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VIDAS PASSADAS
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Tudo sobre vidas passadas

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MOIZÉS MONTALVÃO

TUDO SOBRE
VIDAS PASSADAS
As respostas que você procurava

Conhecendo a terapia do novo milênio


Copyright © 2005 Moizés Montalvão

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sem a autorização do autor.

ISBN
85-88319-88-8

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................. 9

CAPÍTULO I - Terapia de Vidas Passadas .......................... 15

CAPÍTULO II - Reencarnação, a Base da TVP ..................... 27

CAPÍTULO III - Solução problemas existenciais ............... 49

CAPÍTULO IV - Lembranças .................................................. 57

CAPÍTULO V - Análise de um caso ................................. 63

CAPÍTULO VI - Brian Weiss ............................................... 71

CAPÍTULO VII - Mais Dúvidas ............................................... 95

CAPÍTULO VIII - Distanciado da Ciência ............................. 109

CAPÍTULO IX - Almas Gêmeas ............................................ 127

CAPÍTULO X - Radiografando a TVP .................................. 151

CAPÍTULO XI - Avaliações Complementares ...................... 185

CAPÍTULO XII - Legitimidade do Regressionismo ........... 199

CAPÍTULO XIII - O Caso Bridey Murphy ............................ 217

CAPÍTULO XIV - Conclusão ................................................ 233

PRINCIPAIS OBRAS CONSULTADAS ............................... 247


DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado a:

Márcia Maria Ribeiro de Souza;


Wagner Montalvão;
Suzanne Soares Montalvão;
Vivianne Soares Montalvão;
Lúcia Maria Paiva,

que contribuíram para que a presente obra se tor-


nasse realidade, pelo que muito agradeço.

7
INTRODUÇÃO

A idéia de que já vivemos outras vidas e de que


essas vidas possam ser trazidas à lembrança é ca-
tivante.

Sem dúvida, o “mistério” exerce sobre a maioria das pessoas


enorme fascínio. Muitos cultivam com especial carinho os
relatos de acontecimentos tidos por fantásticos. Parece que
uma parte de nossa mente sente-se gratificada diante de e-
nigmas. Mas, ao mesmo tempo em que desperta o fascínio, o
oculto clama por ser desvendado. As coisas misteriosas nos
atraem, porém não apreciamos que elas sejam perenemente
insolúveis.

A curiosidade adequadamente direcionada propicia respostas


consistentes. A ciência é filha do anseio humano por destrin-
çar o desconhecido. As questões sem resposta incomodam.

O pensamento científico para ser fomentado exige um exaus-


tivo trabalho. O que não quer dizer que a ciência invariavel-
mente apresente conclusões corretas. Muitas vezes, o nível
de conhecimento sobre determinada matéria leva os pesqui-
sadores a inferências inadequadas. A ciência jamais poderá
ser considerada “pronta e acabada”. Sempre existirá a pers-
pectiva de que novos conhecimentos surjam e tragam explica-
ções mais amplas que as vigentes.

O que interessa destacar é o fato do trabalho científico ser


penoso. No intento de responder às questões que se lhe apre-
sentam o cientista precisa ir além da análise superficial. As
conclusões baseadas na observação imediata raramente são
as mais adequadas.

Muitas “verdades científicas” aceitas no passado posterior-


mente se revelaram infundadas.

Durante séculos pensou-se que o universo fosse formado por


uma sucessão de esferas, cada qual contendo uma parcela do
cosmo. E a terra estaria na mais central dessas formações,
visto que seria o centro de todo o universo. O surgimento dos
telescópios mostrou que tal concepção era insustentável.

A idéia de que o planeta se movesse em torno de seu próprio


eixo seria considerada uma heresia em tempos não muito
remotos. Quando Galileu ousou defender essa tese foi seve-
ramente rebatido pelos cientistas de então.

No passado não existiam mecanismos de medição adequa-


dos, as experiências se baseavam na observação direta e
partir daí se elaboravam os conceitos.

Essa forma de análise, definida pelos limites dos sentidos, é


frágil e quase sempre redunda em proposições enganosas. O
mundo é muito mais complexo que possa parecer ao nossos
olhos; diversos fenômenos ocorrem em níveis que nossa ca-
pacidade de percepção não alcança.

Algumas ciências primitivas, tal qual a astrologia, na atualida-


de perderam o status de científicas, visto que foram elabora-
das numa época em que o poder de observação e de análise
era limitado. Sobrevivem nos dias modernos porque prometem
respostas para alguns de nossos anseios. Mas, é sabido que
não têm qualquer fundamentação real.

O desejo das pessoas por esclarecer suas dúvidas, conjugado


ao esforço exigido para encontrar as explicações, leva muitos
a buscarem “respostas prontas”. Raciocinar é trabalhoso, se
temos quem pense por nós por que se sacrificar?

10
No campo do sobrenatural ― ou se preferirem no campo do
supranatural ― , brotam “especialistas” em ciências insólitas.
Estes arrogam para si capacidade de explicar os segredos
daquilo que estaria além da matéria.

A maior parte dessas “explicações” não passa de lucubrações


fantasiosas, entretanto os discursos dos “mestres” conquistam
admiradores e, ainda que não tenham respaldo na boa ciên-
cia, são aceitos como verdades completas. Normalmente,
quanto mais imaginosos forem esses mestres, tanto mais se-
rão admirados.

O que despertaria maior curiosidade: o nascer de um novo dia


ou a aparição de um fantasma? O alvorecer do dia é um a-
contecimento aparentemente banal; as portentosas forças
envolvidas no processo são menosprezadas. Uma simples
chuva é conseqüência de numerosos fenômenos que a maio-
ria de nós sequer imagina. Nossa fantasia fica mais excitada
com histórias de extraterrestres ou de assombrações. São
muitos os temas de pouca profundidade que gozam de alto
prestígio por serem estimulantes de devaneios.

Nessa constelação de assuntos que atraem a curiosidade


popular, vemos de tudo: desde a clássica Atlântida, que já deu
material para muitas narrativas, a maior parte provinda de
“revelação mística”; seguida por outras tantas civilizações
“misteriosas”, cujos “segredos” somente os iniciados conhe-
cem; até chegarmos aos contatos mediúnicos com espíritos e
outras entidades. Em meio ao caminho vislumbramos variados
temas, tais quais: o Triângulo das Bermudas; duendes, elfos,
gnomos; o domínio da natureza pela magia; o Egito esotérico;
os arquivos acásicos, e muito mais.

Foi nesse mundo de magia e de mistério, que encontramos


uma das recentes incorporações: a lembrança de vidas pas-
sadas.

Insistentemente divulgada como matéria de cunho científico, a


regressão a vidas passadas, ou mais precisamente a tera-
pia de vidas passadas - TVP, quando examinada com um

11
pouco de atenção, mostra o inegável parentesco com o eso-
terismo e o distanciamento da ciência.

Sobre o esoterismo é necessário um comentário complemen-


tar, pois a palavra possui diversas acepções.

• Esotérico significa aquilo que está oculto, vela-


do. No contexto ocultista, se refere a conheci-
mentos acessíveis apenas aos iniciados;

• Sob outro aspecto, esotérico seria aquilo não


percebido em primeira verificação. Livros, filmes
e discursos mais elaborados, podem ser cha-
mados de esotéricos, no sentido de que é pos-
sível realizar várias leituras, cada uma revelan-
do novos matizes, mostrando ser a mensagem
muito mais rica que pareça à primeira vista;

• Há, ainda, uma terceira significação: a de “con-


ceito nebuloso, baseado em dados fantasiosos”.
Neste livro, geralmente o termo é utilizado com
essa significação.

A base da terapia de vidas passadas é a tese das múltiplas


existências, ou, como preferem os praticantes da regressão,
a “hipótese científica da reencarnação”. Portanto, quando
se fala em lembrança de vidas passadas, a reencarnação se
torna implícita.

Na parte inicial do livro, serão apresentadas apreciações so-


bre embaraços da teoria reencarnacionista. Comentaremos
também as semelhanças e as contradições entre o espiritismo
e o regressionismo. As referências ao espiritismo são cabí-
veis, visto que a maior parcela de usuários da regressão a
vidas passadas é constituída de kardecistas e, também por-
que os conceitos teóricos regressionistas são tomados do
espiritismo.

Nos capítulos 6, 7, 8 e 9 avaliamos as idéias regressionistas


de Brian Weiss, o psiquiatra americano que tornou-se prati-

12
cante da TVP e escreveu várias obras sobre regressões, den-
tre se destacam: “Muitas Vidas, Muitos Mestres” e “Só o
Amor é Real”.

Nos capítulos finais analisaremos as teses gerais do regres-


sionismo, ilustradas com afirmações de terapeutas que prati-
cam a regressão, acompanhadas de nossos comentários.

Ao final, o leitor obterá um claro entendimento do que seja a


terapia de vidas passadas. E poderá, então, avaliar se é
adequada a eufórica opinião dos que a classificam como a
grande descoberta terapêutica do século XX.

O leitor deparará com certa freqüência a expressão espiritis-


mo kardecista. O termo não é, de forma alguma, utilizado
pejorativamente. O caso é que existem pelo menos duas cor-
rentes espíritas de maior expressão no mundo. Além do kar-
decismo, há o chamado espiritismo anglo-saxão, praticado
principalmente na Inglaterra, na África do Sul e na Holanda. (É
bom lembrar que os espíritas saxões preferem o termo espiri-
tualismo em lugar de espiritismo.) A principal diferença entre
eles é que um defende o dogma da reencarnação e outro
condena. A fim de definir a que vertente espírita nos referimos,
optamos por nominar o espiritismo latino como kardecismo. O
que, aliás, não é criação nossa, pois o termo é aplicado cor-
rentemente.

Várias vezes a expressão “inconsciente” será encontrada nes-


te livro. Esta é uma palavra aceita universalmente quase sem
questionamentos. É preciso, porém, esclarecer que a idéia de
estar a mente dividida em duas grandes seções (consciente e
inconsciente) já não combina com as atuais pesquisas neuro-
lógicas. Parece que a conceituação mais adequada para a
mente seria a de um grande mecanismo, composto por sub-
mecanismos agindo harmoniosamente entre si. Imagine uma
complexa máquina, constituída de diversos circuitos interde-
pendentes. Conforme a circunstância alguns desses circuitos
estarão mais ativos que outros. Certas partes da mente ope-
ram sempre em segundo plano, ou seja, seu trabalho não é
percebido conscientemente (daí a idéia de que trabalhem des-

13
conectadas da consciência). Por não fazer parte dos objetivos
do presente trabalho, não ampliaremos o tema.

• Destacamos algumas convenções e procedimentos


observados neste livro:

1. nas transcrições de textos de outros autores, pro-


curamos respeitar a grafia original, mantendo, in-
clusive, os equívocos gramaticais. Os destaques
feitos nesses textos (sublinhado, negrito) são de
nossa autoria;

2. termos entre colchetes [ ] são inserções que obje-


tivam esclarecer o sentido do texto em destaque;

3. este símbolo “→” abre comentários específicos e


complementares, concernentes ao assunto em
referência.

Críticas e sugestões serão bem recebidas.


(montalvao-rio@click21.com.br).
(moizesbrasil@oi.com.br)

M. Montalvão.

14
CAPÍTULO 1

Terapia de Vidas Passadas

Observação:

• Terapia de regressão de vidas - TVP,


é um método terapêutico cuja principal
característica é buscar a origem de trau-
mas psíquicos em hipotéticas vivências
pregressas.

Em seu consultório um psicólogo praticante da Terapia


de Vidas Passadas, realiza uma sessão de regressão. Ele
utiliza a hipnose a fim de possibilitar ao paciente focar a
mente de forma adequada e direcioná-la para o objetivo
proposto:

- Deixe sua mente retroceder no tempo. Não ten-


te controlar o processo, sua alma seguirá o cami-

15
nho naturalmente. Não questione nada do que vi-
sualizar, apenas visualize... Imagine que está en-
trando num túnel, um túnel do tempo que o levará
bem longe... longe... Agora você é uma criança
pequenina e continua a recuar no tempo, cada
vez mais distante. Veja-se no útero de sua mãe.
Ela o alimenta, sinta as sensações de amor que
lhe são passadas; você gosta de estar com ela...
Agora a viagem continua: saia desta vida e deixe
seu espírito vagar... vagar por outras existências,
você está em busca da origem de sua dor... rela-
xe... visualize o que está à sua volta... relaxe ca-
da vez mais... Diga-me o que está vendo...

- Vejo uma pessoa caminhando por uma rua que


não conheço...

- Como essa pessoa está vestida?

- Não entendo muito bem... uma roupa diferente...


O cinto é grande, fivelas grandes... as botas são
pesadas... tudo estranho...

- Essa pessoa é você?

- Acho... Sim... sinto o peso das botas nos meus


pés...

- Sabe o nome do local onde você se encontra?

- Não sei... Espanha?...

- Tem alguém com você?

- Não... mas preciso andar rápido... estão atrás


de mim...

- Quem está atrás de você?

16
- Eles... inimigos do rei... uma conspiração para
matar o rei... Ouvi tudo... querem me matar!

- O que você faz para se livrar deles?

- Fugir... são muitos... estou cercado! Não vou me


livrar...

- E o que acontece?

- Cercado... eles armados... facas... tenho uma


pistola na cintura... vou atirar... NÃO!

- O que está acontecendo?

- Apunhalado pelas costas! A dor é terrível... dói


muito... Não consigo ficar de pé... Estão se apro-
ximando... Chegou o meu fim!

O terapeuta percebe que o paciente demonstra


grande aflição. A fim de tranqüilizá-lo decide sus-
pender o processo:

- Agora quero que se acalme, você não está mais


lá, está aqui no consultório, está seguro... Vou
contar até cinco e você despertará revigorado,
sentindo-se muito bem e lembrará da experiência
de forma positiva... Um... dois... despertando...

Depois de plenamente consciente, o paciente e o


terapeuta avaliam a experiência. Uma das quei-
xas do consultante era uma terrível dor nas cos-
tas, que se manifestava quando sob tensão,
quanto maior a ansiedade tanto maior a dor. Di-
versos médicos o examinaram; várias sessões de
fisioterapia realizadas, no entanto o distúrbio
permanecia. O psicoterapeuta apresenta suas
conclusões:

17
- A dor que sente, e que se intensifica nos perío-
dos de estresse, é resultado da experiência na
outra vida. Ao ser atacado covardemente e per-
cebendo que não tinha saída, você internalizou
uma grande dose de angústia. Essa angústia o
tem acompanhado por diversas vidas e se apre-
senta sob a forma de dor no mesmo local onde foi
ferido. Agora que sabe como tudo começou, será
mais fácil se livrar do problema...

A regressão a vidas passadas tem despertado o interesse


de muita gente. Um número crescente de pessoas procura
os regressionistas, ora por curiosidade, ora cativados por
promessas de cura.

Os que são motivados pela curiosidade interessam-se em


conhecer as identidades que teriam assumido no passado.
A atriz Shirley Maclaine é um exemplo: tão entusiasmada
ficou ao “descobrir” algumas de suas personalidades pre-
téritas, que escreveu alguns livros sobre o tema. Outro
grupo de usuários é constituído de pessoas desiludidas
com as psicoterapias tradicionais, estes esperam encontrar
na terapia de vidas passadas uma solução mais efetiva
para os transtornos psíquicos pelos quais passam, ou até
mesmo solucionar problemas físicos.

O regressionismo de início era praticado quase como uma


curiosidade, ou como meio de comprovar a tese reencar-
nacionista. Posteriormente, passou a ser utilizado terapeu-
ticamente, no tratamento de distúrbios psíquicos, o que
deu origem ao procedimento conhecido como terapia de
vidas passadas, abreviado TVP ― (há quem prefira e
utilize a sigla TRVP – Terapia de Regressão a Vidas Pas-

18
sadas). Presentemente, a maioria das práticas regressio-
nistas tem por objetivo o tratamento de distúrbios psico-
lógicos, mas ainda se encontra o uso não-terapêutico do
processo.

→ Os terapeutas regressionistas declaram que a


terapia de vidas passadas constitui “a medicina
do Novo Milênio”. Isso mostra o grande otimismo
com que encaram o processo.

Desde o final do Século XIX são relatadas esporádicas


experiências de regressão a vidas passadas. Porém, o uso
terapêutico se iniciou de forma ampla a partir da década
de 1960.

Atribui-se ao engenheiro francês Albert De Rochas ―


Eugène-Auguste-Albert de Rochas D'Aiglun― (1837-1914) o
pioneirismo na prática da regressão. De Rochas era prati-
cante do hipnotismo. Depois de realizar diversas experi-
ências de regressão de idade ― (não confundir regressão
de idade com regressão a vidas passadas) ―, passou a
especular no campo das vidas pretéritas. Entretanto, pare-
ce que o engenheiro não fez escola, pois pouco se falou
do assunto até a década de 1950. Diferentemente das prá-
ticas regressionistas da atualidade, nas quais as lembran-
ças são numerosas e abrangem longos períodos, Albert
Rochas era moderado no trato do assunto. Diz-se que o
francês postulou que a regressão seria possível a até no
máximo cinco vidas passadas.

Antes de a TVP começar a se popularizar, o caso mais


espetaculoso encontramos na aventura de Bridey Murphy.
A experiência foi relatada por Morey Bernstein, um ho-

19
mem de negócios da cidade de Pueblo, nos Estados Uni-
dos.

“O caso de Bridey Murphy”, como a história ficou co-


nhecida, causou celeuma em quase todo o mundo. Mi-
lhões de exemplares do livro escrito por Berstein foram
vendidos. Berstein afirmava que Bridey Murphy fora a
vida pregressa de uma mulher chamada Ruth Simmons.
Depois descobriu-se que Ruth Simmons era o pseudôni-
mo de Virgínia Tighe, uma dona-de-casa norte-america-
na. No capítulo 10 falaremos detalhadamente do assunto.

Alguns terapeutas regressionistas afirmam que depararam


com vidas passadas casualmente: ao induzirem pacientes
a reviverem experiências no útero materno (processo ain-
da bastante praticado), foram surpreendidos com o relato
de ocorrências que teriam sucedido em épocas anteriores
ao período de vida uterina, ou seja, em outras vidas.

→ A regressão da memória à vida intra-uterina é


prática adotada por vários terapeutas, entre-
tanto não é aceita pelas escolas tradicionais da
psicologia. Estas não concordam com a idéia de
que o feto tenha memória. Veja no capítulo 11
comentários mais amplos.

Brian Weiss, o psiquiatra norte-americano cujo trabalho


analisaremos adiante, conta que seu encontro com as vi-
das passadas foi incomum: durante uma sessão de hipno-
se, quando ordenou a uma paciente que voltasse ao perí-
odo em que seus sintomas começaram, ela imediatamente
“entrou” numa vida anterior.

20
A conclusão de que as “lembranças” eram efetivas recor-
dações de existências pregressas, foi acatada sem maiores
avaliações por vários profissionais. Não demorou muito,
iniciou-se a utilização das lembranças como um subsídio
à psicoterapia. E assim tudo começou.

A idéia de que seja possível relembrar outras vidas pres-


supõe a veracidade da reencarnação. Despertou-se a aten-
ção de adeptos do espiritismo kardecista. Sabe-se que o
kardecismo advoga a reencarnação. Não foram poucos os
espíritas que se empolgaram com o regressionismo, pois
parecia ter surgido uma prova da tese das múltiplas exis-
tências.

Por outro lado, vários teóricos espíritas encaram a TVP


com pouca simpatia, pois vêem nela um sério conflito
com a doutrina kardecista. Noutro capítulo apresenta-
remos comentários mais amplos.

Os praticantes da TVP são geralmente psicólogos, uns


poucos são especializados em outras áreas da medicina.
No Brasil, existe pelos menos duas organizações que
congregam os regressionistas:

• a SBTVP – Sociedade Brasileira de


Terapia de Vidas Passadas e,
• a ANTVP – Associação Nacional dos
Terapeutas de Vidas Passadas (esta
formada por ex-membros da SBTVP).

A ANTVP publica um jornal mensal com artigos sobre a


regressão de vidas. A terapia de vidas passadas cativou

21
profundamente a vários psicólogos e muitos deixaram de
lado os tratamentos ortodoxos e passaram a utilizar ex-
clusivamente a TVP no trato de seus pacientes. A SBTVP
nos dá uma definição técnica do que seria a regressão a
vidas passadas:

“A Terapia de Vida Passada, de acordo com a


SBTVP, é uma abordagem psicoterápica que tem
como princípio teórico básico a hipótese científica
1
da reencarnação e utiliza a regressão de me-
mória como a técnica base de tratamento. O tema
da reencarnação sempre é abordado como objeto
de estudo de vários cientistas renomados nesse
meio, não tendo absolutamente quaisquer liga-
ções com aspectos místicos ou religiosos.

A Terapia de Vida Passada admite também (co-


mo outras formas de psicoterapias) a existência
de um Inconsciente, com um conceito que trans-
2
cende aos estudados até agora e que, quando
bem acessado pela técnica de regressão de me-
mória, permite levar o paciente a entrar em conta-
to com lembranças quer relacionadas a fatos da
vida atual, quer relacionadas a existências pre-
gressas do mesmo e que tenham estreita ligação
com seus problemas psíquicos e/ou somáticos do
momento presente. Esse acesso é possível pela
criação de um estado alterado de consciência,
mas sem a necessidade do uso da hipnose."

1
→ O texto fala em “hipótese científica da reen-
carnação”. Aqui há exagero: a reencarnação é
uma possível explicações para as lembranças de
outras vidas. Porém, dificuldades filosóficas e
científicas surgem quando se analisa a idéia. Al-

22
guns espíritas acreditam que a confirmação cien-
tífica da reencarnação se dará nos próximos a-
nos; outros são mais otimistas: declaram que a
ciência já ratifica a multiplicidade de vidas. Por
enquanto, o que há de concreto é a esperança
dos adeptos de que a reencarnação um dia seja
reconhecida como um fato científico.

2
→ É interessante destacar que a TVP concebe a
existência de um inconsciente com característi-
cas diferentes do das teorias em voga. O re-
gressionismo necessita de uma idealização parti-
cularizada da parte oculta da mente, que vá além
das teses atuais, e até mais extensa que noções
míticas, como a do “inconsciente coletivo”, de
Jung. Isto porque, as conceituações clássicas
não dão suporte a idéia de que se possa recordar
vidas passadas.

Os psicólogos regressionistas exibem tanto entusiasmo


com a TVP que, muitos deles, asseveram que os proble-
mas existenciais são plenamente elucidados quando se
descobrem os traumas ocorridos em outras vidas.

“À medida que adentramos para um novo milênio,


para uma nova Era, imensas mudanças estão
ocorrendo no nosso planeta. E uma delas, diz
respeito a essa grande oportunidade que esta-
mos tendo de nos libertarmos de nossas limita-
ções.

Limitações, que se iniciaram, muitas vezes, em


vidas passadas e que se perpetuam e vem preju-
dicando à sua vida atual.

23
Hoje, várias pessoas falam em mudança. ...

Conhecendo suas vidas passadas, você pode li-


berar potenciais até então bloqueados. Neste
sentido, a Terapia Regressiva a Vivências Pas-
sadas ou Terapia de Vidas Passadas (T.V.P) é
uma técnica psicoterápica que utiliza como recur-
so terapêutico a regressão de memória. E a re-
gressão de memória tem por objetivo buscar a
causa verdadeira do seu problema que lhe deixou
marcar profundas e traumáticas. ..." (Osvaldo
Shimoda, terapeuta de vidas passadas)

__________________________________

“Terapia das VIDAS PASSADAS


...
Uma viagem no tempo para desatar os nós do in-
consciente e ficar livre para a evolução. Assim, a
terapeuta Célia Resende resume o objetivo da te-
rapia de vidas passadas, cada vez mais procura-
da, não só por espiritualistas, mas também por
judeus e católicos, segundo ela.
...

Mas será que todos os problemas que vivemos


no dia-a-dia têm causa em vidas passadas? Tan-
to Célia como Neusinha acreditam que, se não
todos, a maioria dos problemas. "Temos três ní-
veis de memória. Durante a terapia fazemos uma
análise desses níveis e observamos que os pro-
blemas citados pela pessoa aparecem várias ve-
zes. Analisando a vida atual do paciente, desde
sua infância, constatamos que o grupo social e a
forma como ele foi criado só intensificaram os
problemas, mas não são a causa dele. A causa
está em outras vidas", argumenta Célia." (Divul-

24
gação na Internet dos trabalhos das tera-
peutas regressionistas Célia Resende e
Neuzinha Aguillar)

→ Adiante apresentaremos comentários detalhados


sobre as idéias de Célia Resende. De momento,
ressaltamos a declaração de que a maioria das
dificuldades de nossa existência tenham origem
em vidas passadas.

A TVP introduz uma idéia radical nos postulados da psi-


cologia: para os regressionistas a maior parte dos distúr-
bios do espírito, ou seja, quase todos, são provenientes
de tropeços ocorridos em vidas passadas. Na visão dos
regressionistas as teorizações clássicas sobre a personali-
dade estariam fundamentalmente equivocadas ou incom-
pletas, visto que não levariam em conta a "verdadeira"
origem dos problemas psíquicos.

Disso surge uma questão crucial para a avaliação que


estamos a elaborar, que pode ser traduzida do seguinte
modo:

Afirma-se que a TVP seja um método


terapêutico muito mais eficiente que
quaisquer outras formas de psicotera-
pia.

Será que essa declaração se confirma-


rá depois que a terapia de vidas for
analisada detalhadamente?

25
Os terapeutas regressionistas acreditam no potencial des-
se método. Há quem diga que a TVP é superior à medi-
cina moderna!

Ao final do livro traremos a questão de volta, ocasião em


que acreditamos poder respondê-la com segurança.

26
CAPÍTULO 2

Reencarnação, a base da TVP

O embasamento teórico para o regressionismo está na


tese das múltiplas existências, mais conhecida como re-
encarnação, que é uma das premissas do espiritismo1.
Grande número dos praticantes da terapia de vidas passa-
das é formado por espíritas kardecistas e por simpatizan-
tes. Isso não é demérito para ninguém: cada um escolhe a
religião que lhe satisfaz. A questão é que o regressio-
nismo assevera lidar com conceitos científicos e isso não
se demonstra, as concepções da TVP estão mais próximas
da religiosidade que da ciência.
1
→ há uma forma de espiritismo, praticada prin-
cipalmente na Inglaterra, que renega a reen-
carnação. É no mínimo curioso a existência de
uma concepção espiritista que não adote o re-
encarnacionismo, considerando ser a reencar-
nação um dos pilares do espiritismo, mas é o
que sucede: os espíritos que visitam os mé-
diuns ingleses quando se pronunciam sobre a
reencarnação declaram-na uma fraude.

A TVP supõe que se há lembranças de outras vidas signi-


fica que as pessoas viveram anteriormente; se as pessoas
viveram outras vidas, então, a reencarnação é veraz...
Dessa forma, a “lógica” do processo estaria consolidada.
Queiram ou não os regressionistas, os alicerces da TVP
são religiosos, visto que o fundamento científico para a
reencarnação não foi encontrado.

→ É comum encontrar-se textos regressionistas


falando sobre a “concepção científica da re-
encarnação”, ou coisa semelhante. Contudo, tal
expressão é de todo inadequada, pois não se
sustenta com fatos.

O regressionismo trabalha com a hipótese da reencarna-


ção sem apresentar explicação de como se processariam
os renascimentos. Em outras palavras: admite a reencar-
nação mas não esclarece o funcionamento do mecanismo.
(Mais um distanciamento da ciência). É no espiritismo,
portanto, que iremos buscar e discutir os conceitos sobre
o reencarnacionismo. Desse modo, quando se fala de re-
gressão a vidas passadas são inevitáveis as referências ao
espiritismo, notadamente ao kardecismo, pois é esta mo-
dalidade de espiritismo que defende a multiplicidade de
vidas.

28
Muitos textos espíritas proclamam a incontestabilidade da
reencarnação, no entanto a teoria ainda espera por uma
prova científica. Os reencarnacionistas advogam que os
variados renascimentos seriam o método estabelecido por
Deus para que a alma chegue à perfeição. Quando, po-
rém, se analisa o assunto com atenção surgem muitas
dúvidas. Faremos aqui alguns comentários sobre as difi-
culdades dessa idéia; noutro trabalho de nossa autoria,
intitulado “Reencarnação – o sonho de viver muitas
vidas”, é feita uma análise minuciosa do assunto.

29
PROVAS CIENTÍFICAS DA REENCARNAÇÃO

Escritos apologéticos afirmam que a reencarnação está


comprovada cientificamente. As “provas”, entretanto, se
resumem a alegações empolgadas, sem fundamentação. A
argumentação que encontramos não é de natureza cientí-
fica. São vistas declarações como: “a única forma de
explicar tal acontecimento é pela reencarnação”; “só
pela reencarnação as injustiças desse mundo são escla-
recidas”, etc. Tratam-se de considerações apaixonadas,
que atendem a expectativa dos aficionados, mas não têm
cunho científico. Examinemos um texto dessa natureza:

“As principais evidências científicas da reencar-


nação são: Gênios Precoces, são crianças prodí-
gios, que desde a mais tenra idade mostram pos-
suir conhecimentos de tal ordem à respeito de
temas os mais diversos que seria impossível ex-
plicá-los sem a certeza de que viveram antes.
Amadeus Mozart tocava piano aos 3 anos e violi-
no aos 4 anos sem nunca ter visto um [?!]. Pieri-
no Gamba foi maestro aos 11 anos. Pascal, ma-
temático francês discutia matemática e geometria
aos 12 anos. Miguel Angelo, com a idade de 8
anos, foi dispensado pelo seu professor de escul-
tura porque este já nada mais tinha a ensiná-lo.
Kardec, examinando a questão pergunta aos ben-
feitores como entender este fenômeno [Livro dos
Espíritos - questão 219] e eles dizem: 'Lembrança
do passado, recordação anterior da alma." (Re-

30
encarnação, Evidências e Fundamentos –
Centro Espírita Celeiro de Luz).

Considera-se que seja impossível explicar o porquê da


existência de gênios precoces, senão pela certeza de que
viveram antes. Supor que os gênios viveram outras vidas,
unicamente por manifestarem talentos desde a infância, é
argumento de fraca sustentabilidade. Estamos diante de
um equívoco de raciocínio: estabelece-se que o único
meio de explicar uma questão seria pela forma que o
explicador apresenta. Quaisquer outras possibilidades
são desprezadas.

Seguindo por esse caminho, seria igualmente aceitável


afirmar que “os gênios precoces são o resultado do cru-
zamento de humanos com extraterrenos”.

Haverá, ainda, quem diga que os gênios sejam filhos


de anjos.

Todas essas “explicações” serão plausíveis e “científi-


cas”, desde que se admita que a idéia básica seja verda-
deira, independentemente de estar ou não comprovada. A
partir daí se pode chegar a conclusões “lógicas”. Por
exemplo: tendo como certo que anjos eventualmente co-
pulem com seres humanos, pode-se inferir que os filhos
dessas uniões sejam gênios precoces. Não poucos achari-
am tal idéia mais satisfatória que a da reencarnação...

É fácil encontrar formas de “esclarecer” a existência de


gênios precoces... O que não se pode dizer é que tais pos-
tulações sejam de cunho científico.

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Vejamos um esquema desses raciocínios:

Idéia 1: Os gênios Conseqüência: Por Conclusão: esta é


precoces são almas, isso manifestam uma “prova científica”
experientes, que já talentos especiais da reencarnação.
viveram muitas vidas. desde a infância.
Idéia 2: Os gênios Conseqüência: Por Conclusão: esta é
precoces são filhos isso manifestam uma “prova científica”
de anjos. talentos especiais da existência de
desde a infância. anjos.
Idéia 3: Os gênios Conseqüência: Por Conclusão: esta é
precoces são filhos isso manifestam uma “prova científica”
de ets. talentos especiais da existência de
desde a infância. extraterrestres.

Basta considerar-se que determinada idéia seja firme e a


partir daí constrói-se um esboço coerente. Em religião a
prática é comum. As religiões trabalham com dogmas,
que são pontos estabelecidos como fundamentais. O espi-
ritismo tem os seus dogmas e até aí tudo bem. O pro-
blema ocorre quando se afirma que as premissas dedu-
zidas dos dogmas constituem provas científicas.

As peculiaridades da natureza humana, com uma quase


infinita gama de variações, é um dado muito mais efetivo
para esclarecer a eclosão de pessoas dotadas de elevada
capacidade intelectual. Combinações genéticas privile-
giadas, constituições cerebrais afortunadas e todo um
emaranhado de interações, ocasionalmente concentram-se
nalgumas pessoas de forma vantajosa, dando-lhes capa-
cidade intelectual ou artística acima dos padrões usuais.

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Nascem pessoas dotadas de força física incomum; outras
são possuidores de agilidade acima da média; há os que
têm capacidade sensitiva admirável... por que não
nasceriam indivíduos com inteligências privilegiadas?
Teríamos de supor que as pessoas com força física
incomum teriam se exercitado bastante nas vidas
passadas; os dotados de agilidade, teriam vindo de uma
sucessão de vidas circenses, etc. É óbvio que teses assim
formuladas não se mantêm.

Seria preciso desenvolver uma teoria, bem sedimentada,


onde se demonstrasse que as qualidades extraordinárias
que algumas pessoas apresentam, tanto físicas quanto
mentais, pudessem ser ligadas a experiências adquiridas
em vidas pretéritas. E, até onde sabemos, nenhuma
explicação razoável foi apresentada. Não é boa atitude
isolar apenas um aspecto, por mais colorido que seja, e
utilizá-lo como prova de alguma coisa e deixando de lado
outras manifestações assemelhadas por não "interessa-
rem" à teoria.

Para que a hipótese da reencarnação fosse aplicada aos


gênios precoces, de igual modo deveria ser aplicada aos
atletas precoces, aos dotados de elevada acuidade
sensitiva, aos possuidores de resistência física acima do
comum, etc., etc.

Reencarnações numerosas, que dariam a algumas almas


dianteira intelectual sobre outras, é uma suposição muito
incerta para ser acatada como viável. A questão dos
gênios precoces quando vista de forma ampla, se torna
um argumento contrário à reencarnação em vez de
favorável. Vejamos:

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• muitos gênios são limitados fora das áreas onde
se destacam. Pessoas geniais podem ser inábeis
em rotinas que os medianos executam com
facilidade. Os gênios possuem a energia mental
direcionada aos campos do saber onde
sobressaem; nas demais atividades estão dentro
da média, ou mesmo abaixo;
• no aspecto moral - apesar do tema "moral" ser
assunto ser um pouco complexo para ser debatido
em poucas linhas -, nem sempre os gênios
correspondem ao que deles se espera. Se fossem
almas experientes e sábias, como supõem os
apologistas do reencarnacionismo, veríamos os
gênios sempre com ilibado padrão de conduta.
Freqüentemente ocorre o contrário... ;
• nem sempre a criatividade dos gênios é usada em
benefício da humanidade. São numerosos os
exemplos de pessoas superdotadas que
causaram grandes problemas aos que com eles
conviveram e à sociedade. Almas sábias não
agiriam desse modo;

• os chamados "gênios-idiotas" (idiot sevant)


constituem um desafio para os neurologistas e
psicólogos, e também uma ducha de água gelada
na tese de "almas experientes". Os gênios-idiotas
são capazes de feitos espantosos, como tocar um
instrumento musical com mestria sem nunca
terem estudado música. Existem relatos sobre
crianças que ao primeiro contato com um piano
interpretaram composições de elevada complexi-
dade. Jovens em tenra idade tão logo tiveram
acesso a pincel e tinta pintaram como artistas
veteranos. Adolescentes que mal sabem ler efe-
tuam cálculos matemáticos complicados com a
velocidade de um computador. O espantoso é que
boa parte dessas criaturas prodigiosas possuem

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graves distúrbios mentais. Algumas são tão
retardadas que não podem fazer muita coisa
sozinhas. Fora do circuito onde manifestam
talentos não têm a menor capacidade intelectual,
são completamente incompetentes para levar uma
vida normal. Fica difícil justificar a tese das
variadas encarnações quando se leva em conta
os gênios idiotas.

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DIFICULDADES...

Foi dito que a tese da reencarnação acarreta dúvidas. Va-


mos destacar duas delas, deixando as demais para um
outro trabalho de maior amplitude.

1. o balanço populacional;

2. a evolução das almas.

O Balanço Populacional

A população do planeta aumenta progressivamente. Este


é um dado concreto: apesar das guerras, das epidemias,
do trânsito, dos fast foods, dos vícios, e tantas coisas que
ceifam precocemente a vida de milhões e milhões, o nú-
mero de habitantes do planeta está em contínuo cresci-
mento.

O espiritismo teoriza que as almas foram criadas antes


dos corpos. Portanto, não são gerados espíritos novos; os
que existem existem desde a criação. O que as almas fa-
zem é adentrar num novo corpo logo que lhes chegue a
vez de reencarnar. E assim, encarnando vida após vida, e

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progredindo, chegam ao ponto ideal, à perfeição, quando
estarão livres dos retornos periódicos à carne.

Seria de esperar que o contingente populacional se man-


tivesse equivalente ao longo das gerações. As variações
não seriam expressivas. Entretanto, o que ocorre é o cons-
tante aumento do número de habitantes na Terra.

O kardecismo não se abala ante essa questão, teoriza so-


bre a existência de um fluxo migratório de almas entre os
corpos celestes, que seria a explicação para o crescimento
populacional.

Acontece que as “transferências espaciais” dão ensejo a


conjecturas de difícil comprovação. Por exemplo, alguns
autores esotéricos referem-se a uma imaginada migração
de almas da estrela Capela para a Terra. Essas almas não
estariam moralmente à altura do desenvolvimento cientí-
fico e tecnológico de Capela e foram condenadas a vive-
rem num planeta primitivo (neste caso, a Terra) até que
aprendessem bons modos. Tais espíritos, dizem, foram
responsáveis pelas grandes civilizações do passado, quais
a egípcia, a indiana e outras.

“Embora seja rotina, somente agora, graças ao


desenvolvimento tecnológico humano, os meios
de comunicação noticiam com freqüência a ex-
plosão, nascimento e morte de estrelas e a exis-
tência de outras galáxias do universo. A Terra foi
criada numa dessas explosões e logo destinada
ao recolhimento de exilados de outros planetas,
entre eles ‘Capela’. Várias fontes espiritualistas
confirmam a existência de Capela e registram a
imigração depois de ter ocorrido um processo se-
letivo na população daquele planeta seguido de

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explosão. Os seres menos evoluídos ou que re-
sistiram em evoluir foram enviados para cá. An-
tes, durante e depois dessa decisão a engenharia
cósmica teve que elaborar estudos no sentido de
melhor acomodar os exilados e devido à densi-
dade vibratória do Planeta teve que desenvolver
uma criatura que acomodasse os espíritos exila-
dos. Essa ‘limpeza’ já está acontecendo na Terra,
gradativamente. Talvez seja isso que muitas sei-
tas profetizam como ‘juízo final’.” (José Joacir
dos Santos - jornalista e terapeuta holístico)
___________________

“Segundo a crença espírita, milhares de anos a-


trás, um grupo de seres oriundos de uma estrela
longínqua foi degredado para o nosso planeta.
Algumas tradições afirmam que essa estrela se
chama Capela e, desde a chegada desses seres,
ocorreram profundas transformações, delineando
novos rumos para a civilização que começava a
se formar no globo terrestre.
Já entramos no terceiro milênio, e começamos a
experimentar as turbulentas manifestações do
expurgo a que terá de se submeter o planeta Ter-
ra para atingir sua nova fase evolutiva. Para a
doutrina espírita kardecista, esta é uma fase de
mudanças; ela explica que os espíritos aqui insta-
lados passaram por terríveis provações e adver-
sidades ao longo de inúmeras encarnações, e to-
dos tiveram o apanágio do livre-arbítrio. Muitos
aprimoraram a inteligência, em detrimento do
amor incondicional; outros se tornaram seres a-
máveis e humildes, mas intelectualmente atrofia-
dos. Enfim, todos seguiram por caminhos diferen-
tes, mas tiveram oportunidades para aprender as
mesmas lições.” (“Exilados na Terra – Nathalia
Leite)

Provavelmente, haverá um momento em que se comprove


que Capela não abriga seres vivos inteligentes. Isso por-

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que as pesquisas científicas sobre viventes além da Terra
revelam que a eclosão de vida em qualquer parte do cos-
mo não é um fato tão banal quanto julgam alguns: a vida
inteligente, caso exista em outras partes do universo, será
um evento raro.

E quando ficar evidente, acima de quaisquer dúvidas, que


Capela não abriga seres dotados de inteligência, que dirão
os defensores da suposta migração de almas?

Em passado não muito distante, pessoas falecidas na Ter-


ra eram “localizadas” por médiuns nos planetas próximos
ao nosso. Vênus, Marte ou Saturno se tornava o novo
endereço dos que aqui viveram. No livro “Reencarnação
– o Sonho de viver muitas vidas” abordaremos melhor a
questão. Por ora, fiquemos com algumas apreciações im-
prescindíveis para a compreensão do assunto.

“Segundo os Espíritos, de todos os mundos que


compõe o nosso sistema planetário, a Terra é dos
de habitantes menos adiantados, física e moral-
mente. Marte lhe estaria ainda abaixo, sendo-lhe
Júpiter superior de muito, a todos os respeitos. O
Sol não seria mundo habitado por seres corpó-
reos, mas simplesmente um lugar de reunião dos
Espíritos superiores, os quais de lá irradiam seus
pensamentos para os outros mundos, que eles di-
rigem por intermédio de Espíritos menos eleva-
dos, transmitindo-os a estes por meio do fluido
universal. Considerado do ponto de vista da sua
constituição física, o Sol seria um foco na alma
primitiva, a inteligência e a vida se acham no es-
tado de gérmen."
(Livro dos Espíritos – questão 188 - Allan Kar-
dec).

39
→ Allan Kardec afirmou ter recebido tais orien-
tações dos espíritos superiores. Hoje sabe-se
que essas idéias são infundadas: Marte, Júpi-
ter, o Sol e todos os planetas e satélites do
sistema solar não abrigam vida inteligente.
Assim, os “espíritos” que orientavam Kardec
apresentaram informações inverídicas ― (no-
tem que Allan Kardec declarou ter consultado
os espíritos merecedores de crédito).

→ Se os espíritos falharam ao discorrerem so-


bre a realidade dos planetas do sistema solar,
como se pode dar crédito às revelações sobre
as migrações de almas, provindas de Capela e
de outras plagas remotas?

→ O espiritismo supõe que o cosmo regurgita vi-


da. Os seres viventes estariam espalhados por
todos os cantos do universo. Dizem relatos
espíritas que existem muitos astros habitados
por espécimes cientificamente desenvolvidos.
Não só planetas, quaisquer corpos celestes
servem de residência às almas. Allan Kardec
declarou que o sol era utilizado como “ponto
de reunião” de espíritos. Estas idéias não são
apoiadas pelas pesquisas astronômicas.

→ Para o espiritismo, a declaração de Jesus: “Na


casa de meu Pai há muitas moradas” é uma
comprovação de que as criaturas de Deus ha-
bitam vários planetas no cosmo.

→ Entretanto, a assertiva de Cristo de modo al-


gum pode ser entendida como ratificação da
existência de vida em outros mundos, o con-
texto em que foi proferida não permite tal i-

40
lação. É imprescindível analisar sob que enfo-
que a frase foi dita, a fim de não chegarmos a
conclusão infundada. Jesus dizia carinhosa-
mente aos discípulos que lhes iria preparar lu-
gar no Céu, pois na "Casa do Pai" havia muitas
moradas. Fica difícil, baseado nesse texto,
fazer qualquer comentário sobre a vida em ou-
tros planetas. A frase integra o discurso de
despedida de Jesus a seus discípulos, quando
o mestre percebia iminente o início de seu
flagelo, o qual culminaria com a crucificação.
Ele prepara o coração dos colaboradores para
os eventos que seguiriam a sua prisão e deixa-
lhes uma mensagem de consolo e de esperan-
ça. Nada há no discurso de Jesus que remeta
à idéia de vida extraterrena. O texto encon-
tra-se no Evangelho de João, capítulo 14. Fa-
çamos a leitura:

“Não se turbe o vosso coração; credes em


Deus, crede também em mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não
fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos
lugar.
E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez,
e vos tomarei para mim mesmo, para que onde
eu estiver estejais vós também.
E para onde eu vou vós conheceis o caminho.
Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para on-
de vais; e como podemos saber o caminho?
Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão
por mim. ... ”

[Observa-se que não há no discurso de Je-


sus qualquer insinuação a outros planetas
ou coisas semelhante.]

41
Quando o assunto é vida fora da Terra deparamos muito
folclore e pouca coisa objetiva. Desde o primórdio da
doutrina kardecista, em meados do século XIX, que mé-
diuns afirmam comunicar habitantes de outros mundos,
contudo essas comunicações não resistem a uma avalia-
ção.

Os “contatos” com habitantes de Marte, Vênus, Saturno


foram muito intensos há até alguns anos... Entretanto,
diminuíram grandemente após a Astronomia comprovar a
impossibilidade de existir vida em qualquer planeta do
sistema solar, além da Terra. Somente alguns visionários
ainda insistem.

Diamantino Coelho Fernandes é exemplo de médium


dito especializado em informações sobre os viventes de
outros planetas. Ele afirmava receber recados da Virgem
Maria e de Jesus Cristo e, certa ocasião, declarou que
Maria o brindara com notícias minuciosas sobre o planeta
Saturno. O que deu origem à obra intitulada “A Vida em
Saturno”, em cuja introdução lemos:

“Desejo dizer algumas palavras aos leitores deste


pequeno livro ditado pelo Espírito da Excelsa Mãe
de Jesus, justificando o seu aparecimento após a
publicação do Corolarium, considerado a obra
mediúnica mais importante aparecida na Terra
neste século findante. Saturno vem sendo obser-
vado e estudado há muitos séculos por diversos
cientistas da astronomia, porém, devido à sua
posição longínqua de nosso pequeno mundo ter-
reno, muito pouco ou quase nada se sabia a res-
peito de sua população, nível espiritual, hábitos e
costumes, dados realmente impossíveis de des-
vendar à simples observação telescópica... Dese-
jando contribuir na medida do possível para o

42
maior conhecimento da vida e costumes dos ha-
bitantes de Saturno, eu pedi ao querido Irmão
Thomé para consultar a Excelsa Mãe de Jesus,
sobre se lhe seria possível obter maiores infor-
mes acerca da vida em Saturno...

Saturno é um dos planetas mais evoluídos do


nosso sistema solar, abrigando uma população
de almas encarnadas calculada em cerca de ses-
senta bilhões. Dizendo almas encarnadas, eu de-
sejo esclarecer que se trata de corpos físicos
muito semelhantes aos da Terra, apenas um
pouco mais leves, porque constituídos de matéria
mais rarefeita. As almas encarnadas em Saturno
possuem hábitos muito semelhantes aos da Ter-
ra, sendo, porém, mais refinados... ”
(A VIDA em SATURNO – Diamantino Coe-
lho Fernandes).

Diamantino Coelho é respeitado no meio espírita e seus


livros ainda vendem bastante. No texto acima vimos que
ele intitula um livro de sua autoria de “a obra mediúnica
mais importante do século”.

O mais surpreendente na obra de Diamantino é a afirma-


ção de que Saturno possui vida abundante e uma civiliza-
ção avançada. A ciência descarta esse sonho: as pesqui-
sas dão conta que Saturno é um planeta inóspito.

Diamantino Coelho, além de “descobrir” vida em Satur-


no, vai mais longe, descreve em minúcias a rotina dos
saturninos. Garante que as informações lhe foram passa-
das pela Mãe de Jesus! O escrito de Diamantino Coelho,
e outros do gênero, ilustra a fantasiosa criatividade de
adeptos da reencarnação.

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Diamantino Coelho não explica uma série de fatos que
tornaria impossível haver vida em Saturno, pelo menos da
forma como conhecemos. Ele diz que os saturninos têm
uma vivência muito semelhante à nossa, seriam apenas
um pouco mais evoluídos e melhor organizados.

Um detalhe, dentre vários que Diamantino não aborda, é


sobre a atmosfera de Saturno, cuja constituição é diferen-
te da Terra. Nós respiramos principalmente oxigênio e
nitrogênio. Os saturninos respirariam hidrogênio, hélio e
metano. Essas peculiaridades fariam com que os supostos
habitantes de Saturno possuíssem uma constituição orgâ-
nica completamente distinta da nossa. Outro detalhe: em
Saturno venta constantemente. As tempestades de vento
que lá ocorrem fazem os devastadores furacões e tufões
terrestres parecerem brisas amenas. Diamantino não ex-
plica como os saturninos enfrentam as furiosas ventanias.
Caso houvesse vida em Saturno - possibilidade que a ci-
ência descarta - os que lá vivessem seriam tão diferentes
de nós que talvez nem os reconhecêssemos como seres
vivos. Jamais poderiam ser como afiançou o médium:
“corpos físicos muito semelhantes aos da Terra, apenas
um pouco mais leves, porque constituídos de matéria
mais rarefeita”.

Sobre a vida fora da Terra, a ciência considera plausível


que existam outros viventes no Cosmo. Contudo, nenhu-
ma comprovação foi encontrada. Cientistas dedicados
estudam o assunto com invulgar seriedade, mas uma res-
posta conclusiva até o presente não surgiu. No livro no-
minado “Esoterismo – fantásticas descobertas” apresen-
tamos comentários mais amplos.

44
Alguns teóricos do espiritismo sustentam que as descri-
ções de vida inteligente em Marte, Saturno e outros seri-
am reais. Sucederia que os moradores desses planetas não
estariam interessados em ser vistos por nós, pois haveria
problemas de toda a ordem caso pudéssemos contatá-los.
Dessa forma, criam um “campo magnético” em torno
deles que os torna invisíveis... Como exercício de imagi-
nação tudo bem, porém não existe qualquer dado concre-
to que dê apoio a tal idéia.

Quando o conhecimento sobre o sistema solar era incipi-


ente, multiplicavam-se mensagens mediúnicas alegada-
mente vindas dos planetas vizinhos. O desenvolvimento
da astronomia desmentiu tais ficções. Em conseqüência,
os seres que se acreditava vivessem nos astros do sistema
solar, misteriosamente “sumiram”. Somente alguns reni-
tentes acreditam haver vida nos planetas próximos à Ter-
ra e, por conta dessa insustentável crença, continuam a
receber “informações”. Outros médiuns passaram a fazer
contatos com moradores de estrelas distantes...

Diamantino Coelho é um exemplo dentre muitos. O pró-


prio Allan Kardec proferiu declarações sobre a vida em
alguns dos planetas do Sistema Solar, que não guardam
nenhuma semelhança com a realidade.

45
EVOLUÇÃO DAS ALMAS

O conceito de evolução dos espíritos integra a teoria re-


encarnacionista, mas apresenta algumas dificuldades, que
comprometem a tese.

É dito que a reencarnação promove o aprimoramento das


almas. A cada vivência o espírito melhoraria um pouco.
Allan Kardec declarou que o espírito não regride, alguns
progridem rapidamente, outros são mais lentos...

O espiritismo ensina que, após a morte, a pessoa reavalia


a vida que levou e prepara o caminho para uma nova en-
carnação em condições melhores. Desse modo, está em
constante aprimoramento e evoluindo sempre.

Levando em conta o pensamento espírita, esperar-se-ia


que as almas se esforçassem por acelerar a caminhada
rumo à máxima evolução. Ninguém pretenderia se atrasar
nessa jornada. Assim, não haveria grande distanciamento
entre os espíritos. As diferenças seriam mínimas e devi-
das a pequenos tropeços. Jamais poderíamos contemplar
o que vemos no mundo: juntamente com pessoas exem-
plos extremados de bondade, coexiste quem pratique o
mal em grau quase inacreditável.

46
→ A teoria da evolução das almas não é muito
firme. Ela postula que as almas foram criadas
“simples” e dotadas de livre-arbítrio para pro-
curarem o que lhes conviesse, ou o bem ou o
mal. A levar em conta a tese, a maioria dos se-
res opta pelo mal e atrasa enormemente sua
caminhada evolucionista. A confusão é tal que
convivem no mesmo plano espíritos de alto ní-
vel moral juntamente com outros no mais bai-
xo nível da barbárie. Isso fere a lógica da te-
oria, pois seria esperável que as almas buscas-
sem ardentemente o bem.

As grandes diferenças morais entre os seres não é bem


explicada pelas teses espíritas. A hipótese de que algumas
almas na corrida pela perfeição adquirem grande vanta-
gem sobre outras, contraria a mecânica do processo. Se as
almas foram criadas em iguais condições, com igual ca-
pacidade de percepção e de entendimento, seria inaceitá-
vel conceber que houvesse marcantes diferenças na evo-
lução dos espíritos.

Por mais boa vontade que se tenha para com a idéia da


reencarnação, vemos que existem diversos pontos que
tornam a tese de frágil sustentação.

47
CAPÍTULO 3

Regressão, promessa de solução


dos problemas existenciais

O seguinte artigo, do escritor José Reis Chaves, traz in-


formes interessantes sobre a regressão de vidas:

"A Era da TVP


A regressão de memória ou Terapia de Vida Pas-
sada (TVP) limitava-se antes a ir só até à vida in-
tra-uterina. Hoje, ela vai até às outras vidas ante-
riores do espírito.
A TVP acessa o arquivo “acashico” da Teosofia,
do Rosacruz, dos orientais, maçons e do Livro da
Vida do Apocalipse, o que implica aceitar a reen-
carnação, que é a doutrina mais lógica que exis-
te. Porém, a maioria dos dirigentes religiosos cris-
tãos prefere defender seus interesses particulares
a aceitarem o óbvio. Sabe-se, todavia, que muitos
pastores, padres e bispos submetem-se sigilosa-
mente à TVP. E o certo é que a reencarnação es-
tá em várias partes da Bíblia, como lemos em Jó
8,9: “Somos de ontem, e nada sabemos”. Mas
esses dirigentes religiosos vão chegar lá! Depois
de mais de 300 anos do Heliocentrismo, a Igreja
acabou reconhecendo oficialmente que Galileu
estava certo, tirando dele, recentemente, a exco-
munhão!
A TVP é uma realidade científica, e não religiosa.
E conta hoje com o aval internacional de grandes
representantes da ciência, como os americanos:
psiquiatras Dr. Morris Netherton, Dr. Brian Weiss,
Dra. Helen Wambach e Dr. Roger Woolger, e psi-
cólogos Dr. Bruce Goldberg e Dr. Ken Wilber, um
junguiano que revoluciona a Psicologia Moderna,
e autor de “O Espectro da Consciência”; o psiqui-
atra inglês Alexandre Cannon, que relutou duran-
te 50 anos em aceitar a reencarnação, e que co-
manda uma equipe de 70 terapeutas que já fize-
ram, em conjunto, mais de um milhão de regres-
sões; o canadense Dr. Joel Whitton, Catedrático
de Psicologia da Universidade de Toronto, Cana-
dá; e o alemão Dr. T. Dethlefsen, Catedrático de
Psicologia da Universidade de Munique, Alema-
nha. Obras de TVP desses eminentes cientistas e
de outros estão editadas em várias línguas em
todo o mundo.
No Brasil temos as psiquiatras Dra. Maria Teodo-
ra, da UNICAMP, com vários cursos de TVP nos
Estados Unidos, autora de “Os Viajantes”, e Pre-
sidente da SBTVP (Sociedade Brasileira de TVP),
Campinas, SP, e a Dra. Maria Aparecida Siqueira
Fontana, Presidente da ANTVP (Associação Na-
cional de TVP), Campinas, SP, e muitos outros
grandes médicos e psicólogos de todos os Esta-

50
dos brasileiros que o espaço não nos permite ci-
tar aqui.
Podem fazer o curso de TVP médicos e psicólo-
gos. Locais: na SBTVP, em Campinas, no INTVP
(Instituto Nacional de TVP), no Rio de Janeiro, e
na ANTVP, em Campinas e Belo Horizonte, onde
tem início uma turma, de fevereiro de 2003 a ju-
lho de 2004. Informações com os terapeutas Dr.
Luís Carlos Fróis: (031) 3213-8499 e Dr. Luís
Carlos Braga: (031) 3222 6596.
A TVP está curando as pessoas de seus males
provenientes não só de um passado propínquo,
mas também de um passado longínquo. É a nova
era da medicina. A era da TVP! (Autor do livro
“A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciên-
cia”)

Sugerimos que os leitores examinem esse artigo com bas-


tante atenção, pois está coalhado de incoerências. Veja se
consegue identificá-las. No capítulo 11 o analisaremos
detalhadamente, por hora destacamos a manifestação do
autor sobre o potencial da TVP: curar os males oriundos
do passado recente e traumas originados em vivências
remotas. Atribui-se à terapia de vidas passadas valor te-
rapêutico dificilmente encontrado em outro segmento da
medicina. Mais adiante, quando apresentarmos conside-
rações sobre Brian Weiss, veremos que o terapeuta norte-
americano, à semelhança de Reis Chaves, afirma que a
TVP é superior a qualquer outra técnica médica.

→ José Reis Chaves declara que a TVP é uma reali-


dade científica! supõe-se, então, que a terapia
de vidas esteja firmada em teorias de boa fun-
damentação. Portanto, se conhecermos o emba-

51
samento científico da TVP, ficará fácil admitir-
mos (ou não) sua plausibilidade.

Os terapeutas regressionistas indicam a terapia de vidas


passadas para uma vasta gama de males psíquicos:

“A Terapia de Vidas Passadas poderá auxiliar,


também desenvolvendo novos potenciais,
despertando talentos e integrando a pessoa com
o seu verdadeiro propósito da vida. É indicada
nos casos de:
Sintomas físicos: doenças crônicas, doenças re-
petitivas, tensão pré-menstrual, enxaquecas, ten-
sões corporais, dores e problemas sem possibili-
dade de diagnóstico médico.
Distúrbio de sono: insônia, excesso de sono.
Distúrbios de alimentação: bulimia, anorexia.
Pesadelos freqüentes.
Dificuldades ou bloqueios com relação à sexuali-
dade, abusos sexuais.
Medos: medos conscientes e inconscientes (a-
preensão sem causa definida), fobias, pânicos,
síndrome de pânico.
Timidez, inibições, insegurança, culpa, passivida-
de, covardia, autocensura, medo de errar, medo
de se expressar em público.
Traumas e bloqueios que limitam ou impedem o
desenvolvimento pessoal, profissional ou emo-
cional.
Compulsões, vícios, manias, comportamento au-
todestrutivo.
Ansiedade, angústia, depressão, apatia, tristeza
crônica.
Ciúmes, possessividade, desconfiança.

52
Problemas de relacionamento familiar, conjugal,
social ou profissional. Relacionamentos difíceis,
dolorosos, entre marido e mulher, pais e filhos,
entre irmãos, etc.
Carência afetiva, medo da solidão, da rejeição e
do abandono.
Sentimentos bloqueados.
Aversões diversas, contrariedades, revolta, im-
pulsividade, agressividade, perda de controle.
Dificuldades financeiras, dificuldade para concre-
tizar e atingir objetivos.
Preocupação excessiva com o futuro.”
(www.eradourada.com.br/)

A proposta terapêutica da TVP é ambiciosa. Num primei-


ro momento é possível admitir que nenhuma técnica mé-
dica oferecesse cuidar de males tão variados se não fosse
calcada em resultados consistentes.

Não é preciso ser especialista em psicologia para perceber


que quem promete curas para tão vasta gama de males,
com o uso de uma terapêutica superficialmente conheci-
da e cheia de contradições, está movido unicamente pela
paixão. Não acontece a prática de uma boa medicina, a
empolgação dos adeptos os leva a valorizar excessiva-
mente um método eivado de incertezas.

É interessante destacar que a psicoterapia baseada na hip-


nose (sem regressões a vidas passadas) também oferece
alívio para os problemas relatados. Com a vantagem de
ser a hipnoterapia um método melhor sedimentado. Ou
seja, a hipnoterapia pode ser aplicada no trato desses ma-

53
les e dispensar o uso das vidas passadas. A terapia de
regressão de vidas entra no processo hipnótico como um
ingrediente colorido, que pode estimular a cura em pesso-
as dadas a superstições.

→ É indispensável examinar-se as postulações da


TVP, para que possamos concluir se a prática
tem coerência, ou se trata de uma proposta em-
basada em doutrina sem consistência. Esta é a
maneira adequada de formar um juízo seguro so-
bre o assunto.

Ao examinarmos o discurso da terapia de vidas passadas,


percebemos de imediato a inserção de componentes não
científicos. Relatos regressionistas falam da participação
de espíritos desencarnados durante as lembranças. É co-
mo se os espíritos pegassem carona nas regressões para
enviarem seus recados. Brian Weiss e Célia Resende
produziram textos ilustrativos:

“Meus braços estavam arrepiados, Catherine não


podia conhecer aqueles dados. Não havia nem
onde buscá-los... Era muita coisa, muitas infor-
mações específicas... E se ela podia revelar es-
sas verdades, o que mais havia? Eu precisava
saber mais...
Quem, gaguejei, quem está aí? Quem lhe diz es-
tas coisas?
‘Os mestres’, sussurrou ela, ‘os Espíritos Mestres
me dizem. Eles me dizem que vivi oitenta e seis
vezes em estado físico.’
Minha vida jamais voltaria a ser a mesma. Uma
mão descera e alterara irreversivelmente seu cur-

54
so. Todas as minhas leituras, feitas com um cui-
dadoso espírito escrutinador e neutralidade céti-
ca, se encaixavam. As lembranças e mensagens
de Catherine eram verdadeiras. Minhas intuições
sobre a exatidão de suas experiências estavam
corretas. Eu tinha fatos. Tinha a prova.” (Muitas
Vidas, Muitos Mestres – Brian Weiss)
__________________________________

“Pude perceber isso em minha prática clínica,


quando me deparei com vítimas de obsessores,
como ocorreu durante uma sessão de terapia
com uma paciente chamada Regina... Nestes
casos, primeiro entro em contato com as equipes
espirituais, para, em harmonia, cada qual cumprir
suas tarefas. Depois, conversando com o ser de-
sencarnado, procuro ajudá-lo com informações
esclarecedoras, emitindo impulsos mentais de
força eletromagnética capazes de criar um campo
de força protetora. A equipe espiritual, atuando na
dimensão astral, utiliza esse campo para comple-
tar o trabalho, muitas vezes de imobilização do
obsessor, numa forte rede magnética.” (TERA-
PIA DE VIDAS PASSADAS – Célia Resen-
de)

Boa parte dos textos que exaltam as qualidades da TVP


seguem a mesma linha desses. Depreende-se que a terapia
de vidas passadas não se restringe às lembranças de ou-
tras vidas: também funciona como canal de comunicação
com o outro mundo. Serve, ainda, para identificar a pre-
sença de obsessores... e outras aplicações do gênero...

55
→ Nota-se que diversos elementos ocultistas estão
inseridos nos preceitos da terapia de vidas, isso
a aproxima do esoterismo e a distancia da ciên-
cia. Assim, a declaração de que a TVP seja uma
realidade científica fica abalada.

Nos próximos capítulos apresentaremos detalhes da


teoria da regressão a vidas passadas.

56
CAPÍTULO 4

Lembranças...

A TVP garante que lembrar vidas passadas é prática sau-


dável, porque facilita a descoberta de traumas ocultos e
acarreta uma experiência engrandecedora. As declara-
ções dos terapeutas regressionistas são recheadas de oti-
mismo e de garantias de curas quase milagrosas.

Uma terapeuta regressionista, cujo trabalho será analisado


neste livro, defende que praticamente todos os males do
espírito sejam conseqüência de traumas em vidas passa-
das.

Leiamos alguns comentários ilustrativos:


"TERAPIA DE VIDA PASSADA: DOENÇAS E
CURA

A Terapia de Vida Passada, o estimula a buscar


em si, no seu próprio inconsciente o segredo para
viver melhor e mais feliz. Desatando alguns nós,
às vezes muito doídos, que ele vem trazendo ao
longo do tempo no seu inconsciente. Abrindo esta
caixinha de segredos, podemos ter muitas sur-
presas... são histórias e fatos vividos por nós,
portanto merecem muito carinho e muito respeito
ao serem olhadas e remexidas. O terapeuta aju-
dará você nesta busca, e terá que fazê-lo com
muito cuidado. Vamos buscar respostas para que
você possa ser mais feliz e conseqüentemente
aqueles que o rodeiam também... Quem será vo-
cê? resultado atual de quantos personagens vivi-
dos através dos tempos, somatória de quantas
emoções. Pensando assim dá para começarmos
a entender porque as vezes nós nos achamos tão
complicados... . Assim funciona a TVP. Nada
mais sendo que um passeio pelo passado. Vale a
pena abrir este baú." (MARIA APARECIDA
FONTANA - formada em TVP pela Asso-
ciação Brasileira de Terapia de Vida Pas-
sada.)

__________________________________

“A tvp atua fora dos limites do espaço e do tem-


po fazendo um trabalho de arqueologia da alma,
buscando a origem das dificuldades que afligem a

58
nossa vida. Esse procedimento visa à retirada
das camadas de defesa cristalizadas sobre a
memória, uma após a outra, ao longo de várias
encarnações. ... Com a regressão e terapia de vi-
das passadas, podemos dissolver os nódulos
kármicos, liberando o fluxo de energia retido no
passado e, assim, aumentar potencial que con-
duz a uma qualidade de vida melhor." (CÉLIA
RESENDE – Terapia de Vidas Passadas).

__________________________________

“O que são Intervidas?


Intervidas é o período entre duas encarnações.
Ou seja, é o período em que estamos no mundo
espiritual.
É possível, durante a regressão, “recuperar” me-
mórias relacionadas à este período. Normalmen-
te, buscamos nesta fase memórias relacionadas
ao planejamento da vida atual.” (Trecho de um
artigo publicado no jornal da Associação Bra-
sileira de Estudos e Pesquisas em Terapia de
Vivências Passadas - ABEP-TVP)

Os regressionistas garantem que o período que a alma


vive fora do corpo, chamado “intervida”, também pode
ser lembrado. Caso a regressão funcionasse da forma
como asseveram seus partidários, teria um alcance jamais
imaginado por qualquer outra forma de terapia...

As lembrança de outras vidas são consideradas altamente


saudáveis pelos praticantes da regressão.

59
Em contradição, o espiritismo kardecista, há mais de 150
anos, ensina que a recordação de vidas é danosa aos seres
humanos, conforme veremos nos textos seguintes.

O regressionismo defende que lembrar existências pre-


gressas faz bem; o espiritismo afirma que tais lembran-
ças são danosas:

“Em vão se objeta que o esquecimento constitui


obstáculo a que se possa aproveitar da experiên-
cia de vidas anteriores. Havendo Deus entendido
de lançar um véu sobre o passado, é que há nis-
so vantagem. Com efeito, a lembrança traria gra-
víssimos inconvenientes. Poderia, em certos ca-
sos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exal-
tar-nos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-
arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria
inevitável perturbação nas relações sociais." (O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO –
capítulo V)

__________________________________

“Mas, ao mesmo tempo que o Espírito recobra a


consciência de si mesmo, perde a lembrança do
seu passado... o seu renascimento lhe é um novo
ponto de partida, um novo degrau a subir. Ainda
aí a bondade do Criador se manifesta, porquanto,
adicionada aos amargores de uma nova existên-
cia, a lembrança, muitas vezes aflitiva e humi-
lhante, do passado, poderia turbá-lo e lhe criar
embaraços. Ele apenas se lembra do que apren-
deu, por lhe ser isso útil. Se às vezes lhe é dado
ter uma intuição dos acontecimentos passados,
essa intuição é como a lembrança de um sonho
fugitivo." (A GÊNESE, Os Milagres e as Predi-
ções Segundo o Espiritismo).

60
__________________________________

“Se reencarnamos para ressarcir dívidas, não se-


ria interessante guardar a lembrança delas? Não
haveria maior facilidade em aceitar sofrimentos e
dissabores que ensejam o resgate?
O objetivo primordial da existência humana é a
evolução. O resgate de dívidas é apenas parte do
processo. Quanto ao esquecimento, funciona em
nosso benefício. Seria impossível incorporar,
sem perturbador embaralhamento, o rico, o po-
bre, o negro, o índio, o branco, o amarelo, o anal-
fabeto, o letrado e tudo mais que já fomos, em
múltiplas encarnações. É ilustrativo que muita
gente vai parar em hospitais psiquiátricos sim-
plesmente por sofrer a pressão de pálidas lem-
branças, envolvendo acontecimentos pretéritos.
Chegará o tempo em que recordaremos plena-
mente das vidas anteriores?
Sim, na medida em que se torne mais sofisticado
o cérebro, habilitando-nos a recuperar informa-
ções confinadas no inconsciente; em que se de-
pure o sentimento, para que contemplemos o
passado sem constrangimento; em que sejamos
capazes de evitar desajustes decorrentes de um
embaralhamento de lembranças? Levará milê-
nios, talvez, mas chegaremos lá.” (Reencarna-
ção: Tudo o que você precisa Saber - Richard
Simonetti)

Os espíritas que aderiram ao regressionismo parecem não


perceber que essa tese agride uma das premissas do kar-
decismo: o esquecimento das existências pregressas.
Não sabemos como conseguirão harmonizar o conflito. É

61
difícil conciliar teses antagônicas: uma idéia anula a ou-
tra...

Aliás, alguns espíritas mais atentos se pronunciam contrá-


rios ao regressionismo, (noutro capítulo apresentaremos
textos exemplificativos). Porém, outros kardecistas, como
José Reis Chaves (do qual apresentamos diversos artigos
neste livro), abraçam a teoria sem qualquer remorso. Es-
tes, ou não vêem, ou não querem ver, a contradição entre
o kardecismo e o regressionismo.

Em termos “lógicos” pode-se afirmar que a suposição


sobre os malefícios das lembranças tem mais sentido.
Basta pensar um pouquinho nas diversas situações que as
recordações podem desencavar, para concluir que o me-
lhor seria não lembrar. Veja no capítulo 9, sob o título
“Almas Gêmeas”, uma reflexão sobre o assunto.

62
CAPÍTULO 5

Regressão, análise de um caso

Analisemos um caso de regressão, relatado por Célia


Resende, uma dedicada terapeuta regressionista.

“Adélia, uma jovem assessora de imprensa, de 27


anos, rememora uma vida sua como um homem
participante da Revolução Francesa. É acusado,
aprisionado e, após um interrogatório traumático,
acaba denunciando seus companheiros. Ao con-
frontar um deles antes de ser decapitado, é acu-
sado de traidor. Isso o deixa transtornado, pois,
ao ser preso, fora abandonado por eles, sofrendo
torturas insuportáveis. Ainda assim, fora conside-
rado traidor. Enquanto a terapia se desenvolvia,
reestimulada vivenciava o momento do interroga-
tório, deslocando a figura do inquisidor para o
meu papel de terapeuta.
A cada comando que eu dava, ela seguia em si-
lêncio e com contrações musculares, tentando
desta vez não abrir a boca, como fizera no pas-
sado. Durante quase uma hora, qualquer coman-
do era recusado com silêncio, até que percebi o
que estava acontecendo e decidi comunicar-lhe
que ela não precisava responder a mais nada.
Poderia permanecer calada por quantas sessões
quisesse. Assim consegui vencer o bloqueio cau-
sado pela fusão das vivências do trauma do inter-
rogatório, que no presente ela tentava compensar
com o silêncio, mudando a realidade para não se
sentir traidor.

Com a terapia de regressão, muda-se o enfoque


e, deslocando-se o ponto de vista do observador,
leva-se o paciente a confrontar e superar seus
medos e a sair da paralisação que impede sua
evolução nesta vida... ” (CÉLIA RESENDE – Te-
rapia de Vidas Passadas – Nova Era – 2000).

Célia Resende é estudiosa de temas ocultistas, conhece


assuntos e autores esotéricos como poucos. É, também,
uma apaixonada terapeuta regressionista, e utiliza a
terapia de vidas passadas, conforme declara, para "de-
satar os nós do inconsciente". Das idéias dessa autora
faremos adiante uma análise acurada.

Nessa narrativa deparamos uma típica sessão de TVP e a


metodologia aplicada na solução do trauma da paciente.
Um bom caso para avaliação: Adélia, a jovem assessora
de imprensa, apresentava dificuldades de relacionamento:
preferia ficar calada a falar.

64
Célia Resende investiga o caso e descobre que a moça
fora um revolucionário (um homem) durante a Revolução
Francesa. A versão masculina de Adélia, havia sido preso
e torturado, terminando por delatar os companheiros e por
isso recebera a pecha de traidor.

→ Célia Resende apresenta esse “diagnóstico”


com admirável tranqüilidade: claramente
acontece a troca da boa psicologia por supo-
sições nebulosas. A profissional não levou
em conta as muitas dificuldades embutidas
na hipótese de que alguém possa carregar
consigo traumas gerados em encarnações
passadas.

A terapeuta conclui que a origem das contradições


existenciais da sofrida Adélia não estava em situações
vividas nesta existência. Fora, sim, a Revolução Francesa
a causadora dos problemas de comunicação da paciente!
E quem sofreu o trauma não foi Adélia, foi uma figura
masculina na qual Adélia estave encarnada. No entanto,
dessa figura masculina não existem informações que a
identifiquem com alguém que realmente tenha existido.

→ Esta é uma característica de muitas das re-


gressões, talvez da maioria delas: as perso-
nalidades recordadas não têm nome, não
possuem filiação... não se relata coisa alguma
que lhes permita identificá-las... são apenas
nebulosos desconhecidos... nada mais! Os
profissionais que lidam com o regressionismo
não levam em conta este importante aspec-
to: a maior parte das regressões são des-
crições difusas, mais assemelhadas a so-
nhos que a informações reais. Somente

65
poucas narrativas trazem informes substan-
ciais que permitam uma averiguação da su-
posta revivência. Na maioria das lembranças
não são apresentados dados importantes pa-
ra a identificação da personalidade pretéri-
ta. Se alguém está a recordar uma vida pas-
sada, deveria recordar em detalhes quem
foi. Sonhar com um roteiro vago, pouco de-
talhado, põe sob suspeição a realidade das
lembranças.

Os métodos tradicionais de tratamento de fobias e


neuroses buscam que o paciente perceba com clareza os
eventos que originaram seus desajustes. A visão
esclarecida facilita uma postura existencial equilibrada.
Muitas pessoas não têm a ventura de crescerem em
ambientes psicologicamente saudáveis, o que ocasiona
desarmonias psíquicas variadas. O trabalho do psicólogo
ou do psiquiatra é auxiliar o doente a superar seus
traumas e adquirir uma disposição saudável diante da
vida.

A TVP desloca a origem dos desajustes da personalidade.


Na ótica do regressionismo, esses desajustes são
originados em tragédias acontecidas em vivências
passadas. O problema é que o embasamento para essa
teoria é muito frágil.

Voltemos ao caso da Assessora de Imprensa:

A terapeuta identificou na vida passada de Adélia uma


personalidade masculina, que vivera durante a
Revolução Francesa e participara de um grupo

66
revolucionário. Entretanto, a moça (na ocasião encarnada
num homem) não tivera sorte como agitador: foi preso e
torturado, o que o levou a denunciar seus amigos.

Na prisão um companheiro o magoou, acusando-o de


traidor. A imerecida incriminação feriu profundamente
os sentimentos de Adélia-homem e, durante séculos,
ficou incrustada em sua mente, vindo a refletir na
coantemporânea personalidade. Resultado: Adélia tornou-
se uma pessoa com sérias dificuldades de comunicação...

Vamos acatar provisoriamente a tese de Célia Resende,


para que possamos avaliar a encrenca na qual Adélia se
meteu: de fato, é doloroso receber uma infamante
acusação, principalmente quando se é inocente. No caso
de Adélia, o trauma a acompanhou séculos afora.

Surge uma dúvida: por que ela (ou ele), durante a


entrevida - (assim chamado o período que a alma estaria
desencarnada) -, não refletiu sobre a injusta apreciação,
ou não conversou com o espírito de seu acusador, ou com
qualquer outra alma mais experiente, a fim de esclarecer
o mal-entendido? Desse modo, a questão seria
equacionada e Adélia se veria livre do trauma. Portanto,
mesmo considerando a suposição regressionista,
teríamos dificuldades em entender o porquê da alma de
Adélia permitir que a mágoa florescesse indefinidamente.

Mais uma questão: da Revolução Francesa até hoje


decorreram mais de duzentos anos. Imaginando-se que a
reencarnação fosse real, seria de supor que Adélia
houvesse voltado à vida algumas vezes. Mesmo assim,
ainda não conseguira solucionar a pendência psíquica! A

67
moça carregava o fardo traumático de uma falsa acusação
e passados dois séculos o problema permanecia nela
enraizado!

Dúvidas, dúvidas, dúvidas...

Daquilo que a doutora Célia contou sobre Adélia,


percebe-se que a moça possuía uma "personalidade
tímida". A timidez é uma fragilidade emocional que
apresenta diversas manifestações. Para o tímido é
dificílimo tomar atitudes que os descontraídos assumem
com naturalidade. Atividades que a maioria realiza sem
pestanejar, como pedir informações a um desconhecido, o
tímido, coitado, sofre só por pensar na idéia.

Adélia tinha receio de comunicar-se com outras pessoas:


pouco falava, evitava discussões, temia defender suas
opiniões. O nascedouro de suas angústias certamente
seria encontrado no ambiente em que viveu. Pais, avós,
tios, professores, enfim, quaisquer pessoas capazes de
influenciar a personalidade em formação, podem ter
contribuído para torná-la medrosa. Adélia talvez tenha
sido criada de forma repressiva ou, quando criança,
absorvido medos neuróticos de adultos...

Existem métodos eficazes de enfrentar casos da espécie


com as terapêuticas tradicionais, que obtêm bons
resultados, sem necessidade de recorrer a sonhos de
vidas passadas.

Contudo, a Dra. Célia concluiu que havia em Adélia um


"nó cármico" e se dispôs a desatá-lo.

68
A idéia de "nó cármico" ou "resíduo cármico" constitui
um conflito com a idéia da reencarnação. A conceituação
reencarnacionista estabelece que cada encarnação é o
resultado da vivência anterior. Assim como ao subir-se
uma escada um degrau serve de apoio para o passo
seguinte, acredita-se que cada nova existência esteja
baseada na imediatamente precedente. No Além a criatura
realizaria um balanço de seus atos e planejaria a próxima
vivência, na qual buscaria purgar os erros cometidos na
vida precedente.

A idéia de "resíduos" ou "nós cármicos" agride, portanto,


os postulados do espiritismo kardecista, que é de onde o
regressionismo retira seus conceitos.

“... No intervalo de suas encarnações, o Espírito


progride igualmente, no sentido de que aplica ao
seu adiantamento os conhecimentos e a experi-
ência que alcançou no decorrer da vida corporal;
examina o que fez enquanto habitou a Terra,
passa em revista o que aprendeu, reconhece su-
as faltas, traça planos e toma resoluções pelas
quais conta guiar-se em nova existência, com a
idéia de melhor se conduzir. Desse jeito, cada e-
xistência representa um passo para a frente no
caminho do progresso, uma espécie de escola de
aplicação." (A GÊNESE OS MILAGRES E AS
PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO – Al-
lan Kardec)

O "nó cármico" de Adélia jamais poderia acontecer, visto


que ela, no Além, haveria de realizar um retrospecto de
sua vida e resolvido a seqüela da falsa acusação.

É difícil especular sobre o resultado a longo prazo de


"curas" com base na TVP. O certo é que a fundamentação

69
dessa prática é incongruente. Os terapeutas regressio-
nistas podem estar a produzir um "efeito placebo", que
não elimina a causa da doença, apenas afasta tempora-
riamente os sintomas.

→ O placebo é um produto neutro, destituído


de princípio medicinal, mas que ocasiona um
resultado aparentemente positivo no trata-
mento de alguma moléstia. Há casos em que
o placebo é capaz de debelar doenças, nota-
damente quando o doente acredita estar a
ingerir um remédio verdadeiro e, ainda,
quando se trata de mal de menor gravidade.
Em outras situações, pode suprimir sintomas
e ocasionar falsa impressão de cura. Ao a-
bandonar o tratamento de uma doença gra-
ve, por sentir melhora psicológica, o doente
dificulta a cura efetiva.

70
CAPÍTULO 6

Brian Weiss

“Muitos poucos detalhes escapavam à minha


capacidade obsessiva de análise.” (Brian
Weiss)

O nome de Brian Weiss está ligado à terapia de vidas


passadas. De fato, trata-se de um dos mais festejados re-
gressionistas da atualidade. É certo que vários praticantes
da regressão não o incluem dentre os melhores represen-
tantes da classe, mesmo assim os livros do Dr. Brian são
vendidos aos montes. Sua obra mais famosa “Muitas Vi-
das, muitos mestres” teve milhões de exemplares distri-
buídos em todo o mundo.
Vamos por ora resistir ao impulso de afirmar que o citado
livro contém exposições de pasmante ingenuidade, por-
que dizer tal coisa sem explicar a razão pode soar como
leviandade, ou como agressão gratuita. Deixaremos, pois,
para o final da explanação o uso dos qualificativos ade-
quados.

Brian Weiss apresentou singulares conceituações sobre a


terapêutica regressionista. Essas conceituações ferem
postulados das psicoterapias tradicionais, apesar disso, o
Dr. Brian as defende com a firmeza de alguém que parece
saber o que diz. O médico afirma ter descoberto um novo
caminho na medicina, muito mais eficiente que a
metodologia clínica que utilizara até então.

Quem é Brian Weiss? Vejamos algumas declarações a


seu respeito:

“O professor Weiss é psiquiatra e neurologista de


renome, formado pela Columbia University, com
uma série de títulos universitários, membro das
mais importantes associações científicas norte-
americanas e, ainda, autor de trabalhos médicos,
alguns dos quais premiados, e da mais alta rele-
vância.” (Lívio Túlio Pincherle – prefácio do li-
vro "Muitas Vidas, Muitos Mestres").

“Depois de formar-me com distinção pela Univer-


sidade de Colúmbia e de terminar o meu curso na
Faculdade de Medicina da Universidade de Yale,
fui também residente nos hospitais de ensino da
Universidade de Pittsburgh e da Universidade de
Miami. Nos onze anos seguinte, dirigi o Departa-

72
tudos científicos, publicado artigos e estava no
auge de minha carreira acadêmica.” (SÓ O A-
MOR É REAL – Brian Weiss)

"Eu o considero um autor sério. Ele tem um currí-


culo excelente" (Walter Negrão - empresário)

"O que mais me impressionou é que nunca pen-


sei que esse tipo de assunto pudesse ser falado
com tanta ciência. Não é imaginação. Brian
Weiss é muito objetivo, fez um livro de boa quali-
dade literária que não deixa dúvidas".(Cássia
Kiss - atriz)

“Médico diplomado pela Universidade de Yale,


com especialização em psiquiatria na Universida-
de de Columbia, Dr. Brian Weiss, 51 anos, foi
professor em várias faculdades americanas de
medicina e publicou mais de quarenta ensaios ci-
entíficos nas áreas de psicofarmacologia, química
cerebral, distúrbios do sono, depressão, estados
de ansiedade, distúrbios causados pelo abuso de
drogas e mal de Alzheimer. Diretor emérito do
Departamento de Psiquiatria do Mount Sinai Hos-
pital, em Miami, Sr. Weiss viaja constantemente
para dar palestras e promover workshops basea-
dos em seu trabalho. Escreve para várias publi-
cações acadêmicas, jornais e revistas como The
Boston Globe, The Miami Herald, The Chicago
Tribune e The Philadelphia Inquirer, entre outros.”
(Divulgação dos Livros de Brian Weiss, na in-
ternet.)

73
Sem dúvida, o médico é dono de uma folha profissional
invejável; e possui muitos admiradores ilustres. Com tal
bagagem, o Dr. Brian Weiss vem em público defender,
apaixonadamente, um tema controverso. Vamos, então,
conhecer e analisar as idéias de Brian Weiss com a aten-
ção que o tema requer.

Faremos comentários sobre os dois mais conhecidos li-


vros do psiquiatra: “Muitas Vidas, Muitos Mestres” e
“Só o Amor é Real”.

74
A ADESÃO DE BRIAN WEISS AO
REGRESSIONISMO

Brian Weiss conta que envolveu-se com as vidas passa-


das casualmente: antes de sua transformação, era cético
em relação a assuntos como reencarnação, vida após a
morte e comunicação com os mortos. Durante anos trata-
ra de grande número de pacientes utilizando os métodos
ortodoxos da terapia psiquiátrica, e assim continuaria... se
o inesperado não acontecesse.

Uma de suas pacientes – chamada Catherine – não res-


pondia satisfatoriamente ao tratamento. O Dr. Weiss re-
correu à hipnose, na intenção de acessar traumas que pu-
dessem estar bloqueados nas profundezas da mente da
moça.

O hipnotismo, porém, ajudou pouco. O médico sentiu-se


desanimado. Numa certa sessão levou a moça mental-
mente até a idade de dois anos, mas ela não lhe trouxe as
respostas que buscava. A ponto de perder a paciência,
Brian Weiss ordenou-lhe que regredisse até a época do
surgimento dos sintomas.

75
Pasmado, ouviu Catherine falar de fatos acontecidos com
outra pessoa, que vivera muitos anos antes da atualidade.
A jovem discursava como se houvera sido aquela perso-
nagem!

Deixemos que o próprio Doutor Brian nos conte o caso:

“Achei que ela já deveria ter progredido mais...


Mas Catherine não havia progredido.

Lentamente, fui levando Catherine até a idade de


dois anos, mas ela não se lembrou de nada im-
portante. Disse-lhe, em tom firme e claro: ‘volte
para a época em que surgiram os seus sintomas’.
Eu estava totalmente despreparado para o que
veio em seguida...

‘Vejo uma escadaria branca, que sobe até uma


construção, um grande prédio branco com colu-
nas, aberto na frente... Estou usando uma roupa
comprida... uma túnica feita de pano grosseiro... ’

Fiquei confuso... Perguntei-lhe em que ano esta-


va e qual era o seu nome.

‘Aronda... tenho dezoito anos. Vejo um mercado


em frente ao edifício... Vivemos num vale... Não
há água. O ano é 1863 a.C. A região é árida,
quente e arenosa. Existe um poço, nenhum rio. A
água vem das montanhas até o vale.’

Depois que ela descreveu mais detalhes topográ-


ficos, eu disse-lhe para avançar no tempo vários
anos e me dizer o que via.

76
‘Árvores e uma estrada de pedras... Meus cabe-
los são louros... Estou usando uma roupa marrom
longa, de tecido áspero e sandálias. Tenho vinte
e cinco anos. Tenho uma filha chamada Cleas-
tra... Ela é Raquel (Raquel era atualmente sua
sobrinha... )... ’

Eu estava assombrado... Ela não hesitava. No-


mes, datas, roupas, árvores – tudo tão claro!... Eu
examinara centenas de pacientes... , muitos sob
hipnose, e jamais deparara com fantasias como
essas... Disse-lhe para ir até a época de sua mor-
te... buscava acontecimentos traumáticos que
pudessem fundamentar... seus sintomas atuais...
Ela descreveu a destruição da aldeia pelo que pa-
recia ser uma enchente ou maremoto.

‘Ondas enormes estão derrubando as árvores.


Não há para onde correr. Está frio, a água é fria.
Tenho de salvar o meu bebê, mas não posso...
Não posso respirar, não consigo engolir... água
salgada...

Vejo nuvens... Meu bebê está comigo. E outras


pessoas da minha aldeia. Vejo meu irmão.’

Ela estava descansando; essa vida terminara...


Eu estava perplexo! Vidas anteriores? Reencar-
nação?...

... Como ela reconhecera a sobrinha numa vida


anterior, perguntei-lhe se eu estivera presente em
algumas de suas outras vidas...

‘Você é meu professor... Você nos ensina com li-


vros. É velho e tem os cabelos grisalhos... Veste
uma roupa branca (toga) com arremates doura-
dos... Seu nome é Diógenes. Você nos ensina

77
símbolos, triângulos. É muito sábio, mas eu não
compreendo. O ano é o de 1568 a.C.’

(Aproximadamente 1.200 anos antes do famoso


filósofo cético grego Diógenes. Este nome não
era incomum.)

A primeira sessão terminara. Outras mais surpre-


endentes viriam.

Depois que Catherine saiu e durante vários dias,


como sempre fazia, refleti sobre os detalhes da
regressão hipnótica. Mesmo numa terapia “nor-
mal” muitos poucos detalhes escapavam à minha
capacidade obsessiva de análise... Além disso,
eu era bastante cético com relação às idéias de
vida após a morte, reencarnação, experiências
extracorporais e fenômenos afins... Mas eu esta-
va consciente... da existência de um outro pen-
samento... Mantenha a mente aberta, ele [o pen-
samento] me dizia, a verdadeira ciência começa
com a observação... Mantenha sua mente aberta.
Consiga mais dados." (Brian Weiss - Muitas Vi-
das, Muitos Mestres).

Esta é a síntese da conversão de Brian Weiss, contada


pelo próprio. Uma leitura rápida talvez não diga muito,
mas, se examinarmos detalhadamente o relato percebe-
remos alguns pontos surpreendentes.

A reação do Dr. Brian diante do que ouviu de sua pacien-


te foi de confusão e espanto. Essa atitude é de causar ad-

78
miração, visto que advém de um psiquiatra, conhecedor
das nuanças da mente.

Ao ouvir a insólita narrativa da paciente, o médico con-


fessou-se “assombrado”. Ora, um psiquiatra não deveria
se assombrar tão facilmente: sabe-se que muitas pessoas
são capazes de forjar fantasias admiráveis. Antes de se
deixar dominar pela perplexidade, o médico deveria ter
buscado esclarecimentos plausíveis para a novidade que
presenciara. Surpreendentemente, o terapeuta preferiu se
dobrar ante o mistério.

79
BRIAN WEISS CONFUSO...

Examinemos com mais atenção a experiência do psiquia-


tra americano:

“Lentamente, fui levando Catherine até a idade de


dois anos, mas ela não se lembrou de nada im-
portante. Disse-lhe, em tom firme e claro: ‘volte
para a época em que surgiram os seus sintomas’.
Eu estava totalmente despreparado para o que
veio em seguida...

Ao insistir que a paciente retornasse mentalmente ao pe-


ríodo em que seu trauma ocorrera, Brian Weiss pode ter
cometido um equívoco: se a moça não lembrava nada
importante, talvez os traumas de Catherine tivessem ori-
gem indefinida, ou seja, não haveria um único evento que
a tornara fóbica.

Algumas pessoas desenvolvem distúrbios psíquicos por


receberam durante a formação de suas personalidades
pressões negativas repetitivas – (nem sempre existe um
acontecimento específico causador do problema) –, ou,
ainda, por internalizarem em suas mentes receios irreais
passados por genitores e outros com quem tenha convi-
vido. Contudo, em todo o livro, o médico não informa
que tenha averiguado tal possibilidade.

80
A hipnose pode levar o paciente a responder à sugestão
com fantasias: inconscientemente simula ter vivido uma
aventura que não aconteceu. Quando o paciente aceita
sem reservas a indução que o terapeuta lhe faz, torna-se
cooperativo e pode criar fabulações com facilidade. Se
não houver uma resistência mental forte (por exemplo:
preconceitos enraizados, convicções morais), o paciente
acatará as palavras do hipnotizador e responderá sonhati-
vamente ao que lhe for apresentado.

Para entendermos como funciona a regressão a vidas pas-


sadas, é preciso que tenhamos informações sobre algumas
peculiaridades do hipnotismo.

Uma teoria admite que nossa mente apresente duas faces,


que podem ser denominadas mente objetiva e mente sub-
jetiva (também chamada de inconsciente). A mente obje-
tiva é a que usamos no dia a dia, opera com os mecanis-
mos lógicos (lógica dedutiva e lógica indutiva). Já a men-
te subjetiva não utiliza os mesmos mecanismos (opera
somente pela indução): é imaginativa e sensível a suges-
tões. Um exemplo do funcionamento da mente subjetiva
temos nos sonhos. A maioria de nossos sonhos têm pecu-
liaridades que não se amoldam à realidade: sonhamos que
estamos a cair de grande altura e não nos machucamos;
conversamos com pessoas falecidas sem questionar a
ilogicidade do fato; vivemos aventuras que jamais viverí-
amos na realidade, etc.

→ Convém lembrar que o conceito de inconsci-


ente é vago e tem sido objeto de muitas dis-
cussões. Alguns admitem como satisfatória a
tese de que a mente seja dividida em dois
segmentos: consciente e inconsciente; ou-

81
tros são reservados quanto à essa idéia. A
questão maior é que o termo "inconsciente"
se presta a diversas idealizações mais che-
gadas ao mundo da fantasia que a uma con-
cepção plausível. Entretanto, para efeito de
explicação do que aqui se propõe, utilizare-
mos a expressão.

O hipnotismo apela à mente subjetiva e se esta acatar a


sugestão agirá como se estivesse vivenciando uma reali-
dade.

Se, num dia de muito calor, dissermos a alguém que está


fazendo frio, ele rirá de nós. Porém, hipnotizada, essa
mesma pessoa tiritará como se estivesse acossada por
forte friagem. Os tímidos temem ser postos em evidência,
mas hipnotizados são capazes de agir descontraidamente.
Indivíduos sob hipnose podem apresentar resistência físi-
ca inacreditável; podem ter a mente aguçada e lembrar de
coisas há muito esquecidas, e muito mais.

Diversas teorias sobre o hipnotismo existem, ainda não se


formulou uma definição consensualmente aceita sobre os
mecanismos da hipnose. Seja como for, é certo que a
mente acata sugestões e a elas responde. A dúvida maior
é definir até que ponto a resposta do hipnotizado seria um
eco à sugestão. Se for estabelecido que a reação do paci-
ente seja sempre resultado da sugestão, então as aplica-
ções da hipnose ficam restritas a problemas específicos e
não se prestam à rememoração de vidas passadas.

Os psicólogos e psiquiatras que recorrem à hipnose ge-


ralmente fazem-no com as cautelas adequadas, a fim de
evitar que fantasias desviem o rumo do tratamento. Entre-

82
tanto, parece os terapeutas regressionistas são menos ri-
gorosos.

O leigo normalmente tem sobre o hipnotismo uma idéia


incorreta. Pensa-se que quem for hipnotizado estará com-
pletamente dominado e responderá, sem mentir, a tudo o
que lhe for indagado e fará tudo o que lhe for ordenado.

Vejamos a opinião de um estudioso da terapia hipnótica:

“As vezes, porém, o método psicanalítico, mesmo


com a ajuda do controle hipnótico é ineficaz ou
desnecessário. Isso pode ser devido:

(1) ao fato de o transtorno funcional ou neurose


atacada se basear num incidente crucial extre-
mamente difícil de descobrir; ou,

(2) ao fato de o incidente crucial que foi o fator o-


riginal que causou o transtorno ter sido desde en-
tão suplantado por outros fatores (por exemplo,
hábitos adquiridos ou reflexos, relações sociais
ou atitudes)... ou,

(3) ao fato de não haver qualquer incidente cruci-


al causando o transtorno." (Raphael H. Rhodes
- O Hipnotismo Sem Mistério).

O autor comenta peculiaridades do tratamento psicanalí-


tico auxiliado pela hipnose. Nem sempre existe um trau-
ma específico, ou, caso exista, pode estar perdido nas
brumas do passado e ser de difícil recuperação. Todas
essas situações devem ser levadas em conta por quem
utiliza a hipnose terapeuticamente.

83
De forma semelhante, também são adequadas as palavras
do Dr. Paulo Urban:

“Exatamente! Há ainda muita desinformação em


relação a hipnose. Grande parte da classe médi-
ca, incluindo psiquiatras e neurologistas, também
muitos psicólogos e psicanalistas, chegam ao sé-
culo XXI com sérias dificuldades para compreen-
der tal fenômeno psíquico. Muitos ainda tomam a
hipnose por algo mágico, ou a confundem com
mero exercício de relaxamento. Por outro lado,
ainda vemos charlatães exibindo-se nas tevês,
expondo pessoas incautas a situações ridículas,
facilmente alcançadas por meio da sugestão hip-
nótica. Agindo assim, contribuem para o imereci-
do preconceito acadêmico em relação a esta téc-
nica. Ainda há aqueles que se valem dessa técni-
ca para tentar provar a tese da reencarnação ou
mesmo as tais ‘abduções por discos voadores’ –
e decididamente a hipnose não se presta para
provar nada disso -, o que faz, ainda mais, mistu-
rar a hipnose com crenças pessoais e fé religio-
sa.” (Dr. Paulo Urban, médico psiquiatra, acu-
punturista e hipnoterapeuta, em entrevista
concedida à Editora Saraiva).

O Dr. Paulo Urban toca num quesito importante no que


tange à regressão: “a hipnose não se presta a nada dis-
so”. Podemos dizer que a utilização do hipnotismo como
ferramenta auxiliar na psicoterapia tem indicações defini-
das: em algumas aplicações os efeitos positivos são pal-
páveis, em outras os resultados são discutíveis. Lembra-
mos também que Freud durante algum tempo fez uso da
hipnose no processo psicanalítico e depois abandonou o
procedimento.

84
Ainda hoje se discute o porquê de Freud ter descartado a
hipnose na psicoterapia. Uma possibilidade é que tenha
concluído que as muitas fantasias que brotavam das men-
tes sob controle hipnótico, em vez de ajudar criava um
óbice à análise do paciente. Há quem acredite que Freud
não se mostrava satisfeito com o fato da hipnose eliminar
sintomas sem trazer à tona a origem do problema. A aná-
lise psicanalítica procura justamente desencavar o porquê
dos sintomas que o paciente apresenta.

85
“EU NÃO ACREDITAVA EM REENCARNAÇÃO”...
(Brian Weiss)

É surpreendente a reação de Brian Weiss ao ouvir Cathe-


rine apresentar-se como se fora outra pessoa: o médico
parece ter deixado de lado a cautela com que deveria ava-
liar o caso:

“Fiquei confuso... Perguntei-lhe em que ano esta-


va e qual era o seu nome."

Brian Weiss dissera que até conhecer Catherine jamais


acreditara em reencarnação e muito pouco sabia do as-
sunto ― (“eu era bastante cético com relação às idéias de vida
após a morte, reencarnação, experiências extracorporais e fenôme-
nos afins... ”). No entanto, considerando a forma como in-
terrogou a moça somos levados a outra conclusão. A ati-
tude do médico dá a entender que ele esperava por algum
acontecimento que lhe permitisse extravasar seus anseios
ocultistas. Acompanhemos:

Ele diz ter ficado confuso e pedido a Catherine que lhe


informasse em que ano estava. Ora, Brian Weiss, no epi-
sódio, levara a mente da jovem até a idade de dois anos
(“fui levando Catherine até a idade de dois anos”). Não havia
lógica em indagar a uma criança de dois anos em que data

86
se encontrava. Notem que, segundo o próprio médico,
até aquele instante a idéia de reencarnação não lhe passa-
ra pela cabeça. Portanto, ele estaria dirigindo a indagação
a uma menina com dois anos de idade. Sem que a hipóte-
se reencarnacionista estivesse presente na mente do mé-
dico a pergunta fica sem sentido.

Brian Weiss assegura que a possibilidade da reencarnação


surgiu-lhe somente depois que Catherine começou a falar
de outras personalidades. Acontece que, levando-se em
conta as circunstâncias em que o diálogo transcorreu so-
mos obrigados a concluir de forma diferente.

A indagação seguinte foi ainda mais insólita: perguntou


qual era o nome da moça...

Se não cogitasse em vidas passadas, a pergunta soa


completamente sem nexo, pois ele sabia qual era o nome
dela. Não havendo uma inclinação prévia do médico para
a reencarnação tudo o que Brian Weiss nos conta perde a
coerência. Isso põe sob suspeita a explicação de que sua
conversão ao reencarnacionismo foi casual. Tem-se a
impressão de que o enredo fora preparado para que o
“espetáculo” acontecesse...

→ Brian Weiss quer nos convencer que sua


conversão aconteceu graças a uma experiên-
cia inesperada, que o obrigou a rever seus
conceitos. Contudo, o evento que apresenta
para explicar essa transformação leva-nos
ao entendimento de que sua mente já estava
plenamente receptiva ao regressionismo.

87
A PRODIGIOSA MEMÓRIA DE CATHERINE

“O ano é 1863 a.C. A região é árida, quente e a-


renosa. Existe um poço, nenhum rio. A água vem
das montanhas até o vale."...

“Você nos ensina símbolos, triângulos. É muito


sábio, mas eu não compreendo. O ano é o de
1568 a.C.”

Nesse trecho a paciente identifica com admirável exati-


dão datas remotas. Mesmo que, por hipótese, aceitásse-
mos que Catherine estivesse a recordar existências preté-
ritas, ela jamais saberia tão detalhadamente as épocas em
que os episódios aconteceram, pelo menos não da forma
como nos diz. Catherine primeiramente lembrou que fora
Aronda, uma moça que vivera no ano de 1863 a.C. Aron-
da não poderia se referir às datas do modo como fez, por-
que naquelas épocas o decurso do tempo não era medido
como se faz hoje. A referência que Aronda faria à época
em que estava seria algo como: “estou na época do rei
Fulano”. No passado era comum a contagem de tempo
baseada no período de vida dos governantes. Além disso,
a expressão a.C. (antes de Cristo), obviamente, seria des-
conhecida para Aronda

Ainda que fizéssemos uma concessão à misteriosa capa-


cidade de Catherine de saber com precisão as datas, outro
dificultador se apresentaria: a mente da moça teria de
elaborar um complexo exercício matemático, conhecer os
variados calendários utilizados em diversos períodos da

88
história e ser bastante versada em História antiga para
poder estabelecer precisamente as épocas ― observe-se
que as referências às datas são minuciosas: 1863 a.C.;
1568 a.C.

É mais coerente admitir que Catherine fantasiara com


informações armazenadas em sua mente. Ela lera ou ou-
vira relatos sobre civilizações antigas e, durante a hipno-
se, elaborara mentalmente um enredo para atender ao que
o médico lhe pedia.

Na continuidade da sessão terapêutica Brian Weiss se


mostra conquistado pela perspectiva reencarnacionista.
Para quem dizia que até então não acreditara no assunto,
a brusca mudança de atitude é de espantar. Uma pessoa
que não acredita em determinada idéia, irá exaurir as pos-
sibilidades de esclarecer um fenômeno por outras vias,
antes de acatar o que não lhe parece coerente. A deslum-
brada aceitação daquilo que lhe era desconhecido contra-
ria o discurso do médico.

“Como ela reconhecera a sobrinha numa vida an-


terior, perguntei-lhe se eu estivera presente em
algumas de suas outras vidas...

‘Você é meu professor... Você nos ensina com li-


vros. É velho e tem os cabelos grisalhos... Veste
uma roupa branca (toga) com arremates doura-
dos... Seu nome é Diógenes. Você nos ensina
símbolos, triângulos. É muito sábio, mas eu não
compreendo. O ano é o de 1568 a.C."

O profissional atira-se cegamente no contexto imaginário


que a paciente lhe apresenta: logo quis saber se estivera
presente em alguma das vidas da moça. Observa-se cla-

89
ramente a propensão ao esoterismo e o abandono da pru-
dência, que deve estar presente quando se avalia um fato
incomum. Somos levados a inferir que Brian Weiss preci-
sava de alguém como Catherine, para extravasar seus
devaneios místicos e a jovem, plenamente receptiva, deu
ao médico as respostas que ele almejava...

Outra dúvida: qual seria o mecanismo que permitia à mo-


ça identificar as pessoas de seu passado com tanta facili-
dade? Mal o médico lhe indagou se ela o vira nalguma
de suas vidas, Catherine imediatamente surgiu com um
enredo contendo a "participação especial" de Brian
Weiss... Ela informa ao médico que ele fora contemporâ-
neo seu em outra vida e ele aceita a "revelação" sem
qualquer crítica!

Voltemos ao evento que motivou a transformação de Bri-


an Weiss, para destacar outras dificuldades na história:

“Achei que ela já deveria ter progredido mais...


Mas Catherine não havia progredido.

Lentamente, fui levando Catherine até a idade de


dois anos, mas ela não se lembrou de nada im-
portante. Disse-lhe, em tom firme e claro: ‘volte
para a época em que surgiram os seus sintomas’.
Eu estava totalmente despreparado para o que
veio em seguida...

‘Vejo uma escadaria branca, que sobe até uma


construção, um grande prédio branco com colu-
nas, aberto na frente... Estou usando uma roupa
comprida... uma túnica feita de pano grosseiro... ’

Fiquei confuso... Perguntei-lhe em que ano esta-


va e qual era o seu nome.

90
‘Aronda... tenho dezoito anos. Vejo um mercado
em frente ao edifício... Vivemos num vale... Não
há água. O ano é 1863 a.C. A região é árida,
quente e arenosa. Existe um poço, nenhum rio. A
água vem das montanhas até o vale.'

Uma das queixas de Catherine era uma inexplicável sen-


sação de sufocamento, que periodicamente a dominava.
Não haviam causas físicas que explicassem o problema, a
resposta estaria em algum trauma vivido pela paciente.
Brian Weiss vasculhou a infância da moça e encontrou
alguns eventos dolorosos, mas a sensação de estar sufo-
cando não a abandonava, tudo indicava que havia alguma
coisa oculta. Já quase perdendo a paciência, visto que o
motivo da fobia não vinha à tona, foi decisivo: “disse-
lhe, em tom firme e claro: volte para a época em que sur-
giram seus sintomas”. Com essa atitude ele esperava que
algum esclarecimento brotasse da mente da moça.

Por conta dessa ordem taxativa, Catherine apresentou


“quase” a resposta buscada. Sim, porque “a época em
que os sintomas surgiram” não foi exatamente a relatada
pela paciente. Somente depois de Brian Weiss ter esqua-
drinhado o panorama descrito por ela é que a “resposta”
apareceu.

“Eu estava assombrado... Ela não hesitava. No-


mes, datas, roupas, árvores – tudo tão claro!... Eu
examinara centenas de pacientes... , muitos sob
hipnose, e jamais deparara com fantasias como
essas... Disse-lhe para ir até a época de sua mor-
te... buscava acontecimentos traumáticos que
pudessem fundamentar... seus sintomas atuais...
Ela descreveu a destruição da aldeia pelo que pa-
recia ser uma enchente ou maremoto.

91
‘Ondas enormes estão derrubando as árvores.
Não há para onde correr. Está frio, a água é fria.
Tenho de salvar o meu bebê, mas não posso...
Não posso respirar, não consigo engolir... água
salgada... "

A mente da paciente gradativamente construía o enredo,


até poder satisfazer à exigência do médico. Finalmente,
“esclareceu-se” o motivo da fobia de Catherine: ela fora
tragada por um maremoto, numa existência vivida em
1863 a.C.

Analisemos com maior atenção a alegada origem do so-


frimento de Catherine.

Ao receber a ordem para voltar à época em que os sinto-


mas surgiram, a moça mostrou que o trauma estava real-
mente escondido: sua mente “viajou” quase quatro mi-
lênios no passado!

Não sabemos se essa teria sido a primeira “encarnação”


da moça, mas deve estar dentre suas vidas iniciais. Dedu-
zimos isso com base nas declarações dos “mestres”, que
revelaram a Catherine que ela vivera 86 vezes ―(os mes-
tres são personagens que surgem como que do nada e passam
a participar do trabalho terapêutico) :

‘Os mestres’, sussurrou ela, ‘os Espíritos Mestres


me dizem. Eles me dizem que vivi oitenta e seis
vezes em estado físico.'

Pois é: mais de 80 vidas depois do afogamento Catheri-


ne ainda carregava os efeitos psíquicos da tragédia!

92
Por que será que o Dr. Brian não se perguntou como pôde
Catherine enraizar um trauma durante tantas existências?!

Lamentavelmente, por mais boa vontade que quiséssemos


ter para com as alegações de Brian Weiss, ficaria muito
complicado aceitar tão disparatada explicação para a
fobia de Catherine...

Suponhamos que a paciente estivesse de fato recordando


vidas passadas, mesmo assim, seria inaceitável que os
efeitos da experiência traumática persistissem por tantos
séculos. Em encarnações próximas daquela em que suce-
deu o drama, a alma da moça haveria de ter resolvido o
problema.

Oitenta vidas carregando o mesmo trauma! Nem mesmo


Célia Resende com a história de Adélia, que analisamos
no capítulo 5, ousou tanto!

Uma dor que se agarre à alma de alguém por tantas “en-


carnações”, põe por terra a idéia de que os espíritos pro-
gridam nas diversas vidas.

Leiamos uma explanação de um teórico regressionista


sobre o que sucederia durante a entrevida:

“TERAPIA DE VIDAS

Toda vez que a alma deixa de ter um corpo físico,


de acordo com o grau de entendimento, vai ser
conduzida para determinados lugares no plano
espiritual onde, num primeiro momento, vai rece-

93
ber assistência de outras almas e mestres que a
ajudarão na transição e na adaptação para o es-
tado de consciência do plano espiritual. Esta as-
sistência objetiva a estabilização dos estados
mentais e emocionais que estiverem em desar-
monia em conseqüência das experiências da úl-
tima existência e da própria morte. Neste momen-
to ela obtém alívio de todas as dores, temores ou
desconfortos físicos e emocionais que ela possa
estar apegada.

Depois que a alma é consolada e revitalizada, re-


cuperando o equilíbrio no plano espiritual, com o
auxílio de mestres e conselheiros, ela faz uma
avaliação da última existência no plano material.
Neste momento ela tem acesso às informações
relativas ao planejamento que fez antes de en-
carnar pela última vez, assim como informações
sobre vidas anteriores. O objetivo é avaliar o de-
sempenho na última encarnação. É feito um "in-
ventário" daquela existência. A alma avalia o que
aprendeu, toma consciência das partes do apren-
dizado que teve maior dificuldade, dos objetivos
que não conseguiu atingir e do que necessita, a-
inda, desenvolver ou aperfeiçoar. Com base nisto
tudo e com a orientação destes conselheiros é
elaborado o projeto de uma nova existência. Este
projeto também pode ser chamado de missão da
alma ou de destino... ”
(http://www.eradourada.com.br)

Com toda a assistência que se diz os espíritos receberem


na entrevida, como poderia a alma de Catherine carregar
consigo uma lesão por tantas vidas?! Difícil...

Brian Weiss começou mal a apologia das vidas passadas.


Seus muitos admiradores incrivelmente não percebem as
incongruências embutidas em suas idéias.

94
CAPÍTULO 7

Mais Dúvidas

Catherine relatou ao Dr. Brian diversas aventuras em al-


gumas de suas sonhadas vidas. O médico, muito eufórico,
aceitou todas sem sequer piscar os olhos. Contudo, a lei-
tura dos relatos de Catherine expõe certos detalhes que
não harmonizam.

Na primeira vida recordada ela afirma que vivera num


local inóspito:

“Vivemos num vale. A região é árida, quente e


arenosa. Existe um poço, nenhum rio. A água
vem das montanhas até o vale.” (Muitas Vidas,
Muitos Mestres, págs.27,28)

Mais adiante informa que o local fora tragado por um


maremoto, que lhe causou a morte:
“Ondas enormes estão derrubando as árvores.
Não há para onde correr. Está frio, a água é fria.
Tenho de salvar o meu bebê, mas não posso...
Não posso respirar, não consigo engolir... água
salgada... ”

A descrição inicial refere-se a uma região longe do mar.


Um vale entre montanhas. Um local árido e arenoso, cuja
vegetação seria rala. Depois é dito que o mar invadiu a
aldeia e tragou... as árvores! A narrativa soa sem conso-
nância. Além das árvores que “magicamente” brotaram
no terreno árido; temos o mar que invadiu o semideserto.
Talvez se argumente que seja o relato de um grande cata-
clismo, que fez com que o mar avançasse muitos quilô-
metros pela terra... pode ser... pena que a moça não apre-
sente qualquer informação objetiva que permita identifi-
car onde foi que a hecatombe sucedeu... Fica a sensação
de que a história não está bem contada.

Noutra parte da obra, encontramos nova situação contro-


versa:

“... Estou feliz... Meu pai está lá... ele me abraça...


Há oliveiras e figueiras no pátio. As pessoas es-
crevem em pedaços de papel. São rabiscos en-
graçados, como letras... É 1536 a.C." (Muitas Vi-
das, Muitos Mestres, pág. 36)

Falamos, em capítulo anterior, da memória prodigiosa de


Catherine, que lhe permitia relembrar datas recuadas com
notável facilidade. Neste trecho a vemos repetir a faça-
nha... Mas o que interessa destacar é a referência ao pa-
pel. Este foi inventado na China, no início da era cristã,
muito tempo depois da data citada na fantasia de Catheri-
ne. No passado utilizaram-se materiais diversos para

96
registros escritos: pedras, barro, papiro, e mais tarde, o
pergaminho. O uso do papel ganhou predominância há
poucos séculos. Brian Weiss não explica como Catherine
presenciou pessoas utilizando um material que ainda não
existia...

O médico não exibe real interesse em investigar o caso


com a seriedade necessária. Ele faz vista grossa às narra-
tivas equivocadas de sua paciente, atitude que contraria
sua declarada capacidade obsessiva de análise.

Os variados enganos de Catherine deixam dúvidas sobre


a veracidade das lembranças... Ainda que desejássemos
ser tolerantes e concluir que se trata de uma pequena con-
fusão, a realidade é que naquele tempo remoto não havia
coisa alguma semelhante ao papel. A partir daí outras
dúvidas se tornam patentes: como pôde Catherine recor-
dar sem hesitação datas remotas e depois contemplar pes-
soas escrevendo em pedaços de papel, material inexisten-
te na época? Faz sentido concluir que Catherine fabulava
com as poucas e superficiais informações que lera ou
ouvira sobre civilizações do passado.

Portanto, nada de sobrenatural ou incomum havia na re-


gressões de Catherine: suas histórias são muito pobres
para servirem como confirmação às lembranças de vidas
passadas.

97
BRIAN WEISS DESLUMBRADO...

O médico, maravilhado ante as revelações de Catherine,


em vez de dirigir a terapia, se deixa conduzir pela pacien-
te. O tratamento psiquiátrico propriamente dito é inter-
rompido, Brian Weiss passa a mero registrador das asser-
tivas mitológicas da moça. Após algumas sessões, surgem
outros personagens, “os mestres”, que, segundo o Dr.
Weiss, utilizam Catherine como canal para suas mensa-
gens:

“Sua cabeça começou a rolar lentamente de um


lado para o outro, como se estivesse explorando
uma cena...

‘Dizem que há vários deuses, pois Deus está em


cada um de nós’

“Reconheci a voz do estado intermediário pela


rouquidão e pelo tom inegavelmente espiritual da
mensagem. O que ela disse em seguida me dei-
xou sem fôlego, respirando com dificuldade."

98
‘Seu pai está aqui e o seu filho, que é pequeno.
Seu pai diz que você o reconhecerá porque ele
se chama Avrom e seu filho tem o mesmo nome.
Ele morreu do coração. O coração de seu filho
também era importante, porque estava invertido,
como o de uma galinha. Ele fez um grande sacri-
fício de amor a você. A alma dele é muito evoluí-
1
da... Sua morte pagou as dívidas dos pais . Ele
também quis lhe mostrar que a medicina tem limi-
tes, que seu campo de ação é muito limitado.'...

1
→ Observa-se no discurso do “mestre” um aconteci-
mento comum em contatos mediúnicos: os espíritos
respondem conforme a crença dos receptores. Em
ambiente onde se creia na reencarnação, as almas fa-
lam positivamente do assunto; num meio onde a reen-
carnação não seja aceita, os espíritos a condenam.
No caso presente, Brian Weiss, ou Catherine, acredi-
ta que uma pessoa possa pagar dívidas cármicas de
outras, desse modo, os mestres se pronunciaram fa-
voravelmente ao assunto.

“Meus braços estavam arrepiados, Catherine não


podia conhecer aqueles dados. Não havia nem
onde buscá-los... Era muita coisa, muitas infor-
mações específicas... E se ela podia revelar es-
sas verdades, o que mais havia? Eu precisava
saber mais...

Quem, gaguejei, quem está aí? Quem lhe diz es-


tas coisas?”

‘Os mestres’, sussurrou ela, ‘os Espíritos Mestres


me dizem. Eles me dizem que vivi oitenta e seis
vezes em estado físico.’

99
“Minha vida jamais voltaria a ser a mesma. Uma
mão descera e alterara irreversivelmente seu cur-
so. Todas as minhas leituras, feitas com um cui-
dadoso espírito escrutinador e neutralidade céti-
ca, se encaixavam. As lembranças e mensagens
de Catherine eram verdadeiras. Minhas intuições
sobre a exatidão de suas experiências estavam
corretas. Eu tinha fatos. Tinha a prova...

A prova era forte demais e irresistível. Era verda-


de... " (Muitas Vidas, Muitos Mestres, pág. 50-
53)

Os mestres conquistam o médico. A fantasiosa “prova”


de que almas alienígenas haviam embarcado na mente de
Catherine é por Brian Weiss classificada como “forte
demais”. A partir daí o terapeuta se deixa definitivamente
convencer pelas divagações de sua paciente e delas se
torna dependente:

“ ‘... Você vai entender. Você realmente compre-


ende’. Ela parou de novo.

‘Estou tentando’, acrescentei. Então decidi voltar


a atenção para Catherine. Talvez os mestres ain-
da estivessem presentes.

‘O que posso fazer para ajudar melhor Catherine


a superar seus medos... ? E para aprender suas
lições?’ ...

A resposta veio na voz profunda do Mestre poe-


ta...

100
‘O que você está fazendo está certo. Mas é por
você, e não por ela.’ Novamente a mensagem di-
zia que o benefício era meu, mais do que de Ca-
therine.

‘... Sim o que dizemos é para você.’

‘... Preciso de orientação. Tenho tanto a apren-


der... ’

‘Você será orientado quando chegar a hora'... ”


(Muitas Vidas, Muitos Mestres, pág. 77,78)

Os mestres deixaram o Dr. Brian estupidificado e ele não


se acanha de pedir-lhes orientações sobre qual seria a
melhor forma de tratamento a aplicar em Catherine. É
magnífico que o terapeuta tenha esquecido toda sua for-
mação e buscado conselhos junto ao desconhecido...

Fica difícil aceitar que Brian Weiss não dispusesse de


informações sobre pesquisas na área da parapsicologia, e
mesmo no campo da psicologia, que pudessem subsidiá-
lo na análise do caso de Catherine.

Quando a moça lhe falou sobre seu pai e seu filho, o mé-
dico concluiu que não havia modo dela saber do aconte-
cido, a não ser que realmente estivesse a ouvir as revela-
ções dos “mestres”. Para ele, a única forma de explicar o
conhecimento da paciente sobre assuntos íntimos de sua
vida seria pela via sobrenatural.

Esta conclusão é um tremendo engano!

Havia outros meios de Catherine saber dos acontecimen-


tos. Diversas explicações podem ser apresentadas, sem

101
necessidade de utilizar-se manifestações sobrenaturais.
Vejamos duas hipóteses:

1. Catherine deve ter obtido informes da vida do


médico por meios comuns. Certamente, as tragé-
dias da morte do pai e do filho eram de conheci-
mento de diversas pessoas. A moça teria ouvido,
ou mesmo lido, comentários sobre os casos e estes
ficaram registrados em sua mente. Quando hipno-
tizada, foi-lhe fácil elaborar um enredo baseado
nas informações de que dispunha. O Dr. Brian
deveria ter interrogado cuidadosamente a pacien-
te a fim de averiguar essa possibilidade, mas não
o fez.

2. outra hipótese é a de que Catherine possa ter cap-


tado o pensamento emocionado do médico sobre
seu filho, por meio de um fenômeno bastante es-
tudado pela Parapsicologia, conhecido como hi-
perestesia. Mais adiante falaremos do assunto.

“Minha vida jamais voltaria a ser a mesma. Uma


mão descera e alterara irreversivelmente seu cur-
so. Todas as minhas leituras, feitas com um cui-
dadoso espírito escrutinador e neutralidade céti-
ca, se encaixavam. As lembranças e mensagens
de Catherine eram verdadeiras. Minhas intuições
sobre a exatidão de suas experiências estavam
corretas. Eu tinha fatos. Tinha a prova... ” (Brian
Weiss)

102
Essa fascinada manifestação não coaduna com a “neutra-
lidade cética”, da qual Brian Weiss declara ser dotado. O
médico acreditava que sua intuição lhe desse o perfeito
parâmetro de avaliação. Porém, nem sempre a intuição
nos transmite as respostas corretas. A intuição pode for-
mular idealizações falseadas. Se nossa mente for suprida
com idéias inadequadas, as intuições não serão corretas.
Se a intuição do médico lhe dizia que a manifestação de
Catherine era sobrenatural, deveria ter confirmado essa
idéia preliminar por meio de cuidadosa investigação.
Não é se deixando levar pela primeira impressão que se
faz boa ciência.

“Aparentemente a intuição me revela o ser pro-


fundo das coisas, ao passo que a ciência discur-
siva substitui a realidade sensível conhecida intui-
tivamente, por equações abstratas, por sistemas
de relações entre símbolos de caráter puramente
artificial. Mas essa aparência é enganosa. A intui-
ção sensível é que é falsa, pois não me revela o
mundo em si mesmo, já que é relativa aos meus
órgãos sensoriais, puramente subjetivos. O racio-
cínio científico é que é verdadeiro, porque me
permite descobrir relações objetivas entre os fe-
nômenos, graças aos pacientes rodeios dos pro-
cessos discursivos... por outro lado, é preciso não
esquecer que as intuições mais válidas... , fre-
qüentemente, são a recompensa de um paciente
trabalho discursivo. E é necessário, ainda, que a
intuição seja controlada, verificada em seguida
por operações discursivas. Se o discurso é mais
lento, ele é mais seguro que a intuição... O dis-
curso não é um obstáculo à intuição autêntica,
mas... é a sua condição de existência e sempre a
garantia de sua validade.” (Compêndio Moderno
de Filosofia – Denis Huisman e André Vergez)

103
Diante da ingênua euforia do médico concluímos pelo
seu desinteresse em pesquisar seriamente o caso. Ele ape-
nas esperava algum fato que confirmasse suas expectati-
vas místicas. Catherine atendeu aos desejos reprimidos do
terapeuta. Tão entusiasmado ficou ante a “revelação” que
deixou de lado a cautela, que seria um predicado indis-
pensável nesse episódio.

A Hiperestesia

Algumas pessoas parecem ser dotadas de uma singular


capacidade: conseguem captar e interpretar as emoções
de quem lhe está próximo. É sabido que os pensamentos
descarregam sutis vibrações no corpo. Quanto maior é a
carga emocional envolvida, mais intensas serão essas
vibrações. Certos sensitivos são hábeis em perceber al-
gumas dessas manifestações. A esse fenômeno a parapsi-
cologia chama hiperestesia. De certo modo, todos sería-
mos sensitivos, porém, em algumas pessoas essa caracte-
rística estaria mais aflorada.

→ A hiperestesia é uma ocorrência bastante estu-


dada pela parapsicologia e, dentre os fenômenos
ditos parapsicológicos, talvez seja o mais comum.
Podemos definir a hiperestesia como uma exa-
cerbação dos sentidos, possibilitando a percep-
ção de sensações muitos tênues. Os pensamen-
tos provocam no corpo diversos ecos. Por exem-

104
plo, estudos mostraram que quando pensamos
nossas cordas vocais vibram como que refletindo
os pensamentos. Um hiperestésico consegue cap-
tar tais reflexos e traduzi-los extraconsciente-
mente, o que dá a impressão de que a pessoa te-
nha a capacidade de “ler” pensamentos.

→ Há quem entenda a hiperestesia de outra manei-


ra: pelo menos parte das percepções não resul-
taria de exaltação sensorial, sim de uma capaci-
dade aprimorada de “ler” as mensagens do corpo.
Quando comunicamos verbalmente com alguém,
além das palavras, passamos impressões sutis
por meio de gestos e expressões. Alguns teriam
o dom de traduzir essa linguagem de segundo
plano e assim perceber coisas que normalmente
os interlocutores não notam.

Levando em conta o que postula a Parapsicologia, a hipe-


restesia pode ser definida como uma exacerbação espon-
tânea e casual de alguns dos sentidos. O hiperestésico não
tem controle sobre as manifestações. Estas podem ocorrer
com freqüência ou raramente. Alguns ambientes e situa-
ções são capazes de ativar episódios hiperestésicos admi-
ráveis. O fenômeno é conhecido, mas suas peculiaridades
ainda estão em estudo.

105
No caso em questão, existe a possibilidade de que algum
estímulo tenha trazido a lembrança do pai e do filho à
mente do médico e, por tratar-se de uma recordação for-
temente emocional, Catherine pôde senti-la. E a mente
sugestionada da moça elaborou o enredo que tanto im-
pressionou o terapeuta. Existem relatos de manifestações
hiperestésicas muito mais surpreendentes que as apresen-
tadas por Catherine.

Portanto, a revelação de Catherine sobre o filho do psi-


quiatra, provavelmente tenha advindo de informações
previamente armazenadas em sua mente, ou enquadra-se
no âmbito das chamadas manifestações hiperestésicas.

“Hiperestesia significa exaltação da sensação. Hiperes-


tésico é quem capta e pode manifestar estímulos mí-
nimos. As pessoas que manifestam com alguma fre-
qüência este fenômeno... são chamados sensitivos... ”
(A FACE OCULTA DA MENTE", Oscar G. Quevedo)

Duas explicações são importantes sobre o assunto:

a) a hiperestesia nada tem de sobrenatural, trata-


se de um fenômeno que ocorre com pessoas dota-
das de sensibilidade especial e pode ser estudada
sem recorrer-se a teorias esotéricas;

b) a manifestação é espontânea, ou seja, indepen-


de da vontade, como de resto ocorre com os fatos
paranormais. O hiperestésico possui a capacida-
de, porém não tem domínio sobre ela. Pessoas
que se declaram “paranormais” e se dizem aptos
a utilizar, quando bem entendem, os “poderes”

106
que possuem, ou não sabem o que dizem, ou são
rematados vigaristas.

Uma das características mais marcantes dos eventos pa-


rapsicológicos reside no fato de ocorrerem de forma não
premeditada e sem o controle de quem os manifesta. In-
divíduos que se apresentam como paranormais e afirmam
realizar coisas fantásticas à vontade e com hora marcada,
tais quais Thomaz Green Morton, Urandir Fernandes, Uri
Geller, e outros, estão faltando com a verdade.

A folclórica imagem que alguns fazem dos chamados


paranormais, como pessoas dotadas de poderes mágicos,
aos quais recorrem quando bem entendem, não é respal-
dada pelas pesquisas.

107
CAPÍTULO 8

Distanciado da Ciência

No capítulo 15 de "Muitas Vidas, Muitos Mestres", o


médico relata a visita que Catherine fizera a uma médium
e faz suas apreciações:

“Catherine fora ver Íris Saltzman, famosa astrólo-


ga e médium, especializada na leitura de vidas
passadas...
Íris perguntou apenas a data, a hora e o lugar do
seu nascimento. A partir desses dados... iria fazer
seu mapa astral, o qual, juntamente com seus
dons intuitivos, lhe permitiria discernir detalhes
das vidas passadas de Catherine...
Para sua surpresa, Íris confirmou tudo que Cathe-
rine descobrira sob hipnose...
... Eu estava fascinado com a exatidão de deta-
lhes desses fatos descritos por Íris...

109
... Não tenho certeza do que aconteceu naquele
dia. Talvez Íris, inconscientemente, tenha usado a
telepatia e 'lido' a mente de Catherine, já que as
vidas passadas estavam em seu subconsciente.
Ou, quem sabe, ela realmente fosse capaz de re-
conhecer este tipo de informação, através de al-
guma capacidade mediúnica. Em todo caso, a-
conteceu, as duas obtiveram o mesmo conheci-
mento por meios diferentes. O que Catherine al-
cançou através da regressão hipnótica, Íris con-
seguiu através de canais mediúnicos."

Lembramos que Brian Weiss afirmara realizar "... leituras,


... com um cuidadoso espírito escrutinador e neutralidade cética... ".
Entretanto, não foi possível encontrar na obra do Dr.
Weiss um único exemplo dessa qualidade. Brian Weiss
acreditava que Íris Saltzman seria competente para dis-
correr sobre a mente de Catherine. A moça fora visitar a
astróloga e esta lhe "revelara" as mesmas coisas que o
médico descobrira pela hipnose...

Íris Saltzman é astróloga e “especialista na leitura de vi-


das passadas”. E deve possuir outros poderes fantásticos,
pois munida apenas de parcos informes sobre Catherine
(data, hora e local de nascimento) ela pôde revelar os
segredos das vidas da moça.

Não ficou claro o porquê de Catherine buscar a orienta-


ção da astróloga: será que necessitava de uma segunda
opinião sobre seus problemas? Ou não estaria satisfeita
com o trabalho do terapeuta? A dúvida fica no ar.

110
A avaliação do resultado da entrevista, feita pelo médico,
nos confunde: inicialmente supõe que Íris seja telepata,
depois decide que tenha utilizado "canais mediúnicos".
São opções bastante diferenciadas para serem aplicadas
em sistema de múltipla escolha. Não parece que Brian
Weiss tenha utilizado seu propalado espírito escrutinador
neste caso.

O Dr. Weiss ratifica o trabalho da astróloga. Significa que


atribui credibilidade a astrologia. De fato, seria muito
bom se a humanidade dispusesse de um seguro processo
de orientação para seu destino, tal qual propõem os astró-
logos. O caso é que todas as pesquisas que intentaram
comprovar o cunho científico da astrologia deram resul-
tados negativos.

Durante muitos séculos a astrologia reinou soberana co-


mo se fora um conhecimento saudável. Não estão longe
os tempos em que a própria astronomia estava sob influ-
ência das postulações astrológicas. À medida que as des-
cobertas científicas se ampliaram ficou claro que as bases
da astrologia eram insustentáveis. Assim, a idéia de que
alguns corpos celestes definem o destino das pessoas foi
perdendo espaço no meio científico. Presentemente, clas-
sificar a astrologia de ciência não faz sentido.

A astrologia baseia-se em premissas infundadas, em con-


cepções ultrapassadas, que não resistem à moderna análi-
se científica. Os esporádicos resultados corretos que os
mapas astrais apresentam são estatisticamente irrelevan-
tes. Os astrólogos intitulam o que praticam de ciência,
entretanto a declaração não corresponde à realidade.

111
Se a astrologia funcionasse de verdade, teríamos uma
sensacional ferramenta a nos indicar o rumo adequado
nas atividades diárias. Muitos problemas seriam resolvi-
dos antes que se tornassem situações dolorosas.

Lamentavelmente tal facilitador não existe. É possível se


basear na astrologia para a decisão sobre coisas vagas,
indefinidas. Se um horóscopo diz: "dia propício para bus-
car um emprego" e alguém, com base nessa orientação, se
enche de ânimo e sai à cata de uma oportunidade, isso
pode ser positivo. No entanto, não se pode atribuir nesse
quadro qualquer poder à astrologia: outras formas de in-
centivo igualmente obteriam o mesmo resultado. As
grandes decisões de nossa vida, se forem calcadas em
previsões astrológicas nos trarão frustrações sem fim.

A História está repleta de exemplos de pessoas que adota-


ram resoluções orientadas por mapas astrológicos e se
meteram em grandes complicações.

Os astrólogos manipulam coloridos mapas astrais, apa-


rentemente sofisticados, que dão a impressão de um tra-
balho complexo e bem elaborado. Contudo, a fundamen-
tação por trás das cartas astrológicas é nenhuma.

Respeita-se a dedicação de muitos astrólogos sinceros, no


entanto, é inegável que a astrologia está alicerçada no
vácuo.

A astrologia trabalha com conceitos primitivos. Estipula


que a Terra está no centro do Universo e é rodeada pelo

112
zodíaco. O zodíaco é apenas uma linha de constelações
que não guardam nenhuma relação entre si. Na época em
que não existiam telescópios e as observações astronômi-
cas eram feitas a olho nu, tinha-se a impressão de que o
zodíaco fosse uma estrutura única e harmoniosa. Essa
idéia foi perenizada pela "ciência" astrológica, mas não
tem fundamento.

A astrologia tem sido reprovada em todos os testes


avaliativos a que se submete.

Alguns pesquisadores realizaram uma interessante men-


suração: astrólogos elaboraram o mapa astrológico de
pessoas selecionadas para a avaliação. Depois, essas pes-
soas recebiam dos pesquisadores três mapas astrológicos:
o mapa verdadeiro e outros dois forjados, contendo carac-
terísticas bastante diversas das da carta correta. Elas de-
veriam escolher qual dos mapas estaria coerente com suas
personalidades. A quantidade de escolhas certas foi equi-
valente a de escolhas erradas. O que demonstra que as
aferições astrológicas são inconcludentes: os consulentes
se sentem atendidos tanto com previsões elaboradas pelas
técnicas astrológicas quanto com revelações espúrias que
lhes pareçam coerentes. Talvez isso explique o sucesso
dos horóscopos de jornais e revistas.

No passado Astronomia e astrologia caminharam juntas.


Depois a Astronomia seguiu seu rumo, a trilha da ciência:
estudar os astros, suas características, origens e seu cami-
nhar pelo Cosmos. A Astronomia utiliza leis científicas e
formula hipóteses e teorias de boa fundamentação. A As-
tronomia busca conhecer os corpos celestes e entender

113
suas peculiaridades. Enquanto isso, a astrologia ficou
perdida em suas concepções insustentáveis.

Recentemente a astrologia recebeu um duro golpe com a


publicação do resultado de uma ampla avaliação: milha-
res de pessoas foram acompanhadas desde o nascimento
até a fase adulta. Uma pesquisa que consumiu cerca de
trinta anos. O objetivo era verificar se as personalidades
coincidiriam com as previsões astrológicas. O resultado:
fracasso total. Não se detectou qualquer correlação con-
sistente entre a data do nascimento e o caráter da pessoa.

A astrologia parou no tempo: repousa sobre bases supers-


ticiosas.

A arte de orientar o destino pelos astros adota


algumas premissas confusas:
1. estabelece que a data de nascimento seja o fun-
damento para a elaboração do mapa astrológico.
No entanto, a lógica nos diz que deveria ser o
momento da concepção o início da influência dos
corpos celestes. Ao nascer, a pessoa já teria suas
características definidas, pois teria estado nove
meses sob a ação dos astros.
2. somente alguns astros são capazes de nos sensibi-
lizar. A astrologia considera cinco dos nove pla-
netas do sistema solar, mais a lua, o sol e algu-
mas outras estrelas como determinadores dos
destino. Os demais objetos celestes, que perfazem
um número imenso, são menosprezados. Entretan-
to, todos os astros do universo possuem idênticas
características, portanto seriam passíveis de e-
xercer sobre nós alguma ação .

114
3. é difícil entender (e explicar) como poderia um
planeta ou uma estrela situada a enorme distân-
cia influenciar nossas vidas.

A teoria astrológica assevera que somente as estre-


las do zodíaco e alguns planetas podem mexer co-
nosco. Arbitrariamente desprezam os demais inú-
meros corpos celestes. Porém, estes teriam igual
direito de sensibilizar nossas personalidades

A astrologia ficou restrita a um conhecimento limitado e


ultrapassado e fechou-se em torno dele. Hoje em dia não
há mais base lógica ou científica que possa ratificar essa
crendice.
Os simpatizantes facilmente são persuadidos pela apa-
rência de fidedignidade dos relatos e desprezam os va-
ticínios incorretos. As cartas astrológicas seriam válidas
se contassem com completas e corretas declarações. Na
realidade tal não acontece. Os perfis astrológicos ba-
seiam-se em considerações genéricas, que podem se
aplicar a muita gente. Por exemplo, a frase, "você procura
a verdade, mas, às vezes, recorre à mentira para se livrar
de situações embaraçosas". A quantas pessoas, nascidas
sob quaisquer signos, tal descrição não se aplicaria?
Brian Weiss não leva em conta as fragilidades da
astrologia e, empolgado com as "revelações" da astró-
loga, exclama: "... Eu estava fascinado com a exatidão de
detalhes desses fatos descritos por Íris... "
Não é informado sobre como Íris Saltzman conseguiu
sondar a mente de Catherine. No papel de astróloga lhe

115
caberia elaborar o mapa astral da consulente. Entretanto,
mapas astrais, ao que se saiba, não revelam vidas
passadas. Resta, então, supor que Íris tenha utilizado seu
outro talento: "os canais mediúnicos", seja lá o que isso
signifique. Na melhor das hipóteses, poderíamos admitir
que Íris fosse uma sensitiva e percebeu as emoções de
Catherine. No entanto, o mais provável é que tenha
habilmente interrogado a moça e, com base nas infor-
mações colhidas, feito a "revelação". Muitos videntes são
admiravelmente habilidosos nesse procedimento.

116
A PARAPSICOLOGIA

Na apresentação do livro "Muitas Vidas, Muitos


Mestres" (págs. 9-11), feita por Lívio T.Pincherle, médico
psicoterapeuta, Presidente da Associação Brasileira de
Terapia de Vida Passada, deparamos um comentário que
merece apreciação:

“Minha experiência mostra que qualquer psiquia-


tra de certa experiência já se defrontou com fe-
nômenos assim chamados parapsicológicos mas,
ou não quis tomá-los em consideração ou, se o
fenômeno não pôde ser negado, limitou-se a rela-
tá-lo para os 'íntimos' como curiosidade sem ex-
plicação, por causa da grande dificuldade de en-
frentar seu paradigma normativo."

A expressão fenômenos parapsicológicos, que o Dr. Lívio


utilizou em boa hora, é o cerne da questão – (apesar de
que, provavelmente a idéia do Dr. Lívio sobre a
Parapsicologia seja contaminada pelo esoterismo). Brian
Weiss não procurou nessa matéria – (área de pesquisa
que lhe apresentaria esclarecimentos plausíveis para as
manifestações de Catherine) – elementos que permitissem
analisar o caso com a profundidade desejada.

117
Há quem confunda espiritismo com parapsicologia. São
coisas bem diferentes. Provavelmente a confusão aconte-
ça porque muitos médiuns se auto-intitulem "parapsicó-
logos" ou "paranormais". Na década de 1970 o termo
parapsicologia começou a se popularizar. A maioria dos
esotéricos que publicavam anúncios nos jornais, ofere-
cendo serviços de contato com o além, passaram a se
apresentar como praticantes dessa ciência, provavelmente
no intuito de dar maior legitimidade às suas atividades.
Até hoje ainda se encontra quem considere que Parapsi-
cologia e mediunidade sejam a mesma coisa.

A Parapsicologia estuda questões não abordadas pela


psicologia e pela psiquiatria; averigua os mecanismos
mentais que possam ser causadores de manifestações
incomuns apresentadas por algumas pessoas e que, co-
mumente, são atribuídas ao sobrenatural. A mediunidade
é um dos assuntos analisados pela Parapsicologia. O Dr.
Lívio declara que muitos psiquiatras deparam fenômenos
que lhes são desconhecidos os quais, por não estarem
afeitos à sua área, apenas observam sem lhes darem a
atenção devida. A Parapsicologia busca analisar tais fe-
nômenos.

Os chamados fenômenos parapsicológicos não são una-


nimemente aceitos pela comunidade científica. A Para-
psicologia luta para ser reconhecida como ciência. A
chamada percepção extrasensorial, um dos temas mais
abordados pelos parapsicólogos, é por muitos analistas
classificada de fantasia.

A maior dificuldade que enfrenta a Parapsicologia é a


pesquisa dos fenômenos. Estes ocorrem fora do controle

118
quem pretensamente os manifesta. Não se pode prever
quando haverá um evento, o que obstaculiza a investiga-
ção técnica. Se o fenômeno não é controlável, deixa de
fazer parte dos que podem ser pesquisados cientificamen-
te, pelo menos assim entendem os que descartam a vali-
dade das averiguações parapsicológicas.

Até mesmo com a telepatia, que popularmente é tida co-


mo uma ocorrência comum, cientificamente é classificada
como carecente de fundamentação.

O trabalho da Parapsicologia é uma tentativa de analisar e


explicar manifestações que vêm sendo relatadas por mui-
tos séculos sem que sejam adequadamente elucidadas.
Visto que os diversos campos da ciência desprezam essa
modalidade de fenomenologia, cria-se em torno dela uma
aura de mistério, da qual se aproveitam alguns. Estes a-
presentam explicações fabulosas, as quais, na falta de
melhores esclarecimentos, são aceitas como corretas pe-
los curiosos.

Para a parapsicologia algumas ocorrências de contatos


com espíritos poderiam ser enquadradas no âmbito dos
fenômenos parapsicológicos; outras, talvez a maioria,
seriam simplesmente fabulações de mentes treinadas.

Há algum tempo, um grupo de interessados em contatos


com o além, alguns deles não diretamente ligados ao es-
piritismo, deu início a uma estranha pesquisa: gravar ele-
tronicamente mensagens alegadamente enviadas pelas
almas dos mortos. A atividade foi batizada de transcomu-
nicação instrumental.

119
Parecia uma tarefa revolucionária: se os mortos podem
comunicar por meio de engenhos eletrônicos, então terí-
amos uma novidade digna de exame. Contudo, a avalia-
ção dessas mensagens é de desiludir: pobres em conteúdo
e pouco convincentes. Os "espíritos" proferem frases sol-
tas, que não formam nenhuma mensagem válida. Os
transcomunicadores têm muito pouco para apresentar que
mereça uma consideração mais séria. Em termos compa-
rativos, mil vezes mais eficiente no contato com os espíri-
tos, (caso tal comunicação de fato acontecesse), seria o
"sistema tradicional", feito pelos médiuns. Se os espíritos
pretendem realmente se fazer percebidos pela utilização
de meios eletrônicos, coitados: estão encontrando grande
dificuldade!

As pesquisas de cunho científico, que investigaram a co-


municação entre vivos e mortos, não conseguiram com-
provar um caso sequer de contato real. Todas as manifes-
tações são esclarecidas objetivamente pela ação do in-
consciente.

É claro, o assunto não pode ser esgotado em poucas pala-


vras. Um espírita não irá concordar que as manifestações
atribuídas aos espíritos sejam forjadas na mente dos mé-
diuns. Muitos eventos de comunicação entre vivos e mor-
tos são testemunhados diariamente pelos adeptos do espi-
ritismo, alguns com tal riqueza de detalhes que surpreen-
dem. Para os espíritas, as "provas" da comunicação são
tantas que dúvidas só podem persistir na mente dos em-
pedernidamente céticos. No entanto, conforme vimos
sinteticamente, o conceito de comunicabilidade interdi-
mensional está eivado de pontos não esclarecidos.

120
O Dr. Weiss não levou em conta que pesquisas de outras
áreas além da psicologia ou da psiquiatria o auxiliassem a
esclarecer um evento com o qual não estava habituado a
lidar. A Parapsicologia tem investigado revelações seme-
lhantes às apresentadas por Catherine e poderia lhe dar
subsídios para uma avaliação de maior amplitude. O mé-
dico preferiu caminhar por uma trilha tortuosa, em vez de
agir com a prudência do cientista.

Nada contra o fato do Dr. Brian Weiss haver se converti-


do às doutrinas espiritistas. É uma questão de foro íntimo
optar por essa ou aquela religião. O espiritismo merece
respeito, como merece respeito qualquer manifestação
religiosa. O caso é que o médico não realizou a avaliação
meticulosa que o assunto exigia, preferindo adentrar no
caminho do ocultismo.

Uma pergunta: por que Brian Weiss desprezou sua esme-


rada formação e se apegou a "revelações" oriundas de
fontes suspeitas? O caso de Catherine apresenta situações
que o médico não poderia deixar de investigar meticulo-
samente, antes de elaborar um parecer superficial e regis-
trá-lo num livro...

Brian Weiss tem recebido elogios de muitos admiradores.


E não seria para menos: o currículo do médico é invejá-
vel. Por isso, ficamos pasmados ante a fragilidade de suas
considerações.

121
MAIS PODEROSA QUE A MEDICINA
MODERNA...

A TVP propala a existência de curas, muitas curas, o que


seria a prova da legitimidade do método e de sua cientifi-
cidade. Esta é uma questão complexa, que exige estudos
acurados para se averiguar até que ponto as curas existem
e em que amplitude.

Outra alegação seria que as curas provam a efetividade do


método. Infelizmente, para os regressionistas, este argu-
mento não os ajuda. Sabe-se de terapias que não possuem
respaldo científico e que alcançam curas, até mesmo de
doenças sérias. Existem medicamentos inócuos (que não
têm qualquer formulação química que provoque modifi-
cações no organismo), chamados placebos, os quais da-
dos a pessoas sugestionáveis acarretam efeitos admirá-
veis. No entanto esses métodos mágicos de tratamento
trazem um risco: podem mascarar sintomas e causar falsa
impressão de cura. Mais tarde o problema eclode com
muito mais gravidade que antes.

O que encontramos na TVP, com muita freqüência, são


depoimentos deslumbrados muitos dos quais pouco con-
fiáveis, pelo exagero com que exaltam o potencial curati-

122
vo desse pretenso método terapêutico. São palavras de
Brian Weiss:

“Avaliei o propósito terapêutico da exploração das


vidas passadas de Catherine... Há nesse campo
algum poder curativo muito forte, um poder que
parece muito mais eficiente do que a terapia con-
vencional ou a medicina moderna... ” (Muitas Vi-
das, Muitos Mestres)

Reflitamos sobre a declaração: diz que a terapia de vidas


passadas é dotada de uma força estupenda, capaz de curar
com mais eficácia que as terapias convencionais e até
mais poderosa que a medicina moderna. A responsabili-
dade de uma afirmação dessas, feita por um profissional
de gabarito, é muito grande.

Noutra parte do livro, o Dr. Brian declara ter cuidado de


centenas de pacientes utilizando o tratamento ortodoxo
("Eu examinara centenas de pacientes... , muitos sob hip-
nose, e jamais deparara com fantasias como essas").

Entretanto, o aparente desaparecimento dos males de Ca-


therine – um único evento – foi suficiente para que o mé-
dico concluísse que o novo tratamento era mais eficiente
que a medicina moderna...

Será que o Dr. Brian não se precipitou em sua avaliação


sobre a TVP?

Pasmem! Um único caso, superficialmente estudado, foi


suficiente para que o renomado médico jogasse pela ja-
nela anos de estudos e acatasse as histórias de sua pacien-
te como verazes!

123
Acreditamos que o Dr. Brian devesse ter tirado umas fé-
rias antes de enfrentar o distúrbio de Catherine... Talvez
ele retornasse com a cabeça mais fresca...

A metodologia científica orienta o pesquisador a realizar


uma série de passos, até estabelecer uma teoria sobre o
assunto em estudo, (procedimento que Brian Weiss defi-
nitivamente não realizou antes de concluir que a TVP
seria um método terapêutico superior a tudo o que ele
conhecera). O procedimento aplicável à maioria dos ca-
sos, seria o seguinte:

Observar o fato;

Questionar o problema;

Apresentar uma hipótese;

Realizar experiências controladas com um grupo


de controle;

Tirar as conclusões.

→ Grupo de controle : grupo mantido nas condições ante-


riores à experiência , usado para verificar o resultado
do experimento. Há situações em que não seria possível
a utilização dessa ferramenta, por exemplo, no estudo
de fenômenos parapsicológicos, que são produzidos in-
dependentemente da vontade de quem os apresenta.
Em casos assim o método de avaliação será um pouco
diferente.

124
Pelo que depreendemos das declarações de Brian Weiss,
o terapeuta não seguiu os procedimentos recomendados
pela boa ciência. Preferiu abraçar cegamente a hipótese
esotérica.

Depois de afirmar que a regressão é método superior à


medicina moderna, noutro trecho do livro, o terapeuta se
contradiz ao afirmar que a TVP é limitada:

“Desde Catherine, tenho conduzido minuciosas


regressões a diversas vidas passadas de mais de
uma dúzia de pacientes. Nenhum era psicótico,
tivera alucinações ou múltiplas personalidades.
Todos melhoraram...

Não é necessário que todo mundo faça regres-


sões, visite médiuns ou até medite. Os que apre-
sentam sintomas incômodos ou incapacitantes
podem achar que vale a pena fazer isso. Quanto
aos demais, o importante é manter a mente aber-
ta... ” (Muitas Vidas, Muitos Mestres)

→ De doze pacientes tratados com a nova metodologia,


nenhum era psicótico, alucinado ou possuidor de múlti-
plas personalidades. Eram pessoas não dadas a simular
o que sentiam (o que poderia confundir o resultado do
trabalho). Porém, surge a dúvida: e se o doente for psi-
cótico, alucinado ou dissimulador? O Dr. Brian insinua
que nesses casos a terapia regressionista não deve ser
utilizada. Ora, isso significa uma grande limitação à
TVP. Então, por que foi dito que a terapia é superior
aos métodos psiquiátricos convencionais e superior até
mesmo à medicina moderna?

Brian Weiss não recomenda a regressão a todas as pesso-


as, apenas àquelas possuidoras de “sintomas incômodos

125
ou incapacitantes” (uma caracterização muito vaga). No
entanto, se existe na TVP um poder “superior” à terapia
convencional não seria de bom alvitre indicar a regressão
a todos? Se ela, de fato, é “mais eficiente que a medicina
moderna”, por que restringi-la a uns poucos? Será que é
porque, caso seja utilizada rotineiramente, se revele me-
nos eficiente que se apregoa?

A argumentação do Dr. Brian nos deixa confusos.

Brian Weiss se apresenta como um profissional de fina


formação. Não são muitos os que teriam um preparo tão
esmerado. Por isso, custa-nos entender como pôde con-
duzir o caso de Catherine tão debilmente! No livro “Mui-
tas Vidas, Muitos Mestres” o Dr. Brian se porta como um
iniciante na ciência, em vez de agir como o profissional
que ostenta um currículo de fazer inveja...

126
CAPÍTULO 9

Almas Gêmeas

Depois de “Muitas Vidas Muitos Mestres” Brian Weiss


iniciou uma promissora carreira de escritor regressionista.
No livro “Só o Amor é Real” o terapeuta apresenta uma
novidade: as almas gêmeas. Estas seriam espíritos pro-
gramados pelo destino ou pelo carma, ou pelo que seja,
para se reencontraram vida após vida e viverem felizes
até que a morte os separe e outra vida os una; algo mais
ou menos assim.

Na exposição de sua idéia sobre as almas gêmeas, Brian


Weiss apresenta considerações frágeis e não leva em con-
ta algumas situações que se encaradas seriamente se tor-
nariam constrangedoras para as “almas gêmeas”.

A história no livro relata as aventuras de Pedro e de Eli-


zabeth, espíritos afins que pareciam fadados a não se co-
nhecerem nesta existência. Quis o destino que os dois
fossem acompanhados pelo Dr. Brian. O terapeuta casu-
almente descobriu a identificação entre o casal e cuidou
de dar uma ajuda aos acontecimentos. No final, como
toda boa história, os dois se encontraram e a paixão nas-
ceu...

A trajetória do casal apresenta alguns aspectos pitorescos:


Pedro, numa vida anterior, fora pai de Elisabeth; noutra
existência fora irmão da moça. Depois que descobriram
serem almas gêmeas, acataram sem conflitos as experiên-
cias passadas. Aparentemente, não manifestaram restri-
ções a se relacionarem sexualmente mesmo sabendo dos
laços fraternos e paternais antes experimentados. Talvez,
nem todos admitam pacificamente tais situações. Supo-
nhamos um casal que descubra que foram mãe e filho
noutra vida, estes talvez não se sintam tão descontraídos
na hora do sexo.

A tese das “almas gêmeas” pressupõe que alguns espíri-


tos se liguem em completo entendimento durante variadas
existências. Mesmo levando em conta a mútua compreen-
são, os embaraços seriam inevitáveis se as almas visuali-
zassem os relacionamentos havidos.

Pensemos: a noiva descobre que o noivo foi um filho


amado em vida anterior; uma jovem apaixonada percebe
que o amado foi seu pai em existência pregressa; um ca-
sal apaixonado lembra que foram mãe e filho no passado;
o casal de namorados recordam terem sido avó e neto.

Se formos estender o assunto, considerando que nem to-


das as almas são gêmeas (ou seja, nem todas se relacio-
nam harmoniosamente) é possível conceber algumas
combinações dramáticas, vejamos algumas:

128
• O estuprador se torna pai da moça que violen-
tou;

• O homem que levou seu sócio à falência e ao sui-


cídio se torna irmão do suicida;

• O assassino reencarna como filho do assassina-


do;

• O esquartejador volta como sobrinho do esquar-


tejado.

E por aí segue... as hipóteses de combinações sinistras


são numerosas. A regressão vai desencavar recordações
desse tipo. E aí, como ficarão os envolvidos? Um casal
vai se relacionar tranqüilo sabendo que um assassinou o
outro anteriormente? Uma jovem apaixonada irá se entre-
gar sem restrições após descobrir que seu amado a ven-
deu para ser prostituída em vida passada? Com que olhos
o pai contemplará seu filho, se souber que foi por ele es-
traçalhado noutra vida?

Para não nos delongarmos no exame das muitas questões


estranhas encontradas em “Só o Amor é Real”, destaca-
remos alguns relatos do livro, os quais comentaremos:

“Quando terminei de fazer a contagem regressiva


de dez para um, Elizabeth já estava em profundo
transe hipnótico...

- Estou usando sandálias finas... Os meus cabe-


los são escuros, castanhos e muito longos, cain-
do abaixo dos ombros... Estou sendo treinada pa-
ra ser médica e dar assistência aos sacerdotes.

129
- Sabe o nome da terra onde está - indaguei.

- Egito... há muito tempo atrás.

- Sabe o ano?

- Não. Não vejo isso... mas é uma data muito re-


mota... muito antiga...

... Fui escolhida pelos sacerdotes, como as outras


também o foram. Somos todas escolhidas de a-
cordo com os nossos talentos...

...

- Você então é parente do Faraó?

- Prima... não muito próxima. A família dele é mui-


to grande. Até mesmo primos distantes são con-
siderados parte da família.

...

- Algum membro de sua família mora com você?

- Sim, o meu irmão, somos muito apegados...

- Olhe bem no rosto dele... Vê neles algum co-


nhecido em sua vida atual?

- Não... não o reconheço. [mais adiante revela-


se que esse irmão não é outro senão Pedro, a
alma gêmea de Elizabeth.]

...

130
- Passe adiante no tempo e vá para o próximo
evento importante...

- Adquirimos novas habilidades. Estamos traba-


lhando com uns bastões especiais de tratamento,
capazes de acelerar a regeneração de tecidos e
membros... Há uma energia líquida que flui dentro
deles... Pode-se usá-los para desenvolver múscu-
los e regenerar tecidos, mesmo tecidos mortos ou
que estejam morrendo.

Ela não soube explicar como os bastões funcio-


navam, a não ser afirmar que utilizavam energia.
Faltava-lhes as palavras e os conceitos mentais
necessários.

- Estou repetindo o que me dizem... Ainda não vi


a regeneração... Meu irmão, sim. Ele tem permis-
são para isso e, quando for mais velho, terá direi-
to ao conhecimento da regeneração. O meu trei-
namento terminará antes de chegar a esse nível.
Não posso atingi-lo por ser mulher... Seja como
for, ele me contará o segredo... prometeu-me... já
me explicou muitas coisas... Disse-me que estão
tentando ressuscitar pessoas que morreram há
pouco tempo!

...

- Como conseguem?

- Não sei... Eles usam vários bastões. E entoam


certos cânticos especiais. O corpo tem de estar
em determinada posição... E há outras coisas que
não sei... O meu irmão vai aprender, e depois me
dirá.

...

131
- Você faz também outros tipos de cura?

- Vários tipos - respondeu ela - Um deles é com


as mãos. Tocamos a área do corpo a ser curada
e enviamos energia diretamente para lá... através
de nossas mãos...

...

- Avance no tempo... o que vê?

- Agora, o meu irmão e eu somos conselheiros...


Trabalhamos ao lado do governador dessa regi-
ão, como assessores...

- Esse trabalho a satisfaz?

- Sim, é bom estar com meu irmão. E o governa-


dor geralmente é bondoso. Costuma ouvir nossos
conselhos... Operamos também as nossas curas.

...

Fiz com que ela avançasse no tempo.

...

- O que lhe aconteceu?

- O filho do governador adoeceu gravemente e


morreu... O governador sabia de nosso trabalho...
e de nossas tentativas de ressuscitar pessoas re-
cém-falecidas. De modo que exigiu que eu lhe
ressuscitasse o filho. Se eu não o fizesse, seria
condenada ao exílio...

- E o filho?...

132
- Ele não podia ser ressuscitado. Não era permiti-
do... Não faz sentido. Não cheguei a aprender
como usar os bastões. O meu irmão ensinou-me
um pouco, mas não o bastante... E ninguém sa-
bia que ele tinha me ensinado alguma coisa.

- O que aconteceu ao seu irmão?

- Ele estava ausente, de modo que foi poupado.


Todos os sacerdotes estavam ausentes. Só eu
estava aqui...

- Quanto tempo você permaneceu no exílio?

- Não muito tempo... Sei como sair do meu corpo.


Certo dia saí do meu corpo e não voltei. Aquilo foi
a minha morte, pois sem a alma o corpo morre...
Não há dor, nenhuma interrupção da percepção
quando se escolhe esse tipo de morte. Eu sabia
que jamais iria ver meu irmão novamente. E não
podia executar o meu trabalho naquela ilha de-
serta. Não havia motivo para permanecer no es-
tado físico. Os deuses compreendem... ”(Só o
Amor é Real, págs. 143-152)

Nos livros de Brian Weiss quando são apresentadas re-


gressões com narrativas mais ou menos longas, encon-
tramos nelas vários escorregões. O que demonstra que a
história foi mal contada, ou mal "montada". Este episódio
não fica atrás: algumas contradições de Elizabeth são
facilmente percebidas. Além disso, há pelo menos um ou
dois fatos que pedem comentários específicos.

Comecemos pelo mais evidente. Elizabeth recorda uma


existência no Egito: quando menina fora separada pelos
sacerdotes para se tornar médica. As mulheres podiam
aprender os segredos da ciência egípcia até certo patamar,

133
a partir dali somente os homens teriam acesso ao conhe-
cimento mais secreto. Elizabeth e o irmão estudam a ci-
ência oculta e mais tarde se tornam conselheiros de um
governador. Tudo ia bem até que um dia o filho do go-
vernador adoece e morre. Para azar de Elizabeth, nesse
dia não havia nenhum médico e nenhum sacerdote na
cidade, estavam todos fora (talvez nalguma convenção de
médicos e de sacerdotes). Somente a moça ficara e a ela o
governador pedira que revivesse o filho. Incapaz de trazer
o morto de volta, foi condenada ao exílio.

“- Estou repetindo o que me dizem... Ainda não vi


a regeneração... Meu irmão, sim. Ele tem permis-
são para isso e, quando for mais velho, terá direi-
to ao conhecimento da regeneração. O meu trei-
namento terminará antes de chegar a esse nível.
Não posso atingi-lo por ser mulher... Seja como
for, ele me contará o segredo... prometeu-me... já
me explicou muitas coisas... Disse-me que estão
tentando ressuscitar pessoas que morreram há
pouco tempo!

...

- O filho do governador adoeceu gravemente e


morreu... O governador sabia de nosso trabalho...
e de nossas tentativas de ressuscitar pessoas re-
cém-falecidas. De modo que exigiu que eu lhe
ressuscitasse o filho. Se eu não o fizesse, seria
condenada ao exílio... "

Os governadores nem sempre são tolerantes, tampouco


inteligentes. Mas provavelmente aquele saberia que as
mulheres não conheciam o segredo da ressuscitação. Por-
tanto, não faria sentido ele condenar quem não conhecia a
mágica. Alguém aí errou: pode ter sido o governador que,

134
não obstante estar a punir uma inocente, precisava descar-
regar sua ira em alguém; pode ter sido Elisabeth, que não
recordou direito o acontecimento...

“Estou sendo treinada para ser médica e dar as-


sistência aos sacerdotes”

A Elisabeth egípcia era assistente dos sacerdotes, inferi-


mos que ela não podia agir sozinha, teria que haver sem-
pre alguém hierarquicamente superior para acompanhá-la.
Contudo, na ocasião da morte do filho do governador não
havia nem médico nem sacerdote na cidade. Seria algo
semelhante a um hospital vazio, contando apenas uma
auxiliar de enfermagem para cuidar de tudo! Será que os
egípcios realizavam suas convenções médicas e religiosas
dessa maneira? Será que o governador topava uma situa-
ção dessas? São mistérios que somente o Dr. Brian Weiss
poderia esclarecer... mas que não esclarece...

As maiores estranhezas, contudo estão embutidas na nar-


rativa.

“- Sabe o nome da terra onde está - indaguei.

- Egito... há muito tempo atrás.

- Sabe o ano?

- Não. Não vejo isso... mas é uma data muito re-


mota... muito antiga... ”

Brian Weiss indaga da paciente o nome do local onde ela


se encontra e a moça diz que está no Egito. Como ela não
sabe em que ano estaria (e se soubesse seria um caso

135
complicado, conforme vimos com Catherine), ele encerra
a pesquisa histórica sobre essa vida de Elizabeth. Não
teve a curiosidade de perguntar em qual cidade o caso se
passou e outras informações que permitiriam situar aque-
la lembrança num período definido da história. E o pior
ainda não veio:

“- Você então é parente do Faraó?

- Prima... não muito próxima. A família dele é mui-


to grande. Até mesmo primos distantes são con-
siderados parte da família.

...

- Agora, o meu irmão e eu somos conselheiros...


Trabalhamos ao lado do governador dessa regi-
ão, como assessores... ”

A moça era prima do faraó e trabalhara para o governador


de certa região. Por que o médico não lhe indagou o no-
me desse faraó? E o nome da região onde ela passou a
trabalhar? E o nome do governador? Onde está o espírito
escrutinador do qual Brian Weiss se diz dotado? Ele brin-
daria seus leitores com uma narrativa de qualidade se
apresentasse detalhes consistentes da aventura. Surpreen-
dentemente, as informações que seriam relevantes são
olvidadas pelo psiquiatra.

E quanto à língua? Pediu ele a Elizabeth que discorresse


em egípcio? Esta seria uma prova de que ela estivesse a
recordar uma vida pregressa. Brian Weiss parece se preo-
cupar apenas com o que é corriqueiro: em vez de buscar
informações firmes se satisfaz com revelações superfici-
ais...

136
“- Estou repetindo o que me dizem... Ainda não vi
a regeneração... Meu irmão, sim. Ele tem permis-
são para isso e, quando for mais velho, terá direi-
to ao conhecimento da regeneração. O meu trei-
namento terminará antes de chegar a esse nível.
Não posso atingi-lo por ser mulher... Seja como
for, ele me contará o segredo... prometeu-me... já
me explicou muitas coisas... Disse-me que estão
tentando ressuscitar pessoas que morreram há
pouco tempo!

...

- Como conseguem?

- Não sei... Eles usam vários bastões. E entoam


certos cânticos especiais. O corpo tem de estar
em determinada posição... E há outras coisas que
não sei... O meu irmão vai aprender, e depois me
dirá.

...

- Você faz também outros tipos de cura?

- Vários tipos - respondeu ela - Um deles é com


as mãos. Tocamos a área do corpo a ser curada
e enviamos energia diretamente para lá... através
de nossas mãos... "

Se a moça lembrava da vida no Egito, deveria lembrar-se


da ciência que aprendera. O médico, por mais espantoso
que possa parecer, não quis interrogá-la adequadamente.
Se o fizesse, caso a recordação de Elisabeth fosse real,

137
teria obtido preciosas informações, que ajudariam gran-
demente o desenvolvimento da medicina.

Elizabeth afirma que aprendera o uso de bastões mágicos,


capazes de regenerar tecidos mortos e, ainda, realizava
curas pela energia das mãos. O Dr. Brian poderia e deve-
ria ter sondado a mente da moça até que ela lhe trouxesse
os detalhes desse fenomenal sistema terapêutico. No en-
tanto, ele não quis se dar a esse esforço!

→ A dúvida que não quer calar: é possível que Brian Weiss


prefira deixar as lembranças de seus pacientes na su-
perficialidade, pois se averiguar detalhes, fatalmente
a fantasia seria revelada. Elisabeth não conseguiria
sustentar a história caso lhe fossem exigidos detalhes
concretos de sua vida egípcia e do conhecimento que
dizia ter adquirido. Podemos observar que a proeza de
Elisabeth é narrada sem profundidade, nenhum aspecto
relevante é por ela apresentado. Situação semelhante
acontece nas numerosas regressões que se fazem em
toda a parte.

__________________________________

“Embora eu tenha realizado mais de mil regres-


sões individuais a vidas passadas com os meus
pacientes, além de muitas outras em grupo, pes-
soalmente só tive uma meia dúzia de experiên-
cias desse tipo. Algumas lembranças me vieram
em sonhos vívidos e durante um tratamento de
shiatsu...

Quando terminou o seu curso de hipnoterapia pa-


ra aperfeiçoar-se como assistente social, a minha
esposa Carole realizou algumas sessões de re-

138
gressão a vidas passadas, usando-me como pa-
ciente...

Vi-me como um rapaz de abastada família judia


em Alexandria, por volta do tempo de Cristo. Sa-
bia que a nossa comunidade ajudara a financiar a
construção das enormes portas douradas do
Grande Templo de Jerusalém. Meus estudos in-
cluíam o grego clássico e a filosofia dos gregos
antigos, especialmente dos seguidores de Platão
e Aristóteles.

Lembro-me de um fragmento da vida daquele jo-


vem, quando tentou complementar a sua educa-
ção clássica viajando entre as comunidades clan-
destinas dos desertos e cavernas do sul da Pa-
lestina e do norte do Egito. Cada uma dessas
comunidades era uma espécie de centro de estu-
dos, geralmente de conhecimentos místicos e e-
sotéricos. Algumas delas eram provavelmente al-
deias de essênios...

Durante várias semanas, em minha peregrinação


de uma comunidade para outra, juntou-se a mim
um homem mais ou menos da minha idade. Era
mais alto que eu e tinha intensos olhos casta-
nhos. Ambos usávamos túnicas e cobríamos a
cabeça com turbantes. Ele transmitiu paz e, en-
quanto estudávamos juntos com os sábios das
aldeias, assimilava os ensinamentos bem mais
rapidamente que eu. Depois me ensinava, quan-
do acampávamos juntos, ao pé de uma fogueira;
no deserto.

... Ao cabo de algumas semanas, nos separamos.


Fui estudar em uma pequena sinagoga próxima à
Grande Pirâmide, e ele foi para o ocidente." (Só
o Amor é Real – págs. 171-172).

139
Quem será esse “misterioso” personagem com o qual o
vaidoso Brian Weiss insinua ter convivido? Parece-nos
que ele quer referir-se veladamente a Jesus Cristo...

O Dr. Weiss afirma que estudara grego e filosofia. Cer-


tamente que sob hipnose regressionista poderá proferir
discursos filosóficos em grego clássico. Seria importante
que ele revelasse esse domínio do grego antigo, pois terí-
amos uma prova decisiva da vida helênica do médico.
Porém, como de praxe, isso é coisa da qual ele não cogi-
ta...

O terapeuta informa que peregrinara entre comunidades


místicas e que “algumas delas eram provavelmente aldei-
as de essênios". Os essênios há muito que sensibilizam a
imaginação dos ocultistas. A comunidade essênia era fe-
chada e sobre ela se dizem muitas coisas que não corres-
pondem ao que a Arqueologia apurou. Brian Weiss não
quer se comprometer, mas também não quer deixar de
pegar uma caroninha no assunto. Só que ele se complica:
diz ter peregrinado por várias comunidades, mas não i-
dentifica nenhuma e faz uma referência não conclusiva
aos essênios (“provavelmente eram essênios”). Ora, se
ele esteve entre os essênios deveria lembrar de forma
categórica e não como probabilidade...

Brian Weiss sutilmente afirma que teria contemplado a


face de Cristo. A curiosidade sobre como seria a figura de
Jesus está presente em milhões de pessoas. Por que o mé-
dico não descreveu a imagem de Jesus a um desenhista
para que o mundo pudesse finalmente conhecer o segre-
do?

140
Brian Weiss abraça uma idéia bastante divulgada sobre a
formação de Jesus que, porém, não é aceita pelos estudos
mais sérios. Segundo alguns esotéricos, Cristo teria pere-
grinado por várias partes do mundo (alguns até o vêem
entre os lamas do Tibet) aprendendo a ciência de diversas
civilizações. Não há qualquer fundamento que ampare
essa tese.

Como de praxe nas regressões, nem mesmo Brian Weiss


consegue recordar fatos objetivos. Sua lembrança de uma
vivência no Egito e na Palestina coisa alguma traz que
tenha conteúdo. Ao contrário, Brian Weiss “recorda”, e
superficialmente, o que a Arqueologia e a História sabem,
com os acréscimos fantasiosos que sua mente elabora.

__________________________________

A idéia de almas gêmeas alimenta o sonho de muita gen-


te, homens e mulheres sonham deparar com sua “outra
face”, a fim de viverem em plenitude. Muitos buscam
ansiosamente indícios dessa perfeita interação: consultam
mapas astrológicos, tarô, búzios, etc.

Brian Weiss, talvez sabedor dessa generalizada curiosi-


dade, tenta explicar como funciona os mecanismos que
regem o encontro das almas gêmeas. Após a leitura des-
ses “esclarecimentos”, somos levados a concluir que o
processo é uma confusão fenomenal:

“Nem sempre as pessoas se casam com a alma


gêmea à qual estão mais fortemente ligadas. Po-
de haver mais de uma à nossa espera, pois as
famílias de almas viajam juntas. Podemos decidir
casar com uma alma gêmea menos ligada a nós,

141
alguém que tenha uma coisa específica a nos en-
sinar ou a aprender conosco. O reconhecimento
da alma gêmea pode ocorrer mais tarde, quando
já estamos comprometidos com nossas famílias.
Ou a conexão mais forte com uma alma gêmea
pode ser com um pai, um filho, um irmão ou irmã.
Ou esta conexão pode ser com uma alma gêmea
que ainda não encarnou nesta vida e que nos
protege do outro lado, como um anjo da guarda.

Às vezes a alma gêmea está desejosa e disponí-


vel para unir-se a nós. Ele ou ela talvez reconhe-
ça a paixão e a química que existem, os laços ín-
timos e sutis que envolvem conexões ao longo de
muitas vidas. No entanto, ela nos pode ser preju-
dicial. É uma questão de desenvolvimento espiri-
tual.

Se um dos espíritos é menos desenvolvido e


mais ignorante que o outro, traços de violência,
cobiça, ciúme, ódio e medo podem interferir no
relacionamento. Essas tendências são nocivas
para a alma mais desenvolvida, ainda que ve-
nham de uma alma gêmea. Não raro, surgem fan-
tasias do tipo “eu posso mudá-lo, posso ajudá-lo
a crescer”. Mas, se ele não permite que você o
ajude, se em seu livre arbítrio ela prefere não a-
prender e se recusa a crescer, o relacionamento
está condenado. Talvez haja outra oportunidade
em outra vida, a não ser que ele desperte depois,
nesta mesma vida. Há almas que despertam tar-
diamente.

Às vezes, almas gêmeas decidem não se casar


enquanto estão encarnadas. Conseguem encon-
trar-se e permanecer juntas até que a tarefa ajus-
tada esteja completa, e depois seguem adiante.
Os programas de vida de cada uma são diferen-
tes e elas não desejam ou não precisam passar
por toda desta existência juntas. O que não é

142
uma tragédia, apenas uma questão de aprendi-
zagem. As duas têm uma vida eterna em compa-
nhia uma da outra, mas às vezes precisam fre-
qüentar aulas separadas...

Não se preocupe em encontrar almas gêmeas. O


destino se encarrega desses encontros. Certa-
mente acontecerão. Após o encontro, o livre arbí-
trio das duas prevalece. As decisões que são ou
não tomadas dependem do livre arbítrio, da op-
ção... ” (Só o Amor é Real – Págs. 187-188)

Brian Weiss parece dizer que: o encontro entre almas


gêmeas tem resultados incertos. Às vezes o processo fun-
ciona, às vezes não. Pode acontecer de tudo, ou pode não
acontecer nada. Coisa alguma se pode afirmar com certe-
za. É um verdadeiro “vale-tudo” essa hipotética busca por
nossa alma gêmea...

A idéia das almas gêmeas é muito bonita literariamente:


romancistas e poetas produzem obras de fino trato tendo a
idéia como tema. Entretanto, ao se encarar o assunto co-
mo um fenômeno espiritual, a concepção se torna desas-
trosa!

143
A TVP e BRIAN WEISS, uma defesa...

Vejamos um panegírico do escritor José Reis Chaves,


sobre a TVP e sobre Brian Weiss, juntamente com os
comentários que julgamos necessários (os destaques são
nossos):

“No século passado e princípios do século XX, os


maiores adversários do espiritismo foram os mé-
dicos e a Igreja.

Hoje, por ironia, são os médicos, principalmente


os psiquiatras e os psicólogos, e os católicos, que
mais vêm abraçando a Teoria da Reencarnação.

Os psiquiatras e os psicólogos, influenciados por


um número cada vez maior de seus colegas, al-
guns dos quais de renome internacional, vêm tor-
nando-se terapeutas da TVP.”

→ Reis Chaves extrapola: existem, sim, psiquia-


tras e psicólogos reencarnacionistas, entre-
tanto estes são minoria, a Terapia de Vidas
Passadas não é tida como método terapêutico
pelas escolas de psicologia. A escolas oficiais
encaram a TVP como crendice. Os terapeutas
que a utilizam atuam como curandeiros, não
como médicos. Semelhantemente, a declara-

144
ção de que cada vez mais católicos abraçam a
reencarnação é exagerada. Entre o cristia-
nismo e o espiritismo existem diferenças in-
conciliáveis. O cristianismo defende que a
salvação da humanidade depende da miseri-
córdia divina; o espiritismo acredita que a re-
encarnação permite que o homem atinja a
perfeição com esforço próprio.

“Muitas doenças mentais como traumas, certas


fobias, insegurança, entre outras, têm muitas ve-
zes suas causas em vidas passadas. E somente
com a regressão aos instantes em que ocorreram
tais causas, consegue-se de fato a cura. Muitos
terapeutas de regressão até a vida fetal que não
acreditavam sequer em Deus, em nada de espíri-
tos e de vidas passadas, acabaram sendo sur-
preendidos pelos seus pacientes, que, inespera-
damente, acabaram regredindo a vidas passadas.

Isso, hoje, se tornou assunto de rotina entre todos


os níveis de pessoas que vêm resolvendo seus
problemas mentais com raízes em vidas passa-
das, recorrendo à TVP... ”

→ A tese de que traumas sejam originados em


vidas passadas é especulativa, nada tem de
científica. A afirmação de que “somente com
a regressão” os traumas são curados é errô-
nea: a regressão possibilita ao traumatizado
uma muleta fantasiosa, que pode lhe dar uma
falsa sensação de melhora.

“No Brasil, atualmente, estão sendo criados cur-


sos para que psiquiatras e psicólogos passem a
exercer a profissão de terapeutas de regressão a
vidas passadas... "

145
→ Os “cursos” para terapeutas regressionistas
não têm respaldo científico e não são reco-
nhecidos pelos órgãos fiscalizadores.

“Mas é no Primeiro Mundo que a TVP está me-


xendo mais com o público. É grande no número
de terapeutas de vidas passadas...

Brian Weiss, autor de Muitas Vidas – Muitos Mes-


tres; e de Só o Amor é Real... Famoso psiquiatra,
é pesquisador em laboratório da massa encefáli-
ca, comandando uma grande equipe de especia-
listas da mente... Era praticamente um materialis-
ta, quando foi surpreendido por um paciente seu,
a quem fazia regredir à vida uterina, o qual, de
repente, se viu numa vida passada. A partir daí,
Brian Weiss, já famoso como cientista, começou
a estudar profundamente o assunto. E, como já
aconteceu com vários outros psiquiatras e psicó-
logos, aderiu à TVP, tornando-se, pois, mais um
adepto da Teoria da Reencarnação." (José Reis
Chaves – A Reencarnação Segundo a Bíblia e
a Ciência – 1998)

→ Parece-nos que Reis Chaves leu o livro de


Brian Weiss sem muita atenção: a experiência
não aconteceu com um paciente, sim com uma
paciente que, conforme vimos, chamava-se
Catherine. O terapeuta não a "fazia regredir
até a vida uterina", sim até a idade de dois
anos. Além disso, ficou claro que a conversão
de Brian Weiss ao reencarnacionismo foi por
conveniência aos seus interesses, não por
avaliação científica. José Reis Chaves também
faz referência a um "laboratório da massa
encefálica", do qual o Dr. Brian seria pesqui-
sador. Talvez estejamos desinformados, mas
não encontramos nos escritos de Brian Weiss

146
ou em comentários sobre seu trabalho, ne-
nhum registro sobre esse tal laboratório da
massa encefálica...

147
CONCLUSÃO SOBRE O TRABALHO DE BRIAN
WEISS

O Dr. Brian escuda-se na sua refinada formação psiquiá-


trica e em suas atuações em instituições de renome como
forma de dar autenticidade ao que prega sobre a regressão
a vidas passadas. Talvez para seus admiradores pareça
que a apologia que o terapeuta faz da terapia de vidas
passadas seja aceitável. Afinal, não seria “qualquer um”
a defender o tema, trata-se de alguém que muito estudou
e deve saber o que diz.

No entanto, essa forma de raciocínio não se sustenta: uma


autoridade em determinado assunto, não o será necessari-
amente em outro. Respeita-se a formação ortodoxa do Dr.
Brian, pois é de indiscutível qualidade; no que tange a
vidas passadas, no entanto, suas ponderações são sofrí-
veis.

A apologia da terapia de regressão de vidas feita por Bri-


an Weiss pode, para muitos, soar como a demonstração
de que o médico evoluiu no conhecimento e na técnica.
De início seria apenas um bom profissional que utilizava
a psiquiatria tradicional; depois teria dado um passo adi-
ante e adotado um sistema mais avançado: ele mesmo
declarou que o regressionismo é um método curativo
superior à medicina moderna.

148
Há um engano nesse juízo: se não for possível traçar uma
linha evolutiva incontestável entre a psiquiatria ortodoxa
e a terapia de vida passadas, estaremos diante de um ra-
ciocínio inadequado, uma falácia.

Uma falácia é um falso argumento com aparência de ver-


dadeiro; um sofisma.

Para que as idéias de Brian Weiss sobre as vidas passadas


tivessem profundidade seria preciso uma bem elaborada
teoria, ou mesmo demonstrações incontestáveis, que cor-
roborassem o que ele propõe. O que se viu na argumenta-
ção do médico foram discursos entusiasmados e pouco
conteúdo.

Quem ninguém veja em nossas palavras a intenção de


desmerecer gratuitamente a figura de Brian Weiss. Qual-
quer pessoa que analise com um pouco de atenção a dis-
sertação que o médico faz sobre a terapia de vidas, verá
que se trata de uma apreciação frágil. Facilmente se per-
cebem muitos elementos fantasiosos em seu discurso.

Podemos admitir que Brian Weiss efetivamente seja um


psiquiatra qualificado. No entanto, como defensor da Te-
rapia de Vidas Passadas deixa a desejar.

149
CAPÍTULO 10

Radiografando a TVP

Este seria o hipotético discurso de um terapeuta regres-


sionista:

“Meu método terapêutico é abrangente: utilizo


todas as vertentes da psicologia, inclusive
sua maior força, a psicologia transpessoal;
conjugo psicanálise com regressão a vidas
passadas, o que dá amplitude ao tratamento.
Acrescento ao processo a astrologia. Parale-
lamente, desobstruo os chakras para uma me-
lhor circulação energética. Sou assessorado
por médicos desencarnados, e por entidades
de luz. Recebo mensagens psicomagnéticas
de efeito medicinal, oriunda de sobreviventes
atlantes, que vivem numa inacessível região
dos Andes. E, ainda, periodicamente sou al-
cançado por ondas psicocosmológicas ema-
nadas de seres ultradesenvolvidas que vivem
em Antares... ”
Numa primeira leitura pode parecer exagerada essa apre-
ciação, porém o que se vê com freqüência na prática da
TVP é a associação de métodos terapêuticos válidos com
muitos outros sem base confiável. Adiante, apresentare-
mos relatos de eventos regressionistas e deles faremos
análises. Apreciaremos, então, variados exemplos dos
incomuns métodos da terapia de regressão de vidas.

Os textos que apresentaremos, quando não indicarem


outra fonte, foram extraídos do livro de Célia Resende,
intitulado “Terapia de Vidas Passadas, Uma viagem no
tempo para desatar os nós do inconsciente”. Conheça-
mos um pouco sobre a autora:

“Célia Resende realiza workshops e cursos de


formação profissional para terapeutas em TVP.
O processo terapêutico trabalha com a psicologia
nos níveis biográficos, perinatal e transpessoal,
percorrendo diversos caminhos de estudo, acu-
mulando vasta experiência no campo da comuni-
cação, dos fenômenos paranormais e do com-
portamento humano. Participou desde muito jo-
vem de trabalhos de pesquisa e cura através dos
fenômenos de materialização de espíritos. Estu-
dou bioenergética, parapsicologia, projeciologia,
psicologia oriental e transpessoal, kardecismo e
umbanda, em busca de um elo comum entre es-
sas várias correntes do Conhecimento. Comple-
tou seus estudos com regressão de memória,
assiste energético e florais de Bach." (Divulga-
ção do trabalho de Célia Resende feita pela
Editora Record-Nova Era)

→ Célia Resende possui uma formação esotérica


bastante eclética; suas idéias são ilustrativas
dos métodos empregados na terapia regres-
sionista. Célia aplica em sua clínica um misto

152
de tudo o que estudou, ou seja, bioenergéti-
ca, parapsicologia, projeciologia, psicologia o-
riental, psicologia transpessoal, etc.

Célia Resende demonstra simpatia por expressões hermé-


ticas, ao que parece, no intuito de embasar suas idéias.
Entretanto, quando observadas mais atentamente, essas
expressões revelam-se pouco objetivas. Do livro em refe-
rência extraímos algumas:

• luz astral;
• força eletromagnética;
• rede magnética;
• desmagnetização de condensadores de energias;
• resíduos kármicos;
• capacete de luz;
• implantes magnéticos;
• blocos de energia concentrada;
• sistema eletromagnético, etc.

O magnetismo exerce sobre Célia Resende singular atra-


ção. A terapeuta vê em quase todos os supostos fenôme-
nos que atribui ao sobrenatural algum efeito do magne-
tismo.

Célia Resende também simpatiza com a Física Quântica.


Muitos esotéricos fazem referências à Mecânica Quântica
como se esta fosse a explicação para tudo o que não se
consegue explicar. A Física Quântica é um mergulho num

153
mundo que só recentemente começou a ser descortinado.
Existem mais perguntas que respostas. Não é fácil, mes-
mo para mentes geniais, teorizar na profundidade que o
assunto exige. Muitos esotéricos aproveitam os vazios
que a pesquisa não preencheu e alardeiam idéias insólitas,
alegando tratarem-se de formulações quânticas. Lembra-
mos as palavras de Niels Bohr, um dos grandes físicos do
século XX: “qualquer um que declare que a teoria quân-
tica é clara, na realidade não a compreende”.

Veremos exemplos do programa terapêutico de Célia


Resende, seguidos de nossos comentários (lembramos
que os destaques nos textos são feitos por nós):

"A locomoção nas dimensões extrafísicas é feita


de diversas maneiras. Algumas regressões falam
de microônibus iluminados e de estrutura estra-
nha, trens, veículos arredondados e voadores.
Mas dependendo das regiões e do desenvolvi-
mento mental da pessoa, ela poderá deslocar-se
por ato volitivo, apenas pela força do pensamen-
to." (Célia Resende)

→ a terapeuta apresenta considerações sobre as


movimentações no além, tal qual fez Chico Xavi-
er no livro “Nosso Lar”; só que Célia Resende
vai mais longe: Chico concebeu um sistema de
transporte por meio de um ônibus voador; Célia
amplia o sonho: informa que na esfera celestial
variados meios de transporte são utilizados, in-
clusive a autopropulsão mental. Que tráfego in-
tenso não existirá nas lides celestes! Essas te-
orias sobre o além possuem grande similaridade
com as histórias de ficção do cinema e dos qua-
drinhos. A diferença é que a ficção é apresen-
tada meramente como distração, enquanto que

154
os esotéricos asseveram que suas suposições
constituem a mais concreta realidade...

“Os cientistas do espaço trabalham com equipa-


mentos inimagináveis controlados pela força do
pensamento, realizando o processamento do ec-
toplasma doado conscientemente para diversas
utilizações no tratamento espiritual. Utilizando
técnicas ainda desconhecidas por nós, materiali-
zam a luz astral em diferentes cores e matizes,
que pela força do amor têm como objeto sanar a
desarmonia, que é a grande fonte das doenças.
Muitas vezes, essas energias são por eles con-
centradas e direcionadas para a criação de novas
células." (Célia Resende)

→ “Equipamentos inimagináveis... para processar


o ectoplasma doado conscientemente”; “cien-
tistas do espaço”;... ficamos em dificuldade
para formar um entendimento sobre tal dis-
curso... na literatura de ficção esses temas
podem ser interessantes, no entanto, quando
se pretende que seja uma explanação real é
difícil sustentar a argumentação.

“Os médicos do espaço não são fantasmas, e sim


seres em constante evolução. São médicos, físi-
cos, químicos que se materializam para melhor
atuar na dimensão material, trabalhando com so-
fisticada tecnologia científica, sem cortes, e influ-
indo em cada célula doente. Operam diretamente
com a luz astral, matéria etérica e as vibrações
cromáticas, que constituem o corpo humano e os
reinos animal, mineral e vegetal." (Célia Resen-
de)

155
→ Eis uma tentativa de autenticar um assunto
nebuloso: “luz astral”, “matéria etérica”, “vi-
brações cromáticas”, “médicos do espaço que
se materializam”... os termos são lançados no
ar, como se assim pudessem conquistar soli-
dez. Célia Resende diz que o corpo humano,
e tudo o mais, é formado por três componen-
tes: luz astral, matéria etérica e vibrações
cromáticas. Acontece que a ciência jamais
detectou esses componentes no ser humano,
nem na natureza. Levando em conta trata-
rem-se de elementos materiais, visto que,
conforme afirma Célia, seriam partes consti-
tutivas dos corpos, teriam de ser percebidos
pela investigação científica.

→ Se os médicos do espaço fossem reais, a me-


dicina e toda a ciência da Terra estariam
muito mais avançadas que atualmente. Ainda
que a ciência oficial desprezasse a “ajuda”
dos do espaço, os médiuns e os esotéricos a
utilizariam proficuamente. E onde estão as
curas miraculosas que a “avançada tecnologia
espacial” realiza? O que se vê, ante o propa-
lado conhecimento dos cientistas do espaço,
são pífios resultados. A TVP, mesmo assisti-
da pelas ditas “entidades espaciais” não con-
segue melhores resoluções que os tratamentos
com as terapias terrenas. A própria Célia Re-
sende nos dá um bom exemplo com a história
de Alba, que veremos a seguir.

→ Gostaríamos de contemplar um “médico do es-


paço materializado”. Célia Resende deveria
filmar as materializações que testemunha, as-
sim exibiria uma prova firme da atuação dos

156
médicos espaciais na terapia esotérica... Pena
que a doutora não tenha pensado nisso...

“Alba sofria de artrite reumática... Realizamos um


trabalho intensivo de regressão a várias existên-
cias e uma dieta isenta de carne, com bastante
líquido e frutas... Ela sofreu duas cirurgias espiri-
tuais que a ajudaram muito a eliminar os resíduos
kármicos. Ela percebeu uma equipe de médicos
do astral agindo em seus vários corpos energéti-
cos e, no plano extrafísico, sentiu sua cabeça gi-
rar, enquanto um ser etéreo colocou sobre ela um
capacete de luz. Tubos e fios luminosos ligavam
seus corpos físico e etérico a equipamentos es-
tranhos... Uma grande melhora surgiu após esse
tratamento paralelo à terapia... Numa sessão se-
guinte, a equipe médica trabalhou com uma pasta
dourada, que foi espalhada nas articulações e por
todo o seu corpo. Um dos médicos parecia costu-
rar, com fios de luz, uma parte de seu corpo e-
nergético que estava rompida e com manchas
escuras... É importante esclarecer que Alba che-
gou ao consultório quase imobilizada, com as ar-
ticulações inchadas. A terapia associada ao
trabalho realizado pela equipe de medicina
espiritual provocaram uma melhora de 80% em
seu estado." (Célia Resende)

→ Alba foi assistida pela avançada tecnologia


dos médicos astrais e obteve apenas 80% de
recuperação!... ou seja: os médicos espaciais,
mesmo com a avançada tecnologia que domi-
nam, não conseguiram curar a doente. Sendo
ajudada por tão “desenvolvida” ciência, seria
de esperar que Alba ficasse 100% curada e
nunca mais passasse por uma recaída. A mo-

157
ça conseguiu o mesmo que obteria com uma
adequada assistência médica terrena... Pro-
vavelmente a própria Dra. Célia tenha reali-
zado mais que os “cientistas espaciais”, pois
ao receitar uma “dieta isenta de carne com
bastante líquido e frutas", desintoxicou o or-
ganismo da paciente, o que lhe permitiu recu-
perar parte de sua capacidade... Podemos,
então, afirmar: retire os médicos espaciais
dessa história e o resultado continuará sendo
o mesmo... Talvez melhor...

→ Há um aspecto importante na “terapia” apli-


cada: Alba sofria de artrite reumatóide, uma
moléstia dolorosa, que ataca as articulações.
Diagnosticado o mal, a terapeuta lançou-se
com sua paciente num “trabalho intensivo de
regressão a várias vidas”. A médica ao seu
capricho decidiu que a doença de Alba provi-
nha de situações vividas em outras existên-
cias. Com base em quê Célia Resende chegou
a tal conclusão? A medicina postula que a ar-
trite reumatóide tenha origem genética, so-
mada a peculiaridades ambientais. Entretanto,
Célia refuta o postulado da medicina e asse-
vera que a causa da artrite está localizada
em vidas passadas... é mole?

“Pude perceber isso em minha prática clínica,


quando me deparei com vítimas de obsessores,
como ocorreu durante uma sessão de terapia
com uma paciente chamada Regina... Nestes ca-
sos, primeiro entro em contato com as equipes
espirituais, para, em harmonia, cada qual cumprir
suas tarefas. Depois, conversando com o ser de-

158
sencarnado, procuro ajudá-lo com informações
esclarecedoras, emitindo impulsos mentais de
força eletromagnética capazes de criar um campo
de força protetora. A equipe espiritual, atuando na
dimensão astral, utiliza esse campo para comple-
tar o trabalho, muitas vezes de imobilização do
obsessor, numa forte rede magnética." (Célia
Resende)

→ Conforme a suposição da terapeuta, há casos


em que os problemas psíquicos são causados
por entidades obsedantes, que seriam espíri-
tos do mal, capazes de perturbar o sossego
dos que caem sob seu domínio:

→ Desse modo, Célia Resende, para resolver o


problema, reúne-se com uma equipe médico-
espacial destacada para assessorá-la durante
o tratamento. Ela não esclarece que tecnolo-
gia utiliza para fazer contato com tais seres.
Talvez use algo como um “intercomunicador
dimensional”. Cá pra nós: seria tremendamen-
te profícuo para a medicina tradicional dispor
de um “assessoramento astral”. No mínimo,
findariam as cirurgias fracassadas e não e-
xistiriam seqüelas pós-operatórias... Entre-
tanto, o segredo de como fazer contato com
essas entidades está reservado a uns poucos
“iluminados”...

→ O segundo procedimento de Célia Resende é


distribuir adequadamente o trabalho de cada
parte, para não haver confusão e ninguém se
meter na seara alheia.

E começa o espetáculo: Célia Resende do la-


do de cá aplicando seus conhecimentos mís-

159
ticos e “eles” do lado de lá complementando
o processo... porém, a faina não terminou:
a médica também é capaz de dialogar com a
entidade obsessora, aconselha a que prati-
que boas ações em vez de infernizar a vida
de quem está quieto... Pelo visto, a estra-
tégia de conversar com o espírito obsessor
tem dupla finalidade: ao mesmo tempo em
que o supre com orientações construtivas,
distrai sua atenção; o que possibilita à equi-
pe espiritual capturá-lo com uma “rede
magnética”. Em resumo: a fantasia levada
às últimas conseqüências...

Realmente, o que a doutora diz realizar não


é coisa para qualquer um:

a) planejar o trabalho junta-


mente com seres de outras di-
mensões;

b) conversar com entidades ob-


sessoras e dar-lhes conselhos;

c) trabalhar em equipe com as


entidades espirituais...

→ O problema é comprovar que realmente as


coisas acontecem conforme a doutora Cé-
lia nos informa. Ao assegurar que conver-
sa com médicos de outras dimensões e que
realiza o aconselhamento de espíritos ob-
sessores, ela deve saber o que diz. De
outro modo teríamos de inferir que esta-
ríamos diante de uma mente alucinada e
tal conclusão não ousamos. A questão é

160
que não são apresentados dados objetivos
e suficientes para que se analise a legiti-
midade dos contatos com os entes do es-
paço e com os espíritos obsessores, e tu-
do o mais. Uma atividade de tamanha re-
levância deveria ser adequadamente es-
clarecida, acompanhada de demonstra-
ções inequívocas. Desse modo, as muitas
dúvidas que surgem quando ouvimos essas
narrativas seriam sanadas. Do jeito su-
perficial com que o assunto é apresentado
somos obrigados a concluir que tudo não
passa de pesada fantasia. O que fica pa-
tente nesse quadro é a inserção na tera-
pia de procedimentos nebulosos e pouco
confiáveis.

“O pesquisador espírita Luiz da Rocha Lima... de-


senvolveu uma séria pesquisa sobre os trabalhos
de ‘antigoécia’ – processo utilizado por encarna-
dos e desencarnados que trabalham na desmag-
netização de objetos utilizados como condensa-
dores de energias direcionadas a alguma vítima.
Geralmente, os obsessores usam magnetismos
humano e animal para criar campos de força
negativos que são dirigidos a distância para influ-
enciar a mente do obsedado. A antigoécia consis-
te em desativar esses campos de força, embora
estes possam ser reativados se houver o restabe-
lecimento da comunicação entre o obsessor e a
vítima... " (Célia Resende)

→ Sem intento desrespeitoso, o trabalho de Luiz


da Rocha soa burlesco. Leiamos a parte final
do texto: “a antigoécia consiste em desativar
esses campos, embora possam ser reativados

161
se houver restabelecimento da comunica-
ção”... Então, a antigoécia serve para quê?
Para desativar o que em seguida pode ser re-
ativado?

→ A idéia de um “magnetismo” humano ou ani-


mal, com fantásticas aplicabilidades terapêu-
ticas, é herança do espetaculoso Mesmer. Na
época em que fazia suas apresentações de
cura magnética, Mesmer já não era levado a
sério pela ciência. Hoje em dia apenas o eso-
terismo deslumbrado dá respaldo ao mesme-
rismo. Existem alguns estudos em andamento
sobre a viabilidade de aplicações do magne-
tismo em várias situações, inclusive na área
de saúde, porém nada têm a ver com Mesmer
ou com as idéias fantásticas sobre o poder do
magnetismo. Não se deve confundir pesquisa
com especulação irresponsável.

→ Mesmer encantou-se pelo trabalho de um je-


suíta que dizia curar por meio de imãs. E, a
partir daí, desenvolveu sua teoria dos fluidos
magnéticos. Acreditava que os seres eram
dotados de uma forma de circulação especial,
até então desconhecida pela ciência. Deduziu
que quando houvesse desequilíbrio na circula-
ção magnética surgiriam as doenças. Seria
necessário restabelecer o fluxo para que os
problemas fossem eliminados. O físico vienen-
se não percebeu que seus espetáculos de
magnetização levavam os pacientes a um esta-
do hipnótico e os deixava altamente sensíveis
a estímulos curativos. Quando os doentes a-
firmavam ter melhorado, Mesmer atribuía o
resultado ao magnetismo, quando, em verda-
de, a melhora devia-se ao efeito da suges-

162
tão. Já na época de Mesmer, diversos pes-
quisadores testaram a teoria dos fluidos mag-
néticos que revelou-se infundada. Mesmo as-
sim, ainda hoje, há quem acredite numa “cir-
culação magnética”, como parece ser o caso
da doutora Célia Resende.

“Um outro tipo de obsessão, a kármica, ocorreu


com Lúcia... ao escrever sua tese sobre uma tribo
africana, reativou um processo de magia... O tra-
balho despertara a reestimulação das emoções
vividas numa outra existência, restabelecendo
canais de comunicação com os obsessores do
passado... Após tentar diversos tratamentos mé-
dicos, ela procurou-me desesperada, atormenta-
da por pesadelos e visões... No início do trata-
mento, fomos surpreendidas pela interferência
positiva de uma freira desencarnada, que se re-
velou uma forte protetora com o apoio de um gru-
po de espíritos africanos que eram profundos co-
nhecedores da magia local... Enquanto isso, o
trabalho da equipe espiritual corria paralelamente,
desfazendo os vínculos da paciente com os laços
de magia que se estendiam ao presente... O tra-
tamento demorou mais de um ano... ao fortalecer
sua vontade... começou a proteger o pensamen-
to... libertando-se do processo obsessivo." (Célia
Resende)

→ Percebemos que as obsessões são mais com-


plexas que pensávamos: além da obsessão, di-
gamos, comum, existe outra chamada “obses-
são kármica”. Enquanto tentávamos compreen-
der o “processo obsessivo” e as “comunicações
interdimensionais” eis que recebemos nova
carga de dúvidas. Ficamos a nos perguntar:

163
como será que a impressionável Lúcia teria si-
do contagiada pela obsessão kármica?

→ Há um conceito universalmente admitido em


ciência e na filosofia, diz o seguinte: diante
de duas ou mais possibilidades plausíveis para
explicar algum fenômeno, deve-se escolher a
mais econômica. Em outras palavras, será
viável a explicação que acrescente menos difi-
culdades ao assunto. Quando apela-se para o
sobrenatural como forma de esclarecer alguma
dúvida, e deixa-se de lado outras hipóteses
mais coerentes, ramifica-se o tema em ques-
tões enigmáticas, num vale-tudo onde só o li-
mite da imaginação pode frear o processo.
Lúcia certamente é uma pessoa sensível a su-
perstições e, ao mexer com um assunto que a
abalou, imaginou-se sob o domínio da feitiça-
ria de uma antiga tribo africana. Magia e
feitiçaria são concepções primitivas e vazias,
originadas numa época em que se julgava pos-
sível domar a natureza com sortilégios. A ma-
gia sobrevive na atualidade porque mentes su-
gestionáveis a alimentam ― (imaginem o po-
der que teríamos se as forças do universo pu-
dessem ser controladas por fórmulas mágicas?
Deixaríamos de estudar as matérias tradicio-
nais e todos nos aplicaríamos ao aprendizado
da magia. Pronto, a natureza estaria inteira-
mente sob nosso domínio!).

→ A Dra. Célia, em lugar de esclarecer à sua


paciente que feitiçaria só subjuga quem nela
acredita, surpreendentemente ampliou o deva-
neio de Lúcia. Ela talvez tenha livrado a moça
daquela “obsessão kármica”, porém a jovem
seguiu seu caminho propensa a formular outros

164
sonhos da espécie, visto que a origem de seus
temores não foi devidamente tratada.

“O sensitivo e profundo pesquisador da realidade


espiritual Edgard Cayce... trabalhava em transe
para diagnosticar e realizar curas, utilizando po-
deres de clarividência comprovados por respeitá-
veis investigações de cientistas de sua época.
Edgard dizia que o karma funciona de diversas
maneiras, provocando efeitos físicos ou psicoló-
gicos, de acordo com os abusos que foram come-
tidos aos outros ou a si próprio." (Célia Resen-
de)

→ Muito apreciado no meio esotérico, o aqui


chamado “profundo pesquisador da realidade
espiritual” é tido por analistas mais rigorosos
como um grande embusteiro. Cayce elaborou
numerosas “revelações mediúnicas”, a maioria
sem condição de ser comprovada. Sobre a A-
tlântida inventou algumas histórias capazes de
divertir até o mais ingênuo dos homens. Vá-
rias de suas previsões são habilmente encai-
xadas nos acontecimentos por seus seguidores
e ganham a aparência de corretas. Na área
médica Cayce prescreveu medicamentos para o
tratamento do câncer e outras doenças, que
não tinham nenhuma capacidade para debelar
essas moléstias. É difícil identificar quais se-
riam as ditas “respeitáveis investigações de
cientistas” sobre Cayce. Edgard Cayce tem,
sim, um grupo de admiradores nos Estados
Unidos que procura manter vivas suas profeci-
as. No entanto, muito pouco de positivo se

165
pode falar a seu respeito. Examinemos um
exemplo das suas leituras mediúnicas:

“A leitura 1208 foi feita para o sobrinho da secre-


tária de Edgar Cayce, Gladis Davis. Em suas en-
carnações anteriores mais famosas, tinha sido
Thomas Jefferson... Cayce disse que o garoto
deveria se tornar mais importante para a história
mundial do que o fez como Jefferson. Isto não
ocorreu porque seus pais não seguiram os conse-
lhos de Cayce com relação à sua educação (isso
confirma que o fator astrológico, embora impor-
tante, não é o único que compõe os quadros dos
eventos.)
Em uma encarnação remota, Jefferson fora um
atlante que liderou os filhos de Belial contra os fi-
lhos da Lei do Um. Casou-se com uma moça es-
piritualizada e se corrigiu, fundando colônias a-
tlantes na América. Depois de ter sido Alexandre,
foi um dos soldados que libertou a França do do-
mínio romano...
Segundo Cayce, numa vida anterior Thomas Jef-
ferson teria sido Alexandre, o Grande, da Mace-
dônia. (Leituras de Cayce – Marcelo Bor-
ges)

→ Marcelo Borges, ativo astrólogo e admirador


de Edgard Cayce, apresenta um pequeno e-
xemplo da grande imaginação do vidente. O
profeta previu que o desconhecido Gladis Da-
vis seria mais engrandecido que Thomaz Jef-
ferson, do qual fora encarnação. A profecia
não deu certo. Porém, conforme entende
Marcelo Borges, não foi Cayce quem errou. O
problema foi que os pais do garoto não soube-

166
ram educá-lo corretamente... (é a velha his-
tória de se remendar os fatos para adequá-
los às previsões).

→ Avaliando a “leitura” feita para Gladis perce-


bemos que o rapaz tivera uma caminhada in-
certa: fora Thomaz Jefferson; anteriormen-
te encarnara em Alexandre da Macedônia,
mas também viera na roupagem de um simples
soldado e finalmente despontou como o medío-
cre Gladys. O que Cayce não explica é por-
que o menino regredira em brilhantismo e va-
lor (Allan Kardec não iria gostar desse caso,
pois contraria a teoria espírita da reencarna-
ção evolutiva): inicialmente fora um general
atlante, depois encarnou como Alexandre, o
Grande. Em seguida, sofreu uma queda enor-
me: veio como um soldado francês. Mais adi-
ante, se recuperou e assumiu a identidade de
Thomaz Jefferson e, por fim, retornou como
um jovem incapaz de alçar vôo porque os pais
não lhe deram o treinamento adequado. A a-
ventura reencarnatória de Gladis Davis seria
uma grande contradição à teoria das múltiplas
vidas.

→ Cabe destaque à atuação de Gladys durante


sua vida como atlante: “liderou os filhos de
Belial contra os filhos da Lei do Um”. O in-
teressante é que outros divulgadores dos “se-
gredos” de Atlântida desprezam as idéias de
Cayce sobre os grupos políticos que lutavam
pelo poder em Atlântida. Edgar Cayce não
conseguiu convencer a maioria dos esotéricos,
pois cada qual apresenta uma versão particu-
lar do assunto.

167
Examinemos uma avaliação menos fantasiosa sobre Ed-
gard Cayce:

“Edgar Cayce (1877-1945)


Edgar Cayce foi um alegado médico com diag-
nósticos psíquicos, e leitor psíquico de vidas pas-
sadas. Chamavam-lhe "o profeta adormecido"
porque fechava os olhos e parecia entrar em
transe quando fazia as leituras... deixou milhares
de relatos de vidas passadas e leituras médicas...
Mesmo não tendo uma educação formal, Cayce
era um leitor voraz, especialmente de literatura do
oculto e da osteopatia (que, nesses dias, era pri-
mitiva e próxima da quiroprática, naturopatia e
medicinas populares). Estava em contacto com
pessoas de formações diversas que lhe serviam
de fontes... Martin Gardner cita a leitura por Cay-
ce da sua própria mulher como exemplo. A mu-
lher sofria de tuberculose:
... .da cabeça, dores ao longo do corpo na se-
gunda, quinta e sexta dorsal, e da primeira e se-
gunda lombar... nós aqui, lesões flutuantes, ou
lesões laterais, nas fibras nervosas e musculares
que fornecem a parte inferior do pulmão e dia-
fragma... em conjunção com o nervo simpático do
plexo solar, vindo em conjunção com o fim do es-
tômago... .
O fato de Cayce mencionar pulmão seria a prova
do diagnóstico correto. Mas e os diagnósticos in-
corretos: dorsal, lombar, lesões flutuantes, plexo
solar e estômago? Porque não contam como fa-
lhas? E porque recomendou Cayce osteopatia
[tratamento de doenças ósseas] para pessoas
com tuberculose, epilepsia e [câncer]?
...
Gardner comenta que o Dr. J.B. Rhine, famoso
pelas suas experiências em PSE ―[percepção

168
extrasensorial]―, na Duke University, não estava
impressionado com Cayce. Rhine sentiu que a
leitura psíquica feita à sua filha não encaixava
nos fatos...
... Cayce também afirmou estar em contacto com
Atlantes enquanto ausente nas suas viagens
mentais. Cayce é um dos maiores responsáveis
por algumas das mais tontas noções sobre a A-
tlântida, incluindo a de que possuíam uma espé-
cie de Grande Cristal. Cayce chamou-lhe a Pedra
Tuaoi e disse ser um gigantesco prisma cilíndrico
que era usado para juntar e focar"energia", permi-
tindo aos Atlantes fazerem coisas fantásticas.
Mas tornaram-se gananciosos e sintonizaram o
Cristal para freqüências demasiado altas provo-
cando perturbações vulcânicas que levaram à
destruição do seu mundo. (Dicionário Cético)

→ Edgard Cayce proferia discursos obscuros,


com um linguajar rebuscado, e era admirado
por uma multidão de desinformados; nada
mais que um ardiloso, ou um iludido, que a-
pregoava possuir o poder de prever o futuro e
identificar encarnações. É de surpreender
como um palavreado vazio como o de Cayce
foi capaz de cativar a tantos! Deixemos Ed-
gard Cayce e voltemos a Célia Resende.

"Uma aula sobre processos de cura espiritual


aconteceu durante uma regressão de Anete, geó-
loga, após reviver e liberar muitos resíduos kár-
micos bastante tóxicos, numa vida passada... Ao
fazermos a limpeza e energização dos chakras,
ela percebe uma equipe médica espiritual, des-
crevendo em detalhes o tratamento que se de-

169
senvolve para corrigir a densidade de seus cor-
pos energéticos: ‘uma luz prateada circula como
se fosse um líquido pelo meu cérebro, inundando
os filamentos neuroniais. E quando essa luz o a-
travessa, alguns deles, muito esticados e tensos,
ganham maior elasticidade, distendendo-se. O in-
terior do meu cérebro parece um laboratório’...
Estabeleço diálogo com a equipe médica através
de Anete. Eles explicam que para dissolver os
bloqueios provocados por estresse, seja qual for
a causa, é preciso se mudar a freqüência do pen-
samento... Esse método pode ser usado também
para qualquer outra obstrução, em qualquer ór-
gão... Após dois anos de terapia, Anete desen-
volveu bastante a sua paranormalidade, e já entra
em contato com o seu orientador espiritual, re-
vendo cenas difíceis de uma vida passada... Para
amenizar os resíduos dessas vivências doloro-
sas, o chefe da equipe espiritual coloca as mãos
sobre a testa dela e depois sobre cada face... Em
seguida... ele coloca uma das mãos sobre seu
estômago e a outra sobre o coração... Projeta
uma luz dourada bem no centro do coração, que
se divide em dois raios luminosos que se esten-
dem pelas pernas, um terceiro sobe em direção à
cabeça e mais dois descem por cada braço.
Quando acaba o trabalho, ele se inclina e se des-
pede com as mãos fechadas sobre o peito." (Cé-
lia Resende)

→ Célia Resende deve ter achado a evolução


maior da medicina, pois os médicos do espaço
lhe ensinaram como “desobstruir” qualquer ór-
gão... Imaginamos que isso equivale a buscada
“panacéia universal”, o remédio para todos os
males. Anteriormente Célia afirmava dominar
a técnica de “limpeza e energização dos cha-
kras”, agora acrescenta ao seu conhecimento
o dom da “desobstrução orgânica”! Parece que

170
os médicos ortodoxos estão perdendo muito
por desconhecerem esses revolucionários pro-
cedimentos...

→ É curioso que, no passado, a medicina acredi-


tava que o organismo saudável fosse equili-
brado pela circulação harmoniosa dos “humo-
res”. Quando se manifestasse uma doença,
seria preciso eliminar os “maus humores”. En-
tão aplicavam-se sangrias, enemas, eméticos,
tudo com a finalidade de “desobstruir” os ór-
gãos. Não eram poucos os que sucumbiam a
esse tratamento. A exposição de Célia Resen-
de lembra muito essa idealização antiga, ape-
nas com nova roupagem...

→ Após dois anos de terapia, Anete se vê envol-


vida com “cenas difíceis de uma vida passa-
da”. Diríamos que a moça está cada vez mais
perdida na névoa de seus conflitos. Ela bus-
cava tão-somente se livrar das dificuldades
psicológicas que a acometiam e terminou a
dialogar com fantasmas...

→ Outra questão a esclarecer: o que seriam


“resíduos kármicos bastante tóxicos”?

“Outros processos de ordem mais complexa são


encontrados na magia negra, quando se utilizam
objetos, instrumentos e inclusive implantes mag-
néticos, blocos de energia concentrada ou peças
que mantêm interferência sobre o sistema ele-
tromagnético da vítima para o fortalecimento das
influências negativas... a magia negra visa a
vampirização de energia, à manipulação da men-
te da vítima e ao bloqueio do fluxo de energia po-

171
sitiva ou da comunicação saudável entre as pes-
soas." (Célia Resende)

→ O fato de Célia Resende temer a magia é um


problema pessoal. Se para ela tal mistificação
tem fundamento, respeitamos. O que se criti-
ca é a atitude da terapeuta de fazer com que
sua crença pareça ser parte de uma técnica
médica com fundamentação científica! Isso
confunde a quem não dispõe de informações
adequadas. Efetivamente, o procedimento da
doutora não é nada elogiável. Se propalasse
sua convicção como crença religiosa, ou coisa
parecida, tudo bem. Entretanto, ela fala do
tema qual se discorresse a respeito de meto-
dologia respaldada em estudos e pesquisas,
quando não passa de especulação de baixa
qualidade.

→ Reflitamos sobre a magia, seja branca, ou


negra, ou de qualquer cor. Como funciona? A
noção de magia presume que algumas pessoas
dominem uma “ciência oculta” que lhes possi-
bilita realizar coisas fantásticas. A idéia não
faz sentido: não se conhece ninguém que ver-
dadeiramente tenha tais poderes. Ainda as-
sim, milhões de pessoas em todo o mundo a-
creditam. Mas não é difícil demonstrar a im-
plausibilidade dessa “ciência”: basta observar
que a força dos feitiços nunca ultrapassa os
limites da crença dos envolvidos. Quando al-
guém verdadeiramente não crê em feitiçarias,
podem mil bruxas lhe lançar maldições e nada
acontecerá. No entanto, se a vítima aceitar
que um “feiticeiro” tenha condição de prejudi-
cá-la, toda a sorte de infortúnios pode suce-
der. O efeito psicológico de um “feitiço” é in-

172
discutível. Há pessoas que se deixam conven-
cer tão profundamente serem vítimas de
sortilégios que fica difícil tirar-lhes da mente
essa torturante idéia. Só sossegam quando
encontram quem alegue capacidade de realizar
um “trabalho” mais poderoso. É comum encon-
trar-se feiticeiros oferecendo “desfazer”
trabalhos de outros feiticeiros.

→ É claro que a tática de utilizar feitiçaria con-


tra feitiçaria, não cura ninguém de suas an-
gústias. A vítima se sente temporariamente
tranqüilizada, porque o “mal foi desfeito”. Po-
rém, mais adiante enfrentará novas encren-
cas, visto que sua mente ainda é receptiva ao
medo, e tudo recomeça... O caso de Adélia
que adiante é relatado mostra claramente es-
sa situação.

“Um caso de obsessão entre desencarnados o-


correu com Adélia, estudante de psicologia, que
fora um homem condenado à morte durante a
Revolução Francesa. Ele morre com a sensação
de que a irmã o traiu, 'tirando o corpo fora e dei-
xando-o sozinho numa fria'. Desencarnado, con-
tinua como ficou na prisão, encolhido num canto
escuro, sem querer falar com ninguém...

Deprimido e apático, tornou-se presa fácil para os


desencarnados ansiosos por auxiliares, e não
demorou muito tempo para que um líder maligno
percebesse seu potencial. Conhecedor das fra-
quezas humanas, ele se aproxima e tenta con-
vencê-lo a participar do seu grupo... o obsessor
insufla-o com a idéia de que a irmã ficou muito
bem após livrar-se dele.

173
Isto representou a gota d’água que faltava para
convencê-lo da traição. Com a promessa de aju-
da, ele [Adélia] se deixa levar de volta ao mundo
físico e, como entidade extrafísica, tudo observa
sem ser visto...

A segunda parte desse processo mostra a obses-


são de um desencarnado sobre encarnado,
quando eles dois partem para interferir na dimen-
são física, pelo fenômenos de ressonância,
transferindo energia vibratória para a irmã. Esta,
por estar na mesma freqüência mental de culpa,
permitiu o acoplamento do irmão, vibrando na rai-
va e no ressentimento por ela. Se não houvesse
ressonância vibratória, não existiria contato entre
essas diferentes dimensões, impedindo-se a co-
municação. Isto significa que os espíritos obses-
sores só conseguem estabelecer contatos se o-
correr ressonância vibratória entre eles e suas ví-
timas.

...

Para que o plano saísse perfeito fizeram o mes-


mo com o marido, cuja fraqueza era a inseguran-
ça e o ciúme... O passo seguinte foi induzir situa-
ções que estimulassem a discórdia... Para que o
plano não corresse o risco de fracassar, uma
placa de ação magnética é colocada entre ela
e o marido... uma armadura energética, iman-
1
tada, com a intenção de afastá-la do marido ...
A crise do casal estava cada vez mais forte. Num
momento de lucidez, tentaram descansar, viajan-
do para sua casa de campo... Seguindo plano do
instrutor, ele projeta passes magnéticos sobre a
irmã para entorpecê-la. O instrutor aproveita a
presença de um ladrão no vilarejo... o ladrão é
instigado a seguir em direção à casa da irmã... a
irmã dorme profundamente... À tarde... o marido
vai ao quarto... e assusta-se com o vulto masculi-

174
no... Cego de ciúmes o marido perde a razão...
puxando a espada e matando-a num só golpe.
Por sua vez, o irmão desencarnado [Adélia] per-
cebe a dimensão de seu ato... ele percebe o
quanto a amava e que não desejava seu mal... A
experiência de Adélia demonstra como os pen-
samentos obsessivos... envolvem as pessoas...
mantendo-as imantadas entre si... Tanto ele [Adé-
lia] quanto sua irmã foram vítimas de obsessão."
(Célia Resende)

→ ("uma placa de ação magnética" afasta o ma-


rido da esposa... onde será exatamente que
as "entidades" puseram essa placa?... )

→ Adélia é uma figura singular! No capítulo 5


comentamos uma aventura por ela protagoni-
zada. Naquele episódio Adélia era um homem
que vivera durante a Revolução Francesa ― (A
Revolução Francesa abrangeu o período de
1789 a 1795). A doutora Célia "descobriu"
que Adélia (na época encarnada num homem)
fora acusado de traidor, o que lhe originou
um trauma profundo. Tão profundo que a a-
companhou pelas vidas seguintes. Agora,
Adélia retorna em nova confusão, desta feita
com a irmã. Antes, Adélia fora apresentada
como "assessora de imprensa", aqui é "estu-
dante de psicologia". Pode ser que, após a "e-
lucidação" do trauma revolucionário, tenha
decidido trilhar outro rumo profissional.
Desejamos-lhe boa sorte, mas auguramos que
não se torne mais uma terapeuta regres-
sionista, visto que, em nossa opinião, já as
temos além da conta...

175
→ Nesta peripécia, a sofrida Adélia passa por
uma intrincada experiência de obsessão. A
Doutora Célia apresenta uma inovação à teoria
espírita: para ela a obsessão só ocorre se a
“freqüência vibracional” do obsedado for a
mesma do obsedante. Allan Kardec nada falou
sobre isso. “Aprendemos” ainda que, no além,
quem estiver distraído corre o risco de ser
dominado por uma entidade malévola. Isso
porque existe obsessão tanto cá quanto lá...
Quem for desta para melhor, que fique de o-
lhos bem abertos!

→ Conforme explica Célia Resende, o espírito de


Adélia-homem pôde obsedar sua irmã porque
esta estava na “mesma vibração de culpa”.
Segundo a teoria da Dra. Célia, a obsessão só
ocorre se houver “ressonância vibratória” en-
tre os obsessores e suas vítimas, seja lá o
que isso signifique.

→ Pois bem, o que diremos, então, do marido,


que também fora vitimado pela obsessão? ―
(“Para que o plano saísse perfeito fizeram o
mesmo com o marido, cuja fraqueza era a in-
segurança e o ciúme”). A fraqueza do marido
era a insegurança, o que supostamente o faria
“vibrar” numa outra ressonância, diferente da
exigida para permitir o acoplamento daqueles
obsessores (estamos raciocinando com base na
“teoria” apresentada por Célia Resende). A
obsessão do cunhado de Adélia fica, pois, sem
fundamentação...

→ A situação de Adélia é preocupante: recente-


mente combateu os efeitos de uma injustiça
sofrida há duzentos anos; em seguida se viu

176
às voltas com o resultado de complexa trama
de obsessão. Onde será que a magoada moça
irá parar? Parece que a doutora desencavará
traumas sem fim na mente de Adélia. Isso
porque em vez de livrá-la das superstições as
alimenta cada vez mais...

“Vários estudos científicos de ponta sobre fenô-


menos paranormais indicam o uso de novas téc-
nicas que abrem horizontes no campo da pesqui-
sa psíquica. Aos que desejarem tratar as enfer-
midades da alma, de encarnados ou desencarna-
dos, o Dr. José Lacerda de Azevedo e seu grupo
apresentam o resultado de trinta anos de estu-
dos...

O grupo liderado pelo Dr. Lacerda trabalha os fe-


nômenos da alma sem dogmas, mitos ou ortodo-
xias... Várias curas foram comprovadas..., a partir
de intenso trabalho desobsessivo , utilizando-se a
técnica de despolarização dos estímulos da me-
mória, chamada ‘apometria’.

... a técnica da apometria revela-se uma podero-


sa arma no tratamento de inúmeros focos de neu-
roses e psicoses...

O estudo e o desenvolvimento da medicina espiri-


tual levam a equipe do Dr. Lacerda a situações
inesperadas...

‘Certa vez, diante de um mago desencarnado e


confiante de seus poderes, formamos um campo
de força para paralisar a sua atuação. Mas nada
o limitava nem o aprisionava, pois parecia adivi-

177
nhar nosso propósito. Ele antecipou nosso gesto
e desviou nossas projeções magnéticas.

Dr. Lacerda relatou que, nesse momento, apro-


ximou-se o espírito de vovó Joaquina. Radiante
em sabedoria e amor, incorporou numa médium e
apresentou-se como uma ‘preta-velha’, socorren-
do e orientando-os. ‘Meu zinfio, tu sabe o que é
spin?’, pergunta ao Dr. Lacerda.

Ele e a equipe acharam que ela estivesse falando


de ‘espinho’, linguajar mais comum a uma preta-
velha. Sem entender a relação do espinho com o
que estava acontecendo, pergunta aflito: ‘Por
quê’.

Quando ela apresenta a descrição detalhada do


que estava falando, eles compreendem que se
referia ao número quântico spin. Ela orientava-os,
de forma científica, para uma inversão no spin do
mago, ao mesmo tempo que espalmava a mão
direita em projeção magnética na direção deste,
criando um campo de força imobilizante.

Dr. Lacerda conta que começaram a contagem


para a formação de um intenso campo magnéti-
co, a fim de provocar a inversão angular dos
spins no corpo astral do mago, defasando-o em
45 graus. Assim que terminaram a contagem em
sete, o mago leva um choque instantâneo e sua
energia desmonta como um bloco, completamen-
te inconsciente. Vovó Joaquina cuida da transfe-
rência do mago para a sua cidade astral, onde
será tentada a sua recuperação.” (Célia Resen-
de)

→ Bem, não podemos desprezar o trabalho do


Dr. Lacerda, afinal são trinta anos de estu-
dos e, ainda, com o respaldo de Célia Resen-

178
de! Com base no embate entre a equipe do
Dr. Lacerda e o mago pirracento, é possível
extrair algumas conclusões “interessantes”.
Vejamos:

• A apometria é um procedimento
médico revolucionário, pois trata
tanto de males dos viventes,
quanto dos que passaram para o
outro plano, ou seja, serve para
curar doenças dos vivos e dos
mortos!

• Pelos ensinos da apometria, os


métodos mágicos constituem uma
força tremenda, pois atuam nesta
vida e também no outro mundo;

• É possível combater com eficácia


os facínoras espirituais: basta ter
boa pontaria e disparar rajadas
magnéticas na direção certa. Os
meliantes serão destrambelhados;

• Aplicando-se adequadamente fun-


damentos científicos, podemos
vencer a magia, não só neste
mundo quanto no outro. (Vimos
que o resistente mago sucumbiu à
manipulação quântica dos seus
spins.). Falta explicar como a ci-
ência material pode atuar no mun-
do dos espíritos...

• O Dr. Lacerda e equipe muito


contribuiriam para o progresso da

179
ciência se esclarecessem melhor
essa sensacional utilização da fí-
sica quântica no trato com mal-
feitores da esfera espiritual...

→ O que significa “spin”? Informa o Dicionário


Aurélio: “Spin: Número quântico associado a
uma partícula, e que lhe mede o momento an-
gular intrínseco. De acordo com as regras da
mecânica quântica, o spin pode tomar apenas
certos valores especiais, iguais a um número
inteiro, ou a um número semi-inteiro,
multiplicado pela constante de Planck reduzida
― (constante de Planck: proporcionalidade
entre a energia de uma partícula e a
freqüência de onda a ela associada)”.

→ Célia Resende e a equipe do Dr. Lacerda a-


crescentariam um novo capítulo à Física caso
elaborassem uma tese fundamentada sobre a
“inversão espiritual” de spins. Esperamos que
não demorem a apresentar essa preciosa in-
formação...

→ Mais uma vez, no entanto, questões que seri-


am de grande profundidade são apresentadas
superficialmente. Insistimos: o Dr. Lacerda
nos deve uma teoria sobre a utilização da Fí-
sica Quântica nos embates espirituais. Por
enquanto, infelizmente, não podemos nos fur-
tar a concluir que a equipe do Dr. Lacerda
Azevedo mergulhou num mundo de fantasias e
dele não soube sair...

Sobre a apometria cabe um comentário específico.

180
Célia Resende responsabiliza-se por afiançar que “a téc-
nica da apometria revela-se uma poderosa arma no trata-
mento de inúmeros focos de neuroses e psicoses”. Trata-
se de uma declaração firme que, num primeiro momento,
pode fazer crer que estaríamos diante de um método tera-
pêutico altamente eficaz. Entretanto, quando conhecemos
melhor as teses dessa insólita terapia, ficamos com a im-
pressão de que foram elaboradas pelos internos de um
manicômio.

No meio espiritista encontram-se dedicados praticantes


da apometria. A terapia foi iniciada no Brasil pelo Dr.
José Lacerda de Azevedo e dela temos uma definição
“esclarecedora” dada por José Carlos Palermo, terapeu-
ta holístico:

“Apometria é medicina espiritual. É a medicina


utilizada em hospitais do plano astral a partir da
4ª dimensão. É indicada em casos de cirurgias
astrais, incluindo transplantes de órgãos com-
prometidos e remoção de miomas por exemplo,
obsessão espiritual, auto-obsessão, Pseudo-
Obsessão, parasitismo, vampirismo, estigmas
espirituais, remoção de implantes no corpo astral,
arquepadias, (magia originada em passado remo-
to), goécia (magia negra), tratamentos especiais
para magos negros, tratamento de espíritos em
templos do passado, condução dos espíritos en-
carnados, em desdobramento, para Hospitais do
Astral Superior. Perfeito para tratar de síndrome
da ressonância vibratória com o passado, que é a
cura e eliminação de traumas vividos em vidas
anteriores, através de terapia de vidas passadas.”

181
Outra informação, também “elucidativa”:

“O Espiritismo e o Espiritualismo propõe esclare-


cer o homem sobre sua realidade transcendental,
orientar seu destino glorioso e prepará-lo para o
grande momento da retomada harmônica e res-
ponsável de todo seu conteúdo de memórias que
armazenou no transcorrer do processo evolutivo,
que o transformará em verdadeiro super-homem.
E nesse grande momento terapêutico, em que
surgem Apometria e TVP, eles nos fornecem os
parâmetros para uma melhor utilização desses
conhecimentos.

Trata-se de uma técnica anímica, composta por


13 leis, que faculta, através de sintonia mediúni-
ca, o acesso aos registros e particularidades des-
se agregado formado pelos sete corpos e seus
níveis (Perispírito), onde se ocultam as raízes das
desarmonias psíquicas e espirituais do ser. O
termo Apometria é composto das palavras gregas
“apo” que significa “além de” e metrom que signi-
fica medida. Designa o desdobramento espiritual
ou bilocação, bastante estudado por diversos au-
tores clássicos.

Serve para se tratar terapeuticamente distúrbios


de ordem pessoal, interpessoal, transpessoal,
psíquica, espiritual, anímica e física. É útil ainda
como recurso e conhecimento auxiliar das demais
técnicas terapêuticas.
(www.holuseditora.com.br/)

Outros teóricos espíritas não vêem a apometria com tanta


generosidade e a classificam de ingenuidade. A apometri-
a, assim como a TVP, lida com conceituações pesada-

182
mente esotéricas e de difícil comprovação. José Carlos
Palermo relaciona nada menos que 14 “problemas espiri-
tuais” que afirma serem solucionados pela apometria:

• cirurgias astrais;
• obsessão espiritual;
• auto-obsessão;
• pseudo-Obsessão;
• parasitismo;
• vampirismo;
• estigmas espirituais;
• remoção de implantes no corpo astral;
• arquepadias (magia originada em passado
remoto);
• goécia (magia negra);
• tratamentos especiais para magos negros;
• tratamento de espíritos em templos do pas-
sado;
• condução dos espíritos encarnados, em
desdobramento, para Hospitais do Astral
Superior... ”

o caso é que inexiste a mínima comprovação de que essas


"dificuldades espirituais" sequer sejam reais. A única
coisa constatável é a extremada utilização de conceitos
vagos, sem base sólida. Vejamos o que diz um texto
espírita contrário à essa "terapêutica":

“Ora, a apometria é então uma técnica totalmente


estranha à Doutrina Espírita, pois segundo esta
não existem "corpos espirituais", a Doutrina faz
referência apenas ao perispírito. Logo se obser-

183
va, ao estudarmos o assunto, que se trata de
uma técnica que absorve conceitos da Teosofia e
do hinduísmo... repudiamos com veemência a
catalogação dessa técnica de desdobramento
como espírita, até porque em Espiritismo não há
técnicas.
...
O método, em resumo, consistiria em se aplicar
"pulsos magnéticos concentrados e progressivos"
no "corpo astral" do paciente e, "por sugestão"
comandar-se-ia seu afastamento. Desdobrar-se-
iam o médium e o doente para contato com "enti-
dades médicas do astral" !!! Está visto que não há
a menor cientificidade no método: é um amontoa-
do de termos, sem a menor possibilidade de con-
trole científico e com o falso pressuposto de que
os Espíritos estariam à disposição dos médiuns
em dias e horas marcados. Enfim, parece-nos um
verdadeiro Ôba, Ôba espiritual...
...
Finalizando este tópico, diremos que o conheci-
mento da técnica da Apometria demonstra que a
imaginação humana não tem limites, principal-
mente quando se quer auferir dividendos com a
credulidade das pessoas, pois dentro deste barco
encontram-se alguns médicos, psicólogos, etc.,
inescrupulosos; a julgar-se pela propaganda já re-
ferida. Não citamos nomes das pessoas porque
não queremos personalizar... ”
(ISO JORGE TEIXEIRA - Psiquiatra)

184
CAPÍTULO 11

Avaliações Complementares

No início deste livro foi apresentado um escrito de José


Reis Chaves, que prometemos comentar. Eis que chegou
o momento:

"A Era da TVP


A regressão de memória ou Terapia de Vida Pas-
sada (TVP) limitava-se antes a ir só até à vida in-
tra-uterina.. Hoje, ela vai até às outras vidas ante-
riores do espírito.

→ Fala-se muito em “regressão à vida intra-


uterina”, como se fora uma prática consa-
grada: vários psicólogos “descobrem” trau-
mas ocultos em lembranças que pacientes
trazem desse período de sua existência.
Acontece que é falaciosa a crença de que
seja possível a recordação do período de
gestação. Tal idéia constitui uma impossibi-
lidade científica e fere o bom senso. A
mente das pessoas, mesmo as dotadas de
genialidade, precisa de um tempo para de-
senvolver-se e poder elaborar coerente-
mente os pensamentos. O mundo para uma
criança soa como uma algaravia de sons,
cores, odores, etc., dos quais ela não tem
a menor compreensão. Somente depois de
vários meses mergulhada nesse confuso uni-
verso é que o infante começa a ter percep-
ção objetiva do que se passa à sua volta.
Lembrem como os adultos se divertem com
as ingênuas ponderações infantis sobre os
acontecimento que vivenciam... A criança se
esforça e, aos poucos, vai desenvolvendo
uma compreensão adequada do ambiente. A
inteligência infantil conhece formidável pro-
gresso à medida que desenvolve a fala. A
partir de então ela passa a lidar com con-
ceitos abstratos e pode-se dizer que é
nesse período que se começa a pensar de
verdade. A estrutura física e mental do
feto ainda não está formada, portanto ele
nada pode elaborar. As propaladas recor-
dações fetais são sonhos de pessoas sen-
síveis a sugestões. José Reis acata sem
remorsos a idéia de que fetos tenham lem-
branças... (adiante apresentaremos um re-
lato exemplificativo de uma regressão à vi-
da uterina.)

→ José reis chaves começa o texto com um


equívoco: diz que regressão de memória é o
mesmo que Terapia de Vida Passada. Não
é. Regressão de memória é um procedimen-

186
to adotado por alguns hipnoterapeutas, a
qual busca recuperar lembranças desta vi-
da, notadamente acontecimentos da infân-
cia, com fins de tratamento de distúrbios
psíquicos. A terapia de vidas passadas, ad-
voga que seja possível a recuperação de
lembranças de outras existências. Reis
Chaves misturou as coisas.

→ Reis Chaves leva o equívoco ainda mais lon-


ge, pois declara que “A regressão de memória
ou Terapia de Vida Passada (TVP) limitava-se antes a
ir só até à vida intra-uterina”. Ora, se é terapia
de vida passada pressupõe-se a lembrança
de existências pregressas, portanto em ne-
nhum momento ela poderia ir “somente até
a vida intra-uterina”...

“A TVP acessa o arquivo “acashico” da Teosofia,


do Rosacruz, dos orientais, maçons e do Livro da
Vida do Apocalipse, o que implica aceitar a reen-
carnação, que é a doutrina mais lógica que exis-
te. Porém, a maioria dos dirigentes religiosos cris-
tãos prefere defender seus interesses particulares
a aceitarem o óbvio. Sabe-se, todavia, que muitos
pastores, padres e bispos submetem-se sigilosa-
mente à TVP. E o certo é que a reencarnação es-
tá em várias partes da Bíblia, como lemos em Jô
8,9: “Somos de ontem, e nada sabemos”. Mas
esses dirigentes religiosos vão chegar lá! Depois
de mais de 300 anos do Heliocentrismo, a Igreja
acabou reconhecendo oficialmente que Galileu
estava certo, tirando dele, recentemente, a exco-
munhão!

187
→ O “Arquivo acashico” é idealização oriunda
de algumas seitas do hinduísmo. Parece que
o melhor seria nominar “Registro acásico”,
em vez de arquivo. A idéia básica é a de
que existiria um registro cósmico onde es-
taria contido todo o conhecimento do uni-
verso. A discussão sobre o registro acásico
foge ao escopo desse trabalho. O que resta
destacar é que os esotéricos deleitam-se
freqüentemente com as muitas “descober-
tas” obtidas nos acásicos: supõe-se que os
“afortunados” que consigam acessar os re-
gistros acásicos são capazes de conhecer os
segredos da vida. Diversas figuras se de-
claram habilitadas para a empreitada. Um
dos mais famosos “consultores” desses re-
gistros foi o vidente norte-americano Ed-
gard Cayce. Cayce realizava “leituras” me-
diúnicas por meio de pesquisas aos acási-
cos. No entanto, aquilo que os “iluminados”
obtêm desses imaginados registros são re-
velações quase sempre ingênuas que não vão
além de caprichosos devaneios.

→ Destacamos a mambembe interpretação


de Reis Chaves ao texto de Jó: “somos de
ontem e nada sabemos”. José Reis Chaves
vê aí uma referência à reencarnação. Nada
mais incorreto. O trecho é parte da prele-
ção de Bildade, um dos amigos que visitava
Jó durante sua amargura, na qual o exposi-
tor defende a lisura dos procedimentos di-
vinos. “Somos de ontem” significa que o co-
nhecimento do homem é mínimo, insuficiente
para avaliar amplamente os propósitos do
Todo-Poderoso. Bildade recomenda a Jó
que leve em conta a tradição, o conheci-

188
mento das gerações passadas, com o fito
de ampliar sua visão sobre a justiça de
Deus. A declaração completa diz: “Indaga,
pois, eu te peço, da geração passada, e
considera o que seus pais descobriram. Por-
que nós somos de ontem e nada sabemos,
porquanto os nossos dias sobre a Terra são
como a sombra”. Dito de outra forma, seria
aproximadamente desse modo: “nosso co-
nhecimento é irrisório, pois somos de on-
tem, mas se juntarmos nossa experiência
com a de nossos antepassados então será
possível entender melhor os propósitos do
Criador”. Como se vê, não há qualquer alu-
são ao reencarnacionismo.

“A TVP é uma realidade científica, e não religiosa.


E conta hoje com o aval internacional de grandes
representantes da ciência, como os americanos:
psiquiatras Dr. Morris Netherton, Dr. Brian Weiss,
Dra. Helen Wambach e Dr. Roger Woolger, e psi-
cólogos Dr. Bruce Goldberg e Dr. Ken Wilber, um
junguiano que revoluciona a Psicologia Moderna,
e autor de "O Espectro da Consciência"; o psiqui-
atra inglês Alexandre Cannon, que relutou duran-
te 50 anos em aceitar a reencarnação, e que co-
manda uma equipe de 70 terapeutas que já fize-
ram, em conjunto, mais de um milhão de regres-
sões; o canadense Dr. Joel Whitton, Catedrático
de Psicologia da Universidade de Toronto, Cana-
1
dá; e o alemão Dr. T. Dethlefsen , Catedrático de
Psicologia da Universidade de Munique, Alema-
nha. Obras de TVP desses eminentes cientistas e
de outros estão editadas em várias línguas em
todo o mundo."

189
→ O autor escorrega ao afirmar que a TVP é
uma realidade científica. Se fosse, os Con-
selhos de Psicologia e outras entidades te-
riam de aceitá-la. Nada disso ocorre: a
TVP não é recomendada por nenhum dos or-
ganismos oficiais da psicologia e da psiquia-
tria. Vimos que as postulações da TVP são
voltadas para o esoterismo e não para a ci-
ência.

→ A História, a Arqueologia e outras matérias


que dependem de pesquisar o passado, mui-
to se beneficiariam se contassem com al-
guns facilitadores. Numerosas dúvidas seri-
am respondidas, grandes mistérios esclare-
cidos, caso a regressão a vidas passadas
produzisse alguma coisa consistente. Por
que as regressões não nos dão a chave para
traduzir línguas de povos antigos? Os ar-
queólogos contam hoje com escritos de pelo
menos uma dezena de civilizações desapare-
cidas. Tratam-se de códigos lingüísticos
cuja decifração, por mais que os estudiosos
se esforcem, não foi obtida. Se as re-
gressões fossem úteis a tradução das lín-
guas desconhecidas já teria sido consegui-
da. A equipe do inglês citada por Reis Cha-
ves, realizou mais de um milhão de regres-
sões, um milhão de lembranças e nada de
positivo se obteve para nos ajudar a conhe-
cer o passado...

1
→ No capítulo seguinte apresentamos um co-
mentário sobre o trabalho do Dr. T. Det-
hlefsen.

190
“No Brasil temos as psiquiatras Dra. Maria Teodo-
ra, da UNICAMP, com vários cursos de TVP nos
Estados Unidos, autora de “Os Viajantes”, e Pre-
sidente da SBTVP (Sociedade Brasileira de TVP),
Campinas, SP, e a Dra. Maria Aparecida Siqueira
Fontana, Presidente da ANTVP (Associação Na-
cional de TVP), Campinas, SP, e muitos outros
grandes médicos e psicólogos de todos os Esta-
dos brasileiros que o espaço não nos permite ci-
tar aqui.
Podem fazer o curso de TVP médicos e psicólo-
gos. Locais: na SBTVP, em Campinas, no INTVP
(Instituto Nacional de TVP), no Rio de Janeiro, e
na ANTVP, em Campinas e Belo Horizonte, onde
tem início uma turma, de fevereiro de 2003 a ju-
lho de 2004. Informações com os terapeutas Dr.
Luís Carlos Fróis: (031) 3213-8499 e Dr. Luís
Carlos Braga: (031) 3222 6596.
A TVP está curando as pessoas de seus males
provenientes não só de um passado propínquo,
mas também de um passado longínquo. É a nova
era da medicina. A era da TVP!”

→ Afirmar que a TVP é a “nova era da medi-


cina” é um tremendo exagero. A TVP deve
ter seus resultados animadores, caso con-
trário já estaria descartada - (apesar de
que, muitas práticas médicas fajutas são
perpetuadas, graças ao poder da propagan-
da. Os resultados que apresentam são me-
díocres, mesmo assim, sobrevivem). Até
os mais apaixonados sabem que a utilidade
terapêutica da TVP é restrita. Ela não é,
como faz parecer a exaltada manifestação
de Reis Chaves, uma panacéia.

191
Apreciemos agora um artigo sobre regressão à vida intra-
uterina, da autoria de Oswaldo Shimoda, acompanhado
de nossos comentários.

“Vida intra-uterina
Certa ocasião, uma paciente me relatou que
quando estava grávida, sempre que o seu marido
se aproximava para tocar em sua barriga, o bebê
ficava mais agitado do que o comum. Neste perí-
odo, ela sentia muita raiva e hostilidade do mari-
do, apesar de amá-lo e se darem muito bem. Ela
não conseguia entender esses sentimentos, já
que o mesmo não fazia nada que justificasse o
aparecimento desses sentimentos. Ao nascer, a
criança costumava chorar muito quando o pai a
pegava no colo. E mesmo na infância, os atritos e
os desentendimentos entre pai e filho eram muito
freqüentes. Era comum também seu filho lhe per-
guntar: “Mamãe, você gosta de mim”? Ela achava
que essas perguntas eram próprias da idade.
Ao passar pela regressão, a paciente recordou
que na vida anterior, seu namorado na ocasião
(atual marido desta vida) a obrigara a abortar a
criança (seu filho da vida atual). Essa recordação
de vida passada a fez entender, portanto, o por-
quê de seu filho insistir em lhe perguntar se ela
gostava dele, bem como sua hostilidade pelo pai,
cultivada já no útero de sua mãe. Ela veio a en-
tender também, que a sua raiva pelo marido,
quando grávida, não era dela, mas sim de seu fi-
lho, que trouxe da vida passada pelo que o pai fi-
zera com ele. Desta forma, através da TVP (Te-
rapia de Vida Passada), foi descoberto que o feto,
apesar de estar no útero materno, é capaz de
perceber tudo o que acontece ao seu redor.”

192
→ Podemos afirmar que a história tem certa
“lógica”, desde que se admita sem crítica
que a imposição ao aborto numa vida passa-
da e todas as demais situações relatadas
tenham de fato acontecido, (coisa que en-
tendemos infundada, mas, para efeito de
reflexão continuaremos). A partir do aborto
e das decorrências dele advindas, entra-
ram em ação os mecanismos reencarnató-
rios, que programaram os três a voltarem
nas equivalentes condições anteriores, pro-
vavelmente para purgarem os erros cometi-
dos.

→ É certo que a doutrina espírita não respal-


daria essa repetição de experiência, na
qual pai, mãe e filho voltam exatamente na
mesma formação anterior. Dentro da tese
espírita, seria de imaginar que o pai crimi-
noso, retornasse para expiar o mal que
praticara anteriormente. Excepcionalmente,
porém, pode-se admitir que a história con-
tada pelo Dr. Shimoda pudesse ser acata-
da por teóricos do espiritismo.

→ O insólito nesse caso é que o projeto espi-


ritual, cuidadosamente planejado, naufra-
gou, porque os conflitos entre o pai e o fi-
lho anteriormente abortado não foram sa-
nados na vida atual. Em vez de consertar
as desavenças pretéritas, a nova família
perpetuou as relações antagônicas. Duas
possibilidades se nos apresentam nesse epi-
sódio: ou os envolvidos tiveram uma segun-
da chance e não souberam aproveitar, ou,
então o engenho que rege o processo reen-
carnatório apresenta falhas graves...

193
→ No entanto, o Dr. Osvaldo Shimoda inter-
veio e “consertou” o problema: passando por
cima da tese kardecista de que a lembrança
das vidas passadas é maléfica, o psicólogo
sondou a mente da mãe e fê-la lembrar dos
acontecimento, o que parece ter soluciona-
do tudo... porém, podemos perguntar: será
que a esposa ficará definitivamente em paz
ao relembrar que seu marido a forçou a
abortar numa vida passada? E a criança,
quando crescer, será que cultivará algum
ressentimento contra o pai? Sem falarmos
de outras situações de discórdia e de res-
sentimentos que possam surgir...

→ Outra dúvida: Osvaldo Shimoda afirma que


a criança tinha percepção do aborto sofrido
em outra vida, o que lhe ocasionou a re-
pulsa pelo pai. Já comentamos da dificulda-
de para que a teoria da lembrança fetal
seja aceita: o ser em formação teria de
possuir memória e dominar o raciocínio abs-
trato para entender o que lhe sucede.
Também seria necessário um mecanismo que
lhe permitisse ouvir o que se passa no
exterior.). E nada disso existe no feto.

→ As afirmações do Dr. Shimoda formam uma


situação confusa: o feto, (ou o embrião,
dependendo de quando fora realizado o a-
borto) foi vitimado pelo namorado egoísta
de sua mãe. A criança em formação viu e
ouviu tudo e guardou na memória espiritual
o acontecimento. Tempos depois, avisaram-
lhe que reencarnaria como filho daquele que
provocou sua morte. Aqui, é possível supor
que os três foram preparados para a nova

194
existência no molde anterior. Ocorre que o
ensaio que fora realizado na entrevida de
nada valeu, pois a família veio ao mundo
carregando os traumas originais. Ora, pra
que serve, então, a entrevida? Não dizem
os reencarnacionistas que é para as pessoas
planejarem novas vivências em condições
mais satisfatórias?

→ Nada foi dito sobre o que pensa o pai, este


acusado de ter cometido um crime em vida
anterior. O sujeito não deve ter ficado
satisfeito ao saber que o médico o respon-
sabilizava pelas dificuldades da família.
Talvez o homem seja uma pessoa carinhosa
e esforçada, mas nada do que faz poderia
consertar o ódio que o filho trazia consigo.
Parece-nos que a tese do Dr. Shimoda
complica mais que elucida.

→ E o que dizer da declaração do Dr. Shimo-


da, de que graças à TVP foi “provado” que
o feto é capaz de perceber tudo o que a-
contece ao seu redor? Pode ser que alguém
aceite essa afirmação sem maiores avalia-
ções... infelizmente, não vimos prova de
coisa alguma. Para que a criança no útero
pudesse perceber o mundo, haveria que e-
xistir um canal por meio do qual ela captas-
se as impressões e também possuir a condi-
ção de interpretar as sensações que rece-
besse. Os teóricos da memória fetal não
explicam essa questão. Assim, a tese fica
vaga e fracamente sustentada.

“Essa vida dentro do útero, na verdade, é envolta


em mistério, como se a natureza tivesse colocado

195
um véu sobre a nossa consciência pré-natal ao
nascermos. Em muitos casos, é no útero materno
que encontramos as raízes dos nossos compor-
tamentos, porque o feto grava todos os pensa-
mentos e sentimentos da mãe, como se estes se
referissem a ele."
→ Seria realmente interessante se o doutor
pudesse comprovar que o feto grava todos
os pensamentos e sentimentos da mãe como
se fossem seus!

→ Uma coisa é supor que o estado emocional


da mãe sensibilize a feto. Existem evidên-
cias dessa situação. Se procedimentos in-
corretos da mãe, tais quais alimentação
deficiente, uso de drogas, põem em risco
a integridade do bebê, é admissível que as
emoções igualmente impressionem a criança.
Tratam-se de dois seres intimamente liga-
dos e é fácil concluir que quanto maior o
equilíbrio emocional da mãe tanto mais be-
neficiado será o bebê. Contudo, o Dr. Shi-
moda amplia arbitrariamente esse fato,
para Osvaldo Shimoda a coisa vai muito
mais além. Segundo ele, o feto responde
tal qual um ser já formado: vê, ouve, sen-
te e memoriza o que se passa ao redor de
si. E não só isso, traz também em sua
“memória” a recordação de acontecimentos
de outras vidas! Cá pra nós: não é muito
para um feto tão pequenininho?

→ E quais são o argumentos que sustentam


essas idéias exóticas sobre os poderes
mentais do feto? Poucos e muito pobres...

196
“Na verdade, o inconsciente funciona como um
gravador que grava todas as informações, sem
discriminação, sem interpretá-las. Neste sentido,
a criança por nascer, é profundamente afetada
pelos acontecimentos do período de gestação
que vão moldar os padrões de comportamento
em vida. Tudo o que acontece com a mãe neste
período, pode afetá-la em sua estrutura emocio-
nal, pois ambas, mãe e criança, estão intimamen-
te ligadas e não só pelo cordão umbilical. Por is-
so, em quase toda sessão terapêutica, costumo
também investigar o período pré-natal do pacien-
te.” (Osvaldo Shimoda - shimoda@vidanova.com)

→ Acredita-se que o estado emocional da mãe


influencie características da personalidade
do filho. Existe base para essa hipótese.
Até aqui o Dr. Osvaldo não está trazendo
novidade alguma. O caso é que Osvaldo
Shimoda parte de uma suposição fundamen-
tada e a extrapola com bem entende, apre-
sentando idéias que não estão amparadas
em coisa alguma.

O Dr. Shimoda teria muito o que esclarecer ao mundo


médico sobre os mistérios da vida uterina. Ele faz afirma-
ções contundentes sem uma boa teoria para apoiá-las. Se
o feto efetivamente possuísse a profunda percepção que
imagina o Dr. Osvaldo Shimoda, haveria indícios logo
após o nascimento. Ou existiria um constante e notável
diálogo entre a mãe e a criança no útero. Nada disso ocor-
re.

197
Aguardamos, por parte do Dr. Shimoda, esclarecimentos
adequados sobre a memória fetal, a fim de que possamos
avaliar o que prega. Até o momento, o que presenciamos
foram declarações que chegam ao patamar da irresponsa-
bilidade, considerando que advindas de um médico.

Da suposta capacidade do feto em perceber o mundo à


sua volta, como se fora um ser já formado, não há qual-
quer estudo que lhe dê um mínimo de coerência.

198
CAPÍTULO 12

A Legitimidade Do Regressionismo

Até aqui vimos as muitas dificuldades para a aceitação da


tese da regressão a vidas passadas. Entretanto, admitimos
que poderiam haver demonstrações capazes de favorecer
a teoria: resultados que se exibidos de forma clara e
inequívoca, tornaria a regressão de vidas aceitável e
passível de ser estudada seriamente.
Os praticantes da TVP deveriam se esforçar na busca
dessas provas. Estranhamente, porém, nenhum
regressionista toca no assunto...
Vamos destacar um desses tópicos: os idiomas.
Explicaremos em detalhes:
A mente adequadamente estimulada é capaz simular
muitas coisas. Pessoas sugestionadas realizam feitos
surpreendentes, fazem revelações admiráveis, falam de
coisas que aparentemente não conhecem. Entretanto, é
impossível para alguém falar uma língua com a qual
nunca teve contato nesta vida (contato efetivo ou
psíquico).
Não nos referimos aos fenômenos de glossolalia, comuns
em alguns movimentos religiosos. Tampouco aos casos
extraordinários de crianças e adultos que falam línguas
que supostamente não teriam estudado, estes analisados
principalmente pela parapsicologia. A glossolalia é uma
manifestação puramente emocional. E as crianças
poliglotas são fenômenos singulares para os quais
existem diversas hipóteses elucidativas não-esotéricas.
No que tange ao regressionismo, o domínio do idioma
teria de estar presente em todo episódio de regressão onde
houvesse referência a alguma civilização ou nação
diferente daquela em que o consulente vive na atualidade.
Partindo da conjectura de que o inconsciente armazena o
que vivencia (tese aceita pelos regressionistas), o
conhecimento da língua não poderia faltar nas lembranças
de vidas.
Vamos ilustrar com alguns casos de regressão:

“Lúcia, antropóloga... atinge um ponto de sua


memória integral em que faz parte de uma civili-
zação que habita o alto de uma montanha. Possi-
velmente, trata-se do início da civilização inca,
que ainda mantinha comunicação com seres ex-
traterrestres... " (TERAPIA DE VIDAS PASSA-
DAS – Célia Resende)
_______________________________

200
“Esse... foi o caso de Marília... Num país árabe,
cerca de três séculos passados, ela fora vendida
a um sultão e, embora não soubesse, já estava
nas primeiras semanas de gravidez... " (TERAPIA
DE VIDAS PASSADAS – Célia Resende)
_______________________________

“Samuel, estudante de direito, 22 anos, vivenciou


uma existência numa cidade construída com pré-
dios simétricos, em arenito, e templos arredonda-
dos.
‘Usamos os poderes extra-sensoriais, a energia
solar, e as construções são realizadas pela força
do pensamento, moldando as pedras com as
mãos sem a ajuda de qualquer instrumento. Con-
tamos com a ajuda de seres fluídicos, altos e
transparentes que nos acompanham... ’
Mais adiante, ele descreve o momento em que
devem sair da cidade:
‘Temos que sair, pois o acesso ao conhecimento
deve obedecer a um processo evolutivo. Mas o
que a maioria deseja é dominar o planeta, e seus
erros provocaram o aquecimento da Terra, a
temperatura está muita alta, e acontecem fortes
abalos sísmicos.
‘Os portões de entrada interdimensionais são fe-
chados, estou num prédio e no centro do piso.
Trabalho com equipamento concentrador de luz
solar que entra por um tubo semelhante a uma
chaminé. Muitas pessoas atravessam as portas
dimensionais usando algumas máquinas,
enquanto o restante é destruído por algo parecido
com um vulcão, e depois toda a região é tragada
pelo oceano.’

201
O trabalho com Samuel perdurou por vários me-
ses. Essas vivências serviram de base para tratar
o orgulho que muito atrapalhava sua vida. Sua
trajetória kármica, iniciada com o povo de Atlânti-
da, trazia resíduos do uso exorbitante de poder...
" (TERAPIA DE VIDAS PASSADAS – Célia Re-
sende)

Com toda a certeza, nem Lúcia, nem Marília, nem


Samuel, falaram nas línguas dos povos dentre os quais
teriam vivido. Muito esclarecedor seria o registro do
linguajar dos incas, se Lúcia pudesse fazê-lo; bastante
ilustrativa ficaria a regressão se Marília discorresse
fluentemente em árabe; mais interessante ainda se Samuel
falasse em atlante...
Nenhum deles o conseguiu e jamais o conseguirá... E é
fácil entender o porquê: a imaginação não tem como criar
ao nível de complexidade que a elaboração de um idioma
exigiria. O único modo de Lúcia, Marília e Samuel
falarem as línguas dos povos onde alegadamente viveram
seria se essas vivências fossem reais. E isso eles não
conseguem demonstrar...
Houve casos de médiuns que forjaram línguas
alegadamente de extraterrenos e chegaram a convencer
até especialistas, mas logo adiante foram desmascarados.
Nesses eventos, a mente foi capaz de formular a
complicada fantasia devido ao treinamento do
inconsciente, performance encontrada em alguns médiuns
após longo período de prática.
Talvez em alguma regressão o paciente diga uma ou outra
palavra na língua da civilização onde supostamente

202
vivera. Isso se explica por ter lido ou ouvido termos
daquele idioma que ficaram arquivados em sua mente.
Mas, para comprovar que está regredindo a uma vida
passada, não bastaria proferir palavras esparsas, seria
necessário discorrer fluentemente na língua nativa, ou ao
menos lembrar de discursos coerentes.
Usemos nossos amigos como exemplos: Lúcia, Marília e
Samuel.
Lucia teria vivido entre os incas. Dessa cultura existem
alguns registros escritos. Caso Lucia estudasse esses
registros, mesmo que conscientemente não conseguisse se
reportar nessa língua, quando hipnotizada diria algumas
frases. A situação de Marília seria mais simples. Apesar
de o árabe ser uma língua difícil para nós brasileiros,
qualquer estudante aplicado é capaz de aprendê-la. Parece
que Marília não quis ter esse trabalho, pois não falou
coisa alguma no idioma sob o qual teria vivido...
Com Samuel é mais complicado. A Atlântida é uma
lendária civilização a respeito da qual já se disse tudo o
que a imaginação possa conceber. A possibilidade de que
o continente tenha existido não é descartada. Muitas
civilizações grandiosas floresceram e morreram deixando
parcos vestígios de sua existência. O que surpreende no
caso de Atlântida é quantidade de histórias que os
esotéricos contam sobre ela, umas contradizendo outras, e
todos garantem que estão revelando os "segredos" aos
quais tiveram acesso ninguém sabe como. Há mesmo
quem afirme que ainda existem atlantes escondidos por
aí, que se comunicam com alguns iniciados...
Ainda que se admita que Atlântida tenha tido existência
real, uma coisa é certa: o idioma que falavam é
desconhecido. Samuel prestaria uma grande ajuda a

203
milhões de pessoas que almejam conhecer detalhes desse
portentoso império se nos revelasse como era a língua dos
atlantes... pena que não foi capaz...
Se formos aprofundar mais o assunto, chegaremos a
questões interessantes (e pouco confortáveis para os
regressionistas). Vejamos este caso: existem evidências
suficientes para amparar a teoria de que há cerca de 7.000
a.C. tenha existido uma civilização, cujo falar serviu de
base para dezenas de línguas surgidas posteriormente,
inclusive o grego e o latim.
Estudiosos de todo o mundo, respaldados em registros
documentais e em análises evolutivas das línguas,
puderam chegar ao que se supõem seja a expressão mais
primitiva de certa quantidade de palavras com raízes
comuns em diversos idiomas. Contudo, este é um
trabalho penoso para os pesquisadores e com resultados
pequenos em vista das dificuldades para se recompor uma
linguagem da qual existe apenas vagos indícios. Agora
vejam esse excerto de um escrito de Reis Chaves:

"... o psiquiatra inglês Alexandre Cannon, que


relutou durante 50 anos em aceitar a
reencarnação, e que comanda uma equipe de 70
terapeutas que já fizeram, em conjunto, mais de
um milhão de regressões... " (José Reis
Chaves)

Um milhão de regressões! Será que desse numeroso


contingente não surgiu ninguém que tivesse vivido na
civilização de língua desconhecida e que pudesse dar uma
mãozinha a filólogos e lingüistas, que buscam tão
arduamente identificar como falava aquele povo? Um

204
milhão de regressões e nenhum registro lingüístico digno
de referência! Parece brincadeira...

Infelizmente, enquanto os terapeutas regressionistas


não apresentarem argumentos firmes, tudo o que terão
para defender a tese da regressão de vidas serão frágeis
suposições, que não resistem a mais leve crítica.

Algumas pessoas que regridem a outras vidas conseguem


apresentar relatos detalhados: visualizam as vestimentas,
as construções, os afazeres diários. "Recordam tudo"!
Entretanto, são incapazes de discursarem no idioma
natal! No capítulo em que comentamos sobre Brian
Weiss mostramos que Catherine lembrava com precisão
as datas remotas nas quais dizia ter vivido! Quanto a
língua... silêncio total!
Atualmente arqueólogos contam com escritos ainda não
compreendidos de cerca de uma dezena de idiomas do
passado. Os registros sonoros dessas línguas são desco-
nhecidos, mas há composições suficientes para dar uma
visão panorâmica das civilizações que os produziram. O
problema é que ninguém até hoje conseguiu descobrir o
significado dos sinais. Cientistas queimam os cérebros
em busca de respostas, mas o mistério permanece. O que
nos espanta é que nenhum regredido tenha “vivido” den-
tre esses povos. Os adeptos da TVP contabilizam mi-
lhões e milhões de eventos regressionistas, nos quais
lembranças de todos os tipos surgem. Por que não apare-
ce ninguém que ajude na decifração dessas línguas?
Alguns regredidos que eventualmente proferem termos
esparsos de idiomas fora de uso, são alardeados como
uma "grande" comprovação da veracidade das

205
lembranças. Tolice. No mais das vezes, as palavras não
passam de meia dúzia de expressões já conhecidas, que
de nada serviriam para quem quisesse pesquisar o tal
linguajar. E, mesmo assim, esses eventos são tão raros
dentro do universo das regressões que não servem sequer
para estatística.
Almejaríamos também que as regressões nos trouxessem
outras coisas concretas, por exemplo: muitas lembranças
falam da "ciência" oculta de povos antigos,
destacadamente da Atlântida e do Egito. Há quem afirme
ter aprendido segredos da "complexa ciência" desses
povos. Entretanto coisa alguma de consistente revelam.
São numerosas declarações do tipo: "vivi no Egito, eu
era um sacerdote que dominava técnicas de
ressuscitação dos mortos". A tal declaração
responderíamos: Ótimo! Então nos ensine essa tão
magnífica técnica! Imaginem quantos benefícios a
humanidade terá! Desgraçadamente, quando chega a hora
de ser objetivo, o propalado conhecimento se esvai na
fumaça da fantasia...

→ Pode ser que regressionistas tentem explicar


a questão, alegando que a Terapia de Vidas
Passadas não se presta a revelar línguas ou
segredos das ciências ocultas; que a terapia
tem a finalidade de curar traumas aconteci-
dos no passado cujos efeitos se fazem sen-
tir na vida atual, e só! O argumento seria
válido se as situações fossem perfeitamente
delineadas e um aspecto não se confundisse
com o outro: a verdade é que se há recor-
dação de vida passada, as peculiaridades
dessa existência devem vir à tona: os cos-
tumes, as experiências, as técnicas, a lín-

206
gua e tudo o mais teriam de estar presentes
e com clareza suficiente para não ensejar
dúvidas.

O que o regressionismo apresenta é insuficiente para que


obtenha a autenticidade que busca.
Mesmo perante algumas "lembranças" mais sofisticadas,
como o caso de Bridey Murphy, que comentaremos no
próximo capítulo, as muitas contradições e equívocos
embutidas no evento demonstram a fragilidade da prova.

207
THORWALD DETHLEFSEN

Visto que estamos a "cobrar" do regressionismo provas


de legitimidade, é cabível abordar o trabalho desse
psicólogo regressionista.
Dethlefsen é um alemão praticante da terapia da
regressão de vidas, autor de vários livros sobre o tema. À
semelhança de Brian Weiss, é formado por boa escola – a
Universidade de Munique. Portanto, é interessante
analisar o que ele pensa sobre a regressão a vidas
passadas.
Ao examinarmos as manifestações regressionistas dos
pacientes de Dethlefsen percebemos que são algo
diferentes das que nos apresentam Célia Resende e Brian
Weiss. Aliás, quando se comparam os resultados de
regressões, realizadas por terapeutas variados,
deparamos com algumas contradições curiosas. Em
resumo: Dethlefsen faz afirmações que outros
regressionistas não ousaram proferir.

Em seu livro "A Regressão a Vidas Passadas como


Método de Cura" Thorwald Dethlefsen parece responder
ao questionamento que fizemos linhas atrás sobre os
idiomas. Leiamos um trecho da obra. (Lembramos: os
destaques são nossos).

208
“Outro relato impressionante foi escrito por uma
secretária de 20 anos sobre sua encarnação no
Egito, quando também o faraó tinha 20 anos. Ca-
be aqui a pergunta se a voluntária podia falar
aquele idioma antigo. A resposta é afirmativa.
A condução das sessões é sempre em alemão,
para podermos garantir uma estreita ligação entre
mim e o paciente; é um acordo mútuo que
estabelecemos no início das experiências, visto
que a interrupção da comunicação fluente levaria
à extinção do elo que nos une. Entretanto, posso
provocar o paciente no sentido de me dar respos-
tas na língua original. Esse procedimento é ado-
tado, principalmente, em ocasiões em que a pes-
soa demonstre um domínio fluente e seguro de
uma língua estrangeira. Todavia, podemos apri-
morar tal desempenho ao longo de sessões pos-
teriores.
Infelizmente, falta-me o tempo necessário para
desenvolver o conhecimento de uma língua anti-
ga através do nosso trabalho, a fim de que pos-
samos classificá-la como uma língua estrutural-
mente correta. Pesquisas nesse sentido estão
programadas para uma etapa posterior, não só
com respeito à língua como também a habilida-
des específicas, como tocar piano, ou outro ins-
trumento, etc."

Dethlefsen comenta superficialmente uma questão


relevante e deixa o assunto sem um esclarecimento
adequado. Da forma como foi feita a declaração, supõe-se
que os pacientes do psicólogo alemão possam falar com
facilidade os idiomas das nacionalidades que dizem ter
vivido, só não o fazem por que há um "acordo" entre o
regredido e o terapeuta, para evitar dificuldades na
comunicação.

209
Entretanto, os fatos negam essa assertiva. Seria
relativamente simples resolver a dificuldade de
comunicação: ele poderia gravar os discursos dos
pacientes quando se expressassem em línguas antigas.
Depois submeteria as gravações a especialistas, para que
avaliassem adequadamente o material.
Por curiosidade, destacamos no texto acima a admirada
declaração do escritor: "Outro relato impressionante foi
escrito por uma secretária de 20 anos sobre sua
encarnação no Egito... ". O psicólogo assombrou-se da
secretária recordar uma vivência no Egito! Se soubesse
das numerosas "recordações" egípcias obtidas por Célia
Resende, Brian Weiss e vários outros, não ficaria tão
deslumbrado... .Se soubesse que pacientes de Brian
Weiss sabiam como ressuscitar os mortos... (o
excepcional nessas "lembranças" é que esses regredidos
recordam que sabiam praticar a ressuscitação, mas não
passam daí. Se foram instados a que nos digam como era
o processo, "percebem" que já não sabem mais o que
diziam ter sabido... )
Realizamos um exame no livro de Dethlefsen em busca
de exemplos da alegada versatilidade de seus pacientes
em falar línguas antigas. Nada! O psicólogo
esporadicamente lhes solicita que repitam uma ou duas
palavras no idioma remoto. O paciente atende, mas
demonstra grande dificuldade em articular termos
simples. A demonstração é pobre, muito pouco em vista
da importância desse aspecto crucial para o
reconhecimento do regressionismo! Veremos a seguir
exemplo de uma sessão regressionista conduzida por
Dethlefsen:

210
"(a letra "H" especifica o hipnotizador; "V" é o
voluntário)
...
H: ... qual seu nome?
V: Ruth.
H: Ruth de quê?
V: Não sei.
H: Seu nome é só Ruth?
V: Sim.
H: Em que ano estamos?
V: Não sei.
H: Nem aproximadamente?
V: 100.
H: Em que país você está?
V: Na Terra Santa.
H: Por que esse lugar é santo?
V: Por que Deus fala conosco.
H: Quem são vocês?
V: Nós pertencemos a uma estirpe.
H: Qual é essa estirpe?
V: Somos macabeus.
H: Conte-me algo sobre sua estirpe.
V: Nós vivemos em barracas... Meu pai é um
homem muito poderoso.
H: Qual o nome dele?
V: Hohas.
H: Como?

211
V: Hohas, eu acho.
H: Você está diante de seu pai. Diga alguma
coisa a ele na sua língua. Fale com ele como
costuma fazer sempre.
V: Honaihn... eu não devo falar com ele.
H: E porque não?
V: Devemos esperar que ele fale primeiro.
H: O que ele acabou de dizer a você?
V: hot maihn, senhor.
H: E o que você responde?
V: Eu sempre vou buscar água... É preciso andar
muito para encontrar água... [a paciente foge à
pergunta que a obrigaria falar no idioma natal]
H: Onde você costuma ir buscar água?
V: Eu não sei... ando... ando e não encontro
nada... então vou à montanha.
H: Você sabe o nome da montanha?
V: Ela não tem nome... lá existe água.
H: Onde?
V: Ela vem da montanha... meus lábios estão
secos e eu estou muito cansada... mas esse tipo
de coisa a gente não pode dizer.
H: Mas você pode beber água agora.
V: Não.
H: Por que não?
V: ... é para meu pai.
H: Como se diz água na sua língua?
V: Eu não sei... brut... flepp." [demonstra grande
dificuldade em falar uma palavra simples!] ... "

212
(A Regressão a Vidas Passadas como
Método de Cura)

Este é um trecho de uma das regressões apresentadas no


livro de Dethlefsen. Nesta, como em todas as outras, os
diálogos são longos, enfadonhos, recheados de
banalidades. E o psicólogo parece não ver os elementos
fantasiosos apresentados por seus pacientes, que tiram a
credibilidade de que tenha ocorrido real regressão. No
diálogo acima, Ruth escorrega várias vezes e o terapeuta
não faz comentários sobre os deslizes. Observemos.

A referência aos macabeus não está bem articulada. Os


macabeus não eram propriamente uma estirpe, seria mais
adequado chamá-los de um partido. Entretanto, essa não
é a questão mais séria. O terapeuta insiste que a paciente
diga em que ano se encontra. A moça, pressionada, solta
um número: "100". Mas não dá detalhes. Cem o quê?
Antes ou depois de Cristo? Se foi depois de Cristo a data
perde o sentido, pois em 100 d.C. dos macabeus havia
apenas lembranças, pois já estariam desaparecidos desde
muito tempo. E mesmo que fosse 100 a.C. as dúvidas
persistiriam, pois, a rigor, o último representante
macabeu foi morto em 135 a.C., antes do ano 100 a.C.,
portanto.
Se a moça estava a lembrar um período específico do
passado, deveria referir-se à data conforme se fazia na
época. Era praxe situar a época de um acontecimento
referindo-se ao governante que estava no poder, ou a
algum outro que estivesse em destaque. Vejam alguns
exemplos, baseados em textos bíblicos:

213
"No primeiro ano de Ciro, rei dos persas, a fim de
cumprir a palavra do Senhor pronunciada pela
boca de Jeremias... " (Esdras 1:1)

"Destes reis saiu aquela raiz do pecado, Antíoco


Epífanes, filho do rei Antíoco, que em Roma já
tinha estado como refém e que começou a reinar
no ano trinta e sete do reino dos gregos." (I
Macabeus 1:11)

"Visão de Isaías, filho de Amós, a qual ele teve


acerca de Judá e de Jerusalém nos dias de
Ozias, de Joatan, de Acaz e de Ezequias, reis de
Judá" (Isaías 1:1)

"Tendo, pois, nascido Jesus em Belém de Judá,


no tempo do rei Herodes... " (Mateus 2:1)

Indagada sobre em que país se encontrava, Ruth


responde: "Na Terra Santa". A expressão não era usada
no passado para designar a terra dos judeus. Ela deveria
ter respondido que estava no reino de Judá ou onde fosse.
Ruth afirmou que a montanha onde pegava água não
tinha nome... Pouco provável, pois os israelitas, como de
praxe a maioria dos povos, costumavam nomear tudo e
não deixariam de identificar uma montanha. A não ser
que Ruth estivesse chamando um "morrinho" de
montanha...
O pai de Ruth vivia em tendas, era um nômade e estava
em constante movimentação. Quando iam de um lugar
para outro, os nômades procuravam acampar próximo de
poços, que é onde Ruth deveria ter ido buscar água e não

214
na "montanha"... Ela diz que "anda, anda e não encontra
nada... ", errado! A moça teria de conhecer a localização
do poço. Saber onde havia água era procedimento
rotineiro para os nômades.
O mais gritante dessa "recordação" de Ruth ocorre
quando o psicólogo regressionista a pressiona para que
fale no idioma da época. A moça ora desconversa, ora faz
um grande e malsucedido esforço. Ao final não mostra de
forma alguma que tenha capacidade de reproduzir o falar
da personagem que dizia ter sido.
Percebe-se que a paciente de Dethlefsen estava a
trabalhar com informações superficiais sobre o período da
história que imaginava ter vivido. Como não possuía
conhecimentos mais profundos a respeito da época, sua
história estava repleta de incorreções.
Se for com exemplos desse tipo que Thorwald Dethlefsen
pretende demonstrar que seus pacientes são capazes de
falar línguas antigas, fica muito difícil acatar seu
argumento!
A nosso ver a maior contradição sobre a tese
regressionista de Dethlefsen encontramos nessa
declaração:

“Infelizmente, falta-me o tempo necessário para


desenvolver o conhecimento de uma língua anti-
ga através do nosso trabalho, a fim de que pos-
samos classificá-la como uma língua estrutural-
mente correta. Pesquisas nesse sentido estão
programadas para uma etapa posterior, não só
com respeito à língua como também a habilida-
des específicas, como tocar piano, ou outro ins-
trumento, etc."

215
O que ele está a dizer é que precisaria aprofundar a
pesquisa, a fim de confirmar se seus pacientes realmente
falam as línguas das civilizações que teriam conhecido.
Ora, em ciência é essencial esclarecer uma questão que
faça parte do contexto sob averiguação, antes que uma
teoria possa ser elaborada. Dethlefsen declara que os
estudos precisam ser ampliados, para se confirme a
veracidade das regressões, mesmo assim defende o
regressionismo como um fato consolidado! Não há
congruência! Ele já aceitou a legalidade das regressões
antes de esclarecer os pontos duvidosos!
Quando muito, o que Dethlefsen tem em mãos é uma tese
provisória, amparada por eventos muito fracos. O
psicólogo, certamente, terá de se esforçar muito até que
nos traga uma teoria convincente.

216
CAPÍTULO 13

O Caso Bridey Murphy

Atualmente, a aventura de Bridey Murphy é considerada


plenamente esclarecida. Alguns repórteres investigaram
as narrativas de Morey Berstein e descobriram que o en-
redo fora elaborado pela protagonista a partir de experi-
ências da infância. Sob certo aspecto, pode-se dizer que
trata-se de uma história “velha”, apesar de ter tido grande
repercussão na década de 1950, quando foi divulgada.
Mesmo assim, o caso ilustra a forma fantasiosa como a
regressão é trabalhada. Além disso, ainda hoje há quem
defenda que a peripécia regressionista de Bridey Murphy
foi real.

Morey Berstein, autor do livro intitulado “O Caso de Bri-


dey Murphy” informa que durante algum tempo fora in-
crédulo em questões como vida após a morte, alma e re-
encarnação ― (é interessante destacar que Brian Weiss
apresenta discurso semelhante (cap.6): afirmou ser
inicialmente um descrente e depois deixou-se convencer
pelo que entendeu serem “evidências”). Mesmo o hipno-
tismo era por Berstein classificado como ilusionismo, ou
como brincadeira para lograr os ingênuos. Aos poucos foi
mudando de idéia. Após presenciar demonstrações da
eficácia da hipnose, tornou-se um ardoroso praticante do
método e conseguiu resolver distúrbios comportamentais
de várias pessoas.

Cada vez mais fascinado com as perspectivas da prática


hipnótica, Berstein experimentou a técnica na recordação
de acontecimentos do passado remoto. Sua intenção era
avaliar até que idade seria possível alguém registrar lem-
branças plausíveis.

Apesar de não ter formação em psicologia, Morey Berste-


in demonstrou mais cuidado em seu trabalho que Brian
Weiss. Ele informa ter buscando em várias fontes avalia-
ções a respeito dos procedimentos que realizava. Até
mesmo J.B. Rhine foi procurado por Berstein.

→ Joseph Banks Rhine foi o pesquisador cujo


trabalho deu origem à atual Parapsicologia.

“Nossa visita a Duke [Universidade de Duke] pro-


porcionou-nos a oportunidade de conhecer inti-
mamente um dos mais importantes cientistas do
mundo. Provavelmente mais que qualquer outra
pessoa, Joseph Banks Rhine tem conseguido a-
brir uma brecha numa das mais fortes cortinas de
ferro, o mistério da própria natureza do homem.
Seu testemunho é revolucionário e exige – real-
mente necessita – a revisão de muitos conceitos
científicos básicos. Suas deduções ferem em
cheio a psicologia, a medicina, a filosofia e a reli-

218
gião; oferecem, pela primeira vez, ao homem, e-
lementos para compreender a si mesmo e aos
seus semelhantes...

...

A alcunha de Rhine devia ser “Meticuloso”. Ele


achou tempo, durante nossa visita, para desen-
volver este princípio: no campo da parapsicologia
– advertiu – a palavra “meticuloso” deve ser a se-
nha para as grandes realizações, mais do que em
qualquer outra ciência. Os parapsicologistas –
disse – devem ser ter presente no espírito o slo-
gan “meticuloso” em seus trabalhos...

A prova de que ele praticava o que pregava nos


foi dada quando o inquiri sobre a questão da so-
brevivência do espírito.

- O que acha doutor? Crê que alguma parte da


criatura humana sobreviva depois da morte?

Vi seus lábios esboçarem um leve sorriso. Mas


tudo o que pude foi uma “fraseologia” cuidadosa
que, resumida, significava: “Devemos guardar o
julgamento para o fim”.

...

Na ocasião em que pedia a opinião do Dr. Rhine


sobre a questão da sobrevivência, não tinha a
mínima idéia de que uma das minhas próprias
experiências – a descoberta de Bridey Murphy –
acabaria fornecendo-me uma prova interessante
sobre a sobrevivência. (O Caso de Bridey Mur-
phy – págs. 71/74)

219
Entretanto, se os contatos com Rhine foram produtivos
para esclarecer algumas das dúvidas de Berstein, a se-
mente não frutificou. Aos poucos Morey Berstein se dei-
xou cativar por considerações nebulosas e idéias com
pouca fundamentação foram por ele acatadas como ve-
rossímeis. O cuidado revelado nas experiências iniciais
cedeu lugar ao fascínio por questões místicas. Berstein
abraçou algumas teses esdrúxulas e a elas se apegou sem
reservas.

Ainda que o leigo Berstein tenha mostrado uma cautela


que o Dr. Brain Weiss anos depois não exibiria, Morey
Berstein provavelmente não teve tido acesso às melhores
orientações sobre a hipnose. No tempo em que realizava
suas averiguações, já existiam duas organizações que
realizavam pesquisas aprofundadas sobre as aplicações
do hipnotismo, uma nos Estados Unidos e outra na Ingla-
terra. Morey Berstein não faz referências a elas.

Berstein afirma ter lido diversos livros sobre a hipnose,


porém não relata quais obras examinou. Se houvesse con-
sultado material de primeira linha haveria obtido esclare-
cimentos preciosos a respeito do que é viável e o que não
é em relação à hipnose. Um grande estudioso do hipno-
tismo, contemporâneo de Berstein, dizia:

“A experiência da reencarnação por regressão


em hipnose é um triste exemplo de como as pes-
soas podem ser iludidas com facilidade. ...

O que se faz na prática é trazer a pessoa atrás


nos anos até o seu zero, e ainda mais para trás e
então... diz-se ao espírito reencarnado do indiví-
duo... para se manifestar.

220
Exemplos disto são convenientemente localiza-
dos no passado longínquo ou, quando num pre-
sente próximo, têm tantos furos lógicos e experi-
mentais que nem sequer podem ser descritos
como ingênuos! Dizer a um indivíduo hipnotizado
que é alguém que viveu num outro século, numa
terra diferente e que será capaz de responder a
todas as perguntas, dá em resultado muitas ve-
zes ele acreditar e desempenhar o devido papel.”
(O Hipnotismo – Realidade e Ficção – F.L.
Marcuse)

Depois do saudável intercâmbio com o Dr. Rhine, Berste-


in decidiu caminhar por outras vias: ouviu falar de Ed-
gard Cayce e ficou apaixonado pelas revelações do alcu-
nhado “profeta dorminhoco”. Cayce falecera havia pou-
cos anos mas um grupo de admiradores mantinha viva
sua memória: diversos livros haviam sido editados, exal-
tando a hipotética capacidade mediúnica do profeta. Bers-
tein acatou inverdades sobre os poderes de Cayce, que
vinham sendo insistentemente divulgadas por seus discí-
pulos e por admiradores. Uma delas era a lenda de que o
profeta nada conhecia sobre medicina e mesmo assim
prescrevia medicamentos infalíveis para diversas molés-
tias.

“... não foi fácil convencer Cayce. Em primeiro lu-


gar, ele nada sabia de medicina; nunca havia lido
um livro sobre qualquer assunto médico! Não
compreendia como aquelas receitas saíam dele.
(É preciso lembrar que Cayce passava por uma
amnésia total após a hipnose; tinha-se que lhe
contar, depois que despertava, o que havia dito)...
" (O Caso de Bridey Murphy – pág. 83)

221
Em realidade, Edgard Cayce era bem informado sobre
osteopatia, estudara homeopatia e conhecia medicamen-
tos fitoterápicos. Esse razoável conhecimento médico não
o impediu de emitir diagnósticos ridiculamente incorretos
e prescrever medicações inócuas para doenças graves,
como câncer e a tuberculose. Fatos não comentados por
Berstein em sua empolgada apologia ao profeta.

Seguindo por uma senda mal iluminada Morey Berstein


não poderia deixar de topar com a reencarnação. Afirma
que inicialmente repudiou o tema, mas acabou convenci-
do e tornou-se fervoroso adepto da teoria de múltiplas
vidas. Berstein dá-nos a impressão de ser alguém que
possuísse fortes anseios esotéricos, os quais estariam en-
cobertos por uma capa de censura. Talvez inconsciente-
mente esperasse por um motivo que fizesse aflorar sua
inclinação mística. E foi o que sucedeu: gradativamente
suas barreiras psicológicas foram ruindo e a personalida-
de encantada pelo mistério afluiu com toda pujança.

A partir do encontro com a fama de Cayce, Berstein a-


bandonou a meticulosidade que Rhine lhe aconselhara no
trato com assuntos novos e deixou que a crendice preva-
lecesse.

“Não é difícil compreender o tumulto interior de


Cayce. Ele tinha sido criado numa atmosfera cris-
tã muito severa e ortodoxa, sem nenhuma instru-
ção quanto aos ensinamentos das grandes religi-
ões do mundo, além da sua. Naquele tempo, por-
tanto, desconhecia a maior parte dos mais pro-
fundos pontos de similaridade entre a sua religião
e as demais. Não tinha tido oportunidade de a-

222
preciar a luz moral e espiritual que ardia em lâm-
padas que não fosse a da sua própria religião.
Era verdadeiramente ignorante quanto ao ensi-
namento principal do hinduísmo e do budismo ―
a reencarnação.” (O Caso de Bridey Murphy –
pág. 89)

“... Alegrou-nos encontrar médicos que, tendo co-


nhecido Cayce e se utilizado de sua extraordiná-
ria faculdade, estavam dispostos a discutir a
questão... confirmaram que a precisão dos diag-
nósticos de Cayce, com relação a pacientes que
ele jamais havia visto, figurava entre 80 e 100 por
cento. Um médico frisou que jamais soubera que
Cayce tivesse cometido um erro em seus diag-
nósticos; acrescentou que recorrera à sua ajuda
nos seus casos mais difíceis.

Não ficamos só nos testemunhos dos médicos.


Desejávamos ouvir a história diretamente de al-
gumas pessoas a quem ele houvesse auxiliado.
Mas fosse onde fôssemos, o que ouvíamos de
advogados, escritores e trabalhadores era sem-
pre a mesma coisa: Cayce fizera maravilhas." (O
Caso de Bridey Murphy – págs. 93-94)

→ Caso Berstein houvesse continuado o contato


com o Dr. Rhine, certamente teria deste
obtido informações esclarecedoras sobre
Cayce. O profeta fizera um descritivo sobre
a personalidade da filha de Rhine que não
coadunava de forma alguma com o que o pai
dela sabia. Além da avaliação inadequada de
sua filha, certamente o pesquisador conhe-
cia as predições estapafúrdias do profeta.
O certo é que Rhine não considerava as re-
velações de Cayce dignas de crédito.

223
“Como estava na biblioteca, achei que seria boa
idéia consultar o fichário para ver se havia quais-
quer outras contribuições interessantes sobre o
mesmo assunto. Deparei com uma definição inte-
ressante: “Reencarnação é o plano pelo qual as
criaturas imperecíveis e conscientes recebem os
corpos físicos adequados à sua fase de desen-
volvimento”.

Ao prosseguir nas consultas, fiquei assombrado


com o que encontrei.

Os que pesquisavam a reencarnação haviam in-


vadido a biblioteca! Havia seguramente centenas
de referências ― livros, poemas, estudos, antolo-
gias... Uma das primeiras declarações que li ―
escrita pelo professor T.H.Huxley ― parecia en-
dereçada diretamente a mim: “Somente num
pensamento precipitado é que se poderá negá-la
(a reencarnação) sob o fundamento de ser um
absurdo.

Minha consulta transformou-se num verdadeiro


estudo, que parecia não ter fim. Surpreendi-me
ao encontrar grandes nomes, que jamais pensei
estivessem interessados na questão da reencar-
nação, mesmo remotamente. Até o arquicínico
Voltaire contribuiu com alguma coisa: “Não é
mais de surpreender que se nasça duas vezes ao
invés de uma somente; tudo na natureza é res-
surreição.” (O Caso de Bridey Murphy – pág.
98)

→ O entusiasmo de Berstein não lhe permitiu


ver que a declaração de Voltaire se aplicaria
à ressurreição, nunca à reencarnação. Caso
a intenção do filósofo fosse discorrer sobre

224
a reencarnação Voltaire falaria de “nascer
várias vezes”, em vez de um “segundo
nascimento”, que é uma figura típica do con-
ceito ressurrecionista.

“Além disso, encontrei muitas referências à ques-


tão da reencarnação no Novo Testamento. Pelo
menos um livro versava exclusivamente sobre
esse tema (James M. Pryse, Reincarnation in the
New Testament, 1900). O autor escreveu o se-
guinte: “Mostrou-se que a reencarnação, não so-
mente no caso do homem, mas também nas leis
da vida, que se aplicam a todo homem, aparece
claramente no Novo Testamento. Contestar esse
ponto é negar que os autores dessa coleção de
escritos quisessem dizer o que disseram em uma
linguagem iniludível... ”. (O Caso de Bridey Mur-
phy – págs. 99-100)

→ A idéia de que o Novo Testamento apóie a


reencarnação é fruto de interpretações e-
quivocadas, facilmente esclarecidas median-
te análise dos textos. Noutro trabalho de
nossa autoria, específico sobre a reencarna-
ção, esta questão será aclarada.

“Antes de tomar o avião de volta para Pueblo, pa-


rei numa livraria para comprar um livro para ler
durante a viagem. Peguei uma obra escrita por
um psiquiatra inglês, de grande renome (Dr. Sir
Alexander Cannon, autor de Power Within, Nova
Iorque: Dutton, 1953). Passando uma vista de o-
lhos pelo índice, detive-me no capítulo XVI. O
título era: “A reencarnação vence Freud”.

Consultando rapidamente essa parte do livro, ob-


servei que o médico vinha levando a efeito, du-
rante muitos anos, experiências de vida pregres-
sa com centenas de pacientes. Ao invés de deter-

225
se quando a memória do paciente chegava até à
infância ou até ao nascimento, o médico continu-
ava a indagar, sondando ainda os tempos anteri-
ores, investigando o mistério de lembranças an-
tes do nascimento.

Nunca me ocorrera tal idéia...

Foi então que resolvi verificar, por mim mesmo, o


que havia de positivo nessa questão pré-natal da
memória.” (O Caso de Bridey Murphy – págs.
103-104)

Estava, pois, pronto o cenário para despontar a aventura


com Bridey Murphy.

A fama que Morey Berstein conquistou na década de


1950, com a história de Bridey Murphy, é semelhante à
obtida por Brian Weiss alguns anos mais tarde, com a
aventura de Catherine. Entretanto, podemos destacar al-
gumas diferenças entre as duas personagens:

Bridey Murphy Catherine


• recordava de uma única • lembrava dezenas de vidas;
existência;
• forneceu detalhes suficientes • As lembranças de Catherine
para a averiguação da experiên- são insuficientes para permitir
cia que dizia ter vivenciado, o uma pesquisa da veracidade
que permitiu que a fantasia fosse histórica do que diz;
revelada;
• por girar em torno de uma • elementos fantasiosos e
única personagem, a narrativa erros facilmente perceptíveis
de Bridey Murphy era mais bem estão presentes nas narrativas
elaborada que às contadas por de Catherine.
Catherine.

226
O livro de Berstein causou grande celeuma. Simpatizan-
tes da reencarnação rejubilavam, pois a ansiada prova das
múltiplas vidas teria sido encontrada. Mesmo tendo pre-
sente o ensino de Allan Kardec da impossibilidade de
lembrar vidas passadas, espíritas acataram com satisfação
a história de Bridey Murphy. Ainda hoje, alguns nomes
de destaque no meio espírita, como Hermínio Carvalho
Miranda, ainda admitem a veracidade do relato.

É admirável quão facilmente muitos espíritas esque-


cem os ensinos de Kardec para abraçar uma tese
contradiz esses ensinamentos, como é o caso das
regressões a vidas passadas.

A regressão obtida por Morey Bernstein não foi a primei-


ra na história do regressionismo, antes dela outros pesqui-
sadores empreenderam diversas experiências que foram
divulgadas mais discretamente. Esses trabalhos não se
tornaram conhecidos com tanta amplitude quanto a aven-
tura narrada pelo empresário.

Berstein se convencera de que poderia fazer alguém lem-


brar outras vidas. Faltava encontrar uma pessoa adequada
à experiência. Pensou em vários nomes, finalmente lem-
brou-se de uma mulher a quem hipnotizara anteriormente
e que o surpreendera pela facilidade com que caía em
transe hipnótico. A personagem, informa Berstein, cha-
mava-se Ruth Simmons.

O resultado foi melhor que o esperado: Ruth sem grande


esforço conseguiu desencavar de sua memória recorda-
ções de uma outra vida, na qual tivera a identidade de
Bridey Murphy e vivera na Irlanda.

227
Diversos jornais publicaram as revelações de Berstein, o
que deu maior força à história. Quando o livro foi publi-
cado o caso ganhou repercussão internacional. No entan-
to, alguns homens de imprensa não se contentaram em
reportar o caso, decidiram investigar se eram verazes as
lembranças de Bridey Murphy.

Aos poucos os fatos foram sendo aclarados. Descobriu-se


que Ruth Simmons era o pseudônimo de Virginia Thige,
uma dona de casa, que, durante vários anos, fora vizinha
de uma senhora irlandesa. Do convívio com essa senhora
Virgínia retirou informes que permitiram a montagem do
enredo em seu inconsciente.

No capítulo 6 foi apresentado um comentário do Dr. Pau-


lo Urban, médico hipnoterapeuta, no qual afirma que a
hipnose não se presta a determinados procedimentos, tais
quais “provar a tese da reencarnação ou mesmo as abdu-
ções por discos voadores”.

Há uma face em nossa mente, que na falta de uma defini-


ção melhor podemos chamar de inconsciente, a qual é
altamente sugestionável. Mesmo um estímulo indireto
pode fazer com que a mente formule um enredo coerente
e muitas vezes convincente que, no entanto, nada tem de
real. A maioria dos que lidam com a hipnose sabe que as
aplicações do método hipnótico não se prestam para uso
em alguns campos. Em muitas situações as respostas do
hipnotizado não merecem crédito, pois não passam de
elaborações imaginativas.

Esta peculiaridade do inconsciente ― de fantasiar com


facilidade ―, seria mais que suficiente para pôr em dúvi-

228
da a veracidade das lembranças regressionistas. Infeliz-
mente, alguns psicólogos, que deveriam mais do que nin-
guém conhecer tal característica e evitar a aplicação da
hipnose incorretamente, a utilizam da forma desaconse-
lhada pelos especialistas.

O que levou Virginia Thige a imaginar ter vivido na pele


de uma outra pessoa chamada Bridey Murphy?

É provável que quando menina, Virginia ouvia embeve-


cida as narrações de sua vizinha irlandesa. E a gentil se-
nhora sentia-se satisfeita com a atenção da menina. Mui-
tas pessoas de idade estão constantemente sozinha e
quando encontram alguém que lhes queira ouvir as lem-
branças da juventude, sentem-se jubilosas. Os encontros
eram gratificantes para as duas: a senhora revivia as sau-
dosas aventuras da infância e a garotinha deixava a ima-
ginação vagar deslumbrada. Provavelmente passassem
horas seguidas nesses colóquios.

Virgínia cresceu e outros interesses surgiram. As histórias


da velha irlandesa caíram no esquecimento, ficaram
guardadas numa gaveta de sua mente e ali permaneceriam
indefinidamente caso não houvesse acontecido a experi-
ência hipnótica:

“Desejo que você continue mergulhando o espíri-


to no passado. E, por mais surpreendente, por
mais estanho que pareça, você verá que há ou-
tras cenas em sua memória. Há outros cenários,
outras terras e lugares distantes em sua memó-
ria. Vou dirigir-lhe novamente a palavra. Daqui a
pouco vou dirigir-lhe a palavra. Entrementes, sua

229
mente voltará a tempos passados, até ver uma
cena e, por mais estranho que pareça, até que
você se veja em algum outro lugar, em outra épo-
ca. Quando eu lhe dirigir novamente a palavra,
contar-me-á o que vê. Você poderá falar-me a
respeito e poderá responder às minhas pergun-
tas. E agora, descanse e relaxe o corpo enquanto
as cenas lhe vêm ao espírito... Agora você vai
contar-me, agora você vai contar-me quais as ce-
nas que vêm ao espírito... Que viu? Que viu?

― Ah!... Raspei toda a pintura da cama. Tinham-


na pintado para torná-la bonita. É uma cama de
metal, e eu raspei a pintura. Cravei a unha em to-
das as varas e estraguei-as. Ficou tudo feio.

― Por que fez isso?

― Não sei, estava com raiva, tinha apanhado


muito.

― Como você se chama?

― Uhmm... Friday.

― Como é mesmo o nome?

― Friday.

(Eu tinha a impressão de que ela havia dito "Fri-


day". As outras pessoas na sala ― conforme dis-
seram mais tarde ― também julgaram que havia
dito "Friday". Mas logo saberíamos que o nome
era diferente).

― Não tem outro nome?

― Ahn... Friday Murphy.

230
― E onde você mora?

― ... Moro em Cork.

― É lá que você mora?

― Uhm-uhm.

― E como se chama sua mãe?

― Kathleen.

― Qual o nome do seu pai?

― Duncan... Duncan Murphy.

― Quantos anos você tem?

― Ahn... quatro... quatro anos. (O Caso de Bri-


dey Murphy – págs. 111-112)

Este é um trecho da primeira sessão regressionista de


Morey Bernstein. Nota-se que, apesar de não tê-la indu-
zido a pensar numa existência específica, o estímulo para
que lucubrasse alguma cena de outra vida é bastante cla-
ro. A mente de Virginia Thige, focada na voz de Berstein,
era receptiva. Bastou que Berstein lhe desse os parâme-
tros gerais para que ela fosse buscar nas recordações ar-
quivadas em sua mente os elementos para forjar a fantasia
de Bridey Murphy. Observa-se que ela hesita um pouco
antes de responder sobre seu nome e os nomes de seus
pais. À medida que sua mente foi desencovando as emo-
ções infantis há muito retidas as respostas se tornaram
mais espontâneas.

231
Até o nome da vizinha de Virgínia Tighe era sintomati-
camente semelhante à da personagem que ela criara: a
senhora chamava-se Bridie Murphey Corkell.

Todos os elementos necessários para a criação da perso-


nagem estavam presentes nas reminiscências de Virginia
Thige. Quando Morey Berstein instou para que ela recor-
dasse uma existência pregressa, não titubeou, recolheu
nas doces lembranças da infância os ingredientes para
elaborar o roteiro.

Hoje, o caso de Bridey Murphy é apenas ilustrativo da


capacidade da mente adequadamente sugestionada em
elaborar enredos. E deveria servir como esclarecimento
aos terapeutas regressionistas que as hipotéticas regres-
sões não passam de elaborações mentais, algumas até
bem construídas, mas todas oriundas de fabulações de
mentes férteis.

→ Morey Bernstein faleceu aos 79 anos, em 2


de abril de 1999, devido a complicações
cardíacas.

232
CAPÍTULO 14

Conclusão

No início deste trabalho deixamos no ar uma indagação


que, acreditamos, agora seja possível esclarecer:

Os profissionais que lidam com a TVP, a-


firmam ser a terapêutica regressionista
muito mais eficiente que quaisquer outras
formas de psicoterapia.

Será que essa declaração se confirmará


depois que a terapia de vidas for analisa-
da detalhadamente?

Conforme foi dito, a TVP não é reconhecida como méto-


do terapêutico pelas escolas tradicionais de psicologia e
de psiquiatria. Esta é uma questão importante, pois signi-
fica que o processo não apresenta formulações teóricas
adequadas.

Um aspecto digno de nota se soma a este quadro: mesmo


pesquisadores reencarnacionistas mais sérios não respal-
dam o regressionismo tão amplamente quando seria de
esperar. Ian Stevenson, um dos grandes simpatizantes da
teoria das múltiplas vidas, respeitado no meio espírita e
autor de pesquisas a respeito da reencarnação, é bastante
cauteloso ao comentar sobre as regressões.

“Alguns dos primeiros e mais rigorosos investiga-


dores da evidência da reencarnação empregaram
a hipnose para regredir os pacientes no tempo, a
supostas “vidas pregressas”. De Rochas e, mais
tarde, Björkhem, para citar apenas dois investiga-
dores, publicaram, cada um, relatos de uma série
de tais experiências, posto que animadores, mos-
traram-se inconclusivos e, no todo, decepcionan-
tes, principalmente pela dificuldade de controlar-
se o acesso do paciente às informações incorpo-
radas à “personalidade anterior". As “personali-
dades” geralmente evocadas durante as regres-
sões a uma vida anterior, induzidas hipnotica-
mente, parecem constituir uma mistura de vários
ingredientes. Estes podem incluir a personalidade
atual do paciente, suas expectativas daquilo que
ele pensa que o hipnotizador deseja, suas fanta-
sias sobre aquilo que ele imagina ter sido sua vi-
da anterior e, talvez ainda, elementos obtidos pa-
ranormalmente." (20 Casos Sugestivos de Re-
encarnação – Ian Stevenson)

É do espiritismo que temos de extrair os conceitos teóri-


cos sobre a reencarnação, visto que a TVP não apresenta
uma teoria própria. Pois bem, no meio espírita existem

234
duas posições distintas: alguns apóiam ostensivamente o
regressionismo, outros o condenam com firmeza.

Diversos teóricos do espiritismo se mostram incomoda-


dos com a TVP que, conforme vimos, agride dogmas do
kardecismo. Existem vários textos espíritas com críticas
severas ao regressionismo.

Por outro lado, espíritas simpatizantes do regressionismo


esforçam-se por conciliar o kardecismo com as lembran-
ças regressionistas. Para tanto, fazem referências a textos
da codificação kardecista que parecem apoiar, ainda que
de forma indireta, a possibilidade de haver recordações.
Outros, mais empolgados e desatentos aos profundos con-
flitos entre a TVP e a doutrina kardecista, abraçam a re-
gressão a vidas passadas sem qualquer remorso, como é o
caso de José Reis Chaves, de quem mostramos alguns
artigos nos capítulos precedentes.

Examinemos um texto espírita que rejeita o regressionis-


mo.

"Regressão a vidas passadas: Uma terapia a


ser evitada

“Hoje em dia, fala-se muito em regressão de me-


mória a vidas passadas ou, simplesmente, TRVP
(Terapia Regressiva a Vivências Passadas). No
movimento espírita observa-se certa polêmica em
torno do assunto. De um lado, alguns defendendo
a prática e de outro, pessoas considerando a ina-
dequação dela. E nós, dirigentes espíritas, como
devemos nos posicionar em face da nova onda?
O que vamos escrever aqui, visa convidar você a
uma reflexão sobre o assunto. Queiram ou não,

235
os espíritas estão ligados indiretamente à TRVP,
por razões que veremos adiante. ...
...
Até aí, tudo bem! Compreende-se esta atitude,
quando possivelmente estejam querendo evitar
que estas práticas venham instalar-se nos cen-
tros espíritas. Já temos neles problemas demais.
Porém, o que esses profissionais parecem não
entender, é que nós que militamos no Movimento
Espírita, precisamos saber de algumas particula-
ridades dessa técnica pela simples razão de que
grande parte dos "clientes" são os espíritas ou
simpatizantes do Espiritismo. Como a teoria re-
encarnacionista está intimamente ligada ao pro-
cesso, as pessoas acabam ligando uma coisa a
outra. Além disso, existe uma velada propaganda
da nova moda nos centros espíritas. ...
...
A Dra.Maria Júlia Prieto Perez, considerada uma
autoridade nesta prática, tem afirmado repetidas
vezes que esta técnica de terapia alternativa,
quando mal utilizada, oferece perigo aos seus
praticantes. Não explica quais. Deveria fazer um
trabalho de cunho científico, ao alcance da socie-
dade, informando-a a respeito. Um fato que a
médica parece não levar em consideração, e que
nos parece fundamental, é a condição profissio-
nal do terapeuta. Afirma que qualquer deles, da
área médica ou psicológica, pode utilizar a técni-
ca, desde que seja preparado pelo Instituto criado
por ela, não importando, inclusive, se tenha ou
não conhecimentos no campo das ciências da
mente. Diz ainda não ser necessário que o tera-
peuta creia na reencarnação para se utilizar dos
métodos regressivos. ...
...
Alegam os terapeutas que defendem a TRVP,
que por ela o paciente libera cargas emotivas re-
primidas no inconsciente, instaladas ali por expe-
riências infelizes, oriundas de outras vidas ou vi-

236
vências. Quem vive o trabalho espírita sabe que,
quando isso é necessário, os instrutores desen-
carnados provocam os tais "sonhos", em quem
esteja precisando, durante o período de sono,
que todos nós, naturalmente, vivenciamos. Estes
sonhos fazem o indivíduo se conscientizar do
porquê sofre. ...
...
A médica Maria Júlia, maior propagadora da idéia
no Brasil, tem procurado justificar a utilização
desta terapia alternativa, fazendo-se valer de uma
colocação existente em O Livro dos Espíritos,
questão 339, que diz que o passado de uma cria-
tura pode lhe ser revelado em "certas circunstân-
cias". Para isso utiliza e divulga a técnica. Entre-
tanto, existem ao menos uma dezena de textos
nas obras de Allan Kardec, em que os Espíritos
Superiores afirmam que a lembrança do passado
não traria benefício algum, podendo inclusive per-
turbar o ser encarnado. Além do mais, a técnica
hoje é usada de forma larga e se difundiu de ma-
neira perigosa, fora dos domínios do seu Instituto.
...
...
Diremos que, enquanto permanecer como está,
como uma ciência de homens, sem fundamentos
morais e sem aprovação da comunidade científi-
ca, a TRVP - Terapia Regressiva a Vivências
Passadas, deve ser considerada pelo bom senso
espírita uma terapia não recomendada a quem
quer que seja."
(Site Nova voz - Grupo Espírita Bezerra de
Menezes)

Vários líderes espíritas estão cientes de que a ideologia


da TVP (ou da TRVP, como alguns preferem) balança os
alicerces da doutrina kardecista. Certamente, isso é moti-

237
vo de grande preocupação entre os dirigentes, pois se o
ensino de Allan Kardec for desacreditado, em virtude da
popularização da TVP no meio espírita, será uma tragédia
para o espiritismo latino. Os espíritas que aderem tão ale-
gremente à TVP não percebem que estão a criar dificul-
dades para sua própria crença.

238
AS INCONSISTÊNCIAS DO REGRESSIONISMO

As inconsistências regressionistas podem ser resumidas


em dois aspectos:

• no pesado misticismo presente na prática e,

• na trivialidade das lembranças.

Do misticismo regressionista foram apresentados exem-


plos variados. Os regressionistas defendem idéias excên-
tricas, que não podem ser comprovadas e que são de base
fantasiosa.

A banalidade das lembranças é gritante. Muito pouco de


aproveitável se obtém das “recordações” de outras vidas.

A “barreira” da língua não foi quebrada e, ao que tudo


indica, jamais será. Os que regridem teriam de relembrar
as línguas que falavam. Se alguém “recorda” que foi um
atlante então que fale o idioma atlante; se recorda que
viveu no Egito, que fale egípcio; se viveu entre os creten-
ses que fale a língua de Creta... lamentavelmente, o re-
gressionismo não apresenta ao mundo esse componente
que lhe concederia o almejado valor!

239
A História e a Arqueologia seriam altamente favorecidas
se as lembranças tivessem real profundidade. Até hoje
essas ciências não foram beneficiadas: os que regridem
não revelam qualquer informação importante.

As “lembranças” de vidas passadas se explicam pela


mente focada e sugestionada. Não há um “retorno” no
tempo, a uma vida anterior; não há a “recuperação” de
uma memória extratemporal, coisa alguma. A mente é
capaz de elaborar complexos enredos, desde que adequa-
damente exercitada. E não é preciso ir muito longe para
se comprovar essa capacidade imaginativa de muitos:
basta examinar a criatividade de escritores e de roteiristas
de cinema.

Os distúrbios psíquicos, ― (vistos pela TVP como aci-


dentes em vidas passadas) ―, são mais bem explicados
pelo resultado de experiências desta vida somadas às ten-
dências genéticas. O que a TVP faz é adicionar com-
ponentes fantasiosos à terapia psicológica. As teses re-
gressionistas denigrem a psicologia e a psiquiatria. A
TVP em nada contribui para o desenvolvimento das pes-
quisas sobre a mente, ao contrário: ela insere idealiza-
ções nebulosas e pouco confiáveis.

As interações interpessoais, vividas desde a infância, são


complexas e capazes de provocar tendências positivas ou
negativas nas pessoas. Na fase adulta o resultante dessas
interações virá à tona e, dependendo do que tenha aconte-
cido durante a fase de estruturação da personalidade, de-
sencadeará as mais diversas reações do indivíduo frente à
vida. A TVP despreza esta realidade e leva o assunto para
o brumoso campo das vidas pregressas.

240
Alguns pesquisadores perceberam que o método de traba-
lho da TVP tem semelhança com a técnica psicanalítica.
Ocorre que o procedimento tradicional, de buscar traumas
arquivados no inconsciente, é substituído pela idéia de
cavar traumas em vidas passadas: passa-se a caçar num
imaginoso passado respostas para os males do espírito.

Pelo fato da psicanálise exigir longo tratamento e nem


sempre atingir os resultados almejados, forma-se uma
brecha que a TVP aproveita com promessas de curas mi-
lagrosas. Quando a mente elabora uma fabulação satisfa-
tória ela se descontrai e descansa sobre essa pretensa res-
posta. Há um desvio das verdadeiras causas dos distúr-
bios e isso pode ser gratificante: para muitos é mais agra-
dável acreditar que seus problemas procedam de fictícias
vidas pregressas, em vez de encarar dificuldades concre-
tas, originadas nesta vida.

A psicanálise tem limitações, isso é sabido. Entretanto, as


dificuldades do tratamento psicanalítico não serão solu-
cionadas pela adoção de terapêuticas eivadas de supersti-
ções. Além disso, existem outras propostas na Psicologia,
que não utilizam o método psicanalítico e são eficazes.

241
FINALMENTE...

Façamos uma reflexão final sobre a prática da regressão a


vidas passadas.

Vimos que a técnica hipnótica não é, como muitos pen-


sam, uma força mágica. Há várias situações em que a
hipnose apresenta resultados incertos. Acreditamos que
tenha ficado claro que hipnose não combina com a re-
gressão a vidas passadas, embora seja o método preferido
pelos terapeutas regressionistas para obter-se as lembran-
ças.

É preciso lembrar que nem todos conseguem regredir a


outras vidas. As pessoas céticas ao regressionismo não
encontrarão vidas passadas em suas reminiscências. Esses
casos podem ser analisado de diversas formas, para os
regressionistas a impossibilidade de lembrar seria devido
à resistência que o indivíduo impõe ao processo; para
outros seria mais um embaraço à tese de que todos vive-
mos várias vidas.

A partir do momento que o paciente acata a sugestão de


reviver uma outra existência, os resultados variarão con-
forme o conhecimento que tiver de fatos históricos. Uma
pessoa que conheça bastante detalhes sobre o Egito anti-
go, por exemplo, elaborará um enredo rico em informa-
ções, algumas das quais plenamente concordes com o
conhecimento histórico e arqueológico. Quem conheça
pouco sobre a terra dos faraós, mas mesmo assim admire

242
as realizações daquele povo, apresentará uma narrativa
medíocre.

Uma ilustração sobre essa peculiaridade o prezado leitor


encontrará no capítulo 9, onde se relata uma vivência que
Elizabeth teria tido no Egito, no papel de assistente dos
sacerdotes. O conhecimento de Elizabeth sobre o Egito
antigo foi alimentado por leituras esotéricas. Muito pouco
conhece a respeito dos estudos arqueológicos. Dessa for-
ma, durante a regressão sua mente velejou pela fantasia e
criou a fantástica história dos bastões mágicos que res-
suscitavam os mortos. Quando se referia a situações me-
nos nebulosas, ela não sabia o que inventar, nem mesmo
conseguiu dizer o nome do faraó do qual dizia ser prima.
E o Dr. Brian Weiss, que conduzia o interrogatório, mos-
tra-se também fragilmente esclarecido sobre os eventos
históricos.

Numa sessão de hipnose induzida pode-se sugerir ao pa-


ciente que se veja numa época definida pelo hipnotizador.
As lembranças assim obtidas são mais detalhadas e de
melhor qualidade que quando se deixa a mente vagar à
procura de um enredo. Suponhamos alguém que conhe-
ça detalhes da época dos gladiadores e que seja susceptí-
vel à hipnose. O hipnotizador pode dizer-lhe: “você ago-
ra está vivendo em Roma, você é um gladiador romano”.

Essa pessoa elaborará uma história com bastante detalhes.


Entretanto, não se poderá chamar a isso de efetiva lem-
brança de vida passada, pois o que houve foi uma indução
formulada pelo hipnotizador.

243
É claro que o resultante de uma sugestão direcionada não
seria uma “autêntica” recordação, visto que advém de
uma sugestão inculcada ao paciente. Apesar disso, tais
lembranças são ricas em detalhes e quase sempre melhor
elaboradas que as supostas lembranças reais. Portanto,
tanto faz uma recordação induzida (falsa) quanto uma
lembrança livre (“real”) que o resultado é o mesmo. Ne-
nhuma garantia existe de que quaisquer recordações se-
jam verazes.

Esse aspecto é demonstrativo da insuficiência de funda-


mentação para a legitimidade das lembranças.

Além disso, mesmo quando na aparência a pessoa esteja


lembrando uma vida passada, não deixa de ter havido
indução do terapeuta, pois ele condiciona o paciente para
que a mente vasculhe em si mesma uma hipotética vida
pregressa.

Entende-se porque os profissionais que lidam com a hip-


nose a descartam como ferramenta adequada para lembrar
vidas passadas.

244
UMA INDAGAÇÃO...

É possível que uma indagação esteja presente na mente


de alguns leitores:

• Se as “lembranças” de vidas passadas não passam


de respostas a sugestões, por que tantos psicólo-
gos defendem ardorosamente o assunto e decla-
ram ser a TVP um método terapêutico mais efici-
ente que as técnicas psicoterápicas tradicionais?

Trata-se de uma questão que pode ser avaliada sob vários


enfoques. De fato, é de surpreender que pessoas formadas
pelas diversas escolas de psicologia descambem para o
esoterismo e abracem teses sem fundamento. É admirável
que Brian Weiss, um psiquiatra consagrado, defenda in-
genuidades que não resistem sequer a uma avaliação
superficial.

Dentre as muitas respostas que poderiam ser apresenta-


das, diremos o seguinte: diversos psicólogos adotam a
TVP porque ela lhes atende às expectativas, mesmo que
essas expectativas não estejam respaldadas por pesquisas
adequadas. Ainda que digam o contrário, o que estão a
utilizar não passa de uma forma de curandeirismo. A
TVP não é ciência, ela está escudada em concepções obs-
curas e atende à esperança daqueles que buscam uma
solução mágica para os problemas da alma.

____________________

Por fim, registramos que nossas apreciações não têm por


meta agredir a ninguém, criticamos métodos e idéias, não

245
pessoas. Acreditamos que tenha ficado clara a falta de
fundamentação para a TVP. Citamos vários autores por
necessidade de analisar especificamente escritos que ver-
teram sobre o assunto. A crítica às idéias desses profis-
sionais não deve ser entendida como um juízo global so-
bre suas personalidades. Célia Resende, Brian Weiss,
José Reis Chaves, Oswaldo Shimoda e outros demons-
tram conhecimentos apreciáveis sobre diversos assuntos,
além de possuírem formação técnica em várias áreas;
rebatemos suas apologias à TVP, tal não significa que
estendamos as críticas a outros segmentos em que atuem.

É importante registrar que o bom trabalho psicoterapêuti-


co sempre respeita as convicções religiosas dos pacientes.
Os terapeutas mantêm a neutralidade em questões que
envolvam religião. Muitas vezes, as crenças constituem
fortes apoios que mantêm o paciente psiquicamente firme
em meio a um mar de inseguranças. Questionar acinto-
samente a religiosidade alheia pode romper o equilíbrio
psicológico com resultados desastrosos. O psicoterapeuta
se vê compelido a interferir nesse quesito, somente quan-
do a fé do paciente acarreta inegáveis prejuízos, seja para
si, seja para os que com ele convivem. As críticas à TVP
são admissíveis, pois, conforme vimos, o método está
eivado de incertezas. Se um dia surgirem fundamentos
aceitáveis para a terapia de vidas pregressas, então as
considerações aqui apresentadas deverão ser revistas. Por
enquanto, tudo o que se tem sobre vidas passadas é um
grande vazio teórico preenchido com mil fantasias.

Moonnttaallvvããoo
M..M
M

246
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História da Civiliza- Cândido BRASILEIRA – 22ª Edição
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A Face Oculta da Quevedo, Oscar Edições Loyola – 1964
Mente González

A Gênese - Os Kardec, Allan FEDERAÇÃO ESPÍRITA


Milagres e as Pre- BRASILEIRA – 36ª Edição
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Manual dos Tem- Coleman, William L. Editora Betânia -1991


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Minha Alma e Suas Marino, Margarita E. MPW Inf. Ltda. – 1992


Vidas Abasolo

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Murphy tradução de Leônidas mento – 2ª Edição
Gontijo de Carvalho

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Mar Morto

Pergunte e Res- Bettencourt, Estevão Paulinas – 1957


ponderemos Tavares

Pergunte e Res- Bettencourt, Estevão Paulinas – 1963


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