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GARANHUS-PE
//2019
Resumo
1. Introdução
É notável que, nas últimas décadas, ao mesmo tempo em que houve uma
crescente automatização dos sistemas de produção animal, bem como um aumento
da adoção dos sistemas intensivos de criação, paralelamente intensificou-se uma
tendência que diz respeito ao aumento das exigências quanto ao cumprimento das
normas básicas de bem-estar animal. O mercado, a nível nacional e internacional,
vem buscando ajustar-se a esse novo cenário, ponderando a aplicabilidade de tais
normas, tanto para a criação quanto para o abate, frente aos critérios de demanda,
lucratividade, custos e viabilidade da adoção de sistemas produtivos que as
contemplem, dentre outros fatores.
Bem-estar é um termo amplo que abrange tanto o estado físico quanto o mental do animal. Por isso,
qualquer tentativa para avaliar o nível de bem-estar em que os animais se
encontram deve levar em conta a evidência científica existente relacionada
aos sentimentos dos animais. Essa evidência deverá descrever e
compreender a estrutura, função e formas comportamentais que expressam
o que o animal sente.1
Essa definição, pela primeira vez a história, fez referência aos sentimentos dos
animais.
Com o decorrer dos anos, surgiram várias outras definições sobre o assunto
de bem-estar, no entanto, a mais utilizada é a de Donald M. Broom: “O estado de um
indivíduo durante suas tentativas de se ajustar ao ambiente”2. Um animal pode não
1
LUDTKE, C. B. Abate Humanitário de Aves. Rio de Janeiro: WSPA, 2010 p. 11.
2
Apud Ibidem, p. 11.
conseguir ajustar-se ao ambiente e, portanto, ter um bem-estar ruim. Para analisar o
estado dos animais e verificar possíveis interferências ao bem-estar dos mesmos, o
Comitê Brambell desenvolveu o conceito das “Cinco Liberdades” que tem sido
adotado mundialmente. Esse conceito prevê que o animal esteja:
Existe uma preocupação também por parte dos consumidores que vêm
ganhando força e pressionando a indústria, na forma como os animais são criados,
transportados e abatidos, não só para o melhoramento da qualidade dos produtos de
origem animal, mas também englobando a qualidade ética. Alguns princípios básicos
são considerados para a qualidade ética no manejo pré-abate, que são:
[...] qualidade da água, do solo, das pastagens, das rações, dos suplementos, da
adubação, dos medicamentos, dos aditivos, dos inseticidas, da genética, do
manejo, do conforto animal, do transporte, do abate, do processamento, da
embalagem, da rotulagem e, finalmente, do selo de identificação da
certificadora para a comercialização.4
Por ser bastante restrita a utilização permitida de insumos inorgânicos, surge uma
preocupação com os custos de produção, pois os insumos orgânicos para o preparo
do solo e para a alimentação dos animais são mais caros. Justamente por isso, a
reaplicação dos dejetos animais na mesma lavoura que irá alimentá-los tem
importância fundamental para a viabilidade econômica do sistema. O cultivo de
diversas espécies contribui para a manutenção da qualidade do solo e oferece a
possibilidade de obtenção de alimento para a criação integrada de mais de uma
espécie animal, como no caso da de bovinos, cuja urina serve de adubo para a
cana-de açúcar, que por sua vez serve de alimento para suínos.
3
Cf. ARENALES, M. C. Sistema Orgânico de Criação de Suínos. Viçosa: CPT, 2009, p. 43.
4
Ibidem, p. 43.
Apesar da sua complexidade, o sistema de integração oferece vantagens éticas,
pois favorece enormemente a sustentabilidade, fator que tem uma alta relevância no
panorama ambiental contemporâneo. Além disso, quando bem aplicado, tem a
capacidade de tornar os custos de produção inferiores aos dos sistemas
convencionais e intensivos de produção animal.
Na produção intensiva, uma das grandes preocupações é o grau de agressividade
dos animais confinados, que pode levar a altos índices de lesões, o que inclusive
diminui o rendimento das carcaças pois as áreas lesionadas tornam-se impróprias
para consumo humano. Evidentemente, as agressões entre os animais, derivadas
da privação extrema da possibilidade de expressarem um comportamento próximo
do natural representam uma das consequências da ausência de bem-estar animal
que o sistema orgânico procura evitar. Portanto, por questões éticas e econômicas,
neste utiliza-se a criação extensiva, na qual as áreas ocupadas pelos animais
assemelham-se ao habitat natural das espécies. Por exemplo, na criação orgânica
de suínos, recomenda-se que os terrenos tenham plantas que forneçam sombra e
também arbustos, onde os animais possam se esconder, de acordo com
necessidades próprias de seu comportamento. Assim, a socialização entre os
animais torna-se possível e mais próxima do natural.
Com a socialização, as técnicas reprodutivas também podem ser mais naturais,
ainda que a seleção genética seja permitida. Na criação convencional, onde a
seleção é muito rigorosa e extremamente voltada para o aumento de volume de
carcaça, acontece muitas vezes de se prosseguir numa mesma linhagem de avós e
pais que irão gerar as novas crias, levando-se a uma especificidade muito grande.
Esta pode reduzir os índices de imunidade, que seriam promovidos pela
variabilidade genética, e assim pode haver um aumento da necessidade de uso
contínuo de produtos químicos como antibióticos, vitaminas artificiais etc.5 Já na
criação orgânica, a seleção genética também privilegia linhagens mais dóceis, que
facilitam o trato, o manejo, e contribuem para um ambiente de produção mais
agradável.
5
Ibidem, p. 51.
Essa é uma das características da criação orgânica que visam tanto ao bem-estar
animal quanto à qualidade de vida das pessoas envolvidas no processo de
produção. Em um ambiente mais agradável, no qual se preza o bom trato entre as
pessoas e entre estas e os animais, há uma maior facilidade de desenvolvimento de
técnicas de manejo menos brutas. Ainda como vantagem, a taxa de prenhez das
matrizes é aumentada quando o trato que recebem é mais dócil. O uso do termo
“humanização”, ainda que possa parecer estranho por remeter a humanos e não a
animais propriamente ditos, pode ser aplicado a cada uma das etapas, pois pode-se
dizer que, em última análise, a aplicação das normas de bem-estar animal é voltada
para a satisfação de critérios éticos humanos.
Uma das técnicas mais utilizadas no Brasil que tem como objetivo realizar o
abate indolor de aves é a cuba de insensibilização elétrica ou eletronarcose, a qual
consiste em imergir os animais, pendurados pelas pernas em gancho de metal e
conscientes, em água eletrificada, o que causa a perda de consciência imediata dos
indivíduos. A corrente elétrica da cuba passa para os animais e atravessa o cérebro
causando despolarização dos neurônios, o que impede a passagem de estímulos e
torna os animais inconscientes e insensíveis à dor. Os sistemas elétricos são os
mais utilizados devido ao baixo custo de aquisição, pois requerem pouco espaço,
permitem que vários animais sejam insensibilizados ao mesmo tempo e a qualidade
da carcaça e da carne não são alteradas.
Por outro lado, em uma análise que leva em consideração os valores éticos
de forma mais relevante, pode-se afirmar que a adoção de métodos mais
humanizados de criação, manejo, abate etc, trazem um retorno positivo aos
investimentos. No sistema orgânico de criação de suínos, por exemplo, considera-se
importante a manutenção de um ambiente agradável de trabalho, assim como um
sistema de integração que proporcione aos indivíduos envolvidos diversas funções
nas quais eles podem atuar. Além disso, a busca pelo bem-estar animal nesse
sistema acarreta em outra vantagem adicional, que seria a sustentabilidade obtida
justamente pelo fato de o processo ser integrado. Da mesma forma, como foi
mencionado, no abate humanitário de aves, o sistema de insensibilização utilizado
possui baixo custo de aquisição, pois requer pouco espaço, permite que vários
animais sejam insensibilizados ao mesmo tempo e a qualidade da carcaça e da
carne não é alterada.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS