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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

NATÁLIA CAROLINY DA SILVA DIAS

POTENCIAL ANTIOXIDANTE DOS FRUTOS DO JUÇARA (Euterpe edulis


MARTIUS)

Alegre
2014
NATÁLIA CAROLINY DA SILVA DIAS

POTENCIAL ANTIOXIDANTE DOS FRUTOS DO JUÇARA (Euterpe edulis


MARTIUS)

Trabalho de conclusão de curso apresentado à


Coordenadoria do Curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas do Instituto Federal do Espírito Santo, como
requisito para a obtenção do título de Graduação em
Licenciatura em Ciências Biológicas.

Orientador: Prof. Msc. Tércio da Silva de Souza.

Alegre
2014
Ficha catalográfica elaborada pelo
Serviço Técnico da Biblioteca Monsenhor José Bellotti
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) – Campus de Alegre

Dias, Natália Caroliny da Silva.


D541p Potencial antioxidante dos frutos do juçara (Euterpe edulis
Martius) / Natália Caroliny da Silva Dias. – 2014.
43 f. : il.

Orientador: Prof. Me. Tércio da Silva de Souza.


Monografia (Graduação) – Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Espírito Santo.
Coordenadoria do Curso Superior de Licenciantura em Ciências
Biológicas - Campus de Alegre, 2014.

1. Antioxidantes. 2. Palmiteiro-juçara. I. Souza, Tércio da


Silva de. II. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Espírito Santo. III. Título.

CDD: 570
DECLARAÇÃO DO AUTOR

Declaro, para fins de pesquisa acadêmica, didática e técnico-científica, que este Trabalho de
Conclusão de Curso pode ser parcialmente utilizado, desde que se faça referência à fonte e ao
autor.

Alegre, 26 de novembro de 2014.

Natália Caroliny da Silva Dias


Para Carlos Luiz Dias e Ione Martins,
que me deram a vida e me ensinaram o
caminho do céu.
AGRADECIMENTOS

Agradeço sumária e primeiramente a Deus pela oportunidade de conhecer mais uma das
grandezas de sua criação por meio deste estudo.

A meus pais, Carlos Luiz Dias e Ione Martins da Silva Dias, pelo amor, apoio e compreensão
nos momentos dispendiosos, e por acreditarem no meu potencial renunciando várias vezes,
seus sonhos em prol do meu. Agradeço pelo carinho, atenção e paciência em sempre me
motivar a superar os obstáculos.

A meus irmãos, Mara Caroliny, Any Caroliny, Carla Caroliny e Tiago Martins pelo incentivo,
auxílio, apoio e compreensão da ausência de muitos momentos especiais.

Agradeço ao Ifes pela abertura e oportunidade para desenvolver o estudo com propriedade e
ao grupo de trabalho do laboratório de Química Aplicada.

Agradeço ao professor Tércio da Silva de Souza pela honra de ter recebido sua orientação.
Pela paciência, cuidado, incentivo e parceria ao longo do processo. Muito mais que
conhecimento científico, me proporcionou informações que literatura alguma é capaz de citar.
Agradeço pelo apoio e pelos conselhos dados para que eu alcançasse excelência no processo
com serenidade.

A todos os meus amigos do curso de Ciências Biológicas e demais amigos de faculdade, que
juntos, viveram esse sonho comigo, sintam-se alcançados.
“O verdadeiro cientista vê Deus em todas as formas diversas do mundo exterior... E assim, à
medida que contemplar a variedade e beleza do mundo exterior e lhe penetrar as maravilhas
científicas, saberá sempre se elevar até a Sabedoria Infinita, cuja bondade lhe permite provar
as alegrias da ciência; tornar-se-á melhor ao mesmo tempo em que mais sábio”

(Humphry Davy)
RESUMO

O palmito juçara se encontra na lista de espécies ameaçadas de extinção devido ao seu uso
extrativista desde a colonização do país até os dias atuais. Para equilibrar o uso dos recursos
oferecidos pelo Juçara (Euterpe edulis MARTIUS), estudos que busquem fontes de
compostos bioativos presentes em outras partes da planta, como o fruto, por exemplo, estão
sendo fomentados. Os compostos fenólicos presentes em diversas partes da planta apresenta
capacidade de retardar ou inibir a oxidação de substratos em sistemas biológicos e nos
alimentos. Esta palmeira tem sido mencionada como fonte destes compostos, especificamente
em antocianinas. O objetivo deste trabalho foi extrair e quantificar os teores de compostos
fenólicos totais (FNT), antocianinas totais (ANT) e flavonoides totais (FLV) presentes no
fruto do palmiteiro juçara, e também avaliar a atividade antioxidante das antocianinas dos
frutos por meio do ensaio de sequestro do radical DPPH e do agente oxidante H2O2. Foram
coletados frutos de 34 genótipos de juçara em fragmentos de floresta na região Sul e Caparaó
Capixaba. A quantidade de compostos fenólicos nos extratos metanólicos dos diferentes
genótipos variou de 0,36 ± 0,01 mg/100g a 349,72 ± 27.66 mg/100g. Os mais altos teores
foram encontrados nos municípios de Ibitirama e Mimoso do Sul. Na avaliação da atividade
antioxidante pelo ensaio do radical livre DPPH, o extrato metanólico apresentou
potencialidade em sequestrar o radical DPPH, apresentando CE50 e CE90 (41,7µg/L e
77,7µg/L), frente ao BHT (13,8μg/Le 25,4μg/L). No ensaio do poder sequestrador de
peróxido de hidrogênio, o extrato metanólico do juçara ultrapassou o BHT, apresentando
elevado potencial já a partir de 20μg/mL. Tais resultados apresentam informações relevante e
potencial para indústria farmacêutica, agricultura, cosmética e saúde pública. O
aproveitamento dos frutos dessa espécie pode estabelecer como alternativa econômica
sustentável e rentável, dada as mais diversas potencialidades fitoquímicas, sendo uma delas o
potencial antioxidante.

Palavra-chave: Antocianina; poder sequestrador; radicais livres.


ABSTRACT

The juçara palm is founded in the List of Endangered Species extinction to use your extractive
from the colonization of the country until today. To balance the use of resources provided by
Juçara (Euterpe edulis Martius), studies seeking sources of bioactive compounds present in
other plant parts, such as fruit, for example, are being encouraged. Phenolic compounds
present in various parts of the plant have the ability to retard or inhibit oxidation of substrates
in biological systems and in food. This palm tree has been mentioned as source of these
compounds, especially anthocyanins. The objective of this work was to extract and quantify
the levels of phenolic compounds totals (FNT), total anthocyanins (ANT) and total flavonoids
(FLV) in the fruit of juçara and also to evaluate the antioxidant activity of anthocyanins from
fruit through essay to capture and scavenging of DPPH radical and oxidant agent H2O2.
Were collected fruits of 34 genotypes juçara in forest fragments in the Southern Region and
Caparaó Capixaba (Espírito Santo). The amount of phenolic compounds in the methanol
extracts of different genotypes ranged from 0.36 ± 0.01 mg /100g of 349.72 ± 27.66
mg/100g. The highest levels were found in the municipalities of Ibitirama and South Mimoso.
In the assessment of antioxidant essay by doing DPPH free radical, the methanol extract
showed potentiality them capture the DPPH radical, CE50 and CE90 presenting (41,7μg/L
and 77,7μg/ L), front BHT (13,8μg / L and 25,4μg /L). In the test scavenging of hydrogen
peroxide, the methanol extract of juçara exceed BHT, with high potential already from 20
μg/mL. These results have information relevant and potential for pharmaceuticals, agriculture,
cosmetics and public health. The use of the fruits of this species can establish how sustainable
and profitable economic alternative, given the diverse phytochemical potential, one of the
antioxidant potential.

Key words: anthocyanin; capture power; free radicals.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12
2 OBJETIVOS .................................................................................................................... 13
2.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................................... 13
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................ 13
3 REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 14
3.1 JUÇARA (EUTERPE EDULIS MARTIUS) .................................................................... 14
3.2 COMPOSTOS FENÓLICOS ........................................................................................... 16
3.3 ANTIOXIDANTES ........................................................................................................... 18
4 METODOLOGIA ........................................................................................................... 20
4.1 COLETA, SECAGEM E IDENTIFICAÇÃO DO MATERIAL VEGETAL ................... 20
4.2 ANÁLISES DE COMPOSIÇÃO: QUANTIFICAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS
TOTAIS (FNT), ANTOCIANINAS (ANT) E FLAVONÓIS TOTAIS (FLV) ....................... 20
4.2.1 Determinação dos fenólicos totais ................................................................................ 20
4.2.2 Determinação de antocianinas totais e flavonóis totais .............................................. 20
4.3 EXTRAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS ANTOCIANINAS PRESENTES NO
FRUTO DO JUÇARA .............................................................................................................. 21
4.3.1 Extração da Antocianinas ............................................................................................. 21
4.3.2 Análise de identificação espectrofotométrica no UV-Visível ..................................... 21
4.3.3 Caracterização de antocianinas: Reação com cloreto férrico (FeCl3) ...................... 22
4.3.4 Caracterização de antocianinas: Reação com hidróxido de sódio (NaOH 10%) .... 22
4.3.5 Ensaio de solubilidade ................................................................................................... 22
4.4 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE ..................................................... 22
4.4.1 DPPH radical scavenging activity ................................................................................ 22
4.4.2 Scavenging Of Hydrogen Peroxide .............................................................................. 23
4.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................................. 24
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................. 25
5.1 QUANTIFICAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS TOTAIS (FNT),
ANTOCIANINAS (ANT) E FLAVONÓIS TOTAIS (FLV)................................................... 25
5.2 EXTRAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS ANTOCIANINAS PRESENTES NO
FRUTO DO JUÇARA .............................................................................................................. 28
5.2.1 Análise de identificação espectrofotométrica no UV-Visível ..................................... 29
5.2.2 Reação com cloreto férrico (FeCl3) .............................................................................. 29
5.2.3 Reação com hidróxido de sódio 10% (NaOH) ............................................................ 30
5.2.4 Análise de solubilidade do extrato ............................................................................... 31
5.3 DETERMINAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE ............................................. 32
5.3.1 DPPH radical scavenging activity ................................................................................ 32
5.3.2 Scavenging of hydrogen peroxide ................................................................................ 35
6 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 37
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 38
12

1 INTRODUÇÃO

As plantas apresentam em sua composição substâncias bioativas, muitos das quais


desempenham funções biológicas benéficas à saúde humana e com grande potencial para a
indústria farmacêutica e de alimentos. Estas substâncias bioativas tem se tornado alvo de
estudos, uma vez que podem retardar e até inibir processos oxidativos tanto no metabolismo
celular quanto na conservação de alimentos (FERREIRA; MATSUBARA, 1997).

Dentre os principais grupos de substâncias presentes nos vegetais destacam-se os compostos


fenólicos. Estes englobam uma gama enorme de substâncias dentre as quais estão: fenóis
simples, ácidos fenólicos, cumarinas, flavonóides, taninos e ligninas. Estudos têm
demonstrado que estes compostos estão relacionados a atividades farmacológicas e
nutricionais de grande relevância, como a inibição da oxidação lipídica e a formação de
radicais livres a nível celular, ação como sequestradores de radicais livres, inibidores de
enzimas ou até quelantes de metais, além de participarem de processos responsáveis pela cor,
adstringência e aroma em vários alimentos. Presentes em frutas, principalmente aquelas que
apresentam a coloração vermelha/azul, são considerados as mais importantes fontes de
compostos fenólicos (CHEYNIER, 2005; LIMA et al., 2012; LOPES, 2007; WU et al., 2006).

As espécies do gênero euterpe, por exemplo, tais como o açaí (Euterpe oleracea MARTIUS)
e o palmiteiro juçara (Euterpe edulis MARTIUS), tem sido mencionado como fonte destes
compostos, especificamente em antocianinas, pigmento pertencente ao grupo de flavonóides
que apresentam propriedade antioxidante (WU et al., 2006). Porém, o uso extrativista intenso
e ilegal, tem contribuído para o desaparecimento dessas espécies, como vem acontecendo com
o palmiteiro juçara, onde o palmito produzido possui alto valor econômico e largamente
consumido na alimentação humana. Por ter um ciclo reprodutivo tardio e o não perfilhamento,
adicionado à desenfreada exploração ao longo dos anos, a espécie se encontra atualmente na
lista de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção (BRASIL, 2008).

Estudos buscando alternativas a fim de reverter esta situação têm sido mencionados. Uma
delas é estimular o consumo da polpa de juçara, conforme já vem sendo feito com o açaí.
Através do uso dos frutos de forma sustentável, mediante o conhecimento dos parâmetros
legais de extração e processamento do produto, é possível obter um maior valor comercial
com a polpa do que com a comercialização do palmito. Para tanto, estudos de caracterização
química da composição dos frutos da espécie, e seu potencial antioxidante são
imprescindíveis.
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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Extrair e quantificar os teores de compostos fenólicos totais (FNT), antocianinas totais (ANT)
e flavonoides totais (FLV) nos frutos de 34 genótipos de juçara coletados em fragmentos de
Mata Atlântica na região Sul e Caparaó Capixaba; e avaliar a atividade antioxidante das
antocianinas presente no fruto do juçara.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Quantificar os teores de compostos fenólicos totais (FNT), Antocianinas totais (ANT) e


Flavonoides totais (FLV) nos frutos de 34 genótipos;

- Extrair as antocianinas de alguns genótipos e caracterizá-las espectrofotometricamente no


UV-Visível, por reação com cloreto férrico (FeCl3) 2,5% e por reação hidróxido de sódio
10%;

- Realizar ensaio de solubilidade com os seguintes solventes: hexano, diclorometano, álcool


etílico, acetato de etila, acetona, metanol, éter etílico, dimetilsulfóxido e H2O destilada;

- Avaliar o potencial antioxidante das antocianinas extraídas por meio do ensaio com o radical
livre DPPH e através do poder de sequestrar o peróxido de hidrogênio (H2O2);

- Comparar o potencial antioxidante das antocianinas dos frutos do juçara em relação ao


antioxidante comercial BHT (BUTIL HIDROXI TOLUENO).
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3 REVISÃO DE LITERATURA

O Brasil é considerado um dos principais países produtores de frutas do mundo, sendo a


fruticultura um segmento muito importante do agronegócio brasileiro, contribuindo com cifras
significativas no mercado interno e externo (IBGE, 2014). Seus recursos e produtos
oferecidos buscando atender as necessidades humanas faz com que este mercado cresça cada
vez mais. Comparada às outras frutas nativas, o palmiteiro juçara (Euterpe edulis MARTIUS),
uma palmeira nativa da Mata Atlântica, se destaca por produzir um palmito de excelente
qualidade, com valor econômico elevado e amplamente consumido na alimentação humana
(MARTINS-CORDER et al., 2006). Além disso, caracteriza-se por produzir uma enorme
quantidade de frutos que servem de alimento para aves e mamíferos durante longos períodos
de escassez (SILVA, 2011). Tudo isto agrega um valor ecológico e econômico de extrema
importância à espécie, exercendo papel vital no desenvolvimento da floresta e seus
beneficiários.

3.1 JUÇARA (EUTERPE EDULIS MARTIUS)

Comumente conhecido como palmito juçara, jiçara, içara, ripa, e palmito doce (AGUIAR et
al., 2002), esta palmeira (Figura 1), ocorre naturalmente no domínio da Mata Atlântica
brasileira, a partir do sul da Bahia até o norte do Rio Grande do Sul, tornando-se menos
frequentes em altitudes acima de 700m (FERNANDES, 2009).

Figura 1 – Fotos de palmiteiro juçara

Fonte: GUILHEN, 2014.


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Em condições favoráveis, esta planta possui alta capacidade de produção de frutos chegando a
216 a 528 cachos ha-1, com média de 68 kg de frutos (SILVA, 2012), sendo considerada
espécie-chave para subsistência de outras comunidades. No entanto, ao longo dos anos, a
população do juçara vem sofrendo grandes perdas com o processo de fragmentação das
florestas em virtude do alto valor alimentício e comercial do palmito (LIMA et al., 2008), que
é considerado nutritivo e saboroso. Esta realidade se agrava quando a retirada de plantas
juvenis que nunca floresceram para a obtenção desse produto impede que a árvore complete
seu ciclo (SEOANE, 2007), contribuindo para o desaparecimento da espécie. Por ser uma
planta que não rebrota, seu corte causa a morte (MARTINS-CORDER et al., 2006). Como
consequência, é visto que a espécie já entrou para a lista de espécies da flora brasileira
ameaçadas de extinção (BRASIL, 2008), e tem-se, ainda que ilegal, o extrativismo avançando
no país. Uma vez que, a conservação de espécies e ecossistemas depende de como elas são
manejadas, o crescimento populacional associado à inserção destas nos mercados muitas
vezes leva a aumentos na pressão sobre as florestas e seus recursos (FAVRETO, 2010). A
utilização de serviços ambientais é aceitável e até necessário para a subsistência humana.
Porém, ao exceder a capacidade de fornecimento em tempo hábil destes grandes fornecedores,
a existência em longo prazo do próprio recurso fica ameaçada.

Estudos vêm sendo realizados com vista a retirar essa espécie da ameaça de extinção
revelando seu potencial econômico em outras partes do vegetal. Sua similaridade com os
frutos de açaí, tanto na composição química quanto na morfologia, tem fomentando esta busca
alternativa. Uma vez que o fruto do açaizeiro (E. oleracea) é fonte de renda sustentável na
região Amazônica, e reconhecido por suas propriedades nutricionais e antioxidantes, a
utilização do fruto da palmeira juçara da mesma forma que o açaí, na forma de polpa, como
alternativa comercial e para o manejo sustentável da espécie, apresenta-se como uma opção
atraente (LIMA et al., 2012), uma vez que também se destaca por excelentes qualidades
nutricionais em sua composição. Nas regiões Sudeste, Nordeste e Norte do país os preços já
chegam a R$9,00 pelo quilo da polpa e R$1,50 a R$1,65 pelo quilo do fruto (CONAB, 2013).

Estudos tem apontado os frutos do juçara como sendo rico em polifenóis, especialmente em
antocianinas, com um teor relativamente alto, variando de 50 a 180 mg/100g de polpa. Em
comparação com o suco de uva, reconhecido como boa fonte destes compostos e que
apresenta um teor de 14 a 27 mg/100g (WU et al., 2006). Atualmente, existe uma busca para o
consumo de vegetais ricos nesses compostos, sendo este interesse influenciado pelas
observações promissoras de seu potencial benéfico à saúde decorrente de sua ação
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antioxidante (LOPES, 2007). Seja na inibição da oxidação decorrente de processos do


metabolismo celular, ou na neutralização da oxidação ocorrente na deterioração de alimentos,
esses compostos tem ganhado destaque nos estudos de muitos cientistas. A busca de fontes de
compostos biativos presentes em outras partes da planta, como o fruto, por exemplo, pode
permitir o equilíbrio do uso dos recursos oferecidos pelo palmiteiro juçara.

3.2 COMPOSTOS FENÓLICOS

Muito do sabor, odor e coloração de diversos vegetais se devem à presença de compostos


biativos presentes nas diferentes partes da planta. Considerados como um dos principais
grupos existentes nos vegetais, os compostos fenólicos englobam uma gama enorme dessas
substâncias. São caracterizados por possuírem pelo menos um anel aromático no qual ao
menos um hidrogênio é substituído por um grupamento hidroxila. (VIZOTTO et al., 2010).
Os teores e o perfil de compostos em plantas pode variar de acordo com o tipo de espécie,
parte da planta ou por alguma influência ambiental a que foi submetida (MENSOR et al.,
2001). Derivados metabólicos da fenilalanina e tirosina, por exemplo, sofrem variações em
classes e subclasses, bem como das concentrações, em função da localização no vegetal. A
fenilalanina amônia-liase (PAL) é a enzima chave na regulação da via metabólica de
fenilpropanoides, conforme ilustra a Figura 2, convertendo a L-fenilalanina em ácido trans-
cinâmico e iniciando a biossíntese de fenólicos (NACZK; SHAHIDI, 2004).

O potencial apresentado por estes compostos tem sido revelado por meio de diversos estudos
de sua atividade farmacológica, tais como bactericida, antiviral, antialérgico, antitrombótico,
anti-inflamatório, anticarcinogênico, antioxidante, hepatoprotetor, vasodilatador, despertando
grande interesse principalmente por sua alta prevalência nas dietas já que são compostos
onipresentes nos vegetais (CHEYNIER, 2005). Dentre os compostos fenólicos com
propriedade antioxidante, os flavonoides (Figura 3) se destacam englobando as antocianinas e
os flavonóis.
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Figura 2 - Rota de biossíntese de compostos fenólicos derivados da fenilalanina.

Fonte: NACZK; SHAHIDI, 2004.

Figura 3 - Principais classes de compostos flavonóides.

Fonte: FERREIRA et al., 2013


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Os flavonóis são pigmentos de cor branca ou amarelo claro encontrado nos vegetais e estão
amplamente distribuídos em praticamente todas as partes das plantas, particularmente em
células fotossintéticas (YAO et al., 2004). Atuam na co-pigmentação das antocianinas
(BOBBIO; BOBBIO, 1995) e representam uma fonte atraente de pigmentos que são
responsáveis pelas cores cianídricas, que vão desde o salmão rosa ao vermelho e do violeta ao
azul escuro, observadas na maioria das flores, frutos e folhas de angiospermas comumente
encontradas na natureza (CAVALCANTI et al., 2011). As espécies do gênero Euterpe, açaí
(Euterpe oleracea MARTIUS) e o juçara (Euterpe edulis MARTIUS), têm sido mencionadas
como fonte de antocianinas (LIMA et al., 2012; LOPES, 2007; WU et al., 2006), onde sua
forma de apresentação molecular é de extrema importância para a ação antioxidante (Figura
4). Os vários fenóis se ligando à molécula mostra sua grande complexidade, sendo
diferenciada pelos grupamentos R.

Figura 4 - Estrutura geral para antocianinas

Fonte: OKUMURA et al., 2002.

3.3 ANTIOXIDANTES

Os antioxidantes são substâncias que retardam significativamente ou inibem a produção de


radicais livres (CANUTO et al., 2010; ALVES et al., 2010), podendo ser sintéticos ou
naturais (NOVAES et al., 2013). Diversos fatores tais como hábitos de vida considerados
inapropriados (consumo de álcool, dieta inadequada entre outros); condições ambientais
perturbantes (poluição ambiental, domiciliar e ocupacional); envelhecimento e estados
psicológicos que provoquem estresse emocional (OLIVEIRA et al., 2009) levam à
estimulação desenfreada de produção desses radicais livres. E um aumento no consumo de
frutas ricas em antioxidantes tem sido associado à redução desse estresse oxidativo que causa
várias doenças crônicas (MANACH et al., 2004; CRUZ, 2008; CANUTO et al., 2010). Além
destes, o poder da oxidação em acarretar diminuição da vida útil de alimentos e matérias-
19

primas, têm concentrado a atenção e grandes esforços das indústrias e centros de pesquisas
farmacêuticas, na busca por essas substâncias que agem eficientemente sobre tais limitantes.

Alguns antioxidantes, como hidroxianisol de butila (BHA) e o BUTIL HIDROXI TOLUENO


(BHT), produzidos sinteticamente, já são muito utilizados e considerados uns dos mais
importantes na indústria de alimentos (DUARTE-ALMEIDA et al., 2006). O emprego destes
na prevenção da deterioração oxidativa de produtos alimentícios tem se tornado um
procedimento rotineiro e constante na tecnologia de alimentos (LEMOS, 2008). No entanto,
devido à associação do consumo de antioxidantes sintéticos a vários problemas metabólicos,
dentre eles carcinogênicos, que vem sendo observado ao longo dos anos, o setor industrial
têm estado à mercê de produtos legalmente comerciáveis. Com isso, têm-se uma crescente
busca pelos antioxidantes naturais uma vez que estes apresentam baixa ou nenhuma
toxicidade. Dentre os antioxidantes naturais mais empregados, podem ser citados os
tocoferóis, os ácidos fenólicos e os extratos de algumas plantas (RAMALHO; JORGE, 2006),
que são fenólicos de ocorrência natural. Eles possuem a capacidade de doar átomos de
hidrogênio e, portanto, inibir as reações em cadeia provocadas pelos radicais livres (FILHO,
2010). O seu mecanismo de ação se dá, através de seu átomo de hidrogênio ativo que é
abstraído pelos radicais livres R• e ROO• com maior facilidade que os hidrogênios alílicos
das moléculas insaturadas, formando espécies inativas para a reação em cadeia e um radical
inerte (A•) procedente do antioxidante, que é estabilizado por ressonância (RAMALHO;
JORGE, 2006). Essa capacidade antioxidante permite sua significativa distribuição na dieta,
em processos industriais além de atuação nos produtos farmacológicos.
20

4 METODOLOGIA

4.1 COLETA, SECAGEM E IDENTIFICAÇÃO DO MATERIAL VEGETAL

O material vegetal composto por frutos foi coletado em fragmentos remanescentes de Mata
Atlântica na região Sul e Caparaó do Estado do Espírito Santo, municípios de Alegre,
Ibitirama, Guaçui, Jerônimo Monteiro, e Mimoso do Sul. Foram coletados frutos de 34
genótipos da espécie, transportados para o Laboratório de Química Aplicada do Ifes/Alegre, e
feito extração manual da polpa sem a utilização da água, seguido de secagem em estufa a
105ºC/24h. O material foi triturado e armazenado em sacos plásticos.

4.2 ANÁLISES DE COMPOSIÇÃO: QUANTIFICAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS


TOTAIS (FNT), ANTOCIANINAS (ANT) E FLAVONÓIS TOTAIS (FLV)

4.2.1 Determinação dos fenólicos totais

Para a determinação dos fenólicos totais utilizou-se o método espectrofotométrico de Folin-


Ciocalteau (BUDINI et al., 1980) com adaptações. Pesou-se 0,25g da biomassa seca e
triturada e adicionou-se 5mL da solução de HCℓ 2N (ácido clorídrico) aquecendo em seguida
durante 30 minutos em banho de Maria a 95ºC. A mistura foi retirada e deixada em repouso
por 24 horas. Decorrido o tempo, filtrou-se as amostras. Uma alíquota de 50µL da amostra
foi transferida para outro tubo de ensaio onde adicionou-se 3mL de água deionizada, seguido
da adição de 250µL do reativo Folin-Ciocalteau 50% v/v. Após 5 minutos, adicionou-se
750µL Na2CO3 20% m/v (carbonato de sódio) e completou-se com 950µL de água deionizada
deixando em repouso durante duas horas. Determinou-se a absorbância a 756nm, em
espectrofotômetro AGILENT CARY60 UV-VIS. A curva de calibração foi construída com
ácido gálico, R2 = 0,99, numa faixa de concentração de (0-50) µg/mL de ácido gálico. Os
resultados foram expressos em miligramas de ácido gálico por 100 gramas de poupa seca

4.2.2 Determinação de antocianinas totais e flavonóis totais

As antocianinas e os flavonóis totais foram determinados de acordo com o procedimento


proposto por Lees; Francis (1972). Foram homogeneizados em um tubo protegido da luz
0,300g da amostra em 8mL da solução extratora de etanol 95% em HCl 1,5N (85:15, v/v) e
21

estocados por 24 horas a 4°C. Os sobrenadantes foram filtrados, transferidos para cubetas e
mantidos em repouso por 2 horas à temperatura ambiente (28±2°C). A absorbância foi medida
a 535nm e 374nm para quantificação das antocianinas e flavonóis, respectivamente em
espectrofotômetro AGILENT CARY60 UV-VIS contra um branco contendo a solução
extratora. Todas as análises foram feitas em triplicata.

4.3 EXTRAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS ANTOCIANINAS PRESENTES NO


FRUTO DO JUÇARA

4.3.1 Extração da Antocianinas

A extração das antocianinas da polpa do juçara foi realizada utilizando-se o método descrito
por Nazaré et al. (2002) apud Figueiredo et al., (2008) que consta de percolação a frio, em
etanol 70% (v/v) acidificado com ácido clorídrico a pH 3,0 por 48 horas a temperatura
ambiente, em recipiente de vidro protegido da luz sob agitação magnética. Após esse período,
o material foi filtrado e seco a temperatura ambiente em local protegido da luz.

4.3.2 Análise de identificação espectrofotométrica no UV-Visível

A análise foi realizada com 20mg do extrato concentrado, diluído em 10 mL da solução de


etanol acidificada (pH=3,0). Os espectros de absorbância foram obtidos na faixa de
comprimento de onda entre 350nm e 700nm. As leituras foram realizadas no
espectrofotômetro AGILENT CARY60 UV-VIS contra um branco contendo a solução
extratora de etanol:HCl (etanol 70 % a pH 3,0) (ALVES et al., 2007).

4.3.3 Caracterização de antocianinas: Reação com cloreto férrico (FeCl3)

Para verificação da presença de flavonóides, utilizou-se o método descrito por Kukoski (2000)
apud Figueiredo et al., (2008). Adicionaram-se duas gotas de cloreto férrico a 2,5 %, a uma
alíquota de 1,0 mL do extrato bruto concentrado. A coloração indica que tipo de composto
flavonoídico que está presente na amostra, podendo variar entre verde, amarelo-castanho e
violeta (MOUCO et al., 2003).
22

4.3.4 Caracterização de antocianinas: Reação com hidróxido de sódio (NaOH 10%)

Para reconhecimento de antocianinas, utilizou-se do método descrito por Figueiredo et al.,


(2008). Em 1, 0 mL do extrato bruto foi adicionado 0,5 mL de hidróxido de sódio a 10 %. A
coloração indica o comportamento ácido-base das antocianinas em função do pH.

4.3.5 Ensaio de solubilidade

Para o ensaio de solubilidade do extrato obtido dos frutos do juçara, foram utilizados os
solventes: hexano, diclorometano, álcool etílico, acetato etila, acetona, aceto nitrila, metanol,
éter etílico, dimetilsulfóxido e H2O destilada. Em vários ependorf, foram adicionados 10mg
do extrato e adicionados de 100 em 100 µL de solvente gradativamente com posterior
agitação no vortex até o ponto de solubilidade do extrato.

4.4 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE

4.4.1 DPPH radical scavenging activity

A atividade antioxidante foi determinada pelo ensaio do radical livre DPPH, segundo
metodologia descrita por Brand-Williams; Cuvelier; Berset (1995), com modificações. Em
tubos de ensaio foram adicionados diferentes concentrações (5µL, 10µL, 20µL, 30µL, 40µL,
50µL, 100µL e 200µL) de extrato etanólico da poupa mais 2,00 mL de solução DPPH
0,1mM. Para cada concentração de extrato bruto da polpa do juçara, foi preparado um branco
para leitura mais álcool metílico (METOH). Para estes, não foram adicionados a solução
DPPH 0,1mM. Os tubos ficaram em repouso e no escuro por 6 horas. A leitura da absorbância
foi feita a 515 nm em espectrofotômetro AGILENT CARY60 UV-VIS. Preparou-se também
um tubo controle (denominado A0) que tinha 3,0 mL de metanol mais 2,0 mL de solução
DPPH 0,1mMol/L tendo como branco apenas 5mL de metanol. A leitura deste foi feita no
tempo zero. A atividade antioxidante dos extratos foi calculada de acordo com a Equação 1.

Equação 1: Equação utilizada para determinação da atividade antioxidante no ensaio com o


radical DPPH.

%AA = 100 - {[(Absamostra – Absbranco) X 100] / Abscontrole} (1)

Onde:
23

Aa = absorbância da amostra;
Ab = absorbância do branco;
Ac = absorbância do controle.

As substâncias antioxidantes presentes nos extratos reagiram com o DPPH que é um radical
estável, convertendo-o em 2,2-difenil-1-picril-hidrazil. O grau de descoloração verificado
indicou o potencial antioxidante do extrato metanólico das polpas analisadas. Também foram
efetuados ensaios de comparação com a substância de referência BHT (BUTIL HIDROXI
TOLUENO) nas mesmas concentrações da amostra.

4.4.2 Scavenging Of Hydrogen Peroxide

A capacidade do extrato da polpa do juçara para eliminar o peróxido de hidrogénio foi


determinada de acordo com o método do Ruche, Cheng e Klaunig (RUCH, et al., 1989) apud
Gupta. et al. (2013). Uma solução de peróxido de hidrogénio (2mmol/L) foi preparada em
tampão fosfato (pH 7,4). Em tubos de ensaio foram adicionados diferentes concentrações
(5µL, 10µL, 25µL, 50µL, 100µL) de extrato etanólico da polpa mais 0,5mL de solução H202
(40mmol/L) e 4,5mL da solução tampão de fosfato. Para cada concentração de extrato bruto
da polpa do juçara, uma amostra de branco foi preparada, contendo o extrato com 0,5mL de
solução H202 (40mmol/L) e 4,5mL da solução tampão de fosfato. Para estes, não foram
adicionados solução de peróxido de hidrogênio. Estes permaneceram em repouso e em local
sem luminosidade por 10 minutos. A leitura da absorbância foi feita a 515nm em
espectrofotômetro AGILENT CARY60 UV-VIS. A atividade antioxidante dos extratos foi
calculada de acordo com a Equação 2. A percentagem de sequestro de peróxido de hidrogénio
do extrato bruto da polpa do juçara foi calculada utilizando a seguinte fórmula.

Equação 2: Equação utilizada para determinação da atividade antioxidante no ensaio com o


peróxido de hidrogênio.

% scavenging activity [H2O2] = [Abs (control) – Abs (standard) / Abs (control)] × 100
(2)
Onde:
Aa = absorbância da amostra;
Ab = absorbância do branco;
Ac = absorbância do controle.
24

Também foram efetuados ensaios de comparação com a substância de referência BHT


(BUTIL HIDROXI TOLUENO) nas mesmas concentrações da amostra.

4.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Todas as determinações foram efetuadas em triplicata e os resultados submetidos à análise de


variância, segundo normas da ANOVA, utilizando o Programa R (R Project. version 3.0.2,
2013). Os resultados foram grafados no Programa Excel 2007.
25

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 QUANTIFICAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS TOTAIS (FNT),


ANTOCIANINAS (ANT) E FLAVONÓIS TOTAIS (FLV)

Os resultados obtidos na quantificação dos compostos fenólicos totais (FNT), antocianinas


(ANT) e Flavonóis Totais (FLV) dos frutos do juçara, estão apresentados na Tabela 1.
26

Tabela 1. Teor de compostos fenólicos, respectivamente Flavonóis Totais (FLV), Antocianinas (ANT) e Fenólicos Totais (FNT), presentes nos
frutos do Juçara de 34 genótipos coletados na região sul e Caparaó capixaba.

Gen FNT (mg/100g) ANT (µg/100g) FLV (µg/100g) Gen FNT (mg/100g) ANT (µg/100g) FLV (µg/100g)

AL1 131,31 ± 93.72 212,97 ± 42.86 156,61 ± 89.48 IBI18 219,46 ± 4.84 3,89 ± 0.18 26,14 ± 1.45
AL2 180,77 ± 5.24 338,18 ± 61.00 183,84 ± 53.25 IBI19 214,75 ± 8.35 1367,66 ± 84.73 207,92 ± 12.16
AL3 125,08 ± 5.49 19,78 ± 1.80 59,24 ± 2.89 IBI20 253,30 ± 16.66 1344,64 ± 379.94 205,39 ± 60.92
AL4 102,82 ± 11.59 18,20 ± 2.29 60,99 ± 8.60 IBI21 198,40 ± 36.84 968,83 ± 130.41 154,55 ±17.33
GU5 179,91 ± 8.41 92,93 ± 14.57 93,77 ± 9.91 IBI22 264,18 ± 41.84 2116,31 ± 595.94 300,08 ± 94.75
GU6 160,54 ± 7.50 50,16 ± 9.35 64,29 ± 9.73 IBI23 180,78 ± 9.55 79,94 ± 7.82 58,15 ± 5.02
GU7 130,37 ± 4.29 4,78 ± 1.55 26,98 ± 6.79 JM24 173,94 ± 15.72 15,99 ± 0.52 36,46 ± 1.61
GU8 179,91 ± 8.41 92,93 ± 14.57 93,77 ± 9.91 JM25 184,88 ± 15.55 22,58 ± 3.20 35,19 ± 3.30
GU9 160,54 ± 7.50 50,16 ± 9.35 64,29 ± 9.73 JM26 156,88 ± 6.43 6,36 ± 2.91 33,36 ± 11.39
IBI10 321,76 ± 14.12 564,80 ± 128.09 116,18 ± 23.93 MI27 286,58 ± 11.60 1938,32 ± 317.43 289,22 ± 48.52
IBI11 331,04 ± 64.45 270,32 ± 102.23 83,48 ± 36.43 MI28 262,36 ± 11.15 820,99 ± 62.17 161,00 ± 29.56
IBI12 349,72 ± 27.66 845,18 ± 189.53 199,23 ± 50.44 MI29 262,05 ± 1.57 1404,53 ± 255.18 226,85 ± 54.68
IBI13 265,07 ± 21.58 342,94 ± 32.01 105,54 ± 9.57 MI30 238,54 ± 11.16 789,18 ± 77.39 171,80 ± 19.79
IBI14 237,77 ± 3.58 358,24 ± 9.53 118,33 ± 3.45 MI31 247,16 ± 14.95 990,68 ± 214.04 161,45 ± 30.21
IBI15 309,88 ± 14.98 352,11 ± 25.42 132,58 ± 6.12 MI32 263,40 ± 18.96 1335,93 ± 241.39 233,84 ± 42.16
IBI16 168,06 ± 1.18 627,14 ± 52.72 157,83 ± 10.72 MI33 92,49 ± 1.65 13,77 ± 0.93 42,01 ± 3.26
IBI17 347,38 ± 59.27 1108,06 ± 164.75 212,91 ± 34.34 MI34 202,14 ± 4.47 368,00 ± 31.86 184,41 ± 16.25

Fonte: elaborado pela autora (2014).


27

De acordo com os resultados observados na Tabela 1, percebeu-se que os diferentes genótipos


da espécie apresentaram diferenças significativas quanto à concentração de compostos
fenólicos (FNT, ANT e FLV) em seus frutos. Esta variação na quantidade e abundância
desses compostos em diferentes plantas da mesma espécie já é atestada em vários estudos e
aferida por Naczk; Shahidi (2004) que afirma serem os fatores genéticos determinantes na
biossíntese dos compostos fenólicos, definindo qual será classe e subclasse a ser processada
nos metabólitos secundários.

Os maiores teores de FNT na biomassa seca da polpa foram encontrados nos genótipos 12, 17
e 11, município de Ibitirama (respectivamente; 349,72 ± 27.66mg/100g, 347,38 ± 59.27
mg/100g; 331,04 ± 64.45 mg/100g). Em trabalhos prévios desenvolvidos por Schultz (2008)
com polpas de Juçara e açaí submetidos a tratamentos para sua conservação, observou-se
valores expressivos de fenólicos, sendo 653,3mg/100g no açaí Euterpe edulis para 233,9
mg/100g em açaí (E. oleracea). Esse valor supera ao que Kuskoski et al., (2005) encontrou
determinando o conteúdo de compostos fenólicos de polpas de frutas comercializadas e
congeladas, que foi de 136,8±0,4mg/100g na polpa do açaí (E. oleracea) e 117,1±0,6
mg/100g na polpa de uva.

Embora os valores encontrados neste trabalho seja inferiores aqueles encontrados no trabalho
de Schultz (2008), eles ultrapassam aqueles obtidos por Kuskoski et al., (2005), revelando
349,72 ± 27.66 mg/100g de compostos fenólicos totais. Esta variação pode estar relacionada
ao procedimento de extração da polpa, sem a utilização da água, além da condição ambiental
na qual ela estava inserida.

Os genótipos 22, 27 e 29, encontrados no município de Ibitirama e Mimoso do Sul, expressam


as maiores concentrações de ANT (respectivamente; 211,63 ± 59.59 mg/100g; 193,83 ± 31.74
mg/100g; 140,45 ± 25.51mg/100g) e FLV (respectivamente; 30,01 ± 9.47 mg/100g; 28,92 ±
4.85 mg/100g; 22.68 ± 5.46mg/100g). Kuskoski et al. (2005) obteve seus maiores valores de
antocianinas em polpas de amora (41,8mg/100g), uva (30,9mg/100g) e açaí oleracea
(22,8±0,8mg/100g). Já as polpas de juçara estudadas por Schultz (2008) apresentaram
58,5mg/100g de antocianinas para 18,4mg/100g da polpa de oleracea. Os resultados obtidos
nos genótipos da espécie neste trabalho quanto à presença de antocianinas e flavonóis
superam esses dados emergindo sua potencialidade diferenciada.

Dentre os resultados, os menores teores de ANT e FLV foram observados nos genótipos 18
(0,36 ± 0,01 mg/100g; 2,61 ± 0.14 mg/100g, respectivamente) e genótipo 7 (0,47 ±
0.15mg/100g; 2,69 ± 0.68mg/100g), município de Ibitirama e Guaçuí. Já os menores teores de
28

FNT foram observados nos genótipos 33 (92,49 ± 1.65mg/100g) e genótipo 4 (102,82 ±


11.59mg/100g), município de Mimoso do Sul e Alegre.

As diferentes formas como as plantas reagem às condições em que são submetidas no


ambiente de cultivo, juntamente com a integração de um sistema muito bem regulado
geneticamente podem influenciar fortemente o sistema de biossíntese. Além destes, diversos
outros fatores e variações, influenciam intimamente o teor de fitoquímicos, tais como
variedade, estádio de maturação, condições climáticas e edáficas, conduzindo modificações
nos indivíduos quanto aos perfis de sua composição dos metabólitos secundários (ZOGHBI et
al., 1998, MORAES, 2013), expressando genes que modificam a bioquímica e fisiologia dos
vegetais ao longo de milênios por meio da evolução. Esse conjunto de fatores é responsável
pela ativação e abundância do metabolismo secundário, logo, tais condições podem estar
associadas à variação nos teores em indivíduos da mesma espécie. No entanto, estudos de
interação GXA (genótipo X ambiente) devem ser realizados.

5.2 EXTRAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS ANTOCIANINAS PRESENTES NO


FRUTO DO JUÇARA

Para a extração das antocianinas, dentre os genótipos analisados foram selecionados os


acessos 22, 27 e 29 que obtiveram elevado teor de compostos fenólicos, especificamente
antocianinas. A porcentagem de rendimento das antocianinas foi de 8,39 ± 0,97 em massa
(m/w biomassa seca da polpa) em temperatura ambiente (±25 ºC) e volume inicial de 25mL
em 48 horas. Nos resultados obtidos por Figueredo et al., (2008), o melhor rendimento com o
extrato do juçara foi a 75ºC e volume inicial de 400mL obtendo 21,2% desse volume em 11
horas. No rendimento obtido em estudo, percebeu-se que, mesmo a extração em temperatura
ambiente sendo um processo mais demorado, permitiu-se a obtenção de um relevante extrato
quando analisado o dispendioso controle e manejo de um sistema de extração que se submete
à temperatura.

Ao escolher o método mais adequado para a extração das antocianinas, deve-se estar atento
quanto ao emprego desse produto. Seja para aplicação em indústrias alimentícias e/ou
farmacêuticas, seja para meros estudos de caracterização, o objetivo quanto à utilização desse
extrato carece de clareza, pois alguns fatores como solubilidade, estabilidade, agilidade,
praticidade, além de análises de custo no intuito de obter um processo rentável e viável
circundam diversos quesitos de produtos inovadores. Neste trabalho, por apresentar como
29

objetivo a extração das antocianinas para caracterização de potencial antioxidante em ensaios


in vitru, o solvente escolhido foi o etanol diluído em ácido clorídrico, que é usualmente
indicado para sistemas de extração de pigmentos (FAVARO, 2008; XAVIER, 2004). No
entanto, para posterior uso do produto deve-se fazer a adequabilidade do método de extração.

5.2.1 Análise de identificação espectrofotométrica no UV-Visível

Após a extração das antocianinas, foi realizado análises de caracterização a fim de identificar
a presença destas no extrato obtido. A Figura 5 refere-se à análise de identificação
espectrofotométrica no UV-Visível, onde o valor do comprimento de onda em seu pico
máximo de absorbância foi 531nm. O espectro obtido é característico de antocianina, cuja
absorção máxima no visível coexiste na faixa de 500nm a 550nm (BOBBIO; BOBBIO, 1992
citados por LOPES, 2002).

Gráfico 1 - Identificação da antocianina no UV-Visível

Fonte: elaborado pela autora (2014).

Este espectro foi considerável quando comparado com o Comunicado Técnico 209 Embrapa
(2008), onde se obtiveram picos máximos de absorbância de 532nm a 533nm também em
frutos de juçara, característicos de antocianinas.

5.2.2 Reação com cloreto férrico (FeCl3)

Na análise de caracterização utilizando reações com cloreto férrico (FeCl3), o extrato dos
frutos de Juçara apresentou coloração violeta escuro (Figura 5). Essa intensificação da cor
30

indica presença de fenóis concentrados (FIGUEREDO et al., 2008; MOUCO et al., 2003), por
vezes devido ao rearranjo da quinonas. Dessa forma, reafirmou-se, a presença de antocianinas
no extrato obtido.

Figura 5 - Reação com cloreto férrico (FeCl3)

Fonte: Arquivo pessoal (2014)

5.2.3. Reação com hidróxido de sódio 10% (NaOH)

Para o reconhecimento de antocianinas utilizando reações com hidróxido de sódio 10%,


notou-se que o extrato dos frutos de juçara apresentou coloração verde escura (Figura 6). A
coloração indica o comportamento ácido-base das antocianinas em função do pH
(FIGUEREDO et al., 2008). Elas são sensíveis em soluções com pH neutro ou alcalino. Em
meio extremamente ácido, as antocianinas apresentam coloração intensamente avermelhada
e/ou violeta e em meio alcalino apresenta coloração verde e azul (MARÇO et al., 2008).
Dessa forma, atestou-se a presença de antocianinas no extrato obtidos dos frutos do juçara
permitindo prosseguir com o estudo.

Figura 6 - Reação com hidróxido de sódio 10% (NaOH)

Fonte: Arquivo pessoal (2014)


31

5.2.4 Análise de solubilidade do extrato

O extrato foi solúvel em metanol e dimetilsulfóxido (DMSO), atingindo o ponto de


solubilidade a 0,500µL para 10mg. Já os solventes, hexano, diclorometano, éter etílico e
acetato etila foram pouco solúveis. Com relação aos solventes álcool etílico, acetona e H2O,
foi possível perceber leves tendências a solubilização do extrato, no entanto, não por
completo. Com exceção do metanol e DMSO, todos os solventes testados resultaram sólidos
em suspensão, sendo alguns em pouquíssimas quantidades para outros com significativas
partículas suspensas. Isso constatou a ineficiência destes últimos em solubilizar o extrato.
Antocianinas têm sido apontadas como sendo solúveis em solventes aquosos (LOPES, et al.,
2007; MARCO et al., 2008; DEGÁSPARI; NINA, 2004), que por sua vez, ocorre devido à
sua polaridade, possuindo grupos substituintes polares (hidroxilas, carboxilas e metoxilas) e
glicosilas residuais ligados aos seus anéis aromáticos (LOPES, et al., 2007; KATO et al.,
2012; XAVIER, 2004). Isso explica a maior solubilização em solventes polares do que em
solventes não-polares. Abaixo seguem imagens (Figura 7) dos resultados do ensaio de
solubilidade do extrato até o volume de 1,5mL.
32

Figura 7 – Imagens do ensaio de solubilidade com os solventes H2O, metanol, álcool etílico,
DMSO, acetona, éter etílico, diclorometano, hexano e acetato etila.

H2O Metanol Álcool etílico

DMSO Acetona Éter etílico

Diclorometano Hexano Acetato de etila

Fonte: Arquivo pessoal (2014)

5.3 DETERMINAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE

Na determinação do potencial antioxidante dos frutos do juçara por meio de ensaios, foi
utilizado o solvente metanol, que é usualmente empregado na literatura (FAVARO, 2008;
XAVIER, 2004). Mesmo sendo muito utilizado nos métodos convencionais da tecnologia de
alimentos, esse solvente não é muito preferido pelos pesquisadores, pois apresenta alta
toxidade. Contudo, a caráter de ensaios in vitro, ele se mostrou bastante precursor.
33

5.3.1 DPPH radical scavenging activity

Dentre os diversos métodos de determinação da atividade antioxidante in vitro encontra-se o


sequestro do radical 2,2-difenil-1-picril-hidrazil (DPPH•). Muito comumente usada, a
molécula de DPPH• é caracterizada como um radical livre estável tendo uma deslocalização
do elétron desemparelhado por toda molécula (ALVES et al., 2010). A transferência de
elétrons de um composto antioxidante para esse radical livre faz com que haja o processo de
redução, tendo posterior perda de sua coloração púrpura (DUARTE-ALMEIDA et al., 2006).
Desse modo, foi possível avaliar o poder redutor do antioxidante testado, que reagindo com o
DPPH• converteu-o em hidrazina. Este comportamento foi acompanhado pela diminuição da
absorbância da solução do radical como mostrado no gráfico 2.

Gráfico 2 - Comportamento da atividade “free radical scavenging” DPPH• das amostras


(ANT e BHT) em diferentes concentrações (10 a 400µg/mL).

Fonte: elaborado pela autora (2014).

Levando em consideração as diferentes concentrações testadas (10, 20, 40, 60, 80, 100, 200 e
400μg/mL), foi possível observar que, em baixas concentrações, a substância de referência
BHT alcançou bom desempenho logo no início tendo leves variações à medida que
aumentava a concentração. Essa variação pode estar relacionada à boa estabilidade desse
antioxidante sintético muito utilizado e considerado um dos mais importantes na indústria de
alimentos (DUARTE-ALMEIDA et al., 2006; RAMALHO; JORGE, 2006). No entanto, as
indústrias têm investido em pesquisas e procurado substituir estes por antioxidantes naturais
iniciando uma gama de estudos na avaliação de plantas com capacidade antioxidante. As
34

substâncias antioxidantes presentes no extrato reagiram com o DPPH•. Tendo como seu raio
de luz transmitido sobre a luz incidente inicial a 0,45 da solução DPPH, reduziu-o até 0 de
absorbância. Essa capacidade de redução mostrou a efetividade do potencial antioxidante das
antocianinas extraídas da polpa do juçara em comparação com a substância de referência BHT
(BUTIL HIDROXI TOLUENO). Posterior aplicação da fórmula de sequestro do DPPH
(Gráfico 3) confirma essa eficiência.

Gráfico 3 - “% sequestro DPPH” das amostras (ANT e BHT) em diferentes concentrações (10
a 400µg/mL).

Fonte: elaborado pela autora (2014).

Na avaliação da porcentagem de sequestro do DPPH neste experimento (gráfico 3), constatou-


se que as antocianinas do fruto de juçara ultrapassam a substância de referência (BHT)
atingindo 100% de sequestro em concentrações a partir de 100μg/mL. Em consideração, o
BHT continua estável e não atinge a mesma ação nem mesmo na maior concentração em
estudo (400 μg/mL). No entanto, foi possível perceber que em menores concentrações (10, 20,
60 e 80 μg/mL), houve baixa eficiência desse antioxidante natural em reduzir o radical DPPH,
se comparado ao BHT.

Essas medidas de monitoramento de comportamento em função da concentração nos permitiu


perceber que o consumo do radical DPPH• foi dependente da concentração de amostra
adicionada no meio de reação. A partir das absorbâncias obtidas das diferentes diluições dos
extratos, foi possível plotar a absorbância no eixo Y e diluição (mg/L) no eixo X e determinar
a concentração eficiente (CE50 e CE90) das amostras analisadas para reduzir a solução
DPPH inicial em relação à sua curva de 0 a 80 μg/mL. A CE50 das antocianinas extraídas foi
35

de 41,7µg/L, enquanto a CE50 do BHT foi 13,8μg/L. Já a CE90 das antocianinas extraídas foi
de 77,7µg/L, enquanto a CE90 do BHT foi 25,4μg/L. Quanto maior o consumo de DPPH por
uma amostra, menor será a sua concentração eficiente (CE50 E CE90) e maior a sua atividade
antioxidante (SOUSA et al., 2007). Dessa forma, constatou-se que o BHT tem sua ação
alcançada já em baixas concentrações quando comparada com as antocianinas extraídas dos
frutos do juçara, que necessita de um pouco mais de concentrado para exercer a mesma
atividade. Até 80 μg/mL, os resultados apresentados pelo BHT se mostraram superiores ao
extrato testado. No entanto, a partir desta concentração a ANT do juçara ultrapassa-o BHT
atingindo 100% de eficiência.

De acordo com os resultados obtidos neste experimento, pode-se considerar que as


antocianinas do fruto do juçara possuem alta capacidade de sequestro do radical livre DPPH e,
portanto, elevado potencial antioxidante, além de ser obtido de fontes naturais. Contudo, vale
lembrar que os ensaios de atividade in vitro não refletem essencialmente a complexidade
celular, necessitando de posterior estudos in vivo e ex vivo que possam determinar tal
potencial encontrado neste estudo.

5.3.2 Scavenging of hydrogen peroxide

Os parâmetros analisados para avaliação do poder sequestrador do peróxido de hidrogênio das


antocianinas extraídas dos frutos do Juçara estão dispostos no gráfico 4, em comparação com
a substância de referência BHT (BUTIL HIDROXI TOLUENO).
36

Gráfico 4 - Comportamento da atividade “free radical scavenging” H2O2 das amostras (ANT e
BHT) em diferentes concentrações (10, 20, 50 a 100 e 200µg/mL).

Fonte: elaborado pela autora (2014).

De acordo com os resultados apresentados no gráfico, foi possível observar elevado potencial
antioxidante das ANT do juçara quando comparado ao BHT. Logo a partir de 20μg/mL, o
poder do extrato em sequestrar o peróxido foi preponderante frente ao BHT, que apresentou
baixa eficiência em reduzir esse composto. Nas diferentes concentrações, durante todo o
ensaio, essa substância de referência (BHT) apresentou leves variações, porém baixa ou quase
nenhuma eficiência no sequestro de peróxido. A porcentagem de sequestro do H2O2 pelo BHT
é nula, apresentando sua baixa eficiência frente a ANT, como pode ser observado no grafico
abaixo.
37

Gráfico 5 - “% sequestro H2O2” das amostras (ANT e BHT) em diferentes concentrações (10
a 200µg/mL).

Fonte: elaborado pela autora (2014).

O peróxido de hidrogênio não é considerado um radical livre, porém está envolvido de forma
direta ou indireta em diversas patologias (ALVES et al, 2010). Ele exerce papel importante no
estresse oxidativo das células por ser capaz de transpor suas membranas facilmente e gerar o
radical hidroxila (BARREIROS et al, 2006) que é deletério. Estudos de compostos que
propiciem a prevenção contra auto-oxidação e também a peroxidação de lipídeos em sistemas
biológicos têm recebido muito atenção, e nesse ínterim encontra-se, em especial, a
antocianinas e sua ação antioxidante (LOPES et al.,2007) já discutida nesse estudo. Contudo,
vale ressaltar que, estudos da atividade antioxidante medida in vitro apenas sugere
bioatividade, porém não a pode determinar. Para tal, estudos in vivo e de aplicação devem ser
realizados.
38

6 CONCLUSÃO

Os frutos de palmito juçara coletados na região de Ibitirama e Mimoso do Sul apresentaram


teores de compostos fenólicos superiores aos outros municípios, especialmente antocianinas,
podendo estar ligadas á alterações na rota de biossíntese desses compostos, influenciados pela
expressão gênica e fator ambiente. Os teores variaram de 0,36 ± 0,01 mg/100g a 349,72 ±
27.66 mg/100g.

O extrato foi solúvel ao metanol e ao dimetilsulfóxido (DMSO), apresentando pouca


solubilidade frente ao álcool etilico, acetona e H2O2, e quase ou nenhuma solubilidade diante
do hexano, diclorometano, éter etílico e acetato de etila.

O extrato metanólico apresentou potencialidade em sequestrar o radical DPPH, apresentando


CE50 e CE90 (41,7µg/L e 77,7µg/L), comparado ao BHT(13,8μg/Le 25,4μg/L).

O extrato metanólico apresentou elevado potencial em sequestrar o peróxido de hidrogênio,


apresentando bons resultados quando comparado ao BHT.

Diante disso, o aproveitamento dos frutos dessa espécie pode estabelecer como alternativa
econômica sustentável e rentável, dada as mais diversas potencialidades fotoquímicas
encontradas, sendo uma delas o potencial antioxidante.
39

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