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Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia

ISSN: 1982-1263 www.pubvet.com.br

Efeito do estresse sobre a qualidade de produtos de origem animal


Aldivan Rodrigues Alves1*, Jalceyr Pessoa Figueiredo Júnior2, Marcelo Helder Medeiros
Santana3, Maria Verônica Meira de Andrade1, Joyce Bitencourt Athayde Lima1, Liduína da
Silva Pinto4, Leila de Medeiros Ribeiro1
1
Diretoria de Desenvolvimento ao Ensino, Instituto Federal do Maranhão - IFMA, Caxias, Maranhão, Brasil.
aldivan.alves@ifma.edu.br
2
Secretaria de Estado de Agropecuária, Central de Incubação do Estado do Acre. Rio Branco, Acre, Brasil.
peudure@hotmail.com
3
Instituto Federal do Acre - IFAC, Sena Madureira, Acre, Brasil.
4
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, Caxias, Maranhão, Brasil.
*Autor para correspondência

RESUMO. A produção mundial de proteína de origem animal vem crescendo


constantemente, ao mesmo passo que as exigências dos consumidores por produtos que
satisfaçam suas necessidades e desejos. Assim é de fundamental importância o
entendimento dos benefícios a serem alcançados com a introdução de programas que
visam minimizar o efeito do estresse sobre o bem estar animal e nos produtos finais
gerados a partir dessa exploração. A empresa tem como critério de pagamento, cálculos
de rendimento e qualidade da carcaça. Assim, o animal que apresentar maior índice de
perda de qualidade, devido a hematomas e lesões, proporcionados por técnicas
rudimentares, irá proporcionar perdas financeiras ao produtor, além disso, o estresse
também poderá comprometer a produção e qualidade dos produtos.
Palavras chave: Aves, produção animal, ruminantes

Effect of stress on animal products quality


ABSTRACT. World production of animal protein has been growing steadily at the same
pace that the demands of consumers for products that meet their needs and desires. So it
is of fundamental importance to understanding of the benefits to be achieved with the
introduction of programs to minimize the effect of stress on the animal welfare and the
final products generated from that holding. The company's payment criterion, yield
calculations and carcass quality. Thus, the animal that have a higher quality loss rate due
to bruising and injury provided by rudimentary techniques, will provide financial losses
to the grower, in addition, the stress can also involve the production and quality of
products.
Keywords: Poultry, livestock, ruminants

Introdução animal e nos produtos finais gerados a partir


dessa exploração.
A produção mundial de proteína de origem
animal vem crescendo constantemente, ao De acordo com Hötzel & Machado Filho
mesmo passo que as exigências dos (2004), o bem estar animal exerce impacto direto
consumidores por produtos que satisfaçam suas e indireto na segurança e qualidade dos
necessidades e desejos (FAPRI, 2015, FAO, alimentos, tendo como exemplo deste fato, o
2015). Assim é de fundamental importância o transporte animal, da propriedade rural ao
entendimento dos benefícios a serem alcançados frigorífico, que, uma vez conduzido segundo
com a introdução de programas que visam práticas adequadas, diminui seus problemas
minimizar o efeito do estresse sobre o bem estar referentes ao stress animal, hematomas e fraturas,
proporcionando ao frigorífico um produto com

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qualidade e ainda fortalecendo a imagem de seus e abatidos. Quando se trata de produção animal,
produtos (Miranda de la Lama et al., 2012, as práticas de bem estar devem ser valorizadas,
Schwartzkopf-Genswein et al., 2012). Nesse mesmo que, para agregar tais características, seja
contexto, produtividade, sucesso reprodutivo, necessário desacelerar ou modificar os sistemas
taxa de mortalidade, comportamentos anômalos, produtivos (Oliveira et al., 2008).
severidade de danos físicos, atividade adrenal,
Para Broom & Molento (2004), o bem estar
grau de imunossupressão ou incidência de
animal é uma ciência, indispensável aos
doenças são fatores que podem ser medidos para
profissionais que trabalham em torno da
avaliar o grau de bem estar dos animais (Broom,
interação entre humanos e animais e deve estar
1991, Mench, 1993).
relacionado com conceitos como: necessidades,
A empresa tem como critério de pagamento, liberdades, felicidade, adaptação, controle,
cálculos de rendimento e qualidade da carcaça. capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento,
Assim, o animal que apresentar maior índice de dor, ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde. Os
perda de qualidade, devido a hematomas e lesões, autores acrescentaram que os efeitos sobre o bem
proporcionados por técnicas rudimentares, irá estar podem ser oriundos de situações como:
proporcionar perdas financeiras ao produtor, doenças, traumatismos, fome, interações sociais,
além disso, o estresse também poderá condições de alojamento, tratamento inadequado,
comprometer a produção e qualidade do produto. manejo, transporte, mutilações variadas,
tratamento veterinário, entre outras. De acordo
Dessa maneira objetiva-se com esta revisão
com Gregory & Grandin (2007), os humanos têm
discorrer sobre o efeito do estresse sobre a
responsabilidade pelo sofrimento dos animais nas
qualidade dos produtos de origem animal.
seguintes situações: ignorância – a pessoa não
Mercado consumidor versus estresse na conhece aquilo que faz; inexperiência – conhece
aquilo que faz, mas não sabe como fazê-lo;
produção animal
incompetência – falta de habilidade para
Os animais devem ser criados o mais próximo desempenhar as tarefas e falta de consideração ou
possível de suas características naturais, zelo pelos animais.
proporcionando-lhes equilíbrio e harmonia em
seu habitat natural, pois os animais possuem Muitos trabalhos demonstram que as práticas
sentimentos, emoções e preferências. Deve dispor operativas e de manejo corretas asseguram um
de espaços amplos que permitam sua maior bem estar do animal e obtêm melhores
movimentação, um abrigo que proporcione resultados econômicos, evitando ineficiência e
conforto térmico, água e alimentação de perda de valor em toda a cadeia da bovinocultura
qualidade que satisfaçam suas necessidades de corte e produzindo um produto que não deixa
fisiológicas. Uma vez que o bem estar animal, na de ser uma commodity, mas que apresenta
cadeia de produção de bovinos, contribui para a diferenciação por sua qualidade melhorada
melhoria do produto final, o tema em questão tem (Oliveira et al., 2008) como, por exemplo,
ocupado espaço de destaque entre as instituições rampas inadequadas, frequentemente
e empresas, as quais estão cada vez mais escorregadias, muito inclinadas e sem grades de
interessadas em satisfazer as necessidades e proteção laterais (Amaral, 2008). O veículo de
exigências dos consumidores (Koknaroglu & transporte pode não oferecer segurança adequada,
Akunal, 2013). como piso escorregadio ou quebrado ou com
proteções laterais comprometidas. Fatores como
Observa-se que não basta ter a melhor estes conduzem a acidentes como contusões
genética, a alta produtividade, a nutrição graves, luxações de articulações ou até fraturas
equilibrada e de boa qualidade, se o manejo com dos membros (Miranda‐de la Lama et al., 2012,
os animais está sendo incorreto. Tais temas Grandin, 1997).
provavelmente surgem do crescente interesse dos
consumidores pela qualidade e pela segurança Segundo Neves et al. (2005), com a maior
dos produtos que consomem. Os consumidores competição nos mercados e o cenário de oferta
modernos se interessam cada vez mais por superior à demanda, cada vez mais as empresas
produtos com um “histórico”, que transmitem lutam para melhorar sua posição relativa de
confiança e proporcionem maior satisfação, ou mercado e diferenciar sua oferta de seus
seja, demonstrem éticas e estão interessados em concorrentes. A vantagem competitiva ocorre
saber como os animais foram criado, alimentados quando uma empresa apresenta um desempenho

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acima da média em longo prazo e isso se dá por (Dobson et al., 2001). Pode também aumentar a
baixo custo e diferenciação. incidência de doenças (Lensink et al., 2000) e do
canibalismo (Wechsler et al., 2000, Wechsler &
Sistemas de produção animal versus estresse Huber-Eicher, 1998), levando até a morte de
O ser humano provavelmente iniciou animais. Relação humana e animal inadequado
atividades de manutenção de animais para também podem influenciar negativamente a
produção há cerca de dez mil anos (Zeder & produtividade e a qualidade dos produtos
Hesse, 2000). De todas as formas de interação (Hemsworth et al., 2002). Por último, alguns dos
entre o ser humano e os animais, talvez a principais problemas que interferem com a
interação entre os produtores e seus animais seja produtividade e a qualidade final dos produtos de
a que tenha sofrido o processo mais marcante de origem animal ocorrem no processo de transporte
alteração ao longo da história. No início do e no manejo pré-abate (Silva & Vieira, 2010).
século XX, a utilização de animais para produção Estes problemas aumentam os custos de
aumentou em associação com a expansão das produção e/ou prejudicam a qualidade do produto
necessidades humanas. Iniciou-se um sistema de final, onde para conquistar mercados cada vez
manutenção de animais em altas densidades de mais competitivos, é necessário que o país se
lotação, que teve e tem até hoje raízes em enquadre nos padrões de exigência
pressões comerciais. Nos anos 1970, a criação internacionais. Isso tem obrigado os produtores a
intensiva de animais levou ao confinamento realizar investimentos em treinamento de pessoal,
intenso de bovinos, suínos e aves em muitos instalações e equipamentos.
países.
Efeito do estresse na qualidade de produtos
Nas últimas décadas vem ocorrendo uma oriundos de ruminantes
redução na disposição de algumas sociedades em
A qualidade dos produtos de origem animal
demonstrar a aceitação de produtos de origem
podem ser percebida pelos seus atributos
animal de baixo preço, em parte à custa de
sensoriais (cor, textura, suculência, sabor, odor,
sofrimento animal. Gregory (2003) cita que
maciez), nutricionais (quantidade de gordura,
alguns países da União Europeia que são
perfil de ácidos graxos, porcentagem de proteína,
importadores de carne solicitam que o transporte
minerais e vitaminas), tecnológicos (pH e
de animais vivos seja limitado a um período de
capacidade de retenção de água), sanitários
no máximo oito horas.
(ausência de tuberculose, encefalopatia
Admitindo-se que sistemas mais extensivos espongiforme transmissível (BSE), salmonelas,
têm alto potencial de bem estar animal, o Brasil Escheriquia coli), ausência de resíduos químicos
tem uma posição privilegiada, favorecida pelas (antibióticos, hormônios, dioxina ou outras
condições climáticas e pelo baixo custo de terras substâncias contaminantes), éticos (bem estar do
e mão de obra, se comparado aos mesmos homem do campo, dos animais) e preservação
parâmetros existentes para os produtores ambiental (se o método de produção não afeta a
europeus. Entretanto, uma pecuária mais sustentabilidade do sistema e provoca poluição
extensiva, apesar de apresentar um maior ambiental) (Guerrero et al., 2013, Hocquette et
potencial de bem estar animal, não significa al., 2005). Nesse sentido, programas de qualidade
automaticamente melhor qualidade de vida para de carne devem enfatizar mais do que a oferta de
os animais e qualidade de carne (Molento, 2005, produtos seguros, nutritivos e saborosos, há a
Rotta et al., 2009). necessidade de compromissos com a produção
A alta produtividade não é necessariamente sustentável e a promoção do bem estar humano e
sinônimo de bem estar animal (Broom, 1991, animal, assegurando satisfação do consumidor e
Guarnieri et al., 2002, Pinheiro & Brito, 2009), renda ao produtor, sem causar danos ao ambiente.
mas, quando o bem estar é pobre, pode haver A liberação do cortisol estimulada pela
queda na produção de ovos e leite, na reprodução liberação de hormônio adrenocorticotrófico
e no crescimento, aumento da incidência de (ACTH) atua sobre o metabolismo orgânico,
doenças e produção de carne de qualidade aumentando o catabolismo protéico, a
inferior. Por exemplo, o estresse social devido a gliconeogênese no fígado, inibe a absorção e a
manejos inadequados na propriedade pode oxidação da glicose, além de estimular o
influenciar negativamente a qualidade da carne, o catabolismo de triglicerídeos no tecido adiposo.
ganho de peso (Hyun et al., 1998) e a reprodução A importância disso está no fato de que os

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estressores crônicos mobilizam energia sobre os efeitos específicos dos pré-abates


constantemente, desviando-a da produção, estressantes e as interações entre mudanças
(Chilliard et al., 2000, Hocquette et al., 1998). biofísicas no músculo e os consequentes efeitos
sobre as características e qualidade de carne.
O estresse origina um desajuste generalizado
Além disso, não é totalmente clara se a resposta
nas diferentes funções fisiológicas (Terlouw et
animal poderá ser por estresse, ocorrendo
al., 2008). Quando os cordeiros são expostos a
variação nas características sensoriais como a
situações potencialmente adversas, apresenta
maciez (Ferguson & Warner, 2008). Gregory
liberação prolongada de cortisol, o que
(2008) observou que os maiores benefícios em
modificará os processos bioquímicos do músculo
termos de qualidade da carne são os que provêm
até carne (Caroprese et al., 2006). E também
da redução do estresse na sala pré-abate, durante
influirá no tempo necessário para o
as etapas finais antes do abate. Baixas densidades
estabelecimento do rigor mortis. Um declínio
permitem espaço para movimentação dos
rápido de pH e aumento de temperatura muscular
animais, o qual gera mais conforto, por outro
logo após a morte do animal é indicativo de
lado maior espaço pode fazer com que os animais
maior atividade e talvez estresse psicológico
se machuquem batendo nas paredes do veículo
antes do abate (Terlouw et al., 2008), e que
transportador ou choque entre os próprios
podem ter efeitos nocivos sobre a qualidade da
animais. Batista et al. (1999) citam que animais
carne (Ferguson & Warner, 2008). O pH normal
deitados aumentam a extensão das contusões, de
se estabiliza depois de 24 horas post-mortem,
modo que se deve mantê-los em pé, mesmo em
habitualmente entre 5,4 e 6,0 (Terlouw et al.,
viagens longas. Para Andrade et al. (2008)
2008). O esgotamento de reservas de glicogênio
condições desfavoráveis de transporte pode levar
muscular em bovinos resulta na formação de
à morte dos animais. Apesar destas
carne DFD (dark, firm, dry – escura dura e seca),
considerações, há pouca informação sobre os
caracterizada por um pH igual ou superior a 6,0
efeitos de diferentes densidades e índices de bem
(Apple et al., 2006, Zerouala & Stickland, 1991).
estar durante o transporte na qualidade da carne
Durante o estresse existe elevada atividade do
(Delezie et al., 2007). A duração do transporte de
hipotálamo, na hipófise-adrenal e no sistema
ovinos e bovinos pode ser bastante considerável
nervoso simpático, modificando a utilização de
(> 18 horas), sobretudo em países como a
carboidratos e lipídios e que levam o
Austrália, recomenda-se, principalmente, que os
catabolismo, aumentado do glicogênio no
bovinos e ovinos para abate, não devam ser
músculo e uma mudança na energia de
transportados por longos períodos (<10 horas.)
metabólitos do sangue (Colditz et al., 2007). O
(Ferguson & Warner, 2008). As normas
estresse pode levar a diferentes respostas na carne
europeias prevêem máxima duração de transporte
que se aproximam da carne DFD ou PSE (pale,
de 8 horas para animais adultos de espécies como
soft, exudative - pálida, mole e exsudativa)
suínos, aves, bovinos, ovinos e caprinos.
(Barbut, 1993, Barbut et al., 2008). Além disso,
animais cansados produzem carne com menor Ausência de bem estar pode levar à produção
tempo de conservação, em virtude do de uma carne de qualidade inferior, o que resulta
desenvolvimento incompleto da acidez muscular em perda de produção e perda de vendas, ou
e consequente invasão precoce da flora venda de produto de baixa qualidade. O efeito do
microbiana (Ferguson & Warner, 2008). Essa exercício no metabolismo de energia e produção
carne mostra-se com coloração indesejada, pouco de metabólitos varia de acordo com a intensidade
brilhante, dando a impressão de uma sangria e duração dos exercícios. Durante o
deficiente, esta coloração é atribuída às alterações carregamento, demanda menos de 60% do
físico-químicas do músculo e decréscimos da consumo máximo de oxigênio, 50% a 80% dos
oxigenação da hemoglobina (Mancini & Hunt, substratos oxidados derivam da gordura (60% ou
2005). Portanto, não é recomendado abater o menos derivam do sangue) e a maioria da glicose
animal imediatamente após a sua chegada ao utilizada deriva da redução do glicogênio. Nessas
frigorífico, sendo necessário que os bovinos condições, a proporção de fontes de energia extra
permaneçam em descanso, jejum e dieta hídrica muscular utilizada, aumenta com a intensidade
nos currais, por 24 horas, podendo esse tempo ser dos exercícios. Quando o carregamento
diminuídos em função da distância percorrida. corresponde 60 a 90% do consumo máximo de
oxigênio, 50% a 80% das calorias que são
A oxidação das carnes é também influenciada
pelo pré-abate. No entanto, muito menos se sabe

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queimadas derivam dos carboidratos, o qual 80% e fósforo; discordado de Kume et al. (1990) que
derivam da reserva de glicogênio no músculo. afirmam terem estes componentes têm ligeira
tendência a diminuir no verão. Também Head
A determinação de leite com qualidade pode
(1989) observou declínio destes minerais no leite
ser definida em termos de sua integridade, ou
de vacas estressadas.
seja, livre da adição de substâncias e/ou remoção
de componentes; de sua composição química e Para Brasil et al. (2000), a queda na produção
características físicas; e de sua deterioração de leite e concentração de seus componentes nos
microbiológica e presença de patógenos (Dürr, animais estressados pode ser explicada pela
2004). A qualidade do leite também está diminuição na ingestão de nutrientes e no desvio
relacionada a características organolépticas (odor, de energia para funções não produtivas.
sabor, aspecto). Algumas indústrias iniciaram a
implantação de programas de pagamento por Efeito do estresse na qualidade da carne de
qualidade, como instrumento para incentivar o aves
produtor a buscar pela melhoria de seu produto e, Uma das preocupações mais urgentes da
indiretamente, para obter melhor rendimento avicultura brasileira refere-se às perdas ao longo
industrial. Além do pagamento de bonificação do processo produtivo. Em sentido contrário ao
pelo leite de alta qualidade, podem ser utilizadas crescimento do setor no mercado interno e
penalizações para o leite de baixa qualidade. O externo, os prejuízos anuais são expressivos,
fato de ter sido encontrada diferença dos valores ultrapassando milhões de reais, incompatíveis
dos componentes para os meses indica existir com a competitividade da avicultura neste
efeito de mês do ano sobre o pagamento por cenário. Assim, os esforços devem ser
qualidade. Com exceção do mês de janeiro, direcionados para a redução de perdas, visando
ocorreu diminuição nos teores de gordura e aumento da lucratividade do produto final,
proteína nos meses de julho a outubro, com os pautado no contexto atual de bem estar animal. A
menores valores nos meses de setembro e identificação das perdas localizadas durante as
outubro. Head (1989) observou variação operações pré-abate torna-se um ponto crucial na
semelhante nos componentes do leite em função otimização dos processos de produção (Silva &
do efeito da época do ano, principalmente para a Vieira, 2010).
época de verão. Para CCS e CBT, foram
observados maiores valores de setembro a Carne PSE caracteriza-se, como mencionado
fevereiro (primavera/verão) e de novembro a anteriormente, por apresentar propriedades
janeiro (final da primavera/começo verão), funcionais indesejáveis, como cor pálida e baixa
respectivamente. Teixeira et al. (2003) capacidade de retenção de água. Essas
verificaram que os teores de gordura e proteína particularidades refletem em produtos de pouco
eram maiores nos meses de inverno (época seca) rendimento na produção industrial e baixa
e menores nos meses de verão (época das águas). aceitação pelos consumidores. Sabe-se que as
A CCS menor no inverno e maior no verão carnes PSE são originadas de frangos que
coincide com a incidência de mastite clínica sofreram estresse no manejo pré-abate, em
durante os meses de verão (Harmon, 1994). decorrência da rápida glicólise post-mortem,
sendo que a correta manipulação das aves nas
De acordo com Brasil et al. (2000) o estresse horas que precedem o abate é indispensável para
térmico também pode interferir na produção de obtenção de produtos com qualidade. O PSE
leite e composição física e química indicando que pode ser detectado pela combinação dos valores
a produção de leite foi menor à tarde, embora de pH (abaixo de 5,8) e cor (valor L* acima de
esta diferença tenha sido maior sob termo 52) (Barbut, 1993, Olivo et al., 2001) medidos 24
neutralidade. O leite da tarde apresentou maior horas pós-abate. O calor é considerado como um
teor de gordura e sólidos totais e menor de importante fator de estresse para os frangos de
lactose. O teor de proteína bruta foi mais alto corte com consequente aumento na incidência de
pela manhã no leite dos animais estressados, PSE (Owens et al., 2000, Guarnieri et al., 2002).
porém mais baixo neste período sob termo
neutralidade. Os animais estressados produziram Esse tipo de carne, por sua cor pálida e,
menos leite, com menores teores de gordura, principalmente por sua propriedade de não reter
proteína, lactose e sólidos totais. Não se água como um músculo normal, causa
verificaram diferenças entre períodos ou transtornos à industrialização. Ela apresenta
tratamentos quanto aos teores de cloretos, cálcio rendimento deficiente, quando processada,

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dificuldade em manter sua própria água, baixa trajeto, os animais ficam expostos durante mais
absorção de salmoura durante a marinação tempo aos agentes estressores, principalmente às
(Woelfel et al., 2002), perda de líquido por condições ambientais. Por isto, em diversos
gotejamento (exsudação) na embalagem, baixa estudos têm sido observado que quanto maior a
capacidade de emulsificação, pouca coesividade distância de transporte, maior foi o número de
e perda de peso pós-cocção. Com isso, observa-se aves mortas na chegada ao abatedouro (Barbosa
reduzida suculência (Fletcher, 2002), além de Filho et al., 2009). Voslarova et al. (2007)
menor vida útil do produto (Barbut et al., 2008). encontraram resultados de mortalidade elevados
em distâncias acima de 100 km, sendo que a
Com destaque no transporte, as condições
menor proporção de aves mortas encontrada
geralmente são inaceitáveis, contribuindo
(0,6%) foi registrada em distâncias abaixo de 50
efetivamente desde o aumento do estresse no lote
km. Seja nos meses mais quentes ou frios, o
até a mortalidade. Os potenciais fatores
período da tarde é o mais problemático para o
causadores de estresse no transporte incluem
transporte, com relação ao estresse térmico das
desde as características térmicas do micro clima
aves (Barbosa Filho et al., 2009). Desta forma,
da carga, aceleração ou vibração das caixas,
durante este turno, as distâncias a serem
impactos, velocidade do vento, jejum e até a
percorridas devem ser menores, ou seja, abaixo
quebra da estrutura social.
de 25 km, para evitar a ação prolongada das
Um recurso ainda controverso no meio variáveis ambientais sob as aves. As distâncias
avícola para minimizar o efeito do estresse sobre maiores devem ser percorridas no período da
a carne de frangos é a aspersão de água antes do noite e no início da manhã, pois, geralmente são
transporte, uma vez que todos o adotam nas períodos diários mais confortáveis sob o ponto de
etapas de carregamento e pouca informação é vista térmico.
dada a respeito deste manejo. A justificativa para
A espera no abatedouro também tem sua
a aspersão de água na carga antes do transporte é
importância e se resume em oferecer, dentro de
a redução de calor no lote, favorecendo o
um espaço de tempo adequado, condições
conforto térmico nas horas mais quentes do dia.
térmicas satisfatórias para manter o animal em
No entanto, observa-se na maior parte das
conforto após o transporte e até a chegada na
situações que os operadores molham a carga
linha do abate. Neste contexto, a espera deve
independente do horário e condição, seja de noite
atender este objetivo perante as diferentes
ou nos demais períodos e com isto, as perdas
condições ambientais, horários do dia, da
podem sofrer influência do mau uso deste
logística de transportes e do fluxo de abate. Com
recurso. A condição térmica básica para molhar a
base na condição climática brasileira, a
carga deve ser a de temperatura ambiente elevada
preocupação com o ambiente onde se encontram
e umidade relativa baixa (Silva & Vieira, 2010).
os caminhões na espera é primordial, pois todos
Barbosa Filho et al. (2009) analisando o perfil os cuidados nas primeiras operações pré-abate
de um carregamento realizado no período do poderão ser perdidos se a espera no abatedouro
verão, no turno da manhã e numa distância não for adequada. Tanto a nebulização quanto a
considerada longa (>100 km), por meio da ventilação devem ser bem distribuídas ao longo
distribuição espacial das variáveis climáticas da sala de espera, com o correto acionamento das
indicadas no perfil, percebeu que a mesmas e de forma racional, sem desperdício de
heterogeneidade passa por um processo dinâmico água e energia. O objetivo de um ambiente de
a cada instante e diretamente relacionadas com as espera num abatedouro consiste em prover as
condições do clima, transporte, velocidade dos melhores condições térmicas para as aves,
ventos e do veículo. Baseando-se nos diferentes diminuindo as chances de perda por mortalidade
cenários analisados verificou os principais locais durante esta etapa. Problemas mais graves podem
de micro clima mais desfavoráveis as aves numa ocorrer, como por exemplo, hemorragia nos
carga durante o transporte. Nos estudos do autor músculos, perdas qualitativas na carne e
ficou evidenciado que tanto para o período de mortalidade (Kranen et al., 1998). A carga parada
inverno como no verão a região central da carga durante a espera, a sensação térmica dos frangos
de um caminhão, ainda continua sendo a de pior piora ainda mais, devido à produção de calor e
condição microclimática para as aves. vapor de água dos animais.
A distância possui grande influência na O local onde os caminhões permanecerão
sobrevivência das aves. Com o aumento do estacionados antes do abate deve oferecer às aves

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condições de trocas térmicas com o ambiente. O de Sonda de Fibra Ótica (FOPu), indicando
galpão deve ser climatizado para se atingir o potencialmente mais carne DFD. Um problema
objetivo de bem estar e conforto térmico das semelhante é observado em bovinos,
aves. Para isto, a instalação de linhas de especialmente tourinhos de corte misturados
ventilação intercaladas com nebulização é antes do abate (Warriss, 1990).
importante para este fim, sendo estas distribuídas
Há bastante literatura confirmando o fato de
uniformemente (teto e pilares do galpão), visando
que misturar suínos desconhecidos na mesma
dentro do possível climatizar igualmente todas as
baia induz a altos níveis de agressão, cujo
caixas. Deve também possuir espaço para todos
objetivo é estabelecer uma nova hierarquia social.
os caminhões e normalmente esta determinação é
A briga leva a um maior escore de dano à pele na
feita de acordo com o fluxo de abate da empresa
carcaça, especialmente em machos, e a defeitos
e com o tempo médio de espera a ser adotado. A
na qualidade da carne (Warriss, 1996). No
caixa d'água que abastece o sistema de
entanto, na prática, os suínos são frequentemente
nebulização deverá ser protegida de incidência
misturados antes do embarque para obter grupos
direta de raios solares. A proteção lateral contra
de peso homogêneo e para ajustar o tamanho do
radiação solar direta deve ser feita por meio de
grupo aos compartimentos do caminhão. De
telas do tipo sombrite e o material de cobertura
90,4% de grupos misturados no embarque em 20
do galpão deve permitir a reflexão destes raios
carregamentos para abatedouros na Espanha,
visando a redução da carga térmica do ambiente.
50,4% foram misturados na granja antes do
carregamento e os 40% restantes foram
Efeito do estresse na qualidade da carne suína
misturados dentro do compartimento do
A moderna indústria de carne suína se caminhão (Faucitano, 2001). Uma carcaça com
caracteriza por abatedouros grandes que operam danos graves pode sofrer uma perda de até 6% do
a grandes velocidades de linha. É provável que as seu valor total (MLC, 1985) e o toucinho e o
instalações e as práticas de manuseio não pernil com hematomas graves podem ser
satisfaçam a necessidade de manusear os suínos depreciados em até 1/5 do seu valor normal
mais rápidos nestes abatedouros. Altas (Chevillon & Le Jossec, 1996).
velocidades de operação e a necessidade de
Para evitar atrasos nos procedimentos de
coerção podem resultar em estresse e mais carne
embarque, os animais devem ser encorajados a
PSE. As concentrações muito mais altas de
mover-se para frente empurrando o grupo por trás
lactato e enzima creatinina fosfoquinase (CPK)
com painéis. O uso de picanas elétricas deve ser
confirmaram que suínos abatidos em sistemas
muito limitado (choques <2 segundos) e o uso de
ruins, de alto estresse, estavam, de fato, mais
varas/mangueiras deve ser evitado devido ao seu
estressados ao abate. Também produziram muito
efeito prejudicial sobre o bem– (frequência
mais carne potencialmente PSE, com base em
cardíaca), equimoses na carcaça e qualidade da
valores mais altos de sonda PQM. O valor PQM
carne (hematomas) (Geverink et al., 1996).
(Pork Quality Meter - Medidor da Qualidade da
Pesquisas recentes demonstraram que um choque
Carne Suína) é uma medida das características
com a picana elétrica é mais aversivo do que
elétricas da carne. Valores mais altos estão
inalar 90% de CO2 (Jongman et al., 2000). No
associados com carne mais pálida e mais úmida.
entanto, o uso destes três sistemas de manuseio é
Em outras palavras, suínos abatidos em sistemas
muito comum neste estágio e geralmente é
de alto estresse foram mais estressados e
reflexo de um desenho ineficiente de caminhão
produziram mais carne PSE (Warriss, 1990).
(rampa em vez de plataforma elevadora) e da
Um exemplo de estresse em longo prazo que inexperiência dos tratadores (Faucitano, 2001).
potencialmente causa carne suína DFD é Os métodos de atordoamento em si, quando
fornecido pelos efeitos das brigas entre animais realizados corretamente, têm efeitos mínimos
que não se conhecem e que foram misturados sobre a qualidade da carcaça e da carne. No
antes do abate. Suínos que produziram carcaças entanto, podem afetar a qualidade da carne por
com mais danos na pele (arranhões e marcas de ossos quebrados, equimoses e a aumento
mordidas) tiveram níveis progressivamente mais ocorrência de PSE (carne de porco pálida, mole e
altos do hormônio cortisol e da CPK em seu exsudativa).
sangue, indicativos de maior estresse psicológico
A prática de aspergir os suínos com água fria
e físico. Os seus músculos tiveram pH final
(9–10o C) possui três vantagens distintas.
(pHu) progressivamente maior e menores valores

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Alves et al. 455

Primeiro, refresca os animais, reduzindo o o atordoador manual (300 volts) é usado e de 59


esforço do sistema cardiovascular e melhorando a gramas quando se usa o atordoador automático
qualidade da carne (PSE). Foi demonstrado que a (700 volts) (Larsen, 1982). Sistemas de
aspersão com um fluxo médio de 27 l/min/m2 atordoamento elétrico de alta frequência podem
uma vez por hora produz uma queda de mais de reduzir a severidade das hemorragias. Apesar do
3°c na temperatura do lombo (Long & Tarrant, atordoamento por pistola com êmbolo de suínos
1990). Foi comprovado que esta queda na não ser comum nos países desenvolvidos, é muito
temperatura corporal é suficiente para reduzir a usado nos países em desenvolvimento. Um
taxa inicial de desnaturação da miosina em 37%, importante defeito na qualidade da carne
resultando em uma grande redução na perda de associado a este método de atordoamento é a
água na carcaça (Offer, 1991). Em segundo lugar, ocorrência de equimoses (Raj, 2000).
acalma os animais, reduzindo o comportamento
agressivo na área de espera e facilitando o Efeito do estresse na qualidade de pescados
manuseio na entrada do corredor de O comportamento do consumidor é dinâmico
atordoamento (Weeding et al., 1993). Em terceiro ao longo do tempo e podemos prever que, da
lugar, limpa os animais e reduz o odor, limitando mesma forma que acontece com os outros
a contaminação bacteriana da água no tanque de animais, o consumidor começará a fazer
escaldadura (Tarrant, 1998). Finalmente, aumenta considerações sobre o bem estar dos peixes. A
a eficiência do atordoamento elétrico por alimentação, o manejo, a qualidade da água,
diminuir a impedância da pele. densidade de lotação, o transporte e o abate são
A temperatura entre 10 e 30o C e UR menor os principais pontos críticos da produção de
que 80%, a aspersão na área de espera é peixes, podendo interferir no seu grau de bem
desejável. Já abaixo de 5o C, a aspersão não é estar (Pedrazzani et al., 2007).
recomendada porque faz com que o animal Os fatores críticos a se considerar em relação
trema, podendo levar a uma carne mais escura ao transporte são a captura, a espera pelo
(DFD) (Homer & Matthews, 1998). Sob transporte, a embalagem dos peixes e o controle
condições normais de temperatura ambiental e dos fatores ambientais da água durante o
umidade, geralmente se considera que um tempo transporte, já que os animais são transportados
de descanso de 2–3 horas nas baias de espera não em tanques sob elevada densidade de lotação. O
prejudica o bem estar animal, o escore de danos estresse fisiológico provocado pelo manuseio,
na carcaça, a qualidade da carne ou a economia pelo acúmulo de dióxido de carbono e amônia na
do abatedouro (Warriss et al., 1998). Mas na água, e o transporte propriamente dito dos peixes
prática, os tempos de descanso utilizados são permanece por seis horas a um dia, mas pode
muito variáveis (de <1 a 15 horas), dependendo persistir até duas semanas se a exposição aos
do tamanho do abatedouro, da disponibilidade de agentes de estresse se mantiver ou então se os
suínos para o abate, tempo de transporte, peixes já estiverem debilitados antes mesmo do
procedimentos de manuseio (i.e., mistura) e transporte (Schreck et al., 1997).
condições ambientais (Geverink et al., 1996).
Podemos minimizar esse impacto negativo,
Os métodos de atordoamento causam vários associando alimento à captura e ao transporte.
graus de contração muscular e aumento da Pesquisadores da Universidade de Oregon,
pressão sanguínea durante e/ou depois do Estados Unidos, condicionaram juvenis de
atordoamento. Altas velocidades da linha de salmão-real (Oncorhynchusts hawytscha) para
abate garantem o movimento e o fornecimento melhorar a resposta ao estresse durante e após o
contínuo de animais da área de espera até o local transporte. O nível de água foi baixado duas
do atordoamento. Isto envolve força considerável vezes por dia durante 10 minutos. Ao final de
e o uso de picanas elétricas, acrescentando cada período o nível da água foi elevado e os
aumento da pressão sanguínea aos demais peixes foram alimentados. Os peixes foram
estresses. Juntos, podem causar equimoses ou amostrados um dia antes do transporte (0 horas),
hemorragia muscular. Além disso, também pode ao final do transporte (2 horas) e em 4, 12, 26 e
ocorrer hemorragia nos tecidos ao redor dos 122 horas após o início do transporte. Os peixes
ossos quebrados. Nos abatedouros condicionados demonstraram um nível inferior de
dinamarqueses, foi relatado que a quantidade de cortisol, de glicose plasmática e de lactato
músculo que precisa ser aparado devido à muscular (substâncias indicadoras de estresse) do
presença de hemorragias é de 145 gramas quando

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Estresse sobre produtos de origem animal 456

que os peixes não condicionados. Todos os função do transporte. Ciência Rural, 38,
peixes condicionados sobreviveram ao transporte, 1991-1996.
e os peixes não condicionados apresentaram taxa
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rapidamente. O sofrimento provoca ainda, uma
Barbosa Filho, J. A. D., Vieira, F. M. C., Silva, I.
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J. O., Garcia, D. d. B., Silva, M. A. N. &
musculatura dos peixes e, consequentemente,
Fonseca, B. H. F. (2009). Transporte de
menor acúmulo de ácido lático. Isso faz com que
frangos: caracterização do microclima na
o pH da carne fique próximo da neutralidade,
carga durante o inverno. Revista Brasileira de
acelerando a ação das enzimas musculares (auto-
Zootecnia, 38, 2442-2446.
hidrólise), ou o desenvolvimento de bactérias,
tendo como consequência a degradação mais Barbut, S. (1993). Colour measurements for
rápida do pescado. Ou seja, o método de abate evaluating the pale soft exudative (PSE)
interfere na qualidade final do produto, sendo que occurrence in turkey meat. Food Research
quanto maior o sofrimento, menor será o tempo International, 26, 39-43.
de prateleira do pescado (Pedrazzani et al., 2007). Barbut, S., Sosnicki, A. A., Lonergan, S. M.,
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submetido a condições que modificam seu Bem
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estar, sendo os principais pontos críticos que
bovinos no metabolismo post mortem.
contribuem para estes acontecimentos
Current Agricultural Science and Technology,
relacionados ao manejo pré-abate, a exemplo do
5, 152-156.
transporte. Já o efeito do estresse sobre a
produção de leite está relacionado de modo Brasil, L. H. A., Wechesler, F. S., Baccari Júnior,
indireto por interferir principalmente no consumo F., Gonçalves, H. C. & Bonassi, I. A. (2000).
pelo animal e consequentemente na sua produção Efeitos do estresse térmico sobre a produção,
por reduzir a disponibilidade de nutrientes. composição química do leite e respostas
Baseando em mudanças no perfil do mercado termorreguladoras de cabras da raça Alpina.
consumidor todos os sistemas de produção Revista Brasileira de Zootecnia, 29, 1632-
animal terão, em um futuro na muito distante, 1641.
que se adequarem com novas técnicas de manejos Broom, D. M. (1991). Animal welfare: concepts
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