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Sistemas de exploração pecuária de acordo com a espécie – tipos,

caraterísticas e legislação aplicável

Os sistemas de produção animal


Introdução

Os sistemas de produção animal podem ser definidos pelo conjunto de


tecnologias e práticas de maneio animal, tendo em conta a espécie, a
finalidade de produção, a raça e o meio ambiente/região onde a atividade
será desenvolvida. Deve-se considerar também, ao implementar um
sistema de produção, os aspetos socioculturais, ambientais e económicos,
uma vez que estes têm influência decisiva nas modificações que poderão
ser impostas, de forma a que o processo seja eficaz e as transformações
alcancem os benefícios esperados.
Tendo em conta todas as considerações acima descritas, deve-se definir
antecipadamente o mercado e os consumidores que se pretende alcançar,
pois só desta forma se poderá projetar um sistema de produção eficaz.

Outro fator muito importante a ter em conta em qualquer sistema de


produção é o bem-estar animal. Assim, é necessário cumprir os seguintes
cinco requisitos do bem-estar animal:
• Livre de fome e de sede: acesso a água fresca de qualidade e a uma dieta
adequada às condições fisiológicas;
• Livre de desconforto: fornecimento de um ambiente adequado que inclua
um abrigo com uma zona de descanso confortável;
• Livre de dor, ferimentos e doença: prevenção de doenças, diagnóstico
rápido e tratamentos adequados;
• Ter liberdade de expressar comportamento normal: fornecimento de
espaço adequado, instalações adequadas e a companhia de animais da
mesma espécie;
• Livre de stress, medo e ansiedade: assegurando condições e maneio que
evitem sofrimento.

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Sistemas de produção

Podemos diferenciar três tipos de sistema de produção bovina, sendo eles


extensivo, semi-intensivo e intensivo.

1. Sistema extensivo

Por definição, o sistema extensivo é a produção de animais exclusivamente


a campo, aproveitando ao máximo os recursos naturais, com o mínimo de
equipamentos agrícolas, instalações e mão-de-obra. Neste sistema, os
animais fazem a sua alimentação diretamente nas pastagens naturais,
sendo este tipo de produção utilizado para animais com aptidão cárnica,
isto é, para o mercado da carne.

No sistema extensivo os animais são produzidos em liberdade em grandes


áreas de pastagem (foto 1), sem suplementação alimentar. Desta forma, os
animais levam mais tempo a ganhar peso, pois para suprimir as suas
necessidades têm que se movimentar mais.

O maneio ideal de pastagens é aquele que permite maximizar a produção


animal, sem afetar a persistência das plantas forrageiras, possibilitando
desta forma um equilíbrio entre o ganho de peso vivo e a capacidade de
sustentação da pastagem. Assim, para que este sistema de produção seja
eficiente, é fundamental que o produtor tenha conhecimento do tipo e das
características da pastagem, de forma a decidir a rotatividade dos seus
animais.

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Assim, podemos caracterizar este tipo produção como um sistema que:

• Depende dos recursos naturais;


• As explorações são tecnologicamente menos desenvolvidas;
• A produção e/ou produtividade são baixas;
• O controlo de produção e reprodução é inadequado ou inexistente;
• O maneio alimentar, profilático ou sanitário é não adequado;
• As instalações para os animais são poucas;
• A utilização de suplemento alimentar é quase inexistente ou inexistente;
• A pastagem natural muitas vezes não suprime as necessidades
energéticas dos animais;
• Os animais normalmente são de raça cruzada e geneticamente inferiores.

2. Sistema semi-intensivo

No sistema semi-intensivo existe menos aproveitamento das pastagens


naturais e exige mais instalações e mais trabalho, sendo destinado a
animais com genética selecionada. Em geral, os animais são mantidos em
parques (terra ou cimento), para ser fornecido alimento em comedouros

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(fotos 2 e 3) e depois, são libertados para cercas onde contém pastagens
melhoradas (cultivadas) e bebedouros.

Neste sistema de produção, existe um equilíbrio entre a permanência dos


animais em parques (confinamento) e em pastagem (cercas com grandes
áreas). Também são usadas tecnologias como alimentação equilibrada,
suplementos de sais minerais, entre outras. Sendo estes animais com
aptidão cárnica, com este tipo de produção, iram atingir o peso esperado
mais rápido.

Assim, podemos caracterizar este tipo produção como um sistema que:

• As explorações são especializadas;


• A alimentação tem como base as pastagens, mas com a utilização de
suplementos minerais e concentrado;
• Utiliza técnicas de conservação de forragem, principalmente, para a fase
de engorda dos seus animais;
• Faz controlo zootécnico e profilático;
• Existe maior investimento por hectare, quando comparado com o sistema
extensivo;
• A mão-de-obra é mais especializadas;
• Cultiva os seus terrenos, para o melhoramento das pastagens e utiliza, se
necessário, sistemas de irrigação;

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• A suplementação alimentar concentrada pode ocorrer ao longo do ano
ou em determinadas alturas, isto é, consoante a fase de produção em que
se encontram os animais.

3. Sistema intensivo

O sistema intensivo consiste na produção animal com aptidão cárnica e


leiteira em confinamento, isto é, os animais encontram-se em parques (foto
4) ou cercas (áreas restritas), sendo que os alimentos (forragem, ração e
concentrado) e a água são fornecidos em comedouros e bebedouros,
respetivamente. Este tipo de produção implica um maior investimento
tanto de capital como de trabalho por hectare.

De entre as vantagens de confinamento destacam-se o menor tempo


necessário para os animais atinjam o peso vivo pretendido, o ganho de peso
diário é elevado e a produção é flexível, contudo, este sistema apresenta
custos elevados para ser implementado e desenvolvido.

Assim, podemos caracterizar este tipo produção como um sistema em que:

• As explorações são altamente especializadas;


• Existe planeamento dos recursos alimentares, sanitários, produtivos e
reprodutivos, administrativos, humanos, etc.;

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• Aplica um sistema de confinamento, que pode ocorrer logo após a
desmama;
• É altamente produtivo;
• Administra alimento concentrado e suplementos de sais minerais;
• O maneio animal é programado e detalhado;
• O maneio sanitário e profilático é mais complexo;
• De uma maneira geral os custos de produção são mais elevados;
• A mão-de-obra é especializada, com a necessidade de uma equipa
multidisciplinar que abranja todas as áreas que englobam a produção de
animais com aptidão cárnica;
• Seleciona a genética dos seus animais de forma a satisfazer a demanda do
consumidor final.

Conclusão

Ao longo dos anos os sistemas de produção animal sofreram alterações que


acompanharam a evolução da sociedade e hoje em dia se distinguem 3
tipos de sistemas, cada um com as suas vantagens e desvantagens. A
diferença entre eles, ocorreu devido á demanda da sociedade, isto é, para
satisfazer as necessidades da população, adaptando-se a nossa realidade.

Para a escolha do tipo de sistema de produção animal a implementar, o


empresário agropecuário tem que avaliar as suas hipóteses, planificar o
caminho a seguir, de forma a poder executar eficazmente, sempre tendo
em conta o mercado alvo e a satisfação das necessidades do seu
consumidor final. Só assim, irá conseguir desenvolver um sistema
sustentável, eficaz, produtivo e ao mesmo tempo respeitar o meio-
ambiente e o bem-estar animal.

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Produção Integrada

A produção integrada é um sistema agrícola de produção de alimentos e de


outros produtos alimentares de alta qualidade, com gestão racional dos
recursos naturais e privilegiando a utilização dos mecanismos de regulação
natural em substituição de fatores de produção, contribuindo, deste modo,
para uma agricultura sustentável.

A produção integrada tem por base os seguintes princípios:

1. Regulação do ecossistema, importância do bem-estar dos animais e


preservação dos recursos naturais;
2. Exploração agrícola no seu conjunto, como a unidade de
implementação da produção integrada;
3. Atualização regular dos conhecimentos dos agricultores sobre
produção integrada;
4. Manutenção da estabilidade dos ecossistemas agrários;
5. Equilíbrio do ciclo dos nutrientes, reduzindo as perdas ao mínimo;
6. Preservação e melhoria da fertilidade intrínseca do solo;
7. Fomento da biodiversidade;
8. Entendimento da qualidade dos produtos agrícolas como tendo por
base parâmetros ecológicos, assim como critérios usuais de
qualidade, externos e internos;
9. Proteção das plantas tendo obrigatoriamente por base os objetivos e
as orientações da proteção integrada;
10.Minimização de alguns dos efeitos secundários decorrentes das
atividades agrícolas.

Exercício da produção integrada

O exercício da produção integrada inicia-se com a elaboração de um plano


de exploração, que descreve o sistema agrícola e a estratégia de produção,
de forma a permitir a execução de decisões fundamentadas e assentes nos

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princípios da produção integrada. Este plano de exploração deve encontrar-
se na posse do agricultor e deve apresentar os elementos referentes ao
sistema agrícola e à estratégia de produção, designadamente: O
diagnóstico do sistema de produção, a escolha fundamentada de práticas
de preservação dos recursos naturais, nomeadamente do solo, da água e
da biodiversidade, a indicação de espécies e raças animais, a escolha de
culturas e cultivares, a decisão da qualidade do material de propagação, a
eleição do local e rotação das culturas, a seleção das técnicas culturais, a
estratégia de fertilização, a estratégia de proteção das plantas e de rega, a
salvaguarda do bem-estar animal, o maneio e alimentação animal, a
profilaxia e saúde animal e a gestão de efluentes de origem animal.
Para a prática da produção integrada estabeleceu-se um conjunto de
normas técnicas que definem aspetos relativos à produção,
designadamente: escolha e localização do terreno, operações de instalação,
material vegetal, técnicas de condução da cultura, rega, fertilização e regras
relativas à proteção fitossanitária, entre outros.
O exercício da produção integrada implica, pela parte dos agricultores,
determinadas obrigações e compromissos que devem ser registados em
caderno próprio denominado caderno de campo específico ou geral,
quando não exista um designado para a cultura.

No que respeita à componente animal deve obedecer-se aos seguintes


critérios:
é necessária a aplicação de técnicas que estabelecem um adequado
equilíbrio e salvaguarda do bem-estar animal, devendo ter em conta,
nomeadamente, o maneio e alimentação animal, a profilaxia e saúde
animal e a gestão de efluentes de origem animal.
https://www.dgadr.gov.pt/producao-integrada

Modo de Produção Biológico

O Modo de Produção Biológico é um sistema global de gestão das


explorações agrícolas e de produção de géneros alimentícios que combina
as melhores práticas ambientais, um elevado nível de biodiversidade, a
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preservação dos recursos naturais, a aplicação de normas exigentes em
matéria de bem-estar dos animais e método de produção em sintonia com
a preferência de certos consumidores por produtos obtidos utilizando
substâncias e processos naturais.
A produção biológica desempenha, assim, uma dupla função social: por um
lado, abastece um mercado específico que responde à procura de produtos
biológicos por parte dos consumidores e, por outro, fornece bens
disponíveis para o público em geral que contribuem para a proteção do
ambiente e do bem-estar dos animais, bem como para o desenvolvimento
rural.
Objetivos da produção biológica
Estabelecer um sistema de gestão agrícola sustentável
• Respeitar os sistemas e ciclos da natureza
• Manter e reforçar a saúde dos solos, a água, as plantas e os animais
e o equilíbrio entre eles
• Contribuir para a diversidade biológica e para o uso responsável dos
recursos naturais
Produzir uma ampla variedade de produtos agrícolas e géneros alimentícios
de elevada qualidade
• Para responder à procura, por parte de um número crescente de
consumidores de produtos produzidos através da utilização de
substâncias e processos naturais.
• A produção biológica desempenha, assim, uma dupla função social:
por um lado, abastece um mercado específico que responde à
procura de produtos biológicos por parte dos consumidores e, por
outro, fornece bens disponíveis para o público em geral que
contribuem para a proteção do ambiente e do bem-estar dos
animais, bem como para o desenvolvimento rural.

Princípios gerais da produção biológica


Privilegiar a utilização dos recursos naturais internos ao sistema
• Uso de organismos vivos e métodos de produção mecânicos
• Cultivo de vegetais e produção animal adequados ao solo

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• Proibição da utilização de OGM (Organismos geneticamente
modificados) e de produtos obtidos a partir de (ou mediante) OGM
(exceto medicamentos veterinários)
Restringir a utilização de fatores de produção externos
• Recorrendo quando necessário aos provenientes da produção
biológica, substâncias naturais ou derivadas de substâncias naturais
e a fertilizantes minerais de baixa solubilidade
Limitação da utilização de fatores de produção de síntese química
• Só quando não sejam aplicáveis os princípios anteriores, ou caso a
aplicação dos referidos fatores de produção externos contribuam
para impactos ambientais inaceitáveis
Adaptação às circunstâncias, sempre que necessário, no âmbito do
regulamento, das regras da produção biológica
• Em função da situação sanitária, das diferenças climáticas regionais,
das condições locais, dos estádios de desenvolvimento e das práticas
específicas de criação.

Conceito da agricultura e produção biológica


A agricultura biológica é assim um modo de produção respeitador do
equilíbrio natural do meio e que atua tão naturalmente quanto possível de
acordo com certos princípios.

Por outro lado, a opção pela produção agrícola biológica assume-se como
uma oportunidade para o produtor agrícola. Gera produtos diferenciados,
com maior valor acrescentado e que apresentam uma procura crescente
por parte dos consumidores.

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