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A Mudança Paradigmática: os direitos da natureza e seus pilares.

Lyvia Alissa Ferreira Marques¹

A crise que vivemos, atualmente, é baseada em uma postura antropocêntrica que favorece uma
relação de superioridade entre humanidade e natureza. Esta postura visa a valoração humana e
observa o meio ambiente apenas como um meio de utilidade econômica, possuindo a ideia de
que os direitos e deveres residem somente em pessoas, potencializando o esquecimento dos
limites humanos e da nossa ecodependência (entre pessoas e com a natureza), e tende a gerar
um esgotamento dos recursos, colocando nossa sobrevivência em risco.

Além disso, temos a ciência como prisioneira do comando de mercado que elevou a
humanindade à condição de consumidora em potencial com a afirmação diária de que a
sociedade somente se desenvolve pela lógica do mercado e do consumo e, nesse contexto,
desenvolver requer a aceitação de que a ordem e o progresso econômico liberal estão acima de
qualquer suspeita.

Por isso, para o autor Bauman (2000), a modernidade é líquida porque abandonou a
emancipação nas mãos do consumo e do mercado. Boaventura de Sousa Santos, por sua vez,
reconhece que o projeto da modernidade priorizou um tipo de racionalidade cuja ordem se
constrói no espaço econômico e consumerista, o que exigiu o abandono do princípio do estado
e da comunidade deixando o campo aberto para o mercado.

A visão antropocêntrica da relação do homem com a natureza nega o valor intrínseco do meio
ambiente e dos recursos naturais, subjuga todas as outras necessidades, interesses e valores da
natureza em favor daqueles relativos à humanidade, resultando na criação de uma hierarquia na
qual a humanidade detém posição de superioridade, acima e separada dos demais membros da
comunidade natural. Conceder à natureza o status de sujeito de direito pode resignificar o
conceito de “desenvolvimento” e fortalecer um paradigma anticapitalista no que tange o futuro
do planeta.

A natureza estabelece os limites e alcances da sustentabilidade e da capacidade de renovação


dos sistemas das quais dependem as atividades produtivas. Ou seja, se se destrói a natureza, se
destrói a base da própria economia.

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¹Discente regularmente matriculado na UFPA/ICJ/FAD sob o número de matrícula 202206140193.


A passagem de uma concepção antropocêntrica à uma sócio-biocêntrica, é o maior desafio da
humanidade, se não quiser por em risco a própria existência do ser humano sobre a terra.

Logo, é evidente que necessita-se de uma mudança de postura e o abandono da visão


antropocêntrica predominante em nossa sociedade para que assim haja espaço para uma
incorporação de uma consciência que permita aos membros da sociedade se identificar com a
busca de um propósito de mudança, desenvolvendo suas capacidades de organização,
integração e solidariedade em que a proteção de outros seres vivos seja considerada em
contraposição aos acontecimentos nocivos e quase irreversíveis provocados pela sociedade pós-
industrial. Pretende-se proteger a vitalidade e a funcionalidade dos ecossistemas, sem o
comprometimento das suas funções, evitando a extinção de espécies.

Tivemos em nosso percurso pouca evolução no que diz respeito a inclusão de novos sujeitos
como detentores de direitos. Mais do que uma proteção com base no formalismo jurídico, é
necessário formar uma consciência ética ambiental como alternativa para garantir a preservação
do planeta. Trata-se de uma mudança sistêmica e profunda, com a quebra de paradigmas sociais,
éticos e jurídicos, tendentes a construir um comportamento voltado para a preservação e para
a sustentabilidade, e não mais um modelo baseado na exploração irracional dos recursos
naturais.

É necessário impor limitações ecológicas à ação humana. Faz-se isso através da compreensão
de que a natureza possui valor intrínseco, não apenas instrumental. Passa-se da doutrina
antropocêntrica utilitária para o antropocentrismo alargado ou moderado. Trata-se da
conciliação entre os direitos humanos e os direitos da natureza para pôr fim nessa contradição
desse paradigma, na ideia de que o conhecimento científico é apartado do conhecimento comum
e, bem assim, que a natureza é apartada da pessoa humana.

Referências

GIFFONI, Johnyy Fernandes; e all., Paradigma dos direitos da natureza. In. LACERDA, Luiz
Felipe. (Org.). Direitos da natureza: marcos para a construção de uma teoria geral. São
Leopoldo: Casa Leira, 2020, p. 15- 27. 21

FONTES JUNIOR, Felício; BARROS, Lucivaldo Vasconcelos. A defesa da natureza em juízo:


atuação do Ministério Público Federal em favor do Rio Xingu no caso da construção da Usina
Hedroeletrica de Belo Monte. In. LACERDA, Luiz Felipe. (Org.). Direitos da natureza:
marcos para a construção de uma teoria geral. São Leopoldo: Casa Leira, 2020, p. 29-45.
Ecologia Integral – Fundação Gonçalo da Silveira. Fgs.org.pt. Disponível em:
<https://fgs.org.pt/pt/ecologia-integral/>. Acesso em: 23 nov. 2022.
Direitos da Natureza – arvoreagua. Arvoreagua.org. Disponível em:
<https://arvoreagua.org/ecologia/direitos-da-natureza>. Acesso em: 23 nov. 2022.

Os Direitos da Natureza e a superação do desenvolvimentismo predatório. Repórter Brasil.


Disponível em: <https://reporterbrasil.org.br/2014/06/os-direitos-da-natureza-e-a-superacao-
do-desenvolvimentismo-predatorio/>. Acesso em: 23 nov. 2022.

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