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CLC4 – Comunicação nas Organizações

A DIMENSÃO ECONÓMICA DO SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO


Obrigações do serviço público de televisão
O serviço público de televisão tem um conjunto de obrigações que o distingue do prestado pelos
canais privados. Enquanto estes tendem à uniformização, o serviço público de televisão deve oferecer
«programação efetivamente diversificada, alternativa, criativa e não determinada por objetivos comerciais»,
como se declara na lei.
Essa obrigação tem várias aplicações e consequências, entre as quais a de emitir programas que
valorizem a economia, a sociedade e a língua portuguesas; promover a curiosidade e o desenvolvimento
intelectual através de conteúdos culturais e científicos; e colaborar com o sistema de educação e formação
profissional. Mais diretamente, a valorização da diversidade implica promover o «experimentalismo
audiovisual» — ensaiar novos formatos — e oferecer programas para diferentes audiências. As minorias e
outros públicos especialmente vulneráveis (por exemplo, crianças ou deficientes) devem ser objeto de
atenção especial.
Ao nível da informação, o serviço público tem obrigação de constituir uma referência, dando voz a
correntes de opinião muito diversas e aos vários grupos e regiões do país e oferecendo noticiários, debates,
entrevistas, reportagens e documentários. Deve igualmente transmitir os tempos de antena a que os
partidos políticos e outras organizações têm direito. Os programas em geral devem promover ou, no
mínimo, respeitar um sentido de cidadania, e o entretenimento deve ter prioritariamente origem
portuguesa.
Outras obrigações específicas do serviço público incluem aspectos relacionados com a inovação
tecnológica (deve estar presente em todas as plataformas tecnológicas que lhe sejam adequadas) e a
manutenção de serviços de programas especialmente destinados às Regiões Autónomas e aos falantes de
português que residem no estrangeiro, bem como um canal que divulgue o arquivo da RTP)

Contribuição audiovisual
A contribuição para o audiovisual destina-se a financiar o serviço público de radiodifusão e de
televisão. Todos os comercializadores de eletricidade são obrigados a cobrar a contribuição para o
audiovisual nas faturas que emitem, sendo esta contribuição é entregue ao Estado.
Ora, de acordo com o disposto no artigo 4.º da Lei n.º 30/2003, de 22 de agosto, alterada pela Lei n.º
7-A/2016, de 30 de março, artigo 198.º, o valor mensal da contribuição é de 2,85€ + IVA (6%).

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Elaborado por: Paula Gonçalves
Este valor é reduzido para 1€ + IVA (6%) para os consumidores que se encontram em qualquer das
seguintes situações:
o Beneficiários do complemento solidário para idosos;
o Beneficiários do rendimento social de inserção;
o Beneficiários do subsídio social de desemprego;
o Beneficiários do 1º escalão do abono de família;
o Beneficiários da pensão social de invalidez
A identificação dos consumidores que beneficiam da redução da contribuição resulta do apuramento
dos beneficiários da tarifa social de eletricidade. Estão isentos da contribuição os consumidores cujo
consumo anual fique abaixo de 400 KWh.
Esta taxa abrange os consumidores de energia elétrica e deve ser paga 12 vezes por ano, exceto se os
consumidores se encontrarem isentos do pagamento.
Na fatura, o valor da contribuição para o audiovisual aparece destacada a seguir à secção
"eletricidade".

  O valor da contribuição audiovisual não sofre alterações há seis anos consecutivos, como pode ler
nesta notícia, intitulada "Valor da contribuição audiovisual não sofre alterações".

Uma reflexão sobre o serviço público de televisão


Fazer Serviço Público, Sem Público
Artigo de opinião de 30 de maio de 2022
Em discussão na especialidade do Orçamento do Estado para 2022, o Ministro da Cultura, em
resposta à minha intervenção, reconheceu ser necessário rever a proposta do Contrato de Concessão de
Serviço Público de Rádio e Televisão
Esta proposta previa, para a revisão do contrato de concessão, a criação de novos serviços e o fim da
publicidade em todos os canais, à exceção do Canal 1. O Conselho de Administração da RTP mostrava-se
"apreensivo com os custos financeiros desta revisão Contratual" e os próprios trabalhadores da RTP
classificaram esta proposta de revisão do contrato de concessão de serviço público de "mal preparada, mal
fundamentada e sentença de morte anunciada".

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Elaborado por: Paula Gonçalves
Já o Governo afirmava que esta revisão contratual "garantia o funcionamento adequado do serviço
público, no desenvolvimento da sua atividade, enquanto ferramenta e plataforma global de comunicação
de referência, com um serviço público que ocupa um lugar insubstituível na sociedade portuguesa,
assegurando ainda uma prestação de conteúdos continuada, isenta, equilibrada e plural"
O então Secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media referia, há cerca de um ano, que "não
há qualquer dúvida" de que a RTP "precisa de um reforço do seu financiamento" para cumprir o novo
contrato de concessão, dizendo inclusive que "...o Governo ia trabalhar nos próximos orçamentos, para
reforçar esse financiamento".
Esta caminhada para a irrelevância do serviço público prestado só não encontra espelho nas sempre
crescentes necessidades de financiamento que rondam os 520 mil euros por dia.

Ora, o Governo quer da RTP mais e melhor serviço público. Um serviço público isento, equilibrado e
plural. Mas depois corta nas receitas e corta nos apoios.
Mas será que basta continuar a remendar o problema e continuar a investir neste tipo de serviço
público? E qual é o serviço público que hoje temos?
A irrelevância do serviço prestado é definida com a seguinte frase: o estado do serviço público de
televisão é ser feito numa televisão sem público.
A direção de programas da RTP, em menos de quatro anos, já conseguiu afugentar um quarto dos
espetadores que a TV pública tinha. E a sangria de espetadores só não é maior porque a ERC, em boa altura,
impediu que se acumulasse a Direção de Programas, com a Direção de Informação.
Esta caminhada para a irrelevância do serviço público prestado só não encontra espelho nas sempre
crescentes necessidades de financiamento que rondam os 520 mil euros por dia.
Só com a contribuição audiovisual, que todos nós pagamos mensalmente na fatura da eletricidade
(2,85 euros, mais IVA), a RTP encaixa 191,7 milhões de euros.
É efetivamente necessário refletir sobre o estado do serviço público em televisão e definir o seu
futuro. E rever a proposta do Contrato de Concessão de Serviço Público de Rádio e Televisão é urgente e
fundamental. Sob pena de, dentro de muito pouco tempo, o serviço público de televisão não ter
espetadores. A RTP é verdadeiramente fundamental para Portugal. E merece o devido reconhecimento pelo
passado e pelo presente. A RTP tem direito a ter um papel de futuro.
João Montenegro, deputado à Assembleia da República

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Elaborado por: Paula Gonçalves

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