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Ensaio filosófico sobre Responsabilidade ambiental

Filosofia-10º ano-Turma: A
Bruna Antunes, nº 4;Catarina Ferreira, nº 8;Madalena Oliveira, nº 17;Maria Ferreira, nº 19
ecologia superficial promove a reciclagem de resíduos,
Será a responsabilidade
em vez de evitar os resíduos em primeiro
ambiental uma obrigação moral? lugar. [CITATION Oxf29 \l 2070 ]. O termo «verde
claro» foi aplicado às crenças dos chamados
Este ensaio filosófico irá ser aprofundado no ecologistas superficiais. Este movimento só promove
âmbito do tema “Responsabilidade ambiental”. A estratégias de conservação contra a poluição e no
responsabilidade ambiental já tem sido discutida há
esgotamento de recursos. [ CITATION KRI17 \l
muito tempo, mas só, mais concretamente, em 2018 é
2070 ]. Para quem acredita na ecologia superficial o
que ganhou um grande destaque. É importante ter o
meio ambiente é um meio para a sobrevivência
reconhecimento ambiental, mas entender se,
humana, por isso precisa de ser
realmente, temos uma obrigação moral é que nos
conservado[ CITATION Cai14 \l 2070 ].
pode, talvez, trazer a solução ao nosso problema.

Em tempos ecologicamente preocupantes O Princípio de Responsabilidade, defendido por Hans


apercebemo-nos da importância da responsabilidade Jonas (filósofo), tendo referência em Kant, dá a
ambiental, para o nosso futuro e o do planeta, pois entender que a ação das gerações humanas atuais
sem a importância da responsabilidade ambiental, o deve ter um sentido fundamental: assegurar a
nosso futuro não tinha condições para que todos os possibilidade de uma existência digna às gerações
seres vivos que existem atualmente possam viver cada futuras mediante a salvaguarda da qualidade de vida.
um no seu habitat, como no presente, nem a A responsabilidade a respeito das gerações futuras
continuidade da natureza é garantida, mas exige que lhes leguemos um planeta habitável e que
apresentamos uma outra questão: “Será a não alteremos as condições biológicas da humanidade.
responsabilidade ambiental uma obrigação moral?”. Nós somos o resultado de um trabalho da natureza
Neste caso, significa se é ou não a nossa obrigação que durou milhares de anos [CITATION MFe \l
enquanto seres humanos e coerentes de preservar a 2070 ] Este princípio da responsabilidade associa-se
natureza e garantir a sua duração para as próximas de forma clara à necessidade da promoção de uma
gerações. Neste ensaio temos o objetivo de Educação Ambiental a qual, poderá tornar-se num
apresentar razões para afirmar que a responsabilidade trunfo marcante para formar a sociedade a este
ambiental é bastante importante e que, a nosso ver, respeito. Visto isto, Hans Jonas apresenta a tese
temos um certo dever moral. «Devemos agir de modo a que os efeitos das nossas
ações sejam compatíveis com a duração da vida
Quais são as teses do problema? humana autentica na Terra.» [ CITATION Rod081 \l
2070 ]
De diversas teses, há duas teses principais para este
problema, passamos a citar:  Ecologia profunda.
A ecologia profunda opõe-se a Jonas Hans (defensor
 Ecologia superficial.
da ecologia superficial). A ecologia profunda defende
A ecologia superficial tem uma visão superficial do que «...A natureza tem um valor próprio, vale
meio ambiente e acredita que só devemos fazer algo independentemente da sua utilidade para a
se for do nosso interesse, por exemplo, devemos humanidade». Ou seja, todos os seres vivos têm o
salvar os ecossistemas, mas apenas se forem de valor mesmo direito de viver e florescer. Diz-se que a
para nós. A vista é completamente autocentrada. Ela natureza tem valor inerente. É valioso mesmo se os
sugere uma abordagem antropocêntrica da ecologia e humanos não encontrarem utilidade para isso. É uma
vê questões ambientais em termos de reformas perspetiva que incentiva o ativismo ambiental,
centradas no homem, em vez de qualquer mudança influenciando diversas organizações ambientalistas, e
profunda nas relações entre os seres humanos e a que assenta em princípios religiosos e
Terra. Ela busca soluções tecnológicas para os filosóficos[ CITATION Rod12 \l 2070 ].
principais problemas ambientais, em vez de uma
mudança no comportamento humano. Por exemplo, a
Mesmo se pudéssemos fornecer uma maneira de viver e florescer, para, assim, garantir a
proteger os seres humanos das mudanças climáticas, sobrevivência das gerações futuras).
ainda seria uma circunstância má porque muitos
Tendo todos estes aspetos em consideração,
outros seres vivos sofreriam. Outro aspeto da ecologia
apresentamos agora um argumento que espelha a
profunda é a ideia de que devemos expandir a nossa nossa posição:
essência de quem somos para incluir o mundo natural.
Se prejudicarmos a natureza, então de certa forma 1. Se nós não tivéssemos a mesma moral, então
vamos nos prejudicar. A ecologia profunda rejeita o a responsabilidade ambiental não seria uma
antropocentrismo em favor do ecocentrismo ou obrigação moral.
biocentrismo[ CITATION Alm05 \l 2070 ]. 2. Nós não temos a mesma moral.
3. Logo, a responsabilidade ambiental não é
uma obrigação moral.

Atendendo, então, na primeira premissa. Esta diz-nos


que, se nós não tivéssemos a mesma moral, a
responsabilidade ambiental não seria uma obrigação
moral, isto significa que se todos nós (seres humanos)
não partilhássemos dos mesmo ideais, que neste caso
seria tomar medidas para salvar/salvaguardar o
ambiente e a sua sustentabilidade sem obter nada a
nosso favor, então a responsabilidade ambiental não
Figura1- Representação em imagem da diferença entre seria uma obrigação moral. E não o seria, pois todos
ecologia superficial e ecologia profunda. nós não iríamos partilhar das mesmas opiniões e
realizá-las para o bem do ambiente, o que provocaria
A ecologia profunda tem três vertentes: experiência
desacordos.
profunda, interrogação profunda e empenho
profundo. Constituindo um sistema interligando estas Para muitos a segunda premissa pode parecer
três vertentes, cria-se um «ecosophy» que não é mais estranha ou ser até difícil de aceitar. Será que todos
nada do que uma filosofia consciente de estar, pensar nós (seres humanos) partilhamos da mesma moral?
e agir no nosso mundo de forma harmoniosa. O termo Na nossa opinião, todos nós possuímos morais
«verde escuro» tem sido usado para descrever as diferentes. Somos nós próprios, influenciados pelas
crenças dos ecologistas profundos [ CITATION Sus19 \l condições da sociedade em que vivemos e pelas
2070 ]. pessoas que nos educam, que criamos a nossa própria
moral e valores. Por isso cada um de nós possuí uma
A tese que iremos defender é a tese da ecologia
moral diferente, ou seja, a nossa moral é diferente da
superficial, pois, concordamos que somos
moral da professora e das restantes pessoas, cada um
responsáveis pelos nossos atos e que estes se refletem
interpreta de modo diferente o que está certo e o que
nas gerações futuras.
está errado. Para muitos reciclar é uma medida
considerada correta, para melhorar a qualidade
Indicação do argumento ambiental. Contudo outros partilham de opiniões
principal. distintas e até podem considerar a invenção de carros
elétricos, uma melhor medida. Sendo que nós
 O mundo é um equilíbrio de inter-relações (Homens) não somos ninguém, moralmente, para
complexas em que a existência de organismos impor aos outros o que está certo ou errado.
depende da existência de outros dentro dos
Atentemos por último na conclusão. Nesta afirma-se,
ecossistemas. A intervenção humana ou a
então, a posição que nós defendemos neste ensaio,
destruição do mundo natural representa uma
que a responsabilidade ambiental não é uma
ameaça, portanto, não apenas para os seres
obrigação moral. A responsabilidade ambiental não
humanos, mas para todos os organismos que
deveria, na nossa opinião, ser dita como uma
constituem a ordem natural (ou seja, é a
obrigação moral, deveria ser nosso dever e não
crença de que o ambiente deve ser respeitado
obrigação salvar o que nos é mais precioso. Porque é
e considerado como tendo certos direitos de
2
que consideramos um dever e não uma obrigação?
Vejamos o seguinte exemplo: A professora recomenda
aos alunos, resolverem exercícios da página x (propõe
a realização de um trabalho de casa), no entanto os
trabalhos de casa não de se tratam de uma obrigação,
mas sim de um dever do aluno, pois este iria tirar
benefício de tal trabalho. E o mesmo acontece com a
tese que defendemos, pois, a nossa sociedade Figura 2-Modus Ponens.
enquadra-se, de acordo com a nossa perspetiva, num
ego superficial, isto é, o Homem é o topo da pirâmide Argumento secundário
e tudo o que faz é para tirar proveito (benefício) disso
(podendo ser esse proveito a sua própria 1. Se temos obrigações para com os mortos,
sobrevivência, podendo ser também a nível então temos obrigações com as
económico e financeiro, entre outros). Podemos ainda futuras / próprias gerações.
acrescentar que a responsabilidade ambiental não se 2. Temos obrigações para com os mortos.
trata de uma obrigação moral, visto que esta casa 3. Logo, temos obrigações com as futuras /
onde todos habitamos (Planeta Terra) pertence a próximas gerações.
todos nós e não apenas a um grupo restrito de
pessoas ou até mesmo a uma única pessoa. E as Este argumento demonstra-nos/diz-nos, utilizando o
pessoas podiam ainda argumentar que são livres e modus Ponens, que quando alguém morre temos
têm liberdade para escolher o que devem fazer obrigações para com essa pessoa, assim, como temos
(individualismo). Este argumento seria falso, porque com as gerações futuras. É verdade que temos
não se trata só de nós, mas sim de todos os que na obrigações para com os mortos, por exemplo:
Terra estão. Portanto, é de salientar, o facto de que devemos de proceder, quando alguém morre, ao seu
isto não se trata de individualismo (tal como diz o enterro e obter o certificado de óbito, entre outras
ditado: “Com o mal dos outros posso eu bem”), pois a coisas. Com as pessoas próximas gerações acontece o
Terra é um lugar que pertence a todos nós e como tal mesmo, ou seja, nós defendemos a tese da ecologia
será nosso dever protege-la e garantir a sua superficial (o Homem está no topo e tudo o que se faz
sustentabilidade, para que assim, não nos falte nada a é em função deste), deste modo é nosso dever
nós e às gerações futuras. garantir recursos para que os nossos filhos, netos,
bisnetos, etc, (gerações futuras) consigam sobreviver.
O argumento apresentado é dedutivamente válido e
sólido. Nós consideramos este argumento válido, uma
Podemos concluir então que este argumento é válido,
vez que a conclusão se segue das premissas, isto é, se
pois a conclusão deriva das premissas, isto é, se
aceitarmos as premissas como verdadeiras, somos
aceitarmos as premissas como verdadeiras, somos
levadas a aceitar a conclusão como verdadeira, o que
levadas a aceitar a conclusão como verdadeira e
se verifica. De seguida consideramos, também, o
podemos concluir, através da justificação que demos
argumento como sólido. Para este ser sólido, então o
anteriormente, que o argumento é sólido (isto é, as
argumento tinha que ser válido e ter premissas
premissas são verdadeiras).
verdadeiras. Pesamos que estes aspetos se tenham
verificado, quando recorremos à análise e discussão
de cada premissa e quando, anteriormente, Objeções contra o argumento
justificamos o facto de este ser válido. Assim,
podemos concluir que o argumento é sólido e, por
principal.
conseguinte, válido. Utilizamos ainda para construir o Defendemos a tese da ecologia superficial (que afirma
argumento principal uma inferência válida: Modus que o Homem apenas preserva o planeta, os
Ponens. ecossistemas nele presentes, os recursos que este
oferece, entre outros, se estes forem de valor para
ele). Apresentamos as seguintes objeções contra o
argumento principal:

3
- Não possuímos a mesma moral pois somos educados do pressuposto de que a nossa tese é a que está
em ambientes e por pessoas com personalidades e "correta”, o que podemos dizer é que, tem um fundo
consequentemente com morais diferentes entre si. No de verdade, mas como é óbvio, também tem as suas
entanto, a preocupação em ser ambientalmente objeções a serem questionadas (plausíveis e não
responsável devia estar presente em todos os seres plausíveis, sendo aquelas que apresentámos não
humanos, pelo simples facto de que o Homem plausíveis).
depende do meio ambiente que o envolve para
sobreviver. Podemos assim concluir que é nossa Referências
obrigação preservar o meio natural para o ser humano
desfrutar dos prazeres da natureza.

Não podemos basearmo-nos nesta objeção. Já foi


provado anteriormente que a responsabilidade
ambiental não é uma obrigação, mas sim um dever
(logo, não se trata de uma objeção plausível).

- Assim como o ser humano, os seres vivos também


necessitam uns dos outros para sobreviver, também
respiram e também necessitam de um habitat, logo, a
humanidade não pode «destruir e aproveitar-se» da
Mãe Natureza para o seu próprio bem e lazer, sem
antes tentar manter um equilíbrio de modo a não
danificar um ecossistema. Se o Homem acabar com
habitats que não lhe são úteis, não tardaram a
desaparecer outros materiais/seres vivos que por um
lado lhe são benéficos e necessários.

Esta objeção não é plausível. Atualmente o ser


humano possui recursos tecnológicos suficientes para
produzir os mais variados objetos e materiais, que
poderão substituir recursos do planeta, fazendo assim
com que não haja esgotamento desses recursos. Ou
ainda poderá tirar benefício da tecnologia avançada
para poder reparar os danos causados nos
ecossistemas. A evolução da tecnologia nas diversas
áreas exploradas pelo Homem (como por exemplo
medicina, mecânica ou até mesmo na indústria
alimentar) é um bom argumento contra a escassez de
recursos naturais.

Conclusão
Com tudo o que apresentamos aqui, poderemos,
finalmente, responder à pergunta: "Será
a responsabilidade ambiental uma obrigação moral?".
A nosso ver a responsabilidade ambiental não é uma
obrigação moral, mas sim um dever. Relativamente à
nossa posição neste ensaio filosófico, acreditamos
que o ser humano necessita do meio que o rodeia e
para isso vai ter de explora-lo (para sobreviver). Como
o ser humano necessita dele vai ter de o proteger,
cuidar, e sobretudo, preservar. Claro que
também temos de realçar que não podemos partir
4
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