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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

CASSIUS CLEY OLIVEIRA SANTOS

Análise Sobre a Efetividade de Sanções Econômicas Internacionais Aplicadas por


Organizações Internacionais Regionais Entre 1990-2018 para a Segurança
Internacional

São Paulo
2024
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1 APRESENTAÇÃO

Na esfera internacional,

2 JUSTIFICATIVA

Em mundo cada vez mais globalizado e interdependente, as relações harmônicas entre os


Estados tornam-se um ponto chave para a segurança internacional global. A aplicação de
sanções econômicas com objetivos políticos se tornou um meio bastante empregado por
países que buscam a garantia de seus interesses, sejam eles econômicos ou geopolíticos.
Verifica-se, nesse escopo, que a partir do colapso da antiga União Soviética e o fim da Guerra
Fria, a aplicação de sanções econômicas aumentou consideravelmente, principalmente
advindas dos Estados Unidos, União Europeia e da Organização das Nações Unidas (ONU).
Contudo, após uma sondagem nos principais e mais recentes estudos acerca da
efetividade da aplicação de sanções econômicas no mundo, verificou-se que existe uma
lacuna nas pesquisas referentes à efetividade dessas sanções aplicadas por Organizações
Internacionais regionais, como a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental ou
a Liga Árabe. Portanto, este trabalho se justifica pela importância do tema para a sociedade
global atual e pela carência de estudos mais aprofundados em relação às Organizações
Internacionais regionais, que também possuem grande relevância dentro da Comunidade
Internacional.

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Este trabalho busca analisar a efetividade da aplicação de sanções econômicas


internacionais por Organizações Internacionais regionais, entre os anos de 1990 e 2018, que
tinham entre seus objetivos a manutenção da segurança internacional.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) analisar a eficácia da aplicação de sanções econômicas internacionais para a


segurança internacional por Organizações Internacionais Regionais;
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b) realizar uma revisão bibliográfica acerca da história da aplicação de sanções


econômicas por Estados-Nação e Organizações Internacionais;
c) entender a evolução das sanções econômicas internacionais como ferramentas
políticas e econômicas

4 ESBOÇO

5 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
8

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 DEFINIÇÃO, SUJEITOS, TIPOS E FINALIDADES DAS SANÇÕES ECONÔMICAS


INTERNACIONAIS

As sanções econômicas internacionais, apesar de serem amplamente utilizadas por


diversos atores do Sistema Internacional contemporâneo, carecem de uma definição clara e
objetiva, o que pode ser vantajoso ou desvantajoso para quem as aplica. No geral, os autores
que se empenham em defini-las as colocam como pertencentes aos campos do direito
internacional e da política internacional.
Dessa forma, em se tratando de sanções econômicas internacionais, Hufbauer, Schott
e Elliot (2009, p. 2) declaram:
We define economic sanctions to mean the deliberate government
inspired withdrawal, or threat of withdrawal, of “customary” trade or
financial relations. “Customary” does not mean “contractual”; it simply
means levels that would probably have occurred in the absence of sanctions.
Generally we exclude instances where economic incentives are used to
achieve foreign policy goals. However, when incentives are closely
connected with economic sanctions (“carrot-and-stick” diplomacy), they are
covered in our abstracts and analysis.1
Para os autores, portanto, as sanções econômicas internacionais são ferramentas da
política internacional utilizadas para obter fins desejados pelo Governo que as impõe, em que
há o rompimento, ou ameaça de rompimento, das relações comerciais ou financeiras.
Seguindo uma linha parecida com o que eles propõem como definição de sanções
econômicas internacionais, para Baldwin (1985, p.40) “The concept of economic statecraft
employed here is internationally broad, as it must be if it is to subsume all of the economic
means by which foreign policy makers might try to influence other international actors”.
Ambos os autores entendem sanções econômicas internacionais como meios estatais de

1
Tradução Livre: Nós definimos sanções econômicas como a retirada deliberada do governo,
ou a ameaça de retirada, das relações comerciais ou financeiras “habituais”. “Habituais” não
significam “contratuais”; simplesmente significam níveis que provavelmente teriam ocorrido na
ausência de sanções. Geralmente, nós excluímos casos em que incentivos econômicos são usados para
atingir objetivos de política externa. Contudo, quando os incentivos econômicos estão intimamente
conectados às sanções econômicas (diplomacia de “recompensas e punições”), eles são abordados em
nossos resumos e análises.
9

influenciar outros atores internacionais a agirem de acordo com uma finalidade, explícita ou
implícita, utilizando, para isso, artifícios econômicos.
Contudo, de acordo com Valério (2011), na literatura vigente, é possível encontrar
outras expressões que buscam caracterizar as sanções econômicas internacionais, como
pressão econômica, coerção econômica, guerra econômica e medida econômica, sendo todas
elas usadas como sinônimos do tema em questão. Para o autor, a falta de uma definição clara
e de um respaldo institucional para as sanções econômicas internacionais traz alguns efeitos
para sua aplicação, como dúvidas em relação à sua legalidade e a não contestação de imediato
pela comunidade internacional.
Ainda em relação à definição das sanções econômicas internacionais, existem visões
distintas na literatura acerca da coercitividade ou não dessas ferramentas. Conforme explica
Valério (2011), para alguns autores, as sanções econômicas internacionais podem ser
entendidas como métodos pacíficos de resolução de controvérsias, uma vez que não é
empregado o uso de força militar em seu escopo. Contudo, para o autor, é necessário
ponderar sobre o pacifismo dessa ferramenta, pois ao buscar modificar o comportamento do
ator alvo, as sanções econômicas internacionais ocorrem, em geral, contra a vontade de quem
as recebe, portanto, existe um certo grau de coercitividade que coloca em dúvida a brandura
das sanções econômicas internacionais.
Em relação aos sujeitos das sanções econômicas internacionais, os principais atores
são quem sanciona (sender) e quem recebe as sanções (target), sendo que pode haver mais do
que um ator nas duas extremidades da aplicação. Acerca dos possíveis atores participantes do
âmbito das sanções econômicas internacionais, Damrosch (1997, p. 47) explica que:
In addition to the previous treatment of decentralizing trends in the
international legal system in general, we have many examples in economic
sanctions practice in which either the sender, or the target, or both, is not a
State but rather a sub state or non-state entity. Indeed, even individuals can
be senders or targets of sanctions, not only conceptually or hypothetically
but in actual practice.2

2
Tradução Livre: Além do tratamento anterior das tendências de descentralização no sistema
jurídico internacional em geral, nós temos muitos exemplos na prática de sanções econômicas em que
o sancionador, ou o alvo, ou ambos, não é um Estado, mas sim um subestado ou uma entidade não
estatal. De fato, até os indivíduos podem ser sancionadores ou alvos de sanções, não apenas
conceitualmente ou hipoteticamente, mas na prática real.
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Dessa forma, percebe-se que, embora os Estados sejam os principais atores atuantes
dentro do Sistema Internacional, as sanções econômicas internacionais extrapolam essa
lógica, sendo possível que empresas, organizações internacionais governamentais ou não
governamentais e indivíduos sejam sancionadores ou alvos de sanções. Isso é possível,
conforme aponta a autora, devido à descentralização que caracteriza o sistema legal
internacional, em que os Estados não são os únicos sujeitos do Direito Internacional.
De acordo com Hufbauer, Schott e Elliot (2009), os tipos de sanções econômicas
internacionais utilizados pelos diferentes atores do Sistema Internacional encontram-se nas
esferas comerciais, financeiras e monetárias ou cambiais. Em relação às sanções econômicas
internacionais empregadas no âmbito comercial, os autores explicam que o embargo
comercial é a ferramenta mais utilizada, tratando-se da proibição, total ou parcial, de
exportações vindas do ator sancionado, podendo, também, significar a cessação de todas as
relações comerciais existentes entre as partes envolvidas. Por outro lado, o boicote também é
um tipo de sanção econômica bastante utilizada pelos atores sancionadores, em que se
emprega a proibição, total ou parcial, de importações de bens ou serviços do agente
sancionador para o agente sancionado. Ademais, como explica Carreau (1986), outras
medidas também podem ser enquadradas como sanções econômicas internacionais no âmbito
comercial, como a diminuição do volume de importações ou exportações entre os agentes
envolvidos, com a aplicação de cotas para o comércio entre eles, a proibição de importações
ou exportações de produtos ou serviços específicos e a prática de dumping, que consiste na
venda de produtos a preços mais baixos do que vendem os concorrentes, com o objetivo de
tomar para si o mercado de determinado produto ou serviço.
Concernente às sanções econômicas internacionais na esfera financeira, Carreau
(1986) explica que essas medidas visam atuar sobre bens e capitais do agente sancionado ou
de outro agente que, indiretamente, possa causar prejuízos ao alvo da sanção (target), sendo
que essas medidas, geralmente, são aplicadas com o objetivo de proibir que nacionais
invistam no agente sancionado ou que interrompam seus investimentos em andamento. Uma
outra prática que atua no âmbito financeiro, conforme observa Burdeau (1997), é o
congelamento ou bloqueio de bens ou capitais de estrangeiros advindos do Estado sancionado
que se encontram dentro do território do sujeito sancionador, deixando esses bens ou capitais
indisponíveis para o acesso. Por último, de acordo com Valério (2011), as sanções
econômicas internacionais do tipo monetária ou cambial caracterizam-se por medidas que
objetivam desvalorizar o câmbio do Estado sancionado, como, por exemplo, a proibição de
transações financeiras em determinada moeda.
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Em se tratando das finalidades das sanções econômicas internacionais, essas medidas,


em geral, são aplicadas para responder a algum descumprimento dentro da lógica do Sistema
Internacional anárquico, isto é, do sistema que não tem um governo principal ou acima dos
Estados que o compõem, podendo ser esse descumprimento de ordem jurídica, econômica,
moral ou ética. Acerca desse tema, Alexander (2009, p.10) afirma que:
Economic sanctions can have any combination of the following
objectives: behaviour modification of the target, retribution or punishment,
or as a signal to the target or to other third country states. Moreover, the
rationale of economic sanctions may involve promoting military objectives
on the one hand, and maintaining peace on the other. Or it may involve the
use of sanctions as a means of containment and/or dialogue. Some of the
tactical policy objectives of sanctions can be to deter or coerce the target, or
to deter or coerce other states or persons who are not directly the target of
the sanctions but who trade or do business with the target.3
Dessa forma, observa-se que as sanções econômicas internacionais podem ter
diferentes finalidades ou até mesmo uma combinação de diferentes finalidades, dependendo
de quais são os objetivos do ator sancionador. Além disso, também se verifica que, muitas
vezes, a finalidade das sanções econômicas internacionais vai além de uma resposta a um
descumprimento de alguma regra, podendo também servir como punição a um Estado ou ator
dentro do Sistema Internacional. Em se tratando de sanções econômicas internacionais como
uma forma de punição, Nossal (1989) pontua três objetivos que são perseguidos pelo agente
sancionador quando essas medidas visam penalizar o alvo (target), sendo eles: 1) servir de
exemplo a terceiros, indicando que se outro ator descumprir tal regra haverá custos imputados
a ele; 2) coagir o ator sancionado a interromper o comportamento considerado contrário aos
termos do Sistema Internacional; 3) retribuir o dano causado pelo comportamento do ator
sancionado. Assim, o autor argumenta que as sanções econômicas internacionais não devem
ser vistas apenas como uma expressão simbólica, mas também como meios instrumentais
para um fim intencional.
3
Tradução Livre: As sanções econômicas podem ter qualquer combinação dos seguintes
objetivos: modificação do comportamento do alvo, retribuição ou punição, ou como um sinal para o
alvo ou para outros países terceiros. Além disso, a lógica das sanções econômicas pode envolver, por
um lado, a promoção de objetivos militares e, por outro, a manutenção da paz. Ou pode envolver o
uso de sanções como meio de contenção e/ou diálogo. Alguns dos objetivos da política tática das
sanções podem ser dissuadir ou coagir o alvo, ou dissuadir ou coagir outros estados ou pessoas que
não são diretamente os alvos das sanções, mas que comercializam ou fazem negócios com o alvo.
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2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS SANÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS

As sanções econômicas internacionais, embora aplicadas de forma mais ampla


contemporaneamente, existem desde a Antiguidade. Hufbauer, Schott e Elliot (2009, p.4)
explicam que “Only after World War I was extensive attention given to the notion that
economic sanctions might substitute for armed hostilities” 4, isto é, a Primeira Guerra Mundial
foi um ponto de virada para as sanções econômicas internacionais quanto a sua
institucionalização e jurisdição, pois foi somente após esse episódio que esses mecanismos se
tornaram um instrumento largamente utilizado (embora por um número limitado de atores)
dentro das relações internacionais, inclusive sendo previstas no Pacto da Liga das Nações de
1919. É importante ressaltar, contudo, que apesar de mencionar as sanções econômicas
internacionais como meio de resolução de conflitos internacionais, a Liga das Nações não dá
um tratamento jurídico apurado e sistemático acerca desses mecanismos, permitindo a
descentralização das ações dos países no que tange à sua aplicação.
Dessa forma, vale mencionar que, assim como aponta Baldwin (1985), as sanções
econômicas internacionais não são um fenômeno do século XX, podendo ser percebidas há
milhares de anos. Nessa esteira, Valério (2011) explica que as sanções econômicas
internacionais, embora não sistematicamente definidas na época, foram utilizadas por
diversas vezes na Grécia Antiga. Um exemplo da aplicação de sanções econômicas
internacionais nesse período, conforme destaca o autor, é o Decreto Megariano, assinado em
432 a.C. pelo líder Ateniense Péricles, cujo objetivo era infringir um boicote comercial à
cidade-estado de Mégara, aliada de Esparta, impedindo-a de ter acesso aos portos e mercados
de Atenas.
Já na era contemporânea, os embargos e boicotes comerciais ganharam novas
características. De acordo com Alexander (2009), conforme os Estados desenvolveram seu
poder marítimo e suas capacidades de guerra naval, o uso de bloqueios de navios em alto mar
tornou-se uma característica presente em muitas sanções econômicas internacionais. Nesse
ínterim, a partir principalmente do século XIX, era comum países promoverem a
interceptação ou destruição de navios inimigos em alto mar, além de reivindicarem o direito

4
Tradução Livre: Somente após a Primeira Guerra Mundial foi dada extensiva atenção à
noção de que sanções econômicas poderiam substituir hostilidades armadas.
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de busca e revista de embarcações de países neutros que tinham como destino os portos de
um país inimigo.
No período que antecede a independência dos Estados Unidos da América, é possível
observar a utilização de sanções econômicas internacionais entre a colônia e a metrópole.
Assim como explica Alexander (2009), em 1765, os Estados Unidos da América, ainda
colônia da Inglaterra, promoveram um boicote aos produtos ingleses em resposta à Lei do
Selo imposta pela Inglaterra, em que o país determinou que todos os documentos que
circulassem por suas colônias na América deveriam receber selos da metrópole. Em resposta
ao boicote realizado por sua colônia na América, o governo britânico anulou o decreto da Lei
do Selo no ano seguinte. Entretanto, entre os anos de 1767 e 1768, o parlamento britânico
votou e instituiu os Atos Townshend, que sobretaxavam bens de consumo das colônias
americanas, como o chá, o vidro e o papel, com o objetivo de levantar fundos para o
pagamento dos governadores e juízes coloniais. Em retaliação a esses atos, os colonos
americanos reimpuseram o boicote aos produtos ingleses, o que, em 1773, desembocou na
Festa do Chá de Boston, evento em que os colonos americanos atacaram três navios
pertencentes à Companhia Britânica das Índias Orientais. Esse acontecimento é considerado
um ponto chave que levou à independência dos Estados Unidos da América da metrópole
inglesa.
Durante as Guerras Napoleônicas, alguns anos depois da independência dos Estados
Unidos da América, sanções econômicas internacionais também foram utilizadas em larga
escala pelos britânicos e franceses. Nesse período, ambos os países tinham o objetivo de
causar perdas às indústrias bélicas um do outro, como também de promover a falta de
alimentos e de produtos essenciais à economia do inimigo, utilizando, para isso, o isolamento
econômico por meio de sanções econômicas internacionais. Apesar de causarem um relativo
prejuízo em ambas as economias, de acordo com Alexander (2009), as sanções econômicas
internacionais aplicadas durante as Guerras Napoleônicas pela Inglaterra e França não
obtiveram o sucesso esperado, uma vez que a França era autossuficiente na produção de
alimentos e outras matérias-primas, o que fez com que as sanções econômicas advindas da
Inglaterra não surtissem o efeito pretendido, ao mesmo tempo em que a França não foi capaz
de realizar um bloqueio naval efetivo contra os ingleses. Contudo, conforme aponta o autor,
os bloqueios e os controles comerciais impostos pelos dois países durante esse período
sugeriram que as sanções econômicas internacionais poderiam exercer um importante papel
em períodos de guerra, o que foi explorado em conflitos futuros.
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Tais procedimentos foram adotados durante a Primeira Guerra Mundial, em que além
de aplicar sanções econômicas internacionais contra a Alemanha e o Império Austro-
Húngaro, os poderes Aliados também direcionaram seus esforços a isolar economicamente
países neutros que estavam comercializando com a Alemanha. Em março de 1915, em
resposta à guerra submarina promovida pela Alemanha, o Reino Unido anunciou a imposição
de pesadas sanções econômicas contra o país, juntamente com a consideração dos Aliados de
que países neutros que estivessem negociando comercialmente com a Alemanha também
seriam importantes alvos de restrições econômicas.
O escopo da aplicação das sanções econômicas internacionais, dessa forma, alterou-se
significantemente a partir da Primeira Guerra Mundial, em comparação, por exemplo, às
Guerras Napoleônicas. As medidas restritivas adotadas pelo Reino Unido foram projetadas
para atingir um grande número de atores, privados e públicos, além do monitoramento
extensivo das atividades comerciais envolvendo os bens produzidos pelo país - para que não
fossem enviados às nações inimigas por meio de países neutros. No início da guerra, os
Estados Unidos foram contra as medidas adotadas pelo Reino Unido, alegando que elas
prejudicavam os seus comerciantes e violavam a soberania do país. Contudo, após entrarem
na guerra, em 1917, assim como aponta Doxey (1980), os Estados Unidos passaram a adotar
restrições econômicas similares as do Reino Unido, impondo embargos e boicotes a nações
neutras que cooperavam com os Alemães. Dessa forma, a cooperação entre o Reino Unido e
os Estados Unidos no que tange às sanções econômicas internacionais durante a Primeira
Guerra Mundial é considerada um fator chave para o enfraquecimento econômico da
Alemanha e Impérios Centrais e a vitória dos Aliados.
Entre os anos de 1914 e 1940, de acordo com Valério (2011), as sanções econômicas
internacionais foram impostas, em grande parte, pelo Reino Unido. Os principais casos foram
contra a Alemanha, entre 1914 e 1918, em função da Primeira Guerra Mundial, contra a
Rússia, entre 1918 e 1920, com o objetivo de desestabilizar o regime bolchevique instaurado
durante a Guerra Civil Russa e contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS),
em 1933, devido ao aprisionamento de dois cidadãos britânicos no país. Além do Reino
Unido, o autor também menciona as sanções econômicas internacionais impostas pelos
Estados Unidos contra o Império do Japão, em 1917, com o objetivo de conter o
expansionismo da indústria naval japonesa e sua crescente influência no continente asiático.
O autor explica que, no geral, as sanções econômicas internacionais, nesse período, foram
usadas como instrumentos de ação dos vitoriosos da Primeira Guerra Mundial contra os
perdedores.
15

Em relação à Segunda Guerra Mundial, segundo Alexander (2009), as técnicas


adotadas em relação às sanções econômicas internacionais foram refinadas. Até o ano de
1941, quando os Estados Unidos entram oficialmente na guerra, o Reino Unido havia
instaurado um extensivo e efetivo programa nacional de sanções econômicas contra as forças
do Eixo, compostas principalmente por Alemanha, Itália e Japão. O Ministério Britânico de
Guerra Econômica instituiu, em 1939, o “1939 Trading with the Enemy Act” (Lei de
Comércio com o Inimigo de 1939, em tradução livre), que entre suas principais medidas
estavam o bombardeamento concentrado de alvos industriais na Alemanha, uma significativa
diminuição das importações para a Alemanha, uma “Black List” contendo mais de 650 nomes
de indivíduos e empresas com os quais os nacionais britânicos não poderiam comercializar, o
uso de controles de exportações no comércio com países neutros e a implementação de
licenças para o comércio naval, que impedia o uso dos portos e instalações britânicas sem o
consentimento prévio do governo, evitando que navios com destino à Alemanha e seus
aliados fossem enviados.
Diferentemente do que aconteceu na Primeira Guerra Mundial, em que inicialmente
os Estados Unidos foram contra os mecanismos de sanções econômicas internacionais
impostos pelo Reino Unido, na Segunda Guerra Mundial o país cooperou com os britânicos
desde o início da guerra, a partir de 1939, dois anos antes de oficialmente declarar guerra ao
Eixo. As medidas tomadas pelos Estados Unidos ao longo da guerra incluíam,
principalmente, o controle de fundos estrangeiros e o licenciamento de exportações a países
neutros. A coordenação e cooperação entre as sanções econômicas internacionais aplicadas
pelo Reino Unido e Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial são consideradas
fatores que levaram à efetividade dessas medidas.
Logo após o final da guerra, apesar do rendimento incondicional das duas principais
forças do Eixo, Alemanha e Japão, as sanções econômicas internacionais aplicadas pelos
Estados Unidos e Reino Unido continuaram, porém, foram redirecionadas a outro inimigo: a
União Soviética. De acordo com Malloy (2001), após o fim da Segunda Guerra Mundial, os
Estados Unidos mantiveram um regime regulatório e legal compreensivo de controle de
exportações e sanções econômicas internacionais contra os países do bloco soviético e de
países comunistas da Ásia. Já o Reino Unido, embora continuasse aplicando sanções
econômicas internacionais contra seus inimigos após o fim da guerra, foi eliminando
gradualmente o cerne de suas restrições econômicas, compostas principalmente por bloqueio
de ativos e das “Black Lists” contra entidades e indivíduos inimigos.
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Na esteira da Guerra Fria, Valério (2011) aponta dois episódios de aplicação de


sanções econômicas internacionais considerados graves dentro do contexto do Sistema
Internacional, que foram as aplicadas contra a Coréia do Norte a partir de 1949 e as aplicadas
contra Cuba a partir de 1960. Em relação às sanções econômicas internacionais aplicadas
contra a Coréia do Norte, a partir de 1949, elas se deram no contexto da Guerra da Coréia e
do crescente conflito ideológico entre os blocos capitalistas e socialistas que surgiram no
âmbito da Guerra Fria. As restrições econômicas impostas à Coréia do Norte, pelos países
ocidentais, sobretudo, os Estados Unidos, tiveram como justificativas acusações de que o país
estaria desenvolvendo armamentos nucleares, o que, posteriormente, ficou comprovado por
meios de testes. Em relação às sanções econômicas internacionais impostas à Cuba, a partir
de 1960, elas tiveram como justificativas as medidas adotadas por Fidel Castro após a
Revolução Cubana, que incluíam a nacionalização de empresas estrangeiras que operavam no
país e a expropriação de bens realizada pelo governo recém instaurado. Acerca desse
episódio, Ianni (2004) afirma que as elites e classes dominantes dos Estados Unidos,
principal país prejudicado pelas medidas adotadas por Fidel Castro, empenharam-se desde o
início da Revolução para bloquear, desestabilizar e isolar economicamente o regime socialista
de Cuba, fato que continua em vigor até os dias atuais, em que a ilha caribenha sofre diversos
boicotes e embargos promovidos pelos Estados Unidos.

2.3 SANÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS E ORGANIZAÇÕES


INTERNACIONAIS

Em relação à institucionalização das sanções econômicas internacionais em um


âmbito global, a primeira tentativa de torná-las ferramentas previstas em documento ocorreu
na formulação do Pacto da Liga das Nações, em 1919. Contudo, apesar dos esforços dos
países membros em estabelecer medidas multilaterais para agirem em casos de violação dos
princípios regentes da comunidade internacional, verifica-se que o Pacto da Liga das Nações
não foi capaz de evitar ou punir adequadamente atos de agressões armadas, principalmente na
década de 1930. De acordo com Valério (2011), houve esforços para se instituir a aplicação
de sanções econômicas internacionais a países que fizessem o uso da força militar contra
outros Estados, porém, devido a uma formulação deficiente e vaga a respeito do julgamento e
métodos usados para a aplicação dessas medidas, o Pacto das Nações Unidas mostrou-se
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ineficiente no que concerne ao alcance dos objetivos esperados com a aplicação de sanções
econômicas internacionais.
Conforme explica o autor, apesar de estar previsto na Carta da Liga das Nações que
atos de agressão contra um Estado soberano deveriam ser respondidos multilateralmente, na
prática, as medidas aplicadas eram julgadas e aplicadas de forma unilateral. Isso porque o
Artigo que tratava sobre a aplicação de sanções econômicas internacionais a nações
beligerantes, o Artigo 16, carecia de formulações precisas de como seriam julgados os atos de
agressão e em que medida o Conselho da Liga das Nações deveria exigir que os países
membros aplicassem restrições econômicas a um Estado agressor. Assim, a falta de
mecanismos de coerção presentes no Pacto abria brechas para que cada Estado julgasse
unilateralmente se iria ou não aplicar sanções econômicas internacionais contra uma nação
que violou os princípios do Sistema Internacional.
Segundo explica Alexander (2009), o Artigo 16 do Pacto da Liga das Nações previa
que qualquer Estado que cometesse atos de agressão contra outro, sem primeiro tentar
resolver seus impasses por meios pacíficos, deveria ser automaticamente sancionado
comercial e financeiramente pelos membros da Liga. Dessa forma, a única obrigação prevista
pelo Artigo era que os Estados membros deveriam recorrer aos três métodos presentes nos
Artigos 12, 13 e 15 para a resolução de seus conflitos: a arbitragem, a Corte Permanente de
Justiça e o próprio Conselho da Liga. O Artigo previa que caso esses recursos não surtissem
efeito para a resolução do conflito, sanções econômicas internacionais deveriam ser
automaticamente aplicadas contra o agressor. Contudo, o autor argumenta que, embora a Liga
recomendasse meios pacíficos e diplomáticos de resolução de conflitos antes da aplicação de
sanções econômicas internacionais, o Pacto não dispunha de estrutura jurídica para julgar os
atos transgressores, apenas previa que os todos os Estados membros deveriam votar
anonimamente se algum Estado havia quebrado suas obrigações para com a Liga e depois
disso, então, as sanções econômicas internacionais poderiam ser aplicadas. Portanto, ficava a
cargo de cada país julgar a necessidade ou não da imposição das restrições econômicas.
O caso mais emblemático da inoperância da Liga das Nações em relação a uma
agressão armada de um Estado contra outro é a invasão da Abissínia (atual Etiópia) pela
Itália, em 1935. Conforme explica Alexander (2009) e Valério (2011), as medidas tomadas
contra a Itália pelo Conselho da Liga das Nações mostram-se ineficientes e seletivas, não
sendo capazes de fazer com que o país retirasse suas forças armadas do território invadido. O
Pacto aprovou restrições comerciais e financeiras contra a Itália, mas isso não foi capaz de
impedir que o país tivesse acesso a bens essenciais para a guerra, como petróleo, carvão, aço
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e ferro gusa. Inclusive, Thomson (1981) afirma que, em 1935, quando o Secretário de
Assuntos Internos da Commonwealth, Samuel Hoare, perguntou ao Primeiro-Ministro do
Reino Unido, Stanley Baldwin, sobre a imposição de sanções contra a Itália, Baldwin teria
respondido que não estava preparado para a guerra e, por isso, iria se manter fora desse
assunto. Ademais, os Estados Unidos e a União Soviética recusaram-se a aderir as sanções
propostas pela Liga, não adotando nenhum controle sobre as exportações para a Itália,
enquanto a Alemanha e Espanha falharam em aderir qualquer embargo significativo contra o
país agressor.
Entretanto, vale ressaltar que, apesar da ineficiência da Liga das Nações em conseguir
implementar sanções econômicas significativas contra a Itália, a Organização obteve algum
sucesso na ameaça de aplicação de restrições econômicas contra dois Estados menores na
década de 1920. Conforme explica Hufbauer, Schott e Elliot (2009), em 1921, sob os
auspícios do Artigo 16 da Carta da Liga das Nações, a Organização ameaçou impor sanções
econômicas internacionais contra a antiga Iugoslávia em decorrência de seus esforços
militares para adquirir territórios da Albânia. De forma similar, em 1925, a Liga das Nações
ameaçou aplicar sanções econômicas contra a Grécia, com o objetivo de coagir o país a
retirar suas forças do território da Bulgária. Assim, evidencia-se que, apesar dos resultados
das medidas coercitivas adotadas pela Liga das Nações serem considerados insuficientes para
muitos autores, não se pode afirmar que essa Organização não obteve nenhum sucesso em
seus esforços para a manutenção da paz.
Por fim, apesar da Liga das Nações ser considerada por muitos historiadores falha em
atingir seus objetivos propostos, como em evitar ou punir as agressões militares exercidas
pela Itália, Alemanha e Japão na década de 1930, é possível dizer que ela foi importante na
medida em que foi a primeira Organização Internacional a buscar criar procedimentos de
ação em casos de quebra ou violação dos princípios da Comunidade Internacional, além
também de ser a primeira instância a instituir as sanções econômicas internacionais como
meio de resolução de conflitos. Ademais, a Liga também serviu para que medidas mais
objetivas e específicas fossem adotadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), em
1945, como forma de evitar e corrigir as inconsistências presentes no Pacto da Liga das
Nações.
Em contrapartida ao Pacto da Liga das Nações, a criação da Organização das Nações
Unidas (ONU), em 1945, promoveu a instauração de um órgão com poderes mandatórios, o
Conselho de Segurança. Assim como explica Valério (2011), a Carta da ONU, com o
objetivo de promover a segurança internacional por meio de ações multilaterais, desenvolve
19

bases institucionais mais sólidas e firmes no que tange à aplicação de sanções econômicas
internacionais se comparado ao Pacto da Liga das Nações. Embora ainda haja imperfeições
no que tange à coordenação da aplicação dessas medidas em casos de violação da integridade
física de um Estado soberano, a Carta das Nações Unidas é vista como um progresso em
relação à institucionalização de normas de segurança internacional.
Alexander (2009) explica que o Conselho de Segurança da ONU, nos termos dos
Capítulos 6 e 7 da Carta, tem os poderes tanto de recomendar quanto de legalmente vincular
decisões acerca da aplicação de sanções econômicas internacionais pelos países membros,
enquanto a Assembleia Geral tem a autoridade para recomendar resoluções não vinculativas
para que os Estados membros adotem restrições econômicas contra algum país. Em relação
ao Capítulo 6 da Carta da ONU, que trata sobre o tratamento pacífico de resolução de
conflitos, ele prevê que o Conselho de Segurança da Organização pode adotar recomendações
para a aplicação de sanções econômicas internacionais contra um Estado, além de autorizá-lo
a “chamar a atenção” das partes envolvidas para investigar, recomendar procedimentos ou
métodos de ajuste ou fazer recomendações às partes.
Já o Capítulo 7 da Carta autoriza o Conselho de Segurança a tomar decisões
legalmente vinculativas em relação à aplicação de sanções econômicas internacionais, ou
seja, ele tem caráter mandatório e atribui ao Conselho de Segurança poderes de coerção.
Nesse ínterim, o Artigo 39 da Carta especifica que para a aplicação do Artigo 7, o Conselho
de Segurança deve determinar que existe uma “ameaça à paz”, “quebra da paz” ou “ato de
agressão”, deixando a possibilidade para que esse órgão determine se recomendará ou
decidirá sobre a aplicação de sanções econômicas internacionais, inclusive se essas medidas
envolverão ou não o uso da força. Uma vez que o Conselho de Segurança determina que
houve “ameaça à paz”, “quebra da paz” ou “ato de agressão”, ele pode autorizar a aplicação
de sanções econômicas internacionais por seus membros de forma multilateral e sob sua
coordenação. De acordo com Alexander (2009), a restrição para que o Conselho de
Segurança imponha o uso de sanções econômicas internacionais contra algum país está na
condição de que pelo menos 9 dos 15 membros do órgão votem a favor da ação.
O primeiro caso em que a Assembleia Geral recomendou que se fossem aplicadas
sanções econômicas internacionais a um país foi em 1946, quando o órgão apresentou uma
resolução que recomendava aos países membros da ONU a aplicação de sanções contra a
Espanha e o regime fascista do ditador Francisco Franco. Em 1962, a Assembleia Geral, em
conjunto com o Conselho de Segurança, apresentou uma série de resoluções em que
condenava o regime do apartheid na África do Sul e recomendava aos Estados membros da
20

ONU que empregassem sanções econômicas internacionais contra o país, que incluíam o
embargo de armas e certas restrições comerciais. Para Alexander (2009), embora essas
medidas tenham sido tomadas em um contexto não mandatório, elas foram importantes para
que a comunidade internacional desse atenção às violações de direitos humanos que estavam
ocorrendo no período em que foram propostas.
Já o primeiro caso de imposição de sanções econômicas internacionais pelo Conselho
de Segurança da ONU aconteceu em 1966 contra o governo recém-instalado da Rodésia do
Sul (Antiga Rodésia, colônia britânica na África), atual Zimbabwe, quando uma minoria
branca tomou o poder no território. Esse é considerado o primeiro caso em que uma
Organização Internacional conseguiu colocar em prática, de forma multilateral e coordenada,
sanções econômicas internacionais contra um Estado. Contudo, existem debates acerca da
efetividade dessas medidas. Por exemplo, Valério (2011, p. 151), sobre esse episódio, afirma
que: “A primeira vez que uma organização internacional conseguiu aplicar sanções
econômicas internacionais, além de verdadeiramente multilaterais, realmente efetivas”.
Assim, verifica-se que, para o autor, as medidas impostas pelo Conselho de Segurança da
ONU no caso da Rodésia foram eficazes. Sobre o mesmo episódio, Alexander (2009, p. 25)
afirma que: “The effectiveness of the sanctions has been a subject of debate, as they were in
effect for thirteen years before Ian Smith’s government in 1979 finally conceded to hold
multi-racial elections”5.
Dessa forma, observa-se que o autor pondera acerca da efetividade dessas medidas,
uma vez que se levaram 13 anos para que o governo de minoria branca fosse substituído na
Rodésia. Além disso, Alexander (2009) aponta alguns problemas em relação ao caso da
aplicação de sanções econômicas internacionais contra a Rodésia. Entre eles estão os
diferentes sistemas legais dos Estados membros da ONU, o que levou a divergentes
interpretações de como as sanções deveriam ser aplicadas, problemas de assistência mútua e
de sobreposições de jurisdição entre os países sob as mesmas transações, além de que houve
dificuldade para persuadir os países que faziam fronteira com a Rodésia, como a África do
Sul, para que aderissem às restrições econômicas impostas à antiga colônia britânica.
Na década de 1990, o Conselho de Segurança da ONU deparou-se com outro desafio
em relação à implementação e coação de sanções econômicas internacionais no âmbito do
órgão. Em 1990, o governo dos Estados Unidos aplicou sanções contra o Iraque, que havia
5
Tradução Livre: A efetividade das sanções tem sido objeto de debate, ao passo de que elas
estiveram em curso por treze anos até que o governo de Ian Smith, em 1979, finalmente concedesse a
realização de eleições multirraciais.
21

invadido seu país vizinho, o Kuwait, e seguindo as medidas tomadas pelos governantes
estadunidenses, o Conselho de Segurança da ONU adotou a Resolução 661, a qual
demandava que os Estados membros congelassem os ativos financeiros do Iraque e Kwait
que se encontravam em seus territórios. A adoção dessa Resolução foi seguida por
imposições de ordens de congelamento e sanções comerciais contra o país invasor, o Iraque, e
o país invadido, Kwait, pela maioria dos países Europeus, os Estados Unidos, Japão e
Canadá. Todavia, devido às diferentes técnicas legais utilizadas pelos países sancionadores,
houve dificuldades de complementariedade e de implementação coerente, além de uma
coordenação efetiva na aplicação das medidas contra os dois países. As diferenças nas
técnicas legais e regulatórias são apontadas como contribuidoras para a ineficiente
coordenação dos vários programas nacionais de sanções contra o Iraque (ALEXANDER,
2009).
Além dos problemas envolvendo a implementação e coordenação das sanções
econômicas internacionais no caso da Guerra do Iraque (ou Guerra do Kwait), também se
argumenta que as imposições levantadas contra o governo de Saddam Hussein tiveram
grande impacto econômico e social sobre os civis do país. As medidas impostas contra o
Iraque incluíam embargo extensivos e sanções mais direcionadas, principalmente focando nas
finanças, viagens, commodities e exportações de armamentos específicos. A aplicação de
sanções extensivas contra o país ocasionou consideráveis custos sociais e econômicos para a
população iraquiana, o que fez com que diversos formuladores de política ponderassem
acerca da legitimidade e efetividade das medidas impostas. Para Alexander (2009), as lições
tiradas do caso da aplicação de sanções econômicas contra o Iraque são que as sanções
necessitam ser mais focadas em áreas como inspeção de fronteiras e comércio com Estados
fronteiriços, itens militares e controles financeiros.
Por fim, é importante salientar que, embora comparado à Organização das Nações
Unidas (ONU), a aplicação, ou a recomendação de aplicação, de sanções econômicas por
Organizações Internacionais regionais não teve um número expressivo de casos consolidados,
esses casos também existiram e tiveram seu impacto nas relações internacionais. Nesse
ínterim, nota-se que existem lacunas nos estudos e pesquisas acerca da aplicação e
efetividade de sanções econômicas internacionais advindas de Organizações Internacionais
regionais. Assim, o objetivo central desse trabalho é analisar a efetividade dos casos de
aplicação de sanções econômicas internacionais por essas entidades.
22

2.4 ESTUDO DE CASO SOBRE A EFETIVIDADE DE SANÇÕES ECONÔMICAS


INTERNACIONAIS APLICADAS POR ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
REGIONAIS

O presente estudo de caso buscará analisar a efetividade de 34 casos de aplicação de


sanções econômicas internacionais por Organizações Internacionais regionais, entre os anos
de 1990 e 2018, cujos objetivos eram a manutenção da segurança internacional. Nesse
contexto, a efetividade das sanções será entendida como o alcance, total ou parcial, dos
objetivos buscados pelas Organizações Internacionais regionais ao aplicarem as sanções
contra o alvo (target). Para isso, utilizou-se a base de dados do International Sanctions
Termination (IST), disponível online no repositório de dados do Harvard Dataverse, que
contém 399 casos de sanções econômicas internacionais aplicadas por diferentes atores do
Sistema Internacional, incluindo países, a Organização das Nações Unidas (ONU) e
Organizações Internacionais regionais, entre os anos de 1990 e 2018, sendo que as
informações presentes nessa base de dados são oriundas de documentos intergovernamentais.
A base de dados do IST também abrange sanções econômicas internacionais que iniciaram
antes de 1990, mas que ainda estavam em andamento no ano em questão.
Para o propósito da análise, que foca em Organizações Internacionais regionais e na
segurança internacional, realizou-se uma filtragem na base de dados, excluindo Estados e a
ONU como aplicadores (sender) e objetivos que não se enquadram na manutenção da
segurança internacional. Assim, as sanções econômicas internacionais que serão analisadas
foram aplicadas pelas seguintes Organizações Internacionais regionais: Comunidade
Econômica Europeia (precursora da União Europeia), União Europeia, Comunidade
Econômica dos Estados da África Ocidental, União Africana, Comunidade da África Oriental
e Liga Árabe. Além disso, todos os casos incluem pelo menos um dos seguintes objetivos:
mitigar ou terminar conflitos armados, impedir a proliferação de armas ou materiais
nucleares, parar a proliferação ou o uso de armas de destruição em massa e compelir o alvo a
encerrar o suporte a organizações terroristas transnacionais. A tabela abaixo resume os casos
de sanções econômicas internacionais, filtrados de acordo com o propósito da análise,
encontrados na base de dados do IST.

Tabela 1 – Sanções econômicas internacionais aplicadas por Organizações Internacionais


regionais entre 1990 e 2018 buscando a manutenção da segurança internacional
23

Sanções Econômicas Internacionais Aplicadas por OIs Regionais (1990-2018)

Data de
Identificação Aplicador Alvo Data de Início
Término
Comunidade
1 Econômica Macedônia 08/09/1991 13/03/1996
Europeia
Comunidade
2 Econômica Croácia 05/07/1991 20/11/2000
Europeia
Comunidade
3 Econômica Iugoslávia 05/07/1991 08/10/2001
Europeia
Comunidade
Bósnia e
4 Econômica 03/03/1992 23/01/2006
Herzegovina
Europeia
Comunidade
5 Econômica Eslovênia 05/07/1991 13/03/1996
Europeia
Comunidade República
6 Econômica Democrática do 22/01/1992 14/05/2008
Europeia Congo
Comunidade
7 Econômica Líbia 27/01/1986 11/10/2004
Europeia
Comunidade
8 Econômica Sudão 01/03/1990 Em andamento
Europeia
Comunidade
9 Econômica Síria 10/11/1986 28/11/1994
Europeia
10 União Europeia Rússia 06/03/2014 Em andamento

11 União Europeia Rússia 11/12/1999 10/07/2000

12 União Europeia Ucrânia 17/03/2014 Em andamento

13 União Europeia Mali 29/09/2017 Em andamento

14 União Europeia Costa do Marfim 13/12/2004 09/06/2016


República
15 União Europeia 24/12/2013 Em andamento
Centro-Africana
16 União Europeia Congo 05/06/1997 17/05/2001
República
17 União Europeia Democrática do 12/12/2016 Em andamento
Congo
18 União Europeia Somália 10/12/2002 Em andamento
24

19 União Europeia Etiópia 15/03/1999 31/05/2001

20 União Europeia Eritreia 01/03/2010 10/12/2018

21 União Europeia Eritreia 15/03/1999 31/05/2001

22 União Europeia Líbia 28/02/2011 Em andamento

23 União Europeia Sudão do Sul 18/07/2011 Em andamento

24 União Europeia Irã 27/02/2007 Em andamento

25 União Europeia Irã 10/04/1997 22/11/1997

26 União Europeia Síria 09/05/2011 Em andamento

27 União Europeia Afeganistão 17/12/1996 27/05/2002

28 União Europeia Coreia do Norte 20/11/2006 Em andamento


Comunidade
Econômica dos
29 Costa do Marfim 07/12/2010 24/03/2011
Estados da
África Ocidental
Comunidade
Econômica dos
30 Libéria 05/11/1992 29/08/1997
Estados da
África Ocidental
República
31 União Africana 25/03/2013 31/03/2016
Centro-Africana
Comunidade da
32 Burundi 31/07/1996 28/08/2000
África Oriental
33 Liga Árabe Líbia 22/02/2011 27/08/2011

34 Liga Árabe Israel 14/05/1948 Em andamento


Fonte: elaborado pelo próprio autor

A partir da Tabela 1, é possível identificar 34 casos de sanções econômicas


internacionais aplicadas por Organizações Internacionais regionais, sendo que 3 deles
iniciaram antes de 1990 e continuaram após esse ano, e 13 deles ainda estão em andamento
nos dias atuais. A tabela abaixo resume as medidas tomadas pelas instituições aplicadoras das
sanções econômicas internacionais em cada caso analisado.

Tabela 2 – Medidas tomadas pelas Organizações Internacionais regionais nos casos das
sanções econômicas internacionais aplicadas entre 1990 e 2018 buscando a manutenção da
segurança internacional
25

Medidas adotadas pelas Organizações Internacionais regionais (1990 - 2018)

Medidas Adotadas
Identificação

1 Embargo de armas

2 Embargo de armas

Embargo de armas, embargo de commodities, embargo comercial amplo,


3 sanções financeiras, restrições de viagens, sanções de ajuda, congelamento de
bens, sanções diplomáticas, proibição de voos

4 Embargo de armas, embargo de commodities

5 Embargo de armas

6 Embargo de armas, interrupção de cooperação militar, sanções de ajuda

7 Embargo de armas, sanções diplomáticas, restrições de viagens

Interrupção de cooperação militar, embargo de armas, congelamento de bens,


8
restrições de viagens, sanções de ajuda

9 Embargo de armas, sanções diplomáticas

Congelamento de bens, restrições de viagens, sanções financeiras, embargo de


10 armas, embargo de commodities, interrupção de cooperação militar, sanções
diplomáticas

11 Sanções financeiras, sanções de ajuda

Congelamento de bens, restrições de viagens, embargo de commodities,


12
proibição de voos, embargo comercial amplo, embargo de petróleo

13 Restrições de viagens, congelamento de bens

Embargo de armas, restrições de viagens, congelamento de bens, interrupção


14 de cooperação militar, embargo de commodities, sanções financeiras, sanções
de ajuda
26

Embargo de armas, interrupção de cooperação militar, sanções de ajuda,


15
restrições de viagens

16 Sanções de ajuda

17 Congelamento de bens

Embargo de armas, interrupção de cooperação militar, embargo de


18
commodities, sanções de ajuda

19 Embargo de armas, interrupção de cooperação militar

Embargo de armas, congelamento de bens, restrições de viagens, interrupção


20
de cooperação militar

21 Embargo de armas

Embargo de armas, congelamento de bens, restrições de viagens, sanções


22
diplomáticas, interrupção de cooperação militar

23 Embargo de armas, congelamento de bens, restrições de viagens

Embargo de commodities, embargo de petróleo, embargo de armas, sanções


24
financeiras, proibição de voos, congelamento de bens, restrições de viagens

25 Sanções diplomáticas

Embargo de armas, restrições de viagens, congelamento de bens, embargo de


26
petróleo, sanções financeiras, embargo de commodities

Embargo de armas, proibição de voos, congelamento de bens, restrições de


27
viagens

Embargo de armas, congelamento de bens, restrições de viagens, embargo de


28
commodities, sanções financeiras, embargo de petróleo

29 Sanções diplomáticas

30 Embargo de armas, embargo de commodities


27

31 Congelamento de bens, restrições de viagens, sanções diplomáticas

Embargo de armas, restrições de viagens, embargo comercial amplo,


32
proibição de voos

33 Sanções diplomáticas

Embargo comercial amplo, sanções financeiras, sanções diplomáticas,


34
embargo de petróleo
Fonte: elaborado pelo próprio autor

A tabela 2 demonstra que entre as principais medidas adotadas pelas Organizações


Internacionais regionais nos casos das sanções econômicas internacionais aplicadas entre
1990 e 2018, em que se buscava manter a segurança internacional, destaca-se o embargo de
armas, presente especificamente em 26 dos 34 casos analisados, sendo que em 2 dos 8 casos
em que o embargo de armas não foi oficialmente aplicado, houve embargo comercial amplo,
situação em que o aplicador (sender) interrompe todas as trocas econômicas com o alvo,
incluindo o comércio de armas. A tabela a seguir resume os objetivos específicos, dentro do
escopo da segurança internacional, que cada Organização Internacional regional almejava
alcançar no momento em que aplicou as sanções econômicas internacionais contra os alvos.

Tabela 3 – Objetivos específicos das Organizações Internacionais regionais nos casos das
sanções econômicas internacionais aplicadas entre 1990 e 2018 buscando a manutenção da
segurança internacional

Objetivos das Organizações Internacionais regionais ao aplicarem as sanções


econômicas internacionais (1990 - 2018)

Objetivos
Identificação

1 Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos

2 Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos

3 Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos


28

4 Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos

5 Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos

Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos, respeitar a


6
democracia

Compelir o alvo a encerrar o suporte a organizações terroristas


7
transnacionais

Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos, respeitar a


8
democracia

Compelir o alvo a encerrar o suporte a organizações terroristas


9
transnacionais

10 Mitigar ou terminar conflitos armados

11 Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos

12 Mitigar ou terminar conflitos armados

Mitigar ou terminar conflitos armados, compelir o alvo a encerrar o suporte


13
a organizações terroristas transnacionais

Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos, respeitar a


14
democracia

Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos, respeitar a


15
democracia

16 Mitigar ou terminar conflitos armados, respeitar a democracia

Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos, respeitar a


17
democracia

Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos, respeitar a


18
democracia

19 Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos


29

Mitigar ou terminar conflitos armados, compelir o alvo a encerrar o suporte


20
a organizações terroristas transnacionais

21 Mitigar ou terminar conflitos armados

Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos, respeitar a


22
democracia

23 Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos

Impedir a proliferação de armas ou materiais nucleares, parar a proliferação


24
ou o uso de armas de destruição em massa

Compelir o alvo a encerrar o suporte a organizações terroristas


25
transnacionais

Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos, respeitar a


26
democracia
Mitigar ou terminar conflitos armados, compelir o alvo a encerrar o suporte
27 a organizações terroristas transnacionais, interromper tráfico de drogas,
apoiar Direitos Humanos

28 Impedir a proliferação de armas ou materiais nucleares

Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos, respeitar a


29
democracia

30 Mitigar ou terminar conflitos armados, respeitar a democracia

Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos, respeitar a


31
democracia

Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos, respeitar a


32
democracia

Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos, respeitar a


33
democracia

34 Mitigar ou terminar conflitos armados, apoiar Direitos Humanos

Fonte: elaborado pelo próprio autor

A tabela 3 demonstra que entre os principais objetivos buscados pelas Organizações


Internacionais regionais nos casos das sanções econômicas internacionais dentro da esfera da
30

segurança internacional está a busca por mitigar ou terminar conflitos armados, objetivo
presente em 29 dos 34 casos analisados. Uma vez explícitos as medidas e os objetivos
buscados por essas instituições regionais, cabe avaliar os resultados obtidos por elas.
Em relação aos resultados, cinco tipos de consequências podem ser encontrados a
partir da aplicação das sanções econômicas internacionais nesses casos: completa aderência
pelo alvo, aderência parcial pelo alvo, capitulação pelo aplicador, impasse e acordo
negociado. Acerca da completa aderência pelo alvo, esse resultado pode ser entendido como
a total complacência do alvo em relação às demandas do aplicador, isto é, o alvo altera seu
comportamento em decorrência das sanções econômicas aplicadas e atende aos objetivos do
aplicador. A aderência parcial pelo alvo, por sua vez, é quando o alvo continua a exercer
alguns dos comportamentos que são indesejados pelo aplicador, mas concorda em alterar
algumas de suas condutas em favor às demandas do aplicador das sanções. Por outro lado, a
capitulação pelo aplicador ocorre quando o sancionador retira as sanções aplicadas mesmo
que o alvo tenha falhado em atender às demandas do aplicador. O impasse é caracterizado
pela retirada das sanções econômicas internacionais mesmo que o alvo tenha se recusado a
atender às demandas do aplicador e o aplicador se recusado a alterar suas demandas. O
acordo negociado é o resultado caracterizado pela retirada das sanções econômicas
possibilitada pelo estabelecimento de um acordo entre as partes. Nesse caso, o alvo ajusta o
seu comportamento de acordo com as demandas do aplicador, enquanto o aplicador, em
troca, realiza uma ação negociada. Para fins de análise, este trabalho considerará que as
sanções econômicas internacionais aplicadas pelas Organizações Internacionais regionais em
questão foram efetivas se obtiveram algum desses resultados: completa aderência pelo alvo,
acordo negociado e aderência parcial pelo alvo. Em relação à aderência parcial pelo alvo,
apesar do aplicador não ter alcançado todos os seus objetivos, as sanções econômicas
internacionais aplicadas por ele surtiram algum efeito, sendo capazes de fazer o alvo alterar
alguns de seus comportamentos, portanto, este trabalho as considerará efetivas por
conseguirem afetar o comportamento do alvo em favor às demandas do aplicador. Em se
tratando das sanções que ainda estão em andamento, elas não serão consideradas na análise
da efetividade, uma vez que ainda não possuem um resultado definitivo. A tabela a seguir
resume os resultados obtidos com cada caso de sanções econômicas internacionais aplicadas.

Tabela 4 – Resultados alcançados pelas Organizações Internacionais regionais nos casos das
sanções econômicas internacionais aplicadas entre 1990 e 2018 buscando a manutenção da
segurança internacional
31

Resultados obtidos pelas Organizações Internacionais regionais ao aplicarem as


sanções econômicas internacionais (1990 - 2018)

Resultados
Identificação

1 Completa aderência pelo alvo

2 Completa aderência pelo alvo

3 Completa aderência pelo alvo

4 Aderência parcial pelo alvo

5 Completa aderência pelo alvo

6 Aderência parcial pelo alvo

7 Completa aderência pelo alvo

8 Em andamento

9 Aderência parcial pelo alvo

10 Em andamento

11 Capitulação pelo aplicador

12 Em andamento

13 Em andamento

14 Aderência parcial pelo alvo


32

15 Em andamento

16 Aderência parcial pelo alvo

17 Em andamento

18 Em andamento

19 Completa aderência pelo alvo

20 Aderência parcial pelo alvo

21 Aderência parcial pelo alvo

22 Em andamento

23 Em andamento

24 Em andamento

25 Impasse

26 Em andamento

27 Impasse

28 Em andamento

29 Impasse

30 Completa aderência pelo alvo


33

31 Aderência parcial pelo alvo

32 Aderência parcial pelo alvo

33 Aderência parcial pelo alvo

34 Em andamento

Fonte: elaborado pelo próprio autor

A partir dos resultados expressos na tabela 4, tem-se que dos 21 casos em que a
aplicação das sanções econômicas internacionais pelas Organizações Internacionais regionais
obteve resultado, 17 deles foram efetivos, isto é, as instituições alcançaram, total ou
parcialmente, seus objetivos. Entre os 17 casos considerados efetivos, 7 tiveram completa
aderência pelo alvo sancionado e 10 tiver aderência parcial pelo alvo sancionado. Nota-se,
também, que em nenhum dos casos considerados efetivos o resultado foi um acordo
negociado. Em relação aos 4 casos em que a aplicação das sanções econômicas internacionais
não foi efetiva, 3 deles resultaram em impasse e 1 resultou em capitulação pelo aplicador.
Dessa forma, considerando o universo de casos que obtiveram algum resultado, a taxa de
sucesso (efetividade) fica em torno de 81%.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
34

As sanções econômicas internacionais são ferramentas à disposição dos atores


internacionais que buscam alterar o comportamento de outros atores. Essas ferramentas foram
e estão sendo utilizadas em diversos contextos, sobretudo em situações de conflitos armados,
que requerem uma abordagem minuciosa e efetiva, uma vez que esses conflitos podem
ultrapassar fronteiras e ameaçar a segurança internacional. Nesse sentido, diferentes
Organizações Internacionais regionais fizeram e fazem uso das sanções econômicas
internacionais como meio para dissuadir ações que comprometam a segurança internacional,
sendo possível identificar casos desde pelo menos 1948, quando a Liga Árabe sancionou o
Estado de Israel economicamente. A efetividade dessas sanções, contudo, pode variar
dependendo do contexto e demorar de meses a anos para ser alcançada. A partir da análise
feita dos casos de aplicação de sanções econômicas internacionais por Organizações
Internacionais regionais que buscavam, entre seus objetivos, a manutenção da segurança
internacional, que somam 34 casos no total, observou-se que, dos casos que obtiveram
resultado, cerca de 81% foram efetivos (17 dos 21 casos), ou seja, alcançaram seus propósitos
total ou parcialmente.
Considerando o universo dos casos que obtiveram resultado, infere-se que grande
parte dos casos de aplicação de sanções econômicas internacionais por Organizações
Internacionais regionais que buscavam alterar o comportamento do alvo em relação a ações
contrárias à segurança internacional foram efetivas, o que imputa um grande papel dessas
instituições no que tange à pacificação de conflitos. Contudo, deve-se ponderar também sobre
o tempo requerido para o alcance dos objetivos e os casos que ainda estão em andamento.
Embora a taxa de efetividade das sanções analisadas seja alta, 11 dos 17 casos considerados
efetivos levaram pelo menos 5 anos para surtir efeito, um tempo longo considerando que
conflitos armados, a proliferação de armas nucleares e o terrorismo transnacional causam
muitas consequências negativas mundialmente. Além disso, dos 13 casos de sanções que
ainda estão em andamento, 9 deles iniciaram há mais de 10 anos, o que também é um período
longo considerando os efeitos da insegurança internacional e a dureza das sanções. Portanto,
a efetividade de sanções econômicas internacionais aplicadas por Organizações
Internacionais regionais que buscam a manutenção da segurança internacional é considerável,
porém, é necessário o aprimoramento dessas ferramentas, bem como o desenvolvimento de
abordagens mais acuradas, em se tratando da segurança internacional.

REFERÊNCIAS
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VALÉRIO, M. A. G. Sanções Econômicas Internacionais. 2011. Tese (Doutorado em


Sociologia) – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista (Unesp),
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