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UNOESC - UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA

CAMPUS APROXIMADO DE CAMPOS NOVOS


CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO- 2ª FASE
COMPONENTE CURRICULAR: ÉTICA E SOCIEDADE
PROFESSOR: CARLOS WEINMAN
TUTOR: EDSON DOUGLAS PEREIRA CASAGRANDE
ACADÊMICA: ALESSANDRA BORGES
TEMA PROPOSTO: “Eu e o outro no contexto da ética do cuidado de Leonardo Boff ”

ÉTICA DO CUIDADO: UM CONTRATO ASSINADO COM O OUTRO

É completamente inegável o fato de que as pessoas, ao conviverem, precisam ter


compromisso com o espaço em que habitam e com aqueles que, de forma semelhante,
utilizam-se do mesmo. Além disso, uma sociedade comprometida somente se constrói a partir
do momento que reconhece a ética do cuidado como objetivo principal, uma vez que através
deste princípio, torna-se possível e aplicável a ideia de que existe o outro, com o qual se
estabelece uma interdependência constante. Mas, infelizmente, o que se percebe na atualidade
não é a busca pelas relações mútuas e sim a permanência no individualismo exacerbado.
Desde os primórdios da humanidade os seres humanos precisaram adaptar-se a viver
em conjunto, pois perceberam que sozinhos estariam mais vulneráveis a ameaças. Desta
forma, foram praticamente obrigados pela necessidade a assumir que dependiam do outro,
tanto para sobreviver quanto para possuírem segurança e conforto. É a partir daí que o homem
é influenciado a respeitar as diferenças para coabitar com aqueles que estavam ao seu redor e
a cuidar dos diversos tipos de outro, como a natureza, o Planeta Terra, a própria capacidade de
reflexão e tudo o que não constituía sua perspectiva individual.
Assim como em outrora, atualmente também se enfrenta o desafio de manter o
convívio harmônico, porque ao tornarem-se seres sociais, os indivíduos passam a ter a
responsabilidade de fazer, por meio do pensamento ético, o devido juízo de valor dos seus
atos, a fim de conseguir preservar o bem comum e, para isso, faz-se necessário o fundamento
do cuidado.
De acordo com Boff (2009, p. 87), “ O cuidado expressa a importância da razão
cordial, que respeita e venera o mistério que se vela e re-vela em cada ser do universo e da
Terra. ” Em outras palavras, pela premissa de que todos são interdependentes uns dos outros,
convém cuidar de tudo o que gera benefício mútuo e daquilo que merece estar vivo, para que
não deixe de existir. Um exemplo disso é o outro-natureza, que é essencial para que haja vida
humana no planeta e que, por esse motivo, precisa ser preservado. Entretanto, isso somente
será possível se antes de qualquer atitude para com o meio natural houver ética por parte do
homem.
“A ética do cuidado é seguramente imperativa nos dias atuais, dado o nível de
descuido e desleixo que paira como uma ameaça sobre a biosfera e o destino humano, objeto
de crescentes alarmes dos grandes organismos ecológicos mundiais. ” (BOFF, 2009, p.84).
Isto é, há uma certa emergência em adaptar os seres humanos ao ato de colocar os valores em
uma “balança” para avaliá-los, considerando constantemente a influência que terão sobre o
outro, principalmente quando se trata do meio ambiente.
A dificuldade que as pessoas possuem de praticar a alteridade, ou seja, de se “colocar
no lugar do próximo”, é gerada pelo individualismo que, lamentavelmente, parece estar cada
vez mais dominante. Em virtude disso, a humanidade não está deixando de lado apenas o
cuidado com o espaço ecológico, mas, também com a outra raça, com as diversidades de
pensamento, com o outro portador de doenças, com o pobre que é excluído etc. Outrossim, as
pessoas nunca se julgam satisfeitas e passam a desejar somente o acúmulo e o consumo
excessivos, mesmo que os indicadores de miséria e pobreza sociais estejam cada vez mais
elevados (ORÇO et al., 2015, p. 18).
O ser humano tem muito pouco altruísmo e possui uma falsa sensação de
independência. Por causa dessa concepção, age de forma egocêntrica e adere a práticas como
o consumismo, por exemplo, que é constante na sociedade capitalista e globalizada dos dias
atuais, em que as pessoas se tornam obsessivas pela compra de produtos ou serviços. No
entanto, o que gera “prazer” individual para alguns afeta o planeta como um todo,
contribuindo para a poluição e para a escassez de recursos naturais, além de ser um agravante
para a realidade do outro que não possui nem o necessário para sobreviver.
Outro fator da atualidade que afasta gradativamente as pessoas da ética do cuidado e
as aproxima do individualismo é o uso em exagero da tecnologia. Em relação a esse assunto,
afirma Boff (2003, p. 20) que “Atulhados de aparatos tecnológicos vivemos tempos de
impiedade e de insensatez. Sob certos aspectos regredimos à barbárie mais atroz. ” Ou seja,
observa-se que, ao mesmo tempo que a chegada das redes sociais e das inovações ampliou a
comunicação virtual entre as pessoas, ela também fez o ser humano perder quase que
totalmente a percepção do outro e o contato face-a-face com o mesmo.
A tela de um aparelho eletrônico tornou-se muito mais importante e mais digna de
atenção do que aquela criança que está nas ruas passando fome ou sendo escravizada para
sobreviver e o animal que está abandonado foi trocado por um que pode ser cuidado
virtualmente.
Dessa forma, entende-se que o homem perdeu o sentimentalismo e o zelo pelo outro e
criou a concepção de que está centralizado como um ser único, que precisa se satisfazer e agir
individualmente, da forma que achar melhor, sem nenhuma reflexão ética e sem assumir que é
dependente, não da tecnologia, mas daqueles que coabitam com ele. Afinal, ninguém é capaz
de viver sem o outro com o qual mantém relações interpessoais ou sem aquele que é
responsável pela plantação de alimentos na agricultura, por exemplo.
Contudo, é importante salientar que ainda existem pessoas que percebem a
necessidade que o outro possui através das redes sociais, com ações ou projetos virtuais
benéficos a determinado grupo de indivíduos, mas, é necessário que se tenha cuidado também
com o outro que está próximo ou que sejam repensados alguns atos para que não atinjam o
outro que está distante.
A ética do cuidado não é uma responsabilidade somente das pessoas, é também um
grande compromisso dos órgãos públicos e das empresas, uma vez que ambos, ao agirem, não
podem pensar apenas em benefício próprio, mas em prol de um todo, ou melhor dizendo,
devem sempre pensar no outro. Afora isso, precisam agir considerando a ética, que coloca
valores em reflexão, e a moral, que é responsável por avaliar um ato como bom ou ruim para
determinado grupo, considerando normas, regras e conceitos.
Conforme Boudoux (2014 apud ORÇO et al., 2015, p. 34), “ A ética tem papel
fundamental em todo esse processo, regulamentando e exigindo dos governantes o
comportamento adequado à função pública que lhe foi confiada por meio do voto [...]. ” Por
esse motivo, é fundamental haver juízo de valores mediante a conduta dos órgãos públicos e
cuidado para com o outro, afinal, eles possuem a incumbência de agir visando o bem coletivo
e a garantia dos direitos dos cidadãos.
Já em se tratando das empresas, estas ao serem fundadas assumem um compromisso
tanto com o outro-natureza quanto com aqueles que constituem a sociedade na qual a
organização está inserida. Então, é necessário que coloquem em prática a ética do cuidado, a
fim de terem comportamentos que não prejudiquem o meio natural e muito menos as pessoas
que ocupam o mesmo espaço para viver, pois além do lucro e da competição, a
responsabilidade social também contribui para o desenvolvimento de um negócio.
Frente ao exposto, percebe-se o quão essencial é a ética do cuidado para a vida de
todos, pois ela está onde existe o outro e contribui para que hajam relações de harmonia entre
o ser humano e tudo o que o cerca. Além disso, vale ressaltar que para amenizar o
individualismo e tornar o cuidado um fundamento insubstituível no Planeta Terra é
fundamental que exista a iniciativa de cada pessoa, baseada no zelo e na cooperação para com
o que está ao seu redor e concomitantemente a isso também é indispensável que se aceite a
ideia de que todos são interdependentes.
Portanto, acredita-se ser ideal o respeito às diferenças, a ajuda recíproca entre as
pessoas e, principalmente o ato de sair do egocentrismo ou do egoísmo e assinar realmente
um contrato de responsabilidade para com o outro, assumindo o dever de ter juízo de valor
diante das atitudes individuais para a existência e conservação do bem comum.
REFERÊNCIAS

BOFF, Leonardo. Ethos mundial: um consenso mínimo entre os humanos. Rio de Janeiro:
Record, 2009. 127 p.

BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano- compaixão pela terra. 9. ed. Rio de
Janeiro: Vozes, 2003. 199 p.

ORÇO, Cláudio Luiz et al. Ética e Sociedade. 2. ed. rev. ampl. e atual. Joaçaba: Ed. Unoesc,
2015. 131 p. Apostila.

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