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BURGI CONSULTORIA AGROPECUÁRIA

Manejo Operacional em Confinamentos

Piracicaba
2019
Manejo Operacional em Confinamentos
Lucas Barros – Abril 2019
INTRODUÇÃO

Seguindo uma linha histórica no Brasil, os sistemas de confinamento nasceram sob o


pensamento de comprar animais durante os períodos de safra, realizar uma terminação de forma
mais rápida em relação aos sistemas exclusivamente baseados em pastagens e, vender esses
animais na entressafra. Posteriormente, com o advento das atividades industriais no país, os
confinamentos passaram a ser um destino para o aproveitamento de resíduos e subprodutos
provenientes de tais atividades como extração do óleo da soja, extração do etanol da cana de
açúcar, extração do amido do milho etc. Finalmente, alguns pecuaristas começaram a enxergar
a técnica de confinar bovinos como uma forma de manejo, principalmente em sistemas
baseados em pastagens que, durante as épocas “secas” do ano, precisam lidar com a famosa
estacionalidade de produção das plantas forrageiras. Dessa forma, o confinamento, mesmo não
sendo ainda o principal sistema de produção pecuária existente no país, passou a ser uma
atividade que necessita de conhecimento, planejamento e, principalmente, rotina.

É importante ressaltar que em sistema de bovinos confinados o objetivo principal é o


fornecimento da dieta aos animais, de forma que essa seja ofertada de maneira correta em todos
os quesitos. Para que esses sejam atendidos, é natural que o produtor se faça algumas perguntas,
tais como: Quando o alimento deve ser ofertado? Como ele deve ser ofertado? Quais são as
operações envolvidas para o correto fornecimento? Que tipo de equipamento devo utilizar?

Dessa forma, o objetivo central deste artigo é responder as perguntas supracitadas, com
embasamento técnico em conceitos e dados nacionais relativos às atividades existentes em um
sistema de confinamento de bovinos, as operações envolvidas nesse sistema e, sobretudo, as
condições relativas ao manejo operacional para que o sistema seja eficiente e atenda a rotina
necessária.

Pois bem, para entender como funcionam as atividades dentro de um confinamento, é


necessário, antes, realizar um breve levantamento de como essas atividades são realizadas pelos
produtores que já fazem o uso do sistema, em âmbito nacional.
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LEVANTAMENTO DE DADOS NACIONAIS RELATIVOS AO


OPERACIONAL EM SISTEMAS DE CONFINAMENTO

Neste tópico específico serão apresentados dados referentes ao levantamento realizado


pelo Professor Titular da UNESP (Campus Dracena) – Danilo Millen, no ano de 2016. A base
deste levantamento, como apresentado pelo próprio professor, foi um questionário contendo 83
questões relativas à conceitos gerais de sistemas de confinamento brasileiros, divididas em
diversas categorias. Todas as respostas foram baseadas nas práticas adotadas pelos clientes
(confinadores) e recomendadas pelos seus respectivos nutricionistas.

É válido lembrar que, neste artigo, os dados deste levantamento foram utilizados de
forma a introduzir conceitos somente referentes às atividades operacionais existentes em
sistemas de bovinos de corte confinados, que serão, posteriormente, discutidos.

O primeiro assunto a ser introduzido diz respeito ao tipo de equipamento utilizado em


confinamentos brasileiros para a distribuição da dieta dos animais. Os dados nacionais
levantados em 2016 estão dispostos no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Tipos de equipamentos utilizados pelos produtores em 2016.

Para correto entendimento, a parte do gráfico com legenda “Misturador / Vagão de


Distribuição” diz respeito à 2 operações separadas, mistura e distribuição.

O segundo conceito é relativo à frequência de distribuição da dieta ao longo do dia, de


forma que em sistemas que realizam a distribuição mais de uma vez por dia, a dieta é fracionada
no respectivo número em questão. Os dados encontram-se no Gráfico 2, abaixo.
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Gráfico 2 – Frequências de alimentação utilizada pelos produtores em 2016.

O terceiro e último conceito a ser discutido neste artigo diz respeito ao manejo de cocho
utilizados pelos pecuaristas entrevistados no levantamento. Os dados estão apresentados no
Gráfico 3.

Gráfico 3 – Manejos de cocho adotado pelos produtores em 2016.

Desta forma, com os respectivos quesitos apresentados, começamos a nos tornar aptos
para discutir os dados explanados no levantamento em questão, de forma a relacionar conceitos
relativos à cada um dos dados operacionais mostrados.
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TIPO DE EQUIPAMENTO UTILIZADO PARA A DISTRIBUIÇÃO DA


DIETA

De maneira geral, as dietas fornecidas para bovinos confinados contam com todos os
ingredientes necessários ao animal, sejam eles volumosos, concentrados ou minerais. Dessa
maneira, a forma correta e “intensiva” deve contar com pelo menos um misturador durante
alguma fase do processo de fornecimento, para que a dieta seja corretamente misturada, o que
evitará a seleção de certas partículas, por parte dos animais, no cocho.

É importante ressaltar que quando a dieta não é misturada de maneira eficiente, os


animais podem selecionar os alimentos mais “palatáveis”, que em sua maioria são
concentrados, o que pode ocasionar distúrbios metabólicos ao animal devido à maior ingestão
destes compostos em relação à parte volumosa da dieta, que é menos palatável.

Normalmente, em propriedades e sistemas menos intensivos e/ou menores, os


produtores não contam com um vagão capaz de misturar a dieta, possuindo somente um vagão
distribuidor. Nesse caso, a recomendação é que a parte concentrada da dieta seja misturada “à
mão” e colocada em camadas no respectivo equipamento, isto é, fazendo-se camadas da mistura
concentrada e a parte volumosa da dieta, como mostra a Figura 1. Dessa maneira, ao distribuir,
o próprio equipamento misturará, de certa forma, as duas partes supracitadas.

Figura 1 – Esquema de camadas em vagão distribuição de dieta.

FREQUÊNCIA DE ALIMENTAÇÃO

Bovinos são caracterizados evolutivamente como animais gregários e que, a partir do


momento em que foram domesticados, acostumam-se com sua rotina diária, especialmente em
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um sistema de confinamento. Desse modo, é sempre importante lembrar que


independentemente da frequência de alimentação escolhida pelo produtor, os horários devem
ser sempre seguidos, diariamente.

De forma geral, a frequência de alimentação a ser escolhida resulta da capacidade


operacional de composição da dieta, do tipo da dieta, dos tipos de equipamentos utilizados e do
número de animais a serem alimentados.

Dietas a base de silagem por exemplo, possuem a característica de fermentar no cocho,


especialmente sobre as condições climáticas do Brasil, que possibilitam a ocorrência dessa
fermentação. Segundo Nussio et al. (2000) dependendo do grau de fermentação em que uma
silagem de capim tropical é submetida, essa pode produzir compostos que são indigestos aos
animais, o que tende a causar uma redução no consumo de matéria seca da dieta, uma vez que
estes se recusarão à consumir estes compostos. Assim, quando a dieta possui silagem como sua
base volumosa, é interessante considerar o fracionamento da alimentação ao longo do dia, para
possibilitar que essa silagem em questão não fique exposta a condições aeróbias que causam a
fermentação.

Ademais, segundo estudos realizados pelo Dr. Flávio Dutra Resende, pesquisador da
APTA Colina – SP, o fracionamento do fornecimento da dieta em até oito vezes ao dia tende a
aumentar o consumo dos animais pois, como supracitado, bovinos são animais que obedecem
a rotina e, portanto, se acostumam a vir ao cocho todas as vezes em que o vagão ou trator passa
distribuindo o alimento. Contudo, dependendo do tamanho do confinamento, fracionar o
fornecimento da dieta em oito vezes ao dia, muitas vezes, inviabilizaria a atividade devido a
geração de gastos excessivos em operacional. Portanto, a recomendação geral é que tal
fracionamento seja feito de 3 até 5 vezes ao dia, para que os benefícios de aumento de consumo
e, consequentemente, de desempenho sejam atendidos.

MANEJO E ESCORE DE COCHO

De forma conceitual, o escore de cocho pode ser definido como uma nota, atribuída pelo
“leitor” de cocho, tendo por base a % de sobras existentes imediatamente antes do fornecimento
da dieta. A recomendação geral é que tal leitura seja realizada de forma a atender o mesmo
número de vezes em que a dieta é fornecida, isto é, se o fornecimento ocorre 4 vezes ao dia este
deve ser acompanhado de 4 leituras imediatamente antecedentes à cada um dos fornecimentos.
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A Figura 2 abaixo mostra um esquema padrão de leitura e classificação das sobras existentes
no cocho dos animais.

Figura – Esquema de classificação de sobras existentes no cocho.

Como mostrado no levantamento apresentado, 42,4% dos pecuaristas entrevistados


optam pelo sistema de cocho limpo, isto é, o ideal para estes é que não haja nenhum tipo de
sobra no momento da leitura. Apesar da alta porcentagem, é importante ressaltar que esse tipo
de manejo apresenta elevada dificuldade, uma vez que o fornecimento da dieta deve ser feito
de forma exata ao que os animais irão consumir e, portanto, passível de erros recorrentes. De
forma geral, esse tipo de manejo é recomendado para sistemas em que o confinamento possui
uma elevada capacidade gerencial e capacidade operacional extra disponível, para ser utilizada
em momentos de falta de alimento no cocho.

O ideal para uma leitura e manejo de cocho adequado é que independentemente do


sistema de notas a ser utilizado, o leitor seja capaz de não analisar somente a quantidade de
alimento existente no cocho na forma de sobra, mas também o tipo dessa sobra pois, muitas
vezes, se a dieta não estiver corretamente misturada, os animais podem selecionar os compostos
que sejam mais palatáveis e deixar o que não é, ou seja, nesse caso a sobra existente não ocorreu
por excesso de alimento fornecido mas sim pelo déficit na mistura da dieta total.

CONCLUSÕES

Com o tempo e adequação de estratégias específicas, o confinamento de bovinos de


corte no Brasil passou a ser utilizado como forma de manejo pelos produtores. O importante é
sempre lembrar que essa é uma atividade que exige conhecimento, planejamento e, acima de
tudo, uma rotina específica.
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As operações e equipamentos existentes no sistema sempre devem atender ao pré-


requisito base: Cumprimento de todos os quesitos relativos ao fornecimento correto da dieta.

Por fim, adequações sempre podem ser feitas no sistema operacional existente, de forma
a alcançar a eficiência máxima, garantindo, dessa forma, o lucro máximo ao produtor em
questão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MARTHA JR, G.B.; NUSSIO, L.G.; BALSALOBRE, M.A.A, et al. Produção de silagem de
gramíneas tropicais: conceitos básicos e aplicados. Depto. de Produção Animal/Centro de
Treinamento de Recursos Humanos, ESALQ/USP, Piracicaba, 2000. 35 p.

NUSSIO, L.G.; ROMANELLI, T.L.; ZOPOLLATTO, M. Tomada de decisão na escolha de


volumosos suplementares para bovinos de corte em confinamento. In: V Simpósio Goiano
sobre Manejo e Nutrição de Bovinos de Corte e Leite, Goiânia-GO. Anais. Goiânia:CBNA,
2003. p.1-14.

Oliveira, C. A. and D. D. Millen. 2014. Survey of the nutritional recommendations and


management practices adopted by feedlot cattle nutritionists in Brazil. Anim. Feed Sci. Tech.
197: 64-75. doi: 10.1016/ani. feed sci. 2014.08.010.

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