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Tidiane Ndiaye o Genocidio Ocultado Investigacao Historia Muculmanos
Tidiane Ndiaye o Genocidio Ocultado Investigacao Historia Muculmanos
O GENOCIDIO
OCULTADO
INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA SOBRE
O TRÁFICO NEGREIRO ÁRABO-MUÇULMANO
Tradução
TIAGO MARQUES
gradiva
Título original Le Génocide Voilé - Enquête Historique
© Éditions Gallimard, 2008
gradiva
Editor GUILHERME VALENTE
«@iJ·l11i f'M''·'h'M'•
Oportunidades fantásticas!)
Índice
Anexos
Versículos do Alcorão que encorajam a escravização dos
não-muçulmanos pelos muçulmanos ... . . .... ... .. . .... . . . .. . . ... 209
A maldição de Cam ....................... ........ . .. . ......... . ..... ... ... . . 2 1 1
.
Tidiane N'Diaye
1
As formas de escravidão em
África antes da conquista árabe
DouTOR CuREAU
não existia, pelo menos n o sentido que lhe atribuímos hoje. Pro
gressivamente, o enriquecimento e a elevação social acabarão por
depender da possibilidade de cultivar o máximo de superfície. Daí
a necessidade de dispor de uma mão-de-obra de peso. Na servidão
africana, quanto mais um homem possuísse cativos para cultivar
as suas terras e mulheres tivesse, mais rico era; e quanto mais rico
era, mais apto estava a aumentar o seu « património » de mulheres
e servos. Estava assim aberto o caminho para os conflitos, com o
objectivo de obter uns e outros. O que suscita ao historiador Marc
Ferro a seguinte declaração: « Como não existia a noção de posse
de terras, os homens e as mulheres constituíam a única fonte de
riqueza. A sua captura e o seu comércio, fosse pela guerra ou por
outro meio, animavam os conflitos entre os reinos . »
ERIC WI LLIAMS
* �-
ÉDOUARD G U J L LAUMET
árabe, tal como na palavra rabata, remete para uma ideia de local
de reunião. Os almorávidas tornar-se-ão uma ordem militar e reli
giosa que desencadeará uma guerra santa em 1 042 para se apo
derar das minas de ouro e controlar as suas vias de acesso. Estes
monges-guerreiros, que iam saquear o Império do Gana, eram mais
atraídos pelas suas riquezas do que pela conversão das populações.
Foi à frente de um exército de cerca de 30 mil homens que
estas boas almas puseram a ferro e fogo as províncias tidas como
refractárias aos ensinamentos do profeta Maomé. Levaram a
cabo uma cruzada mortífera até à destruição, no ano de 1 076,
de Kumbi Saleh, capital do Império do Gana. Esta antiga grande
potência africana desaparecerá em proveito de pequenas entidades
geográficas, demográficas e culturais, como o Senegal, o Mali e o
Songai. Já a presença dos almorávidas foi muito curta. Durante a
sua passagem, converteram os povos do Senegal, sobretudo uolo
fes, sereres e tuculores. Os almorávidas levaram consigo ouro e
milhares de cativos.
DAV I D LIVINGSTONE
elites, mas acabou por atravessar o Sara para chegar aos grandes
centros de comércio da África Ocidental e do Sudão. A Núbia e
o Alto Nilo converter-se-ão muito mais tarde, com o cristianismo
a praticar-se meramente em certas regiões da Etiópia (terras do
Preste João).
As colónias muçulmanas multiplicaram-se e, enquanto o islão e
a cultura árabe se difundiam em África, desenvolviam-se também
as técnicas de caça ao homem, de prática de razias e de escra
vização das populações. Isto ia durar: em 1 870, Schweinfurth
estimava em 2700 o número de árabes mercadores de escravos
estabelecidos no Alto Ubangui e em Bahr el-Ghazal. No movi
mento de islamização de África, a maior parte das conversões de
chefes ou de populações era, de início, simplesmente estratégica.
Eles [os negros] têm o nome do tio materno e não o do pai; não
são os filhos que herdam dos pais, mas os sobrinhos, filhos da irmã
do pai. Nunca encontrei tal costume, excepto na terra dos infiéis de
Malabar, na Índia.
Resistência africana
VERNEY-HOVETIE CAMERON
Foi assim que este erudito, muito respeitado pelos seus com
patriotas, elaborou uma espécie de « etnografia religiosa » que dis
tinguia, no seio dos próprios povos negros, os muçulmanos dos
pagãos. Correlativamente, proibia a captura de homens entre os
primeiros e autorizava-a entre os segundos. Durante quase 200
anos, nos séculos XVI I I e XIX, esta distinção servirá de pretexto
a líderes africanos, como Ousmane Dan Fodio ou Elhadji Omar,
para levar a cabo guerras santas sangrentas, como a de Sokoto,
no norte da actual Nigéria.
frente n a sela, com a s mães logo atrás, presas aos rabos dos cavalos,
caso elas não tivessem perecido no fogo.
Por fim, após numerosos assaltos das forças coligadas, Ali Ben
Mohammed, líder dos rebeldes, foi morto. Todo o seu estado
-maior e oficiais serão igualmente assassinados, ou então feitos
prisioneiros e transferidos para Bagdade, onde serão decapitados.
A maioria dos resistentes africanos preferirá a morte em combate
à rendição. Muitos daqueles que foram capturados vivos serão
degolados um por um, enquanto outros sofrerão suplícios atro
zes. Entretanto, al-Muffawaq, irmão do califa al-Mutamid que
por tanto tempo lutara contra os zenjs, decidiu indultar muitos
deles, os quais serão incorporados nos exércitos do califa, numa
homenagem à bravura e à combatividade dos africanos.
Na verdade, contrariamente às teses de certos autores, esta
guerra dos zenjs não foi uma série de confrontos obscuros mal
conhecidos e sem datas. Tal sobressalto dos escravos negros con-
1 20 O G E N O C Í D I O O C U LTA D O
Bestialização, razias
e perseguições, ou a África
a ferro e fogo
1. Razia de escravos
na África Central
2. Negros do Sudão
abatidos por terem
resistido durante
uma razia
3. Mercador de escravos árabe 4. Negreiros a guiar uma
conduzindo uma caravana caravana de escravos
no deserto africano à chicotada
l.lA TRAITE OES N,OU�S
Bachwezi
_______,
Principais rotas
Grande Zimbabwe
º""º1)1
Sofal• u () ô
de tráfico
� MEDITERRÂNEO
MARRAQUEXE TRIPOLI
GADAMÉS
TAGAZA
6. A escravatura em África 8. Embarque de escravos
africanos num navio
7. Rotas transarianas negreiro
do tráfico de negros
9. Escravos (crianças e
adultos) libertados, a
bordo do HMS London,
por volta de 1 880
AS CUM P L ICI D A D ES A F R ICA N AS
10
11
12 13
15
IBN KHALDUN
particular para tratar dos eunucos. Apesar disso, o número dos que
morrem é superior ao dos vivos, visto que para eles é terrível serem
transportados de um local para o outro sem o menor cuidado.
« Síndroma de Estocolmo
à africana » , ou a amnésia
por solidariedade religiosa
A mão tremeu, mais uma vez, quando s e tratou
de falar dos crimes cometidos pelos árabes [. . . ],
ao passo que o inventário dos crimes cometidos
pelos europeus ocupa, e com toda a razão, páginas
inteiras . . .
MARC FERRO
[o] chefe árabe nos deixa comprar, entre as vítimas da caça desta
tarde, as mulheres e as crianças cujo preço podemos pagar. Gastamos
tudo o que temos. Imagine-se a alegria dos eleitos que podem voltar
aos seus lares, mas também o desespero dos pobres desgraçados que
não podem participar na libertação e que são levados à força, acor
rentados às cangas, entre gritos de desespero! Oh, que infelicidade,
não podermos libertá-los a todos.
Alá favoreceu, com a Sua mercê, uns mais do que outros; porém,
os favorecidos não repartem os seus bens com os seus servos, para
que com isso sejam iguais. Desagradecerão, acaso, as mercês de Alá ?
XXXIII, 52. Além dessas não te será permitido casares com outras,
nem trocá-las por outras mulheres, ainda que as suas belezas te
encantem, com excepção das que a tua mão direita possua. E Alá é
Observador de tudo.
XVI, 71. Alá favoreceu, com a Sua mercê, uns mais do que outros;
porém, os favorecidos não repartem os seus bens com os seus servos,
para que com isso sejam iguais. Desagradecerão, acaso, as mercês
de Alá ?
V, 4 3 . A esposa não tem o direito de se opor ao marido quanto a pos
suir escravas fêmeas e ter relações [sexuais] com elas [violá-las]. E
Alá sabe mais que todos.
IV, 24. Também vos está vedado desposar as mulheres casadas, salvo as
escravas que possuís. [ . . . ] Alá é Sapiente, Prudentíssimo.
XXIII, 1. É certo que prosperarão os crentes [ . . ].
No mundo árabo-muçulmano
OMÍADAS
ABÁSSIDAS
FATÍMIDAS
Em África
Cerca do século VI a. C. Périplo cartaginês ao longo das costas oci
dentais de África.
Século vu d. C. A Etiópia, suplantada pelo islão no mar Vermelho,
retira-se para os cumes do Amhara e do Xoa. Início do tráfico
negreiro pelos árabes.
763 Kaya Maghan Cissé no Gana .
Final do século V I I I O geógrafo árabe Al-Fazari menciona pela primeira
vez o Gana como «país do ouro » .
9 3 0 Ibn Hauçal menciona o s saô (sô) d o lago Chade.
1 076 Saque da capital do Gana pelos almorávidas.
Século XII Os árabes estabelecem-se em Sofala. Expansão dos iorubás.
Difícil desenvolvimento do Mali. O reino de Sosso domina a
região após o declínio do Gana.
1 235 Sundiata Keita, depois de ter vencido o rei de Sosso, Sumanguru
Cante, reina sobre o Império do Mali. Desenvolvimento dos rei
nos costeiros do Congo.
1 3 1 2- 1 33 7 Mansa Muça reina sobre o Império do Mali.
1486 Bartolomeu Dias chega ao cabo da Boa Esperança.
1498 Vasco da Gama chega à costa oriental de África (Melinde).
Cerca de 1 500 Navegadores portugueses chegam a Madagáscar.
Século XVI I A Costa Suaíli encontra-se sob domínio omanês.
1 742 Início da exploração das Seicheles por Picault.
1 8 1 5 Em Fevereiro, as potências europeias comprometem-se a proibir o
tráfico negreiro no Congresso de Viena. Em 29 de Março, decreto
de Napoleão I, durante os Cem Dias, a proibir o tráfico de negros.
1 865-1 870 Grandidier explora Madagáscar.
1 8 85 Início da rivalidade anglo-germânica na África Oriental.
BALIZAS CRONOLÓG ICAS 217
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230 O G E N O C ( D J O O C U LTA D O
INFINITO
25. A METODOLOGIA DA ECONOMIA
Alexandre Koyré
Mark Blaug
8. OS GREGOS E O IRRACIONAL
27. A CULTURA DA SUBTILEZA - ASPECTOS
DA FILOSOFIA ANALfTICA
E. R . Dodds
M. S . Lourenço
9. O CREPÚSCULO DA IDADE MÉDIA
EM PORTUGAL 28. CONDIÇÕES DA LIBERDADE
INTERNACIONAIS
7 1 . UM OLHAR SOBRE A POBREZA
Joseph S . Nye, Jr.
Al fredo Bnno da Cosia (coord.), Isabel Bap1is1a.
Pedro Perisla, Paula Carrilh o
52. PÚBLICOS DA CllÔNCIA EM PORTUGAL
Anrónio Firmino da Cosia, Patrícia Ávila
72. O MUNDO PÓS-AMERICANO
e Sandra Ma1eus
Fareed l.akaria
Francisco Alonso-Femández
1 03 . A AQUISIÇÃO DA ESCRITA
86. PORTUGAL NA HORA DA VERDADE - Michel Fayol
COMO VENCER A CRISE NACIONAL
1 04. A PRIMEIRA REPÚBLICA -
Álvaro Santos Perei m
NA FRONTEIRA DO LIBERALISMO
87 . A CIDADE DAS PALAVRAS E DA DEMOCRACIA
Alberto Manguei Miriam Halpem Pereira
1 1 5. •SAÚDE E FRATERNIDADE!• -
A REPÚBLICA POSSfVEL ( l 9 1 0- 1 926)
Fernando Pereira Marques