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São Paulo
2024
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1 APRESENTAÇÃO
Na esfera internacional,
2 JUSTIFICATIVA
3 OBJETIVOS
4 ESBOÇO
5 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
8
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1
Tradução Livre: Nós definimos sanções econômicas como a retirada deliberada do governo,
ou a ameaça de retirada, das relações comerciais ou financeiras “habituais”. “Habituais” não
significam “contratuais”; simplesmente significam níveis que provavelmente teriam ocorrido na
ausência de sanções. Geralmente, nós excluímos casos em que incentivos econômicos são usados para
atingir objetivos de política externa. Contudo, quando os incentivos econômicos estão intimamente
conectados às sanções econômicas (diplomacia de “recompensas e punições”), eles são abordados em
nossos resumos e análises.
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influenciar outros atores internacionais a agirem de acordo com uma finalidade, explícita ou
implícita, utilizando, para isso, artifícios econômicos.
Contudo, de acordo com Valério (2011), na literatura vigente, é possível encontrar
outras expressões que buscam caracterizar as sanções econômicas internacionais, como
pressão econômica, coerção econômica, guerra econômica e medida econômica, sendo todas
elas usadas como sinônimos do tema em questão. Para o autor, a falta de uma definição clara
e de um respaldo institucional para as sanções econômicas internacionais traz alguns efeitos
para sua aplicação, como dúvidas em relação à sua legalidade e a não contestação de imediato
pela comunidade internacional.
Ainda em relação à definição das sanções econômicas internacionais, existem visões
distintas na literatura acerca da coercitividade ou não dessas ferramentas. Conforme explica
Valério (2011), para alguns autores, as sanções econômicas internacionais podem ser
entendidas como métodos pacíficos de resolução de controvérsias, uma vez que não é
empregado o uso de força militar em seu escopo. Contudo, para o autor, é necessário
ponderar sobre o pacifismo dessa ferramenta, pois ao buscar modificar o comportamento do
ator alvo, as sanções econômicas internacionais ocorrem, em geral, contra a vontade de quem
as recebe, portanto, existe um certo grau de coercitividade que coloca em dúvida a brandura
das sanções econômicas internacionais.
Em relação aos sujeitos das sanções econômicas internacionais, os principais atores
são quem sanciona (sender) e quem recebe as sanções (target), sendo que pode haver mais do
que um ator nas duas extremidades da aplicação. Acerca dos possíveis atores participantes do
âmbito das sanções econômicas internacionais, Damrosch (1997, p. 47) explica que:
In addition to the previous treatment of decentralizing trends in the
international legal system in general, we have many examples in economic
sanctions practice in which either the sender, or the target, or both, is not a
State but rather a sub state or non-state entity. Indeed, even individuals can
be senders or targets of sanctions, not only conceptually or hypothetically
but in actual practice.2
2
Tradução Livre: Além do tratamento anterior das tendências de descentralização no sistema
jurídico internacional em geral, nós temos muitos exemplos na prática de sanções econômicas em que
o sancionador, ou o alvo, ou ambos, não é um Estado, mas sim um subestado ou uma entidade não
estatal. De fato, até os indivíduos podem ser sancionadores ou alvos de sanções, não apenas
conceitualmente ou hipoteticamente, mas na prática real.
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Dessa forma, percebe-se que, embora os Estados sejam os principais atores atuantes
dentro do Sistema Internacional, as sanções econômicas internacionais extrapolam essa
lógica, sendo possível que empresas, organizações internacionais governamentais ou não
governamentais e indivíduos sejam sancionadores ou alvos de sanções. Isso é possível,
conforme aponta a autora, devido à descentralização que caracteriza o sistema legal
internacional, em que os Estados não são os únicos sujeitos do Direito Internacional.
De acordo com Hufbauer, Schott e Elliot (2009), os tipos de sanções econômicas
internacionais utilizados pelos diferentes atores do Sistema Internacional encontram-se nas
esferas comerciais, financeiras e monetárias ou cambiais. Em relação às sanções econômicas
internacionais empregadas no âmbito comercial, os autores explicam que o embargo
comercial é a ferramenta mais utilizada, tratando-se da proibição, total ou parcial, de
exportações vindas do ator sancionado, podendo, também, significar a cessação de todas as
relações comerciais existentes entre as partes envolvidas. Por outro lado, o boicote também é
um tipo de sanção econômica bastante utilizada pelos atores sancionadores, em que se
emprega a proibição, total ou parcial, de importações de bens ou serviços do agente
sancionador para o agente sancionado. Ademais, como explica Carreau (1986), outras
medidas também podem ser enquadradas como sanções econômicas internacionais no âmbito
comercial, como a diminuição do volume de importações ou exportações entre os agentes
envolvidos, com a aplicação de cotas para o comércio entre eles, a proibição de importações
ou exportações de produtos ou serviços específicos e a prática de dumping, que consiste na
venda de produtos a preços mais baixos do que vendem os concorrentes, com o objetivo de
tomar para si o mercado de determinado produto ou serviço.
Concernente às sanções econômicas internacionais na esfera financeira, Carreau
(1986) explica que essas medidas visam atuar sobre bens e capitais do agente sancionado ou
de outro agente que, indiretamente, possa causar prejuízos ao alvo da sanção (target), sendo
que essas medidas, geralmente, são aplicadas com o objetivo de proibir que nacionais
invistam no agente sancionado ou que interrompam seus investimentos em andamento. Uma
outra prática que atua no âmbito financeiro, conforme observa Burdeau (1997), é o
congelamento ou bloqueio de bens ou capitais de estrangeiros advindos do Estado sancionado
que se encontram dentro do território do sujeito sancionador, deixando esses bens ou capitais
indisponíveis para o acesso. Por último, de acordo com Valério (2011), as sanções
econômicas internacionais do tipo monetária ou cambial caracterizam-se por medidas que
objetivam desvalorizar o câmbio do Estado sancionado, como, por exemplo, a proibição de
transações financeiras em determinada moeda.
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Tradução Livre: Somente após a Primeira Guerra Mundial foi dada extensiva atenção à
noção de que sanções econômicas poderiam substituir hostilidades armadas.
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de busca e revista de embarcações de países neutros que tinham como destino os portos de
um país inimigo.
No período que antecede a independência dos Estados Unidos da América, é possível
observar a utilização de sanções econômicas internacionais entre a colônia e a metrópole.
Assim como explica Alexander (2009), em 1765, os Estados Unidos da América, ainda
colônia da Inglaterra, promoveram um boicote aos produtos ingleses em resposta à Lei do
Selo imposta pela Inglaterra, em que o país determinou que todos os documentos que
circulassem por suas colônias na América deveriam receber selos da metrópole. Em resposta
ao boicote realizado por sua colônia na América, o governo britânico anulou o decreto da Lei
do Selo no ano seguinte. Entretanto, entre os anos de 1767 e 1768, o parlamento britânico
votou e instituiu os Atos Townshend, que sobretaxavam bens de consumo das colônias
americanas, como o chá, o vidro e o papel, com o objetivo de levantar fundos para o
pagamento dos governadores e juízes coloniais. Em retaliação a esses atos, os colonos
americanos reimpuseram o boicote aos produtos ingleses, o que, em 1773, desembocou na
Festa do Chá de Boston, evento em que os colonos americanos atacaram três navios
pertencentes à Companhia Britânica das Índias Orientais. Esse acontecimento é considerado
um ponto chave que levou à independência dos Estados Unidos da América da metrópole
inglesa.
Durante as Guerras Napoleônicas, alguns anos depois da independência dos Estados
Unidos da América, sanções econômicas internacionais também foram utilizadas em larga
escala pelos britânicos e franceses. Nesse período, ambos os países tinham o objetivo de
causar perdas às indústrias bélicas um do outro, como também de promover a falta de
alimentos e de produtos essenciais à economia do inimigo, utilizando, para isso, o isolamento
econômico por meio de sanções econômicas internacionais. Apesar de causarem um relativo
prejuízo em ambas as economias, de acordo com Alexander (2009), as sanções econômicas
internacionais aplicadas durante as Guerras Napoleônicas pela Inglaterra e França não
obtiveram o sucesso esperado, uma vez que a França era autossuficiente na produção de
alimentos e outras matérias-primas, o que fez com que as sanções econômicas advindas da
Inglaterra não surtissem o efeito pretendido, ao mesmo tempo em que a França não foi capaz
de realizar um bloqueio naval efetivo contra os ingleses. Contudo, conforme aponta o autor,
os bloqueios e os controles comerciais impostos pelos dois países durante esse período
sugeriram que as sanções econômicas internacionais poderiam exercer um importante papel
em períodos de guerra, o que foi explorado em conflitos futuros.
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Tais procedimentos foram adotados durante a Primeira Guerra Mundial, em que além
de aplicar sanções econômicas internacionais contra a Alemanha e o Império Austro-
Húngaro, os poderes Aliados também direcionaram seus esforços a isolar economicamente
países neutros que estavam comercializando com a Alemanha. Em março de 1915, em
resposta à guerra submarina promovida pela Alemanha, o Reino Unido anunciou a imposição
de pesadas sanções econômicas contra o país, juntamente com a consideração dos Aliados de
que países neutros que estivessem negociando comercialmente com a Alemanha também
seriam importantes alvos de restrições econômicas.
O escopo da aplicação das sanções econômicas internacionais, dessa forma, alterou-se
significantemente a partir da Primeira Guerra Mundial, em comparação, por exemplo, às
Guerras Napoleônicas. As medidas restritivas adotadas pelo Reino Unido foram projetadas
para atingir um grande número de atores, privados e públicos, além do monitoramento
extensivo das atividades comerciais envolvendo os bens produzidos pelo país - para que não
fossem enviados às nações inimigas por meio de países neutros. No início da guerra, os
Estados Unidos foram contra as medidas adotadas pelo Reino Unido, alegando que elas
prejudicavam os seus comerciantes e violavam a soberania do país. Contudo, após entrarem
na guerra, em 1917, assim como aponta Doxey (1980), os Estados Unidos passaram a adotar
restrições econômicas similares as do Reino Unido, impondo embargos e boicotes a nações
neutras que cooperavam com os Alemães. Dessa forma, a cooperação entre o Reino Unido e
os Estados Unidos no que tange às sanções econômicas internacionais durante a Primeira
Guerra Mundial é considerada um fator chave para o enfraquecimento econômico da
Alemanha e Impérios Centrais e a vitória dos Aliados.
Entre os anos de 1914 e 1940, de acordo com Valério (2011), as sanções econômicas
internacionais foram impostas, em grande parte, pelo Reino Unido. Os principais casos foram
contra a Alemanha, entre 1914 e 1918, em função da Primeira Guerra Mundial, contra a
Rússia, entre 1918 e 1920, com o objetivo de desestabilizar o regime bolchevique instaurado
durante a Guerra Civil Russa e contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS),
em 1933, devido ao aprisionamento de dois cidadãos britânicos no país. Além do Reino
Unido, o autor também menciona as sanções econômicas internacionais impostas pelos
Estados Unidos contra o Império do Japão, em 1917, com o objetivo de conter o
expansionismo da indústria naval japonesa e sua crescente influência no continente asiático.
O autor explica que, no geral, as sanções econômicas internacionais, nesse período, foram
usadas como instrumentos de ação dos vitoriosos da Primeira Guerra Mundial contra os
perdedores.
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ineficiente no que concerne ao alcance dos objetivos esperados com a aplicação de sanções
econômicas internacionais.
Conforme explica o autor, apesar de estar previsto na Carta da Liga das Nações que
atos de agressão contra um Estado soberano deveriam ser respondidos multilateralmente, na
prática, as medidas aplicadas eram julgadas e aplicadas de forma unilateral. Isso porque o
Artigo que tratava sobre a aplicação de sanções econômicas internacionais a nações
beligerantes, o Artigo 16, carecia de formulações precisas de como seriam julgados os atos de
agressão e em que medida o Conselho da Liga das Nações deveria exigir que os países
membros aplicassem restrições econômicas a um Estado agressor. Assim, a falta de
mecanismos de coerção presentes no Pacto abria brechas para que cada Estado julgasse
unilateralmente se iria ou não aplicar sanções econômicas internacionais contra uma nação
que violou os princípios do Sistema Internacional.
Segundo explica Alexander (2009), o Artigo 16 do Pacto da Liga das Nações previa
que qualquer Estado que cometesse atos de agressão contra outro, sem primeiro tentar
resolver seus impasses por meios pacíficos, deveria ser automaticamente sancionado
comercial e financeiramente pelos membros da Liga. Dessa forma, a única obrigação prevista
pelo Artigo era que os Estados membros deveriam recorrer aos três métodos presentes nos
Artigos 12, 13 e 15 para a resolução de seus conflitos: a arbitragem, a Corte Permanente de
Justiça e o próprio Conselho da Liga. O Artigo previa que caso esses recursos não surtissem
efeito para a resolução do conflito, sanções econômicas internacionais deveriam ser
automaticamente aplicadas contra o agressor. Contudo, o autor argumenta que, embora a Liga
recomendasse meios pacíficos e diplomáticos de resolução de conflitos antes da aplicação de
sanções econômicas internacionais, o Pacto não dispunha de estrutura jurídica para julgar os
atos transgressores, apenas previa que os todos os Estados membros deveriam votar
anonimamente se algum Estado havia quebrado suas obrigações para com a Liga e depois
disso, então, as sanções econômicas internacionais poderiam ser aplicadas. Portanto, ficava a
cargo de cada país julgar a necessidade ou não da imposição das restrições econômicas.
O caso mais emblemático da inoperância da Liga das Nações em relação a uma
agressão armada de um Estado contra outro é a invasão da Abissínia (atual Etiópia) pela
Itália, em 1935. Conforme explica Alexander (2009) e Valério (2011), as medidas tomadas
contra a Itália pelo Conselho da Liga das Nações mostram-se ineficientes e seletivas, não
sendo capazes de fazer com que o país retirasse suas forças armadas do território invadido. O
Pacto aprovou restrições comerciais e financeiras contra a Itália, mas isso não foi capaz de
impedir que o país tivesse acesso a bens essenciais para a guerra, como petróleo, carvão, aço
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e ferro gusa. Inclusive, Thomson (1981) afirma que, em 1935, quando o Secretário de
Assuntos Internos da Commonwealth, Samuel Hoare, perguntou ao Primeiro-Ministro do
Reino Unido, Stanley Baldwin, sobre a imposição de sanções contra a Itália, Baldwin teria
respondido que não estava preparado para a guerra e, por isso, iria se manter fora desse
assunto. Ademais, os Estados Unidos e a União Soviética recusaram-se a aderir as sanções
propostas pela Liga, não adotando nenhum controle sobre as exportações para a Itália,
enquanto a Alemanha e Espanha falharam em aderir qualquer embargo significativo contra o
país agressor.
Entretanto, vale ressaltar que, apesar da ineficiência da Liga das Nações em conseguir
implementar sanções econômicas significativas contra a Itália, a Organização obteve algum
sucesso na ameaça de aplicação de restrições econômicas contra dois Estados menores na
década de 1920. Conforme explica Hufbauer, Schott e Elliot (2009), em 1921, sob os
auspícios do Artigo 16 da Carta da Liga das Nações, a Organização ameaçou impor sanções
econômicas internacionais contra a antiga Iugoslávia em decorrência de seus esforços
militares para adquirir territórios da Albânia. De forma similar, em 1925, a Liga das Nações
ameaçou aplicar sanções econômicas contra a Grécia, com o objetivo de coagir o país a
retirar suas forças do território da Bulgária. Assim, evidencia-se que, apesar dos resultados
das medidas coercitivas adotadas pela Liga das Nações serem considerados insuficientes para
muitos autores, não se pode afirmar que essa Organização não obteve nenhum sucesso em
seus esforços para a manutenção da paz.
Por fim, apesar da Liga das Nações ser considerada por muitos historiadores falha em
atingir seus objetivos propostos, como em evitar ou punir as agressões militares exercidas
pela Itália, Alemanha e Japão na década de 1930, é possível dizer que ela foi importante na
medida em que foi a primeira Organização Internacional a buscar criar procedimentos de
ação em casos de quebra ou violação dos princípios da Comunidade Internacional, além
também de ser a primeira instância a instituir as sanções econômicas internacionais como
meio de resolução de conflitos. Ademais, a Liga também serviu para que medidas mais
objetivas e específicas fossem adotadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), em
1945, como forma de evitar e corrigir as inconsistências presentes no Pacto da Liga das
Nações.
Em contrapartida ao Pacto da Liga das Nações, a criação da Organização das Nações
Unidas (ONU), em 1945, promoveu a instauração de um órgão com poderes mandatórios, o
Conselho de Segurança. Assim como explica Valério (2011), a Carta da ONU, com o
objetivo de promover a segurança internacional por meio de ações multilaterais, desenvolve
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bases institucionais mais sólidas e firmes no que tange à aplicação de sanções econômicas
internacionais se comparado ao Pacto da Liga das Nações. Embora ainda haja imperfeições
no que tange à coordenação da aplicação dessas medidas em casos de violação da integridade
física de um Estado soberano, a Carta das Nações Unidas é vista como um progresso em
relação à institucionalização de normas de segurança internacional.
Alexander (2009) explica que o Conselho de Segurança da ONU, nos termos dos
Capítulos 6 e 7 da Carta, tem os poderes tanto de recomendar quanto de legalmente vincular
decisões acerca da aplicação de sanções econômicas internacionais pelos países membros,
enquanto a Assembleia Geral tem a autoridade para recomendar resoluções não vinculativas
para que os Estados membros adotem restrições econômicas contra algum país. Em relação
ao Capítulo 6 da Carta da ONU, que trata sobre o tratamento pacífico de resolução de
conflitos, ele prevê que o Conselho de Segurança da Organização pode adotar recomendações
para a aplicação de sanções econômicas internacionais contra um Estado, além de autorizá-lo
a “chamar a atenção” das partes envolvidas para investigar, recomendar procedimentos ou
métodos de ajuste ou fazer recomendações às partes.
Já o Capítulo 7 da Carta autoriza o Conselho de Segurança a tomar decisões
legalmente vinculativas em relação à aplicação de sanções econômicas internacionais, ou
seja, ele tem caráter mandatório e atribui ao Conselho de Segurança poderes de coerção.
Nesse ínterim, o Artigo 39 da Carta especifica que para a aplicação do Artigo 7, o Conselho
de Segurança deve determinar que existe uma “ameaça à paz”, “quebra da paz” ou “ato de
agressão”, deixando a possibilidade para que esse órgão determine se recomendará ou
decidirá sobre a aplicação de sanções econômicas internacionais, inclusive se essas medidas
envolverão ou não o uso da força. Uma vez que o Conselho de Segurança determina que
houve “ameaça à paz”, “quebra da paz” ou “ato de agressão”, ele pode autorizar a aplicação
de sanções econômicas internacionais por seus membros de forma multilateral e sob sua
coordenação. De acordo com Alexander (2009), a restrição para que o Conselho de
Segurança imponha o uso de sanções econômicas internacionais contra algum país está na
condição de que pelo menos 9 dos 15 membros do órgão votem a favor da ação.
O primeiro caso em que a Assembleia Geral recomendou que se fossem aplicadas
sanções econômicas internacionais a um país foi em 1946, quando o órgão apresentou uma
resolução que recomendava aos países membros da ONU a aplicação de sanções contra a
Espanha e o regime fascista do ditador Francisco Franco. Em 1962, a Assembleia Geral, em
conjunto com o Conselho de Segurança, apresentou uma série de resoluções em que
condenava o regime do apartheid na África do Sul e recomendava aos Estados membros da
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ONU que empregassem sanções econômicas internacionais contra o país, que incluíam o
embargo de armas e certas restrições comerciais. Para Alexander (2009), embora essas
medidas tenham sido tomadas em um contexto não mandatório, elas foram importantes para
que a comunidade internacional desse atenção às violações de direitos humanos que estavam
ocorrendo no período em que foram propostas.
Já o primeiro caso de imposição de sanções econômicas internacionais pelo Conselho
de Segurança da ONU aconteceu em 1966 contra o governo recém-instalado da Rodésia do
Sul (Antiga Rodésia, colônia britânica na África), atual Zimbabwe, quando uma minoria
branca tomou o poder no território. Esse é considerado o primeiro caso em que uma
Organização Internacional conseguiu colocar em prática, de forma multilateral e coordenada,
sanções econômicas internacionais contra um Estado. Contudo, existem debates acerca da
efetividade dessas medidas. Por exemplo, Valério (2011, p. 151), sobre esse episódio, afirma
que: “A primeira vez que uma organização internacional conseguiu aplicar sanções
econômicas internacionais, além de verdadeiramente multilaterais, realmente efetivas”.
Assim, verifica-se que, para o autor, as medidas impostas pelo Conselho de Segurança da
ONU no caso da Rodésia foram eficazes. Sobre o mesmo episódio, Alexander (2009, p. 25)
afirma que: “The effectiveness of the sanctions has been a subject of debate, as they were in
effect for thirteen years before Ian Smith’s government in 1979 finally conceded to hold
multi-racial elections”5.
Dessa forma, observa-se que o autor pondera acerca da efetividade dessas medidas,
uma vez que se levaram 13 anos para que o governo de minoria branca fosse substituído na
Rodésia. Além disso, Alexander (2009) aponta alguns problemas em relação ao caso da
aplicação de sanções econômicas internacionais contra a Rodésia. Entre eles estão os
diferentes sistemas legais dos Estados membros da ONU, o que levou a divergentes
interpretações de como as sanções deveriam ser aplicadas, problemas de assistência mútua e
de sobreposições de jurisdição entre os países sob as mesmas transações, além de que houve
dificuldade para persuadir os países que faziam fronteira com a Rodésia, como a África do
Sul, para que aderissem às restrições econômicas impostas à antiga colônia britânica.
Na década de 1990, o Conselho de Segurança da ONU deparou-se com outro desafio
em relação à implementação e coação de sanções econômicas internacionais no âmbito do
órgão. Em 1990, o governo dos Estados Unidos aplicou sanções contra o Iraque, que havia
5
Tradução Livre: A efetividade das sanções tem sido objeto de debate, ao passo de que elas
estiveram em curso por treze anos até que o governo de Ian Smith, em 1979, finalmente concedesse a
realização de eleições multirraciais.
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invadido seu país vizinho, o Kuwait, e seguindo as medidas tomadas pelos governantes
estadunidenses, o Conselho de Segurança da ONU adotou a Resolução 661, a qual
demandava que os Estados membros congelassem os ativos financeiros do Iraque e Kwait
que se encontravam em seus territórios. A adoção dessa Resolução foi seguida por
imposições de ordens de congelamento e sanções comerciais contra o país invasor, o Iraque, e
o país invadido, Kwait, pela maioria dos países Europeus, os Estados Unidos, Japão e
Canadá. Todavia, devido às diferentes técnicas legais utilizadas pelos países sancionadores,
houve dificuldades de complementariedade e de implementação coerente, além de uma
coordenação efetiva na aplicação das medidas contra os dois países. As diferenças nas
técnicas legais e regulatórias são apontadas como contribuidoras para a ineficiente
coordenação dos vários programas nacionais de sanções contra o Iraque (ALEXANDER,
2009).
Além dos problemas envolvendo a implementação e coordenação das sanções
econômicas internacionais no caso da Guerra do Iraque (ou Guerra do Kwait), também se
argumenta que as imposições levantadas contra o governo de Saddam Hussein tiveram
grande impacto econômico e social sobre os civis do país. As medidas impostas contra o
Iraque incluíam embargo extensivos e sanções mais direcionadas, principalmente focando nas
finanças, viagens, commodities e exportações de armamentos específicos. A aplicação de
sanções extensivas contra o país ocasionou consideráveis custos sociais e econômicos para a
população iraquiana, o que fez com que diversos formuladores de política ponderassem
acerca da legitimidade e efetividade das medidas impostas. Para Alexander (2009), as lições
tiradas do caso da aplicação de sanções econômicas contra o Iraque são que as sanções
necessitam ser mais focadas em áreas como inspeção de fronteiras e comércio com Estados
fronteiriços, itens militares e controles financeiros.
Por fim, é importante salientar que, embora comparado à Organização das Nações
Unidas (ONU), a aplicação, ou a recomendação de aplicação, de sanções econômicas por
Organizações Internacionais regionais não teve um número expressivo de casos consolidados,
esses casos também existiram e tiveram seu impacto nas relações internacionais. Nesse
ínterim, nota-se que existem lacunas nos estudos e pesquisas acerca da aplicação e
efetividade de sanções econômicas internacionais advindas de Organizações Internacionais
regionais. Assim, o objetivo central desse trabalho é analisar a efetividade dos casos de
aplicação de sanções econômicas internacionais por essas entidades.
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Data de
Identificação Aplicador Alvo Data de Início
Término
Comunidade
1 Econômica Macedônia 08/09/1991 13/03/1996
Europeia
Comunidade
2 Econômica Croácia 05/07/1991 20/11/2000
Europeia
Comunidade
3 Econômica Iugoslávia 05/07/1991 08/10/2001
Europeia
Comunidade
Bósnia e
4 Econômica 03/03/1992 23/01/2006
Herzegovina
Europeia
Comunidade
5 Econômica Eslovênia 05/07/1991 13/03/1996
Europeia
Comunidade República
6 Econômica Democrática do 22/01/1992 14/05/2008
Europeia Congo
Comunidade
7 Econômica Líbia 27/01/1986 11/10/2004
Europeia
Comunidade
8 Econômica Sudão 01/03/1990 Em andamento
Europeia
Comunidade
9 Econômica Síria 10/11/1986 28/11/1994
Europeia
10 União Europeia Rússia 06/03/2014 Em andamento
Tabela 2 – Medidas tomadas pelas Organizações Internacionais regionais nos casos das
sanções econômicas internacionais aplicadas entre 1990 e 2018 buscando a manutenção da
segurança internacional
25
Medidas Adotadas
Identificação
1 Embargo de armas
2 Embargo de armas
5 Embargo de armas
16 Sanções de ajuda
17 Congelamento de bens
21 Embargo de armas
25 Sanções diplomáticas
29 Sanções diplomáticas
33 Sanções diplomáticas
Tabela 3 – Objetivos específicos das Organizações Internacionais regionais nos casos das
sanções econômicas internacionais aplicadas entre 1990 e 2018 buscando a manutenção da
segurança internacional
Objetivos
Identificação
segurança internacional está a busca por mitigar ou terminar conflitos armados, objetivo
presente em 29 dos 34 casos analisados. Uma vez explícitos as medidas e os objetivos
buscados por essas instituições regionais, cabe avaliar os resultados obtidos por elas.
Em relação aos resultados, cinco tipos de consequências podem ser encontrados a
partir da aplicação das sanções econômicas internacionais nesses casos: completa aderência
pelo alvo, aderência parcial pelo alvo, capitulação pelo aplicador, impasse e acordo
negociado. Acerca da completa aderência pelo alvo, esse resultado pode ser entendido como
a total complacência do alvo em relação às demandas do aplicador, isto é, o alvo altera seu
comportamento em decorrência das sanções econômicas aplicadas e atende aos objetivos do
aplicador. A aderência parcial pelo alvo, por sua vez, é quando o alvo continua a exercer
alguns dos comportamentos que são indesejados pelo aplicador, mas concorda em alterar
algumas de suas condutas em favor às demandas do aplicador das sanções. Por outro lado, a
capitulação pelo aplicador ocorre quando o sancionador retira as sanções aplicadas mesmo
que o alvo tenha falhado em atender às demandas do aplicador. O impasse é caracterizado
pela retirada das sanções econômicas internacionais mesmo que o alvo tenha se recusado a
atender às demandas do aplicador e o aplicador se recusado a alterar suas demandas. O
acordo negociado é o resultado caracterizado pela retirada das sanções econômicas
possibilitada pelo estabelecimento de um acordo entre as partes. Nesse caso, o alvo ajusta o
seu comportamento de acordo com as demandas do aplicador, enquanto o aplicador, em
troca, realiza uma ação negociada. Para fins de análise, este trabalho considerará que as
sanções econômicas internacionais aplicadas pelas Organizações Internacionais regionais em
questão foram efetivas se obtiveram algum desses resultados: completa aderência pelo alvo,
acordo negociado e aderência parcial pelo alvo. Em relação à aderência parcial pelo alvo,
apesar do aplicador não ter alcançado todos os seus objetivos, as sanções econômicas
internacionais aplicadas por ele surtiram algum efeito, sendo capazes de fazer o alvo alterar
alguns de seus comportamentos, portanto, este trabalho as considerará efetivas por
conseguirem afetar o comportamento do alvo em favor às demandas do aplicador. Em se
tratando das sanções que ainda estão em andamento, elas não serão consideradas na análise
da efetividade, uma vez que ainda não possuem um resultado definitivo. A tabela a seguir
resume os resultados obtidos com cada caso de sanções econômicas internacionais aplicadas.
Tabela 4 – Resultados alcançados pelas Organizações Internacionais regionais nos casos das
sanções econômicas internacionais aplicadas entre 1990 e 2018 buscando a manutenção da
segurança internacional
31
Resultados
Identificação
8 Em andamento
10 Em andamento
12 Em andamento
13 Em andamento
15 Em andamento
17 Em andamento
18 Em andamento
22 Em andamento
23 Em andamento
24 Em andamento
25 Impasse
26 Em andamento
27 Impasse
28 Em andamento
29 Impasse
34 Em andamento
A partir dos resultados expressos na tabela 4, tem-se que dos 21 casos em que a
aplicação das sanções econômicas internacionais pelas Organizações Internacionais regionais
obteve resultado, 17 deles foram efetivos, isto é, as instituições alcançaram, total ou
parcialmente, seus objetivos. Entre os 17 casos considerados efetivos, 7 tiveram completa
aderência pelo alvo sancionado e 10 tiver aderência parcial pelo alvo sancionado. Nota-se,
também, que em nenhum dos casos considerados efetivos o resultado foi um acordo
negociado. Em relação aos 4 casos em que a aplicação das sanções econômicas internacionais
não foi efetiva, 3 deles resultaram em impasse e 1 resultou em capitulação pelo aplicador.
Dessa forma, considerando o universo de casos que obtiveram algum resultado, a taxa de
sucesso (efetividade) fica em torno de 81%.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
34
REFERÊNCIAS
35
ALEXANDER, K. Economic Sanctions: Law and Public Policy. Nova Iorque: Palgrave
Macmillan, 2009.
MALLOY, M. P. United States Economic Sanctions: Theory and Pratice. Londres: Kluwer
Law International, 2001.
THOMSON, G. M. The Prime Ministers: From Robert Walpole to Margaret Thatcher. Nova
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