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PORTUGUÊS
ENSINO SECUNDÁRIO
Versão
Não é permitido o uso de corretor. Deves riscar aquilo que pretendes que não seja classificado.
8
Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro,
Vê-o também no meio do Hemisfério1,
E quando dece o deixa derradeiro2;
Vós, que esperamos jugo e vitupério3
Do torpe Ismaelita4 cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio,
Que inda bebe o licor do santo Rio5:
9
Inclinai por um pouco a majestade
Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostra qual na inteira idade6,
Quando subindo ireis ao eterno Templo7;
Os olhos da real benignidade8
Ponde no chão : vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valerosos,
Em versos divulgado numerosos.
10
Vereis amor da pátria, não movido
De prémio vil, mas alto e quási eterno;
Que não é prémio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente.
Luís de Camões, Os Lusíadas, Lisboa: Ministério da Educação, 1989, p. 2.
1
designa a abóbada celeste.; 2 referência ao império português que se estende do oriente a ocidente por vários continentes.; 3
afronta.; 4 turcos.; 5 água do rio Ganges (referência aos povos não cristãos). ; 6 idade adulta.; 7 templo da fama eterna.; 8 bondade.
Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
As letras assinadas
No paredão austero da Mundial, onde a prudência administrativa mandou pespegar uma lápide: “É
proibido afixar anúncios nesta propriedade”, um miúdo de metro e meio de altura escreveu a carvão estas
letras infamantes para a higiene do edifício: “Viva o Benfica”.
O miúdo não percebia de leis, pelos vistos. O miúdo não sabia que homens muito sábios, muito
5 avisados e muito prudentes têm escrito milhares de palavras de ordem – e que essas palavras e essa
ordem foram articuladas para serem rigorosamente cumpridas. O miúdo só sabia que tinha uma
mensagem para dizer, umas palavras que eram a ordem das coisas e a própria expressão do seu mundo:
“Viva o Benfica”. E o miúdo escreveu-as. Em letras grandes, malfeitas, mas grandes e arrogantes. Limpou
as mãos aos calções e ficou a espiar a sua obra. Faltava lá qualquer coisa. Tornou a pegar no carvão e
escreveu: Manel. Responsável pela afirmação, o Manel não quis que ela ficasse anónima. A sua
10 responsabilidade começou a partir daí. Um polícia aproximou-se lentamente. Viu tudo. E, como as leis são
feitas para se cumprirem, agarrou num braço do Manel. O Manel, a princípio, ficou surpreendido e
perplexo; depois, como ter medo é próprio dos homens, o medo apareceu-lhe em veios, por todo o corpo,
para se exprimir, finalmente, em resistência e em lágrimas.
Começou a juntar-se gente. Manel gritava e o polícia manifestava firmeza na mão e indiferença no
15 olhar. Com razão ou sem ela, a verdade é que as pessoas que formavam roda penderam em simpatias e
inclinações, para o miúdo-pardal-de-telhado que estava à beira de ser engaiolado. O polícia, certamente,
começou a pensar que uma situação absoluta é horrível – concluindo, para os seus botões de metal, que
“nem tanto ao mar nem tanto à terra”, que é um belo aforismo, muito profundo e muito reverente. Afrouxou
a pressão que fazia no braço do Manel. Afrouxou, também, a tensão que se estabelecera entre as
20 pessoas que miravam a cena. Manel deu por isso tudo, com os seus olhitos espertos e traquinas. E
correu. E escapou-se. Antes, porém, de virar a esquina, voltou-se para trás e gritou para o polícia:
− Se calhar o sô guarda é do Sporting, não?
1. O título do texto
(A) refere-se à assinatura do rapaz no documento da polícia.
(B) refere-se metaforicamente à expressão que o rapaz escreveu nas paredes de um edifício.
(C) refere-se à placa “É proibido afixar anúncios nesta propriedade”.
(D) refere-se ao aforismo “nem tanto ao mar nem tanto à terra”.
4. O polícia
(A) era autoritário e frio.
(B) deixou o rapaz fugir deliberadamente.
(C) ficou surpreendido por o rapaz chorar.
(D) era do Sporting.
5. A expressão “miúdo-pardal-de-telhado que estava à beira de ser engaiolado” (l.16) significa que
(A) o miúdo gostava de andar nos telhados a apanhar pardais.
(B) o menino tinha muitos pardais presos na gaiola.
(C) o rapaz era um jovem inocente, mas irreverente que quase ia preso.
(D) o rapaz foi parar à prisão por ter cometido um crime.
6. A frase “Limpou as mãos aos calções e ficou a espiar a sua obra.” (ll. 8-9) apresenta
(A) uma oração.
(B) uma oração subordinada e uma oração subordinante.
(C) duas orações coordenadas copulativas.
(D) uma oração coordenada.
7. Na frase “Afrouxou a pressão que fazia no braço do Manel.” (ll. 18-19) a palavra sublinhada é
(A) um pronome relativo.
(B) uma locução subordinativa.
(C) uma conjunção subordinativa.
(D) um pronome interrogativo.
8. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada “Faltava lá qualquer coisa” (l. 8).
9. Classifica a oração sublinhada: “Responsável pela afirmação, o Manel não quis que ela ficasse anónima.”
(l. 9).
10. Na frase “Afrouxou a pressão que fazia no braço do Manel” (ll. 18-19), transcreve e classifica a oração
subordinada.
Os Lusíadas continuam a interpelar-nos; revelam-nos uma sensibilidade próxima da atual. São um misto de
entusiasmo heroico e de melancolia desalentada. Um texto épico e antiépico. Uma afirmação de fé, com um
avesso de dúvida, de descrença, de interrogações.
MATOS, Maria Vitalina Leal de, 2011. “Lusíadas (Os)”.
In SILVA, Vítor Aguiar e (Coord.), 2011. Dicionário de Luís de Camões. Alfragide: Caminho
Partindo da perspetiva exposta na citação anterior e da tua experiência de leitura da epopeia de Camões,
redige um texto, de cento e vinte a cento e cinquenta palavras, no qual reflitas sobre a classificação d’Os
Lusíadas como “texto épico e antiépico”.
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2015/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
COTAÇÕES
GRUPO I
GRUPO II
GRUPO III