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INTRODUÇÃO
Ecologia. Esse termo é a junção de duas palavras gregas: oikos, que significa “casa”
ou “habitação”, e logos, que quer dizer “estudo” ou “reflexão”. Ecologia é o estudo da casa,
do lugar onde se vive; é o estudo que se faz acerca das condições e relações que formam o
habitat e de cada um dos seres da natureza que vivem nesse habitat (PROENÇA, 2015, p. 05).
Como está nossa casa, o Brasil? Vivemos em um país continental em sua diversidade
cultural, étnica e ecológica. Nossa casa, no entanto, enfrenta grandes problemas. Nos últimos
dois anos (2019 e 2020), o Brasil presenciou uma série de críticas internacionais e midiáticas
sobre o desmatamento e as queimadas na floresta amazônica e no pantanal, bem como os
desastres ambientais e a maior crise sanitária.
No dia 25 de janeiro de 2019, ocorreu uma das maiores catástrofes ambientais de
nossa história, na cidade de Brumadinho-MG, onde uma barragem de rejeitos de mineração se
rompeu, matando 257 pessoas. No final de fevereiro de 2020, vivenciamos o início de uma
pandemia, a COVID-19 que acarretou, não somente uma crise de saúde, mas uma crise
sistêmica: economia, política, educação e ambiental. Nesse exato momento, segundo a JHU
CSSE COVID-191, o Brasil contabiliza 8 milhões de casos, e mais de 200 mil mortes,
ocasionado pelo COVID-19. Outras crises ocorrem em nossa casa: falta de saneamento
básico, grandes depósitos de lixo a céu aberto, desperdício de recursos hídricos e minerais,
falta de área para plantio somado à degradação de grandes reservas ambientais etc.
A natureza, por sua vez, “responde” às ações dos seres humanos: aquecimento dos
oceanos, chuva ácida, efeito estufa, estiagem, inundações, desertificação do solo, proliferação
de doenças infectocontagiosas etc. Vivemos uma crise ecológica global. Diariamente os meios
midiáticos apresentam uma nova notícia ou estatística sobre esse assunto. Infelizmente,
ficamos acostumados com tudo isso. Não só nos acostumamos, mas nos tornamos apáticos:
apáticos com a ecologia, apáticos com o próximo, apáticos com nós mesmos, apáticos com a
vida!
O apóstolo S. João afirma que Jesus é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6).
Atualmente, enfatizamos Jesus em diversas vertentes ideológicas e religiosas, menos na visão
de mundo que ele propôs nas Escrituras: ele é a vida plena. Vida eterna e de amor. Nesse
sentido, podemos concordar com Jürgen Molmann:
Onde está Jesus, há vida. Plena, amorosa e eterna. Ao falarmos em vida também nos
referimos à morte: [...] o mal e o sofrimento não são maus, mas a indiferença, a
apatia. A apatia, para o médico, é um sinal de doença. O paciente mostra-se
esgotado. Desinteressa-se. Desaparecem-lhe os sentimentos. Não reage as visitas.
Não escuta o que lhe falam. Submerge em fria indiferença. [...] diminui o interesse
pela vida. Quem vive na comunhão com este Deus apaixonado não pode
permanecer apático. Determina-se por ele. Sofre com o sofrimento de Deus no
mundo; alegra-se com suas alegrias. [...] unindo-se ao amor de Deus, [o ser humano]
participa intensamente desses sentimentos. (MOLTMANN, 1978, p. 11)
A vida é algo que está sendo sufocada pela indiferença e pela apatia. Os temas como
“ecologia”, “meio ambiente”, e “criação” são um claro exemplo dessa indiferença. Não tem a
ver somente com lutar pela preservação do mico-leão-dourado, por exemplo.; inclui as
relações recíprocas entre o homem e seu meio moral, social, econômico, especialmente sob a
ótica do impacto que essas relações causam na sua inter-relação com os demais componentes
do meio ambiente. A apatia, por sua vez, prejudica todas essas relações promovendo morte.
(PROENÇA, 2015, p. 05).
1
Acesso em 23 de dezembro de 2020.
Meio ambiente, ecologia, educação ambiental e sustentabilidade não estão atrelados a
uma questão de mudança de comportamento, mas uma mudança de relacionamento, uma
mudança de cosmovisão; entretanto, existem inúmeras cosmovisões: naturalista, panteísta,
animista, ateísta etc. A cosmovisão cristã afirma que Deus criou o mundo em uma dinâmica
de relacionamento de amor. Ele também criou a humanidade à sua “imagem e semelhança”
onde esta desempenha a função de Deus – amar incondicionalmente o próximo e o mundo.
Esse amor se desenvolve no imperativo dar: seja através de um sermão, seja através das
experiências em sala de aula. A escola e a igreja são nichos férteis para se desenvolver uma
educação ambiental e sustentável!
Para que haja uma sincronia teológico-pedagógico, Jesus Cristo mediará tal embate.
Ser igual a Cristo implica primordialmente em ser humano. Cristo é o maior exemplo de
humanidade. Quando nos assemelhamos a ele, propagamos a vida, a plena vida em todos os
aspectos: vida nos relacionamentos, vida no púlpito, vida na sala de aula, vida na criação, vida
eterna com Deus. Dessa forma, podemos desenvolver uma reforma e uma transformação em
nossa cosmovisão em relação à ecologia.
Para que possamos iniciar nosso diálogo, reflexão e ação, precisamos compreender os
pressupostos elementares e conceituais, breve histórico e principalmente os objetivos de se
compreender a educação ambiental. Aproveite para anotar, grifar e destacar tais conceitos!
Bons estudos!
1 OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM VISÃO MULTIDISPLINAR
Existe uma frase que foi proferida por Getúlio Vargas: “deixar como está, pra ver
como é que fica”. Muitos pensam que educação ambiental significa apenas preservar a
Amazônia e consumir menos recursos não-renováveis, por exemplo.; ou olhar com
negacionismo especulativo ou passividade, acreditando que no fim “Deus dará um jeito” no
mundo. A questão da educação ambiental é apenas uma das muitas engrenagens que precisam
ser restauradas em nosso mundo. Em 1975 foi realizado um importante seminário na cidade
de Belgrado, capital da antiga Iugoslávia, contando com a presença de diversos especialistas -
biólogos, geógrafos, educadores, historiadores, entre outros -, que de maneira interdisciplinar
escreveram a “A Carta de Belgrado” (UNESCO/PNUMA, 1975), vejamos um trecho:
Nesse sentido, temos a oportunidade de refletir para agir criticamente, como fim de
contribuir para a restauração desses relacionamentos, principalmente o relacionamento com a
terra. Voltando à Carta de Belgrado, e com base nela, poderemos sintetizar os objetivos
específicos para a educação ambiental, ampliando os horizontes e comentando os tópicos
propostos pela carta.
1.1 Tomada de consciência.
1.2 Conhecimento
Ajudar às pessoas e aos grupos sociais a adquirir uma compreensão básica do meio
ambiente em sua totalidade, dos problemas associados e da presença e função da
humanidade neles, o que necessita uma responsabilidade crítica (Id. 1975, p. 2).
Vemos e agimos com base em uma cosmovisão (visão de mundo). Muitas vezes
enxergamos com as lentes que distorcem o real entendimento do que significa ser humano e
qual é o propósito do meio ambiente em que vive. Como educadores, podemos mediar o
conhecimento, oferecendo lentes corretas para que todos consigam enxergar o meio ambiente
de forma consciente e sustentável, por exemplo. No campo teológico, a Teologia da Criação é
uma ferramenta e uma chave hermenêutica necessária para o entendimento da missão de Deus
e seu propósito para a humanidade e para o cosmo. Sobre a questão de cosmovisão e meio
ambiente, destinaremos uma aula para compreender o temática. No campo da Pedagogia, a
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta que na área de Ciências da Natureza,
campo do Ensino Fundamental, tem como objetivo desenvolver o letramento científico como
forma de promover a educação integral:
1.3 Atitudes
1.4 Aptidões
Sobre as medidas e programas que vemos no dia a dia, Boff (2017, p. 44) afirma:
1.6 Participação
Reigota (2017, p. 23) inicia a discussão, por meio da definição de Pierre Jorge (1909
—1906) sobre meio ambiente como “conjunto de dados fixos e dos equilíbrios de forças
concorrentes que condicionam a vida de um grupo biológico”. Essa definição apresenta uma
lógica darwinista2, em que “a unidade na hierarquia da vida que sobrevive e passa pelo filtro
da seleção natural tenderá a ser egoísta” (BISHOP, 2018, p. 866). Reigota apresenta ainda a
definição do ecólogo belga Paul Duvigneaud (1913—1991), de que o meio ambiente “é
composto por dois aspectos: 1) o meio ambiente abiótico físico e químico e 2) o meio
ambiente biótico” (REIGOTA, 2017, p. 24). Esses dois aspectos são estudados pelo viés da
Biologia, Geologia, Química, Física e demais ciências que se ocupam das questões animadas
e inanimadas.
Nesse paradoxo conceitual, podemos apresentar o que Reigota (2017, p. 25) entende:
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Charles Darwin foi um cientista inglês que estudou a natureza e se tornou célebre por sua teoria da evolução
por meio da seleção natural. De acordo com essa teoria, todos os seres vivos estão em uma constante luta para
sobreviver. Aqueles que possuem as características mais úteis em seu ambiente tendem a permanecer. Esses
seres vivos então transmitem tais características úteis à prole (isto é, seus filhos). Dessa maneira, os animais se
transformam, ou evoluem, ao longo de centenas de anos. Darwin apresentou essas ideias em seu importante livro
Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural ou A conservação das raças favorecidas na luta pela
vida (1859), mais conhecido como A origem das espécies (2004). (Charles Darwin. In Britannica Escola. Web,
2020. Disponível em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/Charles-Darwin/481114>. Acesso em: 23 de
dezembro de 2020).
Defino meio ambiente como: um lugar determinado e/ou percebido onde estão em
relação dinâmica e em constante interação os aspectos naturais e sociais. Essas
relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos
e políticos de transformações da natureza e da sociedade.
Lugar, relação dinâmica, interação entre aspectos naturais e sociais são questões
norteadoras para o entendimento sobre o que é meio ambiente. Compreendendo, de forma
introdutória, o que é meio ambiente precisamos compreender ética.
Nessa disciplina, o outro é o meio ambiente. Sobre ética ambiental, Tracy (2018, p.
843) conceitua como “o estudo dos princípios e padrões relativos à relação moral entre os
humanos e a natureza”.
Nesse sentido, Stott (2019) aponta cinco áreas principais da preocupação ambiental.
Essas áreas não são isoladas, mas relacionadas entre si de forma concomitante, as quais são:
crescimento populacional, esgotamento de recursos, redução da biodiversidade, descarte de
lixo e mudança climática. A natureza não produz lixo, assim como ela não se autodestrói
esgotando os recursos. Há uma relação entre sociedade e ambiente, que vão além dos
conceitos meramente darwinianos. São questões de ordem física, moral, cultural, institucional
e cultural.
O homem é a única parte da criação feita à imagem de Deus. Isso está associado a uma
capacidade “qualitativamente única para estabelecer relacionamentos interpessoais”
(BLOMBERG, 2009, p. 34). Não conseguimos ser humano sozinhos, sempre estamos em
uma variedade de relacionamentos.
Os seres humanos são criados para Deus, para outros seres humanos e para o mundo.
Ser cristão, ou desenvolver uma cosmovisão cristã, é recuperar, eticamente, a verdadeira
intencionalidade de Deus para o homem, que é ser humano. Ser humano é se importar e
vivenciar o relacionamento com Deus, com os outros e com a terra. Ser a “imagem e
semelhança” de Deus é viver em termos funcionais para com o trato na criação, administrando
e agindo em mordomia. Mordomia será um tema específico que discutiremos nas aulas
posteriores.
A ética ambiental pode ser pensada na maneira como uma pessoa (ou grupo de
pessoas) atribui valor à natureza e como se relaciona com ela. As opiniões modernas sobre a
ética ambiental cristã (muitas vezes denominada “cuidados com a criação” ou “governança
ambiental cristã”) são largamente enraizadas nas Escrituras, mas também são influenciadas
por pontos de vista seculares (TRACY, 2018, p, 821).
4 O QUE É ECOLOGIA?
Há uma confusão conceitual sobre ecologia e educação ambiental. Para Reigota (2017,
p. 23) ecologia “é uma ciência que estuda as relações entre os seres vivos e o seu ambiente
físico e natural”. Ecologia é o estudo das relações entre os seres vivos e o que está ao redor
deles, ou seja, o ambiente (também chamado de meio, ou meio ambiente). Os cientistas que
trabalham com ecologia são os ecologistas. Eles examinam de que maneira os seres vivos
dependem uns dos outros para viver e também como esses seres usam os recursos naturais,
como o ar, o solo e a água, para dar continuidade à vida. Podemos perceber, de forma
indireta, a alusão ao termo relação: os seres dependem um dos outros. Nesse aspecto, a ideia
do ecologismo, segundo Lago e Pádua (2017, p. 108):
é de que a resolução da atual crise ecológica não poderá ser concretizada apenas
com medidas parciais de conservação ambiental, mas sim através de uma ampla
mudança na economia, na cultura e na própria maneira de os homens se
relacionarem entre si e com a natureza.
Em 2015, foi estabelecido o Acordo de Paris, um tratado que tem como objetivo
combater as mudanças climáticas e fortalecer a capacidade dos países em lidar com os efeitos
desse fenômeno.
6.1 LAGO, Antônio; PÁDUA, José Augusto Pádua. O que é ecologia. São Paulo: Editora
Brasiliense, 2017.
Link: https://drive.google.com/open?id=1mB8uwxrS2Bo8gYeWvhkG7iKEphreXT4T
6.2 REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Editora Brasiliense, 2017.
Reigota propõe a educação ambiental como educação política através das relações
econômicas, sociais e culturais entre a humanidade e o meio ambiente. Destacamos alguns
textos que aprofundam o assunto sobre educação ambiental: breve histórico da educação
ambiental e como esta se desenvolveu; e definição de meio ambiente, através de uma leitura
histórica sobre o conceito.
Link: https://drive.google.com/open?id=101CTlJeq_McZoYkAbcN8L0YsRW_gDUpG
6.3 TRACY, Todd. Ética ambiental. In: Dicionário de cristianismo e ciência, ed. Paul
Copan, Tremper Longmann III, Christopher L. Reese e Michael G. Strauss. Rio de Janeiro:
Thomas Nelson, 2018.
Importante artigo sobre a definição mais aprofundada de ética ambiental. Tracy propõe
alguns tópicos importantes: valor utilitário da natureza; valor intrínseco da natureza e valor
teísta da natureza. O autor aborda o conceito de mordomia cristã e como esta é um valor
importantíssimo para as questões ambientais.
Link: https://drive.google.com/open?id=1SFL2pPapZ7cEHK8PrECoXFEwjYNKpQq8
CONCLUSÃO
Vimos, nesta unidade, alguns conceitos elementares que nortearão nosso entendimento
nas próximas aulas. Foi possível perceber que o modus operandi do meio ambiente é um
relacionamento correto e ético. Há uma relação dinâmica entre aspectos naturais e sociais.
Essa relação dinâmica exige um relacionamento sustentável. Mas, o que é sustentabilidade?
Veremos na próxima aula.
REFERÊNCIAS