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A crise que vivemos, atualmente, é baseada em uma postura antropocêntrica que favorece uma
relação de superioridade entre humanidade e natureza. Esta postura visa a valoração humana e
observa o meio ambiente apenas como um meio de utilidade econômica, possuindo a ideia de
que os direitos e deveres residem somente em pessoas, potencializando o esquecimento dos
limites humanos e da nossa ecodependência (entre pessoas e com a natureza), e tende a gerar
um esgotamento dos recursos, colocando nossa sobrevivência em risco.
Além disso, temos a ciência como prisioneira do comando de mercado que elevou a
humanindade à condição de consumidora em potencial com a afirmação diária de que a
sociedade somente se desenvolve pela lógica do mercado e do consumo e, nesse contexto,
desenvolver requer a aceitação de que a ordem e o progresso econômico liberal estão acima de
qualquer suspeita.
Por isso, para o autor Bauman (2000), a modernidade é líquida porque abandonou a
emancipação nas mãos do consumo e do mercado. Boaventura de Sousa Santos, por sua vez,
reconhece que o projeto da modernidade priorizou um tipo de racionalidade cuja ordem se
constrói no espaço econômico e consumerista, o que exigiu o abandono do princípio do estado
e da comunidade deixando o campo aberto para o mercado.
A visão antropocêntrica da relação do homem com a natureza nega o valor intrínseco do meio
ambiente e dos recursos naturais, subjuga todas as outras necessidades, interesses e valores da
natureza em favor daqueles relativos à humanidade, resultando na criação de uma hierarquia na
qual a humanidade detém posição de superioridade, acima e separada dos demais membros da
comunidade natural. Conceder à natureza o status de sujeito de direito pode resignificar o
conceito de “desenvolvimento” e fortalecer um paradigma anticapitalista no que tange o futuro
do planeta.
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Tivemos em nosso percurso pouca evolução no que diz respeito a inclusão de novos sujeitos
como detentores de direitos. Mais do que uma proteção com base no formalismo jurídico, é
necessário formar uma consciência ética ambiental como alternativa para garantir a preservação
do planeta. Trata-se de uma mudança sistêmica e profunda, com a quebra de paradigmas sociais,
éticos e jurídicos, tendentes a construir um comportamento voltado para a preservação e para
a sustentabilidade, e não mais um modelo baseado na exploração irracional dos recursos
naturais.
É necessário impor limitações ecológicas à ação humana. Faz-se isso através da compreensão
de que a natureza possui valor intrínseco, não apenas instrumental. Passa-se da doutrina
antropocêntrica utilitária para o antropocentrismo alargado ou moderado. Trata-se da
conciliação entre os direitos humanos e os direitos da natureza para pôr fim nessa contradição
desse paradigma, na ideia de que o conhecimento científico é apartado do conhecimento comum
e, bem assim, que a natureza é apartada da pessoa humana.
Referências
GIFFONI, Johnyy Fernandes; e all., Paradigma dos direitos da natureza. In. LACERDA, Luiz
Felipe. (Org.). Direitos da natureza: marcos para a construção de uma teoria geral. São
Leopoldo: Casa Leira, 2020, p. 15- 27. 21