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Jade Pellenz
UNESP
Luigi Faucitano
Agriculture & Agri-Food Canada
'10.37885/220207923
RESUMO
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Zootecnia: pesquisa e práticas contemporâneas - ISBN 978-65-5360-087-4 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 3 - Ano 2022
INTRODUÇÃO
O bem-estar animal é fundamental para garantir uma vida digna aos animais, além de
refletir na produtividade. Pois, um animal que possui suas necessidades físicas, psicológicas
e sociais atendidas tende a produzir melhor e não sofrer com estresse crônico ou agudo, que
é prejudicial à saúde dos animais. Visto que, muitos estressores modificam diversas funções
fisiológicas, por exemplo reprodução, crescimento e resistência a doenças (ANDRADE;
PINTO; OLIVEIRA, 2006).
O bem-estar animal pode ser definido como “o estado físico e mental de um ani-
mal em relação as condições em que vive e morre” de acordo com o código terrestre da
OIE (OIE, 2022).
Os princípios que orientam o bem-estar animal são as 5 liberdades, sendo elas:
O bem-estar animal está intimamente relacionado a saúde única. Devido a essa co-
nexão, existe um conceito novo de “One Welfare”, ou seja, “Um bem-estar”. Esse conceito
traz uma abordagem holística sobre o bem-estar humano, animal e ambiental (DIAS, 2022).
Portanto, o bem-estar animal é uma demanda que aborda aspectos científicos, culturais,
econômicos, sociais e políticos (OIE, 2022).
Dessa forma, o objetivo dessa revisão é abordar de que forma se aplica o bem-estar
animal dentro da suinocultura brasileira. Ao longo desse capítulo serão abordados alguns
assuntos relacionados ao bem-estar dos suínos e a instrução normativa (IN) 113 de 16 de
dezembro de 2020 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
DESENVOLVIMENTO
– Quanto as instalações: Todos os suínos devem ter fácil acesso aos comedouros e
bebedouros, dessa forma com o objetivo de minimizar brigas. Ademais, os mesmos
devem ser livres de arestas cortantes e projetados para minimizar sujidades.
– Os pisos das instalações devem ser projetados para evitar escorregões, lesões e
quedas. O piso totalmente ripado é aceito, desde que tenha espaçamento uniforme
e drenagem adequada, exceto em instalações de matrizes em grupo, esta deve
conter um espaço para descanso com piso compacto.
– O manejo do ambiente tem que permitir a renovação de ar e remoção periódica de
dejetos, a fim de evitar gases tóxicos como amônia e gás carbônico.
– A luz necessita ser suficiente para investigar o ambiente visualmente, além do que
precisa obedecer a um ciclo diário mínimo de oito horas de luz continua e seis horas
de escuro. A luz natural é obrigatória em instalações climatizadas e as fontes de luz
artificiais devem estar despostas de uma maneira que não incomode os animais. 123
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– A exposição dos suínos a barulhos provenientes de maquinários ou outras fontes
devem ser minimizadas ao mínimo possível para evitar medo e estresse dos ani-
mais.
– Todas as fases de produção precisam conter área hospitalar e enriquecimento am-
biental. Outrossim, o estresse por frio ou calor deve ser minimizado e se existir risco
de estresse térmico para os animais além da sua capacidade adaptativa, a granja
deve dispor de tecnologias que minimizem esse desconforto.
– O embarcadouro nas granjas deve ter uma inclinação menor ou igual a 25° graus do
solo e o mesmo deve ser projetado para minimizar quedas, lesões e escorregões.
– O produtor rural e os colaboradores devem realizar contato positivo com os animais
e evitar ao máximo um contato agressivo que cause medo e estresse. Os suínos
necessitam ser conduzidos de forma calma, em grupos e com equipamentos ade-
quados, sendo eles, lonas, chocalhos, tabuas. Fica proibida a conduta agressiva e
o uso de bastões elétricos. Os suínos também devem ser conduzidos e manejados
por pessoas capacitadas.
– Na categoria de leitões se destaca a proibição da identificação por mossa (figura 2)
até 2030.
Figura 3. Matrizes em alojamento coletivo após 35 dias de gestação na granja Miunça – DF/ Brasil.
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Fonte: Arquivo Pessoal.
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– Durante o período de pré-parto as fêmeas devem receber o material de enrique-
cimento ambiental para que possam realizar o comportamento de nidificação, ou
seja, fazer o ninho.
– Na normativa também ficou estabelecido que as granjas têm até 2045 para ajustar
suas instalações de tratamento de efluentes para suportar dejetos provenientes de
enriquecimento ambiental.
ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL
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Figura 4. Alojamento de terminação enriquecido com palha de arroz na granja Umburana – DF/ Brasil.
Porém, ela deve ser utilizada de acordo com as necessidades de produção porque
ela pode oferecer um desafio ao suíno na questão da introdução de patógenos, bloqueio do
sistema de drenagem dos dejetos e o uso em altas temperaturas (HORBACK et al., 2016).
Altas temperaturas também podem ser um limitante não só para o uso de palha, mas
também para a produção como um todo. O estresse térmico é um importante limitante de
ingestão para suínos (CA et al., 1998). Portanto, é necessário implementar alternativas para
essa problemática, como o uso de instalações climatizadas.
INSTALAÇÕES CLIMATIZADAS
O Brasil apresenta um clima tropical na maior parte do país, esse clima quente, favo-
rece o desconforto térmico de muitas espécies. Pois, os animais costumam ter uma zona
de termoneutralidade (figura 6) para desenvolver suas funções fisiológicas da forma mais
eficiente possível. Segundo Rigo et al. (2019), o animal gasta menos energia para manter
a homeostase quando criados em um ambiente adequado, além disso seu desempenho e
bem-estar não são afetados.
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Figura 6. Zona de termoneutralidade para suínos de acordo com a fase de produção.
O desconforto térmico causa estresse em suínos (HALE et al., 2017). Esse estresse
pode ser potencializado pelo fato de suínos possuírem glândulas sudoríparas subdesen-
volvidas e tecido subcutâneo espesso (GUO et al., 2018). Em vista disso, é necessário
que as instalações proporcionem um ambiente adequado para os suínos, ou seja, uma
melhor ambiência.
Dentre as opções de climatização das instalações estão os ventiladores, exaustores,
resfriamento de piso, resfriamento evaporativo, pressão positiva ou pressão negativa. Essas
opções de climatização são usadas, principalmente na maternidade, pelo fato de o calor ser
um limitante de consumo de ração pelas porcas. Além de diminuir o tempo de ingestão de
alimentos (RICCI et al. 2018). Essa redução de consumo tem um impacto direto no desem-
penho das porcas e dos leitões, portanto, justifica-se o uso de tecnologias de resfriamento
eficientes na maternidade.
O sistema de resfriamento adiabático evaporativo é muito útil na suinocultura porque
é um modelo muito eficiente para climas quentes e com baixo custo (RONG et al., 2017).
Esse método funciona da seguinte maneira: O ar quente externo percorra por um material
umedecido e dessa forma aconteça a evaporação da água e a perda de calor do ar (RONG
et al., 2017). Um dos modelos de placas de resfriamento, é o modelo de colmeia (Figura 7),
que em relação a outros apresentou melhor eficácia de resfriamento do ar como no estudo
de Rigo et al. (2019), em que o sistema de resfriamento adiabático, modelo pad cooling,
amenizou os fatores climáticos desfavoráveis mesmo que sem uma homogeneidade de
temperatura dentro do galpão.
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Figura 7. Sistema de climatização em maternidade na granja Miunça – DF/Brasil.
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bem-estar animal. Portanto, muitos estudos estão voltados para testar sistemas alterna-
tivos nessa fase.
A união europeia é o bloco comercial mais adiantado em relação legislações de bem-
-estar (MAPA, 2020). A legislação 2008/120/CE dispõe de importantes ajustes para fêmeas
lactantes, além de outras categorias. Nas celas de maternidade foi estabelecido que a
gaiola de parição deve possibilitar que a porca se movimente livremente, ou seja, possa se
virar e expressar seus comportamentos naturais, mas precisa ter dispositivos de proteção
para os leitões.
As gaiolas adaptadas para proporcionar uma maior movimentação das porcas (figura
8) ainda são incomuns no Brasil. Por outro lado, os consumidores e o mercado interna-
cional podem pressionar os produtores para adequar ao bem-estar as instalações de ma-
ternidade também.
Figura 8. Gaiolas adaptadas para maior movimentação das porcas na granja Miunça – DF/Brasil.
Essas gaiolas que permitem maior movimentação das fêmeas, ou seja, adaptadas ao
bem-estar animal possuem muitos modelos. Porém, os modelos mais vistos são os de lateral
removível, em que uma ou ambas laterais são afastadas para proporcionar espaço para as
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porcas se virarem. Entretanto, é necessário que as baias tenham barras de proteção para
os leitões, além de escamoteadores, bebedouros e comedouros. Essas barras de proteção
ajudam a evitar o esmagamento.
Uma das maiores preocupações dos produtores em adotar as gaiolas adaptadas é em
relação a mortalidade dos leitões (RAMONET et al. 2018). Visto que, uma das justificativas
de prender as fêmeas em gaiolas é para a proteção de leitões. Todavia, a literatura traz
diversos estudos sobre o uso dessas gaiolas e mortalidade sem chegar a um consenso.
Alguns estudos relatam uma maior mortalidade, como de Condous et al. (2016) em
que notou uma maior mortalidade de leitões durante o parto sem confinamento. Contudo,
existem alternativas para contornar essa problemática. Muitos estudos científicos preconizam
a contenção da porca por um curto período de tempo para minimizar a mortalidade (CHOI
et al. 2020, GOUMON et al. 2018, HOBEL et al. 2018). Esses estudos não notaram diferença
estatística na mortalidade de leitões entre gaiolas de maternidade convencionais e gaiolas
adaptada ao bem-estar animal. Um dos fatores que podem explicar a ausência de diferença
estatística na mortalidade de leitões em celas de lateral removível pode ser devido ao fato
que a restrição de movimentos da porca é importante para a uniformização dos leitões, ou
seja, todos leitões conseguem ter a oportunidade de mamada (BORBA et al. 2020).
Outro benefício de não restringir as porcas durante o período de lactação ou a maior
parte dele é que elas ficam mais ativas. Segundo Bresmann et al. (2018) porcas com mais
espaço são mais ativas e possuem um maior repertório comportamental. Outro comporta-
mento que pode ser observado nessas gaiolas é a maior interação das fêmeas com seus
leitões e com as porcas alojadas ao lado de suas celas.
Além disso, alguns estudos conseguem demonstrar por meio de respostas fisiológicas
que fêmeas com mais espaço são menos estressadas. No estudo de Goumon et al. (2018)
porcas em gaiolas de lateral removível apresentaram menos IgA. A imunoglobulina IgA pode
ser um marcador de estresse não invasivo em suínos (MUNETA et al., 2010).
Portanto, a literatura cientifica já demonstrou que gaiolas adaptadas ao bem-estar são
capazes de aliviar o estresse das porcas e também manter índices produtivos semelhantes
ao das gaiolas convencionais. Dessa forma, espera-se que no futuro o Brasil publique alguma
normativa que contemple também adequações em gaiolas de maternidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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