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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS (IRI-USP)

Ensaio Final
Poder Monetário e Internacionalização do Renminbi

Nome: Cassius Cley Oliveira Santos (Noturno)


Nº USP: 11269122
Disciplina: Economia Internacional II
Docente responsável: Maria Antonieta Del Tedesco Lins

São Paulo
2020
INTRODUÇÃO
O crescimento da economia chinesa nas últimas décadas tem levantado alguns
debates sobre a influência do país asiático no sistema monetário e financeiro
mundiais. No ano de 2017, por exemplo, segundo a Fazcomex (2020), as exportações
chinesas somaram o valor de 2,41 trilhões de dólares, fazendo dela a maior economia
exportadora do mundo. Com os vínculos comerciais cada vez maiores ao redor do
globo, o governo chinês busca aumentar a liquidez de sua moeda nacional, o
Renminbi, e transformá-la em uma moeda internacional, fazendo com que a influência
da China se torne mais ativa e presente em diferentes regiões. Entretanto, apesar dos
grandes esforços chineses nos últimos anos em direção a um maior uso de sua
moeda nas transações internacionais, a China ainda precisa avançar em suas políticas
financeira e monetária para que o Reinminbi seja amplamente aceito no mercado
internacional e se torne uma moeda de reserva internacional na magnitude do dólar e
do euro.

DESENVOLVIMENTO
Antes de propriamente analisar o caminho que a China vem trilhando com o
objetivo de internacionalizar sua moeda nacional, é pertinente discutir os critérios que
um país necessita atender para que sua moeda se torne um meio de troca nas
transações internacionais. De acordo com o trabalho de Muchalak (2018), para que
uma moeda seja considerada internacional, é necessário que ela desempenhe três
papeis no cenário internacional: unidade de conta, meio de troca e reserva de valor.
Além disso, existem outras condições para isso ocorra. Primeiramente, pode-se citar o
peso da economia do país emissor da moeda na economia mundial, ou seja, quanto
maior for a participação do país nas relações comerciais com outros países, maior
será a aceitação de sua moeda pelos agentes econômicos. Uma segunda condição
diz respeito à estabilidade política do país, pois considerando que as decisões
políticas de um governo afetam as taxas de câmbio e de inflação de sua moeda, uma
volatilidade política pode dificultar o uso de sua moeda como meio de troca, unidade
de conta e reserva de valor. Ademais, o grau de desenvolvimento do mercado
financeiro do país também é importante para ter sua moeda internacionalizada, isto é,
o Estado emissor precisa ter um sistema bancário e instituições financeiras bem
desenvolvidos e abertos ao capital estrangeiro.
Uma vez alcançados os critérios para a internacionalização de uma moeda,
surge uma outra questão acerca do tema: quais os interesses um país pode ter ao
lançar sua moeda como meio de troca nas transações internacionais? Conforme
Cohen (2011), ter a moeda internacionalizada pode trazer certas vantagens para o
país emissor, como redução dos custos de transação, senhoriagem internacional,
flexibilidade macroeconômica, vantagem política e reputação. No caso da China,
essas vantagens parecem ser promissoras, haja vista que o país busca uma
hegemonia no cenário internacional e faz isso, sobretudo, por meio do estreitamento
dos vínculos comerciais com diversos países, principalmente na Ásia.
Outro fator determinante para a internacionalização de uma moeda reside nos
próprios esforços do país para atingir esse resultado. Como aponta Martins (2018), um
acontecimento sem precedentes na história elevou a importância do Renminbi no
âmbito mundial: a inclusão da moeda chinesa na cesta de moedas dos Direitos
Especiais de Saque (DES). Os Direitos Especiais de Saque, conforme explica a
autora, são uma espécie de moeda do Fundo Monetário Internacional (FMI) criados
em 1969 com o objetivo de complementar as reservas de dólar e ouro e, assim,
estabelecer uma moeda internacional que não estivesse atrelada a interesses de um
único Estado nacional. Até a inclusão do Renminbi na cesta de moedas em 2016, Os
DES eram compostos por moedas de países industrializados e desenvolvidos: dólar,
euro, libra esterlina e iene. A aceitação dos países do FMI em relação à entrada da
moeda chinesa na cesta de moedas do DES simboliza a percepção de que a China
está cada vez mais integrada às regras do comércio internacional e de que o país
asiático tem buscado liberalizar sua economia, permitindo a participação estrangeira
em seu sistema interbancário. Dessa forma, o Renminbi entrou para o rol das
principais moedas-reserva internacionais e contribuiu para diversificar as opções de
moedas-reserva internacionais disponíveis.
Nesse ínterim, verifica-se que as políticas chinesas em direção à
internacionalização do Renminbi começaram antes da inclusão da moeda no DES e
vão muito além desse objetivo. Conforme Martins (2018), desde 2008 a China vem
adotando políticas mais ativas a fim de a médio e longo prazo transformar o Renminbi
em uma moeda-reserva internacional. Como exemplos de medidas nesse sentido,
têm-se o “Programa Piloto de Liquidação do Comércio Transfronteiriço em Renminbi”,
uma iniciativa chinesa para estimular o uso de sua moeda nas transações
internacionais, a Zona Piloto de Livre Comércio de Xangai, que tem por objetivo
estabelecer um centro internacional para transações financeiras em Renminbi e o
Sistema de Pagamento Internacional chinês, um sistema de transferência de dinheiro
que serve como canal de pagamento seguro para serviços de compensação,
liquidação, investimento, financiamento e outros negócios fora da China em Renminbi.
Além dessas medidas, outra iniciativa chinesa que visa a internacionalização de sua
moeda é a realização de acordos de swap cambias com outros países, visando
fornecer às outras entidades monetárias uma maior liquidez em Renminbi.
Todas essas medidas implementadas pelo governo da China visam ampliar o
uso de sua moeda nas transações internacionais, assim como acontece com o dólar
atualmente. Para dar maior transparência e credibilidade a esse uso, em 2015 a China
modificou as regras para determinar o valor do Renminbi, incluindo no cálculo as
oscilações da oferta e demanda do mercado pela moeda chinesa. Nessa conjuntura, a
questão que pode ser levantada é se e em que medida o Renminbi poderia substituir o
dólar como principal moeda-reserva internacional. Essa questão não é fácil de se
responder, principalmente levando em consideração a grande influência política, militar
e econômica dos Estados Unidos. Atualmente, de acordo com Martins (2018), um dos
principais impasses para que o Renminbi se torne uma moeda internacional é o
controle chinês sobre a sua moeda, que limita a livre conversibilidade do Renminbi.
Acerca da liberalização da economia chinesa, Zöllner (2016) afirma que para a moeda
chinesa adquirir o status de moeda-reserva internacional o governo chinês precisa
continuar suas reformas no sentido de abrir seus mercados e modernizar sua
infraestrutura monetária e financeira.
Em contrapartida da internacionalização do Renminbi como moeda global,
segundo Eichengreen e Lombardi (2017), há uma forte tendência para que a moeda
chinesa se torne uma moeda internacional regional, operando principalmente na Ásia.
Conforme esses autores, quanto mais expressivas forem as relações comerciais com
um país, maior será a probabilidade do uso da moeda nacional do país mais forte nas
transações “cross-border”. Nesse sentido, o argumento principal baseia-se no fato de
que, apesar da China possuir conexões comerciais e investimentos espalhados em
todas as regiões do mundo, os maiores parceiros comerciais da China concentram-se
na Ásia, portanto, somando o fato de que os custos de transporte são mais baixos
entre a China e seus vizinhos asiáticos, naturalmente o Renminbi teria mais êxito
como moeda internacional regional da Ásia.

CONCLUSÃO
De fato, a maior participação chinesa no comércio internacional, bem como
seus esforços para internacionalizar o Renminbi, configuram uma tendência de
redistribuição do poder dentro do sistema monetário internacional, em que a China tem
uma maior influência em decorrência do uso de sua moeda como reserva
internacional. Apesar disso, o dólar continua sendo a principal moeda-reserva
internacional e influenciando significamente as taxas de câmbio mundo à fora. A
inclusão do Renminbi na cesta de moedas dos Direitos Especiais de Saque já
redistribui, de certa forma, o poder dentro do sistema monetário internacional, haja
vista que as outras moedas (dólar, euro, libra esterlina e iene) perderam espaço dentro
dos DES. Entretanto, as principais perspectivas mostram que a moeda da China
ganhou importância dentro do FMI, mas é necessário que ela avance ainda mais em
suas políticas monetária e financeira, com o intuito de agregar mais credibilidade,
confiança e segurança a sua moeda.

REFERÊNCIAS

COHEN, Benjamin J. The Benefits and Costs of an International Currency: Getting the
Calculus Right. Open Economies Review, California, v. 33, n. 1, p. 13-31, out. 2011.
Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s11079-011-9216-2. Acesso
em: 03 dez. 2020

EICHENGREEN, Barry; LOMBARDI, Domenico. RMBI or RMBR? Is the Renminbi


Destined to Become a Global or Regional Currency? Asian Economic Papers,
2017.

FAZCOMEX. Exportação China: como funciona a exportação chinesa. Como


funciona a exportação chinesa. 2020. Disponível em:
https://www.fazcomex.com.br/blog/como-funciona-exportacao-chinesa/. Acesso em: 04
dez. 2020.

MARTINS, Aline Regina Alves. A inclusão do renminbi na cesta de moedas dos


Direitos Especiais de Saque:: novo impulso à internacionalização da moeda
chinesa?. novo impulso à internacionalização da moeda chinesa?. 2018. Disponível
em: https://www.academia.edu/41194708/A_inclus
%C3%A3o_do_renminbi_na_cesta_de_moedas_dos_Direitos_Especiais_de_Saque_n
ovo_impulso_%C3%A0_internacionaliza%C3%A7%C3%A3o_da_moeda_chinesa.
Acesso em: 04 dez. 2020.

MUCHALAK, Gabriel Nascimento. A Internacionalização do Renminbi e a Inserção


da China no Sistema Monetário Internacional. 2018. 52 f. Monografia
(Especialização) - Curso de Ciências Econômicas, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 2018. Disponível em:
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/63684/GABRIELI%20NASCIMENTO
%20MUCHALAK.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 03 dez. 2020.

ZÖLLNER, Peter. The renminbi in the SDR basket and its future role in the
international financial system. BIS- Banco de Compensações Internacionais. Speech to
2016 MEFMI Governors’ Forum Dar Es Salaam, 20 jun. 2016. Disponível em:
http://www.bis.org/speeches/sp160620.pdf. Acesso em: 04 dez. 2020

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