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1.1 Criação é toda acção criadora e a revelação de Deus (BAUER, 1985: 232).
1.2 Ecologia é uma ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si e com o meio
ambiente em que se inserem (CHARÃO, 1990: 1155). Com esta afirmação não há
dúvida que falar da ecologia é falar efectivamente da relação entre o homem e a
natureza. Todavia, ao falarmos da criação implicitamente estamos a falar da ecologia,
visto que tudo está intimamente relacionado.
1
Cfr. FRANCISCO, Carta Encíclica Laudato Si’ (24 de Maio de 2015), 139.
2
Cfr. FRANCISCO, Carta Encíclica Laudato Si’ (24 de Maio de 2015), 145.
Outrossim, Papa Francisco alega que «a vida é um caminho comunitário onde as tarefas
e as responsabilidades se dividem e compartilham em função do bem comum, não há
espaço para a ideia de indivíduo separado da comunidade ou de território»
(FRANCISCO, 2020: 20) ou seja, enquanto o homem viver em comunidade ele tem a
responsabilidade de cuida-la.
2. Ecologia cultural
Entretanto, o diálogo não deve apenas limitar-se nos momentos do passado mas também
a relação do homem vivo com o meio ambiente, obedecendo a complexidade das
problemáticas locais. Assim como «a vida e o mundo são dinâmicos, também o cuidado
do mundo deve ser flexível e dinâmico» (FRANCISCO, 2015: 144). Para dizer que o
desenvolvimento de uma determinada população depende necessariamente do contexto
social e cultural. Ou seja, não se pode impor a qualidade de vida à um indivíduo fora do
seu mundo de símbolos, hábitos e costumes de cada grupo social.
Desta feita, há necessidade de educar o homem dentro do seu ambiente cultural. Porque
a terra para um homem não é um bem económico, mas dom gratuito de Deus e dos seus
antepassados que nela descansam, um espaço sagrado com o qual precisam de interagir
para manter a sua identidade e os seus valores.
Feita uma abordagem em relação a ecologia integral e cultural, Papa Francisco não
deixou de lado a questão da ecologia da vida diária que para ele, envolve o cuidado
diário da própria dignidade humana independentemente das condições económicas, o
homem sempre cuidou do seu habitate com alegria, cordialidade e da amizade das
pessoas, uma ecologia humana3. Isto é, um sentimento de comunhão e de pertença.
3
Cfr. FRANCISCO, Carta Encíclica Laudato Si’ (24 de Maio de 2015), 148.
Entretanto, para que haja uma ecologia eficaz é importante que todos tenham em conta
que cada indivíduo tem a responsabilidade de cuidar da “casa comum”, porque segundo
Papa Francisco, a falta de habitação numa determinada região contribui negativamente
para a questão da ecologia humana (cfr. FRANCISCO, 2015: 151-152).
5. A Justiça intergeneracional
Após uma abordagem sobre o bem comum, importa chamar atenção à questão da
solidariedade intergeneracional; o meio ambiente como um dom de Deus não deve ser
vista como uma propriedade individual mas sim, deve ser transmitida de geração a
geração, ou seja, se a terra nos é dada gratuitamente, não podemos pensar apenas a
partir dum critério utilitarista de eficiência e produtividade para lucro individual, mas
deve ser vista como uma propriedade que está a mercê de todos até das próximas
4
Cfr. CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Dogmática Gaudium et Spes (7 de Dezembro de 1965),
26.
gerações5. Razão pela qual Borrego vai dizer que «o cuidado da Terra é para o homem
uma obrigação moral. Certamente tão importante e necessária como o cuidado com a
vida e com a vida humana, e o seu respeito desde o primeiro começo» (BORREGO
1999: 18). Isto é, não se trata duma atitude opcional, mas duma questão essencial de
justiça, pois a terra que recebemos pertence também àqueles que hão-de vir.
Papa Francisco chama a consciência de que não devemos optar por uma ecologia fixista
ou opaca, mas sim, a mais abrangente onde envolve todos, incluído os que ainda estão
por nascer6. A ser assim, é a nossa responsabilidade pensarmos nas nossas acções e nos
efeitos que advêm, porque o cuidado da ecologia não deve ser responsabilizado a uma
minoria mas a todos que nela habitam, exige-se acima de tudo a cooresponsabilidade.
BIBLIOGRAFIA
BAUER, Johannes B., Dicionário de Teologia Bíblica, Editora Loyola, I, 4ᵃ Edição, São
Paulo 1985.
BORROGO, Carlos, 200 anos que mudaram o mundo: O cristianismo e uma nova
solidariedade do ambiente, Agência Ecclesia, Lisboa 1999.
5
Cfr. FRANCISCO, Carta Encíclica Laudato Si’ (24 de Maio de 2015), 159.
6
Cfr. Ibidem. números 159-160.