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Curso de Bacharelado em Teologia EAD

Disciplina de Meio Ambiente e Sustentabilidade

Prof. Esp. Cristiano Nickel Jr.

UNIDADE 1 – CONCEITOS ELEMENTARES

 Oportunizar reflexões críticas acerca de conceitos fundamentais e


OBJETIVOS DE elementares sobre meio ambiente, ética ambiental, ecologia e educação
APRENDIZAGEM ambiental.
 Conhecer, as principais conferências e protocolos ambientais mundiais.
INTRODUÇÃO
1 OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA ABORDAGEM
MULTIDISCPLINAR
2. O QUE É MEIO AMBIENTE?
ROTEIRO DE 3. O QUE É ÉTICA AMBIENTAL
ESTUDO 4. O QUE É ECOLOGIA?
5. BREVE HISTÓRICO DOS PROTOCOLOS AMBIENTAIS
6. SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS

INTRODUÇÃO

Ecologia. Esse termo é a junção de duas palavras gregas: oikos, que significa “casa”
ou “habitação”, e logos, que quer dizer “estudo” ou “reflexão”. Ecologia é o estudo da casa,
do lugar onde se vive; é o estudo que se faz acerca das condições e relações que formam o
habitat e de cada um dos seres da natureza que vivem nesse habitat (PROENÇA, 2015, p. 05).
Como está nossa casa, o Brasil? Vivemos em um país continental em sua diversidade
cultural, étnica e ecológica. Nossa casa, no entanto, enfrenta grandes problemas. Nos últimos
dois anos (2019 e 2020), o Brasil presenciou uma série de críticas internacionais e midiáticas
sobre o desmatamento e as queimadas na floresta amazônica e no pantanal, bem como os
desastres ambientais e a maior crise sanitária.
No dia 25 de janeiro de 2019, ocorreu uma das maiores catástrofes ambientais de
nossa história, na cidade de Brumadinho-MG, onde uma barragem de rejeitos de mineração se
rompeu, matando 257 pessoas. No final de fevereiro de 2020, vivenciamos o início de uma
pandemia, a COVID-19 que acarretou, não somente uma crise de saúde, mas uma crise
sistêmica: economia, política, educação e ambiental. Nesse exato momento, segundo a JHU
CSSE COVID-191, o Brasil contabiliza 8 milhões de casos, e mais de 200 mil mortes,
ocasionado pelo COVID-19. Outras crises ocorrem em nossa casa: falta de saneamento
básico, grandes depósitos de lixo a céu aberto, desperdício de recursos hídricos e minerais,
falta de área para plantio somado à degradação de grandes reservas ambientais etc.
A natureza, por sua vez, “responde” às ações dos seres humanos: aquecimento dos
oceanos, chuva ácida, efeito estufa, estiagem, inundações, desertificação do solo, proliferação
de doenças infectocontagiosas etc. Vivemos uma crise ecológica global. Diariamente os meios
midiáticos apresentam uma nova notícia ou estatística sobre esse assunto. Infelizmente,
ficamos acostumados com tudo isso. Não só nos acostumamos, mas nos tornamos apáticos:
apáticos com a ecologia, apáticos com o próximo, apáticos com nós mesmos, apáticos com a
vida!
O apóstolo S. João afirma que Jesus é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6).
Atualmente, enfatizamos Jesus em diversas vertentes ideológicas e religiosas, menos na visão
de mundo que ele propôs nas Escrituras: ele é a vida plena. Vida eterna e de amor. Nesse
sentido, podemos concordar com Jürgen Molmann:

Onde está Jesus, há vida. Plena, amorosa e eterna. Ao falarmos em vida também nos
referimos à morte: [...] o mal e o sofrimento não são maus, mas a indiferença, a
apatia. A apatia, para o médico, é um sinal de doença. O paciente mostra-se
esgotado. Desinteressa-se. Desaparecem-lhe os sentimentos. Não reage as visitas.
Não escuta o que lhe falam. Submerge em fria indiferença. [...] diminui o interesse
pela vida. Quem vive na comunhão com este Deus apaixonado não pode
permanecer apático. Determina-se por ele. Sofre com o sofrimento de Deus no
mundo; alegra-se com suas alegrias. [...] unindo-se ao amor de Deus, [o ser humano]
participa intensamente desses sentimentos. (MOLTMANN, 1978, p. 11)

A vida é algo que está sendo sufocada pela indiferença e pela apatia. Os temas como
“ecologia”, “meio ambiente”, e “criação” são um claro exemplo dessa indiferença. Não tem a
ver somente com lutar pela preservação do mico-leão-dourado, por exemplo.; inclui as
relações recíprocas entre o homem e seu meio moral, social, econômico, especialmente sob a
ótica do impacto que essas relações causam na sua inter-relação com os demais componentes
do meio ambiente. A apatia, por sua vez, prejudica todas essas relações promovendo morte.
(PROENÇA, 2015, p. 05).

1
Acesso em 23 de dezembro de 2020.
Meio ambiente, ecologia, educação ambiental e sustentabilidade não estão atrelados a
uma questão de mudança de comportamento, mas uma mudança de relacionamento, uma
mudança de cosmovisão; entretanto, existem inúmeras cosmovisões: naturalista, panteísta,
animista, ateísta etc. A cosmovisão cristã afirma que Deus criou o mundo em uma dinâmica
de relacionamento de amor. Ele também criou a humanidade à sua “imagem e semelhança”
onde esta desempenha a função de Deus – amar incondicionalmente o próximo e o mundo.
Esse amor se desenvolve no imperativo dar: seja através de um sermão, seja através das
experiências em sala de aula. A escola e a igreja são nichos férteis para se desenvolver uma
educação ambiental e sustentável!

Ecologia é uma questão primariamente teológica – precisamos transformar nossa


cosmovisão em uma cosmovisão cristã moldada pelas Escritura. Em segundo lugar é
pedagógico. Não é possível desenvolver uma consciência (ou cosmovisão) correta de meio
ambiente e sustentabilidade, sem os pressupostos didático-pedagógicos que o a educação
regular possa oferecer.

Para que haja uma sincronia teológico-pedagógico, Jesus Cristo mediará tal embate.
Ser igual a Cristo implica primordialmente em ser humano. Cristo é o maior exemplo de
humanidade. Quando nos assemelhamos a ele, propagamos a vida, a plena vida em todos os
aspectos: vida nos relacionamentos, vida no púlpito, vida na sala de aula, vida na criação, vida
eterna com Deus. Dessa forma, podemos desenvolver uma reforma e uma transformação em
nossa cosmovisão em relação à ecologia.
Para que possamos iniciar nosso diálogo, reflexão e ação, precisamos compreender os
pressupostos elementares e conceituais, breve histórico e principalmente os objetivos de se
compreender a educação ambiental. Aproveite para anotar, grifar e destacar tais conceitos!

Bons estudos!
1 OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM VISÃO MULTIDISPLINAR

Existe uma frase que foi proferida por Getúlio Vargas: “deixar como está, pra ver
como é que fica”. Muitos pensam que educação ambiental significa apenas preservar a
Amazônia e consumir menos recursos não-renováveis, por exemplo.; ou olhar com
negacionismo especulativo ou passividade, acreditando que no fim “Deus dará um jeito” no
mundo. A questão da educação ambiental é apenas uma das muitas engrenagens que precisam
ser restauradas em nosso mundo. Em 1975 foi realizado um importante seminário na cidade
de Belgrado, capital da antiga Iugoslávia, contando com a presença de diversos especialistas -
biólogos, geógrafos, educadores, historiadores, entre outros -, que de maneira interdisciplinar
escreveram a “A Carta de Belgrado” (UNESCO/PNUMA, 1975), vejamos um trecho:

Nossa geração tem testemunhado um crescimento econômico e um processo


tecnológico sem precedentes, os quais, ao tempo em que trouxeram benefícios para
muitas pessoas, produziram também serias conseqüências ambientais e sociais. As
desigualdade entre pobres e ricos nos países, e entre países, estão crescendo e há
evidências de crescente deterioração do ambiente físico num escala mundial. Essas
condições, embora primariamente causadas por número pequeno de países, afetam
toda humanidade.

Quarenta e cinco anos depois, observamos que a constatação introdutória da Carta de


Belgrado se faz, em escala alarmante, presente nos tempos atuais. Vivemos um problema de
relacionamento: as relações humanas estão fragmentadas, sob a égide da exploração e da
desigualdade social (BAUMAN, 2001); essas relações (ou a ruptura delas) afetam o ambiente,
por meio da degradação dos recursos naturais, bem como a poluição e destruição de
ecossistemas (BOFF, 2017). Veremos que a espinha dorsal de nossa disciplina será a palavra-
chave “relacionamento”. E veremos, por meio da teoria/prática, que as crises que vivemos na
atualidade são consequências das relações que o ser humano tem com Deus, consigo mesmo,
com o próximo e com a terra.

Nesse sentido, temos a oportunidade de refletir para agir criticamente, como fim de
contribuir para a restauração desses relacionamentos, principalmente o relacionamento com a
terra. Voltando à Carta de Belgrado, e com base nela, poderemos sintetizar os objetivos
específicos para a educação ambiental, ampliando os horizontes e comentando os tópicos
propostos pela carta.
1.1 Tomada de consciência.

Ajudar às pessoas e aos grupos sociais a adquirir maior sensibilidade e consciência


do meio ambiente em geral e dos problemas (UNESCO/PNUMA, 1975, p. 2).

O papel da teologia corresponde a diagnosticar o problema da crise ambiental, através


de uma hermenêutica bíblica que possibilite desenvolver o conceito de mordomia cristã por
meio de uma teologia da missão que enfatize o cuidado com a criação (DYKE et al., 1999).
Em relação à educação, as Ciências da Natureza, as Ciências Humanas, as Linguagens e o
Ensino Religioso (áreas de conhecimento, segundo a BNCC), trabalham com temas
transversais como educação ambiental e educação para o consumo (BNCC, 2018). A
psicologia, por sua vez, aponta diagnósticos sobre motivação social, atitudes e estereótipos do
comportamento do ser humano em relação ao ambiente em que vive (DAVIDOFF, 2001).

1.2 Conhecimento

Ajudar às pessoas e aos grupos sociais a adquirir uma compreensão básica do meio
ambiente em sua totalidade, dos problemas associados e da presença e função da
humanidade neles, o que necessita uma responsabilidade crítica (Id. 1975, p. 2).

Vemos e agimos com base em uma cosmovisão (visão de mundo). Muitas vezes
enxergamos com as lentes que distorcem o real entendimento do que significa ser humano e
qual é o propósito do meio ambiente em que vive. Como educadores, podemos mediar o
conhecimento, oferecendo lentes corretas para que todos consigam enxergar o meio ambiente
de forma consciente e sustentável, por exemplo. No campo teológico, a Teologia da Criação é
uma ferramenta e uma chave hermenêutica necessária para o entendimento da missão de Deus
e seu propósito para a humanidade e para o cosmo. Sobre a questão de cosmovisão e meio
ambiente, destinaremos uma aula para compreender o temática. No campo da Pedagogia, a
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta que na área de Ciências da Natureza,
campo do Ensino Fundamental, tem como objetivo desenvolver o letramento científico como
forma de promover a educação integral:

Para debater e tomar posição sobre alimentos, medicamentos, combustíveis,


transportes, comunicações, contracepção, saneamento e manutenção da vida na
Terra, entre muitos outros temas, são imprescindíveis tanto conhecimentos éticos,
políticos e culturais quanto científicos. Isso por si só já justifica, na educação formal,
a presença da área de Ciências da Natureza, e de seu compromisso com a formação
integral dos alunos.
Portanto, ao longo do Ensino Fundamental, a área de Ciências da Natureza tem um
compromisso com o desenvolvimento do letramento científico, que envolve a
capacidade de compreender e interpretar o mundo (natural, social e tecnológico),
mas também de transformá-lo com base nos aportes teóricos e processuais das
ciências.

Para a psicologia, a definição de meio é “designa o espaço vital de um indivíduo, de


um grupo, ou de uma espécie. [...] conjunto de condições externas, físicas e sociais, que
contribuem para determinar condutas de um organismo e influenciam o seu desenvolvimento”
(DORON E PAROT, 2002, p. 490).

Integral. Essa é a palavra-chave tanto para o campo da pedagogia, quanto no campo da


teologia. Se não agirmos na integralidade do mundo, não teremos efetividade visão
sustentável de mundo, bem como na educação ambiental. Perceberemos isso, no decorrer do
curso.

1.3 Atitudes

Ajudar às pessoas e aos grupos sociais a adquirir valores sociais e um profundo


interesse pelo meio ambiente que os impulsione a participar ativamente na sua
proteção e melhoria (UNESCO/PNUMA, 1975, p. 2).

Teoria e prática. São dois elementos indispensáveis para um educação ambiental


efetiva. Nesta e nas próximas aulas, promoveremos algumas questões que gere atitude e que
vá além da questão retórica.

1.4 Aptidões

Ajudar às pessoas e aos grupos sociais a adquirir as aptidões necessárias para


resolver os problemas ambientais (Id., 1975, p. 3).
Esse tópico é a razão de termos em nossa matriz de pedagogia, psicologia e teologia a
disciplina de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Longe de esgotarmos o assunto, veremos,
introdutoriamente, questões que nos habilitem a iniciar um processo de educação ambiental.

1.5 Capacidade de avaliação.

Ajudar às pessoas e aos grupos sociais a avaliar as medidas e os programas de


educação ambiental em função dos fatores ecológicos, políticos, sociais, estéticos e
educativos (Id., 1975, p. 3).

Sobre as medidas e programas que vemos no dia a dia, Boff (2017, p. 44) afirma:

O que frequentemente ocorre é certa falsidade ecológica ao se usar a palavra


sustentabilidade para ocultar problemas de agressão à natureza, de contaminação
química dos alimentos e de marketing comercial apenas para vender e lucrar. A
maioria daquilo que vem anunciado como sustentável geralmente não o é. Pelo
menos em algum estágio do ciclo de vida de um produto aparece o elemento
perturbador das toxinas ou dos resíduos não degradáveis. O que se pratica com mais
frequência é o greenwash (“pintar de verde” para iludir o consumidor que busca
produtos não quimicalizados). Por isso impõe-se senso crítico e uma compreensão
mais apurada para saber o que é sustentabilidade e o que não é.

O autor faz uma seríssima acusação, avaliando as intenções de grandes empresas em


apenas colocar nos rótulos propagandísticos com a palavra “sustentabilidade”. Veremos esse
tópico mais adiante. Sustentabilidade não é uma engrenagem “disfarçada” de bons modos
para o lucro das empresas. Sustentabilidade é uma grande engrenagem que envolve a nossa
sobrevivência nesta Terra.

1.6 Participação

Ajudar às pessoas e aos grupos sociais a desenvolver seu sentido de


responsabilidade e a tomar consciência da urgente necessidade de prestar atenção
aos problemas ambientais, para assegurar que sejam adotadas medidas adequadas
(UNESCO/PNUMA, 1975, p. 3).

O curso de Meio Ambiente e Sustentabilidade foi desenvolvido para uma questão


participativa, do micro para o macro: eu, minha família, minha escola/igreja, minha cidade,
meu estado, meu país e o meu planeta. Não podemos viver a utopia de que participaremos de
um congresso da UNESCO, mas podemos participar da seletividade e da responsabilidade
com a lixeira da nossa casa.

2 O QUE É MEIO AMBIENTE?

Reigota (2017, p. 23) inicia a discussão, por meio da definição de Pierre Jorge (1909
—1906) sobre meio ambiente como “conjunto de dados fixos e dos equilíbrios de forças
concorrentes que condicionam a vida de um grupo biológico”. Essa definição apresenta uma
lógica darwinista2, em que “a unidade na hierarquia da vida que sobrevive e passa pelo filtro
da seleção natural tenderá a ser egoísta” (BISHOP, 2018, p. 866). Reigota apresenta ainda a
definição do ecólogo belga Paul Duvigneaud (1913—1991), de que o meio ambiente “é
composto por dois aspectos: 1) o meio ambiente abiótico físico e químico e 2) o meio
ambiente biótico” (REIGOTA, 2017, p. 24). Esses dois aspectos são estudados pelo viés da
Biologia, Geologia, Química, Física e demais ciências que se ocupam das questões animadas
e inanimadas.

Para ampliar os horizontes conceituais, Reigota, utilizando o conceito de Norbert


Silliamy (1926), propõe meio-ambiente como o “que cerca um indivíduo ou um grupo,
englobando o meio cósmico, geográfico, físico e o meio social com as suas instituições, sua
cultura, seus valores”. A visão de Silliamy é mais ampla e apresenta uma abordagem mais
integral de meio ambiente. Precisamos compreender cientificamente as questões biológicas,
geológicas, e demais instrumentos que se ocupam das questões bióticas e abióticas. Silliamy
amplia o horizonte sobre meio ambiente agregando questões sociológicas, políticas e
culturais.

Nesse paradoxo conceitual, podemos apresentar o que Reigota (2017, p. 25) entende:

2
Charles Darwin foi um cientista inglês que estudou a natureza e se tornou célebre por sua teoria da evolução
por meio da seleção natural. De acordo com essa teoria, todos os seres vivos estão em uma constante luta para
sobreviver. Aqueles que possuem as características mais úteis em seu ambiente tendem a permanecer. Esses
seres vivos então transmitem tais características úteis à prole (isto é, seus filhos). Dessa maneira, os animais se
transformam, ou evoluem, ao longo de centenas de anos. Darwin apresentou essas ideias em seu importante livro
Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural ou A conservação das raças favorecidas na luta pela
vida (1859), mais conhecido como A origem das espécies (2004). (Charles Darwin. In Britannica Escola. Web,
2020. Disponível em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/Charles-Darwin/481114>. Acesso em: 23 de
dezembro de 2020).
Defino meio ambiente como: um lugar determinado e/ou percebido onde estão em
relação dinâmica e em constante interação os aspectos naturais e sociais. Essas
relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos
e políticos de transformações da natureza e da sociedade.

Lugar, relação dinâmica, interação entre aspectos naturais e sociais são questões
norteadoras para o entendimento sobre o que é meio ambiente. Compreendendo, de forma
introdutória, o que é meio ambiente precisamos compreender ética.

3 O QUE É ÉTICA AMBIENTAL?

Segundo o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa (2001), ética é “que é aceitável


do ponto de vista moral”, e um “conjunto de normas morais”. Para Barros Filho e Pompeu
(2013, p. 19-20), o objeto da ética é a convivência, na qual os saberes para a manutenção da
vida envolvem o outro. Ética é uma questão de relacionamento. Não é ético eu xingar meus
alunos, assim como não é ético jogar bituca de cigarro na rodovia. Se eu xingar os meus
alunos, além de magoá-los e deixá-los perplexos, passarei pelas sanções jurídicas, correndo o
risco de perder meu trabalho. Se eu jogar bituca de cigarro na rodovia, sofrerei as sanções de
ocasionar um grande incêndio e dificultar a visibilidade dos demais motoristas, podendo
ocasionar um grande acidente. Tudo que eu faço envolve o outro. Se envolve o outro é
necessário um repertório de condutas que mantenham a manutenção da vida.

Nessa disciplina, o outro é o meio ambiente. Sobre ética ambiental, Tracy (2018, p.
843) conceitua como “o estudo dos princípios e padrões relativos à relação moral entre os
humanos e a natureza”.

Vivemos num tempo de relacionamentos fragmentados e agressivos em diversas


esferas sociais e ambientais. Mackintosh (2004, p.94-96) define as ideologias na vida do
homem pós-moderno: materialismo, hedonismo, permissividade, relativismo, niilismo e
consumismo. O materialismo cancela os valores éticos - “ter” acima do “ser” ou “ter” para
“ser” -, ou seja, a cultura que retroalimenta o individualismo solapa a ética. Nesse sentido, os
problemas ambientais são resultados dos valores éticos deturpados (ou cancelados). O
consumo está acima da preservação, o individualismo está acima do “ser em sociedade”.

Nesse sentido, Stott (2019) aponta cinco áreas principais da preocupação ambiental.
Essas áreas não são isoladas, mas relacionadas entre si de forma concomitante, as quais são:
crescimento populacional, esgotamento de recursos, redução da biodiversidade, descarte de
lixo e mudança climática. A natureza não produz lixo, assim como ela não se autodestrói
esgotando os recursos. Há uma relação entre sociedade e ambiente, que vão além dos
conceitos meramente darwinianos. São questões de ordem física, moral, cultural, institucional
e cultural.

Os termos “relação dinâmica” e “interação” são adjetivos de suma importância para


compreender meio-ambiente. Esses termos estão presentes na cosmovisão cristã,
especialmente na interpretação de Gênesis – a criação da humanidade como “imagem e
semelhança de Deus” (Gn 1.26-28) é o ponto central dessa narrativa. Ser “imagem e
semelhança” de Deus significa que o homem possui a “capacidade de receber a
responsabilidade de dominar sobre o restante da ordem criada”; tem a ver com a função da
humanidade que é semelhante à função de Deus para com a criação – a inteligência, a
moralidade e a criatividade para dominar e cuidar da criação com liberdade e responsabilidade
(WRIGHT, 2012, p. 60-62; GOHEEN, 2017, p. 42-45).

O homem é a única parte da criação feita à imagem de Deus. Isso está associado a uma
capacidade “qualitativamente única para estabelecer relacionamentos interpessoais”
(BLOMBERG, 2009, p. 34). Não conseguimos ser humano sozinhos, sempre estamos em
uma variedade de relacionamentos.

Os seres humanos são criados para Deus, para outros seres humanos e para o mundo.
Ser cristão, ou desenvolver uma cosmovisão cristã, é recuperar, eticamente, a verdadeira
intencionalidade de Deus para o homem, que é ser humano. Ser humano é se importar e
vivenciar o relacionamento com Deus, com os outros e com a terra. Ser a “imagem e
semelhança” de Deus é viver em termos funcionais para com o trato na criação, administrando
e agindo em mordomia. Mordomia será um tema específico que discutiremos nas aulas
posteriores.

A ética ambiental pode ser pensada na maneira como uma pessoa (ou grupo de
pessoas) atribui valor à natureza e como se relaciona com ela. As opiniões modernas sobre a
ética ambiental cristã (muitas vezes denominada “cuidados com a criação” ou “governança
ambiental cristã”) são largamente enraizadas nas Escrituras, mas também são influenciadas
por pontos de vista seculares (TRACY, 2018, p, 821).
4 O QUE É ECOLOGIA?

Há uma confusão conceitual sobre ecologia e educação ambiental. Para Reigota (2017,
p. 23) ecologia “é uma ciência que estuda as relações entre os seres vivos e o seu ambiente
físico e natural”. Ecologia é o estudo das relações entre os seres vivos e o que está ao redor
deles, ou seja, o ambiente (também chamado de meio, ou meio ambiente). Os cientistas que
trabalham com ecologia são os ecologistas. Eles examinam de que maneira os seres vivos
dependem uns dos outros para viver e também como esses seres usam os recursos naturais,
como o ar, o solo e a água, para dar continuidade à vida. Podemos perceber, de forma
indireta, a alusão ao termo relação: os seres dependem um dos outros. Nesse aspecto, a ideia
do ecologismo, segundo Lago e Pádua (2017, p. 108):

é de que a resolução da atual crise ecológica não poderá ser concretizada apenas
com medidas parciais de conservação ambiental, mas sim através de uma ampla
mudança na economia, na cultura e na própria maneira de os homens se
relacionarem entre si e com a natureza.

Percebemos que o conceito de ecologia, que se refere às relações entre homem e


natureza, são mais do que preservar o meio ambiente; é uma questão de visão de mundo:
visão de economia, visão de cultura, visão de relacionamento interpessoal, entre outros. A
ecologia é proporcionalmente relacionada às questões da ética ambiental e de uma
cosmovisão. Algumas questões são essenciais para que haja uma relação saudável entre ser
humano e meio ambiente, segundo Lago e Pádua (2017, p. 129—130):

1. Interdependência – Na unidade funcional do ecossistema tudo está inter-


relacionado, de tal maneira que não podemos tocar num elemento isolado sem
afetarmos o conjunto, assim como no corpo humano não podemos atingir um órgão
sem afetar todo o organismo. Um exemplo típico dessa interdependência é a
complementariedade perfeita que existe entre as plantas e os animais. Enquanto as
primeiras, no processo de fotossíntese, liberam oxigênio e consomem gás carbônico,
os últimos, por meio de sua respiração, consomem oxigênio e liberam gás carbônico.

2. Ordem dinâmica – Esse sistema de equilíbrio interdependente não é estático e


sim dinâmico; não surgiu do nada, mas foi sendo forjado por um lento e trabalhoso
processo evolutivo, que precisa ser continuamente renovado para prosseguir. Por
isso ele é ao mesmo tempo sólido e frágil. Sólido porque suas estruturas foram
longamente maturadas e frágil porque elas necessitam para sobreviver da existência
permanente de condições que assegurem sua renovação.

3. Equilíbrio autorregulado (homeostase) – Esse dinamismo faz com que o


ecossistema seja não apenas auto-organizado como também autorregulável. Assim,
se o sistema sofre algum dano ou modificação, ele tem capacidade para se reordenar
e se adaptar à nova situação, estabelecendo um novo equilíbrio. É importante
considerar, contudo, que essa capacidade de adaptação não é ilimitada, e que a partir
de certo nível de danificação o ecossistema pode entrar em colapso.

4. Maior diversidade = maior estabilidade – Quanto maior for a variedade de


elementos existentes em um ecossistema, maior será a sua capacidade de se
autorregular, pois maiores serão as possibilidades com que ele contará para
recombinar elementos num novo equilíbrio. Por isso uma praga numa monocultura é
muito mais devastadora do que num ecossistema diversificado.

5. Fluxo constante de matéria e energia – O sol é a grande fonte de energia da


natureza, pois ele é um sistema “aberto”, que fornece energia abundante sem
demandar nenhuma energia em troca para sobreviver. As plantas utilizam
diretamente essa forma de energia para produzir alimentos a partir de substâncias
inorgânicas simples presentes no solo. Essas plantas são consumidas por animais
herbívoros, esses pelos carnívoros e assim por diante. Os corpos de todos esses
organismos, quando mortos, são decompostos pelos fungos e pelas bactérias, e seus
elementos retornam ao solo, onde serão aproveitados pelas plantas, reiniciando de
novo o ciclo. Esse mecanismo recebe o nome de cadeia alimentar.

6. Reciclagem permanente – Não existe “lixo” na natureza. Todo elemento natural


liberado no ambiente é reaproveitado de alguma forma pelo ecossistema. Através
desses reaproveitamentos, os materiais de que a vida se serve (tais como o oxigênio,
o hidrogênio, o nitrogênio, o fósforo, o potássio etc.) estão sempre circulando numa
espécie de ciclo fechado. São os chamados CICLOS BIOGEOQUÍMICOS. Esses
ciclos permitem uma reciclagem constante dos elementos da natureza, e é esse
processo que permite a sobrevivência de uma “nave espacial” finita e de recursos
limitados como o planeta Terra, pois estes são constantemente reaproveitados pelo
movimento incessante da natureza.

5 BREVE HISTÓRICO DOS PROTOCOLOS AMBIENTAIS INTERNACIONAIS

Na aula 2, veremos com mais detalhes as questões da legislação internacional e


nacional, bem como as discussões e conferências realizadas no âmbito da ONU. No entanto, é
importante nos familiarizarmos com alguns tópicos.
Em 1972, foi realizada a Conferência de Estocolmo das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente, que reuniu representantes de 113 países. Uma série de recomendações foi
estipulada, com o objetivo de proteger o meio ambiente.

Em 1997, foi redigido o Protocolo de Quioto, no Japão. Os governos de quase todos os


países desenvolvidos se comprometeram a reduzir as emissões de gases responsáveis pelo
efeito estufa antes de 2012. No entanto, as metas de redução não foram alcançadas, e o prazo
foi estendido até 2020, durante uma conferência realizada no Qatar, em 2012.

Em 2015, foi estabelecido o Acordo de Paris, um tratado que tem como objetivo
combater as mudanças climáticas e fortalecer a capacidade dos países em lidar com os efeitos
desse fenômeno.

No Rio de Janeiro, aconteceram duas conferências importantes sobre o meio ambiente


e a sustentabilidade: a Rio 92 e a Rio+20. Além do desenvolvimento sustentável, foram
discutidas medidas para a redução da pobreza mundial.

6. SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO

6.1 LAGO, Antônio; PÁDUA, José Augusto Pádua. O que é ecologia. São Paulo: Editora
Brasiliense, 2017.

Disponibilizamos o capítulo O pensamento ecológico: da ecologia natural ao


ecologismo, que aborda algumas ramificações da ecologia: ecologia natural, ecologia social, o
conservacionismo e o ecologismo. Lago e Pádua destacam essas ramificações propondo uma
leitura histórica e crítica a respeito.

Link: https://drive.google.com/open?id=1mB8uwxrS2Bo8gYeWvhkG7iKEphreXT4T

6.2 REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Editora Brasiliense, 2017.

Reigota propõe a educação ambiental como educação política através das relações
econômicas, sociais e culturais entre a humanidade e o meio ambiente. Destacamos alguns
textos que aprofundam o assunto sobre educação ambiental: breve histórico da educação
ambiental e como esta se desenvolveu; e definição de meio ambiente, através de uma leitura
histórica sobre o conceito.
Link: https://drive.google.com/open?id=101CTlJeq_McZoYkAbcN8L0YsRW_gDUpG

6.3 TRACY, Todd. Ética ambiental. In: Dicionário de cristianismo e ciência, ed. Paul
Copan, Tremper Longmann III, Christopher L. Reese e Michael G. Strauss. Rio de Janeiro:
Thomas Nelson, 2018.
Importante artigo sobre a definição mais aprofundada de ética ambiental. Tracy propõe
alguns tópicos importantes: valor utilitário da natureza; valor intrínseco da natureza e valor
teísta da natureza. O autor aborda o conceito de mordomia cristã e como esta é um valor
importantíssimo para as questões ambientais.

Link: https://drive.google.com/open?id=1SFL2pPapZ7cEHK8PrECoXFEwjYNKpQq8

6.4 Teologia e Educação Ambiental – Prof. Wander L. Proença -


https://www.youtube.com/watch?v=vBc6wgW7HnM&t=117s

Neste vídeo, o Prof. Wander Lara Proença apresenta a importância da educação


teológica e como ela precisa ser abordada nas igrejas e na teologia.

6.5 Vídeo 2 – BNCC - Ciências da Natureza - https://www.youtube.com/watch?v=7fp_-


_bJWro
Vídeo institucional que apresenta a área das Ciências da Natureza para o currículo do
Ensino Fundamental.

CONCLUSÃO

Vimos, nesta unidade, alguns conceitos elementares que nortearão nosso entendimento
nas próximas aulas. Foi possível perceber que o modus operandi do meio ambiente é um
relacionamento correto e ético. Há uma relação dinâmica entre aspectos naturais e sociais.
Essa relação dinâmica exige um relacionamento sustentável. Mas, o que é sustentabilidade?
Veremos na próxima aula.
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