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TRABALHO FINAL DE PROCESSOS GRUPAIS

O presente trabalho possui como objetivo principal relacionar o artigo “Percepção de

Usuários Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros, Transexuais e Travestis do Sistema

Único de Saúde” com os temas abordados ao longo da disciplina por meio dos textos:

“Pichon-Rivière: uma “Psicossociologia latino-americana” para os tempos de hoje” e “Grupo:

A Afirmação de um Simulacro.” de Regina Benevides de Barros.

O artigo escolhido estudou as diferenças nas situações de homofobia dentro de um

contexto de atendimento do grupo de gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e

transgêneros usuários dos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) no qual fazem

tratamento de DST/HIV/Aids. A pesquisa foi realizada com um grupo triangular formado

por dois gays e uma lésbica e um grupo focal composto por quatro pessoas (dois gays, uma

lésbica e um transsexual) dividido pelas seguintes categorias: (a) Acesso ao sistema de saúde;

(b) Avaliação do sistema de saúde; (c) Eqüidade e especificidade no atendimento ao público

GLBT; (d) Acolhimento, humanização e integralidade; (e) Discriminação e preconceito à

população GLBT; e (f) Sugestões de melhoria para o atendimento.

Primeiramente, é importante analisar as características grupais, que atuam na

formação da sociedade, como uma constituição de processos que vão da indiferenciação e

homogeneidade à heterogeneidade. (Montenegro, 1993 como citado em Barros, 2009 p. 130)

Visto que, a constituição desses processos grupais se relaciona com as semelhanças e

diferenças que aproximam um grupo de indivíduo. Além disso, podemos associar as

interdependências grupais como parte das construções institucionais e, a partir disso, analisar

o artigo “Percepção de Usuários Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros, Transexuais e

Travestis do Sistema Único de Saúde” como parte de um processo institucional e grupal

relacionado à ideia de dinâmica, que consiste em referir o objeto à situação, abordando a


conduta do grupo atrelado ao seu espaço de vida, considerando tanto o grupo, quanto o

ambiente psicológico, sendo este tal como a ele se apresenta. (Lewin, 1944 como citado em

Barros, 2009, p. 133)

A partir disso, é interessante observar que os participantes da pesquisa foram

escolhidos em diferentes locais, como ONGs e espaços de encontro da população LGBT, para

que o grupo formado seja constituído de maneira heterogênea com diferentes pontos de vista

sobre suas vivências dentro do Sistema Único de Saúde. Apesar de possuírem visões e

vivências diferentes, os participantes se configuram como um grupo, pois possuem

características de identificação que são semelhantes. Nesse sentido, Okamoto (2021) faz

relação a essas singularidades e coletivos quando se trata da análise de experiências e

subjetividades de um grupo. O artigo propõe nesse sentido a análise dessas experiências

baseado na configuração do sujeito singular, ou seja, o que cada participante viveu de forma

individual nos atendimentos dentro do SUS.

“Esse encontro entre o singular e o coletivo faz da experiência grupal e de sua


reflexão um campo de potências e disputas entre o psíquico e o político, inventando, à
maneira dos grupos, a criação do comum no encontro dos diferentes. Esse comum,
contudo, não pressupõe subjetividades homogeneizadas; ao contrário, possibilita que
o diverso se apresente para a construção de uma coletividade que não se separa da
produção de singularidade.” (Okamoto, 2021, p.5)

É importante ressaltar que essas singularidades e experiências são de certo modo

semelhantes, e possuem o mesmo dispositivo de violação de direitos básicos. Essas

semelhanças que perpassam pelas mesmas pessoas, mesmos corpos, acabam transformando o

sujeito em um corpo coletivo que parte de outras perspectivas mas que ainda possuem

objetivos e características semelhantes.


A pesquisa ainda retrata a noção de Acolhimento, Humanização e Integralidade dentro do

Sistema Único de Saúde e como os atendimentos funcionam, partindo do pressuposto de

relações estabelecidas entre os usuários dos serviços e funcionários. Desse modo, podemos

analisar a dualidade entre esses dois grupos e a importância do olhar humanizado para que

haja o acolhimento e integralidade no atendimento do primeiro grupo aqui citado. Os efeitos

das subjetividades que são disparados entre a necessidade de acolhimento para outro grupo

constituído por relações formais. (Lewin, 1944 como citado em Barros, 2009 p. 131) As

relações formais que são instituídas dentro de ambientes como o Sistema Único de Saúde,

carrega em si uma ideia de que o acolhimento, a empatia, e as subjetividades constituídas

nessas relações são desnecessárias, e portanto são deixadas de lado, em prol de um processo

frio e burocrático.

Diante dos resultados da pesquisa, percebeu-se que o acesso ao sistema de saúde é

desigual quando comparamos os grupos por soropositividade entre si, revelando que mesmo

dentro de um coletivo identitário, podem existir diferenças entre os membros, que sejam

dispositivos de distinção, enfraquecendo as relações e noções de coletivo. Nesse caso, a

desigualdade no atendimento é disparada pelo resultado dos exames. Desse modo, as

dificuldades de acesso estão focalizadas em diferentes núcleos, nos quais os usuários

soronegativos “[...] relatam questões diretamente ligadas à forma de tratamento recebida

quando procuram ou necessitam de atendimento, enquanto que os pacientes soropositivos

relatam o medo de identificação como pertencente ao grupo de HIV positivos, colocando a

orientação sexual em segundo plano.” (SANTOS, p.239, 2010)

Para Bion (1961) como citado em Barros (2009) para que esses grupos funcionem, e

exista uma mentalidade grupal, é necessário uma expressão unânime da vontade do grupo”. A

mentalidade grupal nesse caso, está relacionada com as necessidades grupais e o pensamento

coletivo dentro das configurações de grupos, principalmente, os que possuem os mesmos


objetivos. Em concordância a essa ideia, podemos relacionar as sugestões de melhorias para o

atendimento da população GLBT retratada no artigo como uma forma de mentalidade grupal,

onde a opinião e o desejo são unânimes naquele momento. E que apesar de serem sujeitos

com necessidades individuais, em algum momento essas individualidades perpassam outros

sujeitos com necessidades e objetivos comuns.

Desse modo, podemos perceber que a grupalidade permite o compartilhamento de

questões e saberes que emergem do grupo, evidenciando nesse caso, um problema de saúde

pública que atinge diretamente esses sujeitos. Essa percepção surge a partir de um interjogo

de diálogos e modificações na vida de cada um que são norteadas pelo espaço vital do grupo

que, devido a fatores de semelhança e inter-relação entre os componentes, compõem o grupo

como uma estrutura que está para além de seus integrantes. (Montenegro, 1993)

Ademais, podemos afirmar que apesar dos participantes da pesquisa formarem um

grupo com características semelhantes, Barros (2009) cita que o grupo se define não apenas

por essas semelhanças ou proximidades, mas por ser constituído de um conjunto de sujeitos

interdependentes em um organismo. Além disso, a situação grupal se caracterizava por um

confronto de forças efetivadas em um espaço no qual as ações de cada um ganhavam outros

sentidos, visto que a união desses sujeitos com experiências semelhantes poderiam gerar uma

mudança no atendimento e acolhimento dentro do SUS, essa ideia se apresenta de diversos

modos no artigo. As discriminações, a falta de acolhimento, e até mesmo as distinções de

espaços para soropositivos e soronegativos apresentam outras noções de reflexões nos

comportamentos e formas de tratamento e evolução passíveis no Sistema Único de Saúde.

REFERÊNCIAS
BARROS, R.B. (2009) Grupo: A Afirmação de um Simulacro. Porto Alegre: Sulina.

BRASIL. (2006) SINASE: Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo.

CUETO, A.M. FERNÁNDEZ. A.M. (1987) El dispositivo grupal. Buenos Aires:

CERQUEIRA-SANTOS, Elder et al. Percepção de usuários gays, lésbicas, bissexuais e

transgêneros, transexuais e travestis do Sistema Único de Saúde. Revista

interamericana de psicologia/interamerican journal of psychology, v. 44, n. 2, p.

235-245, 2010.

OKAMOTO, Marta Maria; BROIDE, Emilia Estivalet; VICENTIN, Maria Cristina

Gonçalves. Pichon-Rivière: uma “psicossociologia latino-americana” para os tempos

de hoje. Revista Pesquisas e Práticas Psicossociais, v. 16, n. 2, p. 1-16, 2021.

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