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Resumo
Carta Encíclica Laudato Si’ – Sobre a casa comum, Papa Francisco
A Carta Encíclica Laudato Si, do Santo Padre, o Papa Francisco aborda questões
muito pertinentes para os nossos dias, acerca das questões ambientais, a necessidade de uma
ecologia integral e, sobretudo, a ética que envolve os pontos anteriores apresentados. A
Encíclica é composta por seis capítulos e, em geral, trata da crise ecológica global, nossa irmã
terra, nossa casa comum que “geme e sofre as dores do parto” (Rm 8, 22), suas causas e
consequências, além de propor um caminho para a solução desses problemas.
Portanto, o Pontífice busca ao decorrer dos seis capítulos, dar um alerta para a
urgência com que devemos ter na proteção de nossa casa comum, na procura de um progresso
sustentável e integral, na esperança de que tudo pode ser mudado.
No primeiro capítulo, o Papa propõe um olhar mais atento para o que está a acontecer
à nossa casa, antes mesmo de trazer reflexões de fé. Francisco inicia o capítulo alertando para
os sinais claros e visíveis de degradação ambiental, como a perda de biodiversidade, aumento
da poluição, mudanças climáticas e escassez de água potável que afetam diretamente nossa
vida, seja pelos poluentes presentes na atmosfera como os malefícios causados pela química
na agronomia, resíduos tóxicos descartados de forma incorreta etc., convertendo nossa casa
comum em uma enorme lixeira. Ele observa ainda a interconexão dessas questões, da cultura
do descarte e enfatiza que elas afetam diretamente a vida das pessoas, sobretudo as mais
carentes, pobres e desvalidas.
Uma exploração através do olhar cristão faz-se necessário para toda essa questão, é
por isso que no capítulo segundo a encíclica destaca que a existência humana deve ser
baseada em três relações elementares intrinsicamente interligadas que, infelizmente foram
rompidas pelo pecado: as relações com Deus, o próximo e a terra. Destaca-se ainda a
importância do cuidado com a criação e a responsabilidade de preservar e proteger sua ordem
e beleza como um dom dado pelo próprio Deus e ainda, como manifestação de Seu amor e
sabedoria para conosco.
Nós, seres humanos somos parte integrante da natureza, e qualquer tipo de agressão a
ela é, na verdade, uma agressão a si mesmo, conforme ressaltado também no primeiro
capítulo. Essa destruição e degradação da natureza resulta em perdas irreparáveis para a
humanidade. Esse cuidado com a criação expõe também uma dimensão fulcral para a
espiritualidade cristã pois, a ecologia não é apenas uma questão científica, mas também ética,
espiritual e cristã.
Essa falta de preocupação do homem para aquilo que está externo a ele, o pensamento
antropocêntrico, faz com que tudo seja relativizado e, dado como primordial aquilo que lhe
afeta diretamente. Dessa forma, não importa quão degradada a natureza esteja, não importa a
quantidade de pobres no mundo, de uma vida que é desfeita por deficiência ou rejeição. Se
não lhe atinge diretamente, não importa o quanto essas realidades gritem por atenção a ele.
Contudo, não tem como haver uma ecologia se não há uma antropologia. “Não se pode exigir
do ser humano um compromisso para com o mundo, se ao mesmo tempo não se reconhecem e
valorizam as suas peculiares capacidades de conhecimento, vontade, liberdade e
responsabilidade” (§118).
O homem moderno, inundando por uma cultura egocêntrica, não tem a maturidade
necessária para administrar tanto poder que lhe é confiado ou imposto. Isso se dá pela rapidez
que se deu, e ainda se dá, do avançar tecnológico, onde não andou junto com o crescimento
moral e ético do ser humano. Assim, aumenta o ego do homem como dominador de tudo e de
todos, o pensamento falso de que tudo se renova na rapidez que vivemos hoje. E o que
acontece com uma pessoa que decida nadar contra toda essa maré? É tida como alguém
anticultural e fora do estilo de vida “ideal”.
Nesse aspecto, o Pontífice aborda a relação entre a crise ecológica e ética dos valores.
Toda essa perda de uma ética sólida e de um olhar transcendente da vida, vem contribuindo
para essa degradação ambiental. Portanto, é destacado a importância de uma ecologia integral,
que não se limite apenas à questão ambiental, mas uma “cultura ecológica”, abarcando
também uma dimensão social, econômica, cultural e espiritual, opondo-se à “resistência ao
avanço do paradigma tecnocrático” (§111), superando a mentalidade consumista e de
descarte.
Em síntese, não será possível uma restauração e educação ecológica se, a raiz de toda
essa crise, o homem, não for “curado” em suas relações elementares, rompendo com o
antropocentrismo, o “eu” que prioriza seus próprios interesses, e direcionando-o para um
caminho antropológico, ético e fraterno, uma abertura para o “tu”. Portanto, deve-se ter um
olhar também para o ser humano, antes mesmo de qualquer interpelação ecológica.
É reforçado ainda um apelo por uma conversão ecológica, mas antes mesmo de
queremos realizar uma análise da problemática ambiental, devemos nos debruçar sobre a
realidade humana, seus contextos e processos, como já salientando em outro capítulo. A
ecologia pode ainda ser entendida como tudo que abarca também a prevenção para com a
realidade cultural e hodierna da vida humana, e não somente aquilo que entendemos como
“natureza”. Portanto, um chamado pela “ecologia cultural” e da “vida quotidiana”.
À vista disso, baseado em Bento XVI, Francisco destacará a figura de uma “ecologia
do homem”, que abarca uma outra problemática vista hoje, o corpo. Para ter uma plena
aceitação da “casa comum” e da criação como um dom de Deus, há de se ter uma aceitação do
próprio “eu” e, consequentemente do próprio corpo. Assim como o reconhecimento, respeito
corporal e sexual para com o outro que é diferente. “Aprender a aceitar o próprio corpo, a
cuidar dele e a respeitar os seus significados é essencial para uma verdadeira ecologia
humana” (§155).
A solidariedade, bem comum não devem estar de forma antagônica à essa ecologia
humana, mas devem andar unidas por uma ética social. É evidente a presença da desigualdade
social, do descarte e marginalização de pessoas. Tudo isso deve nos impulsionar, baseados
com o senso de responsabilidade social e cristã, a termos uma opção pelos que mais sofrem,
sendo essa uma “exigência ética fundamental para a efetiva realização do bem comum”
(§158).
Vemos que, muito já está sendo feito na busca por esse diálogo entre o meio ambiente
e a política, através de diversas conferências e declarações que expressam essa preocupação
ética ambiental. Como exemplo, podemos destacar a Declaração de Estocolmo (1972),
Cimeira da Terra (1992), Convenção de Basileia (1989), Convenção de Viena (1986),
Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável – Rio+20 (2012) entre
muitas outras atitudes que enunciam a continuidade de requerer caminhos mais eficazes e
práticos, visto que, as reações muitas vezes são lentas em comparação a rapidez que se dá os
desafios mundiais. Contudo, deve-se observar que, essa cooperação internacional na
abordagem da crise ecológica, seja livre de interesses egoístas, mas que visem o bem comum.
Além disso, o Pontífice aborda a questão da água, recurso essencial para a vida. Ele
denuncia a privatização da água e a sua exploração desenfreada e interesseira, enfatizando que
a água é um direito humano básico e que sua gestão deve ser baseada na solidariedade e no
cuidado comum. “Promover uma gestão mais adequada dos recursos florestais e marinhos,
garantir a todos o acesso à água potável” (§164). O Papa também destaca a importância da
tecnologia como ferramenta para promover a sustentabilidade e superar a crise ecológica. No
entanto, ele ressalta que a tecnologia por si só não é suficiente e deve estar alinhada com uma
ética que promova o bem-estar humano e a preservação do meio ambiente.
No último capítulo da Laudato Si, o Romano Pontífice reforça ainda mais o seu apelo
pela responsabilidade social e individual diante da crise ecológica, adotando estilos de vida
sustentáveis e conscientes. É destacado ainda a necessidade de uma superação da mentalidade
consumista de forma obsessiva, dando prioridade pelo bem-estar das pessoas e a preservação
da criação. Rompe-se assim também, o egoísmo coletivo, pois “Sempre é possível
desenvolver uma nova capacidade de sair de si mesmo rumo ao outro” (§208).
Com isso, diversos organismos devem tomar as rédeas no auxílio dessa educação,
como a escola, as mídias, a catequese e, sobretudo, a família que está com a figura tão
fragmentada. Portanto, deve ser ela “o lugar da formação integral, onde se desenvolvem os
distintos aspectos, intimamente relacionados entre si, do amadurecimento pessoal” (§213).
Uma outra figura que deve se incumbir dessa responsabilidade é própria Igreja, como faz
elucidando essa Carta Encíclica e através de diversos projetos e trabalhos para conscientizar
acerca da casa comum. Em vista disso, é necessária uma “conversão ecológica” e “uma eficaz
união de forças e uma unidade de contribuições” (§219), uma fraternidade universal.
Por fim, o Papa Francisco coroa sua Carta com a Rainha dos Céus, da Terra e de toda
criação, Maria Santíssima. Ela que, soube cuidar daquilo que de mais precioso existe, nos
ensine também cuidar de nossa “casa comum”. Ela que abraçou os sofrimentos de seu Filho
único, nos ensine também para uma ética social de acolhimento e compaixão pelos mais
necessitados. E, não menos importante, São José, seu esposo, homem justo e fiel, sinal de um
indivíduo ético, não só nas relações humanas e sociais, mas também no compromisso para
com a criação. Que o exemplo de tão grandes protetores possa no motivar “a trabalhar com
generosidade e ternura para proteger este mundo que Deus nos confiou” (§242).
Referência: PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si’: sobre o cuidado da casa
comum. São Paulo: Paulinas, 2015.