadamente.
— Sério?
Parei no sinaleiro e balancei a cabeça. O céu continuava escuro, mas ao
menos a intensidade da nevasca havia diminuído. Olhei-o todo encolhido no
banco e encostado à porta apesar da restrição do cinto de segurança. Liguei o
aquecedor geral e o dos bancos, e me perguntei se suas mãos estavam
extremamente geladas como ficavam até mesmo em dias mais ou menos
ensolarados.
— Não estou pronto para ir para Nova York — disse baixo, enrolando o
dedo na barra do suéter. — Não quero revê-
lo, sabe?
Que era: se ele quisesse, eu iria para Nova York junto. Se ele preferisse não
ver Mark, nós ficaríamos em algum hotel. Tudo para deixá-lo bem estando
na mesma cidade que alguém que o deixava desconfortável mesmo sendo do
próprio sangue.
cabeça, não achando tanta graça assim. Retirou a mão da minha coxa para
juntá-la à outra sua, entrelaçando os dedos pequenos que deveriam estar
cobertos por luvas.
Inspirei fundo. Peguei sua mão entre as minhas e encontrei seus olhos. Tão
puros, calmos e dispostos. Ele era corajoso demais e isso me deixava
impressionado em todas as vezes.
— Você sabia que alguns historiadores afirmam que Michelangelo era gay?
— perguntei, percorrendo o polegar pelos nós dos seus dedos, a pele
delicada esticada sobre os ossos.
Sorri.
Mentalmente, eu já pintava o rosto dele nas coisas que eram sagradas para
mim.
Suas mãos vieram para o meu pescoço quando acenei com a cabeça,
aproximando nossos rostos. Ele virou por um segundo, encostando os lábios
à minha bochecha e rindo baixinho contra ela.
Ninguém nos olhou enquanto Louis passava a alça por cima do ombro e
ajeitava o casaco em volta do corpo pequeno e esguio. Ele olhou no reflexo
da janela para arrumar a franja e, ao terminar, me deu um sorriso pequeno.
Correspondi. Em um momento de distração dele, olhei para baixo e respirei
fundo, fechando os olhos por um instante.
Anna sabia. Minha mãe já havia flagrado um amigo e eu nos beijando
quando eu ainda estava na sétima série.
Éramos crianças, sem noção alguma, porém eu sabia que garotos era a coisa
certa para mim. Eu sabia que os lábios macios das garotas e os corpos
femininos não me faziam sentir como se o chão abaixo de mim estivesse
rompendo.
Desmond, por outro lado, me deu um lábio cortado ao bater a mão na minha
bochecha com a maior força que pôde, fazendo o anel de casamento
provocar a sensação de ardência pelo meu rosto, quando eu disse a ele que
não me sentia bem com garotas. A partir daí, aprendi que era melhor seguir
as regras.
Era algo grande. Parecia monumental. Mas quando Louis parou ao meu lado,
olhando rapidamente para cima para se certificar de que não queria desistir,
lembrei-me de que a opinião de todas aquelas pessoas não me influenciavam
em nada. Eu só precisava tirar a carga dos ombros.
Dessa forma, ele teve que me abraçar de lado e praticamente ficar agarrado a
mim para poder andar certo.
Mas primeiro, ele colocou a mão em cima da minha, que estava no seu
quadril, e entrelaçou nossos dedos.
O corredor principal foi ainda mais estranho. Louis tinha aula de História e
eu o levei até a classe, tentando não olhar para os lados e me deparar com
alguma expressão de nojo escancarada no rosto de um dos alunos. Paramos à
porta, quase todos já estavam lá dentro, e Louis ficou na ponta dos pés para
que pudesse me abraçar. Seus braços em volta do meu pescoço e seu rosto
afundado na curva do meu ombro.
sua nadadeira não tem defeito algum, ok? Me deseje sorte na prova.
a classe,
Os
— E quando você diz isso, significa que... — tentei extrair algo a mais, mas
ela não respondeu. Ao invés, disse:
— Quem?
Ele fez isso por você. Não por ele, não pelo orgulho gay ou qualquer porra
assim, mas por você.
Abaixei a cabeça porque não sabia o que responder. Eu estava com frio,
sentia meu corpo gelado mesmo por baixo da camada grossa do casaco. Por
isso, encolher as pernas e abraçar minhas próprias coxas pareceu o
movimento mais certo.
por que você não vê isso? — ela perguntou como se fosse fácil. O tom
indignado fez sua voz quebrar. — Por que você não vê que ele se apaixonou
por você tão rápido
quanto está caindo na ilusão de que esses dias antes de você morrer vão ser
bons? Eles não vão, Harry.
Eu só não merecia. Sabia que Anna era meu fio tênue mantendo-me fixo a
terra, e esse fio havia se rompido no instante em que Desmond me disse que
ela estava morta.
E que os meus amigos não se importavam, que ele não se importava e que
Gemma preferia nunca mais voltar a Londres para não me ver. Sabia que
tudo seria melhor, que as coisas iriam se acertar, que eu deixaria de ser um
peso. Eu não ansiava pelo dia em que tudo melhoraria; ansiava pelo dia em
que tudo acabaria. Essa era a diferença.
Louis era meu meio de alcançar o céu enquanto respirasse. Por outro lado,
eu sabia que acabaria no inferno uma hora ou outra.
Tirei a jaqueta e enfiei a mão por baixo da camiseta, fechando os olhos. Você
também matou ela aos poucos enquanto escondia isso, Harry. Meus dedos
estavam congelados conforme raspavam nas cicatrizes dos arranhões. Não
quero
mais
te
ver,
você
sabe
disso. Enquanto com uma mão apertava minha coxa, tentando não tremer
tanto, a outra abria novos arranhões no meu peito. Silêncio. As batidas do
meu coração e minha cabeça gritando o tempo inteiro, um constante
turbilhão, milhares de coisas rodando e rodando e rodando.
I was looking for a breath of life, a little touch of heavenly light, but all the
choirs in my head sang ''no'
Olhei para o teto solar. Engoli em seco e continuei até que meu maxilar
estivesse trêmulo, até que as nuvens cinzas acima de mim fossem se
tornando mais claras. Até que sentisse o fio ligeiramente quente de sangue
embaixo das unhas e a calma tornando-se mais maleável, tangível. O
To get a dream of life again, a little vision of the sight at the end, but all the
choirs in my head sang "no"
Atendi, ansioso.
— Gemma–
— Você quer arruinar a família de uma vez, não quer? — a voz gelada
cortou a linha como uma lâmina. O tom era distante. — Não sabe fazer uma
coisa certa, Harry?! Não está satisfeito por ter ajudado a piorar o caso da
minha mãe?
— O diretor da Wye Hill me ligou e contou o show que você deu com um
garoto. Uma bichinha, Harry — cuspiu a palavra. — Isso é o que você vai
ser chamado durante toda a vida. Isso é o que você é. Deus... que vergonha.
Olhei para minha mão, piscando e sentindo a ardência tomar conta da parte
de trás dos meus olhos. Eu não queria chorar, mas minha garganta já estava
apertada.
— Eu...
— Cale a boca. Sua voz me irrita e você nem sequer consegue falar rápido,
isso é um saco! — ela pareceu tomar um longo fôlego antes de falar as
últimas palavras.
entendeu? Para. E tenta eliminar esses boatos sobre você gostar de garotos...
não quero que as pessoas pensem que sou irmã de uma pessoa como você.
— Hum...
Beales disse e sorriu pra mim antes de morder a maçã em sua mão. Estava
sentado na mesa e, quando ele falou e expressou sua opinião, todos ficaram
em silêncio. — Meu irmão é gay e eu odiaria que as pessoas o tratassem mal
por causa disso na escola. Então... a menos que você nos faça perder algum
jogo de propósito, não tenho motivo algum para te odiar. E espero que
ninguém aqui faça isso!
— disse a última parte um pouco mais alto para que todos em volta da mesa
ouvissem.
— Quem disse que sai alguma coisa? Você tem prisão de ventre!
Me levantei com a leve sensação de que meu rosto estava pegando fogo. Bati
as mãos nos bolsos do jeans e olhei rapidamente a tela acima de nossas
cabeças para me certificar de que o embarque somente começaria dali a
quinze minutos.
Pedi dois Mochas, para Louis e a irmã, e chá verde para mim. Na fila para
pagar, a garota no caixa ergueu os olhos
Me entregou o troco.
— Não é assim.
Balancei a cabeça. Ela falava demais e não percebia, mas a deixei fazê-lo.
Sabia quão insensível era interromper a fala de alguém porque Des fazia isso
comigo na tentativa de me fazer falar mais rápido.
obrigada,
parecendo
ter
cessado
briga
fino. Queria me lembrar de seus detalhes, queria que ele nunca tivesse me
conhecido. Queria ser capaz de me esquecer da primeira vez que eu o vi,
queria recordar cada palavra sua até o último segundo.
•••
Havia um carro nos esperando no aeroporto JFK em Nova York.
Era uma BMW. Louis torceu o nariz enquanto ligava para Jay e depois,
Malik, para que os deixasse sabendo que estávamos bem. Também mandou
mensagens a Niall e Angelina, que ainda estavam em casa; já que eu não o
faria. O carro era grande e o motorista, silencioso e educado. Charlotte
permanecia com o rosto grudado à janela, encarando, encantada, os prédios e
construções restauradas e os restaurantes apertados entre vários comércios.
Louis, por outro lado, contentou-se em segurar minha mão e deitar a cabeça
no meu ombro.
Olhei para fora ao ajeitar sua beanie e minhas próprias luvas. Lembrei-me
das vezes em que Anna havia me
— Isso é tão estranho — Lou sussurrou ao pegar minha mão para entrelaçar
nossos dedos. Algumas mulheres sentadas nas poltronas espalhadas pelo
ambiente amplo ergueram a cabeça e ele franziu as sobrancelhas para elas.
— Você está se sentindo incomodado?
O tempo inteiro.
— Não, tudo bem. Estou em silêncio porque estou rezando para que seu pai
não me expulse.
— Ele não seria louco. Eu iria embora junto com você e nós dois
invadiríamos o Empire State Building para dormir lá.
— Você sabe que eu posso ficar em um hotel caso esteja incomodando, né?
— perguntei baixo. — Eu posso, e–
Ele soltou minha mão para colocar a sua em minha bochecha. Mesmo sendo
alguns centímetros mais baixo, olhou diretamente nos meus olhos e eu nem
precisei olhar para baixo pra saber que estava na ponta dos pés.
— Meno, eu quero você aqui. Eu pedi para você vir, eu pedi para você estar
comigo. Não está incomodando, está me apoiando, ok?
Algo me dizia que era mentira, mas afirmei com a cabeça e me esforcei para
soltar um sorriso.
— Ok.
Mark pega daí. — Meus sócios não me deram outra opção. Deus... Estou tão
feliz por estarem aqui.
— Tudo bem — Louis disse, a voz frágil. — Sabemos como seu trabalho é
importante. Felicite, você pode mostrar o quarto? Se não for incômodo.
ridículo, porra — grunhiu abafado. — Quero nunca mais sair desse quarto.
Quero não ter que olhar para a cara deles. Queria não ter vindo.
— Vamos fazer isso, então — sussurrei contra seus cabelos, andando para
trás até que a parte de trás dos seus joelhos alcançasse a beira da cama
gigante. Ele se sentou no colchão e tirou a beanie, olhando-me com o lábio
inferior entre os dentes. — Escapamos de madrugada para pegar comida e
voltamos para cá.
Ele riu. Ajoelhei-me em sua frente e tirei seus tênis, fazendo o mesmo com
minhas botas. Louis acompanhou com o olhar quando acendi a luz do abajur,
já que as cortinas estavam fechadas e o quarto estava escuro. Em seguida,
tirei meu próprio casaco e ele ergueu os braços para que eu também tirasse
seu moletom cinza.
— Você não me odeia por eu ter te arrastado para essa bagunça, né? —
murmurou, brincando com os dedos sobre as coxas.
Louis virou a cabeça. Olhou para a minha boca e para os meus olhos duas
vezes até que finalmente se inclinasse à frente, beijando-me com cuidado.
Segurei seu rosto, acariciando a linha do maxilar com o polegar e separando
os lábios para que ele pudesse aprofundar o beijo. Segui os movimentos da
sua língua e me permiti relaxar sob o toque cuidadoso das mãos que pararam
nos meus braços.
Louis estava deitado ao meu lado e mexendo no celular sob a coberta com
apenas os olhos de fora. Suas pernas estavam jogadas sobre minhas coxas e,
para não assustá-
Eu era o culpado por aquilo, mas preferia empurrar abaixo com meus outros
pensamentos porque era isso o que Louis fazia.
— Estou com fome — ele disse ao bloquear o celular para que eu não visse a
tela. Fiquei curioso, mas preferi respeitar sua privacidade. — Acho que
alguns amigos de Mark estão aqui, mas podemos desviar da sala e ir direto à
cozinha. Acho que tenho direito de ao menos comer, né?
— Humm.
Riu baixinho, suave. Adorava quando ele ria assim. Ainda adoro.
encolheu, mas consegui ver que sua pele estava coberta por arrepios.
— Para, H... seu nariz está gelado, ele... — Louis riu mais alto quando
esfreguei o nariz de propósito nas suas clavículas, segurando seu quadril. —
Harry!
Corri atrás, seguindo-o em direção ao que supus ser a cozinha. Ele virou à
esquerda após me olhar e sorrir grande, e desapareceu de vista. Parei no
meio do caminho para recuperar o ar, sugando uma longa respiração. Meu
coração estava acelerado em poucos minutos e eu sabia o porquê. Continuei
a passos calmos.
Chacoalhou os ombros para que minha mão caísse e deu um passo atrás,
batendo as costas no balcão atrás dele e me olhando com pavor.
— Louis–
Ele saiu correndo, passando por mim. Pisquei para o meu próprio braço
estendido em direção ao vazio antes de erguer a cabeça. O homem ainda me
encarava, e agora, eu sabia que ele podia fazer parte das lembranças fodidas
que Louis havia me contado pouco sobre. Mas eu
não tinha tempo para ele... não naquele segundo, não quando Louis parecia
tão pequeno.
Saí da cozinha, embora meus punhos e o ódio cego implorassem para que eu
voltasse. Atravessei o corredor a tempo de ver Louis alcançando a porta e
fechando-a atrás de si com um baque seco. Quando cheguei até a porta, meu
coração subiu à garganta porque eu não conseguia ouvir um soluço. Um
choro. Um único ruido sequer.
Nada.
Meu fôlego falha a cada vez que meu coração, engatado em um ritmo
frenético, transmite a sensação de querer pular para fora da caixa torácica
e arrebentar com garras toda minha pele. Apesar da dor física, o medo é o
mais doloroso porque me faz quase incapaz de mover.
"Por que você estava jogando videogame até essas horas? Oh, não... Mark
não ficaria feliz."
Então, os dedos afundam e, por longos minutos, eu desejo que meu coração
pare de bater.
Despertei com um baque. Como quando você sonha que está caindo e, ao
atingir o chão, acorda. Estava chorando, sem fôlego, encolhido no tapete
macio e coberto por suor frio. Havia dormido no chão. Apesar das cortinas
fechadas, a escuridão tomando o quarto me dizia que ainda era madrugada.
Engoli em seco e minha garganta doeu, parecendo repleta de areia e
ferrugem. Sentei-me devagar e, em súbito, lembrei-me do motivo que havia
me levado até ali... no chão. Lembrei-me do rosto daquele homem que,
embora houvesse sido marcado pelos anos, ainda era o mesmo que aparecia
nos meus pesadelos.
vento no corredor era cortante e ele estava sem blusa, encolhido e com
arrepios por toda a pele descoberta.
Precisei morder o lábio inferior com força para não chamar a mim mesmo
de idiota.
Não demorou mais que cinco segundos para que suas pálpebras
tremulassem. Ao longe, eu ainda ouvia conversas na sala de estar e na casa,
por isso eu sabia que ele ainda estava ali, o que foi o suficiente para fazer o
pânico retornar com força crescente, como uma onda que se arrasta em
direção à costa gradualmente.
Chamei seu nome uma última vez, dessa vez mais desesperado, e ele abriu
os olhos. No início, desfocados, e quando vieram parar em mim, pareciam
mais lúcidos que nunca. Ele se afastou de início, olhando-me cauteloso.
— Tudo bem.
— Por que nós somos tão ferrados? — eu não sabia se estava perguntando
aquilo para mim mesmo, para ele ou para as paredes. Não tinha muita noção
do que estava
pensando. — Por que não nos conhecemos antes? Por que tudo é do jeito
que... é?
E eu queria te dizer que sou capaz de tentar moldar o futuro de acordo com
o que poderia te fazer feliz, mas eu sou tão, tão fodido e eu sou tão
apaixonado por você e–
Olhando para ele, enquanto caía no sono, fui capaz de acreditar por um
segundo que éramos a pura esperança em sua própria essência de liberdade
ilusória.
Quando acordei novamente, era manhã, o quarto estava banhado na luz que
atravessava as grandes janelas por entre as pequenas brechas da cortina e
inundava o lençol que eu estava deitado embaixo. O travesseiro ao meu
lado estava gelado, porém, e bastou uma pequena erguida de cabeça para
ver Harry encostado a uma das paredes com as pernas encolhidas e os
cachos molhados, os olhos fixos no livro em seu colo.
— Embora eu não goste de vê-lo fumando, acho que você deveria acender
antes — eu disse, minha voz rouca e arranhada por causa do choro
descontrolado na noite interior.
não queria te deixar para fazer algo tão estúpido quanto fumar, preferi ficar
só segurando.
Sorri, um impedimento rude tomando o lugar das palavras que queria dizer,
mas que não encontrava a coragem para fazê-lo. Harry correspondeu o
sorriso e abaixou as pernas, cruzando-as, ao invés. Consegui ver a capa do
livro. Era uma cópia velha e amassada de O Escafandro e a Borboleta, tão
pequena entre seus dedos longos.
— Yeah. Eu já tomei, espero que não se importe. Aliás, você deveria comer
depois... Charlotte trouxe algumas coisas — apontou com a cabeça para a
bandeja sobre a grande cômoda completamente vazia.
— Não — respondeu.
— Por quê?
Harry não havia feito movimento algum para me tocar desde a noite
anterior. Eu sabia que ele me respeitava e prezava pelo meu conforto acima
de tudo sempre, o que se ressaltou após eu me fechar. Mesmo dormindo
com ele, eu estava preso no meu próprio mundo.
Porque após ver o âmago dos meus pesadelos personificado, não era como
se eu me sentisse desejado, como se eu não quisesse ter chamado Harry
para tomar banho comigo. Como se vê-lo, após todos aqueles anos, não
tivesse engatado o mesmo sentimento que me tomou por todos os anos
seguintes mesmo sendo tão novo: nojo.
— Me desculpa — sussurrei.
Me desculpa por te dar mais problemas, por não ser capaz de convencê-lo
que você merece a porra do mundo. Me desculpa.
— Vem cá.
— Olha pra mim — pediu. Quando o fiz, seus dedos molhados e gelados
percorreram a área abaixo dos meus olhos, limpando as lágrimas e,
efetivamente, fazendo o inchaço diminuir. Olhá-lo de perto era o meu
lembrete para inspirar e expirar devagar para não perder o ar novamente.
— Só uma — negociou.
— Harry–
— Duas fotos por dois donuts. Com chocolate. E chá. Por minha conta.
Isso me fez erguer a cabeça para rir. Ele aproveitou a chance e largou da
minha mão no mesmo instante para poder tirar as fotos, apertando o
obturador bem mais que duas vezes. Parado em frente a ele, com uma
Canon gigante apontada diretamente para mim enquanto pessoas
agasalhadas com seus casacos grossos e caros passavam por nós com
pressa, eu me senti um estranho em uma cidade tão grande. Um canadense
nas Bahamas com sua câmera e a esperança de encontrar algo diferente do
usual guardada no bolso.
Louis Tomlinson sorriu para minha câmera! — gritou para o céu ao erguer a
cabeça.
Todas as pessoas por perto viraram a cabeça em um átimo para nos olhar,
assustadas e pouco-se-fodendo para o garoto estranho que se chamava
Tomlinson; eu queria me dissolver no monte de neve derretida no chão sujo.
Me apressei para abraçar Styles, tapando sua boca com a mão e abafando
minha própria risada no seu casaco enquanto sentia seu peito vibrar contra o
meu com a gargalhada. Estendi a mão para cobrir suas orelhas pequenas
com a beanie cinza, revirando os olhos.
Olhei-o de lado. Ele não correspondeu, mas o canto esquerdo da sua boca
repuxou para cima quando entrelacei nossos dedinhos. Continuou passando
as fotos para o lado e eu abusei de toda a minha coragem e comecei a
distribuir pequenos beijos na curva de seu ombro, do maxilar. Por um
momento, fui capaz de esquecer.
Chegamos à casa de Mark por volta das sete da noite com estômagos cheios
e mais fotos de legítimos turistas na memória da câmera. Tentei tirar
algumas fotos dos nossos chás e donuts organizados como se houvesse, de
fato, alguma ordem a ser respeitada; exatamente o que aquelas contas
famosas no Instagram que Lottie seguia faziam.
Harry parou atrás de mim, a mão no meu quadril de forma protetora. Forcei
um sorriso.
Mas ele me olhou daquela forma que implorava silenciosamente para que
eu atendesse ao pedido da garota; eu sabia que assuntos sobre irmãs era
algo importante para ele. Então, engoli em seco e me virei, vendo-a já de
pé.
— Contanto que seja rápido — respondi.
Balancei a cabeça. Com um gesto pequeno, indiquei para que fosse à frente.
Ela recolheu o MacBook do sofá e passou por mim em direção ao corredor.
Segui-a com as mãos no bolso do moletom e a expressão neutra para fingir
que os quadros pendurados nas paredes brancas não faziam meu coração
apertar de forma estranha; ao longo dos porta-retratos, fotografias e mais
fotografias de Mark e Felicite, somente, em todo o mundo acumulavam-se
de forma quase solitária.
— Faz muito tempo que vocês estão namorando? — sorriu para mim,
olhando rapidamente para as próprias unhas. —
mas tenho certeza de que você não me chamou aqui para falar de Harry. E
não é como se eu quisesse conversar sobre isso com você, então...
Apenas.
la de mãe. Eu vim com Mark porque não queria ser mais um peso nas
costas dela.
— Eu era pequena e tudo o que conseguia pensar era que ela teria que
comprar os doces para nós três sozinha. E eu sempre via ela como a mulher
que era capaz de tudo, porque a gente costuma ter essa visão da mãe, sabe?
Só que eu percebi que não era bem assim e que cuidar de três crianças seria
muito pesado. Eu teria ficado com vocês se pudesse — sussurrou a última
parte, quase com medo que as paredes pudessem ouvi-la. — Amo papai,
agradeço muito a ele por ter feito de tudo nos primeiros meses para que eu
não passasse fome, mas eu tenho que engolir o ressentimento todos os dias.
Eu pensava que poderia voltar algum dia e dizer tudo, mas acho que as
coisas não acontecem do jeito que a gente imagina. Como uma criança de
oito anos imagina, na verdade. E eu me sinto culpada não só por isso, mas...
Ela parou, e eu jurei que era capaz de sentir toda a tensão nas palavras que
não foram ditas. Ergui a cabeça, encontrando-a com as bochechas
vermelhas e as mãos revirando o tecido sem parar como se a resposta de
todos os livros de autoajuda do universo para curar ansiedade fosse
exatamente isso: desviar o olhar e brincar com as próprias mãos.
Ela me fez ficar nervoso. Não pelo que havia dito até ali sobre Jay, até
porque não era como se ela nunca tivesse alcançado a oportunidade de
voltar para Doncaster, mas sim porque eu senti toda a culpa mais pesada em
outra coisa. O que descobri segundos depois.
Ela viu o que eu senti, viu o que era retratado em todos os meus pesadelos.
Ela viu.
Mark sabe? Você contou para ele? Para Lottie? Quem mais sabe?!
— Cale a boca.
O silêncio recaiu sobre o quarto quando minha voz estalou entre as paredes,
tão relativamente calma em comparação com o caos dentro da minha
cabeça. Pela porra da segunda vez no dia. Não a olhei novamente antes de
sair do quarto dela e ir em direção ao que eu estava usando.
Tranquei a porta e procurei Harry com o olhar. Ele não estava ali, mas o
notebook aberto em cima da mesa de cabeceira e o barulho do chuveiro me
deram a indicação de que estava tomando banho.
Tirei meus sapatos, frenético. Felicite sabia, ela havia visto e nunca havia
dito nada. Ela me viu sendo revirado como a porra de um boneco e me viu
implorando. Ela era minha irmã e ela havia me visto naquela situação. Eu
não sabia se deveria sentir vergonha ou frustração. Irritação, ódio.
Apático, encarei as janelas por longos segundos até que minha respiração
estabilizasse. Por quê? Por que, por que...
— Sim.
Encarei a trilha de pelos ralos abaixo do seu umbigo levando à base do seu
membro, e engoli em seco.
Ele me olhou por baixo dos cílios molhados quando também abaixei a
cueca. Não desviou nem mesmo quando abri o box, entrei e parei em sua
frente, olhando para cima. O jato de água quente caía diretamente em cima
dele, dos ombros largos e fortes, e respingava em mim vez ou outra, mas o
barulho da pressão forte da água me isolou dentro daquele espaço.
Ele tinha mais arranhões recentes no peito. Ergui a mão para tocar as
andorinhas, fazendo uma súplica rápida para que permanecessem intactas
apesar de todos os machucados, mas parei no meio do caminho. Não sabia
se estava pronto para tocá-lo.
— Não quero que você faça algo só para poder provar para si mesmo que
consegue — Harry franziu as sobrancelhas, afastando-se. — Você precisa
do seu tempo.
Ele sorriu e minha estrutura caiu por completo. Não era justo o que Harry
fazia comigo. Ele me fragilizava.
— Posso te tocar? — perguntou, empurrando os cabelos para fora do rosto.
— Por favor.
Nossos quadris se juntaram e eu fiquei nas pontas dos pés, o que o fez
passar o braço em torno do meu quadril e nos virar com cuidado dentro do
amplo espaço do chuveiro para que eu ficasse mais próximo do jato de água
quente e não sentisse frio. A realização de que Harry se preocupava comigo
mesmo quando, logicamente, qualquer cara estaria pensando na crescente
ereção entre as pernas me fez gemer contra sua boca e me atrever a erguer
as mãos para colocá-las na sua barriga. Os músculos enrijeceram sob meu
toque.
Eu sentia que precisava reafirmar que ainda não estava preso sob as mãos
daquele homem.
— Não interessa.
— Você não está pensando direito. É isso. Fora que seria injusto eu tirar sua
virgindade sendo que...
Porra.
— Você me invalida o tempo inteiro! De novo. Eu sei o que faço —
aumentei a voz sem querer. — Sei o que quero.
Sei que–
Eu o queria perto, mas entendi o que ele pretendia. O que não impediu que
minhas bochechas ficassem vermelhas.
— Harry...
— Faz. Você quer isso, yeah? Mas primeiro, se toca pra mim. Mostra que
você consegue se acostumar com isso antes que eu toque em você, amor,
que você sabe e tem consciência do que está fazendo. Se não conseguir,
tudo bem.
Meu fôlego pesou. Não sabia se era devido ao "amor" ou ao fato de Styles
querer que eu me tocasse em sua frente para que me sentisse seguro o
suficiente com um toque sexual antes que ele pusesse as mãos em mim.
Harry deu um passo mais perto. Respirei com mais força e cerrei os dentes,
incapaz de conter o vermelho se espalhando pelas minhas bochechas e
pescoço tanto pela vergonha inicial quanto pela água quente. Harry abaixou
o olhar para os meus movimentos, mas não me deixou
desconfortável. Havia algo nas gotas de água nos seus cílios, no lábio
inferior preso entre os dentes e a respiração acelerada enquanto ele me
assistia que me fazia sentir bem. Nas concepções necessárias da palavra.
— Por quê?
Neguei com a cabeça, arfando com a visão do seu pau, das coxas e das
tatuagens nos bíceps e no peito que moviam-se de acordo com os
movimentos dos músculos.
Nós dividimos a toalha e nos secamos o mais rápido que dois corpos
encharcados e cabelos úmidos permitiam.
Quando caímos na cama, ainda ligeiramente molhados, foi para que Harry
viesse para cima de mim e se colocasse entre minhas pernas, minhas coxas
abraçando seus quadris
e sua boca na minha. Com um pequeno movimento que fez os músculos dos
seus braços contraírem, levou meu corpo para cima na cama até que eu
estivesse com a cabeça nos travesseiros e acomodado perfeitamente. Meu
peso não parecia muito para ele, e essa realização em conjunto com seu pau
duro colado ao meu quadril me fez gemer dentro da sua boca.
Meus quadris foram acariciados com reverência, sua boca deixou rastros de
saliva pelo meu pescoço e clavículas, e minhas coxas pareciam o principal
foco da sua atenção.
Abri as pernas e estendi o braço para que pudesse acariciar sua têmpora
com o polegar. — Tenho. Eu sei que tenho controle sobre meu corpo, e é
disso que preciso.
Ele me olhou uma última vez antes de fechar os olhos e apertar minhas
coxas com as pontas dos dedos, afastando-as ainda mais. Os músculos das
suas costas flexionaram quando, em um movimento pequeno, Harry
segurou meu pau e me levou até o fundo da garganta de uma única vez, o
calor molhado envolvendo-me até a ponta e causando a escassez de todo o
oxigênio no meu corpo. Minhas mãos foram do lençol para os seus cabelos
quando ele moveu a cabeça e esfregou a língua repetidas vezes, voltando
para a ponta e lambendo todo o pré-gozo como se estivesse sedento por
aquilo.
Segurar a cabeceira... ok. Fingi que meu cérebro não estava sofrendo um
curto-circuito violento e atendi ao seu pedido, subindo pelo seu corpo com
cada perna de cada lado, devagar e sentindo o colchão afundar sobre meu
peso, até alcançar a altura do seu peito. Harry me olhou de baixo e sorriu
ainda maior, de lado e com uma única covinha. Então, abriu a boca e
colocou a língua para fora.
Sussurrei um palavrão e engoli em seco, segurando meu pau pela base para
guiá-lo em direção a sua boca. Nos últimos centímetros que faltavam,
minha barriga gelou com a antecipação e meu estômago retorceu. Esperei
cinco segundos para que pudesse apreciar a visão embaixo de mim, ele com
os olhos fechados, os cabelos suados jogados para um único lado e os
músculos dos bíceps ressaltados pela posição em que estavam; respirei
fundo.
O que fez com vontade. Harry me chupou e, na primeira vez que eu senti
sua garganta relaxando em volta do meu pau, precisei agarrar a cabeceira e
morder o próprio antebraço para que não gritasse, embora continuasse
gemendo seu nome e palavras desconexas que não faziam sentido nem
mesmo para a minha cabeça enevoada. Ele deixou a saliva escorrer de
propósito por toda a extensão somente para que pudesse lambê-la repetidas
vezes com o mesmo entusiasmo, e meus quadris seguiam o mesmo ritmo,
estocando e voltando, vendo meu pau desaparecer e voltar de dentro da sua
boca. O calor me envolvendo, a temperatura no quarto subindo e a pressão
na base do meu abdômen crescendo tanto a ponto de me deixar tonto.
— Posso gozar na sua boca?— pedi entre uma estocada e outra. Em outro
momento, eu provavelmente teria tido vergonha de pedir algo como aquilo,
mas não ali. Não
— Goza no meu rosto — disse baixo, a voz ainda mais rouca por causa da
garganta literalmente fodida.
Quando voltei a estocar para dentro da sua boca, Harry permaneceu com os
olhos abertos para que pudesse, provavelmente, estar atento às minhas
expressões no instante em que, com uma mão, separou os lados da minha
bunda e esfregou as pontas dos dedos molhadas na minha entrada. Suguei
uma longa respiração e, na próxima vez que ele relaxou a garganta, me
permiti a ir até o fundo enquanto sussurrava três palavras que significavam
toda a permissão da qual ele e eu precisávamos:
Esfregou o dedo indicador uma última vez e colocou a ponta, forçando até a
primeira junta. Gemi o mais alto que minha garganta permitia e ele lambeu
a glande, e isso foi o que me puxou até o limite, contraindo-me em volta do
seu
dedo e pulsando dentro da sua boca. Gozei na sua boca, na sua língua
quente, mas me lembrei de tirar a tempo para que terminasse no seu rosto.
Harry fechou os olhos e pressionou os lábios enquanto engolia minha porra.
Por outro lado, eu sentia meu peito praticamente comprimido pelas
tentativas de respirar, hipnotizado com a forma que suas bochechas, queixo
e a boca eram cobertas pelo líquido espesso.
Sua mão subiu da minha bunda para a base da coluna, segurando-me firme
enquanto eu abaixava a cabeça para beijá-lo. Senti meu gosto na sua boca
quando Harry
chupou minha língua, senti seu fôlego pesado contra meu próprio torso; um
pouco mais descontrolado que o normal.
— Tudo bem? — perguntei, colocando a mão sobre seu coração. — Por que
seu coração está tão–
— Você acabou de gozar no meu rosto, é óbvio que meu coração vai estar
acelerado — havia um quê inseguro em seu tom. Mudou de assunto. — Por
que sua pele é tão macia? Sério. Isso é quase impossível.
Para ressaltar seu ponto, espalmou as duas mãos na minha bunda e apertou.
Suspirou pesado, como se me tocar doesse nele, mas logo em seguida sua
boca veio para a minha novamente. Foi quando percebi que seu pau pulsou
contra meu quadril, ainda completamente duro.
— Yeah?
Senti a ponta do seu dedo médio roçar minha entrada, esfregando por cima
dos músculos contraídos e com todo o cuidado. Respirei fundo ao colocar o
rosto entre a curva do seu pescoço e abrir mais as pernas para poder arquear
os quadris e empinar a bunda. Ouvi Harry xingar baixo, mas permaneceu
esfregando com toda a lentidão, fazendo-me sentir o metal gelado dos anéis
contra minha pele.
Havia algo na suavidade com a qual fui tocado, nos sussurros de Harry me
dizendo que, naquele instante, eu
era não dele, não de alguém, mas meu mesmo, que me fizeram pressionar os
olhos com força e agarrar seus ombros como a minha última esperança.
— Está tudo bem — beijei sua bochecha, sentindo meu coração acelerar
enquanto o via abrir o tubo e passar em três dedos. — Bom que você
trouxe, não é?
— Me pede pra parar se estiver doendo muito. E está tudo bem não ficar
duro o tempo inteiro durante a primeira vez, ok? — com o rosto bem em
frente ao seu, assenti e observei todas as pequenas pintas, os fios de cabelo
grudados às têmporas e todos os detalhes que me fizeram abraçá-lo e trazê-
lo mais perto.— Ok — afirmou para si mesmo e me beijou.
acostumar com aquilo que era novo ao mesmo tempo em que não sabia
processar o garoto embaixo de mim me olhando como se eu fosse tudo o
que ele sempre quis.
— Desculpa.
pontos
marcados
nunca
haviam
sido
mais
comemorados.
como
ela
se
desequilibrou.
Ele
estava
mim, sentia como se houvesse tomado as rédeas da minha própria vida pela
primeira vez desde que havia chegado em Nova York. Sentia-me... certo.
Ele o fez, erguendo o quadril para que seu pau deslizasse devagar para
dentro de mim, molhado e me enchendo a cada centímetro. Segurou-me
com as duas mãos e quase o senti tremer quando me inclinei para beijá-lo,
permitindo uma posição mais apropriada para que ele continuasse a me
penetrar. Sua boca se abriu contra a minha e engoliu todos meus suspiros de
prazer e de dor intercalada, espalmando as mãos na minha bunda e
aproveitando para ir até o fim, o que fez longos e excruciantes segundos
depois nos quais ficou parado para que eu me acostumasse.
Eu o senti inteiro dentro de mim pela primeira vez, senti-o pulsar quando
me contraí ou quando lambi seu lábio inferior e sua língua, gemendo
baixinho contra seu queixo e continuando a segurá-lo perto. Era a coisa
mais estranha, dolorosa e prazerosa que eu já havia sentindo, misturando
pequenos pontos de prazer entre os jatos de dor que me preenchiam a cada
vez que eu me movia devagar para acomodá-lo.
— Tudo bem? — Harry questionou baixo, beijando minha bochecha e
deslizando a mão para baixo, entre minha bunda. Senti seu polegar e dedo
indicador circularem minha entrada e tocarem ali, exatamente onde seu pau
estava me alargando e pulsando num ritmo repetitivo e forte. — O fato de
eu conseguir sentir o quanto você está aberto pra mim está me deixando
louco.
— Assim? — perguntei e me movi para cima. Seu pau deslizou para fora e
fez um ruído molhado por causa da quantidade de lubrificante e eu tive que
me segurar e apoiar contra seu peito. — Harry– ah... Pode se mexer, por
favor...
O calor subiu pelo meu corpo e tapou o restante de dor como uma
substância poderosa, fazendo-me sentir prazer e prazer. Sentei-me no seu
colo e coloquei as mãos no seu abdômen, não ligando para os músculos
cansados das coxas ou como uma pressão específica na minha próstata fez
meu pau pulsar e pingar pré-gozo na trilha de pelos abaixo do umbigo de
Styles. Com a ajuda dele, me movi no seu colo, impulsionando-me para
cima e para baixo com os olhos fixos aos seus, que desviavam para o meu
pau, quadris ou meu rosto vez ou outra. Era tudo tão novo, cada toque e
sensação inalcançável, e era impossivelmente incrível; como descobrir a
porra de um novo sabor preferido. Seus dedos pressionaram minha cintura
quando me contraí em volta dele e subi e desci dessa forma, vendo-o jogar a
cabeça para trás e gemer baixo.
A partir daí, quando ele viu que eu estava seguro o suficiente, virou na
cama, ficando por cima, e colocou minha coxa no seu ombro, segurando a
outra firmemente quando começou a literalmente me foder, gemendo meu
nome e empurrando os quadris com força contra os meus.
Seu cabelo caiu em frente ao seu rosto quando ele lambeu os lábios e
envolveu a mão em torno do meu pau, movendo-a para cima e para baixo e
parecendo gostar da forma que eu agarrei os lençóis e o assistia em cima de
mim como a imagem mais divina. A forma como Harry me
Olhei para cima, não parando de esfregar meu pé no tornozelo de Harry por
um único segundo. Quando vi seu rosto iluminado pela luz dourada dos
abajures e uma curva preocupada nos lábios, voltei a deitar a cabeça no seu
peito. Deixei um beijo demorado logo abaixo de um arranhão pequeno,
minha mão espalmada perto do seu umbigo, a um centímetro de onde seu
membro estava encostado ao abdômen.
Havia tanta preocupação transbordando em sua voz que foi inevitável não
subir um pouco na cama para que ficássemos frente a frente. Coloquei as
mãos nas suas bochechas quentes e deixei o primeiro beijo na sua boca, sua
mão imediatamente vindo para a base da minha coluna quando inclinei a
cabeça e coloquei a coxa em cima das suas pernas.
— Não, não estou arrependido — outro beijo, dessa vez mais longo para
que eu pudesse chupar seu lábio inferior.
seu
rosto
sorri.
Harry
me
acompanhou
É assim que deve ser, é assim que você deve se sentir: confortável com
qualquer coisa que esteja fazendo e em qualquer relação que esteja
entrando, entendeu? —
Fique. Fique, por favor. Afirmei com a cabeça, deitei no seu ombro e deixei
meus dedos repousarem no seu pescoço, esfregando a pele sensível ali.
— Quero que você vá ao festival comigo. Escutar Cage The Elephant com
suas mãos em mim e sua voz acompanhando as músicas por cima da
multidão. Por favor.
— Você vai me deixar tirar fotos suas? Se não, nem quero ir — brincou,
mas pela forma que sua mão apertou minha cintura, eu sabia que já havia
ganhado a batalha.
Acabei virado em cima dele, minha bunda no seu rosto e seu pau entre
meus dedos. Com suas instruções sussurradas, chupei-o pela primeira vez e,
antes de terminar, Harry me fez gozar de novo com a língua lambendo
insistentemente
minha
bunda
enquanto
•••
— Harry — Mark chamou Harry do outro lado da mesa, horas mais tarde.
Meu garoto ergueu a cabeça, alguns cachos ainda úmidos e as bochechas
vermelhas por um motivo que só eu sabia. — Seu pai é empresário, não é?
O
Felicite não me olhou, mas havia algum gesto desesperado em tudo o que
ela fazia desde que havia me
— Provavelmente.
— Pretendo ser aceito na UCL com uma bolsa — na verdade, meu sonho
sempre foi a NYU, a majestosa e histórica universidade de Nova York. —
Caso não, provavelmente vou encontrar um lugar que se encaixe no
dinheiro que tenho.
Harry apertou mais minha mão e eu tive de cerrar o punho sobre a mesa
para que não me levantasse e os deixasse.
Entreguei o cartão a Harry e pedi para que ele fizesse o que achasse melhor.
Finalmente.
•••
Com Styles. Por dois dias. Logo após a viagem de Nova York. A alguns
quilômetros de Londres.
— E onde você vai dormir, Louis? — pelo timbre mais leve, sabia que
havia a convencido.
— Em barraca.
— Um casal clássico.
— Bonito.
— Inesquecível — completei.
Harry pegou minha mão e a levou até os próprios lábios gelados, beijando
os nós dos meus dedos. Sussurrou contra minha pele:
Eu nunca iria esquecê-lo, e não precisei de palavras para dizer isso. Ele
sabia.
Foi em um desses beijos que, duas horas depois, eu senti o carro parando
devagar próximo ao acostamento que nem sequer parecia como um mais.
Olhei-o, em dúvida.
Oh, ótimo. Segredos. Como a alma gentil e a pessoa tomada por amor dos
pés à cabeça, Harry cuidou para que não pisasse em um único girassol
enquanto abria caminhos entre os longos caules, sempre segurando-me com
os dedos esguios e magros, e tirava fotos vez ou outra quando encontrava
algum bom ângulo. Algumas flores inclusive ultrapassavam ligeiramente
minha altura e eu precisava ficar nas pontas dos pés para que conseguisse
sentir os raios de sol nas minhas bochechas.
Desmond não gritava tanto, então levo isso como vantagem. Sabe por que
todos os poetas, escritores e escritoras enaltecem a infância?
Demos mais dez passos contados antes de parar. Harry se sentou no chão,
na terra seca, e após me olhar com as sobrancelhas erguidas, se deitou e eu
o acompanhei. Os girassóis abriam-se em volta de nós, deixando um espaço
razoável e dando a impressão de que haviam nascido no círculo daquele
espaço reservado somente a nós dois.
Olhei para o céu. Não era azul, mas o sol estava começando a subir por
entre as nuvens, que adquiriam rajadas laranja na superfície cinza.
— Por quê?
quando
crescemos
percebemos
que
Elas
acreditam
viver
por
um
propósito... aos quinze, percebemos que esse propósito é uma tentativa cega
de se convencer que somos algo —
doce dia em que meu maior problema era descobrir se ele era hétero ou não.
— Eu te falei que algum dia contaria qual é a minha frase favorita de O
Retrato de Dorian Gray?
Yeah?
Nós dois.
continuou como se não houvesse percebido meu pulso acelerado sob seus
lábios, tão macios e portadores de tanta dor. — Não posso te prometer nada
em relação ao agora,
ao
presente,
mas
eu
posso
prometer
a sua eternidade. Talvez eu possa fazê-lo meu lá e esperar por tudo isso,
mesmo que ainda queira que você seja feliz aqui. Talvez eu possa te dar
todas as estrelas.
— Por que vocês demoraram tanto? — Zayn empurrou meu ombro com o
seu quando me sentei ao lado de Harry, que já estava sendo cumprimentado
por algumas pessoas.
— Se perderam na estrada?
— Tá tudo bem?
Tinha bem mais por trás daquela pergunta porque a forma que Liam parou
de tomar cerveja para prestar atenção a minha resposta já dizia bastante,
mas não me prendi a isso. Encolhi os ombros, afirmando com a cabeça.
Ela parecia legal, um sotaque forte atenuando as palavras, por isso deixei de
ouvir a conversa deles e virei o rosto para falar com Zayn, encontrando-o
com um pote de Pringles no colo. Conversamos pelos próximos minutos, e
contei sobre Nova York – deixando uma coisa ou outra de fora – enquanto
também comia e ouvia a voz de Harry ao fundo. Comecei a mencionar as
fotos que Harry havia tirado de mim, mas me lembrei de...
Encolhi os ombros como se não fosse nada, assistindo pelo canto dos olhos
Liam e Niall apostarem sobre quem bebia uma garrafa de cerveja mais
rápido. Angelina os apoiava, contando alto com a voz repleta de alegria e o
cronômetro do iPhone brilhando em meio às poucas luzes.
— Espero que tenha sido bom, do jeito que você merece e deve ser tratado,
Lou. Estou feliz por você — sussurrou, descansando a cabeça no meu
ombro. Ele não falaria a mesma coisa se soubesse de tudo. — Liam e eu
montamos a barraca de vocês, mas por favor, não façam muito barulho
porque ele e eu ainda não chegamos a esse estágio e eu meio que... quero?
Olhei para onde ele estava apontando e encontrei um garoto loiro vestido
todo de preto, os olhos realmente fixos em nós dois de forma maníaca e
assustadora como se fôssemos uma comida ou, a julgar pela forma que seus
olhos estavam vermelhos, dois baseados em tamanho humano. Voltei a
olhar Styles, apertando os lábios com força para não começar a rir; ele ficou
da mesma forma quando comecei a falar:
— Sua linguinha é a coisa mais sexy e linda que eu já tive no meu corpo,
exceto por aquela vez que fizemos um threesome com seu tio e ele jogou
calda de chocolate no meu corpo enquanto eu estava amarrado.
não me engano. Era por isso que a bunda dele era toda peladinha e-O garoto
se levantou no mesmo instante, afastando-se o mais rápido que pudesse e
tropeçando nos próprios pés, e Harry e eu permanecemos nos encarando
com as risadas ameaçando escapar a qualquer instante; os lábios
pressionados e os olhos fixos um no outro. Até que ele sussurrou "que Deus
tenha Marquinhos e sua glicose alta"
e eu soltei uma gargalhada tão alta que todos em volta de nós nos olharam.
Mas todo mundo tinha fumado muita maconha, então não demorou para
que começassem a rir também sem nenhum motivo aparente.
Fomos para a barraca algumas horas depois, após Harry tomar algumas
cervejas, me obrigar a comer mais batatas e tomar água para não ficar
desidratado. Deitamo-nos de cabeça para baixo no amontoado de cobertas,
de forma que nossas cabeças ficassem viradas em direção à entrada e
nossos olhos fixos ao céu através da rede fina para impedir que mosquitos
entrassem.
Eu gostaria de ser uma. À noite, quando não consigo dormir, penso que
Anna se transformou em uma. Não em
Nossas típicas meias de peixinhos e tartarugas estavam nos nossos pés, cada
um com uma meia de um par diferente de forma que ficássemos com os
Menos e os Michelangelos igualmente. Olhei para elas antes de fazer um
gesto com os dedos, pedindo para que ele me desse o cigarro de maconha.
Harry engoliu em seco, virando o rosto para mim.
Abre a boca.
alto
quando
eu
sussurrei
que
estava
•••
respondi, dando espaço para que duas garotas de mãos dadas pudessem
passar. — Por quê?
— Por quê?
quando
fingimos
que
nada
está
com mais dois garotos que haviam aparecido do nada, e me deixei sorrir por
um segundo ao perceber que meu melhor amigo estava conversando com
outras pessoas sem precisar apertar minha mão com força. — Mas também
não estamos o ajudando. Eu só tenho medo da possibilidade de tudo isso
que é externo, esse mundo, Louis, você, eu, não fazermos diferença alguma
para ele.
É ridiculamente difícil saber o que Harry sente... ele passou a vida inteira
construindo isso dentro dele. Anna foi meio que o gatilho.
Angelina suspirou, colocando os óculos para cobrir os olhos vermelhos.
Os
comprimidos
já
estão
fazendo
efeito.
Sorri, olhando para a camiseta do Kiss larga no meu corpo. Virei a cabeça
para que pudesse olhá-lo. Harry também
tinha
glitter
cor-de-rosa
nas
bochechas,
contrastando com a camiseta preta e os jeans rasgados nos joelhos. Seu All-
Star estava sujo, combinando com o meu.
— O quê?
— Fique — repeti.
tinta
de
tecido
que
secava
instantaneamente.
Wow, Louis.
— Peter?
— Sabia o quê?
Minha boca caiu. Meu cérebro caiu. Meu oxigênio acompanhou e minhas
pernas tremularam enquanto eu o olhava, um sorriso nascendo no canto dos
seus lábios. A questão era que eu não sabia.
canto
no
mundo
merecedor
de
uma
— É grande coisa.
Olhou mais uma vez para baixo e eu fiz o mesmo, relendo as palavras:
sendo
seguido
por
gritos.
Harry
sorriu,
aproximando-se para apertar minha cintura. Ele amava aquela banda, amava
a música, amava a sensação. Eu era um intruso em suas paixões. — E essa é
Come A Little Closer!
pareciam sentir-se atraídos pela forma que ele sorria de lado como se
tivesse todos os segredos do mundo contidos nas palmas de suas mãos.
Sussurrou "come a little closer", um pequeno sopro de ar entre todas as
exclamações. E eu fui. Segurei seus cachos, abracei-o com força e senti sua
pele quente sob meu toque enquanto praticamente o absorvia, assim como
os raios fortes de sol absorviam toda e qualquer palidez restante em nossos
corpos.
adolescentes,
tão perdidos.
Éramos
ninguém,
desconhecidos.
eu
me
senti
desorientado,
inconsequente,
And I try to find the will to carry on, wonder how much longer I can carry
on, cause these days they take so long, yes they do
Hey, how are you true? The light will guide you home, yes it will
Mais glitter explodiu sobre nós dois e caiu nas suas bochechas, cabelos e
nos meus braços em volta do seu pescoço. Agarrei a barra da sua camiseta,
beijamo-nos mais, agarrei-o com mais força. Niall o puxou segundos
depois, fazendo com que eles pudessem dançar juntos
após eu rir e balançar a mão como se dissesse "tudo bem". Angel dançou
comigo, ao invés, e eu gritei a letra da música enquanto a via engolir o resto
da cerveja na garrafa.
Hey, how are you true? Well, there's one thing that you should know, yes
you should
parte das pessoas que, por um motivo ou outro, não conseguiam aceitar que
Harry e eu estávamos, tipo... juntos.
Que nada a ver gostar de pau assim, do nada. Aposto que está naquela onda
toda gay.
compensavam
qualquer
imperfeição
temporária nele.
Sabe o que foi essa onda? Uma união de todas as pessoas gays, lésbicas,
transexuais e bissexuais para se defender do ataque de policiais. Essa foi
uma onda para tentar alcançar a liberdade de ser quem é, sem vir alguém
Após dois segundos, ele virou-se à frente novamente para continuar a jogar
no iPad, como se nada houvesse acontecido, e as garotas até abaixaram os
livros. Quase consegui ver as engrenagens rodando dentro da cabeça delas
enquanto eu tapava a risada com a manga da blusa, orgulhoso de Zayn por
falar mais que duas palavras a estranhos e ainda mais por ele ter meio que
defendido Harry.
Tanto fazia se aquelas palavras fossem ficar por um dia só na cabeça delas.
Valeu a pena.
era a mãe séria. — Não deveria ser, óbvio. As pessoas deveriam saber
respeitar a sexualidade dos outros, mas já que não sabem, temos que
agradecer quando alguém nos defende. Até mesmo quando é toda essa
parada de marketing puxando para o lado LGBTQ+, e tal. Fazer o quê, né.
O capitalismo sempre acaba ganhando e encobrindo os movimentos sociais
com lucro.
— Adoro quando você fala essas coisas inteligentes. Hoje, enquanto estiver
me fodendo e tal, recita Dostoiévski pra mim?
limite
da
arquibancada,
em
minha
direção.
— Não tenho que ensinar a ele o que as pessoas que o criaram deveriam ter
ensinado: respeito — ela rebateu, os olhos ainda fixos no cara. — Sai daqui.
Ele olhou Harry por mais alguns segundos antes de soltar o ar pelo nariz,
lamber os lábios e sussurrar "vão se foder".
Ali, para passar o tempo, ele apontava com a cabeça em direção a alguma
criança aleatória e me fazia perguntas do tipo:
porque
nenhum
dos
coleguinhas
parecia
incomodado; como realmente não deveria estar. — Você acha que ele está
pensando em quê?
Sanduíche de frango.
— Eu também.
Ela deu um passo mais perto, adquirindo mais confiança conforme sentia
que Harry era uma boa pessoa.
— E o seu?
Ela sorriu para ele, e depois me olhou, inclinando a cabeça para o lado
esquerdo com os olhos meio fechadinhos como se estivesse ponderando
sobre falar ou não falar o que estava na cabeça. Optou por fazê-lo.
Não soube o que responder a ela, até porque eu não sabia o que Harry e eu
éramos e porque não havia um nome para definir tudo aquilo que eu insistia
em não denominar. Loucura, alguns diriam. Por outro lado, Harry acabou
fodendo todos os meus pensamentos com uma simples frase, ativando uma
sensação gostosa e quente pelo meu corpo inteiro:
Ele hesitou, olhando-a com o que só podia ser fragilidade e pena. Não,
Anna não o veria novamente, eu respondi mentalmente. Eles nunca se
reencontrariam e ela nunca diria a mãe que aquele era o moço bonito que
ela havia
Estava tão distraído com os círculos pequenos que seu polegar traçava na
palma da minha mão, tão afundado no tom esperançoso grudado à voz
delicada e frágil de Anna, que quase não registrei o som da voz de Styles:
Olhei para cima a tempo de vê-la sorrir grande, tão grande que fez Harry
sorrir também.
— Eu sei.
Roy Orbison cantava Pretty Woman por cima do chiado do óleo quente da
frigideira e por cima das risadas de Jay, e eu desejei que pudesse registrar
uma cena eternamente. A memória fotográfica não parecia tão satisfatória
naquele momento porque Harry estava dançando com a minha mãe,
colocando em prática passos clássicos de dança que eu nem ao menos sabia
que ele podia fazer como se fosse um espetáculo de dança na Rússia.
Styles a segurou, uma mão firme na base das costas dela e a outra
envolvendo a mão relativamente menor. Ele sorria de lado a cada passo,
olhando-a atentamente, e qualquer pessoa assistindo a cena de fora
realmente pensaria que ele estava flertando com ela porque Harry era assim:
ele se afundava de cabeça em qualquer coisa
que o fizesse se sentir bem por um instante. Ele não fazia coisas pela
metade, ele adorava fazer outras pessoas se sentirem especiais e dignas de
atenção.
E pela risada de Jay, era exatamente assim que ela estava se sentindo. E eu
fiz um pedido silencioso para que ela encontrasse alguém que pudesse
dançar todos os dias com ela, que a fizesse se sentir amada de uma forma
que Mark nunca havia feito.
Harry corou, óbvio que sim, e sorriu com os lábios apertados. Depois veio
para o meu lado e riu mais quando eu ergui as sobrancelhas, incapaz de
conter o sorriso bobo criado pela palavra "genro".
— Agora minha mãe ama mais você do que eu. Não acha isso injusto,
Harry Styles? — brinquei, voltando minha atenção aos pimentões. — Vocês
foram ótimos, deveriam participar dos festivais de dança de Manchester.
— Contanto que ele possa me fazer sentir com vinte e dois anos novamente,
está tudo bem — Jay respondeu, piscando para ela. — Harry, querido, você
deveria se orgulhar.
Ele ergueu os olhos para ela, uma mão vindo para minha cintura em um
movimento natural e impensado.
— Como assim "do quê", garoto? — Jay brincou, mas eu reconheci o tom
por trás da voz dela. O mesmo tom preocupado que permanecia em sua voz
quando Lottie e eu fazíamos algo de errado. — Se orgulhar de ser uma
pessoa gentil, de fazer pessoas se sentirem flutuantes e felizes. Você faz
meu filho se sentir assim, eu consigo ver pelo olhar dele quando você liga.
Você fingiu namorar sua melhor amiga para protegê-la, você dança com
uma mulher que já passou da idade no meio da cozinha simplesmente
porque ela disse que era uma ótima música
para dançar. Você dá todo o seu amor e gentileza sem esperar nada em
troca... orgulhe-se disso. Orgulhe-se de ser quem você é, sim?
Horas depois, após ter jantado e assistido dois episódios de Peaky Blinders
com Jay e Lottie, subi as escadas e coloquei a cabeça para dentro do meu
quarto, escondendo as mãos atrás das costas ao ver Harry esparramado na
minha cama e mexendo no celular. Ele estava sem camiseta e o cobertor
acumulava-se em volta de sua cintura, a única luz acesa sendo a do pequeno
abajur ao lado da cama.
não
podia
deixar
aquilo
estragar
Se eu tivesse que falar naquele instante, não conseguiria formar uma única
palavra. Seria algo como o Chewbacca, e
não,
preferia
me
poupar
do
constrangimento.
rostos. Por cima da chama, olhei ele. Nós dois compartilhamos um sorriso,
mas o seu era muito maior. —
Eu adoraria comunicar Jay e todo mundo que agora você tem vinte anos e
fazer uma festa apropriada e tal, com direito à bolo gigante e Backstreet
Boys tocando ao fundo, mas sei que você não gostaria disso. Não gostaria
que eu contasse.
Seu peito vibrou contra o meu quando ele concordou. Eu queria perguntar
se ele comeria o cupcake, mas o silêncio era confortável e suas mãos em
mim eram mais ainda, então preferi que ficasse assim.
— Ela sabia sobre você — ele disse com calma, enunciando as sílabas com
cuidado; provavelmente prevendo que eu me levantaria do seu colo e o
olharia em surpresa.
— Hum– Louis, eu... eu meio que... — franziu os lábios em uma linha reta,
completamente perdido. Não sabia como prosseguir, o que só me deixou
ainda mais ansioso. —
Você nunca se perguntou como eu sabia seu sobrenome quando te trouxe
para casa pela primeira vez? Ou por que eu me encantei tão rápido com
você? Por que Julie parecia tão assustada e meio que... feliz — encolheu os
ombros, insatisfeito com a escolha de palavras. Continuou:
— Que eu sou apaixonado por você desde que tinha dezoito anos. Que,
desde os dezoito, eu me certifico que você esteja bem na escola e que esteja
seguro. Sempre. E
— O quê?
— Harry — evitei olhar para o seu rosto. — Em Nova York, você sabe
quem nós encontramos na cozinha, não sabe?
Concordou, hesitante.
Pisei os pés no chão gelado e curvei os dedos até que eles pudessem sentir a
irradiação do frio enquanto eu pressionava as palmas da mão contra as
pálpebras. Elas doíam, meus olhos ardiam e eu nem sequer estava
chorando.
Senti a mão de Harry pairando sobre o meu braço. Ele não me tocou e não
parecia seguro o suficiente para pedir para fazê-lo. — Eu contei uma parte
para Jay e implorei para que ela nunca contasse a Mark. Ela era a única
pessoa que sabia, mas eu descobri que Felicite havia me visto debruçado no
colo daquele nojento com a mão dele na minha boca. Era por isso que eu
estava tão frenético no início da noite em que fizemos amor, Harry. Davey
fez com que eu tivesse receio de qualquer toque.
— Louis — Harry sussurrou meu nome. Não havia doçura em sua voz ou
aquela demora das sílabas que conquistaria qualquer pessoa, mas sim uma
frieza impressionante misturada com ódio e ressentimento.
— Ninguém me toca, Harry. Exceto por mamãe e Zayn, eu não deixo que
ninguém me toque porque eu não suporto.
ruim em mim. Não você. Desde a primeira vez, desde a primeira pergunta
que você fez para receber a permissão e me tocar. Eu confio em você e não
entendia o porquê! Eu me perguntava por que você podia fazer o que nem
mesmo amigos da família faziam... você era praticamente um desconhecido,
não era?
ligeiramente
molhados.
Ele
não
era
um
desconhecido para mim, para o meu corpo e para meu inconsciente; aí
estava!
Talvez eu tenha sentido que você se importava comigo porque você sempre
estava por perto mesmo quando eu não sabia. Meu corpo te aceitou e eu te
aceitei porque você me aceitou dentro de você bem antes.
Sua pergunta veio em um sussurro e eu podia jurar que nunca tinha ouvido
sua voz tão afetada. Quando olhei pra ele, lágrimas atrás de lágrimas
escorriam pelas duas bochechas.
— Acredito que eu quis você desde o primeiro instante mesmo sem saber.
Meus dedos foram colocados entre os seus e Harry os guiou até outro lugar.
Centímetro por centímetro, batimento por batimento. Todo o calor
queimando pelos
em
cima
dos
arranhões.
Senti
as
las. Então nada mais justo que eu deixar você sentir a parte exterior de mim
que também está machucada, embora o único que afunde as unhas aqui seja
eu.
— Dói?
— Não.
— Você cura minhas feridas. E eu queria ficar por tempo o suficiente para
que pudesse te ver curar as suas, também.
Eu nunca vou me esquecer do que você faz por mim, nunca vou me
esquecer que você me fez sentir pertencido a alguém, embora ainda não
soubesse.
Quando passou por mim, ainda estava chorando e seus olhos estavam ainda
mais vermelhos; assim como o rosto inteiro.
— Harry?!
Eu vi perfeitamente quando ele ligou o Audi e não esperou para dar partida
e acelerar o máximo que podia nos primeiros segundos de funcionamento
do motor, deixando-me parado ali no centro da sala escura com ninguém
exceto pelo meu coração acelerado e as mãos frias como testemunhas.
Não vi Harry pelos próximos quinze dias. Porém, por outro lado, eu não
sabia que aquela noite era o começo de tudo.
Chapter Twenty
Eu achei que ele estava morto.
Eu entendia.
Liam não sabia de nada sobre Harry, tão desesperado quanto eu, ninguém
sabia de algo, e eu não conseguia me conformar. De certa forma, me culpei
até o último instante.
e por provavelmente ter tocado a única parte sua sobre a qual ele ainda
exercia algum controle. Me culpava quando Jay ia trabalhar e quando eu via
todos os rastros de Harry no meu quarto, na minha cama, na Range Rover
que Mark havia me dado. Em tudo, Harry estava lá. Parecia uma fixação
doente, uma devoção fadada a desaparecer em cada canto do que eu
considerava intocável.
— Você não me contou — foi o que ele disse. Sua voz estava
firme,
e
ali
eu
percebi
que
teríamos aquela conversa porque Zayn Malik nunca falava firme. Ele nunca
mantinha sua voz em um nível estável se não fosse para xingar em grego
jogadores de jogos online.
Eu sabia do que ele estava falando, sabia que era de Harry. Mesmo assim,
perguntei:
— O quê?
— Que você aceitou ficar com Harry mesmo sabendo que ele estava se
matando.
Estava.
Então era isso, não era? Mesmo sabendo o que eu estava fazendo, ouvir na
voz firme e inteligente de Zayn foi como um balde de água fria. E eu não
gostava de coisas frias;
— Zayn–
Não sabia por que era tão afastado de Mark e Felicite, não sabia por que
pessoas possuíam demônios dentro de si e por que havia conhecido Harry.
Não era para mudá-lo, como poderia? Uma pessoa de fora nunca poderia
mudar outra. — Eu não sei o que estou fazendo o tempo inteiro.
— Louis — ele me afastou pelos ombros. Era difícil olhá-lo e ver toda a
chateação contida em qualquer pequeno gesto que Zayn fazia. — Você não
pode tentar consertar alguém porque pessoas não podem ser consertadas.
— Porque não é só do seu amor que ele precisa e precisou durante a vida
inteira. Não é sobre você. É sobre a família dele, ok? A raiz dos problemas
de Harry está aí.
Liam me contou. É sobre o pai, sobre Anna, sobre ele se amar e perceber
que é importante para ele mesmo. Ele precisa de algum conforto, Lou. Um
conforto familiar. E se não puder encontrar em outras pessoas por perto,
teria de encontrar dentro de si.
Puxei as mangas para que elas cobrissem minhas mãos e encostei a cabeça à
parede atrás de mim, erguendo o rosto para tentar respirar com mais calma,
já que tudo o que eu pensava parecia inalcançável enquanto meu próprio
desespero era quase palpável.
— E você sabia que isso aconteceria uma hora ou outra. Sabe disso.
As palavras foram duras, mas o tom foi tão delicado quanto a área abaixo
dos meus olhos, desgastadas por conta de todas as lágrimas nos últimos
dias. Foi pensando nessas mesmas palavras que fui para casa e, ao checar
que Jay estava na cozinha, subi para o quarto. Me enfiei embaixo da
coberta, querendo me esconder de tudo e do mundo.
— Amor? — ouvi Jay me chamar. Não vou mais chorar, não vou mais
chorar. Ela apareceu na porta, um sorriso preguiçoso nos lábios. — Harry
vem para o jantar?
— Mãe...
comigo, amor. Estou ficando realmente preocupada. Está com dor? É algo
com Mark e Felicite?
Contei tudo, exceto pelo fato de Harry ser suicida, ter desenvolvido
depressão e ter desaparecido. Não mencionei meu Michelangelo. Se aquilo
fosse uma exposição de arte, que pudesse deixar todas suas obras pintadas
com sua dor de fora; ao menos naquele momento.
Eu sabia que ela queria contar a Mark sobre o abuso, mas só não havia feito
por causa de mim. Por causa das minhas súplicas e do sentimento de
vergonha corroendo toda minha pele. Jay era minha melhor amiga, e eu
sabia que ela nunca faria algo contra minha vontade mesmo que seu instinto
de mãe fosse tão forte quanto as lembranças cravadas no fundo da minha
mente.
prova,
nunca
havia
contado
sobre
os
querendo lavar as próprias roupas para que a mãe não visse as manchas.
Quão amargo é isso?
— Louis, meu amor... — ela estava sem palavras. Tudo bem, eu também
estava. Aquele "meu amor" significou muito mais do que algumas outras
frases poderiam significar. Eu sabia que sempre teria minha mãe, não
importasse o quê.
Não é?
Após alguns instantes, sorriu pequeno e beijou minha testa. Depois minhas
bochechas e meu nariz, olhando diretamente para mim.
Eu esperava que ele fosse demorar para responder, pensar no que dizer para
que não me magoasse, mas não foi assim. Jay respondeu no mesmo
instante, dando um puxão no meu cabelo que me fez sorrir entre as
lágrimas:
— Meu amor, com sete anos você dizia que os menininhos da escola eram
bonitos e que as meninas tinham cara de esquilo. Você sempre foi quem
você é.
— Por que Louis ganha frutas cortadinhas em cubo e eu ganho, tipo, uma
panqueca dura? — Niall perguntou baixo
— Sim?
— Por quê?
seus dedos pararam nos meus cabelos e ela piscou por alguns segundos
antes de fixar os olhos castanhos em mim. — Não quero te dar expectativas
demais, mas foi por causa da minha esperança que eu ainda estou aqui
mesmo após todos os xingamentos, todas as recusas e desprezos. Não há
nada errado em esperar por algo melhor, sim?
De repente, a música Every Little Thing She Does Is Magic do The Police
ecoou dentro da minha cabeça. Angel merecia o nome que tinha. Ela
merecia o amor de Niall e muito, muito mais.
Ela sorriu.
Foi impossível não rir, fazendo com que ele me acompanhasse com um tom
divertido e calmo, ainda com os olhos fixos em mim de uma forma que não
era nem invasiva ou irritante, apenas prestativa.
— Não era — respondi por final, arrastando o dedo pela condensação sobre
a mesa de ferro. — Sinto muito em decepcioná-lo.
seu braço descansou sobre o encosto atrás de mim, e pensei que era algo
típico de Crawford fazer aquele movimento sutil e, de acordo com o que ele
pensava, conquistador. — Você vai ao jogo amanhã?
— Não sei.
Não ia. Não havia mais nada que me motivasse a vestir o casaco, subir nas
arquibancadas geladas e assistir aos longos minutos com falso interesse. O
meu capitão do time não estaria lá.
— Deveria ir. Eles vão vender sorvete com massa de waffle, mas... — olhou
de um lado para o outro, apreensivo. — isso é segredo de Estado.
sua atenção para Payne. Chace bufou, emburrado, mas se levantou após
sorrir para mim como se dissesse que conversaríamos mais depois.
Levantei-me logo depois, também, afastando-me da mesa para ir em
direção ao banheiro.
enquanto
distribuía
sanduíches
para
as
— Louis–
fizeram começar a chorar. De novo. O alívio por ele estar em minha frente
também foi me preenchendo aos poucos, cobrindo as incertezas com uma
sensação metade amarga e metade doce.
— Louis–
— Sim.
Passei direto pelo amplo salão tomado por conversas empolgadas do Arroto
Molhado para chegar ao estacionamento, deixando todos para trás enquanto
mandava uma mensagem rápida a Zayn avisando que estava indo embora e
pedindo para ele pegar minha mochila. A chuva caía sobre minha cabeça
quando agarrei
a chave da Range Rover entre os dedos e entrei no carro, ciente das minhas
mãos trêmulas e dos olhos embaçados.
Observei uma gota de água escorrer pelo seu lábio inferior devagar, como
se estivesse traçando os contornos da boca dele.
— Harry...
— Vai se foder.
Ele me olhou como se dissesse "é sério?", e eu grunhi de raiva como uma
criança porque o xingamento realmente era ridículo e infantil. Não liguei o
carro. Encostei a cabeça ao volante, os nós dos meus dedos tornando-se
brancos com a força com que o agarrava.
— Você sumiu por quinze dias. Você me deixou acreditar que estava morto
durante esse tempo — murmurei, os olhos fechados. Não olhe para ele,
Louis. Não olhe. — Por quê?
— Porque foi o que eu senti que deveria fazer. Eu queria saber quanto
tempo faltava, e foi isso o que eu consegui. É
isso, Louis.
— E agora?
Não há mais nada o que fazer. Você sabe que isso acabaria em alguma hora.
— Por que você está aqui? — perguntei. De tão baixa, minha voz quase se
perdeu entre os pingos pesados de chuva. — Aqui, na lanchonete. Por que
voltou?
— Porque queria falar com você. Me certificar que você não mantém
alguma esperança idiota em relação a mim.
Ignorei a última parte, largando uma mão do volante para fechar o punho e
sentir as unhas cravando na palma da mão. Esperança Idiota deveria ser a
porra do meu nome.
— Niall — respondeu.
E foi isso. Não queria olhá-lo, apesar do meu corpo estar sentindo sua
presença e implorando por ele. Por favor.
Eu queria estender a mão e tocá-lo, sentir sua pele sob meus dedos ou até
mesmo sua boca sob a minha. Queria me certificar de que Harry ainda tinha
o mesmo gosto, que ele ainda soltava os mesmos suspiros quando me
beijava, mas tudo o que eu fiz foi ligar o carro e entrar na estrada após
passar o cinto. Estava tudo escuro, a rua em volta de
nós era deserta. Poucos carros passavam vez ou outra, mas ao todo, eu era
praticamente o único se aventurando a dirigir naquele momento; isolado
dentro do carro e dentro da minha própria cabeça.
— Não, Harry. Porque eu nunca te pedi muita coisa, nunca pedi para que
você me amasse de volta ou que parasse de tomar as pílulas — minha
garganta estava seca, o que fez minha voz sair com um tom esganiçado que
soava ridículo.
— Porque não vai adiantar merda nenhuma. Vai ter acabado, não vai? Isso
só vai te torturar mais.
— E você acha que essas últimas semanas não foram uma tortura? Te ver
morrendo aos poucos não é uma tortura? Me apaixonar por você não foi
tortura?
Ele não se moveu para sair do carro, e eu tive que desligar o motor e me
encostar ao banco de couro com um suspiro pesado.
Realmente, eu não podia vê-lo por dentro, assim como ele disse em uma das
primeiras vezes que nos falamos; e eu nunca havia me machucado tanto
tentando.
Ele saiu do carro. A chuva o castigou com toda a força enquanto ele abria o
pequeno portão individual ao lado do principal com uma chave que havia
retirado do bolso.
Era seis e meia da manhã quando ele entrou em minha casa, no meu quarto,
me acordou com um abraço quente e se encolheu contra meu corpo com um
pedido silencioso
de "me deixe ficar". Meu rosto ainda estava inchado, minhas mãos ainda
doíam, mas ele não pareceu se importar com isso quando acariciou minhas
bochechas com o polegar e me beijou. Por algum motivo, eu pensei que
aquela era minha última chance.
Ele pediu para que eu ficasse por cima daquela vez, só para que pudesse
sentir; só... sentir. Era um pedido modesto quando, por outro lado, eu
sempre havia pensado que ele merecia amor. E mesmo sendo guiado por
suas palavras baixas e calmas, ainda tinha um resquício nervoso nos meus
movimentos quando entrei nele e cobri sua boca com a minha. Ainda tinha
um resquício nervoso quando gozei dentro dele e o senti fazer o mesmo
logo depois com as sobrancelhas franzidas e a boca aberta em um gemido
silencioso.
Não tinha certeza, mas a palavra sussurrada contra meu ombro longos
minutos depois parecia-se muito com
"desculpa".
Ele sorriu. Saí do vestiário e caminhei por entre as pessoas enquanto vestia
o casaco do time sem nenhuma restrição própria ou vergonha. Sim, estaria
ali para torcer por ele uma última vez, gritaria seu nome sem me importar
com as consequências. Ninguém me impediria de usar o nome STYLES nas
costas e de olhar meu namorado como se ele fosse, realmente, meu
namorado.
— Corta esse cabelo ridículo e deixa de jogar como uma maldita garota,
Styles!
Harry ergueu a cabeça e o olhou de forma direta, piscando por cima das
luzes fortes e estreitando os olhos por causa do suor escorrendo pela testa.
No mesmo instante, sua mão foi até os próprios cabelos de forma insegura,
e eu sussurrei "não". Não, não...
Harry perdia as jogadas, seu peito subia e descia com o esforço extremo
para respirar e correr, coberto em suor e fragmentos de grama. Quando ele
parou no canto do campo para tossir, colocou a mão contra a boca com um
desespero que nunca poderia ser explicado em palavras; e eu vi qual era o
problema. O líquido que escorria por entre seus dedos era escuro, mais
escuro que sangue, e foi uma questão de segundos até que ele começasse a
tossir mais e expelir mais daquele líquido.
Harry correu de volta para o vestiário, deixando todos e tudo para trás, as
pernas longas tropeçando uma na outra e as costas ainda curvadas enquanto
tossia. Eu vi Harry
Não senti a pancada nos meus joelhos quando caí no chão, apoiando a
cabeça do meu garoto com as mãos e apertando os lábios com força para
que não deixasse os soluços saírem.
— Shh, nós vamos te levar pro hospital, ok? — acariciei o rosto dele,
sentindo meus olhos arderem. Seus olhos ainda estavam abertos, mas
incoerentes. — Meno, olha pra mim. Nós vamos te levar pro hospital...
Harry-
Ele não olhou. Harry fechou os olhos pouco a pouco e seu corpo
literalmente ficou mole sobre minhas mãos, e embora eu soubesse que ele
não estava morto por causa do seu peito subindo e descendo, aquele
segundo foi um dos maiores de desespero e desorientação em toda minha
vida.
Há momentos em que sua mente apaga, em que tudo dentro dela parece
imergir na escuridão para focar em uma única coisa, como se fossem luzes
de um estádio focadas no maior jogador. É como se você fosse um corpo
sem sentimentos, pensamentos ou reações, somente focado em conseguir
alcançar o que deseja. Enquanto Payne erguia o corpo magro de Harry nos
braços, foi mais ou menos assim que fiquei. Quando deixamos todos para
trás e alcançamos a BMW dele para colocar Meno no banco de trás, eu
estava amortecido. Ainda chorava, minhas mãos ainda tremiam, mas eu só
queria levá-lo para o hospital. Liam recebeu dezenas de multas naquela
noite, eu tinha certeza, mas o desespero tornou-se maior que qualquer
infração. Toquei todo o rosto gelado de Styles, limpei o canto da sua boca
com a minha mão e sussurrei tantas vezes que o amava que as palavras
quase chegaram a não fazer sentido para mim.
joelhos doendo e as mãos sujas, mas o que doía mais era saber que nada
adiantaria.
Ainda assim, sentado ao lado da cama de Harry com os olhos fixos ao teto e
os bipes ecoando em meus ouvidos, me perguntei quantas possibilidades
cabiam dentro dos batimentos cardíacos dele. Um mundo cabia ali? Não
tinha certeza. Mas o mundo dele se resumia àqueles números.
Quão miserável era o fato de a vida inteira de uma pessoa, todos os seus
fôlegos provindos de momentos de pura e crua alegria, serem reduzidos a
números em um pequeno monitor?
Eu não sabia como me sentir. Não a queria ali, chorando sobre o irmão
como se sempre tivesse o tratado bem; como se sempre tivesse sido seu
apoio.
— Bom.
— Assim como você também não ouviu Harry quando ele queria
desabafar? — fitei-a, deixando a raiva transparecer e se misturar à
frustração. Gemma abriu a boca e as sobrancelhas finas franziram-se no
mesmo instante; antes que ela pudesse falar algo, porém, continuei: — Eles
não me disseram. Harry teve uma parada cardíaca ao longo da noite, e o
resultado dos exames ainda não saiu. Não sei o que aconteceu.
Ao final, sentei-me ao lado de Jay. Senti a mão dela nas minhas costas, mas
nenhuma palavra foi dita. Era silencioso, digno de uma reunião antecedida
por outro evento traumático.
Gemma Styles saiu do quarto minutos depois. Olhou para cada um de nós
com olhos vermelhos e abaixou a cabeça antes de seguir em direção ao fim
do corredor. Karen Payne a acompanhou, murmurando "querida, se
acalme", mas os ruídos abafado de choro eram audíveis até mesmo quando
as duas viraram o corredor.
em
silêncio,
os
dedos
mexendo
Geoff Payne engoliu em seco, olhou para o filho abraçando outro garoto,
olhou Harry imóvel através do vidro e respirou fundo ao olhar para o teto.
— Preciso de um cigarro.
Também foi em direção ao fim do corredor, as mãos dentro do bolso de
forma quase robótica.
Foi a minha vez de me levantar. Eu mal conseguia parar quieto, ainda mais
quando todos os olhares estavam sobre mim.
Ao invés de ir pelo caminho que todos haviam ido, eu segui pelo lado
contrário, sem saber ao certo onde pararia.
A cada passo que eu dava, a cada fôlego inspirado para dentro dos meus
pulmões, eu implorava para que Harry, repentinamente, acordasse. Que
tudo aquilo fosse uma mentira, um pesadelo; que eu acordasse, em algum
ponto da minha vida, na aula de álgebra linear da Sra. Lawth pensando em
gatos e na minha vida futura sem namorado, relacionamento ou planos para
o amanhã.
Virei o corredor à direita. Antes que pudesse seguir por ele, porém, ouvi
vozes atrás de mim. Olhei para a direção das pessoas e vi alguns médicos
reunidos, pessoas vestidas com jalecos brancos. Entre eles, havia uma
garota baixinha de cabelo curto e rosto anguloso e delicado que, por algum
motivo, me lembrou de algo.
que
eu
pudesse
tentar
adivinhar algo a mais, ela se virou para o outro lado e seguiu até o fim do
corredor.
respirar. Inspirar, expirar. Chorar, deixando tudo sair, todo o desabafo ser
eliminado em forma de lágrimas.
Porém, virei a palma da mão para que pudesse entrelaçar nossos dedos.
Minha pergunta saiu borrada por causa das lágrimas na garganta. — O quê?
Parou. E eu continuei.
com
farinha
de
trigo
nos
cachinhos.
Harry e Louis.
•
Desmond Styles chegou à noite.
Vi uma aliança prata no dedo anelar dele, e sabia que não era a de
casamento. Ele já estava em outro relacionamento. — Preciso falar com
você.
Foi
assim:
superficial.
Não
houve
cumprimentos,
apresentações
ou
até
mesmo
demonstração
de
sentimentos; mesmo raiva ou nojo. Ele foi direto ao ponto, fazendo-me
levantar para que pudéssemos conversar no canto mais afastado do quarto.
— Vou transferir ele de hospital — disse, sério. Sua voz era rouca e
levemente desgastada, porém grossa, e havia manchas em seu rosto,
provavelmente causadas pela idade. Eu mal conseguia entender o porquê de
Anna ser casada com ele quando Harry descrevia a mãe como a pessoa mais
doce. Ela e ele não mereciam aquilo. — Vou levá-lo para outro país.
Meu mundo desabou naquele mesmo instante. Senti o chão tremer sob
meus pés com a possibilidade de ser afastado do meu garoto nos últimos
momentos.
— Você nunca bateria nele porque eu faria você se arrepender de ter, algum
dia, ameaçado meu filho — ela disse, uma sobrancelha erguida e os lábios
curvados de forma agressiva. — Você nunca bateria nele porque eu cumpro
o meu papel de mãe, e protejo meus filhos, ao contrário do que você fez
com Harry. E tire o nome de Angelina da sua boca... ela é uma mulher
incrível que não merece nada vindo de você; nem mesmo palavras.
— Você tem até amanhã para se despedir dele. Depois disso, ele vai para
bem longe — as últimas palavras
Minha voz soou baixa entre as paredes, como uma promessa sussurrada em
uma tarde quente ou um segredo contado entre beijos demorados.
Infelizmente, não era nenhum dos dois.
— Ele quer tirar você de mim, H. Quer te levar para longe... mas não tão
longe quanto você queria — encarei suas pálpebras pálidas expondo as
veias coloridas de roxo e verde, os cílios longos. Os cachos amassados, a
pinta minúscula e clara que ele tinha logo abaixo do olho esquerdo. Todos
os detalhes. — Mas eu sei que não vai demorar muito para você ir embora
de vez. Sei que já está perto, não está? Você está me deixando pouco a
pouco.
Pouco a pouco...
tantas vezes. No último beijo, deixado em sua testa gelada e com textura de
papel, apertei os olhos com força como quem está tentando se livrar de um
pesadelo. Mas quando abri os meus, não estava em um mundo livre de
monstros e de projeções terríveis. Ainda era a realidade amarga, a realidade
em que embaixo de mim, Harry permanecia com os olhos fechados e a mão
mole embaixo da minha.
Fui para casa, encolhido no banco de trás do Volvo e sendo envolvido pelo
silêncio de Charlotte e Jay. O velho e falhado rádio estava desligado, e eu
não estava muito diferente.
— Ei, ei. Respira — ela disse, ainda sentada na minha cama. Entre suas
próprias mãos, uma xícara de chá. —
Não vamos voltar. Não hoje, não agora. Eu quero que você coma algo, que
durma e descanse. E voltamos amanhã, cedo. Prometo.
— Por favor...
claro que não havia melhorado, as pílulas ainda o corroíam por dentro, os
últimos efeitos ainda estavam dentro dos seus ossos, dos seus órgãos,
devorando-os em suas últimas oportunidades.
— Para onde vocês vão levá-lo? Como você tem meu celular?
Ao longo do dia, todos passaram pelo quarto. Julie, Liam, Niall, Angel, os
garotos do time de futebol e inclusive Chace Crawford, que apertou meu
ombro de uma forma tão confortante que minha garganta fechou. Perto das
cinco da tarde, Desmond reapareceu. Pelo amplo vidro na parede do quarto,
vi ele e Jay conversarem, e vi quando a expressão da minha mãe se
transformou em pura surpresa. Quando perceberam que eu estava
encarando, porém, viraram as costas e saíram dali. O que me deixou ainda
pior. Mais confuso, mais incapaz, mais inútil. Minha vida parecia uma
sucessão compulsiva de eventos desconexos; e era horrível.
que eu fosse embora. Que deixasse o quarto para começarem os ajustes para
a transferência de hospital.
E eu sabia que soava como um louco, alguém fora de sua capacidade plena
mental. E a expressão do médico, quando se tornou preocupada, me fez
pensar que ele não acreditava em mim.
— Você deve estar em estado de pânico, sim? Quer conversar, você acha
que...
Me levantei, frustrado.
— Eu não estou enfrentando um estado de pânico! Eu sei o que está
acontecendo, eu sei que vocês podem evitar!
Olhei para Harry, tão próximo e tão... distante. Me despedir? Como?! Tudo
o que eu queria era me desligar e fingir que não doía mais para conseguir
parar de chorar e soluçar ou ao menos aplacar a sensação vazia e, ao mesmo
tempo, dolorida me consumindo como brasa. Meu peito estava doendo com
cada inspiração e eu só desejava me poupar de mais algum machucado
irreversível.
Mais uma vez, lembrei-me de tudo enquanto fechava os olhos para deixar
as lágrimas caírem de vez, fazendo minha cabeça doer e as têmporas
latejarem ainda mais.
Ele queria um tempinho? Ele que justamente nunca teve tempo para Harry?
O que eram vinte minutos perto dos últimos meses que havíamos passado
juntos e perto de todas as vezes que Harry havia feito eu me sentir...
Infinito? O que significavam vinte minutos perto da eternidade que Harry
havia me prometido sob o céu estrelado de Holmes Chapel
com os lábios colados ao meu pescoço e as mãos grandes acariciando meus
quadris com uma delicadeza quase surreal?
aos meus
pensamentos
lá. O que eu percebi, meu Meno, é que a nossa eternidade começou antes
mesmo de nos conhecermos. Lembra quando perguntou se eu acreditava em
destino e eu não respondi? — Enxuguei mais algumas lágrimas que
inevitavelmente caíram sobre a pele do pescoço do meu namorado, e
inspirei o ar com cheiro de remédios do ambiente antes de continuar. — Eu
acredito. Acredito porque tenho a certeza de que nós dois fomos feitos para
perseguir estrelas e nos transformarmos em poeira cósmica juntos. Eu te
amo tanto que nunca poderia dizer adeus, mesmo que todos insistam em
dizer que é. E isso não é uma despedida, eu te juro por todas as vezes que
você me fez sentir incrível e único. Por todas as vezes que me amou como
se nunca fôssemos chegar ao fim.
Pressionei um beijo lento e salgado por causa das lágrimas contínuas contra
os lábios secos dele e sussurrei:
Um dia depois, uma mensagem fez o meu celular, que estava esquecido na
mesa de cabeceira desde o instante em que eu havia chegado do hospital,
apitar. Pisquei para a escuridão dentro do quarto, o canto dos olhos doendo
e a cabeça repleta de turbilhões; não conseguia dormir, não conseguia
pensar sem ter a sensação de estar sendo transformado em legítimo caos.
"Acabou."
Chapter Twenty Two
Ao longo dos anos, os dramas clássicos exigidos na matéria de Literatura
Nacional haviam me proporcionado uma ideia utópica e distorcida de
grandes momentos e marcos da vida.
Primeiro: o amor.
O segundo mês foi ainda pior. Eu sabia que havia perdido peso, que estava
degradado nas notas e que Jay conseguia escutar através do corredor
quando eu chorava de madrugada. O casaco do time permanecia enfiado
dentro do guarda-roupa, e eu permanecia enfiado na minha cama e dentro
da minha própria cabeça. Era mais
seguro lidar com meus pensamentos a lidar com um mundo que parecia
privado de cor-de-rosa.
equivocadamente
que
Harry
havia
Mas da mesma forma, era como estar preso dentro de um destino que não
pertencia a mim. E ao olhar para a entrada da biblioteca e ver alguns
jogadores adentrando o ambiente com sorrisos pequenos, a dor tornava-se
sufocante ao perceber que, entre todos os garotos, eu procurava por somente
um.
— A diferença é que eles não corriam o risco de serem expulsos por invadir
a escola após o penúltimo jogo da temporada — comentei, ouvindo Candice
e Julie concordarem com risadas suaves enquanto Liam respirava fundo
diversas vezes. Estava fadigado por ter de carregar as duas pizzas e uma
parcela das garrafinhas de Corona.
Ele era o Monstro de Músculos, afinal. Tinha que fazer jus ao nome.
os
arrastando
para
baixo.
Apesar de não ser Styles, ele era bom. E os estudantes ficaram satisfeitos,
trabalhando a abstinência de Harry com mais entusiasmo a cada jogo, a
cada ponto marcado e a cada vez que o time dava um passo a mais no pódio
que sempre pertenceria aos Wild Wolves.
O sol estava se pondo, o que fazia com que a temperatura em volta de nós
fosse fresca e agradável o suficiente para que eu pudesse usar a velha
camiseta do Kiss sem precisar de uma jaqueta. No horizonte, uma extensa
linha contornada por tons de laranja e vermelho sugava toda a minha
atenção e não permitia que eu olhasse para outro lugar, nem mesmo quando
Liam perguntou:
Nunca mais ouvi falar dela. E ela provavelmente bloqueou meu número, já
que não consigo ligar.
Yeah. Talvez.
Ficamos ali, sentados, até a noite; quando começou a ficar mais frio. Zayn
me levou para casa, o que foi um alívio.
Não que eu não gostasse de estar com eles e ouvir as vozes deles, que
proporcionavam certo sentimento de familiaridade e distraíam minha
cabeça, mas eu ainda preferia minha cama e meu quarto. Por outro lado,
sabia que aquilo teria que acabar alguma hora e que eu teria que
Jay não levantou os olhos, mas vi quando os dedos dela paralisaram sobre o
mármore, onde estavam batucando algum toque aleatório. Lembrei-me do
dia que a confrontei sobre o porquê de Desmond ter conversado com ela no
hospital e o porquê de ela ter ficado tão surpresa com o que ele havia dito.
Contou-me que Desmond estava dizendo a ela que a mansão deles já estava
sendo esvaziada para ser colocada à venda e o advogado deles estava
tomando conta de tudo; que foi quando também fiquei sabendo que Mark
era, de fato, o advogado dele. Algo parecia fora de lugar, mas balancei a
cabeça como se estivesse entendendo.
— Eu tenho algo para entregar a você, algo que chegou essa semana. Eu
só... — assisti-a ponderar por um instante e escolher entre duas opções que
pareciam machucá-la. — Louis, eu vi você praticamente se desintegrar em
minha frente nesses últimos meses. Vi você emagrecer, deixar de sair com
Zayn e deixar de entregar sínteses sobre livros que você amaria ler. É por
isso que não te entreguei esse envelope a você antes.
— Que envelope?
— Você sabe que enfrentou coisas difíceis em toda a sua vida, não sabe? —
ela continuou, um timbre gentil atenuando cada sílaba. — E que eu vou te
apoiar em qualquer decisão e em qualquer rumo que você tomar em sua
vida. Eu sei que você amava muito Harry, mas você também precisa se
deixar respirar um pouco, amor. Perder alguém é muito ruim, mas deixar de
viver é ainda pior.
Ela me entregou a carta e eu fechei os dedos em volta do envelope grosso.
Me forcei a não encarar novamente as coisas escritas na frente do papel e,
ao invés disso, dei a volta no balcão para abraçar Jay e a senti apertar os
braços em torno de mim. Senti seu suspiro pesado contra o tecido da minha
camiseta, por isso deixei um beijo cuidadoso no ombro dela e sussurrei:
Só não sabia se estava dizendo aquilo para ela ou para mim mesmo.
De qualquer forma, não abri o envelope até depois do jantar, quando mamãe
foi para o quarto dela e Lottie fez a mesma coisa. Sentado na cama,
encostado à cabeceira e com a janela aberta para que o vento leve e
ligeiramente gelado da madrugada adentrasse o quarto, respirei duas, três
vezes antes de reunir o tanto de coragem necessária e, mais uma vez, pegar
o papel. Olhei a parte da frente, completamente amarelada. A data marcada,
como já era de se esperar, não era recente, e sim do dia 5 de fevereiro; o que
matou minhas esperanças estúpidas em relação a possibilidade de Harry
estar vivo como se tudo fosse um livro com um final feliz ou algum filme
de ficção.
Que idiota!
uma última vez somente para massacrar e pressionar contra a parede meu
lado masoquista que insistia em me mostrar que tudo estava afogado em
puro ácido, puxei a aba do envelope para abrir a parte de cima. Então, tirei
o que estava dentro, e olhei atonito para as dezenas de fotos que tomaram
minha mão.
Com certo desespero nas mãos trêmulas, revirei foto por foto. Louis, Louis
e Louis. Fotos de quando Harry encontrou a câmera e me acordou tirando
fotos, fotos minhas sorrindo em diversos lugares, como em Nova York.
Quando cheguei à última, uma foto minha piscando para a câmera e com os
lábios repuxados em um sorriso de lado, percebi que estava chorando, as
lágrimas caindo na foto que me fez pressionar os lábios juntos para não
deixar um soluço alto escapar. Tive que deixar tudo de lado para esconder o
rosto com as mãos. Percebi que a sensação de queimadura dentro do meu
peito não era a mesma que fazia eu me arrastar todos os dias para fora da
cama com um senso de pessimismo escurecendo todas as minhas ações.
Pela primeira vez em meses, sentia-me leve.
Reuni as fotos com cuidado, passando o polegar em uma por uma até que
chegasse à última. Limpei as lágrimas com a palma da mão e senti o vento
atingir e trazer certo alívio à minha pele quase febril. Coloquei as fotos
sobre a mesinha de cabeceira e peguei o envelope para fazer o mesmo
quando um papel caiu no meu colo. Uma notinha cor-de-rosa rabiscada:
"Seus olhos foram a imensidão azul mais linda na qual Meno já se perdeu."
O final do ano não foi a tortura lenta e impiedosa que eu previa. A pedido
de Jay e com o incentivo de qual precisava, mandei as cartas de aplicação
para duas universidades em Nova York, NYU e Columbia, enquanto todo
mundo mandou para a UCL ou, no caso de Zayn e Liam, para Harvard e
Cambridge. Devido aos programas socioeducativos dos quais Candice
participava na Wye Hill, ela foi a primeira a entrar na UCL com uma bolsa
para Ciências Sociais e Políticas antes mesmo de as aprovações começarem
a ser mandadas. Foi o que motivou Julie a tentar entrar também.
os
namorados
namoradas
Era um pensamento amargo, e eu sabia que sentia inveja dos meus amigos
da forma menos tóxica possível.
Por outro lado, eu tinha o apoio de Felicite nos Estados Unidos.
Ela havia começado a me mandar mensagens desde o dia em que soube que
Harry havia morrido. Coisas pequenas, novidades sobre a NYU ou fotos
aleatórias que não acrescentavam em nada na minha vida, mas que, de certa
forma, colaboravam para que eu não me sentisse sozinho.
Eu não respondi as primeiras – o que durou cerca de um mês. Mas ela não
desistiu, e quando cedi e dei uma oportunidade ao nosso relacionamento, ao
ligar para ela, minha garganta estava seca, mas meu coração estava leve.
Ri baixo, esticando o pescoço para que pudesse olhar por cima do ombro
dela, para o espelho estampado em uma
Viramo-nos para olhá-la. Não demorou muito para que nossos cérebros
momentaneamente inúteis pela maconha decidissem que fazer um montinho
em cima dela era uma
boa ideia. O que resultou em Julie soltando gritinhos e rindo e Zayn e Liam
enchendo as bochechas dela de beijos enquanto Candice tentava arrancar o
cigarro de maconha da minha mão a todo custo, soltando gargalhadas
gostosas a cada vez que eu mordia de brincadeira seu braço.
•
Minha primeira tatuagem, feita no exato dia em que completaram dez
meses desde a morte de Harry, coincidiu com a data em que Zayn me
contou que havia sido aprovado em Cambridge. A tatuagem era um "far
away"
— Zayn vai aceitar, ele ama você. Não é precipitado, e vocês vão ter tempo
o suficiente para se acostumar com as manias e cada detalhe um do outro...
relaxa, Liam —
quando vi que ele não estava se acalmando, sorri da forma mais confortante
possível. — Sério. Vocês dois têm milhares de chances, usem elas.
Algo me dizia que ele optaria pela coisa certa e finalmente diria a Zayn que
deveriam ir morar juntos. No final, seus olhos pousaram na minha
tatuagem, ainda envolta por plástico filme. De repente, o ambiente ficou
menor.
Obriguei o sorriso que havia escorregado do meu rosto a voltar para o seu
lugar, apesar de meu cérebro estar reproduzindo sem parar todas as vezes
que Harry já havia dado a entender que era um incômodo e um peso. Que
ele não me merecia. Não merecia felicidade alguma.
meu melhor amigo ir embora. Não estava tudo bem quando Candice e Julie
me mandaram uma foto no Snapchat dentro da UCL e, principalmente, não
estava tudo bem quando tirei o velho casaco vermelho e preto dos Wild
Wolves de dentro do guarda-roupa e dormi abraçado a ele. O cheiro da
poeira era predominante, mas a ideia de que meu Michelangelo havia sido o
primeiro a vesti-lo era confortante.
O período de festas de fim de ano passou rápido. Felicite foi para Londres,
passar o Natal em nossa casa, e Jay praticamente desmontou ao vê-la após
tanto tempo. As duas conversaram por longos minutos, e eu assisti a tudo
enquanto fazia chá para todos nós. Foram bons dias.
Na primeira vez que tentei falar sobre o meu ex-namorado que havia
cometido suicídio, as palavras travaram e eu precisei sair da sala. Não tentei
mais, mas por outro lado, comecei a falar sobre abuso sexual. As pessoas ali
dentro, inclusive Candie e Julie, sorriram de forma tensa para me encorajar
e me dar segurança para continuar quando contei, sem dizer todos os
detalhes, o que havia acontecido.
Era como se mais um peso estivesse sendo tirado dos meus ombros. Ao
final daquela palestra em especial, eu ganhei uma caixa de donuts e Julie
deitou a cabeça no meu colo enquanto Candie lia um livro de Zygmunt
Bauman para uma de suas aulas. Não sabia como deveria me sentir, mas
sabia que era uma boa forma de recomeçar.
Não foi até dois meses depois, quando já estava prestes a começar a
trabalhar no restaurante de Nora como atendente, que recebi mais uma
carta. Aparentemente, eu possuía um longo histórico com elas.
Eu estava terminando de fazer meu chá, com os olhos irritados pelas lentes
de contato e os cabelos extremamente bagunçados. Estava considerando a
— Louis...
— Hum?
— Louis!
— O que é isso?
Ela sorriu tão grande que, de alguma forma, eu soube que o que estava ali
dentro mudaria meu ano e, talvez, minha vida inteira. Com mais pressa do
que deveria, encarei o restante do envelope e vi o nome da Universidade de
Nova York no topo.
Porra.
— Você vai para Nova York — Lottie sussurrou em certa noite, a cabeça
apoiada no meu peito e nossas pernas entrelaçadas no fim da minha cama.
— Daqui a cinco dias.
Tipo... que injusto. Você merece toda a felicidade, mas Lou, quem eu vou
ter para incomodar?
— Yeah, mas você vai para Nova York — ela repetiu como se eu não
houvesse entendido ainda, e eu dei risada. —
Charlotte começou a se levantar, mas eu agarrei o braço dela e sorri até que
ela fizesse o mesmo.
Fizzy: você precisa ver isso. tirei essa foto hoje e você precisa me dizer que
estou vendo coisas, Lou. Você precisa me dizer que estou enganada
Fizzy: por favor, me liga assim que receber a mensagem Rolei a tela para
baixo. A imagem estava granulada, de baixa qualidade e provavelmente
tirada de longe, como aquelas tiradas por detetives; o que só me fez ficar
ainda mais agitado. Ainda sim, consegui identificar a silhueta de uma
pessoa segurando a porta para outra, o rosto embaçado e...
Não contei a Julie, Candice, Zayn ou Liam. Não até ter certeza do que está
acontecendo de forma definitiva e matar a ponta de esperança no meu peito
acesa com uma faísca de hesitação. Ou... acendê-la ainda mais.
Quando a BMW estaciona em frente ao majestoso prédio na Quinta
Avenida, o motorista pega minhas duas malas menores para que eu carregue
a terceira junto com a mochila sobre meu ombro. O porteiro e seguranças
acenam a cabeça em minha direção com certa educação e rigidez que
somente nova-iorquinos poderiam possuir, e algo me diz que eles sabem
bem de quem sou filho; o que faz meu estômago embrulhar. Partimos em
direção ao corredor dos elevadores.
— Oi, Fizzy.
considerada parte do bairro, sabe? Tem umas lojinhas pequenas, coisas que
vendem CDs clássicos e relíquias e–
Ela cruza as pernas em cima do sofá e fecha os olhos por alguns segundos,
o sol da tarde colorindo as camadas mais claras do cabelo dela com um tom
de laranja delicado.
— eu que o diga. — Ele estava segurando a porta para uma mãe e a filha
entrarem, sorrindo para a garotinha. Era uma lanchonete, acho? Não me
lembro direito porque eu estava tremendo e nervosa por pensar que estava
enlouquecendo, mas... era ele. Lou, era ele.
Dessa vez, é uma voz grossa, porém cansada que enche a sala:
Ele respira fundo, como se estivesse dentro de uma sala de aula prestes a
explicar a mesma matéria com detalhes minuciosos pela décima vez.
— Não sou advogado, eu não entendo o que você está falando — respondo
mais grosseiramente do que deveria.
— Louis...
ano
inteiro.
Aumento
tom
de
voz
O silêncio engole a sala inteira com eficácia. Ouço uma buzina soar a
distância lá embaixo, o barulho do trânsito diminuindo gradativamente
conforme o sangue pulsando nos meus ouvidos com pressão dolorosa vai
tomando todo o espaço dentro da minha cabeça. Felicite abaixa a cabeça e
Mark, porém, continua me encarando.
— Não. A gente conversa sobre isso outra hora. Agora, eu quero ver Harry.
Somente ele.
Mark olha o relógio caro e brilhante no próprio pulso após soltar um suspiro
pequeno. Então, afirma com a cabeça:
tanto de força e coragem necessárias para olhá-lo de volta. Não após tê-lo
chamado de pai mesmo ainda guardando tanta mágoa e não após ter
implorado para ver meu namorado – ex-namorado – que foi praticamente
escondido de mim como um maldito segredo.
Olho em volta. Do meu lado direito, uma loja de roupas de grife com uma
fachada elegante elaborada em mármore escuro e vidro. Do esquerdo, um
café chamado Olivia's, com uma pintura agradável em verde-menta e uma
ampla vitrine de vidro que deixa à mostra o interior bem iluminado. Por
algum motivo, lembro-me do Central Perk em Friends.
— Lá.
Afirmo com a cabeça, abro a porta e saio do carro. Nem sequer me importo
em conferir se meu cabelo está arrumado ou se meu suéter esta alinhado
sobre meu torso.
O cansaço das longas horas dentro de um avião pesa sobre meus ombros,
mas enquanto atravesso a rua após checar os dois lados, é como se eu não
me importasse nem com a minha própria dor, interna ou externa. Nem
com o cansaço, nem com as olheiras e nem com meu coração despedaçando
e sendo recomposto a cada passo como
se
fosse
um
passo
de
mágica
criado
Adentro o lugar.
os
celulares
ou
conversando
com
os
Olho para a garota negra em minha frente segurando uma bandeja com
xícaras coloridas no topo, um sorriso hesitante nos lábios cobertos por
batom rosa e uma headband usada como tiara no topo dos cabelos crespos.
— Eu tenho um... amigo — começo a dizer, minhas mãos indo direto para a
barra do suéter em um gesto nervoso.
Nós não somos amigos. — Ele trabalha aqui, e eu preciso muito falar com
ele.
— Harry — respondo.
Viro as costas para sair do café, entrar no carro de Mark e implorar para que
ele ache Harry com qualquer outros atributos que ele possa ter, mas a garota
me chama mais uma vez. Viro-me novamente, desistindo de limpar as
lágrimas por saber que elas continuarão vindo de uma forma ou de outra.
Agora, ela está com as mãos vazias e os olhos, por outro lado, repletos de
expectativa.
— Eu não sei onde Harry mora, na verdade. Ele é bem reservado — ela
murmura enquanto está digitando. — Mas ele também trabalha fazendo
algumas fotos como fotógrafo iniciante em um estúdio pequeno, mas bem
conhecido aqui perto. Ele estará lá amanhã às nove ou dez, acho. Fica até as
cinco da tarde — ela ergue a cabeça e sorri, empurrando o celular em minha
direção. —
Coloca o seu número aí, e eu mando a mensagem com o endereço pra você.
Só tenho uma noção maior do quão trêmulas minhas mãos estão quando
levo um bom tempo para digitar o meu
— Vai dar tudo certo, Louis — ela diz com toda a calma.
Dormir, em qualquer lugar, nem sequer parece uma opção plausível; mas
Mark insistiu que eu esperasse. Só mais um pouco, só até... amanhã. Afinal,
eu esperei por mais de um ano sem sequer saber ao certo por que estava
esperando.
A frase soa bem dentro da minha cabeça e dentro do meu coração. Muito
bem.
Fotógrafo.
Olho para trás, para o carro do motorista de Mark estacionado do outro lado
da rua e que me trouxe até aqui.
Felicite está no banco de trás, protegida pelos vidros escuros, mas é como
se eu fosse capaz de ver a apreensão estampada em curva de sua expressão;
duvido que eu esteja diferente. Então, adentro o lugar e fecho a porta atrás
de mim, fazendo com que o único ponto de luz venha do fim das escadas
parcialmente iluminadas. Subo degrau por degrau, a ansiedade me
devorando vivo a cada tique do relógio. Quando finalmente chego ao final,
olho em volta de mim, para o estúdio se desenvolvendo em minha volta e
para as janelas abertas deixando entrar uma brisa calma e fresca.
Wow. Calma.
— Harry está lá no fundo — ele aponta com o polegar por cima do próprio
ombro em direção ao corredor. — Mas você precisa me dizer–
Eu literalmente começo a correr. Coloco em prática todas as habilidades de
corrida aprimoradas durante as poucas aulas que participei na Wye Hill, e
atravesso o espaço aberto do estúdio como quem não se importa com mais
nada, ouvindo o fotógrafo gritar e xingar atrás de mim. Não
Avisto uma escada de madeira no final dele que possui quinze degraus, no
máximo. Então me arrisco e cruzo os dedos mentalmente para que não seja
outra decepção enquanto subo pelos degraus e me obrigo a respirar pelo
nariz. Inspirando, expirando. Quase lá. Respirando fundo, implorando para
os meus pés não falharem comigo agora. Último degrau. Expirando,
inspirando e...
Todo o ar escapa dos meus pulmões com tanta força que a pressão exercida
sobre meu peito acaba sendo extremamente dolorida; como quando você
permanece por muito tempo embaixo da água e volta à superfície de
repente. Aperto a mão no centro da garganta, os olhos fixos à frente e minha
cabeça sendo esvaziada como um balão colorido em meio a um céu azul.
A figura alta em minha frente está de costas para a porta e sentada na beira
de uma mesa velha, mexendo em algo entre seus dedos. incapaz de agir,
percorro o olhar pelos ombros largos fazendo com que a camiseta fique
esticada sobre os músculos magros, e pelos cachos roçando a gola
suavemente. Cubro os lábios com a mão, impedindo que um soluço feio
deixe minha boca dentro do pequeno, escuro e quente cômodo.
O fotógrafo vem logo atrás de mim. — Garoto! Você não pode subir aí!
Harry coloca os olhos em mim, e cada centímetro de seu rosto lindo, tão
lindo, passa de confuso para surpreso.
Eu o olho, apertando os dentes com tanta força que meu maxilar chega a
doer. Dou um passo mais perto, depois outro, e de repente é como se meu
coração não suportasse estar preso dentro da minha caixa torácica.
Harry, meu Meno, meu Michelangelo e o amor da minha vida inteira está
parado em minha frente e seu próprio coração está batendo e tudo em seu
corpo está funcionando da forma que deve. Ele está vivo, e eu nem sequer
penso em outras circunstâncias enquanto começo a respirar fundo. Dou a
volta na mesa, dois olhos verdes e atentos acompanham meus movimentos
e eu, finalmente, paro em frente a ele.
— Está tudo bem, Mitch! — exclama sem tirar o olhar de mim, apenas
alguns centímetros de distância entre nossos corpos. Ele parece tão
diferente, tão mais forte e robusto.
A voz rouca ecoa dentro da minha cabeça de forma tão doce que nenhuma
canção jamais poderia. — Pode voltar para as fotos.
Meu corpo inteiro sacode com os soluços que tentei bravamente reprimir, as
lágrimas fazendo seu caminho através dos meus olhos mais uma vez, dessa
vez por alívio, e todo e qualquer ponto dos meus pensamentos se resumindo
ao nosso contato e à nossa conexão. É
— Louis — ele sussurra com cuidado, sua voz mais trêmula do que o
normal; como se ele também estivesse chorando. Devagar, suas mãos vão
para os meus quadris, apertando minha cintura. Empurro meu corpo mais
contra ele, como se nada fosse suficiente.
— Você está vivo — soa inútil no pequeno lugar, entre nós dois, como se
uma constatação tão óbvia não coubesse no espaço reservado a outros
assuntos sérios.
rodou minha cabeça desde o instante em que vi as fotos que Felicite havia
me mandado. — Por que você achou que me fazer sofrer duas vezes seria a
melhor opção? Por que eu tive que vir atrás de você, H?
— Eu passei mais de um ano pensando que você estava morto, Harry. Mais
de um ano, você tem noção do que é isso?
Harry leva ambas as mãos aos cabelos, puxando os fios entre os dedos ao se
virar de costas; lembro-me amargamente de quando fiquei sabendo que sua
mãe havia morrido, no estacionamento da empresa de Desmond. Styles
apoia as mãos na mesa, as costas curvadas, e fica quieto durante alguns
tiques do relógio.
Quando Harry também pisa os pés cobertos por botas Chelsea no cimento
batido da varanda e fecha as portas de vidro atrás de si, tenho a impressão
de que nunca me senti tanto como um espectador externo da minha própria
vida quanto agora.
À altura do quinto trago, ele abre a boca. Em algum lugar dentro do estúdio,
Trouble do Cage The Elephant começa a tocar e as palavras ecoam abafadas
na varanda.
apaixonado pelos seus olhos e pela forma que seus cachos balançam
devagar com o vento. Finalmente, confirmo com a cabeça: — Acho que as
coisas começaram ali. Você me disse que nunca me esqueceria, me disse
todas aquelas coisas que eu não merecia ouvir, e minha ansiedade subiu tão
alto que eu pensei que iria morrer naquele segundo por causa da velocidade
em que meu coração estava batendo. Eu... meio que fui diagnosticado com
Transtorno de Ansiedade Social com dez anos. Você sabia?
Trouble on my left, trouble on my right, I've been facing trouble almost all
of my life
risada depreciativa e amarga, porém quase inaudível, escapa dos seus lábios
rosados, que são umedecidos pela ponta da língua. — E então eu cansei de
tomar as pílulas e comecei a procurar pelos comprimidos que minha mãe
usava para o tratamento do câncer para poder... acabar com tudo de uma só
vez, sabe? Revirei o quarto dela, virei as coisas de ponta cabeça, e achei os
comprimidos. Mas também achei uma carta dela. Acho que ela escreveu
pouco antes de morrer. Era uma carta para mim, Lou. Não para Gemma,
para Desmond ou para a família toda em geral. Era pra mim.
— Eu provavelmente vou te mostrar a carta para você ler, mas ela escreveu
dizendo que, antes de descobrir o câncer, estava colocando em ação um
projeto para crianças com leucemia — seus lábios se curvam em
praticamente milímetros para cima. Fita-me com atenção e cuidado. —
Acho que ela estava reformando o centro do hospital com o próprio
dinheiro. E você sabe como ia se chamar?
dizendo que esperava que eu continuasse sendo assim pelo resto da minha
vida. Disse que eu mereço amor, mereço as coisas mais doces, e que eu
mereço ser feliz.
Somente para mim, somente nós dois e o vento deixando nossos narizes
vermelhinhos. — Anna disse que esperava que você percebesse o quanto
eu... te amo. E terminou falando que, embora eu mesmo ainda não
soubesse, algo dizia a ela que o sentimento que eu tinha guardado para você
era amor. E ainda é.
I said it was love and I did it for life, did it for you É a primeira vez. A
primeira vez que ele diz que me ama com todas as palavras, e embora eu
tenha o agradecido por me amar como se nunca fôssemos acabar, há meses
atrás no hospital, ouvir todas as palavras de sua voz, seus lábios e em seu
tom naturalmente lento faz meu peito ficar mais leve; menos pressionado.
Você deve se lembrar dela. A garota que você encontrou na minha cozinha
no Natal, lembra? Baixinha, cabelo curto, língua afiada.
Tudo vem como uma onda, e Frankie Sandford me vem à cabeça. Lembro-
me dela no corredor do hospital em Londres e então, só então, descubro o
porquê de ela ter parecido tão atônita quando me viu. Lembro-me do
bottom estampado com a bandeira da pansexualidade pregado em sua
mochila com um orgulho nato, e me lembro de pensar que ela se parecia
comigo.
para
pedir
ajuda.
Joan
praticamente
estivessem fazendo efeito. Por que você não me disse que estava
procurando ajuda?!
— Então você omitiu grande parte da história. Você veio com todo aquele
papo de não ir ao seu enterro, continuou falando comigo como se fosse
morrer, sendo que você sabia que não ia, Harry! Você sabia–
— Ele contratou Mark. Você sabe que suicídio assistido não é uma
modalidade da medicina legalizada lá no Reino Unido. A NYU soube do
projeto de Joan e da equipe dela, sobre todos esses processos, e eles a
trouxeram para Nova York para que ela continuasse a graduação aqui.
Porque embora pareça que sim, eu não sou a única pessoa que estava se
matando. Só que eu precisava estar seguro de que não acabaria preso ou
internado quando descobrissem que eu era o tal rato de laboratório que
havia arriscado tomar as pílulas para suicídio, e precisava me assegurar de
que minha identidade fosse preservada e eu não fosse processado pelo
Estado, então Mark me ajudou. E ainda me ajuda — seu dedo longo
começou a mexer com o rasgo da calça jeans. — Mas antes de tudo, eu fiz
um contrato com Desmond: se eu ficasse em coma, ele diria a você o que
estava acontecendo e se certificaria de que eu seria transferido o mais
rápido possível para cá.
Explicaria tudo. Nunca falei com Gemma sobre isso, mas ela se enfiou
nisso tudo e eles praticamente tiveram controle sobre minha vida por três
meses inteiros. Porque eu fiquei em coma por noventa e cinco dias quando
eles me tiraram de Londres e Desmond é, de fato, meu responsável legal.
"acabou".
— E você achou que ela estava falando de mim — ele concluiu. — Não,
Lou. Eles estavam falando de nós dois.
— Por que você não foi atrás de mim? Por que não contatou Liam?! Ou
Angel... — pergunto ainda de cabeça
— Por que não nos deixou saber que estava vivo, Harry?
— Porque eu pensava que vocês sabiam. Eu ainda não sou uma pessoa cem
por cento, Louis. Eu sou física e mentalmente desestabilizado, tomando
remédios e indo a psicólogos, e a cada vez que eu pensava em ir atrás de
você, a parte do meu cérebro que sempre insistia para eu me matar me dizia
que seria melhor se você ficasse sem mim por mais um tempo. E tudo
somente piorou quando eu vi sua foto com Chace no Facebook de Liam
pela conta de Joan. Eu vi você feliz. Me desculpa, por favor, me desculpa.
Ergo o rosto.
— Louis–
Viro-me na cama até ficar com o corpo direcionado para o lado da porta,
onde Felicite está apoiada. Encaro-a através da pouca iluminação dentro do
quarto antes de pegar meu celular na mesinha da cabeceira. Nove e meia da
manhã.
Raciocinar que, após todo aquele tempo, Harry está comigo e que ele
poderia ter, de certa forma, poupado a nós dois de uma grande parcela de
sofrimento. Se Gemma não tivesse mentido, eu teria vindo atrás dele mais
cedo.
São tantas possibilidades, tantos caminhos que poderiam ter seguidos, mas
não foram, que eu quase sinto gosto de bile na garganta. Gosto que é
engolido no instante em que uma figura subitamente familiar surge à porta.
— Joan — digo. Ela sorri pequeno e segura a alça da mochila roxa sobre o
ombro, tirando a beanie que estava cobrindo os cabelos, deixando os fios
curtos bagunçados.
— Ei, Louis — ela passa o peso do corpo de uma perna para a outra, os
jeans brancos contornando suas coxas grossas. — Sua irmã me deixou
entrar. A gente pode conversar? É rápido. Eu ainda preciso concluir um
monte de relatório, então vou embora logo.
— Adorei a casa do seu pai — ela diz baixo, arqueando uma sobrancelha
angulada. Olha em volta do quarto, os lábios finos sempre curvados em um
sorriso tranquilo. — O
Quando estou prestes a abrir a boca, ela diz num tom repleto de
tranquilidade:
— Kant disse uma vez que o amor é a única relação social que não
necessita de regras — ainda não me olha, as palavras fluindo de sua boca
como se ela houvesse treinado milhares de vezes em um teatro. — Falando
desse jeito, até parece ser algo bonito, né? Mas não vejo desse jeito. Kant
vem de uma ética finalística e voluntarista, você sabe, então ele analisa tudo
o que nos leva a fazer certas coisas. Kant culpa muito os instintos, nossa
animalidade e princípios de sobrevivência. Então,
quando ele diz que amor é a única relação social que não necessita de
regras, significa que, quando amamos, nos entregamos aos instintos e não
queremos ser controlados.
Seguiam uma regra, uma ordem, que devorava os órgãos dele e intoxicou o
sangue dele de tal forma que, nos primeiros exames que eu fiz quando ele
apareceu desesperado, estava tão escuro que parecia ser de mentira — ela
me fita ao inclinar a cabeça para o lado. —
Mas sabe por onde as pílulas começavam o ataque? Pelo cérebro e pelo
psicológico. Nosso psicológico é muito forte, ele nos faz ver coisas que não
estão ali. Não fisicamente, porque aí seria outro transtorno, mas
mentalmente. Nos pensamentos. Às vezes, tudo o que basta é uma série de
reações químicas e um gatilho. E
Harry ficou em coma por meses, Louis. A gente fez várias transfusões de
sangue e aplicou tanta droga nele para reverter o efeito que foi pura sorte
ele não ter acordado com um efeito colateral mais sério... tipo sem a
memória.
Com cuidado e gestos tão delicados quanto sua pele, Joan se aproxima. Por
um instante confuso, penso que ela irá me beijar, mas então ela vira o rosto
e pressiona os lábios contra minhas bochechas:
ela se afasta. Nossos narizes quase se encostam. — Faça o que você achar
certo.
com
muitos
dos
contatos
dele
e,
E não perco meu fôlego ao chegar ao último degrau e ver Harry sentado no
chão e encostado ao painel branco de fotografia, mexendo em uma Canon
profissional de cabeça baixa e com as pernas longas esticadas. Os cachinhos
estão amarrados no topo da cabeça, e o lábio inferior está preso entre os
dentes com firmeza e concentração. Nos pés, meias coloridas de peixinhos e
tartarugas que, um dia, já pertenceram a mim, me fazem soltar um sorriso
pequeno.
Você
conhece
utilitarismo
da
teoria
consequencialista?
Seus olhos parecem quase surreais sob a luz da manhã, com pequenos
pontos dourados, e eu forço minhas pernas a não tremerem conforme eu me
aproximo. Olho sua camiseta, cinza e simples, e seus jeans escuros.
— Ela também diz que nós sempre vivemos de forma que possamos evitar
o sofrimento. Evitamos a dor, buscamos o prazer. Mas às vezes as coisas se
tornam demais, sabe?
E aí, quando a gente abre mão de sentir qualquer coisa, até mesmo prazer e
alegria, é porque estamos em estado de sofrimento. É porque preferimos
sentir nada. H, eu sei que sou muito pequeno perto de tudo o que você
sentiu.
Ou perto do nada que você queria sentir, mas eu quero que você saiba que...
— engulo em seco, fechando os olhos por um instante. Chamo-me de burro
por um instante. Você tem Michelangelo em sua frente, olhe-o.
Olhe-o. Olhe-o e nunca mais pare! — perto de você, eu sempre senti tudo.
E eu sempre quis que você sentisse tudo comigo. Não porque eu me
apaixonei por você, e sim porque você merece.
— Lou...
Harry sorri. Uma covinha aparece, iluminada pelo sol e tão preciosa e tão
única.
Nego com a cabeça. Com a mão livre, enrolo um cachinho em torno do meu
dedo indicador, tendo vontade de me enrolar em torno de Harry.
— É uma chance para nós dois. Precisamos ir devagar, com toda a calma,
mas você precisa saber que eu estarei aqui sempre, e que, acima de tudo,
você tem a si mesmo.
solta minha mão para que possa envolver a sua no meu quadril. — Isso é
para você perceber que merece todas as chances do mundo, e merece saber
que sempre terá uma alternativa. E que... não importa quão profunda essa
imensidão azul seja, eu sempre vou te encontrar.
Olho diretamente para ele. Para o verde me envolvendo, para meu mundo
inteiro bem em minha frente. E sorrio.
Epílogo
— Yeah. Acho que sim. Minha coluna provavelmente vai protestar pelo
resto da semana, mas valeu a pena — digo, dando os poucos passos até
estar parado em frente à ampla janela que permite uma visão espetacular do
campus da NYU. Pessoas lá embaixo conversam, outras
Sua mão pequena, porém quentinha, desliza por baixo da minha camiseta.
Pele contra pele e seu toque tão, tão cuidadoso. Fecho os olhos, ouço sua
risada baixa e permito-me sorrir também. É o meu som preferido no mundo
inteiro.
— Nah — ele diz com toda a calma. Seus dedos fazem o caminho até a
frente do meu corpo, e param em cima da minha barriga. Ele acaricia os
músculos do meu abdômen devagar, um toque leve e quase inexistente, mas
que me faz ficar tenso de qualquer forma. Sua outra mão vem para o meu
quadril, e ele afunda o rosto no centro das minhas costas. Sinto-o inspirar
profundamente, como se estivesse sentindo o melhor cheiro do mundo
inteiro. — Não está
Louis e eu não nos beijamos. Ao menos não como fazíamos antes. Ainda
não senti o gosto da sua boca, da sua língua, e tenho medo de fazer qualquer
movimento que possa afastá-lo. Ele pediu para que começássemos devagar,
passo por passo, avanço por avanço, e respeito e concordo plenamente. Eu
nem sequer considerava a possibilidade de tocá-lo mais uma vez ou ter a
oportunidade de ver seu sorriso tão perto, mas ele me deu uma chance. Ele
ficou e me deixou ficar, e me faz bem como nada poderia. Então, seguro
meus instintos e repreendo minhas vontades e cruzo os dedos para que ele
não mude de ideia e que aceite ficar comigo mesmo que eu não o mereça.
Viro-me para Louis, para encará-lo, e me deparo com seu sorriso, o que
sempre acalma as batidas frenéticas do meu coração. Seu cabelo está um
pouco úmido pelo banho que ele tomou na casa de Mark antes de pegarmos
o caminho para os dormitórios, e os fios alcançam o topo dos seus
— Eu ainda não acredito que você também vai estudar na NYU — ele diz,
os braços vindo parar em volta do meu pescoço. Mesmo sem olhar para
baixo, sei que está nas pontas dos pés. — Um major em Ciência Política e
um minor em fotografia. Com uma bolsa integral por causa do futebol!
Você é inteligente e eu tenho muito, — ele deixa um beijo pequeno nos
meus lábios fechados —
muito, — mais um beijo, mas começo a rir baixinho no meio dele, então
acaba descoordenado enquanto Louis também começa a rir. — muito–
amor, para de rir! Me deixa te beijar direito.
Em vez disso, começo a rir ainda mais por causa da sua expressão
falsamente brava, e tenho de esconder o rosto no seu pescoço.
— Cócegaaas — Louis tenta me empurrar, rindo, mas antes que ele consiga
me afastar, fecho as mãos nas suas coxas e reúno o tanto de força necessária
para pegá-lo no colo em um único impulso. Ouço sua risada se transformar
em um suspiro todo macio em um único segundo. Acaricio suas coxas
grossas de cima a baixo, e Lou envolve as pernas na minha cintura. —
Harry, suas costas — ele diz, todo preocupado, e levanta a mão para afastar
o cabelo do meu rosto. — Não faz isso.
que
meu
coração
está
funcionando
classes que escolhi fazer primeiro. O lado bom é que Louis e eu vamos
começar juntos.
Fico
em
silêncio,
mas
sinto
minhas
bochechas
que
iríamos
devagar
em
nosso
Meu namorado.
Louis solta um suspiro surpreso dentro da minha boca quando capturo seus
lábios com os meus, imediatamente levando a mão até sua perna para que
ele continue com ela em volta do meu quadril. Chupo seu lábio inferior,
perdendo-me e me encontrando ao mesmo tempo no gosto de sua boca,
porque a cada vez que eu o beijo é como se eu descobrisse um novo detalhe
ou uma nova reação. Isso é o que me faz tentar aprofundar o beijo,
lambendo seu lábio inferior com cuidado, como se estivesse pedindo
permissão. Antes que ele possa permitir, porém, somos interrompidos por
um celular tocando. E pelo toque do Green Day, é o de Louis. Ele se afasta
e deixa nossos lábios se separarem com um barulho molhado que me faz
engolir em seco. Solta um suspiro pesado e sua cabeça cai no travesseiro,
erguendo os quadris para poder pegar o celular no bolso de trás.
— Você não vai cozinhar, eu não vou cozinhar, então nós vamos ter que
entrar em um acordo entre comida chinesa, pizza ou luz do sol para fazer
fotossíntese amanha pela manhã. Escolhe.
Desvio o olhar do notebook para Joan. Ela está parada e apoiada no balcão
de madeira que separa a sala da cozinha, uma sobrancelha erguida em
desafio e dois cardápios diferentes e coloridos entre os dedos pequenos.
— Comida... chinesa? — pergunto, e vejo-a estreitar os olhos, como se
dissesse que essa é a opção errada. Tento novamente: — Pizza? — então,
seu rosto desarma em um sorriso brilhante, e ela ergue os braços.
Reviro os olhos, voltando a editar algumas das fotos para enviar a Mitch
ainda hoje à noite. Ajeito o notebook equilibrado na minha barriga
enquanto me deito mais no sofá. Após alguns segundos, ouço-a pedir a
pizza de quatro queijos. Logo em seguida, volta da cozinha e vem se sentar
diretamente nas minhas coxas como sempre faz, os pés balançando acima
do chão e os olhos fixos à televisão. Tenho quase certeza de que a camiseta
que ela está usando é minha.
Até que...
Lá vem.
— Hum?
— Amanhã... — seu tom de voz suaviza, exatamente o que ela faz quando
quer conseguir algo. — Eu vou transar com o cara mais bonito que já vi na
minha vida, sabe? Ele é estudante de medicina na Columbia. Aí... se você
quiser passar a noite com Louis. Seria legal. Para nós dois.
— Por quê?
— Porque é uma ótima desculpa para você passar a noite com ele, não é?
— ela desaba em um sorriso brilhante, como se tivesse resolvido todos os
problemas da minha vida, e eu reviro os olhos antes de pegar a almofada e
praticamente afundar meu rosto nela. — Eeei. O que foi?
Não estou falando para vocês transarem, garoto. Só pra dormirem juntos,
yeah? Compra alguma coisa pra comer e passem a noite conversando e
dando beijinhos.
— Nem ao menos sei se ele quer passar a noite comigo, Joan. Talvez ele
esteja enjoado e–
No outro instante, ela se ajeita em cima do meu corpo de forma que esteja
sentada na minha barriga e suas mãos
Sei que estou fazendo biquinho, como um peixe, e isso a faz sorrir.
Quando a procurei e falei das pílulas, eu não vi seu rosto ser transformado
em uma pura expressão de pena, ela não me abraçou ou qualquer gesto que
pudesse expressar compaixão; em vez disso, ela estendeu a mão, fechou os
dedos no meu braço e me beliscou com tanta força que eu pensei que meu
bíceps seria arrancado fora.
Sempre a vi como uma irmã que eu praticamente nunca tive. Ela sempre
cuidou de mim mesmo nos gestos mais pequenos, e inclusive se certificou
de alugar um apartamento que tivesse uma suíte. O quarto com banheiro
ficou para mim porque, até meses atrás, eu levantava vomitando sangue
como um efeito colateral dos remédios. Foi ela quem levantou em todas
essas noites para me ajudar, foi ela quem cuidou de mandar o envelope com
as fotos para Louis. Eu não poderia ter uma irmã mais incrível.
— E sua transa?
compro
hambúrgueres,
bandejas
observa, franzindo o nariz como se estivesse com nojo, mas beijando meu
pescoço da mesma forma.
Louis para no meio do caminho até sua cama, e vira para me encarar com a
expressão mais brava possível. O que me obriga a fazer um esforço gigante
para não franzir o nariz e soltar um "aw" alto. Ele provavelmente me jogaria
daqui de cima.
— Não repita isso nunca mais na sua vida, Harry Edward Styles — aponta
um dedo ameaçadoramente para mim. —
Agora vai tomar banho porque eu quero o seu cheirinho de bebê. Não o de
gordura do McDonalds.
rosto por um instante, mas logo abaixa para o centro do meu peito e... um
pouco mais para baixo.
— Você quer que eu vista uma calça ou... — deixo a palavra demorar um
pouco mais entre nós dois, referindo-me ao fato de eu estar vestindo
somente uma cueca emprestada de Louis e a mesma camiseta de antes. —
— Seriam. Não, não quero que você vista uma calça — ele puxa a ponta do
cobertor para o lado e deixa espaço para que eu me deite, apesar da cama de
solteiro. — Vem aqui.
Logo após Louis chegar a Nova York e nós acertarmos parcialmente tudo o
que deveríamos, eu liguei para Julie e expliquei tudo de novo mais uma vez.
Ela me xingou por
longos e longos minutos, mas também chorou de uma forma que eu nunca
havia presenciado. E esse mesmo processo foi repetido quando tive de ligar
para Angelina e Niall; e aí, todos que ainda não sabiam que eu estou vivo e
estou aqui, lutando bravamente por cada segundo a mais de vida, souberam.
Gemma, por outro lado, nunca sequer tentou falar comigo novamente, e eu
sei que lá no fundo, ainda espero por uma mensagem, uma ligação...
qualquer coisa que possa me provar que ela não me odeia como já disse
tantas outras vezes. Ela continua estudando em Harvard devido ao fundo de
depósito que Desmond havia feito para ela desde pequena – o que nunca fez
para mim –, então ainda está na melhor universidade da Ivy League, mas
Desmond teve a maioria de seus bens confiscada durante a investigação
judicial que Mark Tomlinson iniciou. Por isso, ele foi obrigado a voltar para
a casa em Londres que minha mãe comprou e que está no meu nome. De
qualquer forma, é como se eu estivesse fazendo caridade a ele, por mais que
nunca tenha recebido algo parecido de volta.
— Eu gosto assim.
— Eu também — digo somente para ele ouvir, e seu aperto na minha perna
fica um pouco mais forte enquanto seu sorriso aumenta.
nas
respectivas
faculdades
ou
nos
relacionamentos.
— ... e aí, quando Liam e Zayn vêm para Londres, a gente passa o final de
semana juntos — Julie diz, e Candie concorda com um movimento pequeno
de cabeça. —
A partir daí, ela avança para cima dele, Candice retorna para frente do
computador com os cabelos bagunçados e uma expressão incrivelmente
normal, como se não tivesse acontecido nada e como se a namorada não
estivesse xingando Malik enquanto os dois rolam no chão. Louis começa a
rir baixo ao meu lado e esconde o rosto no meu bíceps enquanto eu passo o
braço por cima dos seus ombros.
fica
contornada
pelo
tecido
fino
do
moletom. Tento. Ele volta para o meu lado e começa a revirar as sacolas,
pegando nossos hambúrgueres e os sorvetes. — Em vê-los de novo, sabe?
Quando iniciei o
tratamento, a psicóloga que cuidou de mim disse que me faria bem ver
rostos familiares. Mas de qualquer forma, o único rosto familiar que eu tive
por meses foi o de Joan.
— Tudo bem. Eu tinha fotos de Anna, fotos suas, dos nossos amigos...
mesmo que você não estivesse fisicamente próximo de mim, eu ainda
conseguia te sentir.
— Você nunca mais vai se sentir sozinho, H — ele diz, ainda olhando para
frente. — Eu prometo pra você.
Faço-o sorrir quando levo batata e sorvete até sua boca, e enquanto ele
mastiga, beijo sua têmpora e sussurro que o amo, não sendo necessário mais
que isso para que ele saiba que parte da minha vida é complementada pela
sua.
Ele balbucia que me ama de volta, mas as palavras saem embaladas por ele
estar com a boca cheia de comida, o que nos faz rir juntos com a conexão
mais forte que nunca e um ponto otimista cravado em cada pequeno
movimento nosso.
completamente vestidos.
— Humm.
Como se fosse de propósito, ele se empurra ainda mais para trás e cola
nossos corpos de forma que minha respiração fique engatada na garganta e
sua bunda esteja colada na minha virilha. E é quase uma reação natural
quando me inclino e fecho os dentes no seu ombro, tentando reprimir os
gemidos ou as súplicas que querem escapar da minha boca. Louis geme
baixinho, e vira o rosto em minha direção, os olhos sonolentos e envoltos
por um azul calmo.
Ele afirma com a cabeça, a franja caída nas suas têmporas cobertas por um
traço quase inexistente da luz do início da manhã.
Meu cérebro, antes tomado por uma névoa formada durante o sono, fica
completamente ativo como se estivesse recebendo doses altas de adrenalina;
da mesma forma que ficou quando estou no campo, jogando e marcando
pontos. O fato de ele estar iniciando algo entre nós dois e de ter tomado
iniciativa para dormir sem roupas significa que ele confia fervorosamente
em mim mesmo com todos os traumas, e esse sentimento mútuo é mais
potente que qualquer outra coisa. Fixo meus olhos aos seus, e experimento
descer as pontas dos dedos pela sua cintura até alcançar sua bunda, firme e
cheia sob meu toque quando abro a mão e pego ela com força e vontade.
— Eu acho que isso foi um sim — Louis diz, ainda de olhos fechados.
Far away.
— Isso é uma tatuagem? — pergunto de uma forma idiota, o que faz Louis
abaixar os olhos e encarar o próprio bíceps. — Essas palavras...
— Antes eram para você — ele explica o que eu estava supondo ao mesmo
tempo em que espalma as mãos pequenas no meu peito. Seu pau,
parcialmente duro, encosta no meu, e eu tenho de cerrar os dentes. Volto a
olhar sua tatuagem para me distrair, um ponto pequeno corrompendo o
meio de uma pele delicada. — Agora é para o passado. Para tudo o que
passamos e que não nos fez crescer. Estamos bem longe daquilo, porém, —
ele se inclina, e sinto seus lábios se moverem contra o lóbulo da minha
orelha: — Bem perto um do outro.
— Porra...
Planejo rolar nós dois na cama para pressioná-lo contra o colchão e beijá-lo,
mas ele escapa de mim, e sai da cama ao mesmo tempo em que puxa a
coberta para poder se enrolar nela, indo em direção ao banheiro. Suas
risadas deixam rastros pelo chão do quarto que fazem meu coração
esquentar conforme dou passos até lá para encontrá-lo debruçado sobre a
pia do banheiro e começando a escovar os dentes, a coberta ainda sobre os
ombros estreitos e os olhos ainda meio fechados de sono.
Aproximo-me, passo por passo, e sou seguido por dois olhos atentos que
poderiam me obrigar a fazer qualquer coisa. Dois olhos que foram meu
ponto de segurança em todas as noites terríveis durante a pior fase do
tratamento, a imensidão azul que me afundava, mas de certa forma, também
foi a única a me tirar do fundo.
Praticamente gemo contra sua boca, fechando os dedos nos seus cabelos e
colocando-o contra a parede. Meu raciocínio se perde no nosso beijo e no
gosto da sua língua quando Louis a esfrega na minha, masturbando-me
quando me afasto o suficiente somente para lamber os dedos médios e
esfregá-los na sua entrada ao voltarmos a nos beijar. Não, digo mentalmente
para mim mesmo quando ele escorrega os lábios pelo meu pescoço no
instante em que a ponta do meu dedo o penetra devagar. Nunca mais vou
deixá-lo ir.
•••
Louis acena uma última vez para uma garota com sardas nas bochechas e
aparelho nos dentes. Então, ergue as mãos para ajeitar os cabelos e quando
vira, finalmente me vê. O sorriso que já estava em seus lábios parece
aumentar consideravelmente, e ele vem em minha direção, ajeitando o
casaco preto sobre os ombros. Antes que possamos nos abraçar, porém, eu
me afasto um passo e gesticulo com a cabeça para os copos de chá. Ele
entende. Pega um copo da minha mão e nós dois bebemos três ou quatro
goles gigantes enquanto nos encaramos fixamente com uma atenção
fervorosa.
Quando temos certeza de que não vamos derramar chá pelo corredor inteiro
do Centro de Ciências Humanas, Lou vem para cima de mim, passa os
braços em torno do meu
pescoço, fica nas pontas dos pés e beija minha bochecha com carinho.
— Isso é incrível! Parabéns, H — diz com bem mais empolgação que eu,
afastando-se para poder entrelaçar nossas mãos. Começamos a caminhar
para fora do prédio, e eu vejo um dos garotos do time adentrando o corredor
com dois ou três livros contra o peito. Ele me vê, e por um instante, um
pânico gelado é enviado através da minha espinha com a possibilidade de
ele me repudiar por ser gay e por ter um namorado, mas tudo o que ele faz é
sorrir, erguer a mão e acenar curtamente. Louis continua falando após dar
outro gole no chá, e não percebe meu sorriso gigante. — Meu primeiro
professor foi legal. Ele não acredita no amor, sabia? E falou de Simone De
Beauvoir na primeira aula, o que foi bem legal. Mas acho que vou ter que
levar você até ele e dizer "como você não acredita em amor, cara? Esse
garoto aqui, bem aqui, é feito todinho de amor."
— Louis...
Hum... isso mesmo. Joan disse que vai comprar tacos de frango e levar para
gente no estúdio do Mitch.
Quando ele e ela finalmente viram o rosto, é por causa do barulho baixo do
obturador, mas já é tarde demais.
No mesmo dia, minha psicóloga me diz que pais podem ser abusivos,
também. E que não sou obrigado a amá-lo com todos os meus traumas, até
porque ele nunca me amou de volta.
gritando e balançando os braços, mas não acho nenhum dos dois. Ele virá,
afirmo para mim mesmo e verifico se o pequeno amontoado de cabelo na
minha cabeça, que deveria ser um coque, está bem firme. Então, coloco o
capacete.
Sorrio para todos eles, mas meu sorriso se torna uma careta quando percebo
um garoto ao lado deles segurando um
cartaz
brilhante
com
letras
em
dourado
dizendo "HARRY ME FODE" . Acho que falta uma vírgula após o sujeito.
Ao mesmo tempo, Louis percebe e vira o rosto para ver o que me deixou de
mau humor. Seu sorriso se transforma em uma expressão completamente
estressada, então ele puxa o cartaz das mãos do garoto e começa a rasgar o
papel da forma mais meiga que poderia, se esforçando para separar cada
pedaço da cartolina enquanto o garoto o olha em pura... surpresa.
Mal tenho tempo de ver o desfecho da cena porque o capitão do time chama
a minha atenção e eu tenho de me concentrar nele, mesmo que esteja
querendo rir. Minutos depois, o jogo recomeça e eu retorno ao meu devido
lugar.
— Meno!
e caindo pelo meu rosto. Louis puxa meus cabelos e me beija com
entusiasmo, firmando com ainda mais força as coxas em volta dos meus
quadris e acariciando minha nuca com os polegares. Correspondo como se
cada lufada de ar necessitasse disso – do gosto da sua boca, da forma que
ele suspira contra meus lábios ou como cada parte de seu corpo reage a
mim.
— A gente está dando um show — ele sussurra após separar o beijo, rindo
baixo com nossas bocas a centímetros de distância, pedaços coloridos em
roxo e branco caindo sobre nossas cabeças.
— Um show incrível.
— E agora, é você que está aqui. Beijando o jogador do time de futebol que
está louco para pedir para você morar com ele — digo, e assisto de perto
quando ele arregala os olhos e firma os dedos no meu cabelo com a
surpresa. —
Um apartamento pequeno que vamos nos esforçar para pagar — aperto suas
coxas, segurando-o perto. — ir dormir e acordar todos os dias com você, e...
— sorrio ao notar que ele continua paralisado, em choque. — talvez
possamos adotar um gato que se chamará Donatello ou Leonardo. Todos
nós faremos parte da história mais antiga de amor. E em todas as noites,
quando eu te olhar, eu poderei dizer perfeitamente qual foi o motivo pelo
qual fiquei. Por qual eu vivi e ainda vivo.
Seu sussurro é tão baixinho e afetado que quase se perde entre as gritarias
dos nossos amigos ainda na arquibancada: — Harry...
Por cima do seu ombro, vejo Joan segurando minha câmera e a angulando
em nossa direção. Solto uma risada alta que se perde entre meu próprio
nervosismo.
Eu espero.
Porque você sempre me fez sentir como se tivesse, de fato, todo o tempo do
mundo.
— Eu não quero pensar, Harry. Eu quero morar com você, quero ter um
gato com você e quero... quero tudo — suas mãos pequenas seguram meu
rosto com firmeza, e ele murmura as próximas palavras com tanta
delicadeza que, subitamente, é como se existisse só a gente. — Cada parte
sua. Até você se encontrar completamente, seja onde for.
E mesmo que ele não diga com todas as palavras, sei que ele está falando
das partes que ainda estão machucadas e das feridas que necessitam de um
pouco mais de cuidado para fecharem. Sei que ele está falando das minhas
experiências que sempre vão ocupar uma parte de mim e de todos os
traumas. Também sei que vai levar um longo tempo até que eu seja uma
pessoa estável e inteira que poderá proporcionar a Louis tudo o que ele
merece, mas eu já percorri um longo caminho até aqui, e sei que posso ir
ainda mais longe. Porque eu mereço amor e tenho amor.
Abraço Louis e junto meus lábios aos seus. Todos os barulhos se isolam
fora da nossa atmosfera, e eu me sinto leve e capaz de tudo.
MUITO OBRIGADA!
sou muito grata por ter formado várias conexões e por ter terminado mais
uma fic bem importante aos 17 anos. As chances que tive foram fantásticas
e mudaram, mais uma vez, minha forma de pensar. E sou muito agradecida.
no
ouvido
de
vocês
um "obrigada" bem
demorado. Um obrigada por terem lido uma história tão importante para
mim e com um significado bem pesado, porém, tão recorrentemente
ignorado. Obrigada por sempre comentarem sobre ela no twitter. Obrigada
por terem me mantido forte e, também, por terem me feito rir tantas vezes
com os comentários e as ameaças de morte.
enfim, hehe
completamente
minha
própria
sexualidade,
escolher sobre coisas que poucas pessoas, de fato, têm a plena capacidade
de fazê-lo aos 16, 17. E tantas coisas como essas provocam depressão e
provocam esse sentimento de que você não é bom o suficiente. E quase
ninguém nota porque, na maioria das vezes, você sabe bem como esconder.
Por favor, se cuidem e cuidem das pessoas em volta de vocês. Por favor.
Nosso Michelangelo não morreu, mas MUITOS adolescentes morrem todos
os dias e isso é extremamente sério. Vocês são um monte de frôzinhas
lindas e um monte de girassóis que sempre devem se virar em direção ao
sol, e não à sombra. Não confiem em coisas e pessoas tóxicas, vocês são
bem mais do que dizem.
ele não contou para algum médico?", "por que ele parece tão indiferente?!".
Porque se a solução fosse o Louis entrando na vida do Harry e colocando de
lado todos os traumas e todo o passado dele, Ephemeral teria 5
Bem,
Obrigada, Sara. Por, mais uma vez, ter me mantido forte e por ser A
Melhor™ melhor amiga do mundo inteiro. Você é tão forte, e eu já te vi
florescer tantas vezes e quero estar aqui em todas as estações, até mesmo
quando for inverno e você pensar que é difícil aguentar. Porque te garanto,
você tem toda a força do mundo contida aí dentro, e eu te admiro muito.
Quero estar aqui até mesmo quando você me disser que quer ficar sozinha,
até mesmo quando você disser que não merece amor, que não aguenta mais.
Eu vou ser seu apoio, vou ser sua base e vou fazer questão de dizer que eu
te amo e que você é forte.
que sou hoje. Uma parte do meu amadurecimento, da minha mente aberta,
da aceitação por coisas que eu nunca imaginaria. Devo a vocês várias
calmarias pós crises de ansiedade, e wow... Obrigada, Ju, por ser essa
mulher maravilhosa sempre disposta a ajudar a gente e por ser a psicóloga
que me orientou em muitos momentos de Ephemeral; inclusive sobre o fato
de pais também serem abusivos! Obrigada por ser essa pessoa de coração
aberto e inteligência extraordinária. Quando você me mandava o feedback
de Ephemeral ou reagia a algum spoiler que eu soltava no WNP, eu quase
morria. DE CERTA FORMA, A JULLY É A PSICÓLOGA DO HARRY. e
Lari, eu te admiro muito por ser essa pessoa forte que enfrentou barras
gigantes e está aqui, sempre espalhando amor e mostrando para gente que,
não importa o quão difícil tenha sido nosso dia, você sempre vai estar ali no
grupo para fazer a gente rir e simplesmente fazer a gente muito feliz;
porque temos você! Vocês merecem todo o amor e merecem todas as
melhores experiências do mundo. Amo vocês!
aqui; para te apoiar e te amar e te mostrar que você é uma das mulheres
mais incríveis do mundo!
July, louisismyproud bubie, neném! Obrigada por estar aqui desde o início,
e quando digo início, quero dizer reaaaalmente início. Ou seja, desde os
primeiros capítulos de Models, passando por Ephemeral e chegando até a
última atualização de Afterglow. Eu sempre te digo isso, mas você é um dos
motivos pelos quais eu continuei a escrever e nunca me desanimei. Você me
fez sentir muito, muito bem pela minha primeira fanfic e eu sempre serei
agradecida por lhe ter em minha vida. Nunca pense que você não deveria
estar aqui, yeah? Você deve, você espalha amor e é amor. Por favor, fique
para sempre.
Obrigada à Vic larryfeast por ter demonstrado um amor tão puro a tudo isso
aquo e por apresentado um trabalho extraordinário sobre Ephemeral no
colégio (e a única a se impôr e falar sobre um casal gay, IKR????? vic é
foda) e por ter feito páginas no seu journal dedicadas a essa obra.
Bianca XBewitched1, obrigada por sempre continuar aqui comigo e por ter
acompanhado Ephemeral mesmo que algumas partes tenham algum
significado mais forte para você. Tu és uma garota incrível e maravilhosa e
com um coração de ouro, e nunca deve pensar menos que isso de si mesma,
ok?! Obrigada por trilhar mais uma história comigo!
Obrigada à Gabrielle por fazer parte de muitas das minhas lembranças mais
doces e por, também, estar aqui desde o início. Obrigada por ter feito uma
playlist linda para Ephemeral e por ter lido vários spoilers e sempre ter
mandado vários memes fofinhos para expressar sua reação. Nunca vou me
esquecer de como tudo começou e de como você me apoiou durante todo
esse tempo. Amo você.
Obrigada a todo mundo que está lendo isso agora e já passou por todas as
etapas de Ephemeral. Obrigada por terem confiado em mim e acreditado
que não, não é death fic. E se em algum momento dessa fic, vocês pensaram
que sempre devemos continuar lutando e sempre devemos prestar mais
atenção às pessoas em nossa volta, meu trabalho aqui está feito e eu posso
me considerar a pessoa mais feliz do mundo. Ok?
algo
anônimo,
do
Harry
MUITO OBRIGADA!!!!!!! Eu amo vocês com todo o meu ser. Espero que
tenham gostado e aprendido com essa trajetória toda tanto quanto eu gostei
e aprendi. Desejo a vocês todo o amor, coragem e gentileza do mundo
inteiro
– desejo que vocês vivam cada segundo da vida não como se fosse o último,
mas como se soubessem quão preciosa é a vida.
E é. Garanto a vocês.
Andy.