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A Cor Do Natal PDF
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A COR DO NATAL
Hellen G. Ricks
Editora Escureceu
Copyright © 2020 Hellen G. Ricks
Publicado na edição de Natal do periódico
The Crisis em Dezembro, 1916.
Título original: Bits
TRADUÇÃO
Stefano Volp
REVISÃO
Lorrane Fortunato
ILUSTRAÇÃO DA CAPA
Rawpixel
ILUSTRAÇÕES DO MIOLO
Rawpixel & Creative Marketing
DIAGRAMAÇÃO
Hellen Art
ISBN: 978-65-89437-00-0
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A COR DO NATAL
Hellen G. Ricks
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Agora eles já haviam alcançado o hos-
pital. A garota, o pequeno menino e o ca-
chorro entraram no prédio. Acontece que
a visitante não era uma estranha para a
equipe do hospital, e consequentemen-
te a entrada de Spatch foi graciosamente
concedida.
— Como está o garotinho, enfermeira?
— A crise veio quatro noites atrás, ele
vai se recuperar. Ele está esperando por
seu irmãozinho. Pode entrar.
A cama branca do hospital ficava per-
to da janela e um raio de luz iluminou o
rosto de Bits, que instantaneamente abriu
um sorriso quando Spatch e Pep proferi-
ram seus cumprimentos efusivos.
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— Veja só se não está aqui o garotinho
e seu parceiro! Como vão os negócios?
Dormiu bem na noite passada, Pep?
— É claro que não! Tão quente, quase
tive que desemperrar a janela!
A cauda de Spatch balançou perigosa-
mente perto do saco de laranjas escondi-
das de propósito aos pés da cama.
Bits sorriu e então seus olhos pousa-
ram na garota distante da cama. Ele se vi-
rou para Pep e, com uma voz um pouco
fraca e muito confusa, perguntou:
— Pep, quem é essa moça rica? Ela está
com você?
— É uma madame! — Um sorriso se-
guiu suas palavras, absolutamente apre-
ciativo. — Ela comprou tudo o que eu
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vendia e veio até aqui apenas para vê-lo.
Podem apertar as mãos. Ela é minha…
minha amiga.
Em poucos minutos, ela se rendeu
completamente à amizade entre Bits, Pep
e Spatch. Depois que as notícias da vi-
zinhança foram comunicadas e todas as
apresentações concluídas, as laranjas fo-
ram entregues. O sorriso de Bits mais do
que pagou seu real valor.
Logo depois, a enfermeira veio anun-
ciar o encerramento do horário de visitas.
— Pep, meu velho companheiro,
cubra-se bem esta noite. Dê uma salsicha
para o cachorro e, por favor, pegue três
dessas laranjas para você. Amanhã é Na-
tal. Aguente firme! Eu voltarei ao antigo
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emprego em breve. Eles são agressivos
comigo aqui.
A garota curvou-se sobre o pequeno
rapaz doente na cama.
— Bits, há algum desejo seu de Natal
que eu possa cumprir, querido? Por favor,
deixe-me tentar.
— Muito gentil da sua parte. Acho que
você fez bastante até agora. Mas há… há
algo. É sobre esse rapazinho. Ouvi falar
de policiais juvenis e do que eles fazem.
Talvez alguém possa arranjar uma casa
para ele. Ele é um moleque inteligente,
senhorita, e merece uma chance. Quando
eu ficar bom, poderia trabalhar para ajudar
no sustento dele. Você poderia ajudá-lo?
— Sim, querido, estive pensando em
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Rodney por todo o caminho até aqui. Fe-
lizmente, eu conheço pessoas que garan-
tiriam um lar para ele. E eu tenho um ami-
go que está encarregado de um lar social,
e vou levá-lo lá esta noite para que ele não
fique sozinho. Lá é um lugar aquecido, e
eles serão bons com o Rodney. Realmente
ficariam felizes com a chegada dele. Há
vários meninos, e jogos, e uma árvore de
Natal. Vou ficar lá por um tempo. Agora,
durma bem e não se preocupe com ele.
Spatch também vai. Adeus.
Quando eles se viraram para olhar
mais uma vez para a porta, o sorriso de
Bits os seguiu. Do lado de fora, Pep hesi-
tou.
— Olhe, eu já menti, mas sou uma pes-
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soa boa! Eu estava congelando de frio na
noite passada. Dei o cobertor para meu
parceiro aqui.
— Tudo bem, rapazinho. Amanhã é
Natal. Estamos indo para a cidade neste
carro e vou vestir você com roupas quen-
tes de verdade como presente de Natal,
Rodney. E então esta noite você, Spatch e
eu iremos para o assentamento. Lá, outras
criancinhas negras estão tendo uma ár-
vore de natal, com jogos e diversão! Nem
você nem o Bits precisarão mais vender
jornais, vocês terão uma casa de verdade
e a chance de ir à escola. Tenho amigos
que vão me ajudar. Você está disposto,
querido?
Em êxtase, duas mãozinhas frias se fe-
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charam sobre uma das mãos da garota,
e pequenas lágrimas de alegria deixaram
duas pequenas marcas na pele negra de
seu rosto infantil.
— Acho que você é o Anjo do Natal
que eu ouvi falar uma vez. Puxa! Mas
você pode me tocar!
A felicidade que reinou em seu cora-
çãozinho naquela véspera de Natal não
se pode descrever em palavras. Era muita
gratidão.
Na manhã de Natal, um carro parou
do lado de fora do lar social e a garota
saltou dele para retornar acompanhada
de um menino pequeno, revigorado e fe-
liz, seguido por um discípulo canino de
um olho só.
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Todos os arranjos foram feitos e os
dois meninos tinham altas chances de fi-
car em um lar privado. Um jovem médico,
o amigo mais querido da jovem, consen-
tiu em cuidar de suas responsabilidades
durante sua ausência nas férias. Foi ele
quem abriu a porta do carro quando eles
se aproximaram.
— Bom dia, garotinho! Feliz Natal!
— Idem — disse Pep seguido de um
latido estimulante de Spatch.
— Rodney, este é o Dr. Weston, nosso
amigo.
Quando chegaram à enfermaria, Pep
saltou para a cama num piscar de olhos.
— Está me reconhecendo, Bits? Estou
bonito, não? Foi incrível na noite passa-
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da, nem dá pra explicar. Ela fez tudo. Ela
é um anjo! Agora, segure a respiração en-
quanto eu conto o melhor de tudo! Ela
encontrou um lar para você, e para mim,
e Spatch, e nós vamos para a escola, e… e
ela está falando sério!
O “anjo do Natal” e o médico se apro-
ximaram da cama. Profissionalmente, ele
tomou o pulso de Bits e saudou-o com
toda a cordialidade possível.
— Bem, amiguinho, eu também quero
ajudá-lo e vamos curar você em dez dias!
Bits sorriu primeiro para um e depois
para o outro com gratidão.
— Vocês dois não sabem como agra-
deço por mim e pelo moleque! Não posso
sequer descrever. Se nos derem mesmo
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essa chance, cumpriremos com a palavra!
— Determinação e gratidão estavam em
seu rosto.
— Se você estiver feliz, eu também es-
tou, Bits. Vocês dois vão ser meus irmãos
mais novos, e Spatch aqui (neste momen-
to oportuno houve um agradecido abanar
de cauda) vai ser nosso mascote. Agora
preciso me apressar para pegar o trem,
pois vou passar três dias fora. O Dr. Wes-
ton vai dar a Rodney um grande dia, e
acho que ele tem uma surpresa para Bits.
Adeus, querido!
Houve um beijo deixado na testa quen-
te. Uma pequena mão surgiu de debaixo
das cobertas.
— Você é o melhor presente de Natal
que já tive! — disse Bits. — Eu… eu só
queria poder te falar uma coisa…
A garota se abaixou. Dois braços en-
volveram seu pescoço, duas palavras es-
caparam de um pequeno coração cheio
de gratidão:
— Feliz Natal!
FIM
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