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(ROCHESTER)
(romance ocultista)
TRILOGIA — LIVRO 3
Os editores
~I~
No outeiro arborizado do vale ermo do Tirol meridional,
erguia-se, elegante, uma imponente vila cercada de jardim. Afastada
dos povoados vizinhos, ali reinava povoados vizinhos, ali reinava
silêncio absoluto; seus habitantes eram aparentemente
pessoas assaz caseiras, pois raras vezes eram vistas fora
dos limites de seu refúgio encantado.
- Verá, porém não agora; ele ainda não está aqui. Mencionei-
lhe o príncipe, porque foi graças a ele que seu destino mudou tão
radicalmente. Não sei se o senhor lhe será reconhecido, de
qualquer forma terá o tempo de morrer à hora que quiser. Agora me
ouça sem interromper!
- Bem, uma coisa eu não entendo: como vim parar aqui? Fui
desenterrado do túmulo?
Para que o meu relato fique mais claro, devo acrescentar que
a generala Bármina deixou o castelo com Mery e as crianças, no
mesmo dia do enterro. Ficaram apenas o príncipe e o barão, que
deveria ultimar alguns assuntos, entre os quais abrir o nicho na
capela, onde, segundo a lenda, estava emparedado o cavaleiro da
Livônia. Von Kosen queria dar um basta nas aparições do
“agourento”. Seus restos realmente foram encontrados e logo
enterrados com ritual religioso. O príncipe assumiu a
responsabilidade de desinfetar a capela e, com esse objetivo,
permaneceu mais um dia no castelo; o barão mal via a hora de
abandonar aquele local sinistro.
Oro por ela todos os dias, e é por ela que trabalho tanto,
buscando me armar para ajudá-la.
“Não lamento ter matado a minha esposa, pois ela não valia
nada. Tenho remorsos pela morte de Zatórsky; por mais que ele
tivesse culpa, seu coração era nobre.
- Não, mas isso não impede que você o veja. Distância não é
nada para ele, pois ele sabe contrair o espaço; como isso é feito? —
só os grandes iniciados sabem!
Mery achou por bem não levar a mãe para Petersburgo, cujo
clima era frio, e comunicou esta decisão por carta a Uriel,
expressando a esperança de que a irmandade não se oporia à sua
vontade de ficar junto à mãe e prometendo cumprir, por sua vez,
todas as determinações de seus mestres. A permissão foi
concedida. Com receio de ser separada da mãe, Mery cumpria
zelosamente todos os rituais satânicos.
Apesar de estar feliz por ter por perto a filha querida, Anna
Petrovna sentiu instintivamente que Mery estava diferente e que
essa mudança era fatídica. Sua inquietação dilacerava-a, mas ela
não quis trair suas dúvidas com medo de ofender a filha; ela não
conseguia entender por que razão Mery evitava ir à igreja ou falar
de religião, tornando-se uma verdadeira ateísta.
- Como você mudou, Mery! Está ainda mais bonita que antes,
mas há algo em seu olhar diferente e estranho. Sei que você passou
por muitos infortúnios e perdeu o marido — o que deixa marcas.
Diga-me: você o amava muito?
O príncipe riu.
Ele é que era feliz, e ela?... Oh, por que a morte não a
alcançou quando ficou doente depois de voltar para casa?
Quantos sofrimentos teriam sido evitados; ela jamais teria
sucumbido ao sorvedouro do mal, ao qual foi empurrada pela
indigência... Uma dor lancinante em todo o corpo e o rugir surdo de
Pratissuria lembraram-lhe que os seus pensamentos vagavam em
zona proibida. Oh, essa vigilância odiosa!... Soltando um riso seco,
ela se levantou, afagou o tigre e saiu levando o retrato; ali ele não
serviria para ninguém, enquanto para ela era uma recordação cara.
- A vida, pela qual optou, irmã Ralda, não pode ser tranquila
ou sem sobressaltos. Os espíritos das trevas vigiam-na e criam em
seu caminho diversos obstáculos, o que lhe trará muitos
sofrimentos. O inferno exige um tributo pelas benesses terrenas que
lhe são prodigalizadas.
Que ele ficaria calado, disso ela não tinha dúvidas; indispô-lo
com Uriel, era-lhe desagradável por algum motivo.
- Espião, traidor!
~IV~
Saboreando frutas, Billis e a camareira de Mery conversavam
no jardim da casa, quando sua atenção foi despertada por rugidos
estranhos e barulho de animal pesado forçando a cerca. Ambos
saltaram dos lugares e, quando Billis abriu o portão, viu Pratissuria
estendido inerte.
- Vadim Víktorovitch!
- Sim, tio Vadim, sei o que é amor. Eu amo o Sol que aquece
tudo que busca seus raios, mas não sei se mereço o amor dele.
Você deve estar adivinhando de quem estou falando.
- Sim, você ama Eletsky. Mas por que ele não haveria de
amá-la também?
- Claro que não, tio Vadim! Como poderei dizer “não” a algo
que ele me pedir? Só de pensar nessa possibilidade, gira-me a
cabeça.
- Onde estou?
- Aconselhe-se com Van der Holm; foi ele que trouxe essa
preciosidade. Não há ninguém melhor do que ele para nos dizer o
que fazer nestas circunstâncias. Ele que se julga tão previdente! —
observou Zepar com escárnio.
- Oh, não! Eu sei que a cerimônia é logo mais, por isso vista-
me rapidamente — ordenou Mery, determinada.
- Sem dúvida, sua sorte é que ela não foi possuída por
nenhum demônio, o que é raro ao se tratar de satanistas. A
providência resguardou-a dessa relação terrível e mortal, e ela
revelou muita força e resolução em momentos difíceis. Está claro
que ainda terá muito trabalho para recuperar a sua pureza. Mesmo
assim, repito, ela é muito corajosa e estou convicto de que suportará
dignamente as dificuldades da purificação. Mery foi vítima das
circunstâncias e tornou-se o que é contra a vontade e sem se dar
conta disso.
Lágrimas rolaram das faces de Mery; ela sabia que seus ex-
servos não mais praticariam o mal e começariam sua ascensão a
Deus, sempre fazendo o bem e coisas úteis. Feito uma revoada de
borboletas, eles cercaram sua ex-senhora; Cocotó apertou-se
reconhecido com sua cabecinha transparente contra a face dela.
Seu susto foi tal que ela tocou o sino. Ao chamado ocorreram
algumas irmãs, explicando-lhe que o cadáver era de um andarilho
que se enforcara na floresta e fora enterrado duas semanas antes.
Leia Rochester!